Jornal do Vestibulando - 1531

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Jornal do Vestibulando

ENSINO, INFORMAÇÃO E CULTURA

JORNAL ETAPA – 2017 • DE 18/05 A 31/05

CURSO – ECONOMIA/FEA

Escrevendo até 3 redações por semana durante o cursinho... sua nota no Enem subiu de 580 para 900 pontos. Marcus Vinicius dos Santos Lima conseguiu duas vagas na USP. Em Economia, pela Fuvest, e na Poli, pelo Enem. Durante o cursinho, ele manteve-se intensamente no foco de conseguir entrar na USP. Nessa entrevista ele conta como aprofundou muito seus estudos ampliando seu desempenho e realizando seu sonho.

Marcus Vinicius dos Santos Lima Em 2016 – Etapa Em 2017 – Economia FEA/USP

JV – Que vestibulares de 2017 você prestou?

Pelo Enem, neste ano, você manifestou interesse por algum curso?

Marcus – Prestei Fuvest, Vunesp e Unicamp. Para cursos diferentes. Economia na USP, Engenharia Química na Unicamp, Medicina na Unesp. Eu queria fazer Economia só se fosse na USP. As outras carreiras eu escolhi porque era por elas que eu tinha preferência nas outras universidades. Se entrasse só na Unicamp ou na Unesp, eram os cursos que eu queria fazer. Mas no cursinho meu foco no estudo foi completamente para entrar em Economia na USP.

Sim, pelo Sisu, com a nota do Enem, eu passei em Engenharia Química na USP.

Um curso de Humanas, um de Exatas e um de Biológicas. Por quê?

Como era seu método de estudo?

No Ensino Médio eu tinha preferência por Ciências da Natureza, indo para o lado da Engenharia. Participava de olimpíadas científicas, de Química e Física. Por isso a Engenharia Química.

Como surgiu o interesse por Economia? Em 2014, conversando com meus professores, eles falaram que Economia, com partes de Exatas e Humanas, tinha a minha cara. Quando conheci o curso, vi que era Economia que eu queria.

E por que você prestou Medicina também? Era o que minha mãe gostaria que eu fizesse. Coloquei só por isso. ENTREVISTA

Marcus Vinicius dos Santos Lima CONTO

Romantismo – Artur Azevedo

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O colégio onde estudei adota o Sistema Etapa (Colégio Unisuz). Como disse, eu participava de olimpíadas antes e fiz aqui no Etapa cursos de preparação. Fui premiado na Olimpíada Brasileira de Química e na Olimpíada Paulista de Física. Eu saía de casa por volta de 8 horas da manhã para chegar aqui às 10 horas, 10 e meia. Queria pegar o plantão desde cedo. Sem dúvida, o plantão era o que eu mais aproveitava no Etapa. Ficava lá das 10 horas até o meio-dia, fazendo exercícios. Quando tinha alguma dúvida, levava direto para o plantonista, tirava a dúvida na hora. Aí dava uma pausa de meia hora para o almoço, voltava para a Sala de Estudos e ficava estudando mais uma hora. Assistia às aulas à tarde, que acabavam às 6 e meia, e de novo ia para a Sala de Estudos. Só saía do Etapa às 8 horas da noite.

Você pegava a matéria do dia? De manhã eu estudava a matéria do dia anterior. Todos os exercícios que os professores tinham recomendado, e outros que eram da ARTIGO Grupo da Unesp divulga censo de mamíferos em florestas imersas na cana-de-açúcar

O tempo geológico

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Verdade ou mentira?

Basicamente, você estudava fazendo os exercícios? É, de todas as matérias. Acabei zerando todas as apostilas. Só não fiz parte dos exercícios na Revisão Final.

O retorno para sua casa era também demorado? Eu ficava duas horas no trem, chegava em casa lá pelas 10, 10 e meia. Era muito tempo, mas eu aproveitava para as leituras obrigatórias ou para a parte de Humanas, História e Geografia, que tem de ler bastante. Tanto que antes das férias tinha terminado todas as leituras obrigatórias. Mesmo sendo desconfortável ler dentro do trem, balançando, qualquer minuto que você tenha é um tempo precioso para conseguir juntar uns pontinhos no vestibular, mesmo que seja aquela meia questão. Faz diferença.

Você assistiu também as palestras dos livros? Assisti a todas da Fuvest.

Como elas foram úteis? As palestras lhe dão uma direção para onde ir. Você lê a obra inteira e tem uma noção

SOBRE AS PALAVRAS

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ENTRE PARÊNTESIS

POIS É, POESIA

Augusto dos Anjos (1884-1914)

Você mora em Suzano. Como conheceu o Etapa?

mesma matéria, eu resolvia durante a manhã. À noite, depois da aula, eu revisava e organizava os resumos que tinha feito das aulas do dia. Quando sobrava tempo, já ia adiantando os exercícios do outro dia.

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Bateu as botas SERVIÇO DE VESTIBULAR

Inscrições

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CURSO – ECONOMIA/FEA

geral, mas quando o professor explica você descobre em que tem de prestar atenção para na hora de resolver a questão saber qual é o caminho a seguir.

Você participou das aulas de reforço para Humanas? Fiz o JADE, sábado de manhã.

Como as aulas do JADE foram importantes para você? O JADE é só exercícios, nele você está quase se deparando com o que vai ser a prova mesmo. Você vê na prática como vai ser. Depois do plantão foi o que mais me ajudou, com o professor mostrando o caminho que ele usava na resolução de cada exercício.

Em quais matérias você ia mais ao Plantão de Dúvidas? Eu consultei o plantão em Língua Portuguesa e Matemática. Língua Portuguesa foi o que sempre afundou a minha nota em todos os vestibulares anteriores. E era pior ainda em Redação do que nas questões. No Enem de 2015 a minha nota em Redação foi 580. No Enem de 2016 a nota subiu para 900.

Que esforço você fez para conseguir esse salto? Eu acho que fiz o caminho contrário ao que muitos fazem: em vez de correr no fim do ano, desde o começo eu fazia três redações por semana. Via a correção do plantonista, o que ele mostrava que tinha de melhorar, cada detalhe. Por mais bem feita que esteja a sua redação, sempre tem uma coisinha que você tem de melhorar, e o plantonista orienta.

A nota de corte da FEA foi 50. Quantos pontos você fez na 1a fase da Fuvest? Eu fui muito bem na 1a fase da Fuvest, fiquei com 74 pontos. Foi até acima dos simulados que eu estava fazendo, que em geral ficava com 72 e tal. Melhor ainda pois a prova estava mais difícil do que em outros anos.

Passei na risca, dois ou três pontos acima da nota de corte. Agora fiquei 24 pontos acima do corte.

Fiquei feliz, comecei a pular, aí liguei para minha mãe, foi aquele choro e tal.

Para a 2a fase você mudou seu método de estudo? Mudei bastante coisa. Parei de focar em quantidade de exercícios e foquei em aprender como resolver exercício escrito e mostrar a resolução, que é o que importa na 2a fase. Passava até 20, 30 minutos em um exercício só, estudando bastante como era a resolução. A Unicamp, por exemplo, tem modelo de resolução exemplo e analisa as resoluções ruins e as resoluções boas. Isso eu fiquei sabendo em palestra que teve aqui no Etapa. Outra coisa que mudei para a 2a fase é que parei de estudar Física e Química, que não eram matérias prioritárias no terceiro dia de provas. Eu fazia só um ou dois exercícios que os professores mandavam. O resto do tempo eu gastava com Matemática e Língua Portuguesa. E ainda aproveitava o caminho de ida e volta para ler História e Geografia.

No primeiro dia da 2a fase, prova com questões de Português e Redação, qual foi sua nota?

Você fazia os simulados?

E na prova geral do segundo dia?

Fiz todos os da Fuvest.

Foi a minha maior nota a do segundo dia. Tirei 68,75, uma nota boa, a prova estava bem puxada. Fui mais seguro, tinha mais confiança em Física, Química e Biologia, e tinha estudado bastante História, Geografia e Inglês.

Sim. Tanto no sábado à noite quanto no domingo. Acordava às 7 da manhã e ficava estudando direto até as 10 horas da noite.

Dava tempo de uma descansada? Não. Quando estava muito cansado, para evitar o stress, dava uma parada de meia hora e ia escutar música, para relaxar.

O que você fez nas duas semanas de férias em julho? A primeira semana eu tirei para descansar, fui para Minas durante dois dias. A segunda semana eu aproveitei para colocar a matéria em dia. Consegui colocar duas apostilas em dia.

Como soube de sua aprovação para a FEA? Eu vi aqui no Etapa.

Pegava todos que tinha nas apostilas e também as do Fique Esperto.

Além do Reforço e dos simulados no sábado, você ainda estudava no fim de semana?

Na Redação foi 900; em Matemática,781; em Linguagens, 718; em Ciências Humanas, 734; em Ciências da Natureza, 798.

No ano anterior qual foi sua pontuação na 1a fase?

No primeiro dia fiquei com nota 67,75. Na Redação tirei 73. Valeu a pena ter estudado tanto Português e Redação. No outro ano que fiz Fuvest a nota em Redação foi 30, 40, muito ruim mesmo.

Quais eram os temas de Redação que você usava?

Pelo Sisu você conseguiu vaga também na Engenharia Química. Quais foram suas notas no Enem 2016?

E no terceiro dia, das matérias prioritárias para a FEA: Matemática, História e Geografia? Dei uma derrapada e tirei 52,08. Teve questões em que acabei confundindo o assunto, não interpretei bem a pergunta.

Na escala de zero a 1 000, qual foi sua pontuação na Fuvest? 677.

E sua classificação na carreira? No curso diurno, 47 em 847. No noturno, 46 em 879.

O que você sentiu nesse momento?

Como foi no dia da matrícula? A matrícula é bem simples, você já sai de lá com sua carteirinha provisória da USP. Depois começa a parte legal, os veteranos levam você para conhecer a faculdade e suas entidades. O que não falta na FEA é entidade para ajudar você a aproveitar bem o tempo que vai ter na faculdade.

Você demonstrou interesse por alguma entidade? Para mim o principal são duas entidades, a Liga de Mercado Financeiro, que é para quem quer se aprofundar em questão de bolsa, em tudo que tem a ver com mercado financeiro, e a FEA Júnior, que é uma das maiores e mais antigas na USP. Eu pretendo aproveitar bastante as entidades para direcionar para o que quero, consultoria ou mercado financeiro.

O que mais chamou sua atenção na faculdade? Eu fiquei impressionado com a biblioteca. É um prédio só para a biblioteca, imenso. Dos livros que você vai precisar para as aulas tem o suficiente para sua turma. Além da biblioteca principal tem o que eles chamam de Acervo Delfim Netto. Ele doou a sua coleção pessoal para a FEA.

Como são as aulas no curso de Economia? Eu tenho matéria de manhã e à tarde. Em três dias da semana as aulas são só de manhã, nos outros dois dias são de manhã e à tarde. O tempo livre você dedica às entidades. É o tempo que vou gastar na Liga Financeira, na FEA Júnior e também para estudar.

Como fica marcado o ano passado para você? O Etapa me ajudou bastante. Aqui você aprende que tem de se dedicar de verdade para chegar a seu objetivo. Aprende a estudar e a estudar mais. Esse é um diferencial do Etapa: “Você já estudou o suficiente? Não. Continue estudando, você precisa e vai ver como uma coisa boa”. O Etapa fez diferença.

O que você tira de lição desse ano no cursinho? Sempre tem alguma coisa a mais que você vai conseguir tirar de dentro de você. E vai ficar surpreso ao descobrir que consegue fazer sempre mais.


CONTO

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Romantismo Artur Azevedo I – Então, Rodolfo, decididamente, não te casas com a viúva Santos? – Nem com ela, nem com outra qualquer. E peço-lhe, meu pai, que não insista sobre esse ponto, para poupar-lhe o desgosto de contrariá-lo. O casamento assusta-me; é a destruição de todos os sonhos, o aniquilamento de todas as ilusões. Deixe-me sonhar ainda. Tenho apenas vinte e cinco anos. – Tu o que tens é uma carregação de romantismo e preguiça, que me aborrece deveras. O teu prazer, meu mariola, é andar envolvido em aventuras de novela, desencaminhando senhoras casadas, procurando amores misteriosos e noturnos, paixões de horas mortas, de chapéu desabado e capa. Olha que um dia vem a casa abaixo! Don Juan, quando menos pensava, lá se foi para as profundas do inferno! – Entretanto, observou Rodolfo a sorrir, Don Juan também usava capa, e dizem que quem tem capa sempre escapa. – Ri-te! Ri-te! um dia hás de chorar! E o doutor Sepulveda pôs-se a medir com largos passos nervosos o assoalho do gabinete. De repente estacou, sentou-se, e, voltando-se para o filho: – Que diabo! disse, a viúva Santos é uma das senhoras mais lindas que conheço! Não se diga que te estou metendo à cara um estupor! – Fosse a própria Vênus! – É mais, muito mais, porque a Vênus não tinha duzentos contos de réis em prédios e apólices. – Ora, sou bastante rico, e o senhor, meu pai, não sabe o que há de fazer do dinheiro. A sua banca de advogado rende-lhe uma fortuna todos os anos e eu tenho a satisfação de lhe lembrar que sou filho único. – A minha banca, maluco, há muito tempo não rende o que rendia no tempo em que os cães andavam com linguiças no pescoço. O que te ficou por morte da tua mãe, e o que te posso dar, ou deixar, é pouco para a tua dispendiosa vida de rapaz romântico, anacrônico e serôdio. – Tenho ainda meu padrinho, o general. – Pois sim! Teu padrinho é muito bom, sim senhor, muita festa pra festa, meu afilhado pra cá, meu afilhado pra lá, mas olha que daquela mata não sai coelho. – É extraordinário o interesse que o senhor toma por essa viúva Santos! – Não é por ela, é por ti, pedaço de asno! Vocês foram feitos um para o outro, acredita, e o que mais lhe agrada na tua pessoa é

justamente esse feitio que tens, de Antony de edição barata. – Ela nunca me viu. – Nunca te viu, mas conhece-te. Pois se não lhe falo senão do meu Rodolfo! Levei-lhe a tua fotografia, aquela maior... do Pacheco... aquela em que estás tão bonito, que até me parece a tua mãe... – Que tolice! minha mãe com bigodes! – Os bigodes não, mas os olhos, a boca e o nariz parecem tirados de uma cara e pregados na outra. – Mas se o senhor lhe levou o meu retrato, por que não me trouxe o dela? – Disso me lembrei eu. Infelizmente nunca se fotografou. Se eu lhe apanhasse o retrato, oh! oh! mostrava-to, e estou certo que não resistirias. – O senhor mete-me medo! Para evitar uma asneira de minha parte, hei de fugir da viúva Santos como o diabo da cruz! – Disseste que me interesso por ela; e quando me interessasse? Não é filha de um bom camarada, o Teles, que morou comigo quando éramos estudantes, e se formou em Olinda no mesmo dia que eu? – Não imaginas o prazer que tive quando recebi uma carta de Rosalina – ela chama-se Rosalina – dizendo-me: “Venha ver-me; quero conhecer um dos melhores amigos de meu pobre pai.” – O pai é morto? – Há muitos anos. Morreu juiz municipal nas Alagoas. Deixou a mulher e os filhos na mais completa pobreza, mas os rapazes arranjaram-se no comércio, e lá estão em Pernambuco em companhia da mãe. A Rosalina, essa casou-se com um negociante aqui do Rio, o Santos, que a viu por acaso uma vez que teve de ir a Pernambuco tratar de negócios. O doutor Sepulveda aproximou a sua cadeira para mais perto do filho e comentou: – Alguém disse que a viúva é como a casa que está para alugar: há sempre lá dentro alguma coisa esquecida pelo antigo inquilino. Bem vejo, meu filho: o que te desgosta é esse Santos, esse marido, esse inquilino; pois não tens razão. O casamento de Rosalina foi obra dos irmãos – um casamento de conveniência. A pobre rapariga sacrificou-se à felicidade dos seus. O coração entrou ali como Pilatos no Credo. Oito dias depois de casados, os noivos vieram para o Rio de Janeiro. Seis meses depois morreu o marido, mas antes disso teve a boa ideia de chamar um tabelião e fazer testamento em favor dela. Ofereço-te um coração virgem, meu rapaz; aceita-o, e com isso darás muito prazer a teu pai e ao general, teu

padrinho, que consultei a esse respeito, e é inteiramente da minha opinião. Rodolfo ergueu-se, espreguiçou-se longamente, e disse, com os braços estendidos, e a boca aberta num horroroso bocejo: – Ora, meu pai, não falemos mais nisso. E não falaram mais nisso. O doutor Sepulveda foi ter com o general, e contou-lhe a relutância do afilhado. – Mas hei de teimar, seu compadre, hei de teimar! – Não teime. Você não arranja nada. Aquele que está ali não se casa nem à mão de Deus Padre. – É o que havemos de ver, seu compadre, é o que havemos de ver...

II Dois dias depois, Rodolfo sentia-se abalado pela insistência paterna, e estava quase disposto a pedir ao doutor Sepulveda que o apresentasse à viúva Santos, quando o correio urbano lhe trouxe uma carta concebida nos seguintes termos: “Rodolfo – Se não é medroso, esteja amanhã, quinta-feira, às 8 horas da noite, no largo da Lapa, junto ao chafariz. Ali encontrará uma senhora idosa, vestida de preto, com o rosto coberto por um véu. Faça o que ela indicar. Trata-se de sua felicidade.” A carta escrita com letra de mulher, em papel finíssimo, não tinha assinatura, e exalava um delicioso perfume aristocrata. Rodolfo leu-a, releu-a três vezes, e guardou-a cuidadosamente. Ocioso é dizer que a viú­ va Santos varreu-se inteiramente da sua imaginação, excitada agora pelo misterioso da aventura que lhe propunham. Foi ao largo da Lapa. Por que não havia de ir? Poderia recear uma cilada? Ora! no Rio de Janeiro não há torres de Nesle nem Margaridas de Borgonha. Já lá encontrou a velha, junto do chafariz. Ela foi ao seu encontro, cumprimentou-o, e, dirigindo-se a um coupé estacionado a alguns passos de distância, abriu a portinhola e com um gesto convidou-o a entrar. Rodolfo não hesitou um segundo; entrou; a velha entrou também, e o coupé rodou na direção do Passeio Público. – Aonde vamos? perguntou ele. A velha disse-lhe por gestos que era muda, e abaixou os stores. Rodolfo percebeu que o carro entrou na rua das Marrecas, e dobrou a dos Barbonos; depois não pôde saber ao certo se tomou a rua dos Arcos ou a de Riachuelo. As rodas moviam-se vertiginosamente. De vez em quando dobravam uma esquina. Dez minutos depois, o moço ignorava completamente se se achava em caminho de Botafogo ou


CONTO

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de Vila Isabel, da Tijuca ou do Saco do Alferes. Quis levantar um store. A velha opôs-se com um gesto precipitado e enérgico. Ele caiu resignadamente no fundo do carro, e deixou-se levar. Ora, adeus! A viagem durou seguramente uma hora. Quando o coupé estacou, a velha ergueu-se, tirou um lenço da algibeira, e tapou os olhos do moço, que se deixou vendar humildemente, sem proferir uma palavra. Ela ajudou-o a descer, e levou-o pela mão, sempre de olhos tapados, como Raul de Nagis nos Huguenotes. Pelo cascalho que pisava e pelo aroma que sentia, Rodolfo adivinhou que estava num jardim, caminhando em deliciosa alameda. Depois de andar cinco minutos, guiado sempre pela mão encarquilhada da velha, esta murmurou baixinho: – Adeus, seja feliz! – e afastou-se. Ao mesmo tempo, uma voz argentina, uma voz de mulher que parecia vir do alto e soou musicalmente aos seus ouvidos, disse-lhe: – Desvenda-se, Rodolfo.

Ele arrancou o lenço dos olhos. Estava efetivamente num jardim, defronte de uma das partes laterais de um belo prédio moderno. A lua, iluminando suavemente aquele magnífico cenário, batia de chofre na sacada em que se achava uma mulher vestida de branco com os cabelos soltos. – Onde estou eu? perguntou ele, e olhou para o horizonte, a ver se algum morro conhecido o orientava. Nada! – nos fundos da casa erguia-se, é verdade, um morro, mas tão próximo e tão alto, que o moço do lugar em que se achava, não lhe podia notar a configuração. – Onde estou eu? repetiu. Por única resposta a mulher de cabelos soltos deixou cair uma escada de seda, cuja extremidade ficou presa à sacada; e Rodolfo subiu por ela com mais presteza do que o faria o próprio Romeu. Ao entrar na alcova, fracamente iluminada pela meia-luz de um bico de gás, ficou deslumbradíssimo. Estava diante de um prodígio de formosura! O pasmo embargou-lhe a fala; quis soluçar um madrigal, e não teve uma palavra, uma sílaba, um som inarticulado!

– Amo-te, disse ela com uma voz que mais parecia um ciciar de brisa; amo-te muito, Rodolfo, e quero que também me ames. – Oh! sim, sim... quem quer que sejas... eu amo-te, e... Uma gargalhada o interrompeu. Era o doutor Sepulveda que entrava na alcova e dava mais luz ao bico de gás. – Meu pai! – Teu pai, sim, meu romântico. Era esse o único meio de te fazer cá vir. Ora aqui tens a viúva Santos. Agora recuas, se és homem! O casamento ficou definitivamente tratado naquela mesma noite.

III No dia seguinte o doutor Sepulveda, nadando em júbilo, foi ter com o general e contou-lhe tudo. – Então? não lhe dizia, seu compadre? – Ora muito obrigado! respondeu o outro com a sua rude franqueza de velho militar; por esse processo você poderia casá-lo até com a Chica Polka! Extraído de: Contos de Artur Azevedo. Disponível em: <www.dominiopublico.gov.br>.

POIS É, POESIA

Augusto dos Anjos (1884-1914) Psicologia de um vencido

E u, filho do carbono e do amoníaco, Monstro de escuridão e rutilância, Sofro, desde a epigênese da infância, A influência má dos signos do zodíaco. Profundissimamente hipocondríaco, Este ambiente me causa repugnância... Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia Que se escapa da boca de um cardíaco. Já o verme – este operário das ruínas – Que o sangue podre das carnificinas Come, e à vida em geral declara guerra, Anda a espreitar meus olhos para roê-los, E há de deixar-me apenas os cabelos, Na frialdade inorgânica da terra!

O morcego

M eia-noite. Ao meu quarto me recolho.

Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede: Na bruta ardência orgânica da sede, Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.

“Vou mandar levantar outra parede...” – Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um

[olho,

Circularmente sobre a minha rede! Pego de um pau. Esforços faço. Chego A tocá-lo. Minh’alma se concentra. Que ventre produziu tão feio parto?! A Consciência Humana é este morcego! Por mais que a gente faça, à noite, ele entra Imperceptivelmente em nosso quarto!

Idealização da humanidade futura

R ugia nos meus centros cerebrais

A multidão dos séculos futuros – Homens que a herança de ímpetos

[impuros

Tornara etnicamente irracionais! Não sei que livro, em letras garrafais, Meus olhos liam! No húmus dos monturos, Realizavam-se os partos mais obscuros, Dentre as genealogias animais!

Como quem esmigalha protozoários Meti todos os dedos mercenários Na consciência daquela multidão... E, em vez de achar a luz que os Céus Somente achei moléculas de lama E a mosca alegre da putrefação!

[inflama,

Versos íntimos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável Enterro de tua última quimera. Somente a Ingratidão – esta pantera – Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera! O Homem, que, nesta terra miserável, Mora, entre feras, sente inevitável Necessidade de também ser fera. Toma um fósforo. Acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro, A mão que afaga é a mesma que apedreja. Se a alguém causa inda pena a tua chaga, Apedreja essa mão vil que te afaga, Escarra nessa boca que te beija! Extraído de: Toda a poesia, Paz e Terra, 1976.


ARTIGO

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Grupo da Unesp divulga censo de mamíferos em florestas imersas na cana-de-açúcar Karina Toledo

P

esquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) acabam de publicar um censo de mamíferos de médio e grande porte encontrados em 22 remanescentes florestais circundados por monocultura de cana-de-açúcar em São Paulo. A conclusão do estudo é “surpreen­ dentemente positiva”, segundo Mauro Galetti, professor do Departamento de Ecologia do Instituto de Biociências, em Rio Claro. “Encontramos cerca de 90% de todas as espécies de mamíferos que são esperadas para o estado de São Paulo. Nesses fragmentos ainda existem onça-pintada (Panthera onca), tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), anta (Tapirus terrestris) e queixada (Tayassu pecari), ou seja, não há registro de extinção regional de espécies. Só não registramos algumas extremamente raras, como o tatu-canastra (Priodontes maximus)”, disse Galetti. A pesquisa, cujos resultados foram publicados na revista Biological Conservation, foi realizada com apoio da Fapesp. Porém, nem tudo é boa notícia. Conforme relatam os autores no artigo, nos fragmentos florestais pequenos são encontrados apenas entre 20% e 50% das espécies esperadas para o estado. Isso quer dizer que, em alguns casos, até 80% das espécies foram localmente extintas. “Observamos que, quanto maior a área florestal remanescente, mais animais raros ela possui. Encontramos até mesmo um único registro do cachorro-vinagre (Speothos venaticus), algo não esperado nesses ambientes circundados pela cana-de-açúcar”, afirmou Gabrielle Beca, primeira autora do estudo. Já nos fragmentos menores, acrescentou a pesquisadora, restam somente as espécies mais generalistas, como gambá (Didelphis albiventris) ou o tatu-galinha (Dasypus novemcimtus), que conseguem se adaptar a ambientes conturbados por não necessitarem de áreas tão grandes para encontrar alimento.

Metodologia O trabalho de campo foi realizado durante o mestrado de Beca, sob orientação de Galetti, no âmbito do Programa FAPESP de

Pesquisas em Caracterização, Conservação, Restauração e Uso Sustentável da Biodiversidade (BIOTA-FAPESP). Os remanescentes estudados vão desde a região de Presidente Prudente, no extremo oeste do estado, até São José do Rio Pardo, a leste, passando por regiões ao norte perto de Araçatuba e São José do Rio Preto. “Visitamos esses 22 fragmentos e instalamos em cada um deles, no meio da mata, armadilhas fotográficas. Colocamos as máquinas automáticas onde havia grande possibilidade de os animais passarem, como locais com água ou próximos de árvores que estavam frutificando”, explicou Beca. As câmeras foram retiradas após um mês e, para complementar o trabalho, foi feito um censo de pegadas deixadas nas bordas da floresta. “Há guias que permitem identificar a espécie pelo formato da pegada e o tipo de marca deixada e também fizemos avistamentos diretos dos animais”, contou Beca.

Ao todo, foram identificadas 29 espécies de mamíferos de médio e grande porte. Além das já mencionadas, foram observados também quati (Nasua nasua), tatuí (Cabassous tatouay), tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla), ouriço-cacheiro (Coendou prehensilis), capivara (Hydrochoerus hydrochaeris) e cutia (Dasyprocta azarae), entre outras. “Também houve muitos registros de animais invasores, como o javaporco (Sus scrofa), um híbrido de javali com porco doméstico que se tornou uma praga no Brasil”, comentou Beca. De acordo com uma pesquisa anterior do grupo de Galetti, o javaporco representa uma ameaça à saúde pública, pois se tornou uma importante fonte de alimento dos morcegos-vampiros (Desmodus rotundus), fazen-

do aumentar a população desses animais transmissores do vírus da raiva. Além disso, segundo Beca, eles trazem impactos na agricultura e competem com outras espécies de mamíferos, como o cateto (Pecari tajacu) e a queixada. “Outro registro problemático foi o de cães domésticos (Canis lupus familiaris), que são predadores de muitas espécies silvestres”, contou Beca.

Corredores ecológicos Na avaliação de Galetti, os resultados do censo indicam que ainda há chances de preservar boa parte da fauna de mamíferos do estado de São Paulo se forem criados corredores ecológicos para conectar os diversos fragmentos florestais. “No momento, não é preciso reintroduzir animais que foram extintos, mas sim conectar essas paisagens por meio do plantio de corredores florestais para que os animais possam se achar e sobreviver. Caso contrário, essa fauna ficará ilhada e com o tempo haverá extinções de várias espécies”, disse o pesquisador. Para Beca, os fragmentos que abrigam maior número de espécies devem ter prioridade nesse trabalho. “Espécies como a anta e a queixada prestam um importante serviço ecossistêmico, pois são dispersoras de sementes. Precisamos olhar para as áreas onde elas ocorrem e, a partir desses pontos, conectar com outros”, avaliou. Segundo a pesquisadora, um bom começo seria colocar em prática medidas preconizadas pelo Novo Código Florestal (Lei no 12.651, de 2012). “A lei estabelece, por exemplo, que deve ser preservada uma área de mata de 30 metros em volta dos rios. Mas no geral isso não tem sido respeitado, nem implementado”, afirmou Beca. “Se todos cumprirem o Código Florestal e não perseguirem os animais silvestres, haverá uma enorme chance de São Paulo ser um exemplo que alie conservação da biodiversidade e produção agrícola”, comentou Galetti. Extraído de: Agência FAPESP – Divulgando a cultura científica, mar./2017.


ARTIGO

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O tempo geológico

Ivan Tihelka/Shutterstock

Rochas magmáticas

As rochas magmáticas se formam a partir da matéria fundida (magma) que emerge do interior da Terra. Quando o magma se solidifica antes de alcançar a superfície, forma rochas intrusivas como o dolerito, o gabro e o granito. Quando se solidifica após chegar à superfície, forma rochas vulcânicas como o basalto (a mais comum), a obsidiana e a pedra-pomes. Ao esfriar e cristalizar-se, sua composição se modifica, dando lugar a centenas de diferentes tipos de rochas magmáticas, a partir de reduzidos tipos de minerais. Após um rápido esfriamento, há a possibili­dade de permanência de minerais que se formam em altas temperaturas. Em 1785, porém, o naturalista escocês James Hutton publicou a sua Teoria da Terra, na qual afirmava que os processos naturais de criação e erosão das montanhas eram tão lentos que a Terra devia existir há muitos milhões de anos. Suas opiniões foram em ge-

ral recusadas até o princípio do decênio de 1830, época em que outro escocês, o geólogo Charles Lyell, as apoiou em sua famosa obra em três volumes, Os princípios da Geologia, lançando as bases da biologia evolutiva e do conhecimento da evolução da Terra. Com o surgimento da Geologia como ciência autônoma, a humanidade enfim tomou consciência da enorme quan­tidade de tempo que a natureza gastou para levar a cabo as transformações que haviam efetivamente ocorrido. Nosso planeta é uma bola rochosa cuja história pode ser reconstruída, praticamente desde o princípio, mediante o estudo das rochas de sua superfície ou situa­das próximas o bastante dela de modo que possam ser alcançadas através da perfuração do solo. As rochas podem ser agrupadas em três categorias prin­cipais: rochas magmáticas, formadas por matéria fundida que emerge do interior da Terra; rochas metamórficas, que o calor e a pressão transformaram; e rochas sedimentares, que possuem uma estrutura estratificada e são formadas por fragmentos separados de outras rochas e depositados como sedimentos em outros lugares. As rochas magmáticas e metamórficas mais antigas nos proporcionam indícios sobre a origem e a história primitiva da crosta terrestre; as formações de rochas magmáticas e deformadas mais jovens nos ajudam a compreender como se formaram as cadeias de montanhas; e as sedimentares, depositadas em camadas ou estratos ao longo de milhões de anos, fornecem os principais dados sobre os quais se baseia a escala normal do tempo geológico. As rochas sedimentares contêm fósseis, ou seja, restos de antigos organismos vivos. Como resultado da evolução, os seres vivos mudam constantemente, motivo pelo qual os fósseis achados nas rochas sedimentares constituem os elementos principais que nos permitem estabelecer a idade relativa das rochas encontradas em zonas geográficas diferentes. Em função disso, podemos considerar a com­binação da estratigrafia (o estudo da sucessão de estratos rochosos) e a paleontologia (o estudo dos fósseis em relação à evolução da crosta terrestre), o estudo da “história em camadas”. Com o aparecimento da radiometria nos anos 1950, os cientistas puderam completar os dados obtidos a partir dos fósseis sobre a idade relativa com os dados sobre a idade absoluta (isto é, a idade em anos). A idade em anos de certas classes de rochas pode ser calculada a partir da quantidade de elementos radioativos e dos produtos de sua desintegração nos minerais que compõem essas rochas. Os isótopos do urânio,

do potássio e do rubídio se desintegram a ritmos que conhecemos, transformando-se em isótopos estáveis de chumbo, argônio e estrôncio, respectivamente. Os produtos da desintegração começam a se acumular num mineral uma vez que este se tenha cristalizado e esfriado, pondo em movimento, por assim dizer, uma espécie de “relógio radioativo”.

Rochas metamórficas Doug Lemke/Shutterstock

A

Geologia é a ciência que estuda a natureza e a estrutura da Terra e os dados que nos testemunham as antigas formas de vida. Compreende a descrição das formas e acidentes terrestres, porém o que mais lhe interessa são os processos e as forças a que se deve a paisagem atual de nosso planeta. De modo geral, esses processos atuam de maneira extremamente lenta. São necessários enormes períodos de tempo para que a crosta terrestre se dobre formando cadeias de montanhas, para que estas se convertam em planícies pelo desgaste, para que avancem ou retrocedam as massas de gelo e para que ocorra o inexorável movimento de vastos segmentos dessa crosta. A ideia da vastidão do tempo geológico é relativamente recente no pensamento ocidental. Em 1656, após um cuidadoso estudo das genealogias de que fala a Bíblia, o arcebispo de Armagh (norte da Irlanda), James Ussher, calculou que a Criação havia ocorrido às oito horas da noite de 22 de outubro de 4004 a.C. – cálculo que ainda era amplamente aceito no século XVIII.

As rochas metamórficas são rochas transformadas (metamorfoseadas) e cristalizadas pelo calor e pela pressão. Neste processo de transformação, os minerais das rochas primitivas se reconstituem, formando cristais maiores, ou reagem entre si para formar novos minerais. As rochas então produzidas possuem uma estrutura estratificada que recebe o nome de foliação, tal como se pode observar na ardósia. O metamorfismo ocorre em duas situações distintas: em torno de cristais de magma que surgem na rocha após esfriada (metamorfose de contato); e no interior das dobras rochosas de temperaturas elevadas ou sob as fossas oceânicas onde se produzem altas pressões (metamorfismo regional). Entre as rochas metamórficas encontramos a ardósia, produzida a partir da argila, sob baixas temperatura e pressão; o xisto e o gnaisse, formados sob temperatura e pressão mais altas; e o mármore, derivado do arenito. Assim como o tempo cronológico se divide em horas, minutos e segundos, o tempo geológico se divide em eras, pe­ríodos ou sistemas e épocas ou séries. A primeira das eras, a Pré-Cambriana, abarca o período de tempo compreendido entre a formação da crosta terrestre, há cerca de 4,6 bilhões de anos, e o momento em que, há cerca de 570 milhões de anos, começaram a surgir, pela primeira vez na história da Terra, formas variadas de vida, que chegaram até nós como restos fósseis. A Era Pré-Cambriana, que alguns geólogos subdividem em outras duas, a Arqueozoica e a Proterozoica, compreende pois quase 90% do tempo geológico.


ARTIGO

BarryTuck/Shutterstock

Rochas sedimentares

As rochas sedimentares, que possuem uma estrutura estratificada, contêm a totalidade dos combustíveis (petróleo, carbono) e dos organismos (animais, vegetais) fósseis do planeta. A primeira fase de sua formação consiste na desagregação de rochas já existentes. Os produtos deste processo, fragmentados ou dissolvidos, são arrastados até se depositarem em outros locais, formando camadas horizontais superpostas, ou sedimentos. Estas camadas, pressionadas ou aglutinadas por outros minerais, enrijecem e formam as rochas sedimentares. Existem três tipos principais destas rochas: fragmentárias, formadas por seixos (brecha, conglomerados), areia (saibro, arenito) ou barro (argila, xisto de barro, xisto); orgânicas, constituídas principalmente por resíduos fósseis de animais e plantas (carbonos, calcários); e formadas quimicamente por precipitação de água salobra e de fontes hidrotérmicas (sal-gema, gesso, minério de ferro, alguns tipos de calcário e quartzos silícios). O período que vai desde o final da Era Pré-Cambriana até o presente abrange três eras: a Paleozoica (“vida antiga”), de 570 a 225 milhões de anos; a Mesozoica (“vida intermediária”), de 225 a 65 milhões de anos; e a Cenozoica (“vida nova”), de 65 milhões de anos até hoje. Generalizando, podemos dizer que os vertebrados e os invertebrados relativamente simples, como os peixes, os anfíbios e os répteis primitivos, constituíam as formas de vida predominantes durante a Era Paleozoica; a Mesozoica presenciou o aparecimento e o domínio dos répteis superiores, como o dinossauro; e a Era Cenozoica ou Contemporânea é a do domínio dos mamíferos. As eras se dividem em unidades menores chamadas períodos ou sistemas. A maior parte deles recebe o nome das regiões geográficas onde foram encontradas rochas com fósseis característicos de seus segmentos de tempo geológico. Assim, o Período Cambriano recebeu seu nome da antiga denominação de Gales e o Permiano, do antigo reino russo de Perm. Por outro lado, o nome de certos pe­ ríodos não deriva de sua localização geográ-

fica, mas das características físicas de suas rochas. Assim, o nome do Período Cretáceo se origina da palavra latina que designa o giz (creta) e o do Triássico devido ao fato de que na Alemanha as rochas desse período se dividem em três estratos distintos, consistindo em arenito, calcário e piçarra. Em certos casos, geólogos de distintas partes do mun­ do utilizam nomenclatura diferente para designar o mes­mo período. Por exemplo, o período que os europeus deno­minam Carbonífero, devido à presença de carbono, agrupa aqueles que os norte-americanos chamam de Pensilvânico e Mississípico (regiões geográficas). Os períodos se dividem em épocas ou séries, que por sua vez se subdividem em idades ou etapas. E aqui aumentam as divergências da nomenclatura utilizada nas diversas regiões do mundo. Isso ocorre principalmente porque a relação entre o tempo geológico e as sucessões de estratos rochosos estabeleceu-se segundo o modelo de pensamento tradicional da região ou do país, cujos critérios inevitavelmente diferem de um para outro, assim como as terminologias e as classificações. Nem todos os geólogos aceitarão, portanto, os nomes e as datas assinaladas, nem mesmo os de um quadro simplificado como o mostrado logo a seguir.

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Portanto, ficaria facilitada a solução de muitos problemas geológicos importantes se fosse aclarada a compreensão pelos geólogos de todo o mundo dos dados provenientes de diversas regiões mediante a adoção de terminologia e normas comuns. Alcançar esse objetivo é um dos propó­ sitos principais do Programa Internacional de Correlação Geológica, no qual conjugam esforços a Unesco e a União Internacional de Ciências Geológicas. De particular importância são os projetos destinados a aperfeiçoar progressivamente as escalas do tempo geológico. Os geólogos necessitam de métodos precisos para determinar o tempo, não só como base para as investigações sobre a evolução da crosta terrestre, como também para identificar e avaliar os recursos energéticos e minerais. A compreensão do processo natural que conduziu à acumulação de depósitos de minerais ou de combustíveis fósseis depende da capacidade do geólogo de aprender a sucessão de etapas em que se formaram esses depósitos e de relacionar corretamente entre si as séries ou sucessões relativas à formação de depósitos similares em zonas muito distantes entre si. Parafraseando o velho ditado: “O tempo geológico é dinheiro”.

ESCALA DO TEMPO GEOLÓGICO

Era

Período/ Sistema Quaternário

Cenozoica Terciário

Mesozoica

Pré-Cambriana

Duração em milhões de anos

Holoceno

0,01

Plistoceno

2,5

Plioceno

4,5

Mioceno

19

Oligoceno

12

Eoceno

16

Paleoceno

11

Cretáceo

71

Jurássico

54

Triássico

35

Permiano

55

Carbonífero

Paleozoica

Época/Série

Pensilvaniano*

45

Mississipiano*

20

Devoniano

50

Siluriano

35

Ordoviciano

70

Cambriano

70

Protozoico ou Algonquiano Arqueozoico ou Arqueano

Não dividimos em períodos

4 030

*  Nomes tirados de localidades geográficas que variam consideravelmente. Extraído de: O Correio da Unesco. Tradução de Ângela Melim.


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(ENTRE PARÊNTESIS)

Verdade ou mentira? Um crime é cometido por uma pessoa e há quatro suspeitos: André, Eduardo, Rafael e João. Interrogados, eles fazem as seguintes declarações:

André: Eduardo é o culpado. Eduardo: João é o culpado. Rafael: Eu não sou o culpado. João: Eduardo mente quando diz que eu sou o culpado.

Sabendo que apenas um dos quatro disse a verdade, determine quem foi o culpado.

RESPOSTA Como as afirmações de Eduardo e João são contrárias, não há como ambas serem falsas ou ambas verdadeiras. Assim, apenas uma das duas é verdadeira. Se Eduardo fala a verdade, temos que João é o culpado e os outros mentiram. Porém, se João é culpado, Rafael não pode ser culpado, como ele próprio afirmou, pois haveria dois culpados, o que não é possível, segundo as condições impostas pela questão. Segue, então, que João fala a verdade. Podemos assim admitir que André, Eduardo e Rafael mentem. Porém, se Rafael mente, segue que é dele a culpa, já que tinha afirmado que não era o culpado.

SOBRE AS PALAVRAS

Bateu as botas Essa frase, indicando que o sujeito morreu, é uma variante das tradicionais “Esticou as canelas”, “Abotoou o paletó”, “Partiu desta para melhor”. O curioso, porém, é que se aplicava apenas ao morto adulto, do sexo masculino, que tinha o costume de andar de botas ou ao menos calçado. O sapato tem sido símbolo de qualificação social ao longo de nossa história. Provavelmente, bate as botas ao morrer alguém de certas posses, ao menos remediado. Outros mortos apenas esticam as canelas ou partem desta para melhor. No segundo caso, partem com estilo, fazendo dupla elipse, já que está subentendido que partiram desta para outra vida, que os comentadores anteveem mais favorável a quem partiu. Dependendo da herança, sua partida é mais favorável para quem ficou. As origens da frase residem no bom trato despendido aos mortos, postos arrumadinhos nos caixões, com o paletó abotoado. Como, porém, as mulheres passaram a usar roupas semelhantes às dos homens, também elas podem abotoar o paletó à triste hora da partida. A pergunta, entretanto, permanece: triste para quem? Sábios, os latinos cunharam outra frase: Requiescat in pace (descanse em paz). E há um emblema para as cerimônias fúnebres, o réquiem (descanso). Um dos mais célebres é o de Mozart.

SERVIÇO DE VESTIBULAR Faculdade de Tecnologia (Fatec) Período de inscrição: até dia 12 de junho de 2017. Somente via internet. Endereço da faculdade: Praça Coronel Fernando Prestes, 30 – Bom Retiro – São Paulo – SP – CEP: 01124-060 – Telefone: (11) 3322-2200. Requisito: taxa de R$ 75,00. Cursos e vagas: consultar site www.vestibularfatec.com.br Exame: dia 02 de julho de 2017.

Universidade de Araraquara (Uniara) Período de inscrição: até dia 12 de junho de 2017. Presencial ou via internet. Endereço da faculdade: Rua Carlos Gomes, 1 338 – Centro – Araraquara – SP – CEP: 14801-340 – Telefone: 0800-55-65-88. Requisito: taxa de R$ 25,00. Cursos e vagas: consultar site www.uniara.com.br Exame: dia 24 de junho de 2017.

Período de inscrição: até dia 31 de maio de 2017. Somente via internet. Endereço da faculdade: Rua Guilherme Schell, 350 – Santo Antônio – Porto Alegre – RS – CEP: 90640-040 – Telefone: (51) 3218-1400. Requisito: taxa de R$ 90,00. Cursos e vagas: consultar site www.espm.br Exame: dia 03 de junho de 2017.

Universidade Metodista de São Paulo (Umesp)

Centro Universitário Belas Artes de São Paulo (Belas Artes)

Período de inscrição: até dia 08 de junho de 2017. Presencial ou via internet. Endereço da faculdade: Rua Alfeu Tavares, 149 – Rudge Ramos – São Bernardo do Campo – SP – CEP: 09641-000 – Telefone: (11) 4366-5000. Requisito: não há taxa de inscrição. Cursos e vagas: consultar site www.metodista.br Exame: dia 11 de junho de 2017.

Período de inscrição: até dia 02 de junho de 2017. Somente via internet. Endereço da faculdade: Rua Dr. Álvaro Alvim, 90 – Vila Mariana – São Paulo – SP – CEP: 04018-010 – Telefone: (11) 5576-7300. Requisito: taxa de R$ 100,00. Cursos e vagas: consultar site www.belasartes.br/vestibular Exame: dia 10 de junho de 2017.

Fundação Educacional Inaciana “Pe. Sabóia de Medeiros” (FEI) Período de inscrição: até dia 02 de junho de 2017. Presencial ou via internet. Endereço da faculdade: Av. Humberto de Alencar Castelo Branco, 3 972 – Assunção – São Bernardo do Campo – SP – CEP: 09850-901 – Telefone: (11) 4353-2900. Requisito: taxa de R$ 90,00 pelo site e R$ 110,00 pessoalmente. Cursos e vagas: consultar site www.fei.edu.br Exames: dias 10 e 11 de junho de 2017.

Escola Superior de Propaganda e Marketing – Rio Grande do Sul (ESPM-RS)

Jornal do Vestibulando

Jornal ETAPA, editado por Etapa Ensino e Cultura REDAÇÃO: Rua Vergueiro, 1 987 – CEP 04101-000 – Paraíso – São Paulo – SP


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