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Jornal do Vestibulando
ENSINO, INFORMAÇÃO E CULTURA
JORNAL ETAPA – 2017 • DE 17/08 A 30/08
CURSO – ARQUITETURA/USP
“Às vezes a gente precisa de uma segunda chance para fazer as coisas... A gente precisa manter a calma, pisar no chão.” Alice dos Anjos Picariello prestou Fuvest ao terminar o Ensino Médio e ficou na 1a fase. No ano passado dedicou-se ao cursinho e hoje está na FAU-USP. Nesta entrevista fala como superou dificuldades em Matemática, Biologia e Química. Fala também sobre suas primeiras impressões da faculdade e das matérias que mais gosta no 1o ano.
Alice dos Anjos Picariello Em 2016: Etapa Em 2017: Arquitetura – USP
JV – Como você escolheu Arquitetura? Alice – Sempre gostei muito de desenho e queria trabalhar com alguma coisa mais artística. As minhas opções estavam entre os cursos de Comunicação e Artes da ECA e Arquitetura. Mas também gostava de duas áreas do conhecimento, Humanas e Exatas, e participei de algumas olimpíadas de Física. Eu gostava bastante de estudar e gostaria que tivesse um equilíbrio entre as duas áreas.
Sua escolha se deu quando? A partir do 9o ano do Ensino Fundamental a gente já começa a pensar sobre o que vai fazer, mas a minha decisão mesmo foi no 2o ano do Ensino Médio.
Como está sendo seu início de curso na FAU? A faculdade exige uma outra cabeça. Não adianta você chegar lá achando que vai ser igual ao cursinho ou igual ao colégio. Se você quer ser um bom profissional é importante que se dedique sempre. A luta não acaba no cursinho, ela continua na faculdade.
Como você veio estudar no Etapa? Meu colégio é em Osasco e conheci lá pessoas que tinham vindo para o Etapa para prestar alguns cursos bem concorridos.
Você já tinha prestado a Fuvest? Eu prestei no 2o e no 3o ano do Ensino Médio.
que fazer dois anos de cursinho. Um para ir para a 2a fase e outro para passar. Eu tinha essa insegurança. Mas com o passar do tempo os professores foram acalmando a gente. Eles falavam que o importante é estudar e que iria dar certo.
Então, no começo do ano você estava insegura? Sim, ainda mais pela prova de habilidades específicas na 2a fase, para entrar na FAU. Eu tinha medo de não ir bem nessa prova.
E essa prova acabou sendo retirada da Fuvest pela FAU – e não será aplicada por mais cinco anos... Mas no começo do ano eu achava que ia ter. A gente é a primeira turma que não teve prova de habilidades específicas.
Você fez Reforço? Sim. Fiz o RLA, o Reforço com Linguagem de Arquitetura. Não teve a prova na Fuvest, mas é visível que os alunos que fizeram RLA foram agora favorecidos na disciplina Fundamentos de Projeto do 1o ano. A gente tem que saber fazer desenho técnico, composição ou desenhos em geral, croquis. Ter treinado isso no Reforço foi fundamental para que agora, na faculdade, eu tenha uma base muito boa. Eu me sinto tranquila e confortável para fazer as coisas.
Como você estava no início do cursinho?
Como as aulas de RLA ajudam agora na faculdade?
Eu estava um pouco confusa porque nunca tinha ido para a 2a fase. Como a Fuvest é um vestibular concorrido, eu imaginava que teria
Principalmente uma visão espacial de como utilizar a folha, por exemplo. Às vezes, as pessoas fazem desenho de observação que não ARTIGO
ENTREVISTA
Alice dos Anjos Picariello CONTO
A carteira – Machado de Assis
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O suicídio de Vargas
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ocupam a folha. Os professores frisavam muito no começo que era para fazer uma composição harmônica que ocupasse o espaço legal. Que fosse centralizada, tivesse limpeza; isso conta muito. Acho que uma questão que a gente aprendeu foi sobre combinação cromática. E uma questão que eu lembro muito que eles falavam é que os arquitetos insiram a natureza. Os professores da faculdade dizem que o arquiteto tem que andar. A pé, de carro, de bicicleta, a gente vive na cidade, tem que vê-la a todo momento.
Como era seu método de estudo? Sempre estudava a matéria do dia. Tentava não atrasar nunca, porque não daria depois para pegar o ritmo. Em Matemática, tentava fazer a maior quantidade de exercícios. Em Biologia eu fazia todos os exercícios também, porque era uma matéria em que eu tinha dificuldade e sabia que precisava melhorar.
Em quais matérias você tinha mais dificuldade? Matemática, Biologia e Química eram as minhas piores. Mas consegui melhorar bastante. Fiquei muito tranquila na prova porque eu sabia que ia poder fazer o que seria cobrado.
Você teve crescimento em quais áreas? Acho que cresci em todas as áreas. Nas em que eu estava um pouco defasada a melhora foi bem mais evidente, significativa.
Quais foram suas dificuldades durante o ano? Osasco é muito longe. Eu tinha problemas de horário para vir. SERVIÇO DE VESTIBULAR
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Você saía de casa a que horas? Eu acordava às 4:30, por aí, saía às 5:15. Meu pai me deixava na estação, vinha de trem e metrô, chegava aqui às 6:15. Ficava esperando liberar as salas para começar a estudar.
Você ficava aqui à tarde? Preferia estudar em casa. Chegava lá às 2 e meia, mais ou menos.
E estudava até que horas? Dependendo do dia, até as 9 horas da noite.
Como fazia para eliminar as dúvidas? As dúvidas eu tirava com os professores ou colegas. Se não conseguisse, ia ao plantão. Reunia as dúvidas para vir.
Em quais matérias você ia mais ao plantão? Fui nas mais tranquilas. Biologia e Geografia. Matérias em que eu estava na média, mas tinha que elevar.
E o Plantão Virtual na internet? A resolução comentada do site me ajudou muito.
No final de semana você estudava também? Estudava. No domingo eu acordava por volta das 10 horas e depois do almoço pegava até umas 6, 7 horas. Algumas matérias têm muito mais exercícios ou exercícios demorados. Por isso decidi que se eu não conseguisse fazer durante a semana eu faria no fim de semana, para não acumular. Ou resumia o que eu tinha estudado na semana para fixar bem.
Você fazia os simulados? Fiz quase todos. Acho que só no final do ano não fiz alguns.
Em que faixas você ficava nos simulados? C menos e C mais. Eu ia tentando melhorar.
E como fazia com Redação? Redação foi uma coisa tranquila para mim. É importante treinar. Tentava fazer uma redação por semana.
Você ficava em que faixa nas redações dos simulados? Eu ficava em B e A.
Você leu as obras literárias indicadas como obrigatórias pela Fuvest e pela Unicamp? Li todas da Unicamp e da Fuvest, menos uma.
Assistiu às palestras sobre as obras, qual a importância delas? Assisti a todas. Eu acho que a palestra é um filtro do que o professor entende daquela obra. Ele tem uma visão diferente. É importante também que os alunos leiam e tenham a própria opinião, a própria visão sobre o que acham das obras.
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Setembro, outubro, chegando a Revisão. O que você fez então?
De que matéria você está gostando mais até agora?
Não deixei nada para trás. Fiquei bem feliz com isso.
Estudos da Urbanização, eu amo muito. É muito legal. Geometria Aplicada também é bem legal.
Você tinha alguma atividade para descansar, recarregar a bateria? Gostava muito de assistir a filmes em série. Acho que era a única coisa que eu conseguia porque tem uma duração curta. E ficar desenhando, uma coisa de que eu gostava e via mais como um hobby do que obrigação. Era uma coisa agradável e tranquila.
Quando saiu da 1a fase você estava confiante na aprovação final? A prova da 1a fase foi bem estressante, mas eu estava confiante, porque tinha mais facilidade nos simulados escritos. Sabia que ia conseguir colocar pelo menos uma parte do meu conhecimento.
Como você foi na 2a fase? No primeiro e no terceiro dia tirei sessenta e alguma coisa. Na Redação tirei 70. No segundo dia foi minha nota mais alta, 72,9.
E sua classificação na carreira? Foi 83 de 150 aprovações.
Como soube de sua aprovação para a FAU? No dia da lista eu acordei umas 9 horas e me arrumei para vir ao Etapa. Minha mãe estava em casa e eu não tinha coragem de ver o resultado. Pedi a ela: “Vê para mim”. Entrei no site, coloquei meu número, ela viu meu nome na lista e disse que eu tinha sido aprovada. Fiquei muito feliz e vim para cá. Já tinha uns amigos meus aqui. Vi meu nome na lista mesmo para ter certeza... E ganhei a camiseta.
Você já conhecia a FAU? Conhecia porque eu moro perto. Já tinha ido lá, já tinha feito a Olimpíada Brasileira de Física na USP e aproveitei para passar na FAU. E tinha amigos meus que estavam na FAU e em outros institutos e fui visitá-los.
Como foi a recepção aos calouros? Foi bem tranquilo. Fui com minha mãe e meu pai. Fiz a matrícula em 15 minutos, eles me pintaram, teve churrasco, a gente ficou lá no gramado. As pessoas são muito receptivas.
Que matérias você teve no primeiro semestre? Geometria Descritiva, Estudos da Urbanização, Construção do Edifício, Geometria Aplicada à Construção Arquitetônica, História e Teorias da Arquitetura, Fundamentos de Projeto.
Qual matéria está sendo mais puxada? Fundamentos de Projeto é a mais puxada. E está bem difícil acompanhar a matéria Geometria Descritiva que é da Poli.
Você tem de ir até a Poli? Não, os professores de lá vão até a FAU.
O que deixa você mais encantada na FAU? Eu sou bichete fã de tudo, amo tudo lá. Mas uma coisa que a gente aprende a gostar na FAU é do prédio, que eles usam como base de muita coisa que vão falando durante a aula. A gente usa o espaço da faculdade como um espaço pensante, que vai embasar muitas coisas. Também gosto muito das pessoas de lá e das festas. E a biblioteca realmente é muito boa.
Que área você pretende seguir na Arquitetura? Ainda não decidi. Gosto muito de projeto, que é uma área bem ampla, tem paisagismo, planejamento urbano, tem projeto em si mesmo, de casa. E também tem a parte de História, que é a matéria de que mais gosto agora, tem pesquisa, tem uma amplitude de coisas que dá para fazer. Eu ainda quero ver do que vou gostar nos outros semestres.
O que você pode dizer a quem vai prestar vestibular neste ano? Diria principalmente para manter a calma, ficar tranquilo. Ainda dá tempo e tem a Revisão. O segundo semestre é muito puxado, mas dá para pegar as matérias a que você não se dedicou muito. E falar com os professores, os plantonistas, com seus amigos, discutir as coisas. O importante é não deixar para trás o que você não sabe. Tente manter a calma, fazer os exercícios no dia, não acumular matéria. E fazer todos os simulados que der.
Hoje você acha que está diferente de quando começou no cursinho? Este ano fez uma grande diferença. Acho que amadureci bastante. Tive de resolver meus problemas, os dilemas de vir para cá e tudo mais. Acho que cresci bastante intelectualmente e como pessoa. Essa fase foi importante.
O que você tira de lição dessa experiência? Às vezes a gente precisa de uma segunda chance para fazer as coisas. Existe uma urgência muito grande de conseguir as coisas hoje em dia. A gente precisa manter a calma, pisar no chão. Eu tinha metas num prazo muito curto, ainda tenho, mas o pé no chão de fazer o cursinho, estudar tudo de novo, me dar mais uma chance, me deu uma acalmada. A gente pode conseguir as coisas e não precisa ser da primeira vez.
Você quer dizer mais alguma coisa para os nossos alunos atuais? Quero só falar para continuarem estudando e valorizarem os professores no cursinho.
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A carteira Machado de Assis
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e repente, Honório olhou para o chão e viu uma carteira. Abaixar-se, apanhá-la e guardá-la foi obra de alguns instantes. Ninguém o viu, salvo um homem que estava à porta de uma loja, e que, sem o conhecer, lhe disse rindo: – Olhe, se não dá por ela; perdia-a de uma vez. – É verdade, concordou Honório envergonhado. Para avaliar a oportunidade desta carteira, é preciso saber que Honório tem de pagar amanhã uma dívida, quatrocentos e tantos mil-réis, e a carteira trazia o bojo recheado. A dívida não parece grande para um homem da posição de Honório, que advoga; mas todas as quantias são grandes ou pequenas, segundo as circunstâncias, e as dele não podiam ser piores. Gastos de família excessivos, a princípio por servir a parentes, e depois por agradar à mulher, que vivia aborrecida da solidão; baile daqui, jantar dali, chapéus, leques, tanta cousa mais, que não havia remédio senão ir descontando o futuro. Endividou-se. Começou pelas contas de lojas e armazéns; passou aos empréstimos, duzentos a um, trezentos a outro, quinhentos a outro, e tudo a crescer, e os bailes a darem-se, e os jantares a comerem-se, um turbilhão perpétuo, uma voragem. – Tu agora vais bem, não? dizia-lhe ultimamente o Gustavo C ..., advogado e familiar da casa. – Agora vou, mentiu o Honório. A verdade é que ia mal. Poucas causas, de pequena monta, e constituintes remissos; por desgraça perdera ultimamente um processo, em que fundara grandes esperanças. Não só recebeu pouco, mas até parece que ele lhe tirou alguma cousa à reputação jurídica; em todo caso, andavam mofinas nos jornais. D. Amélia não sabia nada; ele não contava nada à mulher, bons ou maus negócios. Não contava nada a ninguém. Fingia-se tão alegre como se nadasse em um mar de prosperidades. Quando o Gustavo, que ia todas as noites à casa dele, dizia uma ou duas pilhérias, ele respondia com três e quatro; e depois ia ouvir os trechos de música alemã, que D. Amélia tocava muito bem ao piano, e que o Gustavo escutava com indizível prazer, ou jogavam cartas, ou simplesmente falavam de política. Um dia, a mulher foi achá-lo dando muitos beijos à filha, criança de quatro anos, e viu-lhe os olhos molhados; ficou espantada, e perguntou-lhe o que era. – Nada, nada. Compreende-se que era o medo do futuro e o horror da miséria. Mas as esperanças voltavam com facilidade. A ideia de que os
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dias melhores tinham de vir dava-lhe conforto para a luta. Estava com trinta e quatro anos; era o princípio da carreira; todos os princípios são difíceis. E toca a trabalhar, a esperar, a gastar, pedir fiado ou emprestado, para pagar mal, e a más horas. A dívida urgente de hoje são uns malditos quatrocentos e tantos mil-réis de carros. Nunca demorou tanto a conta, nem ela cresceu tanto, como agora; e, a rigor, o credor não lhe punha a faca aos peitos; mas disse-lhe hoje uma palavra azeda, com um gesto mau, e Honório quer pagar-lhe hoje mesmo. Eram cinco horas da tarde. Tinha-se lembrado de ir a um agiota, mas voltou sem ousar pedir nada. Ao enfiar pela Rua da Assembleia é que viu a carteira no chão, apanhou-a, meteu no bolso, e foi andando. Durante os primeiros minutos, Honório não pensou nada; foi andando, andando, andando, até o Largo da Carioca. No Largo parou alguns instantes, — enfiou depois pela Rua da Carioca, mas voltou logo, e entrou na Rua Uruguaiana. Sem saber como, achou-se daí a pouco no Largo de S. Francisco de Paula; e ainda, sem saber como, entrou em um Café. Pediu alguma cousa e encostou-se à parede, olhando para fora. Tinha medo de abrir a carteira; podia não achar nada, apenas papéis e sem valor para ele. Ao mesmo tempo, e esta era a causa principal das reflexões, a consciência perguntava-lhe se podia utilizar-se do dinheiro que achasse. Não lhe perguntava com o ar de quem não sabe, mas antes com uma expressão irônica e de censura. Podia lançar mão do dinheiro, e ir pagar com ele a dívida? Eis o ponto. A consciência acabou por lhe dizer que não podia, que devia levar a carteira à polícia, ou anunciá-la; mas tão depressa acabava de lhe dizer isto, vinham os apuros da ocasião, e puxavam por ele, e convidavam-no a ir pagar a cocheira. Chegavam mesmo a dizer-lhe que, se fosse ele que a tivesse perdido, ninguém iria entregar-lha; insinuação que lhe deu ânimo. Tudo isso antes de abrir a carteira. Tirou-a do bolso, finalmente, mas com medo, quase às escondidas; abriu-a, e ficou trêmulo. Tinha dinheiro, muito dinheiro; não contou, mas viu duas notas de duzentos mil-réis, algumas de cinquenta e vinte; calculou uns setecentos mil-réis ou mais; quando menos, seiscentos. Era a dívida paga; eram menos algumas despesas urgentes. Honório teve tentações de fechar os olhos, correr à cocheira, pagar, e, depois de paga a dívida, adeus: reconciliar-se-ia consigo. Fechou a carteira, e com medo de a perder, tornou a guardá-la. Mas daí a pouco tirou-a outra vez, e abriu-a, com vontade de contar o dinheiro. Contar para quê? era dele? Afinal venceu-se e contou: eram setecentos e trinta mil-réis.
Honório teve um calafrio. Ninguém viu, ninguém soube; podia ser um lance da fortuna, a sua boa sorte, um anjo... Honório teve pena de não crer nos anjos... Mas por que não havia de crer neles? E voltava ao dinheiro, olhava, passava-o pelas mãos; depois, resolvia o contrário, não usar do achado, restituí-lo. Restituí-lo a quem? Tratou de ver se havia na carteira algum sinal. “Se houver um nome, uma indicação qualquer, não posso utilizar-me do dinheiro,” pensou ele. Esquadrinhou os bolsos da carteira. Achou cartas, que não abriu, bilhetinhos dobrados, que não leu, e por fim um cartão de visita; leu o nome; era do Gustavo. Mas então, a carteira?... Examinou-a por fora, e pareceu-lhe efetivamente do amigo. Voltou ao interior; achou mais dous cartões, mais três, mais cinco. Não havia duvidar; era dele. A descoberta entristeceu-o. Não podia ficar com o dinheiro, sem praticar um ato ilícito, e, naquele caso, doloroso ao seu coração, porque era em dano de um amigo. Todo o castelo levantado esboroou-se como se fosse de cartas. Bebeu a última gota de café, sem reparar que estava frio. Saiu, e só então reparou que era quase noite. Caminhou para casa. Parece que a necessidade ainda lhe deu uns dous empurrões, mas ele resistiu. “Paciência, disse ele consigo; verei amanhã o que posso fazer.” Chegando a casa, já ali achou o Gustavo, um pouco preocupado, e a própria D. Amélia o parecia também. Entrou rindo, e perguntou ao amigo se lhe faltava alguma cousa. – Nada. – Nada? – Por quê? – Mete a mão no bolso; não te falta nada? – Falta-me a carteira, disse o Gustavo sem meter a mão no bolso. Sabes se alguém a achou? – Achei-a eu, disse Honório entregando-lha. Gustavo pegou dela precipitadamente, e olhou desconfiado para o amigo. Esse olhar foi para Honório como um golpe de estilete; depois de tanta luta com a necessidade, era um triste prêmio. Sorriu amargamente; e, como o outro lhe perguntasse onde a achara, deu-lhe as explicações precisas. – Mas conheceste-a? – Não; achei os teus bilhetes de visita. Honório deu duas voltas, e foi mudar de toilette para o jantar. Então Gustavo sacou novamente a carteira, abriu-a, foi a um dos bolsos, tirou um dos bilhetinhos, que o outro não quis abrir nem ler, e estendeu-o a D. Amélia, que, ansiosa e trêmula, rasgou-o em trinta mil pedaços: era um bilhetinho de amor. Extraído de: Outros contos.
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O suicídio de Vargas A morte de Getúlio Vargas assinala o fim de um ciclo histórico da política brasileira. Presidente e ditador, de 1930 a 1945, Vargas voltara ao poder, em 1950, para um novo mandato, que seria marcado pela intranquilidade, por conspirações, por escândalos também. Estes acabariam por afogá-lo no que ele próprio chamava “um mar de lama”, descoberto nos porões do Palácio do Catete. Porões em que reinava o “tenente” Gregório, chefe da guarda pessoal de Getúlio. Abalada a confiança no governo, o presidente foi coagido a renunciar. Negou-se a sair sem honra. Hélio Silva conta aqui os acontecimentos da tensa noite de 24 de agosto de 1954 e o seu trágico desfecho.
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oi há anos, mas o tempo não conta. O dia 24 de agosto de 1954 é uma data ímpar, assinalando o mais trágico desfecho da vida de um presidente da República. Esse presidente chamava-se Getúlio Dornelles Vargas. Chegara à chefia da nação, na crista da única revolução vitoriosa da velha República, a 24 de outubro de 1930. Duas vezes, foi eleito presidente constitucional: em 1934, pela Assembleia Nacional Constituinte; em 1950, pela maioria do povo, em sufrágio direto. Por largo período, deteve em suas mãos o poder ditatorial. E envelhecera. Ou melhor, amadurecera no exílio em sua própria terra, na estância de Santos Reis, onde vivera a infância e se preparara para a nova, segunda e última presidência.
Dos maiores da nossa história O mês de agosto não fora favorável a Vargas. O processo revolucionário brasileiro, que o trouxera na crista da sua onda, 24 anos atrás, novamente o elevava acima de todos, em uma evidência perigosa. Porque não são os homens que fazem os acontecimentos. Nem mesmo esses, como Vargas, que escrevem a história, antes que ela os descreva, porque nela deixam a marca indelével. Na verdade, Vargas é um dos maiores personagens da história brasileira. O gênio político que lidera todas as correntes, durante 20 anos. Mesmo aquelas que se lhe opõem e, contudo, sofrem a pressão de sua vontade. Em agosto de 1954 será Vargas a grande figura e os acontecimentos gravitarão em torno dele, numa constelação. A segunda presidência Vargas é o período mais importante de seu longo domínio da política brasileira. Sua intuição prodigiosa, a acuidade que o fez se antecipar aos fatos, tantas vezes, tinha preparado o solitário de Itu para afirmar a linha nacionalista, exatamente quando o nacionalismo começava a aparecer no cenário mundial. As circunstâncias em que se desenvolve a crise do mundo moderno e, dentro dela, a revolução brasileira, merecem um estudo mais profundo. A conduta dos militares na política brasileira, a formação de duas correntes, no seio do Exército, a partir da Segunda Guerra Mundial, estão a reclamar uma análise que remonte ao Primeiro Cin-
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co de Julho e alcance março de 64, através dos golpes e contragolpes de 45, 54, 55, 61. A Guerra Fria, a bipolarização econômica e o choque dos dois imperialismos, russo e norte-americano, também apresentam conotações importantes com o que aconteceu no Palácio do Catete, na manhã de 24 de agosto de 1954. Desta vez, porém, será o fato, apenas o fato, em sua grandiosidade de tragédia grega, para evidenciar que em todas as fases da história, na sucessão das teorias e nos choques dos interesses, há um valor constante, um só, sem o qual os acontecimentos não teriam repercussão, efeitos, reflexos, consequências – o homem. Na manhã de 23 de agosto reuniam-se vários chefes militares no Palácio da Guerra. O Brasil vivia a grande crise. Um incidente lamentável, cruel, brutal, consequente ao tom virulento de uma campanha política, fizera abater, à entrada de um prédio na Rua Toneleros, o major da Aeronáutica Rubens Florentino Vaz, que acompanhava o político Carlos Lacerda em sua campanha de exaltada oposição ao governo. Essa campanha, nos jornais e nos comícios era, ao mesmo tempo, causa e efeito. Todo o antigetulismo, inclusive as correntes militares que haviam atuado em 45 e 50, insurgiam-se contra Vargas, que representava a outra tendência. Em termos de Sociologia, Vargas era a revolução. E, contra a revolução, a maneira acelerada por que ela se apresentava, o advento da sociedade de massa, erguia-se e aguerria-se o status quo, a sociedade conservadora, a economia organizada, as Forças Armadas mantenedoras da ordem, que se sentiam ameaçadas. No austero e grandioso salão do Palácio da Guerra discutem os generais. É curioso examinar as coleções e os jornais daquela época. Vargas, que abrira os portões do Palácio do Catete à mais ampla devassa dos oficiais da Aeronáutica, não exercera pressão sobre o noticiário. Poucas vezes, na história do Brasil, encontramos o relato completo dos acontecimentos estampados nos jornais do dia, vibrando na linguagem em que cada qual defendia sua posição política. A reunião no Ministério da Guerra foi amplamente noti-
ciada. Os repórteres anotaram a presença do marechal Mascarenhas de Morais e os generais Canrobert Pereira da Costa, Álvaro Fiuza de Castro, Francisco Gil de Castelo Branco, Ângelo Mendes de Morais, Odylio Denys, Olímpio Falconiere, Otávio Saldanha Maza, Tristão de Alencar Araripe, Edgard Amaral, Juarez Távora, Alcides Gonçalves Etchegoyen, Cyro do Espírito Santo Cardoso, Otávio da Silva Paranhos, Floriano de Lima Brayner, Lamartine Pais Leme, Danton Teixeira, Inácio Veríssimo, José A. de Magalhães, J. Daudr Fabrício, Gastão da Cunha, Emílio Ribas, Nestor Soto de Oliveira, Sagadas Viana, Nélson de Melo, José Machado Lopes, Nilo Sucupira, Jandyr Galvão, Rômulo Colônia, Osvaldo de Araújo Mota, Nestor Penha Brasil, Castelo Branco, Nelson Rebelo Queiroz, Pery Constant Beviláqua, Oscar Rosa, Nilo Guerreiro Lima, Eduardo de Carvalho Chaves, Morais Âncora, Floriano Keller, João Batista Rangel, Areia Pimentel, Coelho dos Reis, Correia Lima, Inimá Siqueira, Amaury Kruel, Augusto Magessi, Vítor Cruz, Gélio A. Lima, Sena Dias, Mendes da Fonseca, Paulo Cruz, Altair de Queiroz, José Maurício, Inad Carvalho Turbert, José Vieira Peixoto, Achiles Gallotti, Artur Luiz de Alcântara, Valdemar Rocha, Leônidas Amaro, Manoel dos Santos, Benedito Rodrigues, João Teles Vilas Boas e Almiro Pedro Vieira.
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ARTIGO Divergiam as opiniões. Por isso foi assentada a ida do Ministro da Guerra, general Zenóbio da Costa, em companhia do marechal Mascarenhas de Morais, ao Palácio do Catete, a fim de que os dois expusessem a Vargas a real situação das Forças Armadas. Deviam propor a renúncia do presidente, a licença ou o afastamento para uma viagem ao estrangeiro.
Zenóbio: “Ele não voltará” Depois que regressou do Catete, o general Zenóbio reuniu, de novo, os generais que haviam participado do primeiro encontro, a fim de dar conhecimento aos seus camaradas de que o presidente da República havia tomado a deliberação de se afastar do governo por meio de uma licença. A solução não agradou aos generais. Houve quem dissesse que o afastamento de Vargas, por licença, não era solução. Ele voltaria mais prestigiado. Ao que o general Zenóbio declarou: “Posso garantir que ele não voltará”. O manifesto dos generais só foi publicado seis anos depois, no dia 7 de setembro de 1960, na última página do Correio da Manhã. Em seu depoimento, prestado ao jornalista Raul Giudicelli, de Fatos e Fotos, Alzira Vargas do Amaral Peixoto declarou que obteve uma cópia, mas não tinha as assinaturas, o que dificultava a avaliação de seu potencial, na deflagração de um movimento. “Considerando que o inquérito policial-militar em andamento na Base Aérea do Galeão já apurou, indiscutivelmente, que foi a guarda pessoal do presidente da República, sob a chefia de Gregório Fortunato, homem de sua absoluta confiança, que planejou e preparou dentro do palácio presidencial, e fez executar, o atentado em que foi assassinado o major-aviador Rubens Florentino Vaz; considerando que, depois de haver o presidente da República assegurado à nação que o crime seria apurado e os culpados entregues à Justiça, elementos de sua imediata confiança, ainda dentro do palácio presidencial, alertaram os criminosos e lhes forneceram meios necessários à fuga, inclusive vultosa quantia em dinheiro; considerando que é assim duvidoso que se possa chegar à punição de todos os culpados; considerando que as diligências do inquérito trouxeram à luz farta documentação em que se demonstra a corrupção criminosa nos círculos mais chegados ao presidente da República; considerando que tais fatos comprometem a autoridade moral indispensável ao presidente da República para o exercício do seu mandato; considerando, enfim, que a perduração da atual crise político-militar está trazendo ao país irreparáveis prejuízos em sua situação econômica e poderá culminar em graves comoções internas, em face da intranquilidade geral e da repulsa e indignação de que se acham possuídas todas as classes sociais do país; os abaixo-assinados, oficiais generais do Exército, conscien-
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tes de seus deveres e responsabilidades perante à nação, honrando compromissos públicos e livremente assumidos, e solidarizando-se com o pensamento dos camaradas da Aeronáutica e da Marinha, declaram julgar, em consciência, como melhor caminho para tranquilizar o povo e manter unidas as Forças Armadas, a renúncia do atual presidente da República, processando-se a sua substituição de acordo com os preceitos constitucionais. Rio, 22 de agosto de 1954. (ass.) general Álvaro Fiuza de Castro; general Canrobert Pereira da Costa; general Nicanor Guimarães de Souza; general Juarez Távora; general Alcides G. Etchegoyen; general Emílio R. Ribas Júnior; general Edgar Amaral; general Altair de Queiroz; general J. Machado Lopes; general Peri Constant Beviláqua; general Humberto Castelo Branco; general Paulo Kruger da Cunha Cruz; general Inácio José Veríssimo; general Barros Falcão; general João Batista Rangel; general Nilo Horácio de Oliveira Sucupira; general Antônio Coelho dos Reis; general Delso Fonseca; general Henrique Lott; general T. de Alencar Araripe; general Nelson Rebelo de Queiroz; general Nestor Souto de Oliveira; general Nilo Augusto Guerreiro Lima; general Penha Brasil e general Jair Dantas Ribeiro.” Eram sombrios os dias que precederam o 24 de agosto. No domingo, 22, o vice-presidente João Café Filho solicitara ser recebido, com urgência, pelo presidente da República. Em seu livro de memórias ele conta os entendimentos com o deputado Gustavo Capanema, líder da maioria, o almirante Aristides Guilhobel, Ministro da Marinha e, posteriormente, com o general Zenóbio da Costa, ministro da Guerra. Café Filho revela o desacordo existente, face à sua proposta de renúncia coletiva do presidente e do vice-presidente da República. Depois dessa reunião, dirigiu-se ao Palácio do Catete onde foi recebido por Vargas às 16 h. O presidente ouviu suas ponderações e a proposta de um nome como Oswaldo Aranha, José Américo, Álvaro Alberto Mascarenhas de Morais para substituí-lo. A atitude de Café Filho foi considerada, nos círculos mais ligados a Vargas, como a prova evidente de que passara a participar da conjura e o fazia com a cobertura de prestigiosos militares.
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questão que o crime de Toneleros seja cabalmente apurado. Não renunciarei de maneira nenhuma. Se tentarem tomar o Catete terão que passar sobre o meu cadáver”. A intenção declarada de resistir até a morte não basta para atribuir a Vargas a intenção preconcebida de suicídio. É verdade que políticos e psicólogos alinharam, desde então, fatos e pronunciamentos tendentes a estabelecer a sequência que conduziria ao gesto extremo e fatal. Um dos elementos é a tão debatida carta-testamento. Outra é uma simples folha de papel de bloco, escrita a lápis, como Vargas costumava fazer. É sua filha Alzira quem conta que o major Ernani Fitipaldi, da Casa Militar da Presidência, mostrou-lhe a folha de papel onde se lia: “À sanha de meus inimigos deixo o legado de minha morte. Levo o pesar de não ter feito pelos humildes tudo o que desejava”. O papel fora encontrado entre decretos assinados. O major Fitipaldi o recolheu e o entregou, diretamente, a Alzira. Ela o mostrou a seu tio Benjamim e foram os dois ver Vargas, que dormia, tranquilamente, com a porta de seu quarto aberta.
“Daqui só sairei morto” No dia seguinte, pela manhã, Alzira interpelou-o, entre séria e brincalhona: “Queres me matar do coração, antes do tempo? Ainda não tenho idade para isso”. Vargas não gostou da descoberta. Retomou o papel – que ninguém mais encontrou – e respondeu: “Não é o que tu estás pensando, minha filha. Se eu tivesse certeza de que minha renúncia significaria a paz e tranquilidade para o povo brasileiro e que me permitiriam terminar meus dias com sossego e dignida-
Resposta a Café Filho: “Não” Despediram-se. Vargas ficou de dar uma resposta definitiva, sem fixar um prazo. Esta resposta veio, em termos negativos. Segundo o depoimento de Café Filho, Vargas lhe havia dito: “Considerei, com interesse, a sua proposta de nossa dupla renúncia. Reconheço os seus bons propósitos e quero renovar os meus agradecimentos pelo seu gesto de colaboração; mas prefiro resistir no meu posto”. Declarou, ainda, que os ministros militares asseguraram que manteriam a ordem. Ficaria no poder: “Faço
Carlos Lacerda ferido na ocasião do atentado.
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de, não teria um minuto de hesitação, estou farto e cansado, velho demais para aceitar as iniquidades e injustiças com que procuram ferir-me. Mas, como tenho a certeza de que o que eles querem é me humilhar, não renunciarei. Daqui só sairei morto”. E como sua filha respondesse que estava tudo certo e os seus amigos estavam dispostos a lutar junto com eles, continuou: “Não quero o sacrifício de ninguém; pretendo resistir sozinho para que minha atitude fique como um protesto. Não te preocupes, minha filha, não estou pensando em suicídio”. No dia 23, pela manhã, Alzira recebia as últimas informações. Diziam-lhe que, até o meio-dia, o manifesto contava, apenas, com dez assinaturas e somente uma era de comandante de tropa; todas as demais eram de generais sem comissão, ou sem comando. Durante todo o dia 23 chegaram notícias do progresso do movimento conspiratório. Tudo fazia prever que os acontecimentos culminariam de 24 para 25. No dia 25, porém, comemorava-se o Dia do Soldado. Talvez houvesse uma trégua. Passava das 23 h; Vargas ainda despachava em seu gabinete, quando Alzira se retirou, rumo a Niterói. Tomou a barca da 1 h da manhã. Ao chegar ao Palácio do Ingá, seu marido, o governador Ernani do Amaral Peixoto, esperava-a para regressarem, imediatamente, ao Rio. Havia recebido um chamado urgente de Benjamim Vargas. Cerca de 3 h da madrugada regressava ao Catete, iluminado e cercado de curiosos, francamente hostis. Fora convocado, extraordinariamente, o ministério. Vargas conversava com Oswaldo Aranha no terceiro andar. Antes de sair, o presidente assinou um papel, que estava sobre a sua mesa, dobrou-o e o colocou no bolso. Desceram para o Salão de Despachos. Prosseguindo em seu depoimento, Alzira informa que o coronel Manoel Garcia de Souza deu-lhe a relação de 13 signatários do manifesto dos generais acrescentando que, depois de meia-noite, ninguém mais assinou. Adiantou que os generais aguardavam o resultado da reunião ministerial. Alzira quis saber a posição da Vila Militar. Ouvira uma declaração, atribuída a Zenóbio, de que vários comandantes de corpos, sediados na Vila, haviam assinado. O coronel Garcia de Souza desmentiu: “Não é verdade. Estou chegando de lá. Os oficiais comandantes de tropa na Vila são do tipo dos que não assinam manifestos políticos sem ordem superior”. A Vila estava sob o comando do general Paquet, e Vargas contava com ele. Também o coronel Orlando Ramagem, que comandava o Batalhão de Guardas, tropa de elite, com um efetivo de três mil homens, aquartelado em São Cristóvão, aguardava ordens para sair em defesa do governo. Mas essa ordem não veio. No Salão de Despachos, Vargas sentou-se à cabeceira da longa mesa, que servira
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nos banquetes dos condes de Nova Friburgo, primeiros proprietários do palácio. À sua direita sentaram-se Oswaldo Aranha, Apolônio Sales, Epaminondas dos Santos e Aristides Guilhobel; à esquerda, Tancredo Neves, Edgard Santos, Mario Pinotti, Zenóbio da Costa; em frente, Hugo de Faria, José Américo de Almeida, Mascarenhas de Morais e Ernani do Amaral Peixoto. Deixavam de comparecer o Ministro do Exterior, Vicente Ráo, enfermo em São Paulo, e o chefe de Polícia, coronel Paulo Torres, que se achava em seu posto. A reunião tinha outros participantes. Alzira Vargas do Amaral Peixoto forçara a entrada e, com ela, outros familiares. Falaram alguns ministros até que o titular da Guerra se manifestou para dizer que Vargas já não contava com a unanimidade do Exército. Também a Marinha e a Aeronáutica, por seus oficiais generais, se haviam manifestado em oposição.
“São vidas que estão em jogo” Foi quando Alzira, surgindo entre o seu pai e Oswaldo Aranha, o interrompeu: “General Zenóbio, isto aqui não é uma simples jogada política. São vidas que estão em jogo, inclusive a minha e, por isso, dou-me o direito de falar. Isso não passa de uma conspiração de gabinete, não é um movimento que atinja as Forças Armadas. O senhor sabe, tão bem quanto eu, que na Vila Militar nada foi alterado desde sua visita hoje à tarde e, sem a Vila, pode alguém pretender dar golpes neste país?” Interpelou o Ministro da Marinha, almirante Guilhobel: “Sua tropa embarcada pode fazer alguma coisa? A única coisa que pode influir, em terra, são os seus fuzileiros navais. Mas eles não estão interessados em marchar contra ou a favor de ninguém. Só se defenderão se forem atacados em seus quartéis e isto eu sei do próprio comandante Camargo”. Dirigiu-se ao ministro da Aeronáutica, brigadeiro Epaminondas dos Santos: “Onde estão localizados os únicos aviões em condições de treinamento e de voo, nesta cidade? Não é Santa Cruz? A base de Santa Cruz é comandada por um ex-ajudante de ordens, o coronel Pamplona. É composto pelo grupo de caça, o ‘Senta a Pua’, da guerra, e são todos fiéis ao governo. Onde, então, está o perigo?” Voltou a dirigir-se ao ministro da Guerra: “Dos treze generais, porque são somente os treze signatários do manifesto, só um tem comando de tropa e não é aqui na capital; os outros exercem funções burocráticas. Se o senhor julgar que a simples renúncia do meu pai vai trazer tranquilidade, progresso e ordem a este país, não se fala mais no assunto. Mas o senhor tem a certeza?” Em seu depoimento, a filha de Vargas refere-se a um atrito entre os ministros da Guerra e da Aeronáutica sobre qual seria o maior responsável pela situação: o manifesto dos generais ou a chamada República do Galeão? O brigadeiro Epaminondas de-
clarou que bastava mandar prender os dois principais cabeças do movimento, Eduardo Gomes e Juarez Távora, e tudo estaria terminado. Zenóbio, irritado, perguntava: “E por que você não os prende?”. “Porque não disponho de tropa”, respondeu Epaminondas. “Forneça o local para prendê-los que eu vou.” Interpelado, o ministro da Marinha, almirante Guilhobel disse, duramente: “Presidente, parece que seu destino é ser traí do por seus chefes militares”. O general Caiado de Castro que, um tanto surdo, em pé, atrás do ministro da Marinha, tentava acompanhar os debates, levou as sobras. O ministro da Guerra o interpelava, perguntando por que não ia ele comandar as tropas de defesa. O chefe da Casa Militar, quando entendeu, aceitou o desafio e pediu que lhe dessem tropas. Prosseguindo, Alzira recorda que a voz de Vargas se fez ouvir serena e clara, restabelecendo a ordem. Pela segunda vez, indagou de seus ministros qual era a melhor solução para o Brasil. Uns eram favoráveis a uma reação, mas não diziam de que tipo; outros, simplesmente, respondiam: “O que o presidente resolver nós aceitamos”. Discutia-se, ainda, entre licenciamento provisório ou licença temporária. O presidente retomou a palavra: “Já que meu ministério não chegou a nenhuma conclusão, eu decido. Determino que os ministros militares mantenham a ordem dentro do país. Se a ordem for mantida, eu me afastarei. Entrarei com um pedido de licença. Em caso contrário, os revoltosos encontrarão aqui o meu cadáver”. Levantou-se, desejando boa-noite e subiu para seus aposentos. O ministério continuou reunido para redigir uma nota, a ser divulgada pela imprensa. Meia hora depois, Aranha, Amaral Peixoto e Tancredo subiram com a nota redigida para receber a aprovação do presidente. Como este já se havia recolhido, foi Alzira encarregada de consultá-lo. Encontrou-o, acordado, mas recusou-se a opinar: “Façam o que quiserem; não a quero ler. Já estou dormindo”. Zenóbio voltara ao Ministério da Guerra para reunir os generais e dar-lhes conta do que acontecera. Os outros ministros dispersaram e os familiares de Vargas se acomodaram nos corredores, para a vigília daquela madrugada. Às 6 h da manhã, dois oficiais do Exército se aproximaram de Benjamim Vargas e conferenciaram com ele. Em seguida, Benjamim entrou no quarto do presidente para comunicar que havia sido convocado para depor no Galeão. Getúlio se opôs. Se o quisessem ouvir, que fossem ao Catete. Foi quando seu irmão lhe disse que ele não era mais, de fato, o presidente da República. Os generais haviam deliberado o seu afastamento definitivo. Era a notícia que acabava de receber do general Âncora, transmitindo os resultados da reunião. Var-
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ARTIGO gas pediu que Benjamim chamasse o chefe da Casa Militar, general Caiado de Castro. Depõe, ao repórter Antônio Gemaque, de O Cruzeiro, o velho mordomo do Palácio do Catete, João Zarattini, que viu quando Vargas saiu de seu quarto, em pijama e chinelos, e entrou no seu gabinete. Zarattini levantou-se precipitadamente e Vargas sorriu-lhe, fazendo um gesto amistoso de cumprimento. Depois, sem nada dizer, voltou, sem pressa, para o quarto. Zarattini recorda que ele tinha a mão esquerda no bolso do pijama, onde havia algo de pesado e volumoso.
“Não ouvi o ruído do tiro” Alzira também recorda esse último passeio do pai e estranhou o seu traje, o pijama, os chinelos. Porque “ele era sempre muito cuidadoso em suas aparições em público e os corredores estavam cheios de gente. Não ousei aproximar-me. Ele já me mandara dormir duas vezes e eu não obedecera. Nesse momento, o coronel Garcia de Souza me chamou para falar com os oficiais comandantes das blindadas, pelo telefone. Estavam todos firmes, a postos, esperando ordens. Disse-lhes que aguardassem o final da reunião dos generais e me concedi o prazer de rir, pela primeira vez desde o começo da crise. Não vi quando Benjamim entrou no quarto de meu pai e saiu, precipitadamente. Não ouvi o ruído do tiro seco, que me deixaria órfã. Dois braços envolveram meus ombros e uma voz chegou aos meus ouvidos: ‘Alzira, seu pai...’ Agonizava, quando cheguei. Creio que me reconheceu. Não me peçam que vá além disso. Ainda não posso”. Pela porta, entreaberta, penetraram o filho Lutero, o mordomo João Zarattini, Alzira, Ernani Amaral Peixoto e outras pessoas. Atravessado sobre a cama, com uma perna pendente, Getúlio Vargas agonizava. O laudo da autópsia, tardia, que publicamos, positiva a hipótese do suicídio. É preciso, porém, completá-lo com os esclarecimentos que me prestou, pessoalmente, meu colega, então diretor do Instituto Médico Legal, Dr. Jessé de Paiva. Vargas era um atirador exímio. Sabia qual o ponto mais vulnerável para um tiro no coração. Colocou a ponta do cano do revólver no espaço entre duas costelas, dois dedos abaixo do mamelão esquerdo. Fixou a arma com a mão direita e acionou o gatilho com o polegar da mão esquerda. O relato do acontecimento, assinado por aquela autoridade: “Pouco depois das 8 horas do dia 24 de agosto de 1954, quando eu já tinha conhecimento da trágica morte do presidente da República, Dr. Getúlio Vargas, pelo rádio, e me apressava para sair de casa, rumo ao Instituto Médico Legal, recebi recomendação da chefia de Polícia, no sentido de, o mais urgente possível, comparecer ao Palácio do Catete, para as providências periciais que se impunham.
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Dirigi-me, então, ao Instituto e, de lá, convoquei imediatamente o Prof. Nílton Salles, chefe do Serviço de Necropsia, o médico legista do dia, Dr. José Alves Assumpção de Menezes, os Drs. Nelson Caparelli e Mário Martins Rodrigues, o auxiliar de autópsia, José Francisco da Silva e mais o fotógrafo de nossa instituição, Sr. Ismar de Carvalho e Mello. Lá chegamos por volta das 10 horas, depois de vencer inúmeras dificuldades, face à massa humana que existia fora e no interior do palácio presidencial a embaraçar o nosso caminho. Quando conseguimos chegar ao quarto do infortunado presidente, que também estava literalmente cheio de pessoas amigas, deparamos com o presidente que, já vestido, jazia inerte sobre o seu leito e, nos primeiros contatos havidos com o diretor do Instituto de Criminalística, Dr. Antônio Carlos Villanova e o perito criminal Carlos Éboli, também presentes, sentimos a natural tendência dos familiares, no sentido de que a perícia se resumisse em simples inspeção cadavérica. Conhecendo a nossa responsabilidade no histórico momento que vivíamos, procurei o então chefe de polícia, coronel Paulo Torres, e lhe fiz sentir a conveniência de se fazer cumprir a legislação penal vigente em caso de morte violenta, como fora a do extinto presidente, para que a verdade médico-legal fosse retratada e a história não viesse a ser deturpada, em relação à causa jurídica da morte, ocasião em que recebemos, do sr. cel. chefe de polícia, carta branca relativamente ao cumprimento de todos os requisitos legais atinentes ao caso em lide. Para facilitar as nossas atribuições, resolvemos conversar a respeito com nosso ilustre colega, filho do saudoso presidente, Lutero Vargas, a quem apelamos no sentido de facilitar a iniciativa que se fazia indispensável, no que fomos atendidos, embora com apreciável e natural retardamento, em virtude da prolongada permanência de pessoas amigas, que não se queriam afastar do leito mortuário. Afinal, depois das 14 horas iniciamos a competente perícia que se limitou a uma meticulosa inspeção externa do cadáver, quando logo pudemos verificar as tatuagens de pólvora constatadas nos dedos das mãos do periciado, notadamente no dedo médio da mão esquerda e em torno do ferimento de entrada do projétil, localizado na região precordial, próximo ao mamelão esquerdo, que por sua vez estava para dentro de rasgão estrelado, circundado por zona de esfumaçamento situado no bolso dos disparos de arma de fogo encostada, a traduzir, por si só a figura do suicídio. Em seguida, procedeu-se à incisão torácica indispensável à retratação do trajeto do projétil, verificando-se que o mesmo transfixara os órgãos do tórax, da frente para trás e da esquerda para a direita e um pouco para baixo, localizando-se na massa muscular da parede torácica posterior. O referido projétil foi retirado e confrontado com os demais, contidos no cilindro da arma funesta, quando
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pôde ser constatada a perfeita semelhança dos mesmos. Em face dos elementos técnicos recolhidos, foi firmado pelo Dr. Nílton Salles, o atestado de causa mortis correspondente como sendo: ‘Ferimento penetrante da região precordial, por projétil de arma de fogo, com lesões de órgãos torácicos e hemorragia interna’. Por fim, atendendo-se a desejo da família, procedeu-se ao embalsamento do corpo, de forma a permitir que o seu sepultamento viesse a ser realizado dias depois, em São Borja.” (Ass. Dr. Jessé de Paiva.)
A Carta-testamento Vinte anos depois do suicídio de Vargas, ainda se discute a Carta-testamento, espalhada pelo país inteiro e perpetuada, em uma placa de bronze, em uma praça em Porto Alegre. Acredito na autenticidade dessa carta, embora dela não conclua a premeditação do ato trágico. Vargas minutara os seus principais trechos, estruturando a peça que, possivelmente, José Maciel Júnior redigiu, sob sua aprovação. Mandou datilografá-la. Uma das vias, assinada, ele entregou, em envelope fechado, a João Goulart, que deveria partir para o Sul. Este detalhe explica a razão do documento. Quando da deposição de 29 de outubro de 1945, Vargas redigiu um manifesto, cuja primitiva redação foi atenuada, a conselho do então chefe de polícia, capitão João Alberto. Também a segunda versão ficou retida, na fonte. Nenhum manifesto foi divulgado, explicando a atitude de Vargas. Em agosto de 1954, o presidente admitiu a deposição, a que resistiria, com o sacrifício da própria vida. Daí a ideia de um manifesto cuja divulgação seria assegurada no Rio Grande do Sul, no Uruguai e na Argentina por intermédio de Goulart, que tinha ligações pessoais para bem se desempenhar dessa missão. Outra cópia foi colocada, por ele, depois de deliberado o suicídio, na mesa de cabeceira, onde foi recolhida por seu genro, governador do Rio de Janeiro, Ernani do Amaral Peixoto. Uma terceira cópia, sem assinatura, achava-se no cofre, juntamente com o texto manuscrito. Depois da reunião ministerial, quando Alzira foi dar-lhe boa-noite, Getúlio mostrou-lhe a chave do cofre, confidenciando-lhe: “Se me acontecer alguma coisa, aí dentro estão alguns valores e papéis importantes. Um de vocês dois (estavam presentes Alzira e Benjamim) deve retirá-los; os valores são para a Darcy e os papéis, da Alzira”. A chave foi encontrada debaixo de seu corpo; caíra do bolso do pijama. (Texto de Hélio Silva.) Extraído de: revista História, ago./1974.
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Carta-testamento “M ais
uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se novamente e se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes. Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário-mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobras. Mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobras foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente. Assumi o governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores de trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia a ponto de sermos obrigados a ceder.
Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar a não ser o meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no meu pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão. E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue terá o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História.”
SERVIÇO DE VESTIBULAR Universidade Federal de Roraima (UFRR)
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
Período de inscrição: até dia 08 de setembro de 2017. Via internet. Endereço da Faculdade: Av. Cap. Ene Garcez, 2 413 – Aeroporto – Boa Vista – RR – CEP: 69304-000 – Telefone: (95) 3621-3100. Requisito: taxa de R$ 90,00. Cursos e vagas: consultar site <www.ufrr.br/cpv> Exame: dia 26 de novembro de 2017.
Período de inscrição: até dia 31 de agosto de 2017. Via internet. Endereço da faculdade: Campus Universitário Zeferino Vaz – Barão Geraldo – Campinas – SP – CEP: 13083-970 – Telefone: (19) 3521-7000. Requisito: taxa de R$ 165,00. Cursos e vagas: consultar site <www.comvest.unicamp.br> Exames: • 1a Fase: dia 19 de novembro de 2017. • 2a Fase: dias 14, 15 e 16 de janeiro de 2018. Leituras obrigatórias: • Poesia: __ Sonetos – Luís de Camões. __ Poemas negros (livro distribuído pelo governo federal no PNBE) – Jorge de Lima. • Contos: __ “Amor” , do livro Laços de família – Clarice Lispector. __ “A hora e vez de Augusto Matraga” , do livro Sagarana – Guimarães Rosa.
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) Período de inscrição: até dia 11 de setembro de 2017. Via internet. Endereço da faculdade: Rua Marquês de São Vicente, 225 – Gávea – Rio de Janeiro – RJ – CEP: 22451-900 – Telefone: (21) 3527-1000. Requisito: taxa de R$ 180,00. Cursos e vagas: consultar site <www.puc-rio.br/vestibular> Exames: dias 08 e 15 de outubro de 2017.
Jornal do Vestibulando
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__ “Negrinha” ,
do livro Negrinha (livro distri buído pelo governo federal no PNBE) – Monteiro Lobato. __ O espelho – Machado de Assis. • Teatro: __ O bem-amado – Dias Gomes. • Romance: __ O cortiço – Aluísio Azevedo. __ Coração, cabeça e estômago (livro em domínio público) – Camilo Castelo Branco. __ Caminhos cruzados (livro distribuído pelo governo federal no PNBE) – Erico Verissimo. __ Terra sonâmbula – Mia Couto. • Sermões: __ Antônio Vieira: 1) “Sermão de Quarta-feira de Cinza – Ano de 1672”; 2) “Sermão de Quarta-feira de Cinza – Ano de 1673, aos 15 de fevereiro, dia da trasladação do mesmo santo”; 3) “Sermão de Quarta-feira de Cinza – Para a Capela Real, que se não pregou por enfermidade do autor”.
Jornal ETAPA, editado por Etapa Ensino e Cultura REDAÇÃO: Rua Vergueiro, 1 987 – CEP 04101-000 – Paraíso – São Paulo – SP
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