Desenho da Habitação popular

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ Centro de Tecnologia Mestrado em Engenharia Civil com área de concentração em Edificações

Uma Proposta de Metodologia para a definição do desenho da Habitação Popular Mestrando: Euler Sobreira Muniz Orientador: Marcondes Araújo Lima

Fortaleza, Setembro de 2.001

Euler Sobreira Muniz


Uma Proposta de Metodologia para a definição do desenho da Habitação Popular

Dissertação apresentada como aproveitamento do curso de Mestrado em Engenharia Civil com área de concentração em Edificações promovido pela Universidade Federal do Ceará.

Aprovado no dia___de________________de_______.

_________________________________ Prof. Marcondes Araújo Lima, Dr. _________________________________ Profª. Flora Mendes de Araújo Lima, Dr. _________________________________ Prof. José Carneiro de Andrade, PhD.

Orientador da Dissertação: Marcondes Araújo Lima Coordenador do Curso: José Carneiro de Andrade

Fortaleza, setembro de 2.001.


DEDICATÓRIA: Aos meus pais, exemplos a serem seguidos. À minha mulher e ao meu filho, objetivo maior de minha luta.


AGRADECIMENTOS: Aos Sem-Tetos que com suas esperanças, contribuíram para o desenvolvimento deste Trabalho. À Universidade de Fortaleza, que acreditando na minha Proposta, investiu no meu Progresso.

LISTA DE FIGURAS:


LISTA DE TABELAS:


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS:


RESUMO:


A simples leitura de jornais ou outros periódicos, o ver e ouvir das notícias nas emissoras de rádio e televisão fornecem subsídios suficientes para a percepção da amplitude da problemática habitacional em todo o mundo. Esta dissertação sistematiza uma leitura, sob base científica, da questão habitar para as populações inseridas nas faixas de renda inferiores à três salários mínimos e propõe uma metodologia de trabalho para a definição de desenhos de habitação popular que melhor se adequem as características bio-climáticas dos diversos sítios, que atendam às necessidades apresentadas pelos futuros usuários dos objetos arquitetônicos construídos, que sejam coerente com os valores antropológicos e culturais das populações atendidas com os bens produzidos e que se ajustem às capacidades de comprometimento financeiro das diversas comunidades. Traz, este trabalho científico, um relato das políticas oficiais no Brasil e no mundo e dos antecedentes históricos da problemática habitacional, faz uma análise da influência do capitalismo no processo de industrialização da construção civil, mostra materiais e tecnologias, tradicionais e inovadoras, utilizadas na construção da habitação popular e finaliza com a proposta de uma metodologia de trabalho para a definição de novos partidos arquitetônicos por arquitetos e urbanistas.

ABSTRACT:


A simple magazine or newspaper reading, a radio or a television news attending, give us enough indicators to figure out the world’s housing problem. This thesis intends to make, under a scientific basis, an understanding of the poor people living requests. A deep overview on a group of North Brazilian inhabitants that perceives, as a family salary, less than two hundred dollars per month. This work presents and proposes a housing design working method: draws that fit better with the local weather, the people living demands (considering anthropologic and cultural values) and their pay off capacity. It also tries to show us the world’s housing formal policies, the sway of the capitalism on the building up industry,

the materials and construction’s procedures (old and innovative

ones) and, endless, it give us a possible working method for designing new settlements.


Sumário: Lista de Figuras Lista de Tabelas Lista de Abreviaturas e Siglas

Resumo Abstract

Capítulo I - Introdução: 1.1. - O tema, delimitação e relevância; 1.2. - Justificativa para o seu desenvolvimento; e 1.3. - Formulação do Problema.

Capítulo II - Política governamental direcionada à habitação popular: 2.1. - Antecedentes históricos; 2.2. - A política governamental brasileira; e 2.3. - Os programas habitacionais.

Capítulo III - A industrialização na construção civil: 3.1. - O capitalismo e a industrialização; 3.2. - A industrialização no Ceará; e 3.3. - O processo de industrialização.

Capítulo IV - Materiais e tecnologias utilizadas na construção habitacional: 4.1. - Tecnologias utilizadas na construção civil; 4.2. - Os compósitos, os vidros e os metais na construção civil; e 4.3. - A produção de peças em plástico reforçado.


Capítulo V - Metodologia proposta para à produção de habitação: 5.1. - O conceito de habitar; 5.2. - A definição do partido arquitetônico pelos arquitetos; e 5.3. - Uma proposta metodológica para a habitação popular.

Capítulo VI - Análise da metodologia proposta.

Capítulo VII - Conclusão e Juízo Crítico.

Referências bibliogáficas.

Anexos. Apêndices.


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Capítulo I - INTRODUÇÃO:

1.1. - O tema, delimitação e relevância

A medida que o processo de industrialização prossegue sem que medidas de natureza social sejam adotadas, a tensão vai aumentando, dando lugar, no final do período, a uma série de greves operárias... (FINEP, 1985: 37)

A problemática habitacional vem sendo acompanhada por profissionais, pesquisadores e estudiosos do Brasil e do mundo. Livros sobre o assunto foram escritos por autores estrangeiros do porte de: MERRICK (1986), MUMFORD (1982), RAPOPORT (1984), BERNOLT (1968), HAYS (1993), MINKE (1994), MOURINHO (1979) e SCHOTS (1987). Escritores nacionais também têm se debruçado sobre o tema, cumprindo ressaltar: TROYKO (1986), AMBROGINI (1986), BALTAZAR (1992), BONDUKI (1992), DAMATTA (1985), DUARTE (1992), FREYRE (1977), GHOUBAR (1992), KOWALTOWSKI (1992), MARCHI (1986), MOTTA (2000), ORNSTEIN ( 1992),

PRATINI (1992), RAMON (1977) e SABBAS (1985).

Até

investigadores locais têm ocupado parte do tempo escrevendo textos que analisam a questão habitacional, entre eles devem ser citados: BORZACCHIELLO (1994), FREITAS (1995), MAIA (1995), MUNIZ (1994), PORTELLA (1995), NEGRELLI (1989), NOBRE (1997) e ORIÁ (2000).


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Os institutos de fomento à pesquisa como FINEP têm aportado recursos financeiros para grupos interessados na temática habitacional popular. Empresas vinculadas ao mercado da construção civil como a Eternit, ASSECON e SIDUSCON têm patrocinado publicações sobre o assunto. Instituições governamentais como o Ministério do Interior, o Banco Nacional de Habitação, a Prefeitura Municipal de Fortaleza e a Câmara Municipal de Fortaleza têm apoiado seminários, debates, pesquisas e outras iniciativas institucionais e populares que envolvam a questão social da morada. Núcleos e grupos de pesquisa como o Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, CEPED, THABA e NUPAC têm sido criados com o objetivo de estudar a demanda habitacional, os materiais e as técnicas construtivas utilizadas na construção das moradas. Até as associações de moradores como: a Federação de Bairros e Favelas de Fortaleza (FBFF), o Movimento de Lutas dos Moradores dos Conjuntos Habitacionais (MLCH) , o Fórum da Moradia e a União das Mulheres Cearenses têm se envolvido com a problemática habitacional. As organizações religiosas como as Comunidades Eclesiais de Base, a Pastoral do Migrante, a Pastoral do Menor e a Caritas têm dado suas parcelas de contribuição para a discussão da temática. Organizações não governamentais como o Collegi D’Arquitectes de Catalunya, o IAB, o CREA, o GRET, o CRATERRE, o Cearah Periferia e o Instituto Sertões têm demonstrado preocupação com a questão.

A demanda habitacional para esse início de milênio, segundo o Instituto Brasileiro de Administração Municipal, chega no Brasil a cifra de 5.618.000 unidades


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residenciais e no Nordeste a 2.442.000 moradas. Do déficit brasileiro, 4.000.000 casas estão sendo requisitadas para o espaço urbano e no Nordeste a carência é de 1.000.000 de unidades habitacionais nas cidades. 160.000 residências são desejadas pelos moradores do município de Fortaleza.

Ainda em Fortaleza a

Caritas estima a existência de 614 favelas e 67 áreas de risco.

O crescimento populacional urbano no Brasil em 1.900, segundo dados fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, era de 9,40%. Esse passou para 36,16% em 1.950, cresceu para a cifra de 55,92% no ano de 1.970 e chega no final do milênio ao montante de 81,23%. Tem-se hoje no Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Administração Municipal, 4.172 municípios com mais de 20.000 habitantes, desses 1.255 estão situados no Nordeste. 175 cidades brasileiras possuem hoje mais de 100.000 residentes, desses aglomerados urbanos 37 estão no Nordeste.

A simples leitura de jornais ou de outros periódicos da cidade ou o próprio ver e ouvir das notícias nas emissoras de rádio e televisão, já fornece subsídios suficientes para se intuir um cenário de precariedade habitacional entre os que percebem baixa renda familiar no Brasil. E nesse ponto grande diferença há entre os que demandam habitação em países de terceiro e quarto mundo para os que as necessitam e compõem a população primeiro-mundista.

Figura 1.1-1

Lá as catástrofes

naturais e os conflitos sociais é que geram as questões habitacionais. Figura 1.1-2


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FIGURA 1.1-1 - Morada espontânea cearense Fonte: Jornal Sem Terra.

FIGURA 1.1-2 - Atentado terrorista nos Estados Unidos Fonte: Revista Veja.

Só para reforçar essa tônica, cumpre ressaltar a inexistência do termo habitação popular no idioma alemão. Os germanos quando querem se referir ao tema se utilizam da expressão inglesa housing. Por outro lado o termo favela,


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alusão feita no Rio de Janeiro à uma planta característica da caatinga, segundo o geógrafo BORZACCHIELLO, e que passou a denominar um grupo de moradores dos morros cariocas que teriam fugido de Canudos, região agreste, e construído edificações urbanas orgânicas na então capital do país, compõe hoje dicionários das línguas: portuguesa, inglesa, francesa, alemã e espanhola e refere-se a toda a habitação sub-normal espontânea.

FIGURA 1.1-3 - Crescimento Populacional Mundial Fonte: Boletim populacional de Washington.

Reportagens freqüentes sobre conflitos sociais ou mesmo sobre as condições precárias de moradia da grande maioria dos habitantes desse país, fornecem mais subsídios para a visualização da problemática habitacional. Essa visão empírica se reforça ao se comparar com o crescimento populacional (1750 - 2.100), como no


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estudo realizado por MERRICK (1986), apresentado por áreas desenvolvidas como Europa, Estados Unidos, Canadá, Japão, Austrália e Nova Zelândia e ocorrido nas regiões que se encontram em fase de desenvolvimento como África, Ásia e América Latina. Figura 1.1-3

Mesmo com o conhecimento dessas informações, pouco se tem feito em prol dos incluídos em faixas de renda familiar inferior à três salários mínimos. A questão se complica quando mais um indicador se agrega a esses dados: uma análise estatística do crescimento populacional revela que nos próximos trinta anos, se nenhuma atitude por parte dos governantes for tomada para reverter o processo, a população mundial estará duplicada. Seria simplório se pensar que se resolve o problema habitacional brasileiro, ou de qualquer outro país, através de um simples projeto. De fato, a solução para essa demanda só será realmente encontrada, quando meios forem definidos de modo a garantir aos brasileiros trabalho e renda que os tirem do limiar da sobrevivência. Mesmo que a elaboração de um partido arquitetônico não seja a solução definitiva para o caso em foco, é a maneira que os técnicos encontram para minimizar os efeitos das pressões sociais geradas pelo não atendimento dessa necessidade básica dos cidadãos. Mas isso não vem ocorrendo de forma sistemática no país. Os governantes pensaram, a princípio, pela facilidade de detalhamento dos projetos, pela simplificação dos planejamentos, pela concentração dos trabalhos nas mãos de grandes empreiteiras, em um partido arquitetônico único para atender brasileiros residentes em todas as regiões e propostas estão sendo executadas em todo o país, segundo este desenho singular.


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Dessa forma, se expurgou dos programas habitacionais brasileiros qualquer análise as diferenças climatológicas, os valores culturais, as características dos sítios e os materiais encontrados em cada uma das regiões desse país, que tem dimensões continentais. A própria definição das Normas Técnicas colaborou para este fato: a PNB - 140 (hoje NBR 12.721) criada para facilitar o acompanhamento das composições orçamentarias passou a funcionar como ‘receituário’ para propostas arquitetônicas.

A demanda habitacional crescente no país associada a um descaso no tratamento do problema por parte dos governantes, gerando objetos arquitetônicos com desenho único em um país de dimensões continentais, condições climáticas que possibilitam amplitudes térmicas de até 40° C

e formações culturais

diferenciadas, fundamentou a elaboração desta dissertação. Esse trabalho, portanto, se posiciona contra à definição de uma proposta única, absoluta, como se o técnico fosse o senhor do saber e os usuários das residências apenas um objeto desse processo, pretende contribuir com a definição de um método de planejamento; por essa razão adotou-se o título: uma proposta de metodologia para a definição do desenho da habitação popular. Projetos diferentes deverão atender a demandas habitacionais diferenciadas, fato ainda não observado nas propostas habitacionais executadas em todo o país.

Eventos há, que fogem a essa regra, principalmente quando a produção dessas edificações fica a cargo de organizações não governamentais. Essa constatação foi realizada a partir de uma pesquisa bibliográfica, de contatos


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efetivados com associações de classe e com líderes comunitários, de discussões travadas com instituições governamentais e organizações não governamentais, além de visitas realizadas à assentamentos planejados e espontâneos.

Agregue-se à demanda habitacional que se amplia, através de um crescimento populacional, gerado por taxas crescentes de natalidade (as populações de faixas de renda mais baixas têm proles mais numerosas, entendem a masculinidade e feminilidade do ser humano como a capacidade de gerar filhos e se usam desses filhos como mão de obra complementar para a geração e composição da renda familiar); as dificuldades financeiras que as populações residentes na Região Metropolitana de Fortaleza já enfrentam, por estarem inseridas no semiárido brasileiro, assolado periodicamente pelo fantasma das secas e com atividades produtivas industriais e de serviços precárias.

Migrações se acentuam durante os períodos de estiagem. Populações oriundas do campo invadem as cidades, ocupando as áreas urbanas com habitações sub-normais.

Figura 1.1-4

Alguns grupos até fazem passeatas utilizando-se

das ruas e promovem aglomerações em frente às instituições governamentais. Motoristas são abordados nos semáforos e esmolas são pedidas. As casas e os pontos comerciais também são visitados por pessoas famintas. A existência de infra-estrutura e a possibilidade de geração de emprego e renda, são as responsáveis por trazer e manter populações de origem rural nos núcleos urbanos. A necessidade de mão de obra a custo baixo, associado a poucas oportunidades de lazer e uma fertilidade alta, como mencionado em parágrafo anterior, os faz produzir


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muitos filhos; assim a mancha urbana cresce com os assentamentos espontâneos e os problemas sociais se agravam.

FIGURA 1.1-4 - Assentamentos de Baixa Renda até 1985 FOR.

Fonte: PDDU-

A discussão de uma metodologia para a obtenção de partidos arquitetônicos que atendam à demanda habitacional da população residente na Região Metropolitana de Fortaleza e que percebe menos de três salários como renda familiar mensal se impôs como problema para esta pesquisa. No processo de planejamento dessas unidades unifamiliares está incluída a utilização dos recursos computacionais como meio de manipulação de banco de dados e forma de obtenção de resultados otimizados.


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1.1.1 - OBJETIVOS: Este trabalho pretende cumprir aos seguintes objetivos pré-estabelecidos:

i) Geral:

Sugerir uma proposta metodológica para o desenho da

habitação, para a população que percebe, na região metropolitana de Fortaleza, renda familiar mensal inferior a três salários mínimos, que atenda a um programa de necessidades estabelecido por seus usuários e com custo compatível com suas capacidades de comprometimento financeiro.

ii) Específicos: a)

Analisar a política governamental brasileira direcionada à

habitação popular; b) Estudar os efeitos provocados pelo capitalismo e o processo de produção industrial de bens no mundo, no Brasil e no Ceará; c) Identificar materiais e técnicas construtivas, vernaculares e inovadoras, utilizadas na construção de edifícios; e d) Fazer uma análise da tarefa do planejamento e execução das construções de edifícios para servir de subsídio para a definição de uma proposta metodológica.

É importante, antes de dar prosseguimento nesse trabalho, que se fale um pouco do pesquisador, autor dessa dissertação, e do grupo de pesquisa ao qual


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está vinculado na Universidade de Fortaleza; além das outras atividades desempenhadas por Euler Sobreira Muniz, vinculadas à problemática habitacional.

Em meados do ano de 1993, recebia o autor dessa dissertação, da Reitoria da Universidade de Fortaleza - UNIFOR, um convite para participar de um Seminário sobre o Projeto Comunidades, desenvolvido pela Companhia de Habitação do Ceará - COHAB em parceria com o GRET - Groupe de Recherche et d’Etanges Technologiques, de Paris - França. Conclave que contou com a presença de Yves Cabannes, coordenador local do GRET, com o professor do curso de geografia da Universidade Federal do Ceará, José Borzacchiello da Silva, estudioso das questões sócio-urbanas da cidade de Fortaleza; além de representantes da Prefeitura Municipal de Fortaleza - PMF, da Secretaria do Trabalho e da Ação Social - STAS, das Associações Comunitárias e de membros da Comunidade Européia.

O Projeto Comunidades teve por objetivo prover de habitação, pessoas que percebiam menos de três salários mínimos como renda familiar. Casas construídas com a utilização de novas tecnologias e de materiais alternativos. Modelo a ser desenvolvido para outras comunidades do estado do Ceará.

Desse Seminário surgiu a vontade do autor da dissertação em montar, na Universidade de Fortaleza, um grupo de pesquisa para estudar a questão habitacional. Essa proposta foi bem aceita pela então diretora do Centro de Ciências Tecnológicas da Universidade de Fortaleza, professora Nise Sanford Fraga, e pelo então coordenador do Núcleo de Pesquisas Tecnológicas, professor José Julião,


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que encaminharam ao diretor de Pesquisa, Extensão e Pós-graduação, o professor David Morano, hoje diretor de Pesquisa e Pós-graduação, para que analisasse a proposta, aprovasse-a, de modo a que o grupo pudesse de fato existir.

Espaço físico preparado, definiu-se um Projeto de Pesquisa. O passo seguinte foi tentar envolver outros professores com o tema. Na época, uma tarefa não muito fácil, pois a instituição ainda engatinhava na área da pesquisa. A professora Maria Aridenise Macena Maia, engenheira civil por formação acadêmica e com pós-graduação em engenharia de produção, foi quem primeiro se integrou à proposta, que hoje se transformou no Grupo de Pesquisa do Ambiente Construído GRUPAC e envolve professores e alunos dos cursos de engenharia civil; além de interessados no assunto da engenharia de produção e da arquitetura e urbanismo.

Esse envolvimento com a problemática habitacional fez com que Euler Sobreira Muniz procurasse se capacitar e no curso de pós-graduação latu-sensu em Métodos e Técnicas da Pesquisa, oferecido pela Universidade de Fortaleza, se inscrevesse. Especialização concluída em 1995, com a defesa da monografia intitulada: Levantamento de Programa de Necessidades de residência Unifamiliar para população inserida na faixa de zero a três salários, ingressou no curso de Mestrado em Engenharia Civil com área de concentração em Edificações, que tem por dissertação este documento.

Em 1994, chegou à Universidade de Fortaleza uma comitiva de professores, alunos e pesquisadores da Fachhoheshule Köln, instalada na cidade de Colônia, na


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Alemanha, liderada pelo professor Dr. Hartmut Gaese, diretor do Institut für Tropentechnologie - ITT, instituto vinculado com a já citada Universidade de Colônia. O professor Dr. Frederich Grimme integrava a equipe de pesquisadores e o então mestrando Michael Laar, o grupo de alunos. Uma parceria foi formalizada entre à UNIFOR e a Fachhoheshule alemã, o que possibilitou, além da ida do autor à Alemanha, a vinda de mestrandos ao Ceará para o desenvolvimento de suas dissertações, entre eles: Kurt Kerger, Cecilia Mir, Michael Laar e Sina Müller; além de graduados e professores da UNIFOR irem para a Alemanha realizar os seus mestrados e doutorados, entre eles a engenheira civil Rossana.

O interesse pelo problema habitacional levou o professor Euler Muniz a ser convidado, enquanto representante do Instituto de Arquitetos do Brasil - IAB, departamento Ceará, para compor, como conselheiro, a Federação de Bairros e Favelas do estado do Ceará e também o Conselho Municipal de Habitação Popular, também representando o IAB - Ce.

Em 1995, esteve o autor em Barcelona, participando do XIX Congress International Union of Architects. (congresso da União Internacional de Arquitetos UIA) onde apresentou o artigo intitulado: A low cost housing necessity Program. A study developed in one north-east brasilian city. Tem, ainda, esse pesquisador participado de vários Congressos, Seminários e Palestras em todo o Brasil, onde apresenta artigos sobre a temática habitacional. Entre esses encontros científicos cumpre ressaltar os promovidos pelo Instituto de Arquitetos do Brasil, os da


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Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo, os da Prefeitura Municipal de Fortaleza e os da Universidade de Fortaleza.


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1.2. - Justificativa:

Os conjuntos habitacionais construídos junto às fábricas, embriões das futuras “avenidas” ou “vilas operárias”, alastraram-se, com o tempo, por todo o mundo industrial. (FINEP, 1985:13)

Por muito tempo, a população de baixa renda, residente nos diversos rincões brasileiros, vem sendo obrigada a se ajustar à moradias que não foram desenhadas tomando como parâmetros as suas necessidades. É muito fácil de se constatar essa realidade, basta que se faça uma visita a qualquer assentamento planejado logo após a sua ocupação. No primeiro ano já se observa que várias unidades habitacionais foram modificadas para se ajustar às reais necessidades de cada grupo familiar. Ao longo do tempo, se pode observar uma progressiva mudança da paisagem urbana: uma reformulação contínua das propostas uniformes, definidas para usuários com características e demandas singulares. Figuras 1.2-1

FIGURA 1.2-1 - casa original do Conjunto José Walter, Fortaleza.

e 1.2-2

FIGURA 1.2-2 - casa modificada do Conjunto José Walter, Fortaleza.


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Parafraseando TOFFLER (1991), poder-se-ia dizer que se está mergulhando na Terceira Onda, tempo em que a informática pode propiciar um atendimento diferenciado da população, dentro de um sistema industrializado de produção. A Segmentação do Mercado já é uma realidade mundial. A produção industrial, dia após dia, se organiza de modo a atender cada grupo de usuários de forma particular. A indústria da construção civil já se programa para a otimização dos processos produtivos. O cidadão comum é que,

mesmo após os avanços da

ergonomia, ciência dedicada à adaptação do posto e do espaço de trabalho ao homem, ainda é encarado, pelos arquitetos e urbanistas, da mesma maneira que os ‘vanguardistas’ do século XX. Profissionais que, após participarem do Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM), realizado na Suíça, procuraram submeter o ser humano à padrões internacionais: criaram um homem-tipo, materializado na figura do Modulor de Le Corbusier e sujeitaram os usuários das construções à projetos arquitetônicas que valorizam a estética em detrimento das demandas funcionais. Figura 1.2-3

FIGURA 1.2-3 - Le Modulor.


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O que se observa, ao se analisar a visão oficial do governo, é que a população de baixa renda é tratada apenas como números que enchem as estatísticas dos administradores e dos órgãos públicos. Urge, pois, tratar esse grupo social como cidadãos que são diferentes, por não possuírem riquezas suficientes para ultrapassar o limiar da sobrevivência,

mas que são seres humanos com

necessidades, aspirações, inquietações iguais a de outros quaisquer encontrados no globo terrestre. Os ergonomistas definem e defendem a seguinte assertiva: dar conforto ao trabalhador, conferir oportunidades de lazer e de prazer ao homem não deve ser entendida como uma atitude eminentemente assistencialista ou clientelista por parte do empregador ou do administrador público, mas ter prazer, conforto e lazer são fundamentais, assim como o vestir, estudar e se alimentar, para que esse indivíduo possa vir a produzir com maior e melhor rendimento.

A proposta que aqui se apresenta, visa definir uma metodologia de trabalho para a execução de desenhos de habitação popular, fundamentado em programas de necessidades pré-estabelecidos, gerados junto aos futuros usuários dos imóveis. Um atendimento individualizado, seguindo os padrões da segmentação de mercado, que irá se utilizar das ferramentas oferecidas pelo computador, para viabilizar o processo. Um partido arquitetônico, que ao responder à um programa de necessidades definido junto aos usuários, estará oferecendo melhores condições de morada ao cidadão. Um trabalhador, que após ter satisfeita uma de suas necessidades básicas terá, certamente, produtivas.

mais disposição para as atividades


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Só para citar um exemplo de segmentação de mercado com a utilização da informática (um atendimento individualizado dentro de procedimentos industriais); as fábricas de calçados, hoje, já conseguem confeccionar, dentro de uma linha de produção industrial, pares de sapatos que atendam de maneira personalizada cada usuário. O processo é bastante simples, embora envolva equipamentos e tecnologia avançadas. O adquirente de calçado vai a loja, lá é submetido a um aparelho, um scanner 3D, que tem por objetivo mensurar todas as medidas dos segmentos corporais, necessárias à produção do objeto.

Essas informações são enviadas, via Internet, para um computador localizado na indústria, que as agrega à um banco de dados que contém todas as medidas levantadas no comércio naquele dia. Um aplicativo computacional, existente na indústria, programa um arranjo de cortes da matéria prima que atenda aos pedidos efetuados e defina uma menor perda de insumos. Esse processo nada mais é do que uma otimização, uma programação linear, dentro da linguagem matemática, que tem por função objetivo o minimizar de perdas, ou de custo ou ainda de sobras e como funções restritivas os pedidos e as limitações do processo de fabricação. Em pouco tempo, os sapatos são produzidos dentro de um sistema industrializado, mas de forma a atender cada usuário de maneira individualizada.

Nesse ponto, cabe colocar uma indagação: se esse processo é possível dentro de uma indústria de produção de artefatos de couro, por quê não se testar a mesma metodologia para atender aos futuros usuários de habitações? As medidas dos segmentos corporais da indústria de sapatos seria substituída, na construção


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civil, pelo levantamento do programa de necessidades de cada grupo familiar. É algo que pode ser conseguido, também, por meio das técnicas computacionais. Após a tabulação desses dados,

passar-se-ía para um outro aplicativo

computacional, também a ser desenvolvido, que seria o responsável pela sistematização, utilizando-se de programação linear, de processo de otimização, dos indicadores a serem utilizados pelos projetistas quando da definição do arranjo das unidades espaciais de cada habitação. A definição do leiaute de cada unidade habitacional , pelo arquiteto e urbanista, deve ser elaborada de modo a respeitar cada programa de necessidades levantado e propiciar o menor custo quando da execução das edificações concebidas. Esse processo de arranjo e otimização também poderia ser utilizado para auxiliar na definição da implantação de cada unidade unifamiliar dentro da gleba.

Da mesma forma que a produção industrializada de calçados não retirou do processo o designer que define os modelos, a proposta que aqui se apresenta não excluiria do processo de construção de residências o arquiteto e o urbanista. A proposta

da

utilização

de

aplicativos

computacionais

para

a

geração

e

gerenciamento de blocos de desenho, antes de afastarem os projetistas do objeto arquitetônico e do espaço urbano, forneceriam uma gama maior de indicadores que facilitariam, em muito, os seus processos criativos. O que esses programas pretendem ofertar são subsídios e ferramentas sobre as quais urbanistas e arquitetos irão trabalhar, de modo a atender às reais necessidades dos futuros usuários de assentamentos planejados, ofertando-lhes um desenho personalizado,


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de qualidade e adequado Ă s suas capacidades de pagamento e realidades individuais.


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1.3. - Formulação do Problema:

Outra alteração também observada foi a progressiva desatenção para com a qualidade das habitações destinadas à população de baixa renda. (FINEP, 1985: 21)

O habitar é, junto com o vestir, o se alimentar, o estudar, o trabalhar, uma das necessidades básicas do ser humano. Desde a Pré-história, o homem buscou no alto de árvores, nas locas de pedras, o seu abrigo, a sua morada. Na Mesopotâmia a cidadela fornecia a segurança necessária contra os inimigos. O rio Nilo produziu no Egito cidadelas naturais para os faraós e seus vassalos. O senhores feudais construíram os seus castelos, suas fortalezas e moradas, nas encostas das montanhas como uma estratégia de sobrevivência diante dos bárbaros e negociaram com os camponeses o abrigo necessário para o período das guerras, em troca de parte do que produzissem ao longo dos anos.

Os navegadores espanhóis, portugueses e ingleses, no período do mercantilismo e dos grandes descobrimentos, construíram com seus próprios punhos as suas casas no novo continente: moradas toscas com a utilização dos materiais locais e as técnicas construtivas dos seus países de origem. Todos, ao longo da história da humanidade, se utilizando dos materiais que se apresentavam disponíveis nas regiões e de tecnologias criadas ou herdadas dos antepassados, modificaram a natureza e construíram abrigos para proteção contra as intempéries,


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para o deleite ou descanso dos corpos, para se resguardar dos inimigos ou mesmo como símbolo de poder e ostentação.

O problema habitacional veio a se configurar, com maior evidência, a partir do momento em que a Revolução Industrial trouxe aos grandes núcleos urbanos levas de camponeses egressos do campo. As possibilidades de emprego, renda e a provável melhoria na qualidade de vida, atraíram famílias de rurícolas, acostumadas com a lida no campo, para as fábricas implantadas nos núcleos urbanos. Esse fenômeno de urbanização pode ser encontrado em todos os países do globo, mas é expressivo nos países de Terceiro Mundo, onde a ligação homem - solo é forte, mas não há uma efetiva geração de renda em função das condições climáticas, do pequeno volume de recursos financeiros aportados na produção agrícola, da dificuldade intensa do trabalho, quando não há a necessária mecanização e do insuficiente apoio institucional destinado ao Setor Primário.

No Brasil, os empreendedores industriais tentaram, quando da implantação das primeiras fábricas, resolver o problema habitacional de seus funcionários, através da construção de vilas operárias, seguindo modelo importado da Inglaterra. A solução se tornou ineficaz em função do volume demandado de residências pelos operários alocados no parque industrial brasileiro e da disponibilidade financeira dos industriais para investir em habitação popular.

Parecia muito mais importante para o empresariado brasileiro da época concentrar os seus recursos financeiros na aquisição e manutenção de suas


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máquinas, do que alocar consideráveis montantes para abrigar os operários com suas famílias. Investir na morada do operário teria de ser uma atividade do Estado, que a princípio resolveu subsidiar o empresariado para depois, ele próprio, assumir a difícil tarefa de construir moradas para a população de baixa renda e que diretamente contribuía para a produção industrial do país.

Após a locação de imóveis, a construção de grandes conjuntos habitacionais se mostrou coerente com o chamado ‘Milagre Brasileiro’. O ufanismo do ‘Made in Brazil’ associado à febre das mega - soluções, sugeridas pelo processo industrial, fez com que se distribuísse, nas maiores cidades brasileiras, grandes conjuntos habitacionais forjados segundo modelo único, de modo a atender pessoas territorial e culturalmente separadas, dentro desse país - continente, e sujeitos à condições topográficas e climáticas extremamente díspares.

Encontrar um modelo de habitação que responda a cada subconjunto populacional reunido por características territoriais, climáticas e culturais distintas se impõe como meta para governantes que queiram se integrar na busca global por qualidade de vida e pelo atendimento das necessidades da população, dentro de uma linha ideológica de segmentação de mercado. Cada vez mais a sociedade civil se organiza e clama pelos seus direitos. Muitas já são as organizações que defendem os interesses dos sem-terra e dos sem-tetos. A própria Constituição Federal, promulgada em 1988, em seu inciso III, artigo 3º do título I, dos princípios fundamentais, garante:

erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as

desigualdades sociais e regionais. Terá, também, de ser o objetivo de instituições


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educacionais que visem a geração do conhecimento em prol da melhoria das condições de vida de todos.

Para o desenvolvimento desse trabalho, definiu-se a seguinte hipótese: as propostas habitacionais existentes no Brasil, elaboradas para abrigar as famílias que percebem menos de três salários mínimos, como renda de até três moradores da mesma unidade habitacional, não atendem de fato as necessidades dos habitantes individualmente. Essas edificações que, de certa forma, se adequam à capacidade de pagamento demonstrada pela população alvo, não conferem aos usuários condições de conforto ambiental necessárias ao desempenho das diversas atividades domiciliares.

Foi escolhida como variável independente para esse estudo, a política governamental para a produção das habitações populares, por ser a determinante fundamental dos modelos adotados. E como variáveis dependentes a tipologia da habitação, os métodos construtivos, os processos de fabricação, as tecnologias utilizadas e os materiais aplicados nas edificações, conseqüências diretas da variável independente. Poder-se-ia ainda apontar, de imediato, uma série de outras variáveis que interferem no processo de produção das habitações populares; essas vão aparecer ao longo da exposição desse trabalho, pois podem ser identificadas entre os determinantes climatológicos, os pressupostos legais, as características do sítio, os valores antropológicos e indicadores culturais. Variáveis essas classificadas de independentes, quando são o sujeito do processo, dependentes quando possíveis

de sofrer alterações diante da presença das anteriores e, ainda,


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intervenientes quando atuam enquanto catalisadores das ocorrências sociais. Mas, a rigor,

política governamental, tipologia da habitação, métodos construtivos,

processos de fabricação, tecnologias utilizadas e materiais aplicados devem ser destacados e isolados entre todas as demais variáveis, pois se configuram como as mais importantes dentro do tipo de análise que se pretende discorrer nesse trabalho científico. São elas que definem a própria problemática dessa dissertação, são as que dão o rumo para as pesquisas realizadas e aqui descritas.

Este trabalho faz parte da produção científica do Grupo de Pesquisa do Ambiente Construído da Universidade de Fortaleza, e dá continuidade à monografia: levantamento de programa de necessidades de residência unifamiliar para população inserida na faixa de zero a três salários (MUNIZ, 1995), que tinha por objetivos entender a gênese do desenho da habitação popular espontânea, a problemática habitacional brasileira, além de propor alguns determinantes para os novos assentamentos. Todas propostas de

soluções para demandas regionais.

Essa, pois, é a segunda fase desse processo, tempo em que se manipulam as informações já levantadas, e que fizeram parte do trabalho anterior

ou das

atividades dos outros pesquisadores dentro do grupo de pesquisa da UNIFOR, e se define uma metodologia de projeto para a produção de novos assentamentos planejados de habitação popular.

O banco de dados levantado pelo trabalho anterior teve como universo a comunidade do Dendê, instalada na fronteira ocidental da Universidade de Fortaleza, e que possuía em 1985, segundo planta da área elaborada pela


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Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente, 2.344 unidades residenciais unifamiliares. Figura 1.3-1

Iguatemi

Rio Coco

UNIFOR

Dendê

FIGURA 1.3-1 - Comunidade do Dendê, Fortaleza

Fonte: Telemar

Essa área foi escolhida após uma análise das tipologias, dos materiais e métodos construtivos utilizados na produção espontânea de habitação popular em todo o Brasil. Observou-se que ao serem definidas duas retas a partir da cidade de Fortaleza e tendo como extremos os municípios de Tabatinga no alto Amazonas e Livramento nos pampas gaúchos, as habitações espontâneas mudam o seu partido arquitetônico ao ingressar na Floresta Amazônica, ponto intermediário do estado do Maranhão, tempo em que a madeira passa a ser usada com intensidade, e ao


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transpor as nascentes do rio São Francisco, sul do estado de Minas Gerais, quando o lixo urbano passa a servir de material de construção. Figura 1.3-2

FIGURA 1.3-2 - Área com semelhança tipológica

A tipologia da habitação espontânea encontrada na cidade de Fortaleza é a mesma da área delimitada anteriormente: edificações são produzidas em taipa de sopapo, com apenas dois vãos: o primeiro recebe a função de estar, o segundo de jantar e ambos se transformam em quarto pelo simples apor das redes. As necessidades fisiológicas dos ocupantes, nessas construções, são efetuadas fora de casa, em área resguardada por dispositivo elaborado em compensado de madeira ou simplesmente protegida pela mata existente. Observou-se, ainda, que a distribuição dos assentamentos espontâneos em Fortaleza é quase homogênea, por


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essa razão e pela proximidade com a Universidade, além de uma maior possibilidade de receber respostas verdadeiras à formulários elaborados, por já ocorrerem lá outras pesquisas da instituição, escolheu-se a Comunidade do Dendê como representativa de toda a área delimitada. No trabalho monográfico foi executada a interpretação do banco de dados coletado, a partir de formulário elaborado. As deduções obtidas quando da análise, foram também utilizadas enquanto ferramenta para a finalização desta dissertação.

Figuras 1.3-3 e 1.3-4

FIGURA 1.3-3 - Habitação espontânea José Walter,

O primeiroFIGURA passo, no trabalho anterior, foi um levantamento 1.3-4 -realizado Habitação espontânea perspectiva transparente.

minucioso das soluções habitacionais existentes no Brasil e no exterior, para tanto se fez uso do método histórico e da técnica documental. Da comunidade do Dendê foi selecionada uma amostra aleatória, considerando estratos de habitação com mesma tipologia, para a abordagem - um estudo de caso associado à uma observação direta. A técnica do formulário foi empregada em uma amostra piloto e com essa se fez

uma avaliação pós-ocupação do assentamento. Algumas

informações foram coletadas pela simples observação das edificações. O método


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estatístico e a técnica da medida de opinião foram de fundamental importância para o levantamento do programa de necessidades para novas implantações.

Esse levantamento foi corrigido em alguns pontos e legitimado em outros, por essa dissertação, pois se coletou informações em outras comunidades, situadas na região metropolitana de Fortaleza e distantes do Dendê. Para isso se firmou parcerias com a Federação das Comunidades do Estado do Ceará e com a Prefeitura Municipal de Fortaleza, através da Comissão Municipal de Habitação Popular, que proveram esta pesquisa com dados que complementaram o observado no Dendê.

Essa dissertação traz, antes do resultado de experimentos, uma revisão da literatura no que tange aos aspectos de política governamental, processo de industrialização, utilização de materiais e métodos construtivos e uma análise da tarefa no processo de definição de partidos arquitetônicos. Os aplicativos computacionais utilizados não devem substituir ao arquiteto e ao urbanista no processo de definição de partidos arquitetônicos e desenhos urbanos, mas antes irão colaborar com a atividade intelectual e criatividade desses profissionais, fornecendo indicadores que irão se somar com o repertório pessoal dos projetistas e com os conceitos filosóficos que suportam toda atividade de planejamento.

Neste trabalho serão analisados somente os fatores limitantes do projeto de arquitetura relacionados com a definição do programa de necessidades e com o


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sítio. Os aspectos legais não serão levados em conta, pois estes mudam periodicamente, dificultando a sua colocação dentro de uma rotina de trabalho.


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Capítulo II - POLÍTICA GOVERNAMENTAL DIRECIONADA À HABITAÇÃO POPULAR

2.1. - Antecedentes

A ação governamental no campo da habitação popular teve sua origem no Segundo Reinado, coincidindo com o momento em que o trabalho livre começa a substituir o trabalho escravo... (FINEP, 1985: 21)

O problema habitacional passou a ter uma maior visibilidade com o advento da Revolução Industrial que se fez sentir, em um primeiro momento, em algumas cidades européias e depois em terras brasileiras. Na Idade Média, as guildas reforçaram

a

teoria

da

existência

de

indústrias

de

ofícios

caseiros. O

desenvolvimento da indústria esteve intimamente ligado com a evolução da tecnologia. Admitindo-se uma acepção mais lata para o termo, iniciou-se com a sistematização do extrativismo, que se firmou a partir do surgimento da propriedade privada, desde o período em os Romanos dominaram quase toda a Europa (cerca de 200 anos aC). Figura 2.1-1

FIGURA 2.1-1 - Tear de Arkwright Fonte:www.spartakus.schollnet.co.uk


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Na segunda metade do século XVIII, o homem, no afã de otimizar a sua atividade produtiva artesanal, criou uma série de dispositivos mecânicos, iniciando pela máquina de fiar, invenção dos ingleses Arkwright e Hargreaves, depois o tear mecânico, do também inglês Cartwright, a lançadeira volante de John Key e a máquina de descaroçar algodão do americano Whitney. (SILVA, 1994:460)

Máquinas são construídas para serem alocadas nos centros urbanos. A implantação de parques fabris nos núcleos urbanos provoca o fenômeno da migração para as cidades industrializadas de então. A própria agricultura se desenvolve a partir deste movimento de grupos humanos, pois, junto com os indivíduos que mudam de lugar, os tratos cultivares transitam entre as populações. (MUMFURD,1984: 486)

Egressos

do campo rumam para a polis buscando oportunidades de

trabalho, aumentando, sobremaneira, a densidade populacional dessas áreas, fazendo surgir uma crescente pressão de demanda por habitações.

Nos países pioneiros da revolução industrial, notadamente na Inglaterra e no País de Gales, industrialização e urbanização marcharam juntos e, a partir do século XVIII, criaram graves problemas para os núcleos urbanos. (FINEP,1985: 11)

Em todas as grandes cidades industriais inglesas, como também nas demais que integram a Grã - Bretanha, a extrema miséria em que haviam mergulhado as


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classes pobres contrastava com os rápidos progressos alcançados pela revolução industrial. (FINEP, 1985: 11)

No Brasil a industrialização chega após a abertura dos Portos brasileiros, decretada por D. João em Carta Régia datada de 28 de janeiro de 1808. A Família Real Portuguesa foge da Europa, escoltada por navios ingleses, após saber da existência do Tratado de Fontainebleau, firmado entre Espanha e França que estabelecia: a invasão e desmembramento de Portugal em três partes, a extinção da dinastia portuguesa de Bragança e a divisão das colônias lusitanas entre França e Espanha. A França estava desgostosa com Portugal. Havia decretado um bloqueio continental à Inglaterra em represaria à política do capitalismo industrial adotada pelos ingleses e contrária aos ideais do liberalismo político alcançado pelos franceses após uma revolução interna, que almejava: liberdade, igualdade e fraternidade. Portugal estava em uma situação incômoda pois, ainda presa a princípios mercantilistas e absolutistas, dependia politicamente da França e economicamente do parque industrial inglês.

Resolveu, a Corte Portuguesa, não tomar partido de imediato e tentar um jogo duplo, que desagradou tanto à Napoleão Bonaparte, imperador da França, como ao governo inglês. A França resolveu invadir Portugal apoiada pelos espanhóis, ação antevista pela Corte portuguesa que, as pressas fugiu por mar, escoltada por uma esquadra Inglesa, um dia antes da entrada das tropas invasoras, comandadas por Junot, em território lusitano. A família Real, fidalgos e funcionários procuraram refúgio na maior colônia portuguesa, o Brasil.


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D. João, que governava Portugal desde 1792 em substituição à sua mãe Dona Maria I, a Louca, que apresentou debilidade mental, maior autoridade lusitana a chegar em território nacional, em 28 de janeiro de 1808, apenas seis dias após o seu desembarque em Salvador, decretou a Abertura dos Portos, permitindo a importação de todos e quaisquer gêneros, fazendas e mercadorias transportadas por navios estrangeiros das potências que se conservavam em paz e harmonia com a “Real Coroa” ou em navios portugueses, respeitando as taxas alfandegárias de 16% para produtos portugueses e de 24% para os oriundos das outras nações.

A partir da abertura dos portos, a Colônia passou a comprar da Inglaterra tudo quanto necessitava para suprir as necessidades da população. (FERREIRA,

1978: 130)

...a Inglaterra usava o Brasil como base para a sua prática comercial na América (SILVA, 1994:121)

Deve-se notar, porém, que a nossa indústria no século XIX estava em fase de formação, onde predominava a indústria de fiação, tecelagem e de alimentícios, e que a “Industrialização” do Brasil só ocorreria no século XX. (SILVA, 1994:133)

Prosseguindo as suas atividades gerenciais no Brasil, D. João decretou em 1º de abril de 1808 o Alvará de Liberdade Industrial, revogando a proibição de estabelecimento de fábricas em terras brasileiras, decretada por um outro alvará


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datado de 1785, assinado por D. Maria I. Não teve muito eco, a princípio, essa liberdade

industrial,

pois

faltavam

aos

industriais

brasileiros

quatro

itens

fundamentais para o exercício dessa liberdade: capital, política protecionista, mercado consumidor e mentalidade empresarial.

Ainda em 1808, em 1º de abril, D. João assinou um Alvará permitindo a instalação da indústria no Brasil. (FERREIRA, 1978:130)

As primeiras tentativas de se implantar indústria no Brasil depois do Alvará de Liberdade Industrial, decretado por D. João em 1º de abril de 1808, fracassaram...várias foram as razões do fracasso: a falta do capital disponível, de uma política protecionista, de um mercado consumidor capaz, de uma mentalidade empresarial e, além disso, o fato de a Inglaterra dificultar ao máximo as importações de maquinários (SILVA, 1978:132)

Os ingleses observam as atividades administrativas de D. João no Brasil e intensificam a pressão política sobre o governo instalado na colônia, relembrando a Convenção Secreta que garantiu a fuga da família Real, fidalgos e funcionários lusitanos para as terras brasileiras, que previa, em uma de suas cláusulas, a liberdade de comércio inglês com um porto a ser determinado no Brasil.

As ameaças fizeram com que D. João assinasse em 1810 dois tratados: o de Comércio e Navegação, que estabelecia entre outras coisas, a taxa de 15% ad valorem para a importação de mercadorias inglesas em qualquer parte dos domínios


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portugueses, menor ainda que as da própria Coroa Portuguesa, que era de 16%, e o Tratado de Aliança e Amizade, composta de onze artigos, entre eles o que garantia uma gradual extinção do tráfico negreiro para o país. A mão de obra escrava existente no Brasil fazia com que a cana de açúcar, aqui produzida, tivesse um preço mais competitivo no mercado internacional, batendo colônias inglesas, como a Jamaica que já utilizava mão de obra assalariada.

Em 1810 foram assinados com a Inglaterra os tratados de Aliança, Comércio e Navegação. O mais importante deles é o Tratado de Comércio, pelo qual foi estabelecida uma taxa de apenas 15% sobre a importação de produtos ingleses. Para avaliar o significado dessa medida, basta lembrar que a taxa de importação de produtos portugueses era de 16% e a de produtos de outras nações de 24%. Com esses tratados, portanto, os ingleses praticamente eliminam a concorrência no mercado do Brasil, dominando-o por completo. Além disso, os tratados de 1810 acabaram com as vantagens que o Alvará de 1º de abril de 1808 (Liberdade Industrial) trouxeram para a indústria brasileira. (FERREIRA, 1978:131)

Demorou uns quarenta anos para que a industria brasileira se impusesse em território nacional. Nesse espaço de tempo, modificações políticas importantes ocorreram no Brasil: a assinatura do decreto em 7 de março de 1821 que anunciava o retorno de D. João à pátria lusitana, motivada pela Revolução Liberal da cidade do Porto - Portugal, em 24 de agosto de 1820, e a nomeação de D. Pedro como regente do Brasil; o rompimento definitivo com Portugal, em 7 de setembro de 1822, com o grito do Ipiranga

bradado pelo príncipe regente e o processo de


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reconhecimento dessa independência; e as rebeliões separatistas do período regencial: Cabanagem - Pará (1835 - 1836), Sabinada - Bahia (1837 - 1838), Balaiada - Maranhão (1838 - 1841) e Farrapos - Rio Grande do Sul (1835 - 1845).

A partir da proibição do tráfico negreiro em 1850, e por força da capitalização do

boom

cafeeiro

e

da

expansão

econômica

que

ocorrerá

em

1875,

progressivamente crescem nos centros urbanos mais desenvolvidos e populosos, novos tipos de habitações coletivas, verdadeiras senzalas urbanas, focos de doenças endêmicas para abrigar os novos habitantes: os cortiços e cabeças-deporco que serviam de moradia para 4% da população do Rio por volta de 1869 e chegaram a 25% nos primeiros anos da República. (FINEP, 1985: 26)

Contudo, por volta de 1850, ocorreu o primeiro surto industrial, graças às emissões de moeda, ao capital oriundo da extinção do tráfico negreiro (muitos traficantes iriam, a partir de então, aplicar dinheiro em outras atividades econômicas, como por exemplo, a indústria) e ao “protecionismo” originado com a tarifa Alves Branco. (SILVA, 1994:132)

A partir de 1870, ocorreu um surto industrial, graças ao capital provindo do setor cafeeiro e ao desenvolvimento do mercado consumidor interno, cujo principal responsável foi o imigrante...O início da industrialização deflagra o processo de urbanização. (FINEP, 1994:25)


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Uma série de movimentos abolicionistas modificaram, também, o quadro econômico e político do país. Os primeiros movimentos para a libertação dos negros aconteceram ainda no século XVII. Fugitivos das senzalas, edificações construídas nos moldes africanos: pequenos cubículos em taipa de sopapo, coberta por telha ou palha, sem janelas ou outras frestas para iluminação, agrupados na lateral ou fundo da Casa Grande, residência do senhor das terras e dos escravos; os pretos construíram

verdadeiras

cidadelas

escondidas

nas

matas,

os

Quilombos.

Habitações em taipa de sopapo, recobertas por palha para se misturar, em mimetismo, com a vegetação existente a sua volta, e protegidas não por muralhas, como se vê desde os mais antigos aglomerados humanos encontrados na Mesopotâmia, mas por fossos recobertos por palha - uma maneira autóctone encontrada pelos pretos para capturar os seus perseguidores, os Capitães do Mato. Figura 2.1-1

...quando se fala de habitação do escravo, não se faz referência à casa e sim à senzala... (FINEP, 1985: 15)

As primeiras habitações a estes (escravos) destinadas teriam sido os casebres de taipa, cobertos de palha, construídos nas vizinhanças das casas grandes...acomodavam-se, em cada um deles, um grupo familiar. A senzala, com amplitude necessária para alojar dezenas e centenas de “peças”, isto é, os braços válidos para a labuta no campo...na medida em que a docilidade dos negros foi diminuindo...aproximava, cada vez mais de um presídio. (FINEP,1985: 15)


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Atrás das senzalas, ficavam as privadas, as vezes substituídas por barricas com água até o meio e colocadas no corredor. As senzalas ficavam abertas até às dez ou onze horas da noite, quando, a um sinal do feitor, recolhiam-se os escravos às suas habitações. (COSTA, 1966:243)

FIGURA 2.1-2- Casa Grande e Senzala

Fonte:Saga

Em 1850, o desejo abolicionista se materializava em um primeiro passo - a Lei Euzébio de Queirós, que declarava extinto o tráfego negreiro no Brasil. Antes de ser uma aspiração única de brasileiros, foi uma conseqüência quase direta da Lei inglesa Bill Aberdeen que, desde 1845, reprimia violentamente o tráfico de escravo no Brasil colônia. A lei de Euzébio de Queirós foi completada em 1854 pela lei de Nabuco de Araújo, que impôs uma rígida fiscalização policial e severas penas aos traficantes. Em 28 de setembro de 1871, o Visconde do Rio Branco, em resposta às


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pressões dos abolicionistas e antes que liberais radicalizassem suas posições, encaminhou lei que declarava livre todo filho de escravo nascido a partir da promulgação da lei. Em 1884, os governos do Ceará e do Amazonas resolveram abolir a escravidão em suas províncias, proposta seguida pelo império só em 1888, quando a princesa Isabel em 13 de maio assinou a Lei Áurea, lei essa que sucedeu a de Saraiva - Cotegipe, de 1885, que decretava a alforria dos negros maiores de 65 anos e foi proposta pelo ministro liberal José Antônio Saraiva e aprovada pelo ministério conservador do Barão de Cotegipe.

Além dos escravos, os engenhos e fazendas povoavam-se de outros tipos de trabalhadores - os moradores ou agregados, a quem os proprietários davam “casa e terra”. Eram em geral brancos ou negros libertos, que viviam a plantar “a meia” ou dar dias de serviço ao patrão... (FINEP, 1985: 16)

...a casa de sapé, de pau-a-pique ou de sopapo, como é indiferentemente chamada...É essa sem dúvida a casa rural mais comum em nosso país. (MURGEL, 1943:17)

“Pouco a pouco as senzalas vão sendo substituídas pelas chamadas vilas operárias. São casas construídas em grupo, de adobe, cobertas de telha, atijolada, com parede com janela, paredes rebocadas e caiadas, barras a piche, com uma sala na frente e outra de jantar, um quarto, uma cozinha e armadores de rede”. (TORRES, 1945:18)


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“Com o tempo, os ranchos ou palhoças, com cobertura de sapé, que a constituíam, foram substituídas pelas senzalas, construção de taipa de pilão e de taipa de mão, coberta de telha canal, formada de uma série de cubículos térreos, dotados de uma única porta ou de janela e porta. Mas, tanto a janela quanto a porta estavam dotadas de rótulas (grade de madeira, Gelosia )”. (MORALES, 1946:274)

FIGURA 2.1-3- Casas populares em Icó

A princípio as famílias de FIGURA empregados indústria são acomodadas por seus 2.1-4- Casada de Thomas Pompeu Fonte:Capelo

patrões em residências construídas ao lado das fábricas, seguindo o modelo inglês das vilas operárias. Eles próprios também construíam suas habitações nos limites do terreno da fábrica, uma estrutura bem próxima à Casa Grande - Senzala do período escravocrata.

Figuras 2.1-3 e 2.1-4

O Cottage System (uma transposição para o espaço fabril, do sistema utilizado no meio rural de manter as habitações do tipo unifamiliar próximas à sede; no novo meio, passam a ser construídas no entorno da fábrica) repetiria, desse modo, um estilo “habitat” encontrado no interior das grandes explorações agrícolas,


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com suas fileiras de casas isoladas, implantadas nas proximidades da sede. (FINEP, 1985: 13)

Em Soltaire, perto de Bradford, grande centro produtor de manufaturas de lã, teve lugar em 1851 uma realização que marcou época: o industrial Titus Salt fez construir uma cidade modelo para 3.000 operários, dispondo de parques, hospitais, escolas e banheiros públicos. (FINEP, 1985: 13)

A utilização da máquina, enquanto facilitador e instrumento do processo produtivo, animou, por seus resultados, a mais empreendedores. No período que antecede a fase da industrialização e que corresponde ao cultivo do café e a formação de uma nova aristocracia no oeste paulista, com características diferentes das da cana de açúcar, algodão e tabaco - nordestinas, escravocratas e decadentes com o advento da Abolição, a remuneração da mão de obra assalariada: escravos libertos ou mesmo dos trabalhadores oriundos de outros países como: Alemanha, Itália e Japão, se fez por meio de parcerias - ao trabalhador é dada a terra para o cultivo e este retorna para o latifundiário 30% ou 50% do que esta produzir como remuneração pelo capital, a terra, investido na cultura. É o trabalho chamado de terça ou meia, conforme os acordos firmados.

Este sistema ainda é utilizado no interior de diversos estados brasileiros, incluindo aí o próprio Ceará.

Este sistema acaba por explorar a mão de obra

trabalhadora, pois na conta dos empregados são debitados empréstimos mensais para sua manutenção, montantes para pagar o custo da viagem, no caso dos


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estrangeiros, para o transporte desde a morada até o local de trabalho e o aluguel da moradia, valores estes, acrescidos de juros que chegam à casa dos 12% ao ano.

Esta política dos empregadores revoltou aos operários, repercutindo até nos países estrangeiros que enviavam a sua mão de obra a convite da Corte Brasileira D. João VI financiou a vinda de católicos suíços, Dona Maria Leopoldina fundou a colônia alemã de São Leopoldo e o Senador Campos Vergueiro contraiu empréstimo com o governo imperial para trazer da Alemanha oitenta famílias que ocupariam a sua fazenda em Ibicaba, chegando até a proibir a vinda de seus cidadãos, como foi o caso da Alemanha, para o solo brasileiro por motivo de trabalho. A pressão estrangeira fez com que os empreendedores modificassem sua política de parcerias e institucionalizassem o trabalho assalariado: passaram a pagar um preço fixo por alqueire trabalhado ou instituíram uma remuneração mensal ao colono.

Desenvolveu-se a “classe média”, composta de pequenos comerciantes, padres, militares, funcionários públicos e profissionais liberais. A esta nova classe não interessava o regime servil sobre o qual se sustentava a classe senhorial e agrária. (SOUTO MAIOR, 1973:260)

No Brasil, os problemas relacionados com qualidade e quantidade de moradias para as classes pobres só irão agravar-se precisamente na virada do século (XX) , pouco tempo depois da abolição da escravatura e da proclamação do regime republicano. (FINEP, 1985: 15)


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No período da industrialização, as vilas operárias são alugadas aos trabalhadores pelos seus empregadores, uma maneira de dar acesso à habitação aos menos abastados, forma inspirada na proposta de parceria ofertada pelos latifundiários do café, que não funcionou naquele período e que se configurou, na industrialização, como uma estratégia de dominação, pois os preços cobrados, algumas vezes, eram aviltantes, mantendo pela dívida a classe operária ligada à fábrica; assim como, a perda do emprego determinaria obrigatoriamente, também, a perda da morada.

Os patrões freqüentemente exageravam nos descontos dos aluguéis e, noutros casos, utilizavam da condição de sua mão de obra como elemento de pressão para fazer com que os operários reduzissem os termos de suas exigências salariais. (FINEP, 1985: 13)

Pressões sociais exigiram um posicionamento por parte da classe governante. A solução para a demanda habitacional não poderia mais estar concentrada simplesmente na mão do empregador, necessitaria da definição de uma política governamental para tentar equacionar o déficit habitacional que começava a ganhar proporções significativas. Uma primeira tentativa da parte do governo foi a criação de incentivos fiscais que beneficiariam os empreendedores que fornecessem habitações aos seus empregados.


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Dentre os favores concedidos às empresas encontravam-se a isenção de impostos para a importação de materiais de construção e a concessão de terrenos públicos destinados a casas populares. (FINEP, 1985: 25)


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2.3. - Os programas habitacionais

Com a extinção do BNH, em 1986 e o atendimento restrito das COHAB’s às demandas de população carente em moradia, iniciou-se através dos Estados e Municípios a busca de modelos de programas habitacionais alternativos, incluindo metodologias e adequações dos mesmos ás realidades locais (PMF, 1996:4)

Em 1964, o governo federal estabelece e adota uma política habitacional para todo o país: a casa própria vinculada ao interesse social contou com verbas oriundas do Sistema Financeiro da Habitação (SFH), implementado pelo Banco Nacional de Habitação (BNH), com fonte de recursos no Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e do Sistema de Poupança e Empréstimo (SBPE). Essa política dura até 1986, tempo em que o governo federal extingue o Banco Nacional de Habitação (BNH) e incorpora-o à Caixa Econômica Federal (CEF).

Paralelamente a essa atuação do Banco Nacional da Habitação, programas alternativos procuraram também atender à população de menores faixas de renda. Foram soluções incipientes, mas que demonstraram o interesse dos órgãos envolvidos, em procurar outras saídas para atender a demanda habitacional sempre crescente.


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Em 1975 a COHAB, Companhia de Habitação, vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente, participa da implementação do Programa de Financiamento de Lotes Urbanizados. Surge em Fortaleza o Conjunto Palmeiras, integrante hoje do município de Maracanaú , situado na fronteira sul do município de Fortaleza (as vias são abertas, os terrenos são demarcados e um ponto d’água é fornecido para cada lote). O adquirente constrói a sua morada, seguindo um Programa de Necessidades, Projetos e Métodos Construtivos definidos pelo próprio usuário. As edificações são posteriormente ampliadas, seguindo as necessidades de cada família e sua capacidade de investimento.

Figura 2.3-1

Quatro anos depois, em 1979, um outro Programa Alternativo tenta solucionar um problema que se agrava a cada dia: o da proliferação e sedimentação das favelas - é o Programa de Erradicação de Sub-habitações. Este programa está direcionado para a melhoria da qualidade de vida nas favelas. Nele se insere a regularização fundiária e o financiamento de materiais de construção a serem utilizados nas reformas das edificações.

FIGURA 2.3-1 - Conjunto Palmeiras, Fortaleza

Em 1984, criou-se o Programa de Auto-instrução. Este teve uma vida muito efêmera, pois se extinguiu após apenas dois anos de seu surgimento, ao mesmo


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tempo em que o Banco Nacional da Habitação foi incorporado pela Caixa Econômica Federal. Acabou-se o Programa, mas a idéia continuou sendo adotada por programas habitacionais destinados à população de baixa renda.

A Secretaria Especial de Habitação e Ação Social do Governo Federal, apostando na parceria entre o governo e as comunidades, ideal ainda perseguido até os dias de hoje pelas diversas instâncias governamentais, implanta em 1987 o Programa de Mutirão Habitacional, que sem cumprir a sua meta em 1991: a construção de 3,1 milhões de casas, também se extingue. Os governos estaduais e municipais adotam a filosofia do programa e o utiliza, fazendo os devidos ajustes para se adequarem as necessidades vivenciadas por cada uma das localidades.

Programas Alternativos: 1975 - a) Programa de Financiamento de Lotes Urbanizados (PROFILURB), com a participação da COHAB; 1979 - b) O Programa de Erradicação da Sub-habitação (PROMORAR), cujo atendimento era direcionado a promoção de melhoria das favelas, abrangendo destinação de recursos à regularização fundiária, financiamento de material de construção e melhoria da habitação. 1984- c) Programa Nacional de Auto-construção, extinto conjuntamente com o BNH, sendo no entanto um dos caminhos adotados pelos programas habitacionais atuais, destinados à população de baixa renda; e


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1987- d) O Programa de Mutirão Habitacional, implantado através da Secretaria Especial de Habitação e Ação Social (SEHAC) do Governo Federal, foi o caminho identificado na tentativa de amenizar a dívida social com a população de baixa renda, apostando na parceria entre Governo e comunidades. Também foi extinto sem cumprir sua meta de 3,1 milhões de casas até 1991. (PMF, 1996:12)

Em Fortaleza, por meio do Decreto nº 8.303 de 24 de maio de 1990, o então prefeito municipal, Juraci Vieira de Magalhães, resolveu estruturar a Comissão de Implantação de Projetos Habitacionais de Interesse Social e Infra-estrutura Urbana (COMHAB), com atribuições definidas de modo a colocar em prática três programas: Mutirão Habitacional, Infra-estrutura em Favelas e Melhorias Habitacionais. O primeiro destinado a construir conjuntos habitacionais em vazios urbanos e em áreas não loteadas. Os técnicos municipais começam a perceber o incremento agregado pelo custo da infra-estrutura urbana no valor venal da edificação. Se tornou muito mais plausível adquirir um terreno mais caro, mas mais central, do que investir em toda a infra-estrutura necessária para viabilizar um gleba, embora mais barata, mas muito mais distante do centro da cidade de Fortaleza.

O segundo Programa implantado pelo prefeito Juraci Magalhães foi o da Infra-estrutura em Favelas, realizado em parceria com a Sociedade Alemã de Cooperação Técnica, a GTZ. O objetivo desse programa é o da implantação de infra-estrutura nos assentamentos de habitações sub-normais e o desenvolvimento comunitário das populações neles residentes. O Programa de Melhorias Habitacionais, também implantado em favelas, fornecia material de construção e


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assistência técnica aos residentes, quando da melhoria e ampliação de suas habitações.

Programas Habitacionais:

Para o cumprimento dessas atribuições foram colocadas em prática (pela COMHAB) os seguintes programas:

1) Programa de Mutirão Habitacional; 2) Programa de Infra-estrutura em Favelas; e 3) Programa de Melhorias Habitacionais.

Através do Programa de Mutirão Habitacional projeta e constrói conjuntos habitacionais em vazios urbanos, e em áreas não loteadas, de acordo com a localização das demandas.

Através do Programa de Infra-estrutura em Favelas, mantém convênio de cooperação técnica com a Sociedade Alemã de Cooperação Técnica (GTZ) e realiza através de um plano, implantação de infra-estrutura e desenvolvimento comunitário nas favelas.


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Através do Programa de Melhorias Habitacionais, em áreas de favelas préselecionadas, proporciona assistência técnica e material de construção para melhorias e ampliação de moradias precárias. (PMF, 1996:23)

O Programa de Mutirão Habitacional da COMHAB, através da Comissão de Implantação de Projetos Habitacionais de Interesse Social e Infra-estrutura Urbana, tem por objetivo prover de moradia a camada da população residente no município de Fortaleza e que percebe, mensalmente, renda familiar inferior à três salários. O Programa visa atender as populações provenientes das situações abaixo enumeradas:

• Demandas espontâneas: necessidade habitacional gerada pela população de menor poder aquisitivo;

• Demandas induzidas: gerada quando do investimento da Prefeitura em obras viárias e de urbanização em áreas verdes;

• Invasão de terrenos de terceiros: quando da remoção da população que ocupa terrenos de propriedade pública ou privada;

• Ocupação de áreas de praças urbanizadas: quando da remoção da população que ocupa áreas institucionais edificadas e terrenos reservados para áreas livres;

• Ocupação de áreas de risco: quando da remoção da população localizada em áreas alagáveis, junto às faixas de preservação dos recursos hídricos, ou sujeitas à deslizamentos, desmoronamentos, condição de insalubridade ou


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qualquer outro fator que gere comprometimento para a saúde, qualidade de vida ou mesmo existência da população de Fortaleza; e

• Cadastro dos 1.000 servidores municipais: atendimento da demanda habitacional gerada pelos servidores municipais mais carentes.

O Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano do município de Fortaleza, lei número 7.061 de 16 de janeiro de 1992, prevê em seu Título I - da política urbana, Capítulo III - da função social da propriedade, um tratamento diferenciado para as propriedades privadas. Parece até um contra-senso, visto ser preceito constitucional a igualdade entre os brasileiros. A Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 1988, impõe em seu Título II - dos direitos e garantias fundamentais, Capítulo I - os direitos e deveres individuais e coletivos, artigo 5º que: “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”. O inciso XXII desse artigo 5º garante o direito de propriedade, mas o XXIII estabelece que essa propriedade atenderá a sua função social. O objetivo da lei não é o de garantir usos iguais para terrenos diferentes, mas fazer com que todos os que residam no mesmo espaço urbano possam desfrutar da cidade na mesma medida, mesmo que para isso tenha de impor tratamentos diferenciados para as diferentes glebas. Essa é, em tese, a função social da propriedade, regulamentada para Fortaleza pelo Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano - lei número 7.061 de 16 de janeiro de 1992, pelo seu Capítulo III.


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CAPÍTULO III - DA FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE

Art. 3º - A propriedade urbana cumpre sua função social quando os interesses coletivos são prevalecentes ao exercício dos direitos a ela inerentes. Art 4º - Para cumprir sua função social, a propriedade urbana deve atender no mínimo aos seguintes aspectos: a) recuperar a valorização acrescentada pelos investimentos públicos à propriedade particular; b) controlar a densidade populacional com a correspondente e adequada utilização urbana; c) gerar recursos para o atendimento da demanda de infra-estrutura e de serviços públicos provocados pelo adensamento das atividades urbanas; d) promover o adequado aproveitamento dos vazios urbanos ou terrenos subtilizados, reprimindo a sua utilização especulativa; e) compatibilizar a utilização do solo com a preservação do meio ambiente; e f) compatibilizar a utilização do solo com a segurança e a saúde de seus usuários e moradores circunvizinhos. (IPLAM, 1992: 30)

O Cadastramento das Demandas Espontâneas ou Induzidas é o ponto de partida para a Ação Social. Este é feito no local onde estão residindo os futuros habitantes

dos

novos

assentamentos.

A

partir do

Cadastramento

são

evidenciadas a inexistência de casa própria, por parte das famílias indicadas para integrarem o Programa de Mutirão Habitacional, ou ainda as precárias condições


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de vida desses grupos familiares. De posse desses dados, os pesquisadores vinculados a COMHAB, voltam para o escritório, a fim de realizar a Seleção das Famílias mais carentes e adequadas ao Projeto que se pretende implantar. Como indicadores para essa seleção estão:

a) A baixa Renda Familiar; b) A proximidade entre as moradas atual e futura; c) O número de componentes da família; d) A composição fragilizada da família; e e) O tempo de residência no local.

Após a realização de todos os Projetos e durante a execução do Mutirão é acompanhado o Sistema de Trabalho da Comunidade. São monitorados os conflitos dos grupos de trabalho, observado o entrosamento dos mutirantes,

avaliado o

controle de material e a pontuação que recebem todos os integrantes da equipe. Ainda, através das relações sociais presentes durante a obra, pode-se acompanhar o Desenvolvimento Comunitário das famílias que irão conviver no assentamento construído.

Os Conjuntos Habitacionais projetados pela COMHAB, situam-se nas regiões que hoje apresentam maiores demandas espontâneas: Barra do Ceará e Parangaba. Estão implantados, prioritariamente, nos vazios urbanos de áreas densamente ocupadas e que foram previamente escolhidas pelas comunidades carentes ou ofertadas por terceiros, para serem adquiridos pelo município, por meio


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de Processo de Desapropriação para Interesse Social. Situam-se, também, em terrenos reservados para o Fundo de Terras, definido pelo Art. 5º do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano - Lei nº 7.061, de 16 de janeiro de 1992, com a finalidade de se construir habitações de interesse social; ou ainda em áreas não loteadas, próximas às áreas urbanas de média densidade.

CAPÍTULO IV - DA OPERACIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA URBANA

Art. 5º - Para assegurar o cumprimento das diretrizes gerais da política urbana, bem como o atendimento dos seus objetivos, o Poder Público utilizará, sem prejuízo de outros instrumentos previstos na legislação municipal, estadual e federal, os seguintes: I- INSTITUCIONAIS: a) Sistema de Planejamento; e b) Conselhos Municipais. II- FINANCEIROS E ECONÔMICOS: a) Fundo de terras, fundo municipal de água e esgoto e fundo de defesa do meio ambiente, criados na Lei Orgânica do Município; b) Fundo de desenvolvimento urbano; e c) Tarifas diversificadas de serviços públicos. (IPLAM, 1992:31)

Dando suporte a uma boa parte dessas atividades desenvolvidas pelos governos: federal, estadual e municipal, a Caixa Econômica Federal - CEF tem


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alocado aporte financeiro de modo a fomentar a construção de habitações, a implantação de saneamento básico e o desenvolvimento urbano; quer estes ocorram através do setor público, como por intermédio do setor privado. No setor público, através de verbas oriundas do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço FGTS, mantém o PRÓ-MORADIA e o PRÓ-SANEAMENTO. O primeiro é destinado aos governos estaduais e municipais e objetiva dar suporte financeiro para o desenvolvimento de projetos voltados à melhoria da qualidade de vida da população de baixa renda, que habite em locais insalubres ou de risco. O PRÓ-SANEAMENTO visa financiar obras de abastecimento de água, drenagem urbana, esgotamento sanitário, saneamento integrado (PROSANEAR), desenvolvimento institucional e coleta de lixo.

Contando com recursos oriundos do Orçamento Geral da União - OGU, a Caixa Econômica Federal tem mantido os Programas: PASS, PRO-INFRA e HABITAR-BRASIL. O PASS, Programa de Ação Social em Saneamento, financia os serviços de esgotamento sanitário, abastecimento de água e coleta e tratamento de resíduos sólidos. O PRÓ-INFRA busca melhorar as condições de infra-estrutura urbana em áreas de risco e insalubres, ocupadas pela população de baixa renda. E o HABITAR-BRASIL é um Programa de Habitação Popular, destinado a estados e municípios, que dá suporte financeiro para a urbanização de áreas não ocupadas e o desenvolvimento comunitário.

Para o setor privado, a Caixa Econômica Federal disponibiliza recursos próprios e do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, para serem utilizados nos


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programas de Carta de Crédito e Antecipação de Recebíveis, recursos próprios, e na concessão de Carta de Crédito Individual, Carta de Crédito Associativo e Apoio à Produção, recursos do FGTS. Além desses, a Caixa Econômica Federal ainda mantém a Poupança de Crédito Imobiliário - PCI, nessa, o cliente, pessoa física ou jurídica, poupa determinado montante por um prazo de 12 meses e recebe uma Carta de Crédito da Caixa Econômica Federal para adquirir, reformar ou construir imóvel residencial ou comercial.

A Carta de Crédito Individual mantida com os recursos do FGTS é disponibilizada para as famílias com renda mensal inferior à 10 Salários Mínimos. Objetiva auxiliar as estes grupos familiares, quando da aquisição de uma moradia nova ou usada, ou ainda para a melhoria ou ampliação de imóvel, como também para a sua própria construção. A Caixa Econômica Federal até 31 de julho de 1997 financiou cerca de 118.000 unidades em todo o país. No Ceará 2.826 moradias obtiveram os recursos da CEF até 15 de agosto desse mesmo ano. Já o Crédito Associativo, também mantido com os recursos do FGTS, destinado à aquisição ou construção de moradias novas ou usadas, movimentou recursos no Ceará de modo a viabilizar o financiamento para 541 famílias, reunidas em 45 grupos.

O mais recente dispositivo legal relacionado de forma indireta com a questão habitacional é o Estatuto da Cidade - lei número 10.257 de 10 de julho de 2.001. Ela se apresenta como uma resposta do poder legislativo para as históricas reivindicações populares relacionadas com o quadro urbano atual, segundo OLIVEIRA (2001: 3) “ um dos maiores desafios do século que se inicia”.


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Nessa lei há o advento da participação popular, pois prevê em seu artigo 43. do capítulo IV - da gestão democrática da cidade, na alínea I a “criação de órgãos colegiados de política urbana, nos níveis nacional, estadual e municipal” e na alínea IV a “iniciativa popular de projeto de lei e de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano”. Prevê, ainda, em sua seção II - artigo 5º, a utilização compulsória dos imóveis, criando para isso também, em seu artigo 7º, o IPTU progressivo no tempo.

O usucapião urbano, artigo 9º, é outra conquista desta lei; assim como a transferência do direito de construir, artigo 35º, que passa a dar suporte legal para o já institucionalizado Solo Criado, estabelecido para o município de Fortaleza pelo vigente Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano, e que, pelo Estatuto da Cidade, deverá ser revisto, pelo menos, a cada dez anos - inciso 3. do artigo 40.


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Capítulo III - A INDUSTRIALIZAÇÃO NA CONSTRUÇÃO CIVIL

3.1. - O capitalismo e a industrialização

...os padrões que a princípio eram aplicados às moradias dos

pobres

foram,

no

século

XIX,

progressivamente

incorporados nas casas das classes média e superior. O primeiro edifício de apartamentos para muitas famílias foi construído em Nova York para o grupo de mais baixa renda, em Cherry Street, em 1835: cobria 95% dos lotes e padronizava condições sem arejamento e não sanitárias. (MUMFORD, 1982:468)

O escambo, a troca simples de mercadorias, existe desde que o homem percebeu que poderia acumular bens, no período Neolítico, mas que necessitaria utilizar de outros que não estavam sob sua propriedade. O conceito de moeda, a direta associação de um bem real a um valor de referência subjetivo, só é encontrado pelos arqueólogos na antiga Grécia. Os gregos se utilizaram da arte para imortalizar fatos de seu cotidiano, cunhando-os em moedas. Essas passaram a servir de valor de referência monetária, quando da negociação de produtos.

Há indícios de que outros povos, até em períodos anteriores aos gregos, se utilizaram de grandes círculos ou blocos de pedra enquanto moeda, ou mesmo utilizaram de alguns bens mais preciosos, como o próprio sal, enquanto instrumento de troca (há registros de que os legionários romanos recebiam suas remunerações


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em pacotes de sal); embora essa prática ainda se configurasse como escambo e não como pagamento por bem adquirido ou serviço prestado;

mas o conceito

latente de moeda já acompanhava o fato econômico.

No século X, muitos senhores feudais gozaram da prerrogativa de cunhar e fixar valores para as moedas; poder esse retirado pelos reis quando do advento do Absolutismo, tempo em que a figura do monarca reacende, apoiada pela burguesia, e só os soberanos passaram a ter o poder de produzir moedas e de definir seus valores de troca, hoje atributo do Estado na grande maioria dos países.

É no Renascimento, de fato, que surge o pré-capitalismo (do século XIII ao século XVIII). A família Medici de Florença, Itália, acumulou grandes cifras através da produção de tecidos e de sua comercialização por toda a Europa e Oriente, passando a exercer poder sobre as finanças das nações e até mesmo sobre as guerras de sua época - bastava-lhes negar crédito a um monarca (príncipes e reis necessitavam cada vez mais de recursos financeiros para equipar seus enormes exércitos) para deter guerras ou mesmo arruinar soberanos.

O poder da burguesia, sustentado pelo capital, se implantara em paralelo ao poder ditado pela força, o poder real. Na Itália surgiram, nesse período histórico, todas as atuais instituições capitalistas: os bancos, as letras de cambio, os empréstimos em grande escala, os seguros marítimos. De fato, o Mercantilismo e as grandes navegações portuguesas e espanholas, que geraram o descobrimento de


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toda a América e por conseqüência do próprio Brasil, foram financiadas, também, pela burguesia.

O capitalismo, enquanto sistema econômico-social fundamentado no capital, no recurso financeiro, ou mesmo o regime social em que os meios de produção são propriedade privada e são detidos pelo capitalista - o dono do dinheiro, realmente se implantou após a Revolução Industrial. As empresas se organizaram voltadas para o mercado consumidor e passaram a ter o lucro como objetivo de sua existência - as leis de oferta e procura passaram a ser a mola mestra de todo o processo de produção e da comercialização de bens.

As relações capital - trabalho passaram a ser reguladas por contratos salariais. Houve a indução ou até mesmo a imposição do término do regime escravocrata em alguns países, como o caso do Brasil que foi forçado pela Inglaterra a promulgar a Lei Áurea. O governo bretão apoiou a fuga da Corte portuguesa para o Brasil e em troca impôs que a colônia lusitana da América se tornasse mercado consumidor de seus produtos. Não era interessante, portanto, para a Inglaterra que houvesse no Brasil a possibilidade de produção de bens de consumo com um menor custo, por se utilizarem os empreendedores brasileiros de mão de obra não remunerada, mão de obra escrava. Um novo perfil para o burguês se apresentou: inteligência, habilidade, energia e absoluta falta de escrúpulo.

O interesse em acumular riquezas, reinante com a Revolução Industrial, possível graças ao emprego da máquina a vapor, definiu um conceito diferente para


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o desenho das cidades. Ao capitalista interessava produzir um maior número de artigos e que esses pudessem ser comercializados a um menor preço, de modo a se obter um volume maior de vendas.

Necessitava o burguês, também, uma maior liberdade para definir salários, demandava operários que não estivessem sujeitos a rígidos regulamentos de trabalho. A solução encontrada foi implantar as indústrias fora das velhas cidades renascentistas e que já contavam com toda uma tradição nas relações comerciais e empregatícias. A larga escala, característica da produção fabril, transformou o perfil dos centros urbanos escolhidos.

As cidades passaram a se ver envoltas por cortinas de fumaça, geradas pelas indústrias que, algumas vezes, funcionavam durante vinte e quatro horas. Uma nova preocupação envolveu os intelectuais da época: a relação fábrica - meio ambiente - ser humano, e surgiram os chamados Urbanistas Utópicos que apresentaram diferentes propostas de cidades de modo a minimizar os impactos adversos gerados pelo fervor fabril.

Estava decretada uma séria guerra que envolvia, por um lado, os especuladores do espaço urbano sedentos de divisas monetárias e acumulação de riquezas e por outro lado os teóricos, humanistas preocupados com a qualidade de vida nos núcleos urbanos fortemente adensados, fruto do poder de atração exercido pelos parques industriais que se implantaram. Esse adensamento populacional interessava aos capitalistas, pois aumentava a quantidade de oferta de mão de


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obra, diminuindo o seu valor de remuneração (princípio econômico da oferta e da demanda) e por outro lado aumentava o mercado consumidor de produtos elaborados, valorizando os bens oferecidos.

O emprego da máquina a vapor de Watt como primeiro motor mudou tudo isso: em particular, mudou as dimensões e tornou possível uma concentração muito maior de indústrias quanto de trabalhadores... (MUMFORD, 1982: 493)

O

vapor

funcionava

mais

eficientemente

em

grandes

unidades

concentradas...Quanto mais unidades havia dentro de uma dada área, tanto mais eficiente era a fonte de energia: dai a tendência para o gigantismo...Uma só fábrica podia empregar duzentos e cinqüenta braços. Uma dúzia de tais fábricas, com todos os instrumentos e serviços acessórios, já representava o núcleo de uma cidade de proporções consideráveis...Se a fábrica movida a vapor, a produzir para o mercado mundial, foi o primeiro fator com tendência para aumentar a área de congestionamento urbano, o novo sistema de transportes ferroviários, a partir de 1830, estimulou-a largamente. (MUMFORD, 1982: 494)

Se o capitalismo tendia a expandir os domínios do mercado e transformar cada parte da cidade numa comodidade negociável, a mudança dos trabalhos normais urbanos, organizados para a produção fabril em larga escala, transformou as cidades industriais em sombrias colmeias, a fumegar ativamente, a bater, guinchar, a expelir rolos de fumo de doze a quatorze horas por dia, algumas vezes durante as vinte e quatro horas. (MUMFORD, 1982: 483)


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Um outro indicador que se agregou aos já mencionados e que possibilitou o surgimento de cidades cada vez maiores, foi a facilidade de se transportar uma considerável quantidade de operários por uma grande distância por meio do trem a vapor. Denominado pela população do Brasil-Império de “maria-fumaça”, se deslocava por vias férreas, estradas muito diferentes das construídas pelos antigos romanos em seu império. Os romanos se utilizaram de rochas vulcânicas, de pedras cortadas de forma regular, ou ainda de pedras arrumadas de maneira incerta sobre coxins de areia. Já os trilhos de ferro, utilizados para o deslocamento das locomotivas com seus vagões, eram assentados sobre dormentes de madeira, matéria prima abundante no Brasil da época.

FIGURA 3.1-1 - Bonde na Suíça museum.ch

Fonte:www.tram-

FIGURA 3.1-2 - Bonde no Ceará

Fonte:Oriá

O bonde, nas áreas urbanas, também serviu a esse propósito - o movimento de massas (o transporte coletivo). Cidades na Mesopotâmia, no Império Romano e até mesmo na Idade Média tiveram a sua extensão limitada pela capacidade de se manter a guarda por sobre as muralhas das cidadelas, pela possibilidade de


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visualização de sinais entre os guardiões das áreas fortificadas, meio único de comunicação a distância, ou mesmo a facilidade de se efetuar deslocamentos a pé dentro do espaço urbano. O trem e o bonde mudaram esse cenário. Figuras 3.1-1 e 3.2-2

A própria área rural, que a princípio perdeu os seus habitantes para os núcleos urbanos industrializados, conseguiu lograr benefícios com as migrações humanas. Foram difundidos pela Europa, uma série de vegetais diferentes. O milho, as batatas e até mesmo o tabaco encontraram novos terrenos para serem cultivados e populações diferentes provaram de seus sabores e passaram a utilizá-los no cotidiano. Até no Brasil e mesmo no Ceará, esse intercâmbio de culturas e cultivos veio a ocorrer. As serras cearenses, só para citar um exemplo, plantaram o café por influência francesa. Tratos culturais também passaram a ser partilhados. A manutenção de um volume maior de pessoas nas cidades dependia essencialmente de uma produção mais efetiva no campo.

...os antigos princípios de educação aristocrática e cultura rural eram substituídos por uma devoção unilateral ao poder industrial e ao sucesso pecuniário... (MUMFORD, 1982: 484)

Com a invenção da módica diligência, da estrada de ferro e, finalmente do bonde, começou pela primeira vez a existir na história o transporte coletivo (MUMFORD, 1982: 465)


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A ampla migração de país a país, por sua vez, ajudou a levar ao sistema europeu de agricultura os recursos de partes até então desconhecidas do mundo: em particular, toda uma nova série de plantações energéticas, milho e batata - e esse picante agente de relaxamento e cerimônia social, o tabaco...Aquele enorme aumento de suprimentos alimentares foi que tornou possível o aumento de população. (MUMFORD, 1982: 486)

FIGURA 3.1-3 - Crescimento mancha urbana Cidade do México Fonte:Misereor

FIGURA 3.1-4 - Crescimento mancha urbana Cidade do México Fonte:Misereor

A industrialização modificou, também, a forma de crescimento das cidades: a linearidade das progressões aritméticas, característica dos gráficos de crescimento de população gerados antes do advento da Revolução Industrial sede lugar às assíntotas produzidas a partir de incrementos populacionais que evoluíram em progressão geométrica, gerando cidades congestionadas e com ritmos humanos cada vez mais frenéticos. Diferenças não há entre grandes centros europeus, norte-


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americanos, ou mesmo, na atualidade, com aglomerados asiáticos ou até da África do Sul. Figuras 3.1-3 e 3.1-4

Interessa ao capitalismo que não haja de fato grandes diferenças, pois fica muito mais fácil produzir bens em locais em que a mão de obra é mais farta e barata, como foi no caso da China e hoje é o dos chamados Tigres Asiáticos; e transportar toda essa produção para mercados que oferecem

melhor preço de

venda. Esse transporte é efetivado principalmente por via marítima, que guarda uma relação custo - benefício mais vantajosa para os comerciantes, os capitalistas, e onde o custo final do volume transportado compensa a morosidade do meio de transporte.

O próprio fenômeno da globalização, que se iniciou, por conceito, com o mercantilismo

ibérico

no período

das

grandes

navegações, das grandes

descobertas, é uma forma sub-reptícia de se igualar produtos e fazer sucumbir os fabricantes com menor lastro financeiro e pouco suporte tecnológico.

O modelo habitacional segue essa proposta capitalista. Os arquitetos até colaboraram involuntariamente com o processo ao definir um homem - tipo, dentro do conceito da Arquitetura Internacional. Foi fornecido aos capitalistas, aos grandes empreendedores das cidades, o ícone desejado para a ocupação intensa e massificada das áreas urbanas. O homem passou a ser considerado como um componente do processo, passou a integrar o processo. O modelo fabril era plenamente incorporado pela escala humana. O homem perdeu a sua posição de


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sujeito da história para ser submetido ao momento histórico da produção em série. Bastava agora que os responsáveis pelos recursos humanos das empresas adaptassem esse homem - tipo aos seus locais de trabalho e os assistentes sociais encaminhassem as famílias tipificadas às casas padronizadas.

O problema habitacional passou a ser uma simples questão numérica: cada casa abrigava uma família composta por seis membros. Horizontalizaram-se os conjuntos habitacionais, distantes dos núcleos centrais dos espaços urbanos. Aproximou-se o homem do seu local de trabalho, da fábrica, também alojada na periferia, e os assentou em áreas em que o lençol freático era mais alto, os poluentes estavam mais presentes, o custo do terreno era mais baixo - este último tópico, de fato, o que realmente interessava ao capitalista.

Distante estava este homem - tipo da área de comércio e de serviço de sua cidade, longe se encontrava do local de estudo de seus dependentes e do espaço de lazer para toda a família. Verticalizaram-se as habitações nas áreas em que o custo do terreno se elevara. O modelo habitacional que foi utilizado, a princípio, para os menos abastados passou a ser fornecido aos habitantes urbanos que acumularam maiores posses. Empilharam-se as casas, construíram-se os “arranhacéus”. Na produção em série, o custo de elaboração de cada bem de consumo continuou falando mais alto do que a qualidade de vida do homem contemporâneo. Adensaram-se os espaços urbanos, principalmente nos países de Terceiro Mundo, onde o binário expulsão do campo, por inexistência de atividade produtiva digna -


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atração pela cidade, estava bem presente. O transporte urbano se complicou. O transporte coletivo se tornou problemático.

Em Fortaleza, a análise segmentada dos Planos Diretores para a aprovação de projetos tornou precário o uso do solo urbano. Edificações de grande porte passaram a demandar das vias infra-estrutura, ainda inexistente em várias das regiões da capital do Ceará. O impacto dos choques de interesse também se avolumaram. Edificações são construídas desrespeitando os Planos Diretores. O interesse do capital prevalece ao bem social. Um regime de exceções se afirma e o desrespeito ao meio ambiente, aos leitos naturais dos recursos hídricos se configura.

Conjuntos habitacionais passaram a ser edificados em áreas sujeitas a alagamentos. Aterros são produzidos de forma a mudar as dinâmicas de rios e lagos. As ligações de água e de luz feitas em habitações construídas em áreas não permitidas pela legislação urbana local, sedimentam favelas e complicam as atividades dos planejadores urbanos. Interesses de alguns atrapalham a qualidade da vida de muitos dentro do convívio urbano.

Hoje a efervescente oferta de tecnologia altera a ocupação do espaço urbano. O conceito de telépoles (cidades em que as relações sociais sedem lugar às interações efetivadas por meio tecnológico) já aparece nos ambientes acadêmicos. Os habitantes urbanos passam a ocupar espaços individualizados, ver as suas televisões, utilizar os seus micro - computadores, os seus aparelhos eletrônicos. As


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relações interpessoais sedem lugar às tele - interações. O contato face a face se transforma em mensagens eletrônicas, em sistemas interativos na televisão, em disputas homem - máquina, em realidades virtuais.

Até os seminários, os congressos, os debates e as palestras virtuais já fazem parte do cotidiano urbano. O jogo de futebol aos domingos, a cachaça com farofa nas praias aos poucos vai se transformando nas salas de bate-papo da Internet, nos encontros virtuais patrocinados pela rede eletrônica de computadores. As praças, as áreas públicas são trocadas pelos quartos, pelas alcovas individuais. Até o trabalho assume nova faceta: proliferam os escritórios residenciais. Os trabalhos realizados em casa são enviados por meio eletrônico. As comunicações são realizadas por telefone. O contato físico entre colegas de trabalho se transforma, principalmente nos países de primeiro mundo, em contatos virtuais intermediados por uma web-cam (uma câmara colocado por sobre a tela do computador). As relações

familiares

são

comprometidas

pelo

individualismo

induzido

pelo

comportamento do homem contemporâneo e pelo incremento das horas trabalhadas nos domicílios urbanos.

Tudo isso interessa ao capitalismo: o homem produz mais, utiliza menos da infra-estrutura das empresas e mais da individual, consome mais aparelhos que garantam os contatos virtuais, consome mais tecnologia, consome mais produtos que minimizem o estresse e o sedentarismo, consome bem mais. O admirável mundo novo (Brave New World), parafraseando o autor de lingua inglesa (HUXLEY, 1998) , oferece de fato uma melhor qualidade de vida ao homem contemporâneo, o


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integra virtualmente à aldeia global; mas o isola, o limita nos contatos interpessoais, tornando-o muito mais individualista e consumista até do próprio homem, reflexo direto da maneira de ver do capitalismo contemporâneo.

FIGURA 3.1-5 - Peter Drucker Fonte: http://www.cio.com

FIGURA 3.1-6 - Max Gehring Fonte:Exame

Uma nova corrente ideológica começa a aparecer a partir desse caos urbano. Já se ouve falar no papel social das empresas, os gurus da economia já consideram o humanware - neologismo anglófono que toma como base o termo software (aplicativo computacional). É interessante comparar o pensamento de integrantes da Escola Clássica da Economia, como o engenheiro norte-americano Frederick W. Taylor, o engenheiro francês Henri Fayol e a inglesa Mary Parker Follette com o discurso de formadores de opinião da atualidade como Robert Kaplan, criador da Linha de Balanço, John Kay, articulista do Financial Times e escritor do best-seller: Porque as firmas têm sucesso, Tom Peters, responsável por colunas nas revistas: Forbes, The Economist, The Financial Times, The Wall Street Journal, The New York Times, Michael Porter, o escritor austríaco radicado nos Estados Unidos Peter


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Drucker e os autores brasileiros Max Gehring, Paulo Guedes, Simon Franco e José Fucs, com artigos publicados na revista Exame, além de Paulo Nogueira Batista Júnior, Gustavo Franco, Reinaldo Gonçalves e Sérgio Abrantes que têm suas matérias veiculadas nos jornais: Valor e Gazeta Mercantil e nas revistas: Veja, Isto é e Época. Figuras 3.1-5 e 3.1-6

Taylor, que influenciou um grande número de escritores e teóricos do pensamento econômico contemporâneo, na década de vinte, centralizou os seus estudos na análise da tarefa e na autoridade do gerente. Acreditava na especialização da força de trabalho, na divisão das atividades e na recompensa por performances acima da média. O francês Fayol, contemporâneo de Taylor, definiu a organização do trabalho como o seu foco central. Determinou cinco funções básicas para o gerente moderno: o planejamento, a organização, o comando, a coordenação e o controle. Mary Parker, também da mesma época de Taylor e Fayol, envereda por um discurso que valoriza o empowerment, termo inglês que acabou sendo utilizado em português sem tradução, e que representava o poder do operário de se governar. Para Mary Parker o gerente não partilha o seu poder, mas dá oportunidade para que os trabalhadores desenvolvam o seu próprio poder.

Peter Drucker, embora hoje com os seus mais de 90 anos, representa o pensamento dos gurus do capitalismo contemporâneo. Para Drucker é fundamental perguntar primeiro para os gerentes sobre a descentralização das operações e o tratamento dos operários como seres humanos. Ele até conceitua o termo knowledge work como todo o conhecimento adquirido pelo ser humano para o


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desempenho de suas tarefas. Coloca por terra, Peter Drucker, alguns preceitos básicos da economia como o que diz que ao se transferir um bem se perde a posse do mesmo; pois defende que tal teoria não pode ser aplicada à informação, à transmissão do conhecimento, e na Terceira Onda preconizada por Alvin Tofler a informação é fundamental; ou o preceito econômico que acredita na importância da empresa para o empregado e não no contrário.

Para ele é tão importante a empresa para o empregado como o empregado o é para a empresa. Drucker também acredita que bens e serviços são eminentemente globais, embora possam ser enquadrados em mercados locais; pois, a qualquer momento, uma empresa situada em alguma parte do mundo pode vir a tomar o mercado daquela que já se estabilizou no seu local de origem. Finalmente defende Peter Drucker os não profissionais, aqueles que trabalham pelo prazer que as atividades os dão e não pelo retorno financeiro que possam vir a perceber. Em síntese, se no início do século XX o foco dos estudiosos estava na máquina e no ajuste do homem ao seu local de trabalho, hoje os teórico pensam no homem enquanto sujeito do processo produtivo e na valorização deste homem enquanto maior bem da empresa, o capital intelectual.

Seguindo os gurus, as empresas já capacitam os seus executivos visando uma formação holística e cultural desse homem. Uma preocupação com as questões ambientais já ocupa a mídia. Empresas multinacionais já investem na manutenção das florestas e na minimização da poluição ambiental. A legislação passa a ser mais severa para com os crimes contra o meio ambiente. Há uma


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preocupação com a integração do homem, com a qualidade das relações entre colegas de trabalho, entre integrantes da mesma família. Grupos da terceira idade, ou como eles preferem ser chamados, da melhor idade, investem no convívio, na ocupação das horas de ócio, nas terapias de mente e de corpo. Uma preocupação com a segmentação de mercado e com o direito do consumidor já está servindo como elemento de competição entre as empresas. A insegurança e a instabilidade das nações inquieta a todos.

O congestionamento urbano verifica-se naturalmente quando um número demasiado grande de pessoas começa a competir por número limitado de apartamentos e quartos; e, quando um proletariado comercial e industrial começou a afluir em massa para as grandes capitais da Europa, no século XVI, tais condições tornaram-se crônicas. O melhoramento urbano só poderia ter tido lugar se as forças que impeliam o povo para as cidades tivessem sido controladas em suas fontes...A competição em busca de espaço, por imigrantes pobres e desprotegidos, teve o mesmo efeito sobre Paris ou Edimburgo, no século XVII, que sobre Manchester no século XVIII e Liverpool e Nova York no século XIX; as rendas da terra cresceram e as disponibilidades habitacionais pioraram. (MUMFORD, 1982: 467)

...os padrões que a princípio eram aplicados às moradias dos pobres foram, no século XIX, progressivamente incorporados nas casas das classes média e superior. O primeiro edifício de apartamentos para muitas famílias foi construído em Nova York para o grupo de mais baixa renda, em Cherry Street, em 1835: cobria


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95% dos lotes e padronizava condições sem arejamento e não sanitárias. (MUMFORD, 1982: 468)

Já quanto a própria habitação, as alternativas eram simples. Nas cidades industriais que cresceram com base em fundações antigas, os trabalhadores foram inicialmente acomodados pela transformação das velhas casas familiares em alojamentos de aluguel. Nessas casas reconstruídas, cada quarto passava agora a abrigar uma família...O outro tipo de moradia oferecida à classe trabalhadora era, essencialmente, uma padronização dessas condições desagradáveis; teve, porém um defeito adicional: as plantas das novas casas e os materiais de construção geralmente nada tinham da decência original das antigas casas burguesas: eram de construção barata, sem alicerces encravados no solo. (MUMFORD, 1982: 499)

...não se construíam casas em número suficiente em muitas cidades; e nesses casos...Os porões eram usados como moradias. (MUMFORD, 1982: 500)

Examinemos mais detidamente as novas casas das classes trabalhadoras. Cada país, cada região, cada grupo de população tinha o seu próprio modelo especial: prédios altos em Glasgow, Edimburgo, Paris, Berlin, Hamburgo, Gênova, ou edifícios de dois andares, com quatro, cinco, às vezes seis quartos, em Londres, Brooklyn, Filadélfia, Chicago; enormes armadilhas de madeira, em caso de incêndio, chamadas de three-deckers, na Nova Inglaterra, ou acanhadas casas de tijolos, ainda obedecendo a um antigo modelo georgiano, em Baltimore. (MUMFORD, 1982: 503)


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3.2. - A industrialização no Ceará:

Assim vamos encontrar, no primeiro quartel do século XVIII, Aquiraz com a primazia de cabeça de Comarca cedendo

a

autoridades,

Fortaleza enquanto

o

privilégio

Aracati,

de

residência

representava

o

das

reduto

econômico. (GIRÃO, 1994: 40)

Antes de se falar sobre o processo de industrialização ocorrido no estado do Ceará, necessário se faz entender toda a formação econômica do país, principalmente a que diretamente interfere na configuração do território cearense. Por ter sido descoberto pelos portugueses, o Brasil se tornou colônia daquele país e um contrato de exclusividade passou a vigorar entre a Coroa, Portugal e a colônia, o Brasil - o Pacto Colonial. Por esse instrumento legal havia um grande grau de dependência entre a metrópole européia e a colônia sul - americana. Cabia ao Brasil a exportação de matéria prima para Portugal e a importação de produtos manufaturados. Essa transação econômica gerava superávit na balança comercial portuguesa, por ser o bem industrializado de maior valor venal que o insumo, a matéria prima.

Com a decadência do Império Português nas Índias, os analistas econômicos lusitanos voltaram as suas atenções para o território brasileiro. Necessitavam produzir no Brasil, colônia que os restava, víveres comercialmente interessantes para o mercado europeu. O açúcar foi um dos produtos definidos, alimento de origem indiana se adaptou bem a um solo argiloso, escuro e muito fértil, o massapê,


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existente na Zona da Mata brasileira, entre o recôncavo baiano e o estado do Rio Grande do Norte. O ciclo da cana de açúcar se iniciou no século XVI no Brasil e contou com aporte financeiro holandês, que se desvencilhava de um domínio espanhol e estava muito interessado em transportar, refinar e comercializar o açúcar brasileiro. A cana de açúcar, produzida em solo nacional, após moída era transformada em melaço. Esse material era embalado em caixas de couro e exportado para a Europa para que só lá fosse efetuada a fase final de produção, o refino. Essa atividade econômica se manteve forte até o século XVII.

Um dos primeiros atrativos ao povoamento do território brasileiro foi a busca do ouro, concretizado através da atuação das entradas e bandeiras. Como não foi encontrado, de imediato, e com o declínio da exploração do pau-brasil, a agricultura figuraria como fator decisivo de ocupação do espaço. (JUCÁ, 1994: 15)

FIGURA 3.2-1 - Boaiadeiro

Fonte:Oriá

FIGURA3.2-2 - Charqueadas no Ceará

Fonte:Oriá


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Dando suporte ao ciclo da cana de açúcar se desenvolveu a pecuária. A princípio o gado foi criado na mesma região da cana, nos quintais dos engenhos. O objetivo da criação dos bovinos, além de servir como alimento, era para ser utilizado no tracionamento das moedas e no transporte de mercadorias dentro dos latifúndios. A criação de gado teve que se expandir, pois a cultura da cana cresceu. Não podendo mais conviver no mesmo solo rural, os bovinos tiveram que migrar e procurar novos pastos, novas mangas, como os vaqueiros nordestinos preferem denominar. Os boiadeiro seguiram os vales dos rios e chegaram ao interior do Ceará, através do rio Jaguaribe e ao Piauí, acompanhando os afluentes da margem direita do rio Parnaíba. A conquista do Piauí se deu pelo interior, através dos boiadeiros, nas fazendas de gado. O litoral piauiense foi fruto de uma troca posterior com o Ceará: ao Piauí foi cedido pelo Ceará um território próximo ao delta do rio Parnaíba, o que corresponderia hoje à praia de Luiz Correia, que pertencia ao município de Granja e ao Ceará foi cedido pelo Piauí a região onde hoje estão situados os municípios de Crateús, Independência, Novo Oriente e Quiterianópolis. Figuras 3.2-1 e 3.2-2

O Ceará foi primeiramente descoberto pelo espanhol Vicente Yañez Pinzón, segundo indícios encontrados no Icapuí, município do interior do estado do Ceará, na praia mansa em Fortaleza e em Jericoacoara, também no Ceará. Conforme alguns historiadores, entre eles SILVA (1976) e FERREIRA (1978), militares como o almirante Max Justo Guedes, diretor do Patrimônio Histórico e Cultural da Marinha do Brasil e jornalistas como ESPÍNOLA (2001), com recente publicação sobre o tema, a frota do espanhol teria aportado em janeiro de 1.500 em terras cearenses, alguns meses antes de Pedro Álvares Cabral, com o objetivo de reabastecer suas


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naus. Como estava, pelo Tratado de Tordesilhas, em solo português não registrou o seu achado e tratou logo de rumar para a América Central, destino final de sua viagem marítima.

Embora o Ceará tenha sido descoberto pelo mar, teve nas cidades do interior o seu apogeu do período colonial. Icó e Sobral se destacaram pelas fazendas de gado e pelas residências urbanas da aristocracia rural. Camocim e Aracati tiveram no porto o seu destaque. Não no porto pesqueiro, mas nos portos do rio Acaraú, no município de Camocim, e do rio Jaguaribe, no município de Aracati, escoadouros da produção de bovinos. O gado criado no interior do estado era transportado para os portos, onde eram abatidos e suas carnes salgadas, atividade que ficou conhecida depois pela denominação de charqueada.

Após salgadas as carnes eram

colocadas em embarcações pesadas que utilizavam da vela como elemento de propulsão, as sumacas (termo de origem holandesa - schmake) , para serem transportadas principalmente para o estado do Pernambuco, centro do cultivo canavieiro. O sal para essa operação não existia em abundância no Ceará, era pois transportado por tropeiros do vizinho estado do Rio Grande do Norte.

Várias

localidades surgiram a partir desta atividade, entre elas a cidade de Icapuí.

É importante ressaltar nesse momento, que de forma diferente do cultivo da cana de açúcar, onde os dividendo da comercialização eram transferidos para a Coroa portuguesa e para os holandeses que financiaram parte da produção, o lucro da pecuária se mantinha em território nacional; pois, no entender dos lusitanos, servia apenas de suporte para a cultura canavieira.


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Cumpre comentar que nem todo o estado do Ceará serviu à criação de gado, as regiões serranas não se prestavam bem ao manejo dos animais e lá se deu preferência, posteriormente, ao cultivo do café. Outra exceção é feita à região do Cariri, que seguindo o modelo do vizinho estado do Pernambuco, e também por características pedológicas e climáticas, resolveu investir no cultivo da cana de açúcar. Havia, ainda, no Cariri o sonho dos desbravadores de encontrar jazidas auríferas.

FIGURA 3.2-3 - Ceará Físico

Fonte: Oriá

A preocupação em separar a área de criação da zona de plantações foi alimentada durante o governo Tomé de Souza. A primeira via de penetração partia de Salvador para o Norte, favorecendo a ocupação do litoral baiano, ao norte da


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capital de Sergipe. Embora o São Francisco servisse de marco divisório entre as capitanias de Bahia e Pernambuco, os vales dos afluentes desse rio, da margem esquerda, ocupando os sertões de Pernambuco e do Piauí, chegando aos rios que correm para o Atlântico: o Piranhas - Açu, o Apodi - Mossoró, o Jaguaribe e os afluentes da margem direita do Parnaíba.

(JUCÁ, 1994: 16)

A ocupação pecuária do sertão cearense se deu, não há dúvida, com o gado trazido das capitanias vizinhas, principalmente Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, por colonizadores que, requerendo as primeiras sesmarias interioranas, vieram ocupar, de início, o vale do Jaguaribe...Os rios Jaguaribe e Acaraú foram os dois primeiros pontos essenciais da colonização; e, ao mesmo tempo, serviram de estradas onde se desenvolveu a marcha de ocupação da Capitania; e depois escoadouro das manadas de corte para os mercados consumidores. (GIRÃO, 1994: 32)

A colonização da região sul foi efetuado por baianos, seguidos de sergipanos, que ali chegaram cobrindo o rastro dos pioneiros e se estabeleceram no vale do Cariri e na zona cearense de influência do riacho dos Porcos, aqui lado a lado com os pernambucanos. Todavia o pastoreio não se desenvolveu naquele vale com a mesma força de exclusividade do restante do território cearense; ai, prevalece a agricultura, baseada no cultivo da cana de açúcar. O solo e as condições climáticas não foram os únicos fatores explicativos à anomalia. A causa determinante da exceção caririense é outra. Seus principais povoados buscavam jazidas de metais preciosos. Falhando, pois o sonho das jazidas auríferas, os colonizadores


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procuravam desenvolver suas atividades no trabalho que lhes parece mais compensador e mais rápido. Além do mais, podia ser utilizada naquela cultura a mão de obra negra, adquirida para exploração das minas. (GIRÃO, 1994: 33)

Para o porto do Acaraú, vindo de Sobral, durante a safra, rumavam as boiadas, os carros de bois cheios de carne e sola; dali transportados em sumacas, para os principais portos da Colônia, principalmente Pernambuco. (GIRÃO, 1994: 70)

As regiões serranas cearenses abrigaram o cultivo do café, cultura que teve o seu destaque no cenário nacional no interior do estado de São Paulo, que conseguiu formar até uma aristocracia rural ligada ao plantio desse fruto, os denominados barões do café. Clima e pluviosidade garantiram a sua produção no Ceará e o mercado interno e de exportação a sua comercialização. A cultura do café no maciço de Baturité teve influência francesa. Até o próprio Conde d’Eu, francês que desposou a princesa Isabel, filha de D. Pedro II e responsável direta pela abolição da escravatura por meio da Lei Áurea, segundo relatos locais, visitou a área e manteve contato com a aristocracia rural serrana. Várias famílias se destacaram nesse cultivo, entre elas cumpre ressaltar a família Caracas, que até hoje mantém alguns de seus descendentes vinculados à produção nas serras cearenses. Escassez de terras propícias ao plantio intensivo do café, carência de recursos financeiros, apesar da cultura do café não demandar um volume de recursos tão significativo quanto a da cana de açúcar que necessitou até de aporte financeiro estrangeiro,

dificuldade de acesso aos locais de produção por vias


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razoavelmente pavimentadas, inexistência de portos convenientemente equipados para o escoamento das safras, desconhecimento de novas tecnologia para plantio, manejo e colheita, além da ausência de boas quadras invernosas fizeram com que o cultivo de café não prosperasse tanto quanto se desenvolveu no estado de São Paulo.

Para atender a demanda interna e externa o café se desenvolverá ocupando os espaços das serras. (SILVA, 1970: 99)

A produção de café no Ceará se fará, como assinalamos, nas serras onde a temperatura e a pluviosidade são favoráveis, além da terra. Assim, dar-se-á a efetiva ocupação das serras de Baturité, Aratanha, Maranguape, Uruburetama, Meruoca, Serra Grande, Araripe, com um produto que se destacará no quadro da economia Provincial. (LIMA, 1994: 100)

A expansão do café no Ceará encontrou um obstáculo insuperável: a escassez de terra para a cafeicultura...a escassez de recursos financeiros; a precariedade das estradas; a inexistência de bons portos; o atraso tecnológico; as secas, etc. (LIMA, 1994: 101)

A Revolução Industrial, ocorrida no século XVIII, muda os interesses no trato com o campo. No Brasil se extingue o Pacto Colonial e a cultura algodoeira serve de suporte para a indústria têxtil que se implanta. A guerra pela independência dos Estados Unidos, em 1776, faz cair a produção no sul daquele país e um mercado


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de exportação se abre para os brasileiros. O aumento da população européia também serve de incentivo à produção do algodão. A cidade de Fortaleza começa a ter o seu destaque com o início da produção industrial. A criação da vila do Forte de Nossa Senhora da Assunção, hoje a capital do estado do Ceará, se deu logo após a transformação de Aquiraz na primeira vila cearense em 13 de fevereiro de 1699. Houve muita controvérsia quando a instalação da primeira vila, ocorreu uma disputa entre as localidades de Fortaleza e Aquiraz, mas ganhou Aquiraz por estar mais próxima do centro econômico do estado: Icó e Aracati, responsáveis pela criação de gado e pela charqueada, tecnologia que depois foi exportada para o Rio Grande do Sul, estado em que a pecuária também se desenvolveu, mas como apoio à mineração ocorrida nos estados de Minas Gerais e Goiás.

O fortalecimento do setor agrário não se deve apenas a decadência da mineração, mas sobretudo em virtude do súbito crescimento da população européia e do desenvolvimento da Revolução Industrial, na Inglaterra, que propiciaram uma maior valorização dos produtos coloniais...O determinante primordial ao impulso da agricultura brasileira deveu-se a uma alta cotação do algodão, no mercado internacional, que conseguiria ultrapassar a posição assumida pelo açúcar. (JUCÁ, 1994: 19)

Na

verdade

várias

cidades

cearenses

surgiram

desses

ranchos

estrangeiros...A cidade do Icó é uma delas...É no fim do século XVII que o comandante militar do Forte de Nossa Senhora d’Assunção cede o passo ao Governo Civil com a criação da primeira Vila, em 13 de fevereiro de 1699...A


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desorganização e a instabilidade política - administrativa surgem logo na criação da primeira Vila que por décadas, andou-se mudando de um lugar para o outro: de Fortaleza a Aquiraz e vice-versa. Numa tentativa de aproximação do centro de gravidade econômica da Colônia é, finalmente, instalada no Aquiraz a primeira Vila. Ocasionalmente, essas mudanças, desentendimento entre os habitantes das duas povoações, até que a criação de outra Vila no Forte, vem solucionar o problema...Assim vamos encontrar, no primeiro quartel do século XVIII, Aquiraz com a primazia de cabeça de Comarca cedendo a Fortaleza o privilégio de residência das autoridades, enquanto Aracati, representava o reduto econômico. (GIRÃO, 1994: 40)

As primeiras fábricas foram construídas no estado do Ceará no final do século XIX e estavam diretamente ligadas ao cultivo do algodão, eram indústrias têxteis. Haviam razões objetivas para essa implantação: primeiro a existência de uma crise internacional do algodão que pressionava o mercado por cotações mais baixas, depois o custo crescente do transporte para o mercado europeu e finalmente o próprio valor da embalagem. Ainda no final do século XIX e no início do século XX , começam a aparecer outros tipos de indústrias, as de extração de óleos vegetais. A indústria continuava intimamente ligada ao campo: algodão, mamona, oiticica e babaçu serviam de matéria prima para essa produção.


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FIGURA 3.2-4 - Sistema Ferroviário Urbano

Fonte:METROFOR

Só após a Segunda Guerra Mundial é que se conseguiu ter no estado do Ceará um destacado parque industrial com produção contínua. Mantinha-se a extração de óleos vegetais e as indústrias têxteis como suas principais realizações. Nos anos quarenta, agregaram - se as indústrias de extração de óleo vegetal, as de produção de cera de carnaúba e as fábricas de sabão. Em Fortaleza essas


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indústrias ocuparam áreas entre as avenidas Bezerra de Menezes e Castelo Branco (Leste - Oeste), ainda não existente na época.

Aproveitavam as fábricas das

regiões lindeiras da via férrea, que corta os bairros de Padre Andrade, Presidente Kennedy, Álvaro Weyne, Carlito Pamplona e Monte Castelo; pois facilitava a chegada de insumo e a saída de bens acabados. Figura 3.2-4

Nos anos sessenta, após a criação da SUDENE (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste) em dezembro de 1959 é que a produção industrial se diversificou. Até um distrito industrial foi criado, alguns anos depois, no hoje município de Maracanaú, para abrigar novas indústrias e para minimizar os impactos da relação homem - fábrica que já estavam ocorrendo nas áreas limítrofes à via férrea. O novo distrito industrial também ficava próximo à via férrea só que no seu tronco sul. Grandes conjuntos habitacionais foram construídos em sua proximidade (Jereissati, Acaracuzinho, Araturi e Genibaú) para minimizar os deslocamentos dos operários ao seu local de trabalho.

Fortaleza é, sem dúvida, o grande centro coletor de produtos agrários do interior cearense...O papel de comando que Fortaleza possui hoje foi conquistado aos poucos. Realmente a coleta e o beneficiamento da produção muito contribuíram para o seu rápido desenvolvimento...As primeiras indústrias cearenses estavam ligadas às atividades agrárias desenvolvidas no interior, daí ter sido a indústria têxtil a que iniciou o processo de instalação industrial na cidade de forma idêntica, também os costumes foram dos primeiros estabelecimentos industriais que se instalaram na cidade, revelando os vínculos estreitos mantidos entre a indústria e a


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pecuária, esta última sem dúvida, a atividade que inicia a ocupação e a exploração econômica do sertão cearense...A primeira indústria do ramo têxtil foi aqui instalada no final do século passado, como resposta a grande crise internacional do algodão que provocou a baixa do preço do produto, além de altos custos de transporte e embalagem. (SILVA, 1976: 87)

Segundo AMORA (1994: 101): “A industrialização como processo contínuo e acentuado, só veio a se concretizar a partir da Segunda Guerra Mundial. Entretanto, no final do século XIX surgiram algumas indústrias ligadas ao setor exportador e a produção de bens de consumo visando suprir o mercado interno”.

A indústria têxtil foi a primeira a instalar em Fortaleza, como nos demais centros nordestinos, para onde convergia a produção algodoeira. Aliás, esta é a primeira indústria a se desenvolver nos chamados países subdesenvolvidos, não só pela presença do mercado, mas também por ser tecnicamente mais simples...ligada a têxtil desenvolveu-se...a indústria de óleos vegetais, aproveitando o caroço de algodão. Também, visando a produção de óleo, foram industrializadas a mamona, a oiticica e o babaçu, destacando-se a capital cearense como um dos principais centros produtores de óleos vegetais do Nordeste. (AMORA, 1994: 123)

Nos anos 40, o maior número de fábricas instaladas em Fortaleza foram nos ramos de beneficiamento de cera de carnaúba, produção de óleos vegetais e sabão, além de indústrias têxteis de beneficiamento de algodão e de fiação e de tecelagem. (AMORA, 1994: 124)


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Pode-se dizer que a política desencadeada pela SUDENE - criada em dezembro de 1959 - inicia, a partir de 1960, uma segunda fase de implantação industrial no Ceará. (AMORA, 125)


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3.3. – O processo de industrialização

...algumas publicações francesas fixam o número de horas investidas, pela mão de obra, na edificação de casas. São 36 horas para cada metro quadrado de construção tradicional, 20 horas por metro quadrado na préfabricação levemente desenvolvida e 16 horas por metro quadrado nas pré-fabricações avançadas. (BIRLILES, 1968: 14)

A revolução industrial provoca um desenvolvimento tecnológico e faz com que os teóricos passem a discutir mais intensamente as relações de trabalho e a qualidade de vida nos espaços urbanos. Os países industrializados se tornam potências mundiais e a sede de produzir cada vez mais e obter retornos expressivos nos investimentos efetuados impulsionam grandes pensadores como Taylor e Ford a desenvolverem suas teorias na área da produção em série, aproveitando dos preceitos da economia de escala.

...em uma declaração de Henry Ford: “ O conceito de produção em série se utiliza para se descrever o método pelo qual se pré-fabricam grandes quantidades de um só artigo, padronizando-o. A produção em série não é simplesmente produção em quantidade...nem produção mecânica é a produção em série em que se aplicam os princípios de potência, precisão, economia, método, continuidade e velocidade de um processo de fabricação. A tarefa primordial do gerenciamento consiste na interpretação destes princípios, através de um estudo das operações,


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do desenvolvimento de maquinário e sua coordenação. O resultado lógico é a organização produtiva que proporciona grande quantidade de artigos, mão de obra e desenho padronizado a um custo mínimo. (BENDER, 1976: 17)

A industrialização da construção surge como uma conseqüência imediata da racionalização do trabalho e da mecanização das operações. (BIRLILES, 1968: 2)

Pode dizer-se que a industrialização da construção é o emprego de forma racional e mecanizada de materiais, meios de transporte e técnicas para conseguir uma maior produtividade. (BIRLILES, 1968: 4)

Os conceitos, a priori desenvolvidos para a indústria fabril, logo chegam à construção civil. A industrialização dos processos construtivos passa a ser uma necessidade imperiosa para se obter uma lucratividade maior. Países como os Estados Unidos, Alemanha, Espanha e até mesmo Portugal entenderam que a préfabricação associada a uma racionalização das atividades produtivas garantiam bens edificados com maior rapidez e uniformidade.

Segundo Gèrard Blachère, diretor do Centro Científico e Técnico da Construção da França (Centre Scientifique et Technique du Bâtiment), a industrialização está assente sobre o trinômio: racionalização, mecanização e automação. Por meio da racionalização se busca a eficiência nos processos. São desenvolvidos métodos de modo a se conseguir uma otimização de recursos humanos, materiais, infra-estruturais e financeiros. A preocupação com o


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desperdício também se faz presente neste suporte do tripé. Na mecanização, parte ou a totalidade do esforço físico humano é substituído por equipamentos

que

garantem um maior rendimento nas atividades produtivas e uma maior segurança e um maior conforto do homem em seu local de trabalho. A automação coroa todo esse processo, pois é através dela que atividades repetitivas, que necessitam de precisão e são excessivamente monótonas serão desenvolvidas por máquinas definidas por uma nova ciência que se cria a partir da modernidade, a robótica.

De modo a facilitar o seu entendimento, do ponto de vista acadêmico, a préfabricação pode ser divida, no que diz respeito a variabilidade e possibilidade de combinação dos componentes da edificação, em dois grandes blocos:

a) Pré-fabricação Aberta: aquela em que pode haver uma combinação bem variada dos componentes que se prestam a montagem de um determinado objeto arquitetônico e b) Pré-fabricação Fechada: aquela em que a produção em série dos componentes induz a uma quantidade final menor de peças fabricadas, mas que possibilita, por determinação de projeto, que vários dos elementos possam ser substituídos e de diversas formas combinados, quando do processo de montagem dos objetos arquitetônicos.

Em verdade, o desenvolvimento de uma produção em série tem levado raramente em conta os sistemas abertos, isto é, aqueles que utilizam elementos préfabricados de diferentes procedências e que se prestam a montagem seguindo


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combinações

as

mais

variadas;

sendo,

por

conseqüência,

facilmente

intercambiáveis. (BIRLILES, 1968: 51)

Finalmente, para se conseguir uma grande flexibilidade arquitetônica com um número reduzido de tipos de elementos é preciso que estes sejam de dimensões reduzidas. (BIRLILES,1968: 54)

No que se refere a tamanho e peso das peças envolvidas no processo de montagem dos objetos arquitetônicos, são três as divisões da pré-fabricação: a) Leve: quando os componentes têm peso inferior a 500 Kg; b) Média: quando oscilam entre 500 kg a 1.000 kg e c) Pesada: para elementos com peso superior a 1.000 kg.

Quanto ao grau de evolução, as construções no mundo inteiro podem ser encaradas da seguinte forma: a) Construção artesanal: aquela executada utilizando-se dos materiais existentes desde a pré-história e de métodos e processos construtivos empíricos e intuitivos; b) Construção tradicional: aquela executada utilizando-se dos materiais construtivos existentes desde a pré-história e métodos e processos construtivos geralmente normalizados; c) Construção tradicional evoluída: aquela que embora se utilize ainda dos materiais existentes desde a pré-história, já se preocupa em estudar o processo produtivo, de modo a inserir ferramentas de planejamento, gerência e controle de


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produção. São construções onde os métodos e os processos são racionalizados e os produtos padronizados; d) Construção parcialmente pré-fabricada: aquela em que já se utiliza de alguns elementos pré-moldados, embora ainda tenha uma boa parte de seus componentes constituída por materiais que integram as construções tradicionais. Geralmente nas construções parcialmente pré-fabricadas já há uma preocupação bem presente com a racionalização dos processos construtivos e a otimização dos recursos humanos e materiais;

FIGURA 3.3 - 1 - Construção pré-fabricada Fonte: http://www.greatbuildings.com

FIGURA 3.3 - 2 - Construção industrializada edifício inteligente Foto do autor

e) Construção totalmente pré-fabricada: aquela em que a mecanização se faz presente. A máquina acompanha e auxilia uma boa parte da atividade produtiva do homem. Elevadores e gruas transportam os elementos pré-moldados que comporão o objeto arquitetônico proposto. A racionalização da atividade produtiva é colocada em primeiro plano e a padronização, associada a especialização da mão de obra existente no canteiro, um dos fatores determinantes


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da qualidade do produto ofertado pela indústria da construção civil; e f)

Construção

realizada

segundo

Figura 3.3-1

procedimentos

totalmente

industrializados: estágio contemporâneo mais avançado dos métodos e processos construtivos. Na construção industrializada o trinômio: racionalizar, mecanizar e automatizar se faz presente.

Figura 3.3-2

O país mais avançado na pré-fabricação pesada é, sem a menor dúvida, a França. (BIRLILES, 1968: 67)

A pré-fabricação é um fenômeno indispensável, ela terá que avançar e isto com certeza vai acontecer. (TROYKO, 1986: 3)

Não necessariamente todos os países devem se preocupar em executar suas obras

dentro

de

sistemas

industrializados.

Existem

aspectos

macro

e

microeconômicos, além dos sociais e tecnológicos interferindo no processo. Países como a Alemanha, produtora de uma boa parte dos equipamentos utilizados mundialmente na construção civil, França, possuidora de mão de obra qualificada, e Estados Unidos, detentor de uma arrojada tecnologia e do domínio do conhecimento de processos construtivos avançados, se podem dar ao luxo de utilizar uma construção realizada segundo procedimentos totalmente industrializados.

Já a Espanha e Portugal, equiparados à Alemanha e França pela ideologia de um Mercado comum Europeu, não dispõem ainda de uma mão de obra tão qualificada quanta a alemã ou mesmo a francesa e nem de equipamentos na justa


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medida dos encontrados nos Estados Unidos, estes dois países: Espanha e Portugal devem buscar, por enquanto, se ajustar a uma construção parcial ou totalmente préfabricada para posteriormente ingressar no rol de países com construções totalmente industrializadas.

O Brasil, como tantos outros países do mundo, inserido no estrato de terceiro ou de quarto mundo, detentor de uma mão de obra desqualificada e abundante deve se contentar em sair dos níveis de construção tradicional e tradicional evoluída para chegar na construção parcialmente pré-fabricada e futuramente tentar se capacitar para chegar ao patamar de construção totalmente pré-fabricada. Passadas mais largas do que essas provocariam custos sociais altíssimos aos países; por esta razão, governantes tendem a direcionar suas políticas de forma a induzir as classes empresariais no sentido de serem mais cautelosas em suas investidas evolutivas.

As possíveis economias dependem da mão de obra: de seu custo, de sua qualidade e de sua abundância. (BIRLILES, 1968: 10)

Muitas soluções clássicas da construção nacional (espanhola) , são todavia, hoje em dia, as mais funcionais e econômicas e não devem sacrificar-se, precipitadamente, por um desejo de modernismo mal compreendido. (BIRLILES, 1968: 11)

Embora o Brasil não deva caminhar com as mesmas passadas de países como a Alemanha, os Estados Unidos ou a França, é inadmissível que se compre, em solo brasileiro, um rádio japonês ou nacional, que utiliza a pilha como fonte de


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energia, e que tem valor venal de mercado irrisório e acompanhando este rádio se receba um manual com um número razoável de páginas, escritos em mais de um idioma, e que contém informações importantes ao usuário sobre manuseio, assistência técnica, característica e durabilidade das peças componentes e uma edificação, que as vezes custa todas as economias de uma família, não vem acompanhada de qualquer informação que auxilie na sua utilização ou instrua sobre a durabilidade e a forma de reposição dos elementos componentes dessa construção.

O que leva a uma empresa japonesa ou mesmo nacional a ter facilidade na produção de um manual do usuário e dificulta tanto para que uma construtora tenha o mesmo procedimento. É a produção em escala, a industrialização nos processos de fabricação. Um rádio, por menor valor venal que tenha, passa por um planejamento intenso: desde o atendimento básico das necessidades do usuário, pela reprodução fiel do sinal emitido pelas emissoras, até por um desenho que se ajuste melhor aos valores culturais e antropométricos de cada portador, ou mesmo as cores que combinam melhor ao segmento de mercado que se deseja atingir; assim como, as dimensões que possibilitem uma melhor estocagem, transporte, ou mesmo a utilização de materiais que garantam a durabilidade pretendida pela empresa fabricante.

Na Construção Civil brasileira a produção ainda é: tradicional, tradicional evoluída ou parcialmente pré-fabricada. É verdade que os artefatos pré-moldados já estão presentes em diversas construções: brises, pérgolas, jardineiras, peitoris,


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soleiras, anéis, vigotas, vergas, todos já são empregadas em edificações por todo o país, podendo estes serem fabricados no próprio canteiro ou adquiridos em empresas especializadas. Esta utilização se enquadraria no que foi definido anteriormente como Pré-fabricação Aberta, pois se ajustam facilmente aos diversos edifícios propostos.

Hoje a industrialização não é modismo e sim uma necessidade que se impõe por um processo de apuração, avanço tecnológico e produtividade. (TROYKO, 1986: 3)

Para se atingir a um patamar das construções totalmente pré-fabricadas ou realizadas seguindo procedimentos industrializados, necessário se faz que a atividade produtiva privada se conscientize das vantagens destes processos. Observe que a rapidez da construção associada a certeza de uma qualidade no objeto produzido garantem uma liquidez maior dos investimentos, que a limpeza do canteiro de obras é um excelente argumento de marketing, de venda, e que um reduzido desperdício produzirá, certamente, uma economia substancial dos recursos alocados.

De certo a insegurança dos adquirentes por falta de informações sobre as vantagens dos procedimentos industrializados e a própria inexistência de tradição desses processos no território brasileiro, fazem com que os empresários evitem investir substancialmente na industrialização. A abundância da mão de obra e a pouca oferta de produtos industrializados,

induzem também, a manutenção da

situação atual. É importante que a ação governamental induza a uma produção em


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escala, que as universidades ofereçam subsídios tecnológicos para a total implantação e que a abertura do mercado a uma construção globalizada forneça o incremento final: concorrência e modelo.

O construtor de edifícios inteiramente executados com pré-fabricados espera melhorar o seu produto e a comercialização deste, por intermédio do incremento de vantagens substanciais conseguidas a partir da: aquisição de grande quantidade de matéria prima, de um maior rendimento da mão de obra através da racionalização de atividades semelhantes e por meio da utilização, de forma otimizada, de maquinário e equipamentos especiais. Acredita, ainda, poder dispor de um número maior de oportunidades de projetos, pesquisas, controle de custos e performances, e de cômputo geral, auferir maior lucratividade, plenamente possível com a utilização de novas tecnologias de gerenciamento. (BIRLILES, 1968: 62)

A falta de perspectiva a médio e longo prazo sempre foi o principal empecilho ao investimento no pré-moldado, pois a infra-estrutura necessária, os equipamentos e a preparação da mão de obra especializada que representam um investimento inicial relativamente alto faz com que se pense duas vezes antes de se lançar nesse mercado. (CODEG, 1986: 5)

Outro fator que influencia é a falta de tradição em construções com elementos préfabricados e industrializados que leva o consumidor ou usuário ter sempre receio de optar pelo pré-fabricado, tanto para a moradia como para outras atividades, simplesmente pelo receio ao desconhecido ou informações distorcidas. (CODEG, 5)


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FIGURA 3.3-3 - Le Modulor Foto do autor

FIGURA 3.3-4 - Alvin Tofller Fonte: www.skypoint.com

São as vantagens inerentes à pré-fabricação ou seja a rapidez e limpeza dos canteiros, o reduzido desperdício de materiais e a certeza antecipada da qualidade e resultado estético final da construção. (SILVEIRA, 1986: 12)

O arquiteto suíço Charles Édouard Jeanneret, o Le Corbusier, seguindo os ditames da Arquitetura Internacional impostos pelo Congresso Internacional de Arquitetos Modernos (CIAM) que ajudou a estruturar, criou o Le Modulor, a síntese dos valores antropométricos de um Homem Tipo, espelho de uma visão modular de mundo que surgia com a industrialização.

Figura 3.3-3

É fato, que esta proposta de sintetização do ser humano a padrões que se relacionam matematicamente seguindo a lei dos segmentos harmônicos e que se institucionalizou como norma a ser seguida por todo o globo por um longo tempo, não pode ser mais adotado enquanto verdade absoluta. TOFFLER (1991), escritor


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americano, autor da teoria da Terceira Onda, fez cair por terra a idéia deste homem padrão. Nomeou como Primeira Onda a fase artesanal dos processos produtivos, de Segunda o período da industrialização e acentuou a Terceira, fase atual em que se encontra a humanidade, como a da informação. Figura 3.3-4

Nesse período o indivíduo é um ser único e precisa ser atendido de forma ímpar. É fundamental que se trate os diferentes de maneira desigual. Trabalhar, ou mesmo projetar considerando o homem - médio ou um indivíduo padrão é, certamente, garantir que uma boa parte da população não esteja sendo bem atendida por aquele produto. Dessa forma, como se sentiriam os indivíduos extremos deste Universo, situados a mais de três desvios - padrões desta média, ou mesmo os que necessitariam de um tratamento especial, como o caso dos deficientes. A Segmentação de Mercado se tornou algo imperioso.

A análise modular da edificação, associada ao atendimento das necessidades individualizadas, se impõe como meta. O módulo é fator determinante de uma produção industrializada e o atendimento individualizado é plenamente efetuado utilizando-se das ferramentas computacionais disponíveis no mercado.

É

fundamental que o projetista conheça o seu nicho de mercado, o seu usuário final da edificação. O Projeto deve ser definido tendo estes determinantes como parâmetros.

Não se poderá obter o máximo rendimento de nossa tecnologia moderna antes que o produto e o processo evoluam, antes que ambos os conceitos sejam entendidos e adaptados um ao outro. (BENDER, 1976: 22)


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Não é possível que a construção avance industrialmente com eficácia sem o arquiteto, se ao projetar, não se tem um total conhecimento de todos as atividades inerentes ao processo de execução da obra; nem é possível administrar a construção, a montagem de elementos arquitetônicos, se a empresa construtora resolve seus problemas de execução e de industrialização da construção prescindindo da intervenção do arquiteto. (BIRLILES, 1968: 20)

A coordenação modular baseada na tomada de um módulo básico, de seus múltiplos ou sub-múltiplos, tem por objetivo primordial conseguir uma coordenação dimensional que nos leve a uma verdadeira industrialização ...por

sua

vez,

a

Organização Internacional de Normalização (ISO) realiza também estudos modulares. (BIRLILES, 1968: 41)

A dimensão de um módulo deverá ser suficientemente grande para poder estabelecer uma correlação conveniente entre as dimensões modulares dos elementos e os espaços modulares de um plano...se deverá reduzir a excessiva variedade das atuais dimensões dos elementos construtivos. (BIRLILES, 1968: 42)

Ainda segundo BIRLILES (1968: 52): “o progresso das combinações modulares e da industrialização depende do sucesso no desenvolvimento de detalhes para junções, que serão seguramente mais fáceis de normalizar nos sistemas abertos do que nos fechados”.


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Existem conceitos de dimensão que precisam ser perfeitamente definidos e plenamente entendidos: os erros e as tolerâncias são imprescindíveis para se abordar problemas que envolvem a coordenação modular. (BIRLILES, 1968: 58)

De fato, é incontestável no meio acadêmico e empresarial de ponta que a industrialização é a solução para a produção de bens de qualidade, com menor custo de produção e maior rentabilidade. O desconhecimento do consumidor final destas vantagens, associada a uma certa inércia da classe empresarial motivada por: uma concorrência praticamente inexistente com empresas industrializadas, uma insegurança no real retorno do capital investido, uma oferta de mão de obra desqualificada e abundante, além da incapacidade do consumidor final de definir referenciais de compra, fazem com que a industrialização esteja ainda pouco presente no território brasileiro. Certamente a presença intensa da tercerização e da quarterização, seguindo os países de Primeiro Mundo, chegarão também ao Brasil e certamente fundações, vedações, esquadrias e até mesmo as instalações prediais passarão por processos de racionalização, mecanização e automação.

Hoje em dia praticamente todo o mundo crê que a morada industrializada resolverá o problema. (BENDER, 1976: 26)

...as mudanças que afetam a estrutura da indústria: 1. A construção enquanto operação de montagem. Temos podido observar que a introdução das técnicas de produção maciça e dos elementos préfabricados tem eliminado o que de artesanal havia nas tecnologias construtivas e o


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pequeno empreiteiro tem sido substituído pelo empresário da indústria da construção; 2. O papel do fabricante evoluiu a medida que seu produto se relaciona mais especificamente com o edifício. (BENDER, 1976: 30)

Como complementação dessa fase teríamos no futuro os kits elétricos, hidráulicos e demais elementos que dinamizam o conjunto final da construção. (MARCHI, 1986: 7)

A capacidade de produção de casas Camus, ao final de 1967, será de 144 casas / dia, o que ao se considerar 250 dias de trabalho ao ano, pressupõe-se uma produção anual de 36.000 casas. (BIRLILES, 1968: 68)

A distribuição de fábricas por países e suas capacidades anuais:

Países França

Rússia

Alemanha Argélia Grã-Bretanha

Itália

Capacidade anual de produção de casas 2.000 1.000 1.500 500 4.000 4.000 8.000 1.250 1.000 1.000 500 1.000 1.250 1.250 2.000 2.000

Turnos de trabalho 1 2 2 1 2 2 2 2 2 1 1 1 2 2 2 2


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Espanha JapĂŁo Venezuela (BIRLILES, 1968: 69)

2.000 em fase experimental em fase experimental

2 -


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Capítulo IV - MATERIAIS E TECNOLOGIAS UTILIZADAS NA CONSTRUÇÃO HABITACIONAL

4.1. - Tecnologias utilizadas na construção civil

...as experiências de vida nas cidades eram muito diversas das zonas rurais e a geração que se urbanizava abandonava insensivelmente muitos dos valores tradicionais . (BASTOS, 1976: 129)

Pesquisas mais recentes, como as de GRIBBIN (1986), MAFFEI (1989) e WEINBERG (1977), levam a crer que o surgimento do universo, o que se convencionou chamar de big-bang, tenha ocorrido há aproximadamente quatorze bilhões de anos. O globo terrestre surgira, dentro da Via Láctea, há 4,6 bilhões de anos e na Terra, os dinossauros habitaram por cerca de cem milhões de anos, desde 230 milhões a.C. Achados mostram que a presença do ser humano é bem recente nessa história, pois datam de 1,5 milhão de anos antes do nascimento de Jesus Cristo.

No início, na idade da pedra lascada, o Paleolítico, o homem era nômade e dedicado à caça, à pesca e ao extrativismo vegetal. Habitava em cavernas naturais, em abrigos no alto das árvores, construíam paliçadas com a vegetação local e tendas com os couros dos animais abatidos. Não se preocupavam na execução de moradas permanentes, pois tinham de se deslocar muito a procura de víveres para a


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sua manutenção.

Provavelmente esguios, famintos, os habitantes do Paleolítico

devem ter procriado pouco, pois a necessidade de sobrevivência suplantava o instinto sexual. O desejo só se expressou com maior intensidade quando a fome foi aplacada. O ser humano não tem o desejo da carne, quando a carne não se faz presente dentro de suas entranhas.

O questionamento sobre a morte fez com que o lado mítico do homem surgisse. A primeira forma de apreensão do conhecimento é através do empirismo. O homem leva a mão ao fogo e a queima, isso o faz entender que não deve se aproximar da chama, pois essa lhe provocará a dor. Fatos na natureza há, que não conseguem ser explicados pelo ser humano através do aprendizado empírico. Nesse instante surge a segunda forma de apropriação da realidade, o conhecimento místico. O ser humano, através de sua razão e de sua vontade, atribui à deidades as forças necessárias para a realização de feitos que este não pode materializar. O conhecimento metafísico, filosófico, advém dos gregos e o científico só apareceu após a idade média, com o surgimento das universidades.

FIGURA 4.1-1 - Múmia pré-colombiana do Chile

Essa necessidade deSuper entender a morte fez com que o homem passasse a Fonte: - interessante valorizar mais os seus mortos e campos, para eles considerados santos, foram


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criados para a sua guarda. Podem ser encontradas na América do Sul, na região da cordilheira dos Andes, vasos funerários de pré-colombianos. Alguns grupos indígenas do norte da Austrália comiam as carnes dos defuntos, como forma de preservação das suas qualidades. Havia a necessidade do homem pré-histórico de não se afastar tanto dos cemitérios, pois necessitavam realizar seus funerais quando dos óbitos. A necrópoles, cidade dos mortos, fez com que o ser humano desejasse ser sedentário, passando a criar a sua caça, a cultivar o seu alimento e a construir moradas permanentes. Figura 4.1-1

Da cidade dos mortos surge a aldeia dos vivos do Neolítico. Palafitas, construções com pedra arrumada, casas de taipa, abrigos em adobe e edificações com tijolos são erigidas. Cavernas passaram a ser escavadas e monumentos megalíticos, como os Dólmens, estrutura de pedra na forma de mesa, Menhires, obeliscos de pedra e Cromleches, estruturas circulares elaboradas com pedras, passam a ser montadas para o culto aos elementos e as forças da natureza, que não conseguiam ser explicadas através da capacidade inventiva do habitante da pré-história. As fêmeas usaram do volume dos seus seios para moldar na argila as vasilhas que passaram a guardar os mantimentos e do pacto agricultor - caçador se fundamenta toda a estrutura filosófica da cidade. São entendidos como agricultores todos os que produzem e os caçados os que mantêm a posse dos bens e a integridade dos cidadãos. Figura 4.1-2 A pedra lapidada e empilhada passa a ser a tônica das construções monumentais. A argila, nas suas diversas formas de aplicação, é utilizada nas edificações toscas e pobres. A argamassa é invenção romana. Templos, acima do


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solo e encravados nas montanhas, os Speos, são construídos pelos antigos egípcios. Túmulos são erigidos para os nobres, as Mastabas, para os faraós as Pirâmides e templos funerários foram igualmente encravados nas montanhas, os Hipogeus. Residências, palácios e vilas operárias, também foram construídas nas diversas dinastias egípcias.

Uma grande dúvida que paira no ar e que fomenta o trabalho de pesquisadores de todo o mundo: que métodos construtivos utilizavam os egípcios para a realização de monumentos envolvendo pedras de dimensões colossais e como essas eram transportadas da Etiópia para o delta do rio Nilo, uma distância aproximada de 1.000 km.

Ensaios foram realizados colocando obeliscos em

embarcações feitas com fibras vegetais, construídas seguindo padrões da época.

FIGURA 4.1-2 - Stonehange - Wiltshire, Inglaterra.

Fonte:

www.activemind.com O transportar dos obeliscos não era tarefa tão difícil, mas o colocar das peças

nas embarcações demandava de aprimorado cálculo de esforços, equilíbrio e deslocamentos, para que as pedras não tombassem no rio ou para que a embarcação não afundasse. O transportar dos blocos de pedra por toda uma região


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desértica, também necessitava de tecnologia. Deviam os egípcios rolar as pedras por sobre toras, que teriam de estar apoiadas em pranchas de madeira, para que não enterrassem na areia. O tracionar das pedras também necessitava de um certo engenho: teria de ser feito por muitos operários, que, ao mesmo tempo, deveriam exercer esforços contínuos e repetidos. Figuras 4.1-3 e 4.1-4

Ao atingir o local das edificações, as pedras precisavam ser empilhadas, um esforço redobrado era demandado e provavelmente enormes planos inclinados executados em areia viabilizaram as construções. Por fim, colocar obeliscos em pé e criar vãos através do apoio de uma pedra na outra demandaria, provavelmente, do escoar monitorado de volumes de areia, possibilitando a movimentação progressiva e controlada dos blocos.

FIGURA 4.1-3 - Pirâmides, Egito. Fonte: www.companyservices.nu

FIGURA 4.1-4 - Pirâmides, Egito. Fonte: www.companyservices.nu

Na Mesopotâmia, região localizada entre os rios Tigre e Eufrates, o que corresponde hoje a parte dos territórios da Síria, Iraque e Turquia, habitavam povos como os Assírios, famosos pela crueldade, Caldeus, responsáveis pelo Código de Hamurabi e os jardins suspensos da Babilônia, os Sumérios, que criaram a forma de escrita cuneiforme, os Hititas e os Hebreus, importantes pelos relatos bíblicos, os


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Fenícios, grandes navegadores e os nômades Persas.

Nessa região, por estar entre rios,

o material argiloso foi amplamente

utilizado. Cidades da Mesopotâmia são anteriores às do antigo Egito. Muitas delas foram total ou parcialmente destruídas pelas guerras sucessivas. Os povos daquela área do globo terrestre são, por instinto e característica, extremistas e beligerantes. A notoriedade do Egito se dá pela utilização da pedra como material de construção, muito mais durável que os produtos a base de argila. O Zigurat, um misto de templo e de observatório da abóboda celeste, foi a edificação que mais se destacou na região.

FIGURA 4.1-5 - Egito Fonte: www.historiaarte.com

FIGURA 4.1-6 - Mesopotâmia Fonte: www.historiaarte.com

FIGURA 4.1-7 - México Fonte: www.historiaarte.com

Outra coincidência que intriga os pesquisadores: essa edificação guardava aspecto formal semelhante com as Mastabas egípcias e com os templos Astecas e Maias - civilizações pré-colombianas que habitaram áreas do México, América Central e noroeste da América do Sul. A mesma proposta física para regiões tão distantes do globo terrestre. Coincidência intelectual ou fruto de grandes migrações. Figuras 4.1-5 ; 4.1-6 e 4.1-7


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A civilização grega foi a que mais contribuiu com conceitos relacionados ao espaço urbano e à edificação, para com a história da humanidade. Cópias de modelos gregos até hoje são reproduzidas. Os romanos foram os primeiros a se inspirar na civilização helênica, depois vemos na Idade Média os que integraram a chamada era cristã primitiva. O Renascimento foi uma releitura do ideário grego. O neoclassicismo se utilizava dos frontões triangulares e das colunas greco-romanas na sua linguagem e o Pós-moderno fecha a série de copistas. O mármore foi amplamente utilizado na ilha de Creta pela civilização minoica, gênese da grega, em Micenas, norte da Grécia e nas cidades - estado de Atenas e Esparta, as mais famosas da cultura helênica. Templos, teatros, odeons, ágoras, pórticos, estádios, hipódromos e ginásios são algumas de suas contribuição para os povos que os sucederam ou os imitaram.

Os romanos se utilizaram muito do arco em suas edificações. Foram exímios construtores de aquedutos e pontes. Os aquedutos traziam as águas das nascentes e fontes para as edificações e as pontes eram fundamentais para a suas conquistas, pois viabilizavam o transpor contínuo dos rios pelas tropas. Fizeram fóruns, locais para comércio, templos, basílicas, centros de contratação e tribunais públicos, termas para o deleite dos césares e anfiteatros, que possibilitavam as batalhas navais, as lutas entre gladiadores e o sacrifício dos cristãos, entregue às feras. O Coliseu, o maior dos anfiteatros romanos, recebeu uma coberta removível executada em couro e toras de madeira, o que possibilitava o seu uso durante todo o ano. Outro prodígio da engenharia romana para o Coliseu, foi a construção de um piso de madeira que separava a área dos espetáculos do subsolo, que abrigava homens


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e feras, com capacidade de suportar uma lâmina d’água que viabilizava a execução das batalhas navais. Figuras 4.1-8 e 4.1-9

O teatro romano guarda uma sutil diferença para o grego que o inspirou. Enquanto os gregos se utilizaram das encostas das montanhas para assentar o público e de vasos cheios de água para melhorar a acústica, os romanos se utilizaram do sobrepor de colunas, até em estilos diferentes: dórico, jônico e compósito, para apoiar a platéia.

FIGURA 4.1-8 - Terma de Caracala, Roma autor

Foto do

FIGURA 4.1-9 - Detalhe Coliseu, Roma autor

Foto do

De fato, romanos e gregos, apesar da proximidade espacial eram povos bem diferentes. Os homens gregos eram cultos, democratas e puros nos seus comportamentos. Usavam de espaços públicos para as suas necessidades fisiológicas e para o exercício da libido sexual, sem constranger os que estavam a volta. Os romanos eram guerreiros, soldados que subjugavam os vencidos e os obrigavam a comportamentos pervertidos. Os gregos cultuavam comportados festejos pagãos e os romanos orgias homéricas.


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Foi a pólvora, na Idade Média, a determinante de uma mudança drástica na maneira de produzir edificações. Na era cristã primitiva, após o fenômeno de desurbanização provocado pelos bárbaros ao expulsar os romanos dos territórios conquistados, o sistema feudal se implantou. Latifundiários igualaram o seu poderio ao dos reis. Pactos foram efetivados entre os cavaleiros medievais e a igreja para cristianizar os bárbaros, minimizando a sua fúria. Foi nessa época em que a igreja ampliou, enormemente, o seu patrimônio. Castelos foram construídos, nas curvas dos rios e nos flancos das montanhas, por necessidade estratégica, com paredes espessas de pedra, de modo a melhor resistir aos impactos produzidos por petardos lançados de cataputas. As edificações eram escuras e sombrias. As guerras contínuas produziam o confinamento, o adensamento das cidadelas, e o aparecer de endemias e epidemias, chamadas na época de pestes. Figuras 4.1-10 e 4.1-11

De Veneza, cidade do nordeste da Itália, partiram viajantes, entre eles Marco Polo, para o extremo oriente. De lá trouxeram a pólvora, utilizada pelos chineses nos festivais e aperfeiçoada pelos europeus para a arte da guerra. O impacto produzido por pelotas de aço impulsionadas por pólvora, inviabilizava as construções espessas de pedra, que eram facilmente destruídas nas guerras. Uma nova estratégia teve de ser implantada: construíram-se fortificações, principalmente no Renascimento, em pontos avançados das cidades, de modo a antecipar a defesa e as edificações puderam receber, no Gótico, grandes aberturas que emolduravam vitrais, que possibilitavam a iluminação interna dos ambientes. As arquiteturas Islâmica e a Bizantina, do médio oriente, influenciaram muito as construções medievais e suas riquezas de detalhes e os mosaicos foram copiados e reproduzidos. A verticalização


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dos edifícios foi uma tônica no período gótico. O elevar do pé direito reforçava a idéia cristã de pequenez diante de um ser supremo.

Os burgueses, habitantes dos burgos, cidades, dedicados ao comércio, que se viram prejudicados, nas suas atividades mercantis, por terem de pagar pedágios nas terras dos senhores feudais, trataram de fortalecer a figura do monarca. O absolutismo se implantou na Europa no período Renascentista.

FIGURA 4.1-10 - Castelo no vale do Rhein, Alemanha Foto do autor

FIGURA 4.1-11- Neuschwanstein, Alemanha Fonte: Scala

As cidades descem das colinas para as planícies, como soíam ocorrer em períodos anteriores. Traçados regulares passam a acontecer. Os valores estéticos suplantam os práticos. As ruas passam a irradiar, traçado radio-concentrico, de uma praça central, sede do poder - local de implantação do palácio. Igreja e Catedral, em oposição ao que ocorria na Idade Média, passam a ter grande destaque em praças ajardinadas, decoradas por obeliscos, colunas e fonte. Vias e praças são edificadas dentro de princípios da mais rígida simetria e proporção. Ruas largas acentuaram o caráter monumental. Não existiam, a rigor, cidades renascentistas, mas cidades medievais com bairros modificados por edificações renascentistas.


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Com o advento do mercantilismo, primeira forma de globalização no entender dos historiadores, e com as grandes navegações, ocorridas no Maneirismo, último período do Renascimento, e nesse ponto se deve dar um destaque ao maneirismo português denominado estilo Manuelino, uma homenagem à D. Manuel, rei de Portugal, iniciou-se a conquista das Américas. Portugueses e Espanhóis dividiram o mundo pelo Tratado de Tordesilhas e empreendem suas conquistas a novos territórios, como conseqüência direta da necessidade de descoberta de um novo caminho para as Índias, local de produção das especiarias, tão demandas por nobres e fidalgos e tão complicadas de acessar através do tormentoso mar do sul da África.

Colombo, um navegador genovês, italiano, a serviço do rei de Espanha, chega em terras da América Central. O espanhol Vicente Pinzón aporta nas costas cearenses, sem poder tomar posse, imposição do Tratado de Tordesilhas. Cabral parte do Algarve, sul de Portugal, e chega à Bahia. Foram, de fato, os normandos os primeiros europeus a tocarem o solo americano. Erick, atendendo a um pedido de seu pai, o Barba Ruiva, chega ao Labrador, hoje região pertencente à província de Quebec no Canadá.

No período contemporâneo, o tecnicismo, a necessidade de fabricar, industrializar e construir, conseqüência direta da Revolução Industrial e o aparecimento do automóvel, modificaram os processos construtivos e o desenho do espaço urbano. O concreto e o aço passaram a ser utilizados intensamente na construção civil. Nos Estados Unidos o traçado urbano é definido de forma


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retangular, com áreas destinadas a parques urbanos, exceções feitas as cidades de New York, Washington, Detriot e Chicago, com marcada interferência concêntrica. A Circulação se torna uma grande chaga urbana e várias soluções são tentadas para equacionar o problema dos nós. Figuras 4.1-12 e 4.1-13 FIGURA 4.1-12 - Nova York. Fonte: www.ted.com

FIGURA 4.1-13 - Detroit. Fonte: www.visitdetroit.com

No Brasil, as grandes residências de subúrbios herdam os conceitos das chácaras coloniais e transmitem esses fundamentos para as moradas urbanas. Edificações construídas sem recuo de frente passam a dispor de recuos laterais e de fundo. Pomares enfeitam e conferem um certo ar bucólico, típico da área rural, às edificações da cidade.

Já no século XX, iniciou-se uma verticalização acelerada das grandes cidades, sem a devida consideração dos aspectos urbanísticos - edifícios são construídos sem recuos. Após a Semana de Arte Moderna de 22, passaram os projetista e construtores a se utilizar mais da tecnologia presente e a ocupar melhor os terrenos, desfrutando do que foi convencionado chamar de “planta livre” . O desenho de Brasília constitui-se em uma das mais importantes experiências


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arquitetônicas e urbanísticas do século XX.

Surgem os urbanistas utópicos, planejadores intencionados em minimizar os impactos na cidade provocados pela sede fabril. Arturo Soria y Mata define as diretrizes da Cidade Linear: uma rua central de 500 m de largura que comportaria rodovia, ferrovia, infra-estrutura urbana, jardins e pequenos edifícios para o comércio, serviços e equipamentos urbanos; Haussmann estrutura um sistema de bulevares para a cidade de Paris, por solicitação de Napoleão III e Camilo Sitte se preocupa com o urbanismo estético, o que chamou de Antiurbanismo: uma estrutura orgânica, um sistema vivo, uma oposição diretas as idéias de Haussmann. A Cidade Jardim, definida por Ebenezer Howard, serviu de modelo para diversas localidades brasileiras. Tony Garnier cria a Cité Industrielle. Le Corbusier define o Plano Voisin para a cidade de Paris e estrutura a La Ville Radieuse para a Rússia. As diretrizes da Broadacre City são definidas por Frank Lloyd Right e Alvar Aalto e as New Towns de Barry Parker e Raymond Unwin se derivam das cidades jardins, inspiradas no urbanismo de Camilo Sitte e nos conceitos de unidade de vizinhança. As Cidades Satélites são propostas por urbanistas suecos para a cidade de Estocolmo. As reconstruções ocorridas no pós-guerra dão margem a ensaios de urbanistas.

Fica muito mais fácil se definir as características preponderantes das manifestações arquitetônicas, quando essas já ocorreram há muito tempo. A quantidade de estilos, movimentos, correntes e escolas da atualidade é muito grande, mas cumpre ressaltar, por suas interferências no Brasil ou seu destaque na arquitetura e no urbanismo do globo terrestre: o Neoclássico, que confere uma nova


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leitura no ideário grego; o Art and Craft (arte e oficio), que faz uma oposição direta à produção industrial, pois preconizava a realização de objetos arquitetônicos únicos; a Bauhaus de Walter Gropius e Mies van der Rohr, expurgados de terras alemãs para solo norte-americano por determinação de Hitler, que definiu para o Dritte Reich uma estética neoclássica, por ser mais coerente com a filosofia militarista reinante; o Modernismo, a chamada Art Nouveau, que conferiu curvas e temáticas florais para adornos apostos às edificações; o Expressionismo, que teve nos detalhes das linhas do arquiteto catalão Gaudi, uma de suas mais fortes personalidades; o Estilo Internacional de Oscar Niemeyer e Le Corbusier, que criava padrões globais e inseria o homem dentro de paradigmas que desconheciam os seus valores culturais e os componentes regionais; o Ecletismo que tentou, a semelhança do Esperanto, fundir várias propostas arquitetônicas; o Futurismo dos visionários japoneses, que pretenderam até criar cidades flutuantes na baía de Tóquio; o Pós-moderno, recém implantado na cidade de Fortaleza e que já consegue ser contemplado em várias edificações; o High-Tech que traz de volta o abuso e a hiper - valorização

do

tecnicismo e o Desconstrutivismo de Peter Eisenman e Frank Gehry, que colocam a prova os conceitos estéticos e a capacidade de organização mental do cidadão cosmopolita.

Figuras 4.1-14 e 4.1-15

FIGURA 4.1-14 - Frank Gehrt, Bilbao. Fonte: www.greatbuildings.com FIGURA 4.1-15 - Peter Eiseman, Tokio.


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4.2. - Os compósitos, os vidros e os metais na construção civil

O que vai exigir, talvez para ser um bom negócio, é que o concreto vai perdendo escala para a estrutura mais leve, talvez metálica, peças pré-fabricadas de alumínio, fibrocimento, etc. (AMBROGINI, 1986: 10)

De fato um ponto crucial no desenvolvimento de novas tecnologias é o conhecimento e o domínio dos materiais. A construção civil tem utilizado de materiais e métodos construtivos descobertos na pré-história. São ainda do Neolítico a taipa de pilão, a taipa de sopapo, o adobe e o tijolo; amplamente empregados na construção civil brasileira, principalmente na destinada à habitação popular. O vidro teve no período Gótico um uso intenso. Entre os materiais desenvolvidos recentemente, para serem utilizados nas edificações, podem ser destacados os metais, com profusão de uso a partir do século XIX, com o advento do Neoclassicismo e o Plástico, uma criação do século XX. Entender bem esses materiais é de fundamental importância para o desenvolvimento de novas tecnologias.

...Independente do campo de trabalho, a limitação final do desenvolvimento está no material utilizado. (CHAWLA, 1987: 1)

Que necessidade básica impele pesquisadores na procura de alternativas para os materiais de construção tradicionais? O custo é o fator preponderante,


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associado a escassez de algumas matérias primas, como é o caso da madeira, e a necessidade de produção em série imposta pela Revolução Industrial.

Estas mudanças vão ocorrendo fruto do resultado de uma aceitação dos métodos e das técnicas de fabricação industrial. Três forças paralelas os impelem: 1. O desenvolvimento de grandes corporações de construtoras capazes de levar a cabo programas de edificações que minimizem os efeitos da Depressão e da Segunda Guerra Mundial; 2.

A adaptação de novos materiais tais como o plástico, os

compensados de madeira e o aço de alta resistência, que têm sido desenvolvidos por indústrias tecnicamente mais avançadas do que as que se envolvem com a construção civil; e 3. O rápido desenvolvimento dos métodos de industrialização que teve lugar depois da Segunda Guerra Mundial, como resposta à escassez de moradas, de trabalhadores qualificados e de materiais. (BENDER, 1976: 26)

Um outro fator que se apresenta como importante neste final de século e início de uma nova era é o atendimento individualizado dos usuários dentro de processos industriais de fabricação, a Segmentação de Mercado. Indivíduos culturalmente diferentes, sujeitos a imposições climáticas singulares não podem habitar edificações tipologicamente semelhantes. A globalização define mercados bem amplos, mas o transpor da curva que delimita o limiar de sobrevivência do homem, que corresponde a um custo fixo de manutenção de suas necessidades primárias, torna-o mais exigente com relação ao atendimento de requisitos básicos


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de qualidade de vida. Embora, no Brasil, boa parte da população ainda viva em condições bem precárias, existe um grupo bem significativo de intelectuais, políticos e religiosos, que já transpuseram as suas próprias curvas do limiar de sobrevivência e instruem as populações menos abastadas a demandar produtos diferenciados, enquanto exercício de cidadania.

A indústria, os centros de pesquisas e as universidades, conscientes desses movimentos sociais procuram encontrar maneiras para atender as populações, enquanto formula para a sobrevivência das empresas, dentro de uma estrutura hoje globalizada e no cumprimento do papel social das instituições. Por essa razão é que foram desenvolvidos, a guisa de exemplo, máquinas que misturam tintas, rolos que aplicam diferentes texturas nas paredes, casas pré-fabricadas, tubulações, telhas e resinas ecologicamente corretas.

FIGURA 4.2-1 - Produção de esquadria em PVC Fonte: www.esquadria.net

Algumas dessas tecnologias já estão sendo plenamente utilizadas, outras não deram os resultados esperados e foram descartadas, outras ainda perseguem os


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seus objetivos e lutam para conseguir aceitação popular. O Policloreto de Vinila PVC é um desses exemplos, começou a ser utilizado nas instalações prediais em substituição aos dutos metálicos, que diminuíam as suas seções internas, através do acúmulo de material oxidado, quando em contato com o oxigênio presente na água. O PVC também foi utilizado na forma de réguas, enquanto revestimento para forros e fachadas e hoje tenta conseguir o seu espaço comercial na forma de esquadrias ou mesmo de material constituinte de divisórias. Figura 4.2-1

...o Policloreto de Vinila, ou simplesmente PVC, conquistou novos espaços em pisos, coberturas, caixilhos e outros itens das edificações. Afinal, ele é um plástico versátil, reciclável, que admite várias formulações e pode funcionar como matéria rígida, flexível ou espuma. (TÉCHNE, 1993: 18)

FIGURA 4.2-2 - Produção em aço Fonte: www.sebes.com.br

Outro material bastante presente na construção civil norte - americana e que começa a aparecer no cenário nacional é o aço. Elemento construtivo que supera qualquer outro utilizado na construção civil, quando se analisa a relação: peso


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próprio - resistência do material. Só para se ter uma idéia: ao se comparar um painel divisório executado em aço com uma vedação semelhante construída com alvenaria convencional, a relação entre os pesos próprios guarda proporções de um para três. Figura 4.2-2

Uma vantagem do emprego deste material na construção civil brasileira está exatamente nesta citada proporção de resistência - peso: consegue-se vencer vãos significativos sem a aposição de pilares, garantindo aos projetistas uma grande flexibilidade na configuração das unidades espaciais do edifício construído. Uma outra vantagem é que o Brasil possui grande quantidade de minério de ferro, matéria prima utilizada na produção do aço, principalmente nas regiões lindeiras à capital do estado de Minas Gerais, Belo Horizonte.

O aço possibilita ainda a

produção industrial das edificações, por meio da utilização de perfis, vigas, cantoneiras e barras, produzidas em bitolas que variam de 1/4” a 1 3/4” e adotando formas: chatas, circulares, quadradas ou em perfis moldados com desenhos específicos para atender as diversas necessidades. Figura 4.2-3

As empresas que comercializam o aço, nesses últimos anos, têm investido maciçamente no profissional que projeta e constrói; assim como, nos estudantes de Arquitetura e Urbanismo e Engenharia Civil. Perceberam que uma boa estratégia de divulgação do produto é a capacitação dos envolvidos com a sua utilização, por esta razão oferecem palestras, seminários e cursos, assim como catálogos e aplicativos computacionais que facilitam os dimensionamentos e as especificações.


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As primeiras tentativas de fabricar casas metálicas...fracassaram após o surgimento de inesperados problemas de funcionalidade de distribuição e custo de produção, que associados a falta de flexibilidade e a singularidade de seus desenhos não tornaram possível a margem de lucro necessária ao desenvolvimento de Estruturas de Mercado. (BENDER,1976:34)

O que vai exigir, talvez para ser um bom negócio, é que o concreto vai perdendo escala para a estrutura mais leve, talvez metálica, peças pré-fabricadas de alumínio, fibrocimento, etc. (AMBROGINI, 1986:10)

FIGURA 4.2-3 - Construções em Aço

Fonte: PROJETO

Por outro lado, os fabricantes se deram conta que na indústria da construção civil podia existir um grande mercado para os plásticos, sem que fosse necessário empregá-los enquanto componentes estruturais. (BENDER, 1976: 33)

Já se observa com certa facilidade, principalmente no sudeste e sul do país a utilização de edificações efêmeras pré-fabricadas em metal. Galpões industriais,


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abrigos temporários para canteiroS de obra e ambientes móveis para a assistência social, já são produzidos em chapas metálicas. A condutividade térmica dos metais associada as características climáticas do país; assim como limitações nos processos de produção fizeram com que fracassassem as tentativas de utilização deste material de forma mais ampla nos abrigos permanentes.

O construtor de edifícios completamente pré-fabricados espera melhorar o seu produto e a comercialização deste, conseguindo, desta forma, aportes substanciais e maior rendimento da mão de obra, a partir da repetição de operações idênticas, além de poder melhor utilizar o maquinário e os equipamentos especiais. Confia em poder dispor de maior número de oportunidades de projeto, pesquisa, controle de custos e performances e, em geral, em conseguir o melhor proveito possível das novas tecnologias de gestão. (BIRLILES, 1968: 62)

A casa pré-fabricada não é nada mais que uma casa realizada por completo na indústria e planejada para ser montada na obra. (BIRLILES, 1968: 35)

Segundo um recente estudo, a utilização de sistemas de construção tem reduzido pela metade o número de homens-hora empregados pelos construtores europeus para produzir um determinado módulo de casa. (BIRLILES, 1968: 74)

A utilização dos metais, enquanto ferramentas, data do início da história da humanidade. Os bárbaros, que habitavam a Europa e parte da Ásia, forjavam os seus instrumentos de guerra e de conquistas. Os cavalheiros medievais trouxeram


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os metais para as suas indumentárias e construíram armaduras. O Renascimento colocou, também na arte os metais: esculturas eqüestres e portas de bronze passaram a adornar cidades e edificações. Finalmente, a Revolução Industrial leva os metais para os edifícios e prédios neoclássicos são construídos com estrutura de ferro e o aço passa a fazer parte dos sky-scrapers americanos do período pós Escola de Chicago.

Chamam-se aços as ligas ferrosas que são geralmente aptas à moldagem a quente com exceção de certos aços de alto teor de cromo, eles têm um teor de carbono igual ou inferior a 2%, teor limite que os separa dos fundidos...O aço é obtido pela descarbonização do ferro fundido, este mesmo produzido em altos fornos, a partir de minerais de ferro. Esta descarbonização consiste em queimar o carbono excedente. (DURIEUX, 261)

O aço é produzido nos altos fornos das siderúrgicas, a partir da descarbonização de minerais de ferro e distribuídos na forma de lingotes, barras de metal fundido. Esses lingotes são adquiridos por indústrias que os transformam em produtos acabados: laminados, vigotas, fio-máquina, trilhos, chapas, tubos, produtos revestidos ou folheados, como é o caso das chapas galvanizadas ou pré-pintadas. Esses produtos ainda podem receber uma outra transformação, antes de sua utilização final pelos consumidores, como no caso dos perfis vazados (os tubos), dos perfis forjados a frio, dos trefilados (cabos) e dos elementos reconduzidos por soldagem, empregados na execução de vigas de alma vazada.


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Além dos aços, normalmente empregados nas estruturas, as ligas leves, conseguidas a partir de metais como: Alumínio, Cobre, Magnésio, Manganês, Cromo, Silício, Zinco, Níquel, Chumbo e Titânio, que apresentam características mecânicas e físicas sensíveis diferentes dos aços, ajudam a constituir as edificações, embora raramente sejam utilizados em estrutura de edifícios, e freqüentemente são encontrados em comunicadores visuais, nas esquadrias, nos revestimentos de fachadas, forros e pisos, em cobertas e nas divisórias.

...será considerado aço para perfilados destinados a execução de estruturas de aço todo o ferro forjável sem necessidade de tratamento. (GUEDES, 1987: 29)

As ligas de Alumínio, considerados os requisitos de aspecto decorativo, inércia química ou resistência a corrosão e resistência mecânica, serão selecionados entre os grupos... Grupo binário: ligas do tipo Al-Mn, Al-Mg Al-Si e Al-Mg2Si. Grupos terciários ou mais complexos: Al-Mg-Si, Al-Mn-Si, Al-Mn-Mg, Al-Cu-Si etc. (GUEDES, 1987: 40)

...chapa zincada (CZ) é uma chapa fina de aço, de baixo teor de carbono, revestida em ambas as faces com uma camada de Zinco, aplicada por imersão da chapa em banho de metal fundido ou por eletroposição...no caso de condições mais severas, as CZ serão produzidas com aço de composição química modificada adição de Cobre. (GUEDES, 1987: 30)


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O grande problema enfrentado pelos aços é a corrosão, oxidação que ocorre quando este fica exposto à presença do oxigênio existente no ar. Uma forma de proteção é o revestimento das peças com tintas, argamassas ou o próprio material oxidado, como no caso dos aços denominados patinados. É esta a solução apresentada para o Alumínio, que ao reagir com o meio ambiente produz a Alumina que o protege de futuras oxidações.

A corrosão é um fenômeno eletroquímico que enseja a deterioração das peças metálicas e a formação da ferrugem. No caso do aço comum não protegido, a ferrugem é uma matéria pulverulenta, sem resistência mecânica e porosa, o que permite a progressão da corrosão no interior da peça. (DURIEUX, 1979: 267)

...que constitui um revestimento protetor à superfície das peças, opondo-se à propagação da oxidação, como nos aços de liga chamados “patinados”. (DURIEUX, 1979: 272)

O Óxido de Alumínio (Alumina) é uma ferrugem branca aderente e impermeável, que constitui um revestimento protetor à superfície das peças, opondo-se à propagação da oxidação... (DURIEUX, 1979: 270)

Artefatos nos mais variados moldes indicam que os egípcios, desde o período pós-mesolítico, conheciam a forma de combinar silicatos na presença de uma fonte de calor e produzir vidro.


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...vidros são complexos químicos resultantes da combinação de dois Silicatos - um alcalino (Potássio de Sódio) e outro terroso ou metálico (Cálcio, Bário, Chumbo etc). (GUEDES, 1987: 136)

A introdução da cana de sopragem no processo de produção fez com que peças incolores e transparentes pudessem ser também obtidas. Os Romanos, nos seus interiores, utilizavam de artefatos de vidro; mas poucos desses puderam ser considerados artigos de luxo. Foi com a utilização dos vidros coloridos, pela introdução de pigmentos no processo produtivo, que estes passaram a ter sua notoriedade no Império Romano do Oriente. Constantino declarou o cristianismo religião oficial de todo o Império Romano e transportou a sede da Corte para uma pequena colônia grega no Bósforo - Bizâncio, hoje cidade de Constantinopla; apreensivo que estava com os iminentes ataques dos ostrogodos da Itália, dos visigodos da Espanha, dos francos da França, dos anglos da Grã-Bretanha, dos germanos da Alemanha; povos bárbaros que reagindo à helenização planejavam invadir a cidade de Roma, no início Da era Cristã Primitiva.

Já na Idade Média, após as Cruzadas, no domínio do Gótico, a cidade de Veneza se tornou o centro da produção de vidro, produção essa que no início do século XVII já havia se espalhada por todo o Velho Mundo, o continente Europeu. O desenvolvimento das ferramentas de guerra foi um dos grandes motivadores dessa expansão. Aríetes e catapultas do Românico induziam a construção de edificações com paredes espessas e contrafortes. O contato com a pólvora, que teve o explorador veneziano Marco Polo nas longínquas terras orientais, e a


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transformação dessa pólvora, de artefato para a geração de fogos de artifício, como determinava a sua origem chinesa, para um componente fundamental quando da introdução do obus enquanto arma de guerra, fez com que o simples empilhar de grossas paredes não fossem mais suficientes para resistir ao impacto produzido por uma bala de canhão; mote para a antecipação das defesas com fortificações avançadas, como ocorreu principalmente no Renascimento e períodos posteriores e a introdução dos arcos botantes e de janelas e vitrais coloridos no Gótico. A religiosidade presente neste período propiciou a verticalização das construções e a abertura de grandes vãos para a entrada da luz e a iluminação dos vitrais com temática cristã.

...era necessário buscar em outras formas e que estas não podiam surgir se não das novas exigências produzidas, sobretudo, pela Revolução Industrial, pela necessidade imperiosa de maior luz, ar e circulação, de bem estar das classes trabalhadoras, de conforto, rapidez e higiene. ( VELARDE, 1993: 197)

A descoberta do concreto armado pelo jardineiro francês Francisco Monnier, em 1868, foi mais um grande passo para a utilização do vidro em grandes painéis na Europa. Em 1892 o engenheiro Hennebique desenvolveu um método para a utilização do concreto armado, ao mesmo tempo que outro engenheiro Coignet publicava os procedimentos para cálculo de vigas, pilares e muros fabricados com esse material. Estava determinado um dos marcos mais importantes da estética da arquitetura contemporânea: grandes vãos de concreto armado entremeados por painéis de vidro guarnecidos por esquadrias de alumínio.


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A resistência se faz por completo através dos marcos estruturais, as paredes não trabalham, são simples divisões, podendo ser substituídas, em alguns casos, para formar grandes vãos abertos ou envidraçados; característica esta fundamental na arquitetura moderna. ( VELARDE, 1993: 201)

Foi Hitler, com sua estética neo-classicista, quem trouxe esses conceitos definitivamente para a América do Norte e depois para o Brasil. Expulsou de solo alemão, no período da Segunda Guerra Mundial, Walter Gropius, Mies van der Rohr e outros arquitetos e estudantes de arquitetura que compunham a escola Bauhaus. O estilo brutalista e tecnicista da Bauhaus e as inovações estéticas da arte contemporânea não convinham aos ideais militares dos nazistas, que cultuavam a raça ariana e uma ideologia centrada em um nacionalismo exacerbado e na força como elemento de propagação ideológica. Nesta nova versão norte americana, Frank Lloyd Wright foi o grande destaque.

Mas um dos grandes mestres contemporâneos da nova arquitetura, não somente na Alemanha mas em todo o mundo, foi Walter Gropius. Sua doutrina procura determinar o que deve ser essencial na natureza da construção ... Há uma notável transparência do interior para o exterior, um conceito estético de super valorização do espaço, da fusão, que recorda o abstracionismo de um Picasso. (VELARDE, 1993: 204)


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O edifício da Bauhaus, com seus laboratórios de desenho e suas cortinas de vidro, foi um expoente desta arquitetura de programas sociais de utilização de elementos pré-fabricados e do jogo harmonioso de cubos brilhantes e aéreos. (VELARDE, 1993: 205)

No nordeste brasileiro o modelo de Partido Arquitetônico definido por Wright para os Estados Unidos pode ser facilmente encontrado. Cortinas de vidro revestem fachadas com plantas livres. Solução interessante para as médias térmicas menos elevadas das cidades norte - americanas, mas perfeitas estufas para o semi - árido nordestino.

O vidro, ao longo da história da humanidade, passou por várias evoluções tecnológicas. No início, peças artesanais utilizadas nos interiores das edificações. Depois, com a criação das canas de sopragem, adquiriu o aspecto transparente e vasilhas e garrafas puderam ser moldadas. O pigmento serviu para dar cor e adornar vitrais e janelas. Películas coloridas entre lâminas de vidro davam um efeito semelhante com um menor custo, por isso largamente utilizadas após a Revolução Industrial. Laminar o vidro foi uma barreira a ser vencida - o material ainda em estado líquido, por efeito de elevada temperatura, é esticado antes de se solidificar lentamente, submetido a um processo de resfriamento controlado. Dar formas curvas as chapas planas se apresentava como um novo desafio, vencido por intermédio de formas desenhadas para fins específicos.


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A- Vidro de Vidraça: O vidro em fusão é esticado mecanicamente e depois de solidificado, a chapa de vidro é posta numa área de recozimento onde se resfria lentamente antes de ser recortada por processos automáticos. Não se efetua nenhum trabalho de polimento da superfície após o resfriamento. (DURIEUX, 1979: 227)

B- Vidros Isolantes: O princípio geral é de interpor, entre vários vidros paralelos, espaços de ar que constituam um bom isolamento acústico e também térmico. (DURIEUX, 1979: 228)

C- Vidro e lajes polidas: O vidro em fusão é derretido e laminado. Depois é recozido e após o resfriamento passa por um trabalho mecânico complementar: polimento destinado a tornar as faces perfeitamente planas, paralelas e polidas. (DURIEUX, 1979: 232)

Na modernidade a segurança passou a ser um requisito importante no processo produtivo e choques térmicos foram introduzidos durante a fabricação de modo a garantir o vidro temperado, que se parte em minúsculos pedaços, minimizando possíveis danos que possam ocorrer com os usuários após a quebra de peças por acidente. O vidro temperado tem uma maior resistência a impactos, flexão, carga axial e torção. O vidro impresso com uma malha metálica em seu interior foi um novo dispositivo de segurança desenvolvido pelos fabricantes. No caso de uma possível quebra não estilhaça, mantendo os fragmentos presos à tela metálica, evitando desta forma graves ferimentos. Alguns fabricantes também usam


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um material plástico interligando chapas de vidro, este material, da mesma forma que a tela metálica, serve para reter fragmentos. Figura 4.2-4

FIGURA 4.2-4 - O vidro na construção, Porto Alegre

Fonte: PROJETO

D- Vidros e lajes temperados: ...é introduzido, após o polimento, num forno que o leva a uma temperatura de 700 a 800° C durante alguns minutos e depois resfria-se rapidamente por efeito de uma corrente de ar violenta proveniente de um insuflador. (DURIEUX, 1979: 233)

E- Vidros fundidos planos não armados: São produtos transparentes obtidos por fundição e laminação. Não são polidos ao fogo como o vidro de vidraça e não passam por nenhum trabalho de polimento a frio como o vidro temperado. Dum forno sai uma faixa de vidro que passa entre dois rolos laminadores sendo que o de baixo é marcado de modo que dá a forma do vidro. (DURIEUX, 1979: 235)

F- Vidro armado plano: ...segue o mesmo processo descrito anteriormente, só que uma grade metálica soldada em malhas quadradas de 25 mm é inserida no vidro em fusão, logo que sai do forno, antes de passar pelos cilindros laminadores. (DURIEUX, 1979: 236)


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G- Vidro ondulado: O vidro fundido, armado com grade metálica soldada com malha quadrada de 25 mm passa por um conformador após passar pelos rolos laminadores. É o conformador que dá ao vidro as suas ondulações. (DURIEUX, 1979: 237)

H- Blocos de Vidro: O vidro em fusão é deitado numa prensa automática que lhe imprime a forma desejada. À saída do molde, a têmpera é feita por um jato brusco de ar nas diferentes faces do bloco. (DURIEUX, 1979: 238)

I- Tijolo de Vidro: Na saída do vaso de fusão, uma prensa automática dá ao vidro a forma desejada. Os tijolos passam por uma área de recocção em que se homogeneizam em temperatura passando a resfriar-se lentamente. (DURIEUX, 1979: 241)

A pós-modernidade trouxe novamente à tona a importância dos componentes estéticos. Os fabricantes sensibilizados com esses novos padrões passam a produzir vidros impressos e serigrafados seguindo tramas pré-determinadas. Hoje, a sofisticação chega ao ponto de a indústria poder produzir formatos e texturas definidas pelos projetistas, além de peças com capacidade de polarizar a luz, evitando a incidência indesejada de fonte luminosa sobre o posto de trabalho do ser humano. É bom lembrar que esta evolução agrega a cada peça, além de todo o conforto propiciado aos usuários por essas benesses, custo.


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Tijolos, telhas, taipas, vidros, metais vêm sendo utilizados pelo homem há muito tempo, como já tivemos, por diversas vezes, a oportunidade de comentar; mas o conceito de compósito foi definido apenas no século passado. O desenvolvimento da metodologia científica e das pesquisas está tirando a construção do empirismo para a industrialização dos processos.

...aproximadamente

80%

de

todas

as

pesquisas

e

esforços

no

desenvolvimento de compósitos aconteceu a partir de 1965. (CHAWLA, 1987: 1)

As resinas reforçadas com fibra de vidro têm sido utilizadas desde a segunda década do século XX. (CHAWLA, 1987: 4)

Antes de se falar mais detalhadamente sobre compósitos, alguns conceitos extraídos da química devem ser bem entendidos. O primeiro se refere à Mistura, que é a associação de duas ou mais substâncias, em proporções arbitrárias ou prédefinidas, separáveis por meios mecânicos ou físicos. O segundo à Reação, como sendo a operação pela qual duas ou mais substâncias, postas em contato, sofrem modificações profundas, originando novas substâncias. É preciso ficar bem claro que nas misturas, que podem ser homogêneas quando compostas de partes de mesma natureza ou heterogênea, quando os componentes são diferentes, se pode retornar às substâncias que as originaram; isso com processos mais ou menos complexos, o que não ocorre nas reações, pois essas definem novos produtos.


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Um outro conceito que deve ser compreendido é o de Argamassa, como sendo a mistura de um aglomerante com um agregado miúdo, da qual resulta uma massa de consistência plástica, sujeita a um processo de endurecimento, a cura. Ao se juntar aglomerante, agregado miúdo, agregado graúdo à água se tem o Concreto, que pode receber uma armação de ferro que garante uma maior resistência aos esforços de tração, gerando, desta forma, o que se convencionou denominar Concreto Armado. É fundamental que se entenda que reações químicas ocorrem nas argamassas e concretos, gerando novos produtos que não mais retornam ao seu estado inicial por meios físicos ou mecânicos.

Partindo-se dos conceitos de Concreto e Concreto Armado pode-se entender o processo lógico para se obter o princípio do Compósito - composto heterogêneo que visa obter peças mais resistentes aos diversos esforços, resistências essas pouco presentes nas substâncias originais, se as considerarmos de forma isolada. Por esta razão se fundem materiais resistentes à tração com outros que suportam melhor aos esforços de compressão, resultando compósitos que tanto respondem às solicitações de compressão como às demandas de tração. Por esta mesma razão se aproveita da elasticidade de um componente e da capacidade de resistir aos esforços de torção ou flambagem de outro. Em síntese, o Compósito nada mais é do que a obtenção de produtos melhores que as substâncias que o originaram. É o homem imitando a natureza, que conseguiu ao longo do tempo seres viventes mais resistentes que os animais e plantas que o originaram.


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Compósito: reunião, para um fim bem determinado, tendo-se um certo controle do produto final, de constituintes homogêneos. (DURIEUX, 1979: 391)

Praticamente tudo o que existe no mundo é um compósito...por esta razão, deve-se concordar na existência operacional de uma definição para os compósitos, como sendo os que satisfazem as seguintes condições: - serem produzidos industrialmente; - serem conseguidos a partir de dois ou mais insumos, que são arrumados ou distribuídos em camadas: - terem características diferentes de seus componentes, quando tomados de forma isolada. (CHAWLA, 1987: 5)

Entendido o conceito de Compósito, cumpre agora analisar um outro ponto, para que se possa compreender a sintetização de alguns produtos. Centenas de milhões de anos antes do surgimento dos seres humanos, plantas e organismos unicelulares simples já prosperavam. Depois de morrer e de se decompor, eles formaram depósitos de carvão, petróleo e gás natural; combustíveis fósseis dos quais a sociedade contemporânea depende - fontes não renováveis de energia. O petróleo, após submetido a um processo de destilação fracionada produz betume, utilizado com pavimento e isolante, óleos lubrificantes e combustíveis, querosene, gasolina, gás natural e nafta, utilizado na indústria química. Todos esses são compostos orgânicos que têm o átomo de Carbono como sua estrutura mais simples.

O Carbono tem como característica a facilidade de se ligar a outros

átomos de Carbono e a outros elementos. Esta ligação entre dois ou mais átomos


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gera estruturas quimicamente mais estáveis, as moléculas. Materiais compostos por pequenas moléculas, ou monomeros, se repetem formando grandes cadeias, os polímeros.

Polímeros são estruturalmente mais complexos que metais e cerâmicas. São mais fáceis e baratos de processar. Por outro lado, são mais frágeis, sujeitos a uma modulação, e só podem ser utilizados em temperaturas mais amenas. Exposição prolongada, a raios ultravioleta e a alguns solventes, podem causar degradação de suas propriedades...O processo de transformação de pequenas moléculas em maiores é denominada de polimerização, isto é, a polimerização é o processo de junção de vários monomeros, que são, na verdade, a estrutura fundamental, que ao se juntarem formam os polímeros. (CHAWLA, 1987: 58)

Por muito tempo a borracha, extraída da seringueira, uma madeira tropical muito presente na Floresta Amazônica, se constituiu em um polímero natural pouco utilizado, pois esta se tornava pegajosa quando aquecida e dura ao se resfriar. Foi o comerciante norte-americano Charles Goodyear que inventou o processo de vulcanização, misturando à borracha ao enxofre, gerando um compósito mais firme e consistente, mantendo a sua elasticidade natural. Sintetizar polímeros passou a ser uma meta perseguida por pesquisadores, até que em 1860 um outro norteamericano, o Sr. John Wesley Hyatt, vencendo um concurso, a partir da dissolução da celulose, produziu um termoplástico para substituir o marfim, utilizado nas bolas de bilhar. Em 1907, o químico belga Leo Baekeland inventou um tipo diferente de plástico, o termofixo, através da reação conjunta de fenol e formoldeido.


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Falou-se em polímeros naturais e artificiais e que estes polímeros artificias, gerados a partir da união de vários monômeros, podem ser considerados termoplásticos ou termofixos. O termoplástico é identificado pelo poder que tem de ser reaproveitado, em outras formas, após aquecido. Entre os termoplásticos utilizados na construção civil pode-se enumerar o Poliestireno, o Policloreto de Vinila, o Polimetacrilato de Metila, o Policarbonato e diversos outros produtos constituídos por resinas especiais ou mistura de resinas. Esses materiais são utilizados também na produção de cabos para ferramentas ou utensílios domésticos, armações para óculos, filmes fotográficos, sacos plásticos, garrafas e tubos. Já os termofixos podem ser moldados a quente, mas não podem ser amolecidos pelo calor e receber outra forma após curados. Servem como isolantes, sendo resistentes à água, ácidos e calor moderado. Entre os principais termofixos utilizados na construção civil pode-se citar: Poliuretano, Poliésteres, Resinas Fenólicas e Resinas Epoxídicas. São produzidos com esses materiais interruptores, utensílios domésticos e componentes elétricos para automóveis.

A grande maioria dos polímeros se tornam leves e se fundem após o aquecimento. São os chamados termoplásticos e fluem na forma líquida. Como exemplos podem ser incluídos o Polietileno de alta e baixa densidades, o Poliuretano, o Polimetacrilato de Metila (PMMA). (CHAWLA, 1987: 63)

Os termoplásticos se caracterizam por: - cadeias moleculares lineares;


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-

variação

significativa

das

propriedades

mecânicas

com

a

temperatura; - transformação por amolecimento do material; - elevado coeficiente de dilatação térmica; - variações dimensionais potencialmente irreversíveis...

Entre os termoplásticos usados em edifícios destacam-se: - Poliestireno (PS); - Policloreto de Vinila (PVC); - Polimetacrilato de Metila (PMMA); - Policarbonato (PA); e - diversos outros produtos constituídos por resinas especiais ou mistura de resinas.

Os termoplásticos são entregues aos transformadores na forma de pósgrânulos ou pequenas barras. A conformação é realizada por fusão do material e aplicação de diferentes cargas. As técnicas mais utilizadas são: - extrusão, que permite a produção de perfis; - expansão, que permite obter materiais celulares; - moldagem por injeção e - calandragem. (FLEURY, 1993: 30)

Segundo CHAWLA (1987: 61): “os polímeros termorrígidos decompõem-se com o calor. As ligações cruzadas tornam mais difícil o deslizamento de moléculas,


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tornando o polímero mais forte e rígido...Exemplos são o Fenólico, Poliester, Poliuretano e Silicone”.

Os termofixos se caracterizam por: - cadeias moleculares tridimensionais (ramificadas); - ausência de amolecimento viscoso com a temperatura; - coeficiente de dilatação térmica inferior ao dos termoplásticos; - variações dimensionais irreversíveis, mais relacionadas às reações químicas da transformação que às tensões dela decorrentes.

Os principais termofixos utilizados nas edificações são: - Poliuretanos; - Poliésteres; - Resinas Fenólicas; - resinas epoxídicas. (FLEURY, 1993: 30)

Entre as mais comuns matrizes poliméricas utilizadas com fibras contínuas se destacam o Poliester e as Resinas Epoxi. Entre as vantagens desses compósitos se incluem uma resistência adequada a água, a uma variedade de produtos químicos, as intempéries, ao envelhecimento e finalmente possuem um custo baixíssimo. (CHAWLA, 1987: 63)


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Para FLEURY (1993: 30): “além do fator preço, o grande sucesso do PVC nesse campo resulta essencialmente da pequena manutenção requerida e da boa durabilidade”.

A utilização do plástico geralmente não encontra obstáculos de caráter legal, não obstante, existam algumas exceções: a resistência ao fogo dos elementos estruturais e seus problemas inerentes de fumaça e expansão de chama...assim como sua resistência à corrosão, sua variação dimensional com a temperatura e a resistência à ação dos microorganismos...Sua construção não se adapta a nenhuma das normas vigentes. (BENDER, 1976: 30)

Os tipos básicos de fibras de vidro são os seguintes: 1.1 - Fibras curtas, geralmente apresentadas sob a forma de lã de vidro... 1.2 - Fios contínuos de vidro, para aplicação, em conjunto com resina plástica, no campo dos plásticos reforçados e aglutinados por resina, no campo da impermeabilização da construção civil. (GUEDES, 1987: 72)

...Descobriu-se que a grande maioria dos materiais se torna mais resistente e duro na forma de fibras... (CHAWLA, 1987: 6)

A partir do mesmo estudo, descobriu-se que a resistência obtida com os compósitos contendo fibras é maior no sentido da fibra. Transversalmente à estas, existe uma inexpressiva resistência ou mesmo uma total inexistência deste reforço.


176

Com efeito, pode-se arrumar as fibras pensando-se nos espaços: bi ou tridimensional, mas isso não é garantia de reforço nos diversos eixos (x,y,z). É consenso, para este fim, que se utilize de compostos laminados ou na forma de sanduíche, feitos de dois diferentes materiais, desta forma, obtém-se efeitos mais consideráveis. (CHAWLA, 1987: 4)

CHAWLA (1987: 8) acha que: “fibra de vidro é a terminologia utilizada para denominar fibras de carbono e aço. A combinação de uma gama de produtos químicos para este fim é aceita comercialmente. As fibras de vidro mais comuns são a base de Silicone ( ~ 50 - 60% SiO2) e contendo porções de outros óxidos como: Cálcio, Boro, Sódio, Alumínio e Ferro, só para citar alguns exemplos...O método convencional de fabricação da fibra de vidro e cerâmica consiste na elevação dos componentes a uma alta temperatura e o posterior despejo desta solução...A matéria prima é misturada em um cilindro, depois derramada em serpentinas de Platina, aquecidas eletricamente, e que contêm em suas extremidades 200 orifícios. A mistura é forçada, por gravidade, a passar por esses orifícios e se transforma em filamentos contínuos. Estes serão unidos de forma a configurar as diferentes dimensões. As fibras produzidas são enroladas em tambores...As fibras de vidro continuam servindo para reforçar resinas de poliester, fenólicas e epoxi. 4.2-6

FIGURA 4.2-5 - Produção compósito PVC Fonte: www.esquadria.net FIGURA 4.2-6 - Tipos de apresentação da fibra Aerojet

Fonte:

Figura 4.2-5 e


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Resinas reforçadas com fibra de vidro são largamente empregadas na construção civil. Geralmente recebem a denominação de plásticos reforçados com vidro ou GRF. São utilizados como enchimento para outros elementos estruturais ou como integrantes de paredes divisórias. (CHAWLA, 1987: 12)

Pode-se notar que todas as chamadas fibras avançadas possuem baixa densidade...A flexibilidade da fibra está associada ao módulo de elasticidade de Young e a seu diâmetro. (CHAWLA, 1987: 53)

Esse é um campo mais desenvolvido em relação aos outros, tendo sido realizadas diversas experiências interessantes. Por questão de segurança, foram utilizados principalmente os termofixos, e especialmente os Poliésteres reforçados com fibra de vidro (PRV), em painéis - sanduíche ou estruturas finas curvadas, préformatadas que garantem a função portante. Esta última aplicação foi desenvolvida para as pequenas edificações móveis. (FLEURY, 30)

...as argamassas de resina poliéster, acrílica, poliuretânica ou epoxídios, que servem para a produção de painéis de fachada, cujo conjunto principal é constituído por uma ossatura (entarugamento) e por capas solidarizadas (“paredes-cortina”). No campo das coberturas, foram feitas numerosas tentativas a partir de placas moldadas ou termoformadas mas sem muito resultado, pois as questões de estética, das solicitações e do preço ainda não foram bem resolvidas. (FLEURY, 30)


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Segundo pesquisas de FLEURY (1993: 30) “No Brasil, a construção civil é a maior consumidora de PVC - cerca de 55% da produção nacional - na forma de produtos como tubos e conexões, calhas, telhas, esquadrias, pisos, condutores elétricos, venezianas, forros e divisórias, geossintéticos e outros”.

O consumo de PVC no Brasil pode crescer também pela via de produtos ainda inexistentes, como o siding e sistemas construtivos totalmente feitos a base de resina. O primeiro é bastante usado nos Estados Unidos e no Canadá e substitui qualquer revestimento externo como massa grossa e fina, pintura, cerâmica e outros. É comercializado na forma de perfis sobrepostos na fachada, tem vários padrões e dispensa manutenção. Já o sistema construtivo em PVC foi lançado recentemente no Canadá...São módulos verticais ocos que depois de acoplados são preenchidos com concreto, formando as paredes. (MEDEIROS, 1993: 19)

...entende-se por pigmento os produtos sólidos, em pó, de cor própria e que permanecem em suspensão, sem diluir-se, na fase líquida da mistura...entende-se por corante os produtos, líquidos, que têm por finalidade fixar a cor das pigmentações. (GUEDES, 1987: 61)


180

4.3.- A produção de peça em Plástico reforçado

O plástico reforçado é o único entre os diversos materiais de construção em que o fabricante realmente faz o seu próprio material. ( RAMPAZZO, 11)

Visando entender melhor o funcionamento da produção de plástico reforçado com fibra, resolveu-se produzir duas peças utilizando-se da resina Poliéster e da fibra de coco.

A maioria dos plásticos reforçados conhecidos, utilizados para a produção de mobiliários; abrigos temporários; piscinas e outros depósitos para fluidos; componentes

para

automóveis, barcos

e

aviões;

dutos, equipamentos

e

implementos agrícolas, são formulados a partir de elementos naturais como: carbono (processado a partir de reservas petrolíferas - fontes não renovável de energia),

nitrogênio (retirado do ar), cloro (sintetizado a partir do sal marinho),

hidrogênio e oxigênio (conseguidos na água).

Figura 4.3-1

FIGURA 4.3-1 - Produtos de Fibra

Fonte: Alba


181

Em dois grandes grupos, como visto anteriormente, se dividem as resinas plásticas: as Termoplásticas, que amolecem quando aquecidas podendo receber nova modelagem e as Termofixas, que endurecem a uma certa temperatura e permanecem nesse estado, não podendo mais receber nova moldagem. Entre as resinas termoplásticas pode-se destacar: PVC, ABS, polietileno, polipropileno e náilon. Essas resinas, que geralmente se encontram em baixas temperaturas no estado sólido, oferecem excelente resistência química, porém, nas temperaturas moderadamente

elevadas,

apresentam

deficiência

em

suas

propriedades

mecânicas. Já as resinas termofixas são normalmente comercializadas na forma de líquido viscoso e chegam ao estado sólido rígido e infusível por adição de catalizadores. Tal transformação é definida como cura ou polimerização e é irreversível. Entre essas resinas podem ser destacadas: epóxi, poliuretano, silicone e poliéster insaturado.

A resina Poliéster é obtida a partir de muitos grupos de ésteres (compostos químicos resultantes da reação de ácido com álcool, que além do éster sintetiza água). Podem ser agrupados em três tipos: Ortoftálica, esta a mais popular e é utilizada nas aplicações gerais que não demandem alta resistência química; Isoftálicas, que demonstram um bom desempenho quando submetidas à ambientes agressivos e as Bifenólicas, que apresentam o máximo da resistência química oferecida pelos poliésteres, por esta razão são utilizadas na produção de equipamentos submetidos à ambientes extremamente agressivos.


182

As resinas Poliésteres podem ser ainda saturadas ou insaturadas. As saturadas são obtidas pela reação entre o biálcool e um ácido saturado, resultando em um produto termoplástico. As insaturadas são obtidas pela reação entre um ácido insaturado, um ácido saturado e um biálcool, resultando em um produto termofixo. O plástico reforçado que se produzirá para ensaio resultará da mistura de uma resina poliéster ortoftálica com a fibra do coco.

Antes de se proceder a mistura, necessário se fez que se utilizasse dos equipamentos de proteção individual como luvas e máscara, além do equipamento de proteção coletiva: um exaustor com câmara de proteção, instalado no laboratório.

Primeiramente foi executada uma forma com compensado de madeira de 4 mm e cordão de muiacatiara de 1,5 cm por 1,5 cm. Nesse momento, não era muito importante o tamanho final da peça construída, pois interessava mesmo era entender e experimentar o processo de fabricação artesanal do objeto, para se intuir possíveis dificuldades a serem enfrentadas no canteiro de obras. Nas duas formas de 25 cm de comprimento por 5 cm de largura e 1,5 cm de altura foram aplicadas cera de carnaúba, desmoldante utilizado para facilitar o processo de desforma das peças, após a cura.

É fundamental ressaltar neste instante, a importância na qualidade da forma, também chamada de modelo ou molde. Este poderá ser macho ou fêmea, dependendo da face aparente do produto. Quando a peça moldada for côncava, utiliza-se de forma fêmea, quando convexa, molde macho. Este modelo também


183

poderia ter sido executado em metal, gesso ou ainda na própria resina. Para um melhor acabamento, deve-se observar a não existência de cantos acentuados, por esta razão estes devem ser suavizados por meio de polimento com lixa; assim como o molde, antes de receber a camada protetora de cera, deve ser todo lixado e os resíduos do lixamento removidos com pincel seco. Os cordões de madeira foram fixados com pregos no compensado e as juntas calafetadas com papel alumínio.

Em um becker foi prepara uma mistura de 200 ml de Resina Poliéster Ortoftálica e 4 ml de Peróxido de Metil Etil Cetona (MEK), que funcionou como catalizador. Em um outro becker foi preparada uma outra mistura contendo 200 ml de resina poliéster ortoftálica, 4 ml de MEK e a quantidade de pigmento em pó suficiente para conferir o tom marrom, desejado à mistura. Na peça a ser realizada no canteiro de obras, a mistura contendo corante deverá apenas recobri-la (uma camada de 2 mm), pois está só terá a função de conferir cor ao produto final. É importante observar o comportamento do pigmento diante dos raios ultravioletas componentes da luz solar, pois estes produzem, ao longo do tempo, um esmaecimento do tom original da cor. Como as peças são pequenas, foram adicionados aos dois beckers quantidade de Monomero de Estireno suficiente para tornar a resina mais líquida, facilitando a trabalhabilidade do futuro compósito.

Por meio de uma trincha de 1/2”, foram aplicados os conteúdos dos beckers nas formas, de modo a se conseguir uma peça transparente e uma outra na cor marrom. Foram aplicadas camadas sucessivas de 2 mm. Após a aplicação de cada camada se colocava uma camada de 1 mm de fibra de coco. As camadas de fibra


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de coco foram aplicadas de modo a garantir que cada camada possuísse uma direção oblíqua em relação a camada anterior.

Para se manter as espessuras

corretas das camadas, foi utilizado medidor metálico como gabarito. As bolhas que surgiam, quando das aplicações, foram removidas por meio de rolo dentado de alumínio de 8 cm. Para este experimento não foi utilizada nenhuma carga, necessária, provavelmente, no canteiro de obras, pois conferirá maior rigidez as peças produzidas. As cargas mais utilizadas são: o Carbonato de Cálcio e o talco industrial. As peças foram curadas na mufla. Os pincéis, rolos e beckers foram lavados com solvente. Após 48 horas, tempo necessário para a polimerização, foi feita a desforma com cunhas de madeira. Rebarbas foram retiradas com estilete, antes da cura total da peça. As imperfeições foram minimizadas por meio da aplicação de resina poliéster e do polimento com lixa das peças prontas.

FIGURA 4.3-2 - Peça de fibra produzido em laboratório


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Capítulo V - METODOLOGIA PROPOSTA - PRODUÇÃO DE HABITAÇÃO

5.1. - A necessidade de abrigo

A diferença entre edificações e povoados é apenas a escala. Como Aldo van Eyck disse uma vez, ‘um edifício é uma pequena cidade; uma cidade é um grande edifício”. (RAPOPORT, 1984: 31)

Há 14 bilhões de anos antes do nascimento de Jesus Cristo teria acontecido, segundo pesquisadores agnósticos, o big-bang - o surgimento do mundo por meio de uma grande explosão. Os teólogos e religiosos acreditam, de forma díspare dos agnósticos, na existência de uma deidade que teria criado o Universo. A Terra, segundo estudos geológicos, surgiu neste universo há 4,6 bilhões de anos. Por muito tempo manteve-se este planeta desabitado - só o magma que se resfriava gerando o relevo e rochas que se decompunham formando o solo. Figura 5.1-1 PRÉNEOLÍTI

PALEOLÍTI Terra Dinossauros

Universo 14 bilhões Ac

230 milhões aC

HISTÓR METAI

Homem 1,5 milhão aC

4,6 bilhões aC FIGURA 5.1-1 - A história da humanidade Diagrama do autor

9.000 aC

3.100 aC 4.000 aC


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A água, existente na atmosfera terrestre, foi de fundamental importância para o surgimento dos primeiros seres vivos. A princípio, estruturas simples como as amebas, as bactérias e as algas. Com o decorrer do tempo e seguindo a tendência evolucionista, preconizada pelo cientista inglês Charles Darwin, surgiram seres maiores e mais complexos, como os insetos, os lagartos, os peixes e até as plantas. Os dinossauros passaram a habitar o globo terrestre, a partir de uma evolução de peixes, anfíbios e répteis, na era Mesozóica, entre 230 milhões e 65 milhões de anos antes de Cristo.

A era Mesozóica foi dividida, por paleontólogos, em três períodos: o Triássico, o Jurássico e o Cretáceo. No Triássico existia só a Pantéia, um continente único que se dividiu em dois: Laurásia e Grondwana no Jurássico. Só no Cretáceo é que os continentes passaram a ter uma configuração muito semelhante à atual, apenas os Estados Unidos mantinha-se ligado à atual Europa. Figura 5.1-2

FIGURA 5.1-2 - Evolução na Terra Mundo

Fonte: De olho no


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O homem passa a compor essa história só há 1,8 milhões de anos, data provável, apontada pelo teste de Carbono 14, dos achados mais antigos. Seus ancestrais já começaram a habitar o globo terrestre desde 4 milhões de anos. É dessa época o Ardipithecus ramidus, com espécimes masculinas possuindo o dobro do tamanho das femininas, o Australopithecus anamensis e o Australopithecus afarensis. Há 3 milhões de anos aparecem o Australopithecus africanus e o Australopithecus boisei. 2.500.000 aC é a época mais provável dos achados das primeiras ferramentas. É também o marco da passagem do Mesolítico para o Neolítico - a idade da pedra polida.

Figura 5.1-3

O Australopithecus robustus surge há 2 milhões de anos, e com ele termina a era dos hominídeos, precursores dos humanos. O Homo rudolfensis é o primeiro representante do gênero humano. O Homo erectus foi o que primeiro dominou a técnica de produção do fogo e que provavelmente tenha começado a realizar grandes migrações a partir do continente africano. Em 500.000 aC aparece o Homo sapiens arcaico e 300.000 mil anos depois o Neandertal, talvez o mais conhecido humano que tenha habitado as caverna. Figura 5.1-5

FIGURA 5.1-4 - Pintura rupestre no Piaui

Fonte:Veja FIGURA 5.1-3 - Paleontólogos trabalhando Mundo

Fonte: De olho no


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Em 100.000 aC o Homo sapiens moderno produz pinturas rupestres e instrumentos musicais, além de sepultar os seus mortos. O culto ao morto foi uma das causas do surgimento das primeiras proto-cidades. Há 50.000 anos o homem chega à Ásia. 25.000 anos depois na Europa. 12.000 aC é a data mais provável do aparecimento do homem na América e 500 anos depois no Brasil. Figura 5.1-4

FIGURA 5.1-4 - Evolução do Homem

Fonte:Veja


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O homem é, por natureza, um ser gregário, necessitando viver em bandos, em grupos. Habitava no Paleolítico, a era da pedra lascada, em alto de árvores, cavernas naturais, paliçadas ou tendas. Não necessitava de moradas permanentes, pois era um ser nômade, que vivia da pesça, da caça e do estrativismo vegetal. Deslocáva-se de região para região, quando os seus alimentos escasseavam. Era provavelmente um ser esguio e faminto e se reproduzia pouco, pois a necessidade de sobrevivência é muito maior que o impulso sexual. A fome e a fadiga inibia o desejo sexual, a escassez minimizava a prole. Foi a cidade dos mortos, a Necrópole, que gerou a aglomerado humano dos vivos.

O homem se tornou mais místico, a partir do momento em que não conseguiu esplicar alguns fenômenos da natureza. Passou a atribuir à divindades o poder e a capacidade de gerar e modificar o meio ambiente em que vivia. Passou a cultuar os mortos, como um expressão real de uma grande dúvida que acompanha até hoje a humanidade - o que acontece com o ser humano após sua a morte? Céticos limitam-se às cinzas, crédulos preconizam a eternidade. Tornou-se sedentário, pois necessitava retornar aos seu cemitério, para ele um campo santo, uma área mística, toda vez que ocorresse um óbito.

Figura 5.1-6

FIGURA 5.1-6 - As migrações humanas interessante

Fonte:Super


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Teve o pré-histórico que alterar o seu comportamento: aprendeu a plantar, a domesticar os animais e a construir moradas mais permanentes: passou a escavar as cavenas, construiu palafitas, empilhou pedras e se abrigou debaixo delas, arrumou pedras e construiu os monumentos megalíticos, moldou a argila na forma de adobe, queimou o adobe e conseguiu o tijolo, aplicou a argila sobre um tramado de madeira e definiu a taipa, agrupou as moradas e fez surgir as aldeias e as protocidades. Deixa o homem do Neolítico a fase do caçador e adentra a do agricultor.

A produção de víveres gerou novas necessidades: a de estocar e a de manter a propriedade desses bens diante dos saqueadores. Filosoficamente foi mister a definição de uma parceria que manteve e mantém íntegra até hoje as cidades, o pacto agricultor - caçador: um produz o outro guarda, um pensa e o outro executa. Figura 5.1-7

FIGURA 5.1-7 - Estudo de fósseis brasileiros Fonte:Veja

É importante parar um pouco a linha de raciocínio para que se possa introduzir alguns conceitos sobre a forma de apropriação, geração e reprodução do


191

conhecimento. O conhecimento empírico inicia essa lista, pois é o adquirido a partir das vivências do homem. O segundo é o teológico, tempo em que o ser humano atribui à divindades capacidades de produção de eventos que ele não consegue explicar através do empiricismo. A fase seguinte é a do conhecimento científico, onde há uma fundamentação teórica e uma demonstração lógica e sistematizada dos fatos e o último é o filosófico, que transcende a natureza das coisas.

O ambiente construído tem vários objetivos: abrigar dos elementos pessoas, suas atividades e posses; abrigar de inimigos humanos e animais e de poderes sobrenaturais; estabelecer lugar; criar uma área segura e humanizada, num mundo profano e potencialmente perigoso; reforçar a identidade social e indicar status, etc. (RAPOPORT, 1984: 26)

Até bem pouco, era comu distinguir entre arquitetura e “meros edifícios”, mas isso se torna cada vez mais difícil...Todos os ambientes resultam de escolhas feitas entre todas as alternativas possíveis. As escolhas específicas tendem a ser legítimas, refletindo a cultura de determinado povo. (RAPOPORT, 1984: 31)

...arquitetura pode ser considerada como qualquer construção que muda deliberadamente o ambiente físico de acordo com algum esquema diretor. A diferença entre edificações e povoados é apenas a escala. Como Aldo van Eyck disse uma vez, ‘um edifício é uma pequena cidade; uma cidade é um grande edifício”. (RAPOPORT, 1984: 31)


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Na verdade, o planejamento e o projeto em todas as escalas, de vastas regiões ou de arranjos de móveis, podem ser vistos como a organização do espaço para fins diferentes, de acordo com regras diferentes que refletem as necessidades, os valores e os desejos dos grupos ou indivíduos que fazem a organização. (RAPOPORT, 1984: 32)

Para RAPOPORT ( 1984: 38): “a arquitetura torna tangível os significados; produz uma metáfora concreta das idéias e crenças de um grupo”.


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5.2. - A definição do partido arquitetônico pelos arquitetos

Os programas para a construção de habitações para a população de baixa renda não conseguem sequer se aproximar do déficit habitacional. (MUNGIOLI, 2001: 119)

Para se elaborar uma proposta metodológica para a definição de partido arquitetônico para a habitação popular, necessário se faz entender o processo de criação pelo qual passa o arquiteto, quando do planejamento de qualquer edificação a ser construída. É uma Análise da Tarefa, compreender passo a passo a geração de desenhos, a criação de espaços. Para facilitar o entendimento de toda essa dinâmica, acompanhou-se a elaboração de um Projeto Arquitetônico para uma edificação a ser construída. Futuros usuários, plenamente definidos, foram utilizados nesse Estudo de Caso.

O primeiro passo efetivado pelo projetista foi a execução de uma entrevista com esses prováveis habitantes da edificação. O objetivo: levantar as suas demandas, definir um Programa de Necessidades para esses usuários. Nessa etapa foram enumeradas todas as unidades espaciais que comporão o prédio, assim como hierarquizadas as suas relações principais. O número de usuários permanentes e transitórios para cada unidade espacial foram, da mesma forma, quantificados; embora os conceitos de transitoriedade e permanência em um determinado ambiente sejam um tanto quanto subjetivos para projetistas e usuários. Só para citar um exemplo: o serviçal que cuida da limpeza de um determinado banheiro público


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pode ser considerado usuário permanente e todos os demais que se utilizam dos sanitários, transitórios, quando o seu local de trabalho é o próprio banheiro e este passa as oito horas de seu dia de serviço lá, necessitando, portanto, de mobiliário específico para o desempenho de suas funções. Por outro lado, se esse mesmo funcionário passasse periodicamente no banheiro para produzir a mesma limpeza, esse poderia ser considerado usuário transitório e todos os que fazem uso da unidade espacial, permanentes. Por essa razão, esses conceitos devem ser também combinados entre contratante e projetista.

A área de cada unidade espacial é definida como o somatório de dois produtos: o primeiro entre o número de usuários permanentes e a área requisitada por cada usuário permanente e o segundo entre o número de usuários transitórios e a área solicitada por cada usuário transitório. O valor da área demandada por usuário permanente ou transitório é conseguida a partir dos conceitos da Ergonomia, que foram sistematizados por dois pesquisadores: um americano -DIFFRIENTN (1981), que quantifica a medida dos segmentos corporais a partir de uma amostra colhida da população de Nova York, Estados Unidos e um outro, o alemão NEUFERT (1978), que oferece dimensões para as diversas unidades espaciais de diferentes objetos arquitetônicos. Não se dispõe ainda no Brasil, embora já tenha sido solicitado pela Associação Brasileira de Ergonomistas à Fundação IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), responsável pelos censos no país, dados relativos ao dimensionamento dos segmentos corporais na população brasileira. O IBGE alegou inexistência de corpo técnico capacitado a fazer tal mensurações, visto ter o país dimensões continentais. Mesmo quantidades mínimas


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de dados como: altura, cor da pele e tamanho do pé não puderam ser ainda levantadas. O Brasil é, de fato, um país de grandes dimensões: possui, segundo os dados preliminares do censo de 2.000 fornecidos pela Fundação IBGE Tabela, 8.514.215,3 km² de superfície, na qual reside uma população de 169.590.693 habitantes; formada pela miscigenação de brancos, principalmente oriundos de Portugal, Itália e Alemanha, com negros de origem africana, com os amarelos vindos na sua maioria do Japão e com os aborígenes locais; perfazendo uma densidade demográfica de 19,92 hab/km²; sendo que 81,23% dessa população é urbana. O Brasil detém um crescimento demográfico de 1,9 % ao ano; segundo os dados do censo de 1991.

Na realidade, em função de todas essas características

apresentadas, precisar-se-ía muito mais de resultados regionais, ou mesmo até locais, pois nesses se teria a possibilidade de tabulação de dados mais homogêneos, o que não ocorre quando se trata com toda a população brasileira.

O número de unidades espaciais é um dado a ser configurado a partir das informações obtidas com os futuros usuários. O próximo passo foi a definição do mobiliário e dos equipamentos necessários às atividades desenvolvidas em cada unidade espacial. Essa listagem é de extrema importância para a definição de cada lay-out e também para o desenvolvimento dos projetos complementares. Finalmente o projetista enumerou, junto com os futuros habitantes, os requisitos especiais que irão qualificar cada unidade espacial. Esses requisitos definem desde sistemas especiais para cada espaço, até identificam qualidades conferidas à cada cômodo da edificação. Anexo 01


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Feito isso, o projetista passa a analisar a legislação vigente e a compatibilização do projeto com a mesma. Nesse instante serão observados o uso, a zona e o tipo de via em que vai ser implantado o empreendimento; assim como, serão observados os recuos, a taxa de ocupação, o índice de aproveitamento, a fração do lote e a taxa de permeabilidade do solo, definidos pela Lei de Uso e Ocupação do Solo vigente, além dos indicadores determinados pelo Código de Obras e Posturas do Município no qual irá se implantar a edificação. Anexo 02

Atendido ao Usuário e aos Determinantes Legais, passa-se a observar o Sítio e a levantar os componentes que irão determinar as diretrizes para o Projeto de Arquitetura: tipo de solo, nível do lençol freático, forma e dimensões do lote, topografia, ventilação dominante, micro-clima gerado pela vegetação presente na gleba, entre outros.

Nesse trabalho serão analisados somente os fatores limitantes do Projeto de Arquitetura relacionados com a definição do Programa de Necessidades e com as características do Sitio. Os aspectos legais não serão levados em conta, pois esses mudam periodicamente, dificultando a sua inserção dentro de uma rotina de trabalho para a formulação do referido Programa de Necessidades. Essas mudanças que ocorrem com a legislação vigente não são negativas, e sim extremamente positivas, pois demonstram que as leis estão tentando acompanhar e se ajustar às modificações de comportamento do homem. É fundamental que, em períodos de no máximo dez anos, toda a legislação que regulamenta a ocupação do solo urbano seja revista. O próprio Estatuto da Cidade, lei número 10.257 de 10 de julho de


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2.001, já prevê em seu capítulo II - artigo 40, § 3 que: ”A lei que instituir o Plano Diretor deverá ser revista, pelo menos, a cada dez anos”. Alguns autores, como FERRARI (1978), incluem essa etapa na estrutura de planejamento de um núcleo urbano, caracterizando-a como o início de um outro ciclo.

Quando se trata do atendimento de Programa de Necessidades, gerado por um grupo de pessoas, como no caso das habitações multifamiliares, as estratégias dos projetista mudam na hora em que precisam definir os partidos arquitetônicos. Algumas empresas construtoras já levantam indicadores de demanda nos próprios locais de comercialização das unidades habitacionais ou mesmo nos próprios canteiros de obra. Os Sindicatos de Construtores já tentam sistematizar indicadores para auxiliar a atividade dos arquitetos; mas o empirismo ainda se faz muito presente no mercado imobiliário da cidade de Fortaleza. Os corretores de imóveis até hoje exercem grande influência na definição do aspecto formal final dos objetos arquitetônicos construídos, na caracterização das unidades espaciais de cada edificação e nas relações que essas mantêm entre si. Anexo 03

Um outro ponto a ser observado, quando da definição de um partido arquitetônico, é o relacionado com o aspecto conceitual da edificação. O arquiteto e urbanista traz, junto com a sua proposta para a edificação, valores pessoais e de exercício profissional. Todos os homens têm características próprias que transmitem à sua produção - o patrimônio cultural individual. É patrimônio, pois agrega valor ao bem, mesmo que somente afetivo e é cultural, pois em oposição ao patrimônio natural que existe apesar do homem, depende inteiramente da realização criativa do


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ser humano.

Essas características pessoais do criador atribuídas à produção, definem o conceito de estilo e estão intimamente ligadas ao entendimento do termo índice, utilizado na comunicação.

Quando esse estilo pessoal é passado a outros

profissionais por desejo desses ou mesmo pela imitação ou semelhança com a produção de um arquiteto, de um outro artista ou mesmo com o modo de articular e conduzir as idéias de um pensador, têm-se aí o surgimento das correntes, que culminam por caracterizar o estilo de uma época. Mas se o maneirismo, ou seja, a maneira de trabalhar semelhante está condicionada à uma formação acadêmica, no sentido mais lato da palavra, tem-se aí o surgimento das escolas. O fato é que a produção de um arquiteto e urbanista está sempre associada a um estilo, uma corrente ou uma escola.

...O vernacular define-se como a linguagem, técnicas e valores transmitidos tradicionalmente na cultura de um determinado grupo social, sem sofrer maiores influências externas. (DEL RIO, 1990: 24)

Pelo lado norte - americano também precisava-se e publicava-se sobre o vernacular, a dimensão cultural e a antropológica do ambiente construído. Obteve grande popularidade, em meados dos anos 60, a exposição (livro de mesmo nome) “Arquitetura sem Arquitetos” , com fotos de exemplos de todo o mundo, organizada por Bernard Rudowsky (1964) no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (de 9/11/64 a 7/2/65). Essa temática seria retomada em dois trabalhos fundamentais do


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arquiteto e antropólogo Amos Rapoport (1967, 1969), ao estudar as relações entre o ambiente construído e a cultura, chamando atenção para valores como a complexidade de significados, as mensagens visuais experimentadas pelo cidadão e a importância das ricas conotações dos elementos arquitetônicos vernaculares e indígenas. (DEL RIO, 1990: 24)

O edifício deve estar pleno de significados, pois precisa ser entendido. O objeto arquitetônico, depois de se configurar como abrigo, necessita transmitir as sensações desejadas pelo usuário; quer sejam essas de conforto, opulência, alegria, sobriedade ou mesmo até de tristeza ou melancolia.

...A semiologia estuda todos os fenômenos de comunicação como se fossem um sistema de símbolo, ou seja, uma linguagem. (DEL RIO, 1990: 24)

...segundo VENTURI (1977), a arquitetura depende da experiência passada e da associação emotiva para a sua percepção e criação. (DEL RIO, 1990: 25)

Uma estratégia que vem sendo utilizada, nos últimos tempos, pelos projetistas de edificações de interesse social é a do desenho participativo. Nela o arquiteto envolve a comunidade no pensar e conceber do partido arquitetônico. Desde a Revolução Industrial, e principalmente ao longo do século XX, os grupos sociais menos abastados vêm se congregando em associações objetivando fortalecer o seu poder reivindicatório. Associações de bairros e favelas e seus congêneres foram criados em todo o país e passaram a ser muito contundentes e específicos nas suas


200

demandas. Figura 5.2-1 e 5.2-2

FIGURA 5.2-1 -Trabalho comunitário Fonte: GRET

FIGURA 5.2-2 -Desenho participativo

Fonte: GRET

Os gerentes do espaço urbano, os arquitetos e demais projetistas viram ser mais eficiente a produção de bens, se envolvessem os próprios usuários na solução dos problemas. Primeiro, por estarem os futuros moradores das edificações convivendo a muito tempo com as demandas e já terem desenvolvido algumas condutas de modo a minimizar os impactos sociais dos problemas. E segundo, por ser natural do ser humano defender o que acredita e acredita-se em tudo o que se gesta, ou que se participa na concepção. Em tese se o desenho participativo, segundo alguns autores, cerceia o potencial criativo do projetista; por outro lado aproxima o arquiteto do usuário final da edificação e o faz entendê-lo muito mais e


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melhor.

A partir do crescente descontentamento dos habitantes submetidos a ambientes modernistas e dos movimentos de protestos e resistência aos programas de intervenção urbana, fato comentado anteriormente, as populações das grandes cidades dos países desenvolvidos foram conquistando importantes reivindicações. Assim como nos EUA, as principais cidades européias seriam palco de movimentos sociais semelhantes e suas administrações se veriam pressionadas a inserir maior participação comunitária em seus processos de planejamento e, principalmente, nos programas habitacionais. (DEL RIO, 1990: 28)


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5.3. - Uma proposta de metodologia para habitação popular

A diferença entre edificações e povoados é apenas a escala. Como Aldo van Eyck disse uma vez, ‘um edifício é uma pequena cidade; uma cidade é um grande edifício”. (RAPOPORT, 1984: 31)

5.3.1 - Os passos do planejamento:

O processo de seleção de novos usuários para habitações populares, definido pelas instituições governamentais, passa sempre pela realização de um Cadastro, onde é inventariada principalmente a capacidade de pagamento das famílias. Os órgãos públicos têm normalmente setores compostos por Assistentes Sociais que identificam as carências. Existem, via de regra, de doís a quatro tipos de residências, que as famílias as selecionam principalmente em função da renda familiar.

Para minimizar custos, o Mutirão tem sido adotado por vários municípios como o meio de viabilizar os empreendimentos. Neste tipo de interferência, que é um misto de auto-construção e auto-gestão, o adquirente se envolve mais com a execução da obra, embora o aspecto formal final da edificação tenha sido definido a sua revelia. Alguns grupos, os considerados inovadores pela população, já definem um projeto de forma participativa - a Casa Tipo já se configura mais próxima das


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aspirações, ou das intenções, da maioria dos usuários.

Mas, apesar de tudo isso, ainda não se tem a definição de objeto arquitetônico que atenda aos anseios de cada família. O mutirão ainda é uma forma encontrada pela ação governamental para bareatear custos através da exploração da mão de obra dos próprios adquirentes ou de seus prepostos. Esse processo não confere a qualidade devida às edificações, pois são construídas por mão de obra, geralmente, desqualificada, e em alguns casos, se utiliza até do trabalho de menores.

O ideal seria que se utilizasse da habilidade e da capacidade técnica de arquitetos e engenheiros na elaboração dos projetos, no planejamento e acompanhamento das obras; sem deixar de atender às necessidades básicas definidas por cada família envolvida com essas construções. Seria a adoção pura e direto do conceito de Segmentação de Mercado.

Como então se pode transportar todas essas práticas do projetar em arquitetura e das dinâmicas utilizadas nas ocupações atuais de aglomerados urbanos planejados para uma rotina de planejamento de novos empreendimentos? O processo se torna menos complexo ao se acompanhar a Análise da Tarefa a seguir apresentada:

a) Primeiro Passo: A elaboração de formulários contendo as informações necessárias e suficientes para a elaboração de Programas de Necessidades


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diferenciados por família, devem ser preenchidos pelos futuros usuários das edificações; Apêndice 1

b) Segundo Passo: O formulário anterior deve conter também informações referentes ao Sítio, que deverão ser preenchidas contando com a ajuda de técnicos da área de engenharia;

c) Terceiro Passo: Deverá ser construído um Banco de Dados que capture as informações recolhidas e possa vir a fornecer os indicadores necessários para a realização do Projeto de Arquitetura;

d) Quarto Passo: Deverão ser definidas no computador propostas modulares para cada unidade espacial - blocos, dentro da linguagem computacional utilizada nos desenhos parametrizados. Cada uma delas deverá estar armazenada em uma camada diferente, um novo layer dentro do aplicativo computacional, que poderá ser ativado ou congelado, conforme as necessidades dos usuários, explicitas nos formulários; e Apêndice 2

e) Quinto Passo: De posse das unidades espaciais moduladas o projetista fará o melhor arranjo possível, utilizando um processo de otimização. O Formulário a ser criado, deverá ser dividido em quatro planilhas diferentes: a primeira, que passará a ser denominada simplesmente por Sítio, deverá conter informações referentes aos aspectos antropológicos, econômicos e de caracterização do lote. A segunda denominada Relações Principais montará uma matriz envolvendo todas as


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unidades espaciais contidas no Objeto Arquitetônico e servirá para que nela sejam evidenciadas as três primeiras prioridades de relacionamento entre cada uma das unidades espaciais. A terceira denominada Mobiliário estará também estruturada na forma de matriz e conterá todos os móveis e equipamentos possíveis de existir em uma unidade habitacional. O objetivo dessa planilha é a definição da correlação existente entre as peças do mobiliário e os equipamentos com cada unidade espacial. E finalmente a última, denominada de Requisitos Especiais da mesma forma que a planilha Mobiliário, produzirá um grau de dependência dos item arrolados com os espaços componentes da edificação. Apêndices 3, 4 e 5

5.3.2 - O Processamento dos Dados:

A primeira planilha a ser analisada é a que relaciona as Unidades Espaciais com o Mobiliário e os Equipamentos, demandados por cada família. Ela serve de suporte para que ajustes possam ser efetuados nos blocos, já definidos no arquivo do aplicativo computacional, que auxiliam na produção dos desenhos. Essa análise deve ser efetuada depois que o banco de dados passe por um tratamento efetuado por um aplicativo estatístico, pois interessa nessa etapa a Moda que se apresenta para cada variável, visto que as dimensões das Unidades Espaciais são relativamente grandes e podem, até devem, se ajustar às modificações sugeridas por demanda específica de cada família. Essas alterações irão se configurar quando do uso do edifício.


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A planilha de Requisitos Especiais, também após tratada pelo aplicativo estatístico, deve ser levada em conta para ajustar os Blocos pré-definidos no aplicativo computacional. Após ajustados os blocos, passa-se a observar as Unidades Espaciais enumeradas por cada composição familiar. Mesmas unidades identificadas irão formar um Padrão que servirá de base para o desenho de Unidades Tipo. As Relações Principais serão fundamentais para a composição dos partidos arquitetônicos. Outros dados existentes na planilha que contém os aspectos antropológicos e econômicos facilitarão ainda mais a definição dos arranjos internos das residências unifamiliares.

Dois conceitos podem ser ainda observados na planilha que contém os aspectos antropológicos: o primeiro é o que faz referência a possibilidade de partilhar unidades espaciais como serviço e sanitário, esse muito importante quando se objetiva o barateamento do custo final da unidade residencial edificada. O segundo conceito é o que menciona a origem da família, esse definirá a utilização do espaço não edificado na gleba. Famílias de origem rural serão agrupadas de modo a gerar uma área condominial que atenda a algumas das necessidades básicas desse tipo de população - áreas necessárias, também, ao desenvolvimento de atividades produtivas, ou mesmo de geração de renda. Uma área para o cultivo de plantas ou para a criação de animais domésticos.

Essas áreas foram definidas como condominiais para dificultar a venda das mesmas, por parte de cada usuário; pois esses apresentam necessidade constante de recursos financeiros e facilmente venderiam essas terras. inviabilizando a


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proposta de geração de renda através do seu uso.

As variáveis relacionadas aos aspectos econômicos servirão para limitar as demandas familiares. A composição de custos é feita em função do valor venal de cada unidade espacial. A incompatibilidade do querer com o poder pagar fará com que o projetista ajuste as vontades às capacidades de pagamento. A planilha Características do Lote fornecerá os últimos dados para a configuração da edificação dentro do lote e o lote dentro da gleba; assim como fornecerá subsídios para os Projetos Complementares ao de Arquitetura e ao de Desenho Urbano. Subsídios aos Projetos Complementares ainda podem ser conseguidos através da planilha Mobiliário e Equipamento. Apêndices 6

5.3.3 - A Definição de uma estrutura modular:

A

produção

de

edificações

populares

pressupõe

um

processo

de

industrialização, para que se consigam resultados com menor custo. A definição de uma modulação, ou mesmo de um elemento construtivo que funcione como módulo, para a realização de todo o edifício se impõe como condição fundamental.

Na região metropolitana de Fortaleza, assim como em grande parte do território brasileiro, a produção civil ainda ocorre de modo semi-artesanal. É um simples empilhar de tijolos, método construtivo existente, na face da Terra, desde os


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tempos da pré-história. Algumas empresas de Fortaleza, seguindo o modelo das grandes, sediadas no sul do país, começam a investir na racionalização de seus canteiros. Aé mesmo o desperdício já começa a ser inventariado por pesquisa desenvolvida em nível nacional, envolvendo vários institutos e instituições de ensino superior. Planejar e produzir de modo racional objetos arquitetônicos, é a meta perseguida pelas construtoras que se apresentam como definidoras de mercado em Fortaleza. É papel da Universidade antever essas necessidades e apontar com as respostas tecnológicas para essas demandas.

Seguindo esse raciocínio, começou-se a estudar os métodos construtivos utilizados para a definição de habitações na região metropolitana de Fortaleza. A Taipa de sopapo ainda é muito utilizada nos assentamentos espontâneos, principalmente nas áreas rurais. O tijolo de diatomita, o cerâmico e o bloco de cimento são utilizados pelas empresas que edificam assentamentos planejados, estando o último deles mais presente nas edifícações multifamiliares. Já se pode encontrar em Fortaleza, de modo ainda muito acanhado, a utilização de equipamentos e outros artefatos que otimizem os recursos humanos. O uso do escantilhão, de masseiras transportáveis, de insumos guardados em paletes, a própria utilzação de novas tecnologias como a Taipa Melhorada, ou mesmo o emprego do Solo-Cal, do Solo-Cimento não conseguem ocorrer ainda de forma sistemática em território cearense, da mesma forma que já se encontra em estados como o Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina.

A produção de edifícios inteligentes em Fortaleza, também começa a ocorrer


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nas construções para adquirente de maior poder aquisitivo. Na Alemanha, nos Estados Unidos ou até mesmo na Austrália já é prática mais comum. Passou -se a denominar de Inteligentes os edifícios dotados de sensores e cabeamento lógico, capazes de através de um sistema central de computação monitorar, avaliar e acionar dispositos que podem fornecer aos ambiente condição de corforto apropriadas para o desempenho das atividades humanas.

Realmente, a definição de um módulo se impõe nas construções industrializadas. No Brasil, a utilização do concreto armado é intensa, por esta razão pensou-se a empregar placas pré-moldadas de concreto para a construção dessas habitações projetadas. A taipa de sopapo, principalmente no interior do Ceará, é amplamente utilizada nas habitações unifamiliares. Técnica construtiva herdada do colonizador português, que foi alterada para a realidade cultural brasileira, pelas mãos do escravo negro (MUNIZ, 1984). Aperfeiçoar a taipa, dando mais resistência por meio da adição do cimento, enquanto aglomerante, pareceu ser o modelo de ensaio mais apropriado; pois poderia ser facilmente reproduzido em qualquer canteiro de obra, por mais desqualificado que fosse o operário que a viesse utilizar. Isso não é, a rigor, uma inovação tecnológica, nunca antes tentada. São conhecidos trabalhos desenvolvidos pelo IPT em São Paulo e também por um grupo de pesquisadores baianos (CEPED - THABA - BNH - FINEP).

MAIA (1995), em seu artigo sobre compósito utilizando a fibra do coco, afirma como sendo de 1:4 (cimento - areia grossa), com a adição de 1 porção de fibra e 200 ml de água, o traço apropriado para um compósito que utilize a fibra vegetal


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enquanto elemento resistente à tração nos pré-moldados. Isso só foi possível porque as tensões atuantes nos painéis eram pequenas. Ensaiou-se este compósito e mais dois outros com traços de 1:5 e 1:6, pois o objetivo principal, quando se trabalha com habitação popular, é a diminuição dos preços e o cimento é um dos componentes que agrega custo ao valor final do insumo argamassa. O traço 1:6 não resistiu a desforma, por essa razão foi expurgado. Uma nova tentaviva foi corrugar a placa, para se ensaiar novamente o traço 1:6 (cimento -areia grossa) mantendo-se 1 porção de fibra e 200 ml de água. A placa corrugada conseguiu ser desformada, precisa-se ensaiar agora a resistência à compressão e testar também a adição de telas de PVC como elemento de reforço, principalmente para os cantos e para os rasgos que receberão as esquadrias, que devem ser confeccionados nas peças préfabricadas. Mas, isso passa a ser objeto de trabalhos posteriores, para essa dissertação a simples utilização de um pré-fabricado corrugado atende ao objetivo principal desse trabalho, que é a definição de uma proposta de metodologia para o desenho das habitações que servirão a população que percebe menos de 3 salários mínimos como renda familiar mensal. Partiu-se para a definição do desenho deste módulo, tendo como premissa básica a facilidade de fabricação -deveria poder ser produzido até no Canteiro de Obras. O pré-moldado teria também que ser suficientemente leve para a manipulação sem que necessário fosse a utilização de equipamentos. Outro dado importante a considerar é que a montagem das edificações deveriam ser simples, teria de ser um juntar de peças pré-fabricadas, pois o Ceará não dispõe na Construção Civil de mão de obra muito qualificada. Figuras 5.3-1, 5.3-2 e 5.3-3


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FIGURA 5.3-1 - Material utilizado para a execução da placa pré-fabricada Foto: Daniel Canovas

FIGURA 5.3-3 - Placas pré-fabricadas Canovas

Foto: Daniel

FIGURA 5.3-2 - mistura dos componentes para a execução da placa pré-fabricada Foto: Daniel Canovas

A proposta que mais se adequava aos propósitos acima arrolados foi o do pré-fabricado corrugado com suportes laterais vazados. Este se ajustava ao processo de encaixe, poderia ser produzido por uma máquina simples, manipulada no próprio canteiro de obras. Os suportes laterais teriam tamanho suficiente para apoiar o pré-fabricado e possibilitar as uniões entre estes no sentido longitudinal e transversal. Tais suportes seriam vazados de modo a possibilitar a introdução de um tubo de aço - conector das peças e ainda viabilizar a passagem de dutos hidrosanitários ou mesmo elétricos por dentro do tubo de aço, embutindo, assim, as instalações prediais. Apêndices 7

A montagem das edificações seriam feitas da seguinte forma: primeiro se


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assentariam os blocos pré-moldados de concreto com um furo central, onde se colocariam os tubos de aço que passariam a funcionar como pilares e conectores das peças pré-fabricadas. Ligando duas peças consecutivas se teria uma cinta na forma de calha que apoiariam os módulos e distribuiriam os esforços entre os blocos. Encimando as paredes se teriam cintas aéreas no mesmo formado das anteriores. Estas cintas irão receber o madeiramento da coberta, a princípio executado seguindo o convencional sistema de capa e canal e utilizando a telha cerâmica produzida na região. Apêndices 8

As dimensões internas da edificação teriam que se ajustar a esse sistema modular. Este sistema modular deverá ser aprimorado posteriormente. Protótipos deverão ser executados para que se analise o comportamento das peças, sua produção e sua manipulação pelos operários. Fica aqui registrada a sua formulação, os desenhos iniciais das peças, a proposta dos encaixes, a junção com as instações, ficando ainda por ser definido, utilizando-se dos profissionais da engenharia mecânica, o formato da máquina que irá produzir os pré-fabricados deverá ter. Apêndices 9 e 10

Uma outra proposta que se apresenta, utilizando-se da mesma linha ideológica da metodologia descrita, é a substituição da argamassa de concreto com a adição da fibra de coco por um compósito onde entraria no lugar do concreto a resina polimérica. Poder-se-ía construir placas maiores e mais leves, mas com resistência compatível à utilização. Todos esses são experimentos que devem ser executados quando do desenvolvimento de tese para doutoramento.


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5.3.4 - Avaliação de Custos

A aquisição de um bem, com o é o de uma residência unifamiliar, compromete financeiramente toda uma familia, quando esta percebe menos de 3 salários mínimos mensais. O custo mensal desse bem, passa a ser, por essa razão, o maior indicador para a sua aquisição. Poder-se-ia até dizer que os usuários não se preocupam muito com o valor final de aquisição do imóvel mas, com o preço da prestação que irão pagar. Pensando nisso é que o preço é um item que deve ser bem estudado, quando se trata da produção desse tipo de unidade habitacional.

A utilização de materiais alternativos, que agregarão menor custo ao produto final, até mesmo o uso de resíduos urbanos, que certamente terão seus valores majorados em função da nova demanda, mas que certamente terão custos muito menores que os dos insumos convencionais, têm de ser copiosamente estudados em trabalhos posteriores.


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Capítulo VI - Análise da Metodologia proposta

Em sociedades mercantilizadas como a nossa, a casa é uma mercadoria a ser apropriada e, para os pobres, significa uma acumulação simbólica, num mundo em que a acumulação material é interdita para a maioria da população. (CÂMARA, 1998: 2)

Para que se possa fazer uma análise fiel da proposta metodológica elaborada, deve-se iniciar pela identificação dos seus pontos mais significativos. O princípio de todo o processo, relatado no capítulo anterior, foi a observação direta da produção de objetos arquitetônicos, centrando-se o foco no trabalho do projetista. A anamnese, coleta de dados, com a população demandadora do bem construído é o ponto primeiro de todas as atividades. Essa é realizada, no caso da habitação popular, pelas instituições governamentais e visa muito mais a caracterização econômica familiar, do que propriamente um levantamento de necessidades da população.

A proposta metodológica apresentada agrega ao questionário já elaborado, itens relacionados com as demandas dos futuros ocupantes das edificações. Isto feito, ter-se-á, de fato, o levantamento do Programa de Necessidades, marco zero do trabalho do profissional de arquitetura e urbanismo, quando se trata de atender a clientes de maior poder aquisitivo.


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Outro ponto analisado no capítulo anterior é o regime de Mutirão, utilizado pelas instituições governamentais, para a produção das residências. Por um lado agrega a população e cria uma certa consciência política e de cidadania, por outro, minimiza os custos finais da edificação pela utilização de mão de obra não qualificada e pela ausência de remuneração dos trabalhadores. O resultado direto dessa produção é a presença de construções com baixa qualidade no acabamento final e a presença de condições sub-humanas nos canteiros de obra.

Para esse fato, a proposta acena com uma qualificação da mão de obra a ser utilizada nos mutirões, um mecanismo de capacitação da população para posteriores gerações de renda. Além de construir a sua morada, o futuro usuário da edificação aprende uma nova profissão, ou se qualifica melhor para o mercado de trabalho. É importante, para se conferir melhor qualidade de vida aos menos abastados, que todo o trabalho realizado nos mutirões sejam remunerados.

Ainda no mesmo parágrafo do capítulo anterior, há um atrelamento do mecanismo do mutirão, aos processos de auto-construção e auto-gestão. Não se deve descurar da responsabilidade civil dos projetistas. O ato de projetar pressupõe fundamentação teórica. Quem define espaços deve ter um conhecimento pleno do funcionamento das estruturas, do comportamento dos materiais, dos princípios legais envolvidos com os direitos de propriedade e de construir e saber os fundamentos do conforto ambiental. O edifício, além de se configurar como abrigo deve possuir um valor simbólico, uma função subjetiva. Deve transmitir tranqüilidade, paz, conforto e tantas qualidades quantas demandadas pelos usuários. Deve


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representar abrigo, segurança, ou outros aspectos almejados pelos moradores e transmitidos pelo arquiteto, por meio da utilização e combinação de materiais, texturas, cores, formas e arranjos particulares.

Simplesmente atribuir ao usuário a capacidade de auto-planejar e autoproduzir as suas moradas é, de certa forma, um ato simplório, talvez até um pouco irresponsável, ou mesmo perigoso. Devem os projetista e executores dos edifícios estarem próximos aos futuros usuários das edificações. Devem ouvi-los e atender as suas demandas. O arquiteto, o engenheiro e todos os outros profissionais envolvidos com o processo produtivo devem se utilizar do melhor de suas técnicas para bem servir aos moradores. Devem colocar todo os seus conhecimentos e potencialidades a serviço da população, mas não devem delegar aos leigos atributos próprios aos que passaram por uma vivência acadêmica. Considerar arquitetura como todo bem edificado, antes mesmo de ser obra de arte, não pressupõe estimular a produção de moradas por legalmente inabilitados.

Todos esses processos de coleta de dados, concepção de projetos e gerenciamento

de

obra

devem

ser

realizados,

utilizado-se

dos

recursos

computacionais disponíveis no mercado. Atender às populações de baixa renda pressupõe um volume muito grande de trabalho, visto a demanda acentuada e reprimida existente em Fortaleza, no Ceará e no Brasil. Não se pode responder aos clientes, dentro dos conceitos de segmentação de mercado, sem a utilização de rotinas computacionais. Dispositivos, ou mesmo mecanismos de atuação, devem ser desenvolvidos de modo a associar aplicativos computacionais gráficos com


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gerenciadores de banco de dados. Essas demandas oferecem opções para futuros trabalhos de conclusão da graduação, monografias de cursos de especialização, dissertações de mestrado ou teses de doutorado na área da habitação popular.

A metodologia sugere a utilização de uma estrutura modular, do uso de um módulo, e iniciou essa tarefa pela definição de um elemento de vedação vertical. O trabalho surge, a princípio, a utilização de um pré-moldado de concreto com a adição de fibra de coco. O concreto resiste bem aos esforços de compressão e a fibra vem auxiliar no combate às solicitações de tração e flexão. Há até o desenvolvimento de alguns ensaios que procuram minimizar a presença do aglomerante, elemento que mais compromete o custo final da peça elaborada. Mais adiante, o trabalho oferece a possibilidade de utilização de um outro material, em substituição ao concreto no compósito, uma resina polimérica.

A intenção é a mesma em ambos os casos: a utilização de resíduos urbanos na produção de materiais alternativos para a construção civil. Fibras têxteis e derivadas do PET são, em um outro instante, oferecidas para análise.

Essa

dissertação propõe uma metodologia de trabalho para melhor responder a um Programa de Necessidade gerado pela população carente e a utilização de métodos e materiais alternativos, como forma de baratear o custo de construção.

Todas as

sugestões

como

de

novos

materiais

e

técnicas

construtivas,

assim

o

desenvolvimento de aplicativos computacionais que irão gerenciar ou auxiliar no trabalho dos projetistas, devem fazer parte de trabalhos subsequentes.


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O elemento modular de vedação vertical também pode ser considerado o princípio

do

processo.

Soluções

alternativas

para

cobertas,

assim

como

revestimentos de pisos e paredes, devem ser igualmente estudados, mas devem compor trabalhos isolados unidos pela mesma linha de pesquisa. Processos industrializados, ou semi - industrializados ou mesmo a utilização intensa da préfabricação deve ser, também, experimentada. Capacitação profissional é uma outra chave para o sucesso da produção de bens com maior qualidade e menor custo. A análise do conforto ambiental antecedendo a realização das edificações dará mais qualidade de vida aos usuários.

Seria simplório afirmar que esse trabalho está concluído com os experimentos realizados. Antes de tudo, essa dissertação mostra um relato histórico da problemática habitacional no mundo, no Brasil, no Ceará e no município de Fortaleza, enfocando as políticas governamentais e os processos de produção da habitação planejada. Traz uma análise da produção dos arquitetos e urbanistas, além de apontar diretrizes para trabalhos futuros de pesquisadores, projetistas e construtores. O problema habitacional, de fato, é muito complexo, envolve um grande número de variáveis, requer uma solução política antes da técnica, demanda sobretudo, dos envolvidos no processo, que tenham a vontade de realizar modificações nos caminhos já, por muito tempo, trilhados.

Atualmente os governantes, induzidos por dispositivos legais que impuseram até a criação dos Conselhos Municipais de Habitação Popular (Constituição Federal no seu Capítulo IV, em seu artigo 29, no inciso X, que trata da cooperação das


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associações representativas no planejamento municipal), têm de partilhar com as associações profissionais e classistas ligados à produção das edificações, com as organizações governamentais e não governamentais; tais como as associações, conselhos e uniões de moradores e principalmente com os futuros usuários dessas construções, as informações que dispõem e as estratégias definidas para o enfrentamento das demandas.

As posturas aqui expostas e materializadas nos modelos apresentados, antes de tudo, é a evidência de que as teorias podem ser aplicadas em objetos reais e que esses podem ser perfeitamente utilizados pela comunidade. É claro que essas propostas devem ser desenvolvidas, acompanhadas quando de suas implantações e observadas quando de suas utilizações.

É fato, que essa pesquisa tem de

continuar. Os modelos sugeridos deverão ser monitorados, novos ensaios deverão ser propostos. Da continuidade do processo, artigos, monografias, dissertações e teses podem ser gerados. Deve-se estreitar, ainda mais, os laços que unem os interesses da população, dos técnicos, dos governantes e da Universidade.


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Capítulo VII - Conclusão e Juízo Crítico

A casa, para o ser humano, encarna significados múltiplos: é um abrigo, um lugar de intimidade, de segurança (psicológica e econômica), é um lugar onde o indivíduo e sua família podem descansar a cabeça e o corpo fatigado . (CÂMARA, 1998: 2)

Este trabalho, antes de verticalizar informações sobre um único tema, se caracteriza pelo inventário, baseado em revisão bibliográfica e no exercício profissional de arquitetos e urbanistas, dos tópicos que envolvem o assunto habitação popular.

Levantou-se os antecedentes históricos da problemática

habitacional, desde a Revolução Industrial em terras européias até a versões nacional e local do fenômeno da produção fabril de bens. Estudou-se a política governamental brasileira, iniciando-se com o advento das primeiras máquinas, ainda ligadas à produção agrícola; até as propostas de mutirões e dos diversos tipos de financiamentos destinados à aquisição e melhoria da casa própria.

Entendeu-se o processo de industrialização ocorrido no país, no estado do Ceará e na cidade de Fortaleza e os impactos positivos e adversos na questão social da moradia. Descreveu-se toda a conduta tomada por projetistas, quando da definição de partidos arquitetônicos, de construtores no gerenciamento dos processos; como, também, procurou-se entender o conceito de habitar. Materiais tradicionais e inovadores, assim como técnicas construtivas vernaculares e recém


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desenvolvidas foram nessa dissertação analisadas.

O objetivo maior contido nesse texto é ofertar, como o próprio título assim o sugere, uma metodologia para a definição de partido arquitetônico para a habitação popular. São enumerados uma série de indicadores. Os primeiros de

ordem

antropológica, que podem ser melhor observados no capítulo que trata do desenho da habitação e sua adequação a um programa de necessidades, gerado pela população que percebe menos de três salários mínimos de renda familiar,

as

condições climáticas locais e a capacidade de comprometimento financeiro dos futuros usuários das unidades habitacionais construídas.

Depois, indicadores de ordem metodológica, quando sugerem a utilização de sistemas computacionais, seguindo o modelo da produção contemporânea que atende a segmentação de mercado exigida pela sociedade mercantil, para o tratamento de dados e a parametrização dos desenhos. Indicadores relacionados a materiais e técnicas construtivas foram, também, colocados, principalmente no capítulo em que desenvolve ensaios relacionados com a produção de placa corrugada executada a partir de compósito de concreto, reforçado com fibra de coco.

Nesse mesmo capítulo há também a alusão da utilização de vários materiais oriundos de resíduos urbanos, principalmente um compósito que mistura uma resina polimérica com a fibra de coco; esta apresenta a vantagem de ser mais leve que o pré-moldado de concreto. A utilização do PET e de resíduos têxteis também foram sugeridos, por existirem em quantidade compatível com a demanda habitacional, na


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cidade de Fortaleza.

De fato, não há um caminho único para o atendimento à demanda habitacional. Há, ainda, uma série de questionamentos a serem respondidos, dados a serem coletados, pesquisas a serem realizadas e, principalmente, decisões políticas a serem tomadas. Essa é a grande característica do problema habitacional brasileiro, que se arrasta desde o século dezenove e que só encontrará o seu término através de uma política de distribuição de renda, que possibilite uma geração de recursos financeiros, compatível com a aquisição de bens com tamanho custo, como o é o da casa própria. O modelo capitalista pressupõe riquezas concentradas nas mãos de alguns, mas a economia moderna evidencia que, para haver uma produção crescente de bens, necessário se faz que a mão de obra possa ser convenientemente remunerada, de modo a demandar mais bens a serem produzidos.

Embora o problema habitacional se concentre na escassez de recursos financeiros, por boa parte da população brasileira, encontrar caminhos técnicos que minimizem a demanda por moradias é de extrema valia. O primeiro passo, que diretamente envolve o exercício profissional de arquitetos e urbanistas, é a obtenção de programa de necessidades para cada família ou grupo de futuros habitantes das moradias. O desenvolvimento de aplicativo computacional se faz necessário em função do volume da demanda e do número de projetistas envolvidos com o processo.


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Essa dissertação propõe a elaboração de um formulário que deverá ser preenchido, contando com o auxílio dos assistentes sociais, que já cumprem, entre outros, esse papel de ouvidor da população. Observa-se, ainda, que no município de Fortaleza, como em outros em todo o país, já há a organização das comunidades carentes em associações, conselhos ou uniões. Esses grupos são politicamente ativos, detém informações preciosas sobre as demandas populacionais e algumas soluções

alternativas

tentadas

por

organizações

governamentais

e

não

governamentais. Elas, de fato, podem colaborar muito com as pesquisas desenvolvidas e, por força de lei, compõem os Conselhos Municipais de Habitação Popular.

Os dados coletados, diretamente com as populações carentes e de forma indireta com seus representantes institucionais, devem ser tratados por aplicativo computacional que gerencie valores estatísticos, de modo a que se identifique semelhanças e diferenças entre as respostas conseguidas. As repetições vão gerar padrões que facilitarão a produção industrializada das edificações, essencial para o barateamento de cada unidade construída. O projetista, de posse dos dados tabulados, passará para a fase de definição dos partidos arquitetônicos, utilizandose das unidades espaciais que foram anteriormente transformadas em blocos e armazenadas em arquivo específico do aplicativo computacional que auxilia na modelagem dos desenhos.

Essa proposta metodológica ouviu por bem manter o ato da definição do partido arquitetônico nas mãos do arquiteto e urbanista. Tudo está sendo sugerido


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de modo a facilitar o processo de criação por parte dos projetistas, mas, em nenhum momento foi aqui colocado que, rotinas computacionais ou processos de otimização, venham a substituir esse instante de criação do arquiteto e urbanista; pois é dele que depende a geração de espaços urbanos sempre surpreendentes, desprovidos da monotonia estética provocada pela repetição incessante de modelos, de residências-tipo. Cabe ao projetista, também, conferir toda a simbologia e subjetividade que o arranjo dos elementos arquitetônicos pode propiciar à uma edificação. Nenhuma máquina, até o momento, pode substituir os profissionais nessa tarefa. Mesmo os computadores que já se utilizam de lógica fuzzi e sistemas inteligentes de aprendizagem, ainda não conseguem emular tal sofisticação.

É fato, que os itens apontados nessa dissertação devem ser desenvolvidos em pesquisas posteriores. Certamente, novas monografias, dissertações e teses podem ser produzidos a partir desse trabalho. Necessário se faz que se utilize, com maior intensidade, do aplicativo computacional direcionado ao gerenciamento de dados estatísticos e melhor o ajuste ao objetivo a se pretende. A utilização contínua dos blocos do arquivo de desenhos, fará com que se possa aos poucos criar novas rotinas, em função dos objetos arquitetônicos demandados.

Enfim, deve-se utilizar do computador enquanto ferramenta para o auxílio do projetista. Essa é a proposta central dessa dissertação. Pode-se até criar processos semi-automatizados para gerenciar as etapas de criação, mas é fundamental que se mantenha presente a interferência do profissional de arquitetura e urbanismo nesse processo de geração do espaço urbano. É a presença desse profissional que vai


226

garantir sempre novas perspectivas para as cidades, pois ainda não há criada máquina que possa igualar a capacidade inventiva do homem.

Essa dissertação também procurou mostrar que se tem de investir em novas tecnologias, na pré-fabricação, ou até mesmo em procedimentos industrializados ou semi-industrializados, para que se consiga objetos arquitetônicos com melhor qualidade e menor custo de aquisição. Foi aqui sugerida uma proposta modular. Essa deve ser mais estudada no que se refere à sua fabricação, transporte e manuseio. Precisa-se avaliar o peso do módulo para que se possa constatar a sua trabalhabilidade. É necessário que se chequem os ajustes, que se avalie o comportamento das instalações prediais, correndo em vazios elaborados nos préfabricados. É importante que se observe a resistência do pré-fabricado aos esforços solicitantes, para que possa ser entendido como auto-portante. É fundamental que se estude melhor o compósito. Que se acompanhe a utilização da resina polimérica em lugar do concreto, de modo a se avaliar a facilidade de montagem das edificações pela leveza da peça e a resistência, desse novo pré-moldado, aos esforços já mencionados.

Uma análise do comportamento da fibra ao logo do tempo, a sua própria decomposição enquanto matéria orgânica, deve ser efetuada. A relação entre o corrugamento proposto para os elementos modulares e o conforto ambiental, além da própria melhoria das condições de resistência da peça, devem ser observadas. A manutenção da ruga nos pré-moldados de concreto, após o transporte das peças ainda não curadas, ou mesmo a facilidade de execução dos pré-fabricados a base


227

de resina polimérica. devem ser igualmente observados, além, é claro, do comportamento térmico da ruga e do efeito psicológico nos futuros usuários.

Muitas coisas ainda deverão ser testadas para que se possa apresentar esse produto para o consumo das populações menos abastadas. Até mesmo alguns conceitos devem ser revistos, como os de partilhar a população das unidades espaciais

Serviços e Sanitários.

Apesar de todos esses questionamentos e

trabalhos ainda por vir, foi muito importante o desenvolvimento dessa dissertação, pois traz uma sistematização do problema habitacional no mundo e no país, mostrando as políticas governamentais, o histórico do problema, materiais e técnicas construtivas convencionais e inovadoras.

Assim como ocorreu com a monografia: Levantamento

de programa de

necessidades de residência unifamiliar para população inserida na faixa de zero a três salários, apresentada com aproveitamento no curso de especialização em Métodos e Técnicas da Pesquisa, da Universidade de Fortaleza, que gerou essa dissertação do mestrado em engenharia civil com área de concentração em edificações, promovido pela Universidade Federal do Ceará, através da continuidade dos trabalhos e aprofundamento dos estudos, ela dá margem para que uma tese de doutorado ou mesmo outros trabalhos de graduação e pós-graduação possam ser realizados. A ciência não tem limites e a busca do saber deve ser contínua. Um trabalho científico não deve se encerrar em suas páginas, mas servir de balizador para novas investigações. Uma peça acadêmica não deve servir apenas ao seu autor para a obtenção de títulos ou outras benesses, mas deve ser um instrumento


228

de transformação social.


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