apital o
Impressos EXPERIÊNCIA 43 ANOS
Venceu 4 vezes o Set Universitário em 5 anos
Jornal da Manhã Jornalismo da Famecos/PUCRS, 1952 – Publicações Experiência desde 1967 – Jornal da Manhã criado em 07/2005 – Semestral – Ano 6, n° 11 – Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil, Julho de 2010
A busca incessante pela saúde perfeita O descontentamento com a aparência e o equilíbrio mental têm contribuído constantemente para a criação de novos produtos e técnicas para ampliar as condições de saúde. A “ração humana”, febre do momento, composto de ingredientes in natura, vem atraindo quem se preocupa com a aparência e também com a alimentação. Para complementar os tratamentos médicos convencionais,
Remo
Esporte no cartão postal Remadores treinam diante de cenário privilegiado a um quilômetro do Centro RODRIGO PIZOLOTTO/JM
surgiram as terapias holísticas, formadas por um conjunto de técnicas com o objetivo de cuidar dos aspectos biofísicos, emocionais e psíquicos do ser humano. Em comum, as duas práticas servem para auxiliar na ampliação da qualidade de vida. No entanto, ávidos pelos benefícios prometidos, os adeptos muitas vezes ignoram as contraindicações e as recomendações médicas. O rio Guaíba,em Porto Alegre
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Economia da região fumageira sob ameaça KARINE VIANA/JM
Privatização
Como salvar um teatro
Começam as obras para a restauração do Araújo Vianna, invadido por gatos Página 4
Turfe
Sem o brilho do passado Amizades e cavalos ainda levam fiéis às corridas do Hipódromo do Cristal THIAGO COUTO/JM
Armindo e Melânia Baierle integram uma das centenas de famílias cuja fonte de renda vem da produção e venda do tabaco
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À frente na reta de chegada
Página 5 ALINE COSTA E SILVA/JM
Fãs do Jazz resistem na noite Páginas 4 e 5
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Diversidade no Parque da Redenção Página 3
Brique:performance de inúmeras tendências atraem público
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2 Porto Alegre, julho de 2010
Jornal da Manhã
OPINIÃO Editorial
Artigo
Liberdade para escrever F RODRIGO PIZOLOTTO Um espaço para trabalho, aprendizado, evolução e também um choque com o mundo real das grandes redações. É uma boa definição do que representa o Jornal da Manhã. Basicamente, um periódico semestral com conteúdo que abrange os mais variados assuntos. Aliás, qualquer assunto. Os estudantes são livres para escolher suas pautas, o que constitui um privilégio especial pouco visualizado por repórteres em atividade no mercado. Liberdade para criar. Ou melhor, para escrever. Os alunos do sexto semestre de Jornalismo da Faculdade de Comunicação Social (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul (PUCRS) colocam, literalmente, suas habilidades jornalísticas à prova. E supervisão é o que não falta. A avaliação textual é feita pelo professor Tibério Vargas Ramos, um veterano das redações do Rio Grande do Sul. Elson Sempé concede aos futuros jornalistas aquelas que devem ser as bases de um fotógrafo de qualidade. Por fim, organizando a bagunça entre texto e fotografia, Fábian Chelkanoff Thier é o tutor da diagramação. Metaforizando um time de futebol vencedor, com uma mescla entre juventude e experiência, uma equipe tem como meta finalizar um jornal. Desafio encarado diariamente no universo jornalístico. Nesta edição, um estilo
musical ganha espaço. Um espaço que havia se perdido no tempo. Pelo menos aqui no Brasil. Em um bar portoalegrense, na famosa e baladada Cidade Baixa, o Jazz resiste à cena cultural que quase o abandonou. Nomes como Caixa Preta e Jorginho do Trompete ganham destaque em meio a um ambiente em que predominam o samba-rock e o blues. Serviço público à população. Esta obrigação básica do governo figura nas páginas do Jornal da Manhã. O leitor confere detalhes da construção do hospital da Restinga, que atenderá mais de 100 mil pessoas. Considerado de porte médio, o empreendimento só não receberá cirurgias de alta complexidade, como cardía-
Contadores de Histórias F MÔNICA CARVALHO
cas e transplantes de órgãos. Um pequeno trajeto de barco leva a um lugar de beleza natural incrível que encara a fumaça e os prédios da Capital. O contexto em que o remo é praticado no Rio Grande do Sul é retratado no caderno de Esportes. Em clima de Copa do Mundo, o “professor” do jornalismo esportivo gaúcho embarca para a África do Sul com o restante da equipe do Grupo RBS. É a décima segunda Copa de Ruy Carlos Ostermann. Graduado em filosofia, ele passa um pouco da sua sabedoria às páginas do JM, sempre mesclando futebol com literatura. O resultado dessa experiência acadêmica você confere nas páginas a seguir. Boa leitura! LUCIANO LANES/FAMECOS
Outro dia assistindo um programa de televisão ouvi o jornalista Heraldo Pereira revelar que desde pequeno adorava contar histórias. E este hábito de mexer com a imaginação dos amigos foi importante para sua escolha profissional. Ele considera que nós jornalistas somos grandes contadores de histórias. Eu já havia escutado essa expressão, mas não tinha parado para pensar que faria parte deste grupo, achei que seria apenas jornalista. Desde criança sempre gostei de ouvir o relato de histórias e observar as pessoas à minha volta, mas nunca pensei em contar minhas observações. Depois de refletir sobre o assunto, percebi que a função de contar histórias é muito atraente. Em meio à construção de nossa narrativa convivemos com inúmeros personagens e fazemos o possível para retratar fielmente os fatos. Em muitos casos temos como matéria-prima as surpreendentes lições da vida. Ao mesmo tempo em que relatamos felicidade, superação,
conquistas, e curiosidades retratamos também a dor e a tragédia. Ao enfrentar os desafios da reportagem e frequentar diariamente os bastidores da notícia, nos deparamos com elementos que não deveriam compor nossa história. Mas infelizmente a violência, a mentira e o sofrimento recebem destaque nas pautas e se infiltram nos noticiários. Você deve pensar que qualquer pessoa pode contar histórias, e não deixa de ser verdade. Mas o diferencial do jornalista está na função de criar um relato que reflita apenas a verdade, o futuro dos personagens não pode ser inventado e nem manipulado. Os fatos são retratados por meio de palavras e imagens, com a união desses elementos a matéria é desenhada, assim começa a ser escrita uma nova história que em poucos dias já será velha. Desvendar os mitos da objetividade, escolher fontes adequadas, distanciar-se emocionalmente das fragilidades e humanizar a reportagem são fatores determinantes para o jornalista ser também um contador de histórias.
Artigo
A arte de ouvir F NICOLE PANDOLFO
Disciplina de Produção de Jornal, turno da manhã, encerra edição sob a orientação de professores
Artigo
A Internet nas Eleições 2010 F GABRIELE DE ABREU Há menos de um mês para as Eleições gerais de 2010, a pergunta que não quer calar é a seguinte: Será que o território livre da internet vai ter uma participação decisiva na eleição dos candidatos? O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) estima em 62,3 milhões de pessoas, acima dos 16 anos, a quantidade dos que possuem acesso à grande rede, o equivalente a 32% da população que hoje beira a marca dos 192 milhões de habitantes. Nas eleições presidenciais brasileiras de 2006, parece ter havido consenso em relação à importância da Internet nas
Jornal da Manhã
muitas avaliações sobre o papel da mídia, já que, quase dois terços dessas pessoas se informam exclusivamente em sites de notícias, enquanto que 7% utilizam somente as redes sociais, como Orkut, Facebook e Twitter com essa finalidade. O crescimento da fatia que acessa o espaço virtual não para de crescer e não deixou outra saída. Em 29 de setembro de 2009, o presidente Lula sancionou a lei conhecida como “minirreforma eleitoral”, que defende a liberdade na Internet para que haja debates entre os candidatos, mas não nos moldes do rádio e da televisão.
determinados candidatos, desde que a iniciativa seja de cunho pessoal, sem qualquer pagamento. Críticas, por outro lado, devem respeitar a honra alheia e a realidade dos fatos. O que se pretende evitar é a associação de candidato com determinada marca e a desvirtuação da publicidade institucional para promoção pessoal. As ferramentas para a propaganda digital estão aí, ao alcance de todos. Com o conhecimento necessário, poderão fazer toda a diferença na promoção dos candidatos. A grande questão será o uso correto das tecnologias pelos profissionais envolvidos.
Vencedor duas vezes no SET Universitário em Planejamento Gráfico, mais Artigo e Cartum
Jornal laboratório do Curso de Jornalismo, disciplina de Redação e Produção de Jornal, turno da manhã, da Faculdade de Comunicação Social (Famecos), da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Avenida Ipiranga, 6681, prédio 7, Partenon, Porto Alegre, RS, Brasil. E-mail: famecos@pucrs.br Reitor: Ir. Joaquim Clotet Vice-Reitor: Ir. Evilázio Teixeira Diretora da Famecos: Mágda Cunha Coordenadora de Jornalismo: Cristiane Finger Professores responsáveis: Tibério Vargas Ramos (redação e edição),
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Na Internet, por exemplo, os candidatos terão permissão de usar a web para fazer propaganda e arrecadar fundos de campanha. Quem quiser fazer doações vai, inclusive, contar com a possibilidade do cartão de crédito. Outro reflexo da mudança na lei é a manutenção dos sites dos partidos e dos candidatos, que poderão continuar em rede para os usuários até mesmo durante a votação. A propaganda paga na web está proibida, mas não será punida a livre manifestação de apoio a determinados candidatos. Será permitido aos blogueiros elaborar posts contendo mensagens em favor de
Fábian Chelkanoff Thier (arte e diagramação) e Élson Sempé Pedroso (fotojornalismo) Repórteres e diagramadores: Aline Costa E Silva, Augusto De Freitas Brusch, Bruna Lopes Da Silva, Cairo Caridade Fontana, Camila Borges Correa, Camila Kaufmann, Carolina Soares Marquís, Delmar Farias Dutra Junior, Douglas Carpes Fortes, Gabriel Henrique Calvi, Gabriele de Abreu Oliveira, Karine dos Santos Viana, Kellen Pacheco Moraes, Leonel Frey Chaves, Luana Duarte Fuentefria, Lucas Coelho Gonçalves, Mariana Furtado Bartz, Monica Carvalho da Silva, Nicole Pandolfo, Rodrigo Silva Pizolotto, Thais Monteiro L. de Moraes, Thiago Gravana Couto e Otávio Kremer Abuchaim.
Admiro os que preferem ouvir a falar. Eu sempre achei prazeroso, por exemplo, acomodar-se perto de alguém mais velho e escutar longas histórias de um passado mais antigo do que eu. Como quando ouvia sobre a viagem feita pela minha avó, da Itália até o Brasil, contada por ela, quando eu ainda era uma criança. Não lembro exatamente as palavras que ela usava, mas tenho como fotografias na memória as imagens que ela descrevia com o forte sotaque italiano. Eram fantásticos os momentos em que sentávamos, uma prima e eu, a sua frente nas tardes dos meus sete ou oito anos. Os barquinhos cheios de frutas estranhas – para um europeu da década de 20 – que abasteciam o gigantesco navio tomavam formas. Damas e cavalheiros da primeira classe se divertiam nos bailes em alto mar, enquanto minha avó, ainda criança, espiava fascinada. Durante uma janta em família volto aos anos 70. Em meio a gargalhadas, minha mãe e minha tia lembravam suas adolescên-
“
cias na vila do interior do Rio Grande do Sul. Muitas das histórias eu ouvia pela 2ª ou 3ª vez, sem que elas perdessem a graça, e enxergava as duas jovens e seus irmãos na pacata Vila Oeste se divertindo à custa de moradores pitorescos, brigas em saídas de bailes e situações engraçadas na mesa de jantar. “Claro que pra vocês isso não tem graça, mas...”, insistia minha tia se dirigindo a mim e, talvez, a toda minha geração. Mal sabia ela que uma relação curiosa surgia na minha cabeça. Imagens se fundiam. E eu me dei conta que Erico Verissimo deixou em mim uma marca mais intensa do que eu pensei. Vila Oeste era Santa Fé e o casarão onde minha mãe e meus tios cresceram era o Sobrado. D. Bibiana... Minha avó? Volto para o presente. Rindo das histórias, da minha imaginação. Tenho essas cenas na mente como se as tivesse presenciado e pensar nelas traz a nostalgia de um tempo que eu não vivi. Ouvir histórias é como ler livros e se descobrir em épocas diferentes da sua. Basta ouvir o que o outro tem para contar.
O desaparecimento do livro é uma obsessão de jornalistas que me perguntam isso há 15 anos Humberto Eco
23/6/2010 09:00:35
Porto Alegre, julho de 2010 3
Jornal da Manhã
CIDADE
“Temos um problema sério na cidade com carroceiros” Régis Galvão
FOTOS NICOLE PANDOLFO/JM
Pontos da cidade como a rua Florianópolis, próxima a Avenida Oscar Pereira, sofrem com o depósito de lixo trazido por carroceiros
Limpeza Projeto facilita o descarte de materiais reaproveitáveis em Porto Alegre
Criados Ecopontos para o descarte de lixo reciclável
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Centenas de pessoas se amontoam nas paradas a fim de usar o transporte público de Porto Alegre. Nas linhas que passam pela Avenida Ipiranga, a situação fica dramática. Ali, nos horários de pico, os ônibus não param. Entre as 7h40 e as 8h10 está o período mais problemático. As linhas que abastecem a região levam, na sua maioria, universitários com destino à PUCRS ou ao Campus do Vale, da UFRGS. Pietro dos Santos, estudante de história, conta que alguns coletivos são impossíveis de apanhar. “Eu já fiquei 40min esperando e o D43 passou sem abrir a porta de tão cheio que estava”, reclama da linha Universitária, que liga o Centro ao bairro Agronomia. A capital tem 1.592 ônibus em circulação. Só esse ano, de janeiro a março, cerca de 80 mil pessoas utilizaram esse tipo de transporte. Procurada, a Empresa Pública de Transporte e Circulação – EPTC, não se pronunciou sobre as ocorrências. (Thais Longaray) THAIS LONGARAY/JM
Linhas para universitários
O shopping do povo
F NICOLE PANDOLFO
unidade piloto do projeto, diz que os objetivos do Como se livrar daquele Ecoponto serão alcançados material incômodo, resul- conforme a população toma tado da pequena reforma conhecimento dos locais e da sua casa, ou do colchão é educada a depositar lá o velho que não serve mais material descartado. “Desde para doação. O descarte des- fevereiro nós já percebemos te tipo de lixo gera dúvidas a mudança. Terrenos próe a falta de informação é a ximos à unidade que antes responsável pela poluição serviam como depósito de da cidade e pelo trabalho material de carroceiros hoje extra do Departamento Mu- estão livres dos entulhos”, nicipal de Limpeza Urbana observa. No local, três containers (DMLU). Uma alternativa implan- recebem diferentes tipos de tada em Porto Alegre se- resíduo. No primeiro é degue os moldes de cidades positado material não inerte que será desbrasileiras tinado a um como Belo Horizonte. Os “É uma maneira de aterro sanitário, como móEcopontos, unidades de facilitar a vida da veis, colchões e madeira. O recebimento população” segundo conde resíduos, tainer é resersurgem em diversos locais da capital vado para resíduos inertes gaúcha com o objetivo de da construção civil – caliça, facilitar a vida do morador. cerâmica, terra e entulho O material não recolhido – que serão utilizados no pela coleta regular, como nivelamento de terrenos. móveis, caliça, podas de ár- Os resíduos arbóreos serão vore, pneu e óleo de cozinha colocados no terceiro conusado pode ser levado até tainer e posteriormente triestas unidades, onde serão turados para se transformar devidamente separados e em composto orgânico. Régis Galvão, diretor da encaminhados a aterros. O 1º Ecoponto foi inau- Divisão de Limpeza e Coleta gurado em fevereiro de 2010 (DLC) do DMLU, explica a na rua Cruzeiro do Sul, na proposta da iniciativa. “O Zona Sul de Porto Alegre. projeto prevê a criação de Conhecida como Destino mais 15 Ecopontos dentro Certo, a unidade foi criada da área do município, dispara atender pequenos gera- tribuídos em pontos mais dores que possuem material próximos às pessoas. É uma reciclável a ser descartado. maneira de facilitar a vida Os resultados têm sido po- da população e diminuir o sitivos. Elza Lizete Noal descarte de lixo nas ruas da de Jesus, responsável pela cidade”, conclui.
Os ônibus não param!
Unidade Cruzeiro do Sul: os containers são esvaziados diversas vezes ao dia
Carroceiros sabotam
Na Diário de Notícias
Os locais de recebimento de resíduos grandes existem há muito tempo, mas sempre estiveram em áreas distantes da região urbana e, portanto, de difícil acesso. O resultado são ruas pouco movimentadas que servem como depósito de cadeiras velhas, móveis abandonados e pneus. Um exemplo é a rua Florianópolis, próxima à Avenida Oscar Pereira. A área é ponto de encontro de carroceiros que coletam materiais para vender em reciclagens ou despejam ali o lixo que recolheram em outro ponto, agravando a situação.
O sistema é alimentado por moradores que utilizam um serviço prestado por carroceiros. Para se desfazer do lixo gerado em casa, as pessoas oferecem uma quantia de dinheiro aos catadores que recolhem o material e o eliminam em áreas inapropriadas. “Temos um problema sério na cidade com carroceiros. Eles coletam resíduos de particulares em troca de uma quantia de dinheiro e descarregam em qualquer lugar”, reclama Régis Galvão, diretor da Divisão de Limpeza e Coleta (DLC) do DMLU.
O shopping do Porto, conhecido como camelódromo, coloca o cidadão da Capital próximo da comodidade na hora de escolher produtos por preços acessíveis. Alem de ter mais espaço para fazer uma boa escolha de compra, o aspecto da segurança está visível para o público consumidor. Antes, para fazer compras, era preciso se esbarrar e cuidar para não ser assaltado. Agora, as bancas têm os nomes na entrada e isso garante uma busca mais fácil para achar a banca desejada. Com duas quadras – a A, onde está a parte de compras, e a B, a praça de alimentação – o Centro Popular está capacitado para atender o seu público alvo. Porém, a pouca procura na praça de alimentação deixa os administradores preocupados. (Augusto Brusch) DOUGLAS FORTES/JM
Preço baixo para o povo
23/6/2010 09:01:48
4 Porto Alegre, julho de 2010
Jornal da Manhã
FOTOS CAMILA BORGES/JM
Mostra Eu, Porto Alegre de olho na Copa de 2014 GABRIELE DE ABREU/JM
Espaço Copa 2014 na Usina do Gasômetro F GABRIELE DE ABREU
Localizado no Parque Farroupilha, o anfiteatro Araújo Vianna já foi palco de grandes espetáculos
Reforma Iniciam-se as obras no auditório de Porto Alegre ao ar livre
Araújo Vianna renasce após anos abanbonado F CAMILA BORGES O Auditório Araújo Vianna sobrevive ao abandono e inicia obras de reforma. Sem condições de investir financeiramente na reforma do local, a Secretaria Municipal da Cultura decidiu concedê-lo à iniciativa privada – documento licitatório que colocava à disposição a parceria públicoprivada, propondo 75% de utilização do auditório por um período de dez anos à empresa privada que fizesse a obra. Há três anos, a Opus Promoções foi escolhida. O gerente comercial da empresa, Edgar Rüther, anuncia o início da recuperação do teatro, mas pondera que a conclusão das obras, prevista para um prazo de 18 meses, depende do clima de Porto Alegre, em especial o inverno. “Esses problemas já estão considerados nesse espaço de um ano e meio. Se tudo der certo, a obra poderá ser entregue antes”. O custo da obra, previsto em R$ 7 milhões, pode chegar a 15 milhões. Uma questão ambiental envolve a reforma, pois animais fizeram do anfiteatro o seu habitat. Em uma conversa informal com Célia Santos e Anaí Rosana Garcia, representantes da Cooperativa dos Defensores dos Animais do RS, foi relatado a importância do lugar para os animais – principalmente gatos. “Nasceram ali dentro, são em torno de 15 gatos ariscos, eles não vem até as grades, então trazemos ração para
CRÉDITO DE FOTOW/JM
Animais fizeram do local a sua casa
Tentativa de aproximação entre grades e paredes eles, e quando se consegue se aproximar de algum, ele é tratado e levado para adoção”, conta Célia. Segundo Anaí, a
cooperativa é um projeto em permanente desenvolvimento e melhoramento. E, como a cooperativa não possui um
abrigo para os bichinhos, eles ficam sob a responsabilidade de cada colaborador, que resgata, trata, e encaminha para a adoção. Em relação aos pombos, Edgar Rüther revela que “um dos trabalhos já realizados no Araújo Vianna foi a descontaminação do local”. Originalmente o Auditório foi inaugurado em 1927, onde hoje se encontra o prédio da Assembléia Legislativa. O nome foi em homenagem ao compositor gaúcho José de Araújo Vianna (1871-1916). Em 12 de março de 1964, os arquitetos Moacir Moojen Marques e Carlos Maximiliano Fayet apresentaram o novo projeto de espaço para o Araújo Vianna, com capacidade para 4.500 pessoas, no Parque da Redenção, inaugurado em 1967. Nos anos 70, o auditório foi muito requisitado por shows de MPB, e em 1977 o Parque Farroupilha foi tombado como Patrimônio Histórico e Cultural da capital, estendendo a preservação ao anfiteatro. Na década de 80 ainda disponibilizava espaço para espetáculos de teatro, música, manifestações políticas, palestras, mas já perdia o ritmo por falta de reformas. Trinta anos de discussões levaram à cobertura do Araújo Vianna. Em um 1996, um show histórico de João Gilberto inaugurou a lona que cobre o local até hoje, mas a cobertura perdeu o prazo de validade em julho de 2002, e no início de 2005 o auditório foi interditado pela Prefeitura por tempo indeterminado.
O espetáculo já vai começar Todas as licenças já foram concedidas. A Opus, empresa que venceu a licitação, já começou as obras. Segundo Edgar Rüther, “o espaço será reaberto por meio de uma parceria públicoprivada entre a Prefeitura de Porto Alegre e a Opus Promoções, com Oi e Coca-Cola como patrocinadoras, mas outras empresas também devem apoiar o projeto”. Também estão previstos cuidados no entorno do parque, como o cultivo dos jardins, gramados, trilhas e es-
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pelhos d’àgua, sinalização das áreas próximas do auditório e, se possível, até mesmo das quadras esportivas do Parque Ramiro Souto. O palco terá uma ampliação, contará com iluminação, serviços públicos do bairro, limpeza da região e instalação de câmeras de vídeo para a segurança externa. Depois de pronto, o Auditório Araújo Vianna voltará a ser um grande agregador social. A Sala Radamés Gnattali – uma das áreas existentes no local – passará por uma transformação
e vai oferecer um leque de atividades no ramo da capacitação cultural, disponibilizando oficinas, workshops e cursos. Ainda está prevista a construção de uma biblioteca-museu, com a proposta de resgatar e preservar a história musical e cultural do local. Em melhores condições, o Auditório Araújo Vianna deve reabrir em 18 meses com conforto e segurança. Se o clima do Sul ajudar, turistas e toda a comunidade gaúcha poderão ver o resultado final em setembro de 2011.
Na semana em que Porto Alegre comemorou 238 anos de fundação, uma de suas principais atrações foi a exposição Eu, Porto Alegre, realizada no primeiro andar da Usina do Gasômetro. O evento, inaugurado no dia 22 de março, mostrou, em obras estratégicas, melhorias no trânsito, transporte e mobilidade urbana – que deverão transformar a paisagem da cidade nos próximos anos. Foram sete espaços de interatividade e tecnologia que apresentaram ao público como será a capital depois da execução dos projetos. Na primeira sala, pode-se, por exemplo, pedalar em bicicletas presas em raias simuladas, levando o passageiro a um passeio por futuras ciclovias e ciclofaixas. Seguindo para a outra sala, com o toque das mãos em um dos computadores expostos no ambiente, lâmpadas e espelhos mostraram a revitalização da iluminação, que mudará as ruas da cidade pelo programa Porto Alegre + Luz. No espaço Copa 2014, os visitantes experimentaram a sensação de entrar em um estádio de futebol, ao caminhar sobre um enorme gramado de piso sintético. Ao ser pressionada, uma bola dava o comando para a exibição de vídeos que mostravam projetos para
a realização do mundial que terá Porto Alegre como uma de suas sedes. A exposição durou três semanas e contou com o apoio da prefeitura e teve mais de 20 funcionários envolvidos. Uma equipe de oito pessoas trabalhou na assistência ao público. Etienne Zorzi, responsável pela entrada, fala da importância de sua função. “Os monitores foram fundamentais, pois auxiliam na explicação e nas funções tecnológicas de cada sala”, explica a funcionária que trabalhava cerca de 12 horas diárias no evento. Para que tudo estivesse pronto para os visitantes, dez funcionários chegavam uma hora antes da abertura para limpar, pintar e fazer a manutenção dos equipamentos. No final do turno, por volta das 21h, o ambiente recebia outra passada de vassoura e as paredes ganhavam novas pinceladas. A preocupação foi o suficiente para chamar a atenção dos porto-alegrenses. Lucas Bochehin, 28 anos, aprovou a estrutura montada e disse acreditar no êxito do projeto, caso seja colocado em prática. “A mostra toda estava irada, com umas ideias muito boas. Acredito que tudo isso possível, mas também tenho medo de que essa infraestrutura seja entregue para pessoas que não cuidarão da cidade”, comenta. GABRIELE DE ABREU/JM
Uma das atrações: Espaço Ciclovia e Ciclofaixas
Percorrendo a Exposição Portais da Cidade – Monitores de TVs apresentam o projeto. Na saída, uma porta libera o acesso à exposição. Pisa – O ambiente todo azul com três telas projetam a imagem de uma gota d’água caindo em um recipiente, refletindo no piso a queda d’água e seu movimento. Porto Alegre + Luz – Espaço branco circular onde lâmpadas no teto, sincronizadas com o som ambiente, dão a sensação da ampliação da iluminação na Capital. Copa 2014 – Um totem em forma de bola de futebol deve ser pressionado acionando vídeos com os projetos previstos para o mundial. Cais Mauá – Um projetor de 15 metros mostra imagens da cidade. Lunetas futurísticas apresentam o vídeo do projeto de revitalização do Cais. Cidadania - Uma sala de espelho com piso vermelho tem um vídeo rodando que mostra o projeto de mudança das famílias das Vilas Dique e Nazaré. Pessoas se misturam às imagens do vídeo, rebatidas em vários espelhos, tomando parte da cidade, em um conceito de inclusão.
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4 Porto Alegre, julho de 2010
Jornal da Manhã
FOTOS CAMILA BORGES/JM
Mostra Eu, Porto Alegre de olho na Copa de 2014 GABRIELE DE ABREU/JM
Espaço Copa 2014 na Usina do Gasômetro F GABRIELE DE ABREU
Localizado no Parque Farroupilha, o anfiteatro Araújo Vianna já foi palco de grandes espetáculos
Reforma Iniciam-se as obras no auditório de Porto Alegre ao ar livre
Araújo Vianna renasce após anos abanbonado F CAMILA BORGES O Auditório Araújo Vianna sobrevive ao abandono e inicia obras de reforma. Sem condições de investir financeiramente na reforma do local, a Secretaria Municipal da Cultura decidiu concedê-lo à iniciativa privada – documento licitatório que colocava à disposição a parceria públicoprivada, propondo 75% de utilização do auditório por um período de dez anos à empresa privada que fizesse a obra. Há três anos, a Opus Promoções foi escolhida. O gerente comercial da empresa, Edgar Rüther, anuncia o início da recuperação do teatro, mas pondera que a conclusão das obras, prevista para um prazo de 18 meses, depende do clima de Porto Alegre, em especial o inverno. “Esses problemas já estão considerados nesse espaço de um ano e meio. Se tudo der certo, a obra poderá ser entregue antes”. O custo da obra, previsto em R$ 7 milhões, pode chegar a 15 milhões. Uma questão ambiental envolve a reforma, pois animais fizeram do anfiteatro o seu habitat. Em uma conversa informal com Célia Santos e Anaí Rosana Garcia, representantes da Cooperativa dos Defensores dos Animais do RS, foi relatado a importância do lugar para os animais – principalmente gatos. “Nasceram ali dentro, são em torno de 15 gatos ariscos, eles não vem até as grades, então trazemos ração para
CRÉDITO DE FOTOW/JM
Animais fizeram do local a sua casa
Tentativa de aproximação entre grades e paredes eles, e quando se consegue se aproximar de algum, ele é tratado e levado para adoção”, conta Célia. Segundo Anaí, a
cooperativa é um projeto em permanente desenvolvimento e melhoramento. E, como a cooperativa não possui um
abrigo para os bichinhos, eles ficam sob a responsabilidade de cada colaborador, que resgata, trata, e encaminha para a adoção. Em relação aos pombos, Edgar Rüther revela que “um dos trabalhos já realizados no Araújo Vianna foi a descontaminação do local”. Originalmente o Auditório foi inaugurado em 1927, onde hoje se encontra o prédio da Assembléia Legislativa. O nome foi em homenagem ao compositor gaúcho José de Araújo Vianna (1871-1916). Em 12 de março de 1964, os arquitetos Moacir Moojen Marques e Carlos Maximiliano Fayet apresentaram o novo projeto de espaço para o Araújo Vianna, com capacidade para 4.500 pessoas, no Parque da Redenção, inaugurado em 1967. Nos anos 70, o auditório foi muito requisitado por shows de MPB, e em 1977 o Parque Farroupilha foi tombado como Patrimônio Histórico e Cultural da capital, estendendo a preservação ao anfiteatro. Na década de 80 ainda disponibilizava espaço para espetáculos de teatro, música, manifestações políticas, palestras, mas já perdia o ritmo por falta de reformas. Trinta anos de discussões levaram à cobertura do Araújo Vianna. Em um 1996, um show histórico de João Gilberto inaugurou a lona que cobre o local até hoje, mas a cobertura perdeu o prazo de validade em julho de 2002, e no início de 2005 o auditório foi interditado pela Prefeitura por tempo indeterminado.
O espetáculo já vai começar Todas as licenças já foram concedidas. A Opus, empresa que venceu a licitação, já começou as obras. Segundo Edgar Rüther, “o espaço será reaberto por meio de uma parceria públicoprivada entre a Prefeitura de Porto Alegre e a Opus Promoções, com Oi e Coca-Cola como patrocinadoras, mas outras empresas também devem apoiar o projeto”. Também estão previstos cuidados no entorno do parque, como o cultivo dos jardins, gramados, trilhas e es-
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pelhos d’àgua, sinalização das áreas próximas do auditório e, se possível, até mesmo das quadras esportivas do Parque Ramiro Souto. O palco terá uma ampliação, contará com iluminação, serviços públicos do bairro, limpeza da região e instalação de câmeras de vídeo para a segurança externa. Depois de pronto, o Auditório Araújo Vianna voltará a ser um grande agregador social. A Sala Radamés Gnattali – uma das áreas existentes no local – passará por uma transformação
e vai oferecer um leque de atividades no ramo da capacitação cultural, disponibilizando oficinas, workshops e cursos. Ainda está prevista a construção de uma biblioteca-museu, com a proposta de resgatar e preservar a história musical e cultural do local. Em melhores condições, o Auditório Araújo Vianna deve reabrir em 18 meses com conforto e segurança. Se o clima do Sul ajudar, turistas e toda a comunidade gaúcha poderão ver o resultado final em setembro de 2011.
Na semana em que Porto Alegre comemorou 238 anos de fundação, uma de suas principais atrações foi a exposição Eu, Porto Alegre, realizada no primeiro andar da Usina do Gasômetro. O evento, inaugurado no dia 22 de março, mostrou, em obras estratégicas, melhorias no trânsito, transporte e mobilidade urbana – que deverão transformar a paisagem da cidade nos próximos anos. Foram sete espaços de interatividade e tecnologia que apresentaram ao público como será a capital depois da execução dos projetos. Na primeira sala, pode-se, por exemplo, pedalar em bicicletas presas em raias simuladas, levando o passageiro a um passeio por futuras ciclovias e ciclofaixas. Seguindo para a outra sala, com o toque das mãos em um dos computadores expostos no ambiente, lâmpadas e espelhos mostraram a revitalização da iluminação, que mudará as ruas da cidade pelo programa Porto Alegre + Luz. No espaço Copa 2014, os visitantes experimentaram a sensação de entrar em um estádio de futebol, ao caminhar sobre um enorme gramado de piso sintético. Ao ser pressionada, uma bola dava o comando para a exibição de vídeos que mostravam projetos para
a realização do mundial que terá Porto Alegre como uma de suas sedes. A exposição durou três semanas e contou com o apoio da prefeitura e teve mais de 20 funcionários envolvidos. Uma equipe de oito pessoas trabalhou na assistência ao público. Etienne Zorzi, responsável pela entrada, fala da importância de sua função. “Os monitores foram fundamentais, pois auxiliam na explicação e nas funções tecnológicas de cada sala”, explica a funcionária que trabalhava cerca de 12 horas diárias no evento. Para que tudo estivesse pronto para os visitantes, dez funcionários chegavam uma hora antes da abertura para limpar, pintar e fazer a manutenção dos equipamentos. No final do turno, por volta das 21h, o ambiente recebia outra passada de vassoura e as paredes ganhavam novas pinceladas. A preocupação foi o suficiente para chamar a atenção dos porto-alegrenses. Lucas Bochehin, 28 anos, aprovou a estrutura montada e disse acreditar no êxito do projeto, caso seja colocado em prática. “A mostra toda estava irada, com umas ideias muito boas. Acredito que tudo isso possível, mas também tenho medo de que essa infraestrutura seja entregue para pessoas que não cuidarão da cidade”, comenta. GABRIELE DE ABREU/JM
Uma das atrações: Espaço Ciclovia e Ciclofaixas
Percorrendo a Exposição Portais da Cidade – Monitores de TVs apresentam o projeto. Na saída, uma porta libera o acesso à exposição. Pisa – O ambiente todo azul com três telas projetam a imagem de uma gota d’água caindo em um recipiente, refletindo no piso a queda d’água e seu movimento. Porto Alegre + Luz – Espaço branco circular onde lâmpadas no teto, sincronizadas com o som ambiente, dão a sensação da ampliação da iluminação na Capital. Copa 2014 – Um totem em forma de bola de futebol deve ser pressionado acionando vídeos com os projetos previstos para o mundial. Cais Mauá – Um projetor de 15 metros mostra imagens da cidade. Lunetas futurísticas apresentam o vídeo do projeto de revitalização do Cais. Cidadania - Uma sala de espelho com piso vermelho tem um vídeo rodando que mostra o projeto de mudança das famílias das Vilas Dique e Nazaré. Pessoas se misturam às imagens do vídeo, rebatidas em vários espelhos, tomando parte da cidade, em um conceito de inclusão.
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Porto Alegre, julho de 2010 5
Jornal da Manhã
Turfe Esporte resiste e ainda conquista apaixonados por corrida de cavalos em Porto Alegre
O brilho perdido do Cristal FOTOS THIAGO COUTO/JM
Com público baixo, o Hipódromo Cristal enfrenta dificuldades financeiras e relembra com saudosismo o tempo em que o turfe era valorizado na capital F THIAGO COUTO
ficava lotado”, lembra. O glamour de antigamente, que Todas as quintas-feiras, exigia terno e sapato para ao cair do sol, pelo menos acompanhar as corridas, uma centena de pessoas deu lugar à democracia das se reúne no Hipódromo camisetas e tênis. Mesmo Cristal de Porto Alegre para assim, ainda são poucos os fazer aquilo que lhes dá que permanecem fiés à prámais prazer na semana. São tica esportiva. “É uma pena homens em geral de idade, que isso esteja como agora”, que se conhecem e podem completa. se comunicar através de um Apesar das atuais disimples olhar ou uma afirficuldades financeiras, o mação com a cabeça. Mesmo presidente Vecchio garante com a carente infraestrutura que nos próximos anos o do local, mantêm um sorriso Hipódromo Cristal poderá permanente no rosto. passar por restaurações. Eles estão lá por um mo“Existe uma empresa espativo, talvez um dos pouco nhola que está analisando que impulsione suas vidas: a possibilidade de investir um amor incondicional, no hipódromo”. Apesar do forte e agudo a um esporte Apostador confere resultado dos páreos do dia mistério, tudo indica que que nos dias de hoje está a empresa seja a Codere, praticamente obsoleto. Al- área – boa parte ocupada por gerenciar o negócio. “É bom que desde 2004 vem inguns chamam de vício ou estabelecimentos comerciais lembrar que dos R$ 150 mil centivando o turfe no país. jogo de azar. Pode ser. São –, o Hipódromo Cristal hoje arrecadados a cada semana, “Estamos realizando leilões apaixonados por cavalos e definha, lento, mas resis- quase 30% são repassados dos animais, que é mais uma pelo turfe. te às intempéries devido para o Jockey Club de Porto fonte de renda e poderá nos Poucos sabem, mas às ao esforço dos dirigentes, Alegre”, afirma. ajudar na reestruturação do margens do Guaíba se er- funcionários e criadores de O restante do dinheiro é Cristal”, completa. cavalo. gasto em premiações, sergue uma obra Enquanto a verba não V i v e r d o viços básicos e pagamentos chega, o público faz o seu ímpar da ar“O Hipódromo quitetura mopassado seria de funcionários. Segundo o papel. Nelson Fruet, de 55 derna do cone Cristal é referência um bom ne- presidente, a quantia é baixa anos, comparece todas as sul-america- na arquitetura em gócio para os para manter o local em bom quintas-feiras no Cristal, e no. Um com- países do cone-sul” apaixonados estado de conservação. Em se diz apostador convicto. pelo turfe. O consequência, o local afasta Conheceu o esporte há cinco plexo de préesporte, que cada vez mais o público, anos. “Quando cheguei aqui dios que tem apenas 50 anos, mas que já nos últimos anos vem per- que hoje ocupa somente não gostei muito do lugar, sofre com problemas infra- dendo muitos seguidores, uma das três mas na mivive um período de recessão. grandes arquiestruturais e de abandono. nha primeira “São 4 mil sócios, aposta meu Fundado no final da dé- O reflexo desse fenômeno bancadas. Luiz Gar- mesmo assim não c a v a l o g a cada de 50, o hipódromo é pode ser visto no antigo ponuma obra idealizada pelo to turístico de Porto Alegre. cia, 65 anos, é nhou, aí não arquiteto uruguaio Román Alguns setores do Cristal ti- um dos apos- há recursos para a deu mais pra manutenção” Fresnedo Siri. É considerada veram que ser praticamente tadores assíparar, hoje uma das obras mais ousadas abandonados por falta de duos. O criaé um vício”. do artista, e é exemplar em dinheiro. Em uma rápida dor, nascido em Santiago, Com o passar dos anos, já um quadro de referência glo- visita às estruturas, podem- conheceu as corridas de ganhou e perdeu muito dibal. Tal relevância na área se notar infiltrações, vidros cavalo quando tinha apenas nheiro, mas garante que no da arquitetura, no entanto, quebrados e lixo espalhado 10 anos. Desde lá, acompa- final das contas isso não é o não garante que o complexo pelo chão. Para o presidente nhou a ascensão e queda do mais importante, e sim os esteja imunine ao descaso e do hipódromo, José Vecchio esporte. “Antigamente era amigos e as boas histórias Filho, o valor ganho nas bonito de ver, as pessoas se de vitórias e derrotas que o má conservação da área. Com 92,5 hectares de apostas é insuficiente para arrumavam, o Cristal todo lugar lhe proporcionou.
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Tratamento especial para os competidores Estima-se que no Hipódromo Cristal existam 500 cavalos, todos puro-sangues ingleses, os famosos SPI. Como é característica dessa raça, os cavalos são obrigados a se exercitar todos os dias, tomam banho depois dos treinamentos e são escovados por seus cuidadores, quase um tratamento VIP. Tal atenção e carinho se deve em parte ao valor que o animal pode atingir no mercado, que pode chegar a R$ 100 mil. Por esse motivo, os proprietários contratam até fisioterapeutas particulares para os animais. Se algum cavalo se machucar e não receber tratamento imediato, é quase impossível
a recuperação, e terá que ser sacrificado com uma injeção letal. Miguel Ângelo, 38 anos, trabalha com os animais e reside na Vila Hípica do Cristal há 10 anos. Para ele, que não tem pais nem filhos, sua família são os 18 cavalos sob sua responsabilidade. Miguel recebe um salário mínimo por mês, e reside em uma casa bem simples, com cozinha, sala, banheiro e um quarto. As contas de casa, porém, é seu patrão quem paga. Mesmo com as dificuldades, o cuidador garante que não há melhor trabalho no mundo, e não se imaginaria em outro lugar. “Eu amo isso daqui. Não saio de jeito nenhum”.
Cavalos descansam nas cocheiras depois do treino
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6 Porto Alegre, julho de 2010
Jornal da Manhã
SAÚDE
“Graças à população, o hospital vai se tornar realidade” Ver. Comassetto GABRIEL CALVI/JM
Madrugada de espera no Pronto Socorro F CAROLINA MARQUIS
Funcionários trabalham na primeira fase do projeto de terraplanagem, o terreno doado tem 40 mil m²
Sonho Antiga reivindicação da Zona Sul começa a ser construída
Hospital da Restinga enfim sai do papel BRUNA LOPES/JM
F BRUNA LOPES F GABRIEL CALVI
diante”, desabafa. Da sua casa até o hospital Moinhos de Vento, onde faz O novo complexo de saú- seu tratamento, é necessário de da Restinga é resultado pegar dois ônibus. Quando de parceria da Prefeitura de ficou sabendo que o projeto Porto Alegre com o Hospital da Restinga vai sair do papel, Moinhos de Vento (HMV). vibrou com a notícia: “TeAlém do bairro, outros seis nho que consultar com certa serão beneficiados: Lageado, rotina e a distância é uma Lami, Belém Novo, Ponta das dificuldades, com meu Grossa e Chapéu do Sol. O problema visual é perigoso investimento será de R$ 60 andar de ônibus sozinha. milhões. Considerado de por- Estou muito feliz, tudo ficará te médio, o empreendimento mais fácil agora.” só não receberá cirurgias O local da nova construde alta complexidade, como ção foi escolhido em virtude cardíacas e transplantes de das características de isolaórgãos. mento urbano, elevada denO capital para as constru- sidade populacional, carência ções virá da renúncia fiscal e de estruturas de atenção à de isenções de contribuições saúde, em especial hospitalar, sociais concedidas pela União e indicadores sociais que eviao Hospital Moinhos de Ven- denciam situação de vulnerato. O complexo de saúde con- bilidade social. Cerca de 100 tará, também, com recursos mil pessoas vivem nas regiões de caixa do próprio HMV, da Restinga e do Extremo que é uma asSul da capital. sociação sem O número é “A Restinga fins lucrativos. maior que o necessita de uma da cidade de Com inauguração prevista Erechim, com atenção maior para 2012, o 97.916 habina saúde” projeto não se tantes. resume a um O vereador simples hospital – trata-se engenheiro Carlos Comassetde um complexo de saúde to, líder da bancada do PT na organizado e direcionado Câmara Municipal de Porto integralmente a pacientes do Alegre, é um dos incentiSUS. A moradora do bairro vadores. Ele está envolvido Restinga, Jacira Macedo, de com a comunidade há mais 72 anos, precisa de tratamen- de dez anos. “Promovemos to médico mensalmente. Há passeatas e criamos o comidez anos, sofreu um derrame tê Pró-Restinga em 2006. que a deixou cega do olho es- Posso afirmar que graças a querdo e com graves sequelas esses eventos e a insistência no direito. Viúva, mãe de três da comunidade ajudou o filhos, aposentada e com difi- hospital a sair do papel e está culdades financeiras, a cidadã começando a se tornar realireclama da falta de investi- dade.” Comassetto conta que mento na saúde. “Há tempos presenciou muito sofrimento a comunidade precisa de um dessas pessoas e está na hora atendimento médico mais de agir. “A Restinga necessita qualificado, mas nenhum de uma atenção maior na plano até hoje foi levado a saúde com urgência”.
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Vereador Comassetto (PT), um dos incentivadores
distribuídas ao redor da sala de espera, há diferentes As pessoas se misturam histórias. Tem um homem e os caminhos se cruzam escoltado por dois policiais na avenida Osvaldo Aranha que espera ser chamado esquina com a Venâncio para interar um dos 38 leiAires, no prédio vizinho à tos destinados à UTI. Uma Igreja São José. O relógio família que chora abraçada: no centro da quadra marca o tempo curará todas as ferimeia-noite. Horário das das. Pessoas que imaginam incertezas nas madrugadas o tempo que deverão esperar outonais de Porto Alegre. por respostas levam cadeiras Duas lombadas cortadas de praia e as localizam entre ao meio por uma pequena as ambulâncias e a escada escada servem de base para que conduz ao hospital. as colunas que premeditam: Entretanto, uma delas se Hospital Pronto Socorro. destaca. É a de J., a da mãe O tempo passa devagar que espera por notícias. As na sala de espera do hospi- mães cumprem um papel tal. O nome faz o lugar: sala determinante no mundo: de espera. Velhos, crianças, criar pessoas. Uma mãe que jovens, mães, pais, tios, espera por notícias na porta namorados, bebês: todos es- de um hospital não faz jus à peram por parentes, amigos, música de Cazuza intitulada ou notícias. O que marca, “Só as mães são felizes”. J. entretanto, as pessoas que espera pela filha de 3 anos. figuram naquela sala é o ros- “Esta deve ser a milésima to fatigado, as pernas joga- vez que venho aqui”, fala J., das despreocupadamente e demonstrando, irritadiça, os braços cruzados em volta que o tempo real nada tem a do dorso procurando encon- ver com o tempo demorado e trar o próprio calor humano. pastoso da espera. “Neném”, Quando não estão dessa for- como carinhosamente a mãe ma distribuídas, estão de pé, chama a filha, sofre de asma à espera do porvir, à espera e o Pronto Socorro é parte por não mais esperar. constante da vida das duas. A calçada que ancora a “Espero o dia em que eu não ultra movimentada avenida precise mais vir aqui porque faz as vezes da sala de espe- ela estará curada”, profera a céu abertiza J. com to, onde os olhos cansa“O tempo passa cigarros são dos sabendo permitidos e devagar na sala de da noite que as pessoas se espera do hospital. as esperam. sentem menos hora sei O nome faz o lugar” “Por presas porque que o hospital cercadas por fará parte por ambulâncias, vendedor de algum tempo nas nossas café e algodão doce e men- vidas”, conta a mãe. Enquanto toma um café digos, que se aconchegam de baixo do pequeno teto – es- vendido no carrinho branco sencial para dias de chuva ou localizado entre as ambulânmadrugadas de sereno– do cias estacionadas em frente Hospital Pronto Socorro de ao hospital, J. reza baixinho Porto Alegre, conhecido nas olhando em direção à igreja ao lado do HPS. J. conhece a ruas da capital por HPS. Durante a madrugada rotina do lugar. Conhece as fria de inverno fora de épo- enfermeiras que em breve ca, e em todas as outras esta- trarão notícias de sua filha. ções do ano, pessoas passam “Não reclamo do atendipela sala de espera do hos- mento daqui. Só é ruim pital fundado em 19 de abril quando a polícia aparece de 1944. Por dia são mais de para trazer algum bandido 900 atendimentos em 22 ferido, ou então quando vem áreas. Por ano são mais de gente muito barulhenta”, 360 mil atendimentos rea- reclama a loira amplamente lizados e, portanto, mais de conhecida da rotina do local. 360 mil pessoas esperando “Aqui as noites parecem não por conforto e boas (muitas passar. A gente passa por vezes más) novas. elas. A gente vence cada uma Entre as poltronas azuis delas”, diz J. CAROLINA MARQUIS/JM
Para relembrar Anos 70 - Na planta do projeto de ocupação da Restinga aparecia um terreno destinado ao hospital. 10/2008 - Definido o terreno de 40 mil m2. 11/2008 - AHMV, prefeitura e governo federal assinam o termo que aprova a construção. 3/2009 - Anunciada a data para início das obras. 12/2009 - Prefeitura libera o início dos trabalhos. 1/2010 - Inicia-se a terraplenagem do terreno.
Infraestrutura projetada O terreno doado pela Prefeitura mede 40 mil metros quadrados, localizado no Loteamento Industrial na Restinga, na quadra J, que corresponde aos lotes 01 a 17. A construção contará com um prédio de 13.250 metros quadrados de área, distribuídos em três pavimentos. Noventa leitos estarão à disposição;
haverá atendimento adulto, pediátrico, centro obstétrico, sala de reanimação e estabilização, centro de especialidades e um de diagnósticos. O complexo atenderá a uma demanda histórica por serviços com foco na redução da mortalidade e no adequado tratamento das enfermidades com qualidade .
Pessoas aguardam por atendimento no HPS
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Jornal da Manhã
Porto Alegre, julho de 2010
Ração Humana: benefício à saúde ou modismo? F KARINE VIANA “A procura tem sido tão grande que a venda triplicou”. A afirmação feita pelo gerente da Banca 13 do Mercado Público de Porto Alegre, Márcio Zanatta, resume o sucesso que um composto de grãos tem feito entre os consumidores. Mais conhecida como “ração humana”, a mistura de velhos ingredientes tem assumido os cardápios principalmente de quem está em busca do emagrecimento. No entanto, a tentativa incessante pela boa forma tem ignorado outras propriedades favoráveis do produto. A mistura de ingredientes ricos em fibras, vitaminas e minerais ganha um lugar estratégico nas prateleiras do comércio. Cartazes com o nome popular “ração humana” estampam as lojas. Embora as denominações variem de acordo com o fabricante, este é o nome mais buscado pela população. Luciana Duarte, 30 anos, confessa que foi à procura do produto tão logo foi veiculado na imprensa: “Comecei a tomar na busca do emagrecimento, mas comecei a notar outras mudanças, principalmente na regularização do intestino”.
No entanto, a combinação de vários elementos in natura já é indicada há algum tempo pelos nutricionistas. A especialista em Nutrição Clínica, Clarisse Zanette, atribui a popularidade do produto a uma lista de supostos benefícios: “Diminuição dos níveis de colesterol, regulação do diabetes, melhora dos sintomas da menopausa e principalmente o emagrecimento.” Diante da principal promessa de enxugar as medidas, a também especialista na área e professora
“Todas as receitas de sucesso tiveram seus minutos de fama algum dia.” da PUCRS, Carolina Guerini, acrescenta que “as pessoas sempre estão em busca de alternativas para emagrecer e, de uma maneira geral, todas as receitas de sucesso tiveram seus minutos de fama algum dia”. Ainda nos anos 60, Edith Travi, juntamente com seus pais, criou uma mistura a qual denominaram “Elixir da Longevidade”. Há mais de 40 anos da sua comercialização, a fórmula é uma das protago-
nistas dos produtos oferecidos pela Casa Dietética, comércio administrado pela família na capital. A dosagem ideal de cada alimento foi indicada por cientistas europeus, mas Gustavo Travi, neto de Dona Edith, explica que a venda dos ingredientes é realizada separadamente: “Cada consumidor escolhe a composição de acordo com suas necessidades”. Daisy Teixeira, administradora da Geração Saúde, fabricante de alimentos naturais, diz que a organização comercializa o produto há poucas semanas. A necessidade partiu da forte procura do alimento, principalmente a partir de novembro de 2009. Hoje, a venda é efetuada tanto para pequenos comerciantes quanto para redes varejistas. A não padronização dos produtos encontrados nas prateleiras dos estabelecimentos sugere a escolha da composição adequada às necessidades do usuário. Os fabricantes têm investido em diferentes combinações sob o intuito de diversificar a possibilidade de escolha do cliente. Conforme orientação dos nutricionistas, ao apresentar intolerância a algum dos itens, é ideal montar sua própria mistura de acordo com suas prioridades.
KARINE VIANA/JM
Três colheres no leite equivalem a uma refeição
Vida Novas alternativas da medicina na busca da saúde perfeita
Terapias holísticas no tratamento de doenças FOTOS MÔNICA CARVALHO/JM
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O erro dos usuários Muitos usuários, ávidos pela possibilidade de acelerar a perda de peso, desconhecem ou ignoram os benefícios e contra-indicações de cada componente. Para Carolina, o principal erro do consumidor é acreditar na fórmula como mágica. “Achar que basta começar a ser consumida para emagrecer ou querer substituir várias refeições pela mistura”, ressalta. Este procedimento compromete a qualidade da alimentação por excluir demais alimentos com valores nutricionais importantes. Alisson Baldissera, 22 anos, admite que substitui até duas refeições diárias pela ração humana. “Fico saciado e não sinto fome durante boa parte do dia”, revela. Esta sensação de saciedade ocorre pela alta concentração de fibras, que faz com que a fome demore mais tempo para aparecer. A prática de substituir a comida é desaconselhada, pois o composto deve ser administrado como complemento, sob o risco de prejudicar a saúde, pois possui quantidades significativas de açúcar e sódio, itens que devem ser ingeridos com moderação.
Alternativas completam procedimentos médicos O cardiologista Paulo Casali considera que as terapias alternativas têm um papel fundamental na complementação dos tratamentos médicos. Para ele, a acupuntura é a terapia mais efetiva no combate e alívio dos sintomas. “Indico a acupuntura como terapia alternativa, principalmente nos casos de dores crônicas na coluna e também para amenizar as crises de enxaqueca. Há estudos que comprovam sua eficácia, mesmo quando ela é o único tratamento, pois propicia sensação de relaxamento e aumenta a resistência do organismo”. Dr. Casali não acredita que a difusão das técnicas alternativas possa comprometer o trabalho da medicina tradicional, “elas são complementares, da mesma
forma que a fonoaudiologia, fisioterapia e a nutrição”, destaca. O cardiologista é totalmente contra a substituição dos tratamentos médicos por técnicas holísticas. “Evidente que essa troca traz prejuízos à saúde, uma vez que os pacientes correm risco de não receber diagnósticos verdadeiros”, alerta. Para ele, sem diagnóstico correto, não há tratamento eficaz. “Ao fim, o prejuízo maior, é para o paciente”, ressalta. O tratamento doloroso no uso das agulhas é quase sempre relacionado a um mau profissional, por isso um ponto fundamental é a escolha de especialistas que submeteram-se a reconhecidos cursos de capacitação e obtiveram uma formação adequada.
A técnica das pedras aquecidas propicia relaxamento, alívio das tensões e ainda previne desequilíbrios F MÔNICA CARVALHO Com a tecnologia, a medicina evoluiu e a cura de muitas doenças já é possível. Mas, mesmo com tantos tratamentos inovadores, a busca pela saúde perfeita ainda é um desafio. A população está mais exigente e preocupada com a qualidade de vida. A busca pelo bem-estar e pelo autoconhecimento faz com que novas terapias ganhem o mercado e atraiam adeptos. As Terapias Alternativas têm como objetivo tratar da pessoa como um todo, cuidando os aspectos biofísicos, emocionais, ambientais e energéticos. Buscam o equilíbrio através de estímulos suaves e naturais que promovem a ampliação da consciência e da auto-harmonização. Elas melhoram as condições de saúde, complementam os tratamentos médicos convencionais e
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ainda auxiliam na prevenção de desequilíbrios. De acordo com o Sindicato dos Terapeutas (SINTE), existem 150 mil profissionais no país. A economia mobilizada por este setor atinge R$ 6,3 bilhões ao ano, ou seja, 0,53% do PIB. No Brasil, os tratamentos estão em ascensão, mas nos Estados Unidos movimentam cerca de US$ 30 bilhões por ano e o número de consultas com terapeutas holísticos é 30% superior ao de consultas com médicos. Entre os tratamentos oferecidos, os mais comuns são: reiki, reflexologia, terapia floral, cromoterapia, massoterapia e o yoga. No momento, só a acupuntura e a homeopatia são consideradas especialidades médicas. A acupuntura, técnica milenar chinesa, é reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina desde 1995. A profissão, que não foi
regulamentada pelo Ministério do Trabalho, conta com 30 mil acupunturistas em todo o país, a maioria atua de forma individual e sem fiscalização. A falta de regulamentação é a grande discussão em torno das terapias. A Associação Médica Brasileira determina que somente os médicos devem aplicar os tratamentos. A razão é clara: muitos leigos participam de cursos que duram um final de semana e já declaram seus milagrosos poderes de cura. Mas como em todas as áreas, na Terapia Holística também existem bons profissionais que têm consciência de suas atribuições. A diretora do Centro Idhera, terapeuta Lílian Brusque, destaca que a terapia alternativa tem por princípio usar técnicas naturais integradas para a manutenção global do indivíduo “e não dispensa o acompanhamento de outros profissionais
da área da saúde”, esclarece. No caso da acupuntura, que tem eficácia comprovada por meio de pesquisas científicas, cabe ao paciente compreender que o tratamento apenas ameniza os sintomas, como explica a fisioterapeuta e acupunturista Claudia Lucas Pederiva: “A acupuntura pode atuar em todas as doenças, as principais são, tendinites, dores na coluna, cefaléias, ansiedade e obesidade, mas é fundamental ter em mente que algumas doenças precisam de tratamento específico, como o câncer, a acupuntura vai melhorar os sintomas, mas não irá curar.” É comprovado que algumas terapias contribuem para o equilíbrio do ser humano. Elas complementam os tratamentos e ampliam a sensação de bem-estar, mas nenhuma técnica substitui as indicações da medicina tradicional.
A acupuntura é muito indicada pela medicina
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8 Porto Alegre, julho de 2010
Jornal da Manhã
GERAL
“Devemos entender a transparência como um direito da cidadania” Ver. Aldacir Oliboni
Transparência Executivo abre dados municipais à população
Contas públicas estão na internet
Eleições 2010 A voz de quem não tem vez
F RODRIGO PIZOLOTTO
FOTOS ALINE COSTA E SILVA/JM
José Maria, PSTU Dirigente nacional do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU), José Maria de Almeida, conhecido como Zé Maria, concorre a Presidência da República pela terceira vez. O Jornal da Manhã conversou com o candidato que não aparece nem nas pesquisas, nem no espaço na grande mídia.
Página do Portal Transparência está disponível para todos os usuários da internet F ALINE COSTA Os dados das finanças públicas do município de Porto Alegre agora podem ser acessados pelo cidadão através de uma nova ferramenta instituída na página da prefeitura: o Portal Transparência. Através do site, desde fevereiro deste ano, é possível navegar pelas seções de Receita, Despesa, Execução Orçamentária e Financeira, Quadro Funcional, Folha de Pagamento, Diárias e Passagens e Contratações de Pessoal. Todas as informações estão disponíveis somente de janeiro de 2010 em diante. O portal foi criado por meio da Lei 10.728, de autoria do vereador Aldacir Oliboni (PT) e aprovado pela Câmara Municipal de Porto Alegre em 2009. Segundo Oliboni, uma das principais preocupações da sociedade brasileira, atualmente, é a implementação de instrumentos que deem
maior transparência aos atos praticados pelas instituições públicas. “Esse é um tema que, sem dúvida, contribui imensamente para o fortalecimento da democracia. Devemos entender a transparência como um
“O Portal promove acesso ágil, amplo e objetivo aos dados da aplicação dos recursos públicos municipais.” direito da cidadania. Aliás, um direito garantido na Constituição Federal e na Lei Orgânica do Município”, afirma o vereador. A regulamentação através do Decreto 16.588 definiu o cronograma de implantação das seções de convênios, que deverá acontecer no segundo semestre de 2010. As licitações e con-
tratações de serviços terceirizados só ocorrerão no primeiro semestre do ano que vem. As informações serão atualizadas mensalmente, à exceção dos conteúdos sobre quadro funcional que será semestral e de licitações com atualizações semanais. Para a Secretaria Municipal da Fazenda, a função do Portal Transparência é promover acesso ágil, amplo e objetivo aos dados da aplicação dos recursos públicos municipais. As informações terão de permanecer no Portal pelo prazo mínimo de quatro anos, após o encerramento da respectiva licitação ou vigência do convênio ou instrumento congênere pactuado, sendo disponibilizados links para a solicitação da íntegra dos documentos relativos ao processo de licitação. www2.portoalegre.rs.gov. br/transparencia
JM - Quais são as suas expectativas com relação a esse pleito? ZM - Nossa expectativa é apresentar para a sociedade brasileira uma alternativa que possa representar os interesses da classe trabalhadora no processo eleitoral.
Carmine Rimolo não pretende voltar mais à sua Itália natal. Matou suficientemente a saudade de Morano Calabro, de onde saiu em 1952 rumo ao Brasil, a Porto Alegre. Estabeleceuse como comerciante e hoje, aposentado, contenta-se em rever seus patrícios nas animadas tardes de truco na Sociedade Calabresa, ponto de encontro de muitos como ele, que chegaram aqui em busca de oportunidades de trabalho. Caminho contrário pretendem fazer milhares de brasileiros que estão na enorme fila para o reconhecimento da nacionalidade italiana, refazendo, gerações depois, a história de seus parentes. Com o advento da União Europeia, a cidadania italiana abre as portas do Velho Continente. Conforme a
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LUCAS GONÇALVES/JM
Pela Itália, jovens abrem caminho para Europa advogada Daniela Falavigna, especialista nesse tipo de processo, a maioria das pessoas que a procuram são jovens com a pretensão de seguir estudos e conseguir trabalho na Europa. A tra-
mitação, lenta, exige longa pesquisa por documentos e certidões, devidamente traduzidos para o reconhecimento da cidadania pelo consulado da Itália, assim como pelo governo do país.
As obras de melhoria da infra-estrutura de Porto Alegre para a Copa do Mundo de 2014 estão atrasadas. Algumas questões que conflitam os interesses do governo e dos clubes impedem que as reformas acelerem. Na Capital, a linha de metrô que ligaria os estádios Olímpico e Beira-Rio ao Centro não ficará pronta até 2014. O governo federal alega que a construção é grande demais para ficar pronta dentro do prazo. A situação do aeroporto Salgado Filho também preocupa. O projeto que visa o aumento de 920 metros da pista ainda não saiu do papel. O prazo da FIFA para o início das obras nos estádios expirou no dia 3 de maio. A reforma no Gigante da BeiraRio encontra-se parada. A razão apontada é a demora
do governo em conceder a isenção dos impostos. “Estamos aguardando a resolução de questões tributárias que envolvem todas as obras em nível nacional visando a Copa. Resolvido isso, as obras no Beira-Rio iniciarão efetivamente”, afirma Fernando Carvalho, vice-presidente de futebol do Internacional. Segundo o vice-presidente de patrimônio Emídio Ferreira, com a isenção dos tributos, a economia na reforma giraria em torno de 30%. Se a medida governamental ocorrer, o Inter venderá o antigo Estádio dos Eucaliptos. O dinheiro, calculado em aproximadamente R$ 25 milhões, será investido no projeto Gigante Para Sempre. “Pretendemos também arrecadar R$ 1 milhão com cada uma das 100 suítes que ficarão ao redor do campo”, declara Ferreira.
População recebe maior segurança durante o dia CAMILA KAUFMANN/JM
JM - Os veículos de comunicação não dão vez aos candidatos que não aparecem nas pesquisas. Onde estará a voz do candidato Zé Maria? ZM - Parte das dificuldades da nossa campanha é a incidência do poder econômico no processo eleitoral do nosso país. A legislação é completamente antidemocrática. Ela reserva a maior parte do tempo da televisão para partidos que já são governo e não há outra forma de chegar à população do Brasil a não ser pela televisão. Essa via está completamente fechada para os partidos que têm uma proposta socialista, ou de oposição ao status quo, como é o caso do PSTU. Nós vamos ter que superar isso com a militância, com a atuação dentro dos locais de trabalho, nas escolas e nas comunidades.
Cidadania inverte caminho de imigração F LUCAS GONÇALVES
Obras atrasadas para a Copa de 2014 na capital
Em Porto Alegre, o prazo mínimo para a finalização é de cinco anos, mas pode se estender bem mais. “Por isso muitos pais nos procuram a fim de deixar como herança aos filhos uma porta aberta para o futuro”, explica Daniela. A diferença desta nova geração que almeja a vida na Europa para os seus avôs ou bisavôs que imigraram para cá é a situação econômica destas pessoas. O processo de cidadania é dispendioso, exige uma boa renda. Diferente de Carmine, que desceu no Aeroporto Salgado Filho sem nada nos bolsos, apenas a promessa de ajuda de um cunhado que sequer conhecia. Arrependimento? “Já visitei Morano cinco vezes, mas agora já chega. Minha vida, minha família é no Brasil”. Talvez, esteja aí a semelhança – na coragem.
Soldado presta atenção na movimentação das ruas F CAMILA KAUFMANN Porto Alegre recebeu neste ano o maior número de efetivos na história da Brigada Militar. Até o momento a cidade conta com 3.118 PMs nas ruas. Segundo o capitão Heraldo Leandro Santos, responsável pelo P3 (operações, treinamentos e ensino para qualificar os novos policiais), os cidadãos percebem o aumento da tropa. “Antes mesmo da formação que ocorreu no dia 21 de abril, a população já comentava o aumento do policiamento nas ruas”, afirma Santos. Para João Neves, funcionário público e morador do bairro Centro, é normal ver PMs nas ruas, mas, durante a noite, nessa mesma região, o cenário muda. “Quando volto do trabalho não identifico um brigadiano nas ruas. Sinto falta do mesmo cuidado com a segurança na parte da noite”, comenta ele Durante o dia, o número
Os números Efetivo 2009
2484
Efetivo 2010
3118
de policias se intensifica. “Procuramos atender as necessidades da população. Direcionamos o maior cuidado para onde vamos ter um aglomerado de pessoas. E isso sempre ocorre na parte do dia”, esclarece o capitão Santos. Em contraponto, as blitze sendo realizadas pela manhã causariam um conflito de circulação nas vias. “À noite, empregamos as operações de barreiras. Assim, podemos coibir a ação dos criminosos, que na maioria das vezes usa a parte da noite para transportar as drogas”, conclui o oficial.
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Jornal da Manhã
Porto Alegre, julho de 2010
Camila Kaufmann Por uma vida menos ordinária
O
índice pluviométrico de Sydney (Austrália) é quase o mesmo de uma cidade como Porto Alegre, aí vem a questão: o que causa mesmo os buracos nas nossas estradas? Primeiro: a composição do asfalto no Brasil é precária, pois, além da economia de material, não há um bom sistema de drenagem para que a água evacue. Em segundo lugar, muitos caminhões trafegam com carga acima do peso permitido. A resposta mais visível é a necessidade de
obras (reformas) constantes para alimentar os sanguessugas que negociam as licitações públicas. Faz-se mal feito para depois reformar. O slogan “um país de todos”, se aplica aos que optam por entrar no “esquema”. Morei quase um ano na Austrália onde constatei inúmeras diferenças. Nas férias de verão percorri mais de 5 mil Km de carro, saindo desde Sydney, passando pelas praias de Queensland e retornando pelo interior. Sequer encontrei um
buraco do nível “Brasil” e 99% do percurso estão em excelentes condições. O nosso povo já esqueceu o que é andar em asfalto bom, nem se dando conta de que as nossas rodovias são deformadas, o famoso desnível. Não existe sequer um trecho em que você não se balance dentro do carro. Já pensei em instalar um “kit desodorante” acoplado internamente em virtude dos constantes “exercícios físicos”, no nosso País. Em Sydney, não há o medo com assaltos. É o corpo humano vivendo sem tensão. Aqui não temos liberdade para as coisas simples. Enfrentamos o toque de recolher; o direito de ir e vir não se aplica com racionalidade. O quesito segurança é um fator determinante de qualidade de vida. É visível que os australianos
ganham o suficiente para ter uma vida digna com qualquer trabalho. A partir dos 16 anos, muitos jovens já não moram mais com a família e acima de 21 raramente vivem com os pais. A maioria dos adolescentes não cursam sequer uma faculdade, porque em muitos casos ganham praticamente o mesmo salário fazendo serviços como limpeza de casa, baby sitter ou, até mesmo, entregando panfletos na esquina. O segredo deles é a massiva classe média, que, com a sua renda, educação e valores faz o país se desenvolver tanto da forma humana quanto monetária. A diferença é que com o pouco que se ganha se faz muito na Austrália, seja comprando móveis para a casa, ou indo ao supermercado. É um país focado na “Chinaliza-
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ção” – praticamente todos os bens de consumo são “made in China”. Isso resultou num sucateamento da indústria australiana, que acaba não conseguindo competir com os preços. É óbvio que a qualidade não é a mesma, porque o governo tem interesse na redução do custo dos produtos de modo a beneficiar o consumidor. Todavia, o poder de consumo do australiano é maior que o nosso modesto padrão. O Brasil é um país dos sonhos, de que algum dia você chegará lá com a fé. Não há um fato consumado e alguém pode lhe puxar o tapete. Na verdade, trabalhamos para pagar as contas e, com o que nos resta no final do mês, temos a falsa ilusão que as compras que fizemos no final de semana nos garantirão um futuro promissor.
Rural Com a redução de emprego no setor tabagista, aumenta a necessidade de novas culturas
Saída de indústrias do fumo causa desemprego e abala produtor rural F KARINE VIANA A economia da região central gaúcha se vê ameaçada com a migração de empresas fumageiras para outros estados. A empresa Universal Leaf já havia transferido parte de sua produção para o solo catarinense e este ano foi a vez da Alliance One confirmar uma unidade no estado vizinho. Com isto, o que inevitavelmente irá acontecer é a redução de empregos. Somente com a transferência da Alliance cerca de 280 empregos fixos deixam de existir. Além disso, haverá forte queda nos empregos
sazonais, chamados safristas, que chega a 1,6 mil. Conforme o chefe da Emater em Venâncio Aires, Vicente Fin, já existe parceria entre o órgão e a Secretaria Estadual da Agricultura visando trabalhar diversas frentes para viabilizar o
“O problema é para onde irá a produção alternativa” crescimento das culturas alternativas, entre eles a avicultura, suinicultura, piscicultura, o cultivo de grãos e de frutas cítricas. “Esta-
Cultivo de grãos é uma das alternativas de renda
mos apresentando muitas propostas e trabalhos para esta diversificação. O mesmo deve estar ocorrendo nos demais municípios”, afirma. A produção, no entanto, não deve ser afetada. Segundo a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), as empresas continuarão fornecendo insumos aos agricultores. O choque se configura na arrecadação da região e no índice de empregabilidade, o que também representa redução de movimentação financeira em outros setores. Fin destaca que em Venâncio Aires são 5,3 mil famílias cuja renda se baseia no setor, as alternativas apresentadas iriam inserir cerca de 800 famílias com renda semelhante. O engenheiro também alerta para a rentabilidade do tabaco, que se iguala apenas à pscicultura e olericultura, e acrescenta: “O problema não é só a rentabilidade, mas para onde irá a produção alternativa”, lembrando também que o cultivo de grãos como arroz, soja e milho necessitam de área superior a 100 hectares para atingir a mesma viabilidade de dois a três hectares de tabaco. Impulsionados pela produção do tabaco, municípios
FOTOS KARINE VIANA/JM
Os agricultores trabalham o ano todo, da plantação à secagem do tabaco da região de Santa Cruz do Sul contribuem para a garantia de renda de grande parte da região. O cultivo no RS faz com que o estado figure como maior produtor do fumo entre os estados sul-brasileiros. No entanto, a ameaça na queda deste rendimento em solo gaúcho está vinculada saída destas indústrias do tabaco para outros estados. Hoje, o RS é responsável pela produção
de 50% do total, enquanto Santa Catarina tem 33% e Paraná, 17%. A transferência é motivada pela estratégia de evitar a geração de créditos de ICMS. Romeu Schneider, secretário Afubra, acrescenta que isto se dá em função destes créditos estarem retidos no estado e não ressarcidos. Quando o fumo é transferido de Santa Catarina para o solo gaú-
cho, as empresas precisam recolher o ICMS na saída do estado de origem, o que gera crédito para o RS. Se transportado para a própria região produtora, não há incidência do imposto, o que significa redução de custos. A única alternativa para reverter a situação é a liberação do crédito acumulado, que hoje chega a R$ 170 milhões, propõe Romeu Schneider.
Símbolo da hospitalidade gaúcha ganha o mundo F KARINE VIANA Diversas lendas norteiam o uso da erva-mate no estado e a concepção do chimarrão. Uma delas dá conta de que soldados fundadores da primeira cidade da América Latina utilizavam a planta para a cura de ressacas. Também atribui-se ao uso de folhas cortadas dentro de um porongo pelos índios guaranis. No dia 8 de dezembro de 1980, durante gestão do então governador Amaral de Souza, a erva-mate foi constituída árvore símbolo do nosso Estado. O Ilex Paraguariensis, nome científico dado à planta, é a matéria-prima da bebida dos gaúchos, que através de um projeto criado há 12 anos, vem sendo disseminado pela
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Escola ensina o preparo Escola do Chimarrão, de Venâncio Aires. É entusiasmado que o diretor executivo da Escola, Pedro Schwengber, fala sobre a missão de globalizar este
símbolo gaúcho. A bebida quente e amarga tem, segundo muitos adeptos, o papel de aproximar as pessoas. Hoje, mais do que reunir as famílias em círculo enquanto apreciam o mate, a disseminação da cultura quer aproximar também outros povos. Diante disto, o instituto integrou uma comitiva que percorreu a Europa para divulgar a tradição sul-brasileira. Países como França, Àustria, Itália, Alemanha e Espanha tiveram a oportunidade de provar a bebida e conhecer um pouco da cultura do estado. Em 2009, além de marcar presença em diversas cidades gaúchas, também percorreu seis estados do país. No entanto, a menina dos olhos de Schwengber é realização de
um projeto chamado “mateada nas escolas”. “Queremos difundir a cultura entre os jovens”, afirma. Conhecida popularmente como Capital Nacional do Chimarrão, o município de Venâncio Aires, a 130Km da capital, teve este título legalmente reconhecido somente em 11 de novembro de 2009. O pórtico de entrada da cidade faz jus ao reconhecimento: duas mãos segurando cuias de chimarrão dão boas vindas aos visitantes. A cada dois anos, a cidade celebra a bebida com uma festa nacional, a Fenachim. O chimarródromo, fornece água quente aos transeuntes e integra um dos pontos turísticos da região. Uma mistura da colonização alemã com a gaúcha.
O chimarródromo é mais que um ponto turístico
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10 Porto Alegre, julho de 2010
Jornal da Manhã
ESPORTE
“Passar todas as estações do ano neste cenário natural, diante da cidade, é um privilégio”
Marcello Varriale
Remo A cerca de um quilômetro do Centro da Capital, remadores treinam em busca de seus objetivos
Capital por outra perspectiva F RODRIGO PIZOLOTTO
motivador. “Acredito que a cobrança seja muito mais dos Em meio a uma tarde efer- próprios atletas em relação a vescente de abril, a uma dis- eles próprios do que minha. tância de mais ou menos um Chegando aqui, eles sabem quilômetro do Cais do Porto exatamente o que fazer”, resque beira a cidade de Porto salta. Embora o técnico saiba Alegre, ouvem-se gritos: “Va- da consciência de seus atletas, mos lá! Faz doze quilômetros ele lembra que a rotina de mais uma sessão de alonga- treinos é extremamente canmentos e abdominais”. Uma sativa. “Exigimos muita força, longa pausa, caras feias e gemi- resistência e concentração”, dos na face de um guri. Porém, destaca. a expressão facial é de causa Os discípulos do treinador nobre. Os gemidos advêm de garantem que a rotina é muito esforço e dedicação. “Aumen- puxada. Francisco Mendes, 15 ta o ritmo agora!”. Diante da anos, dono de diversos títulos interrogativa do rapaz, o grito estaduais, é um dos destaques é solto com uma entonação do GNU. O guri corre o cammaior: “Se não tentares, nun- peonato nacional em uma ca vais conseguir”. Ao fundo, categoria acima da sua idade. ruídos do motor de um barco. Embora o sucesso obtido até o A cena se dá às margens do momento, ele não nega o canGuaíba, na Ilha do Pavão, uma saço dos treinamentos. “Tenho das sedes do Grêmio Náutico aula durante a manhã, chego União. As palano clube pelas vras de incen“Exigimos muita duas da tarde tivo são do cotreino até às força, resistência e eseis ordenador do e meia. concentração” Departamento Durante a noide Remo, Marte, corro para cello Varriale que, a bordo complementar as remadas da de uma lancha de alumínio, tarde”, afirma. endurece o treinamento de Aos 16 anos de idade, Bruadolescentes que almejam um na Contieri mostra que remar futuro brilhante no esporte. não é coisa de meninos. “Meu “Estamos a sete minutos do pai e diversas pessoas da faCentro. Escutamos o barulho mília praticaram remo a vida dos carros. Passar todo o ano inteira. Comigo não podia ser neste cenário natural, diante diferente”, conta. Sobre os da cidade, é um privilégio”, exercícios, ela enfatiza o rigor define, descrevendo o seu in- do esporte: “Sair de noite, vejado escritório de trabalho. por exemplo, o Marcello não Esporte mais popular do nos proíbe. Desde que esteja Brasil até as primeiras décadas às oito horas aqui no dia sedo século passado, principal guinte”. estampa das pouquíssimas páApesar de tudo, remadores ginas de divulgação esportiva e treinador concordam que que existiam, o remo é a razão o esporte compensa qualde existir do clube. Fundado quer tipo de esforço. Entre o em primeiro de abril de 1906 embarque no barco para ir e pelos guris Carlos Arnt, Hugo voltar da ilha todos os dias, Deppermann, Arno Depper- está a vista privilegiada da mann, Hugo Berta, Arnaldo Capital, a sombra das árvores, Bercht e Emílio Bercht. Eles alto-astral, amizade e alegria tinham o sonho de ver o seu e, no crepúsculo, um Sol que esporte preferido, nas águas se esconde de uma maneira do Guaíba. E hoje, de algum rara. “Tu remas olhando para a lugar, devem observar o resul- natureza. A cidade e o barulho tado com um imenso sorriso ficam longe”, lembra Bruna. “Se todos pudessem ter essa no rosto. Desde 2002, Varriale é visão que temos aqui, o pessoal não somente o treinador dos iria viver mais tranquilo”, comremadores, como também um pleta Marcello Varriale.
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“Tudo o que eu tenho veio do remo” Ronaldo Vargas é praticante do remo desde os 14 anos. Se dedica integralmente às raias do Grêmio Náutico União. Ele é nove vezes consecutivas campeão da categoria skiff, peso-leve.
muito nesse material. De resto, estamos na frente, sem dúvida.
Como é a rotina de treinos de um remador do GNU? Treino duas vezes todos os dias da semana. Sábado e domingo, o treinamento é somente em um turno. Chego às 6h45 e fico até às 10h. Depois, volto à tarde, pelas 15h e saio às 17h45. Que influências o levaram a praticar esse esporte? Meu irmão remava no Grêmio, mas só de brincadeira. E eu, com oito, nove anos ficava observando os barcos. Posteriormente me afastei da área. Fui jogar futebol. Quando voltei, aos 14 anos, permaneci até Ronaldo Vargas, 34 anos, remador hoje. Competições. Quais você participou e venceu? Sou nove vezes campeão consecutivo brasileiro da categoria skiff. O único brasileiro a alcançar esta marca. Tenho algumas medalhas pan-americanas, sul-americanas. Na minha categoria, apenas um remador do Rio de Janeiro
se iguala a mim no quesito sulamericano. Também participei e venci inúmeros campeonatos estaduais. A estrutura do GNU é a melhor do Brasil? Acredito que a única dificuldade do União é nos barcos. O clube não investe FOTOS RODRIGO PIZOLOTTO/JM
Após o exaustivo treinamento, a gurizada corre atrás da bola
Falta incentivo e patrocinadores para profissionalizar de vez o remo? O nosso esporte, infelizmente ainda é muito amador. Porém, não posso reclamar neste sentido. Tudo que eu tenho veio do remo. Minha casa e os três táxis que eu administro junto com um colega de clube. Não ganho o ideal, mas o meu sustento vem do esporte. Quanto aos patrocinadores, sempre quem nos manteve foi o União. Falando de remo especificamente aqui em Porto Alegre, qual é a sensação de estar, ao mesmo tempo tão perto e tão longe da cidade, em contato com a natureza? A primeira vez que eu pisei na ilha, fiquei impressionado. Agora, com vinte anos de profissão, a gente sequer nota, mas o pessoal que vem de fora, passando o muro da Mauá, sempre se surpreende. As pessoas nem sabem que existe essa beleza toda que possuímos. A gente vê de tudo, porco-espinho, enfim, temos uma floresta particular em plena Porto Alegre.
No passado, era o mais popular Antes do futebol, o esporte mais popular do Brasil era o remo. Não fosse através das braçadas, não conheceríamos o Clube de Regatas Flamengo, o Botafogo de Futebol e Regatas e o Clube de Regatas Vasco da Gama. Não estaríamos em solo brasileiro se não fosse assim: na Ilha do Pavão, a rotina segue a ordem cronológica dos fatos. Após um dia de remadas, nada melhor do que um jogo de futebol. É esse o costume de Alef Fontoura, de 14 anos. O guri pratica remo há cerca de um ano e já é campeão estadual infantil e vencedor de três etapas da Copa RS. Após a saída do fotógrafo, é possível ouvir lamentações. “Vocês são tão ruins que o cara parou de tirar fotos!”.
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Porto Alegre, julho de 2010 11
Jornal da Manhã
Museu do Inter conta a história do futebol F THAIS LONGARAY Foi inaugurado na primeira quinzena de abril o Museu do Sport Club Internacional – Ruy Tedesco. Ao contrário do que se imagina, o espaço não conta somente a história do clube. Ali, pode-se conhecer um pouco do começo do futebol no Brasil e no mundo. Logo na entrada, um painel mostra a fundação do Inter e o contexto social no qual o futebol estava inserido no início do século 20. A elite dominava o esporte, cedendo, logo depois, aos jogadores de classes inferiores e aos negros. Em Porto Alegre, como mostra a exposição, os times passaram a buscar os jogadores da Liga Nacional de Football Porto-Alegrense, a Liga da Canela Preta, entre os anos de 1911 e 1915. Ainda no primeiro espaço, computadores permitem ao visitante conhecer a origem, a evolução tática, os primeiros territórios por onde a modalidade passou e a situação em que se encontrava à época da fundação do clube, em 1909. Na busca por essas informações, Milena Haubmann, gremista de Porto Alegre, confere o acervo. “Apesar de ser do colorado, o museu fala dos campeonatos no Brasil e
homenageia os rivais com as flâmulas”, comenta. Ao lado dos troféus internacionais conquistados pelo time da casa, a exposição das flâmulas dos adversários homenageia os grandes clubes com os quais o Inter jogou. No espaço estão representados gremistas, atleticanos, sportingstas, culés, são-paulinos, palmeirenses, entre outros tantos torcedores. O curador Nico Rocha destaca que esse é o diferencial da exposição, que tem por objetivo se tornar um ponto de encontro de apreciadores do futebol. “Resgatar a história e mostrar o contexto é importante para que o torcedor se sinta parte de tudo isso”, comenta. Ao total, foram gastos R$ 4 milhões em esculturas, equipamentos de alta tecnologia e recuperação das peças históricas. E o investimento valeu a pena. Só no primeiro final de semana mais de duas mil pessoas conheceram a exposição. “Foi muito satisfatório e esteve dentro da nossa expectativa, ainda mais havendo jogo do Inter no Beira-Rio. O pensamento é justamente de receber este visitante que depois verá a partida do clube”, avaliou a diretora do museu, Dânia Moreira.
Serviço Museu do Sport Club Internacional – Ruy Tedesco Estádio Beira Rio – Av. Padre Cacique, 891 – Porto Alegre/RS - Telefone: (51) 3230.4669 Funciona de terça-feira a domingo, das 10h as 18h. O valor de entrada é R$10,00. Sócios em dia e crianças até 5 anos estão isentas de ingresso. Idosos, estudantes e professores pagam meia entrada. ALEXANDRE LOPS/DIVULGAÇÃO
Espaço reservado a flâmulas exalta adversários
FOTOS DELMAR JUNIOR/JM
As bolachas de acrílico prontas para serem trabalhadas pelo torneiro, responsável pela fabricação das peças
Botão Saiba como são fabricadas as peças e a dica de um jogador
A paixão e a produção dos craques de acrílico F DELMAR JUNIOR Os jogadores estão à beira do campo, usando as cores e carregando o distintivo de seus clubes consigo. Inicia a partida, um dos times começa o ataque. até que surge o grito “A gol!” Na imaginação dos jogadores é futebol, igual ao visto nos estádios ou na televisão, mas as partidas são disputadas em uma mesa. Trata-se do futebol de botão, criado por Geraldo Decourt em 1930 com o Gérson utilizando o torno: sua principal ferramenta nome de Celotex, material da confecção das mesas, Mimo (loja especializada no que logo ganhou adeptos do futebol de mesa) até 1990, Brasil e também em outros quando decidiu fabricar países como Argentina e Es- suas próprias equipes. Para panha. No começo, as peças montar sua pequena fábrica, eram verdadeiros botões de o torneiro gastou cerca de 16 paletó, daí então que ganhou mil reais em materiais e inso nome o qual é chamado trumentos. Dentre as ferraaté hoje. mentas de Gérson constam Atualmente, com a pro- o paquímetro para medir fissionalização e dos re- camadas, a lixa d’água, mas gulamentos, principalmenos botões são te, o torno feitos prin- “Acredito mais na mecânico que c i p a l m e n t e qualidade do que está presente quer tipo de time para as de acrílico e em quantidade” na maioria do regras gaúcha e brasileira, galalite. E é processo, seja tanto que possui equipes da fabricação para diminuir temáticas com bandas de dos botões que Gérson de as camadas ou ajustar as rock famosas e os vende para Oliveira, torneiro de 52 anos, cavidades, por exemplo. todo o Brasil, recebendo sustenta a família: “Ganho Distintivos metálicos de também pedidos de países na base de dois mil e qui- bótons, ou produzidos no vizinhos e até mesmo da nhentos reais nos botões”. computador dão um quê a Europa. Gérson joga desde os anos mais nas peças, A Associação Washing70 e trabalhou para o Bazar O torneiro fabrica qual- ton Luiz de Futebol de Mesa,
Copa 2010 será totalmente em alta definição F LEONEL CHAVES Perceber o tipo de grama, o suor escorrendo no rosto dos jogadores, ver com nitidez o número nas camisetas, a transmissão da Copa de 2010, a primeira completamente em HD, ou High Definition (alta definição), permitiu que o torcedor, no conforto de sua casa, se sintisse mais próximo da sensação das arquibancadas na África do Sul. Os brasileiros só puderam contemplar os gols do bicampeonato mundial do Brasil, em 1958, na Suécia, e em 1962, no Chile, pelo rádio. Os rolos de filme com as imagens de Pelé & Cia. chegavam ao
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porto de Santos dias depois de a bola balançar as redes. Já em 1970, no Tri, Carlos Alberto Torres levantou a Jules Rimet pela última vez ao vivo, mas nem para todo mundo a cores, o que só aconteceria uma Copa mais tarde. Quis o destino que a África do Sul, 125ª colocada no Índice de Desenvolvimento humano na ONU, sediasse a Copa com mais inovações tecnológicas da história, pelo menos quando o assunto é transmissão. Além da alta definição, a tecnologia em três dimensões também será testada. Assim como a Copa de 1974 criou um boom na venda de aparelhos de televisão, a expectativa é que a de 2010
impulsione a TV digital, pelo menos é o que espera o fórum do SBTVD (Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre). Inaugurada em 2007, a tevê digital ainda não se popularizou no Brasil, talvez ainda pelo alto custo. Os fabricantes esperam vender cerca de cinco milhões de conversores durante o período da Copa. Além da tevê, as imagens do Mundial chegaram em tempo real para celulares e computadores, que transmitiram jogos ao vivo. Foi a primeira vez que a Fifa vendeu os direitos do evento para telefonia móvel. Ninguém teve desculpa para não acompanhar o maior evento esportivo do mundo.
é uma das agremiações destinadas aos praticantes deste jogo. Campeã de onze campeonatos gaúchos e três vezes do Torneio Metropolitano, teve sua primeira sede na rua de mesmo nome e atualmente instalada na sede do SEST (Serviço Social do Transporte) SENAT (Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte), no Bairro Humaitá. Lídio Curuja, executivo de contas da TAM e um dos fundadores da equipe vencedora, que pratica há mais ou menos no mesmo tempo de Gérson, explica que se pode montar um time de acrílico com 100 reais, mas no caso de montar um time personalizado ou de galalite, Curuja recomenda a compra de peças avulsas, já que o custo da fabricação ainda é caro. “Não costumo comprar times completos, prefiro fazê-los por unidade porque acredito mais na qualidade do que em quantidade, por isso compro vinte botões por ano”. Adeptos à tanto tempo, ambos lamentam a falta de reconhecimento pelo esporte. “Com isso, o jogo seria mais aberto as classes populares e até mais barato”, afirma o aeroviário. Gérson aponta para outros derivados do futebol de custo mais barato, como o constante atropelamento do vídeogame.
DIVULGAÇÃO
Cinco milhões de televisores devem ser vendidos
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Jornal da Manhã
Porto Alegre, julho de 2010
CONTRACAPA
FOTOS LEONEL CHAVES/JM
O professor em Copas O professor cobriu uma Copa pela primeira vez na Inglaterra,em 1966, e esteve na África do Sul F LEONEL CHAVES
Ruy Carlos Ostermann embarcou para África do Sul com a equipe do Grupo RBS. É sua 12ª cobertura de Mundial. Aos 75 anos, o comentarista pode dizer “eu estava lá” na maioria dos 18 eventos disputados. Sempre misturando literatura e futebol. Conhecido por todos como “o professor”, devido sua graduação em filosofia, Ruy nos oferece um pouco de seu conhecimento na entrevista a seguir. Jornal da Manhã – O Professor cobre Copas desde 1966. Já trabalhou em Mundiais na Inglaterra, na Alemanha e França, países de primeiro mundo. Imaginava que o sonho de João Havelange, de levar o evento para o continente africano, se tornaria realidade? Ruy Carlos Ostermann – Era um pedido que se fazia, insistentemente, para que o futebol saísse da área central, que fosse para as laterais. Havia acontecido na Copa da Ásia, em 2002, mas estava faltando a África. Não é um continente emergente, mas uma sociedade emergente, com muitas contradições e problemas. A realização da Copa sempre prevê estabilidade, regularidade, uma tradição. A África falha um pouco nisso, mas ela tem ímpeto. Não chega a ser surpreendente, era um pedido antigo. JM – Quais são os favoritos para conquistar a Copa do Mundo da África? Ruy – As Copas sempre são um tanto quanto imprevisíveis. Acho que mais uma vez o Brasil é favorito, pela tradição, pela qualidade, pelo retrospecto que vem mantendo, pela regularidade do trabalho, pela boa síntese de futebol que chegou, está muito competitivo neste momento. A Espanha é uma afirmação européia maravilhosa, que também gosto bastante, mas é um futebol que sempre fracassa na competição. Mas
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“Antes a cobertura era precária, hoje é fantástico”
isso pode ser uma fatalidade, uma circunstância, às vezes uma questão de ânimo até, por isso acho um candidato forte. E, naturalmente, Itália, Inglaterra, França, são sempre candidatos. JM – Em termos de organização, o que o senhor está esperando encontrar na África do Sul? Ruy – Primeiro nós vamos ter o exótico, o surpreendente. Quando se vai à Alemanha se tem uma previsão de uma velha tradição de organização, de disciplina, de método, de horário. Os emergentes são a exceção à regra, como foi o Brasil em 1950. Imagino que a grande dificuldade que vai haver na organização da Copa está na instabilidade em termos de segurança. Tanto que as recomendações são para que não se saia de noite, sozinho, e isso no futebol é ruim, futebol é confraternização. Isso pode prejudicar o Mundial um pouco, tomara que os africanos sejam competentes ao ponto de nos desautorizar. JM – Será sua 12ª cobertura de Copa. Ainda sente alguma ansiedade antes de viajar à cidadesede? Ruy – Honestamente, não tenho. Já estive em muitas. Sei que vai ser um trabalho duríssimo, que vamos trabalhar o dia todo e em condições não tão favoráveis, embora o fuso horário seja favorável. Tenho certa ansiedade em começar o trabalho, a observar o que
Ruy Ostermann superou a ansiedade 40 anos atrás para se enviar textos para o Brasil. Hoje é fantástico! Com a internet você tem a possibilidade de estar em cima dos fatos, isso deu uma velocidade JM – Quais as princi- espantosa para cobertura. No pais mudanças na cober- entanto, isso criou também tura de uma Copa nes- o déjà vu: todo mundo sabe, todo mundo tes 40 anos entre a sua “Todo mundo já viu. Aí você tem de buscar primeira cosabe, é preciso a qualidade bertura e a última? buscar a qualidade do texto. Não Ruy – Há adianta dizer do texto” mudanças nos ontem, em não sistemas de cosei o que... Onmunicações como um todo. tem, todo mundo sabe o que Você vê, em 70, no tricampe- aconteceu. Mas o que é mesonato brasileiro, é a primeira mo que aconteceu? Como foi vez que nós temos transmis- que aconteceu? O que estava são por televisões, a cores. ali dentro? Nós temos que Me lembro que em 1966, eu melhorar muito a qualidade estava na Guaíba, e se levou o de observação e o registro Antônio Carlos Rezende como desta observação. segundo narrador porque pela JM – Quanto evoluiu, primeira vez se faria off tube. Nós trabalhamos em condi- como evento, a Copa desções precárias, era terrível de 1966? há de melhor no mundo do futebol. Agora, como jornalista, deixei a ansiedade lá na Inglaterra, em 1966.
Ruy – A transmissão da Copa foi fator fundamental para evolução do Mundial. Agora, o espetáculo em si, é sempre a reserva de um grande local, um grande episódio. A mobilização é natural e espontânea, todo mundo se mobiliza em favor do vencedor, que por sua vez atrai toda multidão. Só em imaginar que um jogo de futebol esteja sendo visto por milhões e milhões de pessoas, naquele mesmo instante, em quase todas as línguas do mundo, em todas as tradições e horários, só isso te deixa aflito. E isso é bem maior do que eu um dia imaginei. JM – Se prepara de alguma maneira especial para uma cobertura desse porte? Ruy – Tenho de levar minha pasta de dente, boas cuecas (gargalhada). A verdade é que será uma Copa no inverno e isso altera um pouco a preparação. É uma das poucas copas que se terá de usar manga comprida. O frio altera até tecnicamente a competição. JM – Qual a relação da imprensa estrangeira com a brasileira? Ruy – Eles têm respeito e inveja. Respeito porque de fato cobrimos uma seleção com grandes jogadores e com grandes títulos. Inveja porque isso dificilmente se compõe com facilidade fora daqui. Eles vêm à gente dizendo “vocês são ótimos, têm isso, têm aquilo”, como uma espécie de
despeito, mas na verdade isso, hoje, não cabe. O fenômeno da comunicação favoreceu muito a fluxo de informação. Hoje todo mundo sabe como todo mundo joga, não há um time que possa surpreender. O que vai se fazer é melhor, no curto espaço de tempo que ainda existe. Daí o brasileiro tem chance e por isso é tão invejado. JM – Estamos em um ano eleitoral. Acredita que, assim como foi na Ditadura, o futebol possa ser o usado politicamente? Ruy – Não creio. Porque hoje se independizou bastante a questão do futebol em relação ao Estado, ao Governo. Hoje, por exemplo, não podemos dizer que o Brasil presta atenção no futebol como nunca se prestou. O futebol sempre prestou atenção em si próprio e tentou se organizar na medida do possível. E hoje chegou a um nível razoável de organização, é inegável. Claro, o Brasil perdendo há uma derrubada geral, certo desânimo, mas eleitoralmente acho que não tem nenhum significado. JM – Neymar ou Ganso? O senhor levaria algum deles para Copa? Ruy – Nenhum. Acho que não é hora de levar um jogador que não foi suficientemente testado. Acho os dois ótimos, mas a Seleção e os critérios do Dunga têm de ser respeitados. Não podemos impor um critério. Ele testa, repete, observa e finalmente decide.
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Jornal da Manhã - Famecos / Porto Alegre, julho de 2010
MARIANA BARTZ/JM
A arte sacra dos cemitérios Página 2
Diversidade cultural da Redenção Página 3
O sopro do Músicos gaúchos, apaixonados pelo jazz, resistem aos modismos e ritmos frenéticos para continuarem fazendo um som clássico em pequenos bares da noite, quase vazios e longe da mídia Páginas 4 e 5
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Esculturas FOTOS LUANA FUENTEFRIA/JM
A representação de sentimentos
Paraquedista vivo tem imagem junto a Teixeirinha e Pinheiro Machado
Arte a um passo do
N Os corredores dos museus desconhecidos são compostos de arte e história
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Religiosidade em imagens sacras
além
F LUANA FUENTEFRIA
Entre quatro paredes brancas, a arte não é poupada de olhos atentos. O gosto ou o status de entrar em um museu leva à lembrança outras artes também dignas de admiração, porém expostas em espaço menos aconchegantes. As esculturas de cemitérios como o Santa Casa e o Evangélico, na Capital, somente recebem visitantes do acaso. No caso do óbito, no entanto, os olhos lacrimejantes não reparam nos objeto de expressivo valor histórico e artístico pelos quais passam. A arte tumular tem hoje seu lugar tomado por gavetas e crematórios e pela beleza natural dos cemitérios-parque, que fazem dos antigos santuários da despedida um aglomerado de lembranças mal conservadas. As obras remanescentes dos séculos XVIII e XIX podem mostrar desde sentimentos até a arte sacra. Algumas se relacionam às representações divinas e simbólicas de Grécia e Roma, grande influência nesses cemitérios, apesar de um estilo eclético predominante. Nesse sincretismo, o que mais se destaca, e o único que permanece conservado, é o de Casemiro Scepaniuk. Por estar ainda vivo, o ex-paraquedista mantém o túmulo bonito para a hora do adeus. Os outros, ali há décadas, não têm quem olhe por eles. Situação diferente dos cemitérios da Consolação (em São Paulo), Recoleta (Buenos Aires) e Père-Lachaise (Paris), onde o turismo é bem estruturado e financiado pelo poder público. “Aqui as pessoas não sabem o que existe nos cemitério, nem imaginam que se pode fazer um trabalho incrível de apelo turístico neles”, explica Luiza Carvalho, especialista em arte funerária. Em Porto Alegre, o turismo cemiterial ainda é embrionário. O estereótipo é aos poucos desconstruído quando os raros curiosos percorrem as ruas e avenidas dessa cidade
póstuma. Luiza percebeu isso quando lotou dois ônibus na terceira visitação organizada pela Prefeitura da Capital dentro do projeto Viva o Centro a Pé. O público interessado vem se formando em doses pequenas e lentas, em proporção inversa ao desrespeito de construtoras interessadas em faturar com novas estruturas. Ainda que estas sejam mais higiênicas, não justificam a destruição de heranças como o de Antonio Caringi, artista do Laçador que assina o túmulo do ex-governador Daltro Filho (1882-1938). No Santa Casa, o jazigo mais grandioso, e repleto de simbolismo, é onde repousa o político Pinheiro Machado (1851-1915). Como estes, outros nomes de ruas de Porto Alegre podem ser desvendados pelos seus túmulos. Luciana de Oliveira, professora no curso técnico de Turismo do Colégio Rui Barbosa, em Canoas, afirma que é impossível contextualizar uma cidade sem os cemitérios. Desde a sua localização até os túmulos, eles constroem a biografia da comunidade. Ela atribui parte da diminuição do interesse em ir aos cemitérios pela falta de novos ídolos presentes no local. Em meados dos anos 1930, legiões faziam romarias para visitar quem ali jazia. Hoje, só resta a adoração ao músico Teixeirinha, morto em 1985. A explicação para tamanho desinteresse é simples. “Antes éramos mais regidos pelos mortos”, diz Luciana. Ainda assim, os quadros a céu aberto seguem ali, narrando histórias aos olhos emocionados, mas pouco atentos.
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Cultura
A diversidade mora no
Parque da Redenção
D “As pessoas vêm para cá dispostas a assistir e a absorver cultura”
FOTOS ALINE COSTA E SILVA/JM
F ALINE COSTA E SILVA
Dançar, caminhar, cantar, atuar, fazer literais malabarismos, tudo junto, meio misturado. Durante toda a semana as pessoas usam a Redenção para a prática de exercícios ou para fazer um breve passeio. Nos fins de semana, o cenário é bem diferente e apresenta, além de seus monumentos e eventos, uma reunião de artistas que marcam a trajetória do parque mais querido dos porto-alegrenses. Um ponto turístico que atrai gente de todos os segmentos sociais e faixas etárias. O lugar recebe todos os dias grupos de pessoas que vão desde a família que leva o filho para brincar e os jovens que se reúnem em turma, até moradores de rua, que usam o espaço também como abrigo, sustento e têm nele um ambiente de interação social. Mas o maior diferencial da Redenção é mesmo a variedade cultural. Basta caminhar em um domingo de sol, dia em que o parque recebe mais gente, para descobrir um mundo de diversidade. Cerca de 150 mil pessoas transitam por suas dependências. Pode-se escolher entre passear pelo Brique, com suas tendas de produtos artesanais, prestar atenção nos músicos e artistas de rua que fazem da José Bonifácio seu palco, ou simplesmente, aproveitar a tarde para sentar na grama e tomar um chimarrão com os amigos. Um personagem já conhecido por quem frequenta ou já passou pelo parque é o artista Marcos Bahrone, 37 anos, que declama poemas de Álvares de Azevedo. Ele é ator há 10 anos, e há três se apresenta no Brique. Já trabalhou em outros lugares, como o Gasômetro e a Praça da Alfândega, mas afirma que o público variado da Redenção faz dela o melhor lugar para a sua arte. “As pessoas vêm para cá dispostas a assistir e a absorver cultura”, observa. Difusor cultural e área de lazer, o Parque ainda funciona como local de debates. São no mínimo 10 eventos por mês. Teatro, poesia e música atraem turistas de muitos lugares do Brasil e do mundo
Outros personagens
Arte na rua dos índios Caingangues
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A aposentada Iolanda Vargas, 71 anos e o marido, Vitor Vargas, de 73, que não são naturais de Porto Alegre mas frequentam o parque há muitos anos – caminham todos os dias e, nos finais de semana, aproveitam o ambiente para passear e admirar as atrações culturais. “A sonoridade daqui é renovadora”, afirma Iolanda. O índio Santiago Franco, 34 anos, e sua família são Caingangues e tiram seu sustento trabalhando no parque. Confeccionam e comercializam cestos de palha e estatuetas de animais talhados em madeira. Os filhos e netos utilizam a música, cantada no seu idioma, como atrativo
para vender os produtos. O dinheiro que ganham, segundo ele, ajuda na compra de alimentos. Com aparência cansada e gestos lentos, Franco diz que o parque representa uma amostra de suas origens: “É importante para o povo branco conhecer e valorizar a nossa cultura.” A estudante Roberta Bierhals, 22 anos, mora em Esteio. A Redenção, para ela, representa uma fuga do cotidiano da região metropolitana. “A gente vem para cá quase todo o final de semana. É muito gostoso andar pelo Brique, ver pessoas diferentes e coisas que não tem na minha cidade”, conta Roberta.
Estátua viva atrai atenção do público
Passeio no Parque aos domingos
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MÚSICA
Pouco show
MARIANA BARTZ/JM
pouco jazz pouco cachê F CAIRO FONTANA E MARIANA BARTZ
Um dos ritmos mais difundidos pelo mundo tem presença escassa na capital gaúcha. O jazz se esconde em pequenos bares, à sombra da mídia e do grande público. Porém, algumas pessoas ainda batalham por ele.
N “Enquanto eu tocava nos bares, sustentava a casa, minha mulher e meus dois filhos. Naquela época era possível, hoje acredito que não”
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Numa noite calma de Porto Alegre, em um bar escondido no centro da cidade, o jazz ainda resiste à cena cultural que quase o abandonou. Diante de tantos lugares onde o samba, o rock e o blues predominam, o Odeon permanece um reduto para aqueles que anseiam ouvir música ao vivo. “Não sou muito bom com as palavras, prefiro me expressar com as notas”, confessa Jorginho do Trompete, músico da casa que toca jazz até nas noites de MPB. Isso não atrapalha os frequentadores, pois a plateia preza pelo respeito ao artista e evita que qualquer ruído comprometa o espetáculo. O Odeon não surgiu há pouco tempo e por isso mesmo contempla pessoas dos 20 aos 80. O bar Paraphernália também Nicola contribui com o Jazz à Beça, possibilitando que todas as segundas-feiras na Cidade Baixa complementem as sextas do Odeon. Nomes como Caixa Preta, Zé Montenegro e inclusive Jorginho já se apresentaram no projeto. Desde agosto do ano passado, Estevão Zalazar aposta no formato show instrumental e ingresso barato. “Do ponto de vista do empresário, o público não é grande, mas é fiel. Ainda falta absorção pelos jovens e pela mídia. No entanto, vale a pena continuar: os compositores são muito talentosos e merecem um espaço para mostrar o seu trabalho”, afirma o dono, há sete anos no mercado. Conhecidos pelos frequentadores da boemia – do Paraphernália ao Odeon – a Sexteto Blazz atua desde 1999. Criada pelo flautista Franco Salvadoretti e pelo baterista Luciano Bolobang, o grupo se destaca na história do jazz gaúcho. Através de uma extensa agenda de shows, os seis integrantes já passaram por bares como 8 e ½, Music Hall, Café Concerto, Cultura Rock Club e Insano, onde se apresentavam todas as quartas. Apesar da qualidade artística, tanto de público e crítica, a banda não possui mais uma data fixa semanal desde junho de 2009. “Quarta não
Paulo Dorfman foi o expoente do jazz durante as décadas de 80 e 90. Mesmo com poucas apresentações atuais, lança álbuns e enche platéias
Os lugares incomuns da noite Para quem entra no restaurante Lugar Comum, na rua Santo Antônio, basta subir as escadas para começar a ouvir o piano de Paulo Dorfman, cujas notas vem da famosa Sala Tom Jobim. O ano? 1984. A cidade? Porto Alegre. “A Sala Tom Jobim foi o local mais importante para o jazz durante as décadas de 80 e 90. E não apenas para ele, mas para a música de improviso de um modo geral”, afirma o compositor e pianista Paulo Dorfman. Lá era possível encontrá-lo tocando todas as quintas, sextas e sábados. É isso mesmo, o final de semana inteiro dedicado à música instrumental. E não faltava público para prestigiar músicos como Alegre Corrêa, Márcio Tubino, Kiko Freitas, Pedrinho Figueiredo e Everson Vargas. O Blue Jazz, onde hoje é o 8 ½ Bar, também oferecia espaço aos apreciadores da boa música, bem como o Vermelho 23, que permanece até hoje na rua Bento Figueiredo, no bairro Bom Fim. Uma época em que os músicos eram bem pagos e podia-se viver da noite. “Enquanto eu tocava nos bares, sustentava a casa, minha mulher e meus dois filhos. Naquela época isso era possível, hoje acredito que não”, acrescenta o pianista. Lembra-se de que, quando levantava o rosto do instrumento, ao final de um improviso que
CAIRO FONTANA/JM
Spolidoro faz show no Multipalco do era um dia bom, sempre tinha futebol e isso tirava o nosso público. Mesmo assim, eu ainda não desisti do jazz”, assegura o flautista do grupo, à espera de um retorno da boa fase do gênero. “O Rio de Janeiro oferece mais oportunidades para o músico do que aqui. Mas eu diria que São Paulo é o grande centro no Brasil”, ressalta Nicola Spolidoro, músico profissional há 12 anos e também guitarrista da
“Do ponto de vista do empresário, o público não é grande, mas é fiel. No entanto, vale a pena continuar” banda Caixa Preta desde 2004. Ele relembra que certa vez estava se apresentando em um bar no Rio e, ao final do show, foi elogiado por um baterista que estava na plateia. Dias depois, o encontrou tocando com Chico Buarque. “Isso jamais aconteceria em Porto Alegre”, conclui.
Enquanto isso, eles se sustentam através de atividades paralelas. Tem a ambição de viver só de shows, mas o cenário não permite. Dar aulas e participar de outras formações musicais é a saída mais acessível. Assim, Franco Salvadoretti e Nicola Spolidoro ensinam a novos estudantes seus respectivos instrumentos. “A noite é essencial para adquirir experiência, é uma escola paralela, aconselho para todos os músicos. Porém, a segurança financeira vem do ato de lecionar”, admite Michel Dorfman, filho do também pianista Paulo Dorfman, atual professor da Faculdade de Música do IPA. Jorginho do Trompete também participa da Banda Municipal de Porto Alegre e Cassiano Rodka, DJ da TSP festa Kiss My Jazz, está presente nas diferentes noites de rock do Cabaret POA. Literalmente um dos dois responsáveis pela única festa voltada ao ritmo na capital, Cassiano, em parceria de Claus Pupp, defende uma proposta inovadora: dançar ao som de jazz. “A festa é itinerante e já tocamos em quatro bares diferentes, nunca para 500 pessoas, porém com um público razoável”, conta Rodka. Michel Dorfman, que trabalha como músico desde os 16 anos, não descarta a possibilidade de morar em outra cidade. Formado no ano passado no curso de composição pela UFRGS, lamenta que aqui não há possibilidade de especializar-se na área em que mais se interessa: o jazz. Para seguir estudando, é necessário deixar a capital: “Meus professores já me falaram várias vezes, Michel, tu tem que morar fora, aqui não temos cursos bons para ti”. Mas ele adia a viagem pela família, pelos amigos e pela qualidade de vida. Além do mais, gosta da traquilidade de Porto Alegre e sente-se mais à vontade para compor suas músicas. Pensa que o jazz possui fases cíclicas e que este período de aparente estagnação será recompensado por um retorno à música de improviso. Quer estar aqui quando isso acontecer.
tirava o fôlego da platéia, gostava de observar a expressão das pessoas. Muitas vezes, eram flagradas sustentando garfos e colheres próximos à boca aberta – como se paralisadas – até irromper em uma salva de palmas que os trazia de volta à mesa e ao jantar. E as surpresas não paravam por aí. Era frequente que filas se formassem na entrada do restaurante onde ficava a Sala Tom Jobim. Os shows começavam às nove e se estendiam até a meia-noite. No entanto, algumas pessoas só conseguiam entrar nos últimos quinze minutos. Lamentando o ocorrido, insistiam para que os músicos tocassem mais uma, e mais uma, e mais uma, e assim o show seguia até a uma hora da madrugada. “O dono do bar fazia questão de deixar claro que isso não aumentaria o nosso cachê, mas estávamos tão felizes que naquele momento o dinheiro nem importava”, recorda o compositor, na época com trinta e poucos anos. Se ainda há resistência em relação ao sucesso de um empreendimento voltado exclusivamente ao jazz e à música instrumental, a Sala Tom Jobim prova o contrário. Fechada desde 1994 devido a problemas administrativos, fez história na música local durante seus breves dez anos de funcionamento. Permanece até hoje à espera de uma sucessora que revigore a cena cultural de Porto Alegre. CAIRO FONTANA/JM
A motivadora voz no rádio Apesar de comprometido com a divulgação do jazz há 11 anos, Paulo Moreira teve outros rumos antes de ter a ideia para um programa. Formado em Jornalismo pela PUCRS desde 1981, ele seguiu os próximos quatro anos como freelancer de agropecuária. Em 1986, entrou na Rádio Gaúcha no comando do Campo e Lavoura. Seis anos depois, Ruy Carlos Ostermann lhe convida a produzir o Ruy Entrevista, cargo que ocupou durante um ano. Após passar pelas rádios Ipanema, Atlântida e um breve período como crítico de música no Correio do Povo, Moreira se tornou pauteiro na FM Cultura. Ao saber que o programador musical havia largado o horário entre às 20h e 21h, manifestou interesse em uma nova atração: o Sessão Jazz. Ouvinte assíduo desde os 16 anos e colecionador com mais de três mil CDs, o radialista não teve problemas com a escolha de repertório. Com total poder de decisão sobre o tempo de intervalo e eventuais convidados, a seleção busca não cansar o ouvinte. “Se eu Dias 13, músicas 14 e 15 de abril, o ca vai tocar cinco de piano em sequência, ficar repetitivo. Prefiro intercalar com diferentes artistas e oferecer uma variedade pra quem gosta de todas as fases do jazz”, argumenta. No ar de segunda a sexta, das 20h às 22h, o sábado era compartilhado com um
convidado, o qual escolhia os temas e batia um papo com o apresentador. Mesmo voltado ao jazz, a música brasileira sempre teve uma boa participação no setlist, o que não o salvou de ser cancelado em 2003. Porém, a pausa foi breve. Graças à campanha de três ouvintes, o espaço voltou à grade em julho do mesmo ano, porém sem o sábado. Na opinião do jornalista, o descaso não é com isso especificamente, mas com a música instrumental como um todo, o que assusta o público por algo que a mídia não expõe. Outro aspecto marcante para o radialista é o fato do jazz ter composições sem canto e, assim, dispersar o que chama de “viciados da mídia”, aqueles sem vontade própria além do mainstream. “Ele precisa de uma atenção maior, enquanto a imprensa se ocupa de música ruim, de rápido consumo”, alega. Baterista frustrado, Paulo goza ser um dos poucos com território para veicular o repertório considerado alternativo e torce para que o jazz não sucumba às misturas do mercado vigente. Entrevistado durante a apresentação ao vivo do seu programa, se revezando entre o software, o microfone e CDs, exala a concentração e tranquilidade do profissional experiente no que faz e, melhor, conhecedor do possível até no improviso, como o fazem os melhores. MARIANA BARTZ/JM
Moreira não desiste e mantém firme o ideal jazzístico do programa
Sexteto Blazz se apresenta no projeto Jazz à Beça, no bar Paraphernália
Gravação física ou virtual: qual o formato do futuro? Hoje a internet engoliu o mercado fonográfico e o transformou em franquias decrescentes. Enquanto isso, os músicos perderam dinheiro em royalties e direitos autorais. Cientes deste fato, procurar selos alternativos que ofereçam baixos custos de produção e se mantêm fiéis ao consumidor é o caminho mais viável. De acordo com Nicola Spolidoro, “você não vai ficar rico gravando CDs, vai ficar pobre.” O grupo de artistas que insiste no jazz prefere outro canto: os estúdios. O isolamento acústico e a oportunidade de gravar cada nota com qualidade os transformam em perfeitos locais para a manutenção da música. Apesar do recinto disponível ser pago, eles também representam a conservação da melhor forma de divulgação artística: o álbum. Um custo de quatro a 50 mil reais por todo o processo em CD não compensa para um artista que não esteja seguro. Uma saída prática é o mp3. Diversos sites como o
MySpace e CDBaby são fortíssimas vitrines para compra de faixas individuais ou álbuns inteiros. Desacreditados do fator financeiro, o argumento de que os tipos físicos (DVD e CD) não vendem ou geram pouca renda é verdadeiro. “Sem uma rede saudável de distribuição, o disco empaca e só os teus conhecidos compram”, afirma Spolidoro. Até mesmo acordos entre livrarias e lojas de discos não compensam quando não se é conhecido. Paulo Moreira vê com receio a próxima geração de ouvintes. “Hoje, o jazz nos CDs e vinis se sustenta por pessoas de idade e modas eventuais que necessitam do físico para ser colecionável”, conta. Porém, daqui a 20 anos, quando a indústria abandonar estes meios em prol de um formato ainda desconhecido, os fãs sofrerão com a banalização do som. “A qualidade certamente vai evoluir, porém a quantidade disponíveis será tão abundante que perderá a identidade”, projeta ele.
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Memória
Relíquias do tempo
do vinil
D Discoteca pública, criada em 1955, tem 20 mil obras musicais catalogadas
GABRIEL CALVI/JM
F DOUGLAS FORTES
e Roberto Carlos a Led Zepellin, passando por Chico Buarque até Rolling Stones. Essas são algumas das relíquias encontradas na discoteca pública Natho Henn, fundada em 1955 pelo músico e que se encontra no quarto andar da Casa de Cultura Mario Quintana, localizada no centro de Porto Alegre. Ao entrar, se percebe discos fixados na parede. Nas prateleiras, existem discos de vários estilos musicais, entre eles, um long play de Chico Buarque bem destacado. O motivo para isto é a raridade do álbum ter capa original. Segundo a funcionária Rosângela Teixeira, entre discos de vinil simples, compactos e 78 rotações, se encontram catalogados mais de 20 mil obras musicais. Entre cd´s, a faixa chega perto de Detalhes de Elvis Presley chama a atenção no estabelecimento 1.500 no acervo. Ao pesquisar os discos, nota-se a variedade musical que é disponibilizada na discoteca. Chega ao número de um mesmo álbum ter 38 discos divididos em volumes, como a coleção de discos de música clássicos de Beethoven. Outro fato interessante é o público poder assistir DVDs de música exibidos diariamente e com lugares para acomodação.Rosângela escolhe os DVDs a partir dos gostos de quem for assistir. “Quando não tem ninguém para assistir, eu coloco shows do meu gosto”, completa. Ela lamenta o fator de a discoteca não abrir aos fins de semana. ”Isso traria mais visitações para quem tem problemas de ir à discoteca nos dias de semana”, finaliza Rosângela. A Discoteca fica aberta de segunda a sexta, das 9h às 18h, na Rua dos Andradas 736, centro de Porto Alegre. Para maiores informações visite o site www.ccmq.rs.gov.br ou escreva para discoteca@cultura.rs.gov.br. O disco de Chico Buarque, lançado em 1978 é destaque na discoteca
Uma Paixão à moda antiga F GABRIEL CALVI
José Luís com seu Fusca 1969
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FOTOS AUGUSTO DE FREITAS BRUSCH/JM
Ferro-velho! Velharia! Banheira! Lata velha! Talvez essas sejam as características usadas para definir um carro antigo. Para algumas pessoas pode representar seu primeiro carro aquela velha Brasília ou talvez um fusquinha 69. Mas para outras a imagem de um carro antigo, ou clássico, é algo inabalável, insubstituível. José Luís Lopes é um dos colecionadores de carros antigos em Viamão. Ele exibe com orgulho em seu pátio a sua frota de relíquias. Ao todo são oito: Rural, Puma, Corcel, Maverick, Fiat 147, Opala, TL e Veraneio, todos em igualdade no quesito paixão. “Amo todos os meus car-
ros cada um tem um significado diferente na minha vida, não tem como destacar um mais do que o outro”, explica. Ele sempre teve adoração por esses exemplares, mas somente no ano de 2003 deu início a sua coleção. Com o seu Corcel ano 1977, na cor amarela, em perfeito estado de conservação. O colecionador tem muitas histórias a serem contadas, uma delas vem de 1986. Neste ano, ele comprou seu primeiro carro, coincidência ou não um Corcel amarelo. Sua primeira namorada veio graças ao seu carrão na época. “Logo que comprei o meu carro, consegui minha primeira namorada. Durante um baile dancei com a moça e no meio
da noite a convidei para ir para outro local e ela aceitou imediatamente, se não fosse meu carrinho não sei no que iria dar”. Mas assim como José Luís existem muitas pessoas apaixonadas por veículos. O que leva uma pessoa a ter tal admiração e vontade de ter um exemplar antigo? Para muitos a sensação de sentar dentro de um auto faz com que o tempo volte e as antigas sensações estejam à flor da pele. Para Luís Ricardo Brosh, outro colecionador, o tempo em que ele passa dentro do seu Opala preto faz com que ele se sinta bem. “É toda uma história, mas acima de tudo, talvez seja a satisfação pelos olhares admirados dos outros”, confessa.
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Tributo
O amante das artes
Stockinger
Touros, uma inspiração sem fim FOTOS CAMILA BORGES/JM
Gabirus, miséria em meio à seca
R
Obras espalhadas pela casa de Jussara remetem a sentimentos
Ele nasceu na Áustria, adotou Porto Alegre e criou obras de arte a partir de diferentes materiais, até o penúltimo dia de vida, aos 89 anos
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F CAMILA BORGES
Referência da escultura brasileira contemporânea, Francisco Stockinger, brasileiro nascido na Áustria, morreu em abril de 2009 aos 89 anos, mas deixou para a massa cultural mundial um legado de obras de arte. Xico nasceu em Traun, em 1919, e ainda criança veio com a família para o interior de São Paulo. O escultor, gravurista e chargista iniciou seus estudos no Liceu das Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, em 1946, onde na mesma época trabalhou durante três anos no estúdio de Bruno Giorgi. Na década de 50, mudouse para Porto Alegre, quando naturalizou-se brasileiro e foi eleito presidente da Associação Rio-Grandense de Artes Plásticas Francisco Lisboa. No início dos anos 60, Xico fundou e dirigiu o Ateliê Livre da Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Dois anos depois, a partir de uma encomenda do embaixador Assis Chateaubriand, instalou uma de suas esculturas mais conhecidas em praça em São Paulo. Foi um dos primeiros diretores do Museu de Arte do Rio Grande do Sul e da Divisão de Artes do Departamento de Cultura da Secretaria da Educação e Cultura do Estado. Autor de estátuas como a que representa Carlos Drummond de Andrade lendo para Mário Quintana na Praça da Alfândega, Xico ficou reconhecido como mestre em sua técnica. O artista criou e produziu até seu penúltimo dia e teve a chance de ver suas obras percorrerem o
mundo. Participou de dezenas de mostras coletivas e mais de 30 exposições individuais ao longo de sua carreira em diversas capitais brasileiras e também no exterior, como em Paris, Praga, Áustria, Nova York, Lisboa e México. Francisco Stockinger utilizava de ferramentas como ferro, madeira, barro, gesso, bronze, mármore, entre outras. Em Porto Alegre, começou a trabalhar em jornais, com charge, caricatura e a mostrar suas outras desenvolturas com a arte. Em conversa com a filha do artista, Jussara Stockinger, ela relatou alguns dos muitos momentos especiais passados com o pai. “Ele tinha um bloquinho que ele adorava e ficava fazendo desenhos”, lembra. Depois de obras importantes em xilogravura, Xico ganhou projeção nacional com seus guerreiros em ferro e madeira. “Ele começou a desenhar porque adorava um herói de história em quadrinhos, quando criança ainda”, disse a filha. A esperança dele, recorda ela, era de que a próxima escultura fosse a melhor. Jussara conta que, depois da primeira cirurgia no coração, quando o pai colocou três pontes de safena, fez duas obras que nunca iria vender, pois tinham um significado especial. Durante resguardos após a primeira cirurgia de coração, ele teve hepatite. Confinado em casa, passou a plantar cactos e se tornou um especialista na exótica planta, com reconhecimento
Guerreiros imortais científico. Hoje há tipos de cactos catalogados com o nome de Stockinger. Em um dos seus momentos à procura de cactos, escorregou e para não estragar a máquina fotográfica, acabou quebrando a mão. Foi quando começou colecionar conchas. Após operar uma perna, vieram inspirações por colheres de madeira. O artista sempre teve problemas de audição, mas foi ficando cada vez mais surdo. “Volta e meia ele fechava os olhos e a gente não sabia se estava dormindo ou acordado. Um dia eu perguntei: pai, quando tu estás assim de olhos fechados sem estar dormindo, tu estás pensando no quê? E ele respondeu: estou pensando na escultura que irei fazer amanhã”, contou Jussara emocionada. No final de seu universo artístico, Xico gostava trabalhar com pedras, sempre à procura de alguma coisa para fazer, pois criatividade e inspiração saiam pelos poros. Ele também admirava muito as obras de outros artistas, vários quadros na casa de Jussara foram trocas com pintores. O imortal Xico de suas obras em metal viveu intensamente, respirando, criando e descobrindo todas as fontes possíveis de arte até seu penúltimo dia entre nós, os mortais.
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Jornal da Manhã - Famecos
Reutilização promove
moda sustentável
NICOLE PANDOLFO/JM
S “Aquilo que está sobrando para algumas pessoas pode ser essencial para outras.”
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Tendência estrangeira desembarca no Brasil: brechós ganham novo conceito e atraem adeptos conscientes F MÔNICA CARVALHO E NICOLE PANDOLFO
Segundo a definição do dicionário Aurélio, brechó é: Loja de objetos velhos, usados e cafonas. Mas uma tendência que vem ganhando espaço no Brasil bate de frente com essa ideia ultrapassada. A influência de países europeus e norteamericanos trouxe a nossa terra um diferente conceito para a venda de roupas e acessórios seminovos. As lojas especializadas nesse ramo preenchem o seu estoque com mercadorias de grife por valores mais acessíveis. Colocar novamente em circulação as peças que estão sobrando no armário ganha funções mais nobres. Não somente o caráter financeiro, mas também as vantagens ecológicas se destacam nesta ramificação do comércio. Na pequena loja abarrotada – mas muito bem decorada – de roupas, acessórios e calçados, Rita Rolim, proprietária da recém inaugurada garage sale Nª Sra. das Maravilhas, explica a função ecológica existente neste nicho da moda: “Aquilo que está sobrando para algumas pessoas pode ser essencial para outras. Podemos baixar um pouco a produção mundial, fazer mais reciclagem, então foi essa a ideia inicial da loja.” No seu estabelecimento,
Rita trabalha com venda por consignação: o cliente deixa a peça com um preço, ela aplica uma taxa de comercialização e faz a venda. “E esse mundo fabricando tantas coisas quando tem tanta coisa para ser aproveitada”, comenta Rita. Com o aumento de lojas como a Nª Sra. das Maravilhas, uma mudança de hábito e de cultura é possível. Proprietários de brechós constatam maior aceitação dos jovens pelos produtos reaproveitados. “Eu diria que os jovens já vieram com isso no seu DNA, é dessa geração entender isso e gostar. Na questão ecológica, o jovem está muito ligado”, observa Rita. O consumismo exagerado é um dos fatores que contribui para a degradação do meio ambiente e, por isso, a difusão dos brechós tem contribuído para o consumo consciente. O processo de conscientização começa cedo. Um exemplo de é o brechó de roupas infantis Chique Mania. A loja apresenta uma boa circulação de mercadoria devido ao público que abrange. “Até os 16 anos o corpo muda de quatro em quatro meses. Então o brechó é baseado nesse conceito de os pais poderem recuperar um pouco do dinheiro
que investiram em produtos tão caros com tempo de utilização tão limitado, no caso do público infantil”, constata a proprietária Fabrícia Krupp. O mercado infantil firma o seu papel ecológico de diversas maneiras. Na Zona Sul de Porto Alegre, um brechó trouxe da Alemanha um conceito inovador para o comércio de roupas de crianças. Lá os pediatras indicam aos pais o uso de roupas seminovas, diminuindo o contato das crianças com os produtos químicos que são utilizados na confecção. A loja De Galho em Galho traz ao mercado as roupas orgânicas: peças produzidas com algodão cultivado sem agrotóxicos. “Hoje estamos fazendo parcerias com artesãos e pessoas que trabalham com produtos educativos e orgânicos, pois é mais fácil lidar com o tema meio ambiente dentro da família através das ciranças”, explica Martina Mädche, dona do brechó infantil. Ainda existe resistência de algumas pessoas em comprar roupas usadas, principalmente dos gaúchos. Entretanto, as vantagens em termos de custo benefício e consumo consciente abrem as portas para a moda sustentável.
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