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Opinião

“Tem-se a plena consciência que a tecnologia deva avançar, mas que não sirva para danificar a consciência moral, principalmente de nossas crianças”

 Marí e Luiz Carlos Muraro

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Até os anos 90, em que muitos de nós vivemos nossa infância, a tecnologia começava a despontar, só tínhamos a televisão e não éramos tão vidrados assim nela, nem em computadores e videogames. Assistíamos geralmente aos finais de semana na casa de alguém que desfrutasse dessa novidade. Poucas famílias poderiam ter. Lá tínhamos as regras dos donos da casa, tudo de forma ordeira, sem bagunças e algazarras, porque corríamos o risco do próximo fim de semana não poder ir assistir. Sim, só assistíamos aos finais de semana.

Ficávamos algumas horas e depois todo mundo ia brincar na rua, este era o trato e todo mundo sempre respeitava. E assim fomos crescendo em nossa infância, aprendendo respeito, convívio social, amizade e solidarizar-se com os amigos que conviviam conosco. Amigos de verdade, onde nós realizávamos atividades sadias como brincar, pular, jogar bola na rua (não havia muitos carros), correr, pular, ir à casa dos amigos, fazer uma casa na árvore brincando de heróis, em nossos sonhos de crianças, que combatiam os vilões que de alguma forma sempre queriam prejudicar alguém, enfim muitas possibilidades de brincadeiras e muito intensas e muito simples que se transformavam em verdadeira diversão, realizadas de forma coletiva. As programações da televisão eram geralmente programas infantis, e os videogames não eram tão violentos como os de hoje, que além dos gráficos serem simples não tinha sangue ou outras cenas marcadas com extrema violência como os de hoje.

Nós crianças éramos mais intensos e ingênuos, e nossa única preocupação era brincar, estudar e quase sempre alheio aos problemas dos adultos. Pequenas tarefas da casa ainda nos eram atribuídas ajudando os pais. Nada que nos tenha deixado alguma seqüela emocional. Ali nos preparávamos para a vida, para o voluntariado, mesmo que no nosso bairro, como ser solidário com as famílias que ali precisassem, nos despertando para uma consciência de valores de responsabilidade, honestidade, respeito e humildade. Sem egoísmo.

O que será que aconteceu? Hoje as crianças navegam na Internet ainda na mais tenra idade, usam iphones, celulares melhor que nós adultos. Jogam sem parar videogames e entrando no mundo adulto muito precocemente. Totalmente ao oposto na geração anterior, e não tão distante assim.

O sedentarismo e a obesidade tomaram conta dessas novas crianças, pois passam mais tempo na frente de um computador, videogame ou televisão do que brincando.

Mas um novo perigo já entrou na intimidade das crianças: as redes sociais. Com isso as crianças descobriram um novo mundo e que não deveriam conhecer sem a orientação de um adulto, aqui ressalvo que o adulto devam ser seus pais. Não o professor, o cuidador, o vizinho, e sim os pais que tem o poder de confrontar os seus valores com que queiram que seus filhos tenham, e assim direcionar o que assistir ou ler na Internet e redes sociais.

Por tudo isso, vemos crianças caírem em redes de pedófilos e pessoas mal intencionadas ao usarem as redes sociais, sem a supervisão dos pais, cujo reflexo propõe atitudes violentas, devido a conteúdos de jogos totalmente impróprios para as suas idades, e que os tornam viciados, deixando de fazer as lições de casa, de brincar, e muitas vezes ignorando os próprios pais e com total desrespeito e birras confrontam, e até mesmo aos professores. Como serão na sociedade onde terão que se submeter a um código de ética, valores e conduta? Como serão estes nossos filhos se não olharmos para dentro deles agora impondo limites e achando que está tudo bem e achar que vivem num mundo tecnológico e que precisam aprender tudo? Para o aprendizado existem várias fases e não podem ser puladas, simplesmente porque o mundo anda muito rápido. Antigamente os grupos musicais infantis transmitiam uma linguagem que encantavam as crianças com músicas alegres e que não deturpava a inocência das

crianças, totalmente sadias para a sua idade.

Hoje vemos as crianças desde cedo cantando músicas estilo Funk, com letras sensuais e inapropriadas, palavrões e coreografias um tanto indecente, levando a crianças a conhecerem mais cedo o mundo do sexo e das drogas.

Isso trouxe crianças mais espertas para a vida, e ao mesmo tempo com valores totalmente depredados. Crianças que se preocupavam com os estudos, hoje não valoriza mais isso e crescem adultos analfabetos, podendo até se envolver no mundo da criminalidade e da vida fácil, corrompido por um sistema que apenas oferece e não pede nada em troca, tornando os dependentes de que alguém sempre fará alguma coisa por eles. Crianças que ontem mal sabiam de onde vinham os bebês, e que hoje crianças com 12 anos já são pais e mães, sem estarem preparados para isso.

Realmente o mundo mudou, e que apesar de termos crescidos muito tecnologicamente, decrescemos nos valores humanos. Não é uma generalização e existem, pessoas boas, conscientes e preocupadas ao nosso redor e que ainda existem crianças ingênuas e que não possuem nenhum contato com este mundo tecnológico que os rodeiam, mas este número está diminuindo cada vez mais, na medida em que a Internet e as redes sociais se aproximam de seus mundos, e este processo é muito rápido. Temos que nos entregar a tecnologia que aproxima, que nos salva, mas não podemos deixá-la que torne o mundo muito pior. As novidades são sempre bem vindas, mas não quer dizer que é a última palavra em nossas vidas e de nossos filhos. Devemos com consciência ser os bons valores que nossos pais nos deixaram e que nos querem dar a liberdade, pessoas que querem realmente o nosso bem.

Sabemos que muitas crianças não podem contar com seus pais em tempo integral, sabemos também que muitas crianças vivem em lares desregrados, irresponsáveis. Talvez tenha lhes faltado experiências vividas em suas infâncias para direcionar os seus papéis na futura sociedade, esqueceram-se dos perigos do mundo e os negligenciaram, achando que a pureza da infância nunca seria perdida. Não podemos nos deixar enganar.

Temos que ensinar a importância dos valores, tanto éticos como os morais, e mostrar através de nossas atitudes, quais são eles. Ter os valores muito presentes entre nossa escala de participação numa sociedade e que possa crescer com mais justiça apenas fazendo o que aprendeu. As leis deveriam ser apenas para regular e estabelecer um limite e não ultrapassá-la, criando condições sociais de desigualdades.

Tem-se a plena consciência de que a tecnologia deva avançar, mas que não sirva para danificar a consciência moral, principalmente de nossas crianças.

Marí e Luiz Carlos Muraro Casal Presidente da Escola de Pais do Brasil – Seccional Gramado

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