INTELIGÊNCIA ESPIRITUAL Reflexões para uma espiritualidade pé no chão
Igreja São Luiz Gonzaga - Av. Paulista Sao Paulo - Fotografia Raisa Aguilera
Dados do autor ....................................................6 Agradecimentos ...................................................8 Introdução ...........................................................9 Espiritualidade: a procura de uma definição.....11 Eles azedaram o vinho .......................................15 O cativeiro de Deus ............................................18 A família cristã “esquizofrenizada” ................... 23 Caminho para matar a fome de Deus ................27 O cristianismo na UTI .......................................30 Espiritualidade da religião e espiritualidade da graça...................................................................33 O evangelho traído ............................................36 Evangelização antropofágica.............................38 O líder da segunda década ...............................40 Espiritualidade e emoções.................................43 A Angústia do púlpito........................................ 46 A ciência da fé ....................................................49 Espiritualidade e humor....................................53 Pastoreando no mundo da inclusividade ..........55 Por uma educação teológica e espiritualidade contemporânea ..................................................59 Guerras dos sexos ..............................................63 Transmitindo uma teologia da espiritualidade para o século 21 ................................................. 68 Espiritualidade festiva .......................................73
Os inimigos da fé crista......................................77 Sai do armário ....................................................81 O canto dos cisnes ............................................. 83 Proselitismo ou discipulado? ............................86 Reflexões Finais................................................. 89 Bibliografia ........................................................94
Dados do autor José Miguel Mendoza Aguilera, nasceu no Sul do Chile na cidade de Lota, mora no Brasil de 1975. Casado com Roseli Kiselar Aguilera, tem três filhas: Tabitha Raisa, Maressa Rachel e Hadassa Nathaly. Formado em Teologia pela Faculdade Batista de Sao Paulo e Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de Sao Paulo. Pós Graduação em Bíblia pelo André Jumper. Especialização em Estudos Brasileiros pela Universidade Mackenzie e Pós Graduação em Educação Crista pela Faculdade Teológica Batista de Brasilia. Autor de diversos artigos em jornais denominacionais e revistas teológicas. Autor do livro “Dinamizando a Igreja Para Cumprir a Grande Comissão - Ed. Abba Plantou uma igreja em S.B.do Campo- SP e criador do processo de ensino bíblico “Caminho do Saber”. Professor de Faculdades Teológicas e Seminários . Foi pastor de igrejas no Brasil e Chile Atualmente mora em São Carlos - SP. Professor de Teologia, Novo Testamento e Historia da Igreja Contatos 2008josemiguel@gmail.com http://evangelhonu.com facebook.com/evangelhonu facebook.com/jotaeme1954 Twitter: @jotaeme77
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Agradecimentos A meu Deus, que me permite caminhar no meio das letras da vida e aprender a descobrir a espiritualidade integral As minhas filhas Tabitha Raisa e Hadassa Nathaly pelo apoio e motivação que me deram na criação deste e-book A você leitor que me ouve por meio destes textos e podemos compartilhar e até discordar dos nossos pontos de vista. Muito grato
Introdução Nos dias de hoje a espiritualidade é um tema comum nas diversas áreas do conhecimento. Falar ou escrever sobre espiritualidade não é novidade. Mas o que desejamos na leitura deste texto é a descoberta integral e ampla da espiritualidade cristã na vida e que foi escondida por longos séculos. É importante informar que nosso enfoque da espiritualidade cristã tem como base a tríade do pensamento teológico: Deus, Homem e Mundo. Consequentemente, usamos a Bíblia como a Escritura Sagrada, o raciocínio interdisciplinar e a natureza que nos rodeia. Desta forma, podemos considerar que tratamos de uma espiritualidade integral e dinâmica. O meu objetivo pessoal é despertar no leitor o seu desejo para cada dia ampliar a visão de espiritualidade cristã. Minha critica ao modelo de espiritualidade cristã anunciada e pregada nos dias de hoje em muitas denominações é, que esta não passa de um espiritualismo eivado de sentimentos e emocionalismos acompanhado de ideias gnósticas. A atual visão dualista como se anuncia o evangelho
dicotomizou a vida das
pessoas. Para muitos, a natureza, o corpo, sexo, prazer e outros, não tem nada a ver com a espiritualidade cristã. De uma maneira simples podemos dizer que espiritualidade cristã é a presença de Deus que estimula as suas criaturas a transformar o mundo atual. Aqui e agora. A espiritualidade cristã não se limita somente à devoção ou à adoração. A espiritualidade cristã é vida. É viver como Jesus viveu no meio das ruas, com os pobres, excluídos, na simplicidade da vida, atendendo ao próximo e morrendo pelos seus
inimigos. Talvez esse modelo seja um modelo inalcançável, no qual a religiosidade do ser humano focou somente um lado da história – o mundo espiritual onde acontecem as batalhas. Aqui no dia a dia da nossa historia é outra história e por isso, vamos esperar o resultado dessa batalha e seja o que Deus quiser. Assim transformaram o evangelho no ópio da vida.
CAPÍTULO 1
Espiritualidade: a procura de uma definição Para ter melhor compreensão dos textos que serão lidos neste ebook devemos encontrar uma definição de espiritualidade. Quando tratamos a espiritualidade nos referimos à espiritualidade cristã. Na atualidade há diversas expressões da espiritualidade que transversalmente são expostas, não somente nas religiões, mas nos diversos campos do conhecimento e da vida social. Nas empresas, nos hospitais, nos negócios e nos relacionamentos. A espiritualidade saiu para o mundo ou para a vida integral. Deixou os templos, mosteiros e passou a viver a vida. Mas que se pode falar hoje sobre a espiritualidade cristã? A vida chama a espiritualidade cristã a deixar os templos, os ritos e as fórmulas. A igreja evangélica brasileira por anos dicotomizou a vida. A igreja foi dividida em departamentos e conduziu os cristãos a viverem em um mundo de dualidade. Isso gerou determinados padrões e ações que se justificavam e ainda justifica o que pode ser espiritual.
Estipularam-se
práticas e fórmulas para alcançar essa espiritualidade como se essa pudesse ser alcançada mediante ações meritórias. Esforços humanos se confundiram às disciplinas espirituais praticadas por Jesus e ainda
foram omitidas práticas importantes da
espiritualidade do Senhor do evangelho Agora devemos tentar uma definição bíblica e de aplicação prática. Os esforços que devem ser feitos são para desmistificar o mito da espiritualidade cristã, que é pregada e exigida por muito tempo e até hoje. Também auxiliar os cristãos para serem libertos da pressão que é feita sobre eles quando se exige um modelo de espiritualidade não coerente com as Escrituras Sagradas.
Por experiência própria vivi ambos os momentos. Por questionar e denunciar a quebra de princípios bíblicos foi questionada a minha espiritualidade cristã em defesa do erro. Os dias me deram a razão que eu estava fazendo o questionamento correto. Se falamos de uma espiritualidade cristã logicamente nosso modelo é o Senhor Jesus Cristo e a sua mensagem. Esta mensagem central não foi igreja, não foi céu, não foi a salvação pela fé, mas o Reino de Deus. Esta é a mensagem da espiritualidade. A espiritualidade cristã tem de seguir os padrões do Reino de Deus. E este Reino já é chegado, não há nada que esperar. A ideia de esperar um reino após a morte é uma distorção da mensagem do evangelho da vida. Jesus disse na sua
última semana de vida e junto aos seus
discípulos: “Esta é a vida eterna: que te conheçam, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste. João :17:3. A frase é enfática e define a vida eterna. Conhecer Jesus inicia a vida eterna e o Reino de Deus. Numa linguagem diferente o Senhor Jesus já tinha falado anteriormente com o Rabi Nicodemos. Jesus lhe disse: “O que nasce da carne é carne, mas o que nasce do Espírito é espírito”. João: 3:6. Ao se conhecer Jesus se inicia a vida eterna, se nasce de novo e se inicia a caminhada da espiritualidade cristã. E não há como medir esta espiritualidade. Não há como qualificar os cristãos, cultos ou eventos como mais ou menos espirituais. A razão disso é o próprio Jesus que dá, “O vento sopra onde quer. Você o escuta, mas não pode dizer de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com todos os nascidos do Espírito". João: 3:8 O que se fala nessa espiritualidade? Fala-se do Reino de Deus. Quais são as marcas deste reino? Qual foi o comportamento prático de Jesus? Porque o Reino de Deus é justiça, paz e alegria. (Rm: 14: 17). O modelo de Reino de Deus está no discurso de Jesus em Lucas: 5: 14-21.
Para os estudiosos, Jesus está falando das marcas do ano do Jubileu anunciado em Lv 25 e está desejando que o povo celebre nesse ano, pois o calendário judaico o indicava assim. Igualmente, observe no texto as classes sociais alcançadas por esta prática da mensagem do Jubileu, que também foi conhecido como o “ano aceitável” (pobres, cativos, cegos oprimidos ou quebrantados). Resumo dizendo que biblicamente a verdadeira espiritualidade cristã prega a mensagem do Reino de Deus e atende os cegos, pobres, excluídos, doentes e necessitados. A espiritualidade cristã, segundo Jesus, é radical e comprometida com os necessitados e não com uma instituição ou com uma ética intimista e individualista. A espiritualidade cristã é integral, holística e abrangente. Não é parcializada, não é somente o espírito ou alma, não é segregacionista, não é dualista. A mensagem cristã da atualidade é a preocupação de enviar pessoas para o céu, pois elas dão muito trabalho na terra. Assim, oferecendo a vida vindoura não teremos que nos preocupar em atender às aflições dos excluídos e necessitados. Preocupar-nos em batalhas exclusivamente espirituais nos liberta e isenta de responder à pergunta que Deus fez para Caim: Onde está teu irmão? Esta espiritualidade cristã foi explicada claramente por Jesus quando ensina a parábola do samaritano. Este homem mostrou a verdadeira espiritualidade que Deus requer: E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Mateus 22: 37-39. Termino esta procura
por uma definição
citando uma frase dita por Pedro
Casáldaliga “Nem espiritualista com um Deus sem Reino, nem materialista com um
Reino sem Deus. Viva a sínteses que Jesus viveu e nos revelou: pelo Deus do Reino e o Reino de Deus.” . Essa é a realidade que a igreja deve trabalhar para implantaçao e crescimento do Reino de Deus
CAPÍTULO 2
Eles azedaram o vinho “Admiro-me de que vocês estejam abandonando tão rapidamente aquele que os chamou pela graça de Cristo, para seguirem outro evangelho 7 que, na realidade, não é o evangelho. O que ocorre é que algumas pessoas os estão perturbando, querendo perverter o evangelho de Cristo. 8 Mas ainda que nós ou um anjo dos céus pregue um evangelho diferente daquele que lhes pregamos, que seja amaldiçoado! 9 Como já dissemos, agora repito: Se alguém lhes anuncia um evangelho diferente daquele que já receberam, que seja amaldiçoado”. Gálatas 1:6-8.
Na minha peregrinação cristã, Deus me deu o privilégio de caminhar desde a extrema esquerda do fundamentalismo e pentecostalismo à
extrema direita do
tradicionalismo e liberalismo. Foi uma caminhada de aprendizagem a respeito do evangelho, do que é e do que não é. Digo isso, pois, conversando com autores ateus, ouvindo pessoas que se dizem ateias ou agnósticas, cheguei a uma triste conclusão, somos culpados de ter azedado o vinho novo, noutras palavras, azedamos o evangelho de Jesus e nos esforçamos em azedar ainda mais. Não há dúvidas de que as palavras que Jesus falou e foram transmitidas pelo evangelho que Lucas escreve : “E ninguém põe vinho novo em vasilhas de couro velhas; se o fizer, o vinho novo rebentará as vasilhas, se derramará, e as vasilhas se estragarão. Pelo contrário, vinho novo deve ser posto em vasilhas de couro novas. Lucas 5:37,38. Esse texto, é uma referêencia ao evangelho que ele anuncia, e o cuidado que se devia ter ao apresentar o evangelho, pois iria romper tudo
aquilo que tivesse a marca do
antigo, daquilo que azeda. Vinho nos escritos bíblicos tem a marca da alegria, do festivo e também da nobreza e da qualidade do produto. Por isso, os escritores sagrados por diversas vezes usaram a
metáfora do vinho para expressar uma destas qualidades, que sem duvidas, o evangelho também possui. O vinho vai além de matar a sede, ele representa muito mais do que dessedentar. Por isso, quando os que necessitam do evangelho gritam “Tenho sede”, não podemos entregar vinagre. Escrevo isto, após ter conversado com uma simples vendedora de livros, e na conversa que tivemos percebi que era alguém que procurava descobrir um caminho de espiritualidade para a própria vida. Na tentativa de apresentar a espiritualidade do evangelho ele preferiu recomendar um livro do ateu Christopher Hitchens, pois era de notar que esta jovem vendedora, bebeu por muito tempo o vinagre oferecido pela religião cristã. Usando as palavras de Paulo, posso afirmar que era outro evangelho,
evangelho
empacotado por um tradicionalismo, legalismo e sem a graça de Deus, o que consequentemente, será uma desgraça de evangelho para todos aqueles que desejam seguir este “outro evangelho” (o verdadeiro). Por isso, lendo o texto de Gálatas e conhecendo um pouco da história do texto e da igreja na Galácia, fiquei um tanto preocupado com a minha pregação e a pregação que escuto, pois, podemos estar azedando o vinho novo e a partir daí, transformar-nos numa nova igreja galaciana do século 21. A crítica que Paulo lança contra os gálatas é que eles estão “abandonando tão rapidamente aquele que os chamou pela graça de Cristo”. Abandonar é deixar a pessoa de Jesus e também abandonar a Graça de Cristo. Esta graça se recebe sem merecimento e sem exigências ou práticas ritualísticas. E a graça é o oposto do evangelho da retribuição que estava perturbando as igrejas na Galácia e que Paulo admoesta a termos cuidados. Não é pelo quanto oro, jejuo, vigio, ou fico em estado espiritualizado que virão as bênçãos divinas. É graça.
Não negamos as disciplinas espirituais, mas estas não devem ser regidas como disciplinas de retribuição, porém, disciplinas da graça de Deus. Se o que fazemos é em busca da retribuição, seja de qualquer forma de retribuição, não conhecemos o evangelho ainda, e se o conhecemos, lamentavelmente o tornamos um ídolo. Na Galácia, estavam impondo as exigências de leis, de formas, de ritos. Eram essas as exigências, ascetismo travestido de espiritualidade, por isso, impacta a pergunta de Paulo em Gálatas, capítulo 3,2: “foi pela prática da Lei que vocês receberam o Espírito, ou pela fé naquilo que ouviram? 3 Será que vocês são tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, querem agora se aperfeiçoar pelo esforço próprio?”. E a crítica Paulina não está especificamente endereçada à lei de Moisés, mas àqueles acréscimos que os religiosos que estavam chegando àigreja queriam impor ao povo e assim obter a sua submissão. A história da igreja está marcada por homens e mulheres que lutaram com afinco e com suas vidas para que o evangelho não fosse para um cativeiro. A luta foi para que o caminho sempre estivesse livre para que os necessitados se aproximassem do trono da graça, sem ritos, fórmulas ou passos, como o velho hino aponta, “eu venho como estou”. É o evangelho que traz a espiritualidade evangélica, e é este que diz não à meritocracia.
CAPÍTULO 3
O cativeiro de Deus Deus está preso! Não, não é a ressurreição de Nietzsche que declarou "Deus está morto", mas algo parecido ou talvez mais próximo disso: é simplesmente a minha reflexão de vida que determina essa atitude. Nesta caminhada teológica, que já chega aos 40 anos, ouvi professores das muitas linhas teológicas e diversos outros pregadores, li livros que falavam sobre Deus, tornando-me um leitor assíduo e cheguei a uma conclusão: Deus foi colocado em um tubo de ensaio - Ele está preso. Fiquei e continuo a ficar impressionado com a maneira com que as pessoas dissecam Deus com tanta facilidade. Fico boquiaberto quando leio diversos livros e ouço professores. Fico atento a discursos de teólogos falando e explicando Deus. É como se tivessem construído Deus, esquecendo-se de que são seres humanos criados por Ele. Será que Freud estava certo? Creio que não. Descobri que Deus está preso na impressão emocional e mirabolante de uma teologia pentecostal, onde surge a figura do super-herói que impedirá a calamidade que prediz a humanidade. Descobri que Deus está preso no raciocínio lógico do protestante ou do “evangélical”, sem falar no fundamentalista, que diante dos silogismos e sofismas, conseguem defender a pessoa de Deus, colocando-O a salvo das incertezas daqueles que, segundo esses fundamentalistas, profanam a Deus e ao pensamento teológico, estabelecido quando questionam, pensam, e sofrem em busca do transcendente, como
se isso não fizesse parte da busca e do reconhecimento natural do ser e que foi colocado pelo próprio Deus. Diante disso, posso dizer que tudo se encaixa. Não há mistérios. O totalmente outro está explicado. Como um quebra-cabeça divino, a essência divina e os seus atributos divinos são expostos, com clareza e justeza. Os paradoxos, as antonímias, tudo está explicado. Deus está a salvo na sua prisão e que ninguém o incomode. Ele sempre estará assim e agirá dessa forma. Essa é a explicação. A impressão que tive era de que eu sabia e conhecia muito bem a Deus e como Ele age em relação a sua criação, como se o script divino já estivesse definido. Sempre Ele agiria ao meu favor, porque assim aprendi e de outra forma não poderia agir. Eu aprendi, segundo a religião, a ler o manual de Deus. O script da sua ação na história humanidade nunca teria mudanças. Agora eu tinha e podia ensinar o mapa que durante séculos os profetas, videntes e mágicos desejaram descobrir. Mas esqueci de aprender a respeito da multiforme graça de Deus, dos absurdos divinos, tais como pedir a um dos seus profetas para casar-se com uma prostituta, ou permitir que seu Santo Filho se misturasse com as prostitutas, cegos, coxos e endemoninhados, e criticasse os teólogos e exegetas rabínicos., Ou permitisse que uma mulher fosse atrás do seu amor, como a moabita Rute o fez. Além disso, Deus deixa implícito
nas letras sagradas do Seu livro, o corpo
erotizado pelas carícias amorosas de um casal nos poemas dos Cânticos dos Cânticos, leitura ausente nos cultos, pois muito "crente brasileiro" odeia o corpo, pois, segundo a sua teologia, ali reside o mal. Na continuação desta caminhada teológica descobri que, segundo a religião, não apenas eu tinha o script da ação de Deus, mas Ele estava em minhas mãos. Mas agora eu também aprendi algo mais: descobri como o homem resultado da ação e criação de
Deus deveria se comportar nas diversas áreas da sua vida. Não somente Deus foi colocado num tubo de ensaio para ser dissecado, mas também a sua criatura seguia pelo mesmo processo. Também é necessário planejar e determinar as ações da criação de Deus, o que pode ser feito ou não. O objetivo do ser humano, segundo o script descoberto é: um homem ou mulher perfeitos, excelentes cristãos, bom cônjuges, excelentes pais, ótimos cidadãos e vizinhos exemplares, alvos dignos de serem alcançados, desde que não se viva somente no mundo idealizado pela religiosidade. Mas o script tem sido mais perigoso, pois muitos seres humanos adoeceram numa procura sádico-masoquista em agradar a religião e não a Deus, pois foi esquecido de ensinar a vivenciar a humanidade. Foi esquecido de ensinar sobre a dor, lágrimas, depressão, doenças, medo e morte. Em razão desse esquecimento fatal surge a necessidade de fórmulas mágicas que operem a favor do ser humano, como roteiros de vidas bem sucedidas, planos de vitórias, escadas para o sucesso, guias espirituais, a doutrina correta, o comportamento estilizado, sonhos divinos, propósitos etc. Foi esquecido de dizer que nós sofremos, que somos limitados e que o pecado de perto nos rodeia e embaraça a nossa caminhada. Foi esquecido de ensinar sobre simplicidade da vida e da graça de Deus. Foi esquecido que cada indivíduo é único, não há outro igual. Esqueceram-se de olhar a realidade da vida com os olhos da graça divina. Foi esquecido de ensinar que a história do homem com Deus não se repete, mas se cria no relacionamento pessoal com o Grande Eu Sou. Agora Deus está preso e, consequentemente, o homem também. Em defesa de uma teologia ortodoxa, pois se esqueceram de ensinar uma teologia humana Em defesa de uma teologia espiritual se esqueceram de ensinar uma teologia da vida com cheiro de
gente com um Deus encarnado entre os homens que também sentia dores, como é visto no jardim Getsêmani. A teologia ficou presa por si mesma. Assim ela não conseguiu crescer, não conseguiu quebrar os limites que o sistema lhe impôs e morreu por inanição, pois não tinha a vida para alimentar-se. Além disso, a teologia engordou e morreu por falta de exercício. Não se alimenta, mas engorda, é a contradição do pensamento repetitivo disciplinado pela ortodoxia da letra e não a ortodoxia da graça.
A teologia ficou
estagnada, parou, secou, azedou, isto é o fruto da monotonia teológica. Durante séculos tentou-se responder sempre a mesma pergunta da mesma maneira e sempre com a mesma resposta Repetir não é pensar. Então o epitáfio da teologia do sistema que enclausurou Deus foi escrito e anunciado: Deus está preso. O último teólogo sistemático devia ter fechado o livro do sistema ou colocado um cadeado no calabouço do Divino. Devemos entender que somos seres mortais, porém livres. Somos chamados, convidados e podemos pensar. Podemos entrar e desfrutar da multiforme graça de Deus e permitir que Ele dirija a sua criação libertando a criatividade humana que, embora marcada pelo pecado, não deixou de ser criação de Deus. A partir daí, podemos ver o Deus Criador, criando como no principio e declarando que onde está Espirito do Senhor, ali há liberdade. Liberdade de expressar a multiforme graça de Deus que age sem script e não se pode colocar num tubo de ensaio. A descoberta da multiforme graça de Deus quebra as grades das cadeias imposta sobre Ele e se manifesta na gargalhada de Jesus quando exultava ao Pai, pois as coisas ocultas eram reveladas aos pequeninos.
Esta multiforme graça deixa o vento soprar para aonde Ele quiser. Reaprender teologia? Não. Construir novos caminhos? Sim. Descobrir a multiforme sabedoria e graça de Deus, esse é o desafio para hoje. Sejamos “vidologos” e não mais teólogos. Encarnemos a teologia como vida que convida a viver a vida em abundância de Jesus, aqui e agora e não esperar o mundo atemporal para vivenciar graciosa glória de Deus. A graça de Deus, não pode ser subjugada pelo pensamento humano, por mais correto e ortodoxo que este se apresente. O totalmente outro se aproximou de nós para vivenciarmos prazer, graça, paz, harmonia, satisfação e também gosto pelo gosto de viver.
CAPÍTULO 4
A família cristã “esquizofrenizada” No ano em que instituição do divórcio cumpria 30 anos no Brasil (2008), o IBGE divulgou as estatísticas relacionadas ao divórcio. A atual taxa de divórcio no Brasil é a maior desde 1995 com aumento de 200%. Isso significa que, em média, a cada quatro casamentos, um é desfeito. Sem dúvidas, uma primeira e simples conclusão é que a sociedade mudou o seu pensamento e o comportamento diante da instituição familiar. Refletir e falar sobre família não é uma questão simples, mas não são as dificuldades que devem impedir a reflexão sobre o tema. O desafio diário do cristão evangélico de viver determinados padrões familiares tem sido uma constante. Dominicalmente os frequentadores e membros das igrejas têm sido desafiados com discursos que os convocam a viverem determinados padrões familiares, com o objetivo de sustentar e manter o casamento e o vínculo familiar estabelecido. Cônjuges e filhos são constantemente expostos a palestras, pregações e estudos com o intuito de manterem e vivenciarem uma família cristã com práticas tidas como cristãs. No entanto, nos perguntamos: ainda é válido, em pleno século XXI, o modelo familiar que nos foi ensinado nos séculos XIX e XX? Existe a necessidade de se pensar em um modelo de família cristã para a pós- modernidade? Manter os valores cristãos para a família significa manter práxis ou costumes do milênio passado? Eis o desafio. Em primeiro lugar, faz-se necessário esclarecer que a família deixou de ser um núcleo social para se constituir num núcleo funcional. Na atualidade, a solidariedade, que é um valor que precisa ser restaurado, começa a ser substituída pelas funções que os membros da família exercem.
O envolvimento familiar é responder às questões que levantamos, e mais importante, à pergunta: quem eu sou nesta família? Trata-se de uma questão de identidade e filosofia familiar e o cristianismo, por ter um discurso solidário gerado numa concepção comunitária que é exposta na imagem de corpo de Cristo, provoca e traz uma crise no meio familiar, uma vez que as pessoas são solidárias na comunidade cristã, porém, não o conseguem ser na família. Vive-se, portanto, a crise da fé x práxis. A ortodoxia x ortopraxia. Em segundo lugar, o discurso evangélico esquece-se da tríplice vivência mundana do cristão. Não defendo a
ideia de “conformar-se com o mundo”, mas não se pode
esquecer que o cristão “está no mundo” e que a oração de Jesus foi que fôssemos “livres do mal”. Particularmente, vejo aqui o cerne da “crise familiar”, a falta de leitura daquilo que chamo de “sinais dos tempos”. O cristão vive envolvido num “tríplice mundo”: “mundo-família”, “mundo-igreja”, e “mundo-sociedade”. Uma simples observação da distribuição do tempo, dos estímulos e da participação destes cristãos mostrará quais influências, formação e informação esta família receberá. Esta leitura básica da mundaneidade deverá conduzir o tipo de discurso ligado à família que as igrejas devem proporcionar aos seus ouvintes. Como dissemos não se trata de nos conformarmos com o mundo, mas de sermos sábios e prudentes para “transformarmos o mundo”. É necessário transformar famílias para viverem no mundo e não para viverem somente para si. Proponho aqui que a família deve ser uma comunidade da vida, ou seja, uma verdadeira facilitadora da vida em comunidade, sem se conformar com a filosofia da vida mundana. Os formadores de opinião e aqueles que se dedicam a organizar e produzir materiais para a família cristã devem impreterivelmente, fazer a leitura dos “sinais” de
nosso tempo. Dessa forma, teremos um discurso libertador e não gerador de uma opressão religiosa. A mensagem que deve ser comunicada deve não somente facilitar a compreensão da vida cristã em família, mas ser um facilitador do viver cristão. Um discurso concreto e não idealista. Existencial e não asceta. Da vida e não de morte. Da graça e não da lei. Do evangelho e não da tradição ou religiosidade. Da diversidade familiar e não de uma padronização serial. .
Não podemos nos esquecer de que a vida cristã é integral, mas em termos de
tempo, crescimento, aprendizado e outros, somos limitados. Atualmente, muitos lares são verdadeiros dormitórios. É difícil pedir a uma família cristã que se junte diariamente para exercitarem a oração, quando esta tem apenas os fins de semana para estarem juntos. É esta a realidade “mundana” a qual nos referimos e que deve ser entendida e levada em consideração por aqueles que produzem treinamentos, cursos e palestras para as nossas famílias cristãs. Outra questão que deve ser indicada é a rapidez com que as mudanças acontecem em nossos dias. Não há como não mudar. As pessoas mudam de grupos sociais, de amigos, de igrejas, de bairros... Não se estabelecem vínculos profundos e duradouros. Portanto, as mudanças podem acontecer e devem acompanhar o ritmo da sociedade. O ensino para a família atual deve ser rápido, proativo, interessante. Os valores permanecem, mas a forma deixa de ser cristalizada, sem perder o status de cristão. Um exemplo trivial é a leitura bíblica. Hoje muitos não leem a Bíblia diariamente, mas a ouvem, diariamente e por muito tempo. Estes cristãos “pós-modernos” usam o seu tempo e o som de seus carros ou seus aparelhos de mp3 para “ouvirem” as Escrituras Sagradas, enquanto dirigem ou estão parados nos engarrafamentos das grandes cidades. Serão eles menos cristãos do que aqueles que antes, dispunham de mais tempo para lerem a palavra?
A esquizofrenia da família cristã se dá quando os membros das igrejas são retirados do seu habitat e são conduzidos a vivenciarem a fé cristã por modelos produzidos por matrizes religiosas forâneas e em série. Os cristãos não podem ser retirados do contato com a sua realidade da vida e especificamente dos tumultos vivenciais. Quando existir uma correta leitura dos “sinais dos tempos”, existirão mais cristãos concretos e menos cristãos em série. Existirão cristãos ligados com a sua realidade. Estes cristãos, que são vistos como artefatos eletrônicos nos quais basta que se ajuste um determinado parafuso ou transistor para que tudo volte a ser como dantes devem ser libertos. O tecnicismo da vida cristã, que nos ensina que se fizermos determinadas ações, usarmos determinadas fórmulas, teremos os resultados almejados, deve ser extinguido e substituído por algo de mais “mundano, mais concreto, mais real. Feito para o homem atual e para seus dilemas atuais. A teologia da vida cristã é holística: Deus, Criação e Eu. Ela é concreta e multifacetada. Cada cristão vive suas experiências de forma subjetiva e diferenciada. A riqueza da palavra de Deus é que ela é viva. O significado disto é: a palavra e formação estão em constante desenvolvimento na vida das pessoas. Não erramos se dizemos que a palavra de Deus por ser viva é “funcional”. Isto significa que a eficácia também está de acordo com a forma que cada cristão desenvolveu, com sua história de vida. Isso inclui experiências de vida, família, formação, identidade pessoal única, experiência religiosa, estilo pessoal, dons etc. E isso não gera cristãos em série.
CAPÍTULO 5
Caminho para matar a fome de Deus Gosto de definir teologia de uma forma simples e até engraçada. Teologia é como o chefe de cozinha que prepara deliciosos pratos no seu trabalho. Como o chefe de cozinha, assim é o estudo teológico da bíblia: prepara deliciosa comida. O chefe pode conhecer e decorar diferentes receitas, mas não alimenta ninguém. O leitor da Bíblia poderá conhecer de cor uma série de textos bíblicos, mas que não oferecem nenhuma contribuição para uma boa alimentação, já que não houve o ajuntamento correto dos diferentes ingredientes. Teologia se faz assim e é desta forma que o cristão satisfaz a sua fome de Deus. Um grande erro do mundo moderno é apontar como verdadeiro e bom tudo aquilo que é prático. Isso se chama de pragmatismo. Este tem sido um câncer perigoso que atinge a igreja atual. Não é negado o valor da prática, aliás, um resultado prático e bom, é fruto de uma boa teoria, mas muitos têm se enveredado por um caminho perigoso, que é desprezar o uso da razão na sua vida cristã. Uma mente possuída pelo Espírito Santo de Deus é aquilo que é chamado de a mente de Cristo. O movimento religioso da nova era tem se infiltrado sorrateiramente no meio da igreja cristã. Isto se chama “conformarse com o mundo”. Este movimento é mais um movimento que está baseado nas sensações espirituais. Em outras palavras, isto é mundanismo. A grande maioria dos cristãos liga mundanismo ao tipo de roupa, música, comportamento social etc. e se esquecem de que também o mundanismo entra na igreja por meio do estilo de vida que não deseja usar a mente para estudar e entender a palavra de Deus. Gostamos de experiência, mas não de
estudos da experiência, pois se fazemos isto somos questionados na base da experiência. Podemos ficar alegres quando olhamos a história cristã, pois os grandes homens de Deus, que escreveram grandes e volumosos tratados teológicos, eram homens que viviam na presença de Deus. Eles entendiam que o evangelho de Jesus tinha duas primazias que não eram contraditórias, mas paradoxais, o que exigia do cristão uma resolução. Estas primazias são a primazia do intelecto e a primazia do coração. Assim, as emoções ficam acessas duma melhor forma quando conhecemos mais profundamente a majestade de Deus. Nada pode estar no coração se não estiver primeiro na mente. Quando estudamos os textos bíblicos de homens como Moisés, Isaías, Paulo e tantos outros da história cristã, percebemos que eles falam do que conheciam para depois permitir que as emoções sejam colocadas a serviço da adoração. R. C. Sproul, teólogo reformado diz: “As emoções podem ser acesas pelo mais leve conhecimento da majestade de Cristo. Mas para que a fagulha aumente até se tornar fogo devorador e duradouro, nosso conhecimento a respeito dele deve aumentar”. A história da igreja foi marcada por grandes pensadores teológicos que se tornaram fonte de informação e fundamentação filosófica e teológica de muitos pensadores atuais. Homens como Agostinho, Inácio de Antioquia, Irineu de Lyon, Agostinho, Tomas Kempis, Martinho Lutero, João Calvino, Jonathan Edwards, fazem parte de um grupo seleto de homens que andavam com Deus e usaram o seu intelecto para dar uma correta expressão da fé cristã. Eles entendiam que a fé cristã era lógica e coerente. Seus corações eram estimulados por algo que conheciam. Atualmente precisamos de homens ou mulheres que tragam para o seu povo uma teologia coerente, lógica e acima de tudo bíblica - e ela existe - só nos resta que estes tenham os seus espaços.
Quando muitos cristãos da igreja evangélica brasileira proclamam uma “nova reforma” hoje, despertando o ministério do apostolado, é necessário que estes pregadores da “nova reforma” lembrem-se que também existe o ministério do mestre e outros ministérios, pois só assim esta “nova reforma” será completa. Na atualidade há uma séria confusão de termos: professor e mestre são dois termos que se confundem na prática. Particularmente afirmo que todo mestre é um professor, mas nem todo professor é um mestre. Os mestres trabalham não apenas com o conhecimento ou com a informação. Eles vão além, trabalham com a vida e com a formação de caráter do aluno e partem dos princípios do discipulado prático que antecede a teoria. Ao Senhor da Glória e Eternamente Perfeito Seja Toda a Glória.
CAPÍTULO 6
O cristianismo na UTI As três religiões mais importantes na atualidade são o judaísmo, o islamismo e o cristianismo. Estas três, por diversas razões, estão nas páginas dos jornais e na mídia em geral. A imprensa, diariamente, dedica parte do seu tempo a informar algumas decisões e práticas de seus membros e líderes. Neste livro, meu interesse particular está no cristianismo como religião. Uma religião tem os seus seguidores que nem sempre estão comprometidos com os ensinos que exigem a sua profissão de fé. No caso do cristianismo, a marca comum de todas as linhas cristãs é que se aceita a Bíblia como sendo o texto base dos princípios de vida e fé. Atualmente, este cristianismo tem se afastado tremendamente dos princípios ensinados e da mensagem daquele que é apontado como sendo o seu fundador: Jesus Cristo de Nazaré, filho de Maria e José, conhecido e apresentado como O Filho de Deus. Sempre que a dita religião cristã desejou e procurou viver à sombra do poder político, social e financeiro perdeu a oportunidade de se identificar ainda mais com a soberania proclamada pelo Reino de Deus. Esta mensagem do Reino de Deus anunciada por Jesus foi o tema central do crucificado. Os primeiros que receberam esta mensagem não estavam nas mesas nem nas cadeiras do poder, pelo contrário, a mensagem sempre foi direcionada aos que viviam subjugados por todo tipo de opressão, seja religiosa, social ou econômica.
A história da igreja chamada cristã esteve marcada por estes desvios do estilo de serviço, marca do fundador Jesus Cristo, para o estilo do poder. Desde as suas origens a marca daqueles que se identificavam com o Nazareno nunca esteve ligado com prestígio e quando houve esta aliança, o cristianismo entrou num processo de extinção que somente foi restabelecido por um despertar de reformas e de afastamento da corrupção. São mais de 2000 anos de história para os quais os cristãos do século XXI devem olhar com mais atenção para aprender com seus antepassados. O evangelho de Jesus não combina com os desejos de poder, mas do poder de servir. Outra marca que se perdeu do Nazareno foi a marca do acolhimento. Novamente, recorremos à história para observar o quanto a religião cristã fez uma opção errada por não acolher. De formas diversas, se afastou dos pecadores ou ainda os rejeitou por que estes infectavam a santidade dos templos e dos lugares sagrados. Acolher pessoas pobres, pecadoras, doentes, sem recursos sempre foi feito por um cristianismo marginal e não oficial. Isso levou muitos a criarem as suas próprias comunidades mendicantes e até a se afastarem do mundo real para se aproximarem de Deus, como os ermitãos ou os cenobitas. Líderes religiosos - marcados pela falta de inteligência social - embarcaram em uma desenfreada luta nas questões de opção sexual, tornando o cristianismo uma religião – em sua maioria - marcada pela homofobia e nunca pelo acolhimento. Nem sequer houve a inteligência de aprender a resolver uma situação pastoral com tolerância, que com certeza o Mestre de Galileia solucionaria com mais classe. O carpinteiro de Nazaré seria mais das ciências pastorais e menos da apologética. E por último, destacamos a inquisição com e sem fogueiras, esta última, menos conhecida. Nos diversos segmentos desta cristandade há milhares de escritos que fazem parte de um Index Proibido. A inquisição sem fogo é mais cruel e sorrateira, pois deixa os
pensadores sem o espaço de exercer a sua criatividade do pensamento teológico, bíblico e social. São separados e marcados nos diversos segmentos da cristandade, os quais se perdem na escuridão da trevas do esquecimento e deixam de oferecer uma nova seiva a um religião que hoje está na UTI. A inquisição sem fogueiras tem marcado nos últimos anos com a proibição de pensadores da cristandade, quando estes discordam da versão oficial da história ou da teologia. Esta inquisição passa pela proibição da mulher de exercer, seja o sacerdócio ou pastorado, levando consigo aqueles que lhes favorecem. E ainda colocam outros no obscurantismo por discordar da teologia ou prática oficial. Estas marcas, brevemente aqui indicadas, marcam o cristianismo atual. O desejo de poder está na apropriação indevida dos ditos políticos cristãos que pelas suas ações negam o caráter do Nazareno. Alguns se jactam citando a sua opção religiosa, mas por outro lado, suas obras estão sob supervisão da justiça. Voltar ao modelo de Jesus é marcar a vida de fé com a humildade do serviço aos necessitados, acolhendo a todos os pecadores para serem pastoreados, mesmo que incomodem em nossos lugares sacrossantos. Também permitirmos que nas nossas comunidades se possa viver com criatividade nas diversas áreas da vida como deve ter sido no colégio apostólico que tinha o revolucionário Simão ou Zelote, além daquele cobrador de impostos, Mateus. Este é um chamado a voltar ao verdadeiro discipulado de Jesus, que estava interessado nas pessoas e não em organizar um império. Assim, podemos tirar o cristianismo da UTI.
CAPÍTULO 7
Espiritualidade da religião e espiritualidade da graça O dicionário Aurélio oferece algumas definições sobre religião, dentre as quais e escolhi duas: “A manifestação de (...) crença por meio de doutrina e ritual próprios, que envolvem, em geral, preceitos éticos”; e “Qualquer filiação a um sistema específico de pensamento ou crença que envolve uma posição filosófica, ética, metafísica etc.” Essas duas definições refletem o espectro religioso evangélico-cristão da atualidade. Por maior que seja a tentativa de fugir ou de procurar outras definições para escoar do meio daqueles que ligam as “boas obras” como um meio de alcançar Deus, não há como ser cristãos hoje, sem deixar de ser religioso. O discurso de rejeitar a noção que o cristão evangélico não é religioso se dilui na sua prática específica de atender aos “pecadores”. A única forma de fugir da religiosidade evangélica atual está que o penitente se volte totalmente para a Graça do Deus Soberano que amou sua criação e se liberte de qualquer institucionalização de juízo. A graça é indefinível e não pode ser colocada em tubos de ensaio. É um ato inexequível quando o homem deseja expor os contornos e formas dessa graça. Ela não tem forma definida. É possível de ser visualizada, mas nunca de ser definida logicamente. A incapacidade humana frustra o desejo dos autores, poetas, profetas, adivinhos, sacerdotes e outros em achar uma definição que satisfaça o coração do ser humano e descreva fielmente a graça divina. Nesta intenção da definição sempre existirão dúvidas.
A graça é humanamente indefinível, mas ela é visualizada por meio das expressões encontradas diante da realidade humana e religiosa que viveu Jesus. Isso faz nos lembrar de uma das diversas narrações conhecidas que Lucas oferece no seu evangelho (Lc 7: 36-50), na qual a religiosidade inata no ser humano conduz o próprio autor sacro a nomear esta mulher como “pecadora”. Lucas, usado por Deus dentro da sua cosmovisão, ajunta-se ao fariseu e à pressão social, e à mulher não convidada ao jantar com a conotação de pecadora, epíteto que a sociedade também já tinha dado e qualificado a mulher. A religião rotula e oferece hierarquias sócio espirituais, mas a encarnação da graça não rotula a mulher, e sim a define em seu gênero: mulher que ama, “porque ela muito amou”. A graça vê, reconhece e oferece amor. A mulher qualificada pela religião como pecadora, ou seja, por suas más ações ou seus pecados, escuta de Jesus que a razão da sua qualificação feita pela religião já “estão perdoados”. A mulher toca, beija, banha com lágrimas e unguento os pés do homem de Nazaré que estão empoeirados pela terra das ruas da Palestina, e enxuga-os com seus próprios cabelos. Ela, mulher qualificada como pecadora, que conhece o corpo masculino, não hesita em oferecer o melhor que ela tem em sua vida, independente da marca que o contexto social havia lhe dado. A sua qualificação moral dada pela sociedade é quebrada pela graça do seu desejo de tocar, servir e amar aquele que aceitava e respondia ao seu gesto, pois em momento algum ela é detida. Sem se importar como o “ato do toque”, com o “quem é a que toca” e “onde toca”, a graça inefável se encontra nos corpos graciosos da mulher que ama e do mestre Jesus que se deixa amar. A graça além de não rotular permite expressões de amor por meio de gestos.
Tanto o Mestre quanto a mulher personificam a graça. A mulher se dá e o Rabi, oferece o perdão, a aceitação incondicional. O diálogo da graça não tem empecilhos visíveis ou ocultos. A religião permitia à mulher se aproximar somente por trás daquele que era foco da sua atenção. Ela oprime a liberdade, a criatividade, fossiliza os sentimentos que expressam o desejo interno do ser, é ontologicamente cega. No entanto, a graça expressa amor, toca e não coloca empecilhos. Enquanto a religião adoece nossa espiritualidade, a graça de Deus a integraliza, pois permite que a expressão de entrega seja total: sentimentos, emoções, corpo: É a espiritualidade da graça voltada não para instituições, mas para vidas, para pessoas, para pecadores como eu e como você.
CAPÍTULO 8
O evangelho traído Uma das lamentáveis marcas que mostra a historia de Jesus e a pregação do evangelho esta relacionada à traição. A história de Jesus, na sua caminhada final até a morte, tem o seu inicio com o fato da traição de Judas. Judas, companheiro e tesoureiro de Jesus, por quase três anos, ouviu suas mensagens de paz, amor e simpatia para com os pobres e excluídos
como também
observou as curas e manifestações de poder do seu Mestre. Mas no final o poder do deus Mamom, simbolizado pelo dinheiro e refletido por trinta moedas de prata; ele entregou seu mestre aos inimigos com um ato emblemático da amizade: um beijo no rosto. Iniciava-se a caminhada para a cruz. O Senhor e o evangelho anunciado foram traídos. Durante séculos a história mostra que esta traição se repete de diversas formas e marcam as páginas que descrevem os atos de homens, mulheres e comunidades que dizem representar o Nazareno, o homem da Galileia. O século 21 será marcado pela traição, pelo vilipêndio, pela vergonha, pelo mau caráter daqueles que se apresentam como representantes do povo e de Deus no meio politico no Brasil. A história da igreja universal apontará este tempo como o ano do “evangelho traído” na esfera politica do Congresso Nacional Brasileiro. O evangelho mais uma vez foi traído e com consequências mais nefastas, especialmente para com aqueles que um dia decidiram abraçar a fé com a simplicidade da alma, neste evangelho do Reino de Deus anunciado por Jesus.
As consequências são maiores, pois o alcance é maior. A comunicação virtual e digital traz as notícias com uma velocidade assustadora a respeito da traição dos pseudos seguidores daquele que disse “Não tenho onde reclinar a minha cabeça”. Hoje, a traição não é mais com trinta moedas de pratas; mas milhões de dólares. Carros de luxos para esconder o valor da venda da fé, negócio da impunidade, a troca pelo poder e gloria.
As tentações sofridas e vencidas pelo Senhor do evangelho:
Riqueza, poder e gloria, foram mais atraentes que o caráter e o desafio exigente de seguir o Mestre da Galileia. A traição ao evangelho obriga os traidores a negociar a impunidade como conchavos para serem protegidos. Não existe a coragem de Judas, que remoído pela vergonha e o remorso pendura-se em uma árvore e tira a sua vida. Ainda se tem a oportunidade de se aferrar a dúvida, embora os fatos sejam claramente identificáveis: como, quando e por quem foram feitos. A traição tem dia, hora e documentos. Ainda se podem aferrar ao jeitinho da negociata
em que independente da fé
podem locupletar ainda mais recursos financeiros, de poder ou de influência para não mostrar a traição ao evangelho e ao seu fundador e sofreram a vergonha do traidor. Judas o traidor mor, foi e enforcou-se. Cinquenta dias mais tarde a igreja iniciava a pregação do evangelho que deveria chegar com poder e honra a todos os cantos da terra. Hoje é diferente: a negociata dos traidores não trará mais o ímpeto da pregação do evangelho e do fundador, mas a vergonha, a tristeza, as lágrimas e o descaso de muitos sobre aqueles que abraçaram honestamente a fé no Jesus, Filho de Deus, anunciador do Reino e que mais uma vez sofre a traição dos Judas contemporâneos
CAPÍTULO 9
Evangelização antropofágica .
Os cristãos sabem que devem compartilhar do evangelho, isso é um axioma, por
isso não se discute. Mas não se pode confundir evangelização com conquistas de pessoas para o rol de membros da própria igreja. A evangelização é muito mais que o doutrinamento ou ensinos religiosos, embora a doutrina e o ensino façam parte. Evangelização é anunciar o evangelho e evangelho é “anunciar boas novas”. Qualquer anúncio que traga qualidade de vida se torna parte do evangelho. “Toda verdade e boa dádiva”, disse o meio irmão do Senhor, “procede de Deus independente de quem a proclama”. Atualmente a evangelização se constituiu no desejo de ter multidões sob o domínio da liderança eclesial. Isso pode até acontecer e ter um resultado. A pergunta a ser feita é, para que ter as multidões sob a liderança eclesial? Se não for para transformar a sociedade e os nossos pais num melhor lugar para viver? Então, estamos fazendo nada mais que doutrinamento e evangelização antropofágica, antropofagia é o ato de comer uma parte ou várias partes de um ser humano. Nos últimos anos, se criaram guetos cristãos, pois não se foi capaz de transformar o mundo em que a igreja vivia; assim o mundo eclesial achou por bem criar seus próprios universos. “Fugir do mundo” foi e é a mensagem como se isso fosse possível num tempo de globalização. Vivemos nas escolhas das nossas escolas, do nosso turismo, nosso lazer, nossos programas de televisão. Na escolha dos diversos profissionais das diversas áreas profissionais são escolhidos pela identificação da doutrina e não pela qualidade do serviço. Já temos
condomínios para seguidores de uma determinada doutrina ou fé. Aquele que enviou a igreja a evangelizar enviou os seus para “dar vista aos cegos”, “libertar os cativos”, “sarar doentes”, “expulsar demônios”, “visitar os órfãos” “cuidar das viúvas”, mas se prefere evangelizar ou doutrinar estas pessoas colocando-as no rol de membro de uma comunidade e fazê-las participar das suas atividades. Dessa forma, o mundo não se modifica senão que piora. Depois de esconder estas pessoas nos guetos cristãos desejamos que o Brasil seja modificado pelos outros e desde as trincheiras das luzes, da comodidade dos templos, do paroxismo emocional, da diversão dos cultos, se deseja que o Brasil e o mundo mudem. A evangelização antropofágica deixa as multidões nas nuvens e o mundo no inferno e se proclama que o povo vai conquistando a terra de Canaã. A evangelização que o Brasil precisa é a evangelização encarnacional, este será nosso próximo tema. Pense nisso. Que evangelização proclamamos nas nossas páginas da web? Que você faz na sua evangelização? Qual é a sua anunciação? É o apocalipse ou a vida com abundância que Jesus prometeu?
CAPÍTULO 10
O líder da segunda década A história da humanidade trouxe no seu bojo o surgimento de diversos personagens que foram marcados com o título de líder. Suas histórias servem hoje como fonte de pesquisa para descobrir nas suas vidas as marcas que iluminam a caminhada dos atuais e futuros líderes. A grande maioria destes personagens marcaram suas épocas com seu destaque pessoal na construção de uma melhor sociedade, de um mundo com melhores condições de vida ou de sobrevivência. Atualmente, vivemos sob a marca da globalização, do lucro, da eficácia, do sucesso etc. Estuda-se a vida dos grandes homens que lideraram a humanidade nos diversos contextos mundiais para extrair o melhor que estes possuíram e também evitar as ações que impediam o desenvolvimento duma melhor liderança. Neste contexto geral se destacam personagem como Gandhi, Madre Tereza de Calcutá, Desmond Mpilo Tutu, Nelson Mandela. Entre estes e outros líderes que marcam a vida de muitos, algo comum lhe é peculiar e se pode considerar como uma marca especial de todos: Perder para que outros ganhem. Não coloquei nesta pequena lista, mas o modelo perfeito desta liderança do serviço se encontra na pessoa de JESUS relatada nos evangelhos. Atualmente o número de cristãos no mundo beira os dois bilhões. No Brasil, as cifras oscilam entre 20 a 40% da população. As marcas que caracterizam este mundo cristianizado são vistas na mídia que, consequentemente, tem o seu destaque no comercio, o lucro financeiro, tamanho ou de poder.
O que os grandes líderes citados mostraram na sua caminhada e que em Jesus é compreendido e vivido de forma completa, é servir, perder, e o outro é mais importante. Quando isso é substituído pelo lucro seja financeiro, de poder ou de qualquer outro tipo, se perde o conceito real de liderança vivenciado pelo Mestre Jesus Cristo. O final do século XX e a primeira década do século XXI trouxe o líder que influencia e tem seus seguidores. É a multidão, o sucesso por meio de estratégias de liderança, de marketing, do planejamento estratégico. Mas nesta nova década, diante das catástrofes, da violência, problemas sociais, dentre outros fatores, se necessita de um novo modelo de liderança, embora antigo. O líder que calça o sapato do outro. As ferramentas já citadas podem continuar com sua importância, mas não mais para ter o lucro em primeiro lugar. Não mais para o crescimento do meu reino pessoal senão que toda essa ciência de liderança será para que o outro realize o propósito divino pela qual existe neste mundo e sirva a sua comunidade na busca duma vida em abundância. É a grandeza do próximo que deve motivar todas as ciências e ferramentas da liderança e organização. É capacitar para que o outro descubra aquilo que o salmista indica no Salmo 139: 9. “No teu livro todas estas coisas foram escritas (...).. Ajudar para que o outro descubra estas coisas escritas por Deus para sua vida pessoal deve ser objetivo do líder. Liderança nesta década deve ser, eu perco para que você ganhe. O meu sucesso estará naquilo que o outro desenvolve na sua forma interna de ser, pois descobre seu valor como pessoa, identifica seus valores e cresce como ser humano. Este modelo de liderança é o modelo de Jesus. É o modelo de servo. Difere do modelo ainda difundido na igreja dita cristã, pois a esta não quer perder. A igreja pósmoderna tem as suas multidões em que o ser humano se perde no meio da multidão e ao mesmo tempo se isola.
A comunidade pós-moderna, e dita cristã, observa seus congêneres como seu concorrente. Por isso, a comunidade que alcança o seu crescimento numérico, financeiro ou de poder, se tornará o modelo para a outra comunidade, pois esta última procurará descobrir a fórmula desse deslanchar multitudinário, mas não comunitário. O líder da segunda década precisa perguntar no estilo que Jesus no diálogo teve com o cego de Jericó relatado nos evangelhos, Jesus pergunta: “Que você quer que eu te faça?”. O líder da segunda década precisa oferecer o espaço necessário para que o liderado desenvolva suas capacidades, descubra seu valor pessoal em detrimento dos alvos pessoais que o líder tenha. Perguntas para a liderança: O líder da segunda década, no modelo de Jesus, não mais pergunta: Você conhece a minha visão? Mas ele deve questionar: Qual é o teu propósito? Como posso te ajudar? Foi assim que Jesus fez e muitos líderes seguiram o modelo Jesuíno e que se destaca na história da humanidade. Eles assim o fizeram e por isso são lembrados, ainda hoje. Precisamos avaliar as lideranças atuais levantando uma pergunta O que você está perdendo em benefício do outro? É a pergunta que eu e todo líder me deve fazer nesta nova década.
CAPÍTULO 11
Espiritualidade e emoções No início da vida crista é comum escutarmos a frase “minha vida espiritual” que muitas vezes leva consigo uma conotação bastante ascética. De forma inconsciente, muitos se sentem desafiados a tornarem-se inimigos daquilo que se considerava uma “vida mundana”. Nesta categoria mundana estão catalogados elementos como a cultura, a moral, a vida social, o lazer etc. Desse modo o ser humano sofre uma cisão e sua vida cotidiana é fragmentada o que conduz a viver numa corrente de desintegralização em uma contínua frustração que é confrontada com sua humanidade. Para suportar e viver esta fragmentação a igreja durante séculos tem se dedicado a orientar o cristão a dedicar-se a prática ascética das conhecidas e diversas disciplinas espirituais, as quais se tornam novas leis que passam a definir os comportamentos e as práticas religiosas que, para alguns, além de serem marcas de espiritualidade, são definidoras para o desenvolvimento de um elevado grau de espiritualidade que permitem o correto relacionamento com Deus. Jesus, a encarnação da realidade humana é o perfeito modelo da espiritualidade. Os evangelhos relatam o Deus-Homem nas ruas da Palestina junto com seu povo, vivendo a perfeição do relacionamento espiritualidade - humanidade. Olhando para Jesus descobrimos que, embora tenha praticado o jejum e a oração no inicio do seu ministério, não são estas as exigências que Ele coloca para um bom
desenvolvimento do crescimento cristão. Ele os aprova, mas não são estas exigências legais que Ele aponta para que produzam este crescimento. É a espiritualidade de Jesus que se observou no seu dia a dia e no seu no relacionamento com a pobreza e com a riqueza, com a fome e com a abastança, com o povo e com as autoridades políticas e religiosas. Sem discutir a validade das disciplinas espirituais na vida do cristão e como a história da igreja tenha mostrado isso por meio de homens e mulheres na prática das destas, não devemos esquecer o fator humano, da vida ou da encarnação da vida no dia a dia, como Jesus o fez. Na caminhada ministerial de Jesus vemos a sua espiritualidade - humanidade desde o momento da sua gestação e nascimento. É no processo normal da criação que “... o Verbo se fez carne” (João: 1:14), pois foi uma mulher que teve dores no parto e que “deu à luz a seu filho primogênito, e envolveu-o em panos, e deitou-o numa manjedoura (Lucas 2:7). É inevitável não pensar numa criança que nasce sendo um bebe coberto de sangue envolvido numa placenta e nos fluidos corporais envolvidos no parto. Não se pode deixar de não observar a sua pré-adolescência na procissão a Jerusalém, quando se perdeu dos pais por quase 4 dias. Alguns anos mais tarde, vemos Jesus divertindo-se, sim, divertindo-se numa festa de casamento junto aos seus amigos e ainda providenciando o vinho para que a festa não acabasse. Na espiritualidade de Jesus não havia cisões, nem dicotomias. Suas emoções estavam presentes de forma natural em sua espiritualidade como em sua humanidade, expondo-as como nos momentos de raiva diante das injustiças que os seus irmãos sofriam.
Observamos isso na purificação do templo ou quando desafiou Herodes: “Ide, e dizei àquela raposa”. (Lc 13: 32). São impactantes os momentos da despedida de Jesus com os seus discípulos, nos quais Ele reconhece e ensina sobre a vida que tiveram juntos: “E vós sois os que tendes permanecido comigo nas minhas tentações”. (Lucas 22: 28) O Senhor da História teve seu momento especial e de particular importância na caminha de espiritualidade. A espiritualidade – humanidade de Cristo manifesta-se em Sua vida em um momento de profunda angústia e depressão diante da vontade do Pai. Os evangelistas descrevem este momento como agônico, depressivo, com cheiro de morte, pois o texto informa que “posto em agonia, orava mais intensamente. Seu suor tornou-se grandes gotas de sangue que corriam até ao chão. (Lucas 22: 44), fruto dos sentimentos da sua alma, como são expressos pelo evangelista Marcos: “A minha alma está profundamente triste até a morte”. (Marcos 14:34). Um dos seus seguidores escreveria mais tarde: “De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus” (Filipenses 2:5). É o sentimento da encarnação. “O verbo se fez carne, Ele habitou entre nós”. Outro seguidor escrevia “O vimos, o apalpamos, o contemplamos o ouvimos” era a espiritualidade-humanidade entre os homens. Ouso dizer que a espiritualidade cristã , segundo Jesus, é viver a humanidade de forma expressiva. É sentir e viver o corpo; é sentir e viver a emoção. A espiritualidade cristã é ser gente, é viver a vida, sentir que sou o invólucro da graça de Deus e como tal tenho que encarnar a realidade da vida onde estou – o mundo.
CAPÍTULO 12
A Angústia do púlpito “Prega a palavra em todo tempo e fora de tempo”. Este foi o desafio do velho pregador, o apóstolo Paulo, que aguardava a partida desta vida. Desafio que acompanhou a história da pregação e que centralizou o trabalho de muitos ministros da Palavra. Estes, além de pregar, mantinham no seu lastro as marcas do cristianismo que nasceu em Jerusalém. Carregavam a responsabilidade do pregador nas diversas circunstâncias de vida. Nada era mais importante que comunicar a Palavra de Deus: era o centro de suas vidas. Eram comunicadores da Palavra Bíblica. Sentiam a angústia do pregador diante da responsabilidade de pregar o evangelho da graça; o qual era descoberto nas páginas bíblicas e comunicado a uma plateia que desejava saber se havia uma palavra do Senhor para aquele momento. A construção da teologia cristã teve seu início pela Palavra pregada. Mais tarde estes pensamentos foram preservados por meio
da escrita. Primeiro com grandes
dificuldades, posteriormente com a invenção da imprensa o trabalho da preservação ficou facilitado. Graças a esta invenção pode-se aprender com estes anunciadores do evangelho, como vencer o desafio do velho pregador nas palavras endereçadas ao seu jovem discípulo, Timóteo, registradas nas epístolas pastorais que já foram supracitadas. Este é o desafio de todo pregador. Todos aqueles que assumem o púlpito devem não somente entender o desafio, mas desenvolverem-se para vencê-lo. Não é aceitável ferir a história da teologia, da pregação, que foi fonte de altos temas de discussão nas academias e na vida do povo. Não se pode macular esta história com pregadores que
não conheçam com profundidade as Escrituras, sua história, sua mensagem e o seu valor. Na atualidade, as Escrituras foram valorizadas pelo comércio, e são desvalorizadas por aqueles que dizem anunciar a sua mensagem. As Escrituras perderam o fascínio do sagrado para o anunciador de boas novas. Muitos entenderam que um curso superior na área, faria deles um pregador com condições ad eternum para expor a mensagem e ainda qualificá-la como bíblica. O curso não qualifica teólogo é tão somente um ponto de início para essa qualificação. Hoje, precisam-se de pregadores que se exponham à critica de ter gastado tempo no desafio de entender o texto para melhor comunicá-lo. Comunicar é a palavra contemporânea que substitui o pregar. Comunicar não é somente manter o auditório acordado. O desafio do comunica-dor da Palavra, é mostrar que a mensagem que ele transmite é fruto do esforço e “da dor” que trouxe a pesquisa exaustiva e que o qualifica para assumir a plataforma ou um púlpito duma igreja.
Quando isso não acontece, o
púlpito agoniza. E este esforço não depende do tamanho ou do tipo de auditório. O desafio do comunicador da Palavra é responder às questões da vida, mas para isso ele precisa ter o profundo o conhecimento da palavra da vida, do criador da vida e da vida. Qualquer um pode ser comunicador. Qualquer pessoa pode manter um auditório acordado, animado. Mas poucos são aqueles que conseguem ser comunicadores da Palavra. Personificando, deduz-se que o púlpito está vivendo a sua angústia. Angústia de solidão. Angústia da velha Palavra, embora em novas roupagens, mas sendo a Palavra. Angústia, pois colocaram ali um comunicador, esquecendo-se, porém, do conteúdo. Sim, angústia por um comunica-dor da mensagem da Palavra de Deus, que foi gestada na dor da construção do estudo e exposta na dor do parto da comunicação. E ainda mais, ela foi
estabelecida e preservada na história mediante a dor de muitos. Sem contar aqui a dor daqueles que a registraram e foram participantes da revelação escrita como os profetas, os quais muitos foram perseguidos. Assim, o comunicador, ou pregador da Palavra, ao cumprir a sua missão histórica de vencer o antigo desafio do velho pregador, deixará o púlpito com uma angústia menor.
CAPÍTULO 13
A ciência da fé A história do pensamento humano, em seu desenvolvimento, sempre tratou a questão da “presença de Deus”. Seja duvidando, negando ou defendendo, se torna impossível este assunto não fazer parte do discurso das diversas correntes de pensamento. Os filósofos da suspeita, tais como Marx, Nietzsche e Freud chegaram
à
conclusão de que “Deus estava morto”. Sartre, filósofo francês, um dos últimos pensadores modernos do assunto, achou a necessidade de “eliminar Deus” em defesa da liberdade humana, o que deixou no ser humano, segundo o filósofo, “um vazio em forma de Deus”. Aliás, ilustração abundantemente usada na pregação evangélica. Mesmo diante das tentativas de enterrar a ideia de Deus, a ciência se volta para descobrir mais informações a respeito dEle, do totalmente outro, e da possibilidade de um relacionamento com a Sua criatura. O ser humano afirma, por natureza que acredita em Deus (e as pesquisas confirmam), embora em muitos países industrializados a porcentagem da crença em Deus esteja diminuindo gradualmente. Diante desse fato, a ciência se debruça na pesquisa procurando resposta para a “experiência com Deus” e como ela acontece. A neuroteologia é uma nova ciência que tenta desvendar o mistério de como o cérebro experimenta Deus. Procura descobrir a respeito daquilo que os cristãos, através dos séculos, têm chamado de união mística com Deus.
Esta pesquisa científica já acontece desde os anos 70-80, com diversos estudos. Um dos pioneiros nesta área, o cientista James Austin, seu livro “Zen and the brain” (Zen e o cérebro).
conta suas experiências em
Na mesma época, o antropólogo e
psiquiatra Eugen d’Aquilli pesquisou a respeito das experiências religiosas, especificamente nos momentos em que o devoto se prostrava para sua devoção. Nos anos 90, se juntou a D`Aquillie o neurologista Andrew Newberg, da Universidade da Pensilvânia, e passaram a realizar pesquisas tomográficas em cristãos que, em estado de meditação, indicavam uma atividade cerebral específica através do fluxo sanguíneo. Os voluntários pesquisados aceitaram serem supervisionados neurologicamente mediante uma espécie de radiografia cerebral chamada Spect (uma espécie de scanner que mede o fluxo sanguíneo relacionado na atividade cerebral). Algumas das informações produzidas por esta pesquisa revelam que a atividade do encéfalo é modificada com as atividades espirituais: ao mesmo tempo a região cerebral que trabalha com a orientação espacial é, de certa forma, desativada. É este, segundo as pesquisas neuroteológicas, o momento do êxtase ou onde acontece a experiência mística. A partir das imagens produzidas pela tomografia procura-se desvendar um dos maiores enigmas da realidade: o relacionamento do cristão com Deus na sua vida de devoção. Este ramo do conhecimento tem sido chamado de neuroteologia ou ainda uma biologia da fé. Sem dúvidas, estas pesquisas trarão maior clareza à conexão entre o cérebro e o transcendental e a chamada espiritualidade. As pesquisas e conclusões de DÁquille e de Newber se encontram publicados no livro “Why God Won`t Go Away”, (Por que Deus não vai embora?) Como em décadas passadas aconteceu com a Psicologia, mas que hoje transita livremente no meio evangélico, a Neuroteologia surge como uma ciência que passa a
ajudar o homem em sua vida cristã. Ainda que no início muito se questionou o uso da Psicologia, mais tarde esta ciência se ajuntou à teologia, produzindo a chamada Psicoteologia, a qual, atualmente, auxilia o cristão em seu desenvolvimento pessoal e relacional com Deus e o seu próximo. Da mesma forma, entendemos que a Neuroteologia poderá passar pelo mesmo processo. Diante disso, devemos, em primeiro lugar, encarar o fato de que o desenvolvimento do pensamento humano passa pela teologia e isto não deve assustar o cristão menos atento, pelo contrário, deve lhe ser um estímulo para conhecer o que esta nova ciência pode trazer de benéfico ou não ao crescimento da fé cristã e do relacionamento do cristão com Deus, especificamente em sua devoção. Em segundo lugar, o estudo da neuroteologia, embora ainda incipiente, vem confirmar a “encarnação” da experiência com Deus. Isto significa que ela pode acontecer inserida na realidade histórica da nossa fé e não pertencer exclusivamente a um grupo de iluminados ou um tipo de anacoretas do deserto. O chamado “mundo espiritual”, é de fato, “aqui e agora”, portanto, não há necessidade do cristão excluir-se de sua vida cotidiana com seus relacionamentos sociais, traumas e limitações, para ter acesso ao sobrenatural. Em terceiro lugar, é evidente que o cristão deverá ser seletivo nas suas experiências com Deus, como sempre deve acontecer, mas a experiência religiosa e mística está ao alcance de todo cristão nascido de novo e deve produzir os frutos apontados pela Palavra de Deus. Ao mesmo tempo, o cristão deve estar alerta para poder discernir aquilo que vem do Senhor e para isso não resta outro caminho a não ser o conhecimento da Palavra de Deus. Em quarto lugar, o crescimento da ciência não deve trazer uma “paranóia cristã” na qual a experiência com Deus se torna seletiva, ou determinante daquilo que é ou não
espiritual ou, por outro lado, num certo escatologicismo em que o Diabo é apresentado como atuante e como poderes especiais para enganar os escolhidos, como tem acontecido nos últimos anos. Finalmente, esta nova ciência deve estimular o cristão a uma contínua pesquisa no mundo teológico e não se limitar exclusivamente a dogmas ou doutrinas já estabelecidos pela fé, pelo dogma institucional. É um desafio para crescer no conhecimento e preparação para sempre dar “a razão da nossa fé” segundo orienta o apóstolo Pedro.
CAPÍTULO 14
Espiritualidade e humor Um dos filmes que recomendo para assistir ou um livro para ler é “O Nome da Rosa” de Umberto Ecco. Não desenvolverei aqui a trama do filme ou do livro, mas posso informar que a história retrata um pouco a concepção confusa do evangélico de hoje entre a espiritualidade e santidade. Nesta história os escritos de Aristóteles, em sua maioria, eram de proibida leitura na época, sendo inclusive o Segundo livro da Poética de Aristóteles a causa das mortes ocorridas no mosteiro (onde morreram pelo envenenamento de suas páginas). Venâncio, o tradutor de grego, morreu envenenado. Berengar, conhecedor dos livros proibidos, “espiritualmente perigosos”, também morreu envenenado. Encontramos um momento de divergência no filme entre William e o monge beneditino Jorge, em que o segundo afirma que “Um monge não deve rir! Só os tolos riem à toa! (…) O riso é um evento demoníaco que deforma as linhas do rosto e faz os homens parecerem macacos”; o primeiro contrapõe dizendo que “Aristóteles dedicou o Segundo livro da Poética à comédia como instrumento da verdade”. Mais ao final do filme, William questiona a Jorge por que tal obra lhe causa tanto temor, respondendo esse: “Porque é de Aristóteles” e ainda “O riso mata o temor, e sem temor não pode haver fé”. Gostamos de rir e até fazer rir aos outros. Gostamos de contar nossas histórias ou anedotas engraçadas, mas muitos não conseguem ligar a espiritualidade ao humor. Não se pensa que na nossa humanidade há o sentimento do rir e que é possível ligar o humor à espiritualidade.
A espiritualidade são sentimentos que nascem da alma estimulada por circunstâncias agradáveis. Quando rimos diante de alguém que cai de forma engraçada nos sentimos culpados, a sensação de pecado inunda nosso ser e confessamos este sentimento diante de Deus. Mas quando rimos ou nos beneficiamos do bom humor não sabemos responder com um sentimento de adoração, de gratidão, do reconhecimento do divino que nos permite rir. A culpa demoníaca pode ganhar um espaço maior do que a gratidão ou adoração naquele momento do bom humor permitido pelo Deus Bom humorado Se pudesse voltar aos tempos do ministério de Jesus, gostaria de ouvir e ver a cena quando Jesus na sua oração exclama: “Naquela mesma hora se alegrou Jesus no Espírito Santo, e disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra...”. Lucas 10: 21. Algumas rápidas inferências do texto: Primeiro, a palavra “Santo” não faz parte do texto original. Os tradutores mais conservadores demonstram o apego
à marca
repressora que tem marcado o cristianismo ocidental desta forma se coloca a palavra “Santo” para desumanizar o riso de Jesus. Segundo o conceito, o termo grego traduzido por “alegrou” apresenta a ideia da exuberância das danças e daqueles que dão cambalhotas. A alegria de Jesus era extrema que não creio que esteja equivocado se traduzir o texto por “Naquela mesma hora Jesus deu gargalhadas...”. Há muitos outros momentos nos quais a espiritualidade do Senhor se mistura com o bom humor, a risada, a anedota, a gargalhada. Mas lamentavelmente a leitura da Bíblia desumanizada, sem a participação da integralidade do ser faz com que de uma forma geral o leitor bíblico perca a realidade existencial e humana dos textos sagrados que nos conduziriam a viver a vida cristã de forma mais humana, pois a espiritualidade cristã genuína não nega a humanidade. Para crescer na espiritualidade cristã necessitamos ser integralmente humanos.
CAPÍTULO 15
Pastoreando no mundo da inclusividade Aproximo-me aos 40 anos de ministério pastoral e mais de 60 anos de idade. E nessas quase três décadas e média de ministério, tenho acompanhado, ouvido e me relacionado com diversos tipos de pessoas. Desde aquele que busca saber a vontade de Deus para sua vida até aqueles que se consideram os piores pecadores da terra. Acompanhei pessoas que desejavam vencer seus pecados e maus hábitos e pessoas que viviam uma espiritualidade contagiante.
Homens e mulheres de
todos os tipos, aqueles que sofriam pelo abandono do cônjuge, pessoas infiéis aos seus votos matrimoniais, pessoas com desejos de morte e de medo, panicosos, deprimidos, outros vivendo com sentimento de culpa, homossexuais praticantes, outros despertando para a homossexualidade, garotas de programas, alguém procurado pela polícia, o parceiro violento que carregava arma no próprio bolso e muitos outros que se citasse aumentaria ainda mais longa a lista. Embora esta lista seja longa, não lembro de que eu tenha colocado alguém na porta do inferno ou declarado um julgamento como sendo pessoa irrecuperável. Sempre deixei e estimulei a esperança para que Deus trabalhasse com esta vida necessitada. A única sensação que ficava comigo quando a pessoa saía do meu atendimento pastoral era de que precisava ser amado, cuidado e conduzido a encontrar-se com Deus e consigo mesmo. E a minha preocupação era como ainda podia ser ajudado. Pero também observava como a igreja do Senhor Jesus não estava preparada para ser uma comunidade terapêutica.
Lamentavelmente as pessoas que necessitam da
terapia divina estão aumentando dia a dia, mas na igreja, com grandes prejuízos,, há
falta de fé e visão, não se sente desafiada a acompanhar os doentes da sociedade atual e por muitas vezes ela se há colocado como a selecionadoras de pessoas que vão para “o céu” ou para “o inferno. Em todo esse tempo, cada dia tive que aprender que a chave hermenêutica para interpretar a vida e a Bíblia é a pessoa de Jesus vista no seu ministério pessoal exercido no meio do seu povo. Foi o que os discípulos continuaram a fazer no livro de Atos. JESUS Quando falamos de Jesus sabemos que ingressamos no terreno do homem que sem dúvidas Ele encarna a pessoa que todos gostaríamos de ser ou ter como modelo de vida. Não há dúvidas de que tudo o que se escreve a Seu respeito ainda não consegue explicar esse personagem histórico e bíblico. Para muitos cristãos Ele divide as pessoas em “pessoas salvas” e “pessoas não salvas”. Eu de certa forma discordo dessa nomenclatura, particularmente entendo que Jesus colocou as pessoas em dois grupos: os religiosos que não suportam a graça de Deus e os pecadores que são dependentes da graça de Deus. A figura de Jesus é o modelo que consegue reconciliar os extremos por mais equidistante estejam. Isso
se pode ver naqueles que Ele escolheu como
apóstolos. É sem dúvidas digno de admiração o fato de juntar entre os seus 12 escolhidos, um Zelote, como Simão, e de alguém que era considerado traidor do povo judeu pelos zelotes, como era o caso de Mateus. Ele, Jesus é a reconciliação dos extremos. Precisamos observar o Seu comportamento e extrair o molde específico para nossas práticas pastorais no século 21. Pode-se observar que nos relacionamentos que Jesus teve com os diferentes estratos sociais, estes foram diferentes para cada grupo social. Mas, especificamente posso notar uma clara divisão entre seus discursos. Ele foi muito radical e duro com os religiosos, mas por outro lado Ele foi gracioso, amoroso,
amável com aqueles que eram menosprezados pelo status religioso. Ele sabia conduzir as pessoas para a mudança. Sem medo a errar, Ele provocava as pessoas para tomarem uma nova direção na vida. Por diversas vezes, Ele entregava a cura, a bênção, o contato, o afago e diante da forma como amava as pessoas iniciavam o seu caminho de mudanças. Eram constrangidas pelo Seu amor. Não lembro outra situação, talvez se excetuando a do o jovem rico, em que Ele tenha dado uma ordem para mudar. Creio que ninguém mudou de atitude porque foi obrigado por Jesus, mas mudou porque foi amado por Ele. E ainda muitos dos que foram amados não mudaram, mas não por isso Ele deixou de procurar os pecadores. Agora eu quero destacar algumas frases ditas pelo Senhor Jesus aos seus discípulos, advertindo-os a respeito do clero religioso, em Mateus 23 temos: “Tudo o que fazem é para serem vistos pelos homens...”. “Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas”! Vocês fecham o Reino dos céus diante dos homens! (...) devoram as casas das viúvas e, para disfarçar, fazem longas orações. (...) percorrem terra e mar para fazer um convertido e, quando conseguem, vocês o tornam duas vezes mais filho do inferno do que vocês. ”Ai de vocês, guias cegos”! (...) Vocês dão o dízimo... mas, têm negligenciado os preceitos mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade. Vocês coam um mosquito e engolem um camelo. Vocês... por dentro eles estão cheios de ganância e cobiça. 26 Fariseus cegos! “(...) Vocês são como sepulcros caiados: bonitos por fora, mas por dentro estão cheios de ossos e de todo tipo de imundície”. (...) vocês: (...) por dentro estão cheios de hipocrisia e maldade. “Serpentes”! Raça de víboras! Como vocês escaparão da condenação ao inferno? Não se pode negar que nestas palavras Jesus foi violentamente contra o status quo religioso. Ele faz uma crítica profunda à prática religiosa e a deturpação dos ensinos de Moisés. O discurso de Jesus é um ataque frontal aos mestres e sacerdotes que
dominavam e oprimiam o povo com seus ensinos e discursos. O discurso e prática do Mestre vão na contramão do sistema defendido pelos sacerdotes. Todos se admiravam, pois Ele não seguia o ensino tradicional da religião.
CAPÍTULO 16
Por uma educação teológica e espiritualidade contemporânea A educação em geral sempre tem convivido com o mote de viver em crise. Críticas de que não há suficiente investimento na educação é algo com que o Brasil tem vivido por décadas. Sempre se viveu numa crise, embora muitos tenham abraçado a ideia de que “crise” é oportunidade e estes têm usado as circunstâncias para que elas trabalhem a favor dos projetos. É assim que deve ser vista a educação teológica. Em outras palavras, se existe uma crise, ela deve ser enxergada como a oportunidade para o despertar da criatividade. A educação teológica precisa ser compreendida na dialética do mundo eclesial e a sociedade contemporânea. Diante disso, queremos apresentar algumas sugestões para que este diálogo intramundano se inicie. Por mais de trinta anos envolvidos com a educação teológica, percebo ainda a existência de uma dicotomia entre educação religiosa e educação teológica. Tal separação é um fator que divide as forças no mundo pedagógico das igrejas. O pastor é teólogo e quem trabalha no ensino é educador. Entendo que ambos são teólogos e educadores. Talvez para o leitor, a palavra teologia traga erroneamente a concepção de falta de espiritualidade ou destruição da fé. Um grande equívoco. No momento, o espaço não nos permite desenvolver este pensamento, mas essa divisão quebra uma unidade “funcional” para que a igreja alcance a “unidade da fé”. Esta fé teológica precisa ser ensinada e se faz necessária a parceria entre o educador e o teólogo, unindo forças e “repensando a forma de fazer teologia em nosso estado”.
O mundo globalizado que vive a contradição do global e do individual, implica que se use ferramentas de ensino tanto na teologia, como nas escolas, seminários e nas igrejas. Enquanto os líderes e executivos do mundo empresarial, de outras religiões e seitas, usam estratégias de alto nível, técnicas de aprendizado, metodologias de ensino, recursos midiáticos, informatização etc., pois sabem que treinamento e educação são a base de toda a expansão desejada de qualquer instituição, nossas igrejas e escolas teológicas ainda permanecem no século XIX com um currículo ultrapassado que não responde à pergunta do ser humano na pós modernidade: para que serve a fé cristã diante da realidade brasileira? O mundo contemporâneo é cosmopolita. Vemos nos próprios jornais denominacionais que algumas igrejas do interior do Brasil fecharam suas portas por falta de frequentadores. Estes se mudaram para as grandes cidades. Chegando às cidades estes não encontram respostas aos seus sonhos interioranos. Assustam-se, há falta de emprego e passam a reunir-se nas periferias. Ainda não se vive nalguns estados uma situação semelhante ao Sudeste ou Sul do Brasil, principalmente nas grandes cidades, mas não há duvidas de que caminhamos para ver a formação do “cinturão” como o das grandes cidades do nosso Brasil, com suas vilas ou condomínios fechados. A cidade se enche de marginalizados do mundo rural e o mundo dos abastados, então, cria os seus condomínios fechados, alienando-se a esta realidade. É preciso repensar a pregação, a teologia, o culto, a evangelização, a espiritualidade cristã a, o ensino e a forma de ser igreja neste novo contexto. É necessária uma teologia da cidade ou, clarificando, uma teologia pastoral na e da cidade. Para muitos o inferno já está na cidade, no entanto, a educação teológica precisa ensinar e treinar seus alunos não somente para evitar o inferno escatológico, mas também o “inferno das cidades”.
A globalização trouxe a necessidade de conhecer o outro, do diálogo, do relacionamento, da parceria, das tribos, das ONGS, dos movimentos pelos direitos dos diversos grupos sociais. A pós-modernidade trouxe o declínio dos apologistas. A sociedade se une em torno do bem comum. Não há mais tempo para apologias, mas procuram-se teólogos e pastores que saibam liderar e amar. O mundo contemporâneo exige dos ”representantes da teologia” que se envolvam numa rede de pessoas, que busquem o bem comum sem abrir mão dos valores centrais da fé cristã. Não se pode apresentar a verdade sem antes conquistar o coração do outro. A espiritualidade cristã passa pelo reconhecimento da espiritualidade do outro gestando uma espiritualidade da comunidade O mundo contemporâneo não somente constrói a pergunta racional “isso é verdadeiro?”, como também deseja saber se isso “serve para o coração”, para o mundo emocional. Não é somente a razão, é também a emoção. A teologia precisa responder à mente, ao coração e à práxis. A teologia deve viver a espiritualidade da alma sem se tornar uma espiritualidade gnóstica. A educação teológica deve ser de tal forma ampla que seja capaz de alcançar o ser humano de forma integral: pensar, sentir, agir e viver em comunidade. Viver no meio da população sofrer os apertos da vida, da inflação, dos juros altos e baixos salários. É necessário responder a uma pergunta crucial: que tipo de pastores, teólogos ou líderes das comunidades cristãs estão sendo preparados para o mundo eclesial? Enxergamos realmente o século XXI ou ainda estamos presos a um modelo pastoral do século XX trazido na implantação do protestantismo do século XIX, mas que para muitos ainda continua sendo o modelo?
Um pastor generalista, “mil e uma utilidades”, que tem
como prolongamento esposa e filhos, que também são “funcionários” da igreja, porém, sem receber salário?
Não serve mais um líder com uma visão de todas as atividades eclesiais, que soluciona todos os problemas, pois nele estão centradas todas as informações necessárias e que tenha passado por uma escola teológica que tem em sua ideologia perpetuar tal modelo ministerial. Se essa visão ainda continuar, a formação teológica que temos é para um mundo que já não existe mais. É uma formação anacrônica e que será prejudicial para desenvolver a verdadeira espiritualidade cristã. Espiritualidade com cheiro de vida, povo e chão. Concluindo, sugiro que para o preparo e a formação de uma liderança do século XXI é preciso descentralizar, desconstruir e orientar para que resultados sejam alcançados e não ofertar atribuições denominacionais. Que nossos líderes sejam proativos e que mobilizem a igreja de forma que seja culturalmente relevante num mundo dinâmico e, em razão disso, esta seja ágil nas mudanças. Assim, assistiremos a implementação de uma visão ampla do Reino de Deus e não a limitada ação da igreja dentro de quatro paredes, exclusiva de um determinado grupo. Sabe-se que a igreja é um organismo dinâmico como o corpo físico que nasce, cresce se reproduz e morre. Estes ciclos marcados por mudanças são o desenvolvimento da espiritualidade integral, dinâmica e cristã. Este é o desafio que se apresenta e acredito que podemos começar esta mudança a partir do lugar onde estamos, por isso, precisamos nos perguntar: Estamos dispostos a mudar?
CAPÍTULO 17
Guerras dos sexos Já faz algumas décadas que as mulheres começaram a ganhar o seu espaço. Saíram do território ao qual estavam relegadas e iniciaram a sua caminhada de ocupar os lugares que até um tempo atrás estavam reservados aos homens. Espaços tais como direito ao trabalho, à liberdade do sufrágio, chefia liderança, política, cargos executivos, como os de primeiro ministro, presidente da república e outros. Todavia, no meio denominacional Batista; onde me formei e trabalho por mais de 30 anos; as mulheres ainda lutam para ocupar o seu espaço no nível de ministério pastoral. As mulheres batistas têm conduzidos associações, convenções estaduais e têm ocupado a presidência convencional e as diversas instâncias da liderança denominacional, mas ainda lutam pela sua aceitação em termos de reconhecimento do ministério pastoral feminino. Embora este já tenha sido reconhecido por quase uma centena de igrejas batistas que ordenaram suas pastoras, entregando-as à denominação batista brasileira, as pastoras batistas almejam seu ingresso na Ordem dos Pastores Batistas do Brasil - OPBB, mesmo que, no ano de 2008, a OPBB já tenha negado o seu ingresso no dito grêmio. Mesmo com as portas (ainda) fechadas, elas continuam a sua luta de ingresso nesta ordem. Os argumentos bíblicos pró ou antipastoras são disponibilizados e discutidos por ambos os lados, mas o impasse é iminente. A pergunta que se levanta é: “É possível que dois grupos que estudam o mesmo texto sagrado mantenham posições diametralmente opostas?” Entende-se que tal divergência vai além de uma questão hermenêutica. É um
problema histórico, ideológico-teológico que sobrepuja as regras de interpretação. As denominações têm em sua formação, pressupostos e conceitos cristalizados, que sua liderança e membros almejam manter. Pode-se entender esta postura, mas ela também pode ser estudada e até questionada em um contexto maior da interdisciplinaridade. Algumas questões podem ser levantadas para entender este impasse: 1. Entende-se que a ideologia tem como objetivo encobrir as divisões existentes. Essas divisões são maquiadas por aqueles que têm o poder de direção do grupo. O aparecimento do pastorado feminino tende a indicar certa insegurança que o chamado sexo forte parece apresentar diante do crescimento pastoral feminino. O espaço começa a diminuir e o poder pastoral masculino tem a sua contestação. Até agora a figura masculina e sacerdotal do pastor, que existia e ainda existe no imaginário dos membros das igrejas, sofre um desgaste de poder. O comando exercido pelos homens perde o seu espaço por um grupo social que sempre esteve à disposição do ministério pastoral e subordinado a este. Isso gera uma crise que deve ser entendida como a oportunidade de nova caminhada. Grande parte do meio batista ainda não consegue dissociar a figura de poder, de comando, da figura masculina. Ainda o mito do poder está na masculinidade. A conhecida objetividade masculina, ainda reina na concepção leiga que está relacionada ao comando ministerial pastoral. O sucesso eclesial das igrejas locais ainda está ligado ao sacerdócio veterotestamentário. 2. O “espírito histórico” precisa ser compreendido. É necessário manter a tradição e não o tradicionalismo. O espírito dos implantadores do protestantismo no Brasil trouxe uma mensagem de mudanças e não de mordaças. Os pioneiros batistas brasileiros participaram das mudanças estruturais do Brasil. Pode-se discordar de alguns posicionamentos teológicos destes pioneiros, mas não se pode negar o papel fundamental das mudanças no mundo social, religioso, político, cultural que a
implantação protestante impôs. Eles ajudaram a mudar as estruturas políticas e sociais do país. Mesmo sabendo que o texto bíblico ensinava que “Toda autoridade é dada por Deus”, entenderam que havia a necessidade de mudança de autoridade. Eles entenderam que ser conservador não era conserva-dor. A libertação de preconceitos estruturais que afligiam a nação precisava acontecer. Era preciso trazer as mudanças que continham as marcas do Reino de Deus e traziam a graça divina à nação. Entendiam que Deus fazia chover sobre justos e injustos. A graça comum era para todos. Esta era a dinâmica da história. Trazer mudanças que beneficiem as pessoas. As estruturas estavam ao serviço do ser humano e não vice versa. Era o exemplo de Jesus. Portanto, hoje, o mesmo espírito deve ser invocado quando pensamos no ministério pastoral feminino. 3. Existe uma visão ministerial baseada numa compreensão mono culturalreligiosa da vida cristã. O mundo objetivo dos homens não permite a força da subjetividade feminina. Não se entende que o homem não possui subjetividade ou a mulher não tenha objetividade, mas hodiernamente, é reconhecido que a intuição feminina é uma marca peculiar das mulheres. Nas últimas décadas a intuição tem sido confirmada como fonte de conhecimento e ação. O monoculturalismo religioso que marca a teologia evangélica tem sido questionado nas últimas décadas. O clímax deste questionamento acontece atualmente com o surgimento do ministério pastoral feminino. Embora incipientemente, começou a ser entendido que a mulher também sabe liderar, fazer teologia e agora pastorear. A vida, a teologia, o poder, a autoridade precisam ser entendidos dentro da “cultura feminina” para que a compreensão do evangelho da graça de Deus e o entendimento da “imagem e semelhança de Deus” no ser humano estejam completos. Isso não é liberação feminina, mas expressão da graça. É o entendimento do complexo mundo do poder.
Esse mundo possui objetividade e subjetividade é feminino e masculino. O poder não é comandar, é influenciar. 4. O impedimento ao ministério feminino pastoral tem raízes históricas eclesiásticas. Os pioneiros protestantes que chegaram ao Brasil traziam no seu bojo teológico eclesiológico os problemas que tinham vivido na América do Norte. Um dos problemas era relacionado à eclesiologia e a procura de descobrir: qual era a verdadeira igreja de Cristo? Destaco nesta reflexão a marca dos Batistas, por fazer parte deste grupo. Eles traziam o ensino conhecido por Landmarkismo e era originário da Convenção Batista do Sul. Desta convenção vieram os missionários batistas. Esta linha de pensamento reconhecia como pastores ou ministros da palavra somente aqueles que tinham sido batizados e ordenados por outros pastores batistas. Desta forma, criava-se uma “sucessão pastoral” que preservava a “sã doutrina” dos batistas. No conceito doutrinário do movimento, igrejas que não possuíam esta marca “sucessória” não eram consideradas igrejas de Cristo e a linha sucessória pastoral é masculina. Outras denominações evangélicas já tinham nos seus quadros líderes do sexo feminino. Pregadores que não se enquadravam nesta marca não eram convidados a usar os púlpitos batistas ou participarem da Ceia do Senhor. 5. O quinto questionamento que deve ser levantado pode ser chamado de “crise sacramental”. Deve-se perguntar: O pastorado é um sacramento? Diante do fato de que a mulher pode exercitar todas as áreas dos ministérios eclesiais, por que ela não poderia ser ordenada ao ministério pastoral? Qual é o significado da “oração consagratória”; quando alguns “pastores homens” impõem as mãos sobre outro homem? Existe uma “transmissão de poder”? Estaria inserida nesta oração a ideia metafísica de que “algo acontece no céu”? Teologicamente, existiria o pensamento de que tal ação existe e que fatos acontecem no chamado “mundo espiritual” que devem ser concretizadas na terra?
Existem ainda outros pontos que podem ser levantados O momento que se vive e acima de tudo, pelo fato de que o Espírito sopra onde quer, pois onde o Espírito do Senhor está, há liberdade, se deve procurar entender a aplicação das novas estruturas que a sociedade exige e Deus deseja. O fenômeno do ministério pastoral feminino precisa ser estudado com maior afinco e com os recursos das ciências bíblicas e antropossociais para fazermos uma leitura do mundo contemporâneo. Não é viável cristalizar doutrinas de homens, práticas tradicionalistas, que inviabilizam a pregação do evangelho. Não se trata de uma guerra dos sexos, mas de um diálogo cristão acima do poder e sem preconceitos, tanto dos homens e das mulheres. “... à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” Genesis: 1: 27.
CAPÍTULO 18
Transmitindo uma teologia da espiritualidade para o século 21 “Quando acabou de instruir seus doze discípulos, Jesus saiu para ensinar e pregar nas cidades da Galiléia” Mateus: 11:1
O mundo contemporâneo é um mundo em transição, globalizado e que vive a crise de saber para onde caminha. Não há rumos para construir um mundo melhor e há desconfiança nas instituições tradicionais. O povo não confia mais naqueles que representam estas instituições. É uma crise de integridade, de caráter, de solidariedade. Nesse contexto, discute-se o quanto a educação teológica tem sofrido o impacto da economia mundial e de sua crise. Pergunta-se da validade ou não da chancela do MEC para os cursos teológicos. A igreja cristã sofre o impacto dos acontecimentos nacionais e mundiais. Ela tem uma mensagem de “boas novas”, mas fica enclausurada a seus discursos dominicais que não provocam mudanças na sociedade. É necessária uma ação eficiente e eficaz não somente para hoje, mas para a preservação da fé cristã no futuro dos nossos filhos e daqueles que herdarão a mensagem. É necessário voltar a ler com afinco o “treinamento de Jesus” oferecido aos seus seguidores. Assim, como leitores do século XXI, podemos extrair
diretrizes desse
treinamento e preparar pastores, ministros, líderes e cristãos que vivenciem a fé cristã num mundo em transição. Essa é a proposta desta breve reflexão, tendo como base as
instruções que Jesus deu aos seus servos para serem ministros do Senhor. Temos aqui então, algumas diretrizes para um treinamento teológico ministerial: 1. Servir, é o modelo Mateus 9: 35- 38 Todo cristão sabe e reconhece que o modelo de vida do cristão é o próprio Senhor Jesus. As instituições de ensino devem pensar da mesma forma. As igrejas devem seguir este modelo do serviço. A razão de existirem tantas instituições sociais aponta que é possível servir. Não desejo questionar as motivações que levam estas instituições a servirem ao próximo, mas elas estão servindo. Isso é importante e valioso. Por que, então, as igrejas não servem com maior intensidade ao próximo? Por que limitamos nossa fé aos contornos do pensar correto, mas não de um agir correto e no serviço ao mundo sem o interesse de acrescentar pessoas às nossas estatísticas? O nosso alvo é servir. Onde está nosso modelo? O texto de Mateus: 9: 35-36 é específico em mostrar como o Senhor Jesus cumpria e desenvolvia a sua missão: •
De forma peregrina, pois ele “percorria, todas as cidades e aldeias”. É o
desapego da segurança; •
O fazer da sua missão era ensinar, pregar, servir e curar (aliviando a
dor). Estamos aliviando ou estressando o povo? •
A motivação de Jesus estava em seus sentimentos, pois o texto diz que
“(...) vendo ele as multidões, compadeceu-se delas (...)” Jesus era apaixonado pela vida do seu povo sofredor. •
Jesus focava nas necessidades “(...) porque andavam desgarradas e
errantes, como ovelhas que não tem pastor”. 2. Transmitir autoridade escolhendo os alunos – Mateus 10:2-4
Citar os nomes não é uma mera identificação. Eles são indicados como eleitos, caminharam juntos e foram aprovados. O ensino peripatético de Jesus qualificou e aprovou na prática estes alunos. Jesus “chamou” e “deu autoridade”. A transferência não era somente de conhecimento, supervisão, mas de autoridade. O treinamento gerava representante. Esta escolha tinha objetivos claros e definidos. Na prática, Jesus vislumbrava o tipo de aluno que resultaria de seu mentoreamento. Na linguagem contemporânea, o treinamento dado por Jesus foi um training personalizado. O objetivo era qualificar pessoas para a continuidade de seu ministério. Não era para manter um status quo, ainda manter uma estrutura hierárquica para perpetuar algum tipo de instituição. Também não havia o desejo nos apóstolos de serem grandes comunidades oferecendo à sociedade grandes multidões. Eram grupos pequenos e independentes vivendo em comunidade no meio da sociedade da época. Grupos diferentes com necessidades diferentes. O centro de vida e treinamento era servir as pessoas para que estas servissem outras e juntas adorassem a Deus. 3. Focou as cidades, as pessoas e as necessidades Mateus 10:6-11 Jesus indicou claramente onde estavam as pessoas e o que deveria ser feito a estas. São “as ovelhas perdidas” que precisam da mensagem do Reino. São aqueles que nada têm, pois não sabem onde estão e nem para onde vão. Eles estão perdidos e isso não é uma referência exclusivamente soteriológica e escatológica. Em todas as épocas o ser humano viveu a doença existencial que desnorteia a vida. As pessoas são importantes, não as estruturas, os impérios pessoais, ou os impérios denominacionais. Este é um grande desafio para a mentalidade pós-moderna. O enfoque de Jesus é que estas pessoas precisam de cura. A mensagem e a ação do Reino são terapêuticas. Os súditos devem ser treinados para curarem doenças e diminuir o sofrimento do ser humano. Em outras palavras, o treinamento de Jesus foi além do
preparo teológico e doutrinário feito através dos discursos. O treinamento ministerial não deve ter como objetivo exclusivo a preservação da fé, a conquista de almas e, consequentemente, o crescimento numérico da comunidade cristã. Deve ir além do discurso, pois deve suprir as necessidades, oferecer a terapia do corpo, da emoção, da alma. É o evangelho de forma integral. 4. Contra cultural (poder, tradição, justiça, família, poder político) Mateus 10: 17-39. Numa rápida leitura do texto, observa-se que os alunos de Jesus foram enviados na contramão da sociedade daquele tempo e de todos os tempos. Destaco algumas frases e ideias do texto desejando fazer uma pequena e simples comparaçao da prática de Jesus e a prática atual na cristandade. Podem ser observada claras e profundas diferenças entre estas práticas
Gráfico 1
JESUS
HOJE
“... deem de graça”
O mercado rege a mensagem
“... Não levem nem ouro, nem
Quanto vou ganhar? É a
prata” não levem roupas Se não são aceitos declarem juízo
Perseguidos pelo poder político
pergunta Adaptar a mensagem para manter o status Compactuar antes de perder os contatos
A mensagem do Reino que estava sendo anunciada por Jesus e que foi entregue aos seus seguidores era incômoda. Mas, a quem incomodava a mensagem? Ao mesmo
tempo em que incomodava alguns grupos sociais, esta mensagem trazia vida para outros. Concluo pensando no fato de que o treinamento que os futuros líderes vocacionados ao ministério recebem deve ser revisto à luz da mensagem e treinamento do Senhor Jesus. O mundo externo também deve direcionar o treinamento do cristão vocacionado para tão grande obra.
Os treinados no ministério devem usar as
ferramentas que o mundo externo pode oferecer para alcançar pessoas e também criar uma agenda de serviço ministerial dentro de cada realidade: mundial, nacional, estadual, da cidade, do bairro, da comunidade. Treinamento ministerial deve estar pautado no modelo do Senhor Jesus.
CAPÍTULO 19
Espiritualidade festiva Quando observamos cronologicamente a historia do ministério de Jesus, alguns fatos interessantes me chamam atenção no seu primeiro ano de ministério. Tomando os evangelhos sinóticos vemos com clareza dois momentos especiais para os quais gostaria de chamar a atenção. Estes dois fatos, segundo os estudiosos em harmonia nos evangelhos, aconteceram no seu primeiro ano de ministério. O primeiro deles foi o seu batismo e sua tentação que são sequenciais nos escritos dos evangelistas sinóticos. O evangelista João coloca a segunda história que foi indicada como o seu primeiro sinal da demonstração da sua glória- A água transformada em vinho. Esta água transformada em vinho mostra aspectos da vida de Jesus que nos ensina que a espiritualidade também passa pela vida festiva. Vida de festas e de comemorações. Uma vida de sentir o gosto de ser convidados para uma festa, pois a presença do convidado é especial e importante. As pessoas convidam para as suas festas aqueles que contribuem com momentos de alegria e descontração. Não se convida ao famoso “convidado de pedra” que se comporta negativamente nas festas Jesus foi convidado e também a sua mãe e os seus discípulos. Era um bom grupo. A festa seria boa, pois eram grupos de amigos que celebrariam o casamento de um habitante da cidade. Aquele que tinha ouvido alguns dias atrás a voz que bradava do céu “Tu es o meu filho amado a Ele ouvi” agora ouvia a voz dos seus amigos para uma festa.
Aquele que ouviu do seu primo e profeta João: “Este é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”!. Agora ouvia um convite para se divertir com seus amigos e família. Como em toda festa há música, muita gente, barulho e bebida. E ali se encontrava o Filho de Deus. O verbo se fez carne, mas também se fez participante de festas. A sua encarnação e identificação com o ser humano devia ser completa. A s t e n t a ç õ e s j á haviam sido vencidas, agora era a hora de rir, de dançar e se alegrar com os amigos e a família. Era casamento, era festas e era uma festa que durava dias. Havia muito tempo para comemorar. A festa estava no seu auge e os convidados sendo atendidos. Os amigos e o próprio Jesus cumpriam sua parte na festa aceitando o que havia para beber e comer. As histórias do povo e as anedotas deviam ser abundantes, como costumeiramente são nas festas. Não há tempo para tristeza, principalmente agora que uma nova família se concretiza e o sonho dos filhos e das bênçãos de Deus sobre a família virão. Os filhos são bênçãos do Senhor e o casamento é o inicio da conquista das bênçãos. Mas a festa corria à vontade e ninguém podia imaginar que estaria para acontecer um drama, se não houvesse a intervenção de alguém para essa crise. Mesmo na festa já surgiu a primeira crise no casamento. Começara a vida a dois com uma crise que ninguém deseja. Não podia acontecer isso agora. Como isso seria possível? Jesus é informado pela própria mãe que – o vinho tinha acabado. E ela esperava que seu filho fizesse algo. Mas o que Ele poderia fazer se ainda não era conhecido como um profeta ou milagreiro? Será que a mãe queria que Ele fosse comprar ou enviasse os seus amigos para trazer o vinho? A mãe somente espera que Ele faça algo, pois sem vinho a festa deveria acabar. Para aquele tempo, uma festa sem vinho era o anúncio antecipado de que a festa acabou. Isso poderia custar caro aos noivos e a família. Era passível de cadeia não haver
vinho para uma festa que recém estava no terceiro dia e os convidados ainda não estavam bêbados o suficiente. Este era o costume e a marca da alegria de uma festa naquela época, por isso, o pedido urgente da mãe do Nazareno. O grito oculto da mulher era que a festa não pode acabar. Jesus devia fazer alguma coisa em benefícios dos seus amigos. Não se podia isentar de fazer algo. Todos ficaram atentos àquilo que o homem da Galileia faria. A ordem de sua mãe foi: “Façam o que ele ordenar”! E assim foi feito. Foi solicitado pelo Nazareno que se enchessem os potes que ali estavam vazios. Eram potes ritualísticos, da purificação religiosa. Mas os ritos são esquecidos para dar prioridade a vida, a festa e a preservação da alegria. Os potes são cheios de água. Cada pote cabia entre 80 a 120 litros de água. Agora cheios de água são transformados miraculosamente em vinho. Agora há vinho em abundância. Mais de 600 litros de vinho. A festa não ia parar. O vinho duma melhor qualidade tinha aparecido do nada, mas de forma miraculosa. A alegria, a festa, a dança, a diversão não podiam parar. Estas faziam parte da vida e do ministério do Mestre da Galileia. Agora, o Filho de Deus abençoava a festividade que o ser humano tem de viver. Ele era cheio da graça e o povo o amava, porque estava no meio deles e vivia para eles Este é o Jesus, que ainda com menos de 30 anos se envolve com a sua turma de amigos para ir a uma festa. As ruas poeirentas da Galileia o viram caminhar junto com seus companheiros rumo a esta festa. A sua espiritualidade, fruto de ser cheio do Espírito Santo, que tinha sido visto no batismo, também o conduziu para o deserto para ser tentado. Mas esse mesmo Espírito o conduziu para se encontrar com seus amigos e caminhar alguns quilômetros e participar da alegria de uma festa de vários dias, regada com o bom vinho, como era o costume do seu povo.
Esta espiritualidade festiva era também a marca do Filho de Deus. Modelo para o ser humano saber como enxergar esta espiritualidade e vida integral. Em Jesus temos o homem que deu gargalhadas, dançou nas festas dos seus amigos e do seu povo. Irradiava ânimo e bondade. Espiritualidade atrativa não era um fardo para Ele. Era viver a vida de forma integral preservando o correto relacionamento com Deus que Ele tinha, independente dos dogmas e ritos ou tradições que o acossavam. Homem livre, de coração aberto, bondoso e que nos seus olhos deve ter tido um brilho cativante que atrai as pessoas para estar com Ele e aprender a ser “manso e humilde de coração”! Essa é a espiritualidade festiva. Atrai multidão e faz festas.
CAPÍTULO 20
Os inimigos da fé crista A história da igreja nos mostra que os cristãos vivenciaram a sua fé diante de diversos inimigos no decorrer dos tempos. Estes inimigos forâneos usavam todo o poder que tinham para subverter a fé cristã tentando diminuir o Seu alcance e a força da Sua atração com ataques em forma de perseguições em todos os níveis. A história da igreja tem 21 séculos de lutas, muitas delas marcadas com a semente dos mártires – o sangue. Como nos séculos anteriores no século XXI as perseguições não diminuíram ao ponto de termos notícias de diversas perseguições em determinadas partes do mundo. No entanto, também podemos identificar outros inimigos contemporâneos da fé cristã que têm invadido a igreja, diluindo seu pensamento e prática cristã. As palavras de advertência do apóstolo Paulo se tornam atuais: “E que de entre vós mesmos se levantarão homens que falarão coisas perversas, para atraírem os discípulos após si.” Atos: 20: 30. Estes homens, nem mesmo percebem que estão sendo conduzidos pelos parâmetros mundanos, uma vez que seus discursos são fruto da pregação neoplatônica atual que dicotomiza o ser humano e que valoriza exclusivamente os “pecados sexuais ou contra o corpo”, sem se preocupar com outras expressões e práticas da fé impregnadas pela visão mundana, oferecidas pelo sistema atual. Dentre os atuais inimigos da fé cristã podemos citar: a globalização, o lucro e o pensamento neoliberal. Sem dúvidas, estes três elementos formam uma tríade satânica que muitos não conseguem enxergar.
Com a globalização, o fenômeno da fé cristã foi padronizado. Não há mais a liberdade de questionar os pressupostos atuais e as expressões da fé cristã impostas pelo mercado da privatização da fé. A imposição de modismos, do pensamento linear da fé e de uma expressão cúltica, padronizada, tem gerado grupos hierárquicos na igreja. As diversidades hierárquicas exercem o controle por meio do padrão imposto das expressões de fé. Isso estupra e castra o que o evangelho tem de mais precioso, a liberdade. Muitos que criticaram o “tradicionalismo” de ontem e foram “marcados” pela defesa da liberdade cristã, e foram perseguidos numa inquisição sem fogueiras, caem hoje no “tradicionalismo do mercado” gerando uma casta cristã acima das críticas e dos questionamentos de suas práticas e de seus pensamentos ditos cristãos. Em busca do lucro hoje se vive, fruto da globalização x evangelho, uma crise de identidade cristã. Não se sabe definir o que é evangelho. Muitos, citando Filipenses 1: 18: “Mas que importa? Contanto que Cristo seja anunciado de toda a maneira, ou com fingimento ou em verdade, nisto me regozijo, e me regozijarei ainda”,
acreditam que
pode ser apresentado qualquer Cristo. O texto, porém, defende que a motivação de pregar seja qualquer uma, mas não permite a deturpação da pessoa de
Cristo. Sim,
qualquer método é permitido, mas não qualquer conteúdo. Qualquer estratégia se permite, mas não qualquer Cristo. Mas por causa dos interesses do “lucro religioso” sejam eles “almas salvas”, “prosperidade a ser alcançada”, “sucesso eclesial”, “vantagens do poder”, a pessoa e a mensagem do Cristo sofrem vilipêndios, violência, que escandaliza até os incrédulos do evangelho. A história da igreja cristã caminhou sempre em oposição ao pensamento de ganhar o mundo sobre a condição de deturpar a mensagem; quando a igreja deixou de ter essa postura, a fé cristã foi diluída de tal forma que culminou, no século XVI, na necessidade da Reforma, para fosse retirado todo paganismo da igreja. “Os grandes
homens”, para o pensamento neoliberal, são precisamente aqueles que se mostram mais bem-sucedidos no esmagar e ultrapassar todos os outros, construindo impérios empresariais a partir, por um lado, da concorrência mais feroz do vale-tudo e, por outro lado, não menos importante, da exploração mais despudorada dos trabalhadores. ” Esta citação cabe perfeitamente na prática atual da igreja. Uma das máximas do pensamento neoliberal pelas quais
o indivíduo é
direcionado em sua conduta passa inevitavelmente por um raciocínio do tipo custo/ benefício. Basicamente, o indivíduo teria que se comportar sempre de acordo com a equação “quantos mais benefícios tiverem em relação aos prejuízos melhor”. Há diversos ensinamentos neoliberais que foram introduzidos na prática e no pensamento cristão, um deles é a tentativa de extinção do pensamento crítico do sistema. Há uma tentativa de desqualificar a crítica por meio de argumentação “ad hominem”, na qual a argumentação é dirigida à pessoa que critica, buscando sua desqualificação como pessoa. No meio cristão as questões comportamento e identidade são fundamentais para serem aceitos os argumentos. Um cristão jamais poderia usar fontes sociais e filosóficas, pois estas são incompatíveis com o cristianismo, uma vez que muitos dos pensadores não professam essa fé. Ao se eliminar o pensamento crítico, perdeu-se a beleza do pensamento criativo que Deus outorgou ao ser humano. Nesta breve reflexão queremos alertar que a mensagem do verdadeiro evangelho de Jesus é incompatível como o que se ouve, se lê e se prega atualmente em nosso Brasil. A mensagem jesuínica é claramente contra a “padronização da globalização” que conduz ao ser humano a viver a prática de uma fé cristã que não é fruto da sua essência e existência de vida. A ideia do lucro nunca passou próxima da mensagem de Jesus. Quando se pensa em lucro, alguém perde, mas a fé e a mensagem evangélica é servir sem esperar o retorno ou o ganho.
O Jesus dos evangelhos conduzia as multidões em liberdade e as deixava escolher a quem servir. O Mestre usou as estruturas da época para que servissem ao povo que estava em trevas e sem pastor. Foi essa a razão de sua crítica aos fariseus saduceus, herodianos, daquele tempo e é aos atuais inimigos da fé que sua palavra deve continuar a combater em nossos dias.
CAPÍTULO 21
Sai do armário Sim. Tomei a decisão de sair do armário. E quero contar isso a você que teve o interesse de saber da minha história de como cheguei a esta decisão da minha saída do armário. Mas vamos começar a contar a nossa história e espero que você entenda e acompanhe meu raciocínio. Sou cristão
desde
1974 e pastor desde 1981 e sempre
desejei me pautar por aquilo que eu ouvi dos meus líderes, professores, colegas e outros. Desta forma vivi uma vida de forma dupla, pois minha natureza me indicava um caminho diferente daquilo que eu ouvia ou como algumas vezes me foi ensinado. E assim dentro do modelo do sistema religioso me fui conformando a
sua vontade
religiosa. E quando já estava no segundo ministério eclesial descobri e foi com
maior
impacto essa vida na qual estava e que era de dupla face. Adoeci, por não ser aquilo para o qual eu fui criado... que era ser e viver livre pela e para a graça de Deus e numa busca diária da vida em abundancia sem extravagâncias. Após o diagnóstico do meu médico decidi romper com as barreiras, com as ataduras do sistema religioso ao qual eu me submetia e que de forma submissa baixava a minha cabeça. Decidi sair do armário. Não queria adoecer por toda a vida. Embora muitas vezes ainda sofro o emaranhado das redes desta religiosidade, quero viver debaixo da graça de Deus. Saí do armário do sistema religioso, pois deixei o armário do legalismo, do moralismo farisaico, do preconceito, da dor, da superioridade ministerial, da critica mordaz contra aqueles contrários às minhas ideias.
Aprendi a dialogar com aqueles que me foram apontados como meus inimigos. Descobri que não sou o dono da verdade em todas as coisas. Deixei de fazer algo para obter resultados, sejam de novos amigos ou novos cristãos. Noutras palavras, deixei o evangelicalismo do lucro. Passei amar as pessoas pelo que elas são, independentes das opções de vidas que estas fizeram. Passei a olhar o SER como sendo muito mais importante do que o FAZER. Passei a entender a simplicidade do evangelho que é mais vida do que leis morais ou práticas ascéticas, embora quem vive no evangelho da graça divina sabe que o seu crescimento é gradativo. Sai do armário, pois deixei as fórmulas mágicas de vencer o pecado que tão de perto me rodeia. •
Sai do armário, pois me dediquei a ser ministro para servir e não usufruir
benesses ou interesses dúbios que me tornassem um “ungidão”. •
Sai do armário, pois aprendi a sentir a dor alheia e a chorar com os que
choram. Aprendi a calar e não acusar ou condenar quando pessoas me confessavam os seus pecados, dores, dúvidas e tristezas. •
Sai do armário, pois deixei os manuais que me ensinavam como amar, como
não pecar, como alcançar determinados objetivos. Aprendi e descobri a beleza do medo e não ter pânico do novo. Descobri que mesmo sendo um velho cristão e um pastor, as dúvidas pairavam na minha mente e muitas leituras devocionais terminavam em crises. •
Enfim, saí do armário...
•
E agora, desejo que você pense na sua vida... E talvez precise fazer parte do
meus amigos que saímos do armário Sai do Armário!
CAPÍTULO 22
O canto dos cisnes Sou um apaixonado pela história da Igreja Cristã. Embora não seja um erudito no assunto, gosto de ler a respeito de como a Igreja do Senhor Jesus viveu a vida no seu tempo. Especificamente me entusiasma os primeiros duzentos anos da igreja. Descubro que aí estão as raízes do verdadeiro evangelho e da verdadeira igreja cristã. Para mim, o modelo esta aí. Cada comunidade encarou o seu tempo com as marcas do evangelho de Jesus. Elas não quiseram se moldar ao mundo. O mundo ouvia a igreja. Lamentavelmente a decadência veio até o dia de hoje. Uma das coisas que marca a vida de homens e mulheres que fizeram esta história é o sofrimento. As suas convicções profundas na mensagem de Jesus conduziu muitos até a morte. Muitos foram massacrados pelos poderes políticos e de governos, mas a igreja manteve a sua fé. Mas quando falo de sofrimento aqui, não me refiro ao sofrimento vindo da perseguição produzida por governos tiranos ou por outros grupos religiosos. Falo do sofrimento pessoal, tais como doenças físicas, aflições, doenças emocionais, disputas de ideias, problemas familiares, estados de pobreza e outros. Por que falar de sofrimento? A resposta é simples – porque sofremos. Isso não pode ser negado. O sofrimento é parte da vida. Faz parte do processo que Deus usa para nosso crescimento. Isto não significa que devemos buscar o sofrimento para obter algum tipo de benção ou a abundância da graça de Deus.
Não, não é isto. Mas
a graça de Deus se manifesta no meio deste período de sofrimento. É neste sofrimento que, de maneira figurada digo, Deus nos pega no colo e nos balança com o seu amor. O
sofrimento é parte da vida cristã. Sofremos porque Deus permite isto. Negar o sofrimento é negar também o evangelho. Este evangelho nasceu no meio do sofrimento e isso está claro na vida de Jesus e dos apóstolos como também no escritos que estes deixaram. Mas o sofrimento na vida do cristão sempre existira. O sofrimento vem e muitas vezes por não se conformar com as circunstâncias que nos rodeia, visto que o cristão deve ser um eterno inconformado. O cristão verdadeiro nunca estará conforme com o status quo. Ele sempre lutará pelas mudanças necessárias para que o ser humano, não somente escute a mensagem de Jesus, mas viva dignamente. Jesus já ensinava que o sol e a chuva eram para todos. Não há meritocracia, não há vitimização, mas há solidariedade em benefício de todos. E muitos sofrem para conseguir esta ordem do Reino de Deus O sofrimento na espiritualidade nos conduz a sermos aperfeiçoados. A perfeição não vem pelo sofrimento em sim mesmo. Mas ele é nosso pedagogo que mostra novas estratégias e oportunidades de crescimento. É isso que o autor desconhecido de Hebreus nos disse: “aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu”. Isso não é um chamado ao masoquismo para procurarmos o sofrimento como algo que devemos viver diariamente. Senão que devemos entender que o sofrimento faz parte do DNA da Igreja Crista. É o caminho que diante das adversidades da vida, Deus poderá usar para desenvolver nosso caráter e espiritualidade cristã. Quando se verifica a história da Igreja do Senhor Jesus a sua paz deve inundar o nosso ser, pois estou em boa companhia. Em companhia de homens e mulheres vocacionados por Deus para viver a vida do Senhor Jesus aqui na terra e vejo que a Igreja atual também é formada por homens e mulheres que vivem estas circunstâncias no seu dia a dia. Alguém chamou ao sofrimento dos cristãos do passado como o "canto dos cisnes", pois estas aves quando sofrem cantam e ainda mais docemente.
Podemos citar alguns frutos do sofrimento: •Fortalece a certeza de que Deus é Soberano sobre todos; •Abre o entendimento para a vida cristã; • Fortalece a confiança nas promessas de Deus; o •Mostra que ser cristão é andar contra o vento. Desenvolve nosso caráter e espiritualidade cristã Que Deus nos ajude a descobrir mais e maiores bênçãos durante os períodos de sofrimento
CAPÍTULO 23
Proselitismo ou discipulado? Então, Jesus aproximou-se deles e disse: “Foi-me dada toda a autoridade nos céus e na terra. Portanto vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos”. Mateus 28:18-20
Este tem sido um dos versículos que nos últimos tempos muito se tem pregado falado ou escrito. Isso é bom, pois há uma grande necessidade do cumprimento da Grande Comissão de uma forma integral. Fazer discípulos é o desafio do século 21. Mas há uma grande confusão de termos. Muitos entendem que discipular é passar informações doutrinarias ou teológicas. Embora sejam importantes, e deve acontecer esta informação, mas não é somente isso. Vejamos Jesus e em que momentos Ele parava para ensinar os seus discípulos ou apóstolos. Vejam que os discursos de Jesus estão permeados com acontecimentos ou eventos especiais. Noutras palavra, as situações existenciais provocavam o ensino ou na linguagem protestante a “sã doutrina”. Por isso algumas perguntas que martelam minha mente é, estamos realmente fazendo discípulos de Jesus ou meus discípulos? Estamos seguindo a orientação do Mestre Jesus de como fazer discípulos? Hoje vejo que
através dos tempos temos
cometidos alguns erros sobre a prática do discipulado. O objetivo desta reflexão não é criticar quem está fazendo discípulos, mas aperfeiçoar a prática para que fique mais próxima do texto bíblico. Vejamos então:
PRIMEIRO ERRO: Não se faz discipulado numa sala de aula. Não existe a classe de discipulado. Podem existir as diversas classes de ensino, mas que não são classes de discipulado, pois este discipulado se pratica INDO, ou como o texto grego pode ser traduzido, Enquanto vão façam discípulos. Discípulos se fazem no dia a dia, no caminho, no andar, andando na vida. Discipulado no modelo divino é o que está escrito em Dt: 6:4-9 SEGUNDO ERRO, o discipulado não está amarrado a um período de lições, mas este discipulado se faz junto ao caminhar do tempo da vida. O discípulo tem um Mestre e o aluno tem um professor, estas figuras se confundem. Elas não são sinônimas. Nem todo professor é um Mestre, mas todo Mestre é um professor. Somente o Mestre faz discípulos, pois Ele conduz o aprendiz no caminho da vida e não das letras ou das doutrinas, embora em algum momento este ensino tenha de fazer parte do discipulado TERCEIRO ERRO, nossas igrejas criam classe de discipulado para batizar pessoas. Muito do discipulado contemporâneo termina quando o aprendiz se batiza após um determinado número de lições, mas isso não está no texto em epígrafe. Veja que a sequencia lógica é •
Fazer Discípulos
•
Batizem em Nome do Pai, do Filho do Espirito Santo
•
Ensinem a obedecer
Lamentavelmente o desejo da nossa natureza é batizar rapidamente e dentro de um determinado tempo cronometrado por um número de lições doutrinárias. Mas aqui não há um tempo limitado que se possa afirmar que o discípulo esteja pronto. Por outro lado, vemos que depois de se tornarem discípulos é que vem o batismo, e por último, é o ensinar a obedecer. É isto que aconteceu na igreja primitiva e que descreve o livro de
Atos. Depois das pessoas serem declaradas discípulos estas eram batizadas e mais tarde se aplicava o ensino doutrinário e prático, pois a ordem do Senhor é ensinar a obedecer e não "aprender doutrinas" ou algo semelhante. Chama a atenção que não conhecemos os discípulos de Pedro. Historicamente, é possível, que Marcos seja seu discípulo. Ele é identificado como o secretário ou intérprete de Pedro. E os discípulos dos outros apóstolos? De Paulo podemos inferir que seus discípulos foram: Timóteo, Tito, Onésimo e uma dezena de companheiros de lutas (seriam os discípulos?). Entendo que a guerra que o protestantismo ou evangelicalismo brasileiro vive com outras religiões ou seitas desperta nas igrejas o desejo de triunfar sobre os outros grupos religiosos. O desejo de ter multidões nos templos e catedrais conduz a produzir não discípulos de Jesus, mas “discípulos em serie”. Para viver a espiritualidade no discipulado, precisa-se da vida muito mais do que a doutrina. As lições para aprender a espiritualidade do evangelho estão nas ruas, no meio dos excluídos e necessitados. É ajudar a vencer o abuso de poder, sejam das autoridades religiosas ou políticas. Mas como realmente fazer o discipulado bíblico hoje? Sabemos que
não será tarefa fácil se continuarmos com o modelo atual que não é
bíblico. O modelo atual não ensina avida, mas conduz à morte da fé na incompreensão da vida do dia a dia. O que Jesus ensinou e que Deus aprovou foi fazer o bem
Reflexões Finais Espero que este seja o pontapé inicial para reverter o quadro da vida cristã que se está popularizando no Brasil, é aquela espiritualidade intimista e isolacionista. Este tipo de espiritualidade nada contribui com a transformação da sociedade. Muitos têm se desiludido com este estilo de vida imposto pela religiosidade e institucionalização que está sendo exigida dos cristãos. Por causa disso, muitos preferem abandonar as igrejas institucionais e se reunirem em pequenos grupos sem cores denominacionais. Outro fator importante que requer uma mudança urgente é o cristianismo incorporado. Aponto este cristianismo como sendo aquele que usa diversas iscas para promover a fé cristã. Nos últimos tempos tem sido criadas roupas, condomínios, lugares específicos para cristãos. Não mais se participa do mundo social em que os cristãos estão inseridos. Não significa que deve ser aprovado os comportamentos contrários aos valores cristãos. Mas ser luz do mundo e sal da terra deve-se entender que seja estar no mundo e na terra ao mesmo tempo. O mundo gospel trouxe um mercado religioso que em nada promove o evangelho de Jesus, pois este evangelho é de serviço à comunidade e aos que sofrem. Jesus foi aprovado porque fazia o bem, segundo é pregado por Pedro e o relatado que Lucas escreve no Livro de Atos. A igreja precisa aprender a promover a sua evangelização a partir da necessidade do ser humano e não exclusivamente de encher os templos com prosélitos, mas que
não entendem o valor e o custo do discipulado transformado
segundo Jesus. O mandamento de evangelizar é o único mandamento que aparece em cinco livros do Novo Testamento (Mt. 28:18-20; Mc 16:15; Lc 24:47; Jo 20:21; At 1:8 ). Cada autor
apresenta o mandamento de Jesus de forma diferente, mas a ênfase é única: evangelizar. A evangelização neotestamentária parte de um ponto em que podemos chamar de “ponto de contato”, que consistia na necessidade do ser humano. A igreja neotestamentária era uma igreja criativa na sua evangelização, que sob a direção do Espírito Santo, chegava aos homens com a mensagem compreensível, inteligível, apresentando respostas às questões e necessidades dos ouvintes e levando os homens a reconhecerem Jesus como o Senhor. A igreja era a comunidade do Reino. Era uma mensagem bíblica sadia, com uma resposta correta à situação existencial do indivíduo. A mensagem não podia ser incompreensível, asfixiante, mas “liberalizante” (não confundir com “liberalismo teológico”, nem com a perspectiva da teologia da libertação). A mensagem trazia aos ouvintes as respostas para as suas inquietações, interrogações, temores, desejos e ansiedades. Falava-se de Cristo como sendo a resposta, porque se sabia qual era a pergunta. Ao evangelizar, havia uma comunicação efetiva, e isso era possível porque se falava no mesmo nível situacional-existencial do povo que ouvia. O evangelho tornou-se verdadeiramente pertinente e transformador, porque auscultava as situações concretas do ser humano. Havia uma comunicação integral para o homem integral com o evangelho integral, porque se reconhecia que um corpo sem alma era defunto e uma alma sem corpo era fantasma. Dessa forma, a mensagem neo testamentária, vista por meio dos primeiros pregadores da igreja primitiva, tinha o objetivo de preparar o homem para viver e não somente para
morrer . É isso que se vê quando examinamos os
sermões, diálogos e apologias dos pregadores e ensinadores da palavra no livro de Atos e nos escritos dos pais apostólicos. Eles estão respondendo às questões específicas levantadas por seu auditório. E o que dizer da maioria das epístolas? Elas apresentam questões específicas do momento em que as igrejas estavam inseridas.
Já estamos na segunda década do terceiro milênio e diante do “choque do futuro”, da descontinuidade, da transitoriedade, dos sub-cultos que já apareceram, portanto, igreja deverá ser agressiva em sua evangelização. Essa agressividade terá de ser direcionada para “mexer” no ser “existência”. E esta mudança deve ser no ser igreja. É a igreja que precisa mudar para atrair os não seguidores de Jesus A igreja, com seus pregadores, pastores, mestres e evangelistas, deverá desenvolver a criatividade, que é um dom de Deus. Eles precisarão abrir os olhos à realidade nacional e mundial e ao modo como esta vem informando e formando os indivíduos. No mínimo, a igreja e seus membros deverão estar olhando sempre para o futuro, baseados no conhecimento do presente. A igreja não pode entrar em criação de modelos em série como se todas as pessoas sofressem os mesmos problemas, como se fossem iguais e vivessem nos mesmos contextos. A igreja é uma comunidade histórica e não pode negar as suas origens. As suas raízes são de mudanças, e de vidas transformadas. A sua mensagem é cristológica, é de serviço como foi o ministério do Seu Senhor. É necessário redesenhar a mensagem cristã que se perdeu na história. Os povos pedem uma mensagem de poder, de amor e serviço. Eles precisam da mensagem cristã, da comunidade messiânica. Ela precisa ser atrativa às pessoas e não repelida pelas pessoas A igreja institucionalizada passou usar a mídia de forma egoísta para promover o seu nome e a sua doutrina, mas se cala diante das injustiças e crises que o Brasil padece. A igreja institucionalizada se acomodou ideologicamente para que as mudanças sociais, econômicas e políticas sociais do país não aconteçam. Ela se acomodou e perdeu a voz profética, pois se tornou rígida na sua doutrina e na sua voz profética comprometida com o poder.
Diante do desafio do terceiro milênio, devemos lembrar que precisamos transformar a igreja hoje, para que ela não se constitua num museu religioso amanhã. Não existem fórmulas mágicas que façam tal transformação, mas podemos dar algumas “pistas norteadoras” para que o terceiro milênio não surpreenda a igreja no contrapé. Em primeiro lugar, é de fato necessário alterar hábitos profundamente enraizados, que chegam a constituírem-se verdadeiros vícios e que não comunicam nem anunciam o evangelho, e isso deve ser feito em áreas como: liturgia, pregação, métodos de serviço, ministérios e “criatividade” na arte de pensar e em todas as áreas do ministério eclesiástico. Em segundo lugar, devemos levar a igreja local a lembrar-se do seu passado para descobrir sua visão do futuro, assim criando uma filosofia bíblica de ministério, a qual deverá estar voltada para alcançar os objetivos divinos na história da humanidade. Isso significa encarnar-se na realidade onde a comunidade de Jesus está inserida, não se apresentando como um “gueto eclesiástico”, mas como a alternativa de Deus. Em terceiro lugar, não somente enxergar, mas decidir-se pelas mudanças que levem a igreja a mostrar a eficácia de sua fé cristã. Essas mudanças podem estar acontecendo fora dos nossos arraiais denominacionais, sem que isso chegue a significar que sejam espúrias ou não cristãs, ou então exclusividade de uma denominação. Em quarto lugar, voltar a pregação da exposição bíblica. Esta pregação deve ser resultado incansável do pregador. Hoje as pregações bíblicas são escassas. Falta do conhecimento histórico social dos fatos bíblicos são assustadores. As ênfases atuais têm exclusivamente o desejo de motivar e não de transformar. Escritores seculares e cristãos são usados como guias de pregação deixando as Escrituras de lado. Em muitas igrejas se pede que o pregador deve ser um especialista em mercado religioso independente de se este conhece, ou não, o texto bíblico que está sendo pregado.
O terceiro milênio é um desafio que convida o leitor a tomar duas posições: renunciar à fama, posição, comodidade, lucro e outros e risco de rótulos, incompreensões, acusações, exílio dentre outros. Que Deus nos assista para que vivamos no terceiro milênio com inteligência e sabedoria.
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