Correio do Meio Ambiente- edição 89

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Ano 21 - Edição 89 / 2021 - Órgão oficial de divulgação de matérias relacionadas ao Meio Ambiente - Distribuição Gratuita e Dirigida


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O que empresas brasileiras estão fazendo para reduzir a emissão de poluentes Mesmo criticado pela falta de ambição climática, o governo brasileiro se comprometeu, na COP26, com metas para reduzir a emissão de gases de efeito estufa. O país pretende cortá-la em 50% até 2030 e neutralizála até 2050 - um cálculo ainda pouco claro e que não supera o que havia sido firmado no Acordo de Paris. De olho nas exigências do mercado, uma parcela das empresas brasileiras tenta demonstrar que busca uma transição para uma economia de baixo carbono. É unanimidade que o maior problema do Brasil com as emissões é o desmatamento. Segundo o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), 44% das emissões nacionais são causadas pelo problema, sendo que 90% do desmatamento que acontece no país é ilegal. Documento do Observatório do Clima informa que, no ano passado, o desmatamento na Amazônia atingiu 10.851 km², a maior taxa em 12 anos. A média, em 2019 e 2020, foi de 10.490 km² desmatados por ano, um número 62% maior que a média anual de 6.494 km² registrada na de cada anterior. "O desmatamento ilegal não

FOTO: FÓRUM ECONÔMICO MUNDIAL/IAGO CORAZZA

Na COP26, corporações do país se esforçam para mostrar ações e adesão às pautas ambientais

As casas do projeto chamado Tacla, na Itália, podem ser construídas por impressoras em cerca de 200 horas, consumindo, em média, 6 kW de energia. É preciso uma equipe de duas pessoas para colocar a residência de pé, e os resíduos podem ser totalmente eliminados

traz nenhum tipo de benefício para a sociedade, não cria empregos qualificados, não fortalece o setor florestal responsável e ainda aumenta o impacto dos gases de efeito estufa sobre a atmosfera, em vez de alimentar uma indústria capaz de absorver CO2 [gás carbônico]. Beneficia poucos responsáveis por ações criminosas e deixa o prejuízo para a maciça maioria dos brasileiros", analisa Marina Grossi, presidente do CEBDS.

A organização reúne cerca de 80 empresas que representam 50% do PIB (Produto Interno Bruto brasileiro) e argumenta que o mercado brasileiro já desenvolve ações para reduzir o desmatamento, além de trabalhar para influenciar políticas nesse sentido. No último domingo (8), durante a COP26, foi lançado o "Posicionamento do Setor empresarial pela Amazônia", documento que aponta ações como

rastreabilidade das cadeias produtivas, transparência, fim do desmatamento ilegal e uso de tecnologias. Mais uma demonstração desse esforço foi a entrega de outro documento a ministros brasileiros e ao presidente da COP26, Alok Sharma. O "Posicionamento Empresários pelo Clima" reúne a assinatura de 115 empresas e 14 entidades setoriais que defendem medidas para uma economia de baixo carbono e assumem responsabilidades nessa transformação. Essas companhias vêm adotando medidas para reduzir e compensar as emissões de gases causadores do efeito estufa, fazer a precificação interna de carbono, descarbonizar as operações e as cadeias de valor e estabelecer metas de neutralidade climática até 2050. O Gerenteexecutivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), Davi Bomtempo explica que esse processo de adaptação vem se internalizando nas empresas há alguns anos. Não só pelo corte de emissões, mas também considerando custos e economia de recursos no sistema produtivo. A CNI apresentou na COP uma estratégia de transição ener-

gética baseada em quatro pilares: eficiência, com a expansão de energias renováveis, como biocombustíveis, biomassa e eólica em alto-mar; carbono, com a regulação mercado de carbono; economia circular, com a gestão adequada de resíduos, reuso, reciclagem e bens mais duráveis; e conservação florestal, com iniciativas de bioeconomia, pagamento de serviços ambientais e a ratificação do Protocolo de Nagoya - acordo que estabelece regras internacionais para a repartição de benefícios do uso econômico de recursos genéticos da biodiversidade. "A gente veio mostrar alguns cases de empresas, como elas estão contribuindo para a redução de emissão, de forma também a ser mais competitiva, considerando todo o contexto internacional. Também considerando o perfil do consumidor, que vem mudando ano a ano. Hoje, o consumidor quer saber como o produto ou serviço é produzido, quanto gerou de emissão, quanto gastou de energia, se tem gestão adequada de recursos hídricos, de resíduos, para tomar a decisão de compra", explica o Gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI Davi Bomtempo.

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GARGALOS PARA A TRANSIÇÃO ENERGÉTICA "A contribuição da empresa depende do setor que ela está, se é intensivo em energia ou tem conexão com agros e florestas", diz Gustavo Pimentel, diretor da plataforma de investimentos no campo social SITAWI. No agronegócio, é essencial o cumprimento do Código Florestal, principalmente a recuperação de áreas desmatadas, sem adiamento de prazos para o Cadastro Ambiental Rural (CAR) e submissão de planos de recuperação ambiental. "As empresas do agro ou aquelas que compram do setor acabam não demandando que os fornecedores façam essas recuperações porque a lei não está obrigando. Precisamos que elas se antecipem e comecem a exigir antes dos prazos legais ou de uma ação mais incisiva do governo", avalia. Em razão das especificidades de cada setor, para o CEBDS, é preciso analisar caso a caso para identificar quais processos devem ser transformados. As empresas associadas, segundo a entidade, estão buscando o objetivo através da precificação de carbono e a descarbonização das operações. A CNI destaca três questões a serem trabalhadas para superar as dificuldades da transição energética. A primeira é o financiamento. "Hoje, o Brasil destina pouco recurso a iniciativas de mudanças climáticas. A gente sabe que tem um fluxo de capital internacional na ordem de US$ 500 bilhões por ano, e ape-

FOTO: FÓRUM ECONÔMICO MUNDIAL/MICHAEL KAI

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O Woodside Building, da Universidade de Monash, em Melbourne, Austrália, tem tecnologia para atingir carbono zero até 2030. A capacidade térmica dos vidros e a ventilação mecânica da construção são capazes de reduzir o uso de energia. Além disso, a reutilização da água e a produção de energia solar são outros pontos de destaque

nas 4,5% vão para América Latina e Caribe. Então precisamos superar algumas barreiras", analisa Bomtempo. Outras duas questões são aproximar o setor produtivo da academia, a fim de gerar inovação, e formular políticas públicas ambientais para além do comando e controle. "Tem outra parte que é uma virada de chave que é a questão dos incentivos econômicos que precisam ser cada vez mais utilizados nas políticas públicas brasileiras. Incentivo para usar o material reciclável, por exemplo. Hoje é muito mais caro utilizar essa matéria-prima nos processos". MERCADO DE CARBONO É CRUCIAL PARA O SETOR Esta parcela do setor privado

acredita que, para o Brasil, uma transição rápida para uma economia de baixo carbono é possível - e desejada. Com o fim do desmatamento, o país conseguiria cumprir 80% da meta, colocando-se à frente de outros. Para que isso seja possível, o CEBDS e a CNI avaliam que é fundamental a regulamentação do artigo 6 do Acordo de Paris, que define o mercado global de carbono, e a implantação de um mercado brasileiro de carbono. Para as empresas, o tema é um dos mais importantes desta COP e essencial para conter o aquecimento global. Discutida desde 2015, a regulamentação poderia gerar um comércio de US$ 167 bilhões ao ano em 2030 e de US$ 347 bilhões ao ano em 2050, segundo

a International Emissions Trading Association. O Brasil é um dos países com maior potencial de venda de créditos e pode gerar receitas líquidas de até US$ 72 bilhões até 2030, de acordo com a Environmental Defense Fund. A criação de um mercado brasileiro de carbono vai garantir a trajetória de uma economia verde no país e sua competitividade internacional. Segundo Pimentel, uma política de clima neste sentido tornaria mais fácil o investimento em iniciativas de agricultura de baixo carbono, eficiência energética e energia renovável. A TRANSPARÊNCIA DOS DADOS DAS EMPRESAS Para estes empresários, manter a floresta em pé vendendo créditos de carbono é o que vai financiar o desenvolvimento sustentável, gerando empregos e renda. "Uma economia verde e regenerativa contribui para o combate às mudanças climáticas e traz benefícios para todos: para os brasileiros, para os negócios, para o país, para o planeta", afirma Grossi. Claudia Yoshinaga, professora de finanças na FGVEAESP, avalia que empresas que têm relações com mercados europeus e, agora, com os Estados Unidos estão mais propensas a mostrar ações de sustentabilidade em razão do engajamento desses países nesta pauta, como forma de manter relações comerciais. Mas ela demonstra ceticismo, assim como outros especialistas em ESG. A sigla, que

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em inglês quer dizer ambiental, social e governança, trata dos processos da empresa, e vem dos debates sobre responsabilidade corporativa. O ESG cria avaliações e rankings, através de agências, para nortear os investidores sobre riscos. Fabio Alperowitch, diretor da Fama Investimentos, especializada em ESG, acredita que os brasileiros precisam deixar de acreditar que são a solução, pois ainda representam uma grande parte do problema. "Quando a gente fala de empresas e investidores, os compromissos são muito baixos. São pouquíssimos gestores que se comprometem. Embora o brasileiro tenha essa percepção de que temos 40% das florestas tropicais do mundo, com a maior biodiversidade, com uma matriz energética adequada, ele não se sente responsável (pelas mudanças climáticas) e não faz nada. Então a gente está muito atrasado. É vergonhoso", critica. Apesar de a sigla estar na moda, Yoshinaga entende que falta um entendimento melhor sobre as iniciativas alinhadas com o ESG. Outra preocupação é sobre a transparência dessas ações, que são voluntárias. No fim das contas, cada empresa mostra o que lhe interessa e faz uma seleção das melhores coisas. É esperado que as corporações tenham ações positivas. O problema é dar muita visibilidade a elas enquanto existem problemas por trás. Fonte: www.cnnbrasil.com.br


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Mudança climática: urbanista cria 'cidades-esponja' para combater enchentes O decano da faculdade de arquitetura da Universidade de PequimYu Kongjian se lembra do dia em que quase morreu nas águas do rio. As chuvas levaram o Córrego da Areia Branca a inundar os campos de arroz da comunidade agrícola de Yu, na China. Na época com apenas 10 anos de idade, ele correu animado até as margens. Subitamente, a terra abaixo dos seus pés desmoronou e o carregou para as águas da enchente com rapidez assustadora. Mas os bancos de juncos e salgueiros reduziram a velocidade do fluxo do rio, permitindo que Yu se agarrasse à vegetação e saísse das águas. "Se o rio fosse como é hoje, nivelado com paredes de concreto, certamente eu teria me afogado", contou Yu à BBC. Aquele foi um momento decisivo que traria impactos não apenas à sua vida, mas para toda a China. Um dos urbanistas mais importantes da China e decano da prestigiosa faculdade de arquitetura e paisagismo da Universidade de Pequim, Yu Kongjian é o profissional por trás do con-

ceito de "cidade-esponja", idealizado para gestão de enchentes e que está sendo implementado por diversas cidades chinesas. Ele acredita que outros lugares podem adotar essa ideia mesmo quando se questiona, por exemplo, se as cidades-esponja realmente podem funcionar em face das enchentes mais severas relacionadas às mudanças climáticas. 'NÃO LUTE CONTRA A ÁGUA' E se uma enchente pudesse ser algo que pudéssemos abraçar em vez de temer? Esta é a ideia central da cidade-esponja do Prof. Yu Kongjian. A gestão convencional das águas de enchentes envolve a construção de canos ou drenagens para conduzir a água da forma mais rápida possível ou o reforço das margens do rio com concreto, para garantir que elas não transbordem. Mas uma cidade-esponja faz o contrário. Ela procura absorver a água da chuva e retardar o escoamento pela superfície.

FOTO: TURENSCAPE

Profissional por trás do conceito é decano da faculdade de arquitetura da Universidade de Pequim. Especialistas questionam se modelo poderá ser eficiente contra inundações severas.

Professor Yu é considerado o pai do conceito de cidades-esponja na China

O processo ocorre em três lugares. O primeiro é a fonte, onde, da mesma forma que uma esponja com muitos orifícios, a cidade tenta conter a água com vários lagos. O segundo é ao longo do fluxo. Em vez de tentar canalizar a água rapidamente para longe em linhas retas, rios tortuosos com vegetação ou várzeas reduzem a velocidade da água - da mesma forma que o córrego que salvou a vida de Yu. Eles ofere-

cem mais um benefício, que é a criação de áreas verdes, parques e habitats para animais, purificando a água escoada na superfície com plantas que removem toxinas poluentes e nutrientes. O terceiro é o sifão, de onde a água é esvaziada para um rio, lago ou para o mar. O Prof. Yu defende que essa área permaneça desocupada, evitando-se construções nas áreas baixas. "Você não pode lutar contra a água. Você precisa deixar que ela escoe", segundo ele. Embora existam conceitos similares em outras partes do mundo, a cidade-esponja destaca-se pelo uso de processos naturais para resolver os problemas das cidades, segundo o Dr. Nirmal Kishnani, especialista em projetos sustentáveis da Universidade Nacional de Singapura. O Prof. Yu e sua empresa de paisagismo Turenscape ganharam muitos prêmios com esse conceito, que é influenciado, em grande parte, pelos antigos métodos de agricultura que ele aprendeu ao crescer na província de Zhejiang, na costa leste da

China, como a armazenagem de água da chuva em lagos para agricultura.Yu se mudou para Pequim com 17 anos de idade, onde estudou paisagismo, tendo depois estudado design na Universidade Harvard, nos Estados Unidos. Quando ele retornou à sua terra-natal, em 1997, a China já estava profundamente mergulhada no frenesi da construção que ainda vemos até hoje. Perplexo com aquela "infraestrutura cinza e sem vida", o Prof. Yu começou a defender uma filosofia urbanística baseada nos conceitos tradicionais chineses. Além das cidades-esponja, por exemplo, ele convocou a "grande revolução dos pés", como ele chama o paisagismo rústico natural, ao contrário dos parques excessivamente bem cuidados, que ele compara com a ultrapassada prática chinesa de amarrar os pés das mulheres. O Prof. Yu acredita que as cidades costeiras da China - e de outros lugares com clima similar - adotaram um modelo insustentável de construção de cidades.


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Para ele, "a técnica desenvolvida nos países europeus não se adapta ao clima das monções. Essas cidades fracassam porque elas foram colonizadas pela cultura ocidental, copiando sua infraestrutura e seu modelo urbano." Inicialmente, ele enfrentou a oposição das pessoas, algumas das quais ficaram irritadas com suas críticas veementes à engenharia chinesa, incluindo projetos que são de orgulho nacional, como a barragem de Três Gargantas. Suas críticas, aliadas à sua formação em Harvard e à aprovação do Ocidente, valeram acusações de traição e de ser um "espião ocidental" prejudicando o desenvolvimento chinês. "Eu não sou ocidental, sou chinês tradicionalista", afirma ele, aos risos. "Temos milhares de anos de experiência, temos a solução que ninguém pode ignorar. Precisamos seguir os modelos chineses." Yu habilmente apelou ao senso de patriotismo das autoridades chinesas em defesa das cidades-esponja, auxiliado pela cobertura da imprensa sobre suas ideias, após os enormes desastres causados pelas enchentes em Pequim e Wuhan, nos últimos anos. O esforço trouxe resultados. Em 2015, com o apoio do presidente Xi Jinping, o governo anunciou um plano multimilionário e um objetivo ambicioso: até 2030, 80% das áreas urbanas da china devem ter elementos de cidade-esponja e re-

FOTO: TURENSCAPE VIA BBC

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Rio Wujiang em Zhejiang, na China, com as margens recentemente reformadas

ciclar pelo menos 70% da água da chuva. SOLUÇÃO MÁGICA? Em todo o mundo, cada vez mais lugares estão enfrentando dificuldades com o aumento das chuvas, um fenômeno que os cientistas relacionam às mudanças climáticas. À medida que as temperaturas se elevam com o aquecimento global, cada vez mais umidade evapora na atmosfera, causando chuvas mais fortes. E os cientistas afirmam que essa situação só irá piorar. No futuro, as chuvas serão mais intensas e severas que o normal. Mas, com tempestades mais fortes, a cidade-esponja será realmente a solução? Alguns especi-

alistas não têm essa certeza. Ele também indica que, para cidades densamente povoadas, onde o espaço disponível é pouco, pode ser difícil implementar algumas das ideias de Yu, como a destinação de terreno para inundação. Mesmo gastando milhões, a China ainda sofre enchentes catastróficas. No último verão, uma série de enchentes matou 397 pessoas, afetou mais 14,3 milhões e causou prejuízos econômicos de US$ 21,8 bilhões (cerca de R$ 123 bilhões), segundo estimativas das Nações Unidas. Mas o Prof. Yu insiste que a sabedoria da China antiga não pode estar errada e essas falhas são causadas pela execução inadequada ou fragmentada da sua

ideia pelas autoridades locais. A enchente ocorrida na cidade chinesa de Zhengzhou no último mês de julho, segundo ele, foi um exemplo clássico. A cidade pavimentou seus lagos, de forma que não houve retenção de água suficiente quando a chuva começou. O rio principal havia sido canalizado com drenagens de concreto, fazendo com que a água fluísse com a velocidade "de uma descarga de vaso sanitário", segundo o Prof. Yu. Além disso, construções importantes como hospitais foram construídas sobre terras baixas. VALE PARA OUTROS PAÍSES? Outra questão é se o concei-

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to de cidade-esponja realmente pode ser exportado. O Prof. Yu afirma que países sujeitos a enchentes, como Bangladesh, Malásia e Indonésia, poderão beneficiar-se do modelo e que alguns lugares como Singapura, Rússia e os Estados Unidos começaram a implementar conceitos similares. Mas grande parte da sucesso da proliferação das cidadesesponja pela China provavelmente se deve ao governo centralizado e aos expressivos recursos estatais. O Prof. Yu afirma que uma cidade-esponja custaria apenas "um quarto" das soluções convencionais, se for feita corretamente. Ele argumenta que a construção sobre terreno mais alto e a alocação de terra para cheias, por exemplo, seria mais barata que a construção de um sistema de canos e tanques. Muitos dos projetos da Turenscape destinam-se agora ao reparo de infraestrutura contra enchentes e custam milhões. Esse dinheiro poderia ter sido economizado se as autoridades seguissem os princípios da cidade-esponja desde o princípio, segundo o Prof. Yu. Para ele, usar concreto para combater enchentes é como "beber veneno para matar a sede… é uma visão limitada. Precisamos alterar a forma como vivemos para nos adaptar ao clima. Se eles não adotarem a minha solução, não terão sucesso. Fonte: G1


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A importância de unir esforços para proteger as áreas de alimentação de tartarugas marinhas A história da conservação de tartarugas marinhas no Brasil começa no início dos anos 80, quando o Projeto Tamar passou a proteger as principais praias de desova encontradas na costa brasileira. Nessas áreas, as ações de proteção estão basicamente direcionadas às fêmeas, quando sobem às praias para depositarem seus ovos, aos ninhos e aos filhotes, que quando eclodem, sobem à superfície da areia e rastejam até entrarem no mar. Essas 3 etapas são fases críticas do ciclo de vida de uma tartaruga marinha, portanto proteger as tartarugas nessas fases é fundamental no processo de recuperação das populações e também para que elas se mantenham em níveis saudáveis de conservação. No entanto, esse curto tempo do ciclo de vida que as tartarugas passam em terra, embora de grande importância, representa cerca de 1% do tempo total de vida de uma tartaruga marinha. O que acontece no mar, onde as tartarugas passam 99% do tempo de suas vidas? Será que não há nenhuma ameaça relevante? Será que as ações de conservação desenvolvidas em terra já são suficientes para proteger as tartarugas? Qual a importância de proteger as tartarugas no mar? No final dos anos 80 e início dos anos 90, especialistas em tartarugas

marinhas do mundo inteiro começaram a perceber que somente desenvolver ações de conservação nas praias de desova não era suficiente para promover a recuperação de algumas populações de tartarugas ao redor do mundo. Entre as ameaças identificadas no mar por esses especialistas, a captura incidental na pesca foi apontada como a principal delas, devido ao expressivo número de capturas e mortes que começavam a ser revelados em pesquisas divulgadas internacionalmente. Essas novas informações fizeram com que se ampliasse bastante a busca por informações sobre a captura incidental de tartarugas marinhas nas diferentes modalidades de pesca e, consequentemente, a busca por soluções para essa problemática. Nessa mesma época, o Projeto Tamar/Fundação Pró-Tamar, entendendo a necessidade de esten-

der a proteção aos juvenis e assim proteger todas as fases do ciclo de vida das tartarugas marinhas, inaugurou em 1991, em Ubatuba, litoral norte de SP, a primeira base da fundação localizada em uma área exclusivamente de alimentação de tartarugas. Posteriormente, o trabalho em áreas de alimentação foi estendido, quando foram inauguradas as bases de Almofala - CE em 1993 e Florianópolis-SC em 2005. Nas áreas de alimentação, a única forma de observar as tartarugas marinhas é no mar. E nesses locais, quem encontra com elas é o pescador, que todos os dias está trabalhando no mar. Se por um lado a pesca ainda é apontada como a principal ameaça às tartarugas marinhas, por outro, o pescador tem sido o principal parceiro na pesquisa e busca de soluções para mitigar a captura incidental. ssim, aqui no Brasil pescadores e pesquisadores têm uni-

do esforços para solucionar, ou ao menos, minimizar esse problema e a explicação para isso é muito simples: capturar tartarugas marinhas não interessa a ninguém. O pesquisador quer reduzir essa captura pois tem como objetivo promover a recuperação das populações de tartarugas que, apesar de todos os esforços, ainda continuam ameaçadas. O pescador também não tem interesse, pois a captura de tartarugas gera prejuízos uma vez que danifica os petrechos de pesca, atrasa a faina de bordo e não tem valor de comércio algum ocupando, muitas vezes, o lugar de uma outra espécie na rede de pesca, ou anzol, que poderia ser comercializada gerando rendimentos aos pescadores. Finalmente, para as próprias tartarugas também é ruim, pois as populações ainda estão ameaçadas e precisam reduzir essa ameaça para que possam se recuperar. Portanto, a captura incidental de tartarugas é um daqueles eventos em que todos os envolvidos perdem, não existindo uma parte que seja beneficiada e, por isso mesmo, pesquisadores e pescadores compartilham o mesmo interesse na busca de soluções para esse problema. Por fim, desenvolver ações de proteção e conservação em áreas de alimentação é fundamental e, usualmente, beneficia múltiplas populações de

tartarugas marinhas. Isso ocorre porque algumas áreas de alimentação acabam reunindo tartarugas de diferentes origens, formando o que os pesquisadores chamam de estoques mistos. Estudos de genética desenvolvidos em Ubatuba, por exemplo, revelaram que as tartarugas-verde (Chelonia mydas) que estão se alimentando por lá são provenientes de áreas de desova localizadas na Ilha de Ascensão (território ultramarino britânico), Ilha Aves (Venezuela), Ilha de Trindade (Brasil), entre outros locais. O mesmo acontece com áreas de alimentação da tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta), existentes na região oceânica pelágica em frente à costa sudeste-sul do Brasil. Estudos de genética realizados com as tartarugas-cabeçuda que foram capturadas incidentalmente nessas áreas revelaram que os animais que ali estavam eram provenientes não só do Brasil, mas também de lugares bem distantes como: África do Sul, Omã (Oceano Índico) e até Austrália (Oceano Pacífico). Essas descobertas deixam ainda mais evidente que as divisões geográficas criadas pelo homem não são barreiras migratórias para as tartarugas marinhas e que a única forma de as proteger integralmente é através de um esforço mundial conjunto. Fonte: www.tamar.org.br


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A Rede Nacional de Trilhas de Longo Curso (RedeTrilhas) ganhou mais uma trilha. O Ministério do Meio Ambiente (MMA) publicou hoje (30.11), portaria aprovando a adesão da Trilha Nacional Transmantiqueira. Com extensão de 1.200 km, a trilha corta a Serra da Mantiqueira e cruza 47 municípios dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais e integra mais de 30 Unidades de Conservação (UCs). O coordenador-geral da Associação Trilha Transmantiqueira, Hugo de Castro Pereira, comemora a adesão e o reconhecimento da importância da trilha para o desenvolvimento da região e conservação do território. "Isso porque trabalhamos dentro de três pilares: a trilha como um aparelho de recreação, saúde e turismo; uma alternativa de emprego e renda para as comunidades que vivem na região; e a garantia de conservação do território, com a criação de corredores ecológicos", destacou. Belezas naturais e grande diver-

FOTO: REDE TRILHAS/DIVULGAÇÃO

Trilha Transmantiqueira agora faz parte da Rede Trilhas

Rede Nacional de Trilhas de Longo Curso chega a quase 2 mil Km de trilhas que contam com apoio do Governo Federal em campanhas de promoção e fortalecimento do ecoturismo no país

sidade de paisagens estão ao longo da trilha. Os amantes de passeios ao ar livre podem conhecer inúmeras cachoeiras e ainda desfrutar da cultura, gastronomia e muito mais, em locais estruturados para receber famílias e turistas. "A trilha é longa, então tem paisagens para todos os gostos. Você pode caminhar durante 90 dias para percorrer toda a trilha ou escolher um setor e fazer um final de sema-

na. Pode ir à Visconde de Mauá (RJ), Campos do Jordão (SP) e Monte Verde (MG), conhecer picos e mirantes, além de visuais há mais de 1.600 metros de altitude. Também pode se hospedar numa boa pousada, conhecer o local, vivenciar festas e culturas da região que é muito rica", ressaltou o coordenador. A Trilha Nacional Transmantiqueira percorre uma das maiores e mais importantes cadeias montanhosas

do sudeste brasileiro, a Serra da Mantiqueira. Matas nativas naturais e bem conservadas de floresta e a existência de Unidades de Conservação formam um extenso corredor dentro de uma grande região denominada "Corredor Ecológico da Serra do Mar", uma das regiões definidas pelo Ministério do Meio Ambiente para conservação da biodiversidade da Mata Atlântica. Com a adesão da Trilha Transmantiqueira, a RedeTrilhas já possui quase 2.000 km de trilhas, que recebem incentivo do Governo Federal com a divulgação em campanhas, fortalecendo o ecoturismo no Brasil. O apoio também constitui uma promissora oportunidade para o fortalecimento do turismo regional e a conservação no melhor estilo do "conhecer para conservar". REDE TRILHAS A Rede Nacional de Trilhas de Longo Curso e Conectividade - RedeTrilhas, é composta por trilhas reconhecidas pela sua relevância nacional para a conectividade de pai-

sagens e ecossistemas, a recreação em contato com a natureza e o turismo. Foi regulamentada por meio da Portaria 500/2020, publicada em setembro do ano passado, como resultado da articulação entre Ministério do Meio Ambiente, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade e Ministério do Turismo. Com a RedeTrilhas, os locais devem seguir padrões de mapeamento e identificação. A ação traz mais segurança para os turistas e usuários, que podem contar com estrutura e acesso, que vão da indicação de pontos de interesse turístico, como lagos e cachoeiras, a bases para pernoite, alimentação e outros pontos de apoio.Estão na lista da Rede Nacional de Trilhas: Trilha Transcarioca; Trilha Caminho de Cora Coralina; Trilha Sucupira; Trilha Caminhos da Serra do Mar e, agora, Trilha Transmantiqueira. Ficou curioso e quer conhecer? Acesse: trilhatransmantiqueira.com.br Fonte: www.gov.br


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A engenhosa solução dos antigos persas para 'capturar o vento' e se refrescar no calor escaldante A cidade de Yazd, no deserto do centro do Irã, é, há muito tempo, um centro de criatividade. Yazd é o berço de uma das maravilhas da engenharia antiga - um sistema que inclui uma estrutura de refrigeração subterrânea chamada yakhchal, um sistema de irrigação subterrâneo chamado qanats e até uma rede de mensageiros chamada pirradazis, criado mais de 2.000 anos antes do serviço postal americano. Dentre as tecnologias antigas de Yazd, encontra-se o captador de vento, ou bâdgir, em persa. Essas estruturas notáveis são comumente encontradas elevando-se sobre os telhados de Yazd. Muitas vezes, são torres retangulares, mas elas também existem em formato circular, quadrado, octogonal e em outros formatos ornamentados. Afirma-se que Yazd é a cidade com mais captadores de vento do mundo. Eles podem

FOTO; ALAMY

Do Antigo Egito ao Império Persa, um método engenhoso de capturar e dirigir o vento refrescou as pessoas por milênios. Na busca por refrigeração livre de emissões, o "captador de vento" pode vir nos ajudar novamente.

Afirma-se que Yazd tem mais captadores de vento que qualquer outra cidade do mundo

ter se originado no Antigo Egito, mas, em Yazd, o captador de vento logo se mostrou indispensável, possibilitando a vida naquela parte quente e árida do planalto iraniano. Embora muitos dos captadores de vento da cidade do deserto tenham caído em desuso, suas estruturas estão agora chamando a atenção de acadêmicos, arquitetos e engenheiros, a fim de estudar o papel que eles poderiam desempe-

nhar para nos manter refrigerados em um mundo em rápido aquecimento. Como os captadores de vento não precisam de eletricidade para funcionar, eles são uma forma de resfriamento verde e barata. Com o ar condicionado mecânico convencional já representando um quinto do consumo total de eletricidade do mundo, alternativas antigas como o captador de vento estão se tornando uma opção

cada vez mais atraente. Existem duas forças principais que dirigem o ar através das estruturas: a entrada do vento e a mudança da impulsão do ar dependendo da temperatura o ar quente tende a subir sobre o ar frio, que é mais denso. Primeiramente, quando o ar é captado pela abertura de um captador de vento, ele é canalizado para baixo até a construção, depositando eventuais fragmentos ou areia no pé da torre. O ar então flui ao longo de toda a parte interna da construção, às vezes sobre piscinas subterrâneas com água para melhor resfriamento. Por fim, o ar aquecido se elevará e deixará a construção através de outra torre ou abertura, com o auxílio da pressão no interior da construção. A forma da torre e outros fatores - como o projeto da casa, a direção para onde a torre está voltada, a quantidade de

aberturas, sua configuração de pás internas fixas, canais e altura - são todas adequadamente definidas para aumentar a capacidade da torre de canalizar vento para baixo, até o interior da construção. A história do uso do vento para resfriar construções começou quase ao mesmo tempo em que as pessoas começaram a viver no ambiente quente dos desertos. Uma das primeiras tecnologias de captura do vento data de 3.300 anos atrás, no Egito, segundo os pesquisadores Chris Soelberg e Julie Rich, da Universidade Estadual Weber em Utah, nos Estados Unidos. Nesse sistema, as construções tinham paredes espessas, poucas janelas voltadas para o sol, aberturas para entrada de ar na principal direção dos ventos e uma ventilação de saída do outro lado - conhecida em árabe como arquitetura malqaf.


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Mas há quem defenda que o captador de vento foi inventado no próprio Irã. De qualquer forma, os captadores de vento se espalharam pelo Oriente Médio e pelo norte da África. Variações dos captadores de vento iranianos podem ser encontradas com nomes locais, como os barjeels do Catar e do Bahrein, os malqaf do Egito, os mungh do Paquistão e muitos outros, segundo Fatemeh Jomehzadeh, da Universidade de Tecnologia da Malásia, e seus colegas. Acredita-se que a civilização persa tenha adicionado variações estruturais para permitir melhor resfriamento, como a sua combinação com os sistemas de irrigação existentes para ajudar a resfriar o ar antes da sua liberação por toda a casa. No clima quente e seco de Yazd, essas estruturas se tornaram cada vez mais populares, até que a cidade se tornou um oásis de altas torres ornamentadas em busca do vento do deserto. Yazd é uma cidade histórica que foi reconhecida como Patrimônio Mundial da Unesco em 2017 - em parte, pela sua grande quantidade de captadores de vento. Além de desempenhar o propósito funcional de resfriar as casas, as

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As aberturas das torres ficam voltadas para o vento, canalizando-o e distribuindo-o para baixo, até o interior das construções

torres também tinham forte importância cultural. Os captadores de vento fazem parte da paisagem de Yazd, da mesma forma que o Templo do Fogo de Zoroastro e a Torre do Silêncio. E há também o captador de vento do Jardim de Dowlat Abad, que se acredita ser o mais alto do mundo (com 33 metros de altura) e um dos poucos ainda em funcionamento. Abrigado em uma construção octogonal, ele fica de frente para uma fonte e um lago que se estende ao longo de fileiras de pinheiros. POSSÍVEL RENASCIMENTO? Com a eficácia do resfria-

mento fornecido por esses captadores de vento livres da emissão de gases, alguns pesquisadores argumentam que eles merecem ressurgir. O pesquisador Parkham Kheirkhah Sangdeh estudou minuciosamente a aplicação científica e a cultura local dos captadores de vento na arquitetura contemporânea na Universidade de Ilam, no Irã. Ele afirma que inconvenientes como insetos que ingressam nas calhas e o acúmulo de poeira e fragmentos do deserto fizeram com que muitas pessoas abandonassem os captadores de vento tradicionais. No seu lugar, são utilizados sistemas de resfriamento mecânicos, como unidades

convencionais de ar condicionado. Muitas vezes, esses sistemas alternativos são alimentados por combustíveis fósseis e usam refrigerantes que agem como poderosos gases do efeito estufa quando liberados para a atmosfera. Há muito tempo, o advento das modernas tecnologias de resfriamento é culpada pela deterioração dos métodos tradicionais no Irã, segundo a historiadora da arquitetura iraniana Elizabeth Beazley escreveu em 1977. Sem manutenção constante, o clima hostil do planalto iraniano desgastou muitas estruturas, desde captadores de vento até casas de armazenamento de gelo. Kheirkhah Sangdeh tam-

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bém observa que o abandono dos captadores de vento se deveu, em parte, à tendência do público de adotar tecnologias vindas do Ocidente. "É preciso que haja mudanças de perspectiva cultural para usar essas tecnologias. As pessoas precisam observar o passado e entender por que a conservação de energia é tão importante", afirma o pesquisador, "a começar pelo reconhecimento da história cultural e da importância da conservação de energia". Kheirkhah Sangdeh espera que os captadores de vento do Irã sejam reformados para oferecer resfriamento com uso eficiente de energia às construções existentes. Mas ele encontra muitas barreiras para esse trabalho, como as tensões internacionais existentes, a pandemia de covid-19 e a atual falta de água. "A situação está tão ruim no Irã que [as pessoas] levam um dia de cada vez", afirma ele. Métodos e sistemas de resfriamento que não utilizam combustíveis fósseis, como os captadores de vento, poderão muito bem merecer seu ressurgimento, mas, para surpresa de muitos, eles já estão presentes embora não sejam tão grandiosos como os iranianos -


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em muitos países ocidentais. No Reino Unido, cerca de 7.000 variações de captadores de vento já foram instaladas em edifícios públicos entre 1979 e 1994. Eles podem ser vistos em construções como o Hospital Real de Chelsea, em Londres, e em supermercados de Manchester. Esses captadores de vento modernos lembram pouco as estruturas iranianas em forma de torre. Em um edifício de três andares em uma rua movimentada no norte de Londres, pequenas torres de ventilação pintadas de rosa-choque oferecem ventilação passiva. No alto de um shopping center em Dartford, também no Reino Unido, torres de ventilação cônicas giram para capturar a brisa com o auxílio de uma asa traseira que mantém a torre voltada para a direção do vento. Os Estados Unidos também adotaram projetos inspirados nos captadores de vento com entusiasmo. Um desses exemplos é o centro de visitantes do Parque Nacional de Zion, no sul de Utah. O parque fica em um alto planalto desértico, com clima e topografia comparáveis com a região de Yazd, e o uso de tec-

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Depois de muito tempo sem uso, o estado de conservação de muitos captadores de vento iranianos não é bom, mas alguns pesquisadores querem que eles sejam restaurados e voltem a funcionar

nologias de resfriamento passivo como o captador de vento eliminou quase por completo a necessidade de ar condicionado mecânico. Os cientistas registraram diferença de temperatura de 16°C entre o lado externo e o interior do centro de visitantes, apesar das muitas pessoas que passam regularmente pelo local. À medida que se aprofunda a busca de soluções sustentáveis para o aque-

cimento global, surgem mais oportunidades que favorecem a construção de captadores de vento. Em Palermo, na Itália, pesquisadores descobriram que o clima e as condições de vento existentes fazem da cidade um local propício para uma versão do captador de vento iraniano. Em outubro, o captador de vento foi exposto com destaque na feira Expo Dubai, nos

À medida que os arquitetos buscavam formas de resfriamento, os captadores de vento iranianos inspiraram projetos modernos na Europa, nos Estados Unidos e em outras partes do mundo

Emirados Árabes Unidos, como parte de uma rede de construções cônicas no pavilhão da Áustria. Para sua idealização, a empresa de arquitetura austríaca Querkraft inspirouse no barjeel - a versão árabe do captador de vento. Enquanto pesquisadores como Kheirkhah Sangdeh argumentam que o captador de vento tem muito mais a oferecer para o resfriamento de ca-

sas sem o uso de combustíveis fósseis, essa engenhosa tecnologia já migrou para outras partes do mundo - mais do que se pode imaginar. Na próxima vez que você encontrar uma torre de ventilação alta no topo de um supermercado, edifício ou escola, examine com cuidado. Você pode estar olhando para o legado dos magníficos captadores de vento do Irã. Fonte: BBC


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Os corpos das aves estão encolhendo em resposta às mudanças climáticas, mesmo em lugares como a floresta amazônica, que são relativamente intocados por mãos humanas. Os pesquisadores estudaram informações sobre mais de 15.000 aves não migratórias, abrangendo 77 espécies ao longo de um período de 40 anos, que foram capturadas na floresta amazônica, marcadas e depois liberadas. Os cientistas descobriram que quase todos os corpos das aves ficaram mais leves desde a década de 1980, perdendo em média cerca de 2% do peso corporal a cada década, de acordo com um novo estudo publicado na revista Science Advances. Em uma espécie de ave que pesava cerca de 30 gramas na década de 1980, a população agora tem uma média de 27,6 gramas. O estudo também revelou que a envergadura estava ficando maior em um terço das espécies de aves da Amazônia que foram estudadas.

FOTO: VITEK JIRINEC

Mudanças climáticas estão afetando o formato dos corpos de pássaros, diz estudo

Bicos, pernas e orelhas de animais estão passando por adaptações

É um padrão também observado em aves migratórias norte-americanas. "Esses pássaros não variam muito em tamanho. Eles são bastante ajustados, então quando todos na população são alguns gramas menores, isso é significativo", diz o coautor Philip Stouffer, que é o professor na Escola de Recursos Naturais Renováveis da Louisiana State University. "Isso sem dúvida está acontecendo em todo lugar e pro-

vavelmente não apenas com os pássaros", afirma Stouffer em um comunicado à imprensa. "Se você olhar pela janela e considerar o que está vendo lá fora, as condições não são as mesmas de 40 anos atrás, e é muito provável que as plantas e os animais também estejam respondendo a essas mudanças. Temos essa ideia de que o as coisas que vemos são fixas no tempo, mas se esses pássaros não são fixos no tempo, isso pode não ser verdade."

ASAS COM EFICIÊNCIA ENERGÉTICA Os pássaros que viviam no alto da copa da floresta, que estavam mais expostos ao calor e a condições mais secas, tiveram as mudanças mais dramáticas no peso corporal e no tamanho das asas, descobriram os pesquisadores. Um peso corporal menor e o aumento do comprimento das asas significam que os pássaros usam a energia de forma mais eficiente, observaram os pesquisadores. Por exemplo, em comparação com um caça a jato com asas curtas que precisa de muito combustível para voar, um avião planador com corpo delgado e asas longas voa com muito menos energia. O estudo concluiu que um clima mais quente foi a força motriz dessas mudanças, mas o mecanismo em jogo não estava totalmente claro. O clima da Amazônia brasileira, onde viviam as aves, havia ficado mais quente e úmido, pelo menos na estação das chuvas, ao longo do período de estudo.

Desde 1966, as chuvas aumentaram 13% na estação chuvosa e caíram 15% na seca, com as temperaturas aumentando 1ºC na estação chuvosa e 1,6ºC na estação seca. A mudança no clima pode ter tornado os alimentos ou outros recursos mais escassos, aponta a pesquisa. "Juntas, as proporções do corpo se moveram na direção de um voo mais eficiente e menor produção metabólica de calor e são consistentes com uma adaptação plástica ou genética aos recursos ou estresse térmico sob as mudanças climáticas", diz o estudo. Os animais estão lidando com as mudanças climáticas de maneiras diferentes. No Mar Mediterrâneo, peixes, crustáceos e moluscos são encontrados em habitats mais profundos à medida que a água esquenta. Os animais estão desenvolvendo bicos, pernas e orelhas maiores que lhes permitem regular melhor a temperatura corporal à medida que o planeta fica mais quente. Fonte: www.cnnbrasil.com.br


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