EC de julho 2020: Chorai com quem chora

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EXPOSITOR CRISTÃO, ELEITO O MELHOR JORNAL CRISTÃO DO BRASIL E PREMIADO NA ARETÉ 2019

Jornal Oficial da Igreja Metodista | Julho de 2020 | ano 134 | nº 7

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FIQUE EM CASA!

PESQUISA

Os impactos do isolamento social nas igrejas evangélicas brasileiras. Página 10

CHORAR COM QUEM CHORA São mais de 58 mil pessoas mortas pela Covid-19 Página 8

NO CENÁCULO

Devocional terá novo editor nacional. Página 4

RACISMO

Mortes de negros apontam caminhos para a superação do racismo. Página 6


2018

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EDITORIAL Nos caminhos da missão servem com integridade

Julho de 2020 | www.expositorcristao.com.br

COMENTÁRIOS Edição de Junho de 2020

Capa Ver uma Igreja solidária em tempos de pandemia me motiva a continuar servindo a Deus nessa Igreja. O que me levou a me tornar metodista em 1981 foi o trabalho social desenvolvido pelas igrejas em Juiz de Fora. A essência permanece até hoje! Roberto da Silva Costa Belo Horizonte/MG

Jornal EC Estava lendo o EC e me senti impulsionado a escrever. Este jornal e o site Nacional têm sido grandes incentivadores para a Missão. Não só leio inteirinho, mas tenho escaneado e enviado para líderes do Discipulado, os motivos de oração os faço toda semana, a leitura destinada às mulheres (vai para a diretoria) e as mulheres todas, e-books sugeridos, faço o download e os encaminho. Pastor Dino Arizi | São Paulo/SP

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Revitalizar o carisma dos ministérios clérigo e leigo nos vários aspectos da missão;

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IO / ISTOCKPHOTO.COMA A STUD

Heitor Mendes Costa Rio de Janeiro/RJ

Estimular o zelo evangelizador na vida de cada metodista, de cada igreja local;

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Percebo que esse ministério é muito importante na vida da Igreja. Deveria ter uma preparação especial na formação de nossos/as pastores/as na Faculdade de Teologia. Há campo para ser pastoreado por aqueles/as que se sentem vocacionados/as para esse ministério.

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o discipulado 3 Promover na perspectiva da salvação, santificação e serviço;

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Capelania

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Joel Borges Campos | São Paulo/SP

familiares e pessoas que nem mesmo conhecemos. A dor maior está na notícia repentina, na falta de dizer um até breve. O choro é lamentável, mas também é a primeira manifestação da vida. É uma autêntica explosão de emoções que permeiam nossa vida do nascimento à morte, sendo avaliado como sinal de saúde e de energia do recém-nascido. Por outro lado, a perda de um ente querido, um/a amigo/a faz com que a pessoa entre em estado de luto, tristeza e, em alguns casos, depressão. O consolo sempre virá de Deus. O choro parece não findar nunca. A saudade fica para sempre preenchendo um buraco sem fim. Chorar com milhares de pessoas faz parte do Corpo de Cristo. “De maneira que, se um membro sofre, todos os membros sofrem com ele” (I Co 12.26). Que haja o consolo divino e da Igreja para com todas as pessoas enlutadas. PR

Muito boas as dicas para uma Igreja em tempos de pandemia. Seremos uma nova Igreja em um novo tempo. Teremos que nos reinventar. Nunca pensei que fosse vivenciar um tempo de afastar-se de abraçar como recomenda o livro de Eclesiastes.

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as edições de julho de anos anteriores, sempre mencionamos os projetos missionários realizados nas Regiões Eclesiásticas e Missionárias. Este ano não foi possível. O mundo vive momentos difíceis devido à pandemia de Covid-19. Até fecharmos esta edição, o número de mortes tinha passado dos 58 mil. Dentre essas vidas, está meu sogro, João Gomes das Chagas, que faleceu em Uberaba/ MG, no dia 18 de junho. Somamos a milhares de pessoas que tiveram familiares perdidos pelo novo coronavírus. É algo difícil de explicar. Na semana anterior conversávamos ao telefone e, na semana seguinte, chega para minha esposa uma foto dele recebendo oxigênio no hospital porque estava com falta de ar. Dali até o óbito foram mais seis dias apenas. Durante esse período, oramos e choramos. Fizemos o que podíamos fazer. O tema da edição de julho já estava definido – Chorar com quem chora. Foi uma maneira que encontramos de nos solidarizarmos com as quase 60 mil pessoas que perderam amigos/as,

da Igreja Metodista

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Pandemia

Chorar com quem chora

Ênfases missionárias

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Fortalecer a identidade, conexidade e unidade da igreja;

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Implementar ações que envolvam a igreja no cuidado e preservação do meio ambiente;

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Promover maior comprometimento e resposta da igreja ao clamor do desafio urbano.

Pr. José Geraldo Magalhães

Editor-chefe | Expositor Cristão

OPINIÃO | CHORAR COM QUEM CHORA “A dor é um tema que perpassa a realidade dos/as enlutados/ as. As convergências encontradas na pesquisa evidenciam o quanto a dor é uma das linguagens do luto. Está presente no processo de luto e caminha com o conforto. A dor é expressa por atitudes de desespero, pensamentos suicidas e palavras como ‘um golpe’, ‘uma ferida’, ‘um choque’. As divergências elucidam uma dor que caracteriza tipo de perda.”

“Nestes dias, estamos chorando com famílias que perderam entes queridos e nem pudemos estar com elas por conta do isolamento social. Diante da dor do outro nos comovemos, mesmo quando não presenciamos o lamento de nossos amigos e amigas. Até Jesus chorou com a morte de seu amigo Lázaro. Que Deus console o seu povo nesse tempo.” Pr. Dilmar Paradela | Belo Horizonte/MG

Dra. Blanches de Paula | Fateo “O luto sempre foi uma tarefa árdua e também abençoada. É a expressão do quanto alguém foi bênção em nossa vida e devemos emprestar os nossos ombros aos/às mais entristecidos/as. Nunca esteve tanto em alta nesse tempo de pandemia. Como tem sido difícil não prantear no tempo e na intensidade devida aqueles/as que passaram por nossa vida. Como tem sido difícil não prestarmos nossos ombros aos/às mais atingidos/as.”

"Não cremos, à luz do entendimento da graça de Deus, que uma pandemia desta seja um castigo divino. Pensar assim é desqualificar o amor de Deus. As pessoas que perdemos e que conhecemos não eram perversas, desprovidas de misericórdia, incrédulas ou sem temor do Senhor. E das muitas que nós não conhecemos, certamente receberemos o mesmo testemunho de quem as amava.” Colégio Episcopal

Pr. Jaeder Maia | Juiz de Fora/MG

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Expositor Cristão Presidente do Colégio Episcopal: Bispo Luiz Vergílio Batista da Rosa Bispa Assessora do jornal Expositor Cristão Hideíde Brito Torres Conselho Editorial: Camila Abreu, Patrícia Monteiro, Pr. Odilon Chaves

Jornal Oficial da Igreja Metodista Fundado em 1º de janeiro de 1886 pelo missionário John James Ransom

Editor e jornalista responsável: Pr. José Geraldo Magalhães (MTB 79517/SP) Produção Audiovisual: Rodrigo de Britos Foto de Capa: KatarzynaBialasiewicz/istockphoto.com Arte: Fullcase Comunicação

Revisão: Adriana Giusti Tiragem: 15 mil exemplares Entre em contato conosco: (11) 2813-8600 | www.expositorcristao.com.br expositorcristao@metodista.org.br Av. Piassanguaba, 3031 - Planalto Paulista São Paulo/SP - CEP 04060-004

*A REDAÇÃO DO JORNAL EXPOSITOR CRISTÃO É RESPONSÁVEL POR TODAS AS MATÉRIAS NELE PUBLICADAS, COM EXCEÇÃO DE ARTIGOS E REFLEXÕES, QUE SÃO RESPONSABILIDADE DE SEUS/AS AUTORES/AS.

Oceano


NACIONAL

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Oferta Missionária nacional vai até 31 de outubro

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stá no ar o site da Campanha Nacional de Oferta Missionária 2020. Você pode doar até o Dia da Reforma Protestante, em 31 de outubro. Com o tema “Sua oração, sua doação, uma Igreja”, falamos sobre esse momento em que a Igreja se une para levantar uma oferta única direcionada à expansão missionária nas Regiões Missionárias do Norte e do Nordeste. Em 2020, celebramos 25 anos de Oferta Missionária e nos vemos diante do desafio de alcançar a expectativa nacional de 840 mil reais em doação, mesmo realizando a arrecadação a distância, com a maioria das nossas cidades vivendo um tempo de distanciamento social. Você pode doar para a Oferta Missionária por meio de transferência bancária ou através do seu cartão de crédito utilizando o Paypal, no site doacoes.metodista. Basta preencher os dados e o valor, selecionar a campanha e concluir a doação. No site da campanha você encontra todo o material necessário para realizar a mobilização na sua igreja local de forma digital: publicações no formato de Facebook, Instagram, Story e WhatsApp; vídeos para as Regiões Missionárias e Eclesiásticas; Materiais para crianças e mais. No site você também confere mais informações sobre a história da campanha, conhece as igrejas que receberam a oferta em 2019 e as que vão receber nossas doações em 2020. /// Acesse: https://ofertamissionaria.metodista. org.br/2020

PALAVRA EPISCOPAL Bispo Luiz Vergílio Batista da Rosa Presidente do CE e da 2ª Região Eclesiástica

Chorar com quem chora “Em Ramá se ouviu uma voz, Lamentação, choro e grande pranto: Raquel chorando os seus filhos, E não quer ser consolada, porque já não existem” (Mateus 2.18)

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xistem nomes próprios que carregam significados, os quais, muitas vezes, extrapolam a simples referência de uma pessoa específica. Esses nomes carregam uma história familiar, ou passam a referir situações históricas coletivas. O nome Raquel, cujo sentido originário significava “ovelha”, relaciona-se a uma mulher, pastora de ovelhas, filha de Labão, esposa de Jacó e mãe de José e Benjamin, por exemplo; no olhar do evangelista, recorrendo às palavras do profeta Jeremias que declara pranto e esperança de júbilo futuro, torna este nome representativo de situações de sofrimento coletivo e choro das mulheres e de todo um povo (Gênesis 29.6, 35, 20; Jeremias 31.15).

Portanto, vivemos um tempo de choro sem consolo, como Raquel chorando por seus filhos e filhas que não mais existem. Hoje, as famílias não têm tempo de elaborar o luto e despedir-se, de forma digna e adequada, de seus/as mortos/as. Há perdas de pessoas de, praticamente, todas as faixas etárias, vítimas desta contaminação, cuja solução definitiva a comunidade científica ainda não encontrou.

3. A presença da consolação

Entretanto, se há choro, pranto, lamento e dor, há também os desafios à prática da solidariedade, ao consolo, à promoção da vida, da esperança, do anúncio das Boas-Novas. 1. A realidade da Neste sentido, a Igreja morte tem um papel sacerdotal e O Deus Trino, na pessoa profético junto à sociedade Jesus de Nazaré, deparoude, anunciando o Reino de “Vivemos um tempo -se com as circunstâncias Deus, como manifestação da humanas que atentam conde choro sem consolo, Graça salvadora, redentora e tra a vida, desde que assumiu libertadora, em Cristo, e que como Raquel chorando se manifesta na prática do a forma do Deus Emanuel, entre nós. Existem múltiplas da justiça, da paz, da por seus filhos e filhas amor, formas que atentam contra a reconciliação e do respeito e que não mais existem. defesa intransigente da vida vida humana e, particularmente, à morte de crianças. humana. Hoje, as famílias não A ambição humana pelo Particularmente, a oração poder, ao longo da história, têm tempo de elaborar surge como a grande força desconsidera a vida, como mobilizadora dos cristãos o luto e despedir­um valor indelegável, como e cristãs, do povo chamado fruto do sopro divino, que metodista, na tarefa da con-se, de forma digna e nos torna iguais em nossa solação e no sustento e apoio humanidade e no reconheadequada, de seus/as emocional e espiritual às cimento que ela é obra do pessoas profissionais da área mortos/as” Criador. Herodes é a persode saúde, no enfrentamennalização representativa de to cotidiano desta epidemia uma sociedade e do poder nas unidades de saúde e nos estatal, que se utiliza de tohospitais, bem como aos/ dos os meios possíveis para manter-se; ainda que às cientistas empenhados/as na busca de vacina isso signifique dispor da vida de outras pessoas. e medicação que possibilite estancar a letalidade deste vírus.

2. A realidade do sofrimento

Certamente que vivemos um tempo de muito sofrimento de milhares de famílias, no mundo e em nosso país, que estão a lamentar a morte de seus entes queridos/as, vitimados/as pela pandemia de Covid-19. Esta realidade revela a fragilidade dos sistemas públicos de saúde, bem como explicita o distanciamento social e econômico de nossa população. A necessidade de distanciamento social e de medidas sanitárias pessoais e coletivas, que cria rotinas e novos procedimentos às pessoas e às instituições, agudiza outros pecados sociais latentes, tais como o racismo, a violência às mulheres, crianças, o desemprego e as atividades informais de milhões de famílias.

Conclusão

Andamos pela fé, na certeza da soberania e misericórdia de Deus para com toda a humanidade, a despeito de nossos pecados pessoais e sociais, que afetam as relações de harmonia e de equilíbrio do ecossistema mundial. Este é um tempo de chorar com quem está chorando, na certeza da bem-aventurança do consolo divino, e que, como no relato bíblico de Mateus, a mensagem profética do anjo de Deus possa nos dizer: “dispõe-te, toma o menino e sua mãe… porque já morreram os que atentavam contra a vida do menino” (v. 20). Na certeza de que esta batalha será vencida!

© FÁBIO H. MENDES/EC

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NACIONAL

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Participe do Novo editor nacional do no concurso do Cenáculo assume em agosto no Cenáculo A 2020

Como funciona?

A organização ou a pessoa interessada deverá preencher o formulário contendo a descrição do projeto. A natureza da proposta poderá atender à demanda da organização ou do projeto individual. Por isso, há flexibilidade na organização do projeto dentro das diversas áreas de circulação do no Cenáculo, por exemplo, igrejas nas áreas de evangelização, ação social e evangelização, capelanias hospitalares, escolares, penitenciárias, supermercados, aeroportos, rodoviárias, trens, táxis, fábricas, ônibus, retiros espi-

rituais, programas evangelísticos, clubes ou concentrações esportivas. O projeto deverá focar a utilização do no Cenáculo dentro do propósito escolhido.

Prêmios

Serão contemplados três projetos nacionais, classificados por suas respectivas regiões, que apresentarem melhores condições de aplicabilidade, criatividade e retornos para novas ações missionárias seguindo na seguinte ordem: 1º Prêmio: 600 exemplares de no Cenáculo (cada bimestre – 100), equivalente a R$ 5.820,00 (valor atualizado do exemplar – R$ 9,70, edição bolso) 2º Prêmio: 450 exemplares de no Cenáculo (cada bimestre – 75), equivalente a R$ 4.365,00 3º Prêmio: 300 exemplares de no Cenáculo (cada bimestre – 50), equivalente a R$ 2.910,00

Comissão de análise dos projetos

O editor nacional do no Cenáculo designará uma comissão, composta de cinco pessoas, que fará a análise dos projetos encaminhados e definirá os dez projetos escolhidos.

Divulgação dos resultados

A comissão divulgará a relação dos projetos enviados e os/ as respectivos/as vencedores/ as em data a ser divulgada em breve.

Depois de sua aposentadoria o senhor assumirá um novo compromisso como editor nacional do no Cenáculo. O que o levou a aceitar mais esse desafio?

O devocional diário no Cenáculo é um ministério muito significativo para a missão metodista. Falo em ministério porque sua tarefa de alimentar a espiritualidade devocional diária das pessoas tem uma abrangência que vai muito além da Igreja Metodista. É esse ministério que me levou a assumir este desafio. Aproveito aqui para agradecer ao Colégio Episcopal a confiança para esse ministério.

Considerando os vários cargos que já ocupou na vida da Igreja, podemos dizer que sua principal vocação é com o pastoreio. O no Cenáculo também é um campo a ser pastoreado? Por quê?

Como disse acima, o no Cenáculo é um ministério e por consequência trata-se de um espaço de pastoreio.

© ARQUIVO PESSOAL

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ara comemorar o Dia Nacional do no Cenáculo – celebrado em junho –, você pode inscrever o projeto missionário de sua igreja local no concurso no Cenáculo 2020. Essa é uma oportunidade para igrejas, organizações, ministérios e até mesmo para você que é ou gostaria de ser um/a agente do no Cenáculo. O período de inscrições vai até o dia 30 de outubro. São vários os projetos missionários que podem ser abençoados pelo no Cenáculo, por exemplo, igrejas, escolas, penitenciárias, hospitais, clubes ou qualquer lugar para onde você queira levar a palavra de Deus. No mês de novembro (data a ser divulgada), a comissão divulgará, por meio das redes sociais, organizações ou pessoas apreciadas, os três primeiros projetos contemplados.

partir de agosto, o no Cenáculo terá um novo editor nacional. Quem vai assumir o cargo será o Rev. Nicanor Lopes. Entrevistamos o pastor, que contou sobre o ministério no Cenáculo como um importante instrumento de missão na vida da Igreja Metodista.

Claro que um ministério específico, mas um espaço significativo de pastoreio.

O senhor passou por um processo delicado de saúde recentemente. Sente-se recuperado e preparado para essa missão que Deus o chamou?

Sim. Sou muito grato a Deus pela minha recuperação. Resumo minha experiência com o infarto do miocárdio em três palavras: milagre, oração e gratidão. Milagre porque várias situações clínicas conspiraram contra a minha vida e todas foram superadas. Oração porque tenho a convicção de que o milagre que recebi foi fruto de uma grande corrente de oração dentro e fora da Igreja Metodista. E, por fim, gratidão por causa das

razões citadas. Portanto, sinto-me recuperado e aberto ao aprendizado para este novo ministério.

Todos os novos desafios são acompanhados de novas responsabilidades. Como o senhor pretende conciliar os trabalhos como editor nacional e família?

Me aposentei para atender melhor a família, em especial, os netos e as netas. A equipe do no Cenáculo é boa e experiente, e isso permite uma agenda mais flexível para o editor. Creio que não terei problemas para conciliar o atendimento deste ministério com a família.


ENTREVISTA Julho de 2020 | www.expositorcristao.com.br

Ex-editor do no Cenáculo deixa importante contribuição para o devocionário

muitos. A igreja Metodista tem uma história na área de literatura há mais de um século, ou seja, os seus selos, Expositor Cristão, Revistas da ED, Voz Missionária, no Cenáculo, EDITEO, têm uma folha de serviço admirável no contexto do mundo editorial evangélico. As crises ocorridas no processo de gestão prejudicaram grandemente o avanço do metodismo na literatura, tendo como propósito maior capacitar a Igreja para a missão. Criamos um vazio e, lamentavelmente, as concorrências internas e externas não pedem licença, especialmente à luz de um contexto descartável e com profundas ameaças à integridade evangélica. Aos poucos tentamos reconquistar espaços, e a criação da Angular Editora poderá ser um instrumento importante de amparo ao projeto editorial da Igreja Metodista. Portanto, o grande desafio foi, exatamente, organizar o selo do no Cenáculo – mais do que uma revista – dentro da nova configuração da área nacional e, especialmente, despertar na vida da Igreja a importância de uma vida devocional frutífera, aben-

Pr. José Geraldo Magalhães

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Sinceramente, quando deixei o episcopado ativo no início de 2012 não havia um planejamento de assumir o cargo de editor nacional. Assumi o ministério no momento de transição (reestruturação) quando os órgãos nacionais decidiram trazer o no Cenáculo para a gestão da área nacional. Ou seja, encerrando o processo de terceirização com a empresa, então responsável pela produção e comercialização. Fui desafiado a reorganizar esse novo momento com muitos desafios, bem como conhecer melhor a estrutura desse periódico que tem a concessão da The Upper Room, para a publicação da edição na língua portuguesa (Brasil). O no Cenáculo é uma grande paróquia com uma diversificação extraordinária de pessoas e culturas que encontram nesse “livrinho” uma palavra que fala, toca e inspira nos movimentos da vida com suas

variações. Dessa forma, uma maravilhosa experiência de pastoreio dentro de um contexto de proclamar o amor de Deus indo além da organização eclesiástica sob o pulsar do Espírito Santo. O no Cenáculo tem concentrado sua missão em três pilares fundamentais da vivência cristã: edificação, evangelização e discipulado.

O senhor deu continuidade ao trabalho do Bispo Nelson e inseriu novas demandas na vida do no Cenáculo. Como vê o trabalho que realizou à frente do periódico?

O Revmo. Bispo Nelson Luiz Campos Leite realizou um trabalho exemplar no ministério do no Cenáculo durante vários anos. Ampliou o seu leque ministerial, por meio do Disk Oração, uma série de textos adequados ao perfil do no Cenáculo, programa radiofônico, bem como um importante trabalho de atendimento espiritual. A gestão de uma organização

é dinâmica e, nesse sentido, requer sensibilidade para atender a novas demandas do dia a dia da nossa realidade social com tantas carências relacionais. Nessa perspectiva, ampliamos algumas frentes do ministério do no Cenáculo, por exemplo, algumas intervenções no projeto editorial, produção de livros devocionais, lançamento da Bíblia Celebrativa dos 75 anos do no Cenáculo, edições especiais do no Cenáculo, capas personalizadas, organização de seminários destacando a importância da vida devocional, elaboração do livro dos 80 anos do no Cenáculo. O trabalho é dinâmico e requer mudanças e ajustes, especialmente dentro de uma realidade de muita “concorrência” de devocionários e, igualmente, com profundas mudanças em decorrência da tecnologia.

Qual foi o maior desafio enfrentado nesses sete anos como editor nacional?

Creio que os desafios foram

Pela vivência como bispo e editor do no Cenáculo, qual experiência que fica à frente desse ministério?

A experiência que fica é a oportunidade de servir a Deus nesse ministério com alegria e singeleza de coração. Igualmente, colocar no coração o ensino bíblico: “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu” (Eclesiastes 3.1).

Quer acrescentar algo mais?

Agradecer a Deus pela oportunidade de servir nesse ministério e a Igreja Metodista pela confiança depositada no meu ministério pastoral. A equipe da

© ARQUIVO EC

Em sua caminhada ministerial o senhor nunca deixou de ser pastor. Quando assumiu como editor do no Cenáculo, em 2013, o senhor viu também essa possibilidade de pastoreio? Por quê?

© ARQUIVO NO CENÁCULO

Bispo Adriel de Souza Maia, que esteve sete anos à frente do no Cenáculo, deixará o cargo de editor nacional do devocioário no final de julho. É um processo de transição porque as edições até o final do ano já estão em fase de produção. Logo após a aposentadoria, em 2012, o bispo aceitou o convite para fazer a transição do no Cenáculo para a área nacional da Igreja. Os desafios foram grandes, mas, segundo ele, foram alcançados. Veja a entrevista com o bispo logo abaixo na qual ele compartilha várias experiências vivenciadas dentro desse ministério do no Cenáculo.

vos desafios surgem. Cargos não são eternos e, sempre, as mudanças são importantes para o enriquecimento de uma organização experimentando novas experiências no caminho da missão. Sim, deixo o cargo de editor do no Cenáculo, mas reafirmo o meu compromisso com o ministério do no Cenáculo no seu afã de anunciar o desafio do encontro diário com Deus, por meio de suas páginas, que testemunham a presença de Deus na vida de tantas pessoas ao redor do mundo.

Bispo Adriel (à direita) quando assumiu o cargo ocupado anteriormente pelo Bispo Nelson.

çoada e madura, objetivando servir a Deus de forma agradável no mover de uma espiritualidade para a vida.

Pode compartilhar por que decidiu deixar esse ministério?

Cheguei ao ministério do no Cenáculo para atender a uma situação de transição após o meu pedido de aposentadoria. Na minha perspectiva, essa etapa foi vencida e, agora, no-

Sede Nacional, que sempre me acolheu com simpatia e disponibilidade. Muito obrigado ao Expositor Cristão pelo suporte jornalístico na caminhsda do no Cenáculo. Aproveito este espaço para acolher o Rev. Nicanor Lopes e desejar-lhe um ministério frutífero à frente do no Cenáculo sob a bênção de Deus. Gratidão e reconhecimento.

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IGREJA E SOCIEDADE Julho de 2020 | www.expositorcristao.com.br

mundo viu um país em chamas. Engana-se quem pensa que seja uma metáfora. Literalmente alguns estados dos Estados Unidos foram incendiados em virtude da morte de George Floyd (negro) por um policial branco. No mesmo mês do ocorrido, o Brasil viu-se diante de duas mortes: de um menino negro da periferia do Rio de Janeiro, de nome João Pedro, pela polícia militar e de outro menino negro, Miguel, que foi deixado sozinho no elevador pela patroa da mãe e caiu do nono andar de um prédio no Recife. Essas tragédias ganharam repercussão nacional e internacional, mas e o racismo do dia a dia? Do ponto de vista histórico, o metodismo tem uma tradição de luta abolicionista incentivada por John Wesley ao parlamentar Wilberforce. Na ocasião, Wesley disse que a luta pela abolição era uma missão que Deus havia conferido ao parlamentar e que ele não deveria retroceder nessa empreitada1. No Brasil presencia-se o racismo em diversos setores da sociedade. Os casos que eclodiram ao redor do mundo e ocorrem em várias localidades do país mostram que o assunto ainda é pauta e necessita-se aprofundar a questão para sua superação e reparação dos prejuízos dessa prática discriminatória em relação à população negra. Algumas alternativas podem ser pensadas para a superação do racismo, sobretudo, nas comunidades de fé. A primeira delas (e principal) é a educação. As ações missionárias da igreja são todas elas pedagógicas, uma vez que estão em consonância com os ensinos de Jesus Cristo. Tanto os espaços de pregações e ensino quanto as demais atividades das igrejas circundam em torno desse espaço pedagógico, e a educação é o caminho pelo qual nos libertaremos das amarras do racismo. Nossas histórias e memórias devem ser contadas e recontadas a partir de um viés descortinador, isto é, conferindo voz e vez às pessoas que estão à margem dos sistemas tidos como hegemônicos. Precisa-se voltar à história de Wesley com Wilberforce; o entusiasmo metodista pela santidade social; a busca pela perfeição cristã e o prisma da igualdade e isonomia que sempre caracterizou nossa fé. A partir disso pode-se contextualizar a história da negritude no Brasil, que depois

© SEBASTIANOSECONDI / ISTOCKPHOTO.COM

Caminhos para a superação do racismo O

da abolição da escravidão teve apenas duas opções: continuar como escravo (consentido) ou ir para a margem do sistema, posto que uma política de “embranquecimento” foi adotada, privilegiando a mão de obra europeia e asiática (alheia ao sistema de produção brasileira) em detrimento da mão de obra negra (que já conhecia todo o sistema)2. As condições não foram iguais para negros/as. Isso deve ser repetido e destacado. Por isso não se pode fingir que os pressupostos são iguais:

ideia do “negro/a vagabundo/a”: uma “fake news” (para utilizar um termo atual). Somente pela educação que pontue a história do/a negro/a no Brasil e sua luta por direitos e igualdade de condições é que se pode superar o ideal do racismo. Educação: primeiro passo para a superação do racismo. O segundo ponto a ser destacado são as ações afirmativas. A Igreja Metodista possui um excelente trabalho com sua pastoral de combate ao racismo e outras afirmações da identidade negra. Isso precisa ser trabalha-

“Os antigos hebreus eram negros muito influenciados pela cultura egípcia. Moisés, libertador de Israel, era um homem negro, e a cultura negra africana foi uma das grandes formadoras do mundo antigo” não partiram todos do mesmo ponto. Europeus/as e asiáticos/ as receberam incentivos do Estado. Para o/a negro/a, nada. Muitos/as patrões/as recusavam-se a pagar por aqueles e aquelas que trabalharam a vida toda de graça para eles/as. Preferiram investir em outra mão de obra. Construiu-se então a

do na comunidade de maneira pedagógica. Importante salientar que o intuito é mostrar que a identidade negra foi e é parte da construção histórica do país, tendo em vista que o racismo se mostra velado, mas de forma estrutural, sistêmica e ambiental, por isso é necessário que se reafirme a identidade do/a

negro/a como parte integrante da construção do Brasil, e não como subserviente3. Por racismo estrutural entende-se a formação das elites político-econômicas que não contemplam o/a negro/a em sua formação. Sistêmica pelo fato de que se repete como um sistema fechado sem possibilidade de abertura equitativa. Ambiental (ou geográfica) porque se delimita um limite (invisível) para que o/a negro/a não tenha acesso e fique relegado/a a determinados ambientes de menor expressão econômica. Por fim, necessita-se de uma leitura teológica contemporânea partindo das teologias contextuais. Um dos grandes avanços nos estudos bíblicos e antropológicos é o resgate das tradições perdidas. Os antigos hebreus eram negros muito influenciados pela cultura egípcia. Moisés, libertador de Israel, era um homem negro, e a cultura negra africana foi uma das grandes formadoras do mundo antigo4. O próprio Jesus de Nazaré situava-se numa miscigenação cultural de Israel, “a Galileia das nações”, e foi fortemente influenciado pela cultura africana do Egito e negra do norte de Israel. Tais chaves de leitura são possíveis por meio de estudos bíbli-

cos contemporâneos. A raiz da história da salvação é negra. Isso não pode ser negado nem omitido. Pela releitura da história, ações afirmativas e aprofundamento teológico pode-se ajudar a combater o racismo nas comunidades de fé. Para tanto é necessário que as lideranças empenhem-se no ensino e na busca por esse ideal, pois o metodismo caracteriza-se, entre outras coisas, pela ênfase e empenho nos estudos e no combate às desigualdades. Luis Fernando de Carvalho Sousa Superintendente da Escola Dominical na Igreja Metodista em Cidade Alegria. Distrito de Resende/RJ

1. https://www.christianitytoday. com/history/issues/issue-2/wesley-towilberforce.html 2. SOUZA, Jessé. A elite do atraso: da escravidão à Lava-Jato. Rio de Janeiro: Leya, 2017. 3. Gostaria de fazer menção de alguns nomes que atuaram e atuam na luta contra o racismo na Igreja Metodista: Melchias Silva, pastora Kaká, Diná, Neusa, André Ras, Deyse Gomes, Oswaldo de Oliveira Santos, Andreia Fernandes, Lídia Maria, José Loiola e Bispo Paulo Ayres, além de outra dezena de pessoas. Esses me ajudaram a compreender a importância da luta conta o racismo na Igreja e, de certa maneira, são corresponsáveis por essa reflexão, uma vez que fazem parte dela. 4. Dussel, Enrique. El humanismo semita. Buenos Aires: Eudeba, 1979.


IGREJA E SOCIEDADE

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Julho de 2020 | www.expositorcristao.com.br

Fiocruz é designada pela OMS como referência para Covid-19 nas Américas Redação EC

© ERASMO SALOMÃO/MS

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Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) foi nomeado Laboratório de Referência da Organização Mundial da Saúde (OMS) para Covid-19 nas Américas. A partir da formalização do acordo entre a OMS e a Fiocruz, a unidade passa a realizar testes confirmatórios da doença na região, além de integrar a rede de especialistas em laboratório da entidade para a Covid-19. Na alegria da conquista da Fiocruz, destacamos um casal metodista, Pastor Nelson Marriel, com 36 anos de ministério pastoral, e sua esposa, Simone Assis, médica pesquisadora concursada que atua há 30 anos na Fiocruz no Rio de Janeiro. A forte ligação do casal com a Fiocruz acontece da seguinte maneira: o Pr. Nelson trabalhou três anos, como bolsista, em um projeto na Fiocruz Rio e atuou na Pastoral da Juventude em Conflito com a Lei. O projeto encerrou-se em novembro de 2018, mas ele ainda frequenta alguns cursos e eventos na fundação, também faz palestras na área de Teologia. Pertenceu ao comitê de ética em pesquisa no IFF-Fiocruz por dez anos, que fica em Botafogo, na Rua Rui Barbosa. A Dra. Simone, médica sanitarista especializada com doutorado e pós-doutorado em saúde e violência, conta com as orações

/// Com informações: Portal Fio Cruz / Pr. Luiz Daniel

coronavírus (Sars-CoV-2) no diagnóstico de amostras e na capacitação de equipes para análises laboratoriais, incluindo treinamentos de profissionais dos laboratórios públicos do Brasil e de países da América Latina. A formalização como Laboratório de Referência nas Américas ocorreu a convite da OMS. Além do Laboratório do IOC, o Laboratório para Diagnóstico de Vírus Respiratórios do Centro de Controle e Prevenção de

“A partir da formalização do acordo entre a OMS e a Fiocruz, a unidade passa a realizar testes confirmatórios da doença na região, além de integrar a rede de especialistas em laboratório da entidade para a Covid-19” da Igreja, já que nesse tempo de pandemia tem trabalhado intensamente. Não para glória ou vaidade da Dra. Simone Assis, mas sim em reconhecimento de seu esforço em prol da vida, que o seu pós-doutorado foi feito na Universidade de Cornell EUA. O Laboratório vem atuando desde a emergência do novo

ratórios, fortalecendo e consolidando o Sistema Único de Saúde e contribuindo para a promoção da saúde e da qualidade de vida da população brasileira. Também é um reconhecimento do Ministério da Saúde, por todo esforço desenvolvido, através da Secretaria de Vigilância em Saúde e da Coordenação Geral de Laboratórios de Saúde Pública, para melhorar a vigilância e o conhecimento sobre os vírus respiratórios no nosso país”, afirma a chefe do Laboratório de Vírus Respiratório e do Sarampo, Marilda Siqueira. “Tudo isso faz com que os dados gerados no Brasil tenham força e representatividade para influenciar as análises globais sobre a situação dos vírus influenza e, agora também, do coronavírus”, acrescenta a pesquisadora. Desde a década de 1950, o Laboratório do IOC/Fiocruz atua como referência nacional em influenza junto à OMS, integrando o Sistema Global de Vigilância e Resposta à Gripe, criado após a pandemia de gripe asiática de 1957. A análise dos vírus circulantes no país contribui para determinar a composição da vacina anual e para a avaliação de risco da OMS.

Doenças (CDC), dos Estados Unidos, atua como referência no continente. "Sermos escolhidos como um dos dois laboratórios de referência nas Américas é um reconhecimento não apenas do nosso Laboratório, mas da Fiocruz pelo trabalho realizado, ao longo de décadas, com vírus respi-

Orientação episcopal aos pastores e pastoras inseridos no grupo de risco

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uitas vezes se diz que a pessoa considerada herói, na verdade, é a que não teve tempo de correr! Ou seja, se há um instinto, criado por Deus, mais forte em nós é o da sobrevivência. Temos estabelecido uma longa luta, sem quartel, a favor da vida, apoiando o distanciamento social e todas as medidas preventivas de proteção à saúde e à contaminação provocada pela Covid-19. Esta não é uma guerra ideológica, política ou econômica; é uma luta a favor de preservar (salvar) a maior quantidade de pessoas possíveis do óbito. Somos pastores e pastoras que seguimos o Bom Pastor, que é Cristo. Esta-

mos dispostos/as a deixar as 99 que já estão seguras, e ir atrás daquela mais fragilizada, para resgatá-la. Por isso, nossa decisão sobre permitir a quebra, ou a flexibilização, do distanciamento social e das medidas protetivas individuais e coletivas, à luz de Decretos de órgãos de Governo, nas diversas instâncias, deve ser feita com temor e respeito à nossa própria vida, bem como à de outras pessoas. Assim, minha orientação a vocês com mais de 60 anos, ou que tenham debilidades de saúde pré-existentes, é para não se expor às atividades que congreguem mais pessoas presencialmente, seja em cultos, seja em diversas reuniões da igreja local, tal qual estamos orientando toda a nossa membresia leiga.

Tudo quanto compete a nós cuidar, Deus espera que o façamos. Não se trata de falta de fé nEle, que pode operar milagres, mas de crer que Ele está conosco e nos orienta na valorização e preservação da vida. Também os pastores e pastoras, mesmo com menos de 60 anos, mas que apresentam quadro de problemas respiratórios, bronquite crônica, asma, diabete, pressão alta e outras morbidades, devem observar esses mesmos cuidados. Cremos que logo vamos poder retomar, com maior segurança, as nossas ações plenas, e, sinceramente, espero que todos e todas possamos estar juntos e juntas para celebrar este fato. Em Cristo, Bispo Luíz Vergílio


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CAPA Julho de 2020 | www.expositorcristao.com.br

Pr. José Geraldo Magalhães

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ão 58,3 mil pessoas mortas pela Covid-19, de acordo com informações do Ministério da Saúde. São milhares de pessoas que partiram tão repentinamente sem ao menos ter uma despedida de seus/as familiares. O tema desta edição, Chorar com quem chora, é justamente para lembrar daqueles/ as que partiram. Talvez você conheça alguém próximo do seu círculo de amizades ou até mesmo um/a parente que teve coronavírus e se recuperou, que está na luta para sobreviver nos hospitais ou que foi mais uma vítima da Covid-19. O choro é lamentável, mas também é a primeira manifestação da vida. É uma autêntica explosão de emoções que permeiam nossa vida do nascimento à morte, sendo avaliado como sinal de saúde e de energia do recém-nascido. As médicas Betina Lejderman e Sofia Bezerra, em artigo publicado na Revista Brasileira de Psicoterapia, destacam que o choro é desencadeado por diversos estados emocionais. “Vai desde a tristeza, raiva, ansiedade, frustração, rejeição, desespero, solidão, cansaço e dor até alegria, felicidade, alívio e gratidão; ou seja, manifesta-se em vários acontecimentos, sejam eles positivos, como nascimentos, casamentos e premiações, sejam negativos, tais como perda de pessoas queridas e fracassos”, dizem as pesquisadoras. A perda de um ente querido, um/a amigo/a faz com que a pessoa entre em estado de luto, tristeza e, em alguns casos, depressão. As médicas destacam ainda que em situações de atendimento médico, mesmo sendo um ambiente onde o choro é “permitido”, o que se observa, muitas vezes, é que os/as pacientes se sentem envergonhados/ as, chegando frequentemente a se desculparem. “Isso mostra como o choro está associado a constrangimentos tanto de quem chora quanto de quem as-

CHORAI COM QUEM CHORA

Quase 60 mil pessoas foram mortas pela Covid-19 até o fechamento desta edição

siste, uma vez que também pode despertar nas pessoas em volta um impulso para fazer algo que auxilie na resolução e interrupção do choro.

Colégio Episcopal

Os/as bispos/as da Igreja Metodista publicaram recentemente a Carta Pastoral Oração, caminhos de esperança, com o intuito de fortalecer o Corpo de Cristo diante da pandemia. “Nós nos reunimos toda semana desde o início desta pandemia. Semanalmente, todos e todas nós oramos juntos pela vitória contra todo tipo de mal. A cada semana nós apresentamos nomes, igrejas, comunidades, diante do trono de Deus. Desafiamos nossas igrejas locais a orar também, pelo menos uma vez por semana, organizando-se em um só propósito, de mobilizar os céus a nosso favor, clamando por misericórdia”, menciona trecho da carta. O documento, que aborda o atual cenário de crise política e

econômica, traz como reflexão o texto inspirado no capítulo 2 do livro do profeta Jeremias. “É preciso assumir a dor do luto, da perda. Uma dor como nunca antes sentida, porque o luto deixou de ser uma experiência de famílias ou de grupos para se tornar um clamor nacional, um clamor mundial. A amplificação desses sentimentos aumenta a ansiedade, a depressão, a melancolia, em muitos corações. Mais do que nunca, apesar do isolamento social, faz-se necessária uma solidariedade prática e emocional que dê sustento a cada um e a cada uma de nós”, disseram os bispos e bispas. O documento prossegue afirmando a necessidade de encarar a dor, pois o profeta Jeremias não escondeu sua dor. Ele a escancarou e procurou os motivos pelos quais o povo passava por aquele momento. Jeremias atribuiu a situação ao pecado do povo e especificou alguns deles em seu livro.

“Não cremos, à luz do entendimento da graça de Deus, que uma pandemia desta seja um castigo divino. Pensar assim é desqualificar o amor de Deus. As pessoas que perdemos e que conhecemos não eram perversas, desprovidas de misericórdia, incrédulas ou sem temor do Senhor. E das muitas que nós não conhecemos, certamente receberemos o mesmo testemunho de quem as amava (…). O coronavírus não escolhe suas vítimas por credo, etnia ou gênero. No entanto, ele faz mais vítimas entre determinados grupos sociais dada a realidade da fragilidade econômica, do distanciamento de locais de tratamento, da pobreza, da falta de recursos, da ausência do poder público efetivo. Assim, vemos aumentar o número das pessoas que morrem nas periferias, nas aldeias, entre os grupos indígenas, nas comunidades”. A posição do Colégio Episcopal nessa Carta Pastoral, dispo-


CAPA

1.368.195

Julho de 2020 | www.expositorcristao.com.br

Casos confirmados

757.462

forças para lidar com a perda e com o sentimento de impotência. A experiência da fé no processo do luto é ressaltada na educação recebida pelos pais. A família é corresponsável na educação para a morte. Esse processo é facilitado pela vivência da fé dos pais. No processo do luto, a fé possibilita pedir a morte do ente querido para aliviar o seu sofrimento”, diz a pesquisa.

Casos recuperados

552.419

Casos em acompanhamento

58.314 Óbitos

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Espiritualidade e resiliência

Fonte: covid.saude.gov.br Os dados são referentes ao dia 30 de junho de 2020.

nível no site da área nacional, é em ato de solidariedade às pessoas, metodistas ou não, que perderam seus/as familiares e amigos/as.

Lamento em tempos de luto

A Dra. e Pastora metodista Blanches de Paula, em sua tese de doutorado, Corpos enlutados: por um cuidado espiritual terapêutico em situações de luto, destaca alguns pontos em sua análise compreensiva, entre eles estão: a vivência do luto como dor, luto mediado pelo tipo de perda, a fé como suporte para a vivência do luto e luto por ordem natural. “A dor é um tema que perpassa a realidade dos/as enlutados/as. As convergências encontradas na pesquisa evidenciam o quanto a dor é uma das linguagens do luto. Está presente no processo de luto e caminha com o conforto. A dor é expressa por atitudes de desespero, pensamentos suicidas e palavras como ‘um golpe’, ‘uma ferida’, ‘um choque’. As divergências elucidam uma dor que caracteriza tipo de perda”, relatou a pastora em sua tese. Segundo a pesquisadora, a fé se torna um suporte na vivência do luto. “A fé implica a imagem de um Deus misericordioso e criador, aliada à noção de que a vida tem seu limite. A vivência do luto proporciona uma aproximação com Deus, buscando

O processo do luto por morte é marcado por grande sofrimento e abrange aspectos pessoais, sociais e de saúde dos/as enlutados/as. Diante dessa adversidade, a Dra. Tatiene Ciribelli Santos Almeida diz que é preciso compreender a espiritualidade como meio de enfrentamento no luto. “Enlutar-se diz respeito à mudança de vida, mudança de paradigmas, busca de uma nova forma de viver, readaptação da rotina, reconstrução de valores. É indiscutível que houve uma mudança drástica no dia a dia. O medo, a agonia, o desamparo estão presentes, mas é preciso continuar de alguma forma”, destacou Tatiene. O tema da morte e do luto, apesar de toda evolução empreendida nos últimos tempos, ainda é tabu e difícil de ser discutido tanto no meio social quanto no acadêmico. Quando se pensa na morte do outro vive-se o receio, o medo da própria morte, segundo a pesquisadora. Vamos concluir esta matéria de capa com uma parte do editorial desta edição, pois nossa redação, a Igreja Metodista, soma-se a milhares de pessoas que tiveram familiares perdidos pelo novo coronavírus. É algo difícil de explicar. Na semana anterior, eu e minha esposa, Márcia Valéria, conversávamos ao telefone com meu sogro. Uma semana depois, ela recebe uma foto dele recebendo oxigênio no hospital porque estava com falta de ar. Dali até o óbito foram mais seis dias apenas. Durante esse período, oramos e choramos. Fizemos o que podíamos fazer. Não foi possível dizer um adeus. O tema da edição de julho já estava definido – Chorar com quem chora. Foi uma maneira que encontramos de nos solidarizarmos com as quase 60 mil pessoas que perderam amigos/as, familiares e pessoas que nem mesmo conhecemos. A dor maior está na notícia repentina, na falta de dizer um até breve. Chorar com milhares de pessoas faz parte do Corpo de Cristo. “De maneira que, se um membro sofre, todos os membros sofrem com ele” (I Co. 12.26). Que haja o consolo divino e da Igreja para com todas as pessoas enlutadas.


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PESQUISA Julho de 2020 | www.expositorcristao.com.br

Os impactos do isolamento social nas igrejas evangélicas brasileiras Redação EC

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isolamento e distanciamento social mudou o modo de ser Igreja. A equipe do Invisible College fez uma pesquisa entre os dias 24 de abril e 5 de maio de 2020, contando com a participação de 270 igrejas de diversas denominações, espalhadas nos 26 estados e no Distrito Federal, para entender as melhores formas de agir diante da pandemia de Covid-19. Os dados foram coletados com pastores/as e líderes de igrejas brasileiras para tentar entender os impactos da crise nas suas comunidades locais. Esse material contém os principais dados obtidos. Muito provavelmente, o principal impacto do isolamento social na rotina da igreja foi em relação ao culto público, uma agenda que toda comunidade de fé possui. Uma parte da pesquisa foi dedicada a explorar como as igrejas lidaram com essa nova condição social para viabilizar uma rotina de cultos à sua membresia.

Resposta ao isolamento

A transmissão ao vivo foi a forma mais comum de suprir o culto público (74%). Em algumas igrejas, o WhatsApp foi utilizado como ferramenta de suporte para o envio de devo-

“Antes da pandemia de Covid-19, quase metade das igrejas (48%) não realizava a transmissão ou gravação dos cultos”

cionais. Também foram adotadas reuniões de pequenos grupos remotamente. Por que escolheram a transmissão ao vivo? Por causa da interatividade, pessoalidade, evangelização e algumas das igrejas já tinham estrutura para isso. Antes da pandemia de Covid-19, quase metade das igrejas (48%) não realizava a transmissão ou gravação dos cultos. Foi perguntado quais eram as alternativas encontradas para

suprir o culto público das pessoas que, por algum motivo, não tinham acesso à internet. Sete por cento não souberam responder ou disseram não haver nenhuma alternativa. Os demais responderam que algumas ações eram realizadas: incentivo ao culto familiar; entrega de material impresso em casa, como devocionais; ligações telefônicas; atendimento pastoral individual; visita de irmãos da igreja; visita de

equipe de apoio com notebook para exibição do sermão; envio de correspondências com as leituras recomendadas; encontros pontuais em locais abertos e sem aglomerações, além de proporcionar financeiramente o acesso à internet.

Ceia

Também questionou-se sobre como cada igreja lidou com o sacramento da Ceia. Seguem as repostas:

• 38,2% orientaram para celebração individual ou em família, com os elementos tradicionais; • 2,6% orientaram para celebração individual ou em família, com elementos alternativos; • 26,8% orientaram para que a ceia não fosse celebrada individualmente ou em família; • 19,1% não deram nenhuma orientação;

• 13,3% responderam como outras. Nota-se a manutenção das liturgias de costume das igrejas e a busca por formas alternativas de socialização digital. O aumento considerável na procura de transmissão dos cultos pela internet sinaliza uma modificação que poderá se tornar comum nas práticas eclesiásticas pós-pandemia. Relatórios de tendências apontam a “manu-


PESQUISA

“Mais de 95% das igrejas não faziam nenhum uso de recursos de EaD. Mesmo após a pandemia, menos de 30% das igrejas iniciaram algum projeto dessa natureza”

rem juntos ou realizarem uma breve reflexão bíblica.

Projetos Sociais

Antes da pandemia de Covid-19, 10% das igrejas não realizavam nenhum tipo de trabalho social; 51% das igrejas que não tinham projetos sociais iniciaram algum durante a pandemia; 57% do total de igrejas que responderam o questionário iniciaram um novo projeto social durante a pandemia; 51% das igrejas disseram que gostariam que houvesse maior capacitação em “assistência social”.

© IPOPBA / ISTOCKPHOTO.COM

Demandas emocionais

tenção de ritos” como uma necessidade em um tempo no qual somos induzidos/as à ansiedade. Buscar formas de unir a família, sustentar comunidades e gerar união é fundamental, segundo especialistas. Quanto à administração do sacramento da Ceia, a pesquisa mostrou que não existe consenso nas práticas das igrejas. Sabemos que vários pontos da teologia do culto são tangenciados quando passamos a “transmitir

um culto” pela internet e ministrar um sacramento “a distância”. A ausência de unanimidade aponta para a necessidade de discutir teologicamente a viabilidade dessas práticas durante e após a pandemia. Uma atividade que se mostrou muito relevante no cenário da pesquisa é a reunião de pequenos grupos remotos para que as pessoas compartilhem com irmãos e irmãs os seus desafios, as tristezas e alegrias, além de ora-

A pesquisa contemplou se houve alguma iniciativa para suprir as demandas emocionais dos membros durante o período de isolamento. Um quarto das igrejas não fez nada a respeito. As demais fizeram algo através de profissionais da saúde mental ou de obreiros/as da própria igreja. Segundo o relatório “Connecting in a Isolated World”, da The Nucleus Group, é notório observar os efeitos colaterais emocionais provocados pelo isolamento social, tais como: confusão, solidão, tédio, desesperança e impotência. Uma das razões disso é por estarmos em um período no qual somos confrontados/as com a incerteza. Assim, processamos tal momento como algo ameaçador, o que nos traz desgaste físico e emocional. A pesquisa mostrou uma lista grande e variável de novas preocupações da igreja, enquanto instituição, em relação ao contexto de isolamento social. Entretanto, no que diz respeito às ações efetivas para lidarem com essas questões, predominou a atuação dos/as obreiros/as ou até mesmo nenhuma iniciativa a respeito. Isso aponta para a necessidade de desenvolvimento de propostas articuladas entre pastores/as e profissionais da saúde das mais diversas especialidades para fazer frente às novas demandas emocionais dos membros. Ficou evidente também o desejo de mais da metade das igrejas em capacitar-se melhor para suprir as novas demandas de

assistência social que surgiram durante a pandemia. O relatório “Futuro Tensionado” traz uma reflexão sobre a questão da comunidade em que vivemos. Para os autores, é um momento oportuno para refletirmos sobre nosso papel enquanto cidadãos/ãs, colaboradores/as, familiares e amigos/as. Para os/as cristãos/ãs, essa reflexão deveria ser constante e intencional. Faz-se necessário, mais do que nunca, entender as implicações do mandato cultural e do cuidado com o próximo.

Mídias sociais e educação

As mídias sociais tornaram-se uma importante – e talvez fundamental – ferramenta para a manutenção do contato entre os membros e as dinâmicas das igrejas. Quase metade das igrejas (46%) que participaram da pesquisa passou a utilizar oficialmente o YouTube após o isolamento social, 26% passaram a usar o Instagram, 18% o Facebook, 9% o WhatsApp e 5% o Spotify. Antes do isolamento, 95,6% das igrejas não faziam uso de nenhum recurso de EaD. Após o isolamento, quase 1/3 adotou recursos de EaD para suprir as classes presenciais.

Uso de Ensino a Distância

A maioria das igrejas (78%) que adotaram a educação a distância tomou essa decisão para suprir as classes bíblicas. Depois, vieram as classes de crianças e adolescentes com 32%, e apenas uma minoria para a formação de lideranças, com 22%. Quanto à produção de EaD, 3/4 das igrejas (76%) que adotaram o uso de EaD produzem os seus próprios materiais. As demais utilizam materiais de terceiros, sendo alguns de uso comum, outros de uso exclusivo da própria igreja. Chama a atenção que mais de 95% das igrejas não faziam nenhum uso de recursos de EaD. Mesmo após a pandemia, menos de 30% das igrejas iniciaram algum projeto dessa natureza. Fica evidente um imenso horizonte de trabalho a ser explorado pelas igrejas que, entre outras coisas, são comunidades de educação e formação cristã. Pensar a educação cristã na era digital é urgente para a maioria das comunidades de fé no Brasil. Mesmo com todas as dificuldades mencionadas, das igrejas com iniciativas de EaD, 76% procuraram produzir o seu próprio material. Com certeza, essa é uma oportunidade de crescimento e criatividade nessa área pouco explorada, mas também sinaliza uma possível precariedade dos recursos, que

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foram iniciados sem preparo prévio, ou mesmo um esnobismo digital, tendo em vista a imensidão de materiais já disponíveis na internet. A curadoria de conteúdo será uma prática cada vez mais fundamental para o sucesso da educação cristã na era da informação.

Próximos passos

Na última parte da pesquisa, buscou-se entender quais eram as perspectivas futuras das igrejas, bem como seus próximos passos. Importante ter em vista a data em que a pesquisa foi feita (24/04 a 05/05). Isso tem implicação direta nas respostas dadas, as quais podem ter mudado com o avanço da contaminação até a data de publicação. Metade das igrejas afirma que retornarão com todas as atividades nos próximos seis meses, mas gradualmente. A outra metade voltará apenas com atividades prioritárias ou dominicais. As igrejas pesquisadas também responderam sobre os desafios futuros, que seguem sem uma ordem de relevância: organização financeira; relevância ministerial; resgate de pessoas perdidas; restauração da esperança e da fé; cuidado emocional; retorno das atividades presenciais; enfrentamento do medo de voltar a se reunir; readequação do cronograma; compreensão do novo paradigma social e elaboração de um planejamento. Os/as organizadores/as da pesquisa apontam a LSN Global como uma das mais importantes plataformas de pesquisa de hábitos de consumo e tendências do mundo; ela assinala um dado relevante: somos a população mais jovem da história. Dentre as diversas implicações que isso tem, uma delas é a relação com as marcas, que estão sendo questionadas sobre a incompatibilidade entre o discurso e a ação. Acredita-se que para a igreja isso não será diferente: cada vez mais seremos confrontados/ as com a coerência entre aquilo que pregamos e fazemos. É urgente uma teologia com desdobramentos públicos e práticos emanando das nossas comunidades. É urgente um testemunho mais coerente por parte da igreja evangélica brasileira. /// Leia a pesquisa acessando o QR Code abaixo!


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MEIO AMBIENTE Julho de 2020 | www.expositorcristao.com.br

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omo organizações cristãs que trabalham nos campos da justiça e do cuidado pela criação, pedimos um repensar fundamental sobre o relacionamento da humanidade com a natureza, tendo em vista os efeitos da pandemia de Covid-19. Tal pandemia, fruto de uma crise ambiental, vem como uma tempestade que coloca em risco todas e todos (ricos/as e pobres), mas que afeta diretamente os/as mais vulneráveis na cidade, no campo e nas florestas – muitas vezes, com maior letalidade. Se realmente cremos que no mundo criado por Deus temos a responsabilidade de usar os dons e os recursos de maneira sábia, cautelosa e sustentável, então é hora de levantarmos nossas vozes e agirmos contra toda injustiça socioambiental. Apoiamos e ecoamos as palavras de Elizabeth Maruma Mrema, Secretária Executiva em Exercício da Convenção das Nações Unidas (ONU) sobre Diversidade Biológica: “A contínua perda de biodiversidade em escala global representa ameaças diretas e indiretas à nossa saúde e bem-estar. A perda de biodiversidade e a mudan-

ça nos ecossistemas, inclusive através de mudanças no uso da terra, fragmentação e perda de habitats e mudança climática, podem aumentar o risco de surgimento de doenças e delas se espalharem entre pessoas, animais e outras espécies vivas”. Denunciamos sistemas econômicos que colocam o lucro acima de todo tipo de vida. Em particular, observamos que tanto a destruição e a fragmentação de habitats naturais quanto o uso insustentável (muitas vezes, não regulamentado e frequentemente ilegal) de animais silvestres e de produtos provenientes deles contribuem para a ruptura de ecossistemas e para a probabilidade de patógenos serem transferidos para a humanidade a partir de animais selvagens. Portanto, é urgente a necessidade de interrompermos essa destruição contínua dos habitats, e isso só será possível se nos unirmos contra a causa de toda essa crise: sistemas econômicos exploradores e opressores, baseados na ganância e que colocam o lucro acima de todo tipo de vida. Rejeitamos o modo de vida consumista. Vivemos em uma

“Solicitamos que as comunidades cristãs de todo o mundo reconheçam e ensinem o valor inerente que todas as criaturas têm para Deus e fomentem a compaixão, a defesa e o cuidado para com a natureza”

© IPOPBA / ISTOCKPHOTO.COM

carta de Renovar É hora de repensar nossa Uma o Nosso Mundo à igreja relação com a natureza evangélica brasileira

era em que o mercado e a propaganda têm impulsionado o consumo e, assim, acentuando as diferenças sociais, definindo um estilo de vida que propõe a satisfação de todas as necessidades. Como a obtenção de lucros é o principal objetivo do mundo dos negócios, interessa-lhe que todo/a cidadão/ã mantenha-se no modelo atual de consumo, no qual se vive para consumir cada vez mais bens e serviços. Mas a Terra chegou ao seu limite, e desde 29 de julho de 2019, nosso padrão de consumo utiliza mais do que ela consegue renovar. Estamos vivendo no “vermelho”, e isso significa que todos os recursos usados para a sobrevivência (água, mineração, extração de petróleo, consumo de animais, plantio de alimentos com esgotamento do solo, entre outros pontos) entraram em uma espécie de “crédito negativo” para a humanidade. Esse modelo econômico dominante tem tornado insustentável a sociedade atual, forçando-a a caminhar na direção dos produtos descartáveis mais que os duráveis; para o global mais do que para o local; para o uso

individual de produtos ao invés do compartilhado; para a quantidade mais do que para a qualidade; para o desperdício ao invés do necessário; para o excesso ao invés da moderação. Exigimos plena implementação das leis de combate ao tráfico de fauna silvestre. Reconhecemos que muitas sociedades humanas, principalmente os povos indígenas e tradicionais, dependem do consumo de produtos da flora e fauna silvestre, tais como remédios e alimentos, e pedimos a plena implementação das leis nacionais e internacionais existentes contra o comércio ilegal de animais silvestres, bem como uma melhor regulamentação de seu comércio legal, para o bem da saúde humana e para o equilíbrio e florescimento da natureza. Convocamos cristãs e cristãos a uma conversão urgente de estilo de vida. Reconhecemos a particularidade da atual crise e lamentamos tanto a rápida perda da biodiversidade em todo o mundo quanto os consequentes problemas para a saúde humana e os meios de subsistência da vida. Diante de

tantas mortes, somos chamados/as a uma conversão urgente de estilo de vida que force uma mudança também no modelo de produção vigente. Não podemos mais nos mantermos apáticos e continuarmos vivendo como se nossas decisões diárias não afetassem toda a Terra. Toda a criação geme e aguarda que nós, chamados/as filhos/as de Deus, tomemos a decisão diária pela manutenção, restauração e sobrevivência de toda vida criada pelo Pai. Diante de todo este cenário, solicitamos que as comunidades cristãs de todo o mundo reconheçam e ensinem o valor inerente que todas as criaturas têm para Deus e fomentem a compaixão, a defesa e o cuidado para com a natureza. Faremos isso se verdadeiramente assumirmos agora, no presente século, um estilo de vida inspirado pela visão bíblica do que nos aguarda no futuro: um reino onde prevalecerá a justiça, a paz e a partilha. Brasil, 24 de Junho de 2020 Fonte: https://renewourworld.net/


MISSÃO

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Julho de 2020 | www.expositorcristao.com.br

Webinar do Metodismo Mundial relevantes e responder questões pertinentes à missão e ao testemunho no contexto atual. O webinar será realizado nos sábados do mês de agosto, dias 1º, 8, 15, 22 e 29, pela manhã, das 8h30 às 12h, e contará com palestras, diálogos e painéis, além de uma sessão especial opcional das 19h às 20h30 (horário de São Paulo, Brasil). As sessões ocorrerão através da plataforma de videoconferência Zoom. Aos/às inscritos/as e ativos/ as, o Instituto Metodista Mundial de Evangelização fornecerá certificado de participação, que

poderá servir como “Educação Continuada”. A participação é gratuita e os/ as inscritos/as terão a oportunidade de dialogar com os/as palestrantes!

Objetivo

O webinar do Metodismo Mundial tem por objetivo promover um congraçamento da família pan-Metodista/Wesleyana para reflexões construtivas e criativas sobre práticas de missão e testemunho do Evangelho. Busca fortalecer a família Wesleyana como movimento focado e orientado pela missão de Deus em “reconciliar consigo mesmo o mundo”; queremos aprender juntos/as, com a experiência uns dos outros, a fazer igreja proclamadora e discipuladora que testemunha e sinaliza o Reino de Deus nesse contexto de múltiplas crises. Esse webinar é um empreendimento conjunto do Instituto Metodista Mundial de Evangelização (WMEI), do Comitê de Evangelismo Mundial do Concílio Mundial Metodista, do Seminário Bíblico Wesleyano e do Centro de Evangelismo Contextual do Brasil (uma parceria entre o WMEI, a Conexão Wesleyana e a Faculdade de Teologia da Igreja Metodista).

Direção-Geral

Instituto Metodista Mundial de Evangelização (WMEI). Parceiros: Evangelismo Mundial Metodista (WME); Centro de Evangelismo Contextual (CEC-Brasil); Conexão Wesleyana de Santidade (SP/Brasil); Seminário Bíblico Wesleyano (SP/Brasil).

© FIZKES / ISTOCKPHOTO.COM

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uem é e onde está Deus? Missão e testemunho em tempo de crises. Como fazer igreja proclamadora e discipuladora num contexto de múltiplas crises? De que forma é possível testemunhar e sinalizar o Reino de Deus em meio ao tempo presente? Destinado a líderes do movimento de tradição Wesleyana no Brasil e demais países de língua portuguesa, palestrantes de instituições da família pan-Metodista e pan-Wesleyana se reúnem com o objetivo de fomentar reflexões, apresentar práticas

Quarta Região Eclesiástica promove capacitação on-line

Redação EC

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Departamento Regional de Trabalho com Crianças da 4ª Região Eclesiástica está promovendo, em parceria com o Instituto Metodista Teológico João Ramos Junior, uma Capacitação On-line para pessoas que trabalham com crianças, como também para aqueles/as que almejam ingressar no ministério e para pais. Será ministrada nos dias 12, 19 e 26 de setembro de 2020, a partir das 16h, com certificação de 25 horas na conclusão.

TREINA JOVEM 2020 TERÁ CAPACITAÇÃO ON-LINE O Treina Jovem é a maior capacitação metodista para líderes jovens, ele é direcionado ao treinamento e à capacitação da liderança jovem. O tema geral da Igreja Metodista do Brasil para este ano é “Discípulas e discípulos nos caminhos da

missão vivem em UNIDADE”. Nós nos baseamos na mesma visão: UNIDADE! Acesse e se cadastre na maior capacitação Metodista para líderes jovens, agora 100% on-line, para você assistir quando quiser. O curso vai contar com módulos sobre temas gerais, por exemplo: saúde emocional, liderança, administrando re-

Faça já sua inscrição apontando a câmera de seu celular para o QR Code abaixo:

O CURSO SERÁ DIVIDIDO EM TRÊS MÓDULOS: MÓDULO 1: Ministério Dentro e Fora da Igreja. MÓDULO 2: Acolhimento das Crianças com Transtornos e Saúde Emocional.

Link para a a inscrição no QR Code ao lado!

Esperamos que os assuntos abordados sirvam para dar suporte àqueles/as que almejam atender ao chamado de Deus para o Ministério Infantil, como também para aprimorar os conhecimentos daqueles/as que já atuam ou que têm a grande missão materna e paterna.

MÓDULO 3: Contação de História e Preparação de Aulas Atrativas.

cursos, artes cristãs, engage/ agência malta, missões urbanas, estudo indutivo da bíblia, cosmovisão cristã, missão transcultural, inclusão social, combate ao racismo, cultura indigenista, entre outros assuntos. Alguns módulos já estão disponíveis e outros serão lançados gradativamente, conforme o calendário que os/as inscritos/ as receberão ao adquirir o curso.

/// Informou: Revda. Welen Cristina O. Abreu Pascoal, Coordenadora do Departamento Regional de Trabalho com Crianças - DRTC

Duração O curso vai durar seis meses, são 10 módulos no total + bônus, chegando a mais de 30 aulas. Seja abençoado/a com essas aulas preparadas com muito carinho e/ou oferte-as a alguém. Acesse: https://go.hotmart.com/K36046605L Divulgue sua participação nas redes sociais com as hashtags #JuntosSomos #Unidade #TreinaJovem2020


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MÍDIA Julho de 2020 | www.expositorcristao.com.br

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GIRO DE

O QUE FOI DESTAQUE NO PORTAL EXPOSITOR CRISTÃO

NOTÍCIAS

Expositor Cristão CORONA NAS ALDEIAS

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A Igreja Metodista, através da sua Pastoral Indigenista, convida o povo metodista a se mobilizar em amor e compaixão pelas vidas indígenas que enfrentam uma série de desafios nesse tempo de pandemia. A população indígena tem sido intensamente atingida pela Covid-19 e, recentemente, como compartilhado por indigenistas que atuam na missão metodista, há inclusive caso de suicídio entre o povo Tremembé, no Ceará.

PROGRAMA GRATUITO PARA CRIANÇAS NA QUARENTENA Redação

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RÁPIDAS

FALECIMENTO A Pastora Vera Lucia da Silva Cassalli faleceu no último dia 24. Vera pastoreava a Congregação de Água Limpa no Distrito de Volta Redonda/RJ. “Neste momento de dor, convocamos nossa região a orar por seus familiares. O Senhor enxugará as nossas lágrimas e renovará as nossas forças”, diz trecho da nota publicada no site da 1ª Região Eclesiástica.

COLÉGIO EPISCOPAL: Desde o início da pandemia de Covid-19, o mundo tem testemunhado os efeitos devastadores da doença, mas também de toda a desigualdade econômica, social e cultural que ela deflagrou. Como estamos em um tempo de intensos debates políticos e ideológicos em todos os continentes, muito do foco que deveria estar no cuidado e tratamento das pessoas nas diferentes cidades e países acabou sendo desviado. JUVENTUDE METODISTA: Uma mobilização organizada por Jovens em Missão e Conselho de Igrejas Evangélicas Metodistas da América Latina e Caribe (CIEMAL) é convocada para este momento precioso de jejum e oração pelo colapso do mundo devido à pandemia, unidade da igreja, pela paz e justiça social, liberdade e segurança em nossos países.

"Brincadeira Tem Hora" vai ao ar toda sexta-feira no YouTube do Canal Metô. Em parceria com alunos de Pedagogia a Distância e de Comunicação, o Canal Metô lançou o programa infantil “Brincadeira Tem Hora”. A iniciativa da Universidade Metodista de São Paulo compartilha conteúdos construtivos e com ideias pedagógicas adequadas para a criançada no período de quarentena. São vídeos semanais que apresentam diversas atividades interativas e divertidas, como contação de histórias, jogos, brincadeiras, charadas, entre outras. Toda sexta-feira, o programa vai trazer conteúdos diferentes e inspirados em pensadores como Vygotsky e Piaget, que acreditavam na brincadeira como uma prática que trabalha o desenvolvimento em diversos aspectos da criança: cognitivo, social, físico, motor, na ampliação do conhecimento e interação social, além de auxiliar no poder de decisão, expressão de sentimentos e na construção de visão de mundo. “Brincadeira tem hora” pode ser acompanhado e compartilhado entre a garotada pelo Canal Metô do YouTube ou pelo site oficial.

DIÁLOGOS O Bispo Luiz Vergílio conduziu a conversa da série Diálogos em tempos de crise, que contou com a participação dos Bispos Honorários da Igreja Metodista: Bispo Josué Adam Lazier, Bispo Stanley da Silva Moraes e Bispo Geoval Jacinto da Silva. Entre os assuntos discutidos está a situação da Educação no Brasil em tempos de distanciamento social.

Vivemos um tempo de choro sem consolo, como Raquel chorando por seus filhos e filhas que não mais existem. Hoje, as famílias não têm tempo de elaborar o luto e despedir-se, de forma digna e adequada, de seus/as mortos/as BISPO LUIZ VERGÍLIO BATISTA DA ROSA

PALAVRA EPISCOPAL

EC DE JUNHO:

Há algum tempo a igreja tem sido desafiada a encarar a internet como um grande campo missionário. Movidos pelo desejo de pregar o evangelho, como o único caminho capaz de transformar a realidade do homem e da mulher aqui na terra, nós temos sempre procurado caminhos que facilitem essa ação de pregar a Palavra de Deus.

No ano em que a Igreja tem como tema nacional a Unidade, ela está vivendo um tempo de isolamento social, com templos fechados, sem poder celebrar com a comunidade, dar um abraço. Na edição de junho compartilhamos um pouco da solidariedade e da compaixão que, por sua vez, são duas palavras importantes para a genuína fé cristã.

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AS MATÉRIAS MAIS ACESSADAS NO PORTAL EXPOSITOR CRISTÃO

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MAIS LIDAS

/// Acesse o link abaixo e saiba mais! http://canalmeto.com.br/ brincadeira-tem-hora-programa-1/


CRIANÇA Julho de 2020 | www.expositorcristao.com.br

Tempo de cuidado N estes tempos difíceis, perante uma pandemia, fala-se muito no cuidado com a saúde, com a prevenção, com a higienização pessoal e de compras. Àlcool em gel e máscaras passaram a fazer parte da nossa rotina. Muitos/as estão em casa, outros/as, saindo para trabalhar receosos/as de trazer o vírus para sua família. Não podemos mais congregar como estávamos acostumados/ as, nem festejar, nem estudar como antes. Tudo mudou! Os relacionamentos tiveram que se adaptar. Pois bem, estamos nos adequando a essa nova rotina de cuidados com o físico. Ensinamos nossas crianças a lavar as mãos, mas e os cuidados com o coração? O que podemos ensinar para as nossas crianças? Em Provérbios 4.23 lemos: "Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as saídas da vida". “Guarda o teu coração” significa que devemos tomar cuidado com nossos pensamentos e emoções. Tudo de bom ou de ruim que fazemos começa no coração. Assim como nossa vida física depende de ter o coração saudável, nossa vida espiritual depende de nossos pensamentos, desejos e emoções. Isso significa filtrar tudo que acontece, esco-

lhendo as melhores influências e atitudes, de acordo com a vontade de Deus. Nosso coração ficará mais forte e protegido se for cheio com a Palavra de Deus, gratidão e pensamentos bons. Isso devemos viver e ensinar às crianças. Podemos buscar recursos para encher nossas crianças com a Palavra de Deus. Desta forma, "a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus" - Filipenses 4.7. /// Equipe DNTC

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