Turismo de Aventura | Meio Ambiente | Estilo de Vida
Especial Internacional
flOrida
Alagoas Piaçabuçu
Desvendamos os parques pouco conhecidos pelo brasileiros
entre dunas e Mata Atlântica
Roteiro de Aventura
São Bento do Sapucaí (SP)
Aventuras verticais, muito visual e ecoturismo para todos os gostos
Meio Ambiente
Cananéia, SP
legislação ambiental O processo da reciclagem Dicas práticas para economizar energia Viagens sustentáveis
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mario mantovani, à frente da ong sos mata atlântica, conta sobre a aventura de vivenciar e proteger o meio ambiente há 35 anos
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Entrevista
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№156 І R$9,90
Foto: Daniel Cotellessa
DESTINO AVENTURA
Pedra da Divisa A rocha concentra diversas vias de diferentes níveis, algumas propícias para quem está se iniciando na escalada
São Bento do Sapucaí, aventura para todas as tribos Na belíssima Serra da Mantiqueira, entre São Paulo e Minas Gerais, a acolhedora terra da escalada, também oferece diversas opções para quem prefere aventuras menos radicais Texto: Camila Fróis, Daniel Cotellessa e Pedro Hauck Fotos: Daniel Cotellessa e Eliseu Frechou
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Foto: eliseu frechou
Foto: Daniel Cotellessa
acampamento de férias Paiol Grande, um dos mais tradicionais do País, em busca de muita diversão e natureza. Para quem não é de nenhuma destas tribos, mas curte tranquilidade, verde e boa comida, a hospitaleira cidade também pode ser uma boa pedida. Há alguns parques no município que oferecem opções de trilhas mais leves passando por belíssimas cachoeiras (como a do Toldi), circuitos de arvorismo e tirolesa, pesca esportiva, cavalgada e bons restaurantes, alguns inspirados nos cardápios de fazenda. Os belos artesanatos do Quilombo também conferem um charme especial à cidade. Este pequeno bairro de São Bento parece um presépio pela disposição de casinhas rudes ao redor da igreja Nossa Senhora da Conceição Imaculada. É centro do folclore, arte e artesanato, tombado pelo Patrimônio Histórico e Cultural de São Paulo. Seja para curtir um pouco de adrenalina ou sossego junto à natureza, vale reservar ao menos uns três dias para conhecer a cidade.
Foto: Daniel Cotellessa
C
idadezinha de cerca de 10 mil habitantes encravada na Serra da Mantiqueira, São Bento do Sapucaí localiza-se a 164 km de São Paulo, e exala os ares, a simpatia e a gastronomia do interior de Minas, estado com que faz divisa. Agraciado pela geografia incrivelmente peculiar, que exibe o Complexo do Baú como cartãopostal, o destino não tem como esconder sua vocação para a escalada, atraindo praticantes de vários lugares do País, os quais não se cansam de explorar cada centímetro do conjunto Baú, Bauzinho e Ana Chata, além de outras rochas no entorno da cidade. Mas as possibilidades de se aventurar em São Bento são as mais diversas possíveis. Com inúmeros rios, cachoeiras, montanhas e vegetação preservada, a região é cobiçada ainda por amantes de asa-delta e paraglider, que chegam em busca dos bons ventos do nordeste; pelos mountain bikers, que fazem a festa nas trilhas e estradas de terra que cercam a cidade; pelos trekkers, que conseguem chegar no topo do Baú através de uma escada na rocha e até pela molecada que chega ao
Foto: arquivo pessoal / eliseu frechou
DESTINO AVENTURA
BR 283
Itajubá
MG 295
Paraisópolis
Diversidade O potencial de São Bento para a aventura inclui caminhadas, escaladas, voo livre, entre outras atividades
MG 173
isa
Div
Golçalves
MG
SP-
São Bento do Sapucaí
Serra da Mantiqueira O belo visual de montanhas se deve à localização privilegiada do município na Mantiqueira 74 | Aventura & Ação
N s
MG
SP 042
Campos do Jordão SP 050
SP
SP 046
São Paulo a 200 km
SP 132
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Por Daniel Cotellessa
A
pesar do vasto e diverso potencial natural de São Bento do Sapucaí para o ecoturismo, há de se admitir que nada na região pode ser comparado ao Complexo Rochoso da Pedra do Baú, localizado no alto da Serra em meio a uma exuberante porção de Mata Atlântica. O cobiçado conjunto rochoso é formado pelo Bauzinho (1.760 m), Pedra do Baú (1.950 m) e Ana Chata (1.670 m). Se a ideia é experimentar um pouco de adrenalina, dá pra se esbaldar por ali, escolhendo uma das atividades possíveis ou combinando as opções: voo livre, trekking, rapel e escalada em rocha. Antigamente conhecido como Pedra do Embahú, que na língua tupi-guarani significa “ponto de vigia”, o monólito acabou sendo batizado pelos moradores da cidade de “Baú”, em virtude do seu formato retangular. A Pedra consiste de um imponente bloco de granito com uma base de 540 metros de comprimento por 40 de largura, sendo que suas escarpas chegam até 450 metros. A popularidade do Baú se deve, além de sua evidente beleza, ao seu fácil acesso, que permite que os “não-escaladores” alcancem seu topo através de uma escada de 300 degraus de ferro instalados na rocha, um estímulo e tanto para que os mais diversos tipos de turistas cheguem ao seu cume. O acesso ao estacionamento do Complexo
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do Baú se dá por dois caminhos. Um é por São Bento do Sapucaí, pegando a estrada que sai da cidade rumo ao acampamento Paiol Grande (8 km de asfalto e 12 km de terra) subindo a serra e orientando-se através das placas. O outro é através da cidade de Campos do Jordão, pela estrada que sai do bairro de Jaguaribe e vai até a Pedra do Baú, (12 km de asfalto e 10 km de terra).
Lenda
Paisagem Majestosa A Pedra do Baú com seus 1950 metros de altitude, cercada por uma vegetação preservada
Uma lenda conta como se formou as três formações rochosas do complexo. Certa vez um amor proibido brotou entre um moço e uma moça, ambos extremamente bonitos e vistosos, porém irmãos. O romance teve seus dias de paz, mas eles logo se findaram quando a irmã rabugenta os descobriu e os delatou. Imediatamente, os irmãos pecadores transformaram-se em pedras, formando a dupla Baú e Bauzinho. A delatora também teve o mesmo fim, por sua traição: a pedra Ana Chata.
des europeus, não durou muito tempo. O que se sabe é que era construído de madeira levada lá para cima com muito custo, sendo provido de captador externo de água, beliches, lareira e até um sino de bronze, tudo feito com muito capricho, mas arruinado por um erro fatal: não havia supervisão constante. Por isso, o que antes era um belíssimo ponto de pernoite foi aos poucos virando lenha para a fogueira de vândalos que por ali passaram. Hoje em dia o piso dessa construção é a única coisa que restou para a lembrança. Depois do lanche, resolvemos descer até o pé do Baú por outro caminho - a face norte, mais exposta que a face sul por não haver tanta mata em volta e com escarpas enormes que dão um ar mais radical à aventura. Como o tempo não estava bom, com início de uma pequena chuva, tivemos que cancelar nossa ida à Pedra da Ana Chata, pois há risco de raios quando chove por ali. Para chegar até ela, é só pegar a trilha principal onde existem placas. A caminhada até a base dura cerca de 1h30m. Chegando lá, é necessário atravessar uma gruta e subir até o topo por uma trilha bem íngreme. A trilha de volta da face sul até o estacionamento é bem bonita e leva cerca de uma hora.
Baú acima Ao todo, são 300 degraus de subida superados em cerca de meia hora. No topo, a vista do Col, do Bauzinho e da Ana Chata
Foto: Daniel Cotellessa
Foto: eliseu frechou
cartão postal
Um centro de informações na frente do estacionamento do Complexo ajuda os aventureiros a se munirem de dicas antes de partirem para suas expedições O estacionamento fica ao lado do Bauzinho e a rampa natural para voo livre está bem abaixo, proporcionando voos perfeitos com um visual sem igual. Como no dia nossa aventura era em terra mesmo, fomos conhecer a trilha rumo ao Baú, acompanhados dos excelentes guias Orlando e Juliano da Agência Triboo. Após deixarmos nosso Troller no estacionamento, iniciamos a caminhada por um trecho bem protegido, com vegetação dos dois lados. Pouco mais de 500 metros e já se descortinou à nossa frente um visual fantástico da Pedra do Baú. Estávamos andando na crista do Bauzinho e o vento era tão forte que foi preciso colocar um anoraque. Continuando a aproximação, o Orlando nos deu duas opções: descer por uma trilha ou fazer dois rapéis, com cerca de 50 metros no total. Nem pensamos antes de responder: “Com rapel, é claro!” Quanto mais aventura, melhor! Após descermos, curtindo um visual incrível de muito verde com o Baú do outro lado, passamos pelas cristas do Col (passagem do Bauzinho para o Baú), onde encontramos nossa primeira escadaria. Descemos e chegamos à trilha principal que possibilita ir até a Pedra do Baú (face sul ou norte) ou para a Pedra da Ana Chata. Seguimos no sentido da face sul do Baú, em um percurso com mais Mata Atlântica protegida, graças à lei de 1987 que determinou uma área de proteção ambiental numa distância de quatro quilômetros a partir da base do Baú. Ao chegar ao pé da rocha, uma dica é tomar um bom fôlego e se preparar, pois ali se inicia a sequência de escadas metálicas até o topo, uma subida que deve levar cerca de 30 minutos, incluindo trechos bastante expostos, os quais muitas vezes causam vertigem nos menos corajosos. Todavia, nossos guias nos paramentaram com uma cadeirinha e um auto-seguro (fita técnica presa à cadeirinha com um mosquetão na ponta que pode ser clipado aos degraus). Havia ainda a possibilidade de subirmos “encordados”, o que é recomendado especialmente para quem tem algum medo de altura, para crianças ou pessoas com menos preparo. Muitas vezes, a tal “escadinha” é subestimada por quem chega à pedra, mas trata-se de uma subida que exige um certo fôlego. Chegando ao ponto mais alto do Complexo, era hora de contemplarmos toda natureza ao redor. De lá, é possível ver o Bauzinho, a Ana Chata, o vale do Paiol e a maravilhosa Serra entre São Paulo e Minas Gerais. No centro da pedra, ficamos curiosos ao nos depararmos com tijolos numa base de construção que, viemos a saber, tratava-se das ruínas de um antigo refúgio de montanha erguido na década de 1940 pelo pedreiro Antônio Cortez, corajoso e determinado escalador responsável pela conquista do Baú aos cinquenta anos de idade. O refúgio, primeiro do Brasil erguido nos mol-
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DESTINO AVENTURA
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DESTINO AVENTURA
Trilogia na face norte Do Baú
Negativa Ascendência por uma das vias negativas no Baú
O escalador Pedro Hauck conta sobre um circuito intenso no Complexo, envolvendo algumas das vias mais cênicas da pedra
Para baixo Opção de rapel de 50 metros no percurso rumo à base do Baú. Para quem evita radicalizar, é só continuar por uma tranquila trilha de acesso
Escalada
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Foto: eliseu frechou
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brigando algumas das mais tradicionais rotas de escalada do estado de São Paulo, o Complexo do Baú contém centenas de vias de diversos graus de dificuldade e altura, que fazem a festa de escaladores de todas as partes do Brasil. A região também conta com outros complexos, ideais para escalada em rocha, como a Pedra da Divisa, a belíssima Vista Aérea, a Falésia dos Olhos e a bem menos explorada, mas bastante desafiadora, Falésia do Tião Altino. Além desse playground natural para os escaladores, o destino abriga a Montanhismus, escola de escalada do renomado escalador Eliseu Frechou, responsável pela abertura de muitas vias no Complexo do Baú. Lá, ele ministra cursos de diferentes níveis aos interessados em evoluir na atividade. Há alguns anos, São Bento também tem se tornado um polo de escalada em boulders espalhados por vários bairros da cidade. Certamente não vão faltar opções para quem gosta de verticalizar.
Com paredes magníficas que alcançam trezentos metros de altura, a maioria das escaladas no Baú são de um nível exigente, tanto as vias esportivas como as tradicionais, sendo necessário em alguns casos o uso de técnicas artificiais de escalada. Optando por um meio termo entre as escaladas mais difíceis e as mais fáceis, eu e meu parceiro de escalada de São Paulo, Tacio Philip, emendamos diversas vias em uma das faces mais belas da montanha, propondo assim uma alternativa interessante com acesso ao cume, que batizamos de “Anormal aprendendo a voar no Teto do Baú”. Apesar do nome longo e confuso, trata-se de uma brincadeira com os nomes das vias já existentes na parede, que apenas emendamos. Na verdade, a ordem é um pouco diferente do que o nome propõe: começamos pela “Learning to Fly” (6º), seguimos para a “Anormal” (5º) e finalizamos pelo “Teto do Baú” (A1). O acesso a estas vias se dá entre o Colo do Bauzinho e do Baú, alcançado em uma escalaminhada fácil desde o estacionamento do Bauzinho, mas logo a tranquilidade da aproximação é substituída pelo “crux” da trilogia, que, na minha opinião é a via “Learning to Fly”. Esta via é escalada em duas enfiadas, toda em móvel (sem proteções fixas préestabelecidas na rocha), sendo necessária uma parada no meio dela para evitar arrasto na corda. Meu parceiro Tacio foi à frente e escalou o primeiro lance, uma travessia horizontal delicada que exige um bom trabalho de pés. Passado o trecho, ele se ancorou em uma parada também em móvel e deu segurança para eu ir de segundo, limpando suas proteções e chegando até ele para iniciar a parte seguinte! Era minha vez de guiar… Logo tive que encarar um diedro, onde há um piton abandonado, que usei como proteção para evitar uma queda grande. No começo, a fenda do diedro é tão estreita que só o piton entra ali... O jeito é subir um pouco e abstrair da mente a ameaça de uma queda. Para minha felicidade, a coisa muda rápido e pude colocar na fenda um nut pequeno. “Beleza!” pensei, “isso aqui segura um voo.” Mais para cima o lance fica sem agarras de mão próximas, então é preciso usar os pés e subir com cuidado (até porque naquele momento era difícil ver meus pés, de tanto equipamento pendurado no rack). Continuei com muita cautela, afinal, o nome da via é “Aprendendo a voar”, lembra? Em um determinado momento, saí do diedro para cair em outro melhor, onde deu para proteger bem com um camalot (tipo de proteção móvel). Seguindo, saí em um platô positivo onde
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Por: Pedro Hauck
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Foto: arquivo pessoal / eliseu frechou
Eliseu frechou O escalador em uma escalada forte no Complexo do Baú
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escalei na horizontal, até achar uma saída para cima usando agarras bem grandes. Neste lance, é preciso se pendurar nos agarrões e subir bem o pé, porque lá a pedra faz uma barriga negativa que te joga para baixo. Este movimento é muito aéreo e a última peça móvel colocada estava lá embaixo... Apesar dos agarrões com locais para proteger, não protegi, pois neste lance a via fica ligeiramente negativa e achei melhor tocar para cima do que ficar gastando o braço me segurando com uma mão para na outra tentar entalar um outro camalot. Depois de 12 anos de experiência em montanha, já tendo escalado coisas muito mais comprometedoras e difíceis, ainda hoje eu fico sem saliva na boca em momentos críticos de escalada em rocha e tenho medo de levar uma queda grande, ainda mais sobre um equipamento móvel (que dependendo da colocação pode ser facilmente arrancada)! Mas felizmente não foi desta vez que aprendi a voar! Esticando um monte a corda (quando o escalador escala um trecho longo sem proteger), mas já em local positivo e fácil, cheguei à parada da via “Normal” do Baú, que é a via de escalada mais fácil da montanha, muito popular também. Entretanto, resolvemos fazer uma linha alternativa e ao invés de escalar a “Normal”, escalamos a “Anormal”, que fica um pouco à direita da linha original, um 5 º guiado com folga pelo Tacio.
Vencendo mais um lance, chegamos ao fim desta parede. Após atingir este ponto, muitos optam por guardar equipamentos e subir até o cume do Baú por uma trilha. Alguns escaladores aventuram-se ainda pela bela via “Pássaros”, ou pela forte “Os Bravos morrem lutando”, um 7c que já começa exposto um pouco ao lado do teto da ponta do Baú. E foi por esse teto enorme, que desponta majestoso no Complexo mirando para o Bauzinho, que nos embrenhamos. Diferente das escaladas anteriores do dia, esse teto só pode ser realizado em artificial (estilo no qual é preciso o uso de fitas e equipamentos específicos para auxiliar na progressão). Apesar da eminente dificuldade técnica para nós, o “Teto do Baú” é inteiro equipado com proteções fixas, diferente da “Learning to fly”, por isso, na graduação artificial que vai do zero até o cinco, ele é apenas 1. Ou seja, é uma escalada fácil, apesar de ser um tanto quanto trabalhosa. Confesso que prefiro escalar um grau de dificuldade em livre do que confiar nas tais “proteções” fixas do teto do Baú, que dão impressão de não aguentar seu peso. Por isso deixei a tarefa de guiar para o Tacio (que gosta deste tipo de escalada mais do que eu), que demorou mais de uma hora para escalar o Teto. Como é mais difícil “limpar” uma via artificial de teto subindo pela corda usando os “jumares” (tipo de ascensor que auxilia nesse tipo de escalada), resolvi ir de segundo como se estivesse guiando. Demorei mais que meu amigo para, enfim, chegar ao cume da montanha, já à noite, e finalmente curtir o visual de São Bento, com suas luzes cintilantes, morrendo de frio com o vento. Escalar a “Anormal aprendendo a voar no Teto do Baú” não é uma tarefa difícil, mas requer conhecimentos avançados. Com cerca de 100 metros de escalada, é uma excelente sequência para quem já realizou um curso de escalada avançado e quer praticar as técnicas em móvel e em artificial em um local amistoso, em uma das montanhas mais belas do Brasil, com um visual mais do que fotogênico. Considerando a sequência como um todo, propomos para a trilogia o grau de 5° VIsup A1, 100 metros.
Foto: eliseu frechou
DESTINO AVENTURA
Decifrando a escalada Escalada em móvel
Escalada em móvel é quando o escalador sobe uma linha sem proteções anteriormente fixadas na parede e usa equipamentos específicos para garantir a sua segurança durante a ascensão. Há dois tipos de móveis, os passivos e os ativos. Os móveis passivos são aqueles que têm que ser entalados nas fendas, os mais populares são os “nuts”, que são cunhas de alumínio com cabos de aço. Já os móveis ativos podem se expandir em uma fenda e são denominados de “SLCDs” (Spring Loaded Camming Device), ou mais popularmente de “friends” ou “camalots”. Estes equipamentos são dotados de eixos de molas duplas que podem garantir maior deformação das peças, fazendo-as caber em diferentes tamanhos de fendas, e são amplamente usados em conquistas de vias virgens. Hoje é considerado ético não colocar proteções fixas ao lado de locais onde é possível fazer uso destes equipamentos para evitar poluição visual e preservar o estilo da escalada.
Escalada em artificial
Entende-se por artificial o uso de meios não naturais (ou pontos de apoio artificiais) para progressão numa escalada. Para tanto o escalador usa móveis nas fendas e vai progredindo usando os estribos, que são “escadinhas” de fita que o escalador utiliza para ganhar altura, chegar em um lugar mais alto, colocar mais outra peça e repetir a ação. Em fendas muito finas, algumas pessoas usam pitons, que são hastes de aço que são entaladas em rachaduras sob batidas de martelete, hoje quase banidas do esporte. Em lugares sem fendas ou rachaduras, utiliza-se os “cliffs” que são ganchos de aço colocados sob agarras, muitas vezes micro agarras ou micro buracos... Este tipo de escalada é muito delicada, pois os cliffs podem se soltar quando você sobe os degraus dos estribos ou podem quebrar as micro agarras. O nível de dificuldade é o grau “A” que vai do 0 ao 5. Em conquista de vias de baixo para cima, os escaladores muitas vezes têm que ficar pendurados em cliffs para fazer o buraco e instalar as proteções fixas.
Graus de escalada
No Brasil existe uma graduação própria de vias de escalada em livre. Ela vai do terceiro grau até o décimo primeiro (grau da “Cabra da Peste”, via de escalada confirmada mais difícil do Brasil). Até o sexto grau existe um nível intermediário que é o sup. Do sétimo em diante, cada grau tem três sub níveis, a, b e c. Não existe um documento dizendo como as vias têm que ser cotadas, elas tem o nível medido através de um consenso de escaladores, sendo que é preciso pelo menos 3 ascensões na via para confirmar o grau sugerido. Em vias longas, o grau é medido em número arábico (grau geral da via), seguido de um algarismo romano (grau do lance mais difícil, ou do “crux)”.
IMPACTO AMBIENTAL NO COMPLEXO DO BAÚ Devido ao grande número de visitantes que chegam ao Complexo do Baú, sem nenhum tipo de controle ou orientação (já que a área não está dentro de uma unidade de conservação), a região está passível de sofrer os impactos do “turismo sem consciência”. Felizmente, para evitar maiores danos a este importante patrimônio natural, a Federação de Montanhismo do Estado de São Paulo - FEMESP luta para desenvolver um trabalho de cuidado ambiental que possibilite a limpeza e estruturação das trilhas no Baú, conforme explica a escaladora Janine Cardoso: “Entre outras coisas, a Federação realiza multirões e encontros ao longo do ano para reunir a comunidade de montanha engajada em ajudar na manutenção das trilhas locais. Busca também um consenso sobre a ética durante a prática da escalada e trekkings na região. Além disso, preocupam-se em minimizar a erosão e impacto ambiental causados, muitas vezes, pelo turismo de aventura sem consciência”.
A escaladora que, além de ser hepta campeã brasileira de escalada, também atua como educadora ao ar livre levando grupos de escolas para a Pedra do Baú com a empresa Treehouse, completa: “Com ética e informação, acreditamos que o desfrute das belezas e aventuras da região pode ocorrer sem problemas. Ao meu ver, a melhor forma de educar um ser para que a harmonia passe de gerações para gerações é colocá-lo em contato desde cedo com a força da natureza, ensinando a criança que ela é um ser conectado com o todo. Desta forma, ela assimila o quão importante é para a manutenção da beleza universal, em todas as esferas.” Na internet Federação de Montanhismo do Estado de São Paulo www.femesp.org TreeHouse Educação ao ar livre para crianças www.treehouse.com.br
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DESTINO AVENTURA
Foto: Daniel Cotellessa
Estréia Top Rope na via Mamão com Açúcar (na Pedra da Divisa) que, a despeito do nome, exige um pouco de força dos iniciantes
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- só seguir na pedra e desfazer as costuras, ou seja, soltar a corda dos mosquetões. Só então fiquei sabendo o nome da via: “Mamão com Açúcar”. Na hora, achei engraçado, mas logo nos primeiros metros comecei a ficar contrariada... Mamão com Açúcar??? Não era bem assim não. Tinha que fazer força e às vezes achava que ia escorregar. Não estava exatamente com medo, porque o guia nos foi muito bem recomendado e me transmitiu muita confiança. O tempo todo ele me lembrava: “vai tranquila que ‘você está na minha’”. A questão é que pra quem nunca escalou, não dá pra ter muita noção do nível de aderência da sapatilha na pedra e a impressão é que, a qualquer momento, a lei de Newton vai falar mais alto do que a sua determinação. Como estava na corda, a minha preocupação não era a de cair, mas a de não ter força física para chegar ao final da via e acabar pra sempre com minha reputação. Imagina o fiasco de desistir no começo da Mamão com Açúcar... Isso detonaria com qualquer chance, por menor que ela já fosse, de um dia me tornar uma escaladora! E além do mais, o que eu iria relatar na revista? Bom, eu poderia abolir essa história de escalada pra iniciante já que já teríamos textos de escaladores de verdade, eu me consolava quando queria desistir. Em alguns trechos eu teria voltado de fato, se o Alan tivesse me obedecido e descido a corda quando pedi. Mas ao contrário disso, ele, o Daniel e a Tati insistiam em me incentivar. “Você está indo bem, vai conseguir!” Nada mais clichê, pensava, mas eu realmente não tinha alternativa, a não ser acreditar neles. O problema é que eu não conseguia achar as tais agarras que para eles estavam tão óbvias. Em algumas vezes, eu simplesmente tentava achar um ponto mais confortável e parava, na esperança que eles desistissem e me descessem logo. Mas não tinha jeito, eles estavam irremediavelmente confiantes na minha capacidade. De vez em quando, eu conseguia seguir em uma sequência de movimentos mais rápidos e me entusiasmava, não estava mais tão longe assim e precisava mesmo salvar a minha honra. ‘Mamão com Açúcar’ era realmente uma provocação. Uns brincalhões esses escaladores batizadores de vias, concluí eu, chegando a considerar que frequentar mais assiduamente uma academia podia ser uma boa ideia antes de encarar a próxima expedição. Quando finalmente estava chegando na última chapeleta, percebi que meus braços estavam arranhados e um dos meus dedos tinham um pouquinho de sangue. Logo senti um certo orgulho, afinal estava, literalmente, dando suor e sangue pela revista. E pensar que vários amigos me acusam de me divertir durante o trabalho... Quanta injustiça! Quando cheguei lá em baixo, depois de agradecer o apoio do pessoal para minha mini-missão, entrei na polêmica que estava rolando sobre o grau da via. Enquanto o Alan e o Daniel apostavam suas fichas com convicção de que se tratava de um 4º grau, a Tati arriscava que seria 5º. Eu, claro, fiquei do lado dela, embasada na minha ‘vasta experiência e conhecimento sobre graus de vias’. “É óbvio que é 5º grau”, pensava eu mais enfaticamente do que dizia. De qualquer forma, estava entusiasmada com a ideia de ter encarado de primeira um nível 4, caso assim fosse. Mas imaginem minha decepção quando o Daniel explicou que as vias mais fáceis são as de 4º grau mesmo, pois quase não existem vias de 3º grau ou abaixo desse nível. Chegando na pousada, confirmamos o palpite dos meninos no certeiro croqui do Eliseu: Vista Aérea - Mamão com Açúcar: 4º grau. Ok, de qualquer forma, assistindo ao pessoal escalar outras vias mais tarde, achei que não tinha sido uma má ideia ter começado exatamente pelo começo!
boulders Por Daniel Cotellessa
A
lém das vias clássicas, São Bento do Sapucaí tem se destacado pelo seu potencial para a prática de boulder, uma modalidade da escalada em que não são usados equipamentos como cordas, costuras ou mosquetões. Apenas emprega-se um colchão portátil, conhecido como crash pad, que ajuda a diminuir o impacto da queda. Os boulders, apesar de exigirem mais esforço físico do que a escalada convencional, são bem pequenos e, em média, não ultrapassam a altura de seis metros. A prática da atividade na região de São Bento do Sapucaí começou na década de 90, quando foi feita a primeira ascensão dos boulders nomeados Heavy Metal e Metalóide. Depois disso, começaram a ser descobertos inúmeros blocos de rocha em diversos pontos da região. Um evento que ajudou a divulgar a prática, foi o Festival de Escalada BloX, que inaugurou os blocos do Serrano, do Lagarto e os Aerólitos. Próximo ao centro de São Bento, fomos atrás de alguns blocos com o guia local Alan Fialho. Decidimos parar na Vista Aérea, como é conhecida a área, onde, além dos boulders, existem escaladas artificiais e esportivas. Lá, encontramos um dos atletas que é referência nacional e ajudou a inaugurar e divulgar a modalidade, Andre Berezoski, conhecido como Belê. Depois das dicas, entramos em alguns boulders muito interessantes, onde é possível passar um dia inteiro praticando e aperfeiçoando sua técni-
ca. Vale a pena pela escalada e pelo visual. Em São Bento, nos blocos do Serrano, existe um dos mais difíceis blocos de boulder do Brasil, batizado como O Dia Santo, graduado em um V14 (a graduação começa com V0). Existem vários points de boulder na região, como os blocos do Aranha, Pedra da Divisa, Akira, Falésia dos Olhos, Luminosa.
Pedra da Divisa Além da escalada tradicional, o lugar concentra vários boulders
Foto: Daniel Cotellessa
M
esmo que você não seja exatamente um escalador, ou nunca tenha sequer considerado a possibilidade, estando em São Bento do Sapucaí, não deixe de arriscar uma via, mesmo que seja bem básica, só pra sentir um gostinho do esporte que parece contagiar a cidade. Ao menos foi o que eu pensei quando cheguei por ali e percebi o clima das conversas nas pousadas, lanchonetes e em todas as rodinhas em que tentei participar, me esforçando pra decifrar os jargões, nomes de equipamentos, movimentos de escalada, graus, etc. Instigada e disposta a me sentir menos deslocada, fui conversar com o guia que nos acompanhava na cidade, o Alan Fialho, e lancei a proposta despretensiosamente, explicando meus planos: “pensei em algo pra alguém curioso, que chega em São Bento e está afim de sentir o espírito da escalada esportiva, bem de leve, mas que não seja numa escadinha”. Depois de me propor um curso na escola de escalada Montanhismus, ele me indicou um “top rope” (quando o guia faz todas as costuras até o fim da via, antes da subida de quem segue) na Vista Aérea. É uma técnica bastante segura e muito apropriada para quem está começando, conforme ele explicou. No dia seguinte, chegamos cedo na Pedra, uma formação linda, em um dia de céu bem azul que contrariava o perverso oráculo “Clima Tempo”, para total alegria do nosso fotógrafo Daniel Cotellessa. Enquanto o Alan subia, prendendo os mosquetões nas chapeletas e passando a corda com agilidade, confirmei antecipadamente o prognóstico do dia anterior - a via realmente parecia algo simples, sem maiores emoções. Fiquei um pouco decepcionada até. Nem dei muita atenção aos movimentos dele na rocha, me distraí tirando algumas fotos, entusiasmada com as cores vibrantes da paisagem. Quando me atentei, já estava na vez da Tatiana (que também escala e estava na produção da matéria). Percebi que ela gastou um pouco mais de tempo para cumprir a tarefa, mas nada preocupante. Quando fui convocada, observei a feitura do nó que me prendia à corda, ouvi as instruções básicas do Alan e peguei o magnésio, que ajuda a proteger as mãos na escalada, para começar a subida tranquilamente. Minha tarefa era simples
Por Camila Fróis
Foto: Daniel Cotellessa
Aos “escaladores” de primeira viagem
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Mais aventura
Foto: Daniel Cotellessa
DESTINO AVENTURA
Trilhas e parques
Para quem pretende visitar o destino com a família ou está mais interessado em relaxar e contemplar a natureza do que encarar aventuras mais fortes, a dica é conferir os programas oferecidos por parques e pousadas como o Complexo Buena Vista Ecoturismo, o Ecoparque Pesca na Montanha, o Refúgio Pedra do Baú e o Restaurante Pedra do Baú, que, entre outras atividades, oferecem trilhas, cachoeiras, circuitos de arvorismo, cavalgada, passeios de bike e até observação astronômica.
Buena Vista Ecoturismo
Foto: eliseu frechou
Entre as principais atividades do complexo, um lugar charmoso e com muito visual, destacam-se as trilhas que percorrem um belíssimo trecho de Mata Atlântica preservada com diversas quedas d’água dentro da propriedade. Trilha da Cachoeira do Toldi: a trilha auto-guiada possui 3,6 km ida e volta e passa por cinco quedas da cachoeira, uma das mais bonitas da região. Sua principal queda tem 70 metros, onde pode ser praticado o cachoeirismo. A queda pode ser vista de um deck no caminho que leva ao Complexo do Baú.
Trekking
Além das trilhas oferecidas pelos parques, uma caminhada que vale a pena é a da Pedra da Balança. A bela formação avistada da estrada que vai para o Baú pode ser acessada a partir de uma trilha de cinco horas de caminhada com trechos de subidas íngremes. Lá de cima, a recompensa: a vista de toda cidade de São Bento do Sapucaí e o Complexo do Baú é uma motivação e tanto para não desistir da subida.
Bike
A região montanhosa da área da Pedra do Baú possui estradas, trilhas e campos ideais para se pedalar. A equipe da Caloi utiliza a região para treinamento, por combinar grandes desafios com altitude elevada. Através da estrada que liga São Bento do Sapucaí a Campos de Jordão, é possível tomar um acesso até o distrito de Luminosa. Esta estrada possui 18 km de enormes descidas e um visual deslumbrante. Lembre-se de providenciar resgate para a volta. Outras possibilidades são subir a serra e fazer a travessia de São Bento do Sapucaí até Campos do Jordão, fazer a volta de Gonçalves ou subir a Serra do Paiol Grande. Para os interessados em treinamentos mais sérios, o biker Carlos Cristovão realiza treinamentos de Mountain bike (12-97221149).
Ecoturismo À esquerda, Trilha do Gigante no Complexo Buena Vista, que propicia diferentes percursos para caminhada em meio à Mata Atlântica; acima: voo livre a partir da rampa do Bauzinho; abaixo: Arvorismo no Restaurante Pedra do Baú Foto: Daniel Cotellessa
Aerotrilha: opção a partir da trilha da Cachoeira do Toldi em que uma parte do percurso é feita em um circuito de 500 metros de tirolesas sobre a mata e as cachoeiras - uma inovação no Brasil. O visual é perfeito.
Voo livre
A cidade é consolidada como um dos importantes pontos do circuito de voo livre do País, graças a sua rampa natural para decolagem de Asa Delta e Paraglider, a 1.810 metros, ao visual e as condições dos ventos. O desnível entre a rampa e o pouso é de 890 metros. As características do voo são de vale com fortes térmicas, com teto de aproximadamente três mil metros. O potencial de Cross Country é grande, com voos em direção ao Vale do Paraíba ou ao interior de Minas Gerais. A melhor época para a prática é na primavera. Na cidade, há guias que realizam voos duplos no local. 84 | Aventura & Ação
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Trilha até a Cachoeira dos Amores: a caminhada de 5 km leva à cachoeira de mais de 300 metros de queda d´água que deságuam num lago que chega à profundidade de 1,40 m de águas cristalinas, perfeitas para banho. O complexo, que também abriga o Restaurante Buena Vista, ainda propicia arvorismo e outras opções mais longas de trilhas como a Trilha do Índio (com três horas de duração) e o rapel na Mata Virgem, alcançado depois de uma trilha de trinta minutos de caminhada, com vista da Pedra do Baú. As atividades e trilhas (as que não são auto-guiadas) precisam ser agendadas (1297681143).
Foto: joão allievi
DESTINO AVENTURA
Astronomia O clima, a altitude, a poluição zero e a inexistência de luzes urbanas criam nas regiões de montanha, as condições especiais para se ver estrelas. Num lugar assim, a observação do céu proporciona a rara oportunidade de se desvendar um universo oculto bastante instigante. O firmamento deixa de ser um amontoado de pontos brilhantes e com a ajuda de astrônomos e seus telescópios, nos revela o palco de eventos magníficos como a passagem dos cometas os eclipses e todos os mistérios do espaço cósmico. O Refúgio de Montanha Pedra do Baú propicia a atividade de observação no fim do dia e prolonga-se noite adentro. Para melhor entender o que está acima de nossas cabeças, astrônomos experientes fazem uma explicação sobre o céu e suas constelações, ao redor do fogo enquanto saboreamos deliciosas comidinhas. Em algumas sessões de observação há trilha sonora ao vivo com conjuntos de liras, sopros ou grupos locais de música.
Ecoparque Pesca na Montanha
O parque, que fica na Estrada do Paiol Grande, oferece um espaço amplo e muito bonito com tanques de truta para pesca, trilhas para trekking, bike e cavalgada, um circuito de arvorismo e uma tirolesa de 200 metros. Além disso, há um ateliê de artes para as crianças, onde são ministradas oficinas de artesanato. O local é ideal para passar um dia tranquilo com a família.
Refúgio de Montanha Pedra do Baú (12) 3664-7145 / (11) 9686-9564 Também oferece caminhadas, passeios de bike, caminhadas, voo livre entre outras atividades
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Biodiversidade O simpático esquilo, comum das florestas de regiões mais frias, e a colorida flora de Mata Atlântica que se exibe nos parques ecoturísticos da cidade
Acampamento Paiol Grande A Fundação Paiol Grande é um atrativo a parte em São Bento do Sapucaí, seduzindo um público especial: crianças vindas de todo o País, que chegam à propriedade com expectativa de fazerem novas amizades, se divertirem muito e viverem boas aventuras pelo entorno do acampamento, que tem como vizinhos o Complexo do Baú e a Cachoeira dos Amores, entre outros exuberantes atrativos naturais da cidade. Fundando em 1940, é o acampamento de férias mais antigo do Brasil e preserva até hoje sua essência: a vivência na natureza, a integração entre as crianças e a simplicidade. Com essa receita, o Paiol cresceu ao longo dos anos e hoje conta com uma estrutura que inclui 12 chalés, refeitório, um lago para pescaria e canoagem, horta, quadras esportivas, piscina, salão de jogos e ateliê de arte. Além dos acampamentos de férias em julho e janeiro, durante o ano há atividades de finais de semana agendados pelas escolas. Mas para curtir o acampamento, a criançada tem que entrar na linha. As regras dentro do Paiol são claras: não tem videogame, TV ou internet e é proibido usar celular e jogos eletrônicos. A proposta é que os pequenos
vivam intensamente os dias de natureza e brincadeiras em grupo, algumas resgatadas do tempo dos pais, como amarelinha, queimada, pipa, entre outras. O grande diferencial do Paiol Grande, entretanto, é a subida da Pedra do Baú, aventura que as crianças maiores encaram com o apoio dos guias e de todos os equipamentos de segurança indicados para a atividade. Os pais mais receosos podem ficar tranquilos, pois o Paiol foi um dos primeiros acampamentos do País a receber certificado da Associação Brasileira de Acampamentos Educativos – ABAE, que atesta as condições de segurança e organização dos acampamentos. Foto: divulgação
Pegando a sinuosa estradinha que vai para o Baú, a 9 km do centro da cidade, está a propriedade Engenho Velho, que exibe uma construção de 1920 com moinho, monjolos e um pequeno engenho que continuam em funcionamento, sendo empregados na confecção de vários produtos artesanais como fubá, café e farinha comercializados na fazenda. Lá é servido um café tipicamente da roça, com quitutes como broa, queijos, geléias artesanais e outras delícias. (12-91276972) A próxima parada é na loja Baú das Ervas, situado em um lugar alto, com vista para as montanhas, em um local bastante gracioso, onde são confeccionados produtos aromáticos artesanais a base de óleos essenciais, como sabonetes, óleos e lavandas. As ervas empregadas são cultivadas organicamente na própria propriedade, que é vinculada à Associação Orgânicos da Mantiqueira. Além de levar uma perfumada lembrança de São Bento do Sapucaí, a pedida é agendar um escalda-pés, feito em uma espécie de caldeirão de barro sobre um deck de madeira com essências e sais e um visual encantador ao redor, finalizado com uma massagem que utiliza os produtos do lugar. (12-81461219)
Foto: eliseu frechou
Turismo Rural
Foto: eliseu frechou
Em estilo de refúgio de montanha, oferece cabanas rústicas, mas aconchegantes, a 1900 metros de altitude. Além de atividades como trilhas e passeios de bike, o Refúgio organiza uma observação astronômica no Bauzinho com trilha sonora de grupos musicais que conferem maior requinte ao espetacular céu estrelado de peculiar visibilidade do lugar. Um programa original e muito especial.
Foto: daniel cotellessa
Refúgio Pedra do Baú
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DESTINO AVENTURA
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Se você for a São Bento do Sapucaí de 4x4 aproveite a oportunidade para conhecer a região do entorno que também exibe belas paisagens como a da cidade de Gonçalves ou de Itajubá, que podem ser acessadas por estradas de terra com muito visual. Para ir para Itajubá, é só seguir pela estrada que leva para o Baú e entrar à esquerda na estrada de terra com placa para Vila Maria, seguindo por um percurso de 40 km de muito verde que inclui uma represa. Chegando à cidade, a dica é continuar o passeio pelos bairros rurais no entorno da Serra da Água Limpa em um roteiro operado pela empresa Primata, que oferece a opção de 4x4 ou bike, incluindo uma descida de caiaque no Rio Lourenço Velho. Ao todo, são 60 km passando por bairros como o Ano Bom, onde está a cachoeira de mesmo nome, o Rio Manso, que abriga a PCH Luiz Dias, de 1910, o Barra, o Rio Claro, o Salto, o Água Limpa, entre outros. No Rio Manso, estão as corredeiras do Rio Lourenço Velho, onde é possível fazer uma descida de caiaque ou duck que são disponibilizados pela Primata. Já no bairro Barra, a parada é para conhecer um enorme e imponente casarão erguido por volta 1700, avistado já ao longe na estrada. Entrar nos cômodos da construção dá uma sensação muito forte de visita ao passado. As paredes com afrescos, o piano antigo e as janelas enormes instigam a curiosidade sobre a história de quem viveu por ali há 300 anos. O histórico dos primeiros moradores não é muito conhecido, mas hoje vivem na casa membros de uma família que adquiriu a propriedade há cerca de 100 anos. Na verdade, todo o roteiro parece uma viagem no tempo. Nos deparamos com casas bem simples, carros de boi, animais soltos na rua, capelinhas antigas, tudo isso na zona rural de uma cidade industrial. No mesmo bairro da Barra, também vale a pena conhecer a produção tradicional do legítimo queijo mineiro e por que não, fazer uma preciosa aquisição. Para quem optou no roteiro de carro, é possível fazer uma refeição simples e saborosa no Bar do Tadeu, no bairro Salto, antes de encerrar o passeio. Uma dica para quem estiver com mais tempo, é quando chegar no bairro do Rio Manso, seguir por uma trilha até a Pedra de Santa Rita (ponto mais alto de Itajubá para contemplar a paisagem. A pedalada do trajeto é considerada de nível difícil, devido ao tamanho do percurso, mas a estrada é boa, apesar de algumas subidas mais fortes. O esforço é amenizado pelo visual típico da Serra da Mantiqueira. O entorno de Itajubá oferece diversas outras opções de atividade de aventura, como escalada, travessia e rapel, mas é preciso dedicar mais dias ao destino para explorar seus atrativos. Quem leva Primata Ecoturismo (35) 3622-0189 www.primataonline.com.br
Roteiro Ao todo, são 60 km de pedalada; Abaixo, casarão de 300 anos no bairro Barra
Fotos: daniel cotellessa
Tradição Em sentido horário: os bonecos gigantes que animam o carnaval de rua da cidade; uma das igrejas com arquitetura secular e esculturas em madeira do reconhecido mestre Ditinho Joana
Foto: mfc produções
Na visita ao pitoresco bairro também é obrigatória a visita à Associação de Artesãos do Bairro do Quilombo, que exibe os trabalhos de 75 artesãos afiliados, que produzem especialmente peças de palha de bananeira (fartamente cultivada na região). (12-39712669) Outra arte peculiar na cidade é a produzida por Cláudia Mattos. No caminho para o complexo do Baú, pode-se conhecer o ateliê Nakawe, da artista que faz pintura à mão em tecidos utilizando combinações diferentes de cores e motivos. Panôs, aventais, bolsas, almofadas trabalhados com bom gosto e sensibilidade estão expostos no lugar e podem também ser apreciados em várias pousadas e restaurantes da cidade. (12-97198007).
Serra da Água Limpa em Itajubá
Foto: walkyria ferraz
T
ransformado em cidade em 1858, o hoje sossegado município de São Bento do Sapucaí já foi palco de batalhas na revolução de 1932 e refúgio de ex-escravos. Mas agora atrai apenas interessados na sua deslumbrante paisagem e cultura. Além de muita natureza, São Bento também exibe arte, folclore e tradição, seja no famoso Bairro do Quilombo, onde estão vários artesãos da cidade, seja na arquitetura da igreja matriz, (construída por escravos e decorada com telas de pintores de renome de 1853), ou nas manifestações carnavalescas que ganham vida com bonecos gigantes de cerca de dois metros de altura, que já fazem a festa da criançada um mês antes da folia, quando começam os ensaios diários nas ruas centrais da cidade. No Quilombo, o escultor Benedito da Silva Santos, o Ditinho Joana, exibe sua arte em madeira reconhecida mundialmente. Antes de se dedicar à arte, trabalhava como lavrador na roça, mas não se identificava com o trabalho. Foi quando num certo dia, ao fazer o trivial trajeto em meio a muito pasto, Ditinho encontrou um tronco de árvore que achou muito parecido com um animal. “Não conseguia definir ao certo com qual animal aquele tronco parecia, se era com um macaco, um cavalo, ou algo assim. Mas que parecia, parecia”, brinca. Ditinho então levou o tronco para casa e após dias e dias analisando a matéria-prima, decidiu esculpir em um só pedaço de madeira uma imagem. Nascia um mestre na arte. Hoje, Ditinho dá formas lindas aos troncos inteiriços. Ao longo dos anos, imortalizou na madeira o cotidiano do trabalhador rural (sua maior fonte de inspiração). Entre suas famosas peças está a bota do caboclo. Simpático, o artista gosta de uma boa conversa e de contar “causos”. (12-39712579)
Fotos: daniel cotellessa
CULTURA
Passeio Off Road e Mountain Bike
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DESTINO AVENTURA
serviços Veja mais opções de hospedagem, restaurantes e outras empresas Restaurante Pedra do Baú
Onde ficar Cabanas do Toldi (12) 3971-8181 Pousada do Sítio (12 3971-1640) Chalés Canto dos Baús (12) 3971-1132 Ecoparque Pesca na Montanha (12) 9716-5017 Refúgio de Montanha Pedra do Baú (12) 3664-7145 Refúgio Montanhismus (12) 3971-1470 www.montanhismus.com.br Hotel Girassol (12) 3971-136 Pousada Canto da Lua (12) 3971-2233 Pousada Canto Verde (12) 3971-1633
charme em hospedagem S Restaurante Pedra do Baú Do deck do restaurante que está localizado aos pés da Pedra do Baú, a vista é inspiradora. Enquanto faz uma refeição sem pressa alguma, as crianças podem se divertir no arvorismo. Refúgio Pedra do Baú Voltado para a hospedagem de montanhistas e praticantes de atividades outdoor, oferece quartos para casal e quartos coletivos, além de espaço aberto, muro de escalada, slack line, jardim, cozinha com utensílios, estacionamento interno, e também loja. (12 - 39711118)
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CANTINA TIO GIUSEPPE Localizada na estrada do Paiol Grande, a cantina é especializada em deliciosas massas caseiras, como cannelonni, quatro queijos, rondelli entre outros. (12-97067135) Restaurante Pesca na Montanha Pratos à la carte e bufê servido em fogão a lenha. Entre as especialidades: trutas grelhadas, acompanhadas por diversos tipos de molho. Diretas do criadouro local para a mesa. No caminho da Pedra do Baú há placas indicativas de como chegar ao local. (12-36621987) POUSADA DO SÍTIO O sítio oferece muito lazer para a família inteira. A estrutura inclui lago para pesca, restaurante, pizzaria, piscina, piscina infantil, leite pé da vaca e playground. (12-39711640)
Onde comer
Restaurante Pesca na Montanha
Buena Vista Café (12) 3971-8181 Restaurante Sabor da Serra I e II (12) 3971-1334 Trincheira Restaurante (12) 3971-2686 Artesanato
Hospedaria Casarão O bonito casarão do início do século 20 é bem conservado e mantém todo o mobiliário da época. Fica num terreno com muitas árvores e paisagismo cuidado. O café da manhã é muito bom, com pães, bolos, geléias e queijos - tudo fresco e feito na própria casa. A decoração é rústica, mas com um toque sofisticado. Há apartamentos e chalés, todos em estilos diferentes, mas de extremo bom gosto e conforto. (12-39712582)
Fotos: divulgação
ão Bento do Sapucaí conta com dezenas de pousadas, algumas no centro, outras mais afastadas em refúgios ecológicos, mas a maioria delas muito acolhedoras e convidativas para um final de semana tranquilo aos pés de belas montanhas. Nos restaurantes da cidade, comida de fazenda, boas pizzas ou trutas são interessantes pedidos para repor as energias gastas nas trilhas e aventuras pela cidade. Seguem algumas dicas:
Refúgio de Montanha da Pedra do Baú
Arte no Quilombo (12) 3971-2669 Arte com Arte com Vela (12) 3971-1831 Nakawe Tecidos (12) 9719-8007 AgroArte (12) 3971-2365 Ateliê Ditinho Joana (12) 3971-2679 Serras Brasil (12) 3971-2749 Escalada Escola de escalada Montanhismus Escola do reconhecido escalador Eliseu Frechou (12) 3971-1470 www.montanhismus.com.br SOS SAPATILHA A SOS sapatilha, empresa do experiente escalador André Berezoski oferece restaurando de sapatilhas de todas as marcas e modelos. O escalador também atua como personal de escalada. www.bele.com.br (11) 8244-6672
Restaurante Pedra do Baú
operadoras Guia Alan Fialho O guia faz trilhas, passeios e escalada na região com bastante experiência e equipamentos de segurança (12) 9750-1838 Triboo A empresa especializada em turismo de aventura opera passeios de mountain bike, escalda, travessia, rapel, entre outras atividades na região. Propicia também a subida do Baú com os equipamentos de segurança apropriados. (35) 3622-5373 www.triboo.com.br
Primata Opera diversos passeios e travessias e roteiros de bike a partir da cidade de Itajubá, vizinha à São Bento do Sapucaí (35) 3622-0189 www.primataonline.com.br TreeHouse Educação ao ar livre (11) 9222-2250 www.treehouse.com.br Prefeitura Municipal de S. Bento do Sapucaí (12) 3971-6110 www.saobentodosapucai.sp.gov.br Aventura & Ação | 91