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CICLO VIRTUOSO
Os enormes desafios técnicos e econômicos envolvidos na gestão das cidades, só serão superados ou adequadamente minimizados, através da adoção de medidas que de forma criativa e responsável venham a aplicar todos os recursos disponíveis. O sociólogo Renato Lima, coordenador de análise de informação da Secretaria Nacional de Segurança Pública, autor de uma tese de mestrado que analisava a lógica dos homicídios na cidade de São Paulo, avalia:
“A organização do espaço é fundamental na estruturação do crime, porque determina as condições em que a violência vai ocorrer. As ações propostas pelo estudo podem, em tese, ajudar a atenuar o problema. "Intervenções urbanas ajudam a evitar que o crime use a falência do Estado em sua versão violenta” (LEITE, 2004).
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A perspectiva de que a urbanização influi diretamente nas futuras relações que se darão no espaço surge como uma conclusão obvia uma área urbana onde não há escolas, equipamentos de lazer e cultura nem postos de saúde e bases policiais, submete seus usuários, sobretudo os jovens, a uma condição de vulnerabilidade, uma vez que de tal forma o estado se mantém distante assim como as oportunidades de avançar nos estudos ou mesmo de envolver-se em atividades enriquecedoras. Adespeito de sua obrigação, é fácil constatarmos a omissão do estado no que diz respeito ao atendimento das
necessidades dos cidadãos, sobretudo nas áreas que concentram populações economicamente menos favorecidas, onde dificilmente encontraremos equipamentos públicos.
Através da adoção do sistema construtivo de peças pré-fabricadas e aproveitamento da força de trabalho dos presos, se viabilizaria a realização de um enorme volume de intervenções publicas direcionadas ao atendimento da demanda por equipamentos, a um custo infinitamente inferior ao qual seria necessário caso tal demanda fosse atendida de forma convencional. Tanto a cidade quanto o presídio, existem para atender as necessidades da sociedade, de modo que a relação entre elas precisa ser de equilibrada cooperação, e não da forma como hoje se dá, onde os recursos dos cidadãos são aplicados na instituição disciplinar sem a necessária contrapartida. É justo que a sociedade ao financiar a instituição, receba em troca, mais do que: a vã perspectiva de financiar a teórica recuperação dos indivíduos ou livrar-se provisoriamente do convívio com os que representariam risco. Mas sim estabelecer condições para que os recursos investidos de fato gerem condições propicias a redução da criminalidade tanto de forma preventiva como corretiva.
Neste caso o ciclo virtuoso se daria através do investimento e retorno. O cidadão já investe financeiramente nas unidades prisionais à medida que o estado destina recursos a tais instituições, entretanto hoje tal investimento ocorre a fundo perdido. Estreitar a relação entre políticas publicas em áreas distintas, no caso segurança pública e infra estrutura conforme já exemplificado anteriormente, é fundamental para que o cidadão possa ter a contrapartida através do atendimento de sua necessidade por equipamentos públicos.
“Nossas cadeias são construídas com o objetivo de punir os marginais e de retirá-los das ruas não com o intuito de recuperá-los para o convívio social." (VARELLA, 2012, p.193). Conforme já discutido, é urgente articular uma nova política prisional. Este projeto busca avançar em direção a uma arquitetura que se constitua uma ponte entre o velho modelo ainda vigente e o futuro.
ARQUITETURA
Reflexões a parte, é através do projeto que o arquiteto comunica suas idéias, sendo assim, tendo feito uso do direito ao livre pensamento, é importante frisar que a solução para um problema tão complexo, só será possível através de uma ampla discussão multidisciplinar que vai muito além dos limites de um trabalho como o pretendido. Deixando para o Direito e a Sociologia a urgente obrigação de avançar na discução a cerca do método a ser proposto, o trabalho busca contribuir com o atendimento da parcela que cabe à Arquitetura, investigando possibilidades de arranjo espacial adequadas as demandas contemporâneas, buscando soluções econômica e socialmente responsáveis.