Revista Quero Saber (especial) - Incrível História 2

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NO VA

mundo antigo

edifícios & locais

armas & guerr a

A força militar da Antiga Roma As justas explicadas

mais de

Como foi inventada a guilhotina?

1.400 factos & respostas

De que modo funcionava o gramofone?

Como eram realmente os velociraptors? Os dinossáurios mais letais

especial

incrível

historia

tudo o que precisa de saber sobre o mundo que habitámos O desenvolvimento dos explosivos

No interior da catedral de Cantuária

Quem foram os temíveis Celtas?

Relógios de cuco

As teorias de Darwin ao pormenor

Como combatiam os índios?

O tanque Sherman na II Guerra Mundial

indústria & inventos

figur as influentes

pré-história



© Matt_Martyniuk

Bem-vindo à especial

INCRÍVEL

HISTÓRIA Quais foram afinal as maiores invenções que a Roma Antiga nos legou? Como seria a vida no tempo do giganotossáurio? Quem foi Tycho Brahe e porque é relevante? Como era ser um mosqueteiro ou um guerreiro índio? Como surgiu a dinamite e quem a criou? Com os atuais progressos científicos e tecnológicos, é fácil esquecermos as descobertas, as criaturas, os conflitos e as figuras influentes que moldaram o mundo que habitamos. Esta nova edição da Quero Saber Especial Incrível História leva-nos numa viagem através do tempo, recuando até alguns dos mais significativos momentos, eras, práticas, edificações, ferramentas, inventos e visionários que marcam o passado da humanidade e da Terra.

FICHA TÉCNICA CONTABILIDADE Cláudia Pereira APOIO ADMINISTRATIVO Tânia Rodrigues e Catarina Martins EDITOR Goody S.A. Sede Social, Edição, Redação e Publicidade Av. Infante D. Henrique, nº 306, Lote 6, R/C 1950-421 Lisboa Tel.: 218 621 530 - Fax: 218 621 540

DIRETORA Rita Hasse Ferreira REDAÇÃO E EDIÇÃO Mónica Marques

ASSESSOR DA DIREÇÃO GERAL Fernando Vasconcelos

TRADUÇÃO E REVISÃO Catarina Almeida, Diana Rocha, Inês Gonçalves, Liliana Rodrigues, Marta Pinho, Nuno Fernandes, Patrícia Caixeirinho, Rita Santos

DIRETOR ADMINISTRATIVO E FINANCEIRO Alexandre Nunes

RESPONSÁVEL GRÁFICA Susana Berquó

DIRETOR GERAL António Nunes

PAGINADORES Vanda Martins, Susana Berquó, João Correia COORDENADOR DE PRODUÇÃO EXTERNA António Galveia COORDENADOR DE PRODUÇÃO Paulo Oliveira DIRETORA COMERCIAL Luísa Primavera Alves Tel: 218 621 546 E-mail: luisa.alves@goody.pt ACCOUNT Paula Russo Tel.: 218 621 547 E-mail: paula.russo@goody.pt

COORDENADOR DE CIRCULAÇÃO Carlos Nunes SERVIÇO DE ASSINANTES E LEITORES Marisa Martins Tel.: 218 621 543 E-mail: assinaturas@goody.pt Site: www.assineagora.pt DISTRIBUIÇÃO DE ASSINATURAS JMTOSCANO LDA Tel.: 214 142 909 E-mail: geral@jmtoscano.com Site: www.jmtoscano.com

PRÉ-IMPRESSÃO E IMPRESSÃO SOGAPAL Estrada das Palmeiras, Queluz de Baixo, 2745-578 Barcarena DISTRIBUIÇÃO Urbanos Press TIRAGEM 11.000 exemplares

A Quero Saber é propriedade da Goody, S.A. Todos os artigos originais são propriedade da mesma. Os artigos adaptados da revista How It Works são propriedade da Imagine Publishing, estando a Goody, S.A. autorizada a reproduzi-los em Portugal. É proibida a reprodução total ou parcial de textos, fotografias ou ilustrações da revista Quero Saber para quaisquer fins, incluindo comerciais, sem autorização expressa do editor.

© Imagens de capa e contracapa: DK Images; Thinkstock; Dreamstime; Adam Redzikowskie; Matt_Martyniuk; Kabacchi; Ian Jackson; PHGCOM

© Thinkstock

Boas leituras!


ESPECIAL INCRÍVEL HISTÓRIA

SUMÁRIO Mundo Antigo

Edifícios & Locais

Armas & Guerra

008 Invenções da Antiga Roma

038 Catedral de São Basílio

076 Tanque Sherman

014 Múmias de gelo

040 Panteão de Roma

078 Os mosqueteiros

015 O que são as linhas de Nasca?

042 Catedral de Sevilha

080 As justas explicadas 082 Pontes levadiças

016 Relógios de sol

044 Massachusetts State House

016 Ferrar cavalos

046 O Castelo de Cardiff

017 Guerreiros índios nativos

048 Catacumbas de Paris

083 Quebrar a barreira de som

018 A mumificação 019 Territórios tribais britânicos 020 Os Celtas 024 Juncos chineses 026 Cercos romanos 028 Vida e morte no Antigo Egito 034 Villas romanas

048 Esconderijos de padres 049 Abu Simbel

087 Armaduras de placas

052 Como evoluiu o Castelo de Warwick 054 Basílica de S. Francisco de Assis

088 Jerusalém sob cerco 090 Combates aéreos da Primeira Guerra Mundial

056 Catedral da Cantuária 058 Ilha da Páscoa 062 No interior do Capitólio 064 Túmulos gregos 065 Esfinge de Giza

083

084 Galeão espanhol do século XVI 086 Aríetes brutais

050 Catedral Nacional de Washington

060 A ponte de Brooklyn

Quebrar a barreira do som

083 Armas de sílex

066 A corrida ao Polo Sul 068 Teto da Capela Sistina 070 Maravilhas de Angkor Wat

Invenções da Antiga Roma

008

072 O que torna Alcatraz tão seguro?

162

004 | Quero Saber

Os dinossáurios mais letais


046

Castelo de Cardiff

094 Fiação de algodão 096 As origens do helicóptero 096 Relógios de bolso 097 “Madame Guilhotina” 097 O primeiro telefone

Benjamin Franklin

098 A turbina de Parsons 100 Ferrovias de cremalheira

126

102 Conservação da Mona Lisa 104 Câmaras escuras 106 Câmara pinhole 106 Cabina fotográfica 107 O primeiro submarino elétrico

144

Peter Higgs

Como funcionava o gramofone

© iStock

109

118 Aparelho auditivo 119 Gira-discos 119 Bolas de râguebi 120 Cunhagem de moedas 120 Como era curtida a pele 121 Relógios de cuco 122 A bordo de um baleeiro

Figuras Influentes 126 Benjamin Franklin 128 Isambard Kingdom Brunel 130 Guglielmo Marconi 132 Os irmãos Wright 134 Tycho Brahe 136 Albert Einstein 138 Max Planck

107 Homem de Piltdown

140 Michael Faraday

108 Retroprojetor

142 Alfred Nobel

108 Primeiro aspirador

144 Peter Higgs

109 Gramofone

146 Charles Darwin

109 Fogo por arco

148 Neil Armstrong

110 Fabrico de espelhos

150 Henry Ford

110 Cinema com som

152 Nicolau Copérnico

111 Sistema Braille

154 Niels Bohr

111 Telefones de teclas 112 Extração de sal 113 Microfilme

Pré-história

113 Produção de olaria

158 Os 10 dinossáurios mais letais

114 Muros em pedra seca

164 Velociraptors

114 Dentro de um metrónomo

166 O braquiossáurio

115 Sinclair C5

170 Tyrannosaurus rex

115 Câmaras instantâneas

168 Estegossáurio

116 Moinhos de água

172 O maior mamífero terrestre de sempre

117 Comboios Pullman

174 Encontrar fósseis

118 Triciclos para vias férreas

178 Como datar dinossáurios Quero Saber | 005

© iStock

Indústria & Inventos


MUNDO ANTIGO 008 Invenções da antiga Roma

Descubra como o Império Romano ajudou a criar o mundo em que vivemos.

014 Múmias de gelo

Como as temperaturas negativas podem preservar cadáveres durante séculos.

015 O que são as linhas de Nasca?

Saiba o que são e como terá surgido este misterioso conjunto de geóglifos num deserto peruano.

016 Relógios de sol

O instrumento que mostrava as horas do dia aos povos antigos.

016 Ferrar cavalos

Há milhares de anos que protegemos as patas deste animal – de que forma?

017 Guerreiro índio nativo

Fique a conhecer o equipamento essencial de um guerreiro Sioux, do Dacota, EUA.

018 A mumificação Descubra todas as fases do processo utilizado para a preservação de múmias.

020

Os celtas

006 | Quero Saber

019 Territórios tribais britânicos

Conheça as tribos nativas da Grã-Bretanha ancestral.

020 Os celtas

Como a Idade do Ferro revolucionou este povo pré‑romano.

024 Juncos chineses

Utilizados desde o século II, garantem controlos dinâmicos de navegação a grande velocidade.

026 Cercos romanos

Os equipamentos e táticas que ajudaram os romanos a conquistarem as muralhas mais fortes e protegidas.

024

Juncos chineses

Invenções da antiga Roma

008

028 Vida e morte

no antigo Egito

Explore o misterioso passado egípcio e explore as suas engenhosas invenções e rituais funerários únicos.

034 As villas romanas

Visite estas estruturas imponentes construídas com pedra, madeira e tijolo.

Linhas de Nasca

015


Mumificação

018

017

016

Relógios de sol

Guerreiros índios nativos

028

Vida e morte no antigo Egito


MUNDO ANTIGO

COMO OS ROMANOS MUDARAM O MUNDO EM QUE VIVEMOS. Provavelmente a maior de todas as civilizações antigas, o Império Romano representava a era da antiguidade clássica e ajudou a criar o mundo em que hoje vivemos. Os grandiosos projetos de engenharia e os avanços na medicina e na sociedade asseguram que a influência romana continua a ser sentida hoje. O betão e o cimento, por exemplo, ganharam popularidade em primeiro lugar na Roma antiga, bem como um tipo de

008 | Quero Saber

aquecimento central conhecido por hipocausto. Mas uma das características mais notáveis era a habilidade dos romanos para colocarem em prática os seus projetos e invenções em cidades espalhadas por um vasto império. Roma era uma metrópole movimentada que nenhuma civilização igualou em prosperidade e dimensão durante séculos. Nem um outro local do mundo antigo tinha grandes centros comerciais como o Mercado de Trajano, aterros

especializados como o Monte Testácio ou redes de esgotos como a Cloaca Máxima. Também eram especialistas no planeamento urbanístico e na construção de grandes estruturas. A vida doméstica foi revolucionada e o exército era uma força arrasadora que tomou o mundo antigo de assalto. Para comemorar o seu efeito na sociedade e tecnologia modernas, a Quero Saber revela quão inovadora foi esta civilização. WWW.QUEROSABER.SAPO.PT


Frente a Frente

1. Cartago

GRANDE

2. Alexandria

MAIOR

Centro do derrotado império cartaginês, Roma fez de Cartago um dos seus principais satélites, chegando aos 500 mil habitantes.

CIDADES ROMANAS

A MAIOR

A cidade egípcia tornou-se próspera durante a dinastia ptolemaica; na época da conquista romana tinha entre 500 mil e 750 mil habitantes.

3. Roma

Com uma população estimada de um milhão de habitantes e lar do imperador, Roma era a principal metrópole do império.

SABIA QUE... Lugo, em Espanha, é a única cidade europeia rodeada por muralhas romanas intactas?

Engenharia na vida familiar A tecnologia no interior de uma casa romana. Os cidadãos de Roma tinham de estar alojados devidamente para assegurar o funcionamento de uma sociedade organizada. Antes dos romanos, estruturas impressionantes foram construídas pelos egípcios e pelos gregos, mas nunca à escala do Império Romano, com os seus extensos projetos habitacionais. As técnicas de construção romanas tinham muitas influências gregas e etruscas. As casas

A residência romana Mais do que apenas um telhado sobre a cabeça, a casa romana era muito complexa.

tinham um ou dois andares e incluíam diversas secções diferentes. Adaptada ao calor do Mediterrâneo, normalmente a casa romana típica não tinha janelas (era raro usar-se vidro), contando antes com um átrio que servia como pátio a céu aberto no meio do edifício. A vida doméstica era melhorada por um sistema público totalmente funcional que fornecia cereais a 300 mil famílias romanas todos

Construção

Os romanos usavam roldanas e alavancas para mover grandes blocos. Os escravos faziam o trabalho árduo.

os anos. Se queria terapia comercial, o Mercado de Trajano tinha mais de cem tabernae (lojas) que vendiam diversos bens. Nem todos os cidadãos tinham a sorte ou a riqueza para possuir uma casa. As classes baixas viviam nas insulae (edifícios de apartamentos). Pensa-se que havia mais de 40 mil destas na cidade, ultrapassando as casas familiares numa proporção de 20 para um!

Telhas

Um pedreiro esculpia telhas finas de pedra, que eram colocadas sobre vigas de madeira e fixadas com pregos.

Mosaicos

Pedaços de pedra eram colocados no cimento para criar belas obras de arte. Esta técnica foi trazida da Grécia.

Tijolos de argila

Aquecimento

As casas maiores eram aquecidas pelo hipocausto, um antigo método de aquecimento subterrâneo.

Os tijolos eram de argila cozida. As legiões trabalhavam com fornos portáteis e os tijolos tinham muitas vezes a marca da legião.

O hipocausto Correntes de convecção

Debaixo do chão, os respiradouros permitiam ao ar quente (que vinha de uma fornalha de madeira) circular, usando correntes de convecção para aquecer os azulejos acima.

Funcionamento

Os escravos mantinham o sistema a funcionar, alimentando as chamas. Não se sabe quão bem funcionavam as correntes de convecção e se havia divisões que ficavam muito quentes.

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Desvantagens

O hipocausto estava reservado para as vilas mais ricas e grandes banhos públicos. A queima de madeira produzia fumos de monóxido de carbono tóxicos.

Estradas

As estradas romanas ligavam cidades e vilas e permitiam uma rápida comunicação militar e administrativa. A construção começava com uma trincheira, que era cheia com uma base de pedras. As pedras eram juntas, por norma com cimento, para criar uma fundação firme sobre a qual os exércitos pudessem marchar e os veículos passar. Lajes grandes eram utilizadas à superfície. Eram colocadas e ajustadas à mão, juntamente com canais ao longo das estradas que permitiam à água correr para os campos circundantes. Há autoestradas no Reino Unido cujas origens remontam à conquista romana da Britânia!

Quero Saber | 009


MUNDO ANTIGO

Engenharia de um aqueduto Como os romanos construíram uma imensa rede de gestão da água. Os aquedutos não foram inventados pelos romanos, mas foram popularizados por eles. Existiam em Roma 1.300 fontanários e 144 latrinas públicas, e todos eram alimentadas pelo complexo sistema de aquedutos, que trazia água potável das áreas rurais. O sistema era acompanhado por uma rede de esgotos complexa. O esgoto principal de Roma era conhecido por Cloaca Máxima e levava a água suja para fora da cidade até ao rio Tibre. O primeiro aqueduto romano chamava-se Água

1

Ápia. Foi construído em 312 a.C. e ajudou a satisfazer a procura de água numa Roma em rápido crescimento. Sempre que possível, a maior parte de um aqueduto era construída debaixo de terra, para o proteger dos inimigos. Os icónicos arcos eram apenas necessários quando as estruturas se aproximavam de uma cidade ou tinham de cruzar uma ravina. Os instrumentos básicos mas eficazes utilizados na construção eram a dioptra (medição de ângulos) e o chorobates (medição de planos

horizontais). Eram utilizados por engenheiros do exército que conceberam um sistema baseado na gravidade, com condutas e calhas inclinadas para ajudar a água a correr – o que demonstrava uma excelente engenharia estrutural e perícia na gestão da água; os aquedutos eram tão bem construídos que alguns ainda funcionam!

Hidráulica

Apesar de terem um conhecimento limitado em ciência da construção, os construtores romanos perceberam que a gravidade e a pressão da água tinham um papel essencial.

Groma

Um importante instrumento na Roma antiga, a groma era usada para medir linhas e ângulos retos.

Topografia

Cada aqueduto tinha de ser ajustado ao terreno que atravessava, pelo que a construção era planeada cuidadosamente.

Materiais de construção

Os aquedutos eram construídos na sua maioria em pedra calcária, extraída de pedreiras nas proximidades. Os blocos eram unidos com betão romano e cimento, que era feito de escória vulcânica resistente e impermeável, chamada pozolana.

2

Planeamento

3

Técnicas de construção

A construção de aquedutos era muitas vezes financiada pelos próprios imperadores, pelo que tinham de ser meticulosamente planeados. A terra precisava de ser estudada por engenheiros para se ter a certeza que era adequada para a construção.

Andaimes

Enquanto era construído, o aqueduto era sustentado por armações de andaimes em madeira, que apoiavam a estrutura enquanto a pedra era trazida de pedreiras próximas.

O arco romano reforçado era uma parte essencial do aqueduto, já que aguentava a pressão e o peso da água depois das armações de andaimes serem retiradas. Roldanas, cunhas e parafusos eram utilizados como mecanismos de elevação.

4

Conceção e utilização

A água era transportada a grande distância desde a fonte até áreas urbanas, e armazenada em cisternas na cidade e numa rede de canos até cada edifício. Os aquedutos auxiliavam também no sistema de esgotos da cidade e protegiam contra fogos.

010 | Quero Saber

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RECORDES CAPITAL A ABARROTAR

1 MILHÃO

RECORDE DURADOURO DE ROMA A população de Roma atingiu um milhão de habitantes no auge de poder do império. Este número não foi ultrapassado na Europa durante quase dois mil anos, até Londres começar a prosperar na Revolução Industrial.

SABIA QUE... Os aquedutos de Roma forneciam até mil litros de água para cada habitante da cidade?

Cobertura

Nas secções do aqueduto à superfície, um telhado chamado specus era por vezes utilizado para proteger a água dos elementos, mantendo-a fresca e limpa.

Arcos

Os arcos eram uma característica popular da arquitetura romana. Fortes e versáteis, um aqueduto seria muito menos eficaz sem a sua existência.

Longa viagem Muitos consideram que o aqueduto foi um dos melhores desenvolvimentos romanos. Frequentes no mundo romano, a eficácia e modernidade do seu sistema foram perdidas depois da queda do império e apenas recuperadas muito mais tarde na história humana. Muitas destas estruturas eram subterrâneas, mas são lembradas pelos segmentos à superfície, com os arcos de volta perfeita icónicos que eram essenciais na sua construção. Com o desenvolvimento técnico, os aquedutos eram também utilizados para abastecer fábricas fora das cidades e minas com água. O aqueduto mais longo de Roma chamava-se Água Márcia, com 91 km desde a fonte até à cidade, mas sistemas ainda mais compridos foram construídos um pouco por todo o império.

Jornais romanos Todos os cidadãos de Roma eram atualizados por dois jornais diários. O Acta Senatus certificava-se que o público sabia o que se passava no senado, enquanto o Acta Diurna era um jornal diário focado nas notícias de Roma e no tempo. Ambas as publicações eram escritas à mão, pelo que a sua tiragem não era muito elevada, mas o Acta Diurna foi publicado durante 200 anos. O Senatus não teve tanta sorte, já que diversos imperadores proibiram a sua publicação, preferindo manter privadas as atas do senado. Os romanos foram também pioneiros nos correios. O Cursus Publicus era um sistema de correio estatal que entregava mensagens em todo o Império Romano.

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Quero Saber | 011


MUNDO ANTIGO

Edifícios

As maiores cidades albergavam os maiores edifícios. No seu auge, Roma foi uma das cidades tecnologicamente mais avançadas do mundo, se não a mais avançada. Com enormes edifícios, arquitetura revolucionária e população que gozava de habitação, água e alimentos dentro das suas muralhas, a capital do vasto império estava muito à frente do seu tempo.

O Coliseu

O Coliseu tornou-se o centro cultural de Roma depois da sua construção em 80 d.C., mas a capital contava igualmente com um dos maiores estádios de todos os tempos, o Circo Máximo, bem como com outros exemplos de grande engenharia como o Panteão, o Arco de Sétimo Severo e o Teatro de Pompeu.

O segredo do nome

Como foi construída a atração principal do Império Romano?

O nome Coliseu deriva da palavra colossus, nome que designava as estátuas gigantes erigidas na cidade pelo imperador Nero.

Betão e cimento

Cimento pozolânico tornava os edifícios mais fortes e permitia que diversos níveis fossem construídos em cima uns dos outros.

Dimensões

Com 48 m de altura e 189 x 156 m de comprimento e largura, o Coliseu tinha espaço para 50 mil romanos sedentos de sangue!

Bilhetes

Como nos estádios modernos, eram dados aos espetadores bilhetes numerados, enquanto barreiras de madeira ajudavam a manter a ordem entre secções.

Velarium

Todos os espetadores no Coliseu estavam protegidos do quente sol mediterrânico por um toldo chamado velarium.

012 | Quero Saber

Construção

A parede exterior do Coliseu era feita de 100.000 m3 de pedra calcária, fixada com 300 toneladas de grampos de ferro.

Arcos

80 arcos de betão proporcionavam ao Coliseu uma força duradoura, que lhe permitiu manter-se de pé durante quase dois mil anos!

Labirinto subterrâneo

Sob o Coliseu existiam túneis pelos quais eram elevadas jaulas até à arena, usando um sistema de roldanas acionado por escravos.

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CINCO FACTOS EXÉRCITO ROMANO

Organização

1

Uma centúria tinha 80

legionários. Seis centúrias faziam uma coorte de 480 homens. Uma legião tinha dez coortes e o exército tinha 30 legiões, num total de cerca 150 mil soldados.

Treino

2

Pagamento

O treino durava quatro meses

e era composto por marcha, formação e treino de armas. Os recrutas aprendiam a nadar, a montar a cavalo e a usar o arco e a funda.

3

Juramento militar

4

Um legionário ganhava 225

denários de base durante um ano. Destes eram feitas deduções para equipamento, comida e até para o banco de poupanças do regimento.

Roupa e armadura

5

Cada soldado tinha de dizer

o sacrementum quando iniciava o serviço, jurando vassalagem ao imperador e prometendo nunca abandonar outros soldados ou a batalha.

A armadura era leve mas

robusta; tal como o capacete, podia defletir projéteis. A túnica militar era suficientemente confortável para marchas longas.

SABIA QUE... Os soldados tinham de ser capazes de marchar 32 km em cinco horas, carregando 20,5 kg de equipamento?

Força militar Tanto em terra como no mar, o Império Romano dominou a guerra durante séculos, invadindo largas porções da Europa e fazendo incursões em África e na Ásia Menor. Os romanos dominavam os adversários através do uso de táticas superiores, e de armas e armaduras concebidas de forma perfeita. Os soldados eram divididos em legiões que serviam diferentes territórios e faziam uma jura de lealdade aos centuriões. Uma das razões principais para as vitórias dos romanos (e o que os liga aos militares atuais) é que o seu exército era uma força profissional. Sendo uma ocupação a tempo inteiro, um soldado tinha uma das profissões mais bem pagas e respeitadas do império.

Romanos em batalha Como seria uma batalha entre as forças do Império Romano e uma horda bárbara.

Cavalaria

A cavalaria apoiava os legionários atacando os flancos. Também perseguia inimigos que tentavam fugir.

A guerra no mar No mar alto do Mediterrâneo, os romanos dominavam ainda mais do que em terra. Utilizando trirremes e galés impulsionadas por equipas com mais de cem homens, os navios atacavam abalroando os adversários ou abordando os seus navios. Com muitas estratégias baseadas na desconstrução

de métodos gregos e cartagineses, a superioridade marítima foi essencial para a vitória nas Guerras Púnicas e contra o Egito. O ramo sénior da marinha era a Classis Misenensis e, com exceção das guerras civis internas, atingiu o domínio marítimo total para Roma depois das Guerras Púnicas.

Formação

Os legionários formavam uma frente defensiva com os scutum (escudos) retangulares – uma melhoria da falange grega.

Centuriões

Um centurião comandava uma unidade de 80 homens e era responsável pelo seu treino e disciplina depois de ser promovido.

À distância Legionários

A legião era a principal unidade do exército e os candidatos tinham de ser cidadãos romanos com idades entre os 17 e os 45 anos.

O pilum e o verutum eram lanças usadas em ataques à distância para enfraquecer o inimigo antes da carga.

Auxiliares

Os auxiliares (soldados que não eram cidadãos) formavam o resto da milícia imperial e só recebiam a cidadania após 25 anos de serviço.

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Disciplina

As rígidas fileiras eram extremamente eficazes contra as hordas bárbaras, que não tinham resposta eficaz para a formação Testudo (tartaruga).

Na proximidade

Quando as duas forças se encontravam, o gladius ou o pugio eram usados em combate de proximidade.

Quero Saber | 013

© Sol90; Thinkstock; Look and Learn; CG Textures

Os antigos romanos eram conquistadores hábeis.


MUNDO ANTIGO

O túmulo de uma múmia com 2.400 anos conhecida como Siberian Ice Maiden. Em baixo, uma de três crianças incas desenterradas no cume do Cerro Llullaillaco, na Argentina.

Múmias do gelo Preservadas no gelo durante séculos, e até milénios, como é que estas pessoas acabaram congeladas? Numa tarde de outono em 1991, Erika e Helmut Simon andavam por um local pouco explorado dos Alpes quando encontraram um cadáver a sobressair do gelo. Parecia tão fresco que pensaram que fosse o corpo de um esquiador ou alpinista infeliz – mas era Ötzi, um caçador do início da Idade do Bronze que andou pela zona há 5.300 anos. Foi uma valiosa descoberta arqueológica, mas Ötzi está longe de ser um espécime único. Cadáveres antigos enterrados no gelo têm sido encontrados por todo o mundo, quer tenham sido vítimas de violência, um acidente ou, num caso mais recente e famoso, de um ritual de sacrifício. A múmia Juanita foi descoberta em 1995 no cume do Monte Ampato, Peru, tendo sido sacrificada para os deuses incas aos 12-14 anos algures no século XVI. As temperaturas negativas teriam

014 | Quero Saber

preservado indefinidamente os seus corpos, como carne num congelador. Mas depois de terem sido retirados do gelo, os museus onde se encontram têm de manter a sua humidade alta (cerca de 9 por cento) e a temperatura abaixo dos -6 graus Celsius para garantirem que eles não se deterioram. 5

NO

2

MAPA Descobertas de múmias do gelo pelo mundo

1 Monte Ampato, Peru 2 Alpes, Itália 3 Cordilheira de Altai, Rússia 4 Qilakitsoq, Gronelândia 5 Ilha de Beechey, Canadá 6 El Plomo, Chile

4

3

1 6

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CINCO FACTOS TEORIAS SOBRE NASCA

Funções astronómicas

1

A matemática Maria Reiche

estava convencida de que as linhas compunham um calendário usado para documentar eventos astronómicos importantes.

Rituais por água

2

A região peruana de Nasca

é muito seca, por isso alguns arqueólogos creem que as linhas foram feitas como parte de um ritual para pedir chuva aos deuses.

Astronauta antigo

3

Uma das figuras lembra

vagamente um astronauta, e como as imagens se veem melhor de cima, há quem acredite que o povo nasca conseguia voar.

Aeroporto alien

4

Devido aos pontos abruptos

de início e de fim de algumas linhas, surgiu a ideia de que a área era uma pista de aterragem para antigos extraterrestres!

Parque desportivo

5

Muitas das figuras têm pontos

de entrada e saída definidos e podem ser percorridas numa linha, como pistas de corrida elaboradas num enorme estádio ao ar livre.

SABIA QUE... A camada superior do solo de Nasca é avermelhada escura devido à presença de óxido ferroso?

O que são as Linhas de Nasca? Como surgiu este misterioso e antigo conjunto de geóglifos num deserto no sul do Peru? No altiplano árido das pampas de Jumana, cerca de 400 km a sul de Lima, Peru, encontra-se uma maravilha arqueológica. O solo está marcado por traços e figuras (geóglifos), conhecidos por linhas de Nasca, que se acredita terem sido criados pelo povo nasca, entre 500 a.C. e 500 d.C.. Os desenhos cobrem uma área de cerca

As linhas e as pampas de Jumana foram declaradas Património da Humanidade pela UNESCO em 1994.

de 500 km2, só observável na totalidade a partir do ar. Criados raspando metodicamente a camada superior escura do solo, revelando um subsolo mais claro por baixo, foram preservados durante muitos séculos pelo clima único da região, que recebe uma média de apenas 20 minutos de chuva/ano; o solo é sobretudo pedra e gravilha, o que impediu a erosão pelo vento.

As condições climáticas extremamente secas preservaram os desenhos.

A complexidade das Linhas de Nasca gerou algumas teorias mais loucas sobre a sua origem.

Safari em Nasca… Cão

Pensa‑se que esta figura canina com 51 m seja uma imagem de um ancestral do cão pelado peruano. O povo nasca tinha‑o como animal de estimação e cão de guarda.

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Aranha

Uma das primeiras figuras estudadas, na década de 1930, situa-se entre uma rede de linhas retas e faz parte do rebordo de um trapezoide enorme. Tem 46 metros de comprimento.

Colibri

Com 97 m do bico à cauda, 66 m de envergadura e gravado num planalto elevado, é dos animais mais proeminentes e dos geóglifos mais harmoniosos e famosos de Nasca.

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MUNDO ANTIGO

Relógios de sol Saiba como funcionava esta antiga engenhoca. O relógio de sol é um dos instrumentos científicos mais antigos do mundo. Criado para dizer as horas pela posição do Sol, foi inventado nas civilizações da Babilónia e do Egito. Mede o tempo através do movimento da sombra de um objeto – o gnómon –, projetada sobre

uma base, o mostrador, que contém numerais que representam as horas do dia. O número específico no qual a sombra (ou raio de luz, nalgumas variações) incide indica a hora do momento. Os relógios de sol variam consoante a latitude. O Sol parece percorrer várias rotas pelo céu em

Dizer as horas

diferentes partes do mundo, por isso, um relógio de sol deve ser adequado ao local onde está. E as horas podem variar conforme a proximidade do limite de um fuso horário. Funcionam melhor em zonas mais solarengas, é claro, logo, são mais eficazes no Mediterrâneo do que em Inglaterra.

Posição do Sol

A base do relógio de sol é marcada com as horas do dia. A sombra diz que horas são, conforme o sítio onde incide.

Ao longo do dia, o Sol parece mover-se no céu porque a Terra está a rodar sobre o seu eixo.

Apontado a norte

Os relógios de sol têm de apontar a norte e de estar numa superfície plana. O gnómon – o “ponteiro” que sobressai do mostrador – projeta a sombra.

Sombras

O Sol atinge o ponto mais alto no céu ao meio-dia e projeta sombras curtas. Quando está mais baixo no céu, as sombras são maiores.

Ferrar cavalos

Porque é que os cavalos usam ferraduras e como se aplicam? Desde que os cavalos foram domesticados, há milhares de anos, que os cavaleiros perceberam a importância de proteger as patas dos seus animais. Em terreno duro ou rochoso, as ferraduras protegiam os cascos de se fenderem ou de se gastarem mais depressa do que se regeneravam. Em terreno mole e húmido, como nas quintas do Norte da Europa, impediam os cascos de ficarem demasiado porosos e instáveis, para além de ajudarem o cavalo a ganhar apoio. Para preparar a pata, o ferrador faz uma “manicure” básica, raspando o casco e aparando os excessos. Depois, pega numa ferradura de aço ou alumínio e aquece-a numa forja até ficar vermelha viva. É então encostada rapidamente ao casco para fazer uma gravação, que o ferrador usa como guia para reajustar o metal maleável com um martelo e uma bigorna. A ferradura é arrefecida em água e fixada ao casco

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Modelo de um “obelisco do tempo” babilónio no Museu do Relógio de Zacatlán, Puebla, México.

Como são removidas as ferraduras? Tal como as nossas unhas, os cascos dos cavalos estão sempre a crescer, ou seja, as ferraduras têm de ser retiradas e reajustadas regularmente. Para isso, os cravos são endireitados e retirados com a ajuda de um martelo e de um saca-rebites, e a ferradura é removida com uma turquês. Esta conversa sobre unhas, martelos e alicates está a assustá-lo? Não vale a pena! Tal como as nossas unhas, os cascos não têm terminações nervosas e, se os cravos forem fixados de forma Um ferrador (especialista correta, sem tocar na ferrar animais) a usar carne da pata, o cavalo em uma turquês para remover uma ferradura velha. não sente nada.

com pregos chamados cravos, que são curvos para saírem pela parede lateral do casco; as pontas dos cravos são dobradas e limadas. A parede do casco é aparada ao de leve e todas as saliências são cuidadosamente desbastadas.

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ESTRANHO MAS REAL IMPETUOSO

O que fez o chefe tribal Touro Sentado após a sua rendição? A Foi para o Canadá B Abriu uma loja C Juntou-se a um espetáculo itinerante

Resposta:

Em 1885, Touro Sentado tornou‑se uma atração no espetáculo Buffalo Bill sobre o Oeste Selvagem (Buffalo Bill’s Wild West Show), onde andava a cavalo com o traje tradicional, posava para fotografias e dava autógrafos. Diz‑se que insultava a audiência na sua língua materna.

SABIA QUE... Apesar do estereótipo promovido por Hollywood e outros meios, eram poucas as tribos que escalpavam os adversários?

Guerreiro índio nativo Conheça o equipamento essencial de um guerreiro Sioux do Dacota (EUA). Apesar da sua leve armadura, os guerreiros dos povos índios nativos norte-americanos eram combatentes ferozes, bem treinados tanto na luta corpo a corpo como no combate à distância. Armados com uma seleção de arcos, lanças, espadas, punhais e até, nas últimas décadas do século XIX, armas de fogo, chocaram os ocidentais que vinham reclamar os territórios índios. De facto, apesar do seu poder de fogo, armaduras e recursos superiores, os exércitos britânico e americano eram muitas vezes derrotados na estratégia e na batalha, com a perícia na equitação dos nativos a permitir-lhes ataques rápidos e de precisão mortífera, eliminando grandes hordas das forças invasoras antes de se retirarem para a segurança fornecida pelo conhecimento que tinham do seu território. Apesar da opressão e do genocídio a que foram sujeitos pelos colonos, tanto a perícia em combate como a utilização inovadora do terreno em táticas de batalha dos índios nativos norte-americanos fizeram com que os britânicos e depois os americanos levassem mais de 150 anos a expulsar todas as tribos indígenas da América do Norte para as reservas hoje habitadas por muitos dos seus descendentes. Em batalha, os índios nativos norte-americanos eram guerreiros tenazes e ferozes.

Toucado de penas

Ao contrário de muitas representações modernas, os guerreiros índios não iam para a batalha com grandiosos toucados; prendiam uma seleção simples de penas de aves no cabelo e cobriam a cara e o corpo com pinturas de guerra.

Escudo

A única proteção contra projéteis, um pequeno escudo de madeira circular coberto de peles de animais e/ou couro servia para defletir flechas.

Arma de longo alcance

O arco e as flechas curtos eram a arma de eleição dos índios nativos norte‑americanos – algo que utilizavam com perícia. As pontas das flechas eram geralmente em ferro, enquanto as retrizes de aves funcionavam como lemes.

Vestuário

Os guerreiros índios não utilizavam armaduras pesadas, sendo o couro e as peles de animais a sua única proteção. Esta armadura leve garantia-lhes uma excelente agilidade e manobrabilidade.

Arma de curto alcance

Estes guerreiros usavam uma variedade de armas de mão, como machados, punhais, lanças e até espadas. Os machados eram populares, pois tanto podiam ser atirados como utilizados em lutas corpo a corpo.

Calçado

© Ian Jackson

Os mocassins eram o calçado de eleição. Feitos de couro macio ou pele de veado, adornados com bordados e contas, não ofereciam proteção, mas eram leves e confortáveis.

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Quero Saber | 017


MUNDO ANTIGO

A mumificação

Uma forma extrema de se aquecer no inverno.

“ A mumificação foi utilizada durante quase três mil anos.”

© 2005 David Monniaux

Os antigos egípcios enterravam os mortos diretamente na areia quente, o que secava e preservava os cadáveres. Quando começaram a utilizar caixões, os corpos entravam de imediato em decomposição. Por volta de 2600 a.C., os egípcios começaram a experimentar uma forma de preservar os seus antepassados. Perceberam que os corpos decompõem de dentro para fora, começando tudo nos órgãos. Os embalsamadores aperfeiçoaram um processo, no qual os órgãos eram removidos e o corpo seco antes do enterro. Este método, conhecido como mumificação, foi utilizado durante quase três mil anos. A mumificação era um processo dispendioso e podia demorar de até 70 dias. Os embalsamadores trabalhavam em tendas abertas, no deserto longe da população. Depois de lavarem o corpo, removiam o cérebro do crânio. Para chegarem à cavidade cerebral, os embalsamadores colocavam um cinzel no nariz e batiam com um martelo para partir o osso. Depois inseriam um gancho longo para retirarem a matéria cerebral. Após fazerem um corte no lado esquerdo do corpo, os embalsamadores removiam os órgãos do abdominal. Estes eram lavados, envoltos em linho e guardados em recipientes. Natrão, um sal natural, era utilizado como agente de secagem. O corpo era enxaguado com vinho e enchido com incenso e natrão, sendo depois coberto com mais natrão. Uma mesa inclinada permitia que o corpo se libertasse dos fluidos, à medida que secava, enquanto os guardas mantinham os animais necrófagos afastados. Uma vez o corpo seco, os embalsamadores envolviam-no em linho revestido com resina. O linho ajudava a que o corpo não se desmembrasse e evitava a entrada de humidade. Uma armação rígida era depois inserida no corpo e uma máscara funerária colocada na cara. Por fim, a múmia completa era depositada num suhet, um caixão funerário antropomórfico, decorado para se assemelhar a uma pessoa.

© Thinkstock

Foram encontradas múmias em várias partes do mundo, mas as egípcias são as mais conhecidas devido à sua aparência e ao processo de embalsamação único.

018 | Quero Saber

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SABIA QUE... Se não fossem os cronistas romanos desse tempo, o nosso conhecimento sobre estes povos seria ainda mais incompleto?

1. Icenos

Taexali

© Rhys Jones

Tribos nativas

MAIS CIVILIZADOS

© John Opie

Caledónios

Localização: Norfolk Factos: Umas das tribos mais ricas da Grã-Bretanha, os Icenos revoltaram-se contra os romanos depois da morte do seu rei Prasutagus e foram conduzidos pela esposa de Prasutagus até à morte desta, a famosa rainha Boadiceia.

2. Catuvelaunos

Localização: Sudeste Factos: A tribo pró-romana, Catuvelanos, rapidamente adotou o estilo de vida de Roma e, como resultado, tornaram-se muito ricos e poderosos. Um dos chefes tribais britânicos mais famoso, Cunobelinus, era Catuvelauno.

MAIS DEFENSIVO

3. Durotriges

Localização: Dorset Factos: A tribo do sul Durotriges, diferenciava-se por permanecer em castros quando os outros povos os abandonaram. Eram comerciantes e trocaram muitos bens com romanos nos vários portos da altura.

Maiden Castle, um exemplo de castro da Idade do Ferro.

reeB yaR ©

Pouco se sabe sobre os primeiros povos que habitaram a área que Venicones agora designamos por GrãBretanha no final da Idade do Gelo (6500 a.C.) ou sobre os meandros da Epídios sua cultura, até porque a história Damnónios registada tem início por volta da invasão romana em 55 a.C. Na A paisagem do castro verdade, se não fossem os cronistas Danebury. Votadinos romanos desse tempo, como Tácito e Sélgovas Ptolemeu, que contactaram com as tribos ancestrais britânicas, na guerra e no comércio, o nosso conhecimento sobre estes povos seria ainda mais incompleto. No entanto, Nóvantas Brigantes séculos de registos históricos, estórias e descobertas arqueológicas, deram-nos uma visão das suas vidas, líderes e costumes. Carvécios Antes da invasão romana viviam 27 tribos distintas na Grã-Bretanha. Estes povos descendiam dos primeiros Parísios caçadores e coletores que habitaram a área e, mais tarde, dos agricultores que desenvolveram sociedades focadas na atividade agrícola e que construíram estruturas complexas, como Stonehenge. Contudo, nos últimos 600 Cornóvios anos a.C. a chegada dos celtas do continente e de reinos Décenglos tribais expansionistas, chefiados por reis altamente territoriais, trouxe uma cultura de violência feroz, fabrico sofisticado e comércio. Corieltáuvos É muitas vezes atribuído aos romanos, o mérito de terem implantado uma moeda única, assim Ordovices Icenos como cidades estruturadas e uma série de serviços e tecnologia, mas parte destes recursos estavam já Localizações exatas Catuvelaunos integrados em áreas da sociedade tribal britânica. de cada colónia. Algumas tribos, como os Venicones já enterravam Démetas os mortos em túmulos de pedra. Outros como os Trinobantes Icenos, Catuvelaunos e Atrébates, já tinham criado Silures um sistema monetário único nos seus territórios. No entanto, durante 200 anos – de 55 a.C. até ao Atrébates Dóbunos século II d.C. – as tribos ancestrais da Grã-Bretanha foram conquistadas ou absorvidas pelo império romano, um processo que converteu a atitude e cultura da Belgas população e que teve também influência na sociedade, no Cantíacos Regnenses que respeita a padrões de administração, arquitetura, sistemas sanitários e de saúde que remetem para Durotriges Dumnónios os alicerces que existem hoje em dia. WWW.QUEROSABER.SAPO.PT

MAIS REBELDE

© Nigel Mykura

Antes da invasão romana em 55 a.C., a Grã-Bretanha contava com um enorme número de tribos ancestrais, cada uma com a sua cultura.

BRITÂNICAS

© PHGCOM

Territórios tribais britânicos

Frente a Frente TRIBOS ANCESTRAIS

Quero Saber | 019


Geral

Armas & guerra

Pessoas & locais

Época medieval

Inventos

Indústria

Edifícios & locais

Mundo Antigo

categorias explicadas

MUNDO ANTIGO

Os Celtas

Como a Idade do Ferro revolucionou esta civilização pré-romana. A descoberta de como extrair ferro do seu minério mudou o mundo. Com o advento da Idade do Ferro, era possível construir novos utensílios para a guerra, agricultura, caça e pesca. Entre os principais beneficiados estavam os Celtas. Na Europa, a Idade do Ferro estendeu-se de 800 a.C. até ao ano de 43 e marcou um importante desenvolvimento da sociedade. Foram criados arados, foices e gadanhas para tratar das colheitas, mós rotativas para transformar o grão em farinha e os utensílios de caça tornaram-se cada vez mais afiados e duros. Com o ferro, era possível fazer espadas, elmos e armaduras. Os acessórios também se desenvolveram, como alfinetes e colares de ferro. Muitos aspetos sobre os Celtas são ainda alvo de profundo debate – desde as suas origens, à expansão geográfica, passando pelas características culturais – mas crê-se que, no geral, viviam em pequenas comunidades agrícolas,

tipicamente em castros no alto de montes, para estarem mais protegidos. Se a Idade do Ferro tinha um ponto negativo era a medicina. Ainda muito primitiva e praticada sobretudo por druidas, uma das poucas cirurgias era a trepanação. Pensava-se que as dores de cabeça vinham de espíritos malignos e era feito um furo no crânio do doente para soltar os demónios. Achados arqueológicos provaram que esta prática ainda era popular com a chegada da Idade do Ferro e de utensílios mais duros. Parece, aliás, que os Celtas eram obcecados pela cabeça humana. Criam que alojava a alma, por isso, após uma batalha vitoriosa, cortavam as cabeças dos inimigos derrotados e exibiam‑nas, quer para se vangloriarem, quer para avisarem quem os desafiasse.

Um castro celta

Descubra como funcionavam as comunidades celtas.

Poço

Sem a tecnologia dos aquedutos, a água era recolhida da chuva ou de fontes próximas para a comunidade do castro.

Fogo exterior

Eram usados fornos ao ar livre para fazer pão e cozinhar carne para toda a povoação.

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CINCO FACTOS POVOS CELTAS EM PORTUGAL

Lusitanos

1

Celtiberos

Amiúde tidos por pré-celtas,

habitavam o território a sul do Douro e parte da Estremadura espanhola. Incluíam várias tribos e Viriato foi o chefe guerreiro mais famoso.

2

Brácaros

Povo resultante da fusão

dos Celtas com os Iberos, nativos da Península Ibérica, povoavam as regiões das nascentes dos rios Douro, Tejo e Guadiana.

3

Estes Galaicos ocupavam

parte do atual Minho. É deles a célebre Citânia de Briteiros e no seu território edificaram os romanos Bracara Augusta (Braga), em 16 a.C..

Célticos

4

Cónios

5

Contíguos aos Turdetanos,

este conjunto de tribos habitava os atuais Alentejo, Algarve e Estremadura oeste; teriam em Miróbriga uma das suas povoações.

Senhores do Algarve e sul do

Baixo Alentejo, alguns autores creem que Beja (Pax Julia) foi erigida sobre as ruínas de Conistorgis, cidade principal dos Cónios segundo Estrabão.

SABIA QUE... As mulheres celtas tinham tantos direitos como os homens? Combatiam, possuíam terras e atingiam estatuto.

Construção

Uma casa redonda como as dos Celtas reconstruída.

Uma casa redonda era tipicamente construída a partir de uma estrutura em madeira, com paredes em pedra e telhado de colmo.

Cidades celtas

Os Celtas viviam em pequenas comunidades lideradas por um chefe e um grupo de guerreiros. Havia poucas alianças entre as várias tribos e nenhum estado ou governo centralizado.

Distribuição

Fogueira no interior

Era por vezes utilizada para cozinhar, mas sobretudo como aquecimento nos rigorosos meses de inverno.

Os edifícios do castro serviam diferentes funções para assegurar a sobrevivência e o desenvolvimento.

Quem eram os Celtas? Termo que engloba muitas tribos e povos diversos, os Celtas ter-se-ão estendido por uma vasta região. Os Gauleses, por exemplo, viviam na atual França e os Celtiberos na atual Espanha e Portugal. Quando a sua influência na Europa se viu ameaçada pelos Romanas e Saxões, muitos fugiram para a Britânia, por volta de 500 a.C.. Apesar das invasões de Romanos, Anglos, Saxões, Jutos e Vikings, no século VIII os Celtas ainda estavam estabelecidos em muitas zonas das Ilhas Britânicas – mais confinados a Gales e à Escócia, enquanto Inglaterra era sobretudo anglo-saxónica. Essa influência ainda hoje pode ser vista através da descoberta do espólio da Idade do Ferro de Tal-y-Llyn (País de Gales), com utensílios e armas de metal, e em fortes indícios de castros celtas em Maiden Castle (Dorset) e Old Oswestry (Shropshire). Vestígios do castro celta de Maiden Castle, em Dorset.

Castro no monte

O castro era muitas vezes rodeado por um muro de madeira ou pedra e, graças a defesas naturais e artificiais, era difícil de penetrar.

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Quero Saber | 021


MUNDO ANTIGO

Como os Celtas resistiram Os Celtas tinham fama de serem guerreiros temíveis, mas a Idade do Ferro tornou-os ainda mais resistentes, de que é exemplo o caso da Britânia, que ficou menos vulnerável a ataques vindos do mar. O grandioso exército romano precisou de três tentativas para conquistar a ilha e sempre teve dificuldades em dominar grandes áreas, sobretudo na Escócia e Gales. Os Celtas possuíam tecnologia para criar espadas, lanças, machados e escudos. Segundo historiadores gregos e romanos, muitas vezes iam para a batalha sem exército ou até completamente nus, apenas com pinturas de guerra. Embora haja provas que usavam elmos e armadura corporal, estes eram aparentemente raros, talvez usados apenas por chefes e guerreiros de estatuto elevado. O exército celta era composto sobretudo por infantaria, mas também usavam carros e – ocasionalmente – cavalaria nas batalhas. As suas táticas não eram tão evoluídas como o testudo romano, por exemplo, mas tinham estratégias arrojadas. A mais famosa talvez seja a Furor Celtica. “Fúria Celta” em português, era um ataque em massa à linha da frente inimiga, que era usado para perturbar e separar as fileiras adversárias. Os Celtas da Europa continental eram conhecidos por serem mais defensivos e usavam uma disposição em falange apertada, muito à semelhança da formação grega original. As tribos celtas tiveram muitos chefes icónicos como Vercingetorix, Cassivellaunus ou Viriato, mas uma das mais famosas terá sido Boadiceia. A feroz e influente rainha guerreira da tribo dos Icenos liderou uma força de resistência contra os invasores

romanos. Ao formar uma aliança com vários outros clãs das Ilhas Britânicas, as suas forças derrotaram a nona legião romana e saquearam as cidades romanas de Camulodunon (Colchester), Londinium (Londres)

e Verulamium (St. Albans). Boadiceia acabou por ser derrotada pelo general romano Paulino na Batalha de Watling Street, mas a oposição dos Icenos provou que o domínio romano estava longe de ser invencível.

Que utensílios e armas utilizavam os Celtas? Gadanhas e foices

Usadas nas colheitas e no corte de lenha, eram de ferro e tornaram a agricultura e a construção mais simples e rápidas.

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Arados

O ard sulcava o solo para se semear e alimentar grandes comunidades – uma forte razão para o aumento da população na Idade do Ferro.

Lanças

O advento da fundição do ferro trouxe lanças mais duras e afiadas. Ajudavam a caçar grandes animais e também eram usadas na guerra.

Elmos

Os Celtas usavam dois tipos de elmo: o Montefortino e o Coolus. Este último era o elmo de eleição dos legionários.

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ESTRANHO MAS REAL

Resposta:

Quem inventou a primeira rede de estradas da Europa?

ABRIR CAMINHO

A criação da infraestrutura europeia é atribuída aos Romanos, mas investigação recente mostrou que os Celtas poderão tê-los precedido. Não tão duradouras ou bem construídas, as estradas celtas, como a Via Heraclea, proporcionavam, ainda assim, um sistema de transporte.

A Os Celtas B Os Romanos C Os Astecas

SABIA QUE... Os Celtas não tinham sistema de escrita? Muito do que sabemos vem de obras de arte e relatos de terceiros.

Havia outros tipos de povoados

O broch Dun Carloway na Ilha de Lewis, Escócia. É um dos mais bem conservados do mundo.

Os castros eram o tipo de povoado mais comum no mundo celta, mas havia outros tipos de comunidades. Na Escócia, por exemplo, onde era mais fácil arranjar pedra do que madeira, eram muito comuns os brochs – estruturas circulares com duas paredes concêntricas de pedra seca para criar uma torre oca. Uma estrutura chamada crannog também era popular nos lagos da Escócia. Os próprios castros diferiam de região para região. Onde o terreno não era montanhoso, um castro de planalto ou vale tinha de ter defesas artificiais. Outros eram construídos junto a rios confluentes, para terem acesso a água, ao passo que outros ainda eram deliberadamente construídos junto à costa. A construção de alguns castros não tinha na defesa uma prioridade, e os muros e cercados eram mais pequenos. Até o formato dos edifícios variava: na Britânia imperavam as casas redondas, mas na Europa continental havia muitos edifícios retangulares.

Origem

Crê-se que os Celtas surgiram em Hallstatt, no sopé dos Alpes, em território atualmente austríaco.

No mapa n A maior extensão de territórios celtas, por volta de 275 a.C.

Expansão para Leste

A expansão celta chega aos reinos helénicos e à Ásia Menor no séc. III a.C., antes da ascensão do Império Romano.

Ilhas Britânicas

Escócia, Gales, Irlanda, Cornualha, Ilha de Man e a Bretanha, em França, são as chamadas “Nações Celtas”, onde as antigas tradições e culturas celtas ainda se veem e ouvem.

Gália e Ibéria

Espadas mais longas

Com a evolução das técnicas de produção de ferro e aço, as espadas mais longas, de dois gumes e mais bem equilibradas tornaram-se a arma de eleição na guerra celta.

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Alpes

Pensa-se que as duas principais culturas celtas, Hallstatt e La Tène, provêm desta região.

Falcata

Esta espada celta típica era utilizada na Península Ibérica. Curta e usada para cortes rápidos, dava um golpe potente e era capaz de fender os escudos e elmos inimigos.

A rainha icena Boadiceia dirige-se às suas tropas antes da batalha.

Armadura

A Ceannlann era uma mistura de linho e placas de metal cosidos na cota de malha. Nobre e ricos podiam comprá-la, mas os guerreiros pobres usavam armaduras de couro ou não usavam.

Armas de curto alcance

A infantaria celta focava-se no combate ao perto, mas após ver os arcos Vikings, começou a usar fundas, arcos e lanças para ataques à distância.

Quero Saber | 023

© Alamy; Corbis; Look and learn; Sol90; Thinkstock

Os Celtas expandem-se para a Gália (800-500 a.C.) e para a Península Ibérica, nomeadamente Portugal, onde se crê que estabelecem uma das suas presenças mais significativas.


MUNDO ANTIGO

© Remi Jouan

Pintura do imperador Kangxi a viajar num junco chinês.

Juncos chineses Altamente versátil, o junco chinês é usado desde o século II, garantindo controlos de navegação dinâmicos e grande velocidade. Os juncos chineses – embarcações de comércio e transporte de tamanhos diversos, usadas na Ásia do século II até à atualidade – funcionam aliando um casco robusto sem quilha a uma armadoria versátil e móvel, criando uma plataforma de navegação rápida e muito estável. A armadoria de um junco difere da dos tradicionais barcos de velas redondas, com as suas várias velas a poderem ser movidas para dentro, em direção ao comprido eixo central da embarcação, facilitando o velejar contra o vento. As próprias velas também são diferentes das tradicionais, com longas travessas de madeira horizontais a proporcionar uma forma rígida (semelhante à das cortinas venezianas) e uma maior resistência a rasgões. A contribuir ainda mais para a potência e velocidade do junco está a sua tendência para abrir as velas sobre vários mastros, sendo cinco ou mais mastros comuns nas embarcações maiores. Os cascos dos juncos eram tradicionalmente em madeira de árvores coníferas, como o cedro,

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© DK Images

e exibiam uma popa em forma de U, um tombadilho elevado e uma base achatada sem quilha. Os cascos dos juncos estão por isso equipados com uma enorme quilha e uma série de orças e patilhas para manter a estabilidade. Os cascos eram ainda internamente reforçados por várias divisórias laterais e longitudinais, criando uma série de compartimentos – que aumentavam a integridade do casco (sobretudo em relação à pressão lateral) e reduziam muitíssimo a velocidade de inundação, com uma série de bueiros a transferirem a água para fora. Os juncos chineses evoluíram a partir de casas flutuantes e embarcações de pesca mais pequenas, como as sampanas, na dinastia Han, de 206 a.C a 220 d.C., sendo sobretudo usados para atravessar canais interiores e águas costeiras. No século XV, porém, já haviam evoluído, sendo usados como navios militares e no comércio transcontinental, transportando centenas de homens e toneladas de produtos. Aliás, de acordo com registos históricos chineses, durante as missões do famoso

explorador e marinheiro Zheng He, os juncos foram transformados em navios do tesouro, com 128 metros de comprimento e 55 m de boca, com nove mastros e tripulados por mais de 130 homens. Na viagem de He pelo oceano Índico em 1405, o explorador comandou mais de 300 juncos e 30 mil homens. Com o advento da tecnologia moderna e de novos métodos de transporte, os juncos perderam a sua importância militar e mercante, mas ainda são muito utilizados por civis na pesca, deslocações e comércio, bem como por turistas em visitas guiadas. WWW.QUEROSABER.SAPO.PT


CINCO FACTOS

Taiwan San

1

JUNCOS

SABIA QUE...

Junco

Em 1955, 6 homens velejaram

uma réplica de um junco da dinastia Ming, de Taiwan a S. Francisco. Em 1959, um grupo de catalães velejaram um junco de Hong Kong a Barcelona.

2

A palavra entrou na língua

inglesa em meados do séc. XVII através do português. Outros nomes incluem “jong”, em malaio, e “chuán” em mandarim.

da Conti

3

Comércio

Nas suas expedições na Ásia

(1419-1444), o mercador e explorador veneziano Niccolo da Conti avistou juncos que pesavam mais de 2.000 t, com 5 velas e vários mastros.

4

Origâmi

Os juncos chineses eram

usados sobretudo como navios mercantes. Mais de 60 juncos visitaram Nagasaki em 1612, segundo Richard Cocks, da Feitoria Inglesa em Hirado.

5

Um dos origâmi mais famosos

chama-se junco chinês, um método de dobragem em várias etapas, para criar quatro objetos distintos a partir de uma folha de papel.

Os juncos chineses foram desenvolvidos na dinastia Han, de 206 a.C. a 220 d.C.?

Vela

Frente a Frente NAVIOS MERCANTES

Ao contrário das tradicionais velas redondas, as dos juncos podiam ser movidas para dentro, permitindo-lhes navegar facilmente contra o vento. As velas eram sustentadas por uma série de travessas de madeira sólida, melhorando a resistência a rasgões.

© Bernard Gagnon

GRANDE

1. Junco

MAIOR

© Tomasz Sienicki

Lemes

Os juncos usavam lemes na popa, que podiam ser ajustados consoante a profundidade da água. Eram tradicionalmente feitos de olmo ou outras madeiras duras e, em barcos maiores, eram precisos vários homens para os ajustar.

A par da sampana, o junco evoluiu de barcos de pesca mais pequenos. O seu fundo achatado e as velas de tipo venezianas conferem-lhe estabilidade em condições duras e velejar contra o vento com facilidade. Surgiu na Ásia, mas espalhou-se pelo Médio Oriente e África, pela via comercial, nos primeiros séculos d.C..

Casco

Compartimentos

Uma característica do junco eram os seus compartimentos interiores – raros na altura – que permitiam armazenar carga, abrandavam inundações e fortaleciam o casco.

2. Galeão

Evoluindo da carraca – embarcação predominante nos séculos XIV e XV –, o galeão era um navio de vários pisos, usado para a guerra e para o comércio. Os galeões surgiram em Portugal e Espanha no século XVI e foram usados na Europa, África e Caraíbas, para transportar mercadorias ao longo das rotas comerciais.

O MAIOR

© Huhu Uet

Os cascos eram tipicamente feitos a partir de madeira de árvores coníferas, e exibiam popas em forma de U e tombadilhos altos. Eram achatados e não tinham quilha.

Orça/patilha (não ilustradas) As orças e as patilhas eram usadas para estabilizar o junco e melhorar a sua capacidade de velejar contra o vento.

3. Cargueiro

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2 x © Paul A. Hernandez

© Thomas Schoch

O design espalhou-se pela Ásia, como mostra esta variante vietnamita.

Os juncos eram feitos com madeira de árvores coníferas.

Principal meio usado hoje no comércio marítimo ao longo de grandes distâncias, o cargueiro pode transportar centenas de toneladas de contentores metálicos com mercadorias. Este navio foi desenvolvido em meados do séc. XX e é atualmente responsável por 90% do comércio mundial de bens.

Quero Saber | 025


MUNDO ANTIGO

Cercos romanos Como os romanos venceram as mais fortes muralhas para criar um império.

Durante séculos de campanhas, o exército romano conduziu a expansão da sua República e, mais tarde, do seu Império, dominando vastas extensões da Europa, do norte de África e do Médio Oriente. A sua reputação deve-se a um exército bem treinado e a tecnologia de ponta, bem como às suas engenhosas táticas e técnicas. Na hora de derrubar muralhas e capturar cidades e fortes – os castelos como os conhecemos ainda não tinham sido inventados –, os romanos testavam de tudo, otimizando máquinas de guerra inventadas na Grécia Antiga e criando outras. O cerco começava com os romanos a montarem um acampamento com torres de guarda e fortificações próprias, para isolar o inimigo de reforços e alimentos. Os romanos tentavam ainda cortar o abastecimento de água do inimigo, escavando novos canais para redirecionar rios ou cavando para desviar o fluxo de nascentes subterrâneas. Se fome, sede e desespero não forçassem o inimigo a render-se, os romanos atacavam então com várias máquinas de cerco, como torres com rodas que lhes permitiam atacar diretamente sobre as defesas ao longo de pontes. Aríetes e ganchos de abordagem derrubavam muralhas, e catapultas e balistas arremessavam pedras ou flechas de ferro aos guardas. A engenharia também tinha a sua importância, com túneis a serem, por vezes, escavados sob as muralhas, conduzindo ao colapso das fundações e, consequentemente, das muralhas. A tomada da cidade ou da fortaleza não punha fim ao massacre. Os sobreviventes eram geralmente mortos, escravizados ou era-lhes cortada a mão direita, para que não pudessem usar armas. Sob a lei romana, assim que o aríete tocava na muralha, os seus defensores perdiam o direito de se renderem. Não admira que tantos se rendessem mal os romanos chegavam...

A Garra de Arquimedes afunda um navio de guerra romano.

026 | Quero Saber

Escorpião

Qual besta gigante, o escorpião lançava flechas de ferro a distâncias de até 400 m, com uma precisão aterradora.

Formação tartaruga

Não havendo torre de cerco para proteger o aríete, os legionários podiam sobrepor os seus escudos em formação “testudo” (“tartaruga”).

Raios térmicos e garras gigantes Se achava a técnica de combate romana engenhosa, saiba que o Cerco de Siracusa (214-212 a.C.) a elevou a outro nível, estando o matemático e inventor grego Arquimedes entre os defensores ameados. Estando Siracusa (na ilha de Sicília) protegida pelo mar, os romanos levaram consigo uma torre de cerco flutuante, chamada sambuca, que fazia descer escadotes sobre as muralhas. Entretanto, Arquimedes desenvolveu a Garra de Arquimedes, descrita como uma grua com uma garra que se debruçava sobre a

água para derrubar embarcações romanas. Reza a lenda que o inventor usou ainda escudos de bronze ou cobre como espelhos, para redirecionar o forte sol mediterrânico e pegar fogo às velas do inimigo. Se Arquimedes usou ou não um raio de calor é algo muito debatido desde o Renascimento, e nem os romanos tiveram oportunidade de deslindar o mistério, já que, por ordem do general Marco Cláudio Marcelo, o cientista de 75 anos foi morto por um soldado romano quando a cidade caiu.

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IMPÉRIO ROMANO

8 anos

CERCO MAIS LONGO

AUGE TERRITORIAL

NÚMEROS

CERCO MAIS 60.000 a SANGRENTO 1.100.000 mortes

5.900.000 km

2

MAIOR EXÉRCITO REUNIDO

85.000 a 110.000 homens

70.000.000

PICO POPULACIONAL

25% PERCENTAGEM DE ESCRAVOS NA POPULAÇÃO

SABIA QUE... No Cerco de Dura-Europos, em 256, os persas criaram uma nuvem de dióxido de enxofre que matou 20 romanos?

Guerra mental

Balista

Ónagro

Similar ao escorpião, as balistas maiores tinham um alcance de até 1.100 m.

Derivando o seu nome do coice de um burro selvagem, esta catapulta lançava pedras e potes de argila cheios de pez ardente.

Defensores Sob fogo

Pedras lançadas por catapultas pouco danificavam as muralhas, mas podiam matar quem as defendia.

A única chance de os defensores sobreviverem a um cerco romano era mantendo torre, escadotes e aríete longe da muralha… ou renderem-se.

Eles próprios habituados a cercos, os romanos não temiam recorrer a jogos mentais para convencer o inimigo a render-se. Quando os gauleses – da atual França – invadiram Roma, em finais do século IV a.C., sabiam que a única forma de derrotarem a guarnição romana era fazendo-a passar fome. Para convencerem os gauleses de que tinham comida em abundância, os romanos lançaram pães a partir das muralhas. Quando Aníbal cercou a cidade romana de Casilinum, na Primeira Batalha de Cápua, em 212 a.C., arou os campos entre o seu exército e as muralhas da cidade, para que os defensores não tivessem sequer erva para mastigar. Para que Aníbal pensasse que tinham víveres suficientes até à colheita, os audazes defensores lançaram sementes sobre o solo recém-arado.

Arqueiros

Os homens no topo da torre tinham de evitar que os defensores destruíssem as máquinas de cerco, crivando-os de setas.

Torre de cerco

A torre com 15-25 m de altura protegia os atacantes das setas dos inimigos.

Rampa de terra

Se a torre não chegasse à base da muralha, era inútil, e escravos eram forçados a empilhar terra numa rampa chamada agger.

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Aríete

Uma pesada cabeça de aríete em ferro numa viga de madeira podia ser balançada da base da torre.

Quero Saber | 027


MUNDO ANTIGO

VIDA E MORTE NO ANTIGO EGITO

Das suas engenhosas invenções aos distintivos rituais funerários, exploramos o misterioso passado dos egípcios.

9

Idade de Tutankhamon quando se tornou faraó

Esfinges, múmias, maldições – há séculos que o misterioso mundo do Antigo Egito nos fascina. Embora os seus exércitos não conseguissem competir com os de Roma, e os seus pensadores não tenham influenciado a filosofia moderna tanto como os gregos, algo nos egípcios os torna muito mais tangíveis do que os seus congéneres da Antiguidade. Podemos ler os seus textos, tocar nos seus tesouros e até visitar os seus túmulos.

028 | Quero Saber

Contudo, apesar desses imponentes monumentos, talvez o que mais nos fascina nos egípcios antigos seja a sua estranha e sagrada forma de vida, e até a forma ainda mais particular como encaravam a morte. Desde o característico processo de mumificação até à extenuante construção de pirâmides, os rituais desta supersticiosa civilização parecem estar a milhões de quilómetros de distância do mundo que hoje conhecemos.

A Quero Saber fá-lo recuar no tempo até uma terra de deuses e faraós, e desvenda alguns dos mistérios em torno deste reino magnífico. Conheça os avanços que os egípcios protagonizaram na medicina e na agricultura, e saiba como construíram os indestrutíveis templos e túmulos que resistiram à passagem de milénios. Ainda há muito a aprender sobre o Antigo Egito, e todos os dias se descobre um pouco mais. WWW.QUEROSABER.SAPO.PT


Frente a Frente

GRANDE

PIRÂMIDES

1. Pirâmide Vermelha

2. Pirâmide de Khafre

MAIOR

Erigida pelo faraó Seneferu, foi a primeira tentativa bem-sucedida de construir uma pirâmide. Tem 104 m de altura.

3. Grande Pirâmide de Giza

A MAIOR

É a segunda maior pirâmide de Giza e tinha originalmente 143,5 m de altura, mas hoje está 7 m mais curta.

Construída pelo faraó Khufu, tinha 146,5 m de altura e mais de dois milhões de blocos de calcário.

SABIA QUE... Se desenrolássemos as faixas de uma múmia, poderiam estender-se por 1,6 km?

O que fizeram por nós os egípcios? Consegue indicar algo que os egípcios tenham inventado? Provavelmente os egípcios usavam uma grelha para calcularem as proporções. Os artistas não. Embora a maior parte das pessoas saiba que os romanos gregos que viajaram para aquele reino antigo foram inspirados pela inventaram o aquecimento central e que os gregos organizaram sua abordagem técnica à arte e usariam a grelha egípcia nas suas os primeiros Jogos Olímpicos, não costumamos pensar nos obras clássicas. De igual forma, vemos obeliscos e pirâmides ao egípcios como autores de grandes inovações que tenham estilo egípcio por todo o mundo, quer na arquitetura antiga, Número de perdurado até aos nossos dias. Contudo, existem muitas quer na moderna, e em desfiles de moda até aparecem joias pirâmides invenções ainda hoje usadas que nasceram no deserto. a imitar as do país do Nilo. descobertas no Egito Desde coisas tão simples como maquilhagem para os olhos Contudo, foram provavelmente os seus contributos para até hoje e rebuçados para o mau hálito, até sistemas mais complexos a ciência e a língua que mais alteraram o rumo da história. A como a língua escrita e calendários, sem os egípcios antigos, forma como conseguiam efetuar cálculos e controlar a construção o mundo seria um lugar muito diferente. de estruturas tão imponentes como as pirâmides sem utilizar A arte e a arquitetura egípcias também tiveram uma grande influência tecnologia moderna tem espantado os historiadores ao longo dos séculos. em gerações seguintes de todo o mundo. Povo de pintores e escultores, Neste artigo, conheceremos mais de perto as maiores proezas do Egito…

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Matemática

Medicina

Crê-se que os antigos egípcios foram os primeiros a usar um sistema de dez numerais: tinham vários símbolos para uma unidade, dez, cem e assim sucessivamente até um milhão. Embora muitas civilizações antigas tivessem um sistema de medição, o cúbito egípcio era a medida linear padrão do mundo antigo. Estas medidas eram baseadas em partes do corpo: um cúbito equivalia à distância entre o cotovelo e a ponta do dedo médio. Para os egípcios, um bom conhecimento matemático era essencial para construir as magníficas pirâmides e os templos.

Um dos primeiros registos da utilização da medicina remonta ao Antigo Egito. Embora as suas curas e práticas pouco tenham mudado ao longo de três mil anos, à época, eram das mais evoluídas. Nelas incluíam-se simples cirurgias, os primeiros tratamentos dentários e a reparação de ossos fraturados. Os egípcios também foram os primeiros a fazer pesquisa sobre o funcionamento do corpo humano. Contudo, muitos dos seus remédios utilizavam magia e algumas poções pareciam deveras estranhas – como mel e miolos humanos para curar infeções nos olhos.

Papel e língua escrita Embora a invenção do papel seja atribuída aos chineses no século II a.C., milénios antes já os egípcios documentavam as suas vidas – graças à invenção das folhas de papiro, um tipo de pergaminho feito das plantas de papiro que cresciam ao longo das margens do rio Nilo. Para escrever, usavam um sistema de pictogramas chamados hieróglifos. Embora a utilização de desenhos para contar histórias não fosse novidade, os egípcios acrescentaram carateres ao estilo de um alfabeto que representavam determinados sons, permitindo assim escrever nomes e ideias abstratas.

A construção das pirâmides

Cálculos inteligentes e muita mão de obra foram necessários para erigir estas maravilhas mundiais. Há séculos que os egiptólogos tentam desvendar o mistério da construção das pirâmides. As teorias sobre como uma civilização tão primitiva conseguiu construir estruturas tão grandes e sólidas geometricamente exatas são muitas – e incluem desde gruas a extraterrestres! Contudo, uma das teorias mais recentes, a chamada “teoria da rampa interior”, poderá trazer a resposta…

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Ano cinco

A teoria sugere que, a partir do terço inferior da pirâmide, os blocos eram içados por uma rampa exterior.

Ano 16

Agricultura Os primeiros arados surgiram em 4000 a.C. na Suméria, mas eram incrivelmente ineficazes e funcionavam a força muscular. Tudo isso mudou quando, em 2000 a.C., os egípcios prenderam os seus arados a bois – revolucionando a agricultura, quer para os egípcios, quer para os povos além-mar; e hoje a tração animal ainda é usada. A civilização egípcia é também tida como a primeira a conseguir controlar o fluxo da água. Escavou canais de irrigação para tirar água do Nilo quando este inundava e guardá-la para utilização na estação seca.

Ano 20

Os blocos dos dois terços superiores eram arrastados pela rampa interior acima e a rampa exterior era destruída para servir de material de construção.

Enquanto a parte inferior era erigida, construía-se outra rampa no interior da pirâmide.

Quero Saber | 029


MUNDO ANTIGO

A vida no Antigo Egito Muito do que lemos sobre os egípcios antigos gira em torno da morte, desde os seus distintivos rituais funerários até às elaboradas histórias sobre o Além. Mas, na verdade, esta civilização obcecada pela morte levava uma vida muito rica. O rio Nilo dava-lhes solo fértil para as colheitas e ervas densas para a pastorícia, por isso, o facto de a maior parte da população ser agricultora não é surpresa alguma. Nas profissões mais comuns incluíam-se artesãos como carpinteiros, tecelões e joalheiros, ao passo que os membros de famílias mais abastadas podiam tornar-se escribas ou sacerdotes. Durante o Império Antigo, o Egito não tinha um exército organizado. Rodeado de desertos que formavam defesas naturais, quando era preciso um exército para defender o país, o faraó simplesmente convocava camponeses. Mas

quando o Egito foi invadido pelos Hicsos (uma tribo de Canaã), foi decidido que o país precisava de um exército permanente de soldados treinados. Das unidades militares faziam parte condutores de carros de combate, arqueiros e infantaria, e os homens viam o exército como uma forma de subirem na rígida hierarquia social do Império Antigo. O rio era um meio de transporte e comunicação entre os dois extremos do reino, ajudando a criar uma nação forte e unificada, e – mais importante – um exército forte e unificado. Os rapazes de famílias abastadas iam à escola, onde estudavam religião, leitura, escrita e aritmética, ao passo que os rapazes pobres aprendiam o ofício do pai. As meninas eram educadas em casa ou trabalhavam até terem idade para casar, cerca dos 12 anos, muitas vezes

O interior de uma casa egípcia As famílias alargadas viviam em casas de adobe, passando muitas vezes tanto tempo no terraço como lá dentro!

Paredes fortes

com um homem escolhido pelos pais. Embora fosse esperado que as mulheres obedecessem aos maridos, na verdade, eram iguais aos homens em muitos aspetos. Podiam participar em negócios, possuir terra e representar-se a si próprias em tribunal. Para além de cuidarem dos filhos e do lar, podiam trabalhar na terra ou na corte e nos templos como acrobatas, bailarinas e músicas. As mulheres da nobreza até podiam tornar-se sacerdotisas e oficiais do governo. Os egípcios valorizavam a vida em família e tios, tias e avós viviam muitas vezes juntos sob o mesmo teto– até na mesma divisão.

Ventilação

As casas tinham aberturas nos telhados e janelas altas para o ar fresco circular, impedir a direta exposição aos elementos e desencorajar intrusos.

Tal como em muitas casas do mundo antigo, as paredes eram feitas de tijolos de lama – adobe. A lama era seca ao sol em formas de madeira e os tijolos eram depois revestidos a betume para serem à prova de água.

700

Número estimado de hieróglifos que compunham o sistema de escrita do Antigo Egito

Hall de entrada Porta da frente

Era normalmente feita de madeira grossa, com um sistema de fechaduras de madeira.

030 | Quero Saber

Ao entrar, a primeira divisão da casa apresentava uma decoração elaborada, com um altar em honra do deus Bes, protetor da família.

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ESTRANHO MAS REAL MORTE FELINA

Resposta:

O que faziam os egípcios quando o seu gato morria?

No Antigo Egito, os gatos eram considerados animais sagrados, por gostarem de matar insetos e cobras. Quando um gato morria, era mumificado como um ser humano e a família rapava as sobrancelhas como sinal da sua perda.

A Rapavam as sobrancelhas B Comiam-no C Celebravam

SABIA QUE... A Grande Pirâmide de Giza foi a estrutura artificial mais alta do mundo durante mais de 3.800 anos?

Faraó

A sociedade egípcia Tal como muitos reinos do mundo antigo, os egípcios viviam numa sociedade hierárquica com um governante supremo no topo. Esse governante chamava-se faraó e era considerado um deus na Terra. O faraó decidia as leis, cobrava impostos e fazia a guerra. Abaixo do faraó estava o vizir, seu principal conselheiro e por vezes também alto sacerdote. Seguiam‑se os nobres, responsáveis pelas regiões, e outros sacerdotes. Os escribas também eram respeitados, pois eram as únicas pessoas que sabiam ler e escrever, logo, as únicas capazes de criar registos das dinastias.

Oficiais do governo Soldados Escribas Mercadores Artesãos Camponeses Escravos Pintura de vários trabalhadores num túmulo de Tebas, Egito.

Telhado

Muitas vezes as pessoas dormiam e trabalhavam no telhado. Também lá secavam e salgavam carne e peixe.

Decoração

As paredes eram brancas e algumas eram decoradas com padrões geométricos ou imagens.

Cozinha

As cozinhas eram bem equipadas, com áreas próprias para os talheres, utensílios e vasos. Também tinham fornos de barro, onde se fazia pão e outros alimentos.

Quarto

Os antigos egípcios dormiam em tapetes que se enrolavam, ou em camas de cânhamo entrançado com um apoio de cabeça em madeira e um colchão de lã ou palha.

Cave Sala de estar

Terão sido os egípcios a inventar a sala de estar – uma divisão central onde os membros da família comiam e conviviam. Nela havia bancos, mesas e vasos de cerâmica, sendo os melhores móveis feitos de madeira trabalhada e pintada.

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Esta área era usada para armazenar comida e bens preciosos. O acesso fazia-se normalmente por um alçapão.

+1.000

Número de deuses adorados pelos antigos egípcios

Quero Saber | 031


MUNDO ANTIGO

Morte e rituais A forma como os egípcios encaravam a morte é talvez o que mais nos fascina na sua civilização. Eram um povo profundamente religioso que adorava mais de mil deuses, representantes de diferentes aspetos da vida e da morte. Os templos eram o centro da vida egípcia e os sacerdotes eram das pessoas mais poderosas do país, pois lançavam feitiços, e faziam cirurgias e sacrifícios. Um dos aspetos mais importantes da religião egípcia era a crença na vida eterna. Os sacerdotes contavam elaboradas histórias sobre o que existia no Além e como o coração seria pesado pelos deuses para avaliar se a pessoa se comportara bem em vida e, por fim, se era digna de lhe ser concedida a vida eterna. Os funerais eram assim centrados na preparação do corpo para o Além, assegurando que o defunto teria tudo o que precisasse até ao fim dos seus dias. Os egípcios acreditavam que a melhor forma de o fazer era criar um corpo que permanecesse intacto, para poder continuar a alojar a alma da pessoa após a morte. Isso envolvia a mumificação, embora fosse um privilégio dos ricos, pois era um longo e dispendioso processo. Quando um egípcio morria, era feito um corte no lado esquerdo do corpo através do qual alguns órgãos eram removidos e depois guardados em vasos de vísceras. O coração ficava, pois seria preciso no Além, ao passo que o cérebro era retirado pelo nariz e mandado fora. O corpo era de seguida empalhado e untado com uma substância salgada chamada natrão, ficando a secar durante 40 dias, ao fim dos quais era colocada uma máscara funerária sobre a cabeça do defunto e o corpo era fechado num sarcófago. Estes eram muitas vezes feitos de materiais preciosos para garantir que durariam milénios. O corpo era então levado para o túmulo, onde seria sepultado juntamente com mobiliário, estátuas, alimentos e outros objetos de que o defunto iria precisar no Além.

032 | Quero Saber

A mumificação

A mumificação era um processo complicado que envolvia remoção de órgãos, desidratação e magia.

Coração

Máscaras funerárias

Os egípcios acreditavam que, após a morte, o espírito voltaria ao corpo para nele viver. A máscara funerária permitia-lhe reconhecer o seu corpo. A maioria era de cartonagem – papiro e gesso –, mas as dos reis eram feitas com metais preciosos como o ouro.

Sacerdote

Estava presente um sacerdote que usava uma máscara de Anubis, deus associado ao embalsamamento e ao Além.

O coração não era removido do corpo, pois era considerado o centro da inteligência e seria preciso no Além.

Natrão

O corpo era empalhado, untado com natrão, um tipo de sal, e deixado a secar durante 40 dias.

Cérebro

Não era considerado parte importante do corpo, por isso, era puxado pelo nariz com uma pinça e mandado fora.

O Além Após a morte, o espírito era conduzido pelo deus Anubis até à Sala das Duas Verdades, onde o coração era pesado contra a pena da Maet. Se fosse mais leve do que a pena, o espírito passava e era recebido pelo deus Osíris, mas se fosse mais pesado, o espírito seria devorado pelo monstro Ammut.

Cena de um julgamento do Livro dos Mortos, um texto funerário do Antigo Egito.

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DATAS-CHAVE ASCENSÃO E QUEDA

Ca 3000 a.C. Ca 2700 a.C. O Rei Menés torna-se o primeiro faraó de um Egito unificado, dando início à era das dinastias.

É construída a primeira pirâmide, que ainda hoje persiste, com pouco mais de 60 m de altura.

1279 a.C.

196 a.C.

30

Ramsés II sobe ao trono, marcando o início da época mais poderosa do Egito.

É esculpida a Pedra de Roseta, que contém texto em hieróglifos egípcios e em grego.

A rainha Cleópatra VII perde a Batalha do Ácio e suicida-se. O Egito é integrado no Império Romano.

SABIA QUE... Os escaravelhos eram sagrados para os egípcios? Simbolizavam as forças que moviam o Sol através do céu.

Vinho e água

Antes da mumificação, o corpo era lavado com vinho de palma e água do Nilo.

Amuletos

Eram colocados amuletos entre as camadas de ligaduras, para protegerem a pessoa no Além.

Enterrar os mortos Os corpos dos reis egípcios eram sepultados em pirâmides ou enterrados bem debaixo de terra para ficarem protegidos de salteadores. As paredes interiores eram profusamente decoradas e os túmulos recheados de tesouros, comida e móveis que seriam precisos no Além. Eram também lá colocadas estatuetas chamadas ushebtis, que seriam servos no Além. Os nobres eram sepultados sob básicas plataformas elevadas chamadas mastabas e os corpos dos camponeses eram apenas envoltos em tecido e sepultados no deserto, juntamente com objetos do dia a dia como pratos e comida.

Empalhamento

Depois de secar, o corpo era empalhado com serradura e linho para parecer vivo, antes de ser envolto em ligaduras.

Alguns dos tesouros encontrados no túmulo de Tutankhamon.

16

A Grande Pirâmide de Giza pesa 16 vezes mais do que o Empire State Building

Vasos de vísceras

156

Ligaduras

O corpo era envolvido em camadas de ligaduras de linho, que eram untadas com resina líquida para colarem umas às outras.

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Panos

Todos os líquidos e panos do embalsamamento eram sepultados com o corpo.

Número de filhos que terá gerado o faraó Ramsés II

© Alamy; Thinkstock; Sol90; CG Textures

O fígado, os intestinos, os pulmões e o estômago eram guardados nestes vasos, cujas tampas eram decoradas com cabeças de deuses.


MUNDO ANTIGO

Habitação da classe alta na Roma Antiga. Cozinha

A área da cozinha era dominada por escravos e criados. Os romanos apreciavam pratos exóticos como arganaz recheado e caracóis.

No interior da villa

Oeci/triclínio

Os romanos tinham aperfeiçoado a arte de bem receber. Nesta divisão, os convidados poderosos tomavam vinho e jantavam.

© DK Images

As villas romanas eram estruturas imponentes construídas em pedra, madeira e tijolo. As paredes eram feitas com opus caementicium (cimento romano) e depois revestidas a pedra. Os telhados de telhas das villas podiam ser inclinados e planos, e o chão era de betão romano. Ao longo da História de Roma, a villa adotou muitas formas arquitetónicas, que mudavam com o tempo, mas era sempre projetada à volta de um pátio aberto e um tanque raso. No verão era importante que a luz e o ar estivessem acessíveis, ao passo que à noite, os recantos mais interiores eram iluminados por candeeiros a óleo. A villa era dividida em vários compartimentos, que incluíam quartos para a família e convidados, e um bloco de quartos para empregados e escravos. À volta da villa havia ainda currais para animais e celeiros. A villa romana não era uma simples casa, mas um símbolo do poder e posição na sociedade do seu proprietário. Assim, cada romano da classe alta procurava impressionar e intimidar os seus congéneres construindo casas esplêndidas em locais luxuriantes. Dentro dos muros das cidades havia pouco espaço e a villa tendia a ser pequena e compacta. Por esta razão, as classes mais altas construíam muitas vezes residências de campo, que eram usadas durante os meses quentes de verão e eram concebidas como moradia para a família, os seus escravos e trabalhadores na propriedade. Os romanos também se interessavam pela exploração agrícola e estas villas no campo tinham terras – latifundia –, através das quais a elite romana se tornou amplamente autossustentável, explorando cereais, olivais e vinhas. Os aristocratas orgulhavam-se da sua autossuficiência e podiam cultivar fruta e vegetais, bem como manter viveiros de peixes. Os romanos também apreciavam villas à beira-mar, pois proporcionavam-lhes o saudável ar do mar e breves períodos de descanso antes de voltarem ao stress da vida na cidade. As villas eram em grande medida residências multifuncionais. Além de alojarem escritórios e salas de reuniões, também eram usadas para receber convidados importantes. Tinham áreas de receção, salas de jantar, banhos e bibliotecas. Tal como os solares portugueses, tornaram-se símbolos linhagísticos do seu tempo.

© SPL

As villas romanas

O restauro de mosaicos romanos é um trabalho altamente especializado e demorado.

Pátio aberto

Na frente da casa havia um pátio aberto. Os visitantes eram aqui recebidos.

Ruínas de uma villa romana em Cartago, Tunísia.

Sacrário

Esta villa em Tivoli, Itália, era usada como retiro pelo imperador Adriano.

034 | Quero Saber

Esta divisão continha um altar. Era aqui que a família adorava os seus deuses do lar.

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ESCAVAÇÕES ROMANAS

ANTIGA

1. Villa Adriana, Itália

2. Aquincum

MAIS ANTIGA

Situada nos arredores de Budapeste, era uma base militar vital por volta do ano 89 e tornou-se uma das cidades-chave do Império Romano na Europa central.

Datada do século II, esta villa em Tivoli, Itália, revelou importantes características, como túneis subterrâneos e um refúgio numa ilha.

© Wknight94

Frente a Frente

A MAIS ANTIGA

3. Villa dos Mistérios

Datada de 79, esta villa de Pompeia é famosa pelos seus frescos que mostram a iniciação de mulheres em cultos misteriosos.

SABIA QUE... Na Europa ocidental, muitas villas romanas abandonadas foram reutilizadas como cemitérios medievais?

A arte dos mosaicos Os mosaicos são uma antiga forma de arte que já era utilizada em tradições orientais, muito antes do nascimento da civilização romana. Os romanos aperfeiçoaram a prática usando materiais como azulejos, seixos e vidro. Estes podiam ser cortados em fragmentos, as tesselas (tesserae), que eram assentes por um mestre artesão num chão de gesso macio, de forma a criar imagens interessantes e coloridas. Os romanos criavam enormes pavimentos de mosaico, optando muitas vezes por magníficas cenas de vida selvagem, caça e competições de gladiadores. Por vezes, também usavam imagens divertidas e até práticas: uma villa foi construída com um chão em mosaico a representar comida; se um pedaço caísse da mesa, passava despercebido.

Pátio aberto nas traseiras do tablino. A casa era concebida em torno de um pátio à sombra, que servia de abrigo do calor.

Tablino

Gabinete principal usado pelo dono da casa. Aqui guardava documentos, dinheiro e objetos de valor.

Átrio

Grande divisão quadrada com um espaço aberto no teto. Continha muitas vezes bustos de antepassados da família.

© SPL

Peristilo

Reconstrução do Mosaico de Alexandre em Pompeia.

Sistema de aquecimento sob o pavimento em Fishbourne.

Cubículo diurno

A cubicula diurna era um pequeno quarto com poucos móveis, usado durante o dia.

Vestíbulo

A partir daqui havia um pavimento decorado que se estendia da porta até à rua.

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Entrada

A porta era fechada à noite e guardada por um porteiro.

O Palácio de Fishbourne Descoberto em 1960, o Palácio Romano de Fishbourne, em Inglaterra, tinha quatro alas ladeadas por colunatas, pátios, átrios e uns banhos equipados com aquecimento sob o pavimento. Pensa‑se que este palácio tenha sido construído com uma dimensão maior que a dos maiores palácios europeus. Erigido durante o século I da nossa era, foi embelezado com jardins, piscinas e estátuas. A casa foi ocupada e ampliada ao longo de algumas centenas de anos; cada residente melhorava-a e criava belos mosaicos decorativos, dos quais o mais famoso é o do golfinho, na ala norte. A casa acabou por sucumbir ao fogo e foi destruída em 270, sendo posteriormente abandonada. Existem várias teorias quanto aos proprietários da villa, mas ela poderá ter pertencido a reis locais que alinhavam por Roma ou líderes romanos – um dos quais poderá ter sido Tiberius Claudius Catuarus, cujo anel foi encontrado no palácio.

Quero Saber | 035


EDIFÍCIOS & LOCAIS Veja ao pormenor este ícone russo.

040 Panteão de Roma

A beleza e complexidade da arquitetura romana.

042 A Catedral de Sevilha

Explore a maior catedral gótica do mundo.

044 Massachusetts State House

O simbolismo deste edifício de Boston, EUA.

046 O Castelo de Cardiff

A fortaleza que parece saída de um conto de fadas.

048 Catacumbas de Paris

Mais de seis milhões de pessoas jazem sob a cidade.

048 Esconderijos de padres

Conheça a história destes refúgios do século XVI.

049 Abu Simbel

Toda a história deste templo egípcio.

064 Túmulos gregos

As estruturas onde a elite grega era sepultada.

de Washington

O coração espiritual da capital dos EUA.

065

052 Como evoluiu o

Castelo de Warwick Uma obra-prima da arquitetura medieval.

Esfinge de Giza

A maior estátua monolítica do mundo.

066 Corrida ao Polo Sul A dura viagem à Antártida.

054 Basílica de

S.Francisco de Assis

Este lar da ordem franciscana, atrai cristãos de todo o mundo.

068 Teto da Capela Sistina

Como foi pintado.

070 Maravilhas

056 Catedral de

de Angkor Wat

Cantuária

A capital espiritual Khmer.

Esta é a terceira catedral a ser erguida neste local.

072

058 Ilha da Páscoa

A ilha da Polinésia dos gigantes de Rapa Nui.

que fez O de Alcatraz tão seguro?

A temível reputação do “Rochedo”.

060 A ponte de Brooklyn

Tudo sobre a primeira ponte suspensa por cabos de aço.

062 No interior

do Capitólio

Explore um dos símbolos mais conhecidos dos EUA.

No interior do Capitólio

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© Dreamstime

de São Basílio

050 Catedral Nacional

© Thinkstock

038 A Catedral

O teto da Capela Sistina


Panteão de Roma

© Thinkstock

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Abu Simbel

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Castelo de Warwick

Ponte de Brooklyn

© Thinkstock

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038 | Quero Saber

As cúpulas em forma de cebola são as mais antigas da Rússia. Talvez tenham sido inspiradas nas cúpulas das mesquitas.

Cúpulas em cebola

Acrescentado à catedral entre 1680 e 1683, os sinos foram fundidos após a Revolução Russa, em 1918, sendo repostos apenas em 1997.

Campanário

O que visitar na igreja mais incrível da Rússia.

Originalmente, a catedral era branca, para condizer com o palácio vizinho. Seria depois pintada por fases a partir de meados do século XVII para refletir as cores do paraíso descritas na Bíblia.

Prova do caráter imprevisível de Ivan, o Terrível é que a catedral foi mais tarde batizada com o nome do único homem suficientemente corajoso – ou louco – para o humilhar. Basílio era um yurodivy, que significa “santo louco”. Na Igreja Ortodoxa Russa, cristã, os santos loucos eram homens religiosos que escolhiam comportar-se como se fossem loucos para fazerem valer o seu ponto de vista. Basílio roubava para dar aos pobres, derrubava bancas de comida que vendiam bolos mal cozidos, não usava roupa, acorrentava-se e admoestava Ivan pelo seu derramamento de sangue e por não estar atento na igreja. Embora a crueldade definisse Ivan, o czar protegeu Basílio, enchia-o de presentes e até carregou o seu caixão no funeral. O facto de conseguir sobreviver ao inverno russo nu e sem casa foi considerado um milagre, e foi feito santo pouco após a sua morte, antes da conclusão da catedral, em 1552 ou 1557.

Quem foi São Basílio?

Uma teoria diz que, após a destruição da Mesquita Qolsärif em Kazan, elementos da sua decoração foram incorporados na estrutura. Tal como São Basílio, a mesquita tinha oito minaretes em torno de uma cúpula. Outras influências poderão vir de artesãos gregos fugidos da queda de Constantinopla (atual Istambul, Turquia), italianos que trouxeram uma amostra do Renascimento, bem como de estucadores e pedreiros alemães e ingleses, criando uma mistura ímpar de estilos que reflete a mente imprevisível e os triunfos manchados de sangue do louco monarca russo.

Cores celestiais

arrancaram em 1555 e concluíram-se em 1561. Mas as origens da igreja estão envoltas em tantos mitos como o cruel tirano que a encomendou. Uma história do folclore russo diz que Ivan mandou cegar o arquiteto (ou arquitetos) para que nunca mais conseguisse replicar a grandiosidade ímpar de São Basílio, que tem nove torres de diferentes dimensões sobrepostas e interligadas, de modo a criar um efeito de conto de fadas aparentemente caótico. O interior é igualmente invulgar, com corredores labirínticos ao mesmo tempo altos e incrivelmente estreitos.

São Basílio ao pormenor

Um dos locais sagrados mais icónicos da Rússia nasceu de um dos mais infames governantes do país. Longe de ser sagrado, o cruel e paranoico Ivan, o Terrível ascendeu de grande príncipe de Moscovo a primeiro czar de todas as Rússias através da conquista dos vastos territórios orientais de Kazan, Astracã e Sibéria. Ivan ordenou a construção de São Basílio – originalmente chamava-se Catedral da Intercessão da Virgem sobre o Fosso – para comemorar a sua vitória sobre os tártaros em Kazan, em 1552. Os trabalhos

Porque é tão invulgar o maior ícone de Moscovo?

Catedral de São Basílio EDIFÍCIOS & LOCAIS

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WWW.QUEROSABER.SAPO.PT À ESQUERDA Ivan, o Terrível ordenou a construção da Catedral de São Basílio.

A iconóstase – parede belissimamente decorada com pinturas religiosas – da capela principal (Capela da Intercessão) data de finais do século XIX.

Durante o restauro de São Basílio na década de 1950 descobriu-se, atrás das paredes, uma estrutura de madeira sobre alicerces de pedra branca, sugerindo que fora erigido primeiro um “esqueleto” e depois assente o tijolo vermelho à volta. Anteriores igrejas de Moscovo eram totalmente de madeira de pinho ou abeto, abundantes no norte do país. O tijolo vermelho era um material novo, usado pela primeira vez na Muralha do Kremlin em 1485, 70 anos antes do início da construção da catedral, e contribuiu para a longevidade de São Basílio.

Como foi construída a catedral?

O labirinto de passagens estreitas que ligam as capelas foi revestido a azulejos no século XVII e recebeu decorações cada vez mais atrativas.

Galeria de azulejos

Napoleão Bonaparte manda fazer explodir catedral. Uma chuva repentina terá apagado o rastilho.

Iconástase

Esta nona cúpula mais pequena foi acrescentada em 1588 para servir de túmulo a São Basílio, cujo nome se estenderia a toda a catedral.

Nona Capela

1812

© DK Images

A entrada principal de São Basílio abre para a Praça Vermelha em frente ao Kremlin – a fortaleza que contém o palácio presidencial.

Entrada principal

A catedral sofre um incêndio; iniciam-se as obras que lhe dão a sua atual cor.

A Capela da Entrada de Cristo em Jerusalém foi utilizada como entrada cerimonial para o patriarca – o bispo chefe da Igreja Ortodoxa Russa – no Domingo de Ramos.

S. BASÍLIO VS. DESTRUIÇÃO

1737

Entrada cerimonial

Enquanto outras igrejas ostentam estátuas e esculturas esculpidas acrescentadas após a construção, todas as decorações originais de São Basílio fazem parte da estrutura em tijolo.

O tijolo é belo

DATAS-CHAVE 1924 1933 1947

Após a Revolução Russa, transforma-se em museu. Depois da morte de Lenine, em 1924, o seu destino é incerto. Estaline ordena ao arquiteto Pyotr Baranovsky que supervisione a demolição da igreja. Recusa e é preso. Após a II Guerra Mundial e o Partido Comunista reconhecer a importância histórica da igreja, inicia-se o restauro.

SABIA QUE... Nas obras de renovação da década de 1970, descobriu-se uma escada em espiral oculta há séculos?


EDIFÍCIOS & LOCAIS

O Panteão de Roma Delicie-se com o esplendor da arquitetura romana. Já deve ter ouvido falar do imperador romano Adriano – aquele que tem uma muralha com o seu nome no Norte de Inglaterra: o seu projeto mais famoso e influente foi o Panteão de Roma, também conhecido como Panteão de Agripa. Aninhado no coração da Roma antiga, tem a maior abóbada de betão não reforçado do mundo. Foi terminado por volta do ano 125, após o edifício original ter sido reduzido a cinzas. O Panteão era ao mesmo tempo um templo aos deuses e um local onde o imperador podia fazer aparições públicas. A frente da estrutura era em estilo grego e não é diferente de muitos edifícios atenienses na sua pompa. O restante edifício tem um estilo romano clássico e exibe um óculo circular com 8,8 m de diâmetro na cúpula. Esta abertura deixa entrar sol na câmara principal. Embora as colunas gregas fossem de mármore, os arcos romanos do interior são construídos em tijolo. A grande cúpula é suportada por arcos internos e caixotões, e representa uma enorme inovação arquitetónica. Graças a estas técnicas, os romanos construíram as maiores estruturas da época. Com a queda do Império Romano do Ocidente, a Europa passou por um período de declínio arquitetónico, durante a chamada Idade das Trevas. Aquando das pilhagens das cidades imperiais, muitos dos imponentes edifícios romanos foram arrasados por hordas bárbaras. Uma das exceções foi o Panteão de Roma, convertido na igreja cristã de Santa Maria dos Mártires em 608 – o Cristianismo era então a principal religião na Europa, acabando por salvar o panteão da destruição. Atualmente, o edifício é um túmulo simbólico da velha monarquia italiana e uma memória constante da grandeza da Roma antiga.

Fachada

A frase inscrita na fachada diz: “M Agrippa L F Cos Tertium Fecit” (“Construído por Marco Agripa, filho de Lúcio, três vezes cônsul”).

Colunas

Revestidas originalmente a mármore branco, as colunas coríntias do pórtico foram copiadas pelos romanos de estruturas gregas como o Pártenon.

Pretendentes ao trono Do Panteão de Paris ao paraguaiano Panteão Nacional dos Heróis, esta lendária estrutura tem influenciado o estilo de construção em todo o mundo. Vemos o desenho simétrico com filas de colunas coríntias reproduzido no Capitólio norte‑americano e no Jefferson Memorial em Washington, e,

040 | Quero Saber

um pouco mais perto, na Villa Almerico‑Capra, em Itália. A arquitetura da Roma antiga serviu de modelo para muitas estruturas, e como o Panteão é, sem dúvida, uma das mais bem preservadas, é natural que os arquitetos se inspirem nele. Como se costuma dizer, a imitação é a forma de elogio mais sincera.

Exterior

As portas de bronze pesam 20 toneladas e as paredes exteriores têm 7,5 metros de espessura.

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Frente a Frente

GRANDE

1. Estádio Oita

MAIOR

Este imponente estádio no Japão recebeu três jogos do Mundial de Futebol de 2002. Tem uma cúpula retrátil com 270 m de diâmetro.

AS MAIORES CÚPULAS

2. AT&T Stadium

3. Estádio Nacional de Singapura

A MAIOR

O estádio dos Dallas Cowboys, da NFL, tem 80 mil lugares e a maior cúpula dos EUA, com 274 m de diâmetro.

Com uns imensos 312 m de diâmetro, a cobertura retrátil é a maior cúpula do mundo.

SABIA QUE... Todos os anos, no solstício de 21 de junho, os raios do sol atravessam o óculo e incidem na porta principal?

Óculo

A abertura circular no topo da cúpula era originalmente a única fonte de luz dentro do edifício.

Cúpula

A rotunda da cúpula tem 43,3 m de diâmetro e é feita em betão pozolânico.

Sala principal

A sala principal foi concebida para simbolizar os céus, ao passo que o óculo representa o Sol.

Através dos tempos

126 Um templo a todos os deuses romanos.

1600 Período de regeneração renascentista.

As breves torres sineiras veem-se aqui.

Escoamento

A água da chuva que entra pelo óculo é escoada do centro do templo através de um sistema de esgotos.

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Religião romana

Sete altares representam os cinco planetas conhecidos pelos romanos (Mercúrio, Vénus, Marte, Júpiter e Saturno), mais o Sol e a Lua.

Interior

Devido a projetos de renovação e restauração ao longo dos anos, o interior está hoje decorado em estilo cristão e não romano.

2014 Hoje, recebe missas e casamentos.

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© DK Images; Corbis; Alamy; Dreamstime

1835


EDIFÍCIOS & LOCAIS

A Catedral de Sevilha

A maior catedral gótica do mundo era vista como uma maravilha da sua era quando foi acabada. E percebe‑se porquê…

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A construção da mesquita almóada original começa.

A torre do sino da catedral começou por ser um minarete da mesquita original de Sevilha. Construída entre 1184 e 1198 pelo arquiteto Ahmed Ben Basso, a torre em tijolo era encimada por grandes esferas decorativas de bronze dourado. Após a reconquista de Sevilha pelos cristãos no século XIII, o minarete foi convertido na torre do sino da catedral, com a adição de um campanário. Depois de um terramoto em meados do século XIV, as esferas de bronze islâmicas caíram e foram substituídas por um grande campanário central encimado por uma cruz. Esta estrutura foi, por sua vez, substituída quando o arquiteto renascentista Hernán Ruiz II concebeu um novo campanário coroado por um pináculo com uma estátua de bronze no topo, representando o triunfo da cristandade. Terminada por fim em 1568, muitos arquitetos se inspiraram na conceção e fusão de estilos arquitetónicos da La Giralda.

Cristianizada

Sevilha é conquistada por Fernando III e a mesquita é convertida em igreja.

Início da catedral

Começam os trabalhos na catedral moderna.

1507

Primeira pedra

A icónica La Giralda à lupa

1401

1184

O progresso da catedral

O trabalho na catedral que conhecemos hoje teve início em 1401, mas a sua história remonta a 1184.

1248

A Catedral de Santa Maria da Sede, mais conhecida como Catedral de Sevilha, é a igreja matriz da Andaluzia. A construção foi erigida no local de uma antiga mesquita almóada do século XII. Esta casa de oração consistia originalmente num pátio retangular, ladeado pela própria mesquita – um edifício retangular baixo, orientado de este para oeste, com muitas naves laterais separadas por longas colunatas. Construída em pedra e tijolo, a mesquita tinha um minarete alto no flanco este. Após a Reconquista Cristã da cidade em 1248, a mesquita foi rapidamente convertida em igreja e o minarete foi utilizado como torre do sino. Mas no início do século XV, a estrutura da antiga mesquita estava tão degradada que foi decidida a construção de uma catedral nova em pedra. Esta nova igreja seguia largamente o traçado da predecessora, mas era consideravelmente mais alta e continha menos colunas. Como resultado, a catedral tem um interior vasto, como um hall. Contudo, apesar das paredes massivas e do complexo sistema de arcobotantes que suportava as abóbadas em pedra, o plano da nova catedral estava longe de ser perfeito. A instabilidade estrutural resultou no desabamento da torre central em 1511, que foi depois reconstruída com um design melhorado. Todavia, tornou a cair em 1888 – desta vez devido a um terramoto – e a sua reconstrução só começou em 1903. A catedral contém também muitos túmulos famosos. O mais conhecido é, sem dúvida, o do explorador Cristóvão Colombo, que se situa no transepto sul. Três reis de Castela também estão enterrados na catedral: Pedro I, Afonso X e São Fernando III. Devido à sua dimensão, importância arquitetónica e aos muitos tesouros artísticos que guarda, a Catedral de Sevilha foi declarada Património Mundial pela UNESCO em 1987.

Catedral terminada

O corpo principal da catedral é terminado.

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Frente a Frente

LONGA

CATEDRAIS DO MUNDO

1. Catedral de Sevilha

2. Catedral de Liverpool

MAIS LONGA

Apesar de ser a maior catedral gótica do mundo, o seu comprimento de 132 metros é apenas médio.

3. Basílica de São Pedro

A MAIS LONGA

Construída no séc. XX, é a catedral mais longa da Grã‑Bretanha, com 188,7 m, e a segunda mais comprida do mundo.

Pode ter mais de 400 anos, mas com 211,5 m de comprimento, a enorme igreja do Vaticano é, sem dúvida, a mais longa.

SABIA QUE... Em 1401, o capítulo da catedral resolveu edificar uma igreja tão grande que quem a visse pensaria que estava “louco”?

Visita à catedral

Pináculo e estátua

O pináculo do século XVI é coroado por uma estátua que representa o triunfo da fé cristã.

Apesar de parecer uma estrutura compacta, a catedral evoluiu ao longo de muitos séculos.

Sacristia

Coberta por uma grande abóbada, a sacristia contém todas as casulas e vasos sagrados utilizados nos serviços religiosos.

Capela real

A capela abobadada que fica imediatamente por trás do altar‑mor.

La Giralda

Construída entre 1184 e 1568, a torre tem 105 metros de altura.

Retábulo

Túmulo de Colombo

O retábulo é ocupado por esculturas religiosas e forma a parte posterior do altar‑mor.

O túmulo do explorador do século XV Cristóvão Colombo situa‑se no centro do transepto sul.

Pátio das Laranjeiras

El Patio de los Naranjos, no lado norte da catedral, deve o seu nome às laranjeiras que ali crescem.

Os números

Fachada oeste

A fachada oeste contém a porta principal da catedral e um grande vitral circular.

Catedral de Sevilha Arquitetos: Alonso Martínez, Pieter Dancart, Hernán Ruiz Estilo arquitetónico: Gótico, renascentista

Ladeado por cadeirais de madeira, o coro fica em frente ao altar‑mor, onde têm lugar todas as cerimónias importantes.

Tipo de edifício/função: Catedral metropolitana Localização: Sevilha, Espanha

Capelas laterais

Altura do pináculo: 105 m

O campanário da torre do sino é finalizado.

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Batistério ultimado

O batistério, com a sua pintura A Visão de Santo António, é construído.

Terramoto A torre central e as abóbadas da catedral desabam.

1898

La Giralda concluída

1656

1568

Área do terreno: 11.520 m2

1888

Os lados norte e sul da igreja são orlados por pequenas capelas nas quais têm lugar os serviços religiosos diários.

Altura da nave: 42 m

Colombo é enterrado

Os ossos de Cristóvão Colombo são sepultados na Catedral de Sevilha.

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© Thinkstock; DK Images; Miguel Mendez; Roberto Chamoso

Coro

Anos de construção: 1401-1507


EDIFÍCIOS & LOCAIS

Massachusetts State House O edifício mais icónico de Boston tem simbolismo a condizer com o seu fausto. Após o fim da Guerra da Independência, em 1783, os ainda jovens Estados Unidos da América lutavam por definir a sua identidade nacional. Uma das formas de o conseguir foi através da construção de estruturas grandiosas e simbólicas, como o edifício do capitólio de Boston, a Massachusetts State House. O edifício foi ideia do arquiteto Charles Bulfinch, que foi buscar muita da sua inspiração a dois anos de viagens pela Europa. A construção arrancou em 1795, com os patriotas Samuel Adams e Paul Revere a lançarem a primeira pedra no topo da Beacon Hill – local outrora pertencente a John Hancock, o primeiro governador eleito do Massachusetts. Concluída 1798, tornou-se imediatamente um ponto de referência, destacando-se acima da cidade baixa e comprovando o epitáfio de John Winthrop de “cidade no topo da colina.” A cúpula da State House é talvez a secção do seu exterior que mais mudou ao longo dos anos. Construída originalmente em madeira, foi revestida a cobre no início do século XIX e depois a ouro, em 1874. Durante a II Guerra Mundial foi pintada de cor escura, como proteção contra a possibilidade de ataques aéreos durante apagões. O teto voltaria a ser dourado em 1997. Sobre a cúpula está uma pinha de madeira, que simboliza a importância económica e cultural da indústria da madeira na história do estado. Atualmente, ainda funciona como capitólio do estado, alojando o Senado e a Câmara dos Representantes. Suspenso na galeria, bem à vista dos Representantes, está uma das maiores atrações culturais de Boston: o Sacred Cod (“Bacalhau Sagrado”), que simboliza a importância local da indústria da pesca do bacalhau para a prosperidade. Se acrescentarmos as inúmeras obras de arte e o tesouro guardados nos confins do edifício, é legítimo dizer que a sua história é longa e de grande peso.

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Sala Grande

O mais recente acrescento ao edifício, a sua construção terminou em 1990.

Janela da Escadaria Principal Contém os vários selos do estado do Massachusetts ao longo dos anos.

Câmara dos Representantes

Fica no terceiro piso e alberga o famoso “Bacalhau Sagrado”.

Sala das Bandeiras

Esta sala homenageia os soldados do Massachusetts e contém mais de 400 bandeiras.

A Biblioteca Estadual do Massachusetts é tão imponente por dentro como por fora.

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CINCO FACTOS

OUTRAS OBRAS DE BULFINCH

Capitólio dos EUA

1

Bulfinch dirigiu a construção

do edifício do Capitólio dos Estados Unidos entre 1818 e 1826, tendo alterado o projeto inicial. É responsável pelo desenho da cúpula no centro.

University Hall

2

Tendo estudado em Harvard,

é natural que Bulfinch tenha concebido um dos seus edifício mais icónicos. Foi construído entre 1813-1815 e é Marco Histórico Nacional.

Maine State House

3

Baseada no projeto da

Massachusetts State House, a construção ocorreu em 1829-32. Foi depois ampliada em 1911, com grande parte do edifício antigo demolida.

First Church of Christ, Unitarian

4

Foi o último projeto de

Bulfinch antes do Capitólio. Embora mais pequena, não é menos imponente do que o seu trabalho anterior.

Edifício Bulfinch

5

Parte do Hospital Geral do

Massachusetts, a construção do edifício que teria o nome do seu arquiteto decorreu entre 1818 e 1823. Também é Marco Histórico Nacional.

SABIA QUE... A Massachusetts State House aparece em inúmeras cenas do filme de Scorsese The Departed: Entre Inimigos?

No interior...

Um guia para as características mais relevantes da Massachusetts State House.

Pinha

Situada no topo da cúpula, simboliza a importância da indústria da madeira para a história da cidade.

Inspirações arquitetónicas

Cúpula

Originalmente era de madeira, mas depois foi revestida a cobre e, mais tarde, a ouro.

Sala de Receções do Senado

Aqui, retratos de ex-presidentes do Senado decoram as paredes.

Durante as suas viagens, Charles Bulfinch inspirou-se em vários estilos, que se fundiram para criar um edifício com um estilo próprio. Um dos que se nota de forma mais clara é de natureza palladiana, inspirado nos temas presentes na obra do arquiteto italiano Andrea Palladio (1508-80) – sobretudo o tipo de simbolismo da arquitetura grega. Um exemplo famoso é patente na Somerset House, em Londres (acima); a parte central da State House exibe as semelhanças mais óbvias com a arquitetura palladiana. Para além disso, a obra de Bulfinch evocava os estilos neoclássicos representados, por exemplo, pelo arquiteto escocês Robert Adam (1728-92), embora numa versão que evocava temas mais próximos. Foi utilizada madeira para as colunas da colunata, bem como para partes da escadaria e das bandas decorativas das colunas.

Câmara do Senado

Sala das Enfermeiras Gabinetes executivos

Inclui o gabinete do governador, a sala do conselho e a sala do governo.

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Deve o nome à presença da estátua de uma enfermeira do exército – a primeira em honra das mulheres do Norte após a Guerra Civil.

O “Bacalhau Sagrado” Quando o famoso Sacred Cod da State House foi roubado, em 1933, Boston ficou em alvoroço e o caso até foi notícia nacional. Tal era o significado simbólico deste memorial à importância da pesca do bacalhau-do-Atlântico para a cidade que alguns dos membros da Câmara dos Representantes argumentaram que seria sacrilégio

continuar a trabalhar sem o célebre peixe a “observá-los”. O Sacred Cod foi recuperado (apenas com pequenos danos) pelo diretor da polícia de Harvard Yard, Charles Apted, e o roubo atribuído ao staff do The Harvard Lampoon, publicação humorística da Universidade de Harvard – mas ninguém foi punido.

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© Thinkstock

Logo abaixo da cúpula, aloja os 40 senadores.


EDIFÍCIOS & LOCAIS Aposentos de solteiro

Corpos celestes

O Castelo de Cardiff

No interior da torre do relógio fica um apartamento de solteiro do séc. XIX com decoração extravagante construído para o Marquês de Bute, então com 20 anos.

O relógio em folha de ouro está acompanhado por estátuas que representam o Sistema Solar: Mercúrio, Lua, Marte, Júpiter, Saturno, Vénus e Sol.

Defesas anticerco

Burges concebeu defesas tradicionais como decoração, incluindo balestreiros – aberturas na muralha de onde se podia disparar setas e lançar óleo a ferver sobre os invasores.

A fortaleza mais famosa de Gales parece saída de um conto de fadas. Adornado com esculturas elaboradas, passagens cobertas e encimado por uma imponente torre de relógio, o Castelo de Cardiff quase parece bom demais para ser verdade. Construído após 1081 sobre as ruínas de um forte romano pelos Normandos, que estavam a expandir-se da Inglaterra para o País de Gales, foi ampliado nos séculos seguintes, sobretudo no início do século XV, quando a torre de menagem ganhou forma, e no século XVIII, quando foi embelezado com uma mansão georgiana. Em 1848, o Castelo de Cardiff foi herdado por John Patrick Crichton-Stuart, o terceiro Marquês de Bute – então com menos de seis meses – e a sua história sofreu um inesperado desvio para o passado. “O meu luxo é a arte”, escreveu o aristocrata mais tarde. “Tenho um considerável gosto por arte e arqueologia, e, felizmente, os meios para o satisfazer.” Dotado da riqueza do pai e de um eclético gosto por história, religião, arte, literatura e até o oculto, aos 18 anos Bute tornou-se amigo do excêntrico arquiteto e desenhador William Burges. Os dois começaram a reconstruir e a decorar o Castelo de Cardiff segundo o seu sonho de um castelo medieval. Remodelando profusamente o interior com entalhes atrevidos, vitrais, estátuas angelicais e tetos abobadados, Burges abafou o edifício original com os novos aposentos de Bute numa torre de relógio com 40 metros de altura, decorada com os símbolos do zodíaco. Infelizmente, Burges morreu em 1881 antes da conclusão da sua melhor obra – a arrebatadora Sala Árabe, inspirada nas suas viagens à Sicília e à Turquia – e Bute homenageou o seu amigo “inspirador” em mármore, gravando os seus nomes onde ainda hoje são vistos entre a fantasia do castelo por visitantes espantados.

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Passagem de madeira

Uma passagem coberta conduz aos apartamentos do séc. XIX do Marquês de Bute, a partir da porta fortificada.

A outra fantasia de Burges e Bute Burges e Bute não se ficaram por um castelo: construíram um segundo quase de raiz, em Tongwynlais, a norte de Cardiff, que seria a casa de verão do Marquês. Após limparem as ervas daninhas e os destroços das ruínas do Castell Coch (“Castelo Vermelho”, em galês) do século XIII em 1871, a construção arrancou em 1875 e Burges “reconstruiu” o castelo com três torres cónicas historicamente dúbias e cobriu passagens de madeira, mais próprias para a Europa Central.

Passado o gradeado e a ponte levadiça, os interiores estão ao nível dos do Castelo de Cardiff em termos de ostentação, e Castell Coch foi usado em séries de televisão como Merlin, Doctor Who, The Worst Witch e Da Vinci’s Demons. Pouco simpático, o Welsh Office Official Handbook de 1954 descreve o Castell Coch como um “gigantesco embuste, uma loucura cara erigida por um arquiteto vitoriano excêntrico para satisfazer os desejos de antiguidades de um nobre abastado”.

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CINCO FACTOS

Worcester College, Oxford

1

EDIFÍCIOS DE BURGES

Renovou o hall e a capela

do séc. XVIII em 1864, com animais esculpidos e mosaicos. A maior parte da obra foi removida na década de 1960.

Knightshayes Court, Devon

2

Desenhou uma nova mansão

para John Heathcoat-Amory, homem de negócios e político, famosa por ser a única casa convencional que criou.

Catedral de São Fin Barre, Irlanda

3

A primeira grande obra

de William Burges é uma graciosa catedral gótica que valeu ao arquiteto um prémio de £ 100.

Abadia de Waltham, Essex

4

Ao restaurar e remodelar

o interior em 1876, Burges pintou o teto com os signos do zodíaco, algo que repetiria depois no Castelo de Cardiff.

Mount Stuart House, Ilha de Bute

5

A casa de família

do Marquês de Bute foi reconstruída por Burges em estilo gótico. Foi a primeira casa com piscina aquecida.

SABIA QUE... Uma fachada está decorada com 15 animais diferentes? Muitos foram resculpidos, pois não eram suficientemente ferozes.

Torre Herbert

Construída pela família Herbert no séc. XVI, hoje contém a espetacular Sala Árabe de Burges, com o seu teto de estilo mourisco.

Torre octogonal

Contém a principal escadaria em espiral e foi construída num estilo da Europa Central raramente visto em castelos britânicos.

Jardim em terraço O murado jardim da Torre Bute é aberto e tem uma fonte baixa, e murais com a história bíblica de Elias.

Sala de banquetes Está revestida de murais que retratam Robert de Gloucester, o lorde que construiu a torre de menagem normanda.

Biblioteca

Foi meticulosamente planeada pelo arquiteto William Burges, até ao mobiliário. É o seu único interior completo em todo o mundo.

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A história medieval do Castelo de Cardiff foi bem mais sangrenta do que romântica. Reduto fundamental, foi utilizado como prisão (e local de execuções) para traidores de elite como Robert Curthose, o filho amotinado de Guilherme, o Conquistador, em 1106, e o lorde rebelde galês Llywelyn Bren, em 1317. A execução de Bren indignou os outros nobres ingleses de Gales e estimulou o seu ódio contra Hugh Despenser, o Jovem, um preferido do rei Eduardo II que se autodeclarara “Lorde de Glamorgan”. Iniciaram uma revolta para o matar e saquearam a sua casa no Castelo de Cardiff. A Guerra dos Despenser, de 1321 a 1322, foi esmagada pela coroa, mas os dias de Eduardo II e do seu reinado subserviente estavam contados. O rei foi derrubado em 1326 e, ainda nesse ano, Despenser foi estripado na fogueira. O Castelo de Cardiff permaneceu na família, mas os futuros Despensers optaram por viver noutro lugar. Más memórias, talvez…

Quero Saber | 047

© DK Images

A verdadeira fortaleza medieval


Edifícios & locais

Catacumbas de Paris Porque jazem mais de seis milhões de pessoas sob a cidade? Em finais do século XVIII, a população de Paris estava a ficar sem espaço para enterrar os seus mortos. O Cemitério dos Inocentes – o maior e mais antigo da cidade – estava, literalmente, a abarrotar de cadáveres. Para evitar uma maior sobrelotação, era necessária uma solução radical. A partir de 1786, os cadáveres foram gradualmente transferidos para o labirinto de sepulcros e antecâmaras

cerca de 20 metros abaixo da capital. Durante o Terror Revolucionário, muitos “inimigos da Revolução” executados na guilhotina foram diretamente enterrados nas Catacumbas. Originalmente, o local era uma pedreira subterrânea, de onde veio a pedra usada para construir edifícios parisienses icónicos, como a Catedral de Notre Dame e o Louvre. A transição para o macabro ossuário subterrâneo trouxe

consigo avisos sinistros gravados sobre as passagens: “Arrête, c’est ici l’empire de la mort ” (“Pare, este é o reino da morte”). Enlutados e turistas curiosos visitam o local desde o início do século XIX, e restos mortais eram para lá transferidos regularmente até 1859. A “população” das Catacumbas de Paris supera a que vive na cidade acima.

Esconderijos de padres A história por detrás destes refúgios do século XVI. Os esconderijos de padres (priest holes) surgiram em muitas casas católicas britânicas do século XVI como lugar de refúgio para sacerdotes perseguidos. A Grã-Bretanha era um país católico antes de Henrique VIII ter formado a sua própria igreja, cujos seguidores se tornarem conhecidos como protestantes. Maria I reverteu a religião nacional ao Catolicismo, mas Isabel I tornou a mudá-la e iniciou uma perseguição implacável aos católicos. Muitas pessoas que não queriam abdicar da sua fé construíam nas suas casas esconderijos de padres – reentrâncias e caves secretas

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para os sacerdotes católicos se esconderem dos “caçadores de padres”. Geralmente apertados e desconfortáveis, estes autênticos buracos permitiam que os católicos se reunissem e orassem em segredo, para além de refugiarem padres que não abdicaram da sua fé numa era de grande perseguição. Um dos mais famosos e hábeis construtores destes refúgios foi Nicholas Owen, que criou esconderijos incrivelmente difíceis de detetar. Existem esconderijos de padres famosos em Baddesley Clinton, em Warwickshire, e no Castelo de Naworth, na Cúmbria. www.QUEROSABER.sapo.pt


cinco factos Abu Simbel

Principais deuses

1

Ré-Horakhti, senhor do céu,

era a junção de dois poderosos deuses solares. Osíris era deus do submundo e Amon era o deus principal e protetor da monarquia.

Luz e sombra

2

O templo está posicionado de

forma a que a luz incida sobre Ré-Horakhti, Amon e Ramsés duas vezes por ano. Osíris está em escuridão perpétua, por ser o deus do submundo.

O nome

3

Crê-se que Abu Simbel

deva o seu nome ao jovem egípcio que, em 1813, mostrou o local ao explorador suíço Johann Ludwig Burckhardt.

Mais quatro anos

4

Não tendo Burckhardt

conseguido desenterrar o templo em 1813, coube a Giovanni Belzoni descobrir e escavar Abu Simbel, o que fez em 1817.

Direitos iguais

5

As estátuas de Ramsés

e Nefertari no exterior do Templo Menor – o segundo dedicado à esposa de um faraó – têm a mesma altura, algo raro na cultura egípcia.

SABIA QUE... Abu Simbel é a segunda atração turística mais popular do Egito? Tem até o seu próprio aeroporto.

Abu Simbel

A incrível história por detrás do tributo de um faraó a si mesmo.

Templos e edifícios incríveis são algo comum no Egito, por isso, o facto de serem um dos locais mais visitados do país é uma grande honra para os templos na rocha de Abu Simbel, em Núbia. Levada a cabo durante o reinado de Ramsés II (por volta de 1279-1213 a.C.), a construção dos dois templos demorou 20 anos. O Grande Templo é dedicado aos deuses Ré-Horakhti e Ptah, mas é Ramsés II que ocupa o palco central. A entrada do templo é ladeada por quatro estátuas de Ramsés II com 20 metros de altura, sobrepondo-se a estátuas muito menores que retratam tanto a família do faraó quanto inimigos derrotados, como núbios, hititas e líbios. Dentro do Grande Templo, há estátuas de Ptah, Ré-Horakhti, Amon e Ramsés

Subir de nível Em 1952, o governo egípcio decidiu construir uma barragem, depois de as águas do Nilo terem subido demais para a então existente. A construção, porém, teria inundado o templo de Abu Simbel, pelo que foi tomada a decisão de mover toda a construção para terrenos mais altos. Entre 1963 e 1968, o templo foi cortado em dez mil blocos, cada um com três a 20 toneladas. Os blocos foram então movidos 65 m pela montanha acima e 180 m para oeste, para manter o templo fora da área a ser inundada. Os blocos foram remontados com precisão, exatamente na mesma posição que antes, e estabilizados com betão. A mudança custou $ 42 milhões na época, o que corresponderia hoje a $ 288 milhões (cerca de € 265 milhões), mas foi essencial para preservar uma parte crucial da história egípcia.

II, para além de vários relevos que mostram Ramsés a reclamar grandes vitórias sobre os seus inimigos. Uma fileira de estátuas de babuínos cobre a fachada, já que estes eram venerados como adoradores do Sol. O Templo Menor foi construído em honra da memória da esposa preferida de Ramsés, Nefertari, que mais tarde ficou conhecida como deusa da fertilidade e do amor. Na sua frente, encontram‑se estátuas de Ramsés e Nefertari, enquanto no interior relevos mostram o casal a prestar oferendas aos deuses. A localização de Abu Simbel é igualmente relevante. Núbia já era um importante local de culto e Abu Simbel, na fronteira egípcio‑sudanesa, estabeleceu-a como definitivamente egípcia.

Estátuas

As estátuas de Ramsés II, Ptah, Ré-Horakhti e Amon erguem-se no interior do templo.

O templo de Ramsés O que veria se visitasse o templo de Abu Simbel?

Relevos

Esculturas na parede mostram o heroico Ramsés a combater os seus inimigos.

Amigos e inimigos Entre as pernas das estátuas, encontram‑se estátuas muito menores da família e dos inimigos de Ramsés.

Colunas

Oito enormes colunas, que mostram Ramsés a vencer grandes batalhas, sustêm o teto.

Voltado a leste

Como muitos edifícios religiosos, Abu Simbel está virado a este, para o sol nascente.

Babuínos

Os babuínos são considerados adoradores do Sol, pelo que adornam a fachada do templo.

A tarefa de mover o templo todo envolveu até três mil pessoas.

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A cabeça e o torso da segunda estátua de Ramsés jaz no chão, tendo-se partido na sequência de um sismo.

Imponência

Mesmo estando sentadas, as estátuas da entrada têm 20 m de altura.

© DK Images

Ídolo caído

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EDIFÍCIOS & LOCAIS

Catedral Nacional de Washington

O que faz da segunda maior igreja dos EUA a mais importante do país? Remontando ao nascimento dos Estados Unidos da América e tendo a sua construção durado 83 anos, a Catedral Nacional de Washington – também conhecida como Igreja Catedral de São Pedro e São Paulo, na Cidade e Diocese de Washington – é o coração histórico e espiritual da nação. Uma “grande igreja para fins nacionais” foi inicialmente proposta em 1791, 15 anos depois de as colónias americanas terem declarado a sua independência face à Grã-Bretanha, durante a ambiciosa construção de Washington, D.C., como uma capital erigida de propósito para a jovem nação orgulhosa. Embora proposta durante a administração do primeiro presidente dos EUA, George Washington, a primeira pedra (vinda de Belém) da catedral ao estilo neogótico inglês foi colocada mais de um século depois, a 29 de setembro de 1907, na presença do 26.º presidente dos EUA, Theodore Roosevelt. A catedral foi oficialmente terminada a 29 de setembro de 1990, quando o último remate decorativo foi instalado, na presença do 41.º presidente, George H. W. Bush (pai de George W. Bush). O resultado final mede mais de 152 metros de comprimento, de oeste para leste, tendo a sua torre central pouco menos de 92 metros de altura, o que faz da Catedral Nacional de Washington a sexta maior catedral do mundo e a segunda maior dos EUA. Apesar de a catedral ter permanecido incompleta por grande parte do século XX, a Capela de Belém central foi aberta em 1912 para serviços religiosos, incluindo funerais de Estado para os presidentes Dwight D. Eisenhower, Gerald Ford e Ronald Reagan, e memoriais para vários outros presidentes dos EUA. A Catedral Nacional de Washington abriu ainda para memoriais a figuras importantes, como Neil Armstrong, o primeiro homem na Lua, e Nelson Mandela, ex-presidente da África do Sul, bem como em momentos de luto nacional, como o 11 de Setembro e o fim da Guerra do Vietname.

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Janela espacial

Este vitral comemora a missão Apollo 11 com planetas rotativos. Um minúsculo pedaço de rocha lunar está embutido no vidro.

Principais destaques De A Guerra das Estrelas à Segunda Guerra Mundial, tudo se encontra na Catedral Nacional de Washington...

Darth Vader

No “lado nego” da torre está um grotesco esculpido baseado no vilão de A Guerra das Estrelas, Darth Vader, projetado pelo jovem de 13 anos Chris Rader, em 1985.

O carrossel da catedral Algo não tipicamente esperado no recinto de uma igreja, o Carrossel de All Hallows Guild foi construído na década de 1890, pela empresa Merry-Go-Round, de Cincinnati, e foi utilizado em feiras itinerantes por todo o país. O raro carrossel, todo em madeira e com um órgão de bronze, conta com 24 animais esculpidos à mão e pintados em tons garridos, e com dois coches para assento, que sobem e descem à medida que o carrossel circunda o varão central, movido por um motor a gasolina. O carrossel foi comprado pela All Hallows Guild, a entidade responsável pelo recinto da Catedral Nacional de Washington, em 1963, para conferir um ambiente de feira popular a eventos ao ar livre. Hoje, o belo carrossel surge apenas uma vez por ano e consta do Registo Nacional de Locais Históricos como um dos dois únicos carrosséis inteiramente de madeira que restam nos EUA.

Fachada ocidental

Um bonito elefante esculpido à mão no Carrossel de All Hallows Guild.

A fachada ocidental da catedral mostra a história da criação bíblica.

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DATAS-CHAVE A CONSTRUÇÃO DA CATEDRAL

1791

1906

O arquiteto francês Pierre George Frederick Bodley Charles L’Enfant reserva e Henry Vaughan são espaço para uma catedral na escolhidos para a arquitetar planta de Washington, D.C.. em estilo neogótico.

1907

1921

1990

A primeira pedra é assente e a construção começa, após um discurso do presidente Theodore Roosevelt.

Com Bodley e Vaughan mortos e a paragem durante a I Guerra, o arquiteto americano Philip Hubert Frohman é chamado.

Após 83 anos de construção, a pedra final é assente, numa cerimónia com o presidente George H. W. Bush.

SABIA QUE... Martin Luther King Jr. proferiu o seu último sermão dominical na catedral a 31 de março de 1968? Foi morto a 4 de abril.

Torre Gloria In Excelsis

Com 91 m de altura e 206 m acima do nível do mar, este é o edifício mais alto de Washington, D.C..

Altar-mor

As pedras do altar vêm de uma pedreira perto de Jerusalém, de onde se crê que viessem as pedras do Templo de Salomão.

Dez mandamentos

As dez pedras assentes diante do altar-mor vêm da Capela de Moisés, no Monte Sinai, no Egito, e representam os dez mandamentos.

Catedral vs. sismo A 23 de agosto de 2011, a Catedral Nacional de Washington foi danificada por um sismo. O Terramoto da Virgínia de 2011 atingiu 5,8 na escala de Richter – o maior registado na costa leste dos EUA desde 1944 e sentido por mais pessoas do que qualquer outro na história do país. Rachas surgiram nos botaréus de sustentação em torno da igreja, enquanto três dos quatro pináculos de pedra da torre central ficaram desalinhados ou ruíram por completo, caindo através da cobertura. A catedral ficou fechada até 7 de novembro de 2011 e as reparações – com um custo estimado de $ 26 milhões (cerca de € 24 milhões) e não cobertas pelo seguro – ainda decorrem.

Capela das Crianças

Woodrow Wilson

O único presidente sepultado na catedral é Woodrow Wilson, que ocupou o cargo de 1913 a 1921.

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O Grande Cruzeiro

O centro da catedral, o Grande Cruzeiro é onde decorrem as grandes cerimónias.

© DK Images; Camila Ferreira & Mario Duran Ortiz

Tudo nesta capela é à medida de crianças de seis anos de idade, incluindo o minúsculo órgão.

Capela do Memorial da Guerra Contém vitrais que mostram batalhas da Segunda Guerra Mundial e da Guerra da Independência dos EUA.

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EDIFÍCIOS & LOCAIS

Como evoluiu o Castelo de Warwick? Uma das fortalezas mais famosas de Inglaterra, o Castelo de Warwick é uma obra-prima medieval de arquitetura impressionante.

Encomendado por Guilherme I, o Conquistador – dois anos depois da sua vitória na Batalha de Hastings –, o Castelo de Warwick é uma das fortificações medievais mais impressionantes, mais visitados e mais bem preservadas de Inglaterra. Desde as suas origens humildes como um castelo de mota normando em 1068, passando por ser uma das maiores estruturas militares do século XIV, até à sua transformação numa das mais prestigiadas casas de campo da Europa, Warwick mudou muito durante os seus 945 anos de história. O castelo situa-se numa encosta de arenito na cidade de Warwick, em Inglaterra, onde abraça o rio Avon. A sua posição foi escolhida devido à localização central dentro das Midlands, que garante acesso fácil às regiões circundantes – factor crucial para Guilherme I pôr fim a quaisquer rebeliões. Além disso, a grande altitude do castelo dificultava imenso os ataques.

Como tal, de 1068 em diante o castelo continuou a ser uma estrutura defensiva essencial – mesmo séculos após a morte de Guilherme I –, tendo sido reforçado com mais torres, edifícios e paredes. Enquanto castelo teve o seu auge no final do século XV. Por esta altura, mais do que um castelo de mota, Warwick era um complexo colossal com paredes de pedra com vastos metros de espessura, muitas torres alinhadas com baluartes, instalações domésticas completas e até uma prisão e um calabouço funcionais. Era, em muitos aspetos, uma cidade totalmente

operacional, com instalações como um moinho, um estábulo e um mercado, o que o fazia dele muito mais do que uma fortaleza defensiva, sendo também um centro de negócios e comércio. Depois de séculos de declínio, o Castelo de Warwick foi transformado numa casa de campo e numa propriedade no início do século XVII e assim se manteve até 1978, altura em que foi comprado e transformado numa atração turística. Desde então, Warwick regressou à sua condição de castelo, com uma série de renovações e reconstruções para celebrar o seu património.

O Castelo de Warwick é um dos castelos medievais mais bem preservados de Inglaterra.

Armas de Warwick Embora o Castelo de Warwick tenha sido cercado várias vezes, qualquer ofensiva de longo alcance só ocorrerá na defesa da fortaleza, onde podemos encontrar a maior arma de cerco da Grã-Bretanha e o maior trabuco do mundo. Desde a sua construção em 2005 com base em notas e desenhos do século XIII, o trabuco de Warwick foi disparado mais de 6.500 vezes e é uma atração muito popular. A máquina – feita em Wiltshire, Inglaterra – requer oito pessoas para funcionar e consegue disparar projéteis com um peso de até 150 quilogramas por uma distância de 300 metros!

Warwick no tempo Veja alguns dos marcos essenciais desta fortificação ao longo da sua história.

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1068

Guilherme I, o Conquistador, inicia a construção da fortificação, edificando um castelo de mota.

1264

Simon de Montfort, o líder de um grupo de barões insurretos em conflito com a monarquia, captura o castelo.

1395

A segunda torre mais alta do castelo, a Torre de Guy, foi construída perto do final do século XIV. Tem 39 m de altura.

1572

Depois de uma série de melhorias e alargamentos, o castelo é visitado pela Rainha Isabel I.

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CINCO FACTOS CASTELO

Grande propriedade

1

DE WARWICK

Os jardins paisagistas

do Castelo de Warwick foram criados nos anos de 1750 por Lancelot Brown, que gastou £ 2.293 no projeto, que hoje seria mais de € 310 mil.

Património da Coroa

2

Além de ter tido 37 donos até

hoje desde a sua construção, o Castelo de Warwick Castle esteve também sob o controlo da Coroa Britânica em nada menos que quatro ocasiões.

Era parlamentarista

3

Durante a Guerra Civil Inglesa

de 1642-51, o Castelo de Warwick teve muita ação, incluindo um cerco instigado pelas forças Realistas que suportou com êxito.

Burgo anglo-saxão

4

Casa de família

5

Antes de Guilherme I

encomendar a construção do Castelo de Warwick, havia um burgo anglo-saxão – cidade fortificada – no local, que surgiu perto de 914.

O Castelo de Warwick

foi convertido em casa de campo e herdade por Sir Fulke Greville em 1604. A propriedade permaneceu na sua família até 1978.

SABIA QUE... Foram gastos mais de sete milhões de euros na manutenção do Castelo de Warwick nos últimos dez anos?

Visita à fortaleza medieval

Explore as principais características do Castelo de Warwick nesta ilustração.

Torre do Urso e Torre Clarence

Talude do Castelo

É a parte mais antiga do Castelo de Warwick, tendo sido construída em 1068 sob as ordens de Guilherme I, o Conquistador. Era um posto de vigia defensivo ideal.

Parede divisória

Todas as estruturas principais do castelo estão ligadas por uma parede divisória, ao longo da qual se encontram passagens pedonais e ameias defensivas. Os guardas posicionavam-se nas muralhas quando o castelo estava sob cerco.

Terrenos

No centro do recinto interior do castelo está uma zona de pátio. Tropas, cavalos e produtos eram colocados aqui numa ou noutra altura.

Posicionadas no centro da muralha norte estão as pequenas Torre do Urso e Torre Clarence. A sua construção começou no século XV, mas nunca foi terminada, devido à morte do rei Ricardo III, que as encomendou, na Batalha de Bosworth.

Torre de Guy

A torre de Guy é a segunda torre mais alta de Warwick e conta com cinco pisos. Durante a Guerra Civil Inglesa, houve muita luta nas imediações desta torre.

Grande Salão

O Grande Salão é a maior divisão do Castelo de Warwick e, quando foi construído no início da Idade Média, incluía um chão de palha e terra e uma grande fogueira central. O salão, tal como está hoje, foi construído no século XIV, tendo sido reconstruído mais tarde, no século XVII.

O Castelo de Warwick teve um moinho desde o século XII, que utilizava o rio Avon como fonte de energia. O moinho original estava posicionado 90 m a jusante, com o seguinte a ser construído mais tarde, perto do final do século XIV.

1628

O dono do castelo, Sir Fulke Greville, é assassinado por um criado ressentido.

1759

Francis Greville (à direita) solicita o título de Conde de Warwick, reunindo o condado e o castelo.

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Torre de César

A torre mais alta do castelo tem uns impressionantes 44,8 m de altura. Construída no século XIV, tem uma forma de folha de trevo e é coroada com um muro com ameias e balestreiros.

1871

Um incêndio massivo consume a ala oriental do Castelo de Warwick.

O portão, a zona do castelo mais fortificada e protegida, inclui uma barbacã e uma ponte levadiça de ferro. Numerosas aberturas nas paredes interiores permitiam que fossem disparadas setas contra os inimigos.

Prisão

Situada no nível mais baixo da Torre de César está a prisão do castelo, à qual se acede através de um alçapão. Um esgoto a céu aberto passa pela prisão, e há apenas uma abertura estreita nas paredes a funcionar como janela.

1890

A Condessa de Warwick usa o castelo para manter veados, gansos, uma ema e guaxinins, entre outros animais invulgares.

2013

Quatro novas áreas são abertas ao público, incluindo a Torre do Urso, onde outrora foi mantido um urso.

© Thinkstock

Moinho do castelo

Porta fortificada

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EDIFÍCIOS & LOCAIS

A Basílica de São Francisco de Assis

Lar da Ordem Franciscana, esta basílica é uma maravilha arquitetónica e um centro de peregrinação que atrai cristãos de todo o mundo.

A grande basílica de Assis começou a ser erigida em honra de São Francisco imediatamente após a sua canonização, em 1228. Arquitetadas por um dos primeiros seguidores de São Francisco, tanto a igreja superior como a inferior seguiam originalmente um plano cruciforme sem naves laterais; mais tarde, foram adicionadas capelas, de forma a criar mais espaço para os atos de veneração dos frades e dos peregrinos. Atrás das basílicas situa-se o Sacro Convento (convento sagrado), o lar espiritual da também chamada Ordem dos Frades Menores. Construída com pedra e tijolos locais, a basílica situa‑se na encosta de uma colina, sobre o local onde foi sepultado São Francisco. As dificuldades

do lugar levaram à construção de uma igreja imensa em dois níveis, suportada por contrafortes internos. Com estilos arquitetónicos românico e gótico, a igreja inferior tem uma estrutura simples de cave, enquanto a superior é mais alta e elegante. Iluminada graças a lancetas (vãos de janelas muito altos e estreitos, coroados por arcos quebrados ogivais), apresenta alguns dos melhores exemplos de vitrais do século XIII em Itália. Porém, a basílica é talvez mais conhecida pelo inigualável conjunto de frescos que cobre as paredes e abóbadas tanto da igreja superior como da inferior. Datados sobretudo dos séculos XIII e XIV, incluem obras do jovem Giotto e de outros mestres italianos. Retratando a vida de Cristo,

O dia em que a basílica tremeu A 26 de setembro de 1997, dois sismos de 5,5 e 6,1 na escala de magnitude de momento atingiram a região de Assis. Apesar de a basílica ter sofrido danos estruturais menores, foi quando uma réplica abanou a igreja que a abóbada sobre o cruzeiro e a extremidade oeste da nave da basílica superior desabaram, destruindo frescos de Giotto. Dois frades e dois especialistas que inspecionavam os danos causados pelo abalo morreram no desastre. A igreja superior

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foi então encerrada durante os dois anos seguintes. Depois de o edifício ficar estruturalmente seguro, a abóbada foi reconstruída. Apesar de os frescos ainda estarem por restaurar, aproximadamente 80% dos fragmentos das pinturas originais foram recuperados e serão repostos nas posições originais. Com um custo de cerca de € 37 milhões, o restauro foi concluído a tempo das comemorações do Grande Jubileu do Ano 2000.

santos e outras cenas religiosas, as imagens mais famosas consistem num ciclo de pinturas que representam a vida de São Francisco. Em 1818, o túmulo de São Francisco foi redescoberto sob o chão da igreja inferior. Para que os peregrinos conseguissem aceder às relíquias do santo e rezar na sua presença, foi escavada uma cripta por ordem do papa Pio VII. Inicialmente concebida em estilo neoclássico, foi renovada no estilo neorromânico austero atual no início do séc. XX, quando vários seguidores originais de São Francisco foram sepultados na capela da cripta, perto do túmulo do santo. A basílica e o mosteiro foram declarados Património Mundial pela UNESCO em 2000. A abóbada da igreja superior foi reconstruída após os danos provocados pelo abalo.

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Frente a Frente

ANTIGA

BASÍLICAS ANTIGAS

1.Sacré Coeur de Montmartre

MAIS ANTIGA

Construída entre 1875 e 1914, a igreja domina o norte de Paris. É famosa pela sua adoração da Eucaristia.

2. São Francisco de Assis

A MAIS ANTIGA

Edificada entre 1228 e 1253 sobre a sepultura original de São Francisco, é célebre pelos frescos e pelo túmulo do santo.

3. São Pedro, Vaticano

Iniciada no século IV e terminada em 1626, a Igreja mantém que o túmulo de São Pedro se encontra sob o edifício.

SABIA QUE... Na basílica encontra-se também o túmulo de Joana de Saboia, a última czarina da Bulgária, falecida em 2000?

Uma igreja sóbria para um santo humilde

Os números

A Basílica de São Francisco de Assis é uma igreja de peregrinação e um mosteiro.

Basílica de São Francisco de Assis

Campanilo

Arquiteto: Irmão franciscano Elias de Cortona

A torre sineira baixa da basílica fica no lado norte da nave. Tem 12 janelas sineiras em arco, que simbolizam os doze apóstolos de Cristo.

Frescos decorativos

Todo o interior da igreja superior está coberto por frescos pintados por Giotto e outros mestres. A maioria da decoração ilustra a vida de São Francisco.

Anos de construção: 1228-1253 Tipo/função do edifício: Basílica menor (título papal) e igreja conventual Localização: Assis, Úmbria, Itália

Igreja superior

Com uma nave de quatro subdivisões, transepto e coro absidal, é utilizada diariamente pelos frades que vivem no convento anexado à basílica.

Comprimento total: 80 m

Igreja inferior

Largura total: 50 m Custo da construção: Mais de € 60 milhões (em termos modernos)

Com um pórtico colunado magnífico, está decorada com frescos e dispõe de várias capelas laterais para os peregrinos.

Praça

Na frente da basílica está uma longa praça retangular, na qual os peregrinos podem reunir‑se antes de entrar nas igrejas superior ou inferior.

Cripta

Construída no início do século XIX após a redescoberta do túmulo de São Francisco, a capela da cripta dá aos peregrinos acesso às relíquias do santo.

Danos do terramoto

No sismo de 1997, a abóbada sobre o cruzeiro e a extremidade oeste da nave da igreja superior desmoronaram‑se.

Túmulo de São Francisco

Redescoberto em 1818, o antigo caixão em pedra com o corpo do santo encontra-se no centro da cripta, protegido atrás do altar principal.

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Uma das figuras religiosas mais veneradas da história, Francisco era filho de um rico comerciante de tecidos. Nascido João, mais exatamente Giovanni di Pietro di Bernardone, em 1181 ou 1182, foi alcunhado Francesco pelo pai. A sua infância e juventude terão sido regulares. Após uma visão em 1204, renunciou ao estilo de vida mundano e adotou a pobreza. Fundou a

Ordem dos Frades Menores com a aprovação do papa, pregou na rua e em 1219, em plenas Cruzadas, viajou até o Egito para dialogar com o sultão local. Mais tarde, isolou‑se cada vez mais do mundo, focando‑se na oração. Morreu a 3 de outubro de 1226. A 16 de julho de 1228, foi canonizado pelo papa Gregório IX que, no dia seguinte, colocou a primeira pedra da basílica em Assis.

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© DK images; Thinkstock; Richard Croft

Quem foi Francisco de Assis?


EDIFÍCIOS & LOCAIS

Dentro da Catedral de Cantuária

Torre de Arundel

Reconstruída em 1834, a torre noroeste contém o Great Dunstan, o maior sino de Kent, com 3,2 toneladas.

Como evoluiu este incrível edifício religioso ao longo dos séculos? Na vanguarda da história por mais de um milénio, a Igreja Catedral de Cristo, ou Catedral de Cantuária, situa-se no noroeste da cidade com o mesmo nome. Considerado o mais antigo local de culto cristão ainda em uso em Inglaterra, foi originalmente oficializada por Santo Agostinho em 597 d.C. A atual catedral é a terceira a erguer-se no local. A primeira foi pilhada pelos dinamarqueses e a segunda destruída pelo fogo. O edifício atual foi iniciado em meados do século XII e foi construído com três grandes fins: primeiro, como catedral metropolitana (igreja que acolhe um arcebispo); segundo, como igreja monástica (para uso de monges); e, após o assassinato de Tomás Becket em 1170, como grande destino de peregrinação. Dada a sua multifuncionalidade, o interior da catedral é altamente compartimentado, e a sua enorme cripta normanda significa que o solo na ala leste está nove metros acima do da ala oeste. Ao longo da Idade Média, peregrinos acorriam à catedral para visitar o túmulo de São Tomás, “o Mártir”. O rei Henrique IV escolheu até ser enterrado no lado norte do túmulo, dada a sua particular devoção ao santo. Henrique VIII, porém, era contra o culto de Becket e ordenou a destruição do túmulo em 1538. A maioria da magnificência medieval da catedral desapareceu durante a Reforma, tendo o seu interior sofrido ainda mais danos durante a República Inglesa. Só no século XIX é que o restauro do edifício começou a sério. A sua excecional beleza sempre foi reconhecida e será para sempre associada à obra Os Contos de Cantuária, de Geoffrey Chaucer. Hoje, a catedral e o seu pátio constituem o maior e mais bem preservado complexo monástico no Reino Unido, passando a Património Mundial da UNESCO em 1988.

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Torre Oxford

A torre sudoeste contém o principal carrilhão de 14 sinos da catedral, todos eles fundidos na Whitechapel Bell Foundry em 1981.

Nave

Construída para acomodar procissões, a nave do séc. XIV é dos mais elegantes exemplos sobreviventes de arquitetura perpendicular inglesa.

Torre do Sino Harry

Batizada em honra de um sino nela pendurado em 1498, a torre central é um dos melhores exemplos de arquitetura gótica da Idade Média inglesa.

Para além de Becket…

Além de São Tomás Becket, a Catedral de Cantuária continha os túmulos de muitos outros arcebispos santificados. De Santo Agostinho, no início do século VII, à Reforma no século XVI, 15 primazes de Cantuária foram canonizados. Os mais famosos foram São Dunstão, que supervisionou a reforma da Igreja Inglesa no século X; Santo Alphege, martirizado pelos dinamarqueses em Greenwich; e Santo Anselmo, que desenvolveu o argumento ontológico para a existência de Deus. Mas nem todos os arcebispos foram virtuosos ou sequer amados. Simon Sudbury foi decapitado durante a Revolta dos Camponeses pela sua ligação ao primeiro imposto individual, John Morton ficou conhecido por advogar que quem alegava pobreza, na verdade, escondia o seu dinheiro, enquanto Thomas Arundel apoiava a pena de morte para combater a heresia.

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DATAS-CHAVE CATEDRAL DE CANTUÁRIA

1170

1376

O arcebispo (depois Santo) Tomás Becket é assassinado no transepto norte da catedral a 29 de dezembro.

Eduardo de Woodstock, o “Príncipe Negro” (direita), é enterrado no lado sul do túmulo de São Tomás.

1400

1540

1982

Manuel II Paleólogo, o único imperador bizantino que jamais foi a Inglaterra, visita a catedral.

O mosteiro anexo à catedral é fechado. Um novo corpo clerical é formado (o capítulo).

Na primeira visita de um Papa à Grã-Bretanha, João Paulo II (direita) reza na catedral.

SABIA QUE... A abóbada do claustro da catedral exibe 864 brasões medievais individualmente talhados?

Anatomia da catedral

Apesar de ser uma só estrutura, a Catedral de Cantuária é composta por vários elementos arquitetónicos distintos.

Coro

O coro da catedral foi construído na maior das escalas para acomodar os monges do priorado da catedral, dos quais nunca houve menos de 50 ao longo da Idade Média.

Cripta

A enorme cripta normanda alonga-se sob toda a ala oriental da catedral. Alberga a Capela de Nossa Senhora da Cripta e o tesouro da catedral.

Os números

Catedral de Cantuária Arquiteto: Pelo menos, nove arquitetos diferentes Anos de construção: 1174-1500 (com adições posteriores) Tipo de edifício/propósito: Catedral/igreja monástica Local: Cantuária, Kent

Homicídio na catedral Tomás Becket era amigo íntimo de Henrique II. Feito arcebispo de Cantuária em 1162, levava muito a sério os seus deveres e opunha-se amiúde ao rei. Isto levou ao seu exílio em França por seis anos. Quando Becket voltou, os ânimos inflamaram-se. Furioso, o rei perguntou: “Quem me livra deste padre turbulento?” Quatro barões levaram-no à letra, matando Becket a 29 de dezembro de 1170. Canonizado em 1173, no ano seguinte Henrique II foi punido pelo seu crime. O túmulo de ouro jazia na Capela da Trindade, mas foi destruído por ordem de Henrique VIII em 1538, e os ossos de Becket perderam-se.

Altitude: 72 m Área do local: 3.716 m2 Custo de construção: Pelo menos £ 500 M (€ 590 M)

Transepto sudoeste

Capela da Trindade

Construída para albergar o túmulo de São Tomás, contém um raro pavimento de mosaicos medievais e um espetacular vitral do início do século XIII.

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© Thinkstock; Corbis; Zehlu

A enorme janela sul do transepto contém a maior extensão de vitrais do século XII em Inglaterra.

A Corona

A quase circular capela Corona (coroa) foi construída para albergar um túmulo separado para uma parte da cabeça de São Tomás. É a capela mais oriental da catedral.

Quero Saber | 057


EDIFÍCIOS & LOCAIS

O mistério da Ilha da Páscoa

Quem construiu os gigantes de Rapa Nui? É a ilha mais a leste da Polinésia e, a aproximadamente 3.700 quilómetros a oeste da América do Sul, no Oceano Pacífico, a Ilha da Páscoa não poderia ser mais remota. No entanto, serve de lar a algumas das mais incríveis maravilhas da Terra feitas pelo Homem: cerca de 887 estátuas gigantes esculpidas em rocha, chamadas Moai, que valeram à ilha de 166,3 quilómetros quadrados, conhecida pela sua população como Rapa Nui, o título de Património Mundial da UNESCO. A origem destes monólitos de rostos severos – que têm em média quatro metros de altura e 14 toneladas de peso – e a sociedade que os construiu são, em grande parte, um mistério. O que se sabe é que colonos chegaram à ilha em canoas de madeira entre os séculos IV e XIII e esculpiram as Moai algures entre os séculos X e XVI a partir de tufo – uma rocha vulcânica leve e porosa – para depois as colocarem em plataformas chamadas ahu. Algumas das esculturas até têm “chapéus” de escória vermelha que possivelmente representam alguns

A ilha do tesouro... As muitas Moai da Ilha da Páscoa.

Ahu Akivi

penteados do povo Rapa Nui. Pensa-se que as órbitas oculares tenham tido no seu interior olhos em coral com pupilas de obsidiana preta ou escória vermelha. Já os corpos terão sido esculpidos com padrões que imitam as tatuagens tradicionais dos Rapa Nui. O motivo pelo qual foram erigidas estas estátuas pode ter sido para homenagear importantes caciques ou guerreiros, visto que algumas destas estruturas contêm túmulos na sua ahu. Podem também ter servido como proteção, visto que, salvo algumas exceções, estas esculturas “vigiam” as aldeias vizinhas. É impossível, no entanto, ter a certeza do propósito das Moai. Quando os exploradores holandeses chegaram à ilha no Domingo de Páscoa de 1722, os indígenas que criaram estes monumentos já tinham sido há muito divididos por guerras civis, e muitas das suas Moai tinham sido derrubadas, deixando apenas as histórias do povo Rapa Nui contadas pela tradição oral e uma floresta de cabeças de pedra impávidas, erguendo-se da superfície da terra, vigiando as redondezas.

Rano Raraku

Cratera vulcânica utilizada para extrair tufo e como “oficina” pelos criadores das Moai.

As sete únicas Moai que olham para o oceano estão viradas na direção exata do nascer do sol durante o equinócio de outono.

O mais antigo dos três principais vulcões inativos da ilha, o Poike teve a sua última erupção há 230 a 705 mil anos.

Pukao

Ahu Tahai

Sete Moai que foram restauradas nas décadas de 1960 e 1970.

Ahu Tongariki

A maior Moai da Ilha da Páscoa, agora restaurada, chama-se Ahu Tongariki e foi derrubada na guerra e varrida por um tsunami.

Ahu Akahanga

Conhecido como a “plataforma do rei”, este conjunto de Moai encontra-se perto da tumba de Hotu Matu’a, que se pensa ter sido o primeiro monarca da ilha.

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Poike

Olhos

Criados para vigiar as aldeias vizinhas, os olhos eram por norma feitos de coral branco com pupilas de obsidiana preta.

Os cilindros de rocha representam o cabelo, esculpido em escória vermelha.

Ahu

A plataforma rochosa que serve de base às Moai, por vezes utilizada como sepulcro.

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SABIA QUE... O autor suíço Erich von Däniken especulou que as Moai teriam sido criadas por extraterrestres?

O que aconteceu aos criadores? Quando os europeus chegaram a Rapa Nui, o solo era estéril e a população escassa, mas a ilha já tivera uma grande floresta e albergara várias espécies então extintas de aves, antes de sofrer um misterioso colapso. Uma das teorias defende que as ratazanas e galinhas trazidas pelos colonos originais destruíram a limitada vida vegetal da ilha. Quando as últimas palmeiras foram cortadas, possivelmente

no final do século XVII, a capacidade dos Rapa Nui para construir barcos e pescar também ficou restringida. Com o agravar do conflito entre tribos devido à escassez de recursos, a população diminuiu abruptamente e teria havido até recurso ao canibalismo. Uma teoria mais recente sugere que o desaparecimento dos Rapa Nui se deve, antes, a doenças levadas pelos colonos europeus.

Como foram movidas?

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© National Geographic; Alamy; Thinkstock

As esculturas são impressionantes, mas o simples facto de as terem colocado no sítio é também um feito de engenharia. Sem sinais de rodas ou gruas – e sem animais de grande porte para ajudar no transporte –, os arqueólogos começaram por pensar que as Moai foram transportadas em trenós ou carros de madeira por até 18 quilómetros desde a pedreira. Embora alguns académicos mantenham esta hipótese, uma teoria mais recente sugere que a base curva das Moai foi concebida para ser possível balanceá-las para os lados e depois empurrá-las para a frente com cordas, por equipas bem coordenadas. Os danos nas bases em experiências com réplicas das estátuas são consistentes com os resíduos de rocha encontrados em estradas na ilha. Há também uma teoria fonte do folclore dos Rapa Nui, que diz que as estátuas receberam ordens dos deuses para andar.

Quero Saber | 059


EDIFÍCIOS & LOCAIS

A Ponte de Brooklyn

Um dos monumentos mais conhecidos de Nova Iorque, a Ponte de Brooklyn foi a primeira ponte suspensa por cabos de aço. Construída entre 1869 e 1883, a Ponte de Brooklyn liga Brooklyn a Manhattan, atravessando o rio East, na cidade de Nova Iorque (EUA). Concebida pelo imigrante alemão John Augustus Roebling, foram o filho, Washington Roebling, e a nora, Emily, quem acompanhou a maior parte da construção depois da morte inesperada de John, poucos meses antes do início da obra. A ponte assenta em dois elementos principais. Em primeiro lugar, as duas ancoragens posicionadas em ambas as margens do rio, entre as quais se encontram duas torres (ou pilares) com cerca de 84 m de altura. Feitas em calcário, granito e cimento, as torres – concebidas no estilo arquitetónico neogótico – assentam em alicerces de betão com 13,4 m e 23,8 m de profundidade nas margens de Brooklyn e de Manhattan, respetivamente. Em segundo lugar, a própria ponte é feita em ferro e cabos de aço, com uma camada de asfalto no tabuleiro principal. Com 26 m de largura e 1.825 m de comprimento, a Ponte de Brooklyn era a ponte suspensa mais longa do mundo quando foi construída, e deteve o título durante mais de 20 anos. O projeto de Roebling inclui muitas redundâncias, como um sistema de suporte diagonal entre os cabos e treliças de reforço, que tornam a ponte muito segura; na verdade, mesmo que um dos sistemas principais de suporte falhe por completo, a ponte irá arquear-se, em vez de cair completamente. Mais curioso ainda, a ponte tem um abrigo nuclear numa das ancoragens. Não sendo usado, foi esquecido, e depois redescoberto em 2006, com provisões da época da Guerra Fria. Considerada Marco Histórico Nacional em 1964, desde a década de 1980 que a ponte é iluminada com projetores à noite, para destacar as suas características arquitetónicas distintas. Inicialmente concebida para oferecer passagem a veículos motorizados, comboios, elétricos, bicicletas e peões, desde a década de 1950 que a ponte dá passagem apenas a carros, ciclistas e peões. É atravessada diariamente por mais de 120 mil veículos, quatro mil peões e 3.100 ciclistas.

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Suspensores sob tensão

As duas forças opostas – os cabos e o tabuleiro da ponte – em equilíbrio produzem tensão nos suspensores.

Torres sob compressão O peso das enormes torres de alvenaria produz compressão para baixo.

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RECORDES SUPERTRAVESSIA

1.991 m

PONTE SUSPENSA MAIS LONGA Quando foi acabada, em 1883, a Ponte de Brooklyn era recordista, mas hoje está ultrapassada pela Ponte Akashi Kaikyo, no Japão, cujo vão (tabuleiro) central tem 1.991 metros de comprimento.

SABIA QUE... Em 1884, o artista PT Barnum exibiu 21 elefantes na Ponte de Brooklyn, provando a sua estabilidade?

As origens das pontes suspensas Numa ponte suspensa, o tabuleiro – a parte que suporta a carga – está pendurado por baixo de cabos de suspensão em suspensores verticais que suportam o peso. Crê-se que as pontes com este design foram inventadas no Tibete, no século XV, mas apenas no século XIX foram construídas em larga escala. Os materiais utilizados na construção da Ponte de Brooklyn eram provenientes dos EUA. Os blocos de granito foram extraídos de uma pedreira no Maine e enviados para Nova Iorque de barco. Os cabos de aço foram produzidos em fábricas locais, enquanto o pigmento utilizado na tinta vermelha que originalmente cobria a ponte veio das minas de Rawlins, no Wyoming. As técnicas de design e construção empregues na Ponte de Brooklyn pouco mudaram no último século. Apesar de hoje haver pelo menos 18 pontes suspensas mais longas do que a Ponte de Brooklyn, são basicamente todas iguais – à exceção dos materiais, que, hoje, vêm de todo o mundo, em vez de serem fornecidos localmente.

A Ponte de Brooklyn em construção, em finais do século XIX.

Carga viva

O peso do trânsito que atravessa a ponte, assim como fatores ambientais normais, como o vento e a chuva.

Impacto cultural Desde a sua conclusão, a Ponte de Brooklyn inspirou muitos artistas. O poeta modernista americano Hart Crane, por exemplo, publicou a famosa ode To Brooklyn Bridge, em 1930. Considerada um prodígio do seu tempo, houve uma afluência em massa para a inauguração da estrutura, com um espetacular fogo de artifício e uma regata, em 1883 – celebração repetida no centésimo aniversário. Muitas pessoas saltaram da ponte, como manobra publicitária ou tentativa de suicídio, enquanto outros ali se casaram. Em 1919, o bombardeiro Caproni, na altura o maior avião do mundo, passou sob o tabuleiro; e em 2003, a ponte terá sido um potencial alvo de um plano de ataque terrorista da Al-Qaeda. A Ponte de Brooklyn já apareceu em muitos filmes de Hollywood, como Eu Sou a Lenda, O Cavaleiro das Trevas Renasce ou Godzilla; recentemente, surgiu em O Grande Gatsby.

Cabos sob tensão

As duas forças opostas – a ancoragem e o peso do tabuleiro via suspensores – criam tensão nos cabos.

Carga inoperante Carga dinâmica

O peso da própria ponte – todos os componentes de pedra e metal.

© Getty; Thinkstock

Fatores ambientais fora da norma, como rajadas súbitas de vento ou sismos, etc.

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Quero Saber | 061


EDIFÍCIOS & LOCAIS

No interior do Capitólio

Para além da fachada Apesar de bem ordenado por fora, no interior, o Capitólio é um labirinto confuso de salas e corredores.

Explore o edifício que é um símbolo do povo americano. Centro legislativo dos Estados Unidos da América, o Capitólio é um dos edifícios mais reconhecidos dos EUA. Tudo começou a 18 de setembro de 1793, quando George Washington colocou a primeira pedra. A construção foi rápida e, em novembro de 1800, o Congresso dos EUA reuniu-se na primeira zona completa: a ala norte. Por volta da década de 1850, foram autorizadas amplificações das zonas norte e sul do Capitólio, devido à expansão da nação em direção a oeste, que ditou o consequente crescimento do Congresso. Em 1855, a antiga abóbada foi considerada pequena e a cúpula icónica que hoje está no topo do edifício foi desenhada e instalada; a inspiração veio da Catedral de São Paulo, em Londres, e da Basílica de São Pedro, em Roma. Da conceção à conclusão, foram utilizados vários materiais na construção do Capitólio. Em estilo neoclássico, começou por ser construído em tijolo e arenito. Só mais tarde obteve o seu aspeto branco e brilhante – todo o exterior e grande parte do interior são revestidos de mármore branco. A cúpula que o coroa, no entanto, é suportada por ferro fundido e a maior parte dos projetos do edifício mais recente foram construídos em betão, o que é muito mais sensato. O Centro de Visitantes é a mais recente e talvez a última adição ao edifício do Capitólio. Abrangendo uma área de 53.885 m2, é o maior projeto de construção na história de mais de 200 anos do Capitólio e tem cerca de três quartos do tamanho do próprio edifício. Devido ao seu tamanho, a totalidade das instalações foram construídas sob o solo para não desviar a atenção do aspeto do edifício original e dos campos desenhados por Frederick Law Olmsted, em 1874. Além de atração turística que recebe milhões de visitas anualmente, o Capitólio dos Estados Unidos da América – tal como o edifício da Assembleia da República, em Lisboa – é um gabinete legislador em funções e o centro do maior governo democrático do mundo.

062 | Quero Saber

Átrio das Colunas

Este átrio de 30,5 m de comprimento tem 28 colunas estriadas e dez estátuas de americanos célebres.

Câmara dos Representantes

A Câmara dos Representantes tem 435 lugares e está decorada com 23 retratos de legisladores famosos.

Antiga Câmara do Senado

Usada pelo Senado e pelo Supremo Tribunal, às vezes ainda é usada pelo Senado.

O Capitólio nas lendas urbanas Não é surpresa que o edifício do Capitólio seja alvo de lendas urbanas e fonte de inspiração criativa para escritores, teóricos da conspiração e realizadores de filmes. Não só se tem dito que o número de colunas e degraus em vários locais do Capitólio tem um significado simbólico, como também se acredita que o edifício esconde passagens e câmaras secretas. Diz-se ainda que o Capitólio serviu de prisão durante a Guerra Civil Americana, apesar de não ser verdade. O Capitólio também aparece com frequência em obras de ficção. Por exemplo, no livro de Dan Brown O Símbolo Perdido, a ideia de que a cripta do Capitólio tenha tido originalmente uma chama eterna vigiada pelo seu próprio “guardião” é introduzida – um conceito delicioso que muitos citam agora como facto histórico. Também se diz que é o monumento americano que mais vezes explode em filmes de Hollywood, incluindo no filme de 2013 Ataque ao Poder.

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DATAS-CHAVE PROGRESSO DO CAPITÓLIO

1793

1800

1814

1962

2008

A construção do Capitólio começa de acordo com os desenhos de William Thornton (direita).

No início do séc. XIX, dá-se a primeira reunião do Congresso no Capitólio, ainda em construção.

O primeiro Capitólio é incendiado por soldados britânicos a 24 de agosto (imagem à direita).

A extensão da ala este do Capitólio é terminada.

A última grande adição ao Capitólio, o Centro de Visitantes, abre ao público.

SABIA QUE... O Capitólio teve o seu próprio metropolitano, que trazia políticos dos seus gabinetes em Washington?

Liberdade

Com 5,9 m de altura, a Estátua da Liberdade, em bronze, foi colocada a 2 de dezembro de 1863.

Cúpula do Capitólio

Construída em ferro fundido entre 1855 e 1866, a cúpula contém 4.041 toneladas de ferro seguras com parafusos.

Rotunda do Capitólio

Usada em eventos importantes, como velórios de cidadãos notáveis, este átrio circular tem 29,2 metros de diâmetro e 54,8 metros de altura.

Antiga Câmara do Supremo Tribunal

Primeiro utilizada pelo Senado e depois pelo Supremo Tribunal, a Antiga Câmara do Supremo Tribunal é hoje um museu.

Os números Capitólio dos EUA

Frescos em foco O Capitólio tem vários frescos, dos quais o mais famoso – A Apoteose de Washington – ocupa 433 metros quadrados do teto da cúpula principal. O fresco é uma antiga forma de arte em que a tinta é aplicada em gesso acabado de assentar numa parede ou teto. A água é usada como veículo do pigmento, que é absorvido pela superfície à medida que o gesso seca. A pintura torna-se então parte integral da superfície em que foi aplicada. Os frescos são amiúde

usados em composições artísticas de larga escala em edifícios, pois pequenas secções de gesso podem ser aplicadas e pintadas, permitindo ao artista construir lentamente a sua obra. As alterações e correções podem também ser efetuadas facilmente. Apesar de o fresco ser resistente, a sujidade acumula-se na superfície ao longo do tempo e o gesso pode escurecer. As técnicas de limpeza modernas, todavia, já resolvem este problema.

Cripta

Originalmente concebida como última morada de George Washington, a cripta tem hoje exposições sobre o Capitólio.

Átrio Nacional das Estátuas

O grande átrio semicircular de dois pisos tem cem estátuas, dadas por todos os estados americanos.

Arquiteto: William Thornton (o primeiro de 11)

Localização: Colina do Capitólio, Washington DC, EUA Altura total (hoje): 88 m Altura da cúpula: 87,4 m Área do local: 67.000 m2 Custo da construção: Aprox. $ 133 (€ 100) milhões

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© DK Images; Thinkstock; Architect of the Capitol

Anos de construção: 1793-2008

Câmara do Senado: Aberta em 1859, esta câmara está adornada por bustos em mármore branco de antigos presidentes do senado (vice-presidentes dos Estados Unidos).

Quero Saber | 063


Edifícios & locais

Construção de túmulos gregos Conheça as estruturas únicas onde a elite da Grécia Antiga era sepultada. Havia dois grandes tipos de túmulos micénicos: câmaras e tholoi. O primeiro é mais antigo e consistia numa câmara romboidal escavada na rocha/terra e culminada com uma pirâmide quadrangular em pedra no topo. Nenhum exemplo destes túmulos foi descoberto na era moderna, embora sejam detalhados em registos da antiga cidade babilónica de Uruk. O tholos, que se tornou o tipo de túmulo mais comum após 1500 a.C., tem um design mais imponente. Assemelhando-se em forma a uma colmeia, era uma câmara cónica de cúpula falsa feita de tijolos de lama e pedra. Os tijolos eram dispostos em círculo, uns sobre os outros, até um ponto central afunilado. Toda a cúpula era então coberta por um monte de terra (tumulus).

Estes túmulos tipo colmeia eram acedidos através de um longo corredor, ou passagem, conhecido como dromos, que culminava numa entrada ampla, chamada stomion. O stomion consistia numa grande abertura retangular no tijolo, vulgarmente ladeada por duas colunas de pedra e encimada por um único bloco de pedra gigante. Acima deste, um orifício triangular era amiúde decorado com uma escultura em relevo. No interior, antes da câmara cónica principal, havia uma antecâmara, geralmente retangular. Esta podia servir para sepultar outros membros da família, ou, mais provavelmente, para enterrar bens, como joias e armas. Há indícios de que tanto a antecâmara como o stomion principal tinham portas de madeira, a última ligeiramente recuada da fachada principal.

Quem eram os micenianos? A civilização micénica ocupou muita da atual Grécia central e prosperou entre 1600 e 1100 a.C. Ao contrário dos anteriores colonos minoicos da área, cuja sociedade se expandiu e prosperou graças ao comércio, os micenianos desenvolveram a sua através de conquista militar. Um dos exemplos mais notáveis da expansão micénica através da guerra está registada na Ilíada, de Homero, onde o rei de Micenas, Agamémnon, e as forças unidas da Grécia tomam a cidade de Ilium (Troia), no noroeste da Anatólia (Turquia). Outro avanço foi quando os micenianos conquistaram a ilha de Creta.

Um tholos desenterrado

Descubra os principais elementos que compunham os locais de descanso final da aristocracia micénica.

Tumulus

O tholos era acedido através de um dromos, um corredor que conduzia à entrada. Estes eram escavados na rocha natural ou construídos a partir de silhar (tijolos de pedra).

Antecâmara

Geralmente, numa pequena antecâmara contígua à câmara principal eram colocados os bens da pessoa e até familiares falecidos.

064 | Quero Saber

Stomion

No fim do dromos ficava um grande stomion, uma entrada tipicamente construída a partir de pedra talhada e ladeada por pilares de pedra ornados.

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© DK Images; Thinkstock

Dromos

Sobre a cúpula era colocado um pequeno monte de terra chamado tumulus. Este protegia o túmulo dos elementos e escondia-o de potenciais salteadores.


cinco factos

a grande esfinge

A Esfinge esquecida

1

Embora Giza seja famosa

pelo seu relato da História em hieróglifos com 4.500 anos, nem uma inscrição deste período refere a Esfinge.

Esfinge sem nariz

2

Há muitas teorias para o que

terá acontecido ao nariz da Esfinge. Um rumor comum mas errado é que os soldados de Napoleão tê-lo-ão feito explodir com um tiro de canhão.

Polémica aquática

3

A datação por radiocarbono mostra

que o Sara nem sempre foi seco. A erosão pela água no recinto da Esfinge poderia ser consistente com a da chuva, anterior ao período de construção em 2500 a.C.

Muitas cores

4

O futuro

5

Os pigmentos vermelhos no

rosto da Esfinge e os resíduos azuis e amarelos noutras zonas podem indicar que, a certa altura, a estátua poderá ter sido multicolorida.

A atividade humana fez subir

o lençol freático local, que se está a infiltrar no calcário poroso da estátua, afetando a sua integridade. Já foram instaladas bombas para atenuar o efeito.

SABIA QUE... Há quem diga que a cabeça da Esfinge era muito maior e que foi remodelada para parecer humana mais tarde?

O complexo das Pirâmides de Giza Pirâmide de Menkaure

Pirâmide satélite

Filho de Khafre, Menkaure construiu a mais pequena das três pirâmides de Giza. A maior parte do complexo está por terminar, sugerindo que o seu reinado terá sido curto.

Só restam os contornos dos alicerces, mas esta pequena pirâmide tinha artefactos de santuário.

Pirâmides das rainhas

Pirâmide de Khafre

Filho de Khufu, Khafre construiu a segunda pirâmide mais alta, embora pareça mais alta devido à localização numa zona mais elevada do planalto de Giza.

Templo funerário

Grande Pirâmide de Giza A maior é a Grande Pirâmide (ou Pirâmide de Khufu), um túmulo real que deverá ter demorado cerca de 20 anos a construir.

Embora estes monumentos tenham sido construídos para rainhas desconhecidas, é provável que um fosse o local de sepultamento da mãe de Khufu, Hetepheres I, pois foi descoberto um nicho com objetos seus perto da pirâmide mais a norte.

Templo funerário

N A Grande Esfinge

Das três pirâmides mais pequenas ao sul da Pirâmide de Menkaure, apenas a virada a leste é de facto uma pirâmide; as outras duas são escalonadas.

Templo funerário

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Calçada

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Pirâmides das rainhas

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Calçada

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Templo do vale

Templo da Esfinge

Tal como o Templo de Khafre do vale, o Templo da Esfinge terá sido construído com blocos de calcário escavados à volta da estátua da Esfinge.

Templo de Khafre do vale

As ruínas das paredes do Templo de Khafre do vale em frente à Grande Esfinge ainda são visíveis hoje. O templo era composto por um pátio rodeado por 24 pilares. Por causa do eixo este-oeste deste templo, tem sido sugerido que cada pilar representava, ou assinalava, cada hora do dia.

Dentro da Esfinge há três túneis, mas nenhum leva a algum lado.

Os números

A Grande Esfinge de Giza Descubra as respostas aos mistérios que rodeiam a maior estátua monolítica do mundo.

A Grande Esfinge é a enorme estátua monolítica de um leão com cabeça de homem, esculpida num só aglomerado de substrato de calcário na margem ocidental do Nilo durante o terceiro milénio a.C. A Esfinge está virada a leste e, em tempos, teve um toucado decorado com uma cobra e uma barba. Embora nem a Esfinge nem o seu principal arquiteto sejam referidos no conteúdo de quaisquer hieróglifos da época, pensa-se que o “chefe” do projeto terá sido o faraó Khafre (c. 2558-2532 a.C.), que reinou durante o Império Antigo, um período da civilização egípcia antiga que durou 2.500 anos. O pai de Khafre – Khufu (c. 2589-2566 a.C.) – construiu a Grande Pirâmide de Giza a cerca de 400 metros www.querosaber.sapo.pt

do local onde a Esfinge seria mais tarde esculpida. Em termos da identidade da força laboral, um cemitério do Império Antigo com túmulos de 600 potenciais trabalhadores e capatazes foi escavado no início dos anos 1990. Posteriormente, em 1999, o arqueólogo Mark Lehner encontrou uma povoação datada do reino de Khafre, capaz de albergar entre 1.600 e duas mil pessoas – uma conveniente mão de obra de construção da Esfinge, talvez? Há 4.500 anos, antes de o bronze e o ferro serem predominantes, as ferramentas disponíveis para este colossal empreendimento seriam, entre outras, utensílios de cobre e martelos de pedra. Reconstruções modernas, usando ferramentas de pedras de estilo antigo semelhantes, estimaram que a Esfinge terá

Grande Esfinge Altura: 20 m Comprimento: 73,5 m Largura: 6 m Construção: c. 2500 a.C.

sido construída em apenas três anos, com cem pessoas a cinzelar a um ritmo de 0,03 metros cúbicos por semana. Usando a enorme escavação de pedra extraída do recinto da Esfinge (o fosso onde repousa a Esfinge), os trabalhadores puderem construir também o Templo da Esfinge, ao lado. Cada bloco que foi removido do local da estátua pesaria até 200 toneladas e seria transportado sobre rolos. Até aos anos 1930, quando um arqueólogo chamado Selim Hassan escavou a metade inferior da estátua, a Grande Esfinge permanecia enterrada em areia até aos ombros. Hoje ergue-se orgulhosa ao lado de outros monumentos de Giza como testemunho do talento de engenharia da civilização do Antigo Egito.

Quero Saber | 065


EDIFÍCIOS & LOCAIS

A corrida ao Polo Sul

A Quero Saber lança luz sobre a malfadada expedição do capitão Scott à Antártida.

Edward Atkinson, médico e parasitologista, conduziu investigação científica na cabana da base do Cabo Evans.

O Terra Nova, ex-navio A expedição Terra Nova, do capitão Robert O grupo principal liderado por Scott passou o tempo baleeiro do qual a expedição Falcon Scott, foi o equivalente a uma missão a instalar depósitos de mantimentos para apoiar a viagem ganhou o nome. a Marte nos dias de hoje. A Antártida era até ao Polo Sul, onde chegou a 17 de janeiro de 1912. desconhecida, mortal e fascinante como o Planeta Derrotada na corrida pelo explorador norueguês Roald Vermelho e exigia uma enorme preparação e planeamento Amundsen, a equipa de Scott morreu de uma combinação para quem pusesse a hipótese de chegar ao Polo Sul. Para de desidratação, hipotermia e escorbuto no regresso à base. Os corpos foram encontrados a 12 de novembro de 1912. chegar à Antártida, Scott comprou o Terra Nova, um velho navio baleeiro que foi reforçado com 2,1 metros de vigas de Embora a expedição tenha terminado em tragédia, Scott carvalho da proa à popa. No gelo, o transporte consistia em e os seus homens foram aclamados como heróis patriotas três trenós a motor e 44 normais. A equipa levou 19 póneis e que lutaram e perderam contra grandes adversidades. 33 cães para puxarem os trenós, embora Scott sempre Deixaram um legado de investigação científica que nos tivesse planeado serem homens a puxá-los na etapa final ajuda hoje a perceber os muitos mistérios da Antártida. da viagem. Para enfrentar as temperaturas extremas, que podem variar entre -30 graus Celsius no verão e -60 graus Celsius no inverno, usaram vestuário de lã à prova de água Os números e forrado a pele, luvas só com um dedo e botas de pele de rena. Utilizaram ainda óculos com lentes de cor Robert Falcon Scott para evitar a cegueira causada pela neve. Vida: 6 de junho de 1868 a 29 de março de 1912 Longe do acampamento, os exploradores usaram Os números fogareiros Primus a petróleo para aquecer comida Dados: Scott, juntamente com Ernest Shackleton e Edward e bebida. A sua dieta era composta sobretudo por uma Lawrence Oates Wilson, chegou a 850 km mistura de carne picada e óleo chamada pemmican, Vida: 17 de março de 1880 do polo na sua primeira a que acrescentavam neve derretida para fazer um a 16 de março de 1912 expedição, a Discovery, estufado chamado hoosh. As rações diárias incluíam Dados: Oates contribuiu com de 1901 a 1904. Depois, ainda biscoitos ricos em proteínas, chá e cacau. ele e Shackleton tornaram-se mil libras para a expedição rivais. Scott tinha um estilo Os homens dormiam em tendas para quatro pessoas, e teve a seu cargo os póneis de liderança autocrático, mas que puxaram os trenós que feitas de quatro estacas de bambu cobertas com um era tímido. Também sofria de instalaram os depósitos tecido revestido a lona. longos períodos de depressão. de alimentos e suportaram Durante a viagem, foram feitas observações da a primeira etapa da viagem. biologia marinha, meteorologia e correntes, marés, Criticava muito a liderança de Scott. Ficou famoso por salinidade e temperatura do mar. Já na Antártida, se sacrificar para que a equipa saíram duas missões para explorar a geologia das pudesse continuar sem ele. montanhas ocidentais e uma equipa de três homens fez um estudo especial do pinguim-imperador. Foram recolhidos 2.109 animais, incluindo peixes, dos quais 401 nunca tinham sido documentados, além de amostras de rocha vulcânica e plantas fossilizadas. Mais dados meteorológicos foram recolhidos e os exploradores fizeram medições hidrográficas da terra e do mar.

Os últimos cinco

Oates, o responsável pelos cavalos, alegou muitas vezes que os póneis não eram indicados para terreno gelado.

Os números Henry Bowers Vida: 29 de julho de 1883 a 29 de março de 1912 Dados: Bowers tinha um caráter muito duro e trabalhador, e recebeu a alcunha de “Birdie” por causa do seu nariz em forma de bico. Foi responsável por organizar os mantimentos, por carregar os trenós, organizar os depósitos e planear a logística para a marcha até ao polo.

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CINCO FACTOS EXPLORADORES

James Clark Ross

1

DOS POLOS

Com dois navios, o HMS Erebus

e o HMS Terror, Ross percorreu a costa antártica entre 1839-43. Descobriu que a Antártida é um continente e bateu um recorde por navegar tão a sul.

Roald Amundsen

2

A equipa de Amundsen era

considerada mais hábil com esquis e beneficiou do uso de trenós com cães. Amundsen foi também o primeiro a chegar ao Polo Norte.

Ernest Henry Shackleton

3

Integrou a expedição

Discovery de Scott (1901-04). De 1907 a 1909, liderou a sua própria expedição, a Nimrod, que descobriu o glaciar Beardmore.

Richard E. Byrd

4

Foi a primeira pessoa a voar

até ao Polo Sul. Numa aeronave Ford Trimotor, com três tripulantes, descolou da sua base Little America a 28 de novembro de 1929.

Carl Anton Larsen

5

Liderou a primeira expedição

norueguesa à Antártida, entre 1892-94. Em 1893, foi o primeiro a usar esquis na Antártida, onde descobriu a plataforma de gelo Larsen.

SABIA QUE... A última entrada no diário de Scott (29 de março de 1912) fala da “audácia, resistência e coragem” dos companheiros?

A cabana de Scott

A cabana no Cabo Evans albergava 25 homens.

A cabana pré-fabricada só demorou duas semanas a construir depois de Scott chegar ao Cabo Evans, a 4 de janeiro de 1911. Media 7,6 metros de largura, 15,2 metros de comprimento e 2,7 metros de altura. As paredes de tábuas de madeira eram isoladas com ruberoid e algas marinhas em tiras dentro de sacos revestidos a juta, e a cabana era aquecida por um fogão a gordura de foca. Tinha aposentos, beliches e laboratórios. Os estábulos ficavam do lado norte e foi acrescentada uma despensa ao lado sul. A cabana tinha uma câmara escura fotográfica e os laboratórios estavam cheios de equipamentos de rádio e químicos, microscópios para examinar amostras biológicas, mesas de dissecação e variados termómetros e dispositivos para registos meteorológicos, como um anemómetro de Dines, que media a velocidade do vento. Os cientistas davam conferências regulares sobre a sua investigação aos outros membros da expedição. A vida na cabana era relativamente confortável. Geradores de acetileno forneciam luz artificial, enquanto uma pianola (autopiano) e um gramofone entretinham a equipa durante o seu limitado tempo de lazer. A comida cozinhada era abundante e variada, e os tubos de aquecimento do fogão mantinham-nos quentes – um enorme contraste com as condições lá fora.

Saiba mais... Para um relato mais profundo da expedição, espreite o livro Scott Of The Antarctic: We Shall Die Like Gentlemen, de Sue Blackhall.

Começa a corrida... Scott não sabia que estava numa “corrida” para o Polo Sul até receber um telegrama de Roald Amundsen, a 12 de outubro de 1910, a dizer: “Informo que o Fram avança para a Antártida – Amundsen.” Scott ficou ainda mais decidido a reclamar o Polo Sul para a Grã-Bretanha.

3 janeiro 1912

PLANALTO POLAR

BANDEIRA

Scott atravessa o Planalto Antártico e escolhe os membros da equipa que farão os restantes 269 km até ao polo.

A equipa de cinco homens de Scott vê a bandeira de Amundsen ao longe e percebe que este os vencera. Chegam ao Polo Sul no dia seguinte.

Edgar Evans Vida: 7 de março de 1876 a 17 de fevereiro de 1912 Dados: O contramestre Evans era galês e tinha fama de bêbedo e mulherengo. Mas Scott admirava-o pela sua força e desenvoltura. Era responsável por carregar os trenós e por tomar conta do equipamento. Ao regressar do polo, a sua condição mental e física deteriorou-se rapidamente.

Os números Edward Wilson Vida: 23 de julho de 1872 a 29 de março de 1912 Dados: O sempre prestável Wilson era o líder dos cientistas. Era um médico e zoólogo que tinha feito um estudo especial sobre pinguins, baleias e focas na Antártida. Era também um notável pintor de aguarelas.

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PRIMEIRA CHEGADA

Roald Amundsen chega ao Polo Sul com Olav Bjaaland, Helmer Hanssen, Sverre Hassel e Oscar Wisting. Ficaram três dias no planalto e deram-lhe o nome do Rei Haakon VII.

16 janeiro 1912

Os números

14 dezembro 1911

4 dezembro 1911

GLACIAR BEARDMORE

17 fevereiro 1912

A expedição de Scott é apanhada por uma tempestade de neve. Os póneis são abatidos e os cães enviados para a base.

REGRESSO

Na base do Glaciar Beardmore, Edgar Evans morre após sofrer graves queimaduras pelo frio. A equipa de Scott enfrenta muito mau tempo.

16 março 1912 SACRIFÍCIO

Oates deixa a tenda da expedição para uma morte certa, partindo com a famosa declaração: “Vou só lá fora e talvez demore algum tempo.”

24 outubro 1911

A VIAGEM POLAR DE SCOTT

Usando trenós a motor e puxados a cães e póneis, 16 homens iniciam a viagem até ao polo.

14 janeiro 1911 FRAMHEIM

O Fram, o navio que transportava Amundsen, chega a Framheim, na Baía das Baleias, onde a equipa monta a sua base.

4 janeiro 1911

CHEGADA

O Terra Nova chega a Skuary, Estreito de McMurdo, Ilha de Ross, que a equipa rebatiza de Cabo Evans.

29 março 1912 O FIM

Em plena tempestade de neve, debaixo de temperaturas de -40 graus Celsius e sem comida, Scott escreve a última entrada no seu diário. Bowers, Scott e Wilson morrem na sua tenda, a apenas 18 km do “One Ton Depot” (depósito de uma tonelada).

Quero Saber | 067


EDIFÍCIOS & LOCAIS

Como foi o teto da Capela Sistina pintado?

O teto da Capela Sistina, hoje, pós-restauro. Em termos de cor, está muito similar a como terá parecido quando foi originalmente pintado.

Explore as ferramentas e técnicas por trás da obra-prima renascentista de Miguel Ângelo.

Ao pintar o teto da Capela Sistina no início do século XVI, Miguel Ângelo teve de superar vários obstáculos. O primeiro prende-se diretamente com as características físicas do teto, que se trata de uma abóbada de berço, ou seja, uma superfície curva. Para dificultar ainda mais a tarefa, essa abóbada de berço é intersetada por abóbadas menores sobre as janelas. Assim, não existem quaisquer superfícies planas, exceto em torno das janelas, onde o artista também pintou uma série de lunetas em forma de meia‑lua. Como tal, mesmo antes de pegar num pincel, Miguel Ângelo teve de determinar primeiro como desenhar figuras humanas realistas na devida proporção e em movimento nessas superfícies irregulares. A sua capacidade de o fazer é testemunho do seu imenso talento artístico. Outro grande desafio na pintura do teto da Capela Sistina foi chegar lá, aos seus 20 metros acima do solo. Felizmente, uma campanha de preservação começada na década de 1980 revelou o método usado por Miguel Ângelo para chegar a tais alturas: construiu um complexo andaime. Este consistia numa ponte de vigas trianguladas que se estendia pela abóbada e movia sobre carris que estavam a um ângulo de 90 graus em relação às paredes. Isto permitiu a Miguel Ângelo aceder a todas as áreas do teto, já que o andaime podia deslocar-se pelos carris – cobria apenas um quarto da abóbada de cada vez, poise era precisa luz ambiente das janelas para pintar. Curiosamente, os orifícios que suportaram esta estrutura ainda hoje podem ser vistos nas paredes. O terceiro problema que Miguel Ângelo teve de resolver foi como traçar as linhas de esboço para o teto todo. Fê-lo dividindo a abóbada em várias unidades, esticando fios cobertos de giz de uma ponta à outra da capela (com ajuda de assistentes), antes de os estalar contra o estuque preparado. Ao fazê-lo, estabeleceu

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a estrutura linear de toda a arquitetura, que é consistente em todo o teto. O último grande obstáculo a enfrentar foi a mera escala do projeto, que, incrivelmente, demorou apenas quatro anos a completar. Pintar o teto era uma enorme empreitada logística, por isso Miguel Ângelo pediu ajuda a alguns dos seus amigos, de Florença a Roma. Além de pintarem alguns dos elementos recorrentes, como colunas e estátuas, estes assistentes ajudaram-no a construir o andaime, misturar/preparar o estuque, fabricar algumas das tintas, aparar os pincéis e desenhar versões de tamanho integral em papel para serem transferidas para a abóbada. Este último processo implicava pressionar o esboço em papel contra o teto, furá-lo com pequenos orifícios ao longo dos contornos e depois cobri-lo com pó de giz preto para produzir um contorno pontilhado no estuque. O famoso quarto tramo do teto da Capela Sistina, mostrando a criação do homem.

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DATAS-CHAVE CAPELA SISTINA

1480

1508

1512

1979

1984

1994

O Papa Sisto IV (à direita) encomenda a construção da Capela Sistina.

Miguel Ângelo começa a pintar o teto da capela.

Miguel Ângelo termina a pintura do teto da Capela Sistina (à direita).

Condução de análises e testes preliminares para avaliar a possibilidade de um restauro.

Começa o restauro da Capela Sistina.

A Capela Sistina é finalmente reaberta ao público após o restauro.

SABIA QUE... Miguel Ângelo foi um de muitos Mestres a pintar a Capela Sistina; outros incluem Botticelli e Pinturicchio?

Entrevista William Wallace

Um perito em Miguel Ângelo fala-nos da obra mais famosa do artista.

Quero Saber (QS): Como é que Miguel Ângelo acabou a pintar o teto da Capela Sistina? William Wallace (WW): Miguel Ângelo aceitou o projeto relutantemente, pois o teto já tinha sido pintado. Era uma abóbada azul com estrelas, o que era a decoração convencional dos céus. Quando Miguel Ângelo se encontrou com o Papa para falar disso, inicialmente havia uma ideia da empreitada muito mais limitada de pintar os 12 Apóstolos. Mas, como era típico de Miguel Ângelo, ele tendia a expandir e engrandecer à medida que trabalhava, conduzindo à [obra-prima] que vemos hoje.

QS: Quais são as vantagens do fresco? WW: O fresco é um meio muito exigente que requer oito horas de trabalho diárias, em que duas são de preparação, três de pintura no estuque húmido e outras duas de pintura no estuque seco. A principal vantagem do fresco é que, como se pinta sobre o estuque húmido, quando a tinta seca, transforma-se em carbonato de cálcio – torna-se parte do estuque. O fresco é extraordinariamente durável; [é por isso que] temos frescos do Antigo Egito e de Pompeia que estão perfeitamente intactos. O último livro de William Wallace, Michelangelo: The Artist, The Man, And His Times, está à venda, editado pela Cambridge University Press.

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Quero Saber | 069

© Joe Angeles; Cambridge University Press/William Wallace

QS: Quanta ajuda teve o artista? WW: Temos os nomes de, pelo menos, 13 pessoas que auxiliaram Miguel Ângelo. Em tempos, nunca se imaginara que ele tivera assistentes; pensava-se nele como o solitário que não se dava com ninguém, mas seria impossível pintar algo tão monumental sozinho. A verdade é que ele pintou a maioria e todas as figuras importantes, mas os assistentes [terão tratado dos aspetos mais monótonos, como a arquitetura].


EDIFÍCIOS & LOCAIS Dentro de Angkor Wat Explore um dos sítios arqueológicos mais importantes do sudeste asiático.

Entrada oriental

A leste, uma entrada secundária é alcançada através de um banco de terra, que atravessa o fosso que separa o recinto externo do complexo maior.

As maravilhas de Angkor Wat

Parte de uma antiga capital do Camboja, Angkor Wat era o epicentro espiritual do Império Khmer. Angkor Wat (ou Angkor-Vat) é um complexo de templos no noroeste do Camboja. Hoje é um sítio arqueológico, mas do início até meados do século XII Angkor foi a capital do Império Khmer – uma das civilizações mais poderosas do sudeste asiático. O complexo, que foi, em grande parte, construído pelo rei Khmer Suryavarman II, foi dedicado ao deus hindu Vishnu e, depois de terminado, cobria uma área de 820 mil metros quadrados, com numerosas torres, templos, pátios e residências rodeados por uma parede de pedra. O acesso ao complexo era feito através de um banco de terra a leste e de um passeio de arenito a oeste – sendo o segundo a entrada principal para oficiais e realeza. No centro do complexo estava um quincunce de grandes torres ornadas (posicionadas como os cinco pontos de um dado), que representava o espiritual Monte Meru – a morada dos deuses hindus. As cinco torres simbolizavam os cinco picos da montanha, enquanto o fosso circundante representava o oceano que era suposto rodeá-las. Estas torres centrais, bem como o templo interior, estavam abertos apenas para a família real e oficiais de altas patentes. Em redor do templo central estava um recinto externo que originalmente alojaria a maioria

070 | Quero Saber

das residências da cidade. Estas eram feitas de madeira e outros materiais facilmente perecíveis e, por isso, nenhuma evidência das mesmas sobreviveu, com a maioria do recinto agora densamente povoado por vegetação selvática. A norte do templo estava o palácio real, enquanto uma seleção de grandiosas bibliotecas de pedra se encontrava na periferia. Angkor Wat é hoje parte central do Parque Arqueológico de Angkor, local que é Património Mundial da Humanidade da UNESCO e inclui 400 quilómetros quadrados de templos, floresta e estruturas hidráulicas como reservatórios e canais datados do século IX ao XV.

Pátios

O complexo de templos está dividido numa série de pátios, que se tornam continuamente mais pequenos à medida que se afastam do centro.

Biblioteca

De cada lado da entrada ocidental dentro do pátio externo estão duas bibliotecas decorativas. Cada uma tem quatro entradas.

Os números

Há uma necessidade contínua de conservação, uma vez que a selva reivindica muitos dos edifícios antigos.

Angkor Wat Construção: Século XII País: Camboja Localização: Angkor, província de Siem Reap Área: 820.000 m2 Estilo: Khmer, dravidiano Arquiteto: Suryavarman II

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Saiba porque foi Angkor Wat construído e depois abandonado.

W W W.Q UE ROSABE R . SA P O. P T SABIA QUE... Todo o complexo do templo de Angkor Wat foi completado em apenas 40 anos?

Santuário

No centro das outras quatro torres está uma maior, criando um quincunce. Este era o santuário central do templo e era muito exclusivo.

Torre

Quem foi Suryavarman II?

Angkor Wat ergue-se em direção ao centro numa série de plataformas de colunas, nos cantos das quais estão quatro torres com a forma de botões de lótus virados para cima.

Suryavarman II foi o rei do Império Khmer entre 1113 e 1150. O seu reinado ficou marcado por várias campanhas militares, pela restauração de uma forte classe reinante central entre o povo Khmer e, o mais importante, pela formulação e construção do complexo do templo de Angkor Wat – construído em honra do deus hindu Vishnu. O seu sucessor foi o seu primo Dharanindravarman II.

Passagem pedonal

As paredes exteriores do templo têm 4,5 m de altura e funcionam também como passagens pedonais com uma balaustrada. Estas estão cobertas com entalhes ornamentados e baixos-relevos.

Passeio

Um passeio de arenito estende-se pelo recinto externo, atravessa um terraço cruciforme e vai diretamente até à entrada ocidental do complexo.

China

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Angkor Wat © Getty; Alamy

Galeria

Quatro galerias quadradas interligadas encontram-se atrás da entrada ocidental. Estas oferecem acesso aos pátios exteriores e interiores.

Camboja

Quero Saber | 071


EDIFÍCIOS & LOCAIS

O que fez de Alcatraz uma prisão tão segura?

Central elétrica

A prisão militar tinha um túnel de manutenção desde o bloco de celas até à central elétrica. Foi selado pelas autoridades prisionais em 1934.

Como o “Rochedo” ganhou a sua temível reputação. Mesmo quando foi batizada de La Isla de Los Alcatraces em 1775, ninguém tinha nada bom a dizer sobre esta ilha de nove hectares. Era árida, quase sem solo fértil ou vegetação, sem praias, e uma camada de guano cobria a superfície. Era difícil construir no rochedo estratificado, e penhascos escarpados rodeados por correntes mortais faziam do acesso um pesadelo. Manteve-se intocada durante quase um século, até os Estados Unidos começarem a ver como positivas as características pelas quais a ilha era evitada. Em 1859, o exército norte-americano estabeleceu o Camp Alcatraz como guarnição para 200 soldados e armamentos, mas, apesar de terem passado pela Guerra Civil Americana, as suas armas nunca foram disparadas. Alcatraz revelou-se bem mais útil como prisão militar para desertores, insubordinados e, é claro, simpatizantes da Confederação. Em 1909, foi construído um novo bloco, que foi modernizado para ser uma prisão de máxima segurança quando o exército entregou o “Rochedo” ao Gabinete Federal de Prisões em 1934. Seria nos 30 anos seguintes que Alcatraz se tornaria a penitenciária mais famosa da história da América – senão do mundo. Alcatraz ganhou fama pela sua localização geográfica, o seu estatuto de máxima segurança e os seus conhecidos reclusos. Apenas 300 dos presos federais indisciplinados e de alto risco ali cumpriam pena, em condições tão rígidas que tudo o que fosse além de alimentação, cuidados médicos, abrigo, representação legal e cartas à família era considerado um privilégio ganho por bom comportamento. A segurança era apertada; só guardas de elite eram colocados em Alcatraz e os procedimentos eram realizados com precisão militar. Mesmo que um recluso conseguisse passar os muros, ainda tinha de atravessar uma gelada extensão de água com correntes fortes e perigosas até chegar ao continente. A prisão de Alcatraz foi encerrada em 1963, após um relatório concluir que mantê-la era demasiado caro e que a sua localização tinha encorajado um ambiente de “circo”.

Torre de água

O elemento mais alto e visível do “Rochedo” foi recentemente alvo de uma renovação superior a um milhão de dólares.

Pátio de recreio

Segundo a regra #5 de Alcatraz, o acesso a este pátio era considerado um privilégio.

Messe

Para minimizar o movimento dos reclusos, a zona de refeições estava situada dentro do bloco de celas.

Bloco de celas

Alcatraz albergava até 312 dos criminosos mais perigosos da América, cujo número era superior ao de guardas em cerca de 4:1.

Ninguém foge do “Rochedo”

Sair desta prisão-ilha de máxima segurança não era tarefa fácil... Nas suas três décadas de funcionamento, 36 presos fizeram 14 tentativas de fuga de Alcatraz, dos quais só cinco escaparam e todos foram dados como afogados. Uma das tentativas mais conhecidas aconteceu em 1946, quando seis reclusos dominaram um guarda, entraram na galeria de armas e tomaram o controlo do bloco de celas, do qual descobriram que não conseguiriam fugir. Seguiu-se um cerco que durou dois dias e culminou num tiroteio com os guardas, ajudados pelos Fuzileiros, que acabaram por largar granadas para o bloco de celas, para o recuperar.

072 | Quero Saber

Mas talvez a tentativa mais famosa tenha sido retratada pelo filme de Clint Eastwood Os Fugitivos de Alcatraz, notável pela sua ingenuidade. Em 1962 Frank Morris e os irmãos John e Clarence Anglin usaram ferramentas toscas para escavar até à cavidade atrás das suas celas. Taparam os buracos com pinturas, construíram jangadas a partir de gabardines e modelaram cabeças com restos de sabão para evitar suspeitas até de manhã, o que lhes dava tempo para fugirem. Nunca foram encontrados, foram dados como mortos, mas ainda são procurados pelo FBI.

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PRISÕES INVULGARES

A MAIS ACOLHEDORA

Situada nesta Ilha do Canal, é considerada a prisão mais pequena do mundo. Só tem lugar para dois reclusos.

2. Prisão San Pedro

A MAIS LUXUOSA © Daniela Ebner

1. Prisão de Sark

A MAIS PEQUENA © LymeRegis

Frente a Frente

Situada em La Paz, Bolívia, assemelha-se mais a um bairro, com restaurantes, uma escola e até um hotel.

3. Justizzentrum Leoben Uma das mais luxuosas é o Palácio da Justiça em vidro e aço inoxidável de Leoben, Áustria, um complexo com prisão e tribunal.

SABIA QUE... Alcatraz recebeu o nome das aves que outrora habitaram a ilha, e que deriva do espanhol para pelicano? “Broadway”

A ala central do bloco de celas recebeu, carinhosamente, o nome do bairro de teatros da Grande Maçã.

Galerias de armas

Apartamentos residenciais

Eram dadas casas a até 64 guardas e suas famílias.

Porto de ataque

Da entrada do bloco de celas, passava-se por detetores de metal até à sala de visitas. A armaria e o gabinete do diretor estavam perto.

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Doca de barcos

Como era uma prisão estatal, não eram permitidos barcos não autorizados num raio de 183 m de Alcatraz e ninguém podia desembarcar sem permissão.

Presos famosos Alcatraz foi concebida para albergar os criminosos mais famosos e perigosos da América, em parte para isolar os reclusos mais importantes de presos influentes de outras prisões, e também para servir de exemplo bem visível. O preso mais infame de Alcatraz foi o gangster de Chicago Al Capone, que aterrorizou partes dos Estados Unidos nas décadas de 1920 e 1930. Foi para Alcatraz em 1934 e transferido para a Terminal Island Correctional Institution em 1939, com uma fração da influência que tinha durante a época da Lei Seca. Outros criminosos famosos que sucumbiram à força bruta do sistema penal norte‑americano foram o raptor George “Machine Gun” Kelly, Floyd Hamilton, ladrão de bancos e cúmplice de Bonnie e Clyde, Alvin “Creepy” Karpis, membro do gang de Ma Barker e o assassino Robert “Birdman” Stroud, retratado por Burt Lancaster no filme clássico de 1962 O Prisioneiro de Alcatraz.

O famoso chefe do crime Al Capone esteve detido mais de seis anos em Alcatraz.

Quero Saber | 073

2x ilustração © Ormsby and Thickstun Interpretive Design

Clube dos guardas

Era um local de convívio dos guardas. Tinha uma fonte de refrigerantes e um bar.

© nps.gov

Cave

Aqui ficava o bloco de chuveiros e a despensa, além de uma área de celas solitárias, vestígio da época militar de Alcatraz.

Os guardas no solo não podiam ter armas de fogo. Eram guardas armados com espingardas que controlavam o solo a partir destas varandas seguras.


ARMAS & GUERRA 076 Tanque Sherman

Descubra a sua velocidade e manobrabilidade e como foi fundamental na II Guerra Mundial.

078 Os mosqueteiros Durante séculos, esta popular unidade militar defendeu soberanos, da França até à Índia.

080 As justas explicadas Conheça ao pormenor esta prova desportiva marcial e porque se tornou tão apreciada na Idade Média.

082 Pontes levadiças

Saiba como funcionavam os mecanismos essenciais e a razão de estas pontes serem tão eficazes na defesa de castelos.

083 Armas de sílex

Como começou a produção de ferramentas e armas.

084 Galeão espanhol do século XVI

Entre a bordo de um dos navios que mudou o mundo.

086 Aríetes brutais

Como eram construídas e utilizadas estas potentes armas de cerco.

087 Armaduras de placas

A armadura que revolucionou o combate medieval ao pormenor.

088 Jerusalém sob cerco Saiba como a cidade foi cercada na Primeira Cruzada, em 1099.

080

Justas explicadas

090 Combates aéreos

da Primeira Guerra Mundial

Descubra quão próximos ficavam os caças para conquistar a supremacia nos céus.

083 Quebrar a barreira de som

Quebrar a barreira do som

083

090

Combates aéreos da I Guerra Mundial © Dreamstime

Fique a saber qual foi o primeiro objeto mais rápido que o som.


086

Os mosqueteiros

078

Cerco a Jerusalém

088

© Thinkstock

Aríetes brutais


ARMAS & GUERRA

O tanque Sherman

Como liderou as máquinas de guerra aliadas na II Guerra Mundial.

O tanque foi utilizado pela primeira vez como arma militar na I Guerra Mundial, na Batalha do Somme. Os veículos blindados tornar-se-iam muito importantes no esforço de guerra, mas só na II Guerra Mundial se tornaram essenciais. E o mais essencial de todos os tanques aliados foi o Sherman. O Medium Tank, M4 deve a designação por que ficou conhecido a William Tecumseh Sherman, general unionista da Guerra Civil Americana. Substituiu o blindado M3 e foi fornecido no âmbito da política Lend-Lease americana aos seus aliados. Foi utilizado pela primeira vez em 1942 pelos britânicos, para rivalizar com os alemães Panzer III e IV pela supremacia no campo de batalha. O Sherman assentava na velocidade e manobrabilidade. Tinha uma blindagem mais fraca e menos equipamento que os rivais alemães e, com a introdução dos modelos Tiger e Panther, tornou-se inferior no campo de batalha. Esta questão seria rapidamente resolvida com a introdução das versões Firefly, Jumbo e Easy Eight. A principal tática no tanque consistia em disparar uma salva de munições perfurantes e depois incinerar o tanque inimigo exposto e sem blindagem. Os Shermans atuavam sempre em grandes números e funcionavam bem em parceria com M10 Tank Destroyers. Foram extensivamente usados nas campanhas de África, França e Itália até ao fim da guerra. Alguns modelos podiam acoplar um lança-chamas, um lança-mísseis ou uma pá de buldózer, e também houve versões anfíbias, utilizadas nos desembarques do Dia D. Mesmo depois da guerra, o Sherman continuou a ser utilizado com frequência. A sua fiabilidade e custo baixo permitiam-lhe servir na Guerra da Coreia e noutros países. Austrália, Brasil, Egito e muitos outros têm as suas próprias versões do bem-sucedido modelo Sherman.

No interior...

Os números

Espreitamos sob a carroçaria do tanque Sherman.

Motor

M4 Sherman Primeiro ano de serviço: 1942 Unidades produzidas: 50.000

O motor estava na traseira do tanque e variava de modelo para modelo. Eram construídos sobretudo por três empresas norte-americanas: General Motors, Ford e Chrysler.

Tripulação: Cinco Comprimento: 5,84 m

Torre

O Sherman tinha uma torre giratória a 360 graus, que rodava sobre um carril usando um sistema elétrico. Algumas versões, como o Sherman Badger, não tinham torre.

Largura: 2,62 m Altura: 2,7 4 m Velocidade máxima: 48 km/h Autonomia máxima: 193 km Armas: A rma principal de 75 mm, 3 metralhadoras Motor: 425 cv

Lagartas

Com uma suspensão vertical com molas de voluta (VVSS, na sigla inglesa), o tanque tinha lagartas de 78 cadeias, projetadas para exercerem o mínimo de pressão no solo, e assim manterem a leveza e a agilidade em todos os terrenos.

Os vários membros da família Sherman

1

M4A3E2 Jumbo

Criado para a libertação da Europa, pesava 38 toneladas e era muito bem protegido, resistindo a todas as armas antitanque alemãs.

076 | Quero Saber

2

M4A3E8 Easy Eight

Mais pequeno e móvel mas com a mesma blindagem do Jumbo, serviu muito no pós‑guerra, como na Coreia e no Vietname.

3

M4A3R3 Zippo

O chamado “tanque lança-chamas”, usado sobretudo no Extremo Oriente, foi criado para forçar a saída de casamatas e bunkers.

4

T34 Calliope

Dotado de um lança-mísseis, este tanque só foi utilizado na reta final da II Guerra Mundial, mas era altamente eficaz contra defesas fortificadas.

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Frente a Frente

ROBUSTO

2. Panther

MAIS ROBUSTO

O T-34 foi um tanque soviético altamente blindado com bom poder de fogo. Fiável e durável, ainda é usado por alguns países.

TANQUES DA II GUERRA MUNDIAL

SABIA QUE...

1. T-34

A proteção deste tanque alemão era tão robusta que continuou a ser usada como padrão por vários países em todo o mundo após a guerra.

O MAIS ROBUSTO

3. Firefly

Criado pelos britânicos, era o único tanque aliado capaz de enfrentar os temíveis Panthers e Tigers alemães, com esperança de vencer.

Foram produzidas mais de dez versões diferentes do Sherman original?

Metralhadora

Arma principal

A maioria dos tanques Sherman tinha uma arma principal de 75 mm, que disparava granadas explosivas. Com a guerra adiantada, foram introduzidas versões de 76 mm e 105 mm, para aumentar o poder de fogo.

A metralhadora principal Browning M2HB de 12,7 mm e calibre .50 situava-se na torre e era uma alternativa anti‑infantaria de fogo rápido às granadas Howitzer.

Guiar e manobrar

O tanque tinha cinco mudanças e duas alavancas de manobrar, e a visão do condutor estava protegida por capôs de metal e vidro à prova de bala.

Miras

Inicialmente, a mira era periscópica, mas foi trocada nas campanhas africanas para miras telescópicas de alta potência – ideia roubada aos alemães –, permitindo uma visão muito superior.

Tanques Sherman atravessam Bayeux.

Metralhadora

Para permitir fugas rápidas após sofrer danos, os modelos posteriores tinham uma escotilha de emergência no chão, por baixo do artilheiro da proa.

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© DK

Escotilha

O artilheiro da proa tinha uma metralhadora de 7,62 mm e calibre .30 para atingir infantaria mais próxima e rápida. Estava protegido por uma frente inclinada reforçada.

Quero Saber | 077


ARMAS & GUERRA

Os mosqueteiros

Uma das unidades militares mais populares durante séculos, os mosqueteiros combatiam e protegiam soberanos queridos, da França à Índia. Os mosqueteiros eram uma versão inicial de soldados, armados com mosquetes. Eram uma ponte entre a infantaria tradicional – que lutava a pé e, tipicamente, corpo a corpo, com espadas – e os dragões, um tipo de cavalaria leve com armas de longo alcance. Esta posição garantia-lhes um nível de versatilidade e flexibilidade muito valioso no campo de batalha, tanto que as unidades de mosqueteiros estavam geralmente reservadas para a proteção da nobreza ou, em muitas nações ocidentais, da realeza. Apesar de, enquanto corpo, os mosqueteiros serem mais antigos (ver “A origem do mosqueteiro”), não surgiram na Europa até ao século XVI, com o conceito apenas a “pegar” em larga escala no início do século XVII. Apesar de esta época ter sido dominada pelos Gravura prussiana de um mosqueteiro francês (à direita) do reinado de Luís XIV (1643-1715).

mosqueteiros franceses da Maison du Roi (a Casa Real do Rei da França) – nos quais se baseia a obra de Dumas Os Três Mosqueteiros –, a Espanha, Inglaterra, Rússia, Suécia, Polónia e até a Índia criaram unidades de mosqueteiros próprias neste período, que partiam para o campo de batalha com frequência. Os mosqueteiros, como unidade militar comum, desapareceram gradualmente em meados do século XIX, pois os avanços nas armas de fogo tornaram o mosquete obsoleto. Com a introdução da espingarda, que tinha mais alcance e velocidade, a unidade de atiradores pôde emergir, eliminando a necessidade dos mosqueteiros a cavalo – o que, juntamente com o declínio de muitas dinastias europeias, como o Antigo Regime francês, pôs um fim permanente a todas as unidades de mosqueteiros.

Como disparar um mosquete

1

Transporte

Ao marchar para a posição devida, o mosquete deve ser levado ao ombro, com o apoio seguro na mão.

2

Preparar

Quando é ordenado o disparo, o mosquete é colocado na diagonal e enchido com pólvora, depois uma bucha e a seguir uma bala, imobilizada por outra bucha.

3

Rastilho

Finalmente deitava-se pólvora na escorva e colocava-se a mecha, incendiada por uma pederneira.

4

Disparar

O mosquete era endireitado com o apoio sempre seguro e depois colocado no braço de suporte, apontado e disparado.

5

Retirar

O mosquete era retirado do apoio e segurado ao lado do mosqueteiro, que retirava então a mecha e aguardava novas instruções.

078 | Quero Saber

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CINCO FACTOS

Conde d’Artagnan

1

MITOS SOBRE MOSQUETEIROS

O conde d’Artagnan real não

era nada como o herói fictício do famoso romance de Alexandre Dumas Os Três Mosqueteiros, ele próprio baseado numa semificção.

Era rico, não pobre

2

Na verdade, em vez de ter

origens pobres e humildes, o verdadeiro D’Artagnan era filho de um nobre que vivia num grande palácio no sudoeste de França.

Mais do que três

3

Apesar de a obra de

Dumas se chamar Os Três Mosqueteiros, a meio, D’Artagnan junta-se-lhes oficialmente, passando a ser quatro...

Saída de casa

4

Morte realista

5

Apesar de o romance de

Dumas dizer que D’Artagnan saiu de casa para ser mosqueteiro em 1625, na vida real, saiu mais tarde – na década de 1630.

Um dos poucos factos

da ficção de Dumas sobre D’Artagnan que é 100% verídico é a data da morte do soldado – morreu em Maastricht, em 1673.

SABIA QUE... Os Mosqueteiros do Rei combatiam tanto a pé como a cavalo?

O uniforme de um mosqueteiro

Eis o equipamento essencial utilizado pelo famoso capitão dos Mosqueteiros do Rei, o conde d’Artagnan.

Chapéu

No Ocidente, os mosqueteiros começaram por usar chapéus decorativos simples, mas no início do século XIX estes evoluíram para elmos de metal – também decorados, muitas vezes com grandes plumas.

Bandoleira

Estes cintos com bolsos, bolsas ou sacos para munições eram um acessório comum dos mosqueteiros, para que estivessem sempre bem abastecidos no campo de batalha. Amarravam-se à volta da cintura ou do tórax.

Túnica

Muito mais elaboradas do que as da infantaria normal, as túnicas dos mosqueteiros e, mais tarde, as couraças, favoreciam a liberdade de movimentos sobre a proteção.

Mosquete

Capa

Saco de viagem

Como os mosqueteiros viajavam durante boa parte do seu serviço militar, cada um tinha o seu saco de viagem, onde guardava provisões e objetos pessoais.

Característica associada a versões mais anteriores dos mosqueteiros, a capa oferecia alguma proteção contra os elementos durante as viagens.

A origem do mosqueteiro Ao contrário dos mosqueteiros da Maison du Roi – a Casa Real francesa –, fundados em 1622 durante o reinado de Luís XIII, já existiam mosqueteiros no outro lado do mundo, na China, desde o século XIV. Na verdade, durante a Dinastia Ming (1368-1644), nenhum exército nacional estava completo sem várias divisões de mosqueteiros, com os soldados armados com mosquetes de mecha. Textos antigos indicam que estes mosqueteiros disparavam em linhas e, tipicamente, ajoelhados. Este desenvolvimento do conceito de mosqueteiros na China adveio da sua invenção e aperfeiçoamento da pólvora, com o mosquete a revolucionar as formas tradicionais de combate.

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Espada

Dado que os mosqueteiros eram treinados para combater a cavalo, como os dragões, e a pé, como a infantaria, tinham também uma espada, para lutas corpo a corpo.

Botas

As botas eram um elemento importante do uniforme de um mosqueteiro, tanto para comunicar a sua posição prestigiada, como para fornecer um bom apoio, tanto no solo como a cavalo (algumas tinham esporas).

Quero Saber | 079

© Ian Jackson

Principal arma do mosqueteiro, o mosquete era fatal, mas incómodo de utilizar. O carregamento lento permitia apenas três disparos por minuto, no máximo.


ARMAS & GUERRA

As justas explicadas

Velozes, brutais e teatrais – é fácil perceber porque é que este desporto marcial era tão popular na Idade Média. As justas eram uma prova desportiva marcial entre dois cavaleiros com lanças, ambos tentando atingir o adversário e derrubá-lo do cavalo. Podia ser um evento isolado ou fazer parte de um torneio maior, envolvendo este último outras disciplinas atléticas como o combate corpo a corpo. A justa em si funcionava com um sistema de pontos, com cada golpe certeiro no adversário a gerar pontos para o atacante, dependendo o valor total do ponto onde o golpe fosse desferido. Assim, se um cavaleiro atingisse o adversário no elmo recebia dois

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pontos, enquanto se o atingisse na couraça recebia apenas um. Se um cavaleiro fizesse o adversário cair do cavalo com um golpe recebia três pontos e o combate terminava. Importa notar, porém, que só os golpes certeiros davam pontos, sendo um golpe certeiro aquele em que a lança se estilhaçava com o impacto. Não eram considerados golpes de lado, golpes baixos e quaisquer golpes que não partissem a lança. Em cada justa, os dois cavaleiros eram equipados com três lanças, para serem usadas durante três rondas. Todas as lanças eram medidas antes de cada justa para

garantir que tinham o mesmo tamanho, para que ninguém pudesse obter vantagem. Além disso, cada duelo obedecia a regras rígidas e só o escudeiro (assistente) do cavaleiro podia dar-lhe novas lanças ou ajudá-lo se caísse do cavalo. Segundo estas regras, era também obrigatório que o cavaleiro em competição fosse dono do cavalo e da armadura que usava, para que, caso fosse derrubado, o adversário pudesse exigir ambos como troféu de vitória. Mas todas estas regras seguiam-se à primeira e mais importante regra que dizia que apenas nobres podiam competir.

Se a justa fosse realizada como parte de uma competição maior, a outra prova‑chave era o combate corpo a corpo. Este tinha um conjunto de regras semelhante ao da justa, sendo o vencedor o primeiro cavaleiro a desferir três golpes ao rival. As armas e estilos aceites eram definidos antes do torneio. Historicamente, a justa apareceu na Alta Idade Média (1000-1300) e baseava‑se no uso militar da lança pela cavalaria pesada. Até ao século XVII, a justa evoluiu de desporto sangrento até à forma desportiva de cavalaria pela qual é atualmente lembrada. Na altura do WWW.QUEROSABER.SAPO.PT


CINCO FACTOS JUSTAS

O perigo das justas

1

Os torneios de justas

na Alta Idade Média eram considerados mais duros e perigosos do que os eventos mais cavalheirescos da Baixa Idade Média.

Questão de honra

2

Na década de 1390,

esperava‑se, por norma, que os combates nas justas não fossem letais, com o derrotado a render-se com honra ao guerreiro dominante.

Eventos secundários

3

Apesar de o evento principal

de um torneio de justas ser a própria justa, existiam eventos secundários, como o combate a pé, em que vencia o primeiro a desferir três golpes.

Etimologia

4

Muitas lanças

Acredita-se que o termo

“justa” derive da palavra do francês antigo “joster”, que por sua vez deriva do latim tardio “iuxtare”, que significa abordar e/ou conhecer.

5

As lanças das justas eram

muitas vezes de madeira de freixo, mas, ao invés das antecessoras militares, não tinham pontas de ferro ou aço afiadas, mas sim rombas.

SABIA QUE... A justa foi abandonada em França após o rei Henrique II ter sido mortalmente ferido num torneio em 1559?

A armadura das justas explicada Ser atingido por uma lança durante uma justa era semelhante a ser atingido por um martelo de forja, pelo que os cavaleiros tinham de reforçar as suas armaduras para evitar ferimentos ou até a morte.

Elmo

Dados os pontos de bónus atribuídos por atingir a cabeça, os elmos das justas eram muito modificados para conferirem maior proteção. Os armets e elmos fechados eram populares, pois – além dos ângulos acentuados – tinham uma viseira articulada, permitindo aos cavaleiros com êxito apresentarem-se ao público após o duelo.

Gorjal

O gorjal era uma gola de aço concebida para proteger a garganta do cavaleiro. Estava presa à armadura, por baixo das placas do peito e das costas e tinha, geralmente, placas de aço angulares e em camadas.

Proteção de articulações

Devido à reduzida necessidade de movimento durante os ataques nas justas a cavalo, os cavaleiros colocavam frequentemente proteções (pequenos escudos circulares) nas armaduras. Estas eram concebidas para garantir proteção extra nas articulações – como a axila – onde brechas na armadura podiam ser exploradas.

Brafoneira

Dada a grande probabilidade de se ser atingido no ombro, as brafoneiras (proteções de ombro) eram muito reforçadas. Usava-se aço mais espesso e com arestas, muitas vezes com uma camada auxiliar estriada, para defletir os golpes das lanças.

Lanceiro

O lanceiro era uma adaptação única à armadura standard, sendo posicionado abaixo da brafoneira do braço direito. O gancho de aço era soldado à couraça e ajudava a suportar a lança durante o ataque, permitindo uma maior precisão do ataque.

reinado da rainha Isabel I em Inglaterra (1558‑1603), por exemplo, a justa tinha-se tornado muito romantizada e era mais uma forma de entretenimento do que uma prova de proeza militar. Curiosamente, hoje em dia, a justa está, de certa forma, a renascer, com clubes dedicados a organizarem competições e eventos de recriação medieval em todo mundo.

Manopla

As manoplas das justas visavam maximizar o controlo da lança, pelo que eram muito comuns os designs alemães com rebites. Eram compostas por placas de aço sobrepostas em camadas, com nós dos dedos reforçados e proteção para as pontas dos dedos, cobrindo apenas o topo e o lado das mãos, deixando a zona inferior livre para agarrar com uma luva de pele ou tecido.

“Só os golpes certeiros davam pontos, sendo um golpe certeiro aquele em que a lança se estilhaçava com o impacto.” WWW.QUEROSABER.SAPO.PT

Couraça

A couraça, nome técnico para a armadura peitoral e dorsal, era um dos componentes essenciais das armaduras das justas. A armadura peitoral era muitas vezes angular a partir de um ponto central para defletir golpes.

Sapata

A sapata era a peça da armadura que cobria os pés do cavaleiro. Era geralmente feita com placas de ferro rebitadas. O seu design variava consoante a época e classe do cavaleiro, com os membros da aristocracia a poderem usar versões compridas e afuniladas, enquanto a pequena nobreza só podia usar versões curtas e de ponta plana.

Quero Saber | 081


Armas & guerra

Pontes levadiças Utilizadas para defender castelos durante séculos, eram simples mas eficazes. As clássicas pontes levadiças medievais

funcionavam através do simples princípio do contrapeso, com grandes pontes de madeira e metal articuladas através de contrapesos na porta fortificada do castelo. Os pesos, fixos às correntes de elevação, permitiam que a plataforma fosse elevada através de um molinete, que rodava um par de cilindros elevatórios que recolhia as correntes. Utilizando contrapesos, pontes incrivelmente pesadas podiam ser manobradas por poucas pessoas, o que era útil em caso de ataque. Juntamente com um fosso, uma ponte levadiça reforçada servia de barreira dupla, dificultando a invasão de uma fortificação ou cidade por inimigos.

A ponde levadiça deste castelo em Bréscia, Itália, foi construída durante o domínio da República de Veneza.

Levantem a ponte!

Ponte

A ponte é feita de madeira e articulada sobre um cilindro de metal na base da porta fortificada. A parte inferior é, geralmente, reforçada com chapa de metal.

Domine os mecanismos essenciais de uma ponte levadiça medieval.

Cilindros

Cilindros de madeira e metal posicionados no teto da porta fortificada – quando rodados pelo molinete – puxam as correntes da ponte para a erguer.

Correntes

As correntes estendem-se desde a extremidade da ponte, pelo exterior da porta fortificada e até aos cilindros de elevação. Cada corrente enrola-se em torno do seu cilindro à medida que a ponte é erguida.

Fosso

Um fosso ou vala cheios de água são uma característica comum dos castelos medievais, com a ponte levadiça a oferecer a única entrada seca para a estrutura. Erguer a ponte impede o acesso fácil.

Contrapesos

Sem contrapesos, a ponte seria demasiado pesada para o sistema de molinete. Com os contrapesos instalados, esse peso pode ser equilibrado até certo ponto, eliminando muito do esforço da operação.

Um segunda barreira, atrás da ponte levadiça, é a grade. Este portão de metal e madeira pode deslizar ou cair sobre a entrada para barrar intrusos.

082 | Quero Saber

Poço Molinete

A parte mecânica essencial do sistema, o molinete – quando acionado por alavanca ou roda giratória – roda os cilindros para recolher ou soltar as correntes.

Quando a ponde está levantada, os contrapesos descem para um poço no chão da porta fortificada. Quando a ponte está para baixo, o poço fica coberto por alçapões.

© Alamy; Peters & Zabransky

Grade

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Recordes longa é a descida

1.357,6 km/h

Queda livre mais rápida Felix Baumgartner tornou-se o primeiro ser humano a fazer uma queda livre mais rápida que a velocidade do som quando atingiu 1.357,6 km/h durante o seu salto na missão Red Bull Stratos em outubro de 2012.

SABIA QUE... Algumas das primeiras ferramentas de sílex foram machados de mão?

Armas de sílex

Armas de sílex da Idade da Pedra, como pontas de flechas e de lanças.

Como começou a produção de ferramentas e armas.

Antes de se iniciar a extração de metais na Idade do Bronze, as ferramentas e as armas eram feitas de pedra. Um material fundamental utilizado na Idade da Pedra era uma rocha sedimentar chamada sílex. Forte e com arestas aguçadas, o sílex é abundante em camadas de cré e calcário por todo o mundo,

por isso era ideal para as ferramentas e armas primitivas. A pedra começou a ser extraída há mais de um milhão de anos, no Paleolítico, através do método da britagem, em que se lascava a camada rochosa até criar a forma de lâmina desejada. Algumas das primeiras ferramentas de sílex foram machados de mão,

usados para caçar, cortar madeira, escavar e até fazer fogo. As primeiras armas eram grandes e rombas, mas as posteriores eram mais perfeitas, polidas e afiadas. Destes tempos primitivos surgiriam os primeiros punhais, lanças e pontas de flechas – parte integrante da guerra, do trabalho e da caça da Idade da Pedra.

A Idade da Pedra Os períodos em que o sílex era um componente importante.

Paleolítico

Mesolítico

Neolítico

Os utensílios de sílex desta época eram os mais primitivos e básicos, como machados de mão. Este tipo de trabalho foi utilizado pelo Homo erectus e pelo Homo sapiens.

Os utensílios já são mais sofisticados, sendo usados na carpintaria para construir as primeiras estruturas. A primeira olaria é deste período, em parte graças a esta evolução.

A agricultura foi a influência nos utensílios deste período, sendo criadas foices para colher cereais. Os utensílios têm um aspeto distintivo, pois são cada vez mais polidos.

Há aprox. 2,5 milhões de anos

Há aprox. 15 mil anos

Há aprox. 12 mil anos

Quebrar a barreira do som Qual foi o primeiro objeto mais rápido que o som?

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continua até chegar à ponta, a parte mais fina do chicote. Se o fizer bem, nesse momento a onda está a deslocar-se com tanta velocidade que a ponta quebra a barreira do som quando o chicote vem para cima, criando o característico “estalo”. O primeiro ser humano a viajar a uma velocidade superior à do som foi Chuck Yeager, capitão da Força Aérea norte-americana, ao pilotar um avião X-1 a Mach 1 – a velocidade do som –, em 1947.

© Dreamstime; Thinkstock; Ed Crooks

A primeira vez que a mágica velocidade de 1.225 km/h foi ultrapassada remonta ao Antigo Egito. Foi uma das primeiras civilizações em que há registo da utilização do chicote, que cria estampidos sónicos há mais de quatro mil anos. Erguer e baixar um chicote com firmeza faz uma ondulação descer pelo chicote. Ao deslocar-se, a onda fica mais rápida à medida que o chicote se torna mais fino e

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ARMAS & GUERRA

Galeão espanhol do século XVI

Como este “pequeno” navio mudou o mundo. Na vanguarda do design europeu de navios da sua época, o galeão começou por ser utilizado no Mar Mediterrâneo pela República de Veneza, potência comercial com capital na cidade italiana com o mesmo nome, no início do século XVI; mas na segunda metade do século, o mesmo design também já era usado por Portugal, Inglaterra, França e Espanha, entre outros países. O convés mais baixo à frente, e um casco longo e estreito, davam-lhe uma estabilidade sem rival no mar e reduziam a resistência ao vento, tornando o galeão a embarcação mais rápida e ágil da época. Com três ou quatro velas principais e uma vela latina triangular que lhe permitia navegar contra a direção do vento, foi desenvolvido um complexo sistema de cordame para permitir que o galeão fosse manobrado por uma mera fração da tripulação, caso sofressem perdas no mar. Embora cruzar o Mediterrâneo no século XVI não fosse um cruzeiro, o oceano Atlântico era infinitamente mais perigoso e imprevisível. O formato revolucionário do galeão transformou esta turbulenta via navegável numa autoestrada global, permitindo aos exploradores chegar às Américas e circum‑navegar o globo da Europa à Ásia, em busca de terra, comércio, escravos e recursos naturais – de tabaco a seda, especiarias a ouro. As potências navais dominantes do início do século XVI eram Portugal e Espanha, graças às viagens pré-galeão e a exploradores como Bartolomeu Dias, o primeiro europeu a contornar o continente africano, e Cristóvão Colombo, que iniciou a colonização espanhola das Américas em finais do século XV. Consequentemente, o galeão tornou-se um símbolo eminente do império espanhol, ligando a metrópole às suas longínquas colónias na América, África, Caraíbas e Sudeste Asiático.

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A bordo do galeão espanhol Como era a vida em alto-mar?

Armas

Eram usadas pequenas armas para atingir a tripulação de navios inimigos e deter atacantes.

Sanitários

Os sanitários da tripulação, ao ar livre, ficavam no beque, a parte mais avançada da proa, sob o gurupés.

Cabrestante

A âncora era içada e baixada por uma roda enorme.

Castelo da proa

Embora o comandante tivesse algum luxo, a tripulação dormia em condições exíguas na parte da frente do navio.

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CINCO FACTOS

Golden Hind

1

GALEÕES FAMOSOS

SABIA QUE...

Adler von Lübeck

Era o galeão de Francis

Drake quando se tornou o primeiro inglês a circum-navegar o globo, em 1577-1580, e o segundo a fazê-lo numa só viagem.

2

Lançado em 1566, este

galeão alemão era o maior navio do seu tempo. Tinha 78,3 m, levava mil homens e deslocava duas a três mil toneladas de água.

São João Baptista

3

Conhecido como Botafogo

pelos seus 366 canhões de bronze, este galeão português era o navio de guerra mais poderoso quando foi lançado, na década de 1530.

Ark Raleigh

4

Galeões de Manila

5

Pertença do explorador

isabelino Walter Raleigh, foi rebatizado Ark Royal em 1587 como navio-estandarte da Marinha Real. Desde então houve quatro HMS Ark Royals.

Estes galeões espanhóis

faziam viagens regulares a partir de 1565 entre as Filipinas e o México. Cheios de bens de comércio da China, eram uma tentação para os piratas.

A Armada Invencível que tentou invadir Inglaterra em 1588 tinha 22 galeões na sua frota?

Galeões de bordo raso A resposta de Inglaterra ao galeão espanhol foi o Foresight, de bordo raso. Introduzido em 1570 pelo almirante John Hawkins, o seu casco mais longo e conveses mais baixos davam-lhe um perfil mais elegante, tornando-o mais rápido. O Foresight serviu de modelo aos galeões ingleses posteriores. Este novo tipo de navio de guerra também utilizava canhões

montados sobre quatro pequenas rodas, o que reduzia o coice e permitia que os galeões tivessem armas maiores, com mais alcance e poder de fogo. Os galeões de bordo raso superaram a Armada Invencível em 1588, frustrando uma tentativa de invasão e ajudando Inglaterra – e depois a Grã-Bretanha – a impor-se como potência naval.

Convés principal

Os canhões mais leves estavam montados no exposto convés principal. Os marinheiros também podiam disparar os seus mosquetes daqui caso o inimigo se aproximasse o suficiente.

Grande camarote

Os aposentos do comandante eram os maiores, muitas vezes com grandes janelas.

Canhões da popa

Havia muitas vezes armas pesadas na popa, para impedir que outros navios tentassem atacar de surpresa o galeão.

Convés das armas

Os canhões mais pesados ficavam abaixo dos conveses para reduzir a tensão sobre a estrutura causada pelo coice.

Cozinha

As cozinhas tinham uma lareira sobre tijolos para impedir que o calor ou faíscas pegassem fogo ao navio.

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Leme

O leme longo foi outra inovação do galeão, dando-lhe maior manobrabilidade.

Quero Saber | 085

© DK Images

A nau Antes do galeão, a nau (ou carraca) era a embarcação de guerra e carga de eleição. Popularizada pelos portugueses no século XV, a partir de um anterior modelo genovês, era suficientemente grande para ter estabilidade em alto-mar e para transportar provisões bastantes para longas viagens pelo Pacífico e Atlântico. Os conveses altos protegiam a nau dos ataques de navios mais pequenos, mas dificultavam a navegação na direção do vento – falha de conceção que o galeão viria corrigir. Tal como o galeão, contudo, a nau utilizava uma revolucionária combinação de três ou quatro velas quadradas e uma vela latina triangular, sendo o primeiro barco à vela moderno. Das inovações mais importantes na construção naval, a nau impulsionou a era da exploração marítima. Uma das mais famosas é a Santa Maria, navio almirante de Cristóvão Colombo.


Armas & guerra

Aríetes brutais

Como eram construídas e usadas estas potentes armas de cerco? Os aríetes eram das máquinas de guerra mais comuns desde a antiguidade até à Idade Média, dando muitas vezes às forças ofensivas acesso à fortaleza ou cidade fortificada do inimigo. Um aríete típico consistia numa estrutura retangular com rodas a partir da qual um grande tronco de árvore era pendurado com cordas ou correntes. O tronco suspenso era então embalado para trás e para a frente dentro da estrutura até balançar com muita força. Ao colocá-lo frente a um obstáculo como um portão ou muralha, o aríete podia transferir muita energia para o alvo, destruindo muitas vezes a defesa. Contudo, para um aríete ganhar velocidade, era necessária uma equipa de soldados para o colocar em posição e controlar o seu movimento oscilatório – o que é difícil quando se está a ser alvo de armas de arremesso. Os aríetes incluíam por isso frequentemente coberturas de madeira triangulares revestidas com peles de animais molhadas. Este “escudo” protegia os soldados de ataques de projéteis diretos e também do fogo, apagando quaisquer setas em chamas. A era do aríete terminou muito graças à proliferação da pólvora e dos explosivos na Baixa Idade Média, com os soldados sapadores a usarem estes dispositivos incendiários para derrubar portões e muralhas mais depressa.

Teto

Uma placa de madeira coberta com peles de animais molhadas protegia os soldados de projéteis e também extinguia as setas em chamas.

Correntes

Devido ao imenso peso do tronco, corda espessa ou grandes correntes de metal eram tipicamente usadas para suportar a maioria da carga.

Cabeça

A extremidade do aríete podia ser talhada para ficar pontiaguda e era então revestida a aço – o que evitava que o tronco fendesse quando era batido contra portas ou muralhas.

Pegas

Aparafusadas à parte lateral do tronco, as pegas de metal permitiam direcionar melhor o aríete e aumentar o seu balanço. (Nos aríetes “portáteis” também eram usadas alças.)

Que outras armas eram usadas na guerra de cerco? Trabuco

Balista

Máquina de guerra capaz de lançar projéteis grandes contra alvos distantes, a balista era uma opção excelente para perturbar colunas de infantaria. Desenvolvida pelos antigos gregos, funcionava com molas de torção e enormes espigões de madeira impelidos a alta velocidade quando libertados a grandes distâncias. Foi reduzida ao longo dos séculos até se tornar manual.

Torre

Uma arma de cerco simples mas muito eficaz se usada corretamente, era literalmente uma torre de madeira móvel sobre rodas, que permitia às tropas escalarem muralhas inimigas com alguma segurança. Depois de subirem pela cavidade interna protegida, os soldados saíam com o descer de uma pequena ponte levadiça, carregando sobre as ameias inimigas.

© Thinkstock

Uma das armas de cerco mais úteis alguma vez criada, o trabuco tipo catapulta permitia que um exército bombardeasse as muralhas e edifícios interiores de uma cidade com enormes pedras, bolas de terra em chamas e até animais mortos (espalhando doenças e o pânico entre os habitantes). Mas os trabucos exigiam uma grande equipa para funcionarem eficazmente.

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SABIA QUE... Graças à armadura de placas, a espada passou a ser usada mais como arma de estoque do que de corte?

Armaduras de placas Este tipo de armadura mudou o combate medieval, mas como era criada?

Furar a armadura

Tal como a armadura de placas foi desenvolvida para proteger contra espadas e lanças, novas armas foram desenvolvidas para tentar contornar estes incríveis novos fatos de aço. Tais armas incluíam estoques – espadas pontiagudas com mais de um metro de comprimento –, a par de pesadas alabardas, que consistiam em machados montados em hastes. Embora golpes de espadas dificilmente danificassem armaduras, a força bruta podia ser conduzida pelo metal com efeitos devastadores, pelo que martelos de guerra e clavas se tornaram mais comuns. Também as artes marciais medievais evoluíram, com o “Kunst des Fechtens” (“arte de lutar”) – um estilo de esgrima ensinado no Santo Império Romano –, que se focava em pontos fracos como pescoços, axilas e articulações desprotegidos. www.querosaber.sapo.pt

A armadura explicada

Elmo fechado

O elmo fechado cobria totalmente a cabeça e o pescoço, podendo a viseira ser levantada.

A anatomia de uma armadura do séc. XVI.

Brafoneira

Em armaduras para justas, a peça que protegia o ombro e a região superior do braço tinha um recorte lateral, para acomodar a lança.

Couraça

Gibão

A couraça assentava sobre as ancas, e não nos ombros, pois o peso era demais para o corpo suportar por longos períodos.

Cotoveleira

Guante

Um gibão de tecido ou de couro acolchoado era usado sob a armadura, para maior proteção e conforto.

Uma articulação fortemente blindada. Tem abas para proteger a parte de dentro do braço durante as justas.

Luvas de metal especiais para justas também estavam disponíveis. Estas eram mais fortemente blindadas, mas fixas na posição de segurar a lança.

Escarcela

Proteger a coxa era importante num combate a cavalo em que o cavaleiro estava exposto a golpes ascendentes de guerreiros a pé.

Espada medieval (montante)

A arma tradicional do cavaleiro medieval, tanto em combate como em torneios, esta espada era usada para golpear.

Joelheira

A joelheira blindada também tem abas que protegem a parte de trás da articulação num combate a cavalo.

Greva

Enquanto as grevas dos séculos XIV e XV terminavam em bico, as do século XVI em diante eram arredondadas.

Quero Saber | 087

© Thinkstock

Embora armaduras feitas de faixas de metal já fossem envergadas na Grécia Antiga, o uso de armaduras de placas (ou arneses) totalmente fechadas data do início do século XV. Associada a cavaleiros europeus que combatiam a cavalo, a armadura de placas era usada por aqueles que podiam dar-se a esse luxo – independentemente do seu estatuto –, defletindo facilmente golpes de espada e lança. A armadura em combate caiu em desuso em meados do século XVII, dado o maior poder das armas de fogo, mas prevaleceu em justas. Armeiros especializados – e não ferreiros – fabricavam armaduras em oficinas, podendo muitos dos melhores ser encontrados no sul da Alemanha e norte da Itália, junto a minas de ferro. Primeiro, um ”martelador” – geralmente um aprendiz – aquecia barras de ferro na forja, até ficarem maleáveis. Depois, o ferro podia ser martelado sobre uma bigorna. Cada segmento da armadura, da ponta do elmo à ponta da greva, tinha por molde uma bigorna com um formato diferente. A armadura completa era, então, entregue a um polidor, que a polia até à espessura correta com uma mó controlada por uma azenha. Por fim, todas as peças individuais eram montadas, geralmente pelo armeiro-mestre, pois esta era a tarefa mais complexa. Este adicionava, ainda, o acolchoamento que permitia que a armadura assentasse confortavelmente no corpo e as fivelas de couro que a seguravam.


ARMAS & GUERRA

Jerusalém sob cerco

O Cerco de Jerusalém Saiba como a cidade foi cercada na Primeira Cruzada, em 1099.

Das batalhas romanas à I Guerra Mundial, a cidade já viveu muitos conflitos. Na sua longa História, a cidade de Jerusalém já foi cercada mais de 20 vezes. É uma das cidades mais antigas do mundo, tendo sido palco de guerras civis romanas, cruzadas e até uma guerra mundial. O primeiro cerco da nossa era deu-se quando a cidade pertencia ao Império Romano, no ano 70. Incitados pela Grande Revolta Judaica em 66, e encolerizados pelo roubo de uma sinagoga por parte de um oficial romano, os judeus revoltaram‑se contra os opressores e estabeleceram Jerusalém como o centro da rebelião. O imperador Vespasiano ordenou então que uma força liderada pelo general Tito retomasse a cidade. Aríetes, catapultas e torres de cerco foram utilizadas para destruir os muros e foram roubadas relíquias do templo. O Arco de Tito, em Roma, foi erigido para comemorar esta vitória. Contudo, os mais famosos de todos os conflitos de Jerusalém talvez tenham sido as Cruzadas. Na Primeira Cruzada de 1099, um exército cristão com 12.000 soldados de infantaria e 1.500 cavaleiros tomou a cidade. Foram usadas torres de cerco e escadas para derrubar as defesas de uma

Cidade intramuros

Na cidadela de Jerusalém ficavam alguns dos locais mais sagrados do Islão, como a Mesquita de Al-Aqsa, o Domo da Rocha e a Torre de David.

das metrópoles mais bem defendidas da época. Esta vitória gerou um contra-ataque de Saladino, da dinastia aiúbida, em 1187. A cidade, ainda sob domínio cristão, foi defendida por Balião de Ibelin. Inicialmente, Saladino negociou uma rendição pacífica, mas após esta ser rejeitada, começou a cercar Jerusalém. Saladino concentrou os seus ataques na Torre de David e na Porta de Damasco. Rechaçado, voltou a atenção para o Monte das Oliveiras, que não tinha porta. Esta manobra revelou-se uma masterclass tática e, quando o reduto cristão estava prestes a cair, Balião propôs uma rendição negociada, com a qual Saladino concordou. A Terceira Cruzada, liderada por Ricardo, Coração de Leão e Filipe II, em 1189, pretendia reclamar a cidade, mas falhou. O grande cerco seguinte ocorreu séculos mais tarde, em 1917, durante a I Guerra Mundial. Numa batalha entre os britânicos e o Império Otomano, a cidade caiu em mãos aliadas ao fim de vários dias e permaneceu sob o jugo britânico até 1948, quando a Guerra Israelo-Árabe a dividiu entre Israel e a Jordânia, conduzindo a décadas de conflito interno. Hoje, Jerusalém é a capital de dois estados soberanos: Israel e Palestina.

Atacar muralhas

Foi lançada uma ofensiva direta e encostadas escadas às ameias, à medida que os cruzados tentavam entrar na cidade.

Porque é Jerusalém tão cobiçada? Há mais de 2.000 anos que Jerusalém é de grande importância religiosa para judeus, cristãos e muçulmanos. Para os cruzados, precisava de ser recuperada ao Islão, pois era essencial para as peregrinações. No judaísmo, Jerusalém é sagrada e muitas vezes chamada de Sião. Os judeus acreditam que a

A caminho Nov. 1095 cristãos do de Jerusalém Exércitos Ocidente, encorajados

Jerusalém foi o principal alvo da Primeira Cruzada – eis como se desenrolou a conquista.

088 | Quero Saber

pelo papa Urbano II, decidem recapturar a Terra Santa aos muçulmanos.

cidade foi criada para eles por Deus. Para o Islão, contém uma das mesquitas mais sagradas depois da de Meca e chama-se Al-Quds. Jerusalém também foi geograficamente relevante para vários impérios, como posição no Médio Oriente para campanhas militares e comércio.

Dez. 1096

Forças ocidentais chegam à capital bizantina Constantinopla para iniciar a guerra.

Jun. 1097 A cidade de Niceia, na Anatólia, é capturada. Segue-se um cerco de oito meses a Antioquia (à direita).

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CINCO FACTOS

Gibraltar

1

CERCOS FAMOSOS

França e Espanha tentam

Álamo

tomar o reduto britânico no Grande Cerco de Gibraltar, que dura mais de três anos. Os britânicos resistem, apesar dos bloqueios navais.

2

Candia

Cerco da Guerra de

Independência do Texas, em 1836, é famoso pela bravura de 200 texanos que resistiram mais de 13 dias a 6.000 mexicanos.

3

Constantinopla

Com mais de duas décadas,

o Cerco de Candia é o mais longo da história. Em 1648, 60 mil otomanos atacaram a cidade veneziana em Creta, que sucumbiu em 1669.

4

Estalinegrado

Em 1453, 10.000 homens

enfrentaram 100.000 otomanos. Canhões e barcos de guerra levaram não só à rendição da cidade, mas à queda do Império Bizantino.

5

Em 1942, esta cidade

soviética foi cercada por forças alemãs. Seguiram-se batalhas rua a rua, até à vitória russa e um volte-face na II Guerra Mundial.

SABIA QUE... O filme de 2005 Reino dos Céus é baseado no Cerco de Jerusalém de 1187?

Cercar a cidade

Com certas áreas fortemente defendidas, os atacantes alargaram o assalto e visaram áreas mais fracas das muralhas.

Torres de cerco

Foram construídas torres enormes com a ajuda de aliados genoveses. Hordas de cruzados puderam assim atacar por cima dos muros.

Defesa

Os defensores ripostaram com projéteis lançados dos baluartes, e armas de longo alcance para derrubar as escadas e atrasar o avanço cristão.

Acampamento (fora da imagem)

Os cruzados chegaram a 7 de julho e montaram acampamento. Diz-se que seriam cerca de 13 mil homens.

Máquinas de cerco

Foram construídas armas como trabucos e manganelas para ataques à distância às fortificações da cidade.

O primeiro embate da campanha de Dorileia resulta em pesadas baixas, mas numa vitória dos cristãos.

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Dez. 1097

Os muçulmanos, liderados por Duqaq e Ridwan, ripostam duas vezes em Harim, mas são repelidos.

Jun. Jun. 1098 1099 O Cerco

Na Batalha do Orontes, um exército islâmico de 75 mil homens, de moral em baixo, é derrotado por 15 mil cristãos.

de Jerusalém tem início e os cruzados saem vitoriosos em julho (à direita).

Ag. 1099

Na Batalha de Ascalon, uma força egípcia de 50 mil homens é derrotada pelos cruzados. Com Jerusalém sob controlo cristão, termina a Primeira Cruzada.

Quero Saber | 089

© Getty; Thinkstock

Jul. 1097


ARMAS & GUERRA

Combates aéreos da I Guerra Mundial

Asas

Com 8,5 m de comprimento e feitas de madeira e cabos, as asas faziam do Camel um dos aviões mais ágeis da I Guerra Mundial.

Como é que os caças se envolviam em épicas batalhas de proximidade para ganhar a supremacia nos céus? O avião não havia sido inventado há muito tempo quando foi levado para a guerra. Inicialmente, eram uados em reconhecimentos, espiando os movimentos do inimigo, mas a tecnologia evoluiu e a sua função também. Quando as forças inimigas combatiam na I Guerra Mundial, os caças tentavam obter vantagem para bombardeamentos e apoio aéreo. Assim, os chamados dogfights (combates aéreos de proximidade) rebentavam entre os lados opostos. Existem duas formas principais de ganhar vantagem neste tipo de batalha: ter a melhor tecnologia moderna ou ser o melhor piloto. Ao início, o armamento dos combates aéreos era muito primitivo, com granadas largadas

Abril sangrento Em abril de 1917, a guerra ainda durava na frente ocidental. Para tentar ganhar vantagem no impasse, os Aliados avançaram para a cidade francesa de Arras. Precisavam de apoio aéreo suficiente para serem eficazes. Os alemães Fokker E.I e Albatros D.II e D.III haviam derrotado os britânicos Airco DH.2 e Factory F.E.8, no que ficou conhecido como o “flagelo” Fokker. As falhas dos britânicos foram ainda maiores porque perderam mais de 200 aeronaves, e os alemães 66. A força aérea alemã era liderada pelo “Barão Vermelho”, Manfred von Richthofen, mas os britânicos ririam por último. Apesar das graves perdas, os Aliados tiveram vitórias significativas: fizeram muitas missões de reconhecimento e impediram os bombardeiros alemães de atingirem alvos importantes. Depois, com a introdução dos Sopwith Pup e Camels, as forças alemãs tiveram de passar a ser muito mais defensivas e a Batalha de Arras seria um ponto de viragem na guerra.

090 | Quero Saber

dos aviões, mas rapidamente estas foram substituídas pela primeira arma de avião, uma torre multidirecional. Mais tarde foram melhoradas para metralhadoras rápidas que disparavam através da hélice, desenvolvidas pelo piloto francês Roland Garros, que acrescentou uma placa de aço para impedir que as balas batessem nas pás. Esta foi depois desenvolvida pelo alemão Anton Fokker, que introduziu um interruptor que permitia disparar por entre as rotações da hélice. Pouco depois surgiu a invenção da munição tracejante, que ajudou à precisão do disparo. Para além de armas de fogo de topo, também era exigida uma excelente capacidade de pilotagem.

Os britânicos abriram a Central Flying School em 1912 e ensinavam avançadas manobras de combate aéreo, como tonneaux, mergulhos e espirais para iludir o inimigo. A separação defensiva era quando dois caças com o inimigo atrás viraram rapidamente e se colocavam atrás dos perseguidores. Assim, os papéis invertiam-se e o adversário passava a estar na mira. O primeiro combate aéreo de proximidade de sempre envolveu o tenente Norman Spratt, do Royal Flying Corps, que abateu um caça alemão a 28 de agosto de 1914. Ganhou o nome, em inglês, de dogfight (luta de cães), pela forma como os aviões se perseguiam em círculos apertados, para que o inimigo não conseguisse ripostar.

Top 5: ases dos ares

Armamento

Os Camels abateram 1.294 aviões inimigos durante a guerra, utilizando as suas quatro bombas de 9 kg e duas metralhadoras Vickers .303.

Os pilotos que personificaram os dogfights.

Louis Strange

Edward “Mick” Mannock

Um dos ases mais famosos da I Guerra Mundial, era do Royal Flying Corps e criou “15 regras” para os pilotos de caças britânicos.

Petr Nesterov

Criou muitos sistemas de armas, incluindo uma correia de segurança para o artilheiro estar de pé e disparar em mais direções.

Juntamente com o francês Adolphe Pégoud, foi tido como o primeiro piloto a completar a manobra Loop the Loop.

Abateu 45 aviões na I Guerra Mundial e foi o melhor piloto de caças britânico. Postumamente recebeu a Cruz Vitória.

Unidades construídas: 5.490 Entrada em serviço: 1917 Comprimento: 5,7 m Altura: 2,6 m Vel. máxima: 185 km/h Autonomia: 485 km

Manfred von Richthofen

Albert Ball

Os números Sopwith Camel

O “Barão Vermelho” alemão terá abatido 88 aeronaves aliadas na I Guerra Mundial, apesar de não ter formação de piloto no início da guerra.

Tipos de caças As diferentes funções dos caças da I Guerra Mundial. WWW.QUEROSABER.SAPO.PT


RECORDES A MAIOR VITÓRIA

86

A DIVISÃO BLACK FLIGHT No verão de 1917, esta divisão canadiana pintou os seus triplanos Sopwith de preto e abateu 86 aviões inimigos da unidade alemã JG 1. Perdeu apenas três caças.

SABIA QUE... Na I Guerra Mundial, a formação de um piloto britânico durava umas meras 30 horas?

Início da descida

No início da manobra, o piloto desliga o motor e entra num estado de queda livre.

Escolha de direção

A primeira asa a parar cai primeiro e o piloto engrena o leme totalmente para permitir a descida.

A rotação

Marcas

Ao invés da bandeira do Reino Unido, o britânico Royal Flying Corps marcava os aviões com uma insígnia ainda hoje utilizada.

A rotação começa e atinge um ritmo definido enquanto a queda vertical continua.

Motor Hélice

O mesmo homem podia ser piloto e artilheiro, pois as duas armas disparavam através da hélice, usando um mecanismo de sincronização.

Com um motor rotativo Clerget 9B, o Camel era capaz de produzir 130 cv de potência.

Recuperação

De volta ao normal Intercetor

Caça noturno

Caça diurno

Aeronave-chave: Aeronave-chave: B.E.2 Aeronave -chave: DFW C.V Sopwith Pup Os Zeppelins varriam as Não tão técnico como o Destinava-se especificamente cidades e os britânicos caça noturno, mas era veloz a destruir bombardeiros para respondiam com caças noturnos e ágil, para missões de proteger áreas-chave e que usavam balas incendiárias reconhecimento e campos de batalha. para atacar os dirigíveis. combates aéreos.

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Bombardeiro

Aeronave-chave: Sopwith Salamander Perto do fim da guerra, alguns aviões tinham duas funções: manter a supremacia aérea e bombardear alvos terrestres.

O motor e o avião voltam ao normal, pois a manobra está completa.

© Ian Moores Graphics; Peters & Zabransky

Terminado o procedimento, o leme volta a neutro e depois é colocado na posição de deslocação para a frente, para voltar a ganhar impulso nessa direção.


O primeiro telefone

097

INDÚSTRIA & INVENTOS 094 Fiação de algodão

106

096 As origens

107 O primeiro

Um dos pilares da Revolução Industrial.

do helicóptero

A aeronave sem asas no céu pela primeira vez.

096 Relógios de bolso

O que se passa no interior destes dispositivos.

097 ”Madame

Guilhotina”

O método de execução em França até 1981.

097 Primeiro telefone A comunicação de longa distância imediata.

098 A turbina a vapor de Parsons

O gerador que fez do vapor uma força energética.

100 Ferrovias de

cremalheira

Descubra como as locomotivas subiam encostas íngremes.

102 Conservação

da Mona Lisa

Técnicas utilizadas na sua manutenção.

104 Câmaras escuras Sua ciência e história.

106 Câmara pinhole

Como um pequeno furo traz luz à escuridão.

092 | Quero Saber

Cabina fotográfica

A história da democratização do retrato.

submarino elétrico

Visite o Goubet I.

107 Homem de Piltdown Um falso elo perdido...

108 Retroprojetor

O seu funcionamento.

108 Primeiro aspirador

Como este aparelho limpava casas no século XIX.

109 Gramofone

109

Fogo por arco

A invenção que trouxe o som para dentro de casa.

Fiação de algodão

109 Fogo por arco

094

Fogueiras por fricção.

110 Fabrico de espelhos Conheça todo o processo.

110 Cinema com som A revolução dos filmes sonoros.

111 Sistema Braille

Saiba como uma criança criou um alfabeto para pessoas invisuais.

111 Telefones de teclas

Como alterámos a forma de falarmos uns com os outros.

112 Extração de sal Como este mineral era recolhido antes da Era Industrial.

107

O homem de Piltdown


113

Microfilme

Ideal para mensagens secretas.

113 Produção de olaria A roda de oleiro mudou o fabrico de cerâmica.

114 Muros em pedra seca Uma estrutura baseada na gravidade e na habilidade.

114 Dentro de um metrónomo

Saiba tudo sobre estes instrumentos do tempo.

115 Sinclair C5

A história deste triciclo elétrico.

096

115 Câmaras

instantâneas

Como funcionam as tradicionais Polaroid.

Relógios de bolso

116 Moinhos de água

Como estes sistemas antigos aproveitavam a força da água.

117 Comboios Pullman

Porque eram estas carruagens dignas de uma rainha.

118 Triciclos para vias férreas

Velocípedes de tração humana.

118 Aparelho auditivo A sua evolução.

119 Gira-discos

A ciência por detrás do vinil.

119 Bolas de râguebi

As raízes da modalidade.

097

120 Cunhagem de moedas © Thinkstock; DK images; SPL

A “Madame Guilhotina”

Quando começou a fresagem.

120 Como era curtida a pele

Todo o processo.

121 Relógios de cuco

O seu interior ao pormenor.

122 A bordo

de um baleeiro

Explore estes navios especiais do século XIX. Quero Saber | 093


INDÚSTRIA & INVENTOS Escola

Trabalhar com algodão

Como muitos proprietários ofereciam uma educação básica aos filhos dos operários, era comum existirem instalações escolares nas instalações da fábrica. As crianças só tinham aulas algumas horas por dia.

As principais funções e componentes à lupa.

Fardos de fibra

Vigilantes

Depois de limpo e alisado, o algodão descaroçado é inserido na máquina de fiar, em fardos cilíndricos.

Fusos

Os muitos fusos da máquina recolhem as fibras fiadas (fio) repetidamente até estarem perfeitamente formadas.

A máquina de fiar estava a cargo de um único operário de cada vez, o vigilante.

Fios partidos

Duas crianças descalças desempenham tarefas perigosas como ligar os fios partidos em poucos segundos com a máquina em movimento.

Máquina de cardar

Armação móvel

Os fusos são suportados por uma armação que lhes permite moverem‑se com fluidez enquanto transformam as fibras em fio de algodão para tecer.

Fiação de algodão

Uma das primeiras fases do trabalho era desenriçar as fibras em bruto numa máquina de cardar, que as limpava, adelgaçava e misturava, formando uma fibra solta que podia depois ser fiada.

Compreenda o funcionamento de um dos pilares da Revolução Industrial e de que forma o algodão mudou o mundo.

No século XIX, a produção de algodão era um dos empreendimentos mais lucrativos. A sociedade ocidental há muito que se dividira num sistema de duas classes, com a aristocracia a controlar mais de 90% da riqueza e o resto da população quase sem nada. A Revolução Industrial alterou a situação, com uma nova classe média de comerciantes a tornar‑se uma potência financeira significativa. A ascensão da classe média trouxe um aumento da procura por produtos têxteis de qualidade. Mas embora a procura por algodão tivesse aumentado, a indústria do algodão ainda estava sobretudo limitada a um conjunto de empresas familiares – pequenos negócios assentes no trabalho manual, que já não conseguiam acompanhar a procura. Máquinas de funcionamento autónomo como a máquina de fiar automática e o tear mecânico foram entretanto

Pontos históricos... Siga os marcos mais importantes da evolução da exploração do algodão com esta cronologia resumida.

094 | Quero Saber

inventadas, e permitiam tratar, fiar e tecer o algodão a uma escala que satisfazia a procura, mas que também tornou as empresas familiares obsoletas. Assim nasceram as fábricas de fiação de algodão. O pessoal era constituído por alguns trabalhadores dos negócios artesanais e milhares de outros; os operários já não tinham de ser proficientes em técnicas tradicionais, como a costura, pois bastava que conseguissem trabalhar com as máquinas que faziam tudo por eles. As condições eram más para os operários, com pessoas de todas as idades, incluindo crianças, expostas a equipamento potencialmente incapacitante e ambientes quentes e poeirentos que muitas vezes levavam a doenças fatais. A perda de dedos e até membros ao operar a maquinaria era frequente. Apesar deste cenário, o número de postos de trabalho disponíveis – tanto para mulheres como homens, garantindo às primeiras um

5000 a.C. Bolas de algodão tratado e pedaços de tecido de algodão em grutas no México datam de há cerca de 7000 anos.

3000 a.C.

A civilização de Harappa (Punjab ocidental) cultiva, fia e tece algodão durante a Idade do Bronze.

ordenado independente – levou a classe operária a afluir às fiações, com pessoas vindas de todas as regiões a procurar os grandes centros da indústria algodoeira. Para incentivar o trabalho, muitos proprietários de fábricas ofereciam “pacotes” com que os operários nunca tinham sonhado, incluindo amiúde alojamento e até educação básica para os filhos. À medida que a Revolução Industrial chegou ao fim, a indústria da fiação começou a entrar em declínio no ocidente. No início do século XX, o fio e tecidos de algodão já eram produzidos em todo o mundo, com novos centros industriais a surgir na Ásia. Em meados do século, a era da indústria da fiação de algodão já tinha os dias contados.

800

Comerciantes árabes começam a importar algodão do Oriente para a Europa em grandes quantidades.

1500

O algodão é usado por todo o mundo, com a sua produção limitada a unidades artesanais.

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Frente a Frente

FATAL

MAIS FATAL

1. Têxtil

Uma pequena falha de concentração com máquinas potentes de cortar e rasgar podia causar perdas de membros e até a morte por hemorragia ou infeção.

FÁBRICAS LETAIS

2. De carvão

A MAIS FATAL

A extração do carvão já era arriscada, mas o processamento em centrais mal ventiladas também causava amiúde a morte prematura por doença pulmonar.

3. Metalúrgica A produção de metais em forjas tremendamente quentes e perigosas levava inevitavelmente a queimaduras e mortes horríveis.

SABIA QUE... Em 1833, a maior fábrica de fiação de algodão de Inglaterra empregava mais de 1.500 pessoas?

Tear mecânico

Escritórios

Depois de transformado em fio, o algodão podia ser tecido em diferentes materiais têxteis, em grandes teares mecânicos.

A fiação era um negócio e, com muitos fatores a ter em consideração, como estabelecer plantações noutros países e importar e proteger os carregamentos de algodão, toda a administração tinha lugar em escritórios fora da área de produção.

Máquinas de fiar

A peça central de maquinaria em qualquer fábrica de fiação de algodão eram as máquinas de fiar automáticas, que transformavam em fio tecível as fibras previamente tratadas, automaticamente e a alta velocidade.

Roda hidráulica A energia era captada através de uma roda hidráulica e transferida para as máquinas da fábrica por meio de uma casa das máquinas, com uma série de engrenagens e roldanas.

1730

São usadas as primeiras máquinas automáticas para tratar e fiar algodão.

1741

É aberta a primeira fábrica de fiação mecânica de algodão a nível mundial, pelos engenheiros ingleses Lewis Paul e John Wyatt.

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1794

O inventor norte-americano Eli Whitney patenteia a cotton gin, um descaroçador de algodão, que separa as fibras das sementes.

Área de armazenamento

Com o advento das máquinas de fiar automáticas e dos teares mecânicos, os tecidos passaram a ser produzidos a um ritmo superrápido. Como tal, a fiação tinha de ter espaço para armazéns arejados, de modo a manter os produtos seguros e secos antes da distribuição.

1824

Richard Roberts, inventor inglês, cria a máquina de fiar automática, que fia algodão a um ritmo inimaginável para os modelos manuais.

1855

Em meados do século XIX, a produção de algodão entra numa era dourada, com a construção de enormes fiações industrializadas.

1950

Cem anos depois, muitas fiações fecham e as que subsistem tornam‑se cada vez mais automatizadas, com motores elétricos.

Quero Saber | 095

© DK Images; Getty; Grjatoi

Casa das máquinas

Na época, a energia hidráulica era a única fonte energética capaz de alimentar uma fábrica de fiação de algodão. A energia era captada através de uma enorme roda hidráulica.


Indústria & inventos

As origens do helicóptero Como é que subimos aos céus numa aeronave sem asas pela primeira vez? Horatio Phillips a utilizar um motor a vapor para impelir uma máquina voadora vertical. Mas foi o francês Paul Cornu que usou uma estrutura simples e um par de rotores ligado por uma correia a um motor a gasolina para erguer uma pessoa do solo pela primeira vez. O Fa-61, construído por Heinrich Focke em 1936, foi o primeiro

a demonstrar o voo controlado com um leme e Igor Sikorsky impulsionou este desenvolvimento em 1940 com um rotor na cauda para melhorar a direção. Por fim, na década de 1940, o helicóptero R-4 de Sikorsky, com capacidade para avançar rapidamente e com um maior controlo, tornou-se o primeiro helicóptero comercialmente viável.

Física do voo de helicóptero

O helicóptero de Cornu

Conheça o primeiro helicóptero capaz de erguer um piloto.

Pás do rotor

Dois rotores forneciam propulsão para erguer o helicóptero no ar. Rodavam em direções opostas para evitar o binário de reação.

Asa de direção Correia

Ligando os rotores ao motor, a correia giratória acionava a rotação dos rotores.

Motor a gasolina

Este motor Antoinette de 18 kW (24 cv) foi, de certo modo, um avanço tecnológico para a época, utilizando gasolina em vez de vapor.

Asas cobertas de tecido eram colocadas no turbilhão da hélice dos rotores e podiam ser manobradas para direção e orientação.

Relógios de bolso explicados Descubra o que se passa no interior destes relógios portáteis… O relojoeiro alemão Peter Henlein é considerado o pai dos relógios de bolso. O seu design baseado numa mola envolve dar corda a um relógio e comprimir uma mola em espiral. A expansão estável da espiral fornece a energia para as rodas dentadas girarem, movendo o ponteiro através de uma roda. Os primeiros relógios de bolso tinham só o ponteiro das horas, mas, com o tempo, foram adicionados ponteiros de minutos e segundos, acionados por rodas interligadas. No início, era preciso dar corda aos relógios de bolso duas vezes por dia, quando o ponteiro das horas completava duas rotações, mas com a inclusão de mais ponteiros, passou a uma vez. O conceito de Henlein foi tão bem-sucedido que o design da mola principal ainda é usado atualmente, apesar de ter mais de 500 anos.

096 | Quero Saber

No interior...

O que faz estes relógios funcionarem?

Rodas das horas e dos minutos

Uma chave externa dá corda à mola principal, que está sob as rodas e se expande firmemente para impelir todas as partes móveis.

Roda central

É a peça sobre a qual se encontram todas as outras rodas. O eixo frontal da roda central aciona as rodas dentadas que giram os ponteiros no mostrador.

Rolamentos

Interligam-se e são movidas pela expansão firme da mola principal a fazer pressão contra a roda central.

Mola principal

O helicóptero é um enigma do voo, pois parece que não deveria funcionar. Mas com pilotagem cuidadosa, chega a locais que os aviões não atingem. O motor do helicóptero roda as pás a alta velocidade. Ao pressionar a alavanca de passo coletivo, o piloto ergue as pás do rotor a um ângulo específico. As pás geram sustentação à medida que rodam depressa, com o rotor da cauda a fornecer força lateral para impedir que o helicóptero se descontrole ao levantar. Para avançar, as pás são inclinadas para baixo à frente, o que gera mais sustentação traseira, impelindo o helicóptero para a frente. Usam-se pedais para controlar a velocidade do rotor da cauda, que dirige o helicóptero para a esquerda ou para a direita.

Volante regulador

É o elemento de registo do tempo do relógio. Oscila para trás e para a frente a uma velocidade regular para garantir que os ponteiros não se movem demasiado depressa ou devagar.

Pedras preciosas como rubis eram usadas dentro dos relógios como rolamentos, ajudando as peças mecânicas a moverem-se suavemente, reduzindo o desgaste.

Revestimento

Os primeiros relógios de bolso tinham um revestimento de aço, que era forte e barato. Mais tarde, versões mais requintadas usavam bronze, ouro e prata.

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© Thinkstock; Sikorsky Aircraft Corporation; Peter Davies/MOD

Leonardo da Vinci é a primeira pessoa registada a considerar o helicóptero como um meio de transporte. Desenhou um giroscópio aéreo em 1483, com pás giratórias e uma hélice de ferro para cortar o ar. No final do século XIX, surgiu o grande avanço seguinte em matéria de voo em helicóptero, com o inglês


Sabia que?

Cabeças decapitadas

Várias testemunhas davam conta de cabeças que se moviam, falavam ou piscavam os olhos alguns segundos após a decapitação.

A “Madame Guilhotina” Durante a Revolução Francesa, o professor de anatomia Joseph-Ignace Guillotin propôs que a pena capital em França fosse a decapitação, em pessoas de todas as classes sociais, por este ser o método mais humano disponível. Antoine Louis, da Academia de Cirurgia, desenhou a máquina que ficou conhecida como guilhotina, depois de se concluir que a decapitação por espada era impraticável. A guilhotina é composta por uma moldura de madeira com uma lâmina, em ângulo, que corre ao longo das ranhuras. Assim que o carrasco levanta a lâmina com uma corda, o condenado é colocado numa plataforma com a cabeça numa cavidade redonda, designada por luneta. O carrasco larga a corda, permitindo à lâmina que deslize pelas ranhuras. Até à abolição da pena capital em 1981, a França continuou a utilizar a guilhotina como execução. Apesar de continuar a ser legal em outros países, a guilhotina não é utilizada desde então.

A estrutura tinha ranhuras que permitiam a descida da lâmina.

As lâminas podiam ser curvas ou planas, mas em ângulo funcionavam melhor. © Thinkstock

A guilhotina foi o método oficial de execução em França até 1981.

Algumas lâminas eram subidas com uma manivela colocada na estrutura.

A cabeça do condenado era imobilizada pela luneta.

Alguns carrascos colocavam um caixão perto para apanhar as cabeças.

“ Lâminas em ângulo funcionavam melhor na guilhotina.”

O primeiro telefone Mais tarde, quando os telefones começaram a ser fabricados, foi acrescentado um gancho ao dispositivo para o ligar ou desligar da rede telefónica.

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3. Gancho

1. Bocal

Quando uma pessoa falava para o bocal, as vibrações acústicas afetavam o ferro da membrana dentro do transmissor, o que resultava numa variação da voltagem que, depois, convertia a energia acústica em elétrica.

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Os primeiros telefones fabricados tinham três partes: uma coluna, um microfone e o gancho, mas o primeiro exemplar era ainda mais básico. Alexander Graham Bell, a quem é atribuída a primeira patente de telefone, criou um instrumento com um transmissor formado por um eletroíman duplo, na frente do qual estava uma membrana esticada que rodeava um anel que, por sua vez, fixava uma peça de ferro no meio. O bocal estava localizado antes do diafragma e quando o som estava sobre este último, vibrava fazendo o ferro mover-se. Este movimento induzido de correntes nas bobinas passava pela corrente elétrica da linha para o recetor – um eletroíman tubular. Uma das extremidades deste último foi parcialmente fechada por um disco fino de ferro e à medida que a corrente era recebida, o disco vibrava e o som acústico era emitido.

As cargas elétricas são transportadas pela linha e depois convertidas em energia acústica na outra extremidade.

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2. Recetor

K Im ©D

O telefone foi uma revolução mundial e o início da comunicação de longa distância imediata.

Alexander Graham Bell, o “pai” do telefone.

Quero Saber | 097


INDÚSTRIA & INVENTOS

A turbina a vapor de Parsons

Como é que este gerador de 1884 fez do vapor a força motriz da produção energética pelo mundo afora? O subgénero da ficção científica steampunk descreve uma realidade alternativa onde dispositivos modernos funcionam a água gasosa. Não é assim tão rebuscado como possa parecer, até porque cerca de 80 por cento das centrais elétricas a nível mundial geram energia utilizando turbinas a vapor. E devemos agradecê-lo ao engenheiro britânico Charles Parsons, pois foi a sua energia e imaginação que transformaram um aparelho do primeiro século da nossa era em algo capaz de converter H2O em energia à escala industrial. As turbinas a vapor assentam num princípio semelhante ao das turbinas eólicas: moléculas num fluido fazem rodar pás oblíquas e produzem energia mecânica que pode ser convertida em energia elétrica por um dínamo. Mas em vez de o impulso ser dado por forças meteorológicas, é fornecido pelo impacto do vapor pressurizado emitido por bocais (turbinas de ação) ou pela mudança de pressão no vapor ao expandir-se (turbinas de reação). Na turbina de Parsons, a água era convertida em vapor através da queima de carvão. O vapor era então literalmente comprimido num ou mais cilindros, que continham uma série de rotores tipo disco acoplados a um veio de transmissão. O perímetro de cada rotor tinha pás de bronze para receber a força do vapor a alta velocidade sem o desfazer ou desviar, de forma a que embatesse no conjunto seguinte de pás no ângulo certo. Foram montadas pás maiores em rotores sucessivos para expandir o seu diâmetro e acomodar o crescente volume de vapor em arrefecimento. Os maiores feitos de Parsons foram os avanços tecnológicos necessários para aumentar a produção de energia e a eficiência das turbinas a vapor – como a invenção de um rolamento especial que permitia que os rotores girassem muito mais depressa. O seu design básico ainda hoje é utilizado; a visão de uma sociedade dependente do vapor é um facto, não ficção.

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No interior da turbina de Parsons Saiba como esta “central elétrica” produzia energia para as massas.

Veio rotativo

A força do vapor fazia rodar o veio central, que transferia a energia mecânica para o dínamo.

A todo o vapor Parsons viu o potencial da sua máquina em aplicações para além das centrais elétricas. Efetuou experiências de utilização das turbinas como compressores e para alimentar maquinaria pequena, como bombas, ventoinhas e ventiladores. A aplicação mais importante que previu, além da produção de energia em terra, foi o aumento de velocidade dos barcos. Numa audaciosa e não anunciada demonstração, entrou pelo Naval Review de 1897 adentro, parte da celebração do Jubileu de Diamante da rainha Vitória, acelerando entre os melhores da marinha britânica no Turbinia, um barco de 44 toneladas movido a turbinas. Dez anos depois, as turbinas a vapor eram adotadas em larga escala pela Royal Navy e empresas como a Cunard. No final da vida, Parsons tentou colocar turbinas a vapor em comboios, mas a experiência durou pouco.

Dínamo

A energia mecânica gerada pela turbina era convertida em energia elétrica num dínamo acoplado.

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RECORDES MEGATURBINA

1,8 gw

MAIOR TURBINA A VAPOR NUCLEAR Chamado Arabelle, este megagerador construído pela Alstom debita para cima de 30 vezes mais eletricidade que a melhor turbina de Parsons, e tem pás de rotor com 1,9 m – as mais compridas em utilização comercial.

SABIA QUE... Parsons inventou o auxetophone, que amplificava o som fazendo passar ar comprimido por uma válvula?

Quem foi Charles Parsons?

Íman

Era preciso um íman grande para criar o campo magnético que permitia ao dínamo gerar eletricidade.

Charles Algernon Parsons nasceu em Londres a 13 de junho de 1854. Era o filho mais novo do astrónomo irlandês William Parsons, terceiro conde de Rosse, que foi presidente da Royal Society. Parsons licenciou-se em Cambridge em 1877, em matemática e mecânica. Terminou a sua primeira turbina sete anos mais

Válvula de regulação

tarde e fundou empresas para desenvolver os seus projetos de turbogeradores. Viria a criar a Marine Steam Turbine Company, que construiu turbinas para navios de guerra como o HMS Dreadnought. Parsons tornou-se membro da Royal Society em 1898 e foi armado cavaleiro em 1911. Morreu a 11 de fevereiro de 1931 na Jamaica.

A alta velocidade a que o vapor entrava tinha de ser cuidadosamente controlada. A entrada podia ser desativada numa emergência.

Cilindro

O vapor pressurizado era comprimido para um cilindro selado, junto ao centro, enchendo os espaços à volta dos rotores.

Óleo lubrificante

Havia sempre óleo a circular por canos de forma a manter os rolamentos feitos à medida dos rotores em bom funcionamento.

Pás móveis e guias

No interior do cilindro, o gás pressurizado movia-se através de pás de bronze acopladas aos rotores que faziam rodar o veio.

O HMS Dreadnought foi o primeiro navio capital (navio de guerra principal) da Royal Navy a funcionar com turbinas a vapor.

Turbina

A turbina a vapor de Parsons gerava energia mecânica utilizando vapor para acionar uma série de rotores com pás sobre um eixo rotativo.

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Quero Saber | 099


INDÚSTRIA & INVENTOS

Ferrovias de cremalheira

Como é que estes sistemas de trânsito únicos ajudavam locomotivas pesadas a subir encostas mais íngremes que nunca? Uma ferrovia de cremalheira empregava um carril/trilho dentado. A adição deste, que geralmente se situava ao centro, entre os outros dois carris, permitia às locomotivas percorrer inclinações superiores a sete por cento, que ainda hoje é o limite máximo para as normais ferrovias assentes na adesão. Crucial ao funcionamento deste sistema era a engrenagem dos carretes da locomotiva na cremalheira da ferrovia. Assim, a cremalheira e os carretes eram, essencialmente, uma forma de converter a energia rotativa gerada pelo sistema motopropulsor da locomotiva em movimento linear na cremalheira. Como tanto a cremalheira como os carretes tinham dentes, o sistema era também uma forma extra de adesão aos carris, com a engrenagem a segurar o veículo quando este não estava em movimento. Uma vez que a principal

fonte de energia era tradicionalmente o vapor, as locomotivas tinham de ser ajustadas consideravelmente para que os sistemas de cremalheira funcionassem. Esta modificação ia da parte inferior da carroçaria da locomotiva (para instalar os carretes) à inclinação da caldeira, cabina e superstrutura. A inclinação era necessária pois as caldeiras dos motores a vapor têm de ter sempre água a cobrir os tubos e a fornalha, para manter a estabilidade – algo que é quase impossível de garantir se o veículo não estiver nivelado. Como tal, estas locomotivas inclinavam-se em direção ao carril para contrariar o declive do terreno. Hoje, apesar de raros, os sistemas de cremalheira ainda são usados em todo o mundo, apesar de com um misto de motores a vapor e locomotivas a diesel/ elétricas. Um dos mais famosos é o da Mount Washington Cog Railway, em New Hampshire, EUA, que aqui analisamos.

O sistema em detalhe Perceba a anatomia de uma locomotiva de cremalheira com a nossa ilustração.

Cabina

Atrás do motor e da carruagem está a cabina. Daqui, o maquinista controla a caldeira a vapor e a engrenagem dos carretes.

Rodas Ferrovia de cremalheira com um sistema Strub na região rural de Itália, 1920.

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As rodas funcionam como as de um comboio normal, correndo pelos carris de cada lado do trilho central.

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48%

RECORDES CREMALHEIRA

A FERROVIA MAIS ÍNGREME Este é o declive máximo da ferrovia de cremalheira mais íngreme do mundo. A Pilatus vai de Alpnachstad, no lago Lucerna, Suíça, até um término junto ao cume Esel do Monte Pilatus, subindo 1.635 metros.

SABIA QUE... A Mount Washington Cog Railway foi a primeira ferrovia de cremalheira de montanha do mundo? Abriu em 1869.

Motor

Os sistemas mais antigos usavam motores a vapor para mover os carretes. Tal como a cabina, o motor está inclinado para a frente para se manter nivelado em andamento.

Amortecedor

Ao contrário dos normais sistemas de adesão, os de cremalheira não prendem normalmente a carruagem à locomotiva com um sistema de ligação/engate. A carruagem é empurrada com os amortecedores da locomotiva.

Evolução do sistema

Carruagem

Os passageiros sentam-se numa carruagem de madeira coberta. Dada a lentidão do sistema, janelas maiores eram amiúde instaladas para vistas panorâmicas.

1

Marsh

Celebrizado pela Mount Washington Cog Railway, o sistema Marsh – inventado por Sylvester Marsh em 1861 – usava os dentes dos carretes da locomotiva como roletes, dispostos em travessas entre dois carris de ferro forjado em forma de L.

2

Riggenbach

O sistema de 1863 criado por Niklaus Riggenbach usava uma cremalheira em escada feita de placas de aço ligadas por hastes regularmente espaçadas. Embora eficaz, a cremalheira em escada fixa era algo complicada e cara de construir, pelo que muito poucos exemplos sobrevivem.

De cada lado da cremalheira há carris normais para as rodas da carruagem e locomotiva. Estes permitem a troca de linhas e acesso a plataformas mecânicas para rotações de 360º.

Uma montanhista mecânica Cremalheira

No centro da linha está a cremalheira, um carril dentado no qual encaixam os carretes da locomotiva. Esta engrenagem entre carretes e cremalheira ajuda o comboio a manter uma boa aderência até em terreno íngreme.

Carretes

Montados na parte inferior da carroçaria estão vários carretes circulares dentados. Quando rodam, acionados pelo motor, os dentes encaixam nos encaixes da cremalheira, ajudando a puxar o comboio.

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A Mount Washington Cog Railway, em New Hampshire, EUA, foi a primeira ferrovia de cremalheira usada para subir uma montanha. Completado por Sylvester Marsh em 1869, este é o segundo sistema de cremalheira mais íngreme do mundo, com uma inclinação máxima de 37,4%. A ferrovia percorre 4,8 km pela encosta oeste do Monte Washington acima, começando 820 metros acima do nível do mar e culminando pouco antes do cume, a 1.917 metros de altitude. A locomotiva sobe a 4,5 km/h e desce a 7,4 km/h. Apesar de ter sido construída há 144 anos, esta ferrovia de cremalheira permanece totalmente funcional.

3

Abt

4

Locher

5

Strub

Carl Roman Abt melhorou o sistema Riggenbach em 1882 usando várias barras sólidas com dentes verticais, que eram centralmente montadas entre os carris. Isto garantia que os dentes dos carretes estavam sempre em contacto com a cremalheira. O sistema de 1889 de Eduard Locher tinha dentes nas laterais dos carris e não no topo, que eram engatados por duas rodas dentadas na locomotiva. Este sistema podia ser usado em declives maiores que os anteriores. Inventado por Emil Strub em 1896, o sistema Strub utilizava um carril laminado de fundo liso com dentes no topo a espaços de 100 mm. Pinças de segurança na locomotiva prendiam a parte inferior da cabeça para evitar descarrilamentos.

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© Alamy; Thinkstock

Carril


INDÚSTRIA & INVENTOS

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roubada do Museu do Louvre, em Paris, a 21 de agosto de 1911, mas a obra de arte foi redescoberta em Itália e devolvida em 1913.

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2

À prova de bala A Mona Lisa está exposta

numa caixa de vidro à prova de bala para evitar que seja vandalizada, algo que já foi tentado várias vezes ao longo dos anos.

3

Muitas vezes, utiliza-se uma lupa especial para ajudar a restaurar pinturas a óleo.

A Mona Lisa foi efetivamente

painel de choupo e, mais tarde, uma moldura flexível em carvalho e duas traves em cruz. Hoje, esta manipulação física alia-se a um ambiente rigorosamente monitorizado. A Mona Lisa permanece numa caixa transparente com controlo de humidade, temperatura e iluminação. A pintura tem sido restaurada desde há séculos, tendo recebido primeiro uma limpeza e depois uma nova camada de verniz em 1809. Para além de limpa e envernizada, a obra foi alvo de retoques em cores específicas. Após o seu roubo e restituição no início do século XX, foi de novo limpa (a seco) e as fraturas parciais no verniz restauradas a aguarela. Por fim, após um ato de vandalismo à pintura, em 1956, que danificou o cotovelo esquerdo da figura, também este foi restaurado a aguarela. Hoje, o trabalho de conservação da Mona Lisa continua, para restituir uma grande parte da cor ao retrato enigmático, pois crê‑se que a limpeza de 1809 terá removido a camada superior de tinta.

MONA LISA

1

O roubo

A Mona Lisa também conhecida como Gioconda, é uma pintura a óleo sobre painel de madeira de choupo, executada por Leonardo da Vinci. A obra, que se acredita ser um retrato de meio corpo de Lisa del Giocondo (cujo apelido de solteira era Gherardini), a mulher pouco conhecida de um comerciante de tecidos e sedas de Florença, é considerada a pintura mais famosa do mundo e é vista por milhões de pessoas todos os anos no Museu do Louvre, em Paris, França. Como a Mona Lisa tem mais de 500 anos, está em marcha um empreendimento de conservação intensivo, de modo a protegê‑la. Esta conservação está dividida em duas áreas principais: retificação da moldura e restauração da pintura. A moldura é a parte mais alterada até agora, pois a original em choupo deformou‑se de tal forma que, no início do século XX, tinha aberto uma fenda. A fissura foi estabilizada através da instalação de duas traves de madeira de nogueira em forma de borboleta no

Que técnicas são utilizadas na manutenção da pintura mais famosa do mundo?

A conservação da Mona Lisa

CINCO FACTOS Iluminada A Mona Lisa tem mais de

500 anos e já passou por alguns programas de conservação. O último incluiu a sua iluminação com uma lâmpada LED de 20 watts.

4

Senhora famosa Na sua posição atual no

Louvre, a Mona Lisa é visitada por mais de seis milhões de pessoas por ano – ou seja, é uma das pinturas mais vistas do planeta.

Vale milhões

5 Em 1962, foi avaliada em

cerca de € 70 milhões. Em 2013 vale mais de € 550 milhões, o que a torna indubitavelmente a pintura mais cara do mundo.

SABIA QUE... Imagens de infravermelhos revelaram marcas do esboço original de Da Vinci sob a pintura e o verniz?

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© SPL


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Câmaras escuras

Desvendamos a ciência e a história por detrás do laboratório fotográfico original. A câmara escura foi inventada mais ou menos na mesma época da fotografia, no início do século XIX. Hoje chamam-lhe muitas vezes o “Photoshop da era da película” e, embora não sejam tão utilizadas, as câmaras escuras continuam a ser populares entre os fotógrafos de película tradicional. A ideia da câmara escura veio do aparelho homónimo: uma caixa escurecida que projetava a vista exterior por um buraco para uma superfície plana, como uma parede. O conceito da camera obscura data, pelo menos, do século IV a.C., mas só no século XIX os cientistas conseguiram captar a projeção como imagem utilizando químicos. No início da década de 1830, já se registava luz usando sais de prata sobre chapas de vidro e depois papel. O famoso processo de Louis Daguerre, que data de cerca de 1833, tornou possível captar imagens utilizando substâncias

químicas que revelariam a impressão em chapas. Este método – mais tarde suplantado pelo processo do calótipo de William Henry Fox Talbot em 1841, que usava papel e não chapas – abriu o caminho para a revelação da tradicional câmara escura que hoje conhecemos. Só com a invenção do filme a preto e branco, em 1885, é que o equipamento da câmara escura, como o ampliador, emergiu. Numa câmara escura atual encontrará muitos processos semelhantes aos utilizados há mais de um século. Uma vez revelado o filme para um negativo, com os mesmos produtos químicos necessários para criar impressões, pode copiar-se a imagem para papel fotossensível e assim produzir uma fotografia. Para isso, o negativo é colocado dentro do ampliador e projetado para baixo. Como os negativos são invertidos, as áreas escuras no negativo filtram a luz, o que significa que certas

áreas do papel serão menos expostas, o que resulta em áreas claras na fotografia. As áreas claras no negativo, pelo contrário, representam as sombras – ou seja, passa mais luz para expor e escurecer o papel. Após o papel fotossensível ser exposto sob o ampliador durante um período de tempo, é transferido para um tabuleiro de solução de revelação, onde irá surgir a imagem. O papel pode então ser colocado num banho interruptor para parar o processo de revelação até, por fim, ser estabilizado com um fixador químico. Ao longo do tempo, muitos fotógrafos desenvolveram técnicas para alterar de forma artística o aspeto das imagens na câmara escura. Ainda hoje existe software de edição de imagem, como o Photoshop, com ferramentas que imitam as técnicas clássicas – como o Dodge e Burn (clarear e escurecer) –, para conferir um aspeto rétro às fotografias digitais.

A revelação

Como fazer uma impressão fotográfica na câmara escura, passo a passo...

1. Negativo

O negativo de película é colocado dentro do ampliador e projetado para a plataforma abaixo.

2. Foco/recorte

A imagem pode ser focada e recortada antes de se colocar o papel fotossensível.

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3. Projeção

Com o papel já colocado, o ampliador é utilizado para projetar a imagem durante um certo período de tempo.

4. Revelador

Após ser exposto, o papel tem de ficar num tabuleiro com fluido de revelação para iniciar o processo.

5. Interruptor

O papel é mergulhado num banho interruptor químico para não ser revelado em excesso.

6. Fixador

Por fim, o papel pode passar para um fixador, que efetivamente faz a imagem “aderir”.

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DATAS-CHAVE

EVOLUÇÃO DA FOTOGRAFIA

1800

1826

1833

1841

1885

Thomas Wedgwood é a primeira pessoa a captar imagens permanentes em papel.

Nicéphore Niépce inventa a heliografia, produzindo a primeira foto em câmara escura.

Louis Daguerre inventa o processo do daguerreótipo, usando chapas fotossensíveis e substâncias químicas.

William Henry Fox Talbot melhora a fotografia com o seu processo do calótipo.

George Eastman cria o papel fotográfico e mais tarde a película de celuloide, usada nas primeiras câmaras à venda.

SABIA QUE... A luz vermelha não afeta o papel fotossensível? Daí ser utilizada nas câmaras escuras para nos ajudar a ver.

A química Para processar a película e revelar as fotografias para o papel fotossensível numa câmara escura são utilizados geralmente três produtos químicos: o revelador, o interruptor e o fixador. O revelador utiliza-se na primeira fase, depois de se expor a película ou o papel à luz, e serve para tornar a imagem latente visível, reduzindo os halogenetos de prata que foram expostos. Usa-se um temporizador para que o papel não fique sobrerrevelado e preto. Segue-se o banho de interruptor, que neutraliza e trava o revelador. A última fase é o uso do químico fixador, que estabiliza a imagem e, basicamente, a fixa ao papel.

A origem da câmara escura está na caixa homónima, que projetava cenas de exterior numa superfície plana em interiores através de espelhos.

Visita à câmara escura

Ligamos a luz numa câmara escura e expomos o equipamento essencial utilizado para imprimir imagens.

Tina de revelação

É usada para revelar a película em negativos. Também se utiliza revelador, banho interruptor e fixador.

Relógio

O tempo é tudo numa câmara escura se não quiser sub- ou sobreexpor uma imagem. Assim, um relógio com cronómetro é obrigatório.

Ampliador

É utilizado para projetar o negativo sobre o papel fotossensível.

Gobelés

Para processar a película e o papel corretamente, há que medir com precisão os produtos químicos.

Luz vermelha

Serve para guiar o fotógrafo enquanto revela as impressões.

Molas de secagem Depois de ser submetida ao processo químico, a impressão é passada por água e pendurada para secar.

Produtos químicos

Papel fotossensível É guardado numa caixa e retirado apenas quando a luz do ampliador tiver sido desligada.

Têm de ser guardados em segurança com cores na tampa ou etiquetas para evitar confusões.

Focador Existem no mínimo três numa câmara escura, para o revelador, banho interruptor e fixador.

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Pode ser utilizado para assegurar que a imagem projetada fica nítida antes de colocar o papel fotossensível. © DK Images; Alamy; Thinkstock

Tabuleiro

Quero Saber | 105


Indústria & inventos

Câmara pinhole

Uma câmara estenopeica do século XVIII.

Como um pequeno furo (o pinhole) traz luz à escuridão e ilumina o nosso mundo. Talvez um dos antecessores mais importantes da fotografia, a ciência subjacente à câmara pinhole data da China Antiga, aperfeiçoada ao longo de séculos por luminares como Aristóteles e Leonardo da Vinci. O filósofo chinês Mozi (470-390 a.C.) foi o primeiro a registar o facto de que a luz canalizada através de um pequeno orifício para uma câmara escura virava-se ao contrário por se

deslocar em linha reta. Aristóteles efetuou observações semelhantes ao estudar a passagem da luz do Sol pelas folhas das árvores, mas foi o génio árabe Alhazen que definiu a câmara estenopeica, quando se apercebeu de que a luz, na verdade, criava um reflexo. Da Vinci desenvolveu ainda mais a tecnologia e a câmara pinhole foi utilizada por cientistas como uma forma segura de estudar o Sol e os eclipses.

Luz viajante

Espelho

A câmara estenopeica foi aperfeiçoada no século XVI, com a adição de lentes e espelhos que permitiam ao utilizador criar um reflexo mais nítido. Os artistas usavam-na para mais detalhe nas suas representações, pois a imagem refletida permitia delinear os assuntos. Seria usada como base para a primeira câmara.

O espelho reflete a luz para fora da caixa e inverte a imagem para a posição “correta”.

Como esta câmara produz o reflexo perfeito.

Orifício e lente

A luz passa por este pequeno furo (pinhole) e a lente assegura que a imagem será focada.

Mão artística A imagem é refletida no papel e o artista pode então trabalhá-la.

Luz invertida

Quando a luz passa pelo furo para o espaço escurecido, os raios cruzam-se, em vez de se dispersarem, produzindo um reflexo invertido.

Assunto (não visível)

O objeto que quer refletir é colocado em frente à câmara pinhole.

A cabina fotográfica A história de como o retrato foi democratizado. A primeira cabina fotográfica só foi aperfeiçoada em 1925, quando o russo Anatol Josepho construiu o Photomaton, inspirado pelas longas tiras de fotos baratas da câmara Penny Picture. Foi o culminar de anos a investigar o melhor papel para imprimir, os químicos para revelar as fotos e uma máquina que as imprimisse. Com um empréstimo de $ 11.000, Josepho construiu a sua obra-prima, que produzia oito foto, por 25 cêntimos, em oito minutos. Eram impressas diretamente em papel, com o mecanismo a fazer uma revelação húmida. A película era mergulhada em água e depois

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submersa em líquido de revelação, que convertia os haletos de prata em metal de prata. Depois, era mergulhada no banho de paragem (água ou uma solução diluída de ácido acético ou cítrico), que travava a revelação. A seguir, passava para um líquido fixador, que dissolvia o haleto de prata para tornar a foto resistente à luz e fixa, e por fim para o tóner, para melhorar a qualidade de imagem. Entre cada fase, a película era mergulhada num banho de água. A tira final era então impressa. Por dia, faziam fila até 7.500 clientes e Josepho venderia os direitos da sua máquina por um milhão de dólares – metade dos quais doou para caridade.

Anatol Josepho foi o inventor do Photomaton, que produzia oito fotos em oito minutos.

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datas-chave o embuste de Piltdown

1912

1915

1938

1953

1970

O cientista Charles Dawson desenterra fragmentos de crânio e maxila na saibreira de Piltdown, no Reino Unido.

Dawson diz ter encontrado fragmentos de outro crânio, Piltdown II, perto do local original.

Um memorial é revelado glorificando Dawson, apesar da resistência no meio científico.

A revista Time publica provas de que o Homem de Piltdown é uma falsificação.

Sabe-se que Martin Hinton, cúmplice no embuste, deixou uma mala cheia de ossos no Museu de História Natural.

SABIA QUE... O nome científico do Homem de Piltdown era Eoanthropus dawsoni, em honra de Charles Dawson, que o “descobriu”?

O primeiro submarino elétrico Conheça o Goubet I, o primeiro veículo subaquático alimentado a eletricidade. O Goubet I era um submarino elétrico para duas pessoas construído pelo inventor francês Claude Goubet em 1885. Fabricado em Paris, o submarino entrou para a história como o primeiro a ser alimentado eletricamente, com tecnologia inovadora a ultrapassar modelos mais primitivos. O Goubet I funcionava a baterias, usava um motor elétrico Siemens para acionar a hélice e alimentar uma luz de navegação, e media cinco metros de comprimento. Pesava pouco mais de seis toneladas. Era controlado a partir de uma posição central, com os dois tripulantes de costas um para o outro, a ver para fora através de janelas de vidro pequenas; podiam ver para cima, baixo e para os lados até certo ponto graças a prismas. Contudo, depois dos testes no rio Sena, em Paris, o Goubet I foi considerado um fracasso, porque não era capaz de manter uma rota ou profundidade estáveis ao avançar. Assim, embora alguma da sua tecnologia inovadora tenha perdurado em designs posteriores, o Goubet I em si foi rapidamente descartado.

Visita ao Goubet I

Torre

Espreite o interior do primeiro submarino que funcionava a eletricidade e saiba porque falhou.

A tripulação via para fora do Goubet I através de uma série de janelas e prismas na torre de comando. Tinham assim ângulos de visualização estreitos de cada lado do submarino.

Baterias

Hélice

O submarino não tinha hidrodeslizadores ou leme; em vez disso, tinha uma “articulação Goubet”: um mecanismo que permitia que a hélice fosse redirecionada para dirigir o veículo.

Mina

Rapidamente requisitado para fins militares, o Goubet I podia carregar uma única mina que era lançada através de um cabo.

Tanques de lastro

Era suposto a estabilidade ser garantida por um sistema de lastro que filtrava uma pequena quantidade de água entre a parte da frente e a parte de trás da embarcação, mas não funcionou.

A energia era fornecida por um conjunto de baterias situado na proa, que enviava a eletricidade para as bombas e luzes.

Quem foi o Homem de Piltdown? O Homem de Piltdown foi um famoso logro segundo o qual uma extinta espécie de hominídeo teria sido desenterrada na saibreira de Piltdown, East Sussex (Inglaterra), em 1912. A escavação, chefiada pelo cientista Charles Dawson, tinha descoberto fragmentos fossilizados de um crânio e maxilar que, após analisados por Dawson e alguns seus contemporâneos, foram confirmados como uma nova espécie: um “elo perdido” entre macacos e o homem primitivo. Durante 40 anos, outros cientistas expuseram sérias dúvidas sobre a autenticidade do Homem de Piltdown, sobretudo quando descobertas seguintes e autênticas deixaram a espécie isolada na sequência evolutiva. Por fim, em 1953, estas dúvidas provaram-se justificadas depois de uma intensa reanálise dos fragmentos, com técnicas científicas modernas a revelar que pertenciam, na verdade, a três espécies diferentes: o crânio era de um homem moderno, a maxila de um orangotango e os dentes de um chimpanzé.

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Atualmente a palavra “Piltdown” é usada para descrever qualquer investigação falsa ou mal executada no mundo científico.

Quero Saber | 107

© Nick Woolley; Tuuraan78; Thinkstock

Como é que um falso “elo perdido” enganou os cientistas durante décadas?


Indústria & inventos

Como funciona um retroprojetor? No interior deste clássico da sala de aula... Quem frequentou a escola nas décadas de 1980 e 1990 lembrar-se-á do retroprojetor. As suas origens remontam a um equipamento chamado lanterna mágica, introduzido no século XVII e que utilizava velas, candeeiros ou o próprio Sol como fonte de luz e um conjunto de espelhos para mostrar imagens pintadas. Num retroprojetor, coloca-se uma transparência – uma folha A4 de plástico – sobre a base. A base tem um vidro no topo e uma lâmpada por baixo, o que permite que a luz brilhe através da folha, reflita no espelho, saia através da lente e seja projetada na superfície a que esta está apontada. O retroprojetor é uma ajuda de baixo custo para os professores, pois as transparências podem ser reutilizadas várias vezes. O material escrito pode ser pré-impresso nos acetatos e é possível adicionar notas com um marcador não permanente, o que poupa tempo e recursos. Contudo, nos últimos anos, a utilização do retroprojetor diminuiu com a ascensão dos computadores e da projeção LCD, bem como programas de apresentação como o Keynote ou o Microsoft PowerPoint.

Lente e espelhos

Retroprojetor à lupa As peças que compõem este tipo de projetor.

Braço

O braço é ajustável e funciona em conjunto com a roda de foco para alterar a altura e a dimensão da imagem projetada.

Uma lente de Fresnel foca o feixe para mostrar uma imagem. Plana de um lado e curva do outro, o mesmo método é aplicado nos faróis.

Foco

Uma roda no lado ou no topo do braço permite focar e fazer zoom de acordo com a superfície onde a imagem é projetada.

Fonte de luz

Costuma ser uma lâmpada normal, ligada à eletricidade. Versões portáteis recentes já podem usar baterias.

Ventoinha

Com a luz ligada, a ventoinha impede o sobreaquecimento da base do projetor.

Projetores transmissivos

Utilizam uma cabeça ajustável e uma lente de Fresnel para focar a imagem. Volumosos, estão a ficar obsoletos.

Projetores reflexivos

Projetores opacos

A fonte de luz está integrada na cabeça do projetor e não na base, e incide em espelhos reflexivos.

Com o mesmo sistema do projetor reflexivo, também projetam papel opaco e objetos em 3D.

O primeiro aspirador O engenheiro britânico Hubert Cecil Booth patenteou o aspirador motorizado em 1901. Longe dos equipamentos de dimensão reduzida que hoje temos, este aspirador era tão grande que tinha de ser puxado por um cavalo e uma carruagem. Como não havia eletricidade na maior parte das casas vitorianas, a máquina de Booth tinha de ir buscar energia ao

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carvão ou ao petróleo. Estacionava à porta da casa, uma mangueira de 244 metros entrava pelas janelas e o motor começava a trabalhar. Aspirava a sujidade para um filtro, livrando as casas de anos e anos de pó acumulado. Demasiado grande para uma utilização diária, Booth conseguiu comercializá-lo como um serviço e até foi contratado para limpar a passadeira cerimonial da coroação do rei Eduardo VII! www.QUEROSABER.sapo.pt

© Look and Learn; Dreamstime

Como é que este equipamento puxado a cavalo limpava casas no século XIX?


Cinco factos métodos de obter fogo

Neolítico

1

O primeiro método para

criar fogo consistia em rodar um pau num bloco de madeira, criando uma brasa. Também se raspavam pirites em sílex.

Energia solar

2

Já na Antiguidade se

usavam superfícies refletoras para focar a luz do sol em acendalhas. E foram testadas armas letais à base de espelhos e lentes.

Isqueiro medieval

3

Criar uma faísca pela fricção

de aço e pedra vem da Idade Média; a “acendalha portátil” aprisionava a faísca e depois inflamava um pequeno pedaço de madeira.

Fósforos de fricção

4

O químico e farmacêutico

inglês John Walker vendeu os primeiros em 1827. Acendiam-se esfregando a cabeça do fósforo contra qualquer superfície áspera.

Fósforos de segurança

5

Criados por Gustaf Erik

Pasch em 1844. A cabeça tinha clorato de potássio, reagindo quando friccionada contra uma superfície revestida a fósforo vermelho.

SABIA QUE... A pintura His Master’s Voice, em que o cão Nipper escuta um gramofone, apresentava inicialmente um fonógrafo?

Como funcionava o gramofone? A invenção que trouxe o som para dentro de casa.

Campânula

Amplifica e projeta o som da agulha (estilete). Uma bola ou tecido eram colocados dentro da campânula para reduzir o volume de som.

No século XIX, houve uma competição feroz na Europa e nos EUA para criar máquinas que conseguissem gravar e reproduzir música e sons. Já em 1857, o fonautógrafo, criado por Édouard-Léon Scott de Martinville, usava um diafragma ligado a uma cerda que respondia a vibrações de som. Estas vibrações eram decalcadas para uma folha de papel revestida a fuligem, que estava enrolada num cilindro rotativo. Este aparelho, contudo, não reproduzia a gravação. Em 1877, o fonógrafo de Thomas Edison seguiu um princípio semelhante ao do fonautógrafo, mas utilizando folha de estanho enrolada à volta de um cilindro estriado e já com uma campânula. As vibrações da agulha ligada ao diafragma criavam sulcos na folha; para os reproduzir, eram percorridos de novo pela agulha. Cilindros de cera permitiam que as gravações fossem reproduzidas mais do que uma vez. Dez anos depois, Emil Berliner apresentou o gramofone, que usava discos com estrias em espiral para gravar e reproduzir o som. Também tinha campânula e agulha mas, ao contrário do sistema de cilindros, Braço de suporte a gravação original podia ser facilmente copiada Suporta a pesada campânula. para um molde e produzida em série. O gramofone dominou o mercado nos anos 20, sendo depois substituído pelo gira-discos.

Captador sonoro

A agulha no captador de som era feita de cobre ou aço. Está ligada a um diafragma que envia as vibrações do som para a campânula.

Anatomia do gramofone

Fogo por arco

Um instrumento primitivo que faz fogo por fricção.

© Science Photo Library

O fogo por fricção com arco consegue-se pressionando o apoio no topo da broca com uma mão, enquanto se move o arco na horizontal, para a frente e para trás, com a outra mão. Dessa forma, a broca roda suficientemente depressa para criar fricção e calor na tábua de madeira. A serradura quente produzida cai pela ranhura lateral e inflama folhas secas – ou outro material de acendalha. Depois de aceso, o material que está a arder pode ser removido e utilizado noutro local. Os antigos egípcios usavam a fricção com arco desde 3.000 a.C., com a corda do arco enrolada várias vezes na broca para fazer furos em madeira e pedra, em vez de fogo. A utilização do instrumento por carpinteiros é retratada no túmulo da quinta dinastia de um oficial importante chamado Ti, em Sakara.

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O cão de trenó Chris escuta gramofone no acampamento da expedição Terra Nova, em 1911.

Prato

É rodado a uma velocidade constante por um mecanismo de corda. A velocidade mais comum era 78 rpm.

Eixo

O furo no centro do disco é colocado sobre um eixo, que impede que o disco saia do prato enquanto está a rodar.

Apoio

Em pedra, osso ou madeira dura, o ponto de apoio deve ser liso para não fazer bolhas e ajustar-se à palma da mão de forma confortável.

Elementos do sistema

Broca

Peça de madeira fina, cilíndrica, encaixada no apoio para a mão. Quanto mais grossa, mais lenta.

Corda

Está presa às duas extremidades do arco e enrolada na broca.

Arco

Pode ser em madeira leve, com cerca de 70 cm ou 90 cm de comprimento. Deve ter uma ligeira curva e não ser demasiado pesado.

Placa base

Tábua lisa com (pelo menos) um entalhe com um pequeno corte lateral em V. Deve ser colocada numa base seca para a proteger do solo húmido.

Quero Saber | 109


Indústria & inventos

O fabrico de espelhos O processo que lhe permite olhar-se nos seus próprios olhos. Ao longo dos anos, um vasto número de materiais tem sido usado para criar espelhos. O material original foi a obsidiana, com ouro, prata, alumínio e bronze a serem também escolhidos ao longo da história. Nos primeiros tempos, as pedras eram altamente polidas para criarem uma superfície refletora, mas hoje o processo é mais eficaz. Primeiro, um revestimento refletor – amiúde prata ou alumínio – é aplicado a um vidro, que tem de ser polido na perfeição, já que quaisquer manchas causam distorções na imagem. A solução restante é então descartada e o vidro é seco. A parte de trás do espelho é coberta com uma substância que protege o revestimento. O tipo de espelho dita a forma como este é criado. Espelhos de uso industrial são criados com camadas mais espessas de vidro, de forma a serem mais resistentes, enquanto nos de produção em massa pode ser utilizado metal altamente polido. Alguns instrumentos óticos usam diferentes revestimentos para melhor refletirem certos tipos de luz. O alumínio, por exemplo, é melhor do que a prata a refletir luz ultravioleta.

O processo de fabrico de espelhos permaneceu consistente ao longo da história, sendo apenas ligeiramente modernizado.

A chegada do som ao cinema Como os filmes deram o passo para a revolução do cinema sonoro.

ligado a um gramofone, sendo o som sobreposto às imagens do filme. Em seguida, o som era amplificado, de forma a tornar-se mais audível para os espetadores, com um projecionista por perto a garantir a sincronização entre imagens e som. O primeiro filme sonoro a usar o sistema Vitaphone foi Don Juan, a 6 de agosto de 1926 – embora, dada a inexistência de diálogo, a honra de primeiro “filme falado” seja atribuída a O Cantor de Jazz, lançado a 6 de outubro de 1927. © SPL

Embora tenha sido substituído por sistemas que transplantavam o som para disco, o Vitaphone foi uma invenção revolucionária.

Embora representem há muito uma forma popular de entretenimento, durante grande parte do início do século XX os filmes cingiam-se ao formato silencioso. Depressa, porém, tudo isso mudaria. Inspirado pelo fonógrafo de Thomas Edison e pelo tríodo Audion de Lee de Forest, o Vitaphone foi criado pela Western Electric e, depois, comprado e desenvolvido pela Warner Bros. O Vitaphone consistia num projetor de filmes

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estranho mas real quem fala?

O que veio o telefone de teclas facilitar?

Resposta:

Graças aos novos telefones DTMF, já não era preciso um operador para reencaminhar as chamadas, e as pessoas usavam o telefone com maior anonimato. Assim, era mais fácil pregar partidas, e nasceu um novo passatempo!

A Cabinas telefónicas B Mesas para telefone C Partidas

SABIA QUE... Graças à facilidade de uso, a roda de oleiro foi o método de eleição para criar olaria durante milénios?

Telefones de teclas

Como uma inovação revolucionou a forma como falamos uns com os outros.

A invenção do sistema Braille Saiba como a leitura para cegos foi revolucionada por uma criança. Nascido em 1809 em Coupvray, França, Louis Braille superou a sua perda de visão criando um sistema de leitura e escrita que abriria muitas portas a pessoas invisuais. Inspirando-se num sistema de comunicação utilizado pelo exército francês chamado “escrita noturna” – que envolvia grossas folhas de papel com pontos e traços gravados que podiam ser distinguidos pelo toque –, Braille optou por simplificar as coisas, reduzindo o número de pontos para seis (dos 12 originais) e eliminando os traços. Aos 15 anos, Louis Braille já completara com sucesso o seu alfabeto, que publicou posteriormente em livro. Anos mais tarde aplicou o seu código a símbolos matemáticos e musicais, aumentando ainda mais a sua versatilidade. Embora o público duvidasse inicialmente da eficácia do formato, o génio responsável pela sua invenção acabaria por ser reconhecido. Hoje, o Braille é usado em todo o mundo.

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Colocado à venda para utilização comercial a 18 de novembro de 1963, o telefone de teclas representava uma forma de telecomunicações nova e mais eficiente. A principal diferença entre este novo estilo e o antigo foi a adoção da tecnologia de multifrequência bitonal (DTMF, na sigla inglesa), que substitui o sistema de marcação por impulsos utilizado nos telefones de marcador rotativo. Enquanto a marcação por impulsos envolvia ligar e desligar rapidamente sinais para cada dígito, exigindo operadores para facilitar as chamadas de longa distância, a tecnologia DTMF eliminou o intermediário. Eram atribuídas frequências específicas a linhas e colunas, e a marcação gerava depois um sinal resultante de uma combinação de duas frequências sempre que era pressionada uma tecla. Os tons eram então descodificados por um centro de comutação, de forma a

mostrar que tecla fora pressionada. Na invenção do telefone de teclas houve ainda outras inovações, como desligar o microfone sempre que uma tecla era pressionada – mas de modo a que o ruído daí resultante não interferisse com o sinal de DTMF. O primeiro modelo tinha dez teclas (números 0 a 9) mas, em versões posteriores, foram adicionadas as teclas “#” e “*”, para permitir o acesso a computadores através das linhas telefónicas. Embora o primeiro aparelho (da Bell Telephone Company) tenha sido lançado oficialmente na década de 1960, já muito antes havia pessoas a trabalhar em telefones de teclas. Existem protótipos de 1948, sendo a Western Electric responsável por vários. Ainda assim, o telefone da Bell revelar-se-ia revolucionário pela sua relativa facilidade de utilização, iniciando a evolução sempre em aceleração dos telefones até aos smartphones que temos hoje.

© Thinkstock; iFixit; Alamy

O sistema Braille de pontos em relevo sobre papel é amplamente usado atualmente.

Pressionar as teclas do telefone transmitia sinais por tecnologia de multifrequência bitonal (DTMF).

Quero Saber | 111


INDÚSTRIA & INVENTOS

Como se extraía o sal? Saiba como este mineral valioso era recolhido antes da Era Industrial.

O sal é um dos recursos mais antigos no qual a mineração foi utilizada, com esta indústria a datar de há milhares de anos. O sal como o conhecemos vem do sal-gema de depósitos evaporados (ver “Sal da Terra” para mais detalhes) que, geralmente – mas nem sempre –, se situam no subsolo. Por isso, a obtenção e tratamento do sal para uso culinário e não só requer uma operação mineira exaustiva. Apesar de hoje termos máquinas de exploração mineira avançadas, iluminação elétrica, redes de filtração de ar e instalações de processamento supereficientes em todo o mundo, antes do século XX, a mineração de sal era um empreendimento incrivelmente difícil e perigoso, pois as condições, ferramentas e técnicas requeriam conhecimentos especializados... e muita sorte! A iluminação era fornecida por velas de sebo ou archotes, por exemplo, enquanto o sal-gema era

extraído com uma mistura de trabalho manual a picaretas e o uso de explosivos de pólvora negra – que, muitas vezes, causava derrocadas. Mas uma das principais causas de morte nas minas de sal antes do século XX era a desidratação. Devido ao contacto constante dos mineiros com o sal – tanto físico, ao extraí‑lo, como por inalação –, a desidratação rápida e o excesso de sódio eram comuns, e muitos mineiros desmaiavam de exaustão. Esta desidratação era aumentada pela intensidade do trabalho, que incluía percorrer longas redes de grutas, quebrar depósitos colossais apenas com picaretas, trepar andaimes de madeira muito altos e arrastar barris pesados. De facto, em muitos países, a extração de sal era uma forma de castigo ou trabalho escravo até aos anos de 1900 e a esperança de vida dos condenados a esta atividade era muito baixa.

Sal da Terra O sal – mais precisamente, o sal‑gema – é o nome comum do mineral halite (na imagem), cuja fórmula química é NaCl. A halite forma‑se pela evaporação de água salgada – como a do mar, que tem grandes quantidades de iões de Na+ e Cl- dissolvidos – ao longo de grandes períodos de tempo geológico. Devido a mudanças épicas na estrutura e atmosfera da Terra, hoje os depósitos de halite podem situar‑se no subsolo, com os depósitos de sal mais leve a serem empurrados para cima por movimentos na crusta rochosa mais densa abaixo.

No interior das minas de sal de Wieliczka Descubra o que se passava dentro de uma das minas de sal mais antigas da Europa.

Andaimes

Muitas vezes os mineiros escavavam escadas na halite, mas para depósitos elevados, eram erigidos andaimes de madeira.

Ferramentas do ofício

Uma variedade de picaretas, martelos e lâminas de corte era utilizada para extrair o sal-gema, assim como explosivos de pólvora.

Animais

Vários animais – sobretudo cavalos – puxavam carrinhos de ferramentas e sal-gema extraído através das minas.

Iluminação

Não havia rede de iluminação elétrica na mina de Wieliczka; os trabalhadores usavam velas e archotes para ter luz.

Barris

O sal-gema era colocado em barris de madeira para ser transportado até à superfície e à fábrica de tratamento.

Mineiros

© SPL

No pico de atividade destas minas, centenas de mineiros desciam às galerias todos os dias, a partir da cidade de Wieliczka, no sul da Polónia.

112 | Quero Saber

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SABIA QUE... Graças à facilidade de uso, a roda de oleiro foi o método de eleição para criar olaria durante milénios?

Como funcionava o microfilme O meio de armazenamento de escala reduzida que era ideal para mensagens secretas. O microfilme era um meio de armazenamento físico – tipicamente, película de 16 ou 35 mm –, no qual as imagens eram diminuídas para uma fração da dimensão original. Documentos, fotografias e vídeo podiam assim ser reduzidos, copiados e armazenados, tanto para sigilo como para maior longevidade. Por exemplo, os documentos em papel históricos eram muito vulneráveis à humidade, mas depois de captados em imagem e colocados na película, ficavam impermeáveis. Muitas vezes, conjuntos de documentos eram colocados numa grande película de microfilme com um código legível no topo, a microficha, que permitia que os documentos fossem identificados de imediato. A visualização da imagem armazenada era efetuada com um sistema de projeção de slides/película, semelhante aos projetores de hoje. Embora o microfilme ainda seja utilizado, a invenção do computador e dos suportes digitais tornou-o obsoleto, com documentos, imagens e filmes agora a serem copiados e armazenados em discos rígidos, SSD, DVD, pens, online, etc..

Roda de modelagem

Na guerra Franco-Prussiana, na década de 1870, mensagens em microfilme eram levadas por pombos através das linhas inimigas.

Ferramentas

Enquanto os potes são moldados com as mãos, várias ferramentas pequenas ajudam o oleiro a fazer incisões e a adicionar aspetos decorativos.

O oleiro trabalha o barro nesta chapa, que roda a alta velocidade enquanto o objeto é moldado.

Eixo

As duas rodas estão ligadas através do centro da estrutura de madeira por um eixo de metal.

Roda de movimento

O oleiro pontapeia esta roda para iniciar a rotação. Funciona como um volante, armazenando energia e forçando a roda de modelagem a girar a alta velocidade.

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Estrutura

A estrutura em madeira suporta ambas as rodas e uma superfície de trabalho para o oleiro.

A produção de olaria A roda de oleiro alterou totalmente o fabrico de cerâmica.

A roda de oleiro veio facilitar a criação de artigos de cerâmica arredondados, como potes e outras vasilhas. A máquina funcionava oferecendo ao oleiro uma plataforma circular giratória sobre a qual o barro podia ser moldado manualmente. A rotação era proporcionada por uma grande roda que, depois de colocada em movimento pelo pé do oleiro, fornecia energia à roda de modelagem, menor, situada acima, sobre um eixo de metal. Como a roda de movimento era muito maior do que a roda de modelagem, atuava como um volante, armazenando energia rotativa que podia ser utilizada para alimentar a roda de modelagem, que devido à circunferência menor girava a uma velocidade superior. Graças à facilidade de utilização, a roda de oleiro foi o método de eleição para produzir olaria durante muitos milénios, acabando por evoluir e passar a ser acionada por um motor.

Quero Saber | 113


Indústria & inventos

Muros em pedra seca Esta forma de construção inteligente existe há séculos e tem sido utilizada para edificar todo o tipo de estruturas sem argamassa, com base apenas na habilidade e na gravidade. Materiais

Os muros em pedra seca costumam ser feitos de rocha local. É considerado ambientalmente “são” e ficam com um aspeto ímpar.

Peso

Um peso desliza pelo pêndulo acima ou abaixo de forma a aumentar ou reduzir o tempo.

Numerais

As marcas no metrónomo definem o tempo e são reproduzidas na partitura.

Botão regulador

Controla a batida do tempo forte.

Caixa

O metrónomo tradicional consiste numa caixa piramidal de madeiras como mogno ou nogueira.

114 | Quero Saber

Pêndulo

O metrónomo produz os cliques/ batidas à medida que o pêndulo oscila para a frente e para trás.

Armação de jorramento Ajuda o construtor a “guiar” o muro, colocando as pedras maiores ao longo da base e as mais pequenas à medida que afunila para cima.

Muro duplo

Este método é usado para fortalecer a estrutura. Impede que os lados do muro caiam para dentro. A aldeia Village des Bories, em França, tem mais de 20 edifícios em pedra seca.

Linha-guia

É usada para monitorizar a altura e o comprimento do muro. Ao chegar ao cimo, o construtor usa pedras lisas grandes para selar o muro.

Dentro de um metrónomo Saiba tudo sobre estes instrumentos de regulação do tempo que ajudam os músicos a manter o ritmo. As primeiras experiências científicas com pêndulos dignas de nota foram efetuadas por Galileu Galilei em 1602. Em 1696, Étienne Loulié adotou as suas teorias e concebeu o primeiro metrónomo mecânico, mas sem som nem escape. O instrumento mais próximo ao que os músicos ainda hoje utilizam foi inventado em 1814 por Dietrich Nikolaus Winkel, mas patenteado em 1816 por Johann Mälzel, que efetuou um pequeno acrescento e passou a comercializá-lo como metrónomo de Mälzel. Um metrónomo produz uma série sistemática de cliques ou batidas que podem ser medidos durante minutos. Os modelos tradicionais tinham um pêndulo fino, com um peso e fixado a uma estrutura de

madeira. Hoje, os metrónomos são altamente evoluídos, incluindo modelos eletrónicos e digitais. As batidas que produzem ajudam o músico a assimilar o timing ou tempo de uma peça musical. O metrónomo também pode ser usado por compositores para marcar variações numa partitura. A utilização do metrónomo tem gerado muito debate. Alguns músicos defendem que é antinatural tocar segundo um tempo exato. De facto, muitos compositores famosos, como Wagner e Brahms, criticaram o metrónomo, acreditando que negava ao instrumentista uma forma de expressão natural. Os opositores deste utensílio argumentam que os músicos que o utilizam produzem um som “metronómico” aborrecido.

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© Thinkstock

Os muros em pedra seca são a espinha dorsal arquitetónica da História. São compostos por um conjunto de pedras entrecruzadas, cuidadosamente empilhadas e equilibradas sem a ajuda de argamassa. Os métodos adotados na construção são vários, mas a maioria é erigida com blocos regulares, montados com a ajuda de armações de madeira e linhas de medição. Hoje é comum ver-se muros de pedra seca no campo, onde dividem terras e colheitas. Mas este tipo de construção já era usado no mundo antigo, nomeadamente em muitos monumentos pré-históricos, pontes romanas e primeiras igrejas. Por outro lado, a metodologia até foi utilizada para criar obras de arte moderna. Entre as estruturas mais famosas encontram-se as pirâmides do Egito e os moledros (cairns), pilhas de pedras que remontam à pré-história, podiam assumir várias formas e servir diferentes fins, desde marco geodésico a monumento sepulcral, entre muitos outros. Mas talvez a utilização mais elegante seja a de Machu Picchu, no Peru, onde a civilização inca criou uma magnífica cidade construída de paredes em pedra seca polidas.


cinco factos

câmaras instantâneas

Edwin Land

1

Rápida

2

A invenção da câmara

instantânea moderna é atribuída a Edwin Land, que a lançou em 1948. Foi fabricada pela Polaroid até 1983, em diferentes versões.

Mesmo na câmara

instantânea original, cada fotografia demorava apenas um minuto a revelar. No fim, a foto e o negativo saíam pela parte de trás da câmara.

Era digital

3

Declínio

Apesar de muito popular

nos anos 80, o mercado das câmaras instantâneas ficou enfraquecido com a chegada das câmaras digitais. Hoje, é um mercado de nicho.

4

Em 2008, a Polaroid planeou

despedir 450 empregados e fechar três fábricas devido às vendas fracas. Em 2009, porém, relançou a câmara instantânea de película.

Novos modelos

5

A Polaroid produz atualmente

duas câmaras, a Polaroid 300 e a Polaroid Z340, o modelo topo de gama. A Z340 está equipada com um sensor de 14 MP e zoom digital de 4x.

SABIA QUE... Quando o Sinclair C5 foi lançado custava £ 399 e podia ser conduzido por maiores de 14 anos, sem carta? O C5 era ecológico para a sua época, mas não foi bem recebido pelos média.

“ Foram precisos cinco anos e um total de 14 milhões de euros para produzir o C5.” Bagageira Transporta dez quilos de carga.

Motor elétrico

Motor de corrente contínua de íman permanente, de 12 V (250 W), com bateria Oldham de seis células.

Guiador

Posicionado abaixo dos joelhos do condutor; no lado esquerdo tem um interruptor para acionar o motor mas, de resto, é como o guiador de uma bicicleta normal.

Sinclair C5

Uma tentativa de produzir um veículo elétrico revolucionário em massa.

Pedais

Para auxiliar o veículo no arranque ou em subidas, o condutor pode usar os pedais, que estão ligados a uma correia que movimenta o eixo traseiro.

Painel de instrumentos

Tem dois conjuntos de indicadores. À esquerda, as luzes indicam a energia em utilização; à direita, mostram a carga que resta na bateria do triciclo.

O Sinclair C5 era basicamente um triciclo para um único passageiro, com um motor elétrico que fornecia energia extra. Com a carga completa, o alcance médio era de 21 km e a velocidade máxima de 24 km/hora. Tinha um chassis em aço e uma carroçaria aerodinâmica, a maior em polipropileno moldado por injeção alguma vez produzida em massa. Foram precisos cinco anos e um total de cerca de € 14 milhões para a Sinclair Vehicles produzir o C5. Lançado em janeiro de 1985 com a expectativa de vender cem mil veículos num ano e revolucionar o transporte pessoal, acabou ridicularizado nos média e, com uma segurança duvidosa, apenas 17 mil unidades foram vendidas. A empresa foi colocada sob administração judicial em outubro de 1985, encerrando pouco depois.

Câmaras instantâneas

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uma série de rolos dentro da câmara que aplicam o reagente, para que possa reagir com as camadas que estão por baixo. Estas reações fazem com que as tintas da película se infiltrem na camada da imagem, onde os grãos que foram expostos à luz durante a fase da captura da fotografia os absorvem e começam a formar uma imagem. Hoje em dia, no entanto, as câmaras instantâneas produzem imagens através de vários sistemas diferentes, como demonstrado pela Polaroid Z340. Esta câmara instantânea de última geração faz uso de um processo ativado pelo calor em que cristais cianos, amarelos e magentas dentro do papel de impressão são transparentes até serem aquecidos. Quando aquecidos, os cristais são ativados e reproduzem a imagem captada no papel. Esta tecnologia é particularmente prática, pois elimina a necessidade de ter tintas e fitas internas.

© Cburnett

As câmaras instantâneas – como as produzidas em massa pela Polaroid nas décadas de 1970 e 80 – permitem não só fotografar como também imprimir a imagem imediatamente. Para isso, o processo mecânico e químico de várias fases utiliza uma película especial e um sistema interno de rolos e luzes. O processo começa como nas câmaras de rolo normais, com a película plástica revestida com um composto de prata a registar um negativo da imagem captada. A película das câmaras instantâneas possui camadas extra com químicos e tintas necessários à revelação da fotografia, que são catalisados através do reagente (um conjunto de opacificadores, alcalis e pigmentos) que é aplicado na película. O reagente é colocado no exterior da película para não interagir prematuramente com as camadas sensíveis à luz. Quando a película está pronta para ser processada, passa por

© Bilby

Como funcionam as tradicionais Polaroid?

A Polaroid SX-70, uma das câmaras instantâneas mais populares de sempre.

Quero Saber | 115


Indústria & inventos

Moinhos de água

Como é que estes sistemas antigos aproveitavam a energia da água para desempenhar uma variedade de tarefas?

Tipos de roda

Os moinhos de água eram – e, em circunstâncias raras, ainda são – instalações em que a água em movimento era usada como força motriz para alimentar um aparelho de moagem. O componente-chave era uma roda hidráulica, apesar de mais tarde se usarem também turbinas, que convertia a energia cinética e potencial da água em energia mecânica rotativa para acionar diferentes máquinas – mais comummente, um moinho que moía grão para produzir farinha. Historicamente, existiram vários tipos de moinho de água, cada um largamente determinado pelo tipo de roda usado. O tipo de roda era ditado pela geografia local e pela fonte de água, com os rios das planícies a exigir uma roda

Acionada por baixo

Funcionamento

Veja como um destes moinhos usava o movimento da água para transformar grão em farinha.

1. Caudal de entrada

A água de um curso era desviada por uma conduta para uma roda com pás ou alcatruzes.

2. Queda da água A água caía para os alcatruzes, enchendo‑os e empurrando a roda para baixo.

de fluxo subaxial, enquanto as fontes de locais elevados permitiam modelos mais eficientes, como as rodas de fluxo sobreaxial (ver “Tipos de rodas”). Pensa-se que estes moinhos datem de há milénios e eram usados por todo o mundo até ao princípio do século XX, pela sua versatilidade. Além de moer grão, serviam para serrar madeira, produzir bobinas para a indústria têxtil, fabricar pólvora para armas e esmagar minério para metalurgia. Devido à sua popularidade, os modelos evoluíram depressa, oferecendo cada vez mais eficiência. Hoje, os moinhos de água são muito menos usados devido à disponibilidade de sistemas de produção de energia mais eficazes, mas alguns ainda funcionam para propósitos de demonstração.

3. Rotação

O movimento descendente dos alcatruzes faz a roda girar, convertendo a energia cinética da água em energia rotativa.

4. Rodas dentadas A energia rotativa gerada pela roda é transferida para o moinho por uma série de rodas dentadas e engrenagens.

Se o moinho for construído num terreno sem inclinação, a roda de fluxo subaxial é a única opção. Este modelo é o mais antigo e o menos eficiente, recorrendo a corpos de água grandes e rápidos para funcionar. A água empurra as pás da roda, fazendo-a girar.

Acionada por cima Se a água cair de uma altura razoável (por norma, mais de 4,5 m), pode usar-se uma roda de fluxo sobreaxial. São muito eficientes (cerca de 80%), com a água a entrar nos alcatruzes por cima e, após cada queda, a maximizar a energia tanto do líquido como da gravidade.

6. Caudal de saída

Quando os alcatruzes cheios chegam ao nível do solo, o conteúdo regressa ao curso de água, fluindo para fora do sistema.

116 | Quero Saber

5. Moinho

A energia é levada pelas engrenagens para a máquina interior, que neste caso mói trigo para fazer farinha.

Neste modelo, a água entra na roda próximo do centro da orla desta ou pouco acima. Também aqui a água cai nos alcatruzes, fazendo a roda girar sob o peso, com a água a fluir para fora da roda no seu ponto mais baixo. Este modelo funciona melhor com uma massa de água que esteja a dois ou três metros acima do nível do solo.

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© SPL

Acionada ao meio


Suba a bordo das carruagens-cama Pullman do século XIX.

w w w . q u e r o s a b e r . s a po . p t SABIA QUE... George Pullman conseguiu que o corpo de Abraham Lincoln fosse transportado numa carruagem-cama Pullman?

Os comboios Pullman Porque eram estas carruagens dignas de uma rainha? A primeira metade do século XIX trouxe a rápida expansão das viagens de comboio, com novas empresas e linhas a surgirem na senda da primeira via-férrea a vapor britânica, que abriu a 15 de setembro de 1830 e ligava as crescentes cidades industriais de Liverpool e Manchester. A Pullman Palace Car Company foi criada em 1862, nos EUA, e, embora se especializasse em carruagens‑cama (mais populares nos EUA, dadas as maiores distâncias), começou a exportar carruagens de passageiros para a Grã-Bretanha em 1874. Longe de chegar tarde à festa, a Pullman depressa monopolizou o mercado de luxo. Apelando às crescentes classes médias com dinheiro para se mimarem, a Pullman oferecia

assentos em pele, candeeiros de leitura, carruagens-restaurante, criados atenciosos que serviam comida e bebida, e até aquecimento e ar condicionado. Com o consentimento da sua homóloga americana, uma empresa britânica – a Pullman Car Company – surgiu em 1882, produzindo carruagens similares numa oficina em Brighton. As carruagens e o serviço que George Pullman reconheceria perduraram até às décadas de 1960 e 70, quando os modelos clássicos começaram a ser substituídos por designs próprios da era do diesel e das deslocações diárias. Símbolo imediatamente reconhecível de uma era de elegância perdida, as carruagens Pullman foram usadas pela família real britânica e sobreviveram a bombardeamentos na Segunda Guerra Mundial.

Direitos civis Na década de 1920, a Pullman Palace Car Company era uma das maiores empregadoras de afro-americanos nos EUA, mas as condições continuavam a ser más para empregados negros, cujo salário eram as gorjetas dos passageiros e que estavam impedidos de ocupar funções especialmente reservadas a funcionários brancos. A 25 de agosto de 1925, surgiu a Irmandade dos Bagageiros das Carruagem-cama (BSCP, na sigla em inglês), com o mote “Fight or Be Slaves” (“lutem ou sejam escravos”), que, após uma longa batalha, se tornou o primeiro sindicato afroamericano oficialmente reconhecido pela Federação Americana do Trabalho, em 1935. Membros da BSCP vieram a ser cruciais no movimento dos direitos civis, incluindo o cofundador Asa Philip Randolph – que, em 1963, organizou a Marcha sobre Washington de Martin Luther King (onde este proferiu o discurso “I Have A Dream”) – e Edgar Nixon, que, em 1955, organizou o Boicote de Montgomery, em resposta à prisão de Rosa Parks por desafiar leis racistas no Sul profundo americano.

O interior da carruagem Descubra como a Pullman ganhou a sua reputação. A partir de 1906, as cores da Pullman Car Company eram o ocre e o creme, com “Pullman” escrito a dourado.

Brasão

O brasão da Pullman surgia na lateral de todas as icónicas carruagens.

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Conforto

O elegante interior em estilo Arte Déco incluía candeeiros de leitura elétricos, toalhas de mesa e assentos estofados.

Restauração

A carruagem-restaurante servia passageiros standard e de primeira classe, tendo estes preferência.

Locomotiva

A máquina em si era uma grande caldeira que produzia vapor suficiente para mover as rodas.

Vagão de carvão

Além do carvão para a máquina a vapor, este vagão podia conter também água e madeira.

Furgão

Podia transportar a bagagem dos passageiros ou encomendas e correio do Royal Mail.

Lavabos

As janelas dos lavabos eram circulares desde 1906, tendo o design sido abandonado em 1951.

Quero Saber | 117

© Thinkstock

Cores


Indústria & inventos

Triciclos para vias‑férreas Como é que os velocípedes de tração humana permitiam aos operários ferroviários deslocar‑se pelos carris facilmente no século XIX? O velocípede permitia aos funcionários dos caminhos‑de‑ferro inspecionar de perto os carris e linhas telegráficas em busca de falhas.

Engenharia dos velocípedes

1

A construção leve permitia viagens rápidas sobre os carris.

4

2

4 Quadro de madeira As rodas e o quadro eram em madeira robusta, enquanto os pneus, os eixos, a cambota e os pedais eram de ferro. 5

Descubra porque os aparelhos auditivos eletrónicos modernos só existem graças a Alexander Graham Bell e ao seu telefone.

118 | Quero Saber

2 Pedais Podia obter‑se uma fonte de energia secundária ao pedalar, como numa bicicleta. 3 Lugar do passageiro Os velocípedes serviam para inspeção e reparação ferroviária; uma pessoa guiava e a outra inspecionava a via.

Evolução do aparelho auditivo Até ao final do século XIX, os aparelhos auditivos eram pouco mais que tubos passivos totalmente dependentes da captação de ondas sonoras e respetiva canalização máxima possível para o ouvido. Só aquando da invenção do telefone, que incluía tecnologia capaz de converter energia sonora num sinal elétrico, é que foi possível realizar avanços nos aparelhos auditivos. O sinal podia ser amplificado e enviado para um altifalante próximo, ou no interior, do ouvido do utilizador. A peça‑chave da tecnologia era o transmissor de carbono, inventado de forma independente por Thomas Edison, Emile Berliner e David Hughes – apesar de Edison ter recebido a primeira patente. O transmissor continha grânulos de carbono, cuja resistência elétrica diminui quando comprimidos pela pressão gerada pelas ondas sonoras. Miller Reese Hutchison usou este

1 Tração manual Puxar e empurrar esta “alavanca” fazia rodar a cambota, o que girava as rodas.

3

aparelho em 1898 para criar o primeiro aparelho auditivo elétrico, o Akouphone. Os aparelhos auditivos com transmissores de carbono eram muito volumosos, mas a invenção de amplificadores mais pequenos – primeiro, o tubo de vácuo e, mais tarde, o transístor – permitiu que os aparelhos se tornassem mais portáteis. Os transístores não só eram mais diminutos como gastavam menos energia; assim, o tamanho da bateria podia ser reduzido, o que tornava os aparelhos auditivos mais práticos. O desenvolvimento dos computadores, sobretudo dos microprocessadores, permitiu a digitalização dos aparelhos auditivos. O som recebido é processado antes de ser enviado para o altifalante, permitindo que o sinal seja separado, com frequências individuais moduladas de forma a aumentar sons fracos e ajustes efetuados consoante o tom e volume recebidos.

5 Verdugo Um verdugo interior nas rodas impedia que o velocípede descarrilasse ao mover‑se.

Os aparelhos auditivos evoluíram de cornetas básicas para dispositivos digitais tão pequenos que cabem dentro do ouvido.

Direto ao cérebro

A tecnologia dos aparelhos auditivos atuais está mais avançada do que nunca. Muitas vezes, é utilizado um implante coclear para enviar sinais elétricos através da cóclea para o nervo auditivo. Se o nervo estiver lesado, pode usar‑se o implante auditivo do tronco cerebral (ABI, na sigla inglesa). O núcleo coclear é a área do cérebro responsável pelo processamento dos sinais do nervo auditivo e pode ser estimulado artificialmente com elétrodos. No exterior do ouvido, coloca‑se um processador que transmite um sinal para um recetor implantado sob a pele. O recetor está ligado a um implante revestido de silício, que termina no tronco cerebral, estimulando diretamente os nervos de forma a que o som seja percebido.

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© Getty; Alamy

Patenteadas em 1879 pelo agricultor americano George S. Sheffield, as primeiras dresinas permitiam ao pessoal operacional percorrer rapidamente as vias‑férreas em busca de áreas a reparar. O veículo era semelhante a uma bicicleta: o condutor sentava‑se entre duas rodas, num dos lados da via. Todavia, para permitir que o velocípede percorresse o fino carril, era equilibrado por uma terceira roda que circulava no outro carril, ligada ao veículo através de um longo braço. Cada roda tinha um verdugo no lado de dentro para impedir que descarrilasse. Os velocípedes tinham pedais, mas a maioria da força para acionar as rodas era gerada manualmente: o guiador era empurrado e puxado graças a um pivô central, num movimento semelhante ao de um êmbolo, rodando a cambota e depois as rodas. O veículo tinha um peso total de apenas 65 kg, podendo assim ser levantado facilmente para dar passagem a um comboio.


SABIA QUE... No séc. XIX, Lindon e Gilbert começaram a produzir bolas para os alunos da Rugby School?

Gira-discos

A ciência por detrás dos discos de vinil, que nos dão música desde 1877. A tecnologia dos gira-discos baseia-se nas vibrações do som fisicamente gravado nos sulcos de um disco de vinil. A delicada agulha lê essas vibrações à medida que o disco roda, traduzindo-as em som através do braço do aparelho. O fonógrafo de Thomas Edison, inventado em 1877, é o primeiro exemplo deste método de gravação e reprodução de som, e abriu caminho ao gramofone de Emile Berliner. Este foi o primeiro aparelho a utilizar discos planos gravados, inicialmente feitos de borracha, que podiam ser rodados e tocados no dispositivo utilizando uma manivela manual. Os discos passaram depois a ser feitos de goma-laca e mais tarde de cloreto de polivinil, mas os princípios básicos mantiveram-se. O prato, o principal componente do gira-discos, roda o vinil com um sistema de correia ou de tração direta, reduzindo o ruído do motor tanto quanto possível. No entanto, é nos delicados sulcos do vinil que toda a música acontece. Os sulcos formam uma espiral gradual em direção ao centro, que a agulha segue à medida que o disco gira, fazendo-a vibrar. Esta energia mecânica é depois convertida em energia elétrica, amplificada e, por fim, transformada na energia sonora que é emitida pelos altifalantes.

No interior de um gira-discos O que é preciso para tocar um disco de vinil?

Pino central

Mantém o disco no sítio enquanto roda, permitindo à agulha e ao braço moverem-se até ao centro.

Agulha

A agulha move-se ao longo dos sulcos no disco, vibrando enquanto se dirige ao centro.

Cápsula magnética

Uma bobina de metal magnética transforma as vibrações da agulha em sinais elétricos.

Braço

Sistema de correia

O motor faz rodar a correia, que é feita de um material elastomérico macio para reduzir as interferências.

Os sinais elétricos são transmitidos através do braço do gira-discos para o amplificador.

As bolas de râguebi originais As raízes da modalidade, impróprias para vegetarianos.

Originalmente, as bolas de râguebi eram menos ovais e mais arredondadas.

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Produzidas junto à escola de onde deriva o nome do desporto, as bolas de râguebi eram originalmente feitas a partir de bexigas de porco e é a isso que se deve a sua forma invulgar. No século XIX, os fabricantes de sapatos Richard Lindon e William Gilbert começaram a produzir bolas para os alunos da Rugby School, em Rugby, Inglaterra, insuflando as bexigas de porco e envolvendo-as com couro costurado. As bexigas eram insufladas manualmente, o que tornava a tarefa muito pouco agradável. O diferente tamanho da bexiga de cada porco fazia com que as bolas de râguebi tivessem dimensões também diferentes, mas a forma oval só surgiu mais tarde, em 1845, quando os alunos da escola definiram as regras do jogo. Em 1892, foram introduzidas as especificações sobre a bola, que determinavam, entre outros aspetos, que deveria ser costurada à mão com oito pontos por polegada e ter um peso de 368,5 gramas.

Quero Saber | 119


Indústria & inventos

Como eram feitas as moedas? Quando começou a fresagem e como dela tiravam partido os criminosos?

Hoje, as moedas são prensadas de longas folhas de metal e gravadas sob pressões de até 360 toneladas por polegada quadrada em máquinas automáticas, mas, antes da cunhagem a vapor de Matthew Boulton e do mecanismo de manivela de Peter Blondeau, eram individualmente cunhadas à mão. Discos de metal cuidadosamente pesados e saídos da forja eram colocados entre dois blocos de metal temperado, um com o desenho da coroa e o outro com o da cara. O cunho superior era, então, martelado com força para que o metal macio do disco assumisse o desenho de ambos os lados. O processo – chamado fresagem – era relativamente moroso e repleto de erros: era frequente as moedas ficarem descentradas, serem duplamente cunhadas ou racharem. Pior para as autoridades, como nas unidades mais altas se usava ouro e prata e como não havia duas moedas iguais, os atos de “recortar” os bordos das moedas de metal precioso ou de “suar” moedas de prata (agitar um saco de prata e recolher o pó) eram prática comum entre aqueles não tinham escrúpulos, que depois podiam lucrar gastando a moeda pelo seu valor nominal e ficando com os restos preciosos.

Cunhagem em ação Martelo

Os métodos de cunhagem modernos podem aplicar centenas de toneladas por polegada quadrada a um disco. Porém, metais macios, requerem apenas a força de um golpe de martelo.

Disco

Antes da cunhagem, a moeda é apenas um disco metálico em branco.

Cunho

Segurado por um assistente, o cunho imprimia o reverso da moeda.

Contracunho Tendia a assentar numa bigorna ou toro de madeira para maior estabilidade.

Como era curtida a pele?

© Bernard Gagnon

Sustenha a respiração para conhecer o processo repugnante de curtir pele.

Esta alcaçaria tradicional em Marraquexe, Marrocos, é surpreendentemente colorida, atendendo ao excremento animal usado no processo.

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Maquinaria e produtos químicos fizeram da preparação de pele animal para uso humano um processo bem menos sórdido, mas, durante séculos, as alcaçarias eram relegadas para os arrabaldes, devido aos materiais imundos usados no processo. Acabada de extrair do animal abatido (vaca, veado, coelho ou qualquer criatura com uma pele maleável), a pele era endurecida com sangue, sendo a carne remanescente raspada, enquanto eventuais pelos eram removidos encharcando a pele em urina. Fezes de galinha ou de outro animal eram então misturadas com água em vasilhas e massajadas nas peles pelo curtidor, que pisava a pele na mistura com os pés descalços, como um trabalhador a pisar uvas no lagar. As fezes animais – sobretudo as de cão – contêm uma enzima que decompõe o colagénio na pele, tornando-a macia e maleável. Nalguns casos, o cérebro esmagado do animal abatido era usado para produzir camurça ou uma peça de pelo, com a lecitina no órgão a suavizar a superfície do couro. Por fim, um agente de curtição, como óleo de cedro (ou outro tanino natural), era aplicado enquanto a pele estava a ser esticada, de forma a manter o material maleável.

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cinco factos relógios de cuco

Príncipe

1

A primeira descrição

conhecida de um relógio de cuco moderno vem de um nobre alemão do séc. XVII, que escreveu sobre o detido por Augusto I da Saxónia.

Floresta Negra

2

A popularidade dos relógios de

cuco cresceu no séc. XVIII, com a Floresta Negra alemã no centro da produção. Hoje, são muito apreciados e podem custar milhares de euros.

Chalé

3

Minimalista

Ao longo do séc. XX, os relógios

de cuco tendiam a ser construídos em forma de chalé de madeira, um estilo que surgiu em finais da década de 1800, na Suíça, onde eram vendidos como lembranças.

4

Ninho de cucos

Hoje, o design do relógio de

cuco tornou-se mais variado em forma e função, coexistindo as versões tradicional e chalé com outras mais minimalistas e modernas.

5

A maior e melhor coleção

de relógios de cuco do mundo (com modelos antigos e novos) está no Museu Cuckooland, em Cheshire, Inglaterra.

SABIA QUE... A criação do relógio de cuco é atribuída ao matemático grego Ctesíbio?

Relógios de cuco Como funcionam estas peças ejetoras de aves? Um relógio de cuco é um tipo de relógio tradicionalmente regulado por um pêndulo que, além de dar horas, como um relógio normal, solta um pequeno cuco e o seu chamamento audível. O relógio funciona graças a uma série de componentes internos e externos que, juntos, ejetam o cuco e reproduzem o seu som de forma sincronizada com os ponteiros do mostrador. O relógio de cuco foi inventado na sua forma “moderna” no século XVI, na Alemanha; desde então, diversificou-se em três tipos principais: Floresta Negra, chalé suíço e quartzo moderno. O primeiro tipo é considerado tanto o mais tradicional – foi na zona da Floresta Negra que os primeiros relógios de cuco modernos foram criados – como o mais valioso, dado o controlo de qualidade do fabrico de relógios de cuco na região. Estes relógios são totalmente mecânicos, sendo preciso dar-lhes corda frequentemente, e funcionam graças a pesos pendurados sob o relógio. Há dois tipos distintos de mecanismos: de um dia e de oito dias.

O segundo tipo é o relógio chalé, inventado no final do século XIX, na Suíça. Estes relógios assemelham-se a chalés de madeira e usam sistemas mecânicos ou de quartzo, consoante a sua qualidade. Um mecanismo de quartzo difere marcadamente de um mecânico por funcionar a pilhas, dispensando a corda e os pesos. O mecanismo de quartzo utiliza um oscilador eletrónico que é regulado por um cristal de quartzo, com o oscilador a criar um sinal com uma frequência muito precisa. Os relógios chalé também diferem das variantes Floresta Negra por terem, habitualmente, outras figuras além da tradicional ave, como lenhadores e criadas. A mais recente variante do relógio de cuco é o de quartzo moderno. Estes tendem a ser mais contidos em design e têm mecanismos internos não tradicionais – por exemplo, os relógios de cuco de quartzo modernos produzem o seu cucular eletronicamente, através de uma gravação digital, ao invés dos tradicionais sistemas de fole duplo.

A variante chalé suíço do relógio de cuco tende a incorporar outras figuras, como um casal de noivos, neste exemplo.

No interior do relógio

A Quero Saber desmonta um relógio de cuco para ver o que o faz funcionar.

Abertura

Tanto a porta frontal do cuco como o painel traseiro são abertos por duas abas, a primeira automaticamente quando em funcionamento.

Pêndulo

O pêndulo controla a velocidade a que o relógio funciona, com um prumo deslizante a que permite que o utilizador o ajuste.

Ave

O cuco é ejetado do relógio com uma extensão tipo acordeão, que é controlada pelo mecanismo central.

Pesos

Martelo

Geralmente em forma de pinhas, os pesos são feitos de ferro fundido e fornecem energia ao mecanismo central.

O martelo é controlado pelo mecanismo de engrenagem central, batendo num gongo interno a cada hora.

Assobios

O som distinto da ave é criado por um par de assobios. Cada um funciona deixando cair um peso de aço sobre um fole, obrigando o ar a passar sobre uma palheta.

Correntes

Cada peso está preso a uma corrente que, por sua vez, passa sobre uma roda dentada, uma engrenagem unidirecional ligada ao mecanismo.

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Frente

Trás

Mecanismo

O coração do relógio, o mecanismo, consiste numa série de engrenagens que controlam o martelo, os assobios e a ejeção da ave.

Quero Saber | 121


INDÚSTRIA & INVENTOS

A vida a bordo de um baleeiro do séc. XIX

Como é que estes navios especiais ajudavam a tripulação a caçar os valiosos mamíferos marinhos em perigosas viagens que podiam durar meses?

Os baleeiros eram navios cuidadosamente concebidos para atividades de longa duração e perigosas. Tripulados por homens hábeis, o seu único propósito era caçar, capturar e explorar os recursos de vários cetáceos, sobretudo baleias, nalguns dos oceanos mais inóspitos da Terra. Os “recursos” consistiam essencialmente na espessa camada de gordura encontrada sob a pele de todas as baleias, passível de ser derretida pelo seu alto teor oleico, embora ossos, carne e outras partes também fossem aproveitados. O óleo, porém, era o principal objetivo de qualquer baleeiro, já que, antes da introdução do querosene e dos óleos vegetais, o óleo de baleia era a base de muitos produtos quotidianos, incluindo sabão, lâmpadas e até alimentos. Assim, cada baleia capturada podia dar bom lucro em terra. O óleo era extraído da gordura a bordo da embarcação num sistema de processamento composto por dois caldeirões e uma fornalha de tijolo. A gordura era fervida nos caldeirões sobre a fornalha, e os seus óleos naturais eram extraídos e armazenados em grandes barris sob o convés. A fornalha em si era montada em suportes de ferro fundido no convés, com um reservatório de água subjacente para evitar que as tábuas de madeira ardessem. É claro que, para derreter a gordura, a tripulação tinha primeiro de capturar uma baleia. O processo de apanhar baleias consistia em atingir a criatura com arpões disparados por armas no convés e na posterior aproximação em baleeiros menores. Cada um destes – carregado como os atuais barcos salva-vidas em navios maiores – tinha a sua própria tripulação e arsenal, como arpões de mão, lanças e armas de fogo. O animal era então rebocado pelos barcos até ao navio e esquartejado – o que envolvia o corte da pele e da gordura em tiras antes de ser levada para bordo.

122 | Quero Saber

O navio do convés ao porão

Explore as principais áreas de um baleeiro com a nossa ilustração.

Cabina do comandante Como noutros navios, o comandante tinha os seus aposentos na popa.

Tripulação-chave

Tripulantes cruciais, como os arpoeiros e o ferreiro e tanoeiro do navio, dormiam neste espaço a meio da embarcação.

Sala da gordura

A gordura extraída era mantida num compartimento dedicado. As tiras eram retiradas daqui e depositadas nos caldeirões.

Porão posterior

Sendo muita da zona de armazenamento ocupada com as pipas de óleo, os mantimentos e equipamento da tripulação eram guardados nesta área sob a cabina do comandante.

“Baleia à vista!”

Quão exata é a descrição da caça às baleias no clássico norte-americano Moby Dick? O autor de Moby Dick, Herman Melville, passou 18 meses num baleeiro – o Acushnet –, de 1841 a 1842, onde pôde vivenciar o ofício em primeira mão. Estas vivências, a par da história de Mocha Dick – um cachalote que vivia no Oceano Pacífico, ao largo da ilha chilena de Mocha –, tornaram-se as bases do seu famoso romance. Como tal, os papéis dos tripulantes, o discurso utilizado e as atividades retratadas são considerados uma representação relativamente precisa da vida a bordo de um baleeiro real.

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ESTRANHO MAS REAL ONDE ESTÁ A MOBY?

Em Moby Dick, em quantos capítulos surge a baleia?

Resposta:

Curiosamente, apesar de o enredo de Moby Dick se centrar numa expedição épica (ilustrada à esquerda) para capturar um macho de cachalote, a criatura surge em apenas três dos 135 capítulos do romance.

A 3 B 53 C 135

SABIA QUE... Era frequente as viagens de caça à baleia durarem mais de um ano seguido?

Botes baleeiros

Caldeirões

Barcos a remo alinhavam-se no convés do navio. Permitiam a aproximação ao alvo depois de este ter sido atingido com o arpão.

A par da fornalha, os caldeirões constituíam o sistema de processamento de gordura de baleia a bordo. Estes grandes caldeirões de ferro derretiam a gordura para produzir óleo.

Chaminé

Os caldeirões para derreter a gordura das baleias exigiam uma fornalha grande. O fumo saía do navio através de uma chaminé.

Castelo da proa

Os tripulantes “normais” sem treino especial dormiam nesta estreita divisão triangular situada na proa do navio.

Linha de água Porão anterior

Era onde estavam as ferramentas e materiais de construção das pipas. O tanoeiro produzia os barris para o óleo conforme fosse necessário.

Mal pagos

Quão lucrativa era a caça à baleia para um marinheiro?

A caça à baleia era, até para os padrões náuticos, muito dura, com longas viagens, condições severas e – em muitos casos – mal paga. Nenhum tripulante recebia um salário semanal, mas sim uma percentagem dos lucros totais da viagem. A percentagem recebida dependia do estatuto da pessoa no navio, com o comandante a receber a parte maior e o tripulante mais humilde a receber a menor. Obviamente, a parte de cada tripulante dependia do número de baleias capturadas, já que quanto mais óleo fosse trazido e vendido, mais dinheiro entrava no bolo comum. Infelizmente, porém, as longas expedições de caça à baleia tendiam a trazer uma quantidade limitada de óleo, deixando o pescador de baleias em dívida. Nestes casos, era comum o tripulante alistar-se para outra longa expedição assim que chegava ao porto, na esperança de pagar aquilo que devia.

Mastro do traquete

Como os baleeiros tinham de percorrer longas distâncias e, ao perseguir uma baleia, a alta velocidade, uma disposição aparelhada com três mastros era comum.

Barris de óleo

Óleo extraído da gordura das baleias era armazenado em grandes pipas de madeira, que ocupavam grande parte das cobertas inferior e central.

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© Credit Getty ©

Nesta pintura, navios baleeiros no Mar do Sul queimam gordura de baleia após um bem-sucedido dia de caça.

Quero Saber | 123


FIGURAS INFLUENTES 126 Benjamin Franklin

142 Alfred Nobel

128 Isambard Kingdom

144 Peter Higgs

Revolucionou tanto a política como a tecnologia dos EUA.

Brunel

Um dos melhores engenheiros de sempre.

130 Guglielmo Marconi O pai da rádio e do início da comunicação sem fios.

132 Irmãos Wright

A dupla que mudou a história da aviação.

134 Tycho Brahe

Calculou o movimento planetário e cunhou o termo nova.

136 Albert Einstein

O físico mais influente de todos os tempos.

138 Max Planck

O responsável pelos prestigiados prémios suecos. Conheça melhor quem descobriu o Bosão de Higgs.

146 Charles Darwin

O naturalista que mostrou a biologia evolutiva.

148 Neil Armstrong O primeiro homem a pisar a Lua.

150 Henry Ford

Levou o carro às massas.

152 Nicolau Copérnico Quem redefiniu o lugar da Terra no Universo.

154 Niels Bohr

O físico que provou que pequenas coisas fazem a diferença.

O pai da física quântica.

140 Michael Faraday

O cientista responsável pela indução magnética.

146

Charles Darwin

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Peter Higgs

144

Alfred Nobel

142

Os irmãos Wright

132


Tycho Brahe

134

126

Benjamin Franklin

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G uglielmo Marconi

Š Look and Learn; Cardiff Council Flat Holm Project; Alamy; Thinkstock; Cern

Isambard Kingdom Brunel

136

Albert Einstein Quero Saber | 125


FIGURAS INFLUENTES

Benjamin Franklin Como o homem da nota de $ 100 revolucionou a tecnologia tanto como a política norte-americana.

“ Imaginou objetos como os óculos bifocais e as barbatanas de natação, que se tornariam comuns nos séculos seguintes.”

Vida e obra Percorremos os acontecimentos principais da carreira do famoso polímata.

126 | Quero Saber

1706

Franklin nasce em Boston, a 17 de janeiro, filho de Josiah Franklin e da esposa, Abiah.

1718

Aos 12 anos, estreia-se como aprendiz no novo negócio de impressão do irmão.

1723

Após publicar sob um nome falso, Franklin foge para Filadélfia.

Benjamin Franklin, uma das mentes mais brilhantes de todos os tempos, teve a sua primeira grande oportunidade ao fingir ser mulher. Aos 12 anos, começou a ser aprendiz na oficina de impressão do seu irmão James, que publicou o primeiro jornal independente nas colónias britânicas. Mas apesar da determinação e do trabalho árduo de Benjamin, James recusava imprimir os seus artigos. Então, o jovem Franklin começou a escrever sob o pseudónimo “Mrs. Silence Dogood”, enviando regularmente ao jornal cartas para publicação. Os seus comentários espirituosos e perspicazes deram que falar, mas James ficou ofendido quando descobriu que o verdadeiro autor era o seu irmão mais novo. Benjamin Franklin deixou a oficina e mudou-se para Filadélfia, onde montou o seu próprio negócio de impressão e comprou a The Pennsylvania Gazette. Na década de 1730 ganhou notoriedade e sucesso, sobretudo com a publicação do Poor Richard’s Almanack. Comprou propriedades e negócios, organizou uma corporação de bombeiros voluntários, fundou uma biblioteca e foi eleito grande mestre da maçonaria da Pensilvânia, secretário da assembleia do estado e diretor dos correios de Filadélfia. Também se tornou empreendedor e, em 1741, inventou a salamandra Franklin – uma lareira eficiente cujo objetivo era produzir menos fumo e mais calor do que as vulgares lareiras abertas. Embora a salamandra não tenha pegado, em 1749 Franklin retirou-se dos negócios para se concentrar mais nas suas invenções. Imaginou objetos como os óculos bifocais e as barbatanas de natação, que se tornariam comuns nos séculos seguintes. Não sendo pessoa de dormir à sombra dos louros obtidos, virou a sua atenção para o estudo da eletricidade e, em 1752, conduziu a famosa experiência do papagaio de papel com uma haste de arame de ferro, que provou que os raios são compostos por eletricidade estática. Também desenvolveu a teoria do fluido único, que postulava que a eletricidade

1728

Funda a sua própria empresa de impressão e compra a The Pennsylvania Gazette no ano seguinte.

1732

Publica a primeira edição de Poor Richard’s Almanack, que rapidamente se torna muito popular.

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Thomas Edison

Nascido um ano após a morte de Franklin, desenvolveu o trabalho deste nas suas experiências. Descobriu a indução eletromagnética e a sua gaiola de Faraday, que bloqueia campos elétricos, baseou-se numa experiência de Franklin, em que pendurou uma bola de cortiça numa taça de metal e descobriu que só era atraída pelo exterior, não pelo interior.

Também se dedicou ao estudo da eletricidade. Descobriu o efeito de Edison, o fluxo induzido por calor de uma carga elétrica através do espaço, o que permitiu a invenção de rádios, televisores e outros equipamentos sem fios. Embora não tenha inventado a lâmpada, desenvolveu uma lâmpada incandescente mais prática para usar em casa.

A grande ideia

Benjamin Franklin inventou os óculos bifocais.

Antes de Benjamin Franklin iniciar as suas experiências científicas, pensava-se que a eletricidade consistia em duas forças opostas. Franklin provou que era, na verdade, um só elemento, imaginando que seria como um fluido invisível. Se um corpo tivesse este fluido em excesso, ganhava uma carga positiva. Se lhe faltasse, ganhava uma carga negativa. Franklin teorizou que o corpo com mais fluido fluía para o corpo com menos fluido, ou que as cargas elétricas fluíam de positivas para negativas. Contudo, descobriu-se entretanto que a eletricidade é o fluxo de eletrões, ou seja, flui de negativa para positiva.

O esquema da salamandra Franklin.

Papagaio

O papagaio tinha uma haste de arame de ferro pontiaguda fixa no topo para atrair o raio.

1741

Inventa a eficiente salamandra Franklin, mas não “pega”.

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1752

1 Óculos bifocais

Tinha visão fraca e teve a brilhante ideia de criar lentes para óculos com duas metades diferentes: a superior para ver à distância e a inferior para ler.

2 Para-raios

Cordão

Franklin prendeu o papagaio a um fio torcido, que conduzia a carga elétrica quando molhado.

É elétrico!

era um “elemento comum” e não duas forças opostas. Na década de 1750, Franklin envolveu-se mais na política. Em 1757, fez uma viagem a Inglaterra para representar a Pensilvânia no âmbito da sua disputa com os descendentes da família Penn sobre quem deveria representar a colónia. Quando regressou, quase 20 anos mais tarde, lutou ferozmente pela soberania americana e foi uma das cinco pessoas que redigiu a Declaração da Independência (dos EUA) em 1776. Ainda nesse ano, foi a França como diplomata dos Estados Unidos da América, onde se tornaria uma figura muito amada, e foi graças a ele, em grande parte, que o governo francês assinou um Tratado de Aliança com os EUA, em 1778. Quando morreu, em 1790, foi apelidado de “a harmoniosa multitude humana”. O legado das suas invenções e da obra política perdura até hoje.

Cinco invenções de Franklin

Franklin reparou que as fibras soltas do cordão sobressaíam em todas as direções devido à eletricidade estática.

Após estudar o comportamento da eletricidade, criou uma haste de metal que podia ser montada no topo dos edifícios e ligada à terra por um cabo para descarregar raios.

3 Harmónica de vidro Uma forma popular de entretenimento no século XVIII era tocar música em copos de vinho cheios de água. Franklin inventou uma versão mecanizada composta por 37 taças de vidro.

4 Salamandra

A lareira forrada a metal ficava no centro da sala, irradiando calor em todas as direções. Dava mais calor, gastava menos lenha e fazia menos fumo do que as lareiras abertas.

Chave

Fita de seda

Foi presa uma chave à ponta da corda, carregada pela corrente elétrica.

Pela experiência com um papagaio de papel, prova que os raios são um fenómeno elétrico.

Franklin segurou numa fita de seda presa à outra ponta da chave.

1776

Assina a Declaração da Independência, que assinalada a independência dos Estados Unidos da América face ao Império Britânico.

5 “Braço longo”

Franklin adorava ler e criou várias bibliotecas. A sua ideia de uma vara d e madeira com uma garra na ponta ajudava os visitantes a chegar aos livros das prateleiras mais altas.

1783

É assinado o Tratado de Paris, que põe fim à Guerra da Independência americana.

1790

Franklin morre a 17 de abril, aos 84 anos. O seu funeral atrai mais de 20 mil pessoas.

Quero Saber | 127

© Look and Learn; Corbis; Getty; Moses King, 1881; Louis Bachrach

NAS SUAS PISADAS

Michael Faraday


FIGURAS INFLUENTES

Isambard Kingdom Brunel Embora nem sempre bem-sucedido, Brunel inovou os meios de transporte e é agora recordado como um dos melhores engenheiros de todos os tempos. Isambard Kingdom Brunel revolucionou os caminhos-de-ferro e os navios, a nível global.

“ O SS Great Britain lançou as bases de uma nova era nas viagens transatlânticas.”

Vida e obra Brunel deixou a sua marca na história – mas quais foram os momentos decisivos?

128 | Quero Saber

1806

Isambard Kingdom Brunel nasce em Portsmouth, RU, filho do engenheiro civil francês Marc Isambard Brunel e Sophia Kingdom.

1827

Brunel é nomeado engenheiro residente no projeto do túnel do Tamisa, em Londres, assumindo o lugar do pai.

Apesar de ser uma era de progresso, a Revolução Industrial foi também uma época de tentativa e erro. Os que lideraram os avanços tecnológicos tentavam dar passos, alguns fracassados, outros sucessos incríveis. Um dos inovadores desta época foi Isambard Kingdom Brunel, nascido no início do século XIX. O seu pai, Marc, era um engenheiro civil francês que o encorajou a aprender aritmética, desenho à escala e geometria. Aos 16 anos, tornou-se aprendiz de relojoeiro. Em 1824, Marc foi nomeado engenheiro chefe de um projeto para construir um túnel sob o rio Tamisa, no Reino Unido (RU). Contratou o filho como assistente – que, mais tarde, chegou a engenheiro residente. O projeto sofreu várias inundações e dificuldades financeiras. A determinada altura, as operações foram suspensas por vários anos e o túnel coberto com tijolos. Abriu em 1843 e ainda hoje é utilizado como parte do metro de superfície London Overground. O projeto tornou o jovem Brunel um engenheiro qualificado. Em 1830, participou numa competição para conceber uma ponte que atravessasse o rio Avon, em Bristol (RU), e apesar de ter sido inicialmente rejeitado, conseguiu persuadir o júri a nomeá-lo engenheiro projetista. O trabalho na ponte suspensa de Clifton (RU) começou em junho de 1831, mas apenas quatro meses depois os tumultos de Queen Square afastaram os investidores. Mais uma vez, o projeto não foi bem sucedido. Em 1833, Brunel era o engenheiro chefe da via-férrea Great Western Railway que ligaria Londres a Bristol. Foi nessa altura que desenvolveu um dos conceitos mais polémicos

1830

Entra numa competição para conceber uma ponte sobre o rio Avon (RU), conseguindo o primeiro lugar.

1831

Começa o trabalho na ponte suspensa de Clifton mas dificuldades financeiras deixam o projeto num impasse.

1833

Brunel torna-se engenheiro chefe da Great Western Railway, onde cria uma via-férrea mais larga.

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NAS SUAS PISADAS

Edward Harland

John Roebling

Em 1861, funda a Harland and Wolff Heavy Industries com Gustav Wolff, para construir navios. Seguiu o conceito de Brunel, colocando ferros nos conveses e cascos com uma parte mais achatada para maior capacidade. Em 1899, iniciou a construção do Oceanic. Com 215 m de comprimento, foi o primeiro navio a ultrapassar o Great Eastern de Brunel.

Em 1841, começa a produzir cabo metálico e em 1844 projeta um substituto para um aqueduto de madeira. A ponte seria suportada por um cabo de fios contínuos ligados entre si. Este conceito é agora a norma neste tipo de construção. Roebling construiu várias pontes suspensas, onde se inclui a de Brooklyn (EUA).

A ponte suspensa de Clifton Que tipo de engenharia garantiu

Vão

Na altura da sua construção, o vão de 214 m sobre o rio Avon era o mais longo do mundo.

As duas torres de 26 m de altura são diferentes: a torre Clifton tem recortes laterais enquanto a torre Leigh tem abóbodas.

1 Correntes

A ponte tem três correntes de ferro forjado fixadas a túneis 18 m abaixo do solo.

Fundações

Os pilares com arenito vermelho têm câmaras abauladas, com mais de 11 m de altura, que reduziram o custo da construção.

Tabuleiro

O tabuleiro é composto por barrotes de madeira com 13 cm de espessura sobrepostos por conjuntos de tábuas com 5 cm de profundidade.

A grande ideia A ponte suspensa de Clifton, em Bristol, estende-se por 214 m, entre duas torres de 26,2 metros de altura, o que a tornava, na época, a ponte mais longa do mundo. No seu projeto de correntes e tirantes, Brunel fez um cálculo quase perfeito do peso mínimo necessário para fornecer a máxima força. Os pilares têm câmaras e túneis, alguns com 11 m de altura, o que reduziu o custo da construção sem comprometer a resistência.

da sua carreira – utilizar uma via (distância entre as linhas férreas) com 2,1 metros de largura em vez do standard com 1,4 m. Brunel acreditava que tal permitiria ao comboio velocidades superiores, bem como viagens mais estáveis e confortáveis. Até ao fim da vida, a eficiência deste conceito foi contestada. Mas ninguém conseguiu refutar a eficácia do seu navio a vapor Great Western que transportava passageiros de Bristol a Nova Iorque (EUA). Pensava-se que o navio não seria capaz de transportar combustível suficiente para a viagem e ainda ter espaço para a carga. No entanto, concluiu a primeira viagem em 15 dias, restando-lhe ainda um terço do carvão. Brunel foi também um defensor dos navios movidos a hélice e integrou um propulsor no seu

1838

O navio a vapor Great Western conclui a viagem de Bristol a Nova Iorque em apenas 15 dias.

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O túnel do Tamisa é aberto ao público e o navio movido a hélice SS Great Britain é lançado à água.

Durante a adolescência, Brunel frequentou a escola em França, mas a sua inscrição na ilustre escola de engenharia francesa École Polytechnique foi rejeitada porque era considerado “estrangeiro”.

2

Festa no rio

Em 1827, depois de várias inundações, Brunel realizou um banquete dentro do túnel do Tamisa para convencer as pessoas de que era perfeitamente seguro.

3

Vencer a competição

4

Moeda ao ar

5

A senhora da lâmpada

O projeto de Brunel para a ponte de Clifton foi inicialmente rejeitado pelo juiz Thomas Telford, que deu preferência ao seu próprio projeto.

segundo navio, o SS Great Britain. Considerado um navio de longo curso, era construído em metal, alimentado por um motor e não por vento, e impulsionado por uma hélice em vez de uma roda de pás. Na realidade, este navio lançou as bases de uma nova era nas viagens transatlânticas. A vida pessoal de Brunel foi igualmente agitada. Muitos afirmam que o stress provocado pelos caminhos de ferro Great Western Railway provocou a sua morte prematura em 1859. Pouco depois do falecimento, todas as vias-férreas regressaram à largura padrão de 1,4 metros. Também as fundações para completar a ponte de Clifton foram levantadas, tendo esta sido inaugurada cinco anos após a morte de Brunel e sendo ainda utilizada nos dias de hoje.

1843

Ligação francesa

1852

O conceito de Brunel para a estação de Paddington é construído.

Em 1843, enquanto fazia um truque de magia para os filhos, uma moeda ficou alojada na sua traqueia. Para removê-la, Brunel foi preso a uma prancha de cabeça para baixo.

Em 1855, concebeu a pedido de Florence Nightingale o projeto para um novo hospital que viria a substituir a unidade hospitalar do exército britânico em Scutari, Turquia.

1859

Brunel morre a 15 de setembro, dez dias depois de sofrer um AVC.

1864

A ponte suspensa de Clifton é concluída e utilizada pelo Instituto do Engenheiros Civis como homenagem a Brunel.

Quero Saber | 129

© Alamy; Thinkstock

Torres

Cinco factos: Brunel


FIGURAS INFLUENTES

Guglielmo Marconi

Por vezes chamado o pai da rádio, o prático sistema de telegrafia deste engenhoso inventor levou à utilização generalizada das comunicações sem fios. Marconi desenvolveu o seu equipamento de rádio no sótão da casa dos pais, em Itália, com a ajuda do mordomo, Mignani.

“ A sala Marconi a bordo do Titanic e os seus dois telegrafistas transmitiram os sinais de rádio provavelmente mais famosos de sempre.”

Vida e obra Sintonize alguns dos maiores eventos da vida deste astuto pioneiro italiano da rádio.

130 | Quero Saber

1874

Guglielmo Marconi nasce em Bolonha, filho de Giuseppe Marconi e da irlandesa-escocesa Annie Jameson.

1894

Desenvolve um método de transmissão de mensagens telegráficas sem fios, usando ondas de rádio.

1896

Vai para Londres, onde obtém o apoio do engenheiro-chefe do Serviço Postal, William Preece.

Guglielmo Giovanni Maria Marconi foi um inventor italiano muito respeitado, pioneiro nos avanços das comunicações sem fios e da transmissão de rádio a longa distância. Apesar de por vezes lhe ser atribuída a invenção da rádio, Marconi era sobretudo um empresário astuto que se baseou em trabalhos de outros cientistas, os combinou e desenvolveu para criar um método comercialmente viável de comunicações de longa distância. O seu interesse na eletricidade e na física começou numa idade precoce e foi inspirado pelo trabalho de cientistas como James Clerk Maxwell, Heinrich Hertz e Nikola Tesla, entre outros. Em 1894, Marconi leu a obra do físico alemão Hertz, que desenvolvera um equipamento para enviar e detetar ondas eletromagnéticas a curtas distâncias. Marconi viu o potencial para a transmissão de informação por ondas de rádio e decidiu-se a criar um sistema de distância mais longa para substituir a telegrafia com fios. Marconi começou as suas experiências na propriedade do seu pai e, com a ajuda do seu mordomo, Mignani, construiu equipamentos no sótão. Em breve transmitia ondas de rádio a curtas distâncias, por isso levou as experiências para o exterior para desenvolver mais a tecnologia. Descobriu que aumentar o comprimento das antenas – e dispondo-as na vertical – aumentava tanto o alcance da transmissão que podia enviar e receber sinais a distâncias de cerca de 2,4 km. Foi nesta altura que Marconi começou a visionar as potenciais aplicações comerciais das suas experiências. Mas Itália já tinha um sistema de telegrafia bem estabelecido, com redes de cabos que atravessavam o país, e os

1899

1900

Faz a primeira ligação sem fios entre a Grã-Bretanha e França, de Wimereux, França, para um farol em Dover, Inglaterra.

Obtém a patente n.º 7777, “Melhorias em Aparelhos para Telegrafia sem Fios”, de modo a proteger os seus desenvolvimentos tecnológicos.

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NAS SUAS PISADAS

Edwin Armstrong

Cativado pela tecnologia de Marconi, Armstrong foi um inventor prolífico e criou o circuito regenerativo, o primeiro amplificador de rádio; tinha um ciclo de retroação positiva que amplificava bastante os sinais de rádio recebidos. Inventou ainda a transmissão de rádio em frequência modulada (FM), que permitia comunicações muito mais claras.

John Logie Baird

Baird foi um pioneiro do desenvolvimento da teledifusão acessível ao público, que compilou, testou e alterou o trabalho de outros para produzir uma imagem televisiva em movimento ao vivo. Uma vez, disse de Marconi: “Foi ele quem se aventurou como Colombo e forçou a atenção do mundo para a existência de um novo meio de comunicação.”

Cinco factos:

Guglielmo Marconi

Engenheiros do Serviço Postal de Cardiff (País de Gales) inspecionam os aparelhos de rádio de Marconi antes da primeira transmissão de sinais de rádio sobre mar aberto.

1

Ligações à realeza

Marconi instalou equipamento de rádio no iate real da rainha Vitória para que esta pudesse comunicar com o Príncipe de Gales (Eduardo VII).

2

Marconi não tinha qualificações formais, mas tinha um grande interesse em física. A pedido da mãe, foi orientado pelo professor de física Augusto Righi, que lhe deu a conhecer as ondas de rádio.

A grande ideia

3

Marconi combinou e alterou as invenções de outros cientistas para criar equipamento que transmitisse ondas de rádio a longas distâncias. Usou um transmissor de faísca para gerar ondas eletromagnéticas de radiofrequência e um recetor coesor para as detetar. Uma tecla de telégrafo permitia enviar ondas de rádio por impulsos, gerando código Morse. Marconi descobriu que a distância máxima da transmissão de ondas de rádio variava diretamente com o quadrado da altura da antena de transmissão – por isso antenas verticais altas eram a solução.

1901

Transmite com sucesso a letra “S” em código Morse, por 3.380 km sobre o oceano Atlântico, para a Terra Nova.

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A primeira transmissão sobre mar aberto foi enviada pelo canal de Bristol e percorreu uma distância de 6,4 km. Dizia “Estão preparados?”.

Com a evolução da tecnologia, foram instaladas “salas Marconi” nos navios, que continham um conjunto de equipamentos de telegrafia sem fios que permitia a comunicação com terra assim como com outras embarcações. A sala Marconi a bordo do Titanic e os seus dois telegrafistas transmitiram os sinais de rádio provavelmente mais famosos de sempre: “CQD, CQD SOS Posição do Titanic 41.44 N 50.24 W. Necessária assistência imediata. Venham depressa. Batemos num icebergue. A afundar.” Marconi morreu em Roma, em 1937, com 63 anos. Teve um funeral de estado e, em tributo à sua contribuição imensa para a comunicação sem fios, todas as estações de rádio do mundo fizeram dois minutos de silêncio.

1909

Recebe o Prémio Nobel da Física – juntamente com Karl Ferdinand Braun – pela contribuição para a telegrafia sem fios.

1912

O transmissor de Marconi é usado no resgate de vítimas do Titanic e envia sinais de socorro deste para o RMS Carpathia.

Estão preparados?

4

Morse a alta velocidade

Para trabalhar como operador na Wireless Telegraph Company de Marconi tinha de se ser capaz de enviar e receber código Morse a uma velocidade de 25 palavras por minuto.

5

Escapar por um triz

Foi oferecida a Marconi uma passagem gratuita no Titanic, mas ele decidiu viajar para a América três dias antes, no RMS Lusitania, porque tinha papelada para tratar...

1914

Junta-se ao esforço de guerra italiano na I Guerra Mundial, ficando encarregue do serviço de rádio militar.

1937

Morre aos 63 anos. Recebe um funeral de estado em Itália e as estações de rádio fazem dois minutos de silêncio em sua honra.

Quero Saber | 131

© Corbis; Jza84; Oast House Archive; Cardiff Council Flat Holm Project

seus pedidos de financiamento foram recusados. Sem se deixar vencer, Marconi viajou para o Reino Unido. A Grã-Bretanha tinha uma poderosa Marinha Real e era o maior império comercial do mundo – a ideia de Marconi era que podiam utilizar o seu trabalho nas comunicações marítimas. Marconi obteve o apoio do engenheiro-chefe do Serviço Postal Britânico e, com a sua ajuda, demonstrou ao governo britânico a sua tecnologia. Durante os seus primeiros anos em Inglaterra, melhorou gradualmente a distância da comunicação por rádio – primeiro em terra e depois no mar. O seu trabalho entusiasmou a comunidade internacional e montaram-se estações em França para a primeira transmissão de rádio sobre o Canal da Mancha.

Instruído, mas sem qualificações


FIGURAS INFLUENTES

Os irmãos Wright

Esta dupla teve um papel crucial na evolução do voo a motor e alterou radicalmente o curso da história da aviação.

Wilbur (à direita) e Orville no Encontro de Aviação em Belmont Park, Nova Iorque, em 1910.

A grande ideia Antes do voo de sucesso dos irmãos Wright (abaixo), muitos outros cientistas e engenheiros haviam sonhado e, com diferentes graus de sucesso, tentado construir máquinas que, além de desafiarem a gravidade, o fizessem de forma controlada. Os seus desaires fizeram um método de voo não dirigível parecer uma mera fantasia, com materiais, aerodinâmica e fontes de energia a parecerem obstáculos intransponíveis. Testemunho da perícia dos irmãos Wright é o facto de, com a sua aeronave, terem resolvido cada uma destas questões, conseguindo em anos o que inúmeras mentes não conseguiram em séculos. Exemplos incluem o teste de centenas de designs de asas num túnel de vento à medida para determinar que forma oferecia maior sustentação, a conceção e construção de um motor de combustão interna de quatro cilindros que foi adaptado para viagens aéreas e a perceção de que pás de hélice podiam ser entendidas como asas rotativas.

Subir e subir Os principais marcos até à descolagem do Wright Flyer.

132 | Quero Saber

1867 1869 Nasce Wilbur, com Orville a chegar quatro anos depois.

Wilbur e Orville Wright são dois dos mais famosos pioneiros da aviação que, através de várias experiências em finais do século XIX/princípios do século XX, criaram a primeira aeronave mais pesada que o ar, a motor e controlável. Chamado Wright Flyer, o avião foi o culminar de mais de uma década de pesquisa e testes que viu os irmãos progredirem de papagaios feitos à medida para planadores e, por fim, para aviões a motor. Juntos, estes irmãos talentosos são considerados responsáveis pelo lançamento da era do voo a motor. Wilbur e Orville Wright eram filhos de Milton Wright, um pastor ordenado da Igreja dos Irmãos Unidos em Cristo, e de Susan Catherine Koerner Wright. A família viveu em diversos locais dos EUA, incluindo Richmond, Indiana; Cedar Rapids, Iowa; e Dayton, Ohio – este último pela maioria das vidas dos irmãos. Orville mais tarde explicou que o seu pai os encorajara a ambos desde tenra idade a “perseguir interesses intelectuais e a investigar o que quer que suscitasse curiosidade”. Este encorajamento conduziu Orville e Wilbur a um diverso leque de interesses e competências, incluindo impressão, bicicletas – que o par vendeu e reparou por vários anos – e a construção de inúmeras máquinas de madeira e metal. Ambos engenheiros e inventores, tornaram-se conhecidos pela sua aplicação académica e prática da engenharia moderna, com Wilbur, em particular, a passar muito

A família Wright muda-se para Dayton, Ohio, devido a compromissos profissionais do pai.

1892

Os irmãos abrem uma oficina de reparação de bicicletas. Poucos anos depois, já as constroem.

tempo em bibliotecas públicas e na do seu pai. Um dos seus heróis foi o pioneiro da planação alemão Otto Lilienthal, que, até à sua morte em 1896, construiu e pilotou várias aeronaves com diferentes graus de sucesso. A sua morte – devida à queda de um planador – desencadeou o interesse dos irmãos pelo voo, tendo estes escrito ao Instituto Smithsonian a pedir sugestões sobre outros manuscritos aeronáuticos. Uma das recomendações do museu foi o engenheiro Octave Chanute, uma autoridade da aviação e engenharia civil da época. Com a ajuda de Chanute, os Wright começaram a conduzir várias experiências aeronáuticas. Crucial para a sua abordagem foi o foco no controlo da aeronave, desenvolvendo designs prévios que só conseguiam voar em linha reta ao introduzirem uma torção helicoidal através das asas em cada direção. Os irmãos testaram esta configuração em 1899 e, depois de descobrirem que permitia o controlo preciso de um papagaio, começaram a trabalhar num modelo à escala real: o primeiro Wright Glider. Este foi testado em outubro de 1900, em Kitty Hawk, Carolina do Norte, onde, embora tenha descolado do solo, produziu resultados dececionantes. Os irmãos Wright refinaram o seu planador e testaram-no em 1901, e novamente em outubro de 1902, após passarem o verão a efetuar uma vasta bateria de testes a designs de asas mais eficientes. Este terceiro modelo foi uma vitória, com o planador a portar-se exatamente como

1900

Anos de pesquisa levam os irmãos a testar o Wright Glider (à direita), um biplano sem motor com um leme de profundidade à frente para controlo longitudinal.

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NAS SUAS PISADAS

Octave Chanute

Augustus Herring

Embora não um protegido dos irmãos Wright, Chanute foi um colaborador crucial. Americano nascido em França, este engenheiro ferroviário e pioneiro da aviação trabalhou amplamente com os irmãos e até produziu os seus próprios planadores, papagaios e modelos de aeronaves. Escreveu o célebre Progress In Flying Machines.

O Wright Flyer em foco

Este aviador americano seguiu as pisadas dos Wright e de Chanute pilotando um biplano a motor de ar comprimido. Além disso, em 1909, montou uma empresa de aviação e, apesar de ter sofrido vários acidentes vasculares cerebrais, trabalhou com o Exército dos EUA no design de aeronave usado ao longo da I Guerra Mundial.

Hélice

Duas grandes hélices eram acionadas por uma roda dentada para corrente, oferecendo ao Flyer uma pequena quantidade de propulsão.

Veja de perto o pináculo das carreiras de aviação dos irmãos Wright.

Cinco factos Wright

1

Não universitários

Wilbur e Orville foram os únicos membros da família Wright a não frequentar a universidade. Orville passou os anos a aprender o ofício de impressor, enquanto Wilbur ajudava na igreja local.

2

Solteiros

Nenhum dos irmãos Wright casou. Wilbur é recordado como tendo dito que “não tinha tempo para uma esposa e um avião”.

Motor

Um sistema elevador à frente, em madeira de abeto, gerava sustentação extra na descolagem.

O Flyer usava um motor de êmbolo de quatro cilindros arrefecido a água feito por medida; este era capaz de produzir cerca de 9 kW (12 cv).

previsto. O par – que pilotava o planador à vez – acumulou quase mil voos entre si, num período de dois meses, cobrindo distâncias em Kitty Hawk de até 190 metros. Percebendo que haviam resolvido os problemas de aerodinâmica e controlo com que todos os seus antecessores se tinham debatido, os irmãos voltaram atenções para uma fonte de energia para o planador. Em 1903, construíram o seu próprio motor de combustão interna de quatro cilindros e voltaram a Kitty Hawk para o testar. Infelizmente, a primeira tentativa acabou com o motor a parar durante a descolagem e a frente do avião a ficar danificada. Após algumas reparações, contudo, o segundo voo foi um sucesso retumbante. Descolando às 10h35 de 17 de dezembro de 1903, o Wright Flyer voou 36 metros, depois 53 metros, seguidos de 60 metros e, por fim, 259,7 metros. Esta série de voos prenunciou uma nova era da aviação e impeliu os irmãos Wright e o seu avião para a fama mundial.

1903

Pilotam com sucesso o Wright Flyer em voo sustentado em Kitty Hawk, Carolina do Norte. O seu quarto voo cobre 259,7 metros em apenas 59 segundos.

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1909

A Wright Company vende o primeiro avião militar de sempre, o Wright Military Flyer (à direita), ao US Army Signal Corps.

Asa

Cabos ligados à zona onde ficava o piloto puxavam as asas quando o leme do avião era ajustado. O Memorial Nacional aos irmãos Wright situa-se em Kill Devil Hills, Carolina do Norte – perto de Kitty Hawk.

“ Ambos engenheiros e inventores, tornaram-se conhecidos pela sua aplicação académica e prática da engenharia moderna.”

3

Brincadeira

4

Luminares

5

De hobby a negócio

Nos seus últimos anos de vida, os irmãos Wright atribuíram o seu fascínio por máquinas voadoras a um pequeno helicóptero de brincar que o seu pai trouxera das suas viagens. Ambos os irmãos catalogaram amplamente as suas experiências de aviação, conduzindo à conferência de Wilbur Wright na prestigiada Western Society of Engineers em Chicago, em 1901. A palestra intitulava-se “Some Aeronautical Experiments”.

Em 1909, foi erigida a Wright Company, com Wilbur como presidente e Orville como um dos dois vice‑presidentes. A fábrica da empresa situava‑se em Dayton e o seu campo de voo na vizinha Pradaria Huffman.

1915

Orville termina a liderança da Wright Company Wilbur morre vendendo as de febre tifoide suas ações a 30 de maio, a um grupo aos 45 anos. de financeiros.

1912

1948 1920

Orville junta-se ao conselho do National Advisory Committee for Aeronautics – um precursor da NASA.

Orville sofre um ataque cardíaco a 27 de janeiro e morre três dias depois em Dayton, aos 76 anos.

Quero Saber | 133

© Thinkstock; Getty

Leme de profundidade


FIGURAS INFLUENTES

Tycho Brahe Conheça o homem que cunhou o termo “nova” e calculou o movimento planetário antes dos telescópios.

Foram poucos os que se dedicaram à astronomia a olho nu que traçaram o movimento dos planetas com tanta precisão como o nobre dinamarquês Tycho Brahe. As suas observações de uma nova estrela em 1572 e do Grande Cometa de 1577 ajudaram a abalar a crença aristotélica de que os planetas e as estrelas eram inalteráveis e que estavam encerrados em esferas celestes “imutáveis”. A instrução de Brahe começou em tenra idade. Tinha apenas dois anos quando o tio o tirou de casa para começar a educá‑lo e, aos doze, começou a estudar Direito na Universidade de Copenhaga, como era normal entre os filhos dos nobres. Porém, embora o eclipse solar de 1560 tenha lançado uma sombra sobre a Terra, iluminou a paixão de Brahe pela astronomia e este embrenhou‑se nas obras dos grandes astrónomos da época. Por um tempo, Brahe estudou no estrangeiro, mas no regresso, outro tio – Steen Bille – financiou a construção de um observatório e laboratório químico na Abadia de Herrevad. Foi aqui que, em 1572, Brahe reparou pela primeira vez no aspeto de uma estrela muito brilhante. Na época, a teoria popular dizia que os planetas e as estrelas se encontravam fixados em orbes celestes (esferas materiais) “arrumados” com firmeza uns em torno dos outros. As observações de Brahe provaram que o seu avistamento era de uma estrela nova e não um fenómeno local, e, portanto, esse arranjo era impossível. Um ano depois, Brahe publicou o seu primeiro livro, De Ilustração do observatório de Brahe em Hven.

“ Embora o eclipse solar de 1560 tenha lançado uma sombra sobre a Terra, iluminou a paixão de Brahe pela astronomia.”

Vida e obra Um guia rápido para a ilustre carreira de Tycho Brahe como astrónomo.

134 | Quero Saber

1546

Nasce Tycho Brahe, no Castelo de Knutstorp, em Scania, filho do nobre Otte Brahe e de Beate Bille.

1559

Inicia os estudos em Direito na Universidade de Copenhaga.

1560

A previsão de um eclipse solar a 21 de agosto impressiona imensamente Brahe e inspira‑o a estudar astronomia.

1572

1573

Brahe observa uma estrela nova, agora chamada SN 1572, a partir do observatório

Publica o livro De Nova (...) Stella, cunhando o termo “nova”.

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Em Praga, Brahe teve como assistente Johannes Kepler, um antigo professor de matemática. O par desentendeu‑se após Kepler criticar o sistema tychonico em público. Em 1600, Brahe convidou‑o para ir a Praga e ficou tão impressionado com as suas ideias que o fez seu sucessor. Kepler usou os dados de Brahe para criar as suas três leis dos movimentos planetários.

Kepler colaborou com Brahe e continuou o seu trabalho após a sua morte.

Brahe pertencia à nobreza, mas ficou fascinado pela astronomia numa idade precoce.

O sistema tychonico

1576

O rei Frederico II da Dinamarca concede a Brahe a ilha de Hven, onde constrói o observatório de Uraniborg.

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O trabalho de Brahe e Kepler serviu de base para as leis da gravidade de Isaac Newton, apresentadas em 1687, explicando como os planetas se mantinham em órbita sem estarem fixos a esferas sólidas. A gravidade implicava que os planetas orbitavam o Sol. Newton alterou também a terceira lei de Kepler, afirmando que todos os planetas e o Sol orbitam um centro de massa comum.

Cinco factos: Tycho Brahe

1

A olho nu

2

Duro de nariz

3

Tycho, o tirano?

4

Morte misteriosa

Brahe foi o último dos grandes astrónomos “a olho nu”. Os primeiros telescópios foram utilizados sete anos após a sua morte.

O sistema tychonico é um modelo do Sistema Solar criado por Brahe. Ao contrário do modelo heliocêntrico de Copérnico (com o Sol no centro), Brahe acreditava que a Terra era demasiado pesada e “preguiçosa” para se mover de modo contínuo. A religião também contribuiu para a rejeição do heliocentrismo por parte de Brahe, que citou a Bíblia no seu trabalho. O astrónomo sugeriu um modelo “geo‑heliocêntrico”, no qual a Terra estava no centro do Universo, com o Sol e a Lua a orbitarem-na e os outros planetas a orbitarem o Sol.

Nova Et Nullius Aevi Memoria Prius Visa Stella (“Sobre A Estrela Nova E Nunca Antes Vista”), de onde permaneceu o termo “nova”, que descreve a explosão de uma estrela com uma grande luminosidade repentina. Após outra viagem ao estrangeiro, o rei Frederico II, desesperado para manter Brahe na Dinamarca, ofereceu‑lhe a ilha de Hven e fundos para estabelecer um novo observatório. Em 1576, Uraniborg e, mais tarde, um observatório subterrâneo chamado Stjerneborg foram construídos. Assim como observatórios, as instalações também serviam de oficinas, onde Brahe concebia e construía novos instrumentos, com os quais conseguia efetuar observações incrivelmente exatas.

Isaac Newton

Aos 19 anos, Brahe perdeu a cana do nariz num duelo à espada com outro estudante. Usou uma prótese de metal até ao fim da vida.

Diz‑se que a precisão das suas posições celestes era a mais correta até à data. Com a morte do rei Frederico, em 1588, o renome de Brahe caiu. Em 1599, após um desentendimento com o novo rei, Cristiano IV, Brahe mudou‑se para Praga (à época parte da Boémia). Apadrinhado pelo rei boémio Rodolfo II, construiu um novo observatório em Benátky nad Jizerou, onde foi responsável pela compilação das Tabelas Rudolfinas – tabelas astronómicas que permitiam calcular as posições planetárias para qualquer momento, passado ou futuro. Foi aqui que Brahe conheceu Johannes Kepler, seu assistente até à morte, em 1601, e a quem confiou a continuação da sua extensa pesquisa. Kepler publicou as tabelas astronómicas completas 26 anos depois.

1599

1577

As observações de Brahe do Grande Cometa (acima) provam que os objetos se movem através das esferas celestes.

Após um desentendimento com o rei Cristiano IV (à direita), muda-se para Praga e torna‑se astrónomo oficial imperial da Boémia.

Consta que impunha um regime opressivo em Hven e que era profundamente desprezado pelos habitantes da ilha. Foi sugerido que Brahe havia sido envenenado, mas após a exumação em 2010, os resultados indicaram que terá morrido devido a uma rutura da bexiga ou algo similar.

5

Legado lunar

Brahe continua vivo entre as estrelas – literalmente. A cratera Tycho na Lua recebeu o nome em sua homenagem, tal como a cratera Tycho Brahe em Marte.

1601

Contrai de forma repentina uma doença renal ou da bexiga e morre 11 dias depois, aos 54 anos de idade.

Quero Saber | 135

© Thinkstock; Alamy; Corbis

NAS SUAS PISADAS

Johannes Kepler


FIGURAS INFLUENTES Einstein renunciou à cidadania alemã em 1896 para evitar o serviço militar.

Albert Einstein Cientista pioneiro da sua época, Einstein é considerado o físico mais influente de sempre.

© Roland zh

© Massimo Catarinella

Albert Einstein nasceu a 14 de março de 1879, em Ulm, Alemanha, e é considerado o físico mais influente do século XX, tendo formulado as teorias da relatividade geral e especial, que ainda hoje sustentam grande parte da física e da astrofísica. Em 1921, foi-lhe concedido o prémio Nobel da Física pela sua explicação do efeito fotoelétrico – um processo pelo qual as partículas eletricamente carregadas são libertadas por uma substância quando expostas a radiação eletromagnética. O primeiro contacto de Einstein com a ciência deu-se era ainda rapaz, instigado pela curiosidade suscitada pela bússola do pai. Confuso pelas forças invisíveis que pareciam atuar sobre a agulha da bússola, passou os primeiros anos fascinado por tais forças. Encorajado pela leitura dos trabalhos de Aaron Bernstein, que o apresentaram aos conceitos de eletricidade e luz, Einstein dedicou os primeiros anos da adolescência à natureza da luz, tendo escrito uma obra científica intitulada The Investigation Of The State Of Aether In Magnetic Fields. Apesar da grande paixão pelas ciências, Einstein teve uma educação atribulada. Era frequente faltar às aulas na Escola Politécnica Federal na Suíça, e os problemas nos negócios do pai perturbavam ainda mais a situação, obrigando a várias mudanças de casa. Einstein acabou por ser obrigado a aceitar um cargo no instituto de patentes suíço, em Berna, um papel bastante menos prestigioso que o desejado doutoramento. Retrospetivamente, contudo, a posição no instituto de patentes era ideal, pois deixava-lhe bastante tempo para teorizar as propriedades e natureza da luz. Subitamente, em 1905, Einstein fez uma descoberta que deu início ao chamado “ano milagroso”, em que publicou quatro obras: a primeira sobre o efeito fotoelétrico, a segunda sobre a existência dos átomos, a terceira uma introdução à teoria matemática da relatividade especial e a quarta sobre a teoria da relatividade. Esta última foi publicada quase como uma

Vida e obra

1879

Einstein nasce a 14 de março, em Ulm, Alemanha.

Traduzir entrada pags. 140/141 versão inglesa Historia

136 | Quero Saber

1896

Após renunciar à cidadania do reino alemão de Württemberg para evitar o serviço militar, Einstein inscreve-se num curso de quatro anos de ensino de matemática e física, em Zurique.

1906

Einstein recebe um doutoramento da Universidade de Zurique.

1905

1908

Torna-se professor na Universidade de Berna.

O chamado annus mirabilis (ano milagroso) é o mais produtivo de Einstein, que lançou nesta altura quatro obras pioneiras sobre o efeito fotoelétrico, o movimento browniano, a relatividade especial e a equivalência da matéria e da energia.

1911

Com a família, Einstein muda-se para Praga, onde se torna professor na Universidade Karl-Ferdinand.

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NAS SUAS PISADAS

Stephen Hawking

O físico teórico inglês admite dever muito a Einstein. Famoso pelos seus teoremas de singularidades gravitacionais, tem várias obras publicadas, sendo a mais famosa Breve História do Tempo. Numa entrevista recente com a Time, quando questionado sobre o que perguntaria a Einstein se este fosse vivo, respondeu: “Perguntaria por que razão não acreditava em buracos negros.”

Carl Sagan

Comentou amiúde a importância de Einstein e foi um proponente do poder da ciência. “Os que temem o Universo tal como ele é preferirão o conforto fugaz da superstição. Mas os que têm a coragem de explorar a teia e a estrutura do cosmos penetrarão nos seus mistérios mais profundos”, afirmou o astrofísico norte-americano.

Cinco factos: Einstein

1 Einstein a receber os seus documentos de cidadania norte-americana, em 1940.

Segundo se diz, Einstein raramente falava em criança e quando o fazia era muito lentamente, aspeto que terá mantido até aos nove anos.

A antiga casa de verão de Einstein na Alemanha foi confiscada pelos nazis e é atualmente alvo de uma batalha legal pela sua posse.

E = mc

2

A grande ideia

2

Esta equação diz que o aumento na massa relativista de um corpo advém da energia do seu movimento quando dividido pela velocidade da luz ao quadrado. Mostra que massa e energia são uma só entidade física e que se transformam diretamente na outra.

reflexão posterior, apesar de conter a equação pela qual é conhecido: E = mc2. A princípio, a comunidade científica ignorou o trabalho de Einstein – que, no entanto, captou a atenção do maior cientista da época: Max Planck, fundador da teoria dos quanta. Graças a Planck, Einstein tornou-se um membro respeitado da comunidade internacional, comparecendo nas prestigiosas conferências Solvay e recebendo posições importantes nas mais influentes universidades europeias. Depois de completa a teoria da relatividade geral em novembro de 1915, o trabalho de Einstein foi interrompido pela I Guerra Mundial. Sempre pacifista, Einstein era contra a guerra e defendia frequentemente a sua posição. Depois da guerra, viajou pelo mundo, mas a sua estadia longe da Europa cedo se tornou permanente, tendo fugido da Alemanha nazi em 1933. Einstein instalou-se nos EUA e recebeu a cidadania norte-americana em 1940. Na América, apesar de não estar totalmente convencido da possibilidade de uma bomba atómica, encorajou o governo dos EUA – tendo mesmo escrito ao presidente

Roosevelt – a pesquisar as reações nucleares em cadeia usando urânio, em reação aos avanços alemães nesse campo. Não trabalhou diretamente no projeto de construção da bomba, apesar de esta se ter baseado no seu trabalho. Segundo foi noticiado, Einstein estaria de férias quando a primeira bomba atómica caiu em Hiroshima, no Japão. As consequências da bomba levaram-no a realizar conferências e campanhas antinucleares para o resto da vida. Nos seus últimos anos, Einstein foi pioneiro de inúmeras teorias, incluindo sobre buracos de verme, modelos multidimensionais e a possibilidade das viagens no tempo, para além de iniciar a teoria de campo unificado – uma teoria abrangente que unificaria as forças do Universo e a física num só contexto. Mas a teoria nunca ficou completa, tendo Einstein falecido de um aneurisma aórtico em 1955. Ainda assim, o seu legado sobrevive até aos dias de hoje, sendo várias das suas suposições ratificadas e desenvolvidas pela atual geração de cientistas.

“ Em 1905, Einstein fez uma descoberta que deu início ao chamado ‘ano milagroso’.”

1915 1912

Einstein completa a teoria geral da relatividade.

Após um único ano em Praga, Einstein volta à Suíça para ocupar o cargo de professor catedrático no Instituto Federal de Tecnologia suíço de Zurique.

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1921 1919

Um eclipse solar oferece provas observáveis de que a sua teoria da relatividade geral está correta, fazendo dele uma celebridade.

Einstein ganha o Nobel da Física pelo seu trabalho no efeito fotoelétrico, 16 anos após a publicação, em 1905.

Pouco falador

Inspiração

O interesse de Einstein pela ciência terá começado pela bússola do pai. Aos cinco anos, pensou que devia haver uma força no espaço aparentemente vazio a atuar sobre a agulha.

3

Escolaridade

4

Pacifista nuclear

5

Dois cérebros

Einstein não teve notas excelentes na escola e não conseguiu entrar logo na universidade. Em vez disso, foi trabalhar para o instituto suíço de patentes. Einstein era pacifista e, embora a princípio apoiasse o uso de armas atómicas dissuasoras, mais tarde promoveu o desarmamento nuclear e a paz mundial.

Após a sua morte, em 1955, o cérebro de Einstein foi retirado para preservação por Thomas Stoltz Harvey, para tentar descobrir a origem da sua inteligência.

1933

Einstein foge da Alemanha nazi com a família e instala-se nos EUA, onde ocupa um cargo no Institute of Advanced Study, na Universidade de Princeton.

1955 1939

Aos 76 anos, falece de insuficiência cardíaca, no Princeton Hospital.

Temendo que os nazis criassem a primeira bomba atómica, Einstein escreve ao presidente norte-americano Roosevelt, pedindo que este crie um programa de pesquisa nuclear.

Quero Saber | 137


FIGURAS INFLUENTES

Max Planck Pai da física quântica, Max Planck foi um dos mais eminentes físicos teóricos do século XX, cuja obra inaugurou uma nova era da ciência. Planck foi o pioneiro na mecânica quântica, através de um ensaio entregue na Sociedade Alemã de Física em 1900.

Se tivesse de escolher dois físicos do século XX cujo trabalho mais afetou o rumo e as descobertas da ciência, o primeiro seria sem dúvida Albert Einstein, mas o segundo poderia ser Max Planck. A teoria da relatividade de Einstein revolucionou a forma como apreendemos e entendemos o espaço e o tempo, ao passo que o desenvolvimento da teoria quântica pelo físico teórico Planck, com a sua acutilante investigação sobre os processos atómicos e subatómicos, transformou radicalmente a forma como a física era percebida e conduziu diretamente a muitas outras descobertas e invenções que ainda hoje têm um impacto generalizado. A descoberta mais importante de Max Planck foi a sua perceção de que a energia das ondas eletromagnéticas está contida em “pacotes” indivisíveis chamados quanta, que têm de ser irradiados ou absorvidos como um todo. A isto chama-se a lei de Planck sobre a radiação do corpo negro, que, como pode ver em detalhe na caixa “A grande ideia”, é ao mesmo tempo simples e incrivelmente elucidativa. Não foi contudo dessa forma que foi recebida quando Planck divulgou a sua investigação pela primeira vez em 1900, pois as suas propostas pareciam entrar em conflito direto com toda a física clássica. De facto, nem Planck acreditava totalmente que a sua lei estivesse correta, deduzindo-a relutantemente através de um frio sentido de lógica. A sua notável descoberta também não foi logo reconhecida pela comunidade científica

“ Max Planck passou então a ser visto como o génio que sempre fora e tornou‑se um dos cientistas mais importantes do início do século XX.”

Vida e obra

Os acontecimentos que esculpiram a vida de um dos maiores físicos do século XX.

138 | Quero Saber

1858

Nasce Max Karl Ernst Ludwig Planck em Kiel, ducado de Holstein, na Confederação Germânica.

1877 1864

Vive a guerra em primeira mão quando tropas prussianas e austríacas marcham por Kiel durante a chamada Guerra dos Ducados.

Após terminar o ensino secundário e iniciar o universitário em Munique, vai para a Universidade de Berlim, terminando os estudos universitários em 1879, de novo em Munique.

1880

Apresenta a sua tese de Habilitation (o mais alto garu académico na Alemanha), Estados de Equilíbrio de Corpos Isotrópicos a Diferentes Temperaturas, e torna-se docente particular não remunerado na Universidade de Munique.

1885

É nomeado professor associado de física teórica na Universidade de Kiel.

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NAS SUAS PISADAS

A grande ideia A lei de Planck é uma fórmula de relação matemática criada em 1900 por Max Planck para explicar a distribuição de energia espetral da radiação emitida por um fenómeno de corpo negro idealizado. Vital foi a assunção de Planck de que as fontes de radiação são átomos num estado de oscilação e que a energia vibratória de cada oscilador atómico pode ter uma série de valores discretos, mas nunca um valor fixo no meio. Esta descoberta, juntamente com o inovador trabalho de Albert Einstein, foi a causa direta do “início do fim” da era da física clássica e o prenúncio da era da física quântica.

Gustav Ludwig Hertz

Max von Laue

Max Theodor Felix von Laue foi aluno de Max Planck e mais tarde laureado com um Prémio Nobel pela sua descoberta da difração dos raios X por cristais. Durante quatro décadas, foi um dos cientistas mais importantes da Alemanha e passou grande parte dos seus últimos anos a reorganizar as instituições científicas alemãs arruinadas no pós-II Guerra Mundial.

Físico experimental alemão, Gustav Ludwig Hertz foi um dos primeiros alunos de Max Planck, tendo ganho o Prémio Nobel da Física pelas suas experiências em colisões de eletrões inelásticas em gases. De facto, Gustav Hertz teve uma das carreiras mais longas de todos os alunos de Planck, tendo falecido em 1975, com 88 anos.

Cinco factos:

Max Planck a trabalhar no seu gabinete, em 1918, ano em que recebeu o Prémio Nobel da Física.

Max Planck

1

Mudança de nome

2

Teoria especial

3

Manifesto

4

Autoridade máxima

5

Resistente

Batizado Karl Ernst Ludwig Marx Planck, aos dez anos começou a assinar apenas como Max Planck. Continuaria a usar esta forma até ao fim da vida, abandonando os seus outros nomes próprios. Planck foi um dos primeiros físicos a perceber a importância da teoria da relatividade de Albert Einstein, usando a sua influência para promover e desenvolver o trabalho seminal do jovem Einstein. Foi um dos cientistas alemães a assinar o Manifesto dos 93 , em 1914, proclamação que apoiava as ações militares germânicas no início da I Guerra Mundial. Mais tarde viria a arrepender-se de ter assinado tal declaração.

1892

Após anos de ensino, é-lhe atribuída finalmente a cátedra na prestigiada Universidade de Berlim.

1900

Planck expõe a sua famosa lei da radiação do corpo negro perante a Sociedade Alemã de Física.

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lei da radiação de Planck implicava a existência dos quanta e, como efeito colateral, converteu muitos dos melhores cientistas da Europa à nova proposta planckiana. Assim nasceu a teoria quântica, que, ao longo dos anos, seria desenvolvida e expandida por alguns dos mais famosos cientistas de todos os tempos. De Einstein a Niels Bohr, Erwin Schrödinger a Paul Dirac, Planck – como pai da teoria quântica – deulhes toda uma nova forma de olhar e perceber os processos do mundo físico, que continuariam a explorar em muito mais detalhe ao longo da era nuclear.

1918

Recebe o Prémio Nobel da Física pelo seu inovador trabalho na teoria quântica.

1928

A Sociedade Alemã de Física cria a medalha Max Planck e consagra-a como a mais alta honra que pode conceder.

Após a I Guerra Mundial, Planck foi considerado a mais alta autoridade científica da Alemanha e, por isso, ocupou posições na Universidade de Berlim, na Academia de Ciências Prussiana e na Sociedade Alemã de Física. Durante a II Guerra Mundial, Planck foi dos poucos cientistas que permaneceram na Alemanha nazi, com o lema de ”perseverar e continuar a trabalhar”.

1947

Planck morre aos 89 anos na sua última morada, em Göttingen, Alemanha.

© Corbis

dominante, tendo a valorização chegado apenas depois de Einstein adotar a ideia dos quanta e, mais tarde, introduzir a teoria de continuação da dualidade onda-partícula, em 1909. Max Planck passou então a ser visto como o génio que sempre fora e tornou-se um dos cientistas mais importantes do início do século XX, participando, entre inúmeras outras, na famosa Conferência Solvay em Bruxelas, em 1911. Como se sabe, foi graças à apresentação de Planck na conferência que Henri Poincaré – o físico matemático mais famoso do século XIX – conseguiu a prova matemática de que a

Quero Saber | 139


FIGURAS INFLUENTES

Michael Faraday

Conheça melhor o cientista responsável pela indução eletromagnética e que inspirou Albert Einstein.

Faraday era químico e físico, e investigou os gases liquefeitos, o vidro ótico e a eletrólise.

“ Faraday adorava ler e construiu o seu caminho através dos livros que encadernava, desenvolvendo um ávido interesse por química, eletricidade e magnetismo.”

Vida e obra

Alguns acontecimentos importantes da carreira eletrizante de Michael Faraday no século XIX.

140 | Quero Saber

1791

Michael Faraday nasce no Surrey, Reino Unido, filho de James Faraday e Margaret Hastwell.

1805

Começa a trabalhar como aprendiz de encadernador. Durante este período, desenvolve o interesse por ciência.

1813

Michael Faraday nasceu em Inglaterra, em 1791, no seio de uma família pobre, sem recursos financeiros para a sua educação. Poucos adivinhariam que acabaria por fazer avançar enormemente o nosso conhecimento sobre a eletricidade e outras áreas. Aprendeu a ler e escrever na catequese e tornou-se aprendiz de encadernador na adolescência. Faraday adorava ler e construiu o seu caminho através dos livros que encadernava, desenvolvendo um ávido interesse por química, eletricidade e magnetismo. A sua recém‑descoberta predileção pela ciência levou-o a uma série de quatro palestras do químico Humphry Davy, onde tirou imensas notas, na esperança de arranjar emprego na Royal Institution. A sua persistência acabou por compensar e conseguiu trabalho como assistente de laboratório de Davy. Faraday trabalhou vários anos para Davy e, neste período, ambos viajaram pela Europa. Com Davy, Faraday efetuou várias descobertas no campo da química, incluindo quando isolou pela primeira vez o benzeno, em 1825. Também produziu dois novos compostos químicos: o hexacloroetano, que hoje constitui a base das granadas fumígenas militares, e o tetracloroetileno, amplamente utilizado na limpeza a seco ainda hoje. As maiores descobertas de Faraday, contudo, não foram na química, mas na física. Em 1820, Hans Christian Oersted descobriu que uma corrente elétrica podia produzir um campo magnético. Faraday estava convencido que o oposto também seria verdade e iniciou o seu trabalho mais influente, em indução eletromagnética. O seu primeiro achado aconteceu pouco depois, quando mostrou que, enrolando duas bobinas de fio de cobre isolado de cada lado de um anel de ferro macio, uma corrente podia ser transferida de uma bobina para a outra, num processo chamado indutância mútua. Desejoso de aprofundar a sua investigação, Faraday continuou a pesquisar as propriedades eletromagnéticas dos materiais, o que conduziu ao seu maior feito, em 1831: a descoberta da indução eletromagnética (ver “A grande ideia”).

Trabalha como assistente de Humphry Davy, efetuando vários avanços na área da química.

1821

Faraday descobre o princípio por detrás do motor elétrico, usando a ideia da rotação eletromagnética.

1824

É eleito membro da Royal Society.

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James Clerk Maxwell

NAS SUAS PISADAS

James Clerk Maxwell foi um físico escocês conhecido sobretudo pelo seu trabalho em eletricidade, magnetismo e ótica. As suas teorias sobre eletromagnetismo são suportadas pelo trabalho experimental de Faraday. Maxwell foi a muitas das lições na Royal Institution e esteve com Faraday várias vezes. Era mais virado para a matemática e pretendia unificar o trabalho existente em eletromagnetismo, produzindo modelos matemáticos para explicar o fenómeno.

Albert Einstein

O trabalho de Faraday e Maxwell inspirou Einstein, que tinha fotografias dos dois cientistas na parede do seu escritório, ao lado de uma de Isaac Newton. A obra mais importante de Einstein foi reconciliar as leis clássicas da física de Newton com as novas leis do eletromagnetismo, exploradas por cientistas como Faraday. O trabalho de Faraday e Maxwell foi um ponto de partida para a inovadora teoria da relatividade especial de Einstein.

Michael Faraday trabalhou na Royal Institution em Londres, onde desenvolveu as suas teorias em física e química.

Faraday recusou o título de cavaleiro e a presidência da Royal Society duas vezes.

Cinco factos: Faraday

1

Prolífico

2

Nanopartículas

3

Modesto

4

Licões de Natal

5

Concorrência

Michael Faraday desenvolveu uma primeira versão do bico de Bunsen e descobriu as leis da eletrólise.

A grande ideia

1825

Faraday é nomeado diretor do laboratório da Royal Institution, iniciando a série de “Lições de Natal”.

1831

Descobre o princípio da indução eletromagnética e inventa o gerador eletromagnético.

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Recusou ser armado cavaleiro pela rainha Vitória, e ser presidente da Royal Society por duas vezes. Faraday fundou as Lições de Natal da Royal Institution (RI). Até hoje, demonstrações divertidas de ciência são transmitidas no Natal pela RI.

O padre italiano Francesco Zantedeschi e o cientista norte-americano Joseph Henry também estavam a trabalhar sobre indução eletromagnética. Ainda se discute qual deles terá tido a ideia primeiro.

1858

Faraday muda‑se para Hampton Court, uma atribuição da rainha Vitória pelos seus serviços à ciência.

1867

Morre aos 75 anos, em Hampton Court. É sepultado no Cemitério de Highgate.

© Corbis

O trabalho de Faraday em eletromagnetismo suscitou o interesse de outros cientistas e matemáticos. William Thomson escreveu-lhe a sugerir que era matematicamente possível os ímanes alterarem o plano da luz polarizada. Há muito que o próprio Faraday estava interessado nesta ideia, conduzindo experiências para mostrar como a luz e os campos magnéticos interagem. Foi um dos primeiros passos para percebermos que a luz visível é, na verdade, radiação eletromagnética. Mais para o fim da sua vida, a saúde de Faraday piorou, mas o cientista continuou a dar aulas na Royal Institution. Os seus contributos científicos foram reconhecidos pela família real e, em 1858, Faraday mudou-se para uma casa em Hampton Court, concedida pela rainha Vitória. Faleceu em 1867 e, tendo previamente recusado um túmulo na Abadia de Westminster, foi sepultado no Cemitério de Highgate.

Faraday foi um prolífero cientista, mas é célebre sobretudo pelo seu trabalho sobre a indução eletromagnética. A Lei de Faraday estipula que uma mudança no ambiente magnético junto a uma bobina de fio metálico induzirá uma tensão na bobina. Faraday desenvolveu um disco de cobre rotativo, que gira ao lado de um campo magnético estático (fornecido por um íman em barra). Enquanto o disco roda através do campo magnético, gera-se uma diferença de potencial entre o centro e o rebordo do disco, criando uma corrente direta estável. O disco era ineficaz, mas foi a base para o desenvolvimento de indutores, transformadores, motores elétricos e geradores.

Faraday foi o primeiro a falar das propriedades das nanopartículas, notando que os coloides de ouro (partículas de ouro submicrométricas dispersas num líquido) têm propriedades diferentes do ouro sólido.

Quero Saber | 141


FIGURAS INFLUENTES

Alfred Nobel

Depois de já ter assegurado o seu lugar na história, este sueco procurou deixar um legado académico. Poucos cientistas deixaram um legado tão nobre como Alfred Nobel. Este químico sueco não só inventou a dinamite, mas também incitou outros cientistas a explorar novas vias de estudo ao estabelecer a honra mais prestigiada do mundo por conquistas intelectuais: o prémio Nobel. Desde a criação do prémio em 1901, grandes mentes têm sido premiadas pela contribuição para o avanço da ciência e outras artes. Este galardão entregue pelos pares, esperava Nobel, iria inspirar as pessoas a desafiarem os limites pelo bem da humanidade. Os vencedores incluem génios como Albert Einstein, Marie Curie e Alexander Fleming.

A grande ideia O trabalho de Nobel com a nitroglicerina levou-o a experimentar vários aditivos para estabilizar o líquido oleoso. Uma das “grandes ideias” de Nobel foi a invenção de um detonador funcional, que concebeu primeiro como uma simples ficha de madeira e se tornou depois o detonador patenteado no qual se colocava uma pequena carga primária, que podia ser detonada com um choque forte. Os detonadores eram inovadores, mas foi a química que colocou Nobel no mapa. Para tornar a nitroglicerina mais segura, Nobel desenvolveu a fórmula durante anos, rebentando com muitos laboratórios e fábricas! Depressa descobriu que, ao juntar um pó de sílica inerte muito fino chamado terra de diatomáceas, ou Kieselguhr, a nitroglicerina líquida oleosa tornava-se uma pasta maleável segura. Quando moldada em varas, esta pasta podia ser inserida em buracos e detonar-se para explodir rocha nas minas. O nome este material? Dinamite.

Vida e obra A cronologia explosiva do inventor da dinamite.

142 | Quero Saber

1833

Nasce Alfred Bernhard Nobel, em Estocolmo, Suécia, a 21 de outubro.

Alfred Bernhard Nobel nasceu em Estocolmo, Suécia, a 21 de outubro de 1833, filho de Immanuel e Andriette. O pai, um engenheiro mecânico, teve algum sucesso com negócios de invenções e fábricas. No entanto, em 1837, Immanuel partiu para a Rússia em busca de melhores sortes. Em 1842 estabelecera um negócio proveitoso fabricando equipamento para o exército russo, e o resto da família Nobel juntou-se-lhe. Com os seus três irmãos – Robert, Ludwig e Emil –, Alfred foi ensinado em casa por tutores privados. Seguindo as pisadas do pai empresário, que também projetava e fabricava minas, Alfred desenvolveu um talento em química, em particular, explosivos. Em 1850 viajou para Paris para estudar química com o professor francês Théophile-Jules Pelouze, que tinha feito experiências utilizando ácido nítrico concentrado para desenvolver materiais explosivos no seu laboratório. De regresso à Rússia, Nobel começou a trabalhar na fábrica do pai, a fazer equipamento militar para a Guerra da Crimeia. Mas quando o conflito terminou em 1856, a companhia quase não dava lucro e, em 1859, foi à falência, obrigando os Nobel a voltar para a Suécia. Os dois irmãos mais velhos de Alfred, Robert e Ludwig, ficaram na Rússia, na esperança de salvar o que restava do negócio. Alfred, entretanto, começou a fazer experiências com explosivos no laboratório do pai. Em 1862 tinha montado uma pequena fábrica em que começara a produzir um explosivo emocionante mas extremamente volátil chamado nitroglicerina, inventado havia pouco tempo por outro estudante de Pelouze: Ascanio Sobrero. Embora Nobel reconhecesse

1837 O pai de Nobel (à direita) parte para a Finlândia e depois para São Petersburgo para montar uma oficina mecânica. O negócio vai à falência em 1856.

Nos 20 anos seguintes à patente da dinamite, foram produzidas 66.500 toneladas em todo o mundo.

o potencial industrial deste explosivo, o uso da nitroglicerina não era prático devido à sua natureza instável. O desafio era saber controlar a nitroglicerina de modo a que pudesse ser usada com segurança. Nobel passou muitos anos a aperfeiçoar a fórmula dos seus explosivos, assim como a inventar e a desenvolver dispositivos de detonação. A pesquisa acabou por levá-lo a descobrir como tornar a nitroglicerina estável e prática para as indústrias da construção e da mineração.

1850

Após se juntar ao pai na Rússia, Nobel vai para França. Em Paris, trabalha no laboratório do químico T.J. Pelouze.

1862

Em busca de novos produtos para a oficina do pai, Nobel inicia as suas pesquisas sobre a nitroglicerina, que levarão à invenção da dinamite.

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NAS SUAS PISADAS

Ragnar Sohlman

O engenheiro químico sueco Ragnar Sohlman tornou-se assistente pessoal de Nobel quando este foi viver para San Remo em 1883. Com o engenheiro civil Rudolf Lilljequist, Sohlman foi executor do testamento de Nobel. Lutou contra a família e entidades que contestavam o testamento para que o prémio Nobel se concretizasse. Sohlman criou também a Fundação Nobel, da qual foi diretor executivo de 1929 a 1946.

Albert Einstein

Sem dúvida um dos laureados mais conhecidos desde que o prémio nasceu é Albert Einstein, que recebeu o Prémio Nobel da Física em 1921. Em 1905, publicou quatro trabalhos pioneiros: sobre o efeito fotoelétrico, o movimento browniano, a teoria da relatividade especial e a equivalência massa‑energia (E=mc2). É famoso o comentário de Einstein sobre a ironia de um homem que desenvolveu explosivos destruidores utilizados na guerra ter criado um prémio da paz.

Nobel também se interessava por outros aspetos da química, incluindo o fabrico de borracha sintética, cabedal e seda artificiais, entre outras coisas.

Cinco factos: Alfred Nobel

1

Tragédia na fábrica

Em 1864, dois anos após a invenção do primeiro detonador, num incidente não relacionado, Emil, seu irmão mais novo (assim como muitos outros), morreu quando uma das fábricas de Nobel explodiu.

2

Viver para o trabalho

3

Um mendigo rico

4

Testamento polémico

5

Diamantes de dinamite

Apesar de ser um workaholic e nunca ter casado nem ter tido filhos, uma vez colocou um anúncio no jornal a pedir uma secretária e governanta. Em 1876, e por dois anos, Alfred empregou a condessa austríaca Bertha Kinsky.

Este desenvolvimento foi a invenção da dinamite (ver a caixa “A grande ideia”), pela qual Nobel obteve a patente em 1867. Com um produto comercial em mãos, Nobel ficou rico no centro de uma indústria nova. Fundou 16 fábricas de produção de explosivos em quase tantos países.Nobel morreu aos 63 anos, vítima de ataque cardíaco, na sua casa em San Remo, Itália. Sem a ajuda de um advogado, um ano antes de morrer, Nobel assinara o testamento. Nele deixou grande parte da sua fortuna para

1863

Nobel patenteia a nitroglicerina (um óleo explosivo volátil) como um explosivo industrial e o detonador para causar as explosões.

1864 1866 O irmão de Nobel Emil morre ao desenvolver experiências com nitroglicerina.

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a fundação de um prémio anual que, esperava, estimularia o progresso científico. Neste documento escreveu: “A totalidade dos meus bens restantes convertíveis em dinheiro deverá será tratada da seguinte maneira: o capital, investido em títulos financeiros seguros pelos meus executores, constituirá um fundo, cujos juros serão distribuídos anualmente sob a forma de prémios para aqueles que, durante o ano anterior, tenham conferido o maior benefício à humanidade.”

Desejoso de tornar o uso de nitroglicerina mais seguro, Nobel descobre que o óleo pode ser estabilizado com terra de diatomáceas – e nasce a dinamite.

1871

Após obter a patente da dinamite em 1867, Nobel funda a British Dynamite Company (mais tarde chamada Nobel’s Explosives Company).

1895

O testamento de Nobel é assinado no Clube Sueco-Norueguês em Paris.

Nem a família de Nobel nem as entidades queriam cumprir os termos do testamento. A Real Academia Sueca de Ciências dizia não haver instruções suficientes sobre a entrega dos prémios.

Apesar de a dinamite ter sido criada para uso militar, organizações como a companhia sul-africana de mineração de diamantes De Beers ficaram inspiradas para utilizar este explosivo como meio de explodir rocha nas minas.

© Alamy; Corbis; Adam Redzikowski

“Deixou grande parte da sua fortuna para a fundação de um prémio anual que, esperava, estimularia o progresso científico.”

Quando Nobel morreu em Itália, descobriu-se que nunca se tinha registado como residente de um país desde que fora para a Rússia com nove anos, o que lhe valeu a alcunha de “o vagabundo mais rico da Europa”.

1896

Nobel morre em San Remo, Itália, a 10 de dezembro.

Quero Saber | 143


FIGURAS INFLUENTES

Peter Higgs

Peter Higgs numa visita à experiência CMS, no CERN, em 2008.

Bem conhecido há décadas na comunidade científica, só com a presumível descoberta do bosão de Higgs em 2012 é que este físico saltou para a ribalta. Podemos dizer, com segurança, que a descoberta a 4 de julho de 2012 de uma nova partícula, provavelmente o esquivo bosão de Higgs, foi o maior anúncio científico do ano. Para a maioria das pessoas, foi suficiente saber que o Large Hadron Collider (LHC) – o enorme e supercaro acelerador de partículas na Suíça – tinha dado peso real a uma teoria física de décadas mas coesa. Foram revelados números impressionantes, depois mencionadas

A grande ideia A existência do bosão de Higgs não foi provada em absoluto, mas as experiências do CERN confirmaram a existência de uma nova partícula consistente com a teoria de Higgs. Para muitos físicos, não há dúvida de que é o bosão de Higgs. Esta partícula prova a existência do campo de Higgs, que permite que os blocos construtores do nosso Universo ganhem massa e formem estrelas, planetas, galáxias e tudo à nossa volta. Hoje, responde às mais recentes questões do Modelo Padrão da Física e, no futuro, poderá revelar-se integral para a ciência.

A sua obra Os acontecimentos até à descoberta da partícula.

144 | Quero Saber

1929

Higgs nasce a 29 de maio. A família muda-se muito, pois o pai era engenheiro de som na BBC.

velocidades impossíveis e partículas teóricas inconcebivelmente pequenas que existem em extensões infinitamente curtas, e a nossa imaginação coletiva foi captada. Mas para o seu homónimo Peter Higgs, deve ter sido a definitiva validação de toda a sua carreira. Higgs nasceu em Newcastle-upon-Tyne, Reino Unido, em 1929. Estudou Física no King’s College da Universidade de Londres, prosseguiu com o mestrado e por fim o doutoramento em 1954. Foi durante o seu trabalho como investigador e professor que Higgs iniciou as bases de um ensaio que ajudaria a descrever a natureza da massa, ainda que tenha sido totalmente ignorado inicialmente. O trabalho de Higgs começou na teoria quântica – o mundo surreal das forças que unem partículas subatómicas e, à época, uma excitante nova era. O seu primeiro artigo sobre o bosão de Goldstone foi publicado por uma revista de física editada no então recém-fundado CERN, na Suíça. Mas, para sua desilusão, o seu paper seguinte – terminado em 1964 – foi rejeitado, sob o pretexto de não ter relevância para a física. Este artigo descrevia o conceito radical do que viria a ser conhecido como o mecanismo de Higgs, um campo escalar presente em todos os pontos do espaço, que dá massa às partículas. O mecanismo de Higgs também foi descoberto por vários outros físicos importantes no mesmo ano, mas nenhum deles mencionou um enorme bosão, que Higgs viria a incluir numa edição revista do mesmo paper.

1954

Doutoramento no King’s College London (na foto). Passa a lecionar na Universidade de Edimburgo.

1964

As ideias de Higgs foram usadas para descrever as origens da massa das partículas pelos físicos Steven Weinberg e Abdus Salam em finais da década de 1960 – uma solução que escapara à comunidade científica durante algum tempo. Em 1983 – o mesmo ano em que Peter Higgs se tornou membro da Royal Society –, as únicas partes por provar desta teoria eletrofraca eram o campo de Higgs e o bosão de Higgs, mas foram precisos quase 20 anos de experiências físicas de uma dimensão inédita no LHC e outros locais para, finalmente, se chegar a uma conclusão quanto ao bosão de Higgs. Peter Higgs reformou-se em 1996 de uma carreira em que venceu a Rutherford Medal e a Dirac Medal. Após o anúncio do CERN de 2012, foi elogiado por muitos dos seus pares notáveis, entre os quais Stephen Hawking, que o recomendou publicamente para o Nobel da Física.

Descreve o mecanismo de Higgs num paper, que é rejeitado. Mais tarde, revê-o e inclui o bosão de Higgs.

1983

São descobertos os bosões W e Z, deixando só a partícula de Higgs para confirmar a teoria eletrofraca. Higgs entra para a Royal Society.

1991

Higgs torna-se membro do prestigiado Institute of Physics de Londres.

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NAS SUAS PISADAS

Ken Currie

Em 2008 a Universidade de Edimburgo encomendou a este aclamado artista escocês um retrato de Higgs. Currie admitiu ser inspirado pela obra de Higgs – não alegando perceber a sua teoria, mas alcançando a sublime e “bela” natureza da sua solução.

David Wallace

Higgs foi conselheiro de Wallace quando este fez o doutoramento em teoria de partículas elementares. Antes investigador na Universidade de Princeton e professor na de Southampton, recebeu um CBE pelo seu trabalho como diretor do Edinburgh Parallel Computing Centre.

Cinco factos

1

Nível 5

Os físicos usam o desvio‑padrão para declarar uma descoberta oficial ou não. A 5 sigma, o nível atingido quando os cientistas estudaram as experiências do bosão de Higgs, há uma em 3,5 milhões de chawnces de os dados serem pura sorte.

2

A “partícula de Deus”

3

Velocidade

4

Big Bang

5

Humilde Hawking

O bosão de Higgs foi apelidado de “partícula de Deus”, atribuído ao Nobel da Física Leon Lederman, cujo livro se referia a ele como a “goddamn particle” – depois alterado.

Dois dos aceleradores de partículas de maior energia foram usados para procurar o bosão de Higgs. Além do LHC, também foi usado o Tevatron do Fermilab, perto de Chicago.

Sem o Large Hadron Collider, o bosão de Higgs teria permanecido apenas uma teoria.

“ Como investigador e professor, Higgs iniciou as bases de um ensaio que ajudaria a descrever a natureza da massa.”

Higgs reforma-se e torna‑se professor emérito na Universidade de Edimburgo.

Recebe um prémio pelo seu trabalho em física teórica com o nome de um herói seu: o físico teórico Paul Dirac (à direita).

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Muitos duvidaram da existência do bosão de Higgs, incluindo Stephen Hawking, que apostou $ 100 com Gordon Kane, da Universidade do Michigan, que o CERN nada iria encontrar.

2004

Outro prémio – o israelita Prémio Wolf de Física, embora Higgs se recuse a voar para Jerusalém para o receber, por razões morais.

2011

Os resultados das primeiras experiências do CERN no LHC em dezembro são muito positivos, mas são precisos mais testes para se ter a certeza.

2012

A indicação mais forte de uma nova partícula com massa significativa é anunciada pelo CERN em julho. Pelo seu trabalho, Higgs torna-se Companion of Honour no início de 2013.

Quero Saber | 145

© CERN; Tom Morris; Philip Alfrey; Thinkstock

1996

1997

As condições propícias à criação do bosão de Higgs – semelhantes às da época do Big Bang – foram criadas chocando partículas elementares umas contra as outras quase à velocidade da luz.


FIGURAS INFLUENTES

Charles Darwin

Pai da biologia evolutiva, Darwin é o naturalista mais famoso de sempre e um dos nomes mais influentes da ciência moderna – mas porquê? Ao publicar as suas ideias, Darwin foi atacado pela Igreja, mas entretanto foi-lhe dada razão.

A grande ideia Mecanismo-chave da evolução, a seleção natural descreve como os traços biológicos se tornam mais ou menos comuns através da sua reprodução numa mesma população. Com a reprodução seletiva de alterações no fundo genético, uma espécie adapta-se de forma gradual e não aleatória a fatores ambientais alheios ao seu controlo, aumentando as hipóteses de sobrevivência.

Vida e obra

Famoso por descrever a evolução da humanidade, traçamos a evolução do próprio Darwin durante o séc. XIX.

146 | Quero Saber

1809

Charles Darwin nasce em Shrewsbury, Inglaterra. Os seus pais são Robert (acima) e Susannah Darwin.

1818

Em junho, Darwin vai para a Shrewsbury School como aluno interno, onde estuda durante sete anos.

1825

Darwin inscreve-se em medicina na Universidade de Edimburgo com o irmão mais velho Erasmus.

Charles Robert Darwin foi um naturalista inglês célebre pelas suas teorias da evolução e da seleção natural, ambas introduzidas no seu trabalho seminal A Origem das Espécies. O livro foi tão criticado como aclamado por vários grupos sociais na altura da publicação. A polémica inicial surgiu devido ao aparente ataque a grande parte da sagrada escritura, mas viria a tornar-se uma das obras mais influentes para a sociedade ocidental, originando o campo dos estudos evolutivos. Embora A Origem das Espécies tenha sido publicado em 1859, Darwin começou a divisar a evolução através da seleção natural pouco depois de uma volta ao mundo iniciada em 1831. O naturalista embarcou nesta viagem para expandir o seu interesse recente por história natural, passando o tempo a recolher espécimes e a analisar muitas espécies interessantes – quando não sofria de enjoo. Durante a expedição no HMS Beagle, recolheu 5.436 ossos, peles e carcaças de várias criaturas. As suas experiências e descobertas levaram-no a questionar muitas das crenças aceites sobre a origem da vida. Em 1838 estabeleceu a sua teoria da seleção natural – ver caixa “A grande ideia”. Durante os 20 anos seguintes, refinou-a, até receber uma carta do colega naturalista britânico Alfred Russel Wallace, que esboçava ideias muito semelhantes às suas. Darwin ficou espantado por partilharem as mesmas teorias. Os trabalhos de ambos acabariam por ser apresentados em conjunto em 1858 na Sociedade Lineana, em Londres, mas sem grande impacto. Darwin granjeava um status social e científico que Wallace não tinha. Incitado pelo seu amigo advogado e geólogo Charles Lyell, publicou então A Origem das Espécies, no ano seguinte – e ficou para a história como o pai da biologia evolutiva.

1827

É aceite no Christ’s College, Cambridge, para estudar teologia e não ciências.

1831

Aceita uma oferta para ir em viagem no HMS Beagle, que zarpa a 27 de dezembro.

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NAS SUAS PISADAS

Joseph Hooker

Joseph Dalton Hooker era amigo íntimo de Darwin e classificou as plantas por este recolhidas nas Ilhas Galápagos. Hooker teve também um papel-chave na formulação da teoria da seleção natural de Darwin, dando-lhe feedback crítico durante a escrita. Hooker foi um dos primeiros cientistas reconhecidos a apoiar as suas ideias radicais.

Richard Dawkins

O biólogo evolutivo britânico Richard Dawkins tem em Darwin uma das suas maiores influências. Desde a leitura do trabalho de Darwin na universidade, forjou uma carreira em biologia durante a qual publicou vários títulos aclamados, como O Espetáculo da Vida – a Prova da Evolução, no qual expõe alegadamente provas concretas da evolução.

Embora haja quem ache que a importância dos tentilhões das Galápagos para as teorias de Darwin foi exagerada, pesquisas mais recentes indicam que são um bom exemplo de microevolução.

Cinco factos:

Charles Darwin

1Pai de família

Darwin teve dez filhos, embora dois tenham morrido na infância. Três tornaram-se membros da Royal Society.

2Rosto de nota

Darwin é celebrado no Reino Unido com o seu retrato impresso nas notas de £ 10, juntamente com um colibri e o navio HMS Beagle.

Talvez o habitante mais famoso das Galápagos, a tartaruga gigante.

Este foi um momento decisivo para Darwin – e para a ciência em geral. Até certo ponto, era uma compilação de ideias já debatidas por outros biólogos, mas nunca provadas. Apesar de Darwin não fornecer provas concretas da evolução, a clareza e a lógica do trabalho levaram a que, no final da década de 1870, a comunidade científica e a sociedade em geral tivessem aceite a teoria. Darwin deu seguimento à obra em 1871 com A Origem do Homem (e Seleção em Relação ao Sexo), onde aplicou a

sua própria teoria evolutiva especificamente à evolução do ser humano a partir dos símios. O livro foi incrivelmente popular desde o início, com uma segunda edição encomendada três semanas depois do lançamento. Três meses após a publicação, tinham sido vendidas 4.500 cópias – uma prova da sua fama crescente. Darwin morreu a 19 de abril de 1882 de doença cardíaca e, após um pedido dos colegas, teve um funeral de estado na Abadia de Westminster, sendo enterrado ao lado dos cientistas John Herschel e Isaac Newton.

“ (A publicação de A Origem das Espécies) foi um momento decisivo para Darwin – e para a ciência.”

3Escola de pensamento

A escola que Charles Darwin frequentou em criança, a Shrewsbury School, ainda existe, mas não no mesmo edifício, agora uma biblioteca.

4Nomes científicos

Devido às grandes conquistas de Darwin no campo da história natural, até à data, mais de 120 espécies e nove géneros diferentes têm um nome em sua honra.

5Marinheiro de água doce

O HMS Beagle levou cinco anos a circum-navegar o mundo, mas Darwin só passou 18 meses a bordo. Desde o dia em que zarpou, foi atormentado por terríveis enjoos.

O HMS Beagle esteve apenas cinco semanas nas Ilhas Galápagos, mas foi o suficiente para a pesquisa de Darwin.

Desembarca em Inglaterra a 2 de outubro e regressa a casa, em Shrewsbury.

1839

Casa-se com Emma Wedgwood e nasce o primeiro de dez filhos.

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1858

Recebe uma carta de Alfred Russel Wallace, com quem partilha muitas ideias sobre a seleção natural.

Publica A Origem das Espécies por Meio da Seleção Natural, ou a Preservação de Raças Favorecidas na Luta pela Vida.

1864

Recebe a medalha Copley, o maior louvor da Royal Society Morre aos 73 anos e é britânica. sepultado em Westminster.

1882

Quero Saber | 147

© Mike Cornwell

1836

1859


FIGURAS INFLUENTES

Neil Armstrong Descubra como um rapaz fascinado pela aviação acabaria por ser o primeiro homem a pisar a Lua.

“ Neil Armstrong tirou o brevete aos 16 anos, antes sequer de aprender a conduzir.”

O interesse de Armstrong pelo voo

começou muito cedo. Com dois anos, o pai levou-o às Cleveland Air Races e, aos seis anos, voou num trimotor Ford “Tin Goose”. Enquanto frequentou a escola, fazia maquetes de aviões, colecionava livros sobre aviação e chegou a trabalhar para poder pagar aulas de voo. Tirou o brevete aos 16 anos, antes sequer de aprender a conduzir. O seu interesse em voar levou-o a tirar o curso de Engenharia Aeronáutica na Universidade de Purdue, no Indiana. Estudou com uma bolsa, que estipulava três anos de serviço na marinha dos EUA durante o curso. Armstrong foi incorporado em 1949, teve 18 meses de treinos de voo e, aos 20 anos, já era um aviador naval qualificado. A partir de 1951, Armstrong esteve na Guerra da Coreia. Voou em 78 missões e ganhou várias medalhas pelo seu serviço naval. Após a guerra, deixou a marinha e voltou à universidade para completar o curso. Depois de se licenciar, em 1955, Armstrong tornou-se piloto de testes de investigação; durante este período, pilotou mais de 200 tipos diferentes de aeronaves. Dada a sua extensa experiência de voo, foi selecionado para o programa Man In Space Soonest (MISS) da força áerea norte‑americana. Em 1966, Armstrong foi piloto comandante da Gemini 8, a primeira missão em que dois veículos se acoplaram no espaço; apenas dois anos mais tarde, foi escolhido para

Neil Armstrong tinha 38 anos quando foi escolhido para liderar a missão Apollo 11.

Vida e obra

Os acontecimentos principais da vida deste astronauta que o levaram até à Lua.

148 | Quero Saber

Armstrong a trabalhar no Módulo Lunar, na superfície da Lua.

1930

Neil Alden Armstrong nasce no Ohio a 5 de agosto, filho de Stephen Koenig Armstrong e Viola Louise Engel.

1949

Armstrong é chamado a servir na Guerra da Coreia, onde voa em mais de 75 missões de combate.

1955

Forma-se em Engenharia Aeronáutica na Universidade de Purdue.

1955

Começa a trabalhar como piloto de testes experimentais na Base Aérea de Edwards.

1956

Janet Elizabeth Shearon e Neil Armstrong casam-se. Viriam a ter três filhos.

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Sally Ride

Chris Hadfield

Armstrong fez um molde da sua pegada para exposição no Centro de Voos Espaciais Marshall, em 2007.

comandante da missão Apollo 11 à Lua, que viria a mudar tudo. Depois de passar um ano a aprender a pilotar uma versão alterada do Módulo Lunar na Terra, Armstrong e mais dois astronautas partiram para nosso satélite natural a 16 de julho de 1969. O Módulo Lunar aterrou na superfície da Lua a 20 de julho e, às 22h56 (hora do Centro Espacial Kennedy, na

A grande ideia Em 1969, Neil Armstrong comandou uma missão de três homens à Lua – a Apollo 11. Só pensou na sua famosa frase “Um pequeno passo para o homem, um salto gigante para a humanidade” quando o Módulo Lunar aterrou. Em entrevistas posteriores afirmou que achava que as hipóteses de uma alunagem bem‑sucedida era tão reduzidas que planear o que dizer com antecedência era desnecessário.

1962

Após entrar no programa de astronautas, muda‑se para Houston Texas, com a família.

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Ela própria uma inspiração, foi a primeira norte-americana a ir ao espaço. Nos primeiros anos das viagens espaciais, a NASA recrutava sobretudo pilotos militares, mas à medida que as missões se tornavam mais avançadas, tornou-se necessário começar a levar cientistas ao espaço. Esta física foi recrutada e efetuou duas missões com o Challenger.

A tripulação da Apollo 11: da esquerda para a direita, Neil Armstrong, Michael Collins e Buzz Aldrin.

Florida, EUA), Armstrong tornou-se o primeiro homem a pisar um corpo extraterrestre, proferindo a famosa frase: “Um pequeno passo para um homem, um salto gigante para a humanidade”. Buzz Aldrin seguiu-o 20 minutos depois e os dois passaram mais de duas horas e meia a conduzir experiências e a recolher amostras. Também erigiram uma placa e a bandeira dos EUA para celebrar a missão. Ao reentrar no Módulo Lunar, Armstrong descobriu que o interruptor da ignição tinha sido partido pelos seus fatos espaciais e teve de reiniciar o veículo usando uma caneta para empurrar o interruptor. Após pousar no Oceano Pacífico, a tripulação ficou de quarentena durante 21 dias, como salvaguarda contra qualquer infeção que pudesse ter sido contraída no espaço. Depois, passaram 45 dias numa viagem pelo mundo para comemorar um dos maiores feitos de sempre da humanidade. Após a missão Apollo 11, Armstrong retirouse dos voos espaciais e aceitou um lugar de professor na Universidade de Cincinnati, Ohio. Contudo, continuou a trabalhar para a NASA e ajudou nas investigações que se seguiram aos acidentes da Apollo 13 e do Challenger.

1966

Como piloto comandante da missão Gemini 8, Armstrong participa na primeira acoplagem de dois veículos no espaço.

1969

A 20 de julho, Neil Armstrong torna-se o primeiro homem a andar na Lua.

Cinco factos: Neil Armstrong

1

Herói de guerra

Num voo na Guerra da Coreia, o F9F Panther de Armstrong foi atingido por fogo antiaéreo. Colidiu com um poste e parte da asa foi arrancada, mas não houve ferimentos.

2

Escoteiro espacial

3

Odiava a ribalta

4

Prémios e honras

5

Passageiro frequente

Em criança, Armstrong foi escoteiro. A caminho da Lua, enviou uma mensagem aos escoteiros na Terra.

Armstrong manteve-se longe da ribalta após voltar da Lua, recusando dar autógrafos e rejeitando muitas ofertas de publicidade. Armstrong é um dos homens mais agraciados da História e recebeu vários prémios, incluindo a Medalha Presidencial da Liberdade, a maior condecoração civil nos EUA. Quando era piloto de testes, efetuou mais de mil horas de voo e pilotou mais de 200 tipos diferentes de aeronaves.

2012

Armstrong morre de complicações após uma cirurgia cardíaca. A família pede que as pessoas “pisquem o olho à Lua” em sua honra.

© NASA

NAS SUAS PISADAS

Foi o primeiro canadiano a comandar a Estação Espacial Internacional, em março de 2013. Diz que ver a alunagem em 1969 foi um “momento decisivo” e que admirava Armstrong pelo seu “feito tranquilo”. Quando Hadfield era criança, o Canadá não tinha programa espacial, mas Armstrong inspirou-o a perseguir o seu sonho.

Quero Saber | 149


FIGURAS INFLUENTES

Henry Ford

Saiba como o modelo de produção de série de Ford conseguiu transformar o automóvel, um brinquedo dos ricos, num veículo para massas. Henry Ford não inventou o carro, nem a linha de montagem. O que ele fez foi desenvolver a primeira linha móvel de montagem em larga escala, o que levou à produção em massa e à ascensão meteórica do automóvel quotidiano. As origens de Ford são bastante humildes. Nasceu numa quinta no Michigan, em 1863, mas na infância demonstrou pouco interesse na agricultura, preferindo passar o tempo a desmontar brinquedos e relógios para estudar os mecanismos internos. Ainda adolescente, Ford saiu de casa em 1879 para ser aprendiz de mecânico em Detroit, e em 1891 aceitou um emprego como engenheiro na Edison Illuminating Company. Em breve teria tempo e dinheiro para investir num projeto próprio para criar uma carruagem sem cavalos. Em 1896, completou o seu primeiro veículo autopropulsor: o Quadriciclo. Movido a gasolina, com um chassis simples e quatro rodas como as das bicicletas,

“ Ford começou a conceber carros acessíveis, fáceis de conservar, manobrar e controlar em estradas acidentadas.”

Vida e obra Os principais marcos da viagem de Henry Ford até à fama internacional.

150 | Quero Saber

1863

Henry Ford nasce numa quinta no Michigan, filho de William e Mary.

1879

Henry vai para Detroit, Michigan, para se iniciar na aprendizagem de mecânico.

1891

É contratado pela Edison Illuminating Company como engenheiro, onde a sua paixão por automóveis é encorajada por Thomas Edison.

era guiado com um leme. A velocidade máxima era de 32 km/h, o que era impressionante para a época. O sucesso do Quadriciclo atraiu o interesse de investidores, que ajudaram Ford a fundar uma companhia de fabrico de carros em 1899. Mas tanto esta como outra companhia não singraram. Porém, Ford, determinado a não desistir, concentrou esforços em desenvolver um carro de corrida de 80 cv, o Ford 999. Este carro levou Barney Oldfield à vitória na Manufacturer’s Challenge Cup, em outubro de 1901. O interesse em Ford renovou‑se rapidamente e, em 1903, foi formada a Ford Motor Company. Henry Ford começou a conceber modelos de carros simples e acessíveis “para as massas”. Em 1908, apresentou o Modelo T – um carro acessível e bastante fácil de manobrar, conservar e controlar em estradas acidentadas. Na altura, o carro tornou‑se tão popular que a velocidade a que era vendido era superior àquela a que era produzido, por isso a companhia teve de criar um novo modo de responder à crescente procura. A solução surgiu sob a forma de uma linha de montagem em movimento. Em vez de haver um operário a montar um componente inteiro, cada operário recebia uma ou duas partes para montar, e o resultado era passado à pessoa seguinte até estar completo. Assim, o processo era extremamente eficaz e, em 1914, o tempo total de produção de um único Modelo T passara de 12 horas para apenas 26 minutos e 30 segundos. Como resultado, o custo do carro também desceu de € 620 para € 190. A Ford expandiu as vendas e o fabrico para outros países e, no início da década de 1920, metade dos carros do mundo eram Modelos T.

1896

Henry cria o seu primeiro veículo autopropulsor, o Quadriciclo, cuja velocidade máxima é de 32 km/h.

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Ford no seu primeiro automóvel, o Quadriciclo.

1 Volante

O design simples do Ford mais vendido garantiu o sucesso e revolucionou a indústria automóvel.

A transmissão à esquerda do Modelo T estabeleceu o padrão para as indústrias automóveis norte‑americana e europeia.

Caixa de velocidades (oculta)

A caixa planetária com duas velocidades tinha um pedal para a embraiagem, um para o travão e um para a marcha‑atrás, assim como duas alavancas manuais para o regulador e funções de travão neutras e de estacionamento.

O Modelo T tinha um motor de quatro cilindros que produzia 20 cv, dando ao carro 72 km/h de velocidade máxima.

Originalmente eram lanternas de acetileno feitas de latão, mas em 1915 os carros novos tinham luzes elétricas.

Suspensão

Manivela manual

O sistema de suspensão de três pontos permitia muito movimento de rodas para evitar os danos causados pelas primeiras estradas, muito acidentadas.

Os primeiros modelos ligavam quando se dava à manivela, mas em 1920 tinham motores de arranque com bateria.

1901

O 999 de 80 cv de Ford vence a Manufacturer’s Challenge Cup.

É fundada a Ford Motor Company com a ajuda de vários investidores.

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Avançar nos tempos A linha de montagem em movimento mudou completamente a face da manufatura. Os movimentos mínimos e repetitivos dos operários aceleraram a eficiência. Por requerer pouco treino, Ford contratava trabalhadores inexperientes, muitos dos quais imigrantes. Mas o trabalho era muito monótono e a rotatividade da companhia era tão alta que Ford contratava 53 mil pessoas por ano para manter a mão de obra constante

de 14 mil na fábrica. Para resolver a situação, em 1914, Ford aumentou os salários para cinco dólares diários (mais do dobro) para reduzir a rotatividade de empregados – uma quantia inédita para trabalho não especializado. Agora que os operários da fábrica podiam comprar os carros que faziam, o trabalho era muito mais desejável, o que permitiu à Ford, na altura, cimentar a sua posição de principal fabricante de carros do mundo.

1908

O Modelo T começa a ser produzido e torna‑se o carro mais vendido do mundo.

Antissemita

Embora fosse um dos maiores empregadores de operários negros e imigrantes do país, Ford era antissemita e publicou uma série de textos em que culpava o povo judeu pela manipulação do mercado.

Motor

Faróis dianteiros

1903

2

3

Empreendimentos na aviação

4

Fabrico monocromático

5

Conduzir no gelo

Ford também desenhava e fabricava aviões, incluindo um que seria o primeiro avião de passageiros bem‑sucedido dos EUA. O primeiro voo foi em 1926 e levava 12 pessoas.

Antes do desenvolvimento da linha de montagem, os carros Ford estavam disponíveis apenas numa cor, sendo conhecida a afirmação de Ford: “Qualquer cliente pode ter um carro de qualquer cor que queira, desde que seja preto.”

Em 1904, Ford bateu o recorde de velocidade em terra, conduzindo o 999 num lago gelado. Atingiu a velocidade máxima de 146 km/h.

1914

Ford aumenta os salários dos operários para $ 5 diários, mais do dobro.

1932

Aos 69, Ford cria o motor compacto e acessível V8 que ultrapassa todos os concorrentes.

Quero Saber | 151

© Getty

Explore o Modelo T

Pacifista da I GM

Henry Ford opunha‑se à Primeira Guerra Mundial e financiou o navio Peace Ship, que zarpou para a Europa para iniciar negociações de paz. Esta missão foi logo abortada.

O 999, o carro de corrida vitorioso de Henry Ford de 1901, no qual bateu o recorde mundial de velocidade.

Porém, as vendas do Modelo T decaíram gradualmente, tendo sido ultrapassadas pelo Chevrolet, da General Motors, que era mais confortável e potente. Foram criados outros modelos, mas nenhum teve o sucesso do Modelo T. Em 1932, com 69 anos, Ford apresenta outra grande inovação: o motor V8, leve e económico. Mas nem este chegou para reclamar a liderança do mercado norte‑americano, por isso, em 1936, a Ford Motor Company foi ultrapassada pela General Motors e pela Chrysler Corporation. No entanto, a linha de montagem de Ford tornou‑se o modelo‑padrão de produção do século XX, acelerando o crescimento da classe média e dando mobilidade independente a milhões de pessoas.

Cinco factos: Henry Ford


FIGURAS INFLUENTES

Nicolau Copérnico Veja como as observações de um monge católico polaco contribuíram de forma decisiva para a Revolução Científica no século XVI e redefiniram o lugar da Terra no Universo. Antes de Copérnico, a teoria do Universo mais aceite era a de que a Terra estava no centro e o Sol, a Lua e os planetas giravam à sua volta. Esta ideia fora defendida por Aristóteles milénios antes, mais tarde por Ptolomeu e era ferozmente apoiada por líderes religiosos. Quem se atrevesse a questionar este dogma era acusado de heresia: um crime punível com a morte. Todavia, a conquista otomana de Constantinopla, um bastião da cultura helénica, forçou os académicos da antiga Bizâncio a fugir para o ocidente. Com eles trouxeram a sabedoria antiga, e os métodos clássicos de observação e interrogação, como modo de resolver os grandes mistérios do Universo. Ao mesmo tempo, o ceticismo crescente face à Igreja Católica e a cisão de Inglaterra com Roma significavam que a razão estava a começar a ocupar o lugar da religião na comunidade académica, uma área que fora maioritariamente dominada pela crença cristã. Como resultado, os astrónomos do Renascimento começaram a desafiar a física aristotélica. Um destes visionários era Mikołaj

Vida e obra Destacamos alguns dos marcos mais importantes da vida deste astrónomo.

152 | Quero Saber

1473

Copérnico nasce em Torun, filho de Nicolau, um abastado comerciante de cobre, e Bárbara.

Kopernik, ou, como ficou conhecido em português, Nicolau Copérnico. Nascido em 1473 em Torun, na Polónia, perdeu o pai com apenas dez anos e foi acolhido pelo tio. Este bispo sustentou os estudos de Copérnico na Universidade de Cracóvia, iniciados em 1491, no auge da chamada escola de matemática e astrologia de Cracóvia, onde obteve fortes bases para as posteriores proezas matemáticas. Em 1496, Copérnico foi para Bolonha, Itália, para estudar direito canónico e alugou um quarto em casa do eminente professor e astrónomo Domenico Maria de Novara. Tornou‑se seu discípulo e assistente e, pela primeira vez, conheceu alguém que se atrevia a questionar as teorias existentes sobre o cosmos. Depois de concluir os estudos, Copérnico voltou para a Polónia para viver com o tio, na função simultânea de seu secretário e médico. Durante este período, começou a trabalhar na sua teoria heliocêntrica. Em 1512, após a morte do tio, Copérnico foi para Frombork ocupar um cargo de cónego – uma nomeação administrativa na Igreja. Foi aí que teve mais tempo para

1491

Copérnico estuda pintura e matemática na Universidade de Cracóvia, aos 18 anos.

1496

Muda-se para Itália para estudar direito canónico, mas é atraído pela astronomia.

se dedicar aos seus estudos astronómicos e construiu um pequeno observatório a partir do qual podia registar o movimento das estrelas. Por volta de 1514, descreveu as suas teorias num pequeno manuscrito anónimo referido apenas como Commentariolus, em que resumia o seu modelo heliocêntrico do Sistema Solar, segundo o qual os planetas orbitavam o Sol. Apesar de ter distribuído o manuscrito apenas por alguns amigos, Copérnico e as suas teorias pouco convencionais começaram a ser faladas e também geraram controvérsia no seio da Igreja Católica. Embora a ameaça de perseguição não tenha impedido Copérnico de desenvolver os seus conceitos, o matemático e astrónomo estava relutante em publicá‑los e manteve as suas descobertas em segredo durante décadas. Contudo, em 1540, o seu aluno Georg Joachim Rheticus convenceu‑o a publicar o livro De Revolutionibus Orbium Coelestium (Das Revoluções dos Corpos Celestes). Em 1543, no leito de morte, Copérnico teve nas mãos a primeira cópia impressa do livro. A Revolução Científica não tinha como voltar atrás .

1503

1512

Copérnico volta para a Polónia para viver com o tio, assumindo a função de seu secretário e médico.

Após a morte do tio, Copérnico vai para Frombork (à direita), no norte da Polónia, para trabalhar como cónego.

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Galileu Galilei

Foi o primeiro a descobrir a existência de outras galáxias além da Via Láctea e a teorizar a expansão do Universo. Embora estas descobertas tenham ajudado a refutar a ideia da Terra no centro do Universo, a pesquisa de Copérnico contribuiu para o trabalho de Hubble, que até batizou o seu gato de Nicolas Copernicus. O nome do telescópio da NASA é uma homenagem a Hubble.

Remodelação cósmica

As teorias de Copérnico retiraram a Terra da posição central que ocupava há milénios, mas por que era o modelo coperniciano tão radical?

Planetas ausentes

Estrelas fixas

Copérnico não descobriu que as estrelas não eram fixas, mas antes corpos em movimento dentro do seu próprio sistema solar.

Saturno

Urano não foi aceite como planeta do nosso sistema solar até 1783 e Neptuno só foi descoberto em 1846.

Júpiter Marte Terra Vénus Mercúrio

Epiciclos

O modelo geocêntrico sugeria que os planetas tinham os seus próprios “epiciclos” em miniatura, mas Copérnico refutou esta ideia.

O modelo heliocêntrico colocou a Lua na sua própria órbita em torno da Terra.

Centro do Universo

Copérnico colocou o Sol não só no centro do Sistema Solar como no centro do Universo.

Modelo geocêntrico

Movimento circular

O novo modelo mantinha a teoria de que a órbita dos planetas era circular, e não elíptica, como mais tarde se determinou.

Modelo heliocêntrico

A grande ideia O modelo geocêntrico do Universo estava cheio de inconsistências. Já o modelo heliocêntrico de Copérnico colocava o Sol no centro do Universo, com os corpos planetários a girar à sua voltae a Lua a orbitar a Terra. Copérnico também propôs que a distância entre a Terra e o Sol era apenas uma fração da distância a que as outras estrelas estavam da Terra e do Sol, e que as estrelas estavam fixas. Emb ora algumas destas teorias tenham sido refutadas entretanto, o seu modelo constituiu uma base de valor inestimável para a astronomia moderna.

1514

Copérnico produz um pequeno manuscrito conhecido por Commentariolus, onde esboça as suas teorias heliocêntricas.

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1532

Completa De Revolutionibus Orbium Coelestium, mas está relutante em publicá‑lo por temer a perseguição religiosa.

Vários talentos

Os talentos de Copérnico não se limitavam à astronomia. Também era médico, artista, académico, economista e diplomata, entre outras coisas.

Uma questão de química

O elemento químico copernício tem esse nome como tributo a Copérnico. Os descobridores queriam dar ao elemento o nome de um cientista que não tivesse tido reconhecimento suficiente durante a sua vida.

Sol

Segundo Aristóteles e Ptolomeu, a Terra estava no centro do Universo, com o Sol e os outros planetas a orbitar à sua volta.

1

2

Órbita lunar

A Terra no centro

Cinco factos: Nicolau Copérnico

1539

O astrónomo aceita o seu primeiro e único estudante, Rheticus (direita), que o convence a publicar o trabalho.

3

O mau dinheiro afasta o bom

4

O centro de tudo?

5

Doutor Copérnico

Em 1526, Copérnico desenvolveu uma teoria monetária, hoje chamada Lei de Gresham, que foi utilizada para estabilizar a moeda na Polónia e ainda é um conceito fundamental da economia.

Ao contrário do que se pensa, Copérnico não acreditava que os planetas do Sistema Solar orbitavam o próprio Sol, mas um centro situado perto dele. Embora tenha estudado medicina durante um breve período, nunca concluiu uma licenciatura em medicina. Porém, foi médico do seu tio e do sucessor do tio durante muitos anos.

1543

É publicada a primeira cópia do livro; Copérnico morre pouco depois com um AVC, aos 70 anos.

Quero Saber | 153

© Corbis

NAS SUAS PISADAS

Edwin Hubble

Galileu era um polímata italiano conhecido pelas melhorias que introduziu no telescópio, numerosas observações astronómicas e feroz defesa do modelo heliocêntrico de Copérnico. Ao contrário de Copérnico, não tinha receio de expressar as suas opiniões. Foi julgado por heresia, mas escapou por pouco à morte ao aceitar abandonar as convicções copernicianas.


FIGURAS INFLUENTES

Niels Bohr

Ao estudar átomos e mecânica quântica, Bohr sabia que pequenas coisas podem fazer uma grande diferença. A estrutura dos átomos é intrínseca ao estudo da física. Temos de agradecer, em grande medida, ao físico dinamarquês Niels Henrik David Bohr pela descoberta da forma como os eletrões se movimentam em redor do núcleo, o que alargou significativamente o nosso conhecimento da matéria física. Niels Bohr nasceu em Copenhaga, em 1885; o seu pai, Christian Bohr, era um famoso fisiólogo. Esta proximidade precoce à ciência ajudou Niels Bohr a obter os graus de mestre e de doutor na Universidade de Copenhaga. Após terminar os estudos, trabalhou no laboratório do pai, onde as suas ideias acerca da estrutura atómica e da radiação ganharam forma, depois de estudar a teoria quântica de Max Planck. Em 1911, foi estudar para Inglaterra, primeiro em Cambridge e depois em Manchester. O seu professor foi Ernest Rutherford, conhecido por muitos como o “pai da física nuclear”. Os dois tinham uma boa relação e foi nesta época que Bohr desenvolveu as suas ideias sobre a estrutura atómica e o seu inovador modelo do átomo. A sua teoria baseava-se no modelo inicial de Rutherford e incluía aspetos da teoria quântica de Planck. O modelo descreve um núcleo de carga positiva rodeado por eletrões de carga negativa que se deslocam em órbitas circulares a uma certa distância, determinada pelos níveis de energia. O sucesso desta teoria fez com que, em 1916, Bohr estivesse de regresso a Copenhaga enquanto professor de física teórica na sua antiga universidade. Em 1922, a investigação sobre a estrutura dos átomos vale-lhe o Prémio Nobel da Física. Ao longo da sua carreira, trabalhou noutras

Vida e obra

Destacamos alguns dos momentos decisivos da carreira deste cientista atómico.

154 | Quero Saber

1885

Nasce a 7 de outubro, em Copenhaga, filho de Ellen e Christian Bohr.

ideias, como o modelo da gota líquida, o espetro do hidrogénio, a teoria eletromagnética, a absorção de raios alfa e as transmutações dos núcleos atómicos. O modelo da gota líquida foi muito revolucionário na altura, pois forneceu a base para o modo como fazemos a cisão do urânio. Quando a II Guerra Mundial rebentou, Bohr juntou-se ao projeto norte-americano de desenvolvimento de uma bomba nuclear, no âmbito do Projeto Manhattan. Após contribuir

1911

Obtém o doutoramento e trabalha sob a alçada do físico J. J. Thomson, em Cambridge.

1912

Trabalha sob a alçada de Ernest Rutherford e tenta reavaliar a estrutura atómica aplicando a teoria quântica.

1916

para estes projetos, escreveu uma carta aberta à ONU, depois da guerra, apelando a uma aplicação mais pacífica da física atómica, na sequência da qual organizou a conferência Átomos pela Paz, em 1955, em Genebra. Ajudou ainda a criar o CERN (Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear), na Suíça, e o Instituto Nórdico de Física Atómica Teórica. Defendeu a utilização da energia nuclear na Dinamarca antes de morrer, em 1962.

É nomeado professor de física teórica na Universidade de Copenhaga.

1922

Recebe o Prémio Nobel da Física por “serviços na investigação da estrutura do átomos e da radiação que deles emana”.

1927

Participa na Conferência de Solvay sobre eletrões e fotões, e conhece Einstein.

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NAS SUAS PISADAS

Werner Heisenberg

Aage Bohr

Trabalhou com Bohr em Copenhaga e desenvolveu ideias próprias sobre a estrutura atómica. O seu princípio da incerteza contradiz a noção de que os eletrões circulam em órbitas estáveis. A sua ideia constitui parte do entendimento atual sobre os átomos. Ganhou o Prémio Nobel da Física em 1932 após criar um modo de usar matrizes para formular mecânica quântica.

Assistente do pai, Niels Bohr, por muito tempo, acompanhou-o no Projeto Manhattan e sucedeu-lhe enquanto diretor da Universidade de Copenhaga. Partilhou o Prémio Nobel da Física de 1975 pelo seu trabalho na determinação das formas assimétricas dos núcleos atómicos. As suas descobertas foram essenciais no desenvolvimento da fusão nuclear.

Modelos atómicos <500 a.C.

Quatro elementos (terra, ar, fogo e água) com diferentes cores/odores.

500-400 a.C.

Átomos considerados indivisíveis e compostos pela mesma substância.

1867

Paul Ehrenfest, Hendrik Lorentz, Niels Bohr e Heike Kamerlingh Onnes no Laboratório de Criogenia em Leiden (Holanda), em 1919.

Modelo de lorde Kelvin: descreve o átomo como um vórtice no éter.

1904

“Pudim de ameixas”: os eletrões estão embebidos numa esfera positiva.

Presente

O átomo tem um núcleo central denso rodeado por uma nuvem de eletrões.

Bohr e os principais físicos da época na Conferência de Solvay de 1927, sobre eletrões e fotões. Compareceram 17 vencedores do Prémio Nobel, incluindo Albert Einstein.

A maior contribuição de Niels Bohr para o mundo da física veio sob a forma das suas ideias sobre a estrutura atómica e, em particular, o seu novo e pioneiro modelo do átomo. Este modelo foi o primeiro a propor que os eletrões orbitam o núcleo a distâncias específicas, que são determinadas pelas leis da física quântica. A teoria atómica de Bohr tornou propostas anteriores obsoletas, como o modelo do “pudim de ameixas” de Joseph John Thomson, de 1904, e a teoria do vórtice de William Thompson (lorde Kelvin). Apesar de ter sido muito melhorada e modificada desde 1913, o modelo original de Bohr ainda é amiúde usado como uma explicação simples da estrutura do átomo, sem os complexos cálculos quânticos do modelo moderno, por isso Bohr continua a ensinar-nos física pelo século XXI adentro.

1943

Núcleo

A teoria de Bohr coloca um núcleo de carga positiva no centro do átomo.

Quanto maior a órbita do eletrão, maior a energia dentro do átomo.

Eletrões saltitantes

Órbitas

Conforme à teoria quântica, os eletrões de carga negativa movem-se em órbitas separadas em redor do núcleo.

Bohr disse que os eletrões “saltam” entre órbitas mais próximas e mais afastadas do núcleo quando emitem ou absorvem energia.

Deixa a Dinamarca na II Guerra Mundial e convence a Suécia a dar asilo a judeus. Muda-se para o Reino Unido e depois para os EUA.

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Energia do átomo

1

Desportista

Para além do sucesso na física, Bohr era um entusiasta do futebol: foi guarda‑redes num grande clube dinamarquês, o Akademisk Boldklub (AB).

2

A grande evasão

Com a ocupação nazi na II Guerra Mundial, fugiu para a Suécia e depois para o Reino Unido e os EUA, para ajudar no projeto de energia atómica.

3

Muito viajado

4

O irmão Harald

5

Legado duradouro

Em 1937, Bohr, a esposa e o filho Hans viajaram pelo mundo, realizando palestras e encontros. Estiveram nos EUA, Japão, China e URSS.

O irmão era matemático, trabalhou na série de Dirichlet e aplicou análises à teoria dos números. Jogou na seleção nacional de futebol e ganhou uma medalha de prata nas Olimpíadas de 1908. Bohr dá o nome ao asteroide descoberto por dinamarqueses 3948 Bohr, a uma cratera lunar e ao elemento químico bóhrio.

1943-1945 Contribui para o Projeto Manhattan e para a criação da Agência Internacional de Energia Atómica.

1950

Escreve uma carta aberta à ONU, esboçando os problemas políticos do desenvolvimento de armas nucleares.

1955

Organiza a conferência “Átomos pela Paz”, ganhando o primeiro prémio Átomos pela Paz dois anos depois.

1962

Vítima de insuficiência cardíaca, morre em Copenhaga, a 18 de novembro.

1965

O Instituto de Física Teórica da Universidade de Copenhaga é oficialmente renomeado Instituto Niels Bohr.

Quero Saber | 155

© Corbis; Thinkstock; Bundesarchiv, Bild183-R57262

A grande ideia

Cinco factos: Bohr


PRÉ-HISTÓRIA 158 Os 10 dinossáurios

Os mais letais

mais letais

Conheça os animais mais ferozes que existiram.

158

164 Velociraptors

Um predador necrófago que era bastante hábil.

166 O braquiossáurio Este titã terrestre, tinha o dobro da altura de um autocarro.

168 Estegossáurio

O dinossáurio da cauda letal.

170 Tyrannosaurus rex A fisiologia do rei lagarto.

172 O maior mamífero

terrestre de sempre Descubra como vivia este megamamífero.

174 Encontrar fósseis

Como são descobertos os vestígios pré-históricos.

178 Como datar

dinossáurios

A ciência por detrás desta técnica.

164

Velociraptors

156 | Quero Saber


172

O maior mamífero terrestre

Encontrar fósseis

© Thinkstock

© Thinkstock

174

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© Nobi Tamura

Datar dinossáurios

Estegossáurio

168

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PRÉ-HISTÓRIA

os

10

dinossáurios mais letais Conheça os animais mais ferozes e mais aterradores que alguma vez existiram.

Tiranossáurio O Tyrannosaurus rex dispensa apresentações; a sua reputação como o derradeiro carnívoro e o mais terrível dos dinossáurios que percorreram a Terra precede-o. Tyrannosaurus rex significa, literalmente, “rei lagarto tirano”, nome ao qual fez todo o jus. Com mais de cinco metros de altura e 12 de comprimento, e pesando umas incríveis sete toneladas, o tiranossáurio foi, em tempos, considerado o maior carnívoro terrestre da história, embora descobertas posteriores dos titãs carcharodontossáurio, giganotossáurio e espinossáurio tenham vindo desafiar tal título. O tiranossáurio caminhava sobre um par de fortes membros posteriores e conseguia correr tão depressa como um futebolista profissional, ainda que problemas de equilíbrio permitissem que fosse ultrapassado pelo giganotossáurio. O seu cérebro tinha o

158 | Quero Saber

dobro do tamanho do da maioria dos restantes gigantes predatórios, mas o seu intelecto ficava aquém do de raptores como o utahraptor. Como é, então, que o tiranossáurio consegue manter a sua coroa? Pode não ter sido o maior, mais rápido, mais pesado ou mais inteligente, mas era o mais completo. O seu olfato fantástico permitia‑lhe detetar presas a longas distâncias e farejar carcaças abandonadas. Além disso, tinha uma arma bem conhecida: a sua mordedura fenomenal, superior à de qualquer outro animal terrestre até hoje. As suas supermaxilas tinham uma força quase tão grande como o seu próprio peso corporal, ostentando 60 dentes cónicos e serrilhados. Enquanto outros dinossáurios tinham de abocanhar as presas diversas vezes, ao tiranossáurio bastava uma dentada.

Altura: 5,6 m Comprimento: 12 m

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CINCO FACTOS TRUNFOS MORTÍFEROS

Evolução

1

Os dinossáurios viveram por

mais de 160 milhões de anos, mas os dez desta lista datam dos últimos 60 milhões de anos desse período, e a maioria dos 30 milhões finais.

Pernas eretas

2

Bipedismo

Os dinossáurios puderam

dominar por terem pernas eretas e perpendiculares aos seus corpos, em vez de rastejarem de forma mais lenta, como os répteis atuais.

3

Os terópodes caminhavam

eretos sobre um par de fortes membros posteriores, o que lhes permitia correr mais depressa e agilmente dos que as presas quadrúpedes.

Dentes para dentro

4

Ajudavam os dinossáurios a

agarrarem bem a sua presa, impedindo-a de escapar numa luta. Se um dente fosse perdido, um novo crescia no seu lugar.

Armas afiadas

5

Fossem dentes, garras

dianteiras ou garras posteriores retráteis, todos os dinossáurios desta lista tinham algum tipo de “arma” de corte à sua disposição.

SABIA QUE... Em média, uma nova espécie de dinossáurio é descoberta a cada seis semanas?

“ A sua mordedura fenomenal [era] superior à de qualquer outro animal terrestre até hoje.”

Estatuto letal

TY RA NN OSAU RU S REX

Sendo a mais eficiente máquina de matar que jamais viveu, este esp antoso predador caça va indiscriminadamente nas planícies aluviais da América do Norte, no final do período Cretácico, há 67-66 mih ões de anos.

Utahraptor O possante Utahraptor era três vezes maior e mais temível do que o seu primo Velociraptor. Armado com uma garra foiciforme com 30 centímetros de comprimento em cada pata posterior, pontapeava e dilacerava a sua presa até à morte. Os ossos das suas pernas eram invulgarmente densos, de forma a suportar os fortes músculos específicos para afundar repetidamente a garra mortífera nas suas presas. À semelhança de raptores menores, é possível que caçassem em grupos, como terríveis lobos com três metros de altura e 500 kg, e atacassem presas muito maiores do que eles. Altura: 3 m Comprimento: 6,5 m

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Quero Saber | 159


PRÉ-HISTÓRIA HISTÓRIA Cérebro Altura: 1 m Comprimento: 1,8 m

Estrutura corporal leve Esguio e com uma cauda tipo vara, o troodonte era rápido e ágil.

Um rácio recorde de peso corporal/cerebral sugere que seria o mais perspicaz e inteligente dos dinossáurios conhecidos.

Penas?

Olhos

Peritos especulam que este ser de climas frios contasse com penas para isolamento.

Grandes e direcionados para diante, oferecendo uma excelente visão estereoscópica e talvez até visão noturna.

Velociraptor Protagonista da famosa cena na cozinha de Parque Jurássico, há duas décadas que a curiosa criatura com as garras letais nas patas posteriores aterroriza pesadelos. O filme pode ter exagerado o seu tamanho e esquecido as suas penas, mas acertou nalguns aspetos: o velociraptor era um predador rápido e elegante, com uma grande agilidade e inteligência, e poderá ter caçado em grupos.

Altura: 3,6 m Comprimento: 13 m

Dedos

Estatuto letal

Um dedo semioponível em cada pata anterior permitia-lhe agarrar e enredar pequenos mamíferos e répteis.

TROO DO NTE

Este pequeno dinossáu rio usava astúcia e cooperação para matar colossos supostamen te superiores, na América do Norte, durante o Cretácico Superior, há 74-65 milhões de ano s.

Garra

Uma garra foiciforme retrátil em cada pata posterior era usada para dilacerar e pontapear presas.

TA MA NH O AR SE NA L & ADAPTAÇÕ ES INTELE CTO LETALIDA DE

Troodonte Mapussáurio Parente próximo e de aspeto similar ao giganotossáurio, o mapussáurio caçava um dos maiores dinossáurios que jamais existiram – o herbívoro com 35 metros de comprimento argentinossáurio. Os seus dentes estreitos e tipo lâminas eram ideais para cortar, e a descoberta de ossos de vários indivíduos num só local leva os peritos a especularem que formariam ou caçariam em grupos, para uma maior letalidade.

160 | Quero Saber

Letalidade nem sempre se resume a tamanho e mordedura. O troodonte – com apenas 1,3 metros de altura e 40 kg – era um dinossáurio leve, rápido e astuto que compensava a sua pouca força física com um grande intelecto. Na verdade, tinha o maior rácio de peso corporal/ cerebral de qualquer dinossáurio conhecido. Para além disso, reconstruções do seu cérebro revelaram sinais emergentes de pregas – comprimindo mais neurónios numa só área, para um funcionamento cerebral mais eficiente –, fazendo dele o espécime neurologicamente mais avançado. O formato de vestígios cranianos fossilizados sugere que possuía enormes olhos orbiculares que lhe conferiam uma visão superior – bem

como a capacidade de ver com pouca luz e de caçar à noite – e a sua estrutura leve tornava-o extremamente rápido. Embora pudessem ser ensombrados por muitos dos gigantes desta lista, um grupo de troodontes alertas e ágeis a caçarem juntos facilmente podia derrotar animais muito maiores.

Altura: 1,3 m Comprimento: 2 m

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ESTRANHO MAS REAL

Que traço atlético partilham as aves atuais e os terópodes?

ALTAS AMBIÇÕES

A Respiração eficiente B Corrida e saltos rápidos em duas pernas C Capacidade de voar

Resposta:

Um sistema de sacos aéreos adjacente aos pulmões garantia aos terópodes uma provisão constante de ar oxigenado – tanto ao expirar, como ao inspirar. Esta adaptação que fazia dos terópodes tenazes perseguidores permite às aves modernas voarem.

SABIA QUE... Conseguimos identificar as cores de dinossáurios cobertos de penas, graças a melanossomas fossilizados?

Vela

Estatuto letal

Ancorada por uma série de espinhos que se estendiam a partir das vértebras dorsais, era possivelmente utilizada para ostentação ou regulação térmica.

tido E S PINosOsáSuriSo ÁcarníUvoRroIO e em tempos s que terrestre, ma O maior din sivo assassino o uma ameaça como um agres revelam ter sid tes en rec os indíci rte de África do no no os tic aquá os. maior a seres milhões de an rior, há 95-70 Cretácico Supe

TA MA N HO TAÇÕES AR SE NA L & ADAP INTE LE CTO LETA LI DA DE Cabeça

Crânio crocodilino com narinas pequenas e altas – ideal para respirar com o focinho parcialmente submerso.

ABAIXO Embora o espinossáurio caçasse sobretudo peixes, era perfeitamente capaz de se defender.

Focinho

Recetores sensíveis à pressão detetavam os movimentos de presas aquáticas.

Braços

Fortes, musculados e equipados com temíveis garras de 12,7 cm, para agarrar e dilacerar.

Maxila

Longa, esguia, em forma de colher e repleta de dentes cónicos e aguçados – perfeita para agarrar presas escorregadias, como peixes.

Pés

Pés e garras largos e achatados, ideais para nadar.

Espinossáurio Com o título de maior dinossáurio carnívoro da Terra, o espinossáurio seria tão comprido como 1,5 autocarros londrinos de dois andares – 16 metros – e tão pesado como uma manada de elefantes‑asiáticos adultos, com 20 toneladas. As suas vértebras eram 20% maiores do que as do tiranossáurio, sendo rematadas por uma enorme vela de pele suportada por espinhos com dois metros de comprimento projetados do dorso. Apesar do seu físico possante, indícios recentes sugerem que o espinossáurio passaria WWW.QUEROSABER.SAPO.PT

mais tempo a aterrorizar a água do que terra, limitando‑se a complementar a sua dieta de peixe com carne putrefacta que encontrasse. A sua maxila crocodilina exibia dentes macios, cónicos e pontiagudos, perfeitos para empalar presas escorregadias como o Onchopristis – um peixe-serra pré-histórico com oito metros de comprimento –, em vez de para arrancar carne dos ossos. Estruturas especiais no seu focinho ajudavam-no a detetar ondas de pressão causadas pelo movimento de

Altura: 4,5 m Comprimento: 16 m

presas na água. Não obstante, o espinossáurio era rápido, forte e ostentava um terrível conjunto de garras, sendo, provavelmente, capaz de fazer frente a outros predadores gigantes com os quais partilhava o seu território, como o carcharodontossáurio.

Quero Saber | 161


PRÉ-HISTÓRIA

Estatuto letal

CA RCH A RO D O NTO S

SÁ U RIO

Entre os maiore s e mais pesad os dinossáurios conhecidos, a sua carnívoros enorme bocarra aterrorizou o no repleta de lâmina rte de África du s rante o seu rein no Cretácico Mé ad o, dio, há 100-93 mil hões de anos.

Carcharodontossáurio O seu nome enche a boca de várias maneiras; carcharodontossáurio significa “lagarto com dentes de tubarão” e faz referência a uma maxila repleta de dentes serrilhados com 20 centímetros de comprimento – que cortavam carne como se fosse manteiga e deixavam enormes feridas profundas que depressa incapacitavam as presas. Embora fosse maior do que o tiranossáurio e tivesse um enorme crânio do tamanho de uma pessoa, o carcharodontossáurio – a par dos seus

parentes próximos giganotossáurio e mapussáurio – era um dinossáurio mais primitivo, com um cérebro menor. Em contrapartida, tinha pernas fortes, e pegadas fossilizadas sugerem que seria capaz de ultrapassar o tiranossáurio – a cerca de 32 km/h. Se o faria realmente – dado que os seus braços desproporcionalmente pequenos seriam incapazes de amparar as suas sete toneladas numa queda – é outra questão.

TA MA NH O AR SE NA L & ADAP TAÇÕ ES INTE LE CTO LETA LI DA DE

Altura: 4 m Comprimento: 13 m

Majungassáurio O Majungasaurus tem fama de mau; reveladoras marcas de dentes em ossos de majungassáurio, encontrados na sua ilha natal de Madagáscar, alinham perfeitamente com os padrões dentais do próprio dinossáurio. Sim, os indícios sugerem que este terópode de uma tonelada se deliciava com os seus congéneres, pelo menos ocasionalmente – um traço claro de um assassino implacável? O que não se sabe, porém, é se estes seriam os despojos de caçadas ativas ou apenas uma limpeza eficiente de parentes já mortos.

162 | Quero Saber

Altura: 2 m Comprimento: 6 m

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Assista a uma batalha épica entre um carcharodontossáurio e um espinossáurio!

W W W.Q UE ROSABE R . SA P O. P T SABIA QUE... O T. rex podia ingerir o equivalente a 1.500 salsichas por dia? Isso, sim, era um belo churrasco!

Deinonico A descoberta do Deinonychus, em 1964, desafiou a nossa perceção dos dinossáurios como seres lânguidos e pesados; ali estava uma criatura claramente concebida para perseguições velozes. Com quase o dobro do tamanho do Velociraptor (dica – os velociraptores de Parque Jurássico foram, na verdade, baseados no maior e mais temível deinonico!), mas com um peso similar, era um caçador coletivo ágil e, provavelmente, perspicaz. Entre outras vantagens, tinha vértebras entrelaçadas que lhe endureciam a cauda, aumentando o seu equilíbrio ao correr, e uma garra retrátil com 13 centímetros em cada pé, para estripar presas que segurava com as patas e a boca.

Altura: 1,5 m Comprimento: 3 m

Giganotossáurio Sistema olfativo

Narinas grandes e avançados bolbos olfativos no seu pequeno cérebro tornavam‑no excelente a farejar presas.

Mordedura

Embora a sua maxila tivesse apenas um terço da força da do tiranossáurio, exibia afiadas adagas serrilhadas de 20 cm.

Cauda

Delgada e pontiaguda, permitia-lhe virar depressa a altas velocidades, sem tombar.

Estatuto letal

GIGA NOTO SSÁU RIO

Pernas

Altura: 4 m Comprimento: 12,5 m

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Pernas longas e fortes permitiam que ultrapassasse facilmente um tiranossáurio, a cerca de 50 km/h.

Este atleta gigante de den os pântanos da Améric tes afiados percorreu a do Sul durante o Cretácico Superio r, há cerca de 100 -97 milhões de anos.

TA MA NH O AR SE NA L & ADAPTAÇÕ ES INTELE CTO LETALIDA DE

Quero Saber | 163

© Corbis; Alamy; Science Photo Library

O primo sul-americano do carcharodontossáurio, o giganotossáurio era outro colosso capaz de rivalizar com o tiranossáurio em tamanho. Dependendo do espécime, crê-se que seria ligeiramente menor do que o carcharodontossáurio, mas mais comprido, alto e esguio do que o tiranossáurio. Era o mais rápido dos três, superando os outros em, pelo menos, 16 km/h, talvez graças a um maior equilíbrio. Tinha um crânio muito grande, mas, tal como o carcharodontossáurio, era neurologicamente mais primitivo do que o tiranossáurio; o seu cérebro tinha apenas metade do tamanho do deste último. Ainda assim, indícios sugerem que teria um olfato apurado, o que, a par da sua proeza atlética e do seu corpo de oito toneladas, fazia dele um adversário formidável. Como no carcharodontossáurio, os dentes do giganotossáurio eram serrilhados e lateralmente comprimidos – largos de perfil, mas estreitos quando vistos de frente –, tornando-os ideais para desferir uma série de golpes lesivos nos corpos das suas presas, que acabavam por sucumbir à exaustão e à perda de sangue.


PRÉ-HISTÓRIA Os números

“As técnicas de caça do velociraptor assentavam sobretudo na sua velocidade e agilidade.”

Velociraptor Grupo: Terópodes Família: Dromaeosauridae Comprimento: 2 m Altura: 0,8 m Peso: 113 kg Habitat: Ásia, ex.: Mongólia Período: Cretáceo Superior

Velociraptors

Um dos dinossáurios mais letais, o velociraptor era um hábil predador e necrófago, mas não exatamente a criatura que Hollywood nos fez crer…

Os velociraptors estão enraizados na consciência pública desde que o filme Parque Jurássico, de 1993, os mostrou como os mais temíveis dos superpredadores. Pequenos, letais e sanguinários, os velociraptors do filme roubaram as atenções. Contudo, o filme ficou famoso pela sua indulgente liberdade artística, com paleontólogos a lamentarem a falta de precisão histórica. Como eram então estes dinossáurios? O velociraptor, de que há duas espécies verificadas – V. mongoliensis e V. osmolskae –, era um dinossáurio terópode da família Dromaeosauridae (“lagarto corredor”) que viveu no Cretáceo Superior, há cerca de 75-71 milhões de anos. Media dois metros de comprimento, pouco menos de um metro de altura, tinha penas e era bípede, correndo sobre dois dos três dedos que tinha por pata. Era nativo da atual Ásia central (sobretudo Mongólia), onde construía grandes

164 | Quero Saber

ninhos no solo para proteger as suas crias. Os velociraptors, apesar de viverem amiúde muito próximos uns dos outros, eram amplamente solitários e, embora certos achados sugiram que se pudessem aliar para perseguir presas, não eram caçadores coletivos, com indícios a revelarem que lutavam entre si por direitos de alimentação. A sua dieta de base consistia em animais de tamanho e peso iguais ou inferiores aos seus, com muito poucos indícios a sugerirem tentativas de abater dinossáurios maiores, como o Tyrannosaurus rex, como sucede em Parque Jurássico. As técnicas de caça do velociraptor assentavam sobretudo na sua velocidade e agilidade. Podia acelerar até 64 quilómetros por hora e saltar longas distâncias, além de poder agarrar as presas firmemente com as suas garras em forma de foice (notoriamente a grande “garra de matar”). Tais características aliavam-se a uma

tendência para emboscar presas, ao invés de as atacar de frente ou à distância (ver caixa “Golpear ou subjugar?”). Curiosamente, porém, embora não haja dúvidas de que caçavam presas vivas, vestígios fósseis desenterrados sugerem que eram necrófagos extremamente ativos, alimentando-se frequentemente de carne putrefacta (ossos de pterossaurus foram encontrados em intestinos de velociraptor, por exemplo) e de carcaças deixadas por outros predadores. Os velociraptors extinguiram-se a par das restantes espécies de Dromaeosauridae antes e como resultado do evento de extinção em massa do Cretáceo-Terciário que ocorreu há cerca de 65,5 milhões de anos. Apesar disto, ainda hoje se podem ver elementos da sua anatomia e aspeto – embora sob formas altamente evoluídas – em muitas espécies de aves. WWW.QUEROSABER.SAPO.PT


CINCO FACTOS

MITOS SOBRE O VELOCIRAPTOR

Demónio de penas

1

Ao contrário das descrições

populares de velociraptors em filmes como Parque Jurássico, estes estariam, na verdade, cobertos de penas, um traço passado às aves de hoje.

O tamanho importa

2

Outra falsidade perpetuada

por filmes de Hollywood é o tamanho do velociraptor. Longe de terem três metros de comprimento, aproximavam-se muito mais dos dois metros.

Caçadores coletivos

3

Os velociraptors não tendiam

a caçar em grupo. Indícios sugerem que vários indivíduos perseguiam presas ao mesmo tempo, mas lutavam depois entre si pelo direito a comer.

Cidadão americano

4

Outro mito perpetuado pela

saga Parque Jurássico é que o velociraptor vivia nas atuais Américas. Na verdade, só foram descobertos vestígios na Ásia central.

“Filosoraptor”

5

Longe dos superinteligentes

seres de Parque Jurássico – que abriam portas fechadas com as garras –, provavelmente seria apenas tão inteligente como um marsupial primitivo.

SABIA QUE... Os falcões e águias modernos atacam as suas presas de uma forma similar à do velociraptor?

Golpear ou subjugar?

Serviriam as garras em forma de foice do velociraptor para estripar presas ou para outros fins?

Coluna vertebral

A coluna vertebral do velociraptor tinha forma de S e era muito flexível, permitindo-lhe mudar de posição e direção com grande agilidade. Também lhe permitia saltar a grande altura, para poder precipitar‑se sobre presas à distância.

Patas posteriores

O velociraptor era um dinossáurio bípede e corria apenas sobre as garras das patas posteriores. Estas eram esguias, mas tinham músculos muito elásticos, permitindo velocidades de até 64 km/h.

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Cauda

Longas protrusões ossudas sob as vértebras, a par de tendões ossificados (semiossos), garantiam ao velociraptor uma estrutura caudal rígida. Isto ajudava-o a manter o equilíbrio e a virar a grande velocidade.

Garra de velociraptor fossilizada. Indícios recentes contestam a ideia de que esta fosse usada como arma cortante.

Anatomia do velociraptor Que características fisiológicas faziam deste dinossáurio um assassino nato?

Garras

Uma garra de 8,9 cm em forma de foice localizava-se no segundo dedo de cada pata posterior. Estas, bem como as suas outras garras, eram usadas para agarrar animais e para aderir ao solo ao correr.

Dentes

A maxila do velociraptor tinha 28 dentes amplamente espaçados de cada lado, sendo cada um bastante mais serrilhado atrás do que à frente – algo que o ajudava a segurar a presa depois de apanhada.

Quero Saber | 165

© SPL; Ben Townsend; Matt Martyniuk

Esta é uma representação fiel de um velociraptor, coberto de penas e a atacar presas menores que ele.

A maioria dos dinossáurios terópodes não-aviários caracteriza-se por aguçados dentes serrilhados e garras recurvadas, e o velociraptor não é exceção. Equipado com uma abundância de garras tanto das patas anteriores como posteriores, o velociraptor parece ser a máquina de matar perfeita, capaz de perseguir presas rapidamente, antes de desfiar a sua carne com uma das suas aguçadas ferramentas. Pelo menos, esta era a teoria vulgarmente aceite entre paleontólogos até finais de 2011, antes de um novo estudo de uma equipa internacional de peritos em dinossáurios sugerir um uso totalmente diferente. O estudo sugere que as suas garras – especificamente as famosas “garras de matar” do velociraptor –, longe de serem usadas para estripar e cortar presas para as matar antes de as consumir, seriam mais provavelmente usadas de forma similar à das garras dos atuais falcões e águias. Estes utilizam as suas garras para agarrar presas de tamanho inferior que depois imobilizam com o peso do seu corpo e consumem vivas com os seus bicos. Esta teoria é aparentemente apoiada pelo facto de as patas posteriores do velociraptor revelarem uma morfologia consistente com uma função preênsil, sustentando um modelo de imobilização de presas, ao invés do modelo combativo originalmente assumido.


PRÉ-HISTÓRIA

O gigante braquiossáurio

Com o triplo do comprimento e o dobro da altura de um autocarro de dois pisos, o braquiossáurio era um titã terrestre de proporções épicas. O braquiossáurio era um género

(Brachiosaurus) de dinossáurio saurópode que habitou a Terra durante o período do Jurássico Superior (há cerca de 155-140 milhões de anos). Tal como muitos saurópodes da época, distinguiam-se pelos pescoços enormes, e crânios e cérebros comparativamente pequenos. De momento só uma espécie foi confirmada – B. altithorax –, se bem que outras foram sugeridas. Curiosamente, como outros saurópodes, estas criaturas – apesar de pesarem umas calculadas 60 toneladas e medirem até 30 m de comprimento

– eram colossais vegetarianos, com uma dieta constituída apenas por folhas. A evolução de um pescoço tão grande (ver “Nas alturas” para mais detalhes) parece estar intrinsecamente ligada à dieta, com a posição elevada da cabeça a dar-lhes acesso a folhas indisponíveis para espécies mais baixas. Este domínio sobre uma fonte de alimentação é também um fator importante para as suas proporções gigantescas, com milhões de anos de domínio a permitir-lhes crescer muito mais do que criaturas rivais da mesma era.

Anatomia de um titã Observe o interior deste majestoso membro da família dos dinossáurios.

Tronco Pele

A pele do braquiossáurio era como couro e mais rija nas articulações dos membros. A cor dependia da idade e da espécie.

O tronco era massivo e constituía até 70 por cento do volume total da criatura. Os órgãos enormes eram protegidos por uma caixa torácica robusta.

O tamanho épico do braquiossáurio era também a sua principal forma de defesa contra predadores. Quando atingiam o tamanho máximo, as pernas seriam como troncos de árvore que – aliados a uma cauda pesada e robusta – os tornaria difíceis de derrubar. Apesar de o tamanho e o domínio lhes trazer benefícios, também contribuíram para o seu desaparecimento, tendo o esgotamento de recursos e as mudanças climáticas levado à sua extinção, há cerca de 145 milhões de anos.

Coração

Devido ao seu tamanho imenso, este dinossáurio precisava de um coração grande e forte para bombear o sangue para o cérebro e para o corpo. A tensão arterial da criatura seria três a quatro vezes mais alta que a dos seres humanos.

Pulmões

Os pulmões cavernosos eram necessários para recolher muito oxigénio. Uma série de sacos de ar, nos ossos do pescoço e do torso, estava ligada ao sistema respiratório e ajudava a reduzir a densidade global do animal.

Cauda

Uma cauda longa e rígida servia como contrapeso para o longo pescoço do saurópode, sobretudo quando era descida para uma posição horizontal. Apesar de os confrontos serem raros, a cauda também servia de arma.

Pernas anteriores Pernas posteriores

Mais curtas, ajudavam a suportar o tronco e a estabilizar em velocidade.

166 | Quero Saber

Semelhantes a pilares, eram mais longas do que as posteriores, garantindo uma postura inclinada da frente para trás. Cada fémur dianteiro de um adulto media 1,8 m.

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CINCO FACTOS BRAQUIOSSÁURIO

Habitat em debate

1

No século XX, muitos

paleontólogos pensavam que, devido ao pescoço longo, o braquiossáurio passava muito tempo submerso em água. Hoje, poucos o defendem.

Batismo

2

A espécie-tipo do

Reserva secreta

braquiossáurio, B. altithorax, foi descoberta em 1900 pelo paleontólogo americano Elmer Samuel Riggs. O nome foi dado num artigo de 1903.

3

No espaço

Apesar de Riggs ter achado

muitos espécimes em 1900, nenhum foi exposto até 1994. Os ossos da sua escavação estão hoje no Museu Field de História Natural, em Chicago.

4

Estrela de cinema

Em 1991, um astrónomo

detetou um asteroide a orbitar o Sol – o que faz uma vez a cada 4,6 anos. O asteroide, da cintura principal, foi batizado 9954 Brachiosaurus.

5

Os rontos de A Guerra das

Estrelas basearam-se em modelos de braquiossáurios de Parque Jurássico. Mas nenhum é muito parecido com o verdadeiro animal.

SABIA QUE... O braquiossáurio não podia erguer-se sobre os membros posteriores, ao contrário do que mostra Parque Jurássico?

Braquiossáurio vs. ser humano Qual seria o tamanho deste megadinossáurio comparado com o de um Homo sapiens médio?

Cabeça

30 m

A cabeça do braquiossáurio era pequena em relação ao tamanho total, com um cérebro de saurópode. O crânio tinha uma barra de osso visível no meio da testa, criando uma saliência.

15 m

Pescoço

O pescoço do braquiossáurio era enorme e era composto por vértebras de 1 m. Devido ao peso do pescoço, este estaria tipicamente num ângulo de quase 90º.

Braquiossáurio Comprimento: 25-30 m Altura: 15 m Peso: 60 toneladas Velocidade máxima: 29 km/h Período ativo: 155-140 MA Longevidade: 100 anos

Nas alturas Cada vértebra do pescoço do braquiossáurio media cerca de 1 m de comprimento, o que é colossal comparando com os maiores animais dos dias de hoje. Combinadas, as vértebras formavam um pescoço extensível articulado que lhe permitia alcançar facilmente o topo das árvores e outras plantas para se alimentar de folhas – de que precisava em enormes quantidades para sobreviver. Apesar de o pescoço comprido dar ao braquiossáurio uma franca vantagem na alimentação em relação a dinossáurios mais pequenos, em contrapartida, teria de manter uma postura do pescoço quase vertical para evitar lesões. Contrariando a popular teoria do século XX de que o braquiossáurio erguia e baixava a cabeça para chegar a diferentes níveis de folhagem, pensa-se agora que só as folhas diretamente ao nível da cabeça seriam comidas, sendo as camadas mais baixas de folhas consumidas pelos mais jovens.

© Alamy; Getty

Os números

O nome significa “lagarto de braço” porque tinha membros anteriores mais compridos do que os posteriores.

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Quero Saber | 167


PRÉ-HISTÓRIA As placas ósseas no dorso do estegossáurio provavelmente seriam usadas para ostentação e não para defesa.

Os números

Estegossáurio Família: Stegosauridae Género: Stegosaurus Período: Jurássico Superior (há 156-144 milhões de anos) Comprimento: 8-9 m Altura: 2,8-4 m Peso: 3.100 kg

9m

4m 1,8 m

Estegossáurio

Um dos dinossáurios mais conhecidos, o estegossáurio exibia uma série de placas ósseas em forma de diamante e uma cauda letal.

168 | Quero Saber

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CINCO FACTOS ESTEGOSSÁURIO

Placas em debate

1

A disposição das placas do

estegossáurio tem sido alvo de grande controvérsia na esfera da paleontologia. Os académicos sugeriram quatro configurações possíveis.

Cérebro secundário

2

O canal amplo descoberto na

zona do quadril na coluna vertebral podia, para uns, ter albergado uma estrutura “cerebral” secundária que controlaria reflexos traseiros.

Animal próspero

3

Indícios sugerem que era muito

bem-sucedido, com restos fossilizados amplamente distribuídos em termos geográficos e temporais por todo o Jurássico Superior.

Quatro patas

4

Espécies

5 stenops S. sulcatus S. armatus S. S.

Desenterrados os primeiros

Há quatro espécies

, confirmadas: , e longispinus. Há ainda quatro espécies não confirmadas de espécimes incompletos.

restos de estegossáurio em 1877, cria-se ser um animal bípede. Foi reclassificado como quadrúpede com o achado de novos espécimes.

SABIA QUE... Alguns paleontólogos sugeriram que as placas do estegossáurio serviam para regular a temperatura corporal?

Talvez o género de dinossáurio mais icónico jamais escavado, o estegossáurio era um titã herbívoro, capaz de consumir enormes quantidades de folhagem rasteira, enquanto se protegia de predadores com a sua vasta estrutura blindada e cauda com espigões potencialmente letal. O primeiro exemplo de estegossáurio – do qual deriva o nome da família, Stegosauridae – foi desenterrado em 1877 e, desde então, quatro espécies deste dinossáurio foram oficialmente identificadas. Cada uma demonstra uma estrutura e conjunto de características similares, tratando-se cada animal de um grande quadrúpede com uma série de placas em forma de diamante ao longo do dorso. Estas criaturas tinham mais de oito metros de comprimento e pesavam mais de três toneladas. Curiosamente, é sobre estas placas que paleontólogos e académicos menos sabem, sendo sugerida uma variedade de disposições, estruturas e usos. Quando inicialmente desenterrados, especulou-se que seriam usadas como defesa blindada contra predadores carnívoros. Contudo, o posicionamento ao longo do dorso e o aparente embotamento fazem com que esta teoria seja hoje amplamente rejeitada. Ao invés, os académicos sugerem que as placas seriam usadas como ornamento – talvez em exibições de acasalamento ou para afastar esgossauros rivais em disputas territoriais.

Membros dianteiros Crânio

O campo da paleobiologia revela quase tudo o resto sobre este género. Estudando indícios fossilizados, é claro que, devido ao crânio muito pequeno e estreito, o estegossáurio teria um cérebro minúsculo e, logo, não seria muito inteligente – algo aparentemente confirmado pelos seus hábitos alimentares primitivos e mundanos. O baixo nível do pescoço, membros dianteiros curtos mas grossos e pélvis elevada/ membros posteriores alongados indicam que passaria muito do seu dia a consumir grandes quantidades de folhagem rasteira (como fetos, cicas e coníferas). Isto é confirmado pela forma e formação dos seus dentes e mordedura fraca. Uma análise atenta aos seus membros revela ainda que não se mexeria muito depressa. Isto porque a diferença de tamanho entre membros dianteiros e posteriores é tão grande que, se a criatura corresse a mais de oito quilómetros por hora, os membros posteriores mais longos passariam os dianteiros, fazendo-o cair. Apesar disto, o estegossáurio não era totalmente indefeso, já que possuía uma cauda com espigões flexível, couraçada. Tomando o Stegosaurus stenops como exemplo, a cauda do dinossáurio tinha quatro espigões dérmicos com cerca de 75 centímetros de comprimento cada, que se estendiam a partir da cauda num plano ligeiramente horizontal. Estes espigões permitiam ao estogossauro sacudir a cauda e perfurar a carne de eventuais atacantes.

Anatomia do estegossáurio

Conheça a estrutura biológica deste dinossáurio distinto.

Apesar de muito grossos e fortes, eram relativamente curtos, proporcionando um acesso fácil ao solo.

Apesar da sua envergadura, a cabeça do estegossáurio era muito estreita e só suportava um cérebro minúsculo.

Placas

Pélvis

Dado o seu grande peso – mais de 3.000 kg –, o estegossáurio tinha uma pélvis enorme para suportar uma vasta caixa torácica e coluna vertebral.

As placas do estegossáurio eram feitas de osso e cobertas ou de pele ou de chifre endurecido.

Pescoço

Dada a sua dieta herbívora, o pescoço pendia para baixo, permitindo a fácil ingestão de vegetação rasteira.

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Membros posteriores

Robustos e alongados, elevavam bastante a pélvis em relação ao solo.

Quero Saber | 169

© Eva Kröcher; Alamy; Nobu Tamura

Cauda

A sua principal arma era a cauda, que estava armada com aguçados espigões ósseos.


PRÉ-HISTÓRIA

Os números Tyrannosaurus rex Subordem: Terópoda Género: Tyrannosaurus Período: Cretáceo Superior Dieta: Carnívora Comprimento: 12-13 m Altura: 4 m Peso: 6-9 toneladas Velocidade máxima: 40 km/h

Tyrannosaurus rex Fique a conhecer a fisiologia do rei lagarto e como ele presidiu à selva pré-histórica.

O Tyrannosaurus rex foi uma espécie de dinossáurio terópode do período do Cretáceo Superior. Como outros membros da família Tyrannosauridae – como o tarbossauro e o gorgossauro – o T-rex era um carnívoro bípede e um predador e necrófago de topo, caçando dinossáurios menores ou roubando as suas presas. As presas típicas eram os hadrossauros e os ceratopsídeos. O nome Tyrannosaurus rex significa “rei lagarto tirano” – atribuído historicamente devido ao seu tamanho imenso. O T-rex é uma das maiores espécies alguma vez escavadas por paleontólogos, com espécimes com uma média de 12 metros de comprimento e quatro metros de altura, mas não era o maior dinossáurio carnívoro. Era também incrivelmente pesado, com os adultos a pesarem até nove toneladas; este número foi sugerido em 2011 depois de um estudo aprofundado que criou modelos 3D digitais de cinco

170 | Quero Saber

esqueletos de T-rex. Devido ao tamanho considerável, o Tyrannosaurus rex tinha muito poucos, ou nenhuns, predadores – facto que permitiu que permanecesse o predador de topo em terra do Cretáceo Superior e vivesse durante longos períodos. Estimativas feitas a partir de espécimes escavados – dos quais existem atualmente mais de 30 confirmados em todo o mundo – indicam que a esperança de vida do T-rex era de aproximadamente 30 anos, com a maioria do crescimento a acontecer nos primeiros 16 anos, antes de diminuir rapidamente. Isto sugere que o T-rex atingiria a idade adulta aos 20 anos. Como quase todas as espécies de dinossáurios, o Tyrannosaurus rex foi dizimado há 65,5 milhões de anos no evento de extinção Cretáceo-Paleogeno (K-T). Na altura era um dos últimos dinossáurios não aviários comuns, como foi provado pela descoberta de muitos espécimes por toda a América do Norte. WWW.QUEROSABER.SAPO.PT


CINCO FACTOS T-REX

Necrófago

1

Provas escavadas sugerem

que, além de ser um predador ativo, o Tyrannosaurus rex era um necrófago oportunista, roubando presas de carnívoros mais pequenos.

Canibal

2

Um estudo de 2010 sugere

que o T-rex era canibal. A teoria foi proposta quando foram encontrados espécimes com marcas de dentes de animais do mesmo género.

Má postura

3

O Tyrannosaurus rex foi

retratado historicamente com o corpo a 45 gruas ou menos da vertical. Isto não está correto; uma postura mais horizontal é mais provável.

Patas grandes

4

Duas pegadas fossilizadas

encontradas em escavações foram atribuídas ao T-rex. A mais recente mede 83 centímetros de comprimento e 71 centímetros de largura.

Penas

5

Segundo um artigo recente

na Nature, as crias do Tyrannosaurus rex podem ter tido penas para isolamento, apenas perdendo a plumagem anos mais tarde.

SABIA QUE... O Tyrannosaurus rex foi totalmente dizimado no evento de extinção Cretáceo-Paleogeno?

Crânio

Anatomia do rei lagarto Analisámos o esqueleto de um Tyrannosaurus rex para vermos o que o tornou um predador tão letal.

Cauda

Crucial para manter o equilíbrio – sobretudo uma vez que provas modernas sugerem que o T-rex tinha uma posição espinal quase horizontal –, a grande cauda do dinossáurio era fundamental para perseguir presas.

Cavidade corporal

O Tyrannosaurus rex tinha uma estrutura corporal incrivelmente pesada e uma cavidade ampla. Para melhorar a mobilidade, algumas das vértebras tinham buracos – ajudando a reduzir o peso.

O crânio do T-rex era enorme e o seu focinho e mandíbula inferior eram muito profundos. As órbitas dos olhos estavam mais viradas para a frente do que na maioria dos dinossáurios, indicando que tinha uma boa visão binocular.

Membros posteriores

As grandes pernas traseiras ligavam-se ao corpo através de um quadril estilo lagarto. O tamanho das pernas dava ao dinossáurio um poder de impulsão excelente; contudo, devido aos seus passos pequenos (em comparação com outras espécies), não conseguia correr muito depressa.

Membros anteriores

O Tyrannosaurus rex tinha membros anteriores incrivelmente curtos com as mãos a exibirem dois dedos grandes e um mais pequeno. Os dois dedos maiores tinham garras afiadas em forma de foice.

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Boca

A boca do T-rex era enorme e continha 60 dentes serrilhados. Todos os dentes tinham tamanhos diferentes, com alguns a atingirem até 20 cm de comprimento.

Devido a vários filmes que retratam o T-rex de uma forma muito própria e única, uma visão correta da espécie foi obscurecida. Apesar de ser uma estrela de relevo de todos os filmes da saga Parque Jurássico, o Tyrannosaurus rex não existiu no período Jurássico, há 199 a 145 milhões de anos (Ma). Viveu milhões de anos mais tarde, durante o Cretáceo Superior (há 100-65,5 Ma). Além disso, durante décadas o T-rex tem sido retratado como tendo pele escamosa verde. Contudo, provas recentes sugerem que a cor da sua pele era variada e, durante os primeiros anos de vida, tinha provavelmente penas isoladoras. O T-rex também foi considerado o maior dinossáurio carnívoro. Isto não é estritamente verdade; achados paleontológicos sugerem que o espinossauro era maior em mais de três metros de comprimento. E finalmente, outro mito perpetuado em Parque Jurássico é o de que o T-rex conseguia correr a alta velocidade (como acompanhar um carro), mas provavelmente só conseguia atingir os 40 km/h, devido aos seus passos pequenos.

Quero Saber | 171

© Alamy; Thinkstock

Mitos sobre o T-rex


PRÉ-HISTÓRIA HISTORY

O maior mamífero terrestre de sempre

Descubra como vivia este megamamífero pré‑histórico, oito vezes maior que um rinoceronte atual. Imagine um animal mais alto que uma girafa e mais pesado do que dois elefantes. O Paraceratherium era o colosso animal da sua época. Ocupava o mesmo nicho ecológico que os enormes dinossáurios saurópodes, como o diplodoco, que viveu 120 milhões de anos antes, percorrendo planícies com alguma florestação e alimentando-se de folhas de árvores, que retirava dos ramos com os dentes da frente. Ao contrário dos dinossáurios, não tinha uma cauda longa para equilibrar o peso do pescoço e da cabeça. Em vez disso, dispunha de músculos muito fortes no pescoço, ancorados em extensões altas no topo da coluna; o seu centro de gravidade situava-se assim bastante à frente, sobre os membros anteriores, resultando numa forma corporal geral muito mais atarracada. O Paraceratherium viveu durante o Oligocénico, há cerca de 30 milhões de anos. O clima arrefeceu repentinamente durante este período; a Antártida desenvolveu a sua primeira calota de gelo e os Alpes começaram

Numa galáxia distante… Quando Phil Tippett trabalhava nos efeitos especiais de O Império Contra‑Ataca, precisou de um modelo de referência para os gigantes mecânicos andantes AT-AT, que atacam a base rebelde em Hoth. A princípio, a sua equipa estudou elefantes para animar o movimento das pernas, mas o design final é muito mais alto e ameaçador. Tal deve-se ao facto de ser baseado no Paraceratherium. Os AT‑AT do filme são três vezes mais altos que o mamífero pré‑histórico, mas a marcha pesada e as articulações representam provavelmente de forma muito fiel o modo como o verdadeiro Paraceratherium se deslocava.

172 | Quero Saber

a elevar-se. Com a mudança climática, as florestas tropicais densas deram lugar a paisagens mais abertas, com uma mistura de árvores e erva. Os animais médios passaram a ter mais dificuldade em esconder‑se dos predadores e a seleção natural favoreceu espécimes cada vez maiores, capazes de contrariar ataques – o que, juntamente com a competição entre machos por direitos de procriação, impeliu a evolução de animais de pasto mais pesados. O auge foi o Paraceratherium, que podia atingir 20 toneladas. Os maiores predadores da época eram um tipo de hiena marsupial, com não mais de 2 m de comprimento. Um Paraceratherium adulto era grande demais para ser incomodado por tal animal. Em vez disso, pode ter‑se extinguido devido à ascensão de espécies primitivas de elefantes, que podiam derrubar as árvores das quais provinha o alimento do Paraceratherium. Com a expansão dos prados, foi substituído por animais de pasto mais pequenos.

Os problemas da identificação óssea Os primeiros ossos fossilizados de Paraceratherium foram descobertos em 1911, pelo paleontólogo Clive Forster Cooper. Dois anos depois, encontrou mais ossos, que pensou serem de um género relacionado, batizando-o Baluchitherium (baluquitério), pois os fósseis tinham sido encontrados no Baluquistão, hoje Paquistão. Em 1915, Aleksei Borissiak descobriu um terceiro conjunto de ossos e deu ao animal o nome Indricotherium (indricotério), inspirado num monstro do folclore russo chamado Indrik. Nenhuma destas descobertas correspondia a um esqueleto completo – e pode ser muito difícil decidir se se trata de um animal totalmente novo ou um espécime maior de um já existente com base numa única vértebra do pescoço. O consenso científico atual é de que os três conjuntos de fósseis pertencem ao mesmo género, Paraceratherium, porque este foi o primeiro a ser descrito cientificamente. Até à data, foram identificadas cinco espécies de Paraceratherium.

O tamanho importa

Quais as dimensões do Paraceratherium comparadas às de um ser humano?

9m

5,5 m

Chifre

Todos os rinocerontes modernos têm chifres para se defenderem, mas o Paraceratherium era demasiado grande para precisar de um.

O design dos AT-AT de O Império Contra‑Ataca baseia‑se no Paraceratherium.

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CINCO FACTOS MEGAFAUNA

Toxodonte

1

Diprotodonte

arecido a um rinoceronte sem P chifre, este animal ungulado de 1,5 t percorria a América do Sul em manadas há 20 mil anos e tinha membros anteriores muito maiores que os posteriores.

2

“vombate hipopótamo” foi O o maior marsupial de sempre. Com 3 m de comprimento e 2,8 toneladas, os seus fósseis podem ter inspirado as lendas aborígenes sobre o bunyip.

Megatério

3

Esta preguiça que andava no

solo pesava cerca de quatro toneladas. Só se extinguiu há dez mil anos; à época, só os mamutes columbiano e lanoso eram maiores.

Dinotério

4

Mamute‑lanoso

esmo sem parentesco M próximo, parecia um elefante enorme, mas com membros anteriores maiores e defesas a apontar para baixo. Viveu há sete milhões de anos (aprox.).

5

om 3,4 m de altura e 6 t, C estes parentes dos elefantes, que viveram na idade do gelo, tinham defesas com até 4,2 m de comprimento, que podiam pesar mais de 90 kg.

SABIA QUE... O Paraceratherium era maior que o diplodoco? Embora o dinossáurio fosse mais longo, o mamífero era mais volumoso.

Orelhas misteriosas

As orelhas moles não fossilizam, mas é possível que o Paraceratherium tivesse orelhas grandes e achatadas como as dos elefantes modernos, para se manter fresco.

O Paraceratherium pode ser aparentado com o rinoceronte moderno, mas existem grandes diferenças, como ilustramos aqui…

Pescoço longo

Um pescoço com três metros de comprimento permitia alcançar até os ramos mais altos.

Bossa no quarto dianteiro

Vértebras muito altas forneciam pontos de ligação para os músculos enormes que suportavam o pescoço.

Cauda curta

Ao contrário dos dinossáurios de pescoços compridos, o Paraceratherium não tinha uma cauda longa para equilibrar o peso da cabeça e do pescoço.

Dentes

O Paraceratherium tinha incisivos enormes para arrancar folhas das árvores. O rinoceronte moderno não tem dentes da frente porque ingere apenas erva e plantas.

Lábio superior preênsil

Ao contrário da tromba do elefante, este lábio só podia ser usado na alimentação, não para sugar água.

Dedos ímpares Membros retos

A maioria dos animais flete ligeiramente as pernas, mas o Paraceratherium tinha membros retos, para suportar o seu peso massivo.

O Paraceratherium tinha três dedos em cada pata, como o rinoceronte. Os elefantes têm cinco.

Os números Paraceratherium Viveu: Há ~ 30 milhões de anos Esperança de vida: 80 anos Altura até ao quarto dianteiro: 5,5 metros Podia alcançar: 8 metros Comprimento: 9 metros

© Alamy

Peso: 20 toneladas

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Quero Saber | 173


PRÉ-HISTÓRIA

ENCONTRAR

FÓSSEIS Como são descobertos estes vestígios pré-históricos e o que podem os cientistas aprender com eles? A Quero Saber desenterra os factos…

Desde que os primeiros dinossáurios começaram a ser identificados, no início do século XIX, os cientistas têm aprendido cada vez mais sobre estes gigantes que dominaram o mundo há milhões de anos. Enterrados sob o solo por uma eternidade, os vestígios de inúmeras criaturas extintas estão à espera de ser desenterrados por paleontólogos,

174 | Quero Saber

que conseguem gradualmente revelar os seus segredos. Dinossáurios e outros fósseis pré-históricos têm sido descobertos em todo o mundo ao longo de milhares de anos, com relatos de “ossos de dragão” encontrados na China a indicarem provavelmente alguns dos primeiros “lagartos terríveis”. Contudo, só na época do Iluminismo, no final do século XVIII

e início do século XIX, ficou clara a antiguidade destes esqueletos. A procura de fósseis tornou-se uma obsessão para naturalistas e amadores, com os estranhos “lagartos” extintos a serem descobertos por todo o globo. Embora o georradar ajude agora a identificar vestígios ocultos no subsolo, os paleontólogos ainda recorrem aos mesmos métodos dos seus WWW.QUEROSABER.SAPO.PT


CINCO FACTOS FÓSSEIS MAIS IMPORTANTES

Tiktaalik

1

escoberto em 2004, é dos D achados mais importantes da ciência evolucionista, visto como o elo de transição entre a vida aquática e a terrestre, há cerca de 375 milhões de anos.

Seria uma ave?

2

Descoberto primeiro na Alemanha, o Archaeopteryx lithographica sugere uma espécie de transição entre dinossáurios e aves. Há indícios de que tinha penas e talvez conseguisse trepar árvores.

Elo na evolução

3

Crê-se que o elo em falta entre primatas e seres humanos está no Homo ergaster, cujo primeiro fóssil foi apelidado de “rapaz de Turkana”. O Homo ergaster era bípede.

Preencher lacunas

4

studos a penas fossilizadas E de Sinosauropteryx revelaram materiais de formação de pigmentos. Os cientistas determinaram que tinha uma cauda castanha avermelhada.

Instinto materno

5

descoberta de ninhos de A maiassáurio gigantes, incluindo espécimes infantis fossilizados, confirmou que alguns dinossáurios tinham instintos parentais e protegiam as crias desde o ovo.

SABIA QUE... Um estudo de 2006 estima que 71% de todos os géneros de dinossáurios ainda estão por descobrir?

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COMO SE FORMAM? Como é que os restos mortais de animais pré-históricos se transformam em fósseis e porque sobrevivem através dos tempos?

1

Após a morte, os restos de um dinossáurio acabariam, muitas vezes, por se decompor e erodir totalmente, não deixando sequer um esqueleto. Contudo, nas condições certas, onde os restos mortais estão protegidos do tempo e de animais necrófagos, 0 processo de fossilização pode começar.

2

Por um longo período de tempo, areias, solo e sedimento variáveis cobrem totalmente o esqueleto, encerrando-o no solo. Qualquer tecido mole restante, como pele ou órgãos, decompõe-se totalmente, ficando só os ossos. Nesta fase, os restos mortais estão só parcialmente fossilizados.

3

À medida que os níveis do mar ascendentes e os materiais variáveis deixam o esqueleto ainda mais no subsolo, a terra em torno do esqueleto endurece sob imensa pressão. Por fim, os ossos dissolvem-se totalmente, deixando a sua forma num molde natural, ou cavidade debaixo do solo.

4

Ao longo do tempo, depósitos minerais reúnem-se no molde do animal, substituindo o osso original quimicamente. À medida que os níveis do mar descem e os materiais se movem, o fóssil aproxima-se da superfície. Por fim, pode ser encontrado totalmente exposto ou perto do húmus.

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© Thinkstock; Jerry LoFaro/Stocktrek Images/Corbis

antecessores do século XIX: a sorte pura. Obviamente, com um melhor conhecimento da geologia, e procurando em zonas de fósseis, é possível prever onde é mais provável encontrá‑los. Depois de um local ser identificado, começa o longo e delicado processo de desenterrar os vestígios de dinossáurio. Desenterrar fósseis pode ser tão simples como peneirar areia e silte à procura de pequenos dentes, ou partir grandes rochas com martelo e escopro para ver o que está lá dentro. Colinas, pedreiras, encostas e ravinas são, muitas vezes, locais fundamentais para descobertas fósseis, uma vez que as camadas profundas de rocha foram expostas por milhões de anos de erosão. Nestes casos, grandes escavadoras e brocas são essenciais para chegar aos achados. Dezenas de cientistas, estudantes e até voluntários entusiastas usam pincéis e colheres de pedreiro durante uma escavação. Contudo, devido à natureza delicada de espécimes com milhões de anos, pode demorar o que parecem ser outros milhões a desenterrar em segurança um esqueleto de dinossáurio inteiro. Os paleontólogos fazem muito mais do que apenas desenterrar ossos antigos. Combinando geologia e biologia, a paleontologia é o estudo de fósseis para revelar a história da vida na Terra. Depois de os restos mortais fossilizados serem totalmente escavados, o verdadeiro trabalho pode começar no laboratório. Aí, os cientistas removem cuidadosamente qualquer terra e pedra residual dos espécimes, em preparação para a análise completa. Microscópios eletrónicos, máquinas de TAC e de raios X são usados para reunir o máximo de informação possível. Estudando a forma, o comprimento e a disposição de cada osso fossilizado, os paleontólogos têm conseguido determinar não só o aspeto de certos dinossáurios e a forma como se deslocavam, mas também o que ingeriam. A descoberta de entalhes em ossos de membros semelhantes aos das aves modernas também indicou que muitas espécies de dinossáurios tinham, na verdade, penas. A toda a hora são feitas descobertas de dinossáurios maiores, mais estranhas e cada vez mais inacreditáveis, cada uma a desafiar teorias passadas e a lançar uma nova luz sobre a terra distante dos animais mesozoicos. Graças ao trabalho pioneiro de cientistas e entusiastas do passado, cada novo fóssil encontrado pode colocar mais uma peça do puzzle pré-histórico no lugar.


PRÉ-HISTÓRIA

DESENTERRAR DINOSSÁURIOS

Identificar camadas rochosas

A camada sedimentar de rocha que, mais frequentemente, contém fósseis encontra-se a alguma profundidade, por isso os desfiladeiros e as ravinas são locais ideais para escavações.

Como os paleontólogos descobrem e desenterram gigantes pré-históricos. Buldózeres, martelos, escopros, escavadoras e até dinamite – poderia pensar que era parte de um inventário de uma obra. Na verdade, são as ferramentas básicas que um paleontólogo vai usar para desenterrar os mistérios do passado. Desde remover toneladas de solo arável com escavadoras e outra maquinaria pesada, até limpar cuidadosamente pó e detritos com pincéis delicados, o processo de escavar um esqueleto de dinossáurio pode demorar muitos anos.

Remover o solo

Para iniciar uma escavação, camadas espessas de rocha e terra têm de ser removidas com pás, escavadoras e até buldózeres.

O maior fóssil de dinossáurio Mesmo nesse tempo antigo em que gigantes dominavam a Terra, o céu e o mar, o Dreadnoughtus schrani era verdadeiramente colossal. Com uma altura superior a dois andares e chegando a pesar 60 toneladas, os vestígios deste titanossáurio foram encontrados na Patagónia, Argentina, e remontam há mais de 77 milhões de anos. Enquanto saurópode, alimentava-se de plantas e é, até à data, o maior animal terrestre conhecido que alguma vez viveu. Dois Dreadnoughtus foram encontrados

no local e crê-se que o par morreu numa enorme inundação, o que explicaria o facto de os restos mortais estarem tão completos. A conservação dos esqueletos permitiu aos cientistas tirar total partido da tecnologia de impressão 3D, digitalizando cada osso individual para formato digital, para um escrutínio ainda maior. Esta reprodução em 3D do Dreadnoughtus ofereceu um conhecimento ainda maior sobre o seu aspeto e modo de locomoção.

Ferramentas pneumáticas

Os micromartelos pneumáticos são usados para remover pedaços de rocha particularmente duros que estão muito perto do fóssil.

Escopro e martelo

Ao procurar em áreas onde já foram descobertos fósseis, simplesmente lascar e analisar a pedra dura pode revelar uma nova descoberta.

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Fotografar o local

Imagens do local podem ajudar os paleontólogos a reconstituir a paisagem da época em que o animal estava vivo.

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RECORDES FÓSSIL VELHINHO

240

MAIS ANTIGO MILHÕES DINOSSÁURIO O Nyasasaurus parringtoni só foi totalmente examinado recentemente e que remonta há cerca de 240 milhões de anos – quase 15 milhões DE ANOS descobriu-se de anos antes do previamente estimado surgimento dos dinossáurios.

SABIA QUE... O termo Dinosauria foi cunhado pelo paleontólogo inglês Richard Owen, em 1842? Deslocar para o laboratório Estudar o ambiente

Os membros da equipa de escavação têm de registar cuidadosamente a disposição e os arredores do fóssil, para aprenderem o máximo possível sobre como o animal viveu e morreu.

Depois de serem cuidadosamente registados e armazenados, os fósseis são transportados para fora do local da escavação para uma análise mais profunda.

Ferramentas do ofício

Do que é que precisa para uma escavação de fósseis?

Escopros

As lâminas do escopro existem numa série de tamanhos, para partir pedra maior ou aparar a face da rocha.

Martelos

Diferentes martelos são essenciais para remover e aparar a rocha dura. Também são necessários para trabalhar com os escopros.

Peneira

Nem todos os fósseis são grandes, por isso as peneiras metálicas são perfeitas para procurar dentes e outros vestígios em areia e silte.

Proteger os ossos

Mapas

Se viajar para locais mais remotos, bem como para tomar notas fiáveis para referência futura, um bom mapa e uma boa bússola são obrigatórios.

Pincéis

Pelos pequenos e suaves são ideais para vestígios delicados; os pincéis maiores e mais duros são melhores para eliminar pó mais espesso.

Diários e guias

Registar tudo o que encontra com precisão, onde encontrou, bem como referenciar o que poderia ser, é fundamental para fazer novas descobertas.

NO

MAPA

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Sítios de fósseis importantes

Isolar o fóssil

Depois de as principais camadas de terra serem removidas, o fóssil é cuidadosamente limpo para ser isolado do solo circundante.

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1 Costa Jurássica, Devon e Dorset, Reino Unido 2 Auca Mahuevo, Patagónia, Argentina 3 Dinosaur Cove, Vitória, Austrália 4 Falésias de Fósseis de Joggins, Nova Escócia, Canadá 5 Sítio de Fósseis de Chengjiang, Chenjiang, China 6 Como Bluff, Wyoming, EUA

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© Getty; Rodolfo Nogueira/Stocktrek Images/Corbis; DK Images

Antes de ser removido, cada osso é embrulhado em toalhas de papel e depois coberto com faixas de gesso, que secam para proteger os fósseis.


Pré-História HISTÓRIA

Como datar dinossáurios

Um dos fósseis mais importantes jamais descobertos, o Archaeopteryx preenche a lacuna evolutiva entre dinossáurios e aves.

A ciência por detrás da datação de fósseis. Identificar a idade de ossos de dinossáurio é complicado. Utiliza-se muito uma técnica chamada datação radiométrica, que determina a idade das rochas em torno do fóssil. É medido o número de neutrões dos núcleos dos isótopos da rocha; se houver mais neutrões radioativos instáveis do que estáveis, o elemento é mais jovem, pois não teve tanto tempo para perder partículas e tornar-se estável. A quantidade restante de isótopos instáveis diz-nos a idade. As formas de isótopo ideais para encontrar e utilizar são o urânio-238 e o urânio-235, pois têm uma meia-vida radioativa mais longa,

logo, permitem datar fósseis muito antigos. A rocha imediatamente acima e abaixo do fóssil é testada, para se poder estimar a idade do dinossáurio. Os peritos descrevem o processo como uma espécie de “relógio natural”. Outro processo utilizado é a estratigrafia paleomagnética. O campo magnético da Terra já inverteu os polos imensas vezes, por isso, avaliar as propriedades magnéticas dos óxidos de ferro pode restringir os achados. Essencialmente, funcionam como pequenas bússolas. As atuais técnicas só conseguem restringir a idade até uma estimativa dentro de dez mil anos,

mas com milhões de anos de história em jogo, não deixa de ser muito impressionante. Uma descoberta de 2005 abalou o mundo da paleontologia, quando tecido mole terá sido encontrado no interior de um fóssil de T. rex. Pensava-se que o período Mesozoico era antigo de mais para os tecidos moles sobreviverem, mas o ferro presente no corpo preservou o formaldeído do tecido, com ligações cruzadas de aminoácidos que o tornaram mais resistente à decomposição.

Qual a diferença entre um paleontólogo e um arqueólogo? Parece uma pergunta anedótica, mas existe uma distinção crucial. Existe alguma confusão entre estas duas áreas de estudo, pois estão intimamente ligadas e muitas vezes sobrepõem-se. A paleontologia concentra-se sobretudo em fósseis de plantas e animais, e a arqueologia mais nas civilizações humanas de outrora, com base em vestígios e monumentos. Os arqueólogos não têm nada a ver com fósseis. Pode dizer-se que a paleontologia se baseia na geologia e a arqueologia tem mais a ver com a antropologia cultural.

“Sue” é um dos esqueletos de Tyrannosaurus rex mais bem preservados. Está no Museu Field de História Natural, em Chicago (EUA).

Saiba mais A History Of Life In 100 Fossils, livro de Paul Taylor e Aaron O’Dea (€ 26,50 em www.bertrand.pt), descreve a importância dos fósseis para ilustrar a evolução da vida na Terra.

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“ Uma descoberta de 2005 abalou o mundo da paleontologia, quando tecido mole terá sido encontrado no interior de um fóssil de T. rex.”

© Thinkstock; Dreamstime

Um fóssil como este seria de grande interesse para um paleontólogo, mas não tanto para um arqueólogo.



mundo antigo

armas & guerr a

edifícios & locais

especial

incrível

História 1. Cartago

gRAnde

2. Alexandria

mAioR

Centro do derrotado império cartaginês, Roma fez de Cartago um dos seus principais satélites, chegando aos 500 mil habitantes.

cidades Romanas

Frente a Frente

3. Roma

A mAioR

A cidade egípcia tornou-se próspera durante a dinastia ptolemaica; na época da conquista romana tinha entre 500 mil e 750 mil habitantes.

Com uma população estimada de um milhão de habitantes e lar do imperador, Roma era a principal metrópole do império.

ArmAs & guerrA

SABIA QUE...

A tecnologia no interior de uma casa romana.

A residência romana

tinham um ou dois andares e incluíam diversas secções diferentes. Adaptada ao calor do Mediterrâneo, normalmente a casa romana típica não tinha janelas (era raro usar-se vidro), contando antes com um átrio que servia como pátio a céu aberto no meio do edifício. A vida doméstica era melhorada por um sistema público totalmente funcional que fornecia cereais a 300 mil famílias romanas todos

construção

mais do que apenas um telhado sobre a cabeça, a casa romana era muito complexa.

Os romanos usavam roldanas e alavancas para mover grandes blocos. Os escravos faziam o trabalho árduo.

O tanque foi utilizado pela primeira vez como arma militar na I Guerra Mundial, na Batalha do Somme. Os veículos blindados tornar-se-iam muito importantes no esforço de guerra, mas só na II Guerra Mundial se tornaram essenciais. E o mais essencial de todos os tanques aliados foi o Sherman. O Medium Tank, M4 deve a designação por que ficou conhecido a William Tecumseh Sherman, general unionista da Guerra Civil Americana. Substituiu o blindado M3 e foi fornecido no âmbito da política Lend-Lease americana aos seus aliados. Foi utilizado pela primeira vez em 1942 pelos britânicos, para rivalizar com os alemães Panzer III e IV pela supremacia no campo de batalha. O Sherman assentava na velocidade e manobrabilidade. Tinha uma blindagem mais fraca e menos equipamento que os rivais alemães e, com a introdução dos modelos Tiger e Panther, tornou-se inferior no campo de batalha. Esta questão seria rapidamente resolvida com a introdução das versões Firefly, Jumbo e Easy Eight. A principal tática no tanque consistia em disparar uma salva de munições perfurantes e depois incinerar o tanque inimigo exposto e sem blindagem. Os Shermans atuavam sempre em grandes números e funcionavam bem em parceria com M10 Tank Destroyers. Foram extensivamente usados nas campanhas de África, França e Itália até ao fim da guerra. Alguns modelos podiam acoplar um lança-chamas, um lança-mísseis ou uma pá de buldózer, e também houve versões anfíbias, utilizadas nos desembarques do Dia D. Mesmo depois da guerra, o Sherman continuou a ser utilizado com frequência. A sua fiabilidade e custo baixo permitiam-lhe servir na Guerra da Coreia e noutros países. Austrália, Brasil, Egito e muitos outros têm as suas próprias versões do bem-sucedido modelo Sherman.

Telhas

Um pedreiro esculpia telhas finas de pedra, que eram colocadas sobre vigas de madeira e fixadas com pregos.

mosaicos

Pedaços de pedra eram colocados no cimento para criar belas obras de arte. Esta técnica foi trazida da Grécia.

Tijolos de argila

aquecimento

As casas maiores eram aquecidas pelo hipocausto, um antigo método de aquecimento subterrâneo.

Como os romanos mudaram o mundo em que vivemos. Provavelmente a maior de todas as civilizações antigas, o Império Romano representava a era da antiguidade clássica e ajudou a criar o mundo em que hoje vivemos. Os grandiosos projetos de engenharia e os avanços na medicina e na sociedade asseguram que a influência romana continua a ser sentida hoje. O betão e o cimento, por exemplo, ganharam popularidade em primeiro lugar na Roma antiga, bem como um tipo de

aquecimento central conhecido por hipocausto. Mas uma das características mais notáveis era a habilidade dos romanos para colocarem em prática os seus projetos e invenções em cidades espalhadas por um vasto império. Roma era uma metrópole movimentada que nenhuma civilização igualou em prosperidade e dimensão durante séculos. Nem um outro local do mundo antigo tinha grandes centros comerciais como o Mercado de Trajano, aterros

especializados como o Monte Testácio ou redes de esgotos como a Cloaca Máxima. Também eram especialistas no planeamento urbanístico e na construção de grandes estruturas. A vida doméstica foi revolucionada e o exército era uma força arrasadora que tomou o mundo antigo de assalto. Para comemorar o seu efeito na sociedade e tecnologia modernas, a Quero Saber revela quão inovadora foi esta civilização.

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Os tijolos eram de argila cozida. As legiões trabalhavam com fornos portáteis e os tijolos tinham muitas vezes a marca da legião.

o hipocausto correntes de convecção

Debaixo do chão, os respiradouros permitiam ao ar quente (que vinha de uma fornalha de madeira) circular, usando correntes de convecção para aquecer os azulejos acima.

Funcionamento

Os escravos mantinham o sistema a funcionar, alimentando as chamas. Não se sabe quão bem funcionavam as correntes de convecção e se havia divisões que ficavam muito quentes.

desvantagens

O hipocausto estava reservado para as vilas mais ricas e grandes banhos públicos. A queima de madeira produzia fumos de monóxido de carbono tóxicos.

estradas

As estradas romanas ligavam cidades e vilas e permitiam uma rápida comunicação militar e administrativa. A construção começava com uma trincheira, que era cheia com uma base de pedras. As pedras eram juntas, por norma com cimento, para criar uma fundação firme sobre a qual os exércitos pudessem marchar e os veículos passar. Lajes grandes eram utilizadas à superfície. Eram colocadas e ajustadas à mão, juntamente com canais ao longo das estradas que permitiam à água correr para os campos circundantes. Há autoestradas no Reino Unido cujas origens remontam à conquista romana da Britânia!

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Mundo Antigo 48%

RecoRdes

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Locais icónicos

Descubra as invenções da Antiga Roma, a arte da mumificação e os Celtas cremalheira

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IndústrIa & Inventos

m4a3E2 Jumbo

Criado para a libertação da Europa, pesava 38 toneladas e era muito bem protegido, resistindo a todas as armas antitanque alemãs.

Saiba como algumas das estruturas mais reconhecíveis da Terra foram erigidas

A ferroviA mAis íngreme Este é o declive máximo da ferrovia de cremalheira mais íngreme do mundo. A Pilatus vai de Alpnachstad, no lago Lucerna, Suíça, até um término junto ao cume Esel do Monte Pilatus, subindo 1.635 metros.

nas suas pisadas

figuras influentes

Joseph Hooker

Joseph Dalton Hooker era amigo íntimo de Darwin e classificou as plantas por este recolhidas nas Ilhas Galápagos. Hooker teve também um papel-chave na formulação da teoria da seleção natural de Darwin, dando-lhe feedback crítico durante a escrita. Hooker foi um dos primeiros cientistas reconhecidos a apoiar as suas ideias radicais.

2

o mais robusTo

3. Firefly

Criado pelos britânicos, era o único tanque aliado capaz de enfrentar os temíveis Panthers e Tigers alemães, com esperança de vencer.

metralhadora

A metralhadora principal Browning M2HB de 12,7 mm e calibre .50 situava-se na torre e era uma alternativa anti-infantaria de fogo rápido às granadas Howitzer.

espreitamos sob a carroçaria do tanque sherman.

motor

M4 Sherman Primeiro ano de serviço: 1942 unidades produzidas: 50.000

O motor estava na traseira do tanque e variava de modelo para modelo. Eram construídos sobretudo por três empresas norte-americanas: General Motors, Ford e Chrysler.

tripulação: Cinco Comprimento: 5,84 m

torre

Guiar e manobrar

O Sherman tinha uma torre giratória a 360 graus, que rodava sobre um carril usando um sistema elétrico. Algumas versões, como o Sherman Badger, não tinham torre.

O tanque tinha cinco mudanças e duas alavancas de manobrar, e a visão do condutor estava protegida por capôs de metal e vidro à prova de bala.

largura: 2,62 m altura: 2,7 4 m

miras

Velocidade máxima: 48 km/h

Inicialmente, a mira era periscópica, mas foi trocada nas campanhas africanas para miras telescópicas de alta potência – ideia roubada aos alemães –, permitindo uma visão muito superior.

autonomia máxima: 193 km armas: Arma principal de 75 mm, 3 metralhadoras motor: 425 cv

lagartas

Com uma suspensão vertical com molas de voluta (VVSS, na sigla inglesa), o tanque tinha lagartas de 78 cadeias, projetadas para exercerem o mínimo de pressão no solo, e assim manterem a leveza e a agilidade em todos os terrenos.

Tanques Sherman atravessam Bayeux.

os vários membros da família sherman

1

A proteção deste tanque alemão era tão robusta que continuou a ser usada como padrão por vários países em todo o mundo após a guerra.

A maioria dos tanques Sherman tinha uma arma principal de 75 mm, que disparava granadas explosivas. Com a guerra adiantada, foram introduzidas versões de 76 mm e 105 mm, para aumentar o poder de fogo.

No interior...

os números

2. Panther

mais robusTo

arma principal

Como liderou as máquinas de guerra aliadas na II Guerra Mundial.

os anos. Se queria terapia comercial, o Mercado de Trajano tinha mais de cem tabernae (lojas) que vendiam diversos bens. Nem todos os cidadãos tinham a sorte ou a riqueza para possuir uma casa. As classes baixas viviam nas insulae (edifícios de apartamentos). Pensa-se que havia mais de 40 mil destas na cidade, ultrapassando as casas familiares numa proporção de 20 para um!

1. T-34

O T-34 foi um tanque soviético altamente blindado com bom poder de fogo. Fiável e durável, ainda é usado por alguns países.

Foram produzidas mais de dez versões diferentes do Sherman original?

o tanque sherman

engenharia na vida familiar Os cidadãos de Roma tinham de estar alojados devidamente para assegurar o funcionamento de uma sociedade organizada. Antes dos romanos, estruturas impressionantes foram construídas pelos egípcios e pelos gregos, mas nunca à escala do Império Romano, com os seus extensos projetos habitacionais. As técnicas de construção romanas tinham muitas influências gregas e etruscas. As casas

robusTo

tanques da II Guerra mundIal

SABIA QUE... Lugo, em Espanha, é a única cidade europeia rodeada por muralhas romanas intactas?

m4a3E8 Easy Eight

Mais pequeno e móvel mas com a mesma blindagem do Jumbo, serviu muito no pós-guerra, como na Coreia e no Vietname.

3

m4a3r3 Zippo

O chamado “tanque lança-chamas”, usado sobretudo no Extremo Oriente, foi criado para forçar a saída de casamatas e bunkers.

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metralhadora

T34 Calliope

Dotado de um lança-mísseis, este tanque só foi utilizado na reta final da II Guerra Mundial, mas era altamente eficaz contra defesas fortificadas.

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escotilha

Para permitir fugas rápidas após sofrer danos, os modelos posteriores tinham uma escotilha de emergência no chão, por baixo do artilheiro da proa.

O artilheiro da proa tinha uma metralhadora de 7,62 mm e calibre .30 para atingir infantaria mais próxima e rápida. Estava protegido por uma frente inclinada reforçada.

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Frente a Frente

MUNDO ANTIGO

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Armas prodigiosas

Da era medieval à II Guerra Mundial, veja como evoluiu o armamento

Richard Dawkins

O biólogo evolutivo britânico Richard Dawkins tem em Darwin uma das suas maiores influências. Desde a leitura do trabalho de Darwin na universidade, forjou uma carreira em biologia durante a qual publicou vários títulos aclamados, como O Espetáculo da Vida – a Prova da Evolução, no qual expõe alegadamente provas concretas da evolução.

sABIA QUe... A Mount Washington Cog Railway foi a primeira ferrovia de cremalheira de montanha do mundo? Abriu em 1869.

Perceba a anatomia de uma locomotiva de cremalheira com a nossa ilustração.

fonte de energia era tradicionalmente o vapor, as locomotivas tinham de ser ajustadas consideravelmente para que os sistemas de cremalheira funcionassem. Esta modificação ia da parte inferior da carroçaria da locomotiva (para instalar os carretes) à inclinação da caldeira, cabina e superstrutura. A inclinação era necessária pois as caldeiras dos motores a vapor têm de ter sempre água a cobrir os tubos e a fornalha, para manter a estabilidade – algo que é quase impossível de garantir se o veículo não estiver nivelado. Como tal, estas locomotivas inclinavam-se em direção ao carril para contrariar o declive do terreno. Hoje, apesar de raros, os sistemas de cremalheira ainda são usados em todo o mundo, apesar de com um misto de motores a vapor e locomotivas a diesel/ elétricas. Um dos mais famosos é o da Mount Washington Cog Railway, em New Hampshire, EUA, que aqui analisamos.

motor

Os sistemas mais antigos usavam motores a vapor para mover os carretes. Tal como a cabina, o motor está inclinado para a frente para se manter nivelado em andamento.

amortecedor

Ao contrário dos normais sistemas de adesão, os de cremalheira não prendem normalmente a carruagem à locomotiva com um sistema de ligação/engate. A carruagem é empurrada com os amortecedores da locomotiva.

Os passageiros sentam-se numa carruagem de madeira coberta. Dada a lentidão do sistema, janelas maiores eram amiúde instaladas para vistas panorâmicas.

1

cabina

Atrás do motor e da carruagem está a cabina. Daqui, o maquinista controla a caldeira a vapor e a engrenagem dos carretes.

2

Pai da biologia evolutiva, Darwin é o naturalista mais famoso de sempre e um dos nomes mais influentes da ciência moderna – mas porquê? Ao publicar as suas ideias, Darwin foi atacado pela Igreja, mas entretanto foi-lhe dada razão.

riggenbach

O sistema de 1863 criado por Niklaus Riggenbach usava uma cremalheira em escada feita de placas de aço ligadas por hastes regularmente espaçadas. Embora eficaz, a cremalheira em escada fixa era algo complicada e cara de construir, pelo que muito poucos exemplos sobrevivem.

carril

De cada lado da cremalheira há carris normais para as rodas da carruagem e locomotiva. Estes permitem a troca de linhas e acesso a plataformas mecânicas para rotações de 360º.

cremalheira

No centro da linha está a cremalheira, um carril dentado no qual encaixam os carretes da locomotiva. Esta engrenagem entre carretes e cremalheira ajuda o comboio a manter uma boa aderência até em terreno íngreme.

A Mount Washington Cog Railway, em New Hampshire, EUA, foi a primeira ferrovia de cremalheira usada para subir uma montanha. Completado por Sylvester Marsh em 1869, este é o segundo sistema de cremalheira mais íngreme do mundo, com uma inclinação máxima de 37,4%. A ferrovia percorre 4,8 km pela encosta oeste do Monte Washington acima, começando 820 metros acima do nível do mar e culminando pouco antes do cume, a 1.917 metros de altitude. A locomotiva sobe a 4,5 km/h e desce a 7,4 km/h. Apesar de ter sido construída há 144 anos, esta ferrovia de cremalheira permanece totalmente funcional.

carretes

Montados na parte inferior da carroçaria estão vários carretes circulares dentados. Quando rodam, acionados pelo motor, os dentes encaixam nos encaixes da cremalheira, ajudando a puxar o comboio.

rodas Ferrovia de cremalheira com um sistema Strub na região rural de Itália, 1920.

marsh

Celebrizado pela Mount Washington Cog Railway, o sistema Marsh – inventado por Sylvester Marsh em 1861 – usava os dentes dos carretes da locomotiva como roletes, dispostos em travessas entre dois carris de ferro forjado em forma de L.

Uma montanhista mecânica

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Charles Darwin

evolução do sistema

carruagem

As rodas funcionam como as de um comboio normal, correndo pelos carris de cada lado do trilho central.

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3

Abt

Carl Roman Abt melhorou o sistema Riggenbach em 1882 usando várias barras sólidas com dentes verticais, que eram centralmente montadas entre os carris. Isto garantia que os dentes dos carretes estavam sempre em contacto com a cremalheira.

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Locher

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strub

O sistema de 1889 de Eduard Locher tinha dentes nas laterais dos carris e não no topo, que eram engatados por duas rodas dentadas na locomotiva. Este sistema podia ser usado em declives maiores que os anteriores. Inventado por Emil Strub em 1896, o sistema Strub utilizava um carril laminado de fundo liso com dentes no topo a espaços de 100 mm. Pinças de segurança na locomotiva prendiam a parte inferior da cabeça para evitar descarrilamentos.

A grande ideia Mecanismo-chave da evolução, a seleção natural descreve como os traços biológicos se tornam mais ou menos comuns através da sua reprodução numa mesma população. Com a reprodução seletiva de alterações no fundo genético, uma espécie adapta-se de forma gradual e não aleatória a fatores ambientais alheios ao seu controlo, aumentando as hipóteses de sobrevivência.

© Alamy; Thinkstock

Uma ferrovia de cremalheira empregava um carril/trilho dentado. A adição deste, que geralmente se situava ao centro, entre os outros dois carris, permitia às locomotivas percorrer inclinações superiores a sete por cento, que ainda hoje é o limite máximo para as normais ferrovias assentes na adesão. Crucial ao funcionamento deste sistema era a engrenagem dos carretes da locomotiva na cremalheira da ferrovia. Assim, a cremalheira e os carretes eram, essencialmente, uma forma de converter a energia rotativa gerada pelo sistema motopropulsor da locomotiva em movimento linear na cremalheira. Como tanto a cremalheira como os carretes tinham dentes, o sistema era também uma forma extra de adesão aos carris, com a engrenagem a segurar o veículo quando este não estava em movimento. Uma vez que a principal

o sistema em detalhe

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Vida e obra

Famoso por descrever a evolução da humanidade, traçamos a evolução do próprio Darwin durante o séc. XIX.

1809

Charles Darwin nasce em Shrewsbury, Inglaterra. Os seus pais são Robert (acima) e Susannah Darwin.

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1818

1825

Darwin inscreve-se Em junho, Darwin vai em medicina na Universidade de para a Shrewsbury School como aluno Edimburgo com o interno, onde estuda irmão mais velho durante sete anos. Erasmus.

Charles Robert Darwin foi um naturalista inglês célebre pelas suas teorias da evolução e da seleção natural, ambas introduzidas no seu trabalho seminal A Origem das Espécies. O livro foi tão criticado como aclamado por vários grupos sociais na altura da publicação. A polémica inicial surgiu devido ao aparente ataque a grande parte da sagrada escritura, mas viria a tornar-se uma das obras mais influentes para a sociedade ocidental, originando o campo dos estudos evolutivos. Embora A Origem das Espécies tenha sido publicado em 1859, Darwin começou a divisar a evolução através da seleção natural pouco depois de uma volta ao mundo iniciada em 1831. O naturalista embarcou nesta viagem para expandir o seu interesse recente por história natural, passando o tempo a recolher espécimes e a analisar muitas espécies interessantes – quando não sofria de enjoo. Durante a expedição no HMS Beagle, recolheu 5.436 ossos, peles e carcaças de várias criaturas. As suas experiências e descobertas levaram-no a questionar muitas das crenças aceites sobre a origem da vida. Em 1838 estabeleceu a sua teoria da seleção natural – ver caixa “A grande ideia”. Durante os 20 anos seguintes, refinou-a, até receber uma carta do colega naturalista britânico Alfred Russel Wallace, que esboçava ideias muito semelhantes às suas. Darwin ficou espantado por partilharem as mesmas teorias. Os trabalhos de ambos acabariam por ser apresentados em conjunto em 1858 na Sociedade Lineana, em Londres, mas sem grande impacto. Darwin granjeava um status social e científico que Wallace não tinha. Incitado pelo seu amigo advogado e geólogo Charles Lyell, publicou então A Origem das Espécies, no ano seguinte – e ficou para a história como o pai da biologia evolutiva.

1827

É aceite no Christ’s College, Cambridge, para estudar teologia e não ciências.

1831

Aceita uma oferta para ir em viagem no HMS Beagle, que zarpa a 27 de dezembro.

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Embora haja quem ache que a importância dos tentilhões das Galápagos para as teorias de Darwin foi exagerada, pesquisas mais recentes indicam que são um bom exemplo de microevolução.

Cinco factos:

Charles Darwin

1Pai de família

Darwin teve dez filhos, embora dois tenham morrido na infância. Três tornaram-se membros da Royal Society.

2Rosto de nota

Darwin é celebrado no Reino Unido com o seu retrato impresso nas notas de £ 10, juntamente com um colibri e o navio HMS Beagle.

Talvez o habitante mais famoso das Galápagos, a tartaruga gigante.

Este foi um momento decisivo para Darwin – e para a ciência em geral. Até certo ponto, era uma compilação de ideias já debatidas por outros biólogos, mas nunca provadas. Apesar de Darwin não fornecer provas concretas da evolução, a clareza e a lógica do trabalho levaram a que, no final da década de 1870, a comunidade científica e a sociedade em geral tivessem aceite a teoria. Darwin deu seguimento à obra em 1871 com A Origem do Homem (e Seleção em Relação ao Sexo), onde aplicou a

sua própria teoria evolutiva especificamente à evolução do ser humano a partir dos símios. O livro foi incrivelmente popular desde o início, com uma segunda edição encomendada três semanas depois do lançamento. Três meses após a publicação, tinham sido vendidas 4.500 cópias – uma prova da sua fama crescente. Darwin morreu a 19 de abril de 1882 de doença cardíaca e, após um pedido dos colegas, teve um funeral de estado na Abadia de Westminster, sendo enterrado ao lado dos cientistas John Herschel e Isaac Newton.

“(A publicação de A Origem das Espécies) foi um momento decisivo para Darwin – e para a ciência.”

3Escola de pensamento

A escola que Charles Darwin frequentou em criança, a Shrewsbury School, ainda existe, mas não no mesmo edifício, agora uma biblioteca.

4Nomes científicos

Devido às grandes conquistas de Darwin no campo da história natural, até à data, mais de 120 espécies e nove géneros diferentes têm um nome em sua honra.

5Marinheiro de água doce

O HMS Beagle levou cinco anos a circum-navegar o mundo, mas Darwin só passou 18 meses a bordo. Desde o dia em que zarpou, foi atormentado por terríveis enjoos.

O HMS Beagle esteve apenas cinco semanas nas Ilhas Galápagos, mas foi o suficiente para a pesquisa de Darwin.

1836

1839

Desembarca Casa-se em Inglaterra a com Emma 2 de outubro e Wedgwood e regressa a casa, nasce o primeiro em Shrewsbury. de dez filhos.

1858

Recebe uma carta de Alfred Russel Wallace, com quem partilha muitas ideias sobre a seleção natural.

1859

Publica A Origem das Espécies por Meio da Seleção Natural, ou a Preservação de Raças Favorecidas na Luta pela Vida.

1864

Recebe a medalha Copley, o maior louvor da Royal Society Morre aos 73 anos e é britânica. sepultado em Westminster.

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© Mike Cornwell

ferrovias de cremalheira

Como é que estes sistemas de trânsito únicos ajudavam locomotivas pesadas a subir encostas mais íngremes que nunca?

1882

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