LONGE VI DA DE
Foto: internet
Conheça três histórias motivadoras de cidadãos com mais de 60 anos
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aderno especial 1ª edição - Outubro 2015
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ELES ESTÃO CADA VEZ MAIS ATIVOS A aposentadoria é vista como um período destinado ao repouso dos idosos, mas não são todos que decidem que está no momento de parar. Solange Ferreira, Vicente dos Santos e Maria Drago fazem parte da parcela de idosos que estão em constante movimento. Eles já estudaram, trabalharam e constituíram suas famílias, no entanto não optaram por dedicar a aposentadoria apenas ao descanso.
Em movimento Solange Ribeiro Ferreira, 82 anos, nasceu em Santa Maria, mas reside em São Borja desde 1958. Foi na Terra dos Presidentes que criou os filhos e empreendeu junto com o marido. O primeiro negócio da família na cidade foi o bar “Chez Vous”, que perdurou de 1958 a 1962. Solange aprendeu a cozinhar durante os anos em que trabalhou no bar “Nós fazíamos sorvete de ameixa, chocolate, abacaxi e amendoim”, conta. Orgulhosa relembra que o bar foi pioneiro na cidade “Fomos os primeiros a trazer o chopp gelado para São Borja”, ressalta.Em 1965 a empresária junto com o marido abriu a loja de roupas e artigos infantis “Mundo Infantil.” Na época era conhecida por “adivinhar” o sexo do bebê “Eu sempre acertava o sexo, mas a grávida precisava estar no sétimo mês de gestação” revela. Foi nesse período que conheceu São Paulo, o casal viajava para comprar mercadorias “Foram os árabes que nos ensinaram, a viagem durava 30 horas”.
Após 30 anos de funcionamento a loja foi fechada. Apesar de aposentada não se acomodou, atualmente planeja reabrir a loja em outros moldes. Hoje reside sozinha em um apartamento amplo no centro da cidade “Sou eu quem cuida da casa, não preciso de ninguém para me ajudar” comenta satisfeita. Ao longo dos anos passou por cinco procedimentos cirúrgicos, entretanto hoje comenta que é saudável “Não preciso tomar nenhum tipo de remédio” destaca. Complementa a renda vendendo doces caseiros como a ambrosia e revendendo cosméticos. Vaidosa, diz que sempre gostou de estar arrumada porém agora dedica mais tempo “Gosto de cachear os cabelos, passar um batom bem vermelho ou cor de rosa”, conta.Solange é alto astral e isso se reflete nas paredes do apartamento, pintadas de diferentes cores como vermelho e verde. Finaliza contando sobre um sonho: aprender a dançar tango! Para ela o tempo parece ser o melhor companheiro.
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O remédio é o trabalho Vicente de Paula Gonçalves dos Santos, 82 anos, nasceu no interior de São Borja e durante a infância foi rebatizado como Negrinho. Apesar de ter a pelo branca, Negrinho explica que o apelido foi dado porque ele, entre os irmãos, era o que tinha a pele mais escura. Cresceu no campo, trabalhando nas plantações de arroz da família “Também plantávamos linhaça e para a subsistência”, explica. Deixou o campo com uma ideia estabelecida: abrir um bar. Com a esposa abriu um dos bares mais antigos da cidade, o bar “Do Seu Negrinho”. Há 52 anos o bar encontrase em funcionamento no mesmo local, o porto da cidade de São Borja. Negrinho lembra saudoso dos turistas argentinos que costumavam passar pelo porto, antes da construção da ponte internacional. “Eu acordava as cinco horas da manhã, enchia uma térmica de café e outra de água quente, para esperar os correntinos”, que era oferecido gratuitamente aos turistas que chegavam, comenta. Na época o bar oferecia refeições na hora do almoço “Os argentinos chegavam para almoçar e traziam junto panelas vazias. Sabe para que? Para levar comida para casa!” relembra orgulhoso. Naqueles tempos o bar também era uma espécie de mercearia que tinha
como produtos mais vendidos o açúcar, bombom e cigarro “Até o quartel da Argentina comprava aqui”, destaca.
“Eu acordava as cinco horas da manhã, enchia uma térmica de café e outra de água quente, para esperar os correntinos” Com o passar dos anos a clientela de Negrinho mudou e por isso a parte da mercearia foi encerrada. O empresário nunca cogitou trocar de ramo, mas afirma que é preciso persistir “Dificuldades existem, mas a gente não pode desistir”, destaca. Comenta já ter perdido as contas de quantas foram as enchentes do Rio Uruguai que atingiram o bar, no entanto diz não incomodar-se “São duas enchentes por ano, a gente acaba acostumando”, conta. Apesar de nunca ter fechado o bar, Negrinho pensou em diminuir a frequência do funcionamento entretanto, desistiu da ideia. O empresário, que nunca havia tido problemas de saúde, teve alteração da pressão arterial “Não posso ficar sem trabalhar, eu fico doente”, salienta. Diz que não continua trabalhando pelo dinheiro, mas sim porque gosta, seu remédio é o trabalho.
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Longe da acomodação Maria Florentina Pedebos Drago, 79 anos, nasceu e cresceu em São Borja, mais precisamente no bairro do Passo. Casou-se em 1960 e passou a dedicar-se à família e a casa. Após o falecimento do esposo passou a a trabalhar fora, atuondo na prefeitura, nos anos 80, e em áreas sociais. Hoje reside junto com a filha, em uma casa no centro da cidade. Atualmente é a pessoa a frente da “Associação de Defesa dos Direitos das Mulheres e do Consumidor”, entidade a qual ajudou a ser fundada em 2003. Como presidente, trabalha de segunda à sexta. “ E s t o u sempre envolvida”, ressalta. Orgulhosa com o andamento de sua gestão, conta sobre o trabalho que a instituição desempenhando: “As pessoas associadas recebem acesso a advogados, médicos, fisioterapeutas, psicólogos, dentistas e fonoaudiólogos”, destaca. É ela quem organiza as festividades do local, como carnaval e festa junina. Os associados também tem acesso a atividades “Eu não sou formada, mas dou aula de dança e de ginástica”, conta. Maria se considera uma apaixonada por política “Acho que a única coisa que me traz vida é
a política”. O contato próximo à comunidade lhe fez querer participar de forma mais ativa nas decisões sobre o município. Sendo assim, candidatouse a vereadora, porém ficou com o cargo de suplente. Apesar de estar aposentada, faz parte da parcela de idosos que não destinou o período da aposentadoria apenas para descansar. Um dos aspectos decisivos foi sua preocupação em ajudar as pessoas “Por ser espirita eu acredito que a gente não pode ficar acomodado, tem que servir ao ser humano”, salienta. Atribui a boa saúde que possui ao trabalho constante e a atividade física “Apesar de ter carro e dirigir, também caminho, tenho mais energia que muito jovem”, comenta. Outra entidade da cidade a qual ajudou a fundar foi o Centro Espiritualista de Umbanda São Jorge, do qual também faz parte. Uma das qualidades de Maria é a dedicação por aquilo que faz. Ela não planeja interromper o seu trabalho junto à comunidade tão cedo.
“Acho que a única coisa que me traz vida é a política.”
Trabalho produzido para a disciplina de Produção Multiplataforma I, sob orientação da Profª. Drª Vivian Belochio.
Agradecimentos aos entrevistados: - Solange Ferreira; - Vicente de Paula Gonçalves; - Maria Florentina Pebedos.
Expediente: Produção: Arthur Urroz Rilo, Jéssica Coró Somavilla Redação/ Diagramação: Eduarda Caterine Belmonte Pinto Fotos: Eduarda Caterine Belmonte Pinto Revisão/ Finalizaço: Fabielle Piazer Zemolin