Rosinha e seu jardim 2013
Fabinho Lima Belém/ PA – BR
AGRADECIMENTOS - A Deus, Senhor, salvador e pai, “ (...) Bendito sejas para sempre! Tu és grande e poderoso, glorioso, esplêndido e majestoso. Tudo o que existe no céu e na terra pertence a ti; tu és o Rei, o supremo governador de tudo. Toda a riqueza e prosperidade vêm de ti; tu governas todas as coisas com o teu poder e a tua força e podes tornar grande e forte qualquer pessoa. Agora, Deus, te agradeço e louvo o teu nome glorioso.(...) 1 Crônicas 29:10-13 (NTLH) Adaptado pelo autor Procure descobrir, por você mesmo, como o SENHOR Deus é bom. Feliz aquele que encontra segurança nele! Salmo 34.8 E a vida eterna é esta: que eles conheçam a ti, que és o único Deus verdadeiro; e conheçam também Jesus Cristo, que enviaste ao mundo. João 17.3” - À Lú, esposa amada e amiga - Obrigado pela compreensão. Amo Você!-; - Aos Familiares - longe ou perto, dentro do coração; - E aos grandes amigos que tanto me incentivaram e sempre acreditaram em mim (não coloco nenhum nome porque não caberia e para não cometer a falha de esquecer alguém). Sou o cara mais feliz do mundo porque tenho vocês na minha vida!
APRESENTAÇÃO Existem pessoas que não são felizes, você acredita?
Pois
é.
Passam
uma
aparência
de
felicidade, mas seus travesseiros sabem muito bem o que realmente acontece. Estas pessoas procuram felicidade em coisas. Essas coisas podem ser compras em shoppings, bebidas, relacionamentos por passatempo, status e etc. Mas o fato é que viver feliz é muito mais do que ter momentos de felicidade. Uma mansão pode não ser um lar e um lar não precisa ser necessariamente uma mansão. Diante de coisas que acontecem em nossas vidas, a tendência é cada vez mais desacreditar no amor (isso é popularmente conhecido como ficar com o “pé-atrás”). Este ato de desacreditar no amor (por motivos mil) leva as pessoas a procurarem preencher o vazio de seus corações com coisas superficiais que vão além das mencionadas acima. Toda pessoa tem uma história que às vezes nem seus próprios pais conhecem. Não podemos deixar que fantasmas do passado assombrem nosso
presente e prejudiquem nosso futuro. Depois de adulto, você colhe o que planta. Seja feliz. Viva momentos felizes e permaneça feliz em qualquer momento.
ROSINHA E SEU JARDIM
Xavier está voltando do trabalho, assoviando uma canção. Rapaz tímido, beirando 40 anos. Rosinha está na cozinha. Gosta de fazer bolos e palavras cruzadas. Tem um belo jardim, à moda antiga. Xavier olhou para o lado e viu uma linda rosa. Parou de assoviar e ficou admirando aquela rosa. Rosinha apareceu na janela e percebeu que Xavier estava olhando seu jardim. Parou ali e imaginou que, como outros que ali passavam, ele tentaria colher uma flor. Outros tiveram sucesso, porque ela fazia bolos, assistia TV, passeava, etc., mas somente quando ia fazer palavras cruzadas ficava na frente de sua casa. Dizia que arejava suas ideias. Dito e feito! Na hora que ele foi pegar a flor ela deu um grito: -Nem pense nisso! Xavier se assusta e pensa em
correr.
Quase
morre
de
vergonha.
Ficou
vermelho como se tivesse tomado um vidro de pimenta. Ela repete: “Nem pense nisso.”. Xavier
pediu
desculpas,
mas
Rosinha
esbravejou. Ele escutou cada palavra e não disse
nada, pois sabia que estava errado. Não era comum fazer coisas deste tipo, nem sabe dizer o que lhe deu para fazer aquilo. -Posso explicar? Disse ele. Ela respondeu: -Tente. Naquele momento Xavier foi tomado de um sentimento que jamais tivera. Abriu a boca e não gaguejou. Olhava-lhe nos olhos e contou que a rosa era para lhe fazer companhia. Rosinha desarmouse. Esqueceu, até, que estava fazendo bolo. Xavier era inteligente. Educado. Não era tão bonito. Mas suas palavras convenceram Rosinha que, depois de se apresentarem, disse: -Tudo bem, senhor Xavier. O senhor pode pegar essa flor. Ele agradeceu, mas não tirou a flor imediatamente. Rosinha perguntou: -O quê foi senhor Xavier? Não quer mais a rosa? Ele disse, sim – olhando para o chão. -Então pode pegar, disse ela. Não consigo! Ele respondeu.
-A senhorita tem compromisso? Ela riu um sorriso sem graça, por não entender, e disse que não. -Será
que
a
Rosa
me
faria
companhia?
Perguntou Xavier. -Claro! O senhor a coloca num vaso que ela ficará bem. Ele
ameaçou
pegar
a
rosa,
mas
olhou
novamente para Rosinha e disse: -A Rosa que eu quero é outra! Depois de alguns segundos em silêncio, ela perguntou se ele queria uma fatia de bolo...
UM DIA COMUM Às 6:10hs o despertador toca. Xavier abre os olhos e num salto está no banheiro escovando seus dentes. Diferente de Rosinha. Ela acorda às 7, mas levanta-se 7:10, 7:15hs. Ele
é
muito
prático
e
objetivo.
sistemático. Ela é romântica e sonhadora. Ambos têm a mesma idade.
Bastante
ROSINHA Rosinha nasceu num dia chuvoso. Chovia muito, diga-se
de passagem. Seria um prenúncio de
quantas lágrimas ela derramaria em sua vida? Certa vez ela chegou a pensar que sua vida não teria valor algum. Desde
nova,
Rosinha
assumiu
grandes
responsabilidades. Ela cuidava de seu irmão mais novo que era especial e ficava, constantemente, entre o combate que acontecia entre seus pais. Muitas
vezes
ela
passava
a
noite
em
claro,
chorando. Seus pais eram alcoólatras. Eles diziam que
bebiam
socialmente,
mas
os
constantes
hematomas mostravam a ela que beber não fazia bem. Aprendeu essa lição logo cedo. Numa
dessas
bebedeiras,
sem
a
menor
explicação, sua mãe a chamou de infeliz. Disse que ela tinha sido um acidente, a culpava pelo fato de seu pai ter uma amante e que ele vivia com ela só por causa da menina. Naquela noite, como em outras tantas ela chorou.
Sua grande alegria era ir para a escola. Mas também ficava preocupada com seu irmãozinho que estava
sob
o
cuidado
dos
seus
pais
–
que
provavelmente estariam dormindo. Na escola, todos os coleguinhas gostavam dela. Ela tinha um olhar mágico, que encantava as pessoas. Seu interior triste não impedia de radiar alegria que seu sorriso exibia. Certa vez, na volta às aulas do segundo semestre, foi proposto aos alunos que escrevessem como haviam sido suas férias. A professora pediu para que escrevessem e disse que depois todos iriam
ler
suas
redações
–
alguns
alunos
murmuraram. Rosinha começou a escrever. Passado algum tempo, assim que o último terminou de escrever, começaram a ler. Um a um foram lendo suas redações. A grande maioria tinha ido viajar com seus pais. Uns foram para a praia, alguns para o interior. Teve quem ficasse em casa jogando videogame, outro jogando bola na rua, uma menina aprendeu a andar de bicicleta e todos riram de uma menina que disse ter
lido e assistido a história de Cinderela. Muitos riram, principalmente
os
meninos.
Essa
menina
era
Rosinha. Mas quando continuou lendo sua carta podia-se ouvir uma agulha caindo no chão. “Eu não fui viajar. Assisti muita televisão. Li o livro e assisti a história de Cinderela. O meu tio Toni leu para mim uma vez fazia muito tempo. É uma história muito linda. Eu assisti com meu irmãozinho Adriano. Ele é sempre agitado, mas acho que gostou. Ele não sabe falar, mas gosto muito quando ele me abraça. Ele é especial. Muito especial para mim. Não tive muito tempo para brincar porque minha mãe e meu pai não dão muita atenção para a gente e sou eu quem dá banho no Adriano quando ele faz cocô e também tenho que fazer comida. Eles bebem muito e dormem muito. Mas quando eles estão dormindo é o único momento que a casa fica quieta. Se eu sair o Adriano vai ficar sozinho, por isso não deixo ele um só minuto.
Eu tenho uma boneca que está careca. Eu gosto muito dela porque tem crianças que não tem nenhuma para brincar. É bom voltar para a escola. Eu quero ser alguém na vida e ajudar minha mãe e meu pai a não beberem mais. Vou trabalhar bastante para dar muitos brinquedos para o Adriano.” A professora chamou logo o próximo antes que as lágrimas caíssem. A professora quis ir visitá-la, mas seus pais não permitiram.
Disseram
que
ela
era
apenas
a
professora de Rosinha e o compromisso dela era somente na escola. No dia do aniversário dela, todos os coleguinhas deram presentes para ela, incluindo a professora. Fizeram, também, uma festinha para Rosinha – convidaram os pais, mas eles não foram – com bolo, brigadeiros e guaraná. Ela nunca tinha tido uma festa como aquela. Ela pediu para fazer uma oração ao papai do céu e perguntou se podia levar algumas coisas para o Adriano.
Ela falou, ao papai do céu assim: “Obrigada,
papai
do
céu,
por
esta
festa.
Agradeço por tudo isso. Queria que minha mãe, meu pai e o Adriano estivessem aqui, mas não deu pra eles virem. Tudo aqui ‘tá muito gostoso. Papai do céu, abençoe as crianças que não tem.” Ouviu-se alguns améns. Quando ela chegou em casa, foi uma alegria só. Ela colocou um pedaço do seu bolo de aniversário na boca do Adriano, que a abraçou, como dizendo: Feliz
aniversário,
no
idioma
que
todo
mundo
entende: Amor. Tarde da noite, toca o telefone. Era do hospital, avisando que seu pai estava internado porque tinha sofrido um acidente de carro. Não é nada grave, mas ela vai passar a noite aqui, disse a pessoa do outro lado da linha à mãe de Rosinha. Quando ela acordou, seu pai já estava lá. Ela lhe deu um gostoso abraço e foi ver o Adriano.
XAVIER Seu nome é Alessandro. Sempre foi muito quieto.
Seus
pais
o
levaram
para
tratamento
psicológico, pois não achavam normal um menino ser tão quieto e tímido como era. Seus pais eram bem sucedidos financeiramente. Passavam
pouco
tempo
com
ele.
Logo
que
desmamou, a mãe voltou a trabalhar e ele ficou com uma babá. Sua mãe queria que ele fosse pianista e usasse o enorme piano que estava no meio da sala. O pai só pensava na hora que ele assumiria os negócios da família. Ambos passavam pouco tempo com Alessandro. Ele estudava em uma boa escola. Nas férias iam sempre viajar. Seus pais trabalhavam muito para dar do bom e do melhor para ele. De tanto trabalhar, um não tinha tempo para o outro. Começaram, então, a se ocupar com outras coisas fora de casa. Até que um dia, na hora do recreio, os outros
alunos
começaram
a
mexer
com
o
Alessandro, dizendo que o pai e a mãe dele tinham outros namorados. Ele chegou em casa e comentou
com a babá. Ela fez-se desentendida, mas quando seus pais chegaram ele tirou a história a limpo. Sua família se desfez ali, naquele momento, pois um descobriu o outro e fora descoberto também. Pior para
Alessandro,
que
agora
sofria
com
seus
coleguinhas por sua mãe e seu pai não morarem juntos. Suas notas eram excelentes. Não dava trabalho nenhum. Ele tinha um olhar tristonho. Naquele ano ele ganhou de presente uma bicicleta. Mesmo morando num residencial, nunca saiu com ela. Ele gostava mesmo era de ir para a casa da vovó. Lá ele ria do seu avô que só fazia palhaçadas. A timidez era a mesma, mas lá ele tinha atenção. Sua mãe gostava muito de fazer compras. Alessandro a acompanhou com a promessa de que ganharia o que quisesse (na verdade, ele foi porque era obrigado, já que era folga da babá). Diante de uma vitrine a sua mãe ficou praticamente cega com as coisas ao seu redor. Só tinha olhos para o produto que dizia estar com 70% de desconto. Ela
entrou na loja e o Alessandro, que estava com a cabeça baixa, nem viu para onde ela foi. Ele achou que tinha sido abandonado. Mal conseguia chorar e começou a andar pelo shopping. Achava estar protegido
porque
tinha
consigo
o
boneco
do
Homem-Aranha. Sentou, depois de algum tempo, num banco. Ao seu lado tinha um pai e seu filho rindo. O menino disse oi e Alessandro respondeu. Eles levantaram-se e foram. Quase que imediatamente sentou uma senhora, querendo dar descanso aos seus pés. Alessandro só olhava para o chão. A senhora o observou e perguntou a ele: - Filho, onde estão seus pais?” Ele respondeu: - Minha mãe me deixou. Meu pai já não morava mais com a gente. Ela perguntou: - Como? Espere um instante. Ela comunicou o segurança e voltou a sentar. Ainda ninguém havia dado queixa de sumiço de criança, por isso o segurança pediu que ele aguardasse ali mesmo. A senhorinha ficou fazendo companhia a ele, sendo vigiados pelo segurança.
Ela perguntou: - Qual é o seu nome? Ele disse: - Alessandro. - E o nome dele? - É Peter Parker. Ela disse que tinha um neto que também tinha o Homem-Aranha. Ela falou o nome dele para Alessandro. Ela perguntou se ele ia à escola, o que ele mais gostava na escola e o que mais gostava de comer. As respostas eram sempre sucintas. Ela perguntou: - O que você vai ser quando crescer? Antes que ele respondesse o segurança disse a ele que sua mãe já estava vindo. E ela veio depois de poucos instantes, chacoalhando suas sacolas. Quando chegou perto começou a brigar com ele. Ameaçou até dar uma palmada, mas se preocupava muito
com
sua
pose
e
disse
que
em
casa
conversariam. Que ele nunca deveria ter saído de perto dela. De qualquer forma, ele estava feliz. A
pergunta
“O
que
você
vai
ser
quando
crescer?” ecoava na sua cabecinha. Nunca ninguém fez tantas perguntas assim pra ele. Mais ainda: Ele
nunca tinha pensado no que iria ser quando crescesse. Era ele bastante maduro para a sua idade. Algum tempo depois, sua mãe disse para ele pedir o que quisesse. Ele falou: - Quero um livro! Sua mãe achou estranho, não contestou, e foram a uma livraria. Ele disse que queria um livro que falasse sobre a vida adulta. Sua mãe não sabia o que responder. Como poderia indicar um livro assim, sendo que ela mesmo nunca leu um? Nem mesmo o vendedor sabia que livro indicar, pois era uma criança. Pensou, pensou e recomendou Dom Quixote, mas numa versão para criança. Ele não queria, mas o vendedor explicou que desta forma seria melhor compreendido e que ele iria gostar. Como era tímido, não mais contestou. Levaram aquele livro.
ANOS DEPOIS – PARTE I Alessandro foi acordado por sua mãe com um bolo. Era um presente por ter passado no vestibular. O curso era Matemática. Seus pais não eram favoráveis, mas era o que ele escolheu. O pai via de forma mais positiva do que a mãe. Se dependesse da mãe, ele faria medicina. O que importava, para eles, é que ele iria estudar numa universidade federal. Alessandro tinha por sobrenome Xavier. Na faculdade assumiu de vez como primeiro nome, por insistência dos companheiros do colégio que o apelidaram de Dr. Xavier, porque parecia mesmo o personagem dos X-Men. Isso não o aborrecia. Ficou, então, conhecido como Xavier. Rosinha tomou dois ônibus para ir saber o resultado do vestibular. Fora na biblioteca, mas os computadores estavam com problema, por isso, se quisesse saber logo o resultado teria que agir. Escolheu o curso de Pedagogia. Só pensava em como poderia ajudar os outros.
Logo que desceu do ônibus começou a ver muitos jovens – e pais – saltitantes de alegria. A tensão ia aumentando. “Será que eu consegui?”, pensava ela. Aqueles metros pareciam quilômetros. Precisou parar no bebedouro para molhar sua garganta que estava seca. Era muito importante conseguir esta vaga, pois não conseguiria pagar uma faculdade particular. Sofreu um pouco para visualizar a lista, mas valeu todo o esforço: 2ª colocação. No início do ano letivo, a mãe de Xavier entregou-lhe uma caixa. Nesta caixa havia uma chave. Ganhara um carro porque agora era um homem. Ele agradeceu, mas não era ligado a coisas materiais. Tanto fazia ter como não ter um carro. Rosinha chegou em casa e encontrou seus pais sentados no sofá, e sóbrios. Eles a chamaram e disseram que haviam recebido um ultimato do médico: - Se quiserem viver, parem de beber! Na verdade, não estavam sendo sinceros com ela, pois, na verdade, seu pai tinha recebido a notícia que
teria, no máximo, alguns meses de vida. Ele passou mal naquela manhã e foi às pressas para o hospital, então
ouviu
isso.
Seus
órgãos
já
estavam
comprometidos e falindo. Se a mãe de Rosinha não parasse de beber e não mudasse seu estilo de vida o fim seria o mesmo. Rosinha os abraçou e disse que tudo daria certo. Poucos meses depois elas estavam velando o corpo de seu pai. Xavier
chamava
extremamente
a
inteligente.
atenção Ele
se
porque
era
destacou
na
faculdade pela sua agilidade em resolver questões complexas, que os veteranos batiam a cabeça para resolver. Já estava mais sociável neste tempo. Conseguiu um estágio num banco. Rosinha estava procurando um estágio também. A mãe de Rosinha começou a passar mais tempo em casa. Foi difícil parar de beber de uma vez só. Às vezes tomava algo escondido, mas já não era como foi no passado. As duas alternavam no cuidado com o Adriano. Rosinha gostava muito de cuidar das coisas de casa e também descobriu algo novo: Paixão por
flores. A frente de sua casa, antes um terreno descampado, virou um belo jardim. Nas idas ao supermercado, um dos caixas a olhava diferente. Ela começou a utilizar sempre aquele caixa e, de preferência, nos horários que um certo jovem estava. Era um rapaz de boa aparência – e era trabalhador. Marcaram de se encontrar um dia. O encontro aconteceu e começaram a namorar. Ela estava realizada. Finalmente encontrara um namorado. Alimentou o sonho que parecia ter se perdido: O de ser feliz e ter sua própria família. Teve uma grande surpresa indo fazer uma visita surpresa ao seu namorado. O encontrou aos beijos com outra mulher. Sentiu um grande aperto no seu peito, virou as costas e se foi. Ele viu a Rosinha e nem ligou. Ela mudou o horário das idas ao supermercado. Chorou bastante. A mulher que ele estava não era de boa fama e podia dar a ele o que Rosinha estava guardando para o amor da sua vida. Xavier não fazia o tipo de muitas mulheres.
Ele era dedicado aos estudos e ao trabalho, o que o levou a um alto posto ainda com a graduação em curso. Fora reconhecido pela superintendência do seu banco. Decidiu que iria morar sozinho. Sua mãe
quase
se
descabelou.
Ele
alugou
um
apartamento distante da casa da mãe, a poucos quilômetros de seu serviço. Rosinha conseguiu emprego.
ANOS DEPOIS – PARTE II Rosinha estava olhando seu álbum de formatura e ria sozinha. Como ela estava linda! Mais ainda do que já era. A emoção tomou conta de Rosinha, porque nestas estavam as últimas lembranças de Adriano, que faleceu poucos dias após a formatura. Ele também
estava
muito
elegante.
Com
estas
lembranças ela também sorri, pois aproveitou cada minuto ao lado dele. Ela lembra que ele estava muito feliz naquela noite, provavelmente feliz com a vitória da sua irmã e compreendendo tudo ao seu redor. Xavier estava namorando. Sua namorada era muito parecida com sua mãe – talvez por isso elas tenham se dado tão bem: Ela também gostava de fazer compras. Ele
não
estava
muito
satisfeito
com
este
namoro, mas não conseguia terminar. Ela e sua mãe faziam uma pressão para um casamento. Não tinha a aprovação de seu pai. Ela era o extremo oposto de Xavier. Ele sentia-se sufocado...
Numa noite, os dois estavam no apartamento de Xavier e o telefone dela recebe uma mensagem. Ela tinha ido ao banheiro e deixara o aparelho ali. Apareceu um nome desconhecido para Xavier e ele resolveu fazer o que nunca pensou em fazer antes. Decidiu
abrir
a
mensagem.
Antes
disso
ficou
pensando no que responderia para ela se ela aparecesse e gritasse: “O que está fazendo?!” Num instante perdeu este medo, porque a mensagem era uma declaração de amor a ela por outro homem. Ele enfureceu-se, mas acostumado a se conter esperou que ela voltasse e perguntou o que era aquilo. Ela ficou pálida, mas logo sorriu e quis enrolar o Xavier. Ele, desta vez, estava decidido a terminar. Ela começou a dizer para ele que era algum engano e tentava
fazê-lo
mudar
de
ideia,
mas
nada
funcionava. Era a gota d’água para ele. Ele abriu a porta de seu apartamento e se despediu dela. Teve quase que colocá-la a força para fora porque não queria sair de jeito algum. Minutos depois toca o celular do Xavier. Era sua mãe. Ele já imaginava o que seria. Dito e feito: Era
sua mãe defendendo ela, dizendo que era tudo um engano, que ele era apenas um
amigo, sem
maldade. Isso porque ele não abriu as outras mensagens, talvez por não ter visto, mas ela já vinha fazendo isso com ele há muito tempo. Viu em Xavier uma pessoa bem sucedida que satisfaria todos os seus caprichos e ela poderia viver livre e solta, como gostava. Rosinha havia se casado. Ela pensava ter encontrado neste homem tudo o que sonhara. Esperava ter filhos e acreditava que assim seria feliz, pois não era no dia a dia de seu casamento. Ela passou as mesmas coisas que sua mãe (ou talvez piores). Tudo o que ela presenciava na sua infância acontecia agora com ela. Ele a agredia com frequência. Rosinha sofria ameaças quando pedia a separação. Até que um dia ela descobriu o ponto fraco dele. Ela atentou para a reputação que ele procurava manter fora de sua casa por ser um empresário bem sucedido e bem conhecido
na
sociedade
de
sua
cidade.
Um
escândalo como este o levaria a ruína. Ela bolou um
plano para a próxima vez que isto acontecesse. As agressões eram pelos motivos mais tolos possíveis. Nada justificava aqueles atos contra ela. Certo dia, ele levantou a mão contra ela e ela logo lhe disse: Vou ao jornal se você fizer isso! Ele tomou um susto, porque ela nunca tivera alguma reação. Ela continuou dizendo que se ele fizesse aquilo de novo ela iria ao jornal. Ele a ameaçou, como fazia sempre, mas ela foi além: - Quero a separação! Ele riu e disse que isso nunca aconteceria, mas ela começou a dizer que se ele não aceitasse isso ela
iria
para
testemunhas.
o Ele
jornal então
e
poderia começou
contar a
com
pensar.
Preocupado com a sua reputação, e apenas consigo, consentiu com isso, contanto que ela não fosse adiante com o que disse que faria. Rosinha voltou para a casa de sua mãe e olhou o terreno que um dia fora um jardim. Decidiu que daria vida aquele terreno e que aquilo simbolizava a sua vida. Iria ficar ainda mais bonito do que antes.
Pôs a mão na massa. Sentia que faltava alguma coisa... Xavier descobriu algo que dava muita alegria a ele: Fotografia. Envolveu-se inteiramente com isso e começou a viajar, olhar para as coisas como nunca havia feito antes e tornou-se mais sociável. Depois do fim do seu namoro, Xavier mudou-se para outro apartamento, ainda mais perto do seu trabalho e ia para o trabalho andando. Sabia como um passarinho fora da gaiola se sentia...
UM DIA ESPECIAL Xavier acordou 6:10hs, como de costume. Rosinha acordava mais cedo. Era para ser um dia normal. Mas não era... O fim de tarde chegou e Xavier voltou do trabalho, assoviando uma canção. Rosinha estava na cozinha, fazendo bolo. Xavier olhou para o lado e viu uma linda rosa. Parou de assoviar e ficou admirando aquela rosa. Realmente, a fotografia havia mudado o seu olhar. Rosinha apareceu na janela e percebeu que Xavier estava olhando seu jardim. Parou ali e imaginou que, como outros que ali passavam, ele tentaria colher uma flor. Outros tiveram sucesso, porque ela fazia bolos, assistia TV, passeava, etc., mas somente quando ia fazer palavras cruzadas ficava na frente de sua casa. Dizia que arejava suas ideias. Dito e feito! Na hora que ele foi pegar a flor ela deu um grito: -Nem pense nisso! Xavier se assustou e pensou em
correr.
Quase
morreu
de
vergonha.
Ficou
vermelho como se tivesse tomado um vidro de pimenta. Ela repetiu: - Nem pense nisso! Xavier
pediu
desculpas,
mas
Rosinha
esbravejou. Ele escutava cada palavra sem dizer nada, pois sabia que estava errado. Não era comum fazer coisas deste tipo, nem soube dizer o que lhe deu para fazer aquilo. -Posso explicar? Disse ele. Ela respondeu: -Tente. Naquele momento Xavier foi tomado de um sentimento que jamais tivera. Abriu a boca e não gaguejou. Olhou-lhe nos olhos e contou que a rosa era para lhe fazer companhia. Rosinha desarmouse. Esqueceu, até, que estava fazendo bolo. Xavier era inteligente. Educado. Não era tão bonito, mas suas palavras convenceram Rosinha que, depois de se apresentarem, disse: -Tudo bem, senhor Xavier. O senhor pode pegar essa flor. Ele agradeceu, mas não tirou a flor imediatamente. Rosinha perguntou:
-O quê foi, senhor Xavier? Não quer mais a rosa? Ele disse: - Sim – olhando para o chão. -Então pode pegar, disse ela. Não consigo! Ele respondeu e logo perguntou: -A senhorita tem compromisso? Ela riu um sorriso sem graça, por não entender, e disse que não. -Será
que
a
Rosa
me
faria
companhia?
Perguntou Xavier. -Claro! O senhor a coloca num vaso que ela ficará bem. Ele
ameaçou
pegar
a
rosa,
mas
olhou
novamente para Rosinha e disse: -A flor que eu quero é outra! Depois de alguns segundos em silêncio, ela perguntou se ele queria uma fatia de bolo... ...Eles se casaram, estão esperando o terceiro filho e vivem felizes.
Rosinha, mesmo passando todas as dificuldades que passou nunca deixou de acreditar que viveria um amor verdadeiro e que sua casa seria um lar. Xavier, certa vez, quando perguntado sobre o que seria quando crescesse, ele respondeu: Pai. Sonhos e expectativas se tornam concretas quando encontram outros com os mesmos sonhos e expectativas. O importante ĂŠ que isso nunca morra.
i s s uu. c om/ f abi nhol i ma c ont at oboas not i c i as @uol . c om. br
@f a_bi nhol i ma
f abi nhol i ma1977