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lâmina de cebola observada desde microscópio | autoria própria
3
“(...) É de sonho e de pó O destino de um só Feito eu perdido em pensamentos Sobre o meu cavalo É de laço e de nó De gibeira o jiló Dessa vida cumprida a Sol Sou caipira, Pirapora Nossa Senhora de Aparecida Ilumina a mina escura e funda O trem da minha vida (...)”
Romaria | Renato Teixeira 4
Agradeรงo imensamente a todos os familiares, amigos e mestres que me acompanham e me guiam nas ousadias da vida.
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS 5
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INTRODUÇÃO p. 8 CEASA CENTRO p. 11 Objeto de estudo | Ceasa Centro p. 13
ÍNDICE
Os hortifrutigranjeiros e o CEASA Centro de Ribeirão Preto p. 20 Problemas e desafios CEASA Centro p. 21 CEASA Centro: entorno, urbanidade e demandas históricas p. 32 O declínio das Estradas de Ferro p. 38 PANORAMA DA RMRP p. 45 Demandas da RMRP p. 45 Perspectivas sobre relações urbano-rurais p. 52 A importância e os desafios da Agricultura Familiar na produção de alimentos p. 57
PROJETO | GALPÕES E ENTORNO p. 64 Projeto da escala territorial e os cenários p. 65 Eixos de atuação p. 78 Primeiros Croquis p. 80 HIPERTERRITÓRIO | Caderno de Projeto p. 88 Plano Urbano p. 90 Perspectiva aérea p. 93 Galpões p. 94 Elevação e cortes p. 96 Cobertura p. 100 Renderizações p. 108 CONSIDERAÇÕES FINAIS p. 116 BIBLIOGRAFIA p. 119
ANÁLISE | APROXIMAÇÕES E DISCUSSÃO p. 58 Da agricultura ao planejamento da paisagem e compreensão territorial p. 59 Redes p. 62 7
INTRODUÇÃO
0
75
150 km MAPA 1 - Manchas urbanas e redes de transporte (autoria própria) | fonte IBGE, DNIT, ESRI)
8
Sem poder, nem
A abordagem que leva a criação de um
independência, as cidades
Hiperterritório exige um processo constante e
atender os usuários do galpão leva ao afastamento
podem abrigar bons
análogo à colcha de Penélope. Um labor diário de
da escala do trabalho, para uma abordagem da
súditos, no entanto,
fazer e desfazer análises da ordem do território e
Região Metropolitana de Ribeirão Preto (RMRP),
nunca poderão abrigar
do local; constantemente inquieto em sua escala
quanto a produção de alimentos, mobilidade
de abordagem, e sobretudo destrutivo - no sentido
inter-urbana e dinâmicas urbano-rurais.
cidadãos participativos. Alexis de Tocqueville
A
inesperada
necessidade
de
buscar
de buscar sempre a ruptura de paradigmas e de quaisquer tentações de uma visão parcial e
A compreensão sistêmica dos componentes
superficial, constituída por perguntas antigas e
constituintes do território abre um enriquecedor
respostas confortáveis.
leque de perspectivas na forma em como se direcionam as diretrizes de qualquer projeto
O objeto de estudo deste trabalho - região
urbano. A busca pela quebra de paradigmas e
dos galpões do Ceasa Centro em Ribeirão
de visões unilaterais sobre o dilema urbano-rural
Preto, exige um olhar multiescalar. Em uma
permite uma análise mais aprofundada sobre os
aproximação local sobre as cicatrizes urbanas
problemas aparentemente locais.
e demandas históricas do centro de Ribeirão Preto e bairros Vila Virgínia e Vila Tibério, a
Desse modo, é possível voltar a aproximar o
priori, é possível levantar necessidades de novas
escopo do trabalho, e retomar o objeto de estudo.
conexões urbanas, de uma urgente requalificação
A demanda por assistência (técnica e social), em
das margens do Córrego Laureano e sobretudo, de
paralelo com a solução de problemas de ordem
um projeto de restauro dos galpões supracitados,
local, levam ao projeto do Hiperterritório. Um
que configuram um grande vazio urbano em uma
território que estabelece uma rede entre o meio
área com grande potencial de desenvolvimento
urbano e rural, e promove a dualidade entre
urbano.
um espaço abrupto na cidade - exuberante em tecnologia - para construir uma imagem do futuro
Não obstante, em um olhar mais cauteloso
das relações locais, entre o homem do campo e da
foi identificada a demanda que ao mesmo tempo
cidade, discutindo sobre o papel da arquitetura
era latente e sutil. Na penumbra das madrugadas,
na cadeia de produção de alimentos, e sobre como
observou-se que um dos galpões estudados era
a cidade pode dialogar com seu entorno rural.
ocupado por uma feira de hortifrutigranjeiros da região.
INTRODUÇÃO
9
IMAGEM 1 - Galpรฃo A (autoria prรณpria | ano: 2018) 10
CEASA CENTRO CEASA CENTRO 11
ceagesp
ceasa
área de intervenção
tr Ra aça m do al Ja ta
hy
ceasa centro
IMAGEM 2 - Vista de satélite de Ribeirão Preto (autoria própria | fonte Google Earth) 12
Objeto de estudo | CEASA Centro
O conjunto das construções do Ceasa
É possível também localizar uma derivação
Centro, tal como consta no processo de solicitação
para acesso de locomotivas ao interior das
de tombamento iniciado em 18/08/2014, engloba
edificações. De acordo com o documento, a
quatro edificações: Galpão A, conhecido como
proximidade com o complexo da Rotunda, e com
“barracão CEAGESP”; Galpão B, atualmente onde
a própria estação de Ribeirão Preto, são fortes
ocorre uma feira de hortifrutigranjeiros; Balança
indícios de que as edificações foram criadas
de veículos; e a Caixa D’água. A área total do
em função da ferrovia, relato que também é
conjunto é de 43.581m², e a área ocupada é de
recorrente no discurso oral de cidadãos ribeirão-
24.105m² (Imagens 3, 4 e 5).
pretanos. bem
No decreto n.1849, do dia 29 de março de
ocorreu em reunião ordinária do CONPPAC - RP
1910, é concedida à Cia. Mogyana licença para
(Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural
a desapropriação e construção, em terrenos
do Município de Ribeirão Preto) em novembro
necessários, de estações, de armazéns e da
de 2014. Simultâneamente com o processo
linha férrea, que conectava o bairro Jatahy e
de
de
terminava em Ribeirão Preto. Tendo em vista
desmembramento do conjunto, que no entanto,
que a finalização do ramal se deu em 1925, é
não teve qualquer efeito prático nas questões de
possível estimar que o Galpão A pode ter sido
preservação.
construído entre 1913 e 1925. Quanto ao Galpão B,
O
tombamento
tombamento,
provisório
ocorreu
um
do
processo
não é possível observá-lo no mapa de 1925, apenas Os galpões são conhecidos por terem
sendo localizado no mapa de 1949, e desse modo,
pertencido ao CEAGESP, porém existem poucos
é possível localizá-lo nessa janela de 24 anos. De
documentos que atestem a trajetória do bem desde
acordo com o CONPPAC (2015) é mais provável
sua construção. De acordo com o parecer técnico
que tenha sido construído no início desse período
do CONPPAC - RP, em uma planta de Ribeirão
- tendo em vista o declínio econômico da Cia.
Preto de 1925, uma edificação com dimensões e
Mogiana e o fim da política de valorização do café.
localização compatíveis com o Galpão A pôde
Segundo a relatos orais recorrentes, os galpões
ser identificada (entre a Vila Virgínia, e o Córrego
eram utilizados como armazéns de café - de onde
Laureano, e o Córrego Ribeirão Preto). O “Mapa
se podia observar montes de café e um intenso
Geral” de Ribeirão Preto de 1940, contém os
uso.
galpões A e B, próximos ao “Ramal de Jatahy” da Estrada de Ferro da Cia. Mogyana.
CEASA CENTRO 13
vila tibério
av. do café
córrego laureano
av. bandeirantes
galpão B ceasa centro
galpão A abandonado
vila virgínia
IMAGEM 3 - Aproximação da imagem de satélite de Ribeirão Preto (autoria própria | fonte Google Earth) 14
rodoviária
No Decreto n.35599 de 6 de Outubro
Outros projetos foram cogitados para o
de 1959, são identificados os galpões n.63 e n.65
conjunto, tais como um Centro Administrativo
(Município de Casa Branca); n.67 (Galpão A) e
do Município (1997) e Centro Cultural (2009).
n.69 (Galpão B ) (Município de Ribeirão Preto),
Atualmente o estado de conservação dos galpões
como “Armazéns Reguladores”. Os Armazéns
é bastante díspar. O Galpão B, encontra-se ainda
Reguladores eram componentes importantes do
em condições de uso, com necessária substituição
sistema de venda e distribuição do café. Recebiam
do telhado e obras de acesso, enquanto o Galpão
e estocavam a safra dos produtores locais,
A encontra-se bem deteriorado, apenas com as
permitindo aos Governos Federal e Estadual o
paredes remanescentes e diversas lacunas.
controle sobre os preços do mercado através da liberação gradual das safras (CONPACC, 2015). Os galpões Armazéns Reguladores do Município de Casa Branca (Imagens 6 e 7) atualmente tiveram uso cedido para a empresa de estruturas metálicas Rohr, e encontram-se em bom estado de conservação, com algumas modificações que o adequaram para o novo uso.
câmara municipal
A história recente do conjunto em Ribeirão Preto é pouco conhecida, de modo que o fim do uso pelo CEAGESP provavelmente coincide com a construção do novo complexo do CEAGESP, da Via Anhanguera, em 1985. Entre 2002 e 2004, o Galpão B passou a ser utilizado pela PMRP para a implantação da Fábrica de Equipamentos Comunitários (FAEC), (CONPACC, 2015), iniciativa de João da Gama Filgueiras Lima (Lelé). Em 2003, também no Galpão B, foi implatado o Banco de Alimentos do Município , com cessão de parte do galpão para a Associação de Hortifrutigranjeiros de Ribeirão Preto e Região (uso atual conhecido e adotado neste trabalho como Ceasa Centro).
CEASA CENTRO 15
IMAGEM 4 - Galpรฃo B (autoria prรณpria | ano: 2018) 16
IMAGEM 5 - Interior do Galpรฃo B (autoria prรณpria | ano: 2018) CEASA CENTRO 17
IMAGEM 6 - Armazém Regulador de Café de Casa Branca (autoria própria | ano: 2019) 18
IMAGEM 7 - Armazém Regulador de Café de Casa Branca (autoria própria | ano: 2019)
CEASA CENTRO 19
Os hortifrutigranjeiros e o CEASA-Centro de Ribeirão Preto
Ribeirão
Devido ao espaço ter sido cedido com
Preto são comercializados os produtos de
urgência à Associação dos Hortifrutigranjeiros,
hortifrutigranjeiros da região. Apesar da cidade
o galpão ocupado pelo CEASA não possui
contar com outras duas centrais de abastecimento
condições ideais para o ofício do varejo, de forma
(o CEAGESP da Rod. Anhanguera, e o CEASA no
que por conta de deficientes condições térmicas e
bairro Ipiranga), a maior parte das hortaliças,
de acesso, parte dos produtos acabam perecendo
legumes e vegetais que abastece o setor centro e
durante o processo. Há uma falta de conexões
oeste da cidade são comercializados às segundas,
urbanas,
quartas e sextas no CEASA-Centro a partir das
improviso no uso do espaço – sendo que parte
22hs.
do galpão utilizável hoje é depósito da Prefeitura
No
CEASA-Centro
de
deplorável
acessibilidade
e
certo
Municipal de Ribeirão Preto (destinação de De grande relevância para a discussão da
carretas confiscadas), além de sede do Banco de
agricultura familiar da RMRP, o CEASA Centro
Alimentos – programa público que combate a fome
foi uma conquista por parte dos produtores, por
e o desperdício de alimentos por meio de doações.
meio de uma gradual pressão ao poder público
O acordo entre os hortifrutigranjeiros contempla
a fim de possuir um espaço mais adequado para
o uso do espaço em troca da manutenção do
a comercialização de seus produtos, outrora
Banco de Alimentos, eventuais despesas no
vendidos em feiras abertas em um local próximo.
espaço, e doação de 200kg/mês de produtos por
Parte considerável dos produtos é levada pelos
cada hortifrutigranjeiro que usufrui do espaço do
próprios agricultores em seus veículos pessoais
CEASA.
– entre eles camionetes, kombis e pequenos caminhões.
Atualmente o acesso ao CEASA-Centro é exclusivamente rodoviário, de modo que a antiga
A área em questão tem sido foco de
linha férrea da Cia. Mogiana (posteriormente
discussões na cidade, de modo que nos últimos
administrada pela FEPASA) está parcialmente
anos uma série de projetos vem sido cogitados
enterrada no local.
para os outros galpões próximos ao CEASA que estão em completo abandono.
20
produtos comercializados
Problemas e desafios CEASA Centro Para melhor determinação das diretrizes do projeto de intervenção, realizou-se uma entrevista com os usuários (produtores e atravessadores) do CEASA Centro em horário de pico de atividades (01h00-03h00) (Imagens 8-17). A primeira vista, os resultados (Gráficos 1, 2) expressam a clara necessidade de adequação organizacional e soluções para um melhor desempenho
termo-acústico
do
galpão
do
CEASA. No entanto, a questão estrutural da vulnerabilidade
do
GRÁFICO 1 - Produtos Comercializados (autoria própria)
produtor/atravessador
ficou latente à medida em que nenhum dos entrevistados tinha acesso à programas de assistência social (como o PRONAF e PPAIS), e
caracterização
sequer conhecimento da existência destes, apesar de serem qualificados para participarem dos mesmos. A questão da problemática do transporte e acessibilidade, já identificada em uma anterior aproximação da área, foi confirmada pelos entrevistados,
que
percorrem
dezenas
de
kilômetros para chegar no CEASA.
GRÁFICO 2 - Caracterização (autoria própria)
CEASA CENTRO 21
origem
A maioria dos usuários do CEASA Centro
A presença dos agricultores do CEASA em
se localizam no município de Ribeirão Preto,
diversas regiões da RMRP revelou a demanda de
sendo estes atravessadores que buscam produtos
uma nova aproximação de ordem terriorial para
em diversas localizações da RMRP. Quanto aos
estabelecer um panorama da agricultura familiar
produtores de fato, a maioria é oriunda de Monte
na RMRP, necessári0 para futuras implicações em
Alto, ao extremo Oeste da RMRP (Gráficos 3, 4 e 5).
diretrizes de políticas públicas.
GRÁFICO 3 - Origem dos produtores e atravessadores no Ceasa Centro (autoria própria)
22
comentários frequentes
avaliação
GRÁFICO 4 - Comentários frequentes dos usuários sobre Ceasa Centro (autoria própria)
GRÁFICO 5 - Avaliação dos hortifrutigranjeiros sobre o Ceasa Centro (autoria própria)
IMAGEM 8 - Galpรฃo B (autoria prรณpria | ano: 2019) CEASA CENTRO 23
24
IMAGEM 9 - Galpão B durante feira dos hortifrutigranjeiros no período da madrugada (autoria própria | ano: 2019) CEASA CENTRO 25
IMAGEM 10 - Hortaliças frescas | produção local (autoria própria | ano: 2019)
IMAGEM 11 - Variedade de produtos da feira dos hortifrutigranjeiros (autoria própria | ano: 2019) 26
IMAGENS 12 e 13 - Veículos estacionados no exterior do Galpão B(autoria própria | ano: 2019) CEASA CENTRO 27
IMAGEM 14 - Antigas máquinas de processar café (autoria própria | ano: 2019) 28
IMAGEM 15 - Abandono do Galpรฃo A (autoria prรณpria | ano: 2019)
IMAGEM 16 - Produtos locais (autoria prรณpria | ano: 2019) CEASA CENTRO 29
30
IMAGEM 17 - Produtores locais durante feira na madrugada (autoria prรณpria | ano: 2019) CEASA CENTRO 31
CEASA Centro: entorno, urbanidade e demandas históricas
¹ “O ponto 9 do Plano Diretor seria
A morfologia urbana da área é decorrente
A complexidade urbana quanto à falta
uma das linhas de projeção de maior
de um processo de ocupação de zonas de várzea,
de conectividade da região se dá a partir do
impacto no desenho urbano de Ribeirão
concomitantemente com a implantação das
momento em que a linha férrea consolidou uma
Preto, alterando profundamente a
linhas férreas da época de auge da cultura cafeeira
cicatriz urbana entre a Vila Virgínia e Vila Tibério.
configuração da ocupação de muitos bairros da periferia da cidade, além de proteger integralmente as várzeas dos rios urbanos, ainda desocupadas na década de 1940. Neste ponto do Plano Diretor, Oliveira Reis expõe a sua intenção de criar na cidade um sistema de áreas verdes através dos rios,
em Ribeirão Preto. A A história da cidade de Ribeirão Preto
férrea
importância para
foi
determinar
de
extrema
as relações
como um todo está atrelada com a ocupação
urbanas
entre o Centro - Vila Virgínia-
das zonas de várzea dos córregos e dos rios
Vila Tibério, de modo que a mesma criou
(principalmente o Rio Pardo e o córrego Ribeirão
ilhas
urbanas
de
características
diversas.
Preto). Inclusive, a criação do primeiro Plano Diretor de Ribeirão Preto em 1940 pelo urbanista
Com a retirada dos trilhos, houve
parques e avenidas, que funcionariam como
José de Oliveira Reis deixa clara essa preocupação
uma oportunidade de estabelecer um projeto
espaços livres florestados delimitando as
de acordo com DEMINICE, 2016 (¹) - apreensão que
urbanístico
intersecções de quadras e zonas urbanas
persiste na atual revisão do PD - 2017 (Imagens 18-
época dito a ser o maior do Brasil. Na edição
24; Desenho 1).
de 21/10/1976 do Diário da Manhã: “(...) é um
de diferentes tipos. Uma rede de espaços públicos, portanto, que aumentaria de forma exponencial a permeabilidade de áreas verdes na cidade, tendo um impacto significativo na amenização do clima, além de potencializar a sobrevivência de pássaros, plantas e nascentes de água. “ DEMINICE, 2016
de
um
corredor
ecológico,
na
grande desafio para a futura administração Os
galpões,
outrora
Armazéns
dar sentido ao que propôs o governador Paulo
Reguladores da Cia. Mogiana, estão na zona de
Egídio Martins: transformar uma área central
várzea do córrego Laureano e do córrego Ribeirão
de Ribeirão Preto numa das mais importantes
Preto. Esse local possui um importante papel
reservas ecológicas urbanas do Brasil. O desafio
ambiental, principalmente quanto à drenagem
é destinado principalmente ao próximo prefeito.”
urbana, para conter os históricos alagamentos que assolam a cidade desde sua fundação, e
Diário da Manhã – 21/10/76 , página 3
quanto ao papel ecológico da reserva de mata
“Retirada dos trilhos atrás da Rodoviária”.
ciliar lindeira ao córrego Laureano. Atualmente a área é ocupada por indústrias do agronegócio, chácaras e usos diversos implantados após a retirada dos trilhos da Cia. Mogiana em processo que ocorreu durante a década de 1970-80.
32
linha
Plano diretor de 1940 preocupação ecológica em estabelecer as várzeas do córrego Laureano e Ribeirão Preto para mitigar enchentes e problemas de drenagem urbana. Cicatrizes urbanas decorrentes da linha férrea também são bastante evidentes na ilustração ao lado.
rodoviária
Parque Maurílio Biagi o
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galpão A
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galpão B
vila virgínia
0
100
500m DESENHO 1 - desenho atual da área de intervenção (autoria prórpria) CEASA CENTRO 33
34
IMAGEM 18 - Rua General Osรณrio alagada (fonte acervo AHMRP) CEASA CENTRO 35
19
22
36
20
21
23
24
IMAGENS | 19. Maria Fumaça início do século XX | 20. Rua General Osório | 21. Antiga estação ferroviária | 22. e 23. Enchente na Av. Jerônimo Gonçalves (fonte acervo AHMRP) | 24. Enchente na Av. jerônimo Gonçalves em 2019 (fonte CBN RP) CEASA CENTRO 37
O declínio das Estradas de Ferro
O processo da fundação da cidade de
De acordo com o antigo Ministério da
Ribeirão Preto esteve intimamente ligado ao
Viação e Obras Públicas em documento de
auge e
expedições em direção ao interior do
regulamentação geral das Estradas de Ferro em
Estado de São Paulo durante o ciclo do café em
1940, os trens eram classificados segundo a sua
meados do século XIX. A inevitável demanda pelo
natureza de transporte, marcha e percurso. As
escoamento de sua produção exigiu a chegada das
classificações quanto ao transporte eram:
Estradas de Ferro em seu território, quando ainda era chamada de Villa Entre Rios. Assim, houve a chegada da Cia. Mogiana de Estradas de Ferro em 1883 - que viria a se tornar FEPASA (1971-1976) - e da Estrada de Ferro Sorocabana posteriormente a partir de 1971, esta última extinta e absorvida pela Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA) que por sua vez foi dissolvida em consórcios. Na década de 1930, o café ainda era a principal mercadoria transportada, seguido pela madeira e algodão, de modo que a porcentagem da receita auferida para a Sorocabana era de aproximadamente 15%, 12% e 6% respectivamente em 1936. Era notável um significativo aumento
- Trens mistos; trens de carga (mercadorias e animais); trens de passageiros; Quanto à sua marcha eram: - Trens regulares; trens facultativos; trens especiais Os trens de passageiros poderiam também ser classificados quanto ao percurso em: - Trens de longo percurso; trens de pequeno percurso; trens de subúrbios. Imigrantes
eram
transportados
no transporte de frutas e de cimento, além do
gratuitamente em 2ª classe, nos trens regulares
transporte de passageiros, de modo que em 1936
ou especiais.
5.498.816 viajantes utilizaram as Estradas de Ferro da Sorocabana, correspondendo a 16% da receita
A extensa malha ferroviária crescia com
- constituindo, portanto, sua fonte principal
a vitalidade da força econômica, e a notável
de renda (SOUTO 1937). O número de viajantes
expansão sofre um sério empecilho com a
dos anos 1932, 1933, 1934, 1935 e 1936, foram
queda brusca da receita em 1930, em decorrência
respectivamente, 2.976.884; 3.291.851; 3.904.150;
da súbita depressão econômica mundial, da
4.977.960; 5.498.816 (SOUTO 1937).
decorrada do plano valorizador do café e do “crack” de Nova York em 1927 (SOUTO 1937).
38
O custeio das linhas férreas se tornou
dos centros de produção agrícola para novas zonas
elevado em deccorência da alta de preço de
do Oeste.”. O problema do sistema ferroviário, tão
materiais de origem estrangeira, tais como metais,
amplamente utilizado nos princípios da expansão
aço e o carvão, essenciais para a vida das estradas
da economia brasileira, era a falta da constituição
de ferro, devido à situação cambial.
de um sistema nacional, com a interligação de sistemas regionais esparsos, e no entrosamento
No ano de 1956, foi realizada a Semana
dessa rede com o sistema rodoviário e com os rios
de Debates sôbre Transportes, promovida pelo
navegáveis, na melhoria de seus grandes troncos
Instituto de Engenharia, em decorrência do
e no completo reequipamento de suas linhas. A
ritmo acelerado do processo de urbanização e
modernização e ampliação do sistema ferroviário,
industrialização das cidades e grandes capitais
no entanto, nunca veio a ocorrer da forma que era
brasileiras. De acordo com a fala do Eng. Plínio de
desejada e discutida durante essa semana.
Queiroz, presidente do instituto supradito, uma das grandes causas da instabilidade financeira
As incursões para a expansão da estrada
e do estrangulamento da produção, e dos
de ferro para regiões fracamente povoadas
empecilhos para o desenvolvimento econômico
e
do Brasil era a falta de coordenação dos sistemas
finalidade política e administrativa de integrar
de transporte. Ficou clara a ineficiência apontada
na comunidade brasileira populações que aí
pelo sistema de transporte de carga e passageiros -
habitavam, acarretou em um crescente número
majoritariamente ferroviário. “(...) Assim, por causa
de despesas injustificadas, uma vez que essa
do consequente aumento do percurso médio, o
integração passou a ocorrer inteiramente pela
índice de transportes traduz o aumento rápido
aviação e pelo rádio. O papel pioneiro de despertar
do transporte rodoviário e aéreo que, em 1939, era
essas zonas e de aí criar riquezas coube então
relativamente pouco importante. As estradas de
às estradas de rodagem. Durante esse evento
ferro, a navegação de cabotagem e fluvial, os mais
foi feito um apelo para a inclusão do transporte
importantes meios de transporte de massas no
fluvial como sistema próprio no Plano de Viação
Brasil, ao mesmo tempo que os trens de subúrbio
Nacional - que estava sob revisão desde 1946,
e os bondes, que são os mais baratos meios de
de forma que os modais fluviais e ferroviários
transporte de passageiros, não acompanharam o
seriam na época os mais adequados meios de
crescimento geométrico da procura decorrente da
transporte de massas, sendo o modal fluvial o
industrialização, urbanização e do deslocamento
mais econômico.
economicamente
inexpressivas,
com
a
CEASA CENTRO 39
DIÁRIO DA MANHÃ. Retirada do pátio de
O pessimismo com relação à manutenção das Estradas de Ferro foi acarretada pela crescente baixa percentual nos saldos de custeio do sistema, que finalmente tornou-se deficitário
manobras. Estação Mogiana. 02/10/64:
Estação Mogiana. Estação Mogiana. 03/10/67
“TODO ESSE ESPAÇO FICARÁ LIVRE.
“DEMOLIÇÃO DA VELHA ESTAÇÃO
Atual situação do pátio de manobras da Cia.
CONTINUA. As obras de demolição da
Mogiana, a velha estação, oficinas, depósito
Estação e Armazéns da Cia. Mogiana
de Carros, a casa das máquinas - rotunda -
continuam em ritmo acelerado, modificando
prejuízos decorrentes do excesso de pessoal e
(que do alto se assemelha ao Maracanazinho),
fundamentalmente a paisagem da baixada
custos de manutenção, que por exemplo, apenas
avançando até a rua Guatapará. São os
de Ribeirão Preto. Operários da Prefeitura
na Cia Mogiana era de 20 milhões de cruzeiros
terrenos da Mogiana seccionando a cidade
trabalham com entusiasmo, derrubando
por ano.
dos bairros. Com a transferência dessas
por completo a velha estação até a altura
instalações para a esplanada do Tanquinho,
da rua General Osório, estando a demolição
A situação economicamente grave das
a área ficará livre, para a execução de um
agora sendo continuada nos armazéns que
Estradas de Ferro ocorria em paralelo com a
fabuloso plano urbanístico, com parque
margeiam a rua Augusto Severo. O flagrante
florestal, jardim de infância, jardim público,
mostra o aspecto da paisagem após a
aproveitando o grande armazém de 200
demolição da antiga gare de nossa principal
metros para ser adaptado para a estação
ferrovia.”
em 1946. Era esperado que entre 1947 e 1956 o déficit global saltasse de 520 milhões de cruzeiros para 10.318 milhões, sem contar com outros
insatisfação popular pela falta de conforto das Estradas de Ferro. O trem, que antes era o único meio disponível de transporte para longas e médias distâncias, era quente, barulhento e pouco confortável. A chegada do automóvel, e sua atmosfera de modernidade rápidamente ganhou o apelo popular, no contexto de uma imersão do Brasil em um modelo econômico capitalista industrial. O governo de Juscelino Kubitschek, de 31 de janeiro de 1956 – 31 de janeiro de 1961 foi um dos marcos da ascensão do modal rodoviarista, culminando na construção de Brasília e em grandes projetos de rodovias e de infraestrutura viária. O sucessivo desmonte do modal ferroviário era inevitável, com o fim da Cia Mogiana e da Sorocabana, absorvidas pela FEPASA, as décadas de 60 e 70 foram marcadas pelo fim do trem (Imagens 25, 26 e 27).
40
DIÁRIO DA MANHÃ. Demolição da velha
rodoviária, uma ‘high way’ (auto-estrada de 60 metros de largura).”.
IMAGEM 25 e 26 - Retirada do pátio de manobras e Demolição da velha Estação Mogiana, respectivamente | (fonte Diário da Manhã | Ribeirão Preto)
CEASA CENTRO 41
DIÁRIO DA MANHÃ. Retirada dos trilhos do ramal Guatapará C.J.J. Estação Mogiana. 16/10/76
“ÁREA DA FEPASA ESTÁ SENDO
de um plano para esta área, ela não só será realmente uma exepcional reserva ecológica
‘DESOCUPADA’: isto é um desafio.
como um sensacional parque de lazer do É um grande desafio para a futura
povo ribeirãopretano. (...) abre-se em Ribeirão
administração dar sentido ao que propôs
Preto, como já se afirmou, possibilidades
o
Martins:
imensas de urbanização: existe uma área
transformar uma área central de Ribeirão
central com ordem direta do governador
Preto numa das mais importantes reservas
para ser usada como reserva ecológica.
ecológicas urbanas do Brasil. O desafio é
Reserva que precisa ser criada . Desafio para
destinado ao próximo prefeito.
a imaginação da cidade, especialmente para
governador
Paulo
Egídio
o futuro prefeito. Chegou o momento de
42
A retirada dos trilhos da área da
Ribeirão Preto desmentir todo o seu passado
FEPASA está oferecendo uma oportunidade
de
inobservância
dos
princípios
mais
ímpar ao Município. (...) a área ao longo da
elementares do urbanismo: aqui como todos
nova rodoviária que seria um loteamento (...)
sabem, nunca se respeitaram as reservas
resultou em doação para o Município de toda
verdes e a vegetação - o Bosque é um exemplo
a área, tendo o chefe do Executivo paulista
- e está é a grande oportunidade de criar algo
o cuidado de determinar no seu despacho:
de importância ecológica na cidade.
<desde que seja usada como área verde> (...) a
Há poucos dias registramos aqui que
insistência é para marcar bem que tudo está
Uberlândia mandou chamar o paisagista
claro: não há possibilidade de contrariar o
Burle Marx para projetar um jardim bem
governador.
pequeno em relação a área da FEPASA. Por
(...) A área é muito grande e deverá ser desde
que não <<pensar grande>> e entregar a área
que obedecidas as diretrizes do governo de São
da FEPASA a um homem como Burle Marx?
Paulo, a mais importante reserva ecológica
Por que não transformar o centro urbano
urbana do Brasil, pois está situada no centro
de Ribeirão Preto numa das coisas mais
da cidade. Havendo cuidado na elaboração
importantes do Brasil?. C.J.J. “
DIÁRIO DA MANHÃ. Retirada dos trilhos do ramal Guatapará Estação Mogiana. 16/10/76
Até ontem o pessoal da FEPASA já havia retirado mais de 400 metros de trilhos nas imediações da nova rodoviária e dentro de mais alguns dias eles terminam todo o trajeto até a avenida Pedro I. No entanto, para a limpeza total do antigo ramal de Guatapará, demora ainda alguns meses. Ontem os homens da FEPASA, quase uns cinquenta,
divididos
em
duas
turmas
retiravam os trilhos existentes entre os inícios das ruas General Osório e Santos Dumont, um trabalho demorado devido ao asfalto que calefata os trilhos. (...) no local existem quase trinta trilhos e contratrilhos. (...) A estrada coloca os trilhos usais que são quatro, dois para cada sentido e nos intervalos são postos pedações de trilhos para facilitar o tráfego de
IMAGEM 27 - Retirada dos trilhos do ramal Guatapará | (fonte Diário da Manhã | Ribeirão Preto)
veículos. (...) Quanto ao restante do ramal da antiga Guatapará, dentro de alguns meses eles terminam todo o trabalho ficando a cidade completamente limpa dos incômodos trilhos que tanto atrapalham o trânsito da cidade.
CEASA CENTRO 43
sub-região 4
sub-região 2 sub-região 3
sub-região 1
0
10
20 km MAPA 2 - Mapa administrativo e sub-regiões de Ribeirão Preto (autoria própria | fonte IBGE, EMPLASA)
44
Demandas da RMRP (Região Metropolitana de Ribeirão Preto)
PANORAMA DA RMRP
A RMRP compreende 34 municípios
agrícolas, de forma que os produtos agrícolas
com ao todo 1,7 milhões de habitantes (Censo
de maior destaque são a soja, a cana-de-açúcar
demográfico, IBGE 2010), foi criada pela Lei
e a laranja (DEL FIORI, 2016), e predominância
Complementar Nº 1.290, de 06 de julho de 2016,
da atividade sucroalcooleira (EMPLASA 2019
e possui localização estratégica em meio à eixos
(b) ). No entanto, apesar de que a maior parte
viários que acessam o Porto de Santos, São
da área cultivada seja destinada à produção
Paulo/Campinas, o Distrito Federal e o Triângulo
de commodities, a presença de agricultores
Mineiro. Para efeito de análise, a região foi
familiares com produção de frutas, verduras
dividida pela EMPLASA em quatro sub-regiões
(hidropônicas ou orgânicas) também é apontada
de características socioeconômicas similares
como uma vantagem competitiva da RMRP
(EMPLASA 2019 (a) ).
(EMPLASA 2019 (c)). Nas pesquisas realizadas pela EMPLASA para a consulta pública da
A Sub-Região 1 (ver MAPA 2) é a de maior
RMRP, a alta dependência da região pela
população e percentual no PIB da RMRP e possui
produção sucroalcooleira é identificada como
15 municípios e 1.114.931 habitantes, de forma que
um problema, de modo que também se pontua
o município de Ribeirão Preto é o mais populoso
que não existe uma formalização da produção da
da região, com 60% dos habitantes. A taxa média
agricultura familiar e demanda-se a simplificação
de crescimento da Sub-Região 1 entre 2010 e 2018
do processo de habilitação dos mesmos para a
foi de 10,7%, significativamente mais acentuado
comercialização com o poder público (EMPLASA
do que a média do Estado de São Paulo (de
2019 (c) ).
6,7% no mesmo período). Entre os principais investimentos anunciados, o setor do comércio
Concomitante aos desafios de ordem
atacadista de mercadorias com predominância
agrícola, é indispensável analisar a situação
de produtos alimentícios receberá verba de 22
atual de mobilidade intermunicipal da região
milhões de reais, e os terminais rodoviários
metropolitana.
e ferroviários receberão 30 milhões de reais
EMPLASA para a consulta pública no início
(EMPLASA 2019 (d) ).’
de 2019, também aponta-se como problemas:
Na
pesquisa
realizada
pelo
a ausência de um planejamento regional, a Quanto à sua produção agrícola, a Região
inexistência
de
um
transporte
intermodal
Metropolitana de Ribeirão Preto pode ser
para cargas (com raras exceções de certas
caracterizada pela predominância de grandes
empresas), a pouca eficiência e sucesso nas
propriedades (EMPLASA, 2019 (a)), com nível
ações de planejamento regional quanto à
tecnológico elevado e com forte presença de
mobilidade,
identificando-se
a
dependência
máquinas .
PANORAMA DA RMRP 45
do modal rodoviário para o escoamento da
um lado, à fragilidade teórica e metodológica
produção industrial e agrícola como uma ameaça
adotada até então, e por outro lado, pela própria
ao desenvolvimento da região (EMPLASA 2019 (c)),
diversidade da realidade socioespacial brasileira.
tal como foi observado durante a Crise do Diesel
Ainda segundo a autora, é possível reconhecer
em 2018, decorrente da greve dos caminhoneiros
ao menos quatro tipos de ocorrências e situações
– cujo impacto foi visível na economia local e na
das pequenas cidades brasileiras:
disponibilidade de produtos/alimentos na região. -
Reflexões sobre o planejamento territorial na RMRP A composta
configuração
territorial
majoritariamente
por
da
RMRP,
Cidades
inseridas
em
áreas
economicamente dinâmicas, como nas áreas de agricultura moderna, que conseguem atender as demandas básicas da sua população;
pequenas
- Cidades inseridas em um contexto
cidades articuladas com seus entornos rurais e
socioecônomico mais amplo e definidas por
cidades médias altamente competitivas em suas
características marcantes, relacionadas com:
dinâmicas sócio-econômicas, abre o caminho
turismo,
para dicussões e novas abordagens sobre como o
culturais e feiras;
industrias,
religião,
manifestações
projeto pode atuar no espaço urbano-rural como potencializador de suas relações, tanto do ponto de vista de novas políticas públicas como de seus
-
Cidades
localizadas
nos
entornos
metropolitanos.
efeitos no tecido urbano-rural. Inserindo os municípios da RMRP nessa
46
O projeto de paisagem, e desses vazios entre
análise é possível identificar todas as ocorrências,
as cidades - espaços intermediários entre uma
de modo que é importante salientar o papel dos
mancha urbana e outra, são fundamentais para
processos de êxodo rural nos fluxos migratórios,
a estruturação dessas localidades, e compreendê-
e seu impacto no papel socioecônomico da
los torna-se uma tarefa teoricamente complexa
cidade em seu entorno metropolitano. Na
à medida em que há uma dificuldade no estudo
subregião 2, por exemplo, o papel das pequenas
e conceituação dessas localidades. De acordo
cidades está intimamente relacionado com a
com Melo (2008) as dificuldades no estudo
existência da agricultura familiar, apontada pelo
e análise das pequenas cidades se deve, por
EMPLASA (2019 (c)) como um dos estruturadores
econômicos da região. Dessa forma, assegurar
urbano-rurais pré-existentes e futuras (LANGER,
a permanência do pequeno agricultor, por meio
2019). De acordo com a Profª. Dr.-Ing. Sigrun
de políticas públicas e projetos que vislumbrem
Langner (2019), um dos grandes dilemas do
a realidade do homem do campo e suas
planejamento reside no fato de que os desafios
necessidades, é um fator chave para impedir o
sociais a serem enfrentados, seja atualmente ou
processo de esvaziamento dessas cidades, além
nas próximas gerações, tais como a adaptação
de garantir um importante papel sócioeconômico
às mudanças climáticas, aumento demográfico,
na produção e distribuição de alimentos de forma
desigualdade social, equidade de oportunidades e
local - e abrir possibilidades de novas categorias
a promoção de inovação cultural e econômica são
de pequenas cidades relevantes em seu entorno.
encarados apenas na perspectiva urbana. Desse modo, as discussões sobre o futuro da sociedade
De acordo com Fernandes (2018) as políticas públicas, a imprensa e a sociedade em geral
sempre estão atrelados quase que exclusivamente às grandes cidades e as áreas metropolitanas.
devem destacar as pequenas cidades no intuito quantidade,
Não obstante, os avanços tecnológicos,
diversidade e, principalmente, seus problemas
tais como em transporte e TIC (Tecnologias da
para serem reconhecidas como importantes
informação e comunicação), além das diversas
componentes
sociedade
e onipresentes formas de mídia têm erodido os
brasileira, de modo que a realidade urbana
tradicionais limites entre o meio urbano e rural,
brasileira é composta por no mínimo 60% de
o que demanda uma nova perspectiva sistêmica
cidades pequenas (até 15 mil habitantes).
com relação ao território, evitando a visão parcial
de
demonstrar
sua
expressiva
socioecômicos
da
e unilateral a respeito de seus componentes. É importante romper com as dicotomias e dualismos simplistas que criam um confronto
No entanto, adotar essa nova perspectiva
entre a cidade “moderna”, progressista e avançada
supracitada sobre as relações urbano-rurais exige
a as áreas pré-modernas, atrasadas e em declínio.
também um esforço teórico de avaliar o conceito de
A perspectiva unilateral do urbanista que observa
meio rural. A OECD (Organização para a Cooperação
as transformações sócio-espaciais do processo
e Desenvolvimento Económico) define as
de urbanização de áreas rurais e suburbanas
rurais apenas pela densidade populacional, o
(incluindo
ser
que teoricamente é bastante insatisfatório, de
enriquecida por novas possibilidades das relações
acordo com Edoardo Pizzoli (FAO-ONU 2007).
as
pequenas
cidades)
deve
áreas
PANORAMA DA RMRP 47
Novas frentes de literatura no âmbito
organizações
e
de
dialetos/sotaques;
que
teórico e político devem ser incluídas na
muitas vezes se dissolvem com os efeitos
consolidação das tipologias urbanas e rurais, de
de uma economia e cultura globalizada das
modo que o paradigma de que o meio rural implica
médias e grandes cidades. Alguns exemplos de
em atividades agricolas e em baixa densidade
manifestações culturais, imbuidas em um senso
populacional não é necessariamente verdadeiro.
de ruralidade, na RMRP são a Festa da Colheita
Uma classificação mais abrangente adotada no
(Imagem 28), em Guatapará - colônia de imigrantes
Reino Unido para fins estatísticos e políticos,
nipônicos, onde se preservou o uso cotidiano do
define 8 tipos de tipologias urbano-rurais, 6 das
idioma japonês e tradições agrícolas; e a Festa
quais são apenas rurais.
das Congadas (Imagem 29) em Santo Antônio da Alegria - manifestação cultural e religiosa afro-
Para
estabelecer
as
tipologias
são
brasileira muito antiga, que se constitui em um
analisados os seguintes fatores (DEFRA, 2005):
bailado dramático com canto e música que recria
Atividades econômicas (incluindo agricultura);
a coroação de um rei do Congo.
Características de estruturação sócio-econômica; Dimensão espacial de organizações sociais; e
Tal característica de identidade rural, associada às pequenas cidades da região, configura
Características do meio físico/natural.
um potencial de atividades turísticas na RMRP Outro fator não levado em conta, porém
pouco explorada, já apontada pelo EMPLASA
estabelece
na
como um futuro vetor de desenvolvimento. É de
avaliação do que de fato é o meio rural, é o
importante ressalva indicar que tais atividades
senso de ruralidade inerente à sua localidade
já ocorrem por meio da busca de espaços para
e contexto. As práticas e costumes observados
usufruir de experiências características de uma
no campo, muitas vezes são instrumentos de
ambiência rural encontrada em hoteis fazenda,
manutenção cultural de uma região, perservando
pesque-e-pagues, cachoeiras e sítios - todos estes
aspectos
conhecimento
próximos da natureza. O desafio está em superar
manifestações
as extensas distâncias por meio de uma rede de
culturais, de costumes e práticas alimentares,
mobilidade mais eficiênte e diversificada, uma
de conhecimento e domínio de determinados
vez que atualmente essas conexões são apenas
aspectos naturais e de produção de alimentos,
rodoviárias.
que
tradicional
do
um
profundo
folclore,
associado
(*),
de de
impacto
de senso de pertencimento, de sistemas de
(*) De acordo com a a Lei nº 13.123, de 20 de maio de 2015, que dispõe sobre o acesso ao patrimônio genético, sobre a proteção e o acesso ao conhecimento tradicional associado e sobre a repartição de benefícios para conservação e uso sustentável da biodiversidade. Conforme o inciso II do art. 2º da Lei nº 13.123, de 20 de maio de 2015, “conhecimento tradicional associado” ao patrimônio genético, significa: “informação ou prática de população indígena, comunidade tradicional ou agricultor tradicional sobre as propriedades ou usos diretos ou indiretos associada ao patrimônio genético”. Pode ser de origem não identificável “(...) em que não há a possibilidade de vincular a sua origem a, pelo menos, uma população indígena, comunidade tradicional ou agricultor tradicional”. (Art. 2º, inciso III).; ou identificável (...) “qualquer população indígena, comunidade tradicional ou agricultor 48 tradicional que cria, desenvolve, detém ou conserva determinado conhecimento tradicional associado”. (Art. 12, § 2º do Decreto nº 8.772, de 2016).
IMAGEM 28 - Festa da Colheita - Guataparรก | (fonte g1.globo.com ) PANORAMA DA RMRP 49
IMAGEM 29 - Festa das Congadas - Santo Antônio da Alegria | (autor “Grupo Terno de Sainha Irmãos Paiva”) 50
IMAGEM 30 - Fragmento de paisagem rural. Av. Bandeirantes RMRP | (autoria prรณpria) PANORAMA DA RMRP 51
Perspectivas sobre relações urbano-rurais
A
população
rural
no
Brasil
O planejamento do território municipal
subdimensionada. De acordo com uma pesquisa
deve ser integral como define o artigo 40 do
do Ministério do Desenvolvimento Agrário
Estatuto da cidade (Lei 10250/2001). Não obstante,
“(...) o rural não é uma categoria a-histórica,
(MDA), 36% da população brasileira é rural
fortuitamente,
criar
que se possa definir de maneira essencialista,
(contradizendo os dados do IBGE, que apontam
associações entre essas dimensões territoriais
16%), o que equivale a aproximadamente 75
nas suas estratégias de desenvolvimento e
independentemente do tempo e do lugar.
milhões de pessoas (BITOUN et al, 2014). Esses
regulação dos usos do solo. O poder público tem
dados conflitantes implicam em imprecisão e
o dever de se encarregar do ordenamento dos
incoerência na formulação de políticas públicas
territórios municipais – evitando uma ocupação
nos territórios urbanos, rurais e regionais. As
desordenada – assim como tem o compromisso
áreas rurais comumente são tratadas como
de adotar uma política de transportes públicos
reserva para uma futura expansão urbana, ou
ousada e ordenadora da mobilidade urbana e
expansão da fronteira agrícola da indústria
a mobilidade dos espaços rurais de modo sócio-
agropecuária. Segundo BITOUN et al, (2015), os
economicamente responsável (Bitoun et al, 2015).
os
planos
conseguem
Diferente disso, as formas de definir o que é o rural guardam direta correspondência com a trajetória da formação social brasileira. Trata-se de uma definição relacional, cujas bases são as interdependências do rural com outras esferas da vida social, seja no domínio de sua base material, seja no domínio das representações. (...) existe um vazio institucional que há nas formas de
mecanismos de especulação imobiliária levam os municípios a legalizarem a expansão urbana
Dessa forma, decorrem implicações que
regulação territorial do rural brasileiro,
para serem viabilizados loteamentos irregulares
não se limitam ao desenvolvimento urbano,
fator que se explica em grande medida pelo
conforme a Lei n°6766/79 de parcelamento do solo,
mas abrangem o desenvolvimento rural, sendo
caráter periférico e residual conferido a estes
que estabelece a possibilidade de loteamentos
necessário
da
espaços nas estratégias e na ideologia do
transformando solo rural em solo urbano.
agricultura familiar, estreitando as relações das
desenvolvimento brasileiro, especialmente
pensar
o
desenvolvimento
cidades com o meio rural. A indissociação das
52
O Espaço Rural
é
Desse modo, analisar as porções de
cidades e do campo precisa ser analisada nos
território urbano e rural nas cidades tem
estudos sobre desenvolvimento territorial em
rebatimento direto na qualidade de planos,
suas múltiplas faces. No livro “Territories - Rural
projetos e políticas de desenvolvimento territorial.
Urban Strategies” (LINO et al, 2016), é elencada a
Na escala local, uma análise aprofundada quanto
necessidade de uma aproximação de múltiplas
aos fragmentos territóriais implica na qualidade
soluções projetuais para essa dinâmica complexa
dos planos diretores municipais e na necessidade
e multifacetada. De acordo com SCHRODER
de adaptação dos instrumentos previstos na Lei
2016, é sugerida uma abordagem tripla para
do Estatuto da Cidade para a diversidade das
compreender o espaço de intersecção urbano-
características urbano-rurais no Brasil.
rural:
as que foram hegemônicas no século XX.” (BITOUN et al, 2014).
- Efetuar uma aproximação multiescalar
O próprio termo “território”, tantas vezes
para compreender as novas demandas de
citado neste trabalho, é um polinômio de difícil
interfaces entre assentamentos, infraestrutura e
compreensão desde os efeitos da globalização
espaços naturais em diferentes materiais, planos
nos anos 90, que desencadeou um processo de
e escalas legais;
fragmentação dos conceitos componentes do espaço, seja ele regional, rural ou urbano; nas
- Construir pontes para a resignificação de
políticas
públicas
desenvolvimento,
de
construção
e
transporte,
agricultura
e
suas dimensões culturais, legais e econômicas (SCHRODER, 2016). Como forma de atualização do termo, o
proteção natural;
estúdio Guallart Architects - cujo sócio-diretor - Fortalecer a análise e evaluação territorial,
é fundador da IaaC (Instituto de Arquitectura
incrementando os parâmetros e indicadores
Avanzada de Catalunia) - criou o projeto
- de forma a afunilar os aspectos espaciais em
HyperCatalunia em 2003 (Imagem 31). Em
ferramentas - assim identificando padrões para
conjunto com especialistas de diversas áreas,
correlacionar os lugares em contextos mais
o projeto foi criado com o objetivo de descobrir
amplos, do ponto de vista de conexões e fluxos.
novas categorias de construções e estratégias
Conforme desenvolvimento
ARAÚJO regional
(2014),
implica
o
entender
a relação entre os dois polos territoriais supracitados. No entanto, o desenvolvimento mais equilibrado das regiões brasileiras requer um projeto que resulte de uma abordagem nacional que evidencie as muitas potencialidades do território do ponto de vista da indústria, dos serviços, da geração de energia, da produção de bens alimentares, do turismo e etc.. De acordo a autora, “valorizar a diversidade regional brasileira é uma opção estratégica da maior importância para promover um desenvolvimento regional
para um território em processo de constante mutação. O estúdio estimou que até 2375 não haveria mais terras livres para construção, e assim, surgiu a demanda de um plano que pudesse ordenar e ocupar territórios de grandes dimensões - cidades, países e continentes. Ocupar o território passou a ser compreendido como um processo de engenharia paisagística, hibridizando aspectos naturais e artificiais, em uma constante ambiguidade que culmina em novas estruturas e novas materialidades. As construções se tornam erupções de uma lava perfomática capaz de ser ocupada.
mais harmônico”.
PANORAMA DA RMRP 53
De acordo com o estúdio, se a arquitetura
uma aproximação local, onde o espaço importa, e
é paisagem, as construções são montanhas.
molda o potencial desenvolvimento, não apenas
HyperCatalunia foi um projeto importante
de territórios, porém dos indivíduos que ali
para definir o termo de “territórios de pesquisa”,
habitam.
que incluem não apenas áreas metropolitanas e subúrbios, não obstante, pequenas cidades, grandes
áreas
rurais,
pontos
turísticos,
espaços naturais e espaços agrícolas. Abrese a possibilidade de uma geo-estratégia de planejamento, multipolar e sintética - um processo de prospectiva que resignifica territórios físicos e virtuais dentro de um novo “hiperterritório” (SCHRODER, 2016). Retomando o âmbito nacional, é evidente a necessidade de criar as condições políticas de promoção de conciliações e alianças territoriais que sejam consolidadoras das redes e tecidos sociais de coesão dos territórios rurais, com a participação de um diversificado conjunto de atores e agentes sociais (BITOUN et al 2015). De acordo com Bitoun, discute-se a criação de um campo político que dispute a construção de um novo padrão de “civilização” para os territórios rurais, tendo por base a paridade no atendimento dos serviços públicos essenciais e no acesso aos direitos para as populações que vivem nas áreas rurais e urbanas. Um campo de forças que desperta nas demais forças da sociedade um interesse pela valorização dos espaços rurais e o reconhecimento de sua importância para o desenvolvimento de um projeto democrático, inclusivo e sustentável de país. No entanto, conforme SCHRODER (2016), as políticas públicas não devem ser de cima para baixo, parcialmente cegas e impositivas, e sim, concebidas por meio de
54
IMAGEM 31 - Perspectiva do projeto HyperCatalunia (autoria: Guallart Architects | fonte /www.guallart.com) PANORAMA DA RMRP 55
IMAGEM 32 - Caixotes de hortaliรงas no Ceasa Centro | (autoria prรณpria | ano: 2019) 56
A importância e os desafios da Agricultura Familiar na produção de alimentos De acordo com a Lei
Apesar da pequena dimensão em área
social da produção de alimentos e da propriedade
Federal n. 11.326, de 24
em comparação com as grandes propriedades
rural (GUILHOTO et al 2007); são fonte de
agrícolas
à
recursos para as famílias com menor renda; e
é
também contribuem fortemente para a geração
responsável pela produção de cerca de 60% dos
de riqueza, considerando a economia brasileira
alimentos básicos consumidos pelos brasileiros.
como um todo (GUILHOTO et al 2007). Não
Aproximadamente 85% das propriedades rurais
obstante sua importância, a agricultura familiar
no Brasil são de agricultores familiares e cerca de
atualmente enfrenta severos desafios, tais como
38% do PIB correspondente à produção agrícola
o desequilíbrio entre os rendimentos auferidos
é proveniente desta modalidade de produtores
dentro da propriedade agrícola e os salários pagos
(Censo Agropecuário - IBGE 2006).
no mercado de trabalho fora da propriedade
de julho de 2006, no artigo 3º as principais características para a definição do agricultor familiar são: I – a área máxima da propriedade deve
latifundiárias
commodities,
a
direcionadas
agricultura
familiar
agrícola, de modo que baixas condições de
corresponder a quatro
Pelo fato de possuir vital importância
acúmulo de renda, vide certa imprevisibilidade na
módulos fiscais;
para a oferta de alimentos, principalmente da
rentabilidade da produção, força os trabalhadores
II – a mão de obra
modalidade da horticultura, frutas e grãos, a
a buscarem trabalho fora de sua propriedade,
utilizada nas
agricultura familiar é um elemento importante
gerando situações de subemprego (DEL FIORI
atividades econômicas
para a garantia da Segurança Alimentar e
2016), e vulnerabilidade socioeconômica.
deve ser em maioria
Nutricional (SAN) – amparada pela Lei nº 11.346, de
familiar;
15 de setembro de 2006, criadora do SISAN (Sistema
Outros notáveis desafios são: a dificuldade
Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional),
no financiamento – apesar da existência de
cuja agenda indica que é responsabilidade do
políticas públicas como o PRONAF (Programa
Estado garantir uma alimentação adequada
de Fortalecimento da Agricultura Familiar) e, no
aos cidadãos brasileiros, de modo socialmente
caso do Estado de São Paulo, o PPAIS (Programa
responsável e sustentável.
Paulista de Agricultura de Interesse Social),
III – o maior percentual de renda deve ser obtido das atividades econômicas do estabelecimento.
devido à falta de acessibilidade aos centros de Além
disso,
as
pequenas/médias
assistência; a baixa disponibilidade tecnológica
propriedades agrícolas: são fundamentais para a
e a fragilidade da assistência técnica – a despeito
consolidação do meio rural brasileiro, como modo de
das ações da CATI (Coordenadoria de Assistência
diminuir o êxodo rural (SERENINI, MALYSZ 2014);
Técnica
são fatores de diminuição da desigualdade social
Agricultura e Abastecimento do Estado de São
do campo e das cidades, entendendo-se o papel
Paulo (GUILHOTO et al 2007).
Integral),
órgão
da
Secretaria
de
PANORAMA DA RMRP 57
58
Da agricultura ao planejamento da paisagem e compreensão territorial Em
um
cenário
de
uma
perigosa
O descaso e desamparo do meio rural, observado
vulnerabilidade na cadeia produtiva de alimentos,
nas desfavoráveis condições do agricultor familiar
seja por dificuldades no meio rural e falta de
no Estado de São Paulo, põem em risco a produção
amparo do Estado para com os agricultores
e oferta de alimentos e a segurança alimentar,
familiares, ou por uma falta de planejamento
assunto que norteia inclusive o segundo item da
intermodal em mobilidade interurbana para
Agenda 2030 da ONU para o desenvolvimento
o transporte de cargas e passageiros, a área de
sustentável – “Acabar com a fome, alcançar a
CEASA Centro encontra-se em posição estratégica
segurança alimentar e melhoria da nutrição
para uma intervenção arquitetônica e urbanística
e promover a agricultura sustentável”. A falta
que contemple soluções como exemplo para tais
de um planejamento eficiente na produção e
desafios na RMRP.
distribuição de alimentos gera desperdícios e prejuízos, tanto para o agricultor, quanto para a
A pesquisa realizada pelo EMPLASA,
sociedade, uma vez que a alimentação é um dos
divulgada por meio da consulta pública de 2019,
pilares para o combate à pobreza, além de ser um
evidenciou a urgente necessidade de planejadores
direito básico.
urbanos se debruçarem sobre esse tema na recente Região Metropolitana de Ribeirão Preto.
Pontua-se que esse escopo de trabalho é uma
urbanísticas e territoriais concomitantemente
oportunidade de reflexão a respeito do papel
com novos sistemas de abastecimento e produção
socioeconômico da arquitetura e urbanismo, e
de alimentos, visando uma maior resiliência e
suas implicações com relação ao meio rural –
desenvolvimento do meio rural junto com uma
área infelizmente inexplorada por arquitetos e
oferta sustentável de produtos alimentícios,
urbanistas e com uma crescente demanda de
resistentes à cenários futuros de crescimento
análises para seu desenvolvimento (WANDERLEY
populacional e de mudanças climáticas globais
2001), de modo que é urgente o trabalho
(FAO – ONU). Para tal é essencial um maior amparo
interdisciplinar e integrado entre planejamento
técnico e financeiro do poder público, em conjunto
urbano-rural e a produção de alimentos (FAO –
com novas propostas de centros de abastecimento
São
necessárias
novas
abordagens
ONU)
ANÁLISE | aproximações e discussão 59
e sistemas de mobilidade interurbana que
Por conseguinte, fica clara a necessidade de um
1) estabelecer funções entre os
garantam uma maior confiabilidade.
projeto integrado em diversas escalas, uma vez que
componentes territoriais da
é a partir de um planejamento da escala territorial,
RMRP;
A entrevista com os produtores e
que contemple as questões de mobilidade e acesso
atravessadores confirma a análise feita a partir
à cidade, além de estruturação territorial do
da revisão bibliográfica realizada no início do
campo do ponto de vista do projeto da paisagem,
presente trabalho, que indica um descaso por
que é possível projetar de forma responsável na
parte do poder público e dificuldades no âmbito
área de intervenção. Propõe-se a interpretação de
da mobilidade, uma vez que o deslocamento
um hiperterritório na RMRP, onde o meio rural
é realizado por veículos particulares com
não é visto a partir do paradigma de ser uma
pouca condição de acessibilidade; além de
área a ser ocupada e conquistada pela cidade,
não possuírem
nenhuma assistência social e
sendo então este abordado como um elemento
técnica, estando estes agricultores vulneráveis
estruturador fundamental para a vida humana
às
em sociedade. O hiperterritório deve então adotar
local, socialmente segura e
como parâmetros:
ambientalmente responsável;
adversidades
e
complexidades
naturais
e sócioeconômicas do meio rural. Uma das
2) garantir a segurança sócioeconômica e acesso aos equipamentos básicos para todos seus habitantes por meio de redes de infraestrutura; 3) assegurar a produção de alimentos de forma
reclamações recorrentes dos hortifrutigranjeiros foi a imposição da doação de alimentos para o
4) potencializar as vocações
programa do Banco de Alimentos anexo ao Ceasa:
regionais das pequenas e
É dever da associação dos hortifrutigranjeiros
médias cidades e utilizá-las
do Ceasa Centro destinar 200 kg de produtos
como pontos estruturadores
mensalmente, por cada produtor/atravessador que se utilize do espaço, para ter a permissão para se abrigarem no galpão. No entanto, tal exigência é um desafio para determinados produtores de hortaliças, por exemplo, cuja produção mensal em algumas temporadas não chega aos 200 kg, em um contexto de sazonalidade de determinados cultivos e um futuro de mudanças climáticas que afetarão a produtividade no campo.
60
de desenvolvimento da macrometrópole. 5) reconquistar os vazios urbanos e garantir um tecido urbano coeso, e socioambientalmente responsável.
proposta de linha férrea
faixa incentivo pequenas propriedades produtoras
cenário de reativação de linhas férreas
rodovias
movimentos pendulares
principais fluxos pendulares
áreas urbanas e rurais
área urbana
linhas férreas a serem reativadas
nova linha férrea
linha férrea a ser desenterrada
propriedades voltadas à agricultura familiar (4 módulos fiscais | base do INCRA)
IMAGEM 33 - Croquis de estudo do território | (autoria própria) ANÁLISE | aproximações e discussão 61
Redes
Para efetivar a conexão entre o agricultor
Desse modo a rede de infraestrutura de
familiar e a cidade de Ribeirão Preto/CEASA
mobilidade se fragmenta em pequenos centros ao
Centro/Outros Ceasas foi estabelecido um sistema
longo do território, o que permite a manutenção
policêntrico de mobilidade. Dada a configuração
de características locais concomitantemente
da RMRP, cuja maioria de municípios se enquadra
ao
em pequenas cidades com forte presença do meio
maiores, ativando as pequenas cidades como
rural, estas se tornam uma ponte entre a cidade
intermediárias
Média/Grande e o pequeno agricultor, de modo
RMRP. Essa estratégia abre espaço para o
que as estações de trem são os nós dessa relação.
desenvolvimento homogêneo da RMRP, dentro
acesso
dos
equipamentos da
rede
de
das
cidades
transporte
da
das potencialidades locais, uma vez que o grande Cada agente do território se articula
centro urbano, o pequeno centro urbano e o meio
de modo a explorar a sua própria vocação pre-
rural se consolidam em pesos similares perante à
existente.
sua função no território.
PEQUENAS CIDADES Intermediárias MÉDIAS/GRANDES CIDADES
PEQUENO AGRICULTOR RURAL
- Produção de alimentos
Monte Alto/Jaboticabal/ Barrinha
- Proteção ambiental - Produção de insumos e produtos artesanais da cultura rural/sertaneja da RMRP - Uso de novas tecnologias e amparo quanto à sistemas de infraestrutura e facilidade de mobilidade.
- Vocação já existente de se relacionar com seu entorno rural / cidades dormitório. - Programas de educação básica, escolas rurais e atividades integradoras urbano-rurais. - Acesso a equipamentos gerais e sistemas de infraestrutura.
62
- Equipamentos específicos: hospitais, centros universitários, centros comerciais de grande porte, serviços, centros de abastecimento. - Assistência técnica e social específica associada com centros de pesquisa. - Acesso à tecnologia, educação e financiamento.
No ponto de vista do planejamento
potencialmente central em Ribeirão Preto, e
em que permite que modelos de planejamento
urbano sustentável e de seu impacto nas relações
o papel de ser um impulsionador ambiental,
e análise possam se tornar participativos e
entre o ser humano e meio ambiente, é importante
ecologicamente relacionado com o território em
multidimensionais, de forma elástica, evolutiva
salientar que perante à ecologia, em nossa relação
uma escala macrometropolitana. Desse modo,
e adaptável. (ROGERS 2001). Gera controle
com a natureza, não somos proprietários, senão,
sistematicamente responsável para com as
sem ser autoritária e assume complexidades e
endividados - e temos responsabilidades perante
demandas sociais e ambientais de seu entorno
perspectivas sistêmicas à respeito do território de
as gerações futuras - e o mesmo vale para o espaço
urbano-rural.
forma sustentável.
público, que é materializaçao física do ideal
O conceito de rede tem benefícios à medida
democrático, e se configura como plano de fundo
É difícil determinar qual é o aspecto de um
do cotidiano e relações sociais espontâneas.
um “culpabilizador” de consciência e se torna
assentamento humano sustentável, nem como
Estamos gradualmente nos acostumando a
um elemento fundamental no planejamento das
funciona. Há quem diga que as pequenas vilas
pensar na natureza como um bem definitivo, e
cidades e territórios, de forma a compreender
europeias da idade média, ou outros pequenos
agora devemos fazer o mesmo com os espaços
a cidade como um pequeno ecossistema que
assentamentos
pré-históricos
públicos e investir na dimensão política destes
não apenas abriga seres humanos, porém
tenham sido exemplos. Não obstante, ambos os
e da vida pública dos cidadãos (ROGERS 2001).
outras
nativos
e/ou
Assim, a ecologia se liberta de ser apenas
espécies
(RUANO
2000)
e
relações
delicadas de harmonia entre os elementos que
modelos se baseavam no mesmo paradigma da sustentabilidade, de modo que era justamente seu
Dessa forma, a busca pela conciliação
são do meio natural e articificial, fugindo dos
impacto reduzido pela sua pequena dimensão que
entre
as
manutenção/
aspectos cosméticos que podem surgir como
os tornava aparentemente sustentáveis. Talvez
reabilitação de espaços outrora naturais é
forma de apropriação projetual dos ideais de
uma das provas de que essa forma de organização
uma
sustentabilidade.
sócio-espacial não era de fato sustentável seja o
sustentável.
Concomitantemente
crescimento destas mesmas comunidades - que
compreender
a
acarretaram na civilização urbana atual (RUANO
de
2000).
cidade, e no caso deste trabalho, de uma área
das
novas
áreas chaves
públicas para
o
necessidade
dinâmicas
e
desenvolvimento da
deve-se agregação
sócioeconômicas
na
ANÁLISE | aproximações e discussão 63
64
Projeto da escala territorial e os cenários
A busca pela compreensão do desafio da
A partir desse estudo, foi determinado o
questão alimentar exige o estudo de diferentes
eixo oeste de estruturação rural por meio de uma
componentes de infraestrutura e paisagem. Para
linha férrea, que se articula com o cenário da
determinar a demanda da proposta de mobilidade
retomada do uso do modal ferroviário desativado
foi analisada a base do INCRA de cadastros de
na região (Mapas 6, 7, 8. 9, 10 e 11). A afirmação
propriedades rurais, sendo estas filtradas em
de um cenário é crucial para o desenvolvimento
dados das propriedades cuja área corresponde a 4
do projeto em menor escala, uma vez que
módulos fiscais, dentro da especificidades de cada
as demandas, fluxos e contexto gerado pela
município (página seguinte, Mapas 3, 4 e 5).
retomada do modal ferroviário tem um profundo impacto sócioeconomico e programático. Sendo o
Assim, possibilitando a determinação
vetor oeste um eixo de menor desenvolvimento
do panorama das pequenas propriedades rurais
da RMRP busca-se potencializar sua vocação
com potencial de se tornarem propriedades de
territorial
agricultura familiar.
desenvolvimento regional.
já
existente
como
forma
de
HIPERTERRITÓRIO TERRITÓRIO URBANO (área central de RP)
TERRITÓRIO RURAL (agricultura familiar)
- Plano de mobilidade Urbano - rural. - Cenário de retomada/proposição de linhas férreas. - Estruturação rural e consolidação da vocação de pequenas propriedades no setor Oeste da RMRP.
- Conexão entre o produtor e a cidade.
- Novos usos e requalificação urbana no centro.
- Amparo e infraestrutura aos produtores de alimentos da RMRP.
- Requalificação dos galpões tombados / abandonados do CEAGESP. - Requalificação ambiental.
- Atendimento das demandas de fluxos pendulares previstos.
PROJETO | galpões e entorno 65
66
MAPA 3, 4 e 5 - Estudos de população rural (autoria própria | fonte: dados geoespaciais - INCRA)
PROJETO | galpões e entorno 67
ANÁLISES E PROPOSTA
0
MAPA 6 | Divisão administrativa (IBGE) mapas de autoria própria elaborados em software QGIS 3.18 (fontes: IBGE, INCRA, ANA, EMPLASA, ESRI, DNIT) 68
25
50 km
0
25
50 km
MAPA 7 | Meio físico e hidrografia (ESRI, ANA) mapas de autoria própria elaborados em software QGIS 3.18 (fontes: IBGE, INCRA, ANA, EMPLASA, ESRI, DNIT) PROJETO | galpões e entorno 69
0
MAPA 8 | Sistema viรกrio / rodovias (DNIT) mapas de autoria prรณpria elaborados em software QGIS 3.18 (fontes: IBGE, INCRA, ANA, EMPLASA, ESRI, DNIT) 70
25
50 km
0
25
50 km
MAPA 9 | Propriedades de até 4 módulos fiscais (INCRA) / pop rural absoluta (Censo Agro - IBGE) mapas de autoria própria elaborados em software QGIS 3.18 (fontes: IBGE, INCRA, ANA, EMPLASA, ESRI, DNIT) PROJETO | galpões e entorno 71
0
MAPA 10 | Cenรกrio de retomada do modal ferroviรกrio (DNIT) mapas de autoria prรณpria elaborados em software QGIS 3.18 (fontes: IBGE, INCRA, ANA, EMPLASA, ESRI, DNIT) 72
25
50 km
0
25
50 km
MAPA 11 | Proposta de nova linha férrea estruturadora das pequenas propriedades rurais mapas de autoria própria elaborados em software QGIS 3.18 (fontes: IBGE, INCRA, ANA, EMPLASA, ESRI, DNIT) PROJETO | galpões e entorno 73
DIAGRAMA 1 | Abordagem do projeto (autoria prรณpria).
74
DIAGRAMA 2 | Abordagem do projeto (autoria própria).
PROJETO | galpões e entorno 75
DIAGRAMA 3 | Abordagem do projeto (autoria prรณpria).
76
5 - Ações para estimular o empreendedorismo:
Universidade de Palermo, Maurizio Carta, cujo
estimular
e
criação de uma interface urbano-rural lindeira à
trabalho envolve métodos de planejamento do
financiamento de intervenções de requalificação
nova linha férrea, que articula os interstícios entre
espaço urbano-rural voltados ao antropoceno,
urbanística, de fontes de energia renováveis, de
os pequenos agricultores e as pequenas/médias
desenvolveu um manifesto de desenvolvimento
mobilidade urbana sustentável, de segurança
cidades mais próximas. Essa interface ocorre por
urbano-rural a partir de suas experiências com
na construção civil e de qualidade ambiental
meio de sistemas de mobilidade local conectados
o território da Sicília. O “Manifesto de Bivona”
(“entrepreneurial land”);
aos terminais ferroviários, de equipamentos
O
urbanista
e
professor
titular
da
parcerias
público-privadas
Assim, o plano urbano proposto parte da
rurais que gerem empregos (educação, segurança
indentifica o seguinte método operacional de 6 - Medidas para o desenvolvimento de
pública, lazer, etc..), de áreas agrícolas e de
manufatura: facilitar, por meio de incentivos
reservas florestais. Dessa forma, consolidando
1 - Ações no âmbito das políticas
e instalações, o nascimento, o retorno e o
uma interface regional de pequenas cidades e
públicas: transformar a administração pública
desenvolvimento da produção em pequenas
espaços rurais que atua como um organismo vivo
em uma plataforma facilmente acessível, fisica
e médias cidades, no que diz respeito à micro
e coeso, que produz e consome, e que exerce uma
e virtualmente, para qualquer cidadão de
produção/artesanato/marcenaria,
vital função dentro do território.
qualquer lugar e de qualquer momento, poder
digital, agricultura, reparos/mecânicos e centros
otimizar a performace das políticas e ações de
de reciclagem como novas oportunidades de
desenvolvimento (“open land”);
trabalho (“fab land”);
à cidade por meio desse novo sistema de
planejamento (Diagrama 3) (CARTA 2016):
fabricação
Este organismo por sua vez se conecta
mobilidade urbano-rural, que tem como primeiro 2 - Ações que aumentam a colaboração:
7 - Ações para dar suporte à criatividade: gerar
e principal destino o Ceasa Centro, cujo papel
difundir e multiplicar sensores e atores, formal
um ecossistema criativo, começando pela rede
é justamente potencializar as vantagens e
e informalmente, capazes de um entendimento
de universidades, escolas, laboratórios locais,
produtos do meio rural, ao mesmo tempo em que
em tempo-real dos problemas do território/
museus e centros culturais, que se tornam
exerce sua função de oferecer equipamentos para
cidades/campo, e prover soluções imediatas
laboratórios vivos e incubadores de ideias,
o meio rural - através de programas de amparo
(“collaborative land”);
projetos e de negócios inovadores, por meio do
(centro de assistência social e tecnológica), de
reforço da relação educacional-empregadora
comércio (manutenção do espaço de feiras), de
(“creative land”).
empreendedorismo (fablab e salas de uso misto/
3 - Ações de inovação social: lugares de convergência da participação social dos cidadãos
coworking), de tecnologia (laboratórios e fazenda
por meio do gerenciamento compartilhado de
urbana), de cultura (espaços públicos), e de
serviços, cinemas, museus, livrarias, laboratórios e espaços públicos, assim como lugares para o
Almeja-se
o
ideal
de
repensar
as
bem-estar social (“social land”);
relações entre as pequenas cidades, articuladas com seu entorno rural e os centros urbanos,
4 - Facilitadores de ações compartilhadas: oferecer
espaços
públicos
e
serviços
para
administração pública (centro administrativo da associação dos hortifrutigranjeiros, do Ceasa e da prefeitura).
não apenas como locais de usos definidos e
estratificados,
no
entanto,
como
locais
diferentes usuários de uso prolongado, com
articulados policentricamente, de modo a encarar
o objetivo de diminuir custos operacionais,
esses núcleos como uma rede de comunidades
maximizar a eficiência do espaço, e assegurar a
interativas, dentro de uma região funcional -
manutenção local (“sharing land”);
neste trabalho chamada de “hiperterritório”.
PROJETO | galpões e entorno 77
Eixos de atuação
1) Paisagem | Recuperar vazios urbanos
5) Marcos urbanos e patrimônio histórico |
e mitigar cicatrizes entre Vila Virgínia e Vila
Propõe-se a criação de elementos arquitetônicos de
Tibério. / Parque como elemento fundamental de
forte presença na paisagem urbana. / Construção
drenagem urbana no Centro de Ribeirão Preto e
com alto grau de tecnologia para estimular
de recarga de aquífero.
o
desenvolvimento
industrial, 2) de
Mobilidade
movimentos
|
Conciliar
pendulares
demanda
futuros
com
local
e
fortalecimento
estimulando novas demandas. /
Recuperação dos galpões abandonados tombados e nova cobertura para os galpões do CEASA.
necessidades no âmbito alimentar. / Garantia de infraestrutura e amparo para os agricultores familiares - acesso à cidade. / Chegada de linha férrea em terminal ferroviário no centro de Ribeirão Preto. / Redesenho de conexões viárias para uma melhor fruição urbana. 3) Espaços públicos | Recuperar vazios urbanos e áreas ociosas com projetos de praças conectoras entre os principais elementos do projeto. / Novo desenho de calçadas e proposição de boulevards. 4) Integração | Os novos programas objetivam potencializar o CEASA Centro como um polo e elemento chave para a cadeia da produção de alimentos de Ribeirão Preto e região e requalificar urbanística/ambientalmente seu entorno. IMAGEM 34 - Croquis iniciais de conceito (autoria própria)
78
Utopia
Intervenção patrimonial
Megaestrutura
Ao longo da segunda metade do século
De acordo com Richard Rogers (2001) é
XX, e até a atualidade, tem sido realizadas ao
necessário desafiar a estética tradicional da
de cobertura no projeto, é uma constante
redor do globo críticas contundentes e inumeras
relação entre edifícios vizinhos, de forma que a
busca de criar um elemento que extrapole os
alternativas à realidade existentes, umas críticas
beleza entre as relações formais na cidade pode
limites interescalares do projeto. Por fim, uma
que incidem nas raizes dos conceitos dominantes
ser formada a partir de um caos aparente. Talvez
megaestrutura é um elemento chave urbanístico,
e que tentam construir novos modos de vida sobre
o status sine qua non de se proteger do impacto
como também paisagístico, e por consequência
outras bases. O essencial dessas propostas é seu
de situações abruptas na forma urbana não seja
de
caráter radical e fundacional, a posição utópica
uma condição do desenho urbano, e sim uma
patrimonial. Cria um universo sob o projeto. É
em relação ao entorno político, se considera que a
herança metológica de um traçado moderno.
uma tela branca onde tudo pode acontecer, e
única maneira possível de se adaptar e sobreviver
A
sua
adoção
de
implantação,
uma
megaestrutura
torna-se
interventor
também uma copa que tudo resguarda.
é criar sistemas e lugares. Daí a raíz utópica que
Do ponto de vista patrimonial, relações
tenta criar outros lugares em novos territórios,
abruptas, e de justaposição entre edificações
independente
posição
antigas e recentes pode ser uma melhor estratégia
antecedentes, tais como a Torre Philadelphia
antissistema dominante que se mantém até hoje
de requalificação urbana do que simplesmente
de Louis Kahn e os protótipos de Richard
(MONTANER 2008).
vestir edificações contemporâneas sob uma
Buckminster Fuller, além das estruturas de Frei
vestimenta/casca histórica (ROGERS 2001). De
Otto. A intenção da megaestrutura, é converter
acordo com o historiador Roy Porter, quando os
a arquitetura em cidade, conceito evoluido pelas
edifícios têm preferência perante as pessoas, o
cápsulas e torres fabulosas do grupo Archigram,
que resulta é herança, nunca história.
e na mistura de utopia e pragmatismo do grupo
da
localização.
Uma
Uma projeto multiescalar pode correr o
risco de não estar em escala alguma. E talvez por isso mesmo, correr esse risco seja tão satisfatório.
As
megaestruturas
tem
diversos
dos metabolistas japoneses, para os quais o
Os interstícios entre as escalas de um projeto
O elevado estado de degradação, e as
atuam como um ponto de flexão de um tentador
demandas históricas por um megaprojeto no
onirismo, onde a distância do quão grande pode
centro de Ribeirão Preto, cria uma especial
ser essa brecha, determina o quão distante os
condição de intervenção, e o patrimônio age
não-lugares são. Por conseguinte, quanto mais se
como seu ponto de origem, seu catalisador. Um
busca por coesão, no sentido urbano-rural, local,
explora esses meandros das relações sistêmicas,
espaço interdimensional. Outrora peça chave de
paisagístico, estético e formal. A megaestrutura
que abraçam o mundo como um problema a ser
uma relação territorial da produção cafeeira, os
está em todo lugar, é vista de todo lugar, é um ode
resolvido, mais se está na beira do abismo da
galpões do Ceasa Centro se convertem em peça
a si mesma, uma vez que é o ponto de inflexão
utopia. Um salto de fé para os bem-aventurados
chave de uma relação territorial absolutamente
socioambiental. É um reflexo e metáfora da
e revoltados com a falta de perspectiva que
contemporânea, que estabelece uma dialética
metodologia projetual adotada para este trabalho:
domina nossas políticas públicas desde tempos
entre a localidade e distância, entre o tradicional
a constante busca pela união inusitada sob uma
imemoriáveis.
e tecnológico.
forma peculiar.
racionalismo tecnologico era superado pelo organicismo. (MONTANER 2009). A cobertura tensionada é fruto de uma
PROJETO | galpões e entorno 79
Primeiros croquis
IMAGEM 35 - Croquis iniciais de conceito (autoria prรณpria | marรงo 2019)
80
IMAGEM 36 - Croquis iniciais de conceito - megaestrutura (autoria própria | maio 2019)
PROJETO | galpões e entorno 81
IMAGEM 37 - Croquis iniciais de conceito - geral (autoria prรณpria | maio 2019)
82
IMAGEM 38 - Croquis iniciais de conceito - geral (autoria própria | junho 2019)
PROJETO | galpões e entorno 83
0
DESENHO 2 - Planta atual (autoria prรณpria | base fornecida pela PMRP)
84
100
200m
0
100
200m
DESENHO 3 - Planta da proposta urbana (autoria própria | base fornecida pela PMRP)
PROJETO | galpões e entorno 85
86
IMAGEM 39 - Perspectiva da proposta l (autoria própria | junho 2019)
PROJETO | galpões e entorno 87
88
HIPERTERRITÃ&#x201C;RIO 89
PLANO URBANO
rodoviária córrego laureano
câmara municipal
terminal ferroviário galpão B galpão A
ceasa centro
B
A
atual
volumetrias propostas
pq. maurílio biagi pq. laureano
desapropriações
áreas verdes
av. bandeirantes linha férrea recuperada
novas quadras e conexões
90
proposta urbana - megaestrutura
1
2
3
terminal ferroviário - Estação principal da Zona CentroOeste de Ribeirão Preto. - Usos comerciais e administrativos. - Embarques no subsolo.
4
galpão A - Antigo Armazém Regulador da Cia. Mogiana. - Restaurantes, bares e botecos | térreo - Fazenda urbana e centro de pesquisa em alimentos (cenário de mudanças climáticas) e mercado
5
galpão B - ceasa centro - Antigo Armazém Regulador da Cia. Mogiana. - Feira de produtos de hortifrutigranjeiros da RMRP e proximidades. - Centro de assistência social (ao agricultor familiar) e ténica (associado ao centro de pesquisa).
6
passarela - Reconexão entre bairros Vila Tibério e Vila Virgínia, antigamente separados pela linha férrea da Cia Mogiana.
parque / corredor ecológico - Recuperar ecologicamente a área de várzea do córrego Laureano com novas conexões entre fragmentos florestais. - Áreas de lazer e esporte e de eventos gastronômicos e de entretenimento ao ar livre.
linha férrea
linha férrea enterrada
estação de trem
fazenda urbana
rodoviária
restaurantes/bares
festivais gastronômicos
centro de pesquisa
esporte/lazer
feira hortifrutigranjeiros
câmara municipal
centro de assistência técnica/social rural
cobertura parametrizada - Unificar intervenções e garantir sombreamento para as praças intermediárias entre os galpões/estação. - Jardins suspensos. - Espaços francos de apropriação espontânea.
av. je
rôn
rodoviária
vila tibério
imo
go
nça
lve
s
centro
av. do café chácaras córrego laureano
4
5
1
es deirant 2
6
av. do patriarca
to
vila virgínia
3
có rib rreg eir o ão pr e
av. ban
0
100
500 m
HIPERTERRITÓRIO 91
PERSPECTIVA AÃ&#x2030;REA 92
HIPERTERRITÃ&#x201C;RIO 93
A
galpão B
B
galpão A
1
INTERVENÇÃO ARQUITETÔNICA - MEGAESTRUTURA
galpão A | Tecnologia galpão B | Localidade
94
0
25
50 m
4.00
8.00 (altura passarela) 5.00 -2.00
linha férrea (3% inclinação)
-0.10
estacionamento/ carga e descarga
0.00
estacionamento/carga e descarga
fablab RP
mercado
praça pública
galpão A
Av. Bandeirantes
0.00
1
galpão B
0
INTERVENÇÃO ARQUITETÔNICA - GALPÕES
25
50 m
CENTRO DE PESQUISA Laboratórios/casas de vegetação para pesquisas em cultivos alimentares.
ASSISTÊNCIA SOCIAL Recepção, salas administrativas da Associação dos Hortifrutigranjeiros, salas multiuso. Acesso aos programas governamentais
FAZENDA URBANA Abastecimento local, cursos de hidroponia, hortas urbanas coletivas.
FEIRA
LANCHONETE/CAFÉ RESTAURANTE/BAR
Realização de feiras locais e eventos .
galpão B
galpão A
1.00
projeção passarela
0.00
feiras
B
A
1.00
LANCHONETE/CAFÉ RESTAURANTE/BAR HIPERTERRITÓRIO 95
elevação 1 | Av. Bandeirantes
96
0
50
100 m
corte A
0
50
100 m
HIPERTERRITÃ&#x201C;RIO 97
corte A | Galpão A 0
10
25 m
0
10
25 m
corte A | Galpão B
98
corte B | Galpão A 0
25
50 m
HIPERTERRITÓRIO 99
100
HIPERTERRITÃ&#x201C;RIO 101
MEGAESTRUTURA DESENVOLVIMENTO
MAQUETE DESENVOLVIDA DURANTE A CONCEPÇÃO DO PROJETO 102
A confecção da maquete da cobertura
se aproximou de um processo de prototipagem, uma vez que buscava testar o partido estrutural. O processo de desenho partiu de uma proposição em 2D, utilizando como materiais uma haste de madeira, uma placa de mdf 6mm, e os tecidos tule e chiffon, para os desenhos da cobertura, além de fio de costura para o tensionamento.
A partir do modelo confeccionado foi
aferido que novos tensionamentos deveriam ser previstos entre o anel de maior dimensão e o anel da base, além de que as dimensões adotadas estavam desproporcionais com relação ao tamanho do módulo desejado, deste modo exercendo um papel crucial no andamento do projeto. da
Posteriormente, ao atestar a factibilidade proposta,
foram
realizadas
simulações
computacionais no software Rhino + Grasshopper do projeto.
HIPERTERRITÓRIO103
plugins
neblina
104
HIPERTERRITÃ&#x201C;RIO105
plugins 106
HIPERTERRITÃ&#x201C;RIO 107
PERSPECTIVA | PASSARELA
108
HIPERTERRITÃ&#x201C;RIO109
PERSPECTIVA | GALPÃO A
110
HIPERTERRITÃ&#x201C;RIO 111
PERSPECTIVA | GALPÃO B
112
HIPERTERRITÃ&#x201C;RIO 113
114
Perséfone
Deméter
PERSPECTIVA | PRAÇA CENTRAL
HIPERTERRITÃ&#x201C;RIO 115
Considerações finais
Existe uma lacuna no fazer arquitetônico.
do Brasil do século XIX e XX, quando o habitante
Assumir a inevitabilidade dos processos de
do campo permanecia em abandono absoluto -
êxodo rural em nossa economia capitalista
infestado de vermes e sem qualquer assistência
extensiva, direciona a produção e reflexão do
de saúde e sem acesso a nada. De ex-escravos a
arquiteto e urbanista para as complexidades da
imigrantes, a pobreza, e a dificuldade no campo, não
cidade, que muitas vezes são decorrentes de um
teve misericórdia, e desse fenômeno, perduraram as
processo de diáspora rural. Planejar o meio rural
estórias, as músicas, as marcas e os remanescentes,
concomitantemente com a estrutura fundiária
em situação similar, e agora subjugados à uma
do país é uma das chaves para combater a
estrutura fundiária voraz, dominada por antigas
desigualdade sócioeconômica e riscos à segurança
oligarquias e grandes latifundiários empenhados
alimentar e nutricional. De acordo com uma
na extração ferrenha das riquezas do solo - as tão
pesquisa do Ministério do Desenvolvimento
almejadas “commodities”.
Agrário (MDA), 36% da população brasileira é rural (contradizendo os dados do IBGE, que apontam
Como foi possível o esquecimento das
16%), o que equivale a aproximadamente 75
outras riquezas do campo? A população atônita
milhões de pessoas.
observa de longe, porém a uma garfada de distância, a chegada de novos agrotóxicos diariamente,
116
Identificar essa parcela rural é crucial para o
sendo lançados aos quatro ventos em prol de uma
melhor direcionamento de políticas públicas, que
maior lucratividade. Como nos esquecemos do
raramente contemplam a situação das pequenas
valor da terra que produz nosso alimento? Tão
propriedades rurais. Há um certo exagero na
presente no cotidiano, durante o desenvolvimento
dimensão urbana do país, decorrente do impulso
deste trabalho, em conversas com produtores do
do Brasil em ser um país mais urbano com uma
CEASA Centro e do CEAGESP de Ribeirão Preto,
economia industrial. Desse modo, acarretando no
foi constatado que o abacaxi consumido na cidade
descaso do poder público com relação à população
provém do Pará - aprox. 2.600km de percurso; e
rural, principalmente ao pequeno agricultor - o
a batata provém do Rio Grande do Sul e Paraná -
que configura uma dívida histórica brasileira.
aprox. 840km. É contrasenso que alimentos bases
Dívida bem retratada pelo personagem Jeca Tatu,
de alimentação do brasileiro, como feijão, arroz,
após revisão feita pro Monteiro Lobato em 1947,
milho e batata tenham que percorrer distâncias
que assume o papel da vítima da miséria, da fome,
tão longas até o consumidor final, em exclusividade
da falta de saúde e da ausência de infraestrutura
pelo modal rodoviário.
É evidente que essa é uma cadeia insustentável
impulso para a economia regional e para a
que envolve desperdício, uma vez que parte
agroindústria, siderurgia, entre outras indústrias,
significativa do alimento se decompõe durante o
além de um novo caminho para o fortalecimento
percurso, e altos custos com frete, além de sérios
em rede dos conglomerados de grandes, médias e
riscos logísticos para um futuro - como observado
pequenas cidades. Um transporte limpo e barato
durante a Crise do Dísel (greve dos camioneiros) em
entre as cidades da RMRP, e entre as regiões
meados de 2018. Enquanto isso, há uma população
próximas, poderia significar: um maior fluxo
rural local significativa que poderia ser provedora
de movimentos, o aumento o raio de influência
principal destes alimentos - o que estimularia
das cidades, e novas possibilidades de trabalho,
não apenas a economia local, como aumentaria a
moradia e de custos de vida. Pensar na diversidade
resiliência e segurança sócioeconômica no meio
de modais e na homogienização nas redes de
rural, por meio de políticas públicas e projetos/
infraestrutura é crucial para um território
planos estruturadores do território.
orientado ao desenvolvimento sustentável.
Assim, a questão da alimentação está
Dessarte, este trabalho buscou reunir
atrelada à outro desafio com relação ao transporte.
todas essas complexidades, de modo alinhado com
A exclusividade rodoviária do transporte de
as recentes atualizações acadêmicas sobre o tema,
mercadorias, que ocorre por meio de caminhões,
e colocar em primeiro plano os elementos mais
ou no caso dos produtores da RMRP, por meio de
sensíveis dentro de todas as escalas de trabalho.
camionetes, kombis e outros veículos pessoais,
O pequeno produtor, os galpões e a ferrovia. O
trouxe mais um elemento importante ao projeto.
resultado como forma arquitetônica foi um ode ao
É impossível pensar em um projeto ideal caso
pequeno agricultor da região, que tanto merece seu
as circunstâncias não sejam ideais. Alterar o
lugar de destaque na cidade, longe da penumbra
contexto foi um passo importante para obter
das madrugadas no CEASA Centro, onde era
uma perspectiva mais ampla, e ao mesmo tempo
invisível. Inexistente. Agora, está em pleno local
mais incisiva, sobre o problema do acesso entre
hiperterritorial de inflexão sócioeconômica da
o produtor rural e Ribeirão Preto. É evidente que
região, que se ergue como uma lanterna urbana.
o futuro com relação ao transporte no Brasil, e à
Sua megaestrutura une os diversos programas
mobilidade inter-urbana/urbano-rural, está nas
em um complexo que ao mesmo tempo é um
ferrovias, cujas linhas ainda estão demarcadas,
importante centro: de uma rede de mobilidade
e cujo retorno poderia significar um grande
urbano-rural, de abastecimento local, de acesso a
HIPERTERRITÓRIO 117
programas de assistência rural, de programas de pesquisas - importantíssimas perante ao futuro de mudanças climáticas que se aproxima, e por fim; de um processo de requalificação urbana e de novas possibilidades para Ribeirão Preto.
Inclusive, do ponto de vista do patrimonial,
este projeto de requalificação e restauro dos galpões, não apenas os resgata do oblívio, no entanto, recupera a importância regional que um dia tiveram. É recuperada a função de ser um entreposto urbano-rural crucial da cidade e do pequeno agricultor - antes por meio do café, e agora uma ampla variedade de produtos,
Talvez
seja
possível
compreender
este projeto como um ponto comum entre as adversidades do território, e como uma tentativa de síntese de análises multiescalares. Um hiperterritório. Um local de um constante interstício e intersecção entre os problemas da RMRP, que sobrevive e se mantém coeso graças à sua dualidade por ser ao mesmo tempo local e regional; além de vernacular e tecnológico.
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