Vegetarianismo em pediatria
Por Dr Eric Slywitch (Médico nutrólogo) A dieta vegetariana pode ser seguida por crianças. Esse texto foi publicado na Revista Diálogo Médico com o título: Vegetarianismo em Pediatria. Vegetarianismo em pediatria Não existem mais dúvidas de que a dieta vegetariana (DV) bem planejada é adequada para crianças. A adequação dietética não depende do ato de comer ou não carne, mas sim da forma de elaborar a alimentação sem ela. Pelo desconhecimento do que é ou deixa de ser uma DV (inclusive sobre a inclusão ou não de ovos, leite e derivados – que também podem fazer parte da dieta vegetariana), alguns profissionais cometem erros conceituais e interpretativos sobre ela. Os bebês de mulheres vegetarianas apresentam peso ao nascer semelhante ao de filhos de mães não vegetarianas. O peso desses bebês também atinge os valores esperados para nascimento (O’Connell e cols 1989, Drake e cols 1989, Lakin e cols 1998). Alguns estudos antigos encontraram crescimento insuficiente em crianças seguindo uma DV. Esse achado foi evidente quando a dieta era muito restrita, como no caso de crianças macrobióticas, que não são necessariamente vegetarianas (VanDusseldorp e col 1996). Esse problema se chama falta de alimentação e não vegetarianismo. Diversos estudos demonstraram que a DV adotada por crianças ovolacto-vegetarianas promove crescimento semelhante ao das não vegetarianas (Hebbelinck e Clarys 2001, Sabate e col 1990, Nathan e col 1997). As DVs, inclusive veganas, bem planejadas satisfazem as necessidades nutricionais de bebês, crianças e adolescentes e promovem o crescimento normal (Messina e Mangels 2001, Hebbelinck e Clarys 2001, Mangels e Messina 2001). As diretrizes para introdução de alimentos sólidos, assim como para o uso de suplementos de ferro e vitamina D são as mesmas para bebês vegetarianos e não vegetarianos (Mangels e Messina 2001). As crianças veganas podem ter necessidade protéica ligeiramente maior que as não veganas (como as ovolactovegetarianas e as onívoras) devido à diferença de digestibilidade e da composição de aminoácidos das proteínas vegetais, mas esta necessidade protéica é atendida quando a dieta contém calorias suficientes e uma pequena diversidade de alimentos vegetais (Millward 1999, Messina e Mangels 2001, Food and Nutrition Board 2002). A ingestão média de proteínas das crianças vegetarianas (inclusive as veganas) costuma obedecer ou exceder às recomendações, embora as crianças vegetarianas possam consumir menos proteína que as não vegetarianas (Nathan e cols 1996, Sanders e Manning 1992).
As dietas vegetarianas na infância e na adolescência podem criar padrões alimentares saudáveis para a vida toda e apresentar algumas vantagens nutricionais importantes. Crianças e adolescentes vegetarianos apresentam menor ingestão de colesterol, gordura saturada e ingestão maior de frutas, verduras e fibras que os não vegetarianos (Perry e cols 2002, Sanders e Manning 1992, Fulton e Hutton 1980). O ponto de maior atenção na dieta vegetariana é a vitamina B12, motivo de inúmeras publicações demonstrando deficiência em adultos e crianças. Dessa forma é recomendado uma fonte segura para crianças e gestantes, principalmente. Consideramos fontes seguras: ovos, leite e laticínios. A maioria dos vegetarianos utiliza esses alimentos. No caso dos veganos a suplementação é a via mais segura para garantir o suprimento dessa vitamina. A American Dietetic Association (ADA) e Dietitians of Canada consideram que: “Dietas veganas e ovolactovegetarianas bem planejadas são adequadas a todos os estágios do ciclo vital, inclusive durante a gravidez e a lactação. Dietas veganas e ovolactovegetarianas adequadamente planejadas satisfazem as necessidades nutricionais de bebês, crianças e adolescentes e promovem o crescimento normal” (ADA 2003). O vegetarianismo também é incentivado pela American Heart Association (AHA), Food and Drug Administration (FDA), College of Family and Consumer Sciences (University of Georgia) e já que estamos falando em pediatria, Kids Health (Nemours Foundation). A American Dietetic Association e Dietitians of Canada são enfáticas em afirmar que os profissionais da área de nutrição têm o dever de apoiar e encorajar os que demonstram interesse em seguir uma dieta vegetariana. Os alimentos utilizados para a obtenção dos nutrientes numa dieta vegana são muito mais diversificados do que os utilizados por onívoros (Christel e col, 2005). Isso demonstra que a dieta vegana (estrita) não é restrita. Bibliografia Messina V, Mangels AR. Considerations in planning vegan diets: Children. J Am Diet Assoc 2001;101:661-669. Hebbelinck M, Clarys P. Physical growth and development of vegetarian children and adolescents. In: Sabate J, ed. Vegetarian Nutrition Boca Raton, Fl: CRC Press; 2001:173-193. Mangels AR, Messina V. Considerations in planning vegan diets: infants. J Am Diet Assoc 2001;101:670-677 Perry CL, McGuire MT, Neumark-Sztainer D, Story M. Adolescent vegetarians. How well do their dietary patterns meet the Healthy People 2010 objectives? Arch Pediatr Adolesc Med 2002;156:431-437. Sanders TAB, Manning J. The growth and development of vegan children. J Hum Nutr Diet 1992;5:11-21. Fulton JR, Hutton CW, Stitt KR. Preschool vegetarian children. J Am Diet Assoc 1980;76:360-365. Mangels AR, Messina V. Considerations in planning vegan diets: infants. J Am Diet Assoc 2001;101:670-677. Hebbelinck M, Clarys P. Physical growth and development of vegetarian children and adolescents. In: Sabate J, ed. Vegetarian Nutrition Boca Raton, Fl: CRC Press; 2001:173-193. Sabate J, Linsted KD, Harris RD, Johnston PK. Anthropometric parameters of school children with different life-styles. Am J Dis Child 1990;144:1159-1163. Nathan I, Hackett AF, Kirby S. A longitudinal study of the growth of matched pairs of vegetarian and omnivorous children, aged 7-11 years, in the north-west of England. Eur J Clin Nutr 1997;51:20-25.
van Dusseldorp M, Arts ICW, Bergsma JS, De Jong N, Dagnelie PC, Van Staveren WA. Catch-up growth in children fed a macrobiotic diet in early childhood. J Nutr 1996;126:2977-2983. Nathan I, Hackett AF, Kirby S. The dietary intake of a group of vegetarian children aged 7-11 years compared with matched omnivores. Br J Nutr 1996;75:533-544. Sanders TAB, Manning J. The growth and development of vegan children. J Hum Nutr Diet 1992;5:11-21. Millward DJ. The nutritional value of plant-based diets in relation to human amino acid and protein requirements. Proc Nutr Soc 1999;58:249-260. Food and Nutrition Board, Institute of Medicine. Dietary Reference Intakes for Energy, Carbohydrate, Fiber, Fat, Fatty Acids, Cholesterol, Protein, and Amino Acids Washington, DC: National Academy Press; 2002. Messina V, Mangels AR. Considerations in planning vegan diets: Children. J Am Diet Assoc 2001;101:661-669. O’Connell JM, Dibley MJ, Sierra J, Wallace B, Marks JS, Yip R. Growth of vegetarian children. The Farm study. Pediatrics 1989;84:475-481. Drake R, Reddy S, Davies J. Nutrient intake during pregnancy and pregnancy outcome of lacto-ovo-vegetarians, fish-eaters and non-vegetarians. Veg Nutr 1998;2:45-52. Lakin V, Haggarty P, Abramovich DR. Dietary intake and tissue concentrations of fatty acids in omnivore, vegetarian, and diabetic pregnancy. Prost Leuk Ess Fatty Acids 1998;58:209-220.