enquanto navegamos LIVROS
MATIZ
DE
ARTISTA
ATELIÊ
SOROCABA-SP
VISUAL |
2019
exposição de livros de artista
enquanto navegamos
Local
Matiz Ateliê Visual Período
de 20 de julho a 31 de agosto de 2019 curadoria
Fabiola Notari expografia
Marco Gonçalves realização
Matiz Ateliê Visual Grupo de estudos 'Livros de artista, livros-objetos: entre vestígios e apagamentos'
Sorocaba-SP
artistas convidadas(os)
Adriana Dias Adriano Sobral Arnaldo C. Paulo Bruno Oliveira Helen Carpiné Lídice Salgot Lucimar Bello Marcia Gadioli Marco Gonçalves Marco Ponce Margarida Holler Mirella Mostoni Vera Pamplona
Convido você a construir comigo uma imagem mental. A partir de um livro aberto sobre uma mesa observo ondas, de lá para cá e de cá para lá, páginas movimentam-se desvelando as camadas do sólido volume. Em suas páginas-ondas, as palavras são como peixes, quando muitos transformam-se em cardumes. Há também os seres que habitam as profundezas das entrelinhas. Esses nos alcançam quando nos atentamos aos detalhes ou quando mergulhamos fundo nessas ondas. O livro como mar, onde sempre permanecemos a navegar. Nas combinações de palavras, imagem. Nos encontros com a narrativa, compreendemos a dimensão do tempo e do espaço. Metáforas do livro, o mar que navegamos nos faz convites ao mergulho. Águas que trazem e levam experiências, as quais nos fazem perceber a existência como um ato criador, sendo o livro o nosso mar. Sobre os artistas e seus mares, peço licença e adentro a partir de breve reflexões o que seus trabalhos e falas me sucederam. 6
As marcas do tempo. Ruínas. A ausência do homem está no rastro que deixa. Silêncio. A produção recente em livros de artista e livro-objeto de Adriano Sobral parte da reflexão sobre narrativa visual e da força que duas ou mais imagens tem quando postas lado a lado. Não é apenas a necessidade de contar histórias, mas a busca incansável de dar voz ao inexistente. A arquitetura do espaço fotografado dentro do espaço do livro, dança de formas entre dobras e aberturas.
VAGO | FOTOGRAFIA DIGITAL COM SUPORTE EM FERRO [2019] 7
Arnaldo C. Paulo olha para o alto. Aguarda atento ao sinal dos céus. Primeiro a luz depois o som. Dessa observação podemos refletir sobre a existência. No dito popular, afirma-se que a vida passa num piscar de olhos. No livro de artista em forma de caixa, o piscar de olhos dá o ritmo da vida, a ação das mãos controla a intensidade que a vida se fez na terra. Somos os controladores desse instante que tanto fascina e que tanto amedronta, a luz que desce, vira raiz.
CAIXA DE INSTANTES | CAIXA DE MADEIRA COM FOTOGRAFIAS EM ACETATO E DISPOSITIVO LUMINOSO [2019]
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Camadas translúcidas de papéis orientais acolhem a tinta. Os gestos coordenados de Bruno Oliveira ao desenhar marcam o papel. O rastro permanece como ação performática do instante da experiência com o objeto observado. O rastro materializa-se. O que há em seus livros e páginas soltas é o gesto consciente e arguto de quem sabe que o tempo precisa da matéria para impregnar sua existência.
AS ROSAS ESTÃO | MONOTIPIA [2019] 9
Fragmentos gravados. Estampas feitas com tinta gráfica, negra que marca o papel. Blocos reunidos contam uma história como um jogo de encaixes e desencaixes. O Coletivo Relevo (Adriana Dias) constrói com imagens diversas uma sequência, que quando vistas juntas tornam-se uma só, e quando separadas tornam-se autônomas em seus limites. A xilogravura tem essa qualidade ter a parte e o todo em suas marcar e impressões.
RELEVO Nº 3 RELEVO Nº 4 | XILOGRAVURA [2014-1015]
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Memórias recontadas na busca pelo tempo que ainda há de existir. Em fotografias e pequenos objetos recolhidos por Helen Carpiné, os quais são armazenados e organizados em pequenos volumes, compreendemos parte da nossa necessidade de colecionar. Coletar. Reunir fragmentos de um todo que deixa de existir a cada instante, a necessidade do tempo quando se percebe que o tempo não é algo a ser contido, mas sim a ser revelado.
POSSIBILIDADES GRPAFICAS | ASSEMBLAGE [2019]
SEM TÍTULO | CIANOTIPIA [2019]
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Arqueologias familiares impulsionam a pesquisa poética de Lídice Salgot. Entre as estantes da antiga biblioteca de seu pai, a artista depara-se com o passado e nele nutre-se de imagens que a fazem refletir sobre o presente. Em seus livros e objetos encontram-se as intersecções temporais necessárias para a eterna necessidade de ressignificar o passado presentificando-o afetiva e criticamente.
O DESTINO DAS BELAS PRINCESAS | VÍDEO E OBJETO [2019]
ANTÔNIO | COLAGEM [2019]
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Sequências. Cadências. As bibliotecas e coleções de Lucimar Bello são como arquipélagos no oceano, quanto mais perto estamos, mas fascinados ficamos com os detalhes e serem descobertos. Palavras- imagens em papéis dobrados, espaços côncavos e convexos criados para o encontro. As imagens dialogam entre si e provocam no observador uma vontade de agir, assim, tornando-se ativador das metáforas propostas.
GALERIA DAS FLORES | INSTALAÇÃO [2019]
BIBLIOTECA DOS PROLOGADOS | INSTALAÇÃO DE PEQUENOS LIVROS [2011-2014]
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São das fotografias familiares guardadas que Marcia Gadioli recolhe memórias e as reconstrói. O tempo coporifica-se nas transferências quase ilegíveis e nas camadas de papéis translúcidos que de tão leves parecem se dissolver. Metáforas da memória, os livros da artista pedem um cuidado ao serem manipulados, o mesmo cuidado que temos com as memórias, pois sabemos o quanto são instáveis e que sua presentificação é um breve lampejo de luz que nunca se repete.
MEMORIAR [SÉRIE] | PÁGINAS EM PAPEL ORIENTAL COM DIVERSOS FORMATOS [2019]
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Camadas
revelam-se
no
corte.
Formas
orgânicas
evidenciam
imagens
escondidas, mas ainda assim o mistério permanece. O que são? A curiosidade de nossos olhos guiam nossas mãos ao ato de folhear, mas este é proibido. Marco Gonçalves cria uma atmosfera intrigante ao mostrar sem revelar. Neste livro-objeto e em outros trabalhos, o artista nos guia por meio de espaços que nos fazem imaginar.
LIVROSINÚTEIS | PÁGINAS IMPRESSAS [2019] 17
Em seus fotolivros Marco Ponce reapresenta o espaço e o homem. A cada página detalhes de suas viagens pelo mundo e como ele torna-se único a partir de sua lente. Um tanto piegas, mas literalmente o tempo congelado ressignifica-se ao estar em movimento quando folheamos suas páginas. Numa série nova, a escrita torna-se presente, a carta inserida na imagem, a fuga e o encontro num pequeno volume que muito ainda irá mostrar.
PROJETO ÁSIA | FOTOLIVRO [2015]
A VIDA AO REDOR DO PALÁCIO | INTERVENÇÃO GRÁFICA DIGITAL [2019]
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Em sua produção artística, Margarida Holler assume diversos papéis. Percebe-se a delicadeza de uma cirurgiã que com cortes e costuras precisos (re)constrói corpos, objetos que articulam-se em sua formas e conteúdos. Também torna-se poetisa ao criar com as imagens os versos a serem lidos com os olhos e com as mãos. Mente e corpo em seu livro-objeto. Mas é no papel de artista-construtora que revela as camadas do tempo, este incansável tempo.
TRAVESSIA | INSTALAÇÃO [2019] 19
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Mirella Mostoni encontra no universo do livro um lugar de pertencimento. Sempre em diálogo com o tempo, a artista constrói narrativas visuais a partir de uma pesquisa profunda sobre personagens adulteras trazendo em seus livros-objetos fragmentos de seus nomes, textos e vidas. O interesse pela materialidade da argila e por sua transformação ao se tornar cerâmica, torna-se mote, pois percebo nesse intervalo a união de conceito e forma, jogo de encontros e desencontros, pois a cada etapa tudo pode ruir.
ADÚLTERAS [SÉRIE]| CERÂMICA [2019]
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Linhas gráficas que cortam horizontes. Partes do todo que constituem o ser. As paisagens de Vera Pamplona instigam. Tanto nas ilhas flutuantes quanto nas estruturas escondidas, a artista traz à tona aquilo que sustenta. Há muito tempo me pergunto sobre a origem das coisas e percebo que a artista faz o mesmo por meio de seus desenhos gráficos, espaciais... esculturais. Sua pesquisa poética está entre o visível e o invisível.
PAISAGEM E/OU LINHAS FLUTIANTES | INSTALAÇÃO [2019]
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Enquanto navegamos . exposição coletiva . livros de artista reune visões multifacetadas do universo do livro de artista. Busca-se criar um diálogo espaço-temporal entre essa linguagem e suas várias abordagens. Como curadora, proponho um navegar entre contemporâneos no exercício constante de observar atentamente as nuances e variações de cada tom, pois “navegar é preciso; viver não é preciso”. Fabiola Notari [julho de 2019] 22
catálogo
enquanto navegamos
fotografia e tratamento de imagem
Iasmyn Duarte apresentação e diagramação
Fabiola Notari
2019-2022
A realização tardia deste catálogo é uma homenagem a Vera Pamplona (in memoriam)