Título
Título Célia Alves
o aço atravessa o que foi música
língua palavra procura alimento
papel tinta penas palavras liquefeitas
livro na folha morta o mundo vivo
anoitece o canto silenciam motores sobra o pranto
na igreja maria de joelhos saudade da filha
flores de ipê no chão renda no céu oferenda
alma do tempo encontrá – la há tempo ?
na parede o mínimo sol
um corpo rasteja seu canto é chão
quando um filho se vai a casa se encolhe em ais
luz da lua blue perfura a sala fria eu
o canto nu
construção tijolo areia cimento quantas são as mãos?
amanhece de dia algaravia só a noite tece
mortos empilhados em valas importa?
árvores ceifadas corpos abatidos voltará o r i s o ?
dia escuro cinza desaba o muro
até de jardim em flor às vezes me esquivo
sem anúncio sem trovão
chuva branda
interstícios por entre palmeiras
mar
estrada de ferro mato no caminho era outra era
na madrugada de inverno um piar de pássaro
dentadura boia no copo vazio
dez onze em que hora a velha senhora prepara o agora?
a luz acende o escuro da mata um galho se estende
raízes nuas indizíveis braços
esquartejam calçadas
em plena cidade suspenso no galho surdo trinado
na madrugada sozinha um zumbido é meu ouvido
domingo o almoço
todos à mesa pra roer o osso
irmãos gêmeos mesmos olhos mesma boca sequer se beijam
aqui ou no Tibet com sol ou sem não tenho ninguém
soa o telefone a voz muda respira
insone
nos braços do jovem casal de preto o caixão branco
eram haicais sobraram
uma flor... rompe o asfalto, é preciso sentir seu perfume, olhar o rio e eouvir o manuelzinh-da-crôa
textos e imagens Célia Alves Design Fabiola Notari