4 minute read
O papel dos hormônios na calvície e o que devemos ter em mente sobre o futuro dos tratamentos
P o r D r . A d e m i r J r .
O diagnóstico de calvície é, talvez, um dos mais dolorosos para quem sofre de queda capilar. Reconheço que há alopecias mais graves que a calvície (alopecia androgenética), mas no contexto geral, a ideia de cuidar dos cabelos, para que eles se mantenham no couro cabeludo, até o final da vida, parece um fardo.
Advertisement
O crescimento de profissionais e franquias de transplante capilar têm feito muita gente pensar que, talvez, esta seja uma solução em relação ao tratamento clínico, abolindo a necessidade deste último. Muitos desses profissionais, e até mesmo a mídia, desavisada, passam a impressão de que é só transplantar que seus problemas acabaram.
Uma ilusão para quem compra este argumento e uma frustração para quem percebe, apenas depois de algum tempo, que a cirurgia trouxe para o alto da cabeça uma quantidade de fios que preencheu bem o couro cabeludo, mas que não impediu que os fios que eram naturais da região receptora, aqueles que podem seguir afinando, frequentes em quem ainda não perdeu todos os cabelos do alto da cabeça, foram caindo e rareando o couro cabeludo, deixando apenas os transplantados.
Bons cirurgiões, por sua vez, estimulam os cuidados clínicos com os cabelos mesmo naqueles que fizeram transplantes. Tenho certeza que isso se dá pela boa índole desses profissionais e pelo respeito que têm pelo ser humano que os procura para a cirurgia. O transplante é uma forma de tratar, mas, na maioria dos casos, não é um tratamento absoluto sem outros cuidados clínicos que envolvem medicamentos, suplementos, cosméticos e procedimentos não cirúrgicos.
Minha experiência como médico clínico tem me apresentado certos desafios nos cuidados com a calvície. Um deles é a perda de eficácia dos principais medicamentos que inibem a enzima que converte o hormônio testosterona em seu derivado mais potente, a dihidrotestosterona (DHT), considerada a grande vilã da calvície para homens e mulheres. Hormônio este responsável pelo afinamento capilar característico da evolução da calvície, já citado acima. E esta perda de eficácia, vem sendo motivo de um vasto montante de elucubrações, de minha parte, sobre qual poderia ser a razão da tal perda de efeito medicamentosa.
Apesar de ser devidamente descrita, pouco se fala da multicausalidade do desenvolvimento da calvície. Fatores como uma microinflamação no entorno dos folículos, aumento da produção de radicais livres no couro cabeludo, maior expressão das vias da PGD2 e Wnt/Beta-Catenina, estresse físico e psicoemocional, causas epigenéticas envolvendo hábitos e estilo de vida, paralelamente à ação do DHT, participam da fisiopatologia da calvície. Talvez, até outros fatores possam estar presentes, mas estes são os mais conhecidos.
Diante disso, fico sempre com aquela sensação de que, quem sabe, a participação da DHT, que passa a se expressar de forma mais importante na adolescência, seja um maior disparador e promotor de desenvolvimento do quadro nos anos que se seguem à chegada da puberdade (quando os androgênios começam a ser produzidos em maior quantidade), e, por isso, uma maior parte dos pacientes responda melhor aos inibidores de conversão de Testosterona em DHT quando são mais jovens. Porém, com o passar dos trinta anos, quando a produção destes hormônios tende a declinar ano a ano, é frequente a perda de eficácia dos medicamentos com esta função.Daí vem o questionamento: seria por que eles realmente perdem efeito, ou por que a partir do momento em que os androgênios declinam, outros fatores causais passam a atuar de forma mais intensa, assumindo papel mais importante do que o DHT?
Talvez a perda de importância do DHT na fisiopatologia da calvície, com os anos, caso isso seja uma realidade, seja até benéfico para os pacientes, uma vez que este hormônio exerce funções importantes no nosso organismo, em estruturas como o cérebro, os músculos, o aparelho reprodutor e o fígado. Funções estas que, a sua menor concentração no organismo, provocada pelas medicações inibidoras da formação de DHT, poderia favorecer o surgimento de outros problemas de saúde, além dos já conhecidos efeitos colaterais que estas medicações apresentam.
Tenho comigo que ainda há muito o que ser estudado sobre este assunto. Tanto para compreender a eventual perda de efeito dos inibidores de conversão quanto para entender quais fatores têm maior papel na progressão da calvície a partir de uma certa idade, mesmo quando mantemos os pacientes em uso dos inibidores. Quem ganhará com isso são os pacientes que têm ou não indicação para o transplante, até porque, como já dissemos, os transplantados também devem continuar seus tratamentos clínicos. Estruturar uma boa estratégia terapêutica atuando de forma a combater a multicausalidade do problema, designando ações mais efetivas para cada fase da doença, assim como para cada momento da vida, deve ser o olhar que devemos ter para o futuro do tratamento da calvície.
Dr Ademir C Leite Júnior – CRM-SP 92.693 Médico Responsável da Clinica HTRI - Brasil
Diretor do CAECI Educacional e da Filial Brasil da International Association of Trichologists (IAT)