A Cor das Palavras
Ricardo Oliveira
A Cor das Palavras
Ficha técnica ISBN 972-46-1607-X © Ricardo Oliveira, 2008 Direitos reservados para Portugal QRBOOKS Rua Banda da Amizade, n.º 24 3800 Aveiro Tel.: 234 333 444, Fax: 234 333 445 E-mail: geral@qrbooks.pt Revisão: Samuel Teixeira Capa: Fabrício de Paula Imagens: Artur Oliveira Edição: 10 05 0035 1.º Edição: Dezembro de 2008 Depósito legal número 230 851/05 Impressão e acabamento: Norprint Artes Gráficas, S.A.
Ricardo Oliveira
A Cor das Palavras Poesia a Três Dimensões
Abertura
N
a actualidade, é cada vez mais imprescindível observarmos o fenómeno tecnológico como algo importante para a comunicação. Fazendo uso deste meio, podemos contribuir para a formação da opinião plural que caracteriza a nossa sociedade. Por este motivo, o nosso livro, para além de ser, em essência, um livro, interage com utensílios tecnológicos a fim de que a comunicação aconteça em mais diversificados meios e intercepte as diferentes sensações. Neste sentido, o livro, no seu formato de papel, irá interagir com o leitor, tal como no universo da web. Este livro, primeiro número da colecção Poesia a três dimensões, propõe leitura de poemas, acompanhados por pintura ao som de música; sendo tudo isto possível no livro, enquanto suporte de papel, bastando a presença de um telemóvel com ligação à internet e software que leia o QR Code. Quando fotografado, o código transforma-se em texto no visor do seu telemóvel. No final da página, encontra-se uma sequência de códigos QR, um darlhe-á acesso à música, sugestão do autor, que acompanha a leitura do poema e a observação do quadro. O outro código QR prendá-lo-á com uma possível interpretação dos artistas da obra que acabou de ler. No seu todo, são seis as obras apresentadas, todas elas ligadas como um percurso, pelo que, decifrando todos o QR Code relativos ao meta-texto, obterá um possível caminho de interpretação de toda a obra oferecido pelos próprios autores. O leitor, então, acederá a este livro quer através do formato de papel, quer por meio de plataformas alicerçadas na tecnologia. Desta forma, possibilitamos o acesso ao conteúdo de A Cor das Palavras, título deste nosso primeiro número, no site www.issuu.com, no qual aquele será alojado e poderá ser consultado na forma de e-book. Esta tecnologia permite ao utilizador ler o livro virtualmente sem que se perca a beleza do folhear. Ainda possibilita que a página seja aumentada para que se detalhe a informação, o que, neste caso, em virtude de apresentarmos um livro que mescla a arte pictórica com a arte poética, é de grande pertinência. Acresce a isto a companhia da música, que acompanhará a leitura, harmoniosamente unida ao conteúdo da obra. A Cor das Palavras é editada num formato moderno e elegante, para que o leitor usufrua com qualidade e versatilidade da arte proposta pelos artistas. É uma proposta arrojada, um meta-livro que se propõe agradar não só através do conteúdo, mas também pela forma e ainda pela flexibilidade que a tecnologia oferece. É um livro que permite ao leitor navegar através das suas hiperligações, interagindo com ele.
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Diálogo Universo
Repouso na face do conceito Um sopro saudoso de harmonia. Deslizo as mãos pelo contorno E cresço e diminuo na rugosidade Áspera de um espaço que não é. O vácuo de ser Prospera em mim Como a força concreta do caminhar. No infinito leio o fim, Calculo o princípio: Verso universal pintado Em tela sem hora e local. E na pintura sinto E leio bem o que deixei No traço de um número Que surge em poema, Numa folha interminável. Olhar sobre o horizonte — Que se finge fim — Mãos lançadas para diante, Língua molhada em vento, Ouvidos sobre o perfume aspirado… Penetro-me em sensações Numa certeza ambígua de unidade!
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História No submundo dos intercedentes Na minha varanda, Olho a incessante actividade Dos humanos. Há música Nas calhas da engrenagem E é o peso das notas Que a faz mover. Vejo-a por detrás das coisas: São rodas gigantescas Que giram Entre a liberdade e a opressão. Ouço a música, E estendo os sons Obliquamente Sobre uma corda Presa ao tempo. Escuto, na esperança De explicar… Mas os espaços entre os sons São buracos infinitos e escuros! Caio sem tempo nem espaço Num vórtice de silêncio. Entendo que o som É a tinta parietal E o silêncio o alicerce. Subentendidamente, Silêncios são diálogos Que movem o mundo; Sub-repticiamente, Silêncios falam, Cunhando com estrondo A civilização!
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Trabalho Bananas no país das maravilhas A caixa de brinquedos Está diante de um olhar simples E um braço humilde cresce para ela, Num movimento habitual e irreflectido. A fantasia nasce! Um mundo novo acontece! Um rei autoproclama-se E a fantasia já tem quem a governe. Recolhe os bonecos E senta-os em carrinhos, Fazendo-os deslizar por montanhas Salpicadas de palmeiras. Colhe as bananas e açucara um boneco, Deixando os restantes perplexos de fome. Depois, pega nas notas e compra terrenos, Onde constrói casas e hotéis. Inventa um monopólio E esmaga os carrinhos com a sua incauta mão. De seguida, dispara contra os bonecos, Que havia colocado junto à estrada, Uma bisnagada que os derruba. Ainda bem que tudo isto se passa num mundo ideal, Inventado por uma criança Para se divertir naquele momento, Sem lhe importarem mortes ou injustiças, Pois a verdade dos seus actos não alcança concretização. Saudemos, porque tudo isto são brincadeiras Que, com a idade, se desvanecem…
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Festa A invejável vontade de festejar A força da sorte Supera-me na ânsia de cada dia. O tempo agiganta-se, titânico, Na força das Parcas E a mim cabe-me O equilíbrio num estreito fio, Do qual desconheço o fim… Cerca-me a escuridão, O não-ser do porvir, A inverosimilhança do foi. Enredo a vida no momento, Pretendendo sustentar o fio Num nó que deus desconhece. Finalmente, actuo E a terra gira mais rápido Do que eu pensava E já estão todos a jogar: Curva no arco, E, numa só flecha, Abatem milhares de alvos! Todavia, sinto o milagre De que estou vivo! E vou celebrar com a beleza de um sorriso A força da dança. Extasiado, deixarei A melodia equilibrar a existência. E, na simplicidade, Festejarei incessantemente A vitória de ser E depositarei nesta certeza A alegria de um gracejo Como solução para a vida! 11
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Imperfeito
A infindável luta pela satisfação das necessidades Corres, saltas, pulas, O que buscas? Desvias, ludibrias, procuras, O que buscas? Apressas o passo, olhas o relógio, O tempo urge e não pára… Espera! Senta-te aí. Lê, no calor calmo desta fogueira, A melodia mágica dum verso simples. Estás preso à vida, São cordas que prendem os teus movimentos Nas incompreensíveis questões — Prisão mais feroz Jamais inventada! Olha para ti: persegues o trabalho E o bem-estar social, Queres materializar os teus desejos Numa perfeição iníqua, Queres viver apressado, Buscar tudo e acabar… Imperfeito… Na simplicidade de um abraço Eterniza a amizade já esquecida. Caminha à velocidade do tempo No espaço que te é reservado, Nele encontrarás uma paisagem. Não questiones a sua beleza. Ela é bela na sua realidade. Desfruta-a! Contempla estes pequenos deleites! Saboreia o que a vida tem para te dar, Não a forces a dar o que não quer.
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Harmonia O seco interior do sol Agarro numa guitarra E passeio os dedos pelas cordas Com a incerteza de tactear o mistério Que a conjugação daquelas oferece. A melodia suspende-se Numa possibilidade de ser Entre mim e a minha sombra. Então, procuro no som O sentido da minha música. Sobre a tonalidade quente Deambulo até ao interior de Sol. Pouso a existência sobre o momento E equilibro-me na fina corda da pauta. Percebo o Sol a sós, Como um homem sem amigos, E a brisa cálida com que me sopra Seca a esperança de encontrar a música… Porque ela não existe Na solidão de um tom, Ela habita na composição de diferentes Individualidades, formando uma harmonia!
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