Ecoturismo

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UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – NEaD

Ecoturismo Livro-texto EaD

Natal/RN 2010


DIRIGENTES DA UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP Reitoria Sâmela Soraya Gomes de Oliveira Pró-Reitoria de Graduação e Ação Comunitária Sandra Amaral de Araújo Pró-Reitoria de Pesquisa, Extensão e Pós-Graduação Aarão Lyra

NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA DA UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP Coordenação Geral Barney Silveira Arruda Luciana Lopes Xavier Coordenação Pedagógica Edilene Cândido da Silva Coordenação de Produção de Recursos Didáticos Michelle Cristine Mazzetto Betti Coordenação de Produção de Vídeos Bruna Werner Gabriel Coordenação de Logística Helionara Lucena Nunes

Revisão de Linguagem e Estrutura em EaD Priscilla Carla Silveira Menezes Thalyta Mabel Nobre Barbosa Úrsula Andréa de Araújo Silva Apoio Acadêmico Flávia Helena Miranda de Araújo Freire Assistente Administrativo Eliane Ferreira de Santana Gabriella Souza de Azevedo Gibson Marcelo Galvão de Sousa Giselly Jordan Virginia Portella

J96e Justino, Ana Neri da Paz. Ecoturismo / Ana Neri da Paz Justino, Maria Célia Fernandes, Maria da Conceição da Paz Silva. – Natal: EdUnP, 2010. 80p. : il. Ebook – Livro eletrônico disponível on-line. ISBN 1. Ecoturismo. I. Fernandes, Maria Célia. II. Silva, Maria da Conceição da Paz.III. Título. RN/UnP/BCSF

CDU 379.85:504


Ana Neri da Paz Justino Maria Célia Fernandes Maria da Conceição da Paz Silva

Ecoturismo 1a. edição

Natal/RN 2010


EQUIPE DE PRODUÇÃO DE RECURSOS DIDÁTICOS Organização Luciana Lopes Xavier Michelle Cristine Mazzetto Betti Coordenação de Produção de Recursos Didáticos Michelle Cristine Mazzetto Betti Revisão de Linguagem e Estrutura em EaD Úrsula Andréa de Araújo Silva Ilustração do Mascote Lucio Masaaki Matsuno

EQUIPE DE PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO Delinea - Tecnologia Educacional Coordenação Pedagógica Margarete Lazzaris Kleis Coordenação de Editoração Charlie Anderson Olsen Larissa Kleis Pereira Coordenação de Revisão Gramatical e Normativa Michelle Christie Olsen Revisão Gramatical e Normativa Morgana do Carmo Andrade Barbieri Coordenação de Diagramação Alexandre Alves de Freitas Noronha Diagramação Fabrício Trindade Ferreira Ilustrações Alexandre Beck


Sou Mestranda em Administração, Especialista em Educação Ambiental e Bacharel em Turismo pela Universidade Potiguar. Atualmente ensino nos cursos de Administração, Cinema, Turismo, Tecnologia em Gestão Ambiental, Tecnologia em Gestão Pública e Gestão de Recursos Humanos e na Pós-Graduação, além de coordenar a especialização Lato Sensu em Gestão e Organização de Eventos. Tenho experiência de docência nas disciplinas de Turismo e Meio Ambiente, Seminários Integrativos I, Turismo e Sociedade, Ética e Responsabilidade social, Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental, Lazer, Cultura e Entretenimento, Seminário de Integração, Educação Ambiental e Gestão do Lazer no Turismo, ainda exerço a função de Professora Bolsista no Projeto Barco-Escola Chama-Maré. Também tenho experiência profissional no planejamento e gestão do turismo, lazer e organização de eventos e na coordenação de projetos de pesquisa e extensão.

Maria Célia Fernandes Sou Doutoranda, Mestre e Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, onde fui professora substituta no período de 1996 a 1998 no Departamento de Geografia do Centro de Ensino Superior de Caicó. Em Natal, trabalho como professora na Universidade Potiguar desde 1997. Atualmente ensino nos cursos de Turismo, Gastronomia, Tecnologia em Gestão Ambiental e Tecnologia em Gestão Pública. Tenho experiência de docência nas disciplinas de Metodologia Científica, Elaboração e Análise de Projetos, Sociologia Geral, Antropologia, Organização do Espaço, História Contemporânea, Turismo e Meio Ambiente, e Fundamentos da Hospitalidade. Atuo ainda como consultora nas áreas de Turismo e Meio Ambiente e desenvolvo pesquisa sobre a gestão ambiental em Unidades de Conservação. Acredito que o conhecimento é algo sempre em construção, que poderá contribuir para a conquista de um mundo melhor para todos.

CONHECENDO O AUTOR

Ana Neri da Paz Justino


Maria da Conceição da Paz Silva Sou bacharel em Geografia, formada pela Universidade Federal do Rio Grande Norte - UFRN. Concluí o curso no ano de 2008 e reingressei na modalidade Licenciatura. Atualmente estou em fase de conclusão do curso de pós-graduação em Geoprocessamento e Cartografia Digital, pelo Departamento de Geografia da UFRN. Atuo profissionalmente como consultora em uma empresa especializada em consultoria e acompanhamento de processos de licenciamento ambiental dos mais diversos tipos de empreendimentos, elaborando estudos e relatórios de viabilidade ambiental para instalação e/ou operação dos empreendimentos a serem licenciados. pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, onde fui professora substituta no período de 1996 a 1998 no Departamento de Geografia do Centro de Ensino Superior de Caicó. Em Natal, trabalho como professora na Universidade Potiguar desde 1997. Atualmente ensino nos cursos de Turismo, Gastronomia, Tecnologia em Gestão Ambiental e Tecnologia em Gestão Pública. Tenho experiência de docência nas disciplinas de Metodologia Científica, Elaboração e Análise de Projetos, Sociologia Geral, Antropologia, Organização do Espaço, História Contemporânea, Turismo e Meio Ambiente, e Fundamentos da Hospitalidade. Atuo ainda como consultora nas áreas de Turismo e Meio Ambiente e desenvolvo pesquisa sobre a gestão ambiental em Unidades de Conservação. Acredito que o conhecimento é algo sempre em construção, que poderá contribuir para a conquista de um mundo melhor para todos.


Olá! Seja bem-vindo à disciplina Ecoturismo. Durante este semestre, iremos conhecer melhor um segmento bastante importante da atividade turística: o ecoturismo. Na nossa nova empreitada, entenderemos as relações desse segmento com o meio ambiente e seus recursos. Ao finalizar esta disciplina, você deverá estar esclarecido a respeito da relação homem X natureza, no âmbito do ecoturismo; compreender as diferenças entre as práticas ecoturísticas e as práticas do turismo convencional; conhecer o arcabouço jurídico que dá suporte à atividade por meio da legislação ambiental; entender o processo de planejamento e execução dessa atividade, baseado nas diretrizes do desenvolvimento sustentável; além de ser capaz de perceber, a partir das perspectivas atuais, as potencialidades ecoturísticas de diferentes lugares, na perspectiva de criação de novas oportunidades de negócios sustentáveis para o profissional do turismo. No decorrer de nossos estudos, constataremos como este segmento turístico tem crescido e atraído cada vez mais pessoas, que buscam uma forma diferenciada de lazer e qualidade de vida, e que buscam um contato mais íntimo com a natureza, sem agredila e tampouco prejudicar as populações locais que dela dependem. Esse é o perfil esperado pelo Ecoturista! E para atender as necessidades dessa nova demanda, é necessário entendermos como se dá essa relação entre o turismo e o meio ambiente, bem como os potenciais impactos advindos dessa atividade. Para que os conteúdos aqui apresentados sejam bem assimilados, é importante que você utilize o nosso Sistema de Apoio ao Aluno a Distância, formado por tutores e monitores orientados para atendê-lo. É importante também que você faça as leituras e os exercícios propostos. Mas, você pode ir além, pesquisando em outras fontes acerca da temática, consultando as referências indicadas e, assim, enriquecendo cada vez mais a sua carga de conhecimento. Bons Estudos!

CONHECENDO A DISCIPLINA

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Capítulo 2 - As Bases Conceituais do Ecoturismo .................................... 33 2.1 Contextualizando .......................................................................................................... 33 2.2 Conhecendo a teoria .................................................................................................... 34 2.2.1 Conhecendo o ecoturismo .............................................................................. 35 2.2.2 Os vários olhares para o ecoturismo ............................................................ 37 2.2.3 As localidades receptoras e o ecoturismo ................................................. 39 2.2.4 O ecoturismo sob a ótica das políticas públicas ...................................... 41 2.2.5 O ecoturismo como segmento do mercado ............................................. 44 2.2.6 O ecoturismo sob o prisma dos praticantes ............................................. 46 2.3 Aplicando a teoria na prática..................................................................................... 48 2.4 Para saber mais .............................................................................................................. 49 2.5 Relembrando .................................................................................................................. 50 2.6 Testando os seus conhecimentos ............................................................................ 51 Onde encontrar ..................................................................................................................... 51 Capítulo 3 - As unidades de conservação e suas formas de intervenção ...... 53 3.1 Contextualizando .......................................................................................................... 53 3.2 Conhecendo a teoria .................................................................................................... 54 3.2.1 Concepção histórica das Unidades de Conservação ............................. 54 3.2.2 As Unidades de Conservação no Brasil ....................................................... 59 3.2.3 O Sistema Nacional de Unidades de Conservação da natureza – SNUC .... 64 3.2.4 O SNUC e suas possibilidades de intervenção.......................................... 65 As Unidades de Proteção Integral................................................................................................ 65 As Unidades de uso sustentável................................................................................................... 67 3.3 Aplicando a teoria na prática..................................................................................... 70 3.4 Para saber mais .............................................................................................................. 72 3.5 Relembrando .................................................................................................................. 73 3.6 Testando os seus conhecimentos ............................................................................ 74 Onde encontrar ..................................................................................................................... 74 Capítulo 4 - A Relação Turista e Natureza ................................................ 77 4.1 Contextualizando .......................................................................................................... 77 4.2 Conhecendo a teoria .................................................................................................... 78

SUMÁRIO

Capítulo 1 - A História do Turismo e a Emergência do Ecoturismo .......... 13 1.1 Contextualizando ........................................................................................................... 13 1.2 Conhecendo a teoria ..................................................................................................... 14 1.2.1 Os deslocamentos através dos tempos ....................................................... 14 A origem dos deslocamentos e suas motivações .................................................................. 14 Antecedentes históricos das viagens ......................................................................................... 15 A modernidade e o turismo de massa ....................................................................................... 15 O turismo na atualidade: interface com o meio ambiente ................................................. 15 1.2.2 O ecoturismo como ferramenta de sustentabilidade ............................ 21 1.3 Aplicando a teoria na prática .................................................................................... 27 1.4 Para saber mais .............................................................................................................. 29 1.5 Relembrando .................................................................................................................. 30 1.6 Testando os seus conhecimentos ............................................................................ 31 Onde encontrar ..................................................................................................................... 31


4.2.1 O turista: conceituação etimológica ..................................................................................... XX 4.2.2 O perfi l do turista ao longo do tempo ................................................................................ 80 4.2.3 A emergência do turista de massa......................................................................................... 84 4.2.4 O ecoturismo como modelo de turismo alternativo....................................................... 87 4.2.5 O perfi l e a prática do ecoturista............................................................................................ 91 4.3 Aplicando a teoria na prática.............................................................................................................. 93 4.4 Para saber mais ....................................................................................................................................... 95 4.5 Relembrando ........................................................................................................................................... 96 4.6 Testando os seus conhecimentos ..................................................................................................... 97 Onde encontrar .............................................................................................................................................. 97 Capítulo 5 - A Importância da Educação Ambiental para o Ecoturismo .................. 101 5.1 Contextualizando ................................................................................................................................. 101 5.2 Conhecendo a teoria ........................................................................................................................... 102 5.2.1 A EA como ferramenta para a humanização das intervenções antrópicas ........... 104 5.2.2 A Educação Ambiental Formal e Não formal ................................................................... 108 5.2.3 O ecoturismo como uma área de interesse da EA.......................................................... 110 O papel das escolas ..................................................................................................................................................... 111 As localidades receptoras de ecoturismo ........................................................................................................... 112 5.2.4 Experiências de práticas de EA com fi nalidade ecoturística...................................... 114 Outward Bound (http://www.obb.org.br/OBB/default.asp) ......................................................................... 115 Projeto Golfinho Rotador (http://www.golfinhorotador.org.br/) ................................................................ 116 5.3 Aplicando a teoria na prática............................................................................................................ 118 5.4 Para saber mais ..................................................................................................................................... 120 5.5 Relembrando ......................................................................................................................................... 121 5.6 Testando os seus conhecimentos ................................................................................................... 122 Onde encontrar ............................................................................................................................................ 123 Capítulo 6 - O Ecoturista e as Populações Tradicionais ............................................. 125 6.1 Contextualizando ................................................................................................................................. 125 6.2 Conhecendo a teoria ........................................................................................................................... 126 6.2.1 As unidades de conservação e o ecoturismo .................................................................. 128 6.2.2 As populações tradicionais em áreas naturais protegidas .......................................... 136 6.3.3 O universo cultural das populações tradicionais............................................................ 140 6.3 Aplicando a teoria na prática............................................................................................................ 142 6.4 Para saber mais ..................................................................................................................................... 144 6.5 Relembrando ......................................................................................................................................... 145 6.6 Testando os seus conhecimentos ................................................................................................... 146 Onde encontrar .............................................................................................................................................146 Capítulo 7 - O Planejamento e a Gestão do Ecoturismo ........................................... 149 7.1 Contextualizando ................................................................................................................................. 149 7.2 Conhecendo a teoria ........................................................................................................................... 150 7.2.1 Entendendo o planejamento ................................................................................................ 150 7.2.2 As instâncias de governança e a articulação dos atores para planejamento e ........... gestão do ecoturismo ................................................................................................................................ 153 7.2.3 Mecanismos de planejamento e gestão do ecoturismo sob a ótica do poder público ..157 7.3 Aplicando a teoria na prática............................................................................................................ 164


7.4 Para saber mais ..................................................................................................................................... 165 7.5 Relembrando ......................................................................................................................................... 166 7.6 Testando os seus conhecimentos ................................................................................................... 168 Onde encontrar ............................................................................................................................................ 168 Capítulo 8 - Ecoturismo na Contemporaneidade: impactos, tendências e perspectivas ..171 8.1 Contextualizando ................................................................................................................................. 171 8.2 Conhecendo a teoria ........................................................................................................................... 172 8.2.1 O ecoturismo e os impactos potenciais no meio ambiente ....................................... 172 Efeitos e Impactos Negativos Potenciais do Ecoturismo ............................................................................... 176 Medidas mitigadoras e compensatórias ............................................................................................................. 179 8.2.2 Tendências e perspectivas do ecoturismo ........................................................................ 181 As Organizações Não Governamentais e o Ecoturismo ................................................................................. 183 8.3 Aplicando a teoria na prática............................................................................................................ 186 8.4 Para saber mais ..................................................................................................................................... 187 8.5 Relembrando ......................................................................................................................................... 189 8.6 Testando os seus conhecimentos ................................................................................................... 189 Onde encontrar ............................................................................................................................................ 189 Referências .................................................................................................................................................... 191



Capítulo 1

CAPÍTULO 1 A História do Turismo e a Emergência do Ecoturismo

1.1 Contextualizando Olá, como vai? Estamos dando o primeiro passo da nossa caminhada de aprendizado por meio da disciplina de Ecoturismo. Neste capítulo, daremos ênfase às questões relacionadas à história do turismo e à emergência do ecoturismo. Como você verá durante todo o seu estudo, o conteúdo traz elementos referentes aos deslocamentos através dos tempos por meio de uma abordagem que contempla desde a Antiguidade Clássica até os dias atuais. Além disso, também iniciamos nossa discussão a respeito do ecoturismo, apresentando aspectos relacionados ao seu surgimento intimamente atrelado às questões relacionadas ao movimento ambientalista da segunda metade do século XX. Neste sentido, conhecer a importância do conteúdo proposto para este capítulo é ferramenta indispensável para um entendimento coerente a respeito da disciplina ecoturismo, tendo em vista que este é o nosso primeiro passo. Portanto, ao final deste capítulo, esperamos que você esteja apto a: •• reconhecer os aspectos relativos aos deslocamentos humanos através dos tempos; •• identificar a interface da atividade turística com o meio ambiente; •• estabelecer o ecoturismo como ferramenta de sustentabilidade a partir do surgimento do movimento ambientalista.

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Esperamos que esta seja uma jornada bastante proveitosa para você com a aquisição de novos conhecimentos para sua prática profissional. Bons estudos!

1.2 Conhecendo a teoria 1.2.1 Os deslocamentos através dos tempos Você já parou para pensar quantas vezes já ouviu alguém falando sobre os lugares encantadores que conheceu ou os desejos e planos de conhecer novas cidades, regiões ou, até mesmo, países distantes do seu local de moradia? Várias, não é verdade? E quando isso ocorre, as pessoas estão sempre comentando sobre as viagens que fizeram e até sobre as que sonham ou planejam fazer um dia. Neste caso, imediatamente associamos o ato de viajar ao turismo. Mas, o que entendemos por turismo? Responder a esta pergunta exige uma verdadeira viagem no contexto histórico da evolução da humanidade, tendo em vista que são vários os fatores associados a este termo.

A origem dos deslocamentos e suas motivações Para começar, temos que distinguir a viagem de outros tipos de deslocamentos, já que o ato de viajar implica a ação de deslocar-se de um lugar para o outro. Na maior parte do período da Pré-história, os homens primitivos se deslocavam constantemente em busca de lugares que pudessem suprir o seu sustento com frutos, raízes, caça, e, ainda, lugares que pudessem oferecer proteção contra animais ferozes ou as adversidades da natureza (frio, inundações, erupções de vulcões, terremotos etc.). Figura 1 - Homem primitivo

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Capítulo 1

O que podemos afirmar é que os deslocamentos ocorriam sem pretensão de retorno ao local de origem, pois, naquela época, o homem era nômade, ou seja, um ser coletor, que vivia uma relação de dependência com a natureza. E, sendo assim, seus deslocamentos não eram considerados viagens, uma vez que o ato de viajar implica o retorno ao lugar de origem, atitude que não era característica dos nômades.

Antecedentes históricos das viagens O conhecimento e o domínio da técnica do fogo e da agricultura fizeram o ser humano se tornar sedentário, isto é, fixar-se em um lugar e dele extrair o seu sustento. A chamada revolução agrícola, a domesticação de animais, o aperfeiçoamento da caça e da pesca contribuíram para o nascimento das grandes civilizações, que deram início às sociedades da Antiguidade.

SAIBA QUE Você sabia que, a partir daquele período, a viagem assumiu um caráter com sentido de volta e que as principais motivações eram: o comércio; a guerra e a conquista de novos territórios; os eventos esportivos (como é o caso das olimpíadas que aconteciam na Grécia de quatro em quatro anos) e as festas comemorativas e pelo prazer e divertimento na época do Império Romano? (IGNARRA, 2003).

Você deve ter percebido que estamos falando da Antiguidade Clássica, ou seja, de uma época em que os homens viajavam com a intenção de retornar ao seu lugar de origem. E os fatores contribuintes para isso foram as facilidades criadas a partir do conhecimento humano: a invenção da roda, possibilitando a fabricação de transportes de cargas ou de pessoas pelos Sumérios (2.500 a.C.), e aperfeiçoada pelos Assírios (688 a.C.); a fabricação de carros ágeis puxados por animais entre os egípcios (1.400 a.C.); a construção de estradas pelos romanos (500 a.C.); o desenvolvimento de um sistema de comunicação com o advento dos Correios também no período do Império Romano, entre outros inventos desses povos antigos (MUSEU VIRTUAL DO TRANSPORTE URBANO, 2010). Já na Idade Média, este cenário mudou de configuração a partir da queda do Império Romano. Yasoshima e Oliveira (2002, p. 32) afirmam que,

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naquela época, “os deslocamentos tornaram-se perigosos e difíceis devido à falta de segurança, aos saques e assassinatos e aos ataques dos bárbaros”. Então, naquele momento da história, houve uma diminuição nos números das viagens, ficando estas restritas aos deslocamentos marcados pelas características religiosas, especialmente pelas atividades da Igreja Católica no Ocidente.

EXPLORANDO A Idade Média foi um período marcado pela ocorrência das Cruzadas, expedições religiosas organizadas pela Igreja Católica, a fim de reconquistar Jerusalém do domínio muçulmano. Acessando o site: <http://www.brasilescola.com/ historiag/cruzadas.htm>, você pode conhecer como ocorriam esses grandes deslocamentos coletivos organizados.

Neste contexto de movimentação religiosa ao final da Idade Média, houve uma crescente busca por locais considerados sagrados pela Igreja, cujo intuito dos fiéis era alcançar a salvação. Fechando aquele período, vale salientar ainda que, por volta do século XV, foram iniciadas as grandes expedições transoceânicas europeias, motivadas pelos descobrimentos de novas terras.

A modernidade e o turismo de massa No subitem anterior, tratávamos de um contexto de viagens com características bem distintas. Agora, trataremos de mais duas abordagens sobre o contexto histórico das viagens: as longas viagens com a perspectiva da aquisição de novos conhecimentos, ou seja, o Tour e o surgimento das primeiras viagens com características massificadas. Essa primeira abordagem dada ao turismo na modernidade está relacionada com a questão da busca por novos lugares, novos conhecimentos, novas culturas, novas formas de expansão intelectual. Entretanto, nem sempre essa busca era objetiva, pois o desconhecido muitas vezes era inusitado e pitoresco.

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[...] Um buscador é alguém que busca; não necessariamente alguém que encontra. Também não é necessariamente alguém que sabe o que está buscando; é simplesmente alguém para quem sua vida é uma busca permanente [...] (RANGEL, 2002, p. 146).

Esta parábola de Rangel (2002) ilustra bem a informação que vamos trazer neste momento a respeito do Tour, uma viagem realizada normalmente por jovens ingleses, acompanhados de seus professores (tutores) particulares e com duração média de três anos. Barreto (2003) explica que este tipo de viagem tinha um caráter de aprendizado com reflexos na preparação dos jovens integrantes da elite inglesa para o exercício de cargos de comando tanto civil quanto militar. Vale acrescentar ainda que conhecer a Itália era o ponto alto deste tipo de viagem, característico dos séculos XVI a XVIII. A partir da Revolução Industrial, aconteceu uma mudança na estrutura da sociedade, uma vez que a sua organização saiu do sistema produtivo em feudos para a consolidação do capitalismo. Assim, mudaram-se os modos de produção e a viagem assumiu um novo caráter, estimulada especialmente pelo incremento dos transportes, com destaque para os trechos cortados pelo transporte ferroviário, fator que diminuía as distâncias na época. Naquele período, surgiu então um vendedor de bíblias chamado Thomas Cook que revolucionou o sentido e a organização das viagens.

BIOGRAFIA Thomas Cook (1808 - 1892) foi um empresário inglês, que transformou a produção “artesanal” de turismo em uma moderna indústria mercantil. Em 1841, esse vendedor de bíblias andara 15 milhas para um encontro de uma liga contra o alcoolismo em Leicester. Para um outro encontro, em Loughborough, ocorreu-lhe a ideia de alugar um trem para levar outros colegas. Juntou 570 pessoas, comprou e revendeu os bilhetes, configurando a primeira viagem agenciada (IGNARRA, 2003). Fonte: Disponível em: <http://www.rootsweb.ancestry.com/~nafrica/EGYPT/ThomasCook.html>.

As viagens no século XIX foram marcadas pela interferência desse Ecoturismo

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inglês, fator que apresenta o surgimento do turismo como um fenômeno de massa na Idade Moderna, impulsionado pelo incremento dos transportes na Europa. Vale salientar ainda outro fator contribuinte para esse fenômeno, as mudanças nas relações sociais com o surgimento do trabalho assalariado, aliado aos benefícios conquistados pelos trabalhadores, como, por exemplo, fim de semana de folga e férias remuneradas. Com esses aspectos, surgiu a existência do tempo liberado do trabalho, levando as pessoas a procurarem pelo lazer em suas horas de folga, ficando o turismo como a principal atividade de lazer já no século XX.

O turismo na atualidade: interface com o meio ambiente A primeira metade do século XX foi marcada pelas duas grandes guerras mundiais, fato que fez do turismo uma atividade vulnerável no período em que as guerras ocorriam. Entretanto, as estratégias militares, que culminaram em inovações tecnológicas nos dois conflitos, beneficiaram o capitalismo. Sendo o turismo uma atividade com características eminentemente capitalistas, ele também se apropriou dessas facilidades. O turismo nasceu e se desenvolveu com o capitalismo. A cada avanço capitalista, há um avanço do turismo. A partir de 1960, o turismo explodiu como atividade de lazer, envolvendo milhões de pessoas e transformando-se em fenômeno econômico, com lugar garantido no mundo financeiro internacional (MOESCH, 2000, p. 9).

De acordo com a afirmação de Moesch (2000), o turismo contemporâneo teve o seu início marcado pela busca de números na balança comercial. Estes aspectos levaram à prática massiva da atividade, e a sua realização, antes de qualquer coisa, ficou atrelada “aos lugares da moda”, caracterizando como uma atividade geradora de status para quem a realizava. Por se tratar de uma atividade que é realizada eminentemente fora do local de origem do praticante, a Organização Mundial do Turismo – OMT define a mesma como:

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CONCEITO “O turismo compreende as atividades que realizam as pessoas durante suas viagens e estadas em lugares diferentes ao seu entorno habitual, por um período consecutivo inferior a um ano com finalidade de lazer, negócios ou outras” (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TURISMO, 2001, p. 38).

Neste sentido, o turismo contemporâneo vai além da simples relação de consumo estabelecida pela natureza econômica que a atividade mantém, apresentando, antes de qualquer coisa, relações sociais e ambientais entre o visitante e a comunidade receptora. Esse entendimento se deve ao fato de a atividade ser produzida/consumida em um determinado espaço, cujas características são singulares sob as óticas econômica, social, cultural e ambiental. De acordo com essas informações, Dias (2003, p. 13) explica que num primeiro instante, a característica da exploração realizada pelo turismo de massas não tornava tão evidente seus impactos negativos no ambiente natural, a tal ponto que durante a década de 1960, em termos de desenvolvimento econômico, somente se considerava seu aspecto positivo e ele era visto como uma verdadeira dádiva dos céus.

Entretanto, a partir desse período, nós verificamos o despertar da consciência ambiental. O crescimento econômico pela via da industrialização e a expansão do consumo nos países desenvolvidos, sem o devido respeito aos limites da natureza, impulsionou o surgimento do movimento ambientalista. Em 1968, foi realizado um encontro em Roma – na Itália – com a participação de cientistas, representantes de governos de vários países, empresários e ecologistas para discutir os problemas ambientais que afligiam a humanidade, incluindo a fome e a miséria dos países pobres. Nas décadas seguintes, a Organização das Nações Unidas – ONU – promoveu eventos internacionais em defesa do meio ambiente, como a Conferência de Estocolmo (Suécia) em 1972 e a do Rio de Janeiro (Brasil) em 1992. Ela colocou na pauta de discussão o desenvolvimento sustentável, que surgiu como uma alternativa ao modelo clássico de crescimento econômico, obtido pelo uso indiscriminado dos recursos naturais.

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