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BEM ESTAR..................................................................................................... 5 Os benefícios do Yoga LIVROS...............................................................................................................7 NOTAS................................................................................................................ 8 INICIATIVA..................................................................................................... 10 Recicla Som HISTÓRIA........................................................................................................12 30 anos sem Marçal ESPORTE.........................................................................................................16 Arte milenar do Muay Thai CAPA..................................................................................................................19 O problema do lixo LIXO Saúde dos coletores..............................................................................27 Fraldas e absorventes podem ser lixo opcional...............30 Saiba o que fazer com o lixo............................................................34 SAÚDE............................................................................................................ 36 Você sabe o que são Doulas? LUGARES...................................................................................................... 38 A poesia de Piraputanga MÚSICA..........................................................................................................40 Giani Torres GASTRONOMIA........................................................................................44 Dieta vegetariana até para quem come carne
PUBLICANDO CONHECIMENTO
ADOÇÃO....................................................................................................... 48 Projeto Padrinho Artigo ............................................................................................................... 52 Resíduos Sólidos
Universidade Federal da Grande Dourados Rua João Rosa Góes n0 1761 - Vila Progresso Dourados | MS - CEP 79825-070 Fone: (67) 3410.2700 - www.ufgd.edu.br
Conselho Editorial: Prof. Dr. Damião Duque de Farias Prof. Dr. Edvaldo Cesar Moretti Graziela Moura de Souza Prof. Dr. Aureo Cezar de Lima Profa. Dra. Mara Mussory Prof. Dr. Marcos Lucio de Sousa Góis Fotos e Foto da Capa: Ademir Almeida
ARTE................................................................................................................. 55 Daltro TRADIÇÃO.................................................................................................... 56 HU respeita indígenas PERSONALIDADE.................................................................................. 58
Redação e Reportagem: Ana Paula Amaral Bianca Cegati Graziela Moura de Souza Thaysa Freitas Stella Zanchett Edição de Arte e Diagramação: Fabricio Trindade Ferreira ME Revisão: Raquel Oliveira
Jornalista responsável: Thaysa Freitas - MTB 1066 / MS
Impressão: Seriema Indústria Gráfica e Editora Ltda Rua Presidente Vargas, 275 – Centro - Dourados – MS Tiragem: 2000 exemplares - Pregão n. 012/2013
Contato Revista Premissas:
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índice
Capa e Projeto Gráfico: Marise Frainer
Desde a década de 1950 testemunhamos a
No entanto, a estrutura de renda da famí-
configuração do fenômeno econômico, social
lia brasileira vem sendo alterada de modo
e cultural que viria a ser conceituado como
significativo na última década e estamos
sociedade do consumo e da obsolescência.
vivenciando uma explosão do consumo,
Iniciado nos países principais do capitalismo
inimaginável tempos atrás. Em paralelo,
na Europa e América do Norte, o consumo
notamos o que já era verdadeiro nas décadas
de massas se espalharia nas décadas seguin-
anteriores: a formação de estoques de lixo
tes para os demais continentes. Alicerçado
nos centros urbanos vem se transformando
na ampliação produtiva do capital e da
em um dos principais problemas de nossas
massa de renda para amplos extratos da
cidades, enquanto percebemos a ausência,
população, ele permitiu um amplo acesso ao
na maioria dos casos, de políticas públicas
consumo de bens duráveis e não duráveis.
para resolver a questão.
A viabilidade da reprodução sistêmica so-
De fato, as exigências de tratamento e apro-
mente ocorreu pela introdução de uma práti-
veitamento dos estoques de lixo produzidos
ca cultural nova disseminada pelos meios de
diariamente, ao lado das questões de loco-
comunicação junto à sociedade, a prática do
moção e de segurança pública, são hoje os
descarte, enquanto os objetos de consumo
mais graves e urgentes dilemas da vida urba-
foram sendo elaborados com materiais e tec-
na. A cidadania deveria se ocupar em impor
nologias cada vez mais baratos e previstos
este tema como prioridade na agenda dos
à depreciação ao envelhecimento precoces.
governos municipais, levando-os por meio de
Evidentemente, a obsolescência e o descar-
diálogo ativo com a sociedade – por exem-
te integrantes das práticas de consumo de
plo, através de conferências municipais – à
massa resultaram, dentre outros problemas,
adoção de políticas públicas que promoves-
na ampliação dos estoques de lixo em nossas
sem a formação dos munícipes em prol de
cidades, com inquietantes repercussões
relações ambientalmente sustentáveis, bem
socioambientais.
como o desenvolvimento de ações de coleta
No caso brasileiro, o fenômeno da ampliação
seletiva de lixo, tratamentos de resíduos e
do consumo de massa e da obsolescência
políticas de reaproveitamentos dos objetos
das mercadorias é contemporâneo ao dos
descartados. Acredito que as Universidades
países centrais, mas em menor escala, já que
tenham muito a contribuir neste processo,
a renda da maioria das famílias, em virtude
ativando a cidadania e contribuindo com o
do modelo de desenvolvimento adotado e
poder público na elaboração das soluções.
Editorial
das relações de trabalho vigentes, era fator impeditivo para a ampliação do consumo,
Damião Duque de Farias
especialmente dos bens duráveis.
Reitor da UFGD
4 | Premissas
Yoga sempre esteve intimamente ligado à vida dos indianos, desenvolvendo no curso do tempo, um imenso corpo de práticas e elaboradas teorias. O legado do yoga foi transmitido oralmente de mestre para discípulos por muitas gerações e neste processo recebeu muitas alterações. Assim, o yoga não é um todo homogêneo. Seus pontos de vista e práticas variam de escola para escola. Existe uma variedade de caminhos yóguicos e abordagens com estruturas e objetivos teóricos contrastantes. Quando folheamos os livros primitivos do yoga, nossa atenção é fortemente atraída pela linguagem profunda e simbólica em que foram escritos. Com o tempo, alguns mestres consentiram em ajudar os “sinceros investigadores” ocidentais, passando a transcrever em linguagem moderna os textos clássicos. Isto possibilitou separar de maneira clara o conteúdo científico, cultural, filosófico, religioso e mitológico próprios da época e locais em que foram escritos. Yoga é definida como a “ciência” da união, da interação humana. Todas as escolas de yoga têm o mesmo fim. O que determina e qualifica as diferentes escolas são as técnicas e os mecanismos que empregam, de maneira predominante, caracterizando cada uma.
As principais classes ou sistemas de yoga podem servir a diferentes praticantes, da seguinte maneira: • O mais disposto fisicamente se sentirá atraído para o Hatha-Yoga, que utiliza o domínio externo e interno do corpo como ponto de partida e como meio para chegar à sua integração. Proporciona consciência corporal, flexibilidade, alongamento, tônus muscular, resistência física, força, equilíbrio, correção postural dentre outros diversos benefícios psicológicos alcançados pela prática da respiração consciente junto com exercícios físicos e psicofísicos. • O de talento meditativo tirará muitos benefícios do Raja-Yoga, que utiliza o domínio interno de mecanismos de atividades mentais. • O que se preocupa com a ética procurará o Karma-Yoga, que emprega a atividade externa, a vida ativa, com renúncia progressiva ao objeto de ação. • O tipo emocional deve provavelmente sentir-se atraído pelo Bhakti-Yoga, que é a prática do amor e devoção a Deus, a serviço do próximo. Premissas | 5
Bem Estar
YOGA, A “CIÊNCIA” DA UNIÃO
Bem Estar
•
O de espírito intelectual e filosófico identificar-se-á com o Jnana-Yoga, que emprega o discernimento e conhecimento abstrato. • Aquele que se identifica com os sons internos e externos tenderá para o Mantra-Yoga, que usa o domínio do som e a aplicação do ritmo a determinadas combinações de sons. • O ser voltado para o domínio das energias sutis, com certeza será encaminhado para a prática do Tantra-Yoga, que emprega o exercício das energias psíquicas e fisiológicas. Resta salientar que todas estas formas estudadas individualmente formam o conjunto do Yoga Clássico. O homem moderno leva uma vida bastante sedentária, apesar de suas múltiplas atividades. Seus movimentos em casa, no trabalho, na rua, comendo ou dormindo, ficam reduzidos a um ciclo pouco variado de movimentos e posturas corporais. Desta forma, são sempre os mesmos membros e conjuntos de músculos que se articulam, enquanto partes do corpo ficam à margem dessas ações rotineiras e, portanto, quase nunca são acionadas. Os asanas (posturas do yoga) mexem com estes músculos, articulações e órgãos que raramente se movimentam. Alguns asanas, ao pressionarem um conjunto de vísceras, provocam massagens naturais, outros, ao flexionarem o que normalmente é rígido, constituem uma verdadeira fonte de prazer e bem estar. Os asanas são uma espécie de espreguiçamento e de liberação profunda. Cada asana forma uma unidade completa, e quando corretamente executado, produz os seguintes efeitos: movimentando determinados músculos, ossos e articulações, muitos dos quais habitualmente não utilizados, proporcionaremos uma excelente flexibilidade ao nosso corpo; exercendo uma ação mecânica sobre diversas vísceras e glândulas, estimularemos seu melhor funcionamento por meio de um processo natural; favorecendo a atividade de determinados nervos e plexos nervosos, produziremos, além de seu efeito 6 | Premissas
físico, uma alteração e amplitude da sensibilidade interna. Poderemos modificar o curso da circulação sanguínea em todo ou em parte do corpo e também ativar a circulação linfática. Além disso, fortalecer os músculos que sustentam a coluna e até correção de determinados ossos. O yoga é uma “ciência” milenar, que busca o bem-estar e a qualidade de vida. Sua prática busca pelo verdadeiro “eu”, porque somos todos essência divina, e da consequente libertação do estado de consciência. A ideia central deste caminho é que o corpo não é um obstáculo à iluminação suprema, mas o templo do divino ser. As práticas dos asanas irão preparar o corpo deixando-o mais saudável para as práticas de meditativas e busca da iluminação. Yoga não é e não se confunde com religião, mas é um momento de busca da interiorização, afim deste momento com Deus que habita em cada um de nós, já que somos todos essência divina. Podemos perceber, felizmente, que a cada ano que passa, mais larga e mais elevada se torna a concepção de Deus formada pelo homem. Nos últimos anos se realizou uma grande transformação neste sentido. Não ouvimos tanto falar do Deus que queima e castiga seus filhos, mas ouvimos sempre do Deus de Amor, que perdoa, que cura e salva. O homem deve ser ensinado a amar a Deus em vez de temê-lo. Yoga é uma disciplina de não violência, que busca extirpar a aversão baseada na ignorância, que tem o ódio em sua forma primordial. Desenvolvendo um caráter firme, o praticante deve persistir até aprender a se dominar. Para um yogue, a não violência é um dever, e deve ser praticado de forma imperativa e absoluta. Concluindo, Yoga é um caminho de saúde física e mental, que busca a verdade, a paz, o amor e o perdão. Todas as pessoas de qualquer idade, sexo, credo, religião, podem praticar, respeitando seus limites e buscando a saúde psíquica e física. Até uma próxima oportunidade. Paz e Bem! Marinês Prado, ministra aulas desde novembro de 2000. Formada em Yoga Clássico pelo Instituto de Yoga Clássico Cristina López e ABY Associação Brasileira de Yoga.
Gênero e sociedade Atualmente, o conceito mais utilizado para referir-se à sexualidade humana é o de “gênero” e não mais de “sexo” para definir diferenças nessa área. O termo gênero começou a ser adotado por teóricas(os) e estudiosas(os) de mulheres e do feminismo, no final da década de 1970, influenciadas(os) pelos grandes movimentos estudantis e pela contestação dos papéis e comportamentos sexuais que ocorreram anos antes. Tal expressão aponta que as diferenças entre homens e mulheres não são apenas de ordem física, biológica. Falar de relações de gênero é falar das características atribuídas a cada sexo pela sociedade e sua cultura1. Conheça alguns livros que tratam deste tema: 1 Fonte: http://www.educared.org/educa/
VIAJERAS ENTRE DOS MUNDOS Sara Beatriz Guardia “Editora e compiladora”
A obra de Sara Beatriz Guardia, pesquisadora da Universidad de San Martín de Porres, e presidente do Centro de Estudios La Mujer en la Historia de América Latina (CEMHAL), reúne 46 artigos que abordam as primeiras impressões sobre a América Latina a partir da perspectiva de mulheres. Busca lançar luzes sobre a história de mulheres que “invadiram”, por assim dizer, novos espaços geográficos – saindo da América Latina para a Europa, ou vice e versa – e que também ousaram ocupar espaços de status social, tomando a voz para si e escrevendo o relato da sua migração.
RELAÇÕES DE GÊNERO: dilemas e perspectivas Marisa de Fátima Lomba de Farias
Editora da UFGD: Nosso objetivo é incentivar a publicação do saber produzido na universidade e socializar o conhecimento através de ações que possibilitem fácil acesso ao conteúdo dos livros e periódicos. Para mais informações acesse: www.ufgd.edu.br/editora.
Livros
As reflexões apresentadas nesta obra resultaram do “I Seminário Relações de Gênero: dilemas e perspectivas”, realizado em março de 2007. O evento foi organizado pela Universidade Federal da Grande Dourados em parceria com a Coordenadoria de Políticas Públicas para Mulheres e com o Conselho Municipal dos Direitos da Mulher. Os/as pesquisadores/as intencionam espalhar, com toda a intensidade, construções teóricas que possam se lançar por caminhos diversos, iluminar os becos e chegar aos lugares bem mais cedo do que se espera, antes que seja tarde para uma transformação significativa nas relações de gênero.
Premissas | 7
Notas
Embalagem interativa Um novo tipo de embalagem biodegradável para alimentos, criada em pesquisa da Escola Politécnica da USP, muda de cor quando o produto começa a se deteriorar, indicando que está impróprio para o consumo. A embalagem, feita com fécula de mandioca, possui um pigmento chamado antocianina. O pigmento altera sua cor quando há mudança no pH do produto (passando de ácido para básico), o que acontece durante o processo de deterioração. O estudo faz parte de um projeto que visa a produzir filmes biodegradáveis com fécula de mandioca para utilização em embalagens, agregando algum tipo de funcionalidade além da proteção do produto. O projeto foi criado pela engenheira agroindustrial Ana Maria Zetty Arenas, no Laboratório de Engenharia de Alimentos da Poli, e pode ser usado em embalagens de peixe cru. Também estão sendo desenvolvidas embalagens que possuem princípios ativos com ação antimicrobiana, para minimizar ou evitar o crescimento de micro-organismos, e outras que funcionam como dispositivos para liberação de medicamentos, chamadas de embalagens ‘ativas’.
8 | Premissas
Dispositivo subcutâneo monitora sangue A equipe da Escola Politécnica Federal de Lausanne (Suíça) desenvolveu um dispositivo minúsculo e subcutâneo que faz exames de sangue e envia os resultados imediatamente via celular. O protótipo mede 14 milímetros e pode ser usado para detectar cinco substâncias diferentes no sangue. Os resultados são enviados para o médico por meio da tecnologia bluetooth. O dispositivo poderá ser inserido no paciente com uma seringa, logo abaixo da pele de locais como abdômen, pernas ou braços. O mecanismo permanece no local por meses e só depois é necessário removê-lo ou substitui-lo. Essa tecnologia será útil para monitorar problemas como colesterol alto e diabetes, além de analisar o impacto de tratamentos como quimioterapia e monitorar pacientes internados em UTI’s. A previsão é de que esteja disponível para o público dentro de quatro anos.
Lente de contato pode restaurar visão
Do lixo ao luxo Foi esse o título do samba enredo da escola Unidos do Cruzeiro, de Campo Grande, para o carnaval de 2013. As fantasias dos mais de 200 componentes da escola, bem como os carros alegóricos, foram todos confeccionados com material reciclável. Com o tema “Tenha fé, que até no lixão nascem flores”, a escola chamou a atenção na avenida para a importância de preservar o meio ambiente para as futuras gerações e criticou a falta de coleta seletiva no estado. Nenhum material foi comprado, os integrantes da Unidos do Cruzeiro foram às ruas para catar os descartes que poderiam ser reutilizados. As alegorias foram compostas por latas, suportes para garrafões de vinho, jornais, garrafas de plástico, lona, dentre outros. Segundo o presidente da escola, Luiz da Silva Guedes, o objetivo da Unidos da Cruzeiro era retratar o lixo como produto de sustento e de arte.
Obesidade mata mais do que subnutrição
Pesquisa publicada na revista britânica Acta Biomaterialia apresentou uma lente de contato como promessa para tratar lesões na córnea. Desenvolvida em material biodegradável por pesquisadores da Universidade de Sheffield, a lente permite que células-tronco (que se transformam em outros tecidos do corpo) retiradas do olho saudável do paciente sejam implantadas na córnea ferida. A lente biodegradável é fixada à córnea por um anel que circunda sua borda e possui bolsas onde as células-tronco ficam armazenadas. Essas bolsas funcionam como reservas de células-tronco que são mantidas na córnea. Os acidentes de trabalho são uma das principais causas de cegueira por lesão na córnea. Em 90% dos casos poderiam ser evitados com óculos de proteção, conhecidos como EPI (Equipamento de Proteção Individual). Outras causas são doenças como Stevens Johnson, ceratocone, cicatrizes por inflamações e infecções muitas vezes decorrentes do mau uso de lente de contato, ou defeito hereditário. Geralmente o tratamento é feito com transplante de córnea, mas nem todos os procedimentos são bem sucedidos. O uso da lente com células-tronco não apresenta risco de rejeição.
No primeiro semestre de 2013 foi publicado o maior estudo já realizado sobre a saúde da humanidade, Global Burden of Disease (Peso Global das Doenças). Produzido por 500 cientistas de 300 instituições, o trabalho analisou 187 países nas últimas 4 décadas. A boa notícia é que a expectativa de vida aumentou em praticamente todo o mundo e as mortes relacionadas à subnutrição caíram de 3,4 milhões, em 1990, para 1,4 milhão em 2010, último ano analisado pelo estudo. Em 1990, a subnutrição era a doença que mais tirava vida da humanidade. Agora ela despencou para 8º lugar. Em compensação, a obesidade subiu de 10º para 6º - e a má alimentação, com uma dieta pobre em nutrientes, aparece em 5º. Os quatro maiores fatores de risco são pressão alta, tabagismo, uso de álcool e poluição. Premissas | 9
RECICLAGEM TAMBÉM É ARTE Jovens de Ponta Porã utilizam materiais recicláveis como instrumentos musicais
Você já parou para imaginar que pode estar jogando, com frequência, instrumentos musicais no lixo? Calma, não se trata de nenhuma insensatez, apenas um desperdício que pode ser consequência da falta de um pouquinho mais de imaginação. É que aquilo que para muitas pessoas não tem mais utilidade, para algumas crianças e adolescentes de Ponta Porã são objetos de trabalho. O Projeto Recicla Som é formado por jovens músicos, com idade entre 14 e 19 anos, que pesquisam ritmos e sons produzidos por materiais recicláveis. São eles mesmos que recolhem os objetos nas ruas, produzem os instrumentos e os afinam. O resultado não deixa nada a desejar comparado ao trabalho de bandas que utilizam instrumentos convencionais.
A ideia Tudo começou em 2010, em uma oficina de construção de instrumentos alternativos, oferecida por um projeto do governo do estado chamado Interação, ministrada
Iniciativa
Educação ambiental faz parte do projeto
10 | Premissas
Instrumentos musicais são afinados com água
pelo maestro Martins. A criatividade dos alunos foi tanta que ficou difícil manter o cronograma da oficina; logo as ideias foram surgindo e acabaram inspirando os jovens. O pontapé inicial surgiu de uma situação aleatória: segundo Rodrigo César Pereira, um dos colaboradores do grupo, “havia alguns turistas americanos de passagem por Ponta Porã, viram a gente treinando e perguntaram se tinha como montar alguma coisa. Nós conversamos rapidão e dali já saiu um samba e um ritmo meio afro. Então nós pensamos ‘por que não montar um grupo?’”. Atualmente, o grupo principal, que realiza apresentações, é formado por 8 pessoas. A oficina que deu origem ao projeto contou com 15 alunos e, hoje, a oficina permanente ministrada pelo grupo, que é dividida por tipo de material utilizado, possui 40 oficineiros de 5 a 19 anos.
Como funciona Todos os oito integrantes do Recicla Som são músicos da Banda Municipal de Ponta Porã, Os próprios músicos da banda catam os materiais recicláveis
portanto têm conhecimentos musicais teóricos e práticos. Mais do que montar um objeto que produza barulho, o objetivo desses meninos é construir instrumentos e alcançar afinação para que, de fato, eles possam ser utilizados para produzir música. O Recicla Som faz uso de materiais como garrafas pet, garrafas de vidro, jornal, tubos de PVC, garrafão de água, baldes, sacolas, bicicletas. Cada peça musical é mesclada com intervenções teatrais e os ritmos trabalhados vão de samba e maracatu a polca, brega e forró. O grupo se baseia na afinação da flauta e da lira, mas cada objeto é afinado de acordo com a nota que alcança dentro da escala. Por exemplo, depois de lavar e secar uma garrafa de vidro, o próximo passo é ver se o som que se tira da garrafa é em dó, em mi, etc. Após descobrir essa ‘nota original’, vai-se acrescentando água para poder afinar nas outras notas. Quanto mais água, mais agudo fica o som, pois menor é o espaço de ar que sobra no interior do objeto.
OFICINA EM DOURADOS Acadêmico da UFGD, Rodrigo César Pereira ministrou a mesma oficina gratuitamente para a população de Dourados. O projeto foi oferecido pela Universidade por meio de sua Coordenadoria de Cultura (COC) e fez parte do programa Bolsa Cultura 2013. As aulas aconteceram na Casa da Cultura da UEMS, nos meses de maio e junho de 2013. Na Escola Estadual Reis Veloso e na cidade de Itaporã as aulas seguem até outubro.
CONSCIENTIZAÇÃO No início de cada oficina, antes da construção de instrumentos, os professores dão dicas para sensibilizar a consciência ambiental dos alunos e explicam a importância da reciclagem para que a sociedade possa continuar se desenvolvendo de maneira sustentável. “É possível perceber uma mudança no olhar dos nossos alunos. O que antes não chamava a atenção deles nas ruas e era apenas lixo, hoje pode servir como instrumento de trabalho. Eles veem materiais recicláveis por aí e pensam ‘poxa, isso pode virar um instrumento’, aí já pegam”, afirma Rodrigo César. De fato, Rodrigo Ocampos, hoje com 15 anos, participa do Recicla Som desde os 13, confirma essa percepção. “Quase tudo para nós é instrumento, mas quem participa do grupo vê o lixo como um recurso não só de descontração, mas também de educação. E por se tratar de um material simples, seria muito fácil aplicar a oficina em escolas, com crianças, e assim ajudar a clarear a mente das pessoas na questão da sustentabilidade”, explica o músico. Premissas | 11
Marçal falando no I Seminário de Estudos Indígenas, realizado em Campo Grande, em abril de 1981 (Fotógrafo não identificado. Coleção “Marçal de Souza” - Centro de Documentação Regional UFGD)
História
LEMBRANÇAS DA MORTE DE UM PEQUENO DEUS: 30 ANOS SEM MARÇAL
Novembro de 1983, mais um índio assassinado em Mato Grosso do Sul, um líder entre todos os líderes indígenas, conhecido por Marçal de Souza ou Marçal Guarani, embora o seu nome de batismo, segundo o rito de sua tribo, fosse Tupã’I, que significa pequeno deus. A morte de Marçal comoveu o mundo todo. Jornais locais, nacionais e internacionais noticiaram o assassinato com grande destaque e mais de duzentas instituições de toda parte do planeta cobraram justiça. Centenas de atos públicos foram realizados, mas todo o clamor de Igrejas e das Instituições laicas, dos antropólogos, familiares e daqueles que reconhecem as injustiças praticadas contra os índios foram em vão. Ninguém foi punido, ninguém preso. Um julgamento foi realizado em Ponta Porã, dez anos após a morte de Marçal e não obstante a grande mobilização organizada, o Tribunal do Juri inocentou os principais suspeitos. 12 | Premissas
Muitos outros assassinatos sucederam-se, a exemplo dos caciques Veron em 2003, Nisio Gomes em 2011, enfim, 270 índios já foram assassinados em Mato Grosso do Sul. Nenhum desses assassinatos deve cair no esquecimento, mas a morte de Marçal foi a mais emblemática de todas, tanto pela sua estatura intelectual quanto pela sua convivência junto aos seus e os inúmeros pronunciamentos que fez em Universidades, Congressos Indígenas, na ONU e até para o papa João Paulo II em 1980, na cidade de Manaus, em nome e em defesa de todas as nações indígenas brasileiras. Por isso a sua história deve ser lembrada e servir como paradigma aos índios de todo o Brasil, especialmente aos de Mato Grosso do Sul que, não obstante alguns avanços, ainda estão muito longe de serem compreendidos e de receberem um tratamento digno tanto dos órgãos públicos quanto da sociedade envolvente.
Nesse artigo não tenho a pretensão de (re) escrer a história de luta de Tupã’I que culminou com a sua morte. Seria como chover no molhado, falar mais do mesmo. Procuro apenas e singelamente colocar em texto as minhas lembranças, sejam elas vividas, compartilhadas com colegas da Universidade e com indigenistas ou interiorizadas pelas leituras que fiz sobre o assunto. É como se eu dissesse, tal qual no final do poema de Gonçalves Dias, I Juca Pirama: “meninos eu vi”, e dessa forma contribuir para evitar o silêncio e o esquecimento. Abro um parêntese para esclarecer que na minha juventude nunca tinha visto um índio, conhecia-os apenas pela história, aliás, história mal contada, e principalmente pelo poema acima citado, que sabia quase todo de cor e que me oferecia uma visão romantizada. Somente vi índios de verdade e conheci a verdade sobre os índios em 1972 quando participei do “Projeto Rondon” no município de Boca do Acre, estado do Amazonas. Convivi inclusive com um deles, seu apelido era Damy, que nos guiou durante sete dias por igarapés e pela floresta, até um cemitério indígena composto por centenas de urnas funerárias em forma de vasos no interior da mata. A vida dos índios da tribo de Damy nada tinha a ver com o romantismo de Gonçalves Dias, mas de qualquer forma, os poemas e a jornada com os índios amazônicos delinearam em minha mente um elo de simpatia com esses povos oprimidos, talvez também porque eu, um oriundi, descendente italiano, tenha tido a minha ancestralidade oprimida – nem tanto quanto os imigrantes japoneses e nem comparada aos sofrimentos dos negros e índios, mas em menor escala também sofremos nas fazendas de café, a opressão de um capitalismo selvagem à moda tupiniquim. Meu segundo contato com índios foi com Edna de Souza, filha de Marçal Tupã’I em 1974/75, aluna do CEUD, hoje UFGD. A primeira aluna índia da história do Mato
Grosso (atual Mato Grosso do Sul), ao menos até onde vão os meus conhecimentos. Aluna aplicada, nunca me falou da luta de seu pai, talvez não porque não quisesse, mas provavelmente porque eu, professor inexperiente (tinha então 28 anos), não soubesse trazer para o debate a questão indígena. Estava mais preocupado com a dívida externa brasileira, tanto é que nesse ano de 1975 promovi um seminário na Universidade denominado “Divida Externa e Afluência do Capital Estrangeiro para o Brasil”, coisa muito mais subversiva àquela época do que falar em índios. Mas foi por ter conhecido Edna que passei a me interessar por conhecer os índios confinados na Reserva Francisco Horta e, mais tarde, os confinados no Panambizinho. Assustava-me o estado de miserabilidade em que viviam. Depois de uns tempos em Dourados, aprofundei um pouco mais os meus conhecimentos graças às atividades que meus colegas de Universidade exerciam junto aos índios, destacando-se àquela época Irene Nogueira Rasslan (que fez um belo trabalho de Extensão Universitária introduzindo alevinos no açude da Reserva), Marina Evaristo Wenceslau (cuja tese de doutorado reflete a situação dos Guarani) e Laerte Tetila (que depois de participar de vários movimentos em prol da causa indígena escreveu um livro sobre Marçal de Souza). Mas foi no período entre 2001 e 2008, quando exerci cargos públicos de vereador e Secretário de Governo, que o meu contato com os índios tanto da Reserva Francisco Horta quanto do Panambizinho tornaram-se mais estreitos. Longo foi o parêntese aberto, mas precisava esclarecer ao leitor esses dados para que as minhas lembranças possam ter credibilidade. Marçal nasceu em 1920, ficou órfão quando tinha oito anos e juntamente com o seu irmão Ivo, foi criado na, ou sob a proteção Premissas | 13
da Missão Caiuá, entidade criada e mantida pelos evangélicos de orientação presbiteriana para dar suporte médico, assistencial e evidentemente objetivando também a conversão dos índios. Em sua adolescência, Marçal passou por Campo Grande, Recife e Patrocínio, em Minas Gerais, sempre recebendo ao lado do ensino formal uma orientação cristã evangélica, o que o transformou em pastor presbiteriano, militando nesse mister durante 30 anos, ao mesmo tempo em que exercia as atividades de enfermeiro, contratado pela FUNAI. Possuidor de uma inteligência privilegiada e tendo recebido uma educação muito acima da dos padrões de seus irmãos índios,
“Marçal se tornou uma liderança expressiva, constituindo-se em uma espécie de ponte, de elo de ligação entre o seu povo e os não-índios”,
História
verdadeiro embaixador, não somente para representar a Missão Caiuá em várias cidades brasileiras, mas também por acompanhar e conviver com cientistas interessados em estudar os Guarani, especialmente antropólogos da estatura de Egon Schaden e Darcy Ribeiro. Infiro que deva ter sido profundamente sofrido para Marçal substituir a crença de seus antepassados pela cristã, aprender novos conceitos com cientistas esclarecidos e conviver com a indigência de seu povo. Verdadeiro choque mental, a troca de um imaginário social por outro, resultada em crises existenciais que levaram Marçal a muitas leituras e profundas reflexões acerca da vida, da cultura de seu povo e a dos não-índios, especialmente a dos brancos, o que o levou a voltar-se para o seio de seu povo, defendendo as suas crenças, incentivando a sua cul14 | Premissas
tura, a língua guarani e especialmente a luta pelos direitos de sua gente. Esse sincretismo transformou Marçal em um ser híbrido das virtudes guarani e cristãs, um ser que me faz lembrar algo de Mahatma Gandhi: franzino, calmo, sereno, pacífico, de fala mansa embora suas palavras fossem contundentes. Marçal compreendeu como poucos o seu povo, soube avaliar as causas que levavam os guarani à miserabilidade material e à degenerescência cultural. Compreendia exatamente porque muitos dos seus entregavam-se ao alcoolismo e ao desespero extremo do suicídio. Por isso lutou, mesmo sabendo dos riscos que corria. Uma vez, em uma de minhas reuniões na Reserva Francisco Horta, na Aldeia Bororo, fui recebido por um índio idoso e doente: “Asseyez vous, s’il vous plait”, disse-me ele com naturalidade. “Merci. parlez-vous français?” perguntei-lhe admirado. Outros índios se aproximaram, e Ivo, o irmão de Marçal, foi deixado de lado, e a nossa conversa ficou resumida a essas duas simples frases. Da mesma forma que o irmão Marçal, ele recebera esmerada educação, mas a cachaça dos brancos substituiu-lhe a chicha e o transformou em alcoólatra desprezado pelos seus próprios parentes. Impressionante como os seres humanos se comportam em situações adversas. Uns superam obstáculos, incubam em si próprios os sofrimentos de sua gente, são pequenos deuses, são Marçal, outros sucumbem, entregam-se ao vício ou à morte pelo suicídio. Verdade que os suicídios diminuíram, mas Marçal estremeceria no túmulo se soubesse que atualmente são as drogas químicas que consomem a vida de índios, traficadas por próprios índios que assimilaram alguns péssimos costumes da sociedade envolvente e exploram os seus semelhantes tirando-lhes inclusive as suas casinhas, das quais passam a cobrar aluguel. Os não-índios, ao menos a grande maioria, não compreendem essa questão. Desconhecem que não é apenas a bala disparada a
mando do latifundiário que mata. Desconhecem que o etnocídio não significa apenas e tão somente a eliminação física de uma determinada tribo, mas é também, e principalmente, a morte das crenças, da língua, enfim, da cultura de uma determinada etnia. Aliás, muitos índios também não compreendem a importância de sua própria cultura, por terem se alienado em virtude do contato com a sociedade não índia, que massifica tudo e todos. Compreendendo essa questão, Marçal, ao voltar-se para o seu povo, incentivava a construção das casas de reza, as danças rituais, o uso da língua guarani e, inclusive, a utilização da chicha, pois sabia que o seu efeito era muito menos danoso que o da cachaça. Entendia que um ou dois litros de chicha, ingeridos em meio às danças rituais pouco mal fazia, e que o teor alcoólico de um litro de pinga ingerido solitariamente deixava os de seu povo cambaleando até caírem deitados ao longo do caminho, muitas vezes com a mulher e os filhos ao redor, assistindo à cena dantesca sem poderem fazer absolutamente nada. Mas a visão de Marçal ultrapassava esses limites. Tinha consciência de que o seu povo fora livre, alegre e forte, tinha a mata generosa para a caça e a coleta e os rios caudalosos e límpidos para a pesca, e que foi, ao longo do tempo, sendo encurralado, expulso de seus tekohás e aprisionado em reservas. Por outro lado, compreendia também a ilimitada ganância do latifundiário. Tinha absoluta convicção de que a luta era desigual, que o poderio do latifúndio era maior e que a lentidão e o descaso da Justiça para com a questão indígena àquela época eram absolutamente desfavoráveis ao seu povo. Por isso sonhou, lutou e conseguiu que os povos indígenas brasileiros se fortalecessem através da união. Participou de vários encontros nacionais e foi o primeiro vice-presidente da União das Nações Indígenas (UNI). As cinco balas que lhe tiraram a vida universalizaram a sua luta.
Em dezembro de 1983, pouco depois de seu assassinato, um grande Ato Público foi realizado na Igreja Matriz de Dourados. A missa foi celebrada por Dom Tomas Balduíno, bispo de Goiás Velho, então presidente do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), com a participação de Dom Teodardo Leitz, bispo de Dourados e de vários padres. Após a missa, houve o Ato Público prestigiado por grande público, inclusive por cerca de 200 lideranças indígenas que ao longo do dia haviam se reunido na Vila São Pedro. Algumas dessas lideranças fizeram o uso da palavra, dentre elas Marta Guarani, Mário Juruna, Alvaro Tucano, Marcos Terena, dentre outras. Também lideranças não índias se fizeram presentes, representando sindicados e outras entidades, a exemplo de Maria Evaristo Venceslau, representando os professores e Ricardo Brandão, falando pela Ordem os Advogados do Brasil, seção de Mato Grosso do Sul. Dentre os antropólogos presentes, Rubens Thomas de Almeida fez o seu pronunciamento e depois, Darcy Ribeiro, que merece um comentário à parte por ter proclamado que se reconhecia como intelectual, e como tal, sabia muito bem reconhecer os seus pares. Marçal, em suas palavras, era um dos maiores intelectuais que conhecera no Brasil, pois intelectual é aquele que é o espelho de seu povo. Os discursos desse Ato, bem como toda a trajetória de vida e morte de Marçal, foram imortalizados por Laerte Tetila, então professor do CEUD, atual UFGD, na obra “Marçal de Souza, Tupã’I: um Guarani que não se cala”, editado pela UFMS em 1994.
WILSON VALENTIM BIASOTTO Membro da Academia Douradense de Letras; professor aposentado pelo CEUD/UFMS Premissas | 15
Há 3 anos Guilherme optou por uma vida saudável. Reeducação alimentar aliada ao esporte resultaram em 40 quilos a menos
“ARTE LIVRE” Mais conhecida no Brasil como Muay Thai, a arte milenar teve origem na Tailândia e hoje é febre entre os brasileiros
Esporte
Aos 22 anos, Guilherme Ferreira Barbosa conhece o significado da tão divulgada e ansiada expressão “vida saudável”. Há três anos, o rapaz que trabalha na empresa do pai em Dourados sentiu necessidade de começar a praticar algum exercício físico para auxiliá-lo no controle de peso. Na época com 140 quilos, passou a fazer aulas de uma modalidade de arte marcial até então pouco conhecida do público em geral. O jovem se identificou totalmente com o muay thai e hoje, 40 quilos mais magro, não consegue passar um dia sem treinar. “O esporte, junto com reeducação alimentar, me ajudou muito”, diz o atleta, que atualmente está no grau 7 (de 15 graus) da modalidade, representado por uma faixa no braço chamada prajied. 16 | Premissas
Guilherme pratica todos os dias em uma academia da cidade e frequenta tanto os treinos abertos ao público – quer aprender técnica e condicionamento físico – quanto o sparring, treinamento com contato, ou a luta propriamente dita. Ele conta que a família o apoia no esporte e gostou do resultado, assim como vários amigos e conhecidos. “As pessoas me veem e querem saber o que eu fiz para emagrecer, perguntam se eu tomei alguma coisa, mas eu explico que é muay thai e alimentação e algumas acabam até se interessando pelo esporte”, afirma. André Lima é o proprietário da academia frequentada por Guilherme, que entre outras modalidades de artes marciais oferece o muay thai desde que foi inaugurada, em julho de 2012. Hoje, um ano depois, são 150 alunos
Nos dias 25 e 26 de maio a cidade de Chapadão do Sul sediou o Campeonato Estadual de Muay Thai, seletiva dos atletas estaduais que participaram do Campeonato Brasileiro, realizado em Mato Grosso do Sul no mês de agosto. Conforme o presidente da Federação, o estado é o segundo no ranking nacional do esporte.
fixos praticando o esporte e cerca de 170 pessoas que vão todos os meses à academia para conhecer a técnica e participar de aulas experimentais. “Hoje o muay thai é muito divulgado na televisão e também em função do MMA (Mixed Martial Arts). Virou febre”, considera o carioca radicado em Dourados. O presidente da Federação de Muay Thai Profissional de Mato Grosso do Sul, Pedro Celestino Lopes Santana, tem a mesma explicação que André, sobre o sucesso recente do esporte no país. “É uma arte milenar e com a vinda do MMA para o Brasil se tornou popular. A divulgação foi em nível mundial, mas no Brasil, com a mídia, explodiu”, explica. Celestino, que é praticante da modalidade e professor há 12 anos, salienta que em Mato Grosso do Sul a tendência do muay thai é crescente. São cerca de 50 academias filiadas à Federação, contabilizando pelo menos 500 atletas (que participam de competições) e mais de mil praticantes. Silvia Carolina (de blusa preta) treina todos os dias e já conseguiu até levar uma amiga
Premissas | 17
A prática, segundo o professor, é permitida a partir de seis anos de idade, e a participação em competições, a partir de 15 anos. “Hoje há gente de todas as idades praticando. Pessoas de 50, 60 anos. Mas para cada faixa etária o treino é diferente”, afirma, explicando que um treino intenso pode ativar a queima de até 1200 calorias em uma hora.
Técnica O muay thai se caracteriza pelo uso contundente de canelas, cotovelos e punhos, além de joelhos e pés. Tem como benefícios o cultivo à disciplina, autodefesa, perda de peso, manutenção da saúde, além de ser uma forma saudável de socialização, principalmente para as crianças. Celestino explica que a prática mais intensa exige o uso de alguns equipamentos, para a segurança dos competidores, como bandagem (uma espécie de faixa protetora para as mãos), luva, caneleira, protetor bucal e máscara. “Hoje há muitas lojas especializadas nestes tipos de artigos, além da possibilidade de compras pela internet”, assegura.
Esporte feminino
Esporte
A grande procura nas academias, no entanto, tem sido por parte de mulheres. André
Importada da Tailândia, arte milenar conquista cada vez mais o público feminino no Brasil 18 | Premissas
Lima diz que depois de várias atrizes terem divulgado a prática com bons resultados, a maioria de seus clientes é feminina. “Mais da metade são mulheres. Algumas praticam apenas para treinar e perder ou manter peso, mas algumas já praticam para competir”, relata. Silvia Carolina Pfeifer, de 20 anos, começou no esporte há um mês e meio e já nota a diferença no corpo. A estudante de Direito diz que queria praticar algo diferente, alguma arte marcial, pela qual pudesse descarregar energia. “Meus irmãos lutam karatê e eu sempre tive vontade de fazer alguma luta. O muay thai é viciante”, conta, alegando que gostou tanto que frequenta a academia todos os dias e já conseguiu levar uma amiga. A expressão muay thai significa “arte livre” e o esporte teve origem na Tailândia, há mais de dois mil anos. Existem várias versões sobre a formação da modalidade, porém a mais aceita é de que o povo tailandês, quando migrou da China para o local onde atualmente é a Tailândia, sofria constantes ataques de bandidos, o que o levou a desenvolver um método de luta que usava espadas, facas e lanças. Em função de ferimentos durante o treinamento, os praticantes criaram um método sem armas, o precursor do muay thai.
Aterro municipal de Dourados é um dos pioneiros do estado, mas situação está longe de ser ideal
O PROBLEMA DO LIXO Sensibilizar a sociedade e limitar a ação das empresas pode ser a solução para reduzir os problemas ambientais causados pelo acúmulo de resíduos Com o crescimento dos centros urbanos e
Para se ter uma ideia, no mês de abril de
a ampliação da produção e do consumo de
2013, por exemplo, na área urbana de Dou-
bens, é cada vez maior a geração de resí-
rados foram produzidas aproximadamente
duos e a degradação ambiental causada
175,15 toneladas de lixo por dia. Desse total
pela disposição final incorreta do lixo, que
estão excluídos os entulhos, podas de árvo-
em grande parte dos municípios brasileiros continua sendo jogado a céu aberto, sem qualquer tipo de tratamento. Atualmente cada
res, limpeza das ruas, etc. E o que você tem a ver com isso? Tudo.
brasileiro produz, em média, 1 kg de lixo por
Responsabilidade compartilhada
dia. Multiplicando isso por uma população de
A busca por soluções para os problemas am-
190 milhões de habitantes, temos cerca de 190 mil toneladas de resíduos por dia.
bientais causados pela produção de lixo exige, necessariamente, mudanças de hábitos. É
A Política Nacional de Resíduos Sólidos
mo, reduzir o desperdício e fazer tudo que for
estabelece que até 2014 todas as cidades
possível para reutilizar/reciclar materiais.
brasileiras deverão substituir seus lixões por aterros sanitários. Em Dourados isso já reali-
Você tem ideia da quantidade de lixo que pro-
dade, mas está longe de ser a situação ideal.
duz em sua casa? Experimente armazenar Premissas | 19
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importante repensar nossa forma de consu-
os resíduos gerados durante uma semana ou um mês, por exemplo. Faça isso apenas com o lixo seco, o orgânico deve ser jogado fora para evitar mau cheiro e presença de insetos. Ao ter noção da quantidade de lixo acumulado em sua residência, fica mais fácil pensar em ações para diminuir esse volume de lixo. Uma dessas ações é o reaproveitamento de materiais, através da reciclagem. A etapa fundamental desse processo é a coleta seletiva. Em Dourados, a coleta seletiva é feita em apenas 12 bairros (de um total de 300). Mas se o seu bairro não está entre os contemplados, ainda assim você pode colaborar. Comece separando os materiais recicláveis por tipo (plástico, vidro, papel, metal, etc). Leve, quando puder, até uma associação de catadores. E entenda que, depois de sair de sua casa, o problema não está resolvido, o lixo continua ocupando espaço.
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Segundo a coordenadora da Associação dos Agentes Ecológicos de Dourados (Agecold), Ivete Maximina Pedroso Casedon, hoje não se fala em questão de conscientização, mas em sensibilização. “Consciência todo mundo tem, nós temos o discernimento do que é certo e errado. Falta a sensibilidade para fazer um trabalho cujo beneficiado vai ser você. Talvez eu não vá usufruir desse trabalho que nós fazemos hoje, mas eu preciso ter consciência de que meus descendentes vão ter uma qualidade de vida um pouquinho melhor do que eles teriam se não houvesse esse tipo de trabalho”. Ivete reforça a importância da responsabilidade individual. “A questão do lixo é pessoal, não de política pública. Ela passa pela política pública, mas para que essa política seja implantada, a responsabilidade começa no cidadão gerador. O lixo incomoda a gente, ninguém deixa o lixo fedendo. Mas no momento em que você fecha sua sacola e põe na lixeira, o seu lixo deixou de ser um incômodo individual para ser um problema coletivo”. Cabe lembrar que a responsabilidade também é das indústrias. Hoje, é cada vez mais co20 | Premissas
Maria do Carmo da Silva é associada à Agecold desde 2001 e não possui outra renda além da que recebe da associação. Com esse salário, Carmem, como é conhecida pelo grupo, sustenta sua filha e seu netinho. “Eu já tive vergonha de ser selecionadora. No início eu tinha tanta vergonha que não queria que ninguém soubesse nem me visse. Mas eu enfrentei”. Carmem achava vergonhoso catar lixo na porta da casa dos outros, mas com o tempo percebeu que seu trabalho é fazer reciclagem. “Hoje, se alguém me pergunta o que eu faço, eu falo. Acabo tendo que explicar, que esclarecer, cumprir meu papel de agente ecológica. Tem quem queira conhecer o trabalho e tem
gente que pede até uma vaguinha”, brinca. O trabalho dos associados da Agecold também é de conscientização. Se alguém colocar fogo em qualquer tipo de material pela vizinhança, eles explicam porque não se deve fazer isso. “Não podemos enxergar nosso trabalho somente aqui dentro da Agecold. Tudo aquilo que prejudica o outro nos prejudica também. Tudo que faz mal para os outros faz mal para nós”. Com relação à consciência de cada cidadão, Carmem faz uma ressalva. “Os douradenses estão tendo mais conhecimento e estão dando mais valor à coleta. Mas o preconceito ainda existe bastante. Tem muitas situações em que as pessoas desvalorizam e maltratam os catadores”.
mum empresas associarem um grande volume ao produto, para torná-lo mais atrativo. São as embalagens descartadas imediatamente após o uso – as de bebidas descartáveis são um exemplo concreto deste processo. A indústria em poucos anos trocou as embalagens retornáveis pelas descartáveis, gerando uma quantia absurda de lixo plástico e latas. Isso sem contar a obsoletização precoce dos produtos que, hoje, é quase regra nas indústrias. Uma mercadoria ainda útil é rapidamente considerada velha e fora de moda, o que estimula o consumismo desenfreado. Assim sendo, a verdadeira mudança consiste em a sociedade repensar a produção de lixo em sua origem. A sociedade é de consumo, e o que chamamos de lixo hoje é antes de tudo uma mercadoria rentável, a qual gera lucro na forma de embalagens e após o descarte gera renda como produto reciclável. Não seria o caso uma oportunidade de se refletir sobre a criação de políticas públicas que regulassem as produções? Juntar sensibilização da sociedade com limites para as empresas pode ser o começo das mudanças. Mas esta alteração implica em mexer com interesses econômicos poderosos, afinal, o marketing e a embalagem são mercadorias altamente rentáveis para grandes empresas no mundo todo. Quem produz embalagem para bebidas, por exemplo, teria interesse em voltar a produzir embalagens retornáveis? A sociedade está disposta a fazer mudanças de fato?
Coleta Seletiva O objetivo da Agecold é fazer coleta de materiais recicláveis, ao mesmo tempo em que conscientiza a sociedade para uma menor emissão de lixo e resíduos ao meio ambiente. Ivete explica que a maneira como tratamos o lixo é equivocada. “A gente acha que lixo é aquele material que deve ser desprezado, que não se aproveita mais. E ele deixa de me Premissas | 21
O trabalho dos agentes
incomodar quando eu pego minha sacolinha e coloco em frente de casa. Mas a responsabilidade do resíduo é do gerador. Se você gerou, não sou eu que tenho que ir à sua casa pegar o seu resíduo, é você que tem que se deslocar e dar o destino correto. Claro que estou dando um exemplo bem simplificado de uma situação que seria ideal”. O desabafo de Ivete refere-se à falta de coleta seletiva municipal nos bairros de Dourados. Como ela afirma, trata-se de uma situação ideal, mas se você gostaria de começar a ajudar e seu bairro não está entre os 12 contemplados com a coleta seletiva, pode separar corretamente seu lixo em casa e levar até a sede da Agecold (veja endereço no final da matéria).
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De acordo com Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Semsur), a coleta do lixo domiciliar custa, para o município, R$ 0,076 por quilo. O tratamento interno desse lixo no aterro custa R$ 0,054 por quilo. Já a seletiva custa R$ 0,215 e não há tratamento ou separação no aterro. Na coleta seletiva, o caminhão é pesado no aterro e depois enviado à Agecold. Apesar de o investimento ser maior para selecionar o material reciclável, a atitude compensa. Uma grande quantidade de material reciclável (como garrafa pet, papel, alumínio, entre outros) chega ao aterro porque as pessoas o ensacam junto com o lixo orgânico, e lá não é possível fazer separação. Evite colocar tudo na mesma sacola – saiba como separar seu lixo na página 34. 22 | Premissas
O catador é o profissional urbano que cata, seleciona e vende materiais recicláveis. Segundo o Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), esses profissionais são responsáveis pela coleta de 90% de tudo que é reciclado hoje no Brasil. Ainda de acordo com o MNCR, existem cerca de 800 mil catadores em atividade no país. A Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB-2008), realizada pelo IBGE, apontou que existem 1993 catadores na área urbana de Mato Grosso do Sul. Desse total, 126 têm menos de 14 anos de idade. Em Dourados, a Agecold possui atualmente 12 associados, nenhum deles menor de idade. A associação recebe cerca de 100 toneladas de material reciclável por mês, mas por causa do número reduzido de profissionais, só consegue operar 45 toneladas. “Tirando o vidro, para o qual, hoje, não temos mercado, o papel é o produto que mais se acumula no barracão. Isso porque o processo é todo manual e demanda maior mão de obra”, explica Ivete. Devido ao baixo rendimento financeiro, não é possível aumentar o número de associados. A renda média de cada um é de R$ 650,00 para uma jornada de trabalho de 44h semanais. O espaço onde funciona a Agecold é público, as máquinas são da prefeitura e o grupo tem o termo de uso e responsabilidade. A manutenção das máquinas é feita pelo grupo da Agecold, com renda oriunda da venda dos recicláveis. Nos meses em que há necessidade de manutenção ou reparo das máquinas, a renda do grupo diminui. No Centro-Oeste brasileiro, em termos de reaproveitamento de resíduos, há um problema maior: a falta de indústria de reciclagem.
Todo o material separado precisa ser encaminhado para o Sudeste ou para o Sul, o que gera despesas com frete e reduz a renda dos associados. Os maiores parceiros da Associação são empresas públicas e privadas, que ora levam seus resíduos até a sede da Agecold, ora recebem o caminhão do grupo para levar o conteúdo resultado da coleta seletiva, como é o caso da UFGD. Mas são inúmeros os casos de cidadãos que se deslocam de suas próprias casas para levar o lixo (já separado) à Agecold. A ampliação do número de bairros atendidos pela coleta seletiva, além de proporcionar mais trabalho e renda para catadores, diminuiria significativamente a quantidade de material reciclável que ainda vai parar no aterro municipal da cidade.
Como funciona o aterro sanitário A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS – Lei nº 12.305/10) disciplina a coleta, o destino final e o tratamento de resíduos urbanos, perigosos, industriais, dentre outros.
Uma das metas mais importantes que a lei estabelece para o setor é o fechamento dos lixões até agosto de 2014: os resíduos sólidos que não puderem ser reciclados só poderão ser destinados aos aterros sanitários. Até o momento, não há indícios de que esta meta será atingida. Criado em 2005, com uma área de 50 hectares, o aterro municipal de Dourados atende somente à coleta de lixo doméstico e foi projetado para ter vida útil de 20 anos. Ao todo, serão construídas sete valas para o lixo doméstico, também chamadas de tortas, devido ao formato que adquirem quando acumulam lixo. Cada vala possui 500 metros de comprimento por 100 metros de largura e 60 metros de profundidade. Elas têm o formato de um V. Como revestimento da vala, há uma manta de plástico (a do lixo hospitalar é mais grossa do que a de lixo doméstico). No meio, onde seria a ponta do V, ela é composta por diferentes tipos de pedras, como se fosse um canal, para filtrar o gás e o chorume. Para o lixo hospitalar são construídas valas menores enquanto houver espaço suficiente. Da capacidade de 7 valas para o lixo doméstico, 2 já foram saturadas e a 3ª está sendo construída.
Com segunda vala atingindo sua capacidade máxima, a terceira está quase pronta. Ao todo serão 7 valas somente para o lixo doméstico
Premissas | 23
O lixo começa a ser acondicionado na torta e vai se acumulando até formar uma pirâmide. A gravidade age sobre o chorume e ele é canalizado embaixo da vala e encaminhado para bacias de decantação, onde passa por um tratamento. Após o tratamento, o chorume é analisado e, se estiver em condições, volta à natureza. Se na última bacia ele não estiver pronto, o chorume é sugado para um caminhão tanque e volta a ser despejado em cima da torta. O gás metano liberado pelo lixo, vinte vezes mais tóxico ao meio ambiente que o gás carbônico (CO2), é queimado para se transformar em CO2 e evitar mau cheiro. O ideal seria construir uma termoelétrica que reaproveitaria esse gás para geração de energia, mas este é um processo bastante caro e em Dourados (ainda) não compensa. Até junho do ano passado, o Jardim Gramacho, bairro do município de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, era o maior aterro de lixo da América Latina. Quando foi fechado, ficou com uma montanha de lixo de 60 metros no local. Mas desde junho de 2013 o aterro começou a produzir energia a partir do gás metano liberado pela decomposição da matéria orgânica. Todo o gás é transportado por tubulações à estação de tratamento, em uma refinaria de petróleo. É o primeiro negócio do gênero no mundo.
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O volume de metano bombeado a cada dia do Gramacho equivale a todo o gás natural consumido diariamente nas residências e estabelecimentos comerciais de todo o estado do Rio. O aterro tem capacidade para gerar 70 milhões de metros cúbicos de metano por ano, suficiente para abastecer uma frota de 50 mil carros movidos a gás que percorram 10 mil quilômetros por ano cada um. O problema é que o lixo apenas vai se acondicionando, não desaparece, como explica o diretor do Departamento de Serviços Urbanos da Semsur, Édio Carneiro Pedroso. “Nós apenas tratamos o chorume e queimamos o 24 | Premissas
Lixeiras de coleta seletiva da UFGD
gás dele. A área de um aterro fica inutilizada. Quando atingirmos as sete tortas, nós precisamos montar outro aterro e essa área vai continuar ali, com sendo o chorume e o gás sendo sempre, mas a área inútil”. Por isso é extremamente importante cuidar para que apenas o lixo orgânico chegue ao aterro, a fim de não diminuir sua vida útil. É preciso que administração pública e população trabalhem juntas. E é fundamental que cada cidadão assuma a responsabilidade pelo lixo que ele mesmo produz. Questionada pela reportagem sobre um possível planejamento para as próximas décadas, a assessoria de imprensa da Prefeitura Municipal de Dourados limitou-se a explicar que existe um processo licitatório em andamento para renovar o contrato com a empresa que realiza a coleta de lixo na cidade. A próxima empresa deverá aumentar o número de bairros atendidos pela coleta seletiva, mas ainda não há um número específico de quantos serão esses bairros. A assessoria também não informou se existe planejamento para construção de um novo aterro.
Com única renda vindo da Agecold, Carmem sustenta uma filha e um neto. A catadora se orgulha de ser agente ecológica
INICIATIVAS DE PROFESSORES DA UFGD Bioeducando Tudo começa com a limpeza de casa e do quintal. Formado em 2011 e coordenado pela professora Juliana Rosa Carrijo, o projeto Bioeducando une docentes e acadêmicos de Ciências Biológicas para desenvolver atividades de educação sanitária. Através de cartilhas educativas, palestras e oficinas, o grupo trabalha a temática de doenças infecto-parasitárias com potencial zoonótico. Também são temas das atividades os cuidados com animais de estimação, já que cães e gatos podem transmitir doenças. O Bioeducando trabalha com 3 segmentos da sociedade douradense: escola, agentes de saúde e bairros vulneráveis.
Grupos PET Os grupos do Programa de Educação Tutorial (PET) da UFGD trabalham nas escolas municipais e estaduais e abrigos da região educando as crianças quanto ao destino correto do lixo com atividades lúdicas e muitas brincadeiras.
Onde já deu certo Paulínea no interior de São Paulo, foi a primeira cidade da América Latina a receber, em 2011, um sistema bastante utilizado em cidades europeias, que não ocupa espaço nas vias públicas e reduz os custos em até 30%: a coleta soterrada. Nas calçadas, lixeiras de aço inoxidável são instaladas com separação dos resíduos por tipo de material (metal, vidro, etc). No subsolo, para cada lixeira, há grandes coletores de 3 mil litros cada. Quando o contêiner estiver próximo de atingir a capacidade máxima, um sensor é acionado automaticamente e a equipe de recolhimento é chamada para realizar o esvaziamento do mesmo. Apenas o funcionário da empresa de limpeza possui a chave para a abertura da base. Ao levantá-la, ele prende o contêiner, que está abaixo da superfície, na grua do caminhão, e efetua o esvaziamento, retornando o coletor ao espaço subterrâneo. A operação dura, em média, três minutos. Uma das vantagens é que o lixo fica armazenado de forma segura e não há perigo de ser arrastado pela chuva ou rasgado por animais. Além disso, o lixo urbano já é recolhido separadamente, o que facilita a destinação correta para reciclagem e diminui os custos.
Lixo Hospitalar Desde abril deste ano a prefeitura de Dourados não mais se responsabiliza pela coleta do lixo de hospitais públicos e particulares da cidade. Com essa decisão, a quantidade de lixo hospitalar no aterro diminuiu de 45 para 23 toneladas por mês. “Pela lei, essa maneira que nós usamos para acondicionar o lixo hospitalar não é a ideal, ele tem que ser incinerado”, explica Édio. As valas são revestidas com uma manta plástica e, enquanto uma vala estiver sendo usada ela é coberta com um material feito de zinco. Quando essa vala se enche, é coberta com cal, Premissas | 25
aterrada e é plantada grama no lugar. “Nós já estamos utilizando a sétima vala somente para lixo hospitalar. É um processo indevido, mas o município não tem outra forma de acondicionar. Por isso vamos continuar atendendo apenas hospitais e postos municipais, porque já tememos que a vida útil do aterro não seja mais de 20 anos”, finaliza o diretor do Departamento de Serviços Urbanos da Semsur. A resolução 358 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), de 2005, determina que cada gerador de resíduos de serviços de saúde deve assumir a responsabilidade pelo gerenciamento do material, incluindo as fases de manejo interno, coleta, transporte, tratamento e destinação final. Isso significa que cada clínica ou hospital deve contratar uma empresa especializada para fazer este serviço.
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Incineração, alternativa citada por Édio Pedroso, também não é um processo ecologicamente correto, devido aos gases liberados na combustão. O correto seria autoclavar o lixo hospitalar, processo no qual ele é submetido a alta pressão e temperatura, a fim de matar todos os micro-organismos e, dessa forma, poder ir para aterros especiais (e até mesmo aproveitar o que pode ser reciclado). Mas, como sempre, é um processo muito caro.
Associação dos Agentes Ecológicos de Dourados (Agecold) Rua Pedro Rigotti nº 1164, Vila Sulmat – Dourados/MS 26 | Premissas
Compostagem em Comunidades Indígenas Funcionando a pleno vapor desde janeiro de 2013, o projeto Compostagem em Comunidades Indígenas visa levar a técnica de compostagem a crianças e jovens indígenas para que os mesmos incentivem seus pais e, consequentemente, a comunidade. A compostagem é um processo que permite que micro-organismos transformem matéria orgânica, como estrume, folhas, papel e restos de comida em adubo. A ideia é incorporar a técnica à produção de holeirícolas nessas comunidades, uma vez que já existem as hortas comunitárias nas escolas. As professoras Andréia Sangalli e Danielle Marques Vilela, junto com acadêmicos de Biologia, Zootecnia e Gestão Ambiental acreditam que a compostagem pode ser uma solução ambiental e socioeconômica, pois além de propiciar a utilização de materiais que seriam descartados de forma inadequada, espera-se aumento na produção das hortas, de maneira que os produtos possam, a médio-longo prazo, ser comercializados.
Projeto de extensão da UEMS tinha como objetivo orientar os catadores sobre os riscos aos quais estavam expostos
SAÚDE DOS COLETORES DE LIXO
Em 2004, ainda acadêmica da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), Michelly entrou em um projeto de iniciação científica, orientada pela professora doutora Cássia Barbosa Reis, o qual abordava a saúde dos coletores de lixo. A temática, quase inexplorada em universidades brasileiras, rendeu material para um artigo, publicado em periódicos científicos, e tornou-se um projeto de extensão da UEMS, que teve duração de
dois anos, dentro da empresa responsável pela coleta de lixo em Dourados. Nos anos de 2006 e 2007, Michelly, hoje mestre em Enfermagem e funcionária do HU/ UFGD, e a professora Cássia foram recebidas pela empresa e puderam realizar palestras e orientar os trabalhadores da coleta de lixo da cidade sobre os riscos que correm e a importância de sua atualização vacinal, embasadas nos relatos dos próprios funcionários, entrevistados um a um pelas pesquisadoras na época da iniciação científica. “Identificamos alguns riscos, dos quais eles falavam, porém sem saberem lidar com aquilo”, explica Michelly, alegando que a maioria dos trabalhadores não tinha ideia de que os cortes que sofriam durante a coleta de lixo, por exemplo, poderiam ser entrada para Premissas | 27
Lixo
Agulhas, cacos de vidro, mordidas de cachorro, peso excessivo, movimentação intensa, fraturas, preconceito. A quantos riscos ocupacionais os trabalhadores da coleta de lixo estão expostos durante sua jornada? Com este questionamento, a então estudante de Enfermagem Michelly Angelina Lazzari da Silva deu início a um trabalho que tomou proporções maiores do que imaginou.
agentes biológicos patogênicos como bactérias, vírus, entre outros. Durante o trabalho ela e a docente identificaram seis categorias de riscos aos quais os coletores estão diariamente sujeitos, sendo eles biológicos, físicos, mecânicos, ergonômicos, químicos e sociais. “Como a pesquisa foi qualitativa, Cássia e Michelly pretendem retomar o projeto não houve cálculo de incidências, mas era muito claro para nós e, depois para eles, que pular do caminhão traz riscos aos joelhos, tornozelos. Eles relatavam os sintomas, mas não sabiam que era em função do trabalho”, explana Cássia.
COMO AJUDAR
Hoje o projeto não está em atividade, mas as pesquisadoras têm intenção de retomá-lo e ressaltam a importância de que todas as empresas de coleta de lixo tenham internamente alguma iniciativa que atenda o trabalhador e oriente sobre os riscos a que estão expostos e como lidar com eles para previnir e solucionar problemas. Atualmente a Financial Construtora Industrial Ltda. é a empresa terceirizada pela Prefeitura Municipal de Dourados para realizar a coleta de lixo na cidade. Ao todo são 55 coletores que atuam no município e adjacências (vilas e distritos). Na cidade a coleta é feita de segunda-feira a sábado, nos turnos diurno e noturno.
Além das orientações aos trabalhadores da coleta, é necessário que a população que produz lixo ajude fazendo sua parte. São práticas simples e que devem se tornar rotineiras para reduzir os riscos dos coletores:
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Não se deve desprezar lâmpadas fluorescentes no lixo. Elas se quebram e liberam mercúrio, metal tóxico para o ser humano e para o meio ambiente. O consumidor deve devolver a lâmpada fluorescente usada ao local onde comprou, pois o comerciante é responsável pela destinação adequada.
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Os sacos de lixo não devem ser colocados em árvores, pois isto aumenta o risco de quedas e fratura para os trabalhadores.
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Também não é adequado acondicionar o lixo em grandes latões, pois o excesso de lixo que será recolhido pelo coletor causa danos ao sistema ósseo, principalmente à coluna.
Lixo
Preconceito Michelly diz que durante o projeto houve vários relatos por parte dos coletores sobre acidentes de trabalho com objetos perfuro-cortantes e até caso de lesão no joelho, por conta do movimento de subir e descer do caminhão. No entanto, o que mais a deixou surpresa foi o risco social que pode atingir o trabalhador. “Eles falavam do peso psicológico, do estigma, do preconceito da população. Eles relatavam que é difícil serem chamados de “lixeiro”, “fedido”, de como a população os vê”, conta. 28 | Premissas
RISCOS DA COLETA DE LIXO •
A forma correta é colocar o lixo em sacolas pequenas, facilitando o trabalho do coletor e diminuindo o peso que ele carrega.
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Não se deve jogar no lixo agulhas, seringas e escalpes, novos ou usados. Estes itens devem ser colocados em uma caixinha ou garrafa e levados a postos de saúde ou farmácias. Os cacos de vidro devem ser colocados dentro de caixas de leite vazias ou bem enrolados em jornal, antes de serem jogados fora.
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Não se deve usar com os trabalhadores da coleta expressões como “lixeiro” e “fedido” e outras pejorativas. Eles ocupam a função de coletores de lixo e devem ser tratados com respeito, pois seu trabalho é fundamental para o bom funcionamento da cidade.
Físicos: ruído, vibração, calor, frio, umidade Químicos: gases, névoa, neblina, poeira, substâncias químicas tóxicas Mecânicos: atropelamento, quedas, esmagamentos pelo compactador de lixo, fraturas Ergonômicos: sobrecarga da coluna vertebral, o que leva a doenças de coluna, de braços e de pernas Biológicos: contato com agentes biológicos patogênicos (bactérias, fungos, parasitas, vírus), principalmente através de materiais perfuro-cortantes Sociais: falta de treinamento e condições adequadas de trabalho Premissas | 29
FRALDAS E ABSORVENTES DESCARTÁVEIS, UM LIXO OPCIONAL
Lixo
Novidades no mercado de higiene pessoal são alternativa para diminuir volume de lixo
30 | Premissas
Estima-se que fraldas e absorventes ocupem 2% do volume de aterros sanitários e lixões. Aos dois anos de idade, um bebê terá produzido aproximadamente duas toneladas de lixo não reciclável, apenas com fraldas descartáveis. As mulheres, durante sua vida fértil, geram em média 150 quilos de absorventes sujos, o que equivale a sete carrinhos de supermercado cheios. Esse lixo pode ser reduzido com opções inovadoras que estão surgindo no mercado de higiene pessoal. Além de ambientalmente corretas, essas alternativas são mais econômicas em longo prazo, e também solucionam o caso de pessoas que não podem usar produtos descartáveis – que em geral contêm diferentes produtos químicos que podem causar alergias ou irritação na pele. Quando teve o primeiro filho, a engenheira civil Thatyanne Santana da Costa Ribeiro ficou espantada com a quantidade de fraldas descartáveis que estavam sendo jogadas no
lixo. O calor de Mato Grosso do Sul foi outro fator que a fez procurar uma opção às fraldas descartáveis, que causavam incômodo na pele do seu bebê. Thaty encontrou a solução nas fraldas de pano modernas. Thatyanne faz parte de uma nova tendência de consumidores que procuram produtos que aliam praticidade e conforto com sustentabilidade. Não são poucas famílias que estão optando pela fralda de pano moderna. Essas novas fraldas de pano são compostas por duas peças: a calçola impermeável e o absorvente que vai dentro dela. A peça externa é parecida com as antigas fraldas de plástico, mas são feitas com um tecido colorido e impermeabilizado – tornando-as bonitas e confortáveis. A fralda moderna geralmente tem botões, para se adaptar exatamente ao tamanho do bebê (estar bem ajustada nas perninhas da criança é o segredo para não ocorrerem vazamentos). Dentro dessa fralda são colocados um ou mais absorventes, fei-
Copinho coletor produzido 100% em silicone medicinal flexível substitui o uso de absorventes
Premissas | 31
tos de tecidos que retêm mais líquido. Assim, é possível usar a mesma fralda várias vezes no dia, trocando apenas o absorvente interno.
ANATOMIA FEMININA
O novo conceito de fraldas de pano enfrenta resistência por trazer a lembrança de como era a rotina das mães de família, esfregando e pendurando dezenas de panos brancos na lavanderia. “As fraldas de hoje são muito práticas, quase todas podem ser lavadas na máquina. A rotina de troca depende do tipo de fralda escolhida. Algumas pedem trocas frequentes, outras aguentam uma noite inteira. Vale a pena pesquisar as marcas e modelos disponíveis no mercado, testar algumas e dai escolher as que melhor lhe atender”, sugere Thatyanne – que além de usar fraldas de pano, é adepta do coletor menstrual.
Adeus, absorvente O coletor menstrual é feito de silicone cirúrgico, no formato de um pequeno cálice do tamanho de um copinho de café. Ele é dobrado e colocado no canal vaginal. A cada 8 ou 12 horas a mulher retira o coletor, lava e coloca de novo. “O coletor me faz esquecer que estou menstruada. O uso constante faz com que você se adapte a ele e o eleja a melhor de todas as alternativas. É prático, higiênico e realmente te proporciona a sensação de liberdade que é vendida pelos absorventes”, defende a engenharia civil Thatyanne.
Lixo
No quesito higiene, o coletor leva grande vantagem sobre os absorventes, inclusive sobre os internos. Como o coletor não absorve o sangue, nem o deixa em contato com o ar, evita odores desagradáveis e a criação de fungos e bactérias. O coletor também apresenta menos casos de alergia. O produto é uma novidade no mercado da higiene pessoal, e chegou ao Brasil em 2010. O grande trunfo de divulgação do produto tem sido a propaganda boca a boca. “O elevado 32 | Premissas
1 - Bexiga 2 - Uretra 3 - Útero 4 - Colo do útero 5 - Vagina 6 - Ânus 7 - Ossos do púbis
índice de satisfação tem contribuído muito para a divulgação do produto”, conta Mariana Betioli, assessora de comunicação de uma marca de coletores. Um dos fatores que pode causar resistência ou insatisfação na mulher é a dificuldade em se adaptar ao produto. “O uso do coletor é uma questão de prática e nem todas as mulheres têm conhecimento do próprio corpo, algumas nunca se tocaram”, analisa Mariana, que em seu trabalho presta orientações personalizadas às clientes que sentem dificuldade para usar o coletor.
Hábitos de consumo As mulheres que fazem a opção pelo coletor menstrual e pelas fraldas de pano fogem do estereótipo dos “ecochatos”, consumidores fissurados por produtos naturais. A verdade é que são muitos os motivos que podem levar uma pessoa a experimentar um produto novo e começar a gostar dele. Economizar dinheiro pode ser uma boa razão para mudança nos hábitos de consumo. A farmacêutica Marilise da Silva Souza mora em Campo Grande e é mãe de duas meninas, uma de três anos e outra de quatro meses. Quando engravidou da segunda filha, Marilise começou a procurar uma alternativa às fraldas descartáveis, que estavam pesando no orçamento da família. Foi pesquisando na internet que Marilise conheceu as fraldas de pano modernas. Ela comprou um kit para testar na filha mais velha, e aprovou o resultado. Hoje, a caçula da família usa fraldas de pano durante o dia e uma ou duas descartáveis a noite, o que reduz o consumo de quatro para um pacote de fraldas por mês. Marilise garante que as fraldas de pano modernas são tão práticas quanto as fraldas descartáveis. “Não dão trabalho, é apenas tirar e colocar pra lavar. Quando minha bebê faz o ‘2’ eu apenas passo uma água antes de deixar de molho, pois não lavo todos os dias. A quantidade de fraldas que eu tenho, 20 fraldas, me permite lavar a cada dois dias. É apenas colocar na máquina de lavar”, relata a farmacêutica.
Além de economizar com as fraldas, Marilise já não usa mais pomada para assaduras, pois o tecido não causa irritação na pele do bebê. “Não uso pomada, e olha que não preciso dar banho nela a cada troca, uso apenas um bom lenço umedecido”, diz. Thatyanne tem experiência no assunto, pois usou fralda de pano em seus dois filhos – o mais velho com três anos e o mais novo nascido em abril de 2013. “As fraldas podem ser lavadas conforme for melhor para a mãe, levando em conta a quantidade de fraldas que se tem e o tempo que levam para secar. Em Mato Grosso do Sul temos dias lindos de sol, uma bênção para meus paninhos. Lavo fralda a cada dois dias e dificilmente elas ficam mais de um período no varal”, diz. Maria Cristina Duarte, que costura e vende fraldas de pano, garante que as fraldas modernas não dão mais trabalho do que qualquer roupa de bebê: é só colocar na máquina de lavar roupa. Aliás, ela avisa que manchas em fraldas brancas não são problema. Segundo Cristina, o alimento e a digestão liberam materiais corantes, que podem tingir o tecido. Agora, o cheiro ruim significa partículas de urina ou fezes ainda presentes no pano. Para as mães que não abrem mão de saber que os panos estão bem esterilizados e branquinhos, uma receita: vinagre ou bicarbonato de sódio. Solução econômica e de menor impacto ambiental.
Premissas | 33
Você sabe o que fazer com seus resíduos sólidos? Dourados conta hoje com 4 ecopontos, áreas municipais que recebem determinados tipos de resíduos. São eles:
PARA GALHOS E PODAS DE ÁRVORES: • No Parque do Lago, avenida Lindalva Marques. • Na Via Parque, próximo à Cohab II. • No Parque das Nações I próximo ao túnel novo.
pneus PARA PNEUS: No Jardim Rasslen, próximo ao Trevo da Bandeira, sentido Campo Grande.
A população pode levar direto aos locais. É importante lembrar que não são aceitos restos de construção civil, madeira e ferro, por exemplo. A orientação para quem realiza limpeza em sua residência é contratar uma caçamba, pois a própria empresa deve dar um destino final correto para o lixo.
ÓLEO DE COZINHA USADO O projeto Óleo Solidário arrecada óleo de cozinha inutilizável e revende para empresas especializadas, que o transformam em biodiesel. Com o dinheiro arrecadado são compradas cestas básicas para beneficiar famílias em vulnerabilidade econômica. Alguns pontos de coleta: •
Rua Ediberto Celestino de Oliveira, esquina com a Adroaldo Pizzini, na Frutaria Ipanema;
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Rua Eulária Pires (S/N), no Cras da Vila Cachoeirinha;
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Rua Aquidauana com a Ciro Mello, na Padaria Trygus;
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Avenida Presidente Vargas, no Corpo de Bombeiros;
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Rua Delfino Garrido, n° 1257, Jardim Santa Brígida, na Rustikus Móveis
PILHAS E BATERIAS Ao jogar pilha e baterias em aterros sanitários sem proteção, o metal vai parar no solo e atinge a cadeira alimentar chegando até o homem pela alimentação vegetal e animal. Quando for descartar, não jogue no lixo comum. Procure uma loja de telefonia celular, que geralmente possuem pontos de coleta.
LÂMPADAS E ELETRÔNICOS Lixo
Desde que foi aprovada a lei 12.305/10 (PNRS), os locais de comércio de lâmpadas e equipamentos eletroeletrônicos ficam obrigados a receber os produtos vendidos para que sejam remetidos de volta à empresa fabricante. 34 | Premissas
MATERIAIS RECICLÁVEIS Quando encontrar as lixeiras de coleta seletiva, atenção para as cores: verde recebe vidro, vermelho recebe plástico, amarelo recebe metal e azul recebe papel.
nada antes. No entanto, é higiê-
Você também pode levar seu lixo doméstico, separando o lixo orgânico do reciclável, até a sede da Agecold, na rua Pedro Rigotti nº 1164.
açúcar ou doces podem atrair ratos
Para o processo de reciclagem acontecer, não é necessário lavar
ser reciclados e os que devem ir
nico retirar o excesso de resíduos do recipiente, principalmente se ele ficar armazenado por algum tempo. Embalagens sujas de leite, e baratas. Mas nada de usar água limpa exclusivamente para isso! Atenção aos materiais que podem para o lixo comum.
PAPEL Recicláveis: caixas de papelão, cartazes, cartolinas, embalagens longa vida, envelopes, jornais, papéis de escritório. Antes de dispensar livros e revistas, procure doá-los a bibliotecas ou escolas, ou leve-os a sebos.
Papel
Lixo comum: caixa de pizza com resíduos, celofane, extrato de banco, etiquetas adesivas, fotografias, guardanapo, notas fiscais, papel-carbono, papel de fax, papel higiênico, papéis plastificados, papel vegetal.
Plástico
Recicláveis: canos, copos, embalagens, frascos de produtos de limpeza e higiene pessoal, garrafas PET, potes, sacos, sacolas, tubos.
Lixo comum: cabos de panela, embalagens metalizadas de alimentos (como as de salgadinho), espuma sintética, fraldas descartáveis.
METAIS
Inteiro ou em cacos, os produtos – recicláveis ou não – devem ser enrolados em jornal ou papelão para evitar acidentes.
Recicláveis: folha de flandres (é o aço revestido de estanho das latas de óleo, sardinha, creme de leite etc.), latas de aerosol (verifique antes se estão vazias), latas de bebidas, papel-alumínio limpo, tampas de garrafa.
Recicláveis: copos, garrafas, frascos em geral,
Lixo comum: clipes, esponjas de aço, grampos, tachinhas.
VIDRO
Vidro
PLÁSTICO
potes alimentícios. Lixo comum: boxe de banheiro, cerâmicas, cristais, espelhos, lâmpadas incandescentes, lentes de óculos, louças refratárias, porcelanas, vidros de janela.
Com informações do site www.planetasustentavel.abril.com.br Premissas | 35
Fotos: Arquivo pessoal
Doulas, os anjos da guarda na hora do parto No Brasil, ocupação foi reconhecida este ano e já está disponível em hospitais públicos
A palavra não está no dicionário. De origem grega, “doula” significa serva. São mulheres que têm a tarefa de dar suporte emocional à gestante durante todo o trabalho de parto. Este acompanhamento inclui massagens, apoio emocional e orientações que garantem um parto natural mais ativo, rápido e menos doloroso. A ocupação é milenar, mas no Brasil foi reconhecida somente este ano. Em países como os Estados Unidos, as doulas têm uma atuação muito forte, com reconhecimento profissional e conselho federal. No Brasil, a atividade está em fase de expansão – nos grandes centros, já existe inserção deste trabalho nos hospitais públicos. É o caso do Ângela Rios atua como doula há 10 anos; em MS, são em torno de 15 doulas atuando em Dourados e Campo Grande hospital Sofia Feldman, em Belo Horizonte (MG), onde as doulas são contratadas pela instituição que as mulheres sejam protagonistas com o objetivo de auxiliar as mães no trabalho de parto. do próprio parto”, defende.
Saúde
A fisioterapeuta Ângela Rios atua como doula em Dourados há dez anos. Ela explica que a doula não precisa necessariamente ser profissional da área da saúde, já que não realiza nenhum procedimento técnico ou clínico. “O que ela precisa é ter conhecimento dos processos do trabalho de parto e técnicas para melhorar a dor, reduzindo o tempo de trabalho de parto e oferecendo segurança para a mulher”, explica ela. Ângela Rios lidera um grupo que tem como objetivo orientar e apoiar as gestantes dispostas a não se render às cesarianas desnecessárias. O Grupo de Apoio ao Parto Humanizado (GAPH) é composto por doulas que atuam em equipe, sempre orientando as gestantes que desejam um parto natural. “A doula tem como função melhorar a experiência do parto humanizado e favorece 36 | Premissas
Amparo A doula pode ser contratada pela gestante ainda durante a gravidez, para orientação. No momento do parto, pode auxiliar através de massagens, exercícios com bolas, banho quente, orientações de respiração e principalmente apoio psicológico. A doula dá segurança à gestante, ajuda na escolha da melhor posição e explica passo a passo tudo o que está ocorrendo com o corpo da mulher. A biomédica Nathalie Gaebler Vasconcelos, de 28 anos, contou com o apoio
de uma doula no parto de seu primeiro filho, Caio, que nasceu no Hospital Universitário da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados) no dia 24 de novembro do ano passado. Foi lá, atuando como funcionária, que ela conheceu este trabalho desenvolvido por algumas colegas. “Sempre quis um parto o mais natural possível e encontrei este apoio na doula”, conta ela. Natalie conta que teve todo o apoio inicial em casa e que o trabalho da doula favoreceu a descida do bebê e um parto mais rápido e menos doloroso. “Ter o suporte de um profissional, com experiência, fez toda a diferença. Tive um parto natural sem anestesia, mas não sei se teria ido até o final sem este apoio emocional”, diz ela. Caio nasceu saudável e forte, com 3.800 gramas e 51 centímetros. A brasileira Tamy Bucchino, de 35 anos, também tem uma boa experiência para contar sobre o trabalho de parto. A diferença é que tudo aconteceu nos Estados Unidos, onde ela mora há seis anos e onde a realidade sobre o incentivo ao parto natural também é bastante diferente do Brasil.
Tamy diz que várias amigas nos EUA contaram com auxílio de doulas na gestação; todas tiveram parto normal
é a mulher. Se eu não soubesse como fazer, seu eu não tivesse recebido todo o apoio e respeito que eu precisava naquela hora talvez não tivesse conseguido e, provavelmente, meu parto teria evoluído para uma cesariana sem dúvida. Eu precisei ser orientada sobre como usar as minhas contrações a favor do empurrar, de como usar aquele momento de dor a favor do nascimento do meu filho e isso nenhum médico ensina, somente a doula, com paciência e carinho.” Entre a comunidade médica, a atuação das doulas divide opiniões, mas tem o apoio daqueles que defendem o parto natural. A médica ginecologista e obstetra Sissy Helena Zancanaro Carniel diz que através da doula a gestante conhece melhor o que acontece com o seu corpo, além de ficar mais tranquila para o parto. “Para as mães que pretendem ter parto normal, sem dúvidas é excelente”, afirma.
Ela conta que conheceu a doula na primeira visita ao hospital, momento em que também soube que poderia optar por uma enfermeira obstetra em vez de um médico obstetra, como convencional. “Durante toda a gravidez, fui acompanhada por uma enfermeira e por uma doula. Tive pouquíssimas Nathalie teve parto natural sem anestesia, graças ao auxílio de uma doula; o marido acompanhou o parto intervenções médicas e conto nos dedos quantos exames de toques realizaram durante a gestação e o trabalho de parto”, diz ela. “Minha doula foi indispensável para me mostrar que tudo o que eu estava passando poderia ter uma visão mais natural”, acrescenta. Por conta de alguns problemas com a saúde do bebê, Tamy teve um parto prematuro, mas sem complicações. “Hoje, com todo o poder que o meu parto me deu, eu posso dizer que quem manda nessa hora
Premissas | 37
A poesia do distrito de Piraputanga
“Aquidauana encerra em si, belezas de um solo rico. São preciosas as pedras contidas no seu distrito, Serpenteado por curvas do seu rio de águas turvas, Que escorrega nas entranhas de volumosas montanhas. Vacas mugindo aos berros dentre as estradas de ferro E um reboliço de aves denuncia algo que vem. Trazendo progresso e saudade, Se ouve o barulho do trem. Perto da estação, há cerca de uma mangueira, Vimos se aproximar figura pouco ligeira, Fuçando o nariz no chão, Andando à sua maneira,
Lugares
Fotos: Thays Baes
38 | Premissas
Grandes garras em suas mãos. Era um tamanduá-bandeira. Felizes a contemplar à sombra de um pé de manga, Montanhas e aves no ar, Vermelho, arara, pitanga... Lençol prateado no rio, Semeado na barranca; Lambari tem calafrio ao ver a piraputanga, Peixe vermelho e ligeiro Salta na água de banda, Só tem medo do dourado, Pois aqui ele é quem manda. Pequeno pedaço de chão de gigantescas paisagens. Te guardo no coração dentre as minhas viagens.” (Rodrigo Nantes)
Premissas | 39
Música
A intensidade de Giani Torres Ela fala de sonhos, desencontros, gratidão, amor, solidão, natureza, desilusão, contrastes, esperança. Tudo isso em ritmo de samba, jazz, rock e bossa. É regional, ivinhemense por acaso, douradense por opção. Giani Torres é cantora e compositora, não se define, é intensa e generosa com seu trabalho artístico e tem novidades para 2013. Confira! 40 | Premissas
Tendo a música como memória mais remota, Giani conta que, quando criança, sempre cantou em corais, mas foi por influência do pai que começou a ouvir música antes mesmo de falar. Músico de banda de igreja, o pai trocou o clarinete pela guitarra e caiu nos palcos. Apesar das circunstâncias, o que a moça mais queria era ser jogadora de vôlei. E insistiu no sonho por uma década, quando, por volta de 20 anos, em Bauru, São Paulo, percebeu que lhe faltava um pouquinho de altura. Desistiu, casou-se e veio para Dourados. E foi aqui na cidade da terra vermelha que, segundo ela, nasceu como artista. Também foi aqui que reencontrou amigos de sua cidade natal e montaram uma banda, Quarteto de Vinil, entre 1998 e 2003. Eram todos roqueiros, muito roqueiros, mas tocavam MPB, “então ficou uma pegada muito diferente, rebuscada, uma coisa muito doida. Eu adorei isso!”, lembra.
Prêmios Antes de se tornar a pérola musical de hoje, Giani Torres ainda se formou em direito, estudou muito e virou concurseira. Mas estava inquieta, e por isso decidiu seguir outro caminho. Começou vencedora. Foi em 2009 que surgiu a oportunidade de mostrar seu trabalho como compositora no Festival SESI de Música. Ganhou o primeiro lugar com ‘Finita Água’. Como resultado foi para Brasília e ficou entre os dez melhores compositores do Brasil, a única mulher. No ano seguinte se inscreveu no mesmo festival e foi bicampeã com ‘Princesa da Janela’. Dessa vez seguiu para Belo horizonte e, ao ver as pessoas curtindo e cantando sua música, teve certeza do que queria. Voltou para Dourados e desengavetou seu talento.
Coisas simples “Eu tinha um monte de letras e não estava mais prestando atenção às coisas que me vinham como melodia. Esmaguei tanto isso que parecia que minha musicalidade tinha
ido embora. Então eu comecei a prestar mais atenção, a colocar melodia nas letras e me aprimorar no violão”. Giani faz letra, música, harmonização, arranjo, tudo. “De repente eu tinha todo um repertório para o CD”. Pra Falar de Coisas Simples foi seu primeiro disco, lançado em Dourados em novembro do ano passado. Seu medo era a falta de aceitação da música alternativa em um estado que exporta sertanejo universitário. “Eu estava investindo em um sonho e nadando contra a maré, porque sertanejo não é minha onda, não é o que eu sei fazer. Mas resolvi encarar do mesmo jeito! E acabei descobrindo que tem ambiente e público para todo tipo de música”. Outro receio da cantora durante a seleção das músicas para o trabalho foi a maneira como as pessoas receberiam as músicas com maior apelo dramático. “’Mazelas’ eu achava pra lá de cafona. Quem quer sofrer ouvindo música? Eu adoro sofrer ouvindo música. Acho que a dor nos traz muita reflexão quando deixa de ser seu algoz, quando passa a ser uma companheira de vida. Eu acho que eu lido bem com a dor. Compondo então! É minha válvula de escape. As pessoas me dizem muito que ouvem meu CD quando estão estressadas, ou quando querem refletir. A música é companheira. Se você está feliz você tem uma música para saltitar, se você não está legal, de repente você quer outro estilo”.
O público Giani é muito generosa quando alguém lhe dá explicações sobre sua música e não coloca limites em nada. Certa vez um garoto lhe disse o que significava ‘Finita Água’ para ele. “A concepção dele é muito mais interessante do que a minha. Seu eu tivesse pensado como ele eu teria feito uma música melhor”, confessa. “Isso que é legal da música. Eu faço uma letra para exteriorizar o que eu penso e, hora que ela se propaga, que chega aos ouvidos das pessoas, aquela música já não é mais minha. E cada um tira dela o que quiser”. Premissas | 41
Ser regional “As pessoas sempre me perguntam: você não é muito regional, não é? O pessoal das antigas não te influenciou?”, e Giani responde, com toda sinceridade, que foi muito influenciada por eles. Primeiro porque levantaram a bandeira da cultura desse estado, e também pela honestidade deles com relação à arte que produzem. “Eu aprendi a amar esse estado com os Prata da Casa. Eles são extremamente honestos com aquilo que sabem fazer”. Além disso, a ideia de ser regional, para Giani, vai além de cantar sobre pássaros, bois e o pantanal. “Eu estou aqui, produzo música aqui, falo para todo mundo que sou daqui, e é esse o lugar que me inspira. Acho que isso é regionalismo”.
Música
Sobre a classificação de sua música como nova MPB, Giani é categórica: “eu não gosto desse termo. Parece que é excludente, como se o novo excluísse o velho. O que a música brasileira vem relatando é uma forte influência de outros estilos de outros países. E acho que é por isso que ela é tão contemporânea”. Apesar de não gostar da definição nova MPB, é assim que a compositora entende o estilo, como uma música mais abrangente, que conversa com o mundo. “Hoje a música brasileira tem muito blues, muito jazz. Minha música vai por aí. Um sambinha, uma bossa é o que me toca. Foi assim que eu aprendi a ouvir música. Mas eu me sinto muito livre para compor. Como eu não quero me definir, eu adoro que as pessoas façam isso”.
42 | Premissas
Novidades 2013 Viver somente como cantora e compositora é uma ideia que tem passado mais comumente pela cabeça de Giani, porque vem tomando mais o seu tempo e preenchendo sua vida. Com projeto aprovado pelo FIC 2013 (Fundo de Investimentos Culturais), o Giani Torres Canta Coisas Simples, a cantora pretende investir em material audiovisual. Não se trata de um DVD de show – embora vá conter imagens de shows – mas sim de imagens de bastidores. “Vai mostrar muito o estúdio da pré-execução do segundo disco, que é Como Bolhas, Água e Sabão. Vai mostrar para as pessoas como é o processo de produção musical dentro de um estúdio, a dificuldade, a ansiedade de querer muito que o disco fique bom, a discussão com o músico, com o arranjador, com o produtor, isso é muito doido. Estúdio é o paraíso, é o meu céu”. Giani se abrir mais ainda? “Vou, como diz um amigo meu, vender minhas tripas na feira”.
Mas Como Bolhas, Água e Sabão não terá apenas making of, é possível que venha no DVD umas 2 ou 3 músicas prontas do novo CD. O projeto prevê também a produção de 4 videoclipes e a participação especial do bailarino Paulo Paim. Giani vai usar mão de obra sul-mato-grossense durante todo o processo de produção do DVD. “Quero trabalhar com gente daqui, que eu amo, que tem muito talento. O que eu tenho de ídolos nesse estado, sabe? Acho uma pena essa dificuldade em mostrar nossa cultura para outras regiões, porque Mato Grosso do Sul é muito rico”. Esse trabalho, uma espécie de documentário musical, será “jogado na rede”, para divulgação do sul do estado. “Vou usar minha criatividade sem fugir da realidade. Porque eu não vou falar de nenhuma popstar, vou falar de mim no início de carreira, fazendo o segundo disco, dentro dessa cultura linda, nesse lugar maravilhoso”.
Papel da Universidade “Fiquei felicíssima por ter sido aprovada no edital Celebração 2013 da UFGD. Você se apresentar com o respaldo da universidade, com qualidade técnica, de som, de estrutura, não tem preço”. A cantora concorda que a universidade é uma grande fomentadora da cultura local, que movimenta a cidade e promove alternativas quando o assunto é arte e lazer.
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Restaurante em Dourados oferece 20 tipos de saladas e 14 de refogados, tudo sem carne
CHUCHU PODE SER TÃO GOSTOSO QUANTO BIFE Pratos elaborados apenas com vegetais são atrativos até mesmo para quem come carne
Gastronomia
Embora o Brasil seja um grande produtor e consumidor de carne, a quantidade de pessoas aderindo à dieta vegetariana está cada vez maior, seja por questão ambiental, de saúde ou por consideração aos animais. Lares e restaurantes ainda estão repletos de produtos à base de carne, mas até mesmo os não vegetarianos estão aderindo à dieta uma ou duas vezes por semana. E essa dieta não significa comer apenas arroz, feijão e salada. O hábito pode ser usado inclusive como forma de estimular crianças e jovens a terem uma alimentação mais saudável, pois estabelecer determinado dia da semana como “dia sem carne” significa preparar uma alimentação que inclua legumes, verduras, frutas, grãos, cereais, castanhas em suas mais variadas formas. É possível comer lasanhas, 44 | Premissas
suflês, tortas, strogonoffs, risotos, hambúrgueres e, acredite, até feijoada sem conter ingredientes de origem animal.
Alternativa Pensar uma comida sem carne que possa ser atrativa e saborosa exige criatividade. Em Dourados existe uma opção aos vegetarianos, um restaurante bastante frequentado também por não vegetarianos. É especializado em comida chinesa e nenhum prato possui carne de qualquer espécie. Os proprietários são de Taiwan e iniciaram as atividades no restaurante douradense em junho de 2002. A ideia de difundir seu hábito alimentar deu certo. “Temos clientes que são vegetarianos mesmo, e temos os que vêm
por curiosidade. Às vezes acham que é muito caro, então nós fazemos promoção duas vezes na semana para que a pessoa prove, veja como é gostoso e se torne nosso cliente. Vem muita gente que não é vegetariana”, comenta Cheng Shu Fen, uma das donas, conhecida no Brasil como Regiane. Como o restaurante tem uma comida bastante específica (chinesa), ao longo desses dez anos o cardápio teve que ser adaptado ao paladar brasileiro. Regiane explica que os orientais comem o feijão (azuki) doce, assim como mandioca e batata, também usados para fazer sobremesa. E além dessa adaptação, eles sempre pensam no público que gosta de carne. “Tem que fazer comida com um cheiro bom e usar temperos mais fortes, para que a pessoa, ao experimentar, ache tão gostosa quanto comer com carne”, explica Regiane. É impossível sair com fome e sem agradar ao paladar. Durante a semana são 16 tipos de saladas, 12 refogados, 8 pratos aquecidos e 2 doces. Aos sábados e domingos o número de saladas aumenta para 20 e os refogados para 14. As sobremesas são cortesias da casa. Raquel Nishiyama não é vegetariana, mas vai ao restaurante pelo menos uma vez por semana há 7 anos e leva seus pais, filho e sobrinhos – a família toda. Ela afirma que frequenta o lugar porque gosta da comida e acha bastante balanceada. “Quando comecei a frequentar o restaurante, a comida era diferente, acho que era mais chinesa. Tinha uns temperos estranhos e os pratos que deveriam ser quentes não eram. Também tinha muita comida doce e apimentada. Acho que com o tempo eles foram se adequando ao paladar brasileiro”. As crianças que acompanham Raquel não gostam muito de ir, e quando vão, preferem as frituras. “Eles não gostam muito das saladas. Mas a gente continua insistindo mesmo assim, como forma de estimular uma alimentação mais saudável, eles precisam sentir novos sabores”, insiste Raquel.
Caso parecido é o de João Nackle Urt, que também inclui carne em sua dieta, mas é frequentador assíduo do local há um ano. Ele sente no corpo a diferença. “Me faz bem, passei a gostar de comer menos carne. Fico um pouco mais leve. Percebi que não preciso comer carne todos os dias. Comendo uma ou duas vezes por semana pode ser suficiente para atender às necessidades nutricionais. E eu achava que, como eu sou grande, ia ficar com fome muito rápido se eu não comesse carne. Mas pelo contrário, a gente acaba compensando a falta de carne com tanta fibra. ‘Damos mais trabalho’ para nosso sistema digestivo e a sensação de saciedade permanece por mais tempo”.
Luciana Nepomuceno – chef de cozinha “Verduras e legumes estão sendo valorizados como acompanhamento, mas diferentes tipos de arroz e cereais também estão muito em alta. O vegetariano está deixando a mesmice da salada e aumentando os sabores. Para atrair paladares mais exigentes, nós usamos técnicas de cozimento, como o branqueamento, que deixam os vegetais mais apetitosos, mais brilhosos, e com a cor forte, porque a pessoa também come com os olhos e com o olfato. No Brasil, a gastronomia está mais na moda, e a diversidade de sabores nos favorece. Hoje é comum encontrarmos pratos com chuchu e quiabo até em restaurantes mais refinados”. Premissas | 45
João não é vegetariano mas sente no corpo os benefícios de comer menos carne
João se lembra de comer comida vegetariana em Boa Vista, Roraima, em um restaurante especializado em comida indiana. Mas o hábito começou no restaurante universitário da UnB (Universidade de Brasília). “A fila da opção vegetariana era sempre menor, então, às vezes, na correria, eu encarava feijoada vegetariana e hambúrguer de banana da terra com proteína de soja”.
* Pesquisa realizada nas regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Fortaleza, Brasília e nos interiores de São Paulo e das regiões Sul e Sudeste.
Gastronomia
Se você é do tipo que ajoelha e agradece diante de um bom churrasco, experimente, apenas um dia na vida, desafiar seu paladar. Procure receitas simples e saborosas, com ingredientes balanceados e veja se consegue sentir prazer em comer sem carne. Você pode se surpreender.
De acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares (20082009), realizada pelo IBGE, a região Nordeste é que a menos come carne no país, com um índice de 57,1g/dia por pessoa. Confirmando essa tendência, outra pesquisa* realizada pelo IBOPE aponta que Fortaleza é a capital com maior porcentagem de pessoas que se declaram vegetariana: 14%. Essa pesquisa divulgada pelo IBOPE não contempla a região CentroOeste que, por sua vez, é a região que mais consome carne bovina, segundo o IBGE: 88,1g/ dia por pessoa.
46 | Premissas As crianças ainda resistem, mas Raquel insiste em levá-las para que alimentação saudável torne-se um hábito
DEMOCRATIZAÇÃO DO CINEMA PARA TODAS AS IDADES
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Projeto auxilia na adaptação familiar. Em pouco tempo, irmãs que frequentavam casa dos padrinhos aos finais de semana, tornaram-se filhas e passaram a fazer parte da família
AMOR NA PRÁTICA
Adoção
Projeto Padrinho promove noção familiar em crianças e adolescentes abrigados e transforma-se em um passo importante para a adoção tardia Apadrinhar alguém é um tributo de servidão voluntária em relação a uma determinada família. O termo tem origem cristã e, dentro do catolicismo, por exemplo, coloca como função primordial o papel religioso de ensinar os passos de Jesus. Os padrinhos adquirem o papel de segundos pais, assumindo muitas vezes o afilhado financeiramente e estando sempre presentes na vida da família. Também têm o papel de transmitir a sabedoria e a capacidade de aprendizado.
noção de lar. Em Dourados, o projeto existe
Não foi por acaso que o Poder Judiciário de Mato Grosso do Sul nomeou de Projeto Padrinho a iniciativa que aproxima famílias e crianças abrigadas, resgatando-as para um convívio conjunto e promovendo nelas a
enfrentam problemas com álcool e drogas
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desde 2009 e vem contribuindo no processo de adoção tardia, considerada um dos desafios da Vara da Infância e Juventude. O Projeto Padrinho atende dezenas de crianças e adolescentes dos abrigos Lar Santa Rita (até 7 anos), Ebenézer (de 7 a 12 anos), Renascer (meninas de 12 a 16 anos) e do IAMI (meninos de 12 a 16 anos). Todos são abrigados e muitos têm pais que e/ou são oriundos de famílias desestruturadas. São meninos e meninas sem lar, sem referência da instituição familiar, sem pai nem mãe presentes.
DE PADRINHOS A PAIS João Carlos de Souza e Tereza Bressan são exemplos de padrinhos afetivos que se tornaram pais das irmãs Danielly e Adrielly. O casal conheceu as meninas em 2009, durante uma visita no Lar Ebenézer durante a doação de presentes arrecadados no Natal pela universidade onde são docentes. Manifestaram interesse no Fórum, preencheram todos os procedimentos necessários até que começaram a levar as meninas para casa nos finais de semana. Em maio, no Dia das Mães, Dani e Drica foram para a casa dos professores e não voltaram mais para o abrigo. Eles iniciaram o processo de guarda provisória das meninas e, nas férias de julho, já estavam definitivamente com o casal, pais de Raquel, filha biológica, e de Leonardo, também adotivo, que hoje está com 32 anos.
“O processo de adoção levou uns seis meses, porque a justiça deve esgotar todas as possibilidades de reintegração familiar com pais e/ou parentes, mas já tínhamos a guarda provisória das meninas. O Projeto Padrinho auxiliou para uma adaptação familiar de ambas as partes, além disso ele sensibiliza e mobiliza, abrindo caminhos para a adoção tardia. Hoje somos uma família, com todos os desafios e percalços enfrentados por famílias comuns, com filhos biológicos, mas muito feliz”, ressaltou Tereza. E não foi fácil. As meninas levaram um ano para serem alfabetizadas em horários fora do ensino regular. Hoje, já fazem o terceiro ano do ensino fundamental na escola estadual Castro Alves, praticam esportes, ballet, natação, xadrez, artes plásticas e também têm acompanhamento regular com psicóloga. “Eu amo essa família e sempre quis ter uma família desse jeito, uma pai, uma mãe”, finalizou Dani.
Para a assistente social Vânia, o objetivo principal do projeto é dar uma noção de convívio familiar às crianças e adolescentes
A equipe responsável pelo andamento do projeto é liderada pelo Juiz da Vara da Infância e Juventude, Dr. Zaloar Murat, com apoio da coordenadora e assistente social Vânia Sena e da psicóloga Cláudia Aguiar. Eles são responsáveis pelo cadastro de famílias, casais e pessoas interessadas pelo apadrinhamento e pelo acompanhamento histórico psicossocial desses interessados para a autorização do processo. Hoje, já são mais de 80 Premissas | 49
padrinhos e madrinhas que ajudam financeiramente, com serviços e com muito amor. “O Projeto Padrinho é uma modalidade que abriu possibilidade para adoção tardia. Não autorizamos apadrinhamento afetivo com menores de cinco anos, apenas ajuda financeira. É um projeto que vem dando certo e que dá noção e referência para essas crianças e adolescentes do que é conviver em família”, destacou Vânia Sena. O alcance social do projeto foi sensacional. Para o juiz Zaloar Murat, o projeto incentiva a adoção positiva, ou seja, famílias levam as crianças aos finais de semana, em datas comemorativas, ou às vezes durante a semana para suas casas e para o seu convívio. “É uma forma de a instituição colaborar com essas crianças e adolescentes, tirando-os muitas vezes de situações de risco e colaborando com a adoção tardia. É importante ressaltar que a vida acadêmica, com a vinda da UFGD para Dourados, desmistificou o perfil da criança adotada e trouxe um novo horizonte para crianças abrigadas acima de 8 anos de idade. O perfil dos padrinhos e madrinhas é sem preocupação com a idade, importando mesmo o afeto e o carinho na relação com essas crianças e adolescentes”, enfatizou o juiz, ao fazer referência ao atual perfil dos padrinhos e madrinhas. Muitos deles são professores universitários, com um alto nível intelectual, desprovidos do preconceito, diferente muitas vezes daqueles que só querem adotar menores de um ano de idade, de olhos azuis.
Adoção
Preparados para essa realidade? Quem se torna padrinho ou madrinha pode apadrinhar com amor e afeto, com serviços, com ajuda material ou ainda ser uma família acolhedora. Essas são as quatro modalidades do Projeto Padrinho que, de alguma forma, contribuem com a melhoria da condição de vida das crianças e adolescentes abrigados, seja na área emocional, física ou material.
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O juiz Zaloar Murat afirma que os padrinhos não se importam com a idade dos apadrinhados
Incerteza de um futuro com a família sanguínea ou com a família substituta, incerteza se sairão realmente do abrigo ou se ali ficarão. A marca de um tempo sofrido e prejudicial é o que pode restar a essas crianças e adolescentes. Mas todos que estão ali ainda têm a capacidade de sonhar com uma vida melhor, com o resgate da saúde física e mental, da alegria de viver e da motivação para estudar e continuar. Dados da Diretoria de Estudos Sociais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) de 2003, contidos no material de divulgação do Projeto, apontam que 24.2% das crianças e adolescentes que moram em abrigos foram vítimas da pobreza. Outros 18,9% sofreram abandono, seguidos de violência doméstica, dependência química dos responsáveis, vivência de rua e orfandade – uma verdadeira violação de direitos. A maioria é de meninos, afrodescendentes com idade entre 7 a 15 anos. As decisões judiciais surgem como forma de manter a integridade dessas crianças até que soluções sejam encontradas, mas cabe a todos, e não só ao poder público, estimular o exercício da cidadania, gestos de afetividade, construção de laços afetivos, apoio material, profissional e educacional.
Serviço Projeto Padrinho em Dourados Fórum de Dourados – Vara da Infância e Juventude Avenida Presidente Vargas, 210, Jardim América Telefone: 3902-1734 / 2992 www.tjms.jus.br/projetopadrinho projetopadrinho.dou@tjms.jus.br
Premissas | 51
Lixo e resíduos sólidos: vivendo a ampliação do consumo e suas contradições A diferença entre resíduos sólidos e lixo tem relação direta com o contexto social. O que é descartado como lixo, inservível, pode ter suas potencialidades físicas e econômicas reaproveitadas em uma determinada conjuntura, entrar novamente no circuito econômico a partir da recuperação de seu valor de troca-uso e ser reciclado, como no caso das latas de alumínio. Nesta situação de recuperação, entenderíamos os objetos descartados, compostos pelos diferentes materiais, como resíduos sólidos recicláveis e não como lixo (inservível). A recuperação dos resíduos sólidos através da reciclagem aparece então como elemento que pode dirimir os problemas ambientais e o desperdício.
Lixo
Mas esse raciocínio nos coloca frente à primeira das contradições a ser apresentada. Ao partir do pressuposto de que para transformar lixo em resíduos sólidos temos que criar um contexto social em que as potencialidades dos materiais presentes nos objetos descartados sejam reaproveitadas, passamos a viver o dilema entre recuperar os resíduos sólidos, reciclar, para diminuir os impactos ambientais negativos e ao mesmo tempo garantir a rentabilidade do capital empregado nos processos industriais de reciclagem. Assim, os investimentos acabam direcionados àqueles setores econômicos que lidam com materiais que garantem a reprodução do capital empregado e não necessariamente abrangem todos os resíduos sólidos potencialmente recicláveis. Um exemplo são os números da reciclagem alcançados pelas latas de alumínio, pelas garrafas de vidro e pelas embalagens tipo longa vida no Brasil, com destaque para o alto índice alcançado pelas latas. No ano de 2011, por exemplo, de acordo com o Centro Empresarial para Reciclagem – CEMPRE, a reciclagem de latas de alumínio 52 | Premissas
para bebidas foi de aproximadamente 98,3% da produção nacional de latas consumidas e movimentou R$ 1,8 bilhão, enquanto a recuperação das embalagens de vidro ficou em torno de 47% do que foi produzido. No caso das embalagens longa vida (como as caixas de leite) a taxa de reciclagem foi de 27,1%. A nosso ver, o que influencia os avanços e os retrocessos nos índices de reciclagem dos diferentes tipos de materiais que compõem os resíduos sólidos no Brasil é a potencialidade econômica de cada circuito específico, que se traduz também na complexidade territorial da estrutura organizacional do circuito de recuperação destes materiais, da coleta até a reciclagem industrial. Observa-se a presença e o interesse de capitais privados e o avanço das tecnologias utilizadas no processamento e industrialização destas matérias-primas em diferentes regiões do país. No Brasil essa rede de recuperação dos materiais recicláveis mistura relações de trabalho formal e informal, utiliza baixa ou nenhuma tecnologia em alguns momentos e elementos de alta tecnologia e ciência sobre materiais em outros, sendo a presença e o número de agentes que atuam neste ramo da economia maior ou menor dependendo da complexidade técnica e da quantidade de capital a ser investido para recuperar os materiais recicláveis. Assim, na reciclagem dos diferentes tipos de plástico, por exemplo, existe um grande número de pequenas empresas envolvidas, que transformarão os objetos formados por este material em matéria-prima para a produção industrial de outros objetos, enquanto a reciclagem de sucatas de ferro e de alumínio e outros materiais mais nobres não favorece a presença de pequenas fábricas, exigindo de acordo com especificidades mais investimentos no processo de beneficiamento.
Por outro lado, o aumento da reciclagem de alguns materiais não implica necessariamente na diminuição do consumo de matéria-prima utilizada para fabricação das diferentes mercadorias, considerando-se que o aumento do consumo tem levado à necessidade de ampliar a produção, mesmo utilizando como matéria-prima os materiais reciclados. Aqui se apresenta também uma outra incongruência, relacionada ao discurso de uma produção sustentável, com qualidade total e que se preocupa com o meio ambiente e a prática pautada no estímulo ao consumo e ao descarte cada vez mais rápido da mercadoria consumida. Para garantir sua reprodução ampliada o mercado lança mão de instrumentos como a obsoletização precoce e o tempo de vida útil programado das mercadorias, ou seja, lançam-se novos produtos com a mesma finalidade a todo o momento, incorporando novas tecnologias e “envelhecendo” os demais. O caso dos televisores é emblemático, basta ver a quantidade de modelos e de tecnologia inovadora incorporada, do LCD ao LED e deste paras os televisores 3D. Os aparelhos celulares seguem o mesmo caminho. Outras mercadorias estão programadas para serem utilizadas por um certo período ou um determinado número de vezes. As revisões dos automóveis são programadas para substituir peças após algumas dezenas de quilômetros de rodagem, com ou sem desgaste. Enfim, cada vez mais as mercadorias e objetos duram menos. István Mészáros, filósofo húngaro, analisa estas e outras questões relacionadas à diminuição da vida útil das mercadorias em seu livro Para além do Capital. Outro aspecto da reciclagem no Brasil é que na base de todo este circuito econômico estão os trabalhadores catadores. Estes homens e mulheres vasculham nos lixões, nas ruas com carrinhos e mesmo em programas de coleta seletiva de resíduos recicláveis. Vivendo a agrura de estarem desempregados, procuram no meio do lixo aquilo que tem valor no mercado de reciclagem, trazendo de volta ao circuito econômico o que foi descartado após o consumo, por outros homens e mulheres de uma sociedade desigual. Seja no trabalho individual ou em associações e cooperativas, a precaPremissas | 53
riedade deste trabalho é marcante. Os índices de reciclagem de materiais no Brasil crescem anualmente como resultado sobretudo da ação destes trabalhadores, que recuperam no lixo o trabalho incorporado nas mercadorias para ser novamente introduzido no circuito econômico, como mercadoria renovada. Apesar do “reconhecimento” da importância destes trabalhadores como elemento para recuperação de resíduos recicláveis, chamados por alguns de agentes ambientais, a renda com a comercialização do que conseguem no trabalho de catação não lhes permite nem mesmo uma condição de reprodução menos precária. O rendimento e as condições de trabalho não refletem a propalada importância social e ambiental destes trabalhadores; ao contrário, o fato de que seres humanos são obrigados a viver do trabalho no e com o lixo é uma das marcas mais profundas da insanidade e da sociedade desigual e destrutiva que criamos. Neste contexto, os problemas relacionados ao lixo crescem dentro dos centros urbanos
e de maneira camuflada fora dele, posto que os aterros e os lixões são instalados nas áreas rurais, onde causam poluição do solo, de nascentes, do ar e contaminam animais, longe dos olhos de seus geradores nas cidades. Isso não ocorre longe de nós. Pesquisa recentemente finalizada aponta que dos vinte e cinco municípios localizados na Bacia do Rio Ivinhema-MS, quatro dispõem os resíduos em aterros controlados e um em aterro sanitário; os demais dispõem seus resíduos sólidos em lixões. No estado de Mato Groso do Sul temos somente dois aterros sanitários em funcionamento. No Brasil, de acordo com a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico PNSB/IBGE/2008, 50,8% dos municípios dispõem seus resíduos a céu aberto, 22,5% em aterros controlados e 27,7 em aterros sanitários. Assim, os problemas relacionados ao lixo aumentam à medida que ampliamos a escala territorial de observação, problema que a nova Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) se propõe a resolver. Na nova PNRS o Estado brasileiro cria regras, estipula prazos e estabelece novos parâmetros para lidar com os resíduos sólidos de maneira geral; mas, apesar de regular, não disponibiliza as condições materiais, financeiras e técnicas para que os municípios possam se adequar. A maior parte dos municípios brasileiros não conta com planos municipais de gestão integrada de resíduos.
Lixo
Diante deste quadro parecemos não entender ou não procuramos entender como o padrão de consumo e a lógica sob a qual estabelecemos a nossa produção/reprodução, nos últimos séculos, está baseada no consumo e na destrutividade do que é produzido para gerar mais consumo, garantindo a reprodução de um sistema destrutivo. Acredito que devemos recuperar o sentido verdadeiro da produção de todas as coisas, que é a satisfação das necessidades dos seres humanos. Marcelino Andrade Gonçalves Professor da UFMS, diretor do campus de Nova Andradina
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O universo paralelo de Daltro Retratos sul-mato-grossenses com predominância das cores primárias e traços fortes no acrílico sobre tela. São casarios e festas populares, a vida no Pantanal e suas paisagens, histórias do cotidiano do peão pantaneiro, pescadores, lavadeiras e muitos outros personagens que surgem no imaginário do corumbaense Epaminondas Pedreira Daltro Junior, o Daltro, que escolheu o caminho da pintura para viver, ser feliz e fazer pessoas felizes. Morador em Dourados há mais de um ano, Daltro já expôs algumas de suas telas em diversos pontos da cidade. Uma dessas exposições foi com peças criadas num ateliê ao ar livre, em que o artista produziu na rua, junto de quem passava. “Você pintar tópicos na rua, no relacionamento com a população, toca no emocional porque as pessoas não têm noção do processo de produção de uma tela”, explica o artista. A irreverência é marca de Daltro, que não para de produzir também para festivais regionais e nacionais. Na UFGD, no ano passado, Daltro expôs 18 telas sobre a beleza de Dourados, seus pontos históricos e tradicionais, pintadas em um só mês. “Vivo num processo de produção intenso porque faço arte para viver e fazer as pessoas felizes. É uma escolha e fiz minha melhor escolha”. Em Corumbá, Daltro lecionou pintura e desenho e suas diferentes técnicas a óleo, acrílico, pastel, aquarela e grafite. No Rio de Janeiro passou a infância, onde aprendeu técnicas com um professor ucraniano. Também resgatou a dignidade de meninos e meninas de acampamentos e assentamentos rurais de Mato Grosso do Sul, através de um projeto financiado pelo Fundo de Investimentos Culturais.
Arte
Quem vê e percebe as telas de Daltro sente a liberdade de criação do artista, na execução da sua pintura. É poder encantar-se com o seu universo paralelo, com o seu mundo, com a sua imaginação! Blog do artista: daltrojr.blogspot.com Premissas | 55
HU/UFGD: RESPEITO À LÍNGUA E ÀS TRADIÇÕES INDÍGENAS Há quase dez anos a presença de um intérprete no hospital é um diferencial no atendimento à população indígena e contribui para a preservação dos aspectos culturais da etnia
Desde 2004, o Hospital Universitário da UFGD conta com o serviço de um intérprete que tem como função garantir o acolhimento da população indígena, além de facilitar a comunicação entre o paciente e a equipe médica. Silvio Ortiz, enfermeiro e pós-graduado em saúde pública, é índio Guarani-Caiuá e mora na aldeia Jaguapiru, em Dourados. Ele conta que seu trabalho é de extrema importância, já que os índios têm resistência ao ambiente hospitalar, que na cultura é associa-
do ao sofrimento e à morte. Graças ao trabalho do intérprete, os índices de fuga dentro do HU são cada vez menores, ao contrário das taxas de atendimento especializado, que só tendem a crescer. A atenção básica à população indígena é feita pela Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), no Hospital da Missão Evangélica Caiuá. No Hospital Universitário, os indígenas recebem atendimento de média complexidade, incluindo consultas com especialistas,
HU/UFGD
Em outubro de 2012, benzedeira faz ritual de cura e purificação em bebê internado na UTI pediátrica; respeito à língua e à tradição
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exames, internações e cirurgias. Segundo Silvio Ortiz, os setores com maior demanda por atendimento à população indígena são ginecologia e obstetrícia (devido ao grande número de gestantes indígenas) e pediatria, além das internações diversas. Silvio explica que o seu trabalho inclui o acolhimento dos índios na chegada ao hospital e o encaminhamento ao setor onde ocorrerá o atendimento. O Fotos: Ana Paula Amaral trabalho do intérprete também é fundamental para intermediar o demográfica indígena, a equipe do HU/UFGD diálogo entre médico e paciente. “A estrutuconsidera fundamental oferecer atenção ra do hospital é muito grande e o índio ficaespecial a estas comunidades e isto inclui va acanhado. Além disso, existe a barreira o respeito às tradições de sua cultura. Além da língua”, explica. da presença de um intérprete, outras ações O trabalho do intérprete também reduziu o índice de fugas do hospital. “O Índio não tem o hábito de ficar internado por 15, 20 dias. Ele vê o hospital como uma coisa ruim, associada à morte”, explica. Por também ser índio, Silvio atua como mediador com a missão de conscientizar os pacientes sobre a importância de manter o tratamento. “Sem um intérprete no hospital, o índio é um estrangeiro no seu próprio país”, define. No HU, o trabalho de Silvio Ortiz é garantir a qualidade do atendimento à população indígena e conscientizar a etnia sobre a importância do tratamento médico. Em 2006, o enfermeiro apresentou os projetos de humanização, acolhimento e controle social na 1ª Mostra de Saúde Indígena da Funasa, em Brasília. Entre 148 projetos inscritos de todo o Brasil, os projetos do HU/ UFGD foram classificados em 1º lugar, tendo como prêmio viagens de intercâmbio nacional e internacional.
Tradição Por estar em uma região com alta densidade
também favorecem a integração dos índios com o ambiente hospitalar. No final do ano passado, por exemplo, a equipe médica da UTI pediátrica, coordenada pelo médico intensivista pediátrico Paulo Oliveira, permitiu a entrada de uma rezadeira para um ritual de reza e purificação de um bebê de cinco meses internado no setor com sintomas de vômito e diarreia Na época, a presença da rezadeira da aldeia Bororó foi uma exigência da mãe, índia da etnia Caiuá, para que a criança permanecesse no hospital. A permissão para realização de rituais de reza nos hospitais de Mato Grosso do Sul foi recentemente garantida através de lei estadual. No entanto, mais do que um direito adquirido, este tipo de celebração atende também à política de atendimento humanizado, preconizada pelo Ministério da Saúde. Segundo Sílvio Ortiz, esta não foi a primeira vez que rituais do tipo foram realizados dentro do HU/UFGD. Segundo ele, na cultura indígena, o ritual de reza é considerado base para que o tratamento médico tenha sucesso.
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Biosul e UFGD promovem desenvolvimento do setor sucroenergético “Acredito que as parcerias com a UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados) permitem que as ações promovidas pela BIOSUL se solidifiquem, o que faz com que as pesquisas e atividades ganhem ainda mais importância. Desde 2010, ambas as instituições trabalham em conjunto para promover o desenvolvimento do setor, criando programas de fomento a pesquisas no setor de sucroenergia. A exemplo disso, temos a criação do Programa Estadual Bioenergia-MS coordenado pela SUCITEC (Superintendência de Ciência e Tecnologia de MS) e RIDESA/MS, que fará pesquisas para o desenvolvimento de variedades de cana específicas para o Mato Grosso do Sul.”
Personalidade
Roberto Hollanda Filho Presidente da Biosul (Associação dos Produtores de Bioenergia de Mato Grosso do Sul)
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