A fada inflada

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a fada inf lada



a fada inf lada Luiza Leite e Tatiana Podlubny


M達e Feiticeira sentiu uma pontada de dor na barriga. Depois outra, e mais outra.


Finalmente chegou o dia! CadĂŞ o pai? Avisa a tia! Traz ĂĄgua quente! Arruma uma bacia!


Quando Fada nasceu, encheu os pulmĂľes de ar, abriu um berreiro, mamou atĂŠ cansar e dormiu o dia inteiro.


Tudo corria bem. M達e Feiticeira encantada. Pai Mago admirado.


De repente, Fada cresceu.


Era tranqĂźila e comportada, travessa e endiabrada. Um pouco certinha e tambĂŠm estabanada.

Gostava de fazer tudo ao mesmo tempo. Às vezes de fazer nada. Um dia estava triste. Outro dia, animada. Brincava de circo, encenava teatro, contava fåbulas, atazanava o gato.


De tanto que gostavam de Fada, Mãe Feiticeira e Pai Mago começaram a planejar o futuro. Mostravam para Fada as grandes obras, sinfonias e tratados.

A menina nĂŁo tinha descanso, muito menos feriado.


Fada prestava atenção, mas ela gostava mesmo era de uma boa invenção. Pé-de-cabraCADABRA! Sopa verde enjoada vire agora nesse instante uma maçã caramelada ou um sapo saltitante!


Quando Fada fazia estripulia, Pai Mago torcia o nariz. Quando ela acertava um truque, era tudo bem diferente. Pai Mago pulava de alegria, Mãe Feiticeira ficava contente. No início, Fada prometia ir fundo, aprender mais de mil poções mágicas por dia, decorar todas as palavracadabras do mundo.


Aos poucos, aquele futuro riscado num papel feito um mapa foi deixando Fada enfadada. Tudo era explicado tim-tim por tim-tim. A programa巽達o do dia-a-dia parecia n達o ter fim.

Fada foi ficando cheia, mas t達o cheia, que sem querer saiu flutuando.


Assustada, agarrou-se no gato, levou um arranhão, arrancou um tufo de pêlo, logo veio um safanão.

Quando Fada quicou no teto, ficou realmente encafifada. E agora? O que fazer? Estava desorientada.


Segurou-se na moldura da janela, na pilastra da varanda, na รกrvore de canela e no toldo da quitanda.


Mãe Feiticeira e Pai Mago ficaram na maior aflição. Corriam daqui pra lá, de lá pra cá, sem saber o que fazer diante da situação.

Pai Mago fez um laço, construiu um balão, encomendou uma pipa, acendeu um lampião. Tirou da gaveta uma lupa, andou na garupa de um avião.


Mas nada, nadinha, resolvia a confusão. Fada inflada foi se distanciando, cada vez mais miudinha no céu. Ficou tão longe que...



sumiu.


Quer dizer... Sumiu para quem olhava do lado de cá. Você não imagina onde Fada foi parar! Ela entrou num lugar sem gravidade, onde o silêncio dançava ciranda, onde tudo era quieto e sereno.


Aquele espaço vazio dava um pouco de medo. Não havia trilha visível, nem caminho certeiro. Ninguém por ali dizia: “vai por aqui, vira acolá”. Não havia sinal, placa, farol, nem letreiro.


Mas como havia calma naquele imenso lugar! Fada inflada suspirou aliviada. Ela brilhava que nem um planeta solar! Deu uma cambalhota, soltou um pum e uma gargalhada. Saiu flutuando, bem Ă vontade, de papo pro ar. Foi entĂŁo que de repente...



Fada deu de cara com uma estrela. Rodopiou feito acrobata em pleno ar.


Quando ninguĂŠm mais esperava por ela, tocou novamente os pĂŠs na terra. E viva! CĂĄ estava Fada novamente, embora um pouco diferente.


M達e Feiticeira e Pai Mago desandaram a perguntar:


Fada apenas sorria.

Se ela tentasse falar do silêncio, acabaria fazendo barulho. Preferiu guardar seu chocalho de letras para fazer sua magia. Fada deu um beijo estalado em Mãe Feiticeira e um abraço apertado em Pai Mago.


Agora Fada tinha um segredo. Trazia com ela o espaço vazio, onde tudo cabia. Estudar o livro de mágicas ouvindo flauta e violão. Escovar os dentes soltando bolhas de sabão.



Copyright © 2007 Rabiola A fada inflada é um livro para crianças dos 3 aos 116 anos. É a primeira produção independente da Rabiola, uma fábrica de livros e traquinagens sem pé nem cabeça, mas que fazem muito sentido! Como Mãe Feiticeira e Pai Mago, sentimos todas as agonias desse primeiro nascimento. E agora que Fada finalmente saiu avoando... quanta alegria! Acompanhe as novidades sobre o livro no blog www.afadainflada.blogspot.com Um abraço apertado.

texto Luiza Leite ilustrações Luiza Leite e Tatiana Podlubny projeto gráfico Tatiana Podlubny



“Fada foi ficando cheia, mas tão cheia, que sem querer saiu flutuando.”


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