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Crônicas Fálicas

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Falo com Você

Falo com Você

Rotina

Vagava entre as luzes frias,

Geralmente eram luzes frias, ambientes frios.

Buscava nesses espaços preencher o vazio,

O vazio da alma, mas também de seus orifícios,

Impossibilitado de encontrar caminhos para preencher o primeiro,

Vagava pelos corredores e mictórios para preencher os demais.

Não havia palavras nesses espaços,

Exceto pelos grafites e textos às vezes ilegíveis nas cabines.

O idioma ali falado era aprendido de maneira empírica.

Um tempo demorado lavando a mão e olhando ao espelho.

Alguém parado no mictório sem o barulho da urina.

Uma chacoalhada no pau com certa distância da cerâmica.

E o arrepio ao ver o falo desconhecido.

Desculpe-me a palavra requintada. Não havia requinte ali.

Não havia falos. Havia pau, cacete, rola, pinto.

Cheiro, urina, gozo, suor, papel higiênico e a pia.

Havia os que gozavam rápido, os que não gozavam. Os apressados, os fartos e os tímidos.

Havia, há, houve e haverá sempre muitos. Sempre.

Na hora do almoço, terno e gravata.

Aliança na mão e talvez dois filhos aguardando em casa.

A tarde, mochila nas costas, uniforme.

Talvez jovem demais para estar ali.

Rosto e escroto enrugados. Um olhar triste.

Talvez ali há tempo demais

Trabalhador e desempregado, no trabalho, trabalhando.

Saía dali ainda com o gosto na boca e garganta.

Saia dali com um leve gosto amargo.

Não, não era o gozo amargo, o sêmen, era o tempo.

O tempo de gozo.

Quanto tempo durava aquela satisfação? Pouco.

Saía de lá e caminhava novamente entre as luzes frias.

Caminhava até o próximo banheiro.

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