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Crônicas Fálicas
from Falo Magazine #32
Rotina
Vagava entre as luzes frias,
Geralmente eram luzes frias, ambientes frios.
Buscava nesses espaços preencher o vazio,
O vazio da alma, mas também de seus orifícios,
Impossibilitado de encontrar caminhos para preencher o primeiro,
Vagava pelos corredores e mictórios para preencher os demais.
Não havia palavras nesses espaços,
Exceto pelos grafites e textos às vezes ilegíveis nas cabines.
O idioma ali falado era aprendido de maneira empírica.
Um tempo demorado lavando a mão e olhando ao espelho.
Alguém parado no mictório sem o barulho da urina.
Uma chacoalhada no pau com certa distância da cerâmica.
E o arrepio ao ver o falo desconhecido.
Desculpe-me a palavra requintada. Não havia requinte ali.
Não havia falos. Havia pau, cacete, rola, pinto.
Cheiro, urina, gozo, suor, papel higiênico e a pia.
Havia os que gozavam rápido, os que não gozavam. Os apressados, os fartos e os tímidos.
Havia, há, houve e haverá sempre muitos. Sempre.
Na hora do almoço, terno e gravata.
Aliança na mão e talvez dois filhos aguardando em casa.
A tarde, mochila nas costas, uniforme.
Talvez jovem demais para estar ali.
Rosto e escroto enrugados. Um olhar triste.
Talvez ali há tempo demais
Trabalhador e desempregado, no trabalho, trabalhando.
Saía dali ainda com o gosto na boca e garganta.
Saia dali com um leve gosto amargo.
Não, não era o gozo amargo, o sêmen, era o tempo.
O tempo de gozo.
Quanto tempo durava aquela satisfação? Pouco.
Saía de lá e caminhava novamente entre as luzes frias.
Caminhava até o próximo banheiro.