Farming Brasil

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EDIÇÃO ESPECIAL

ANO 1 . NO 1 . R$ 14,90

SUCCESSFUL FARMING BRASIL

SOLO VIVO ENTENDA A ESTRUTURA DO SOLO E EVITE A COMPACTAÇÃO

AGENTES DO BEM BIOLÓGICOS REVOLUCIONAM O COMBATE ÀS PRAGAS DA SOJA

A MÁGICA DA

ALTA PRODUTIVIDADE

INTEGRAÇÃO www.sfagro.com.br

PRODUTORES RECUPERAM PASTAGENS DEGRADADAS E COLHEM SOJA, MILHO, ARROZ E EUCALIPTO EM FAZENDAS SUPERPRODUTIVAS

O MANEJO QUE GARANTE COLHEITA SUPERIOR A 100 SACAS DE SOJA POR HECTARE

ENTREVISTA

FÁBIO MEIRELLES TRAÇA PERSPECTIVAS PARA O AGRONEGÓCIO EM 2017

MAIS

• SENSORES PARA PULVERIZAÇÃO PRECISA • DICAS DE GESTÃO DE ÁGUA PARA OTIMIZAR A IRRIGAÇÃO • SAIBA COMO REDUZIR PERDAS NA COLHEITA DE GRÃOS


s u m á r i o MATÉRIA DE CAPA

SISTEMAS INTEGRADOS PÁG.46 SEIS PRODUTORES CONTAM OS RESULTADOS DA ILP E ILPF

MÁQUINAS AGRÍCOLAS PÁG.100 O MERCADO DEVE SE RECUPERAR EM 2017

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Mundo Agro Entrevista com Olaf Brugman, presidente da RTRS Direto do Campo A melhor poda do café

Drones avançam no campo

Evite perdas na colheita de grãos

cana transgênica em 2017 Startups lançam tecnologias

Ferramentas elétricas para a pecuária Armadilhas de pragas eficientes

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Manejo da mosca branca Biológicos combatem pragas da soja

O sucesso da Integração LavouraPecuária

AVES E SUÍNOS PÁG.96

Piscicultura avança no Brasil Os campeões da soja

Desenvolva novilhas com forragem Pecuária leiteira mais eficiente

CRIADORES E INDÚSTRIA DIALOGAM SOBRE SISTEMAS DE INTEGRAÇÃO

ÁGUA NO CAMPO PÁG.78 PRODUTORES BUSCAM EFICIÊNCIA E INVESTEM PARA CONTINUAR IRRIGANDO

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PULVERIZAÇÃO LOCALIZADA PÁG.84 NOVA TECNOLOGIA VAI TRANSFORMAR A APLICAÇÃO DE DEFENSIVOS

Adubação cuidadosa

Lucro com esterco Evite a compactação do solo

Eficiência na irrigação

Sensores para pulverização precisa

Dicas para plantio perfeito Eletrólise mata o motor Dicas de turbocompressão

Tudo sobre lubrificantes sintéticos Integração de aves e suínos avança

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O setor de máquinas agrícolas crescerá

Donald Trump e o agronegócio Produção de etanol de milho

Conheça o Plano Agro+ Saiba quem mata as abelhas

Perspectivas para 2017

Mulheres ganham espaço no agro Dicas Successful Farming

sfagro.com.br | Successful Farming Brasil 5


e d i t o r i a l

CONHECIMENTO SEM FRONTEIRAS

C

om histórias inspiradoras e novas tecnologias para o campo, esta edição especial celebra o sucesso e o aniversário de 1 ano do site www.sfagro.com.br, uma ampla plataforma de conteúdo especializada em agricultura e pecuária. A edição especial engloba os mais variados assuntos para a produção de soja, milho, cana-de-açúcar, café, frutas, arroz, criação de bovinos, aves, suínos, peixes e muito mais. As reportagens contam como melhorar a gestão de insumos, apresentam técnicas de manejo, novidades no mercado de maquinário agrícola e muitas dicas preciosas para ajudar o agricultor e o pecuarista a lucrar mais na fazenda. A reportagem de capa aborda sistemas que integram a agricultura e a pecuária. Ouvimos produtores de todas as regiões do Brasil, que contam os percalços na adoção da tecnologia e as dicas preciosas que garantem o sucesso. Em outra reportagem exclusiva, sojicultores revelam as técnicas de manejo que garantiram produtividade acima de 100 sacas por hectare. Outro tema sensível retratado pela revista é o solo. Todo agricultor e pecuarista sabe o valor da sua terra, mas muitos cometem deslizes na adubação ou permitem a compactação. A revista Farming Brasil apresenta a solução para esses problemas. Há uma reportagem especial sobre como os produtos biológicos estão revolucionando o manejo de pragas nas plantações de soja e de milho. Também divulgamos tecnologias que acabaram de chegar ao Brasil, como o WEEDit, um sistema holandês com sensores que permite a pulverização localizada e pode gerar economia de até 70% na aplicação de herbicidas, e o avanço dos drones nas lavouras. Esta edição especial está recheada com muitas histórias surpreendentes e conteúdo técnico que vão impressionar os leitores. Além disso, não se trata de uma publicação iniciante. A Farming Brasil representa a edição brasileira da revista americana Successful Farming. Nos Estados Unidos, é a maior revista de agronegócio, com mais de 100 anos de publicação. Esta marca representa tradição, conteúdo relevante e uma ferramenta valiosa para famílias e empresas que fazem da agricultura e da pecuária os seus negócios. Os produtores americanos e os brasileiros estão sedentos por informação para produzir mais e melhor. E o nosso papel é justamente esse, promover um rico intercâmbio que traga novas tecnologias para os campos e estimule o avanço da produtividade, ao mesmo tempo que garantimos uma produção mais sustentável. A Successful Farming tem um diferencial incrível, a capacidade de produzir conteúdo jornalístico que aproxima Estados Unidos e Brasil, dois mercados estratégicos para o agronegócio global. Estamos certos de que o nosso leitor brasileiro vai gostar de fazer parte da comunidade Successful Farming porque, afinal, o conhecimento não tem fronteiras. Boa leitura! DARLENE SANTIAGO Editora-chefe

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SUCCESSFUL FARMING BRASIL www.sfagro.com.br

CONSELHO EDITORIAL: José Roberto Maluf e Luis Maluf PUBLISHER: Luis Maluf EDITORA-CHEFE: Darlene Santiago REPÓRTER: Naiara Araújo COLABORADORES: Conteúdo: Ana Paula Machado, Bruno Santos, Daniel Looker, Gene Johnston, Igor Castanho, Ivan Ryngelblum, Jessie Scott, Kacey Birchmier, Laurie Bedord, Ray Bohacz, Raylene Nickel e Victor Brandão. Projeto Gráfico: Danilo Costabile. Fotografia: André Hernandes, Claudio Gatti e Dirceu Portugal. Ilustração: William Duke e Davi Augusto. TRADUÇÃO: Andrew Davis e Lígia Fonseca REVISÃO: Marcelo Paradizo ARTE: Peterson Paulo ESTAGIÁRIOS: Carolina Barros e Mateus Lima COMERCIAL: Paulo D’Andréa PARA ANUNCIAR: paulo@sfarming.com.br CIRCULAÇÃO: Danielli Lopes FINANCEIRO: Edison Arduino MARKETING E PROJETOS ESPECIAIS: Leo Belling

REDAÇÃO: Rua Bandeira Paulista, 726 – 22º andar. Itaim Bibi, São Paulo – SP, CEP 04532-002. Telefone: (11) 3165-2566 PAUTAS: contato@sfarming.com.br IMPRESSÃO: Plural Indústria Gráfica DISTRIBUIÇÃO: Dinap Ltda. – Distribuidora Nacional de Publicações. Rua Dr. Kenkiti Shimomoto, nº 1678. Osasco – SP, CEP 06045-390 SUCCESSFUL FARMING MACHINERY & TECHNOLOGY: Executive Editor: Dave Mowitz Advanced Technology Editor: Laurie Bedord Digital Content Manager: Jessie Scott CROPS: Crops Technology Editor: Gil Gullickson Agronomy & Conservation Editor: Kacey Birchmier BUSINESS, MARKETING, & RISK MANAGEMENT: Executive Editor: Betsy Freese Marketing Editor: Mike McGinnis Content Editor: Paula Barbour Multimedia Editor: Jodi Henke Family & Farmstead Editor: Lisa Foust Prater CREATIVE DIRECTOR: Matt Strelecki Copy & Production Manager: Janis Gandy Editorial Office Coordinator: Debbie Evans ADMINISTRATION: Vice President and Group Publisher: Scott Mortimer Editorial Content Director: Dave Kurns


m u n d o

a g r o

Por Carolina Barros

CONTROLE DE PRAGAS

Cafezinho Um pé de café produz aproximadamente 2,5 quilos de frutos por ano. Mas, quando transformados em grãos ou pó, os frutos rendem cinco vezes menos. Com 2,5 quilos é possível produzir 500 gramas de grãos de café torrados ou 400 gramas de café em pó.

OS AGRICULTORES ESTÃO ACOSTUMADOS A INVESTIR EM TECNOLOGIA PARA COMBATER PRAGAS E DOENÇAS. ATUALMENTE, HÁ 1.822 DEFENSIVOS E BIOLÓGICOS REGISTRADOS PELO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, O QUE INCLUI INSETICIDAS, FUNGICIDAS E HERBICIDAS DISPONÍVEIS NO MERCADO BRASILEIRO. DO TOTAL DE DEFENSIVOS AUTORIZADOS PELO MINISTÉRIO, 120 SÃO CONSIDERADOS DE ALTO RISCO AMBIENTAL E 14 TÊM POUCO RISCO PARA O AMBIENTE. Fonte: Agrofit – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Uma abelha pode sobrevoar 19,3 quilômetros e polinizar até 10 mil flores por dia. Fonte: Agriculture Council of America

ESPÉCIES

Eucalipto produtivo Existem 730 espécies diferentes de eucalipto no mundo, mas somente 20 espécies são cultivadas para fins comerciais. Embora a árvore seja originária da Austrália e Tasmânia, foi no Brasil que o eucalipto apresentou melhor desenvolvimento. Atualmente, o Brasil possui 5,56 milhões de hectares de área plantada com eucalipto e registra a maior produtividade florestal do mundo. Nas florestas plantadas brasileiras, a produtividade média é de 39 metros cúbicos por hectare ao ano. Fonte: Embrapa e Indústria Brasileira de Árvores

DESTAQUE NO CÉU

215,20

Fonte: Associação Brasileira da Indústria do Café

Abelhas atarefadas

730

MILHÕES

Fonte: Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola

REBANHO GIGANTE

O REBANHO DE BOVINOS BRASILEIROS É COMPOSTO DE 215,20 MILHÕES DE CABEÇAS. UM POUCO À FRENTE ESTÁ O NÚMERO DE GALINHAS, QUE É DE 222,12 MILHÕES. ISSO MOSTRA QUE EXISTEM MAIS BOVINOS E MAIS GALINHAS DO QUE PESSOAS NO BRASIL. ATUALMENTE, O PAÍS TEM 200,4 MILHÕES DE HABITANTES. Fonte: Produção da Pecuária Municipal – IBGE

LEITE BOM

NOS ESTADOS UNIDOS, AS VACAS LEITEIRAS PRODUZEM 6,5 GALÕES DE LEITE POR DIA (APROXIMADAMENTE 24 LITROS). ISSO SIGNIFICA QUE, DURANTE TODA A VIDA, CADA VACA PODE PRODUZIR CERCA DE 350 MIL COPOS DE LEITE. Fonte: Purdue University

A AVIAÇÃO AGRÍCOLA BRASILEIRA EXISTE DESDE 1947. ATUALMENTE, O BRASIL TEM MAIS DE 2 MIL AVIÕES AGRÍCOLAS, SENDO QUE MATO GROSSO É O ESTADO COM A MAIOR FROTA, COM 467 AERONAVES. A FROTA AGRÍCOLA BRASILEIRA É A SEGUNDA MAIOR DO MUNDO, ATRÁS APENAS DA DOS ESTADOS UNIDOS.

A maior cultura A área plantada de soja no Brasil é de 33,177 milhões de hectares e a projeção é que até 2026 essa área chegue a 43,2 milhões de hectares. Na última safra, o Brasil produziu 95,4 milhões de toneladas de soja e pode chegar a 104 milhões de toneladas na temporada 2016/2017. Fonte: Ministério da Agricultura e Companhia Nacional de Abastecimento

Direto do galinheiro Uma galinha bota apenas um ovo por dia e a produção brasileira alcançou 3,7 trilhões de dúzias em 2015. Cada galinha tem por ano, de forma natural, sete períodos de postura, alternados com períodos de pré-postura, choco e pós-choco. Fonte: Produção da Pecuária Municipal – IBGE e Embrapa sfagro.com.br | Successful Farming Brasil 7


p & R SUCCESSFUL FARMING

OLAF BRUGMAN É PRESIDENTE DA ROUND TABLE ON RESPONSIBLE SOY (RTRS), UMA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL QUE PROMOVE UMA PRODUÇÃO DE SOJA SUSTENTÁVEL E SOCIALMENTE RESPONSÁVEL Por Darlene Santiago

E

m entrevista à Successful Farming Brasil, Olaf Brugman explicou como a certificação da soja é atraente para o sojicultor, por meio da negociação de créditos RTRS ou bônus para a soja certificada. “Entretanto, grande parte dos produtores ressalta mais os benefícios de segurança, reconhecimento, melhoria na gestão do que o retorno financeiro”, afirma Brugman.

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– PERFIL

NOME: Olaf Brugman FORMAÇÃO: doutor em business studies pela Universidade de Nijmegen e mestre em administração pública pela Universidade Tecnológica de Twente. Olaf é cidadão neerlandês e trabalha nos Países Baixos. Ele é fluente em holandês, português, inglês e alemão. CARREIRA: Olaf Brugman é chefe da equipe de políticas e diálogo do departamento de sustentabilidade corporativa do Rabobank. Atualmente, ele desempenha a função de presidente da RTRS e tesoureiro da Rede Holandesa do Pacto Global da ONU. 8 Successful Farming Brasil | sfagro.com.br

SF – Para o produtor, quais são as vantagens de ter soja certificada? OB – A certificação RTRS garante que a soja seja proveniente de uma produção responsável, com menor impacto social e ambiental, além de melhorar a situação econômica dos produtores. Melhora a organização da fazenda, os funcionários ficam mais atentos e engajados, aumenta a possibilidade de financiamento com bancos internacionais a taxas de juros mais baixas. SF – Qual é o retorno financeiro? OB – As principais vantagens econômicas são acesso a mercados internacionais e programas de financiamento, recompensa decorrente da venda de material certificado e redução dos custos. Em 2015, produtores comprometidos com o plano sustentável da soja no mundo foram premiados com pouco mais de US$ 6 milhões, melhor resultado atingido até agora.

SF – De que forma esse produto é valorizado atualmente? OB – As empresas participantes e compradoras da soja responsável divulgam esses negócios para seus clientes, dizendo que estão adquirindo soja de origem certificada para fabricar seus produtos. Tem ainda empresas que divulgam o selo do RTRS nas embalagens. SF – Quais são os tipos de certificação? OB – Há a certificação individual; a certificação multi-site, quando a empresa, diversas fazendas, silos e outras unidades de produção se unem; e a certificação grupal, em que por meio de uma entidade gestora vários produtores participam em conjunto da certificação. SF – Certificar a soja demanda alto investimento na fazenda? OB – Os custos são influenciados por diversos fatores, como a situação inicial em relação ao nível de certificação, o tamanho e a localização das fazendas, e seus sistemas de gestão. Para estimar, devem-se considerar os três níveis de custos. SF – Quais são esses três níveis de custos? OB – 1. Implementação, que possui maior impacto no primeiro ano de certificação. Inclui implementador externo, equipe interna responsável pela certificação, cursos de formações, adaptações e reformas de sinalização, construção de depósitos de agroquímicos, implementação de sistema de controle interno. 2. Auditoria de certificação, que inclui taxas do órgão de certificação e pré-auditoria. 3. Taxa da RTRS, que cobra 0,3 centavo de euro por tonelada certificada vendida, seja de soja física, seja na forma de créditos.

SF – Mesmo com todos esses custos, é rentável certificar a soja? OB – De forma geral, esses custos empatam com os benefícios da venda da soja certificada no primeiro ano. Porém, o certificado é válido por cinco anos. Assim, normalmente, no segundo ano o produtor já obtém um retorno maior. Mas estes não são os maiores benefícios da certificação RTRS e sim a melhoria da gestão das propriedades rurais.

SF – Isso é bom para o sojicultor? OB – Sim. O produtor que se adequa à RTRS promove uma série de melhorias em termos de gestão de agroquímicos e recursos humanos, além da questão de potenciais danos ambientais ou sociais que podem ser complicados na produção de soja. Os produtores que optam por utilizar o padrão RTRS têm à disposição um instrumento para expandir a rentabilidade de sua produção de soja. Igualmente, contribuem para que as exportações de SF – Foi aprovada a versão 3.0 soja responsável aumentem no cedo Padrão RTRS em junho deste nário internacional, que está cada ano. Quais foram as mudanças? vez mais rigoroso em relação à oriOB – O Padrão 3.0 para a Produção gem e qualidade dos produtos. de Soja Responsável é resultado do processo de melhoria contínua da SF – Como a discussão sobre a RTRS para a conservação da bio- sustentabilidade na produção de diversidade, nas relações trabalhis- soja está evoluindo no mundo? tas e com a comunidade. No novo padrão, além da obrigatoriedade OB – Se considerarmos o mercado do atendimento à legislação, não é europeu, acredito que a discussão permitida a conversão de nenhum está consolidada e os padrões de ecossistema natural após a aprova- certificação são uma realidade que ção da nova norma em junho de já tem mercado consumidor. Po2016, colocando a RTRS como uma rém, há ainda que se evoluir muiferramenta importante para garan- to no mercado asiático e no Oriente tir o atendimento aos compromis- Médio, para que os compradores e sos de desmatamento zero na ca- os consumidores possam entender e valorizar as boas práticas adotadas deia da soja. no campo. Com esses padrões sendo recoSF – De que forma o Padrão 3.0 nhecidos e o nível de exigência se colabora para reduzir os impac- nivelando nos países compradores, tos ambientais? a discussão volta a ser pesquisada e OB – Todas as áreas com florestas aplicada, para que haja maiores ganativas, pântanos e zonas ribeiri- nhos de produtividade e eficiência nhas em locais onde nenhum mapa produtiva. está disponível permanecem protegidas desde 2009 sob os novos cri- SF – Como o Brasil se posiciona térios da norma. Assim, a RTRS nesse segmento? se posiciona como o único padrão multipartes que garante o desma- OB – Atualmente, são 170 fazentamento zero na produção de soja. das certificadas no Brasil e muitas Ambientalmente, os benefícios estão com auditorias credenciadas. são manutenção da biodiversida- O esquema de certificação RTRS de e alto valor de conservação, me- admite um sistema de entrada prolhoria no solo e qualidade da água. gressivo. No caso do Brasil, dos 100 Além disso, menor impacto sobre a indicadores do padrão, a RTRS saúde e o meio ambiente, por meio exige no primeiro ano o cumpride aplicação sistemática e reconhe- mento de 62% das exigências para cida de técnicas de Manejo Integra- a emissão do certificado, concedido depois da auditoria externa. Dentro do de Cultivos.

dos 38% restantes, encontram-se outras prescrições específicas, como a utilização de energias renováveis quando for possível, a implantação de programa de treinamento de uso de produtos químicos e o plano de redução de emissão de gases de efeito estufa. Todo ano, novas inspeções avaliam o cumprimento e a manutenção dos itens. O produtor tem três anos, a partir da avaliação inicial, para atender 100% dos requisitos. SF – Se comparado com os Estados Unidos, o maior produtor de soja mundial, qual é o cenário brasileiro? OB – Comparando-se com a produção americana, podemos verificar que a complexidade brasileira é muito maior, devido às áreas mais extensas, ao clima tropical, ao maior ataque de pragas e doenças e também ao maior uso de mão de obra contratada. Apesar de todos esses aspectos, o Brasil é hoje o país com maior número de propriedades com soja certificada no mundo. No último ano, não tivemos a presença de nenhuma área certificada nos Estados Unidos. SF – Como os importadores avaliam a soja certificada? OB – Avaliam ainda como um nicho de mercado. Podemos considerar que a certificação RTRS é uma iniciativa jovem, as primeiras áreas começaram a ser certificadas na safra 2011/2012. Até o mercado ficar consistente e as pessoas conhecerem o que significa essa certificação, leva bastante tempo. Outro aspecto complexo é que a soja é utilizada na maioria das vezes como subproduto. A soja é esmagada, virando farelo e óleo e a partir daí serve para inúmeros fins, como produtos alimentícios e rações animais. Considerando essa complexidade, os números são bem promissores. Identificamos novos compradores interessados em soja responsável todos os anos. sfagro.com.br | Successful Farming Brasil 9


d i r e t o

DO

c a m p o

Por Naiara Araújo

Uma pesquisa realizada nas lavouras de algodão da Fundação Bahia, em Luís Eduardo Magalhães (BA), mostra que o uso de plantas de cobertura pode elevar a produtividade dos algodoeiros em mais de 30%. Os estudos realizados pela Embrapa Algodão utilizaram braquiária ruziziensis, sorgo granífero, Crotalaria ochroleuca, Crotalaria spectabilis e guandu-anão como plantas de cobertura. Os melhores resultados foram observados na área de braquiária ruziziensis em consórcio com o sorgo, com produtividade de 5.493 quilos de algodão em caroço por hectare. O incremento foi de 1.443 quilos por hectare em comparação com a produtividade da área com monocultivo.

CONFINAMENTO E BEM-ESTAR

O Compost Barn é um modelo de confinamento que valoriza o bem-estar animal e está sendo testado no Brasil pela Embrapa Gado de Leite. Esse tipo de confinamento é uma alternativa aos outros sistemas de produção de leite, como o free stall ou o tie stall, e a implantação pode custar até 50% menos. Além disso, promove o aumento de produtividade e melhora a saúde dos animais. Segundo pesquisadores da Embrapa Gado de Leite, com o Compost Barn, as vacas ficam livres no estábulo e podem interagir com as outras, o que favorece a produtividade.

SAÚDE ANIMAL

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) assinou um acordo de cooperação com a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) na segunda quinzena de novembro. Isso permite que o Brasil participe ativamente da gestação da organização. Além disso, o acordo prevê o repasse de R$ 3,56 milhões para investimentos em saúde animal. Entre os objetivos do acordo estão a erradicação da febre aftosa nas Américas e o apoio à erradicação e prevenção do mormo.

COP22

LARANJA COM GENE DE TANGERINA

Pesquisadores do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Genômica para Melhoramento de Citros (INCT Citros) estudam a transferência de genes de tangerinas e outros citros para a laranja. O objetivo da pesquisa é criar uma laranja resistente a doenças como o greening. Segundo os pesquisadores, os resultados não vão criar uma laranja transgênica porque eles trabalham com técnicas de cisgenia, que é a transferência de genes de espécies de um mesmo grupo. 10 Successful Farming Brasil | sfagro.com.br

A 22ª Conferência das Partes sobre Mudanças do Clima (COP22), que ocorreu em novembro em Marrakesh, no Marrocos, foi fundamental para que as medidas definidas a partir do Acordo de Paris fossem colocadas em prática. Assinado no ano passado, o Acordo de Paris prevê a redução das emissões de gases de efeito estufa e o controle do aumento da temperatura média global com o apoio de mais de 190 países. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, a meta brasileira é uma das mais ambiciosas e prevê a redução de 37% das emissões até 2025.

Foto: Shutterstock/ Compost Barn/ Fabiano José Perina/ Divulgação

O SEGREDO DO ALGODÃO


t e c n o l o g i a 12

PODA DO CAFÉ

22

PERDAS NA COLHEITA

28

CANA TRANSGÊNICA

33

STARTUPS DO AGRO

34

FERRAMENTAS PARA PECUÁRIA

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ARMADILHAS DE PRAGAS

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MOSCA BRANCA

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AGENTES BIOLÓGICOS

16 DE OLHO NO CÉU PRODUTORES CONTAM AS VANTAGENS DO USO DE DRONES PARA MONITORAR LAVOURAS

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t e c n o l o g i a Não é simplesmente podar a planta para emitir novos brotos. Normalmente, fazemos um processo de limpeza dos baixeiros, dos ramos mais baixos da planta. Esses ramos, se não forem retirados, vão dificultar o manejo” Marcelo Curitiba, pesquisador da Embrapa

de. “A maturação dele não vai ser na mesma época que da copa, por exemplo”, diz Verdin. A tecnologia foi inicialmente testada em fazendas em altitude próxima a 700 metros em relação ao nível do mar, porque o café arábica geralmente é cultivado em altitudes que variam de 500 a 1.200 metros no Espírito Santo. A técnica de poda desenvolvida pelo Incaper explica detalhadamente como podar o cafezal anualmente, com orientações que levam em conta se a lavoura já está formada e possui mais de 6 anos ou se ainda está em formação, com até 2 anos de idade. Para um cafezal já formado, por exemplo, a orientação é que após a recepa (poda da planta do café) o produtor deixe duas ou três hastes vigorosas nas plantas, respeitando

PODA IMBATÍVEL A ESCOLHA DA TÉCNICA MAIS ADEQUADA PODE AUMENTAR A PRODUTIVIDADE DOS CAFEEIROS EM ATÉ 30%

o espaçamento da lavoura. Essas hastes permanecerão nas plantas por até seis safras. Posteriormente, 75% dos caules devem ser removidos para a indução de novas brotações. Novos brotos serão selecionados na base das plantas e estarão viáveis para produzir por mais quatro ou até seis safras, completando o ciclo da poda. Revolução nos cafezais egundo o Incaper, comparada com o sistema convencional, a PPCA é capaz de aumentar a produtividade de cafeeiros de arábica em até 28%, para uma média de 46,20 sacos beneficiados por hectare, reduzir o uso da mão de obra em até 50% e elevar o índice de cereja na colheita em até 11%, além de reduzir a incidência de doenças nas plantas. O cafeicul-

S

tor Pedro Carnielli é testemunha dos bons resultados. “Uma pessoa é capaz de colher entre 80 e 100 sacos por safra [utilizando a PPCA]. Antes, era metade disso”, afirma. Segundo Verdin, a alta produtividade ocorre graças à constante renovação pela qual a planta passa. “Toda vez que eu tiro esses galhos, esses baixeiros que já produziram, ela dá uma emissão de folhas e ramos novos. Então isso faz com que eu sempre tenha uma produção satisfatória, sempre tenha ramos novos produzindo. Isso facilita a concentração da produção, que fica mais na copa da planta, facilitando a colheita”, diz. O pesquisador destaca ainda a simplicidade da técnica, que foi desenvolvida para atender as necessidades da agricultura familiar. “A

A

poda correta de cafeeiros é um dos fatores cruciais para o sucesso ou fracasso de uma safra. Existem inúmeras técnicas capazes de ajudar a planta a crescer mais forte e saudável. Mas muitos produtores ainda realizam a poda de forma empírica e sem critérios definidos, o que é um perigo, pois manejos incorretos comprometem o desenvolvimento das plantas, reduzem a produção do cafezal e resultam num aumento de custos. Buscar capacitação é fundamental para aprender a realizar a poda da forma correta. Foi justamente isso que Pedro Carnielli fez. Produtor de café arábica na fazenda Carnielli, com 50 hectares no município de Venda Nova do Imigrante, no Espírito Santo, ele buscava novas formas de melhorar os resultados de sua lavoura quando descobriu, em 2013, a técnica desenvolvida pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) chamada Poda Programada de Ciclo em Café Arábica (PPCA). Carnielli foi um dos pioneiros na utilização da técni12 Successful Farming Brasil | sfagro.com.br

ca no Espírito Santo e viu sua produtividade avançar. “Antes [do PPCA], eu tinha muitas perdas”, afirma o cafeicultor. “Agora, clareou tudo na atividade. É um sucesso, é algo muito fácil de fazer.” A PPCA começou a ser desenvolvida em 2008, inspirada em um projeto semelhante do Incaper para o conilon, que elevou a produtividade média das lavouras em mais de 20%. A técnica permite recuperar o vigor da planta, que começa a perder produtividade após sucessivas colheitas. “Nas plantas do arábica, os ramos plagiotrópicos, que em algumas regiões são chamados de saia, ou baixeiros, ficam mais perto do chão e produzem menos do que a copa. Por ficarem mais embaixo, eles não são podados”, explica Abraão Carlos Verdin Filho, pesquisador responsável pelo desenvolvimento dessa técnica de poda. Segundo o pesquisador, o problema é que os ramos mais velhos recebem menos luz e favorecem a maior incidência de doenças. Com isso, esses ramos produzem menos e os frutos de café amadurecem mais tar-

Foto: Rafael Rocha / Abraão Verdin / Renata Silva

Por Ivan Ryngelblum

Inovação é a semente da nova era do agronegócio que, para germinar, precisa ser alimentada com informação de qualidade. A Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (FAESP) dá as boas-vindas à revista Successful Farming Brasil.

Fabio de Salles Meirelles Presidente

Plante, Cultive e Colha a Paz! www.faespsenar.com.br


VANTAGENS DAS TÉCNICAS DE PODA

ESTRUTURAÇÃO FÍSICA DA PLANTA EVITA QUE O CAFEEIRO PRODUZA PRECOCEMENTE

MAIOR ÍNDICE DE CAFÉ CEREJA NA COLHEITA MAIOR PRODUTIVIDADE

A Poda Programada de Ciclo em Café Arábica resulta em alta produtividade por causa da constante renovação pela qual a planta passa

principal vantagem desse sistema é a redução da mão de obra, que é o principal gargalo da atividade na região de montanha. A mão de obra é muito escassa, então reduzir em 50% a mão de obra na colheita é um ganho fenomenal para o produtor”, diz o pesquisador. Para ele, a técnica representa uma revolução para a atividade cafeeira em montanhas. “Eu vejo que não tem volta, aquele produtor que aderir passa automaticamente a fazer em toda a propriedade. É uma oportunidade que o produtor tem de se adequar”, afirma. Poda do café robusta PPCA representa um grande avanço para o setor cafeeiro, mas não é a única técnica de poda que existe. Além disso, a tecnologia não funciona com plantas da espécie canéfora, conhecida também pelo nome de conilon e robusta. Essa espécie de café gera arbustos multicaules, enquanto que o arábica possui apenas uma haste. Por isso, as lavouras de café robusta precisam ser manejadas de modo que seja possível manter um número adequado de hastes por planta e por área. Somente assim o cafezal atingirá o máxi-

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14 Successful Farming Brasil | sfagro.com.br

ELIMINAÇÃO DE RAMOS IMPRODUTIVOS

mo potencial produtivo. Pensando nisso, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em Rondônia sistematizou as técnicas de poda de formação, conseguindo aumentar a produtividade da primeira safra de café robusta em até 30%. Segundo Marcelo Curitiba, pesquisador da Embrapa e responsável pela sistematização da técnica, a poda de formação visa a estruturação física da planta, eliminando ramos improdutivos. Além disso, previne que ela produza precocemente. “A poda de formação serve

Poda de formação aumenta produtividade de café robusta

em até

REDUÇÃO DA MÃO DE OBRA

30%

para induzir as plantas a emitirem essas novas brotações. Quando você pega um pé de café, ele tem apenas uma haste e naturalmente vai emitir novas hastes ao longo do tempo”, diz. Em cafezais recém-plantados, a emissão de brotações pode demorar um ano ou mais, atrasando a formação da copa e reduzindo a produtividade da primeira safra. Além disso, os brotos formados tardiamente recebem menos lumino-

sidade e comprometem a capacidade de sustentação da produção dos ramos com frutos. “Para padronizar e para forçar a emissão precoce [de brotações], se faz a poda de formação”, diz o pesquisador. A poda de formação é realizada de forma manual, utilizando uma tesoura de poda. Ela consiste em duas etapas: primeira, a poda do ponteiro e a limpeza do caule das plantas. Na segunda etapa, a seleção de brotos e a limpeza do caule das plantas. “Não é simplesmente podar a planta para emitir novos brotos. Normalmente, fazemos um processo de limpeza dos baixeiros, dos ramos mais baixos da planta. Esses ramos, se não forem retirados, vão dificultar o manejo. Eles também podem ser locais de formação de ferrugem e doenças em geral”, diz Marcelo Curitiba. O processo deve ser realizado no prazo entre 45 e 90 dias após o plantio. O pesquisador alerta que não se deve fazer a poda de formação durante período de tempo seco, porque provoca um estresse muito grande nas plantas, sendo que até mesmo pode matá-las. “A técnica de poda de formação foi trabalhada, foi aperfeiçoada. Desenvolvemos para várias épocas, até chegar a essa sistematização, que prevê o momento certo [da poda]”, diz o pesquisador. Por outro lado, a poda não pode ser realizada muito tarde, porque nesse caso o produtor comprometeria a produção da primeira safra de café.


t e c n o l o g i a

USO DE DRONES NA AGRICULTURA DEVE FAVORECER O MANEJO DE PRAGAS E DOENÇAS E ELEVAR A PRODUTIVIDADE Por Naiara Araújo

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campo está se modernizando rapidamente. O produtor quer produzir mais com menos recursos e em menos tempo, o que exige uma mão de obra eficiente. A partir de agora, a tendência é a contratação de “funcionários” velozes, que tenham um olhar apurado e, o mais importante, saibam voar. É por isso que os drones estão conquistando produtores de diferentes culturas e se posicionam como um ótimo investimento para as fazendas. Quem já utiliza a tecnologia garante que esses equipamentos são capazes de ganhar o título. A Labrunier, uma das principais produtoras de uva do Brasil, é um exemplo de empresa que já investe nesses “novos profissionais”. A Labrunier comprou o primeiro drone e iniciou as operações em setembro deste ano, em uma de suas quatro fazendas. Antes de tomar a decisão de adquirir o drone, a empresa testou o equipamento durante 30 dias na fazenda Agropecuária Vale das Uvas, em Petrolina (PE). No experimento, o drone Precision Hawk modelo Lancaster 3 foi utilizado para sobrevoar a propriedade de 375 hectares e fotografar com câmeras de espectro visível, termal e multiespectral. “Com as fotografias, fizemos o upload para a empresa do equipamento, que no período de 24 horas montava as imagens”, conta o engenheiro agrônomo Emanuel Almeida, gerente de nutrição e irrigação da Labrunier. “Nestas imagens foi possível analisar vigor e clorofila (NDVI/GNDVI), estresse térmico das plantas, falhas de plantio e monitorar pragas como os ácaros vermelhos.” Após os primeiros testes no campo, Almeida já comprovou os benefícios que o equipamento trará para a fruticultura. “O uso de drones poderá contribuir para a produção de frutas mais limpas de resíduos a partir do acompanhamento mais detalhado de praga e doença, melhores stands de plantas, sem falhas, equilibradas nutricionalmente, sem déficit hídrico, bem como melhorar a produtividade e a qualidade em muitos casos”, diz o gerente de nutrição e irrigação.

Custo-benefício vantajoso tecnologia vai modernizar as atividades da Labrunier na produção de uvas e a equipe da

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fazenda está otimista com o novo “companheiro” nos trabalhos de campo. “Estamos animados, nós vemos o uso de drones como uma atividade futurista para a região”, diz o gerente. Além do investimento de R$ 100 mil no drone, a fazenda contratou um funcionário capacitado para operar o veículo aéreo não tripulado. O projeto ainda é recente, mas as expectativas são tão boas que a empresa já planeja ampliação. O objetivo é que em 2017 o mesmo equipamento atenda as necessidades das quatro fazendas da empresa, localizadas na Bahia e em Pernambuco, que totalizam 880 hectares cultivados com uvas. O gerente diz que esse é um investimento vantajoso para a produção de uvas. “Acreditamos muito na tecnologia e achamos válido por ser uma ferramenta que pode facilitar muito o tra-

O uso do drone te dá visão de um ângulo da propriedade às vezes nunca visto e com uma dimensão muito grande” cafeicultor Enison Lopes Ferreira Filho

balho de monitoramento das áreas, ajudando a agilizar as tomadas de decisões, adotando correções pontuais e melhorando a uniformidade dos talhões”, afirma Almeida. Com a adoção dos drones, será possível realizar um manejo de pragas e doenças mais eficiente e elevar a produtividade. Além disso, Almeida afirma que será possível reduzir a mão de obra no campo em até 80%. Segundo ele, uma pessoa não consegue monitorar toda a área da fazenda em um dia. No caso do drone, o equipamento sobrevoa toda a fazenda e, após o voo, as imagens com os resultados são apresentadas em 24 horas. “É uma boa opção por causa da agilidade”, afirma o gerente. sfagro.com.br | Successful Farming Brasil 17


PRONTOS PARA

DECOLAR

Emanuel Almeida, gerente de nutrição e irrigação da Labrunier com o novo drone da empresa

Os drones já chegaram aos cafezais cafeicultor e pecuarista mineiro Enison Lopes Ferreira Filho é apaixonado por drones há três anos, quando começou a pesquisar sobre esses equipamentos. Mas foi só em janeiro deste ano que ele começou a utilizar a tecnologia nas propriedades da família. Por meio da contratação de um serviço de monitoramento terceirizado, Ferreira Filho monitorou o cafezal na Fazenda Cruz Alta, em Ibiraci (MG). O drone foi utilizado na contagem de plantas, identificação de falhas no cafeeiro e vigor das plantas, além de um estudo que avaliou a área prejudicada pela geada que atingiu a região. Já em

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Franca (SP), o drone sobrevoou a Fazenda Santa Carolina para verificar o vigor das plantas e monitorar doenças e pragas. Mesmo sem comprar o equipamento, Ferreira Filho se surpreendeu com os resultados. “O uso do drone te dá uma visão de um ângulo da propriedade às vezes nunca visto e com uma dimensão muito grande”, afirma Filho. “A gente vê a fazenda com outra visão e recebe muito material para avaliar.” Segundo o produtor, foi possível identificar a presença de cipó, uma erva daninha que atrapalha a produção nos cafezais. Além disso, o serviço possibilitou realizar um replantio mais preciso. “Eu sabia que algumas plantas tinham morrido, mas não sabia a quantidade. O relatório me mostrou que 20% de plantas estavam mortas e essa é uma taxa alta”, conta o produtor. Mais resultados em menos tempo ma das principais vantagens do drone observadas pelo produtor é a economia de tempo nos trabalhos de campo. Ele conta que para andar pelos 800 hectares das pro-

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SISTEMAS DE VEÍCULOS AÉREOS NÃO TRIPULADOS (UAS) DEVEM TRANSFORMAR A INDÚSTRIA AGRÍCOLA Por Laurie Bedord

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os Estados Unidos, a discussão sobre o uso ponto está no desenvolvimento das diretrizes necesde veículos aéreos não tripulados está mais sárias para integrar veículos aéreos não tripulados ao amadurecida do que no Brasil. Um estudo espaço aéreo americano? da Association for Unmanned Vehicle Systems International (AUVSI) mostra que a indústria de UAS (drones) criará mais de 100 mil empregos e REGRAS PROPOSTAS gerará US$ 82 bilhões em receita em apenas dez anos m 15 de fevereiro de 2015, um conjunto proposto nos Estados Unidos. de regulamentos para pequenos drones – com meA agricultura de precisão deve ser responsável por nos de 25 kg – foi divulgado pela FAA. Pela proposmais de US$ 65 bilhões desse mercado. A realidade é ta, quem comanda um pequeno que nem um centavo disso será gadrone deve ter pelo menos 17 nho antes que a Federal Aviation anos de idade, obter um certifiAdministration (FAA, a agência cado de operadora e ser aprovaque regula o setor aéreo) finalize da em um teste de conhecimento as regras para integração de droque custaria US$ 150. nes ao espaço aéreo dos EUA. Os voos seriam limitados a “Todos entendem que a agriuma altitude de 500 pés acima cultura será um grande mercado”, do solo e não poderiam exceder afirma Ben Gielow, ex-conselhei160 km/h. Além disso, pequero-geral da AUVSI e gerente sênos drones devem ficar no camnior de relações com o governo. po de visão do operador. “As “Realmente acredito que, daqui a regras propostas são um refeCusto médio de operação alguns anos, os fazendeiros estarão rencial crítico e já deveriam ter em desvantagem competitiva se de um pequeno drone sido aprovadas há muito temnão usarem essa tecnologia. Essa po”, afirma o presidente e CEO por hora. Fonte: AUVSI será a dimensão da coisa”, diz. Há da AUVSI, Brian Wynne. quase uma década, a FAA vem elaborando regras para integrar os drones ao espaço aéreo dos Estados Unidos. “Achávamos que estaríamos IMPACTO SOBRE A AGRICULTURA voando em 2011. Obviamente, isso não aconteceu.” que tudo isso significa para a agricultura? As restrições da FAA se aplicam a fazendeiros que No final de 2013, seis locais de teste tinham sido escolhidos; em meados de agosto, todos sobrevoam seus campos? “Nas estavam em operação. Informações Regras Especiais para Aeromodelos da Lei de Modernização e coletadas ajudarão a FAA a responder perguntas essenciais e dar inforReforma da FAA de 2012, permações cruciais sobre como o drone correr um campo para determinar se as lavouras precisam de fará interface com o sistema de consão perdidos enquanto trole de tráfego aéreo. água quando são cultivadas para a integração de drones Embora a FAA esteja claraaproveitamento pessoal seria é adiada. mente fazendo progresso, a granconsiderado um hobby”, explica Fonte: AUVSI de peça que falta continua sendo Les Dorr, da FAA. “Determinar escrever as regras. Então, em que se as lavouras cultivadas que fa-

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US$ 25 a

US$ 75

Foto: Labrunier Ilustração: William Duke

Almeida defende que a adoção de drones é uma forte tendência para o agronegócio nos próximos anos. “Recomendamos para outros produtores o uso de drones, principalmente para produtores com grandes áreas de cultivo de cana-de-açúcar, soja, milho e batata, onde se torna difícil conseguir verificar cada talhão em um curto espaço de tempo”, diz Almeida.

priedades, com acompanhamento técnico, gastava uma semana ou mais. Com o equipamento, é possível monitorar a área total da fazenda em no máximo um dia e meio. Somando o tempo dedicado ao monitoramento e de análise dos dados, o relatório de resultados de voo é entregue ao produtor em até três dias. O monitoramento convencional por terra com uma equipe técnica exigiria cerca de dez dias para gerar resultados. “Dá para economizar mais de 50% do tempo”, afirma o cafeicultor. Na pecuária, o produtor se dedica à produção de gado da raça Senepol e ainda não usou os drones nessa atividade. Mas já estuda a possibilidade de utilizar a tecnologia para analisar o volume de massa de braquiárias e também na contagem dos animais. “Toda ferramenta que vier para somar com as necessidades do produtor, se usada com cautela e critério, dificilmente será deixada para trás.” Por enquanto, o monitoramento com drone nos cafezais é realizado pela empresa mineira Sensix, mas Ferreira Filho já demonstra interesse em adquirir o seu próprio equipamento. O desejo deve se tornar realidade já em 2017. “Eu acredito muito no uso do drone na agricultura. Ele coleta muitas informações e podemos realmente colher frutos com o uso dessa tecnologia”, afirma Filho. Com o próprio drone, a rotina da fazenda deve mudar. Um dos objetivos do produtor é reduzir a mão de obra e melhorar a tomada de decisão na produção de café. “O drone vai ajudar na identificação de parasitas, ataques de cipó, vigor das plantas e na identificação de doenças em estágio inicial”, diz Filho. “Acho que essa tecnologia será essencial para a agricultura moderna, quem não estiver preparado dificilmente vai continuar na atividade.

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US$ 10 bilhões

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zem parte de uma operação de produção comercial precisam de água requereria a autorização da FAA.” Embora as regras atuais sobre UAS continuem em vigor até a FAA implementar uma regra final, ela concede isenções caso a caso sob a Seção 333. “Elas também devem obter um certificado de autorização”, observa Dorr. Embora as regras propostas estejam abertas à consulta pública, ainda pode levar um ano ou mais até que sejam finalizadas. “Voar sobre uma fazenda, tecnicamente, só

DRONES EM USO A NDSU tem avaliado drones que fazem as seguintes tarefas em lavouras e gado.

LAVOURAS • Identificar o surgimento e as populações de plantas em lavouras de milho, soja e girassol. • Identificar deficiências de nitrogênio em milho e trigo. • Realizar avaliações iniciais da saúde das plantas. • Procurar sintomas de doenças e danos de insetos. • Verificar a tensão de umidade sobre lavouras irrigadas. • Determinar o impacto da lavragem e de rotações de lavouras. • Identificar o envelhecimento do milho para híbridos específicos. • Avaliar o impacto da salinidade do solo no rendimento das lavouras.

GADO • Determinar atividades de procriação para vacas e rebanhos de reprodutores. • Detectar animais doentes no pasto. • Contar animais no pasto. • Determinar a temperatura de animais e de superfícies de curral de diversos materiais de cobertura. • Identificar animais com disposições extremas. 20 Successful Farming Brasil | sfagro.com.br

será algo legal daqui a alguns anos”, afirma Gielow. “Entretanto, se você tiver um veículo aéreo não tripulado, ele sobrevoar o campo e você utilizar as fotos para tomar decisões sobre a lavoura, a FAA já afirmou que não virá atrás de você.” COMO os AMERICANOs utilizam os DRONES? s produtores acreditam que a FAA não tem a intenção de autuá-los por uso ilegal e estão tirando proveito da tecnologia. “Ter um UAS é como ter uma retroescavadeira ou uma empilhadeira”, afirma o produtor de Illinois Matt Barnard. “Você só percebe o quanto vai usar quando tem um na fazenda e se pergunta como conseguiu viver sem aquilo.” Há mais de um ano, Barnard usa a tecnologia nas seguintes áreas:

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DANO À LAVOURA

A primeira forma em que o drone se pagou foi em um pedido de indenização do seguro por dano por granizo”, observa. “Houve alguma discórdia sobre exatamente quais áreas foram afetadas e estávamos chutando que eram 80 acres. Foi incrível conseguir ter uma perspectiva aérea. A área afetada era maior. Aquilo imediatamente se pagou sozinho.” “Com essa tecnologia, também descobri que tive algum dano na lavoura devido à pulverização e adubação de cobertura do milho”, continua Barnard. “Consegui dar passos corretivos. Foram danos que eu só teria visto mais tarde durante a avaliação ou na ceifadora.”

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CONDIÇÕES DA LAVOURA

Barnard usou a tecnologia para avaliar as condições da lavoura, suplementando parte do mapeamento de NDVI com verificação em terra e checar se o que estava

vendo no mapa realmente era o que se via no campo.

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MOMENTO DE COLHEITA

QUAL É SEU USO PRETENDIDO PARA O DRONE?

VOCÊ PRECISA DE QUANTO TEMPO DE VOO?

“Quando alguém quer adquirir um drone, quer que ele faça tudo”, afirma Matt Barnard, fazendeiro de Illinois e dono da Crop Copter. “Há duas categorias muito diferentes: verificação em terra e coleta de informações. Você usará para ver o que acontece em tempo real no seu campo ou para tentar coletar dados para tomar uma decisão de gestão? Precisa descobrir qual é o objetivo mais importante.”

DRENAGEM DO SOLO

QUAL PLATAFORMA É MELHOR PARA VOCÊ?

“Se você simplesmente quer avaliar e tirar fotos ou filmar, menos tempo de voo dará certo”, explica Barnard. “Escolha uma plataforma que seja estável e possa voar com o máximo possível de vento.” Se estiver interessado em coleta de dados, voos mais longos serão mais vantajosos. “Procure plataformas que voem mais de 30 minutos e pesquise sobre recursos e benefícios”, recomenda.

“Teve muito vento e, com o drone, consegui ver algumas áreas nas quais o milho estava sendo derrubado. Isso me deu a habilidade de colocá-lo no topo da minha lista de colheita.”

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“Vi mais benefício quando se trata de tomar decisões de drenagem”, diz Barnard. “Em vez de ver o que eu achava que era o problema ou ponto úmido, vejo onde começou ou como acabou se formando.” O período de experimentação para ver do que o drone era capaz se transformou em um desejo de incorporar permanentemente a ferramenta valiosa. Testes de campo m dos seis locais de teste escolhidos pela FAA, North Dakota está se posicionando para se tornar um centro nacional em pesquisa e desenvolvimento de drones. Até o momento, o estado investiu mais de US$ 19 milhões nesse segmento. “Temos setores como agricultura, energia e tecnologia no estado. O importante de ser um local de teste é vincular todos eles a operações de drones”, diz Alan Anderson, diretor comercial do North Dakota Department of Commerce. A principal meta das operações iniciais do local é mostrar que o drone pode verificar a qualidade do solo e o status das lavouras para apoiar pesquisas em agricultura de precisão do North Dakota State University Extension Center. “Quando produtores têm fazendas de 5.000, 10.000 ou 15.000 acres para percorrer e acompanhar, a tecnologia do drone lhes permitirá sobrevoar milhares de acres ao longo de um ou dois dias. Com as informações obtidas, eles ficarão na posi-

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AVALIE ANTES DE INVESTIR

Um drone giratório é um dispositivo semelhante a um helicóptero que normalmente tem de quatro a seis rotores para dar estabilidade. Ele funciona melhor quando você precisa de detalhes máximos sobre uma área relativamente pequena. Como tem de levantar o próprio peso, limita a eficiência da bateria, diz Kevin Price, da AgPixel. “Voamos a cerca de 70 km/h com nosso menor modelo e conseguimos uns 25 minutos com uma carga de bateria. Podemos cobrir aproximadamente 50 acres [20,2 hectares] em um dia.”.

QUANTO ESTÁ DISPOSTO A PAGAR?

Um sistema de asa fixa opera como um pequeno aeromodelo. É composto de espuma leve e mais eficiente no uso de bateria. “Conseguimos fazer até 80 minutos de voo com uma carga de bateria”, diz. “Ele pode voar até 160 km/h. Em um bom dia, conseguimos cobrir até 1.000 acres [404,6 hectares] fazendo imagens de uma lavoura.”

“Para obter o verdadeiro valor de um drone, você precisa ter um plano de como gerenciar todos os dados que ele está gerando”, diz Barnard.

ção de reagir não apenas a uma ou duas áreas mas também ao total da lavoura”, diz Blaine Schatz, diretor e agrônomo pesquisador do NDSU Carrington Research Extension Center. “Além disso, muitas questões às quais os fazendeiros querem responder mudam com o tempo. A oportunidade de ser muito pontual na tomada de decisões e reagir a um problema é muito empolgante.” O local também coletará dados operacionais necessários para a integração desses equipamentos ao espaço aéreo. Essas informações ajudarão a FAA a analisar processos para estabelecer a navegabilidade dos drones e a maturidade do sistema. Os dados de manutenção coletados durante operações embasarão um banco de dados de protótipos para manutenção e reparo. “Esses dados formarão

“Tenha uma ideia honesta e sincera do que é um orçamento prático”, observa Barnard. “Lembre: você recebe o que paga para ter.”

QUAL A IMPORTÂNCIA DO SERVIÇO QUANDO ELE FALHA? “Se algo acontecer, o que você fará? Para quem vai ligar?”, pergunta Barnard.

COMO VOCÊ VAI ARMAZENAR, ORGANIZAR E GERENCIAR TODOS OS DADOS?

VOCÊ PRECISA TESTAR? “Se vai fazer este investimento, no mínimo leve para fazer um teste”, diz Barnard.

a base para a redução de riscos e garantia da continuidade de operações seguras dos drones”, afirma Michael Huerta, da FAA. “Acreditamos que os programas de local de teste serão extremamente valiosos para integrar veículos aéreos não tripulados e incentivar a liderança dos EUA no avanço dessa tecnologia.” SEGURO uando os veículos aéreos não tripulados entraram no campo, esse era um território inexplorado pela indústria de seguros. “O motivo para começar a oferecer cobertura foi termos recebido diversos produtores perguntando sobre cobertura”, afirma Dayton Kilgus, agente de seguros da Metz Stoller. Em abril de 2013, a empresa começou a oferecer seguros para

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drones. “Os produtores devem tratar o drone como qualquer outro equipamento. Investiram naquele produto – precisam protegê-lo”, afirma Kilgus. O agente de Illinois recomenda cobertura de propriedade e responsabilidade. “A cobertura de propriedade protegeria seu investimento no drone. A cobertura de responsabilidade o protege se você for considerado responsável pelo uso de um”, observa. Segundo ele, o custo do seguro é bastante razoável. “A cobertura de responsabilidade para um produtor custa de US$ 15 a US$ 200 por ano, depende muito do valor do drone. Em termos relativos, não é muito caro.” O principal é ter uma conversa com seu agente antes de comprar um drone. sfagro.com.br | Successful Farming Brasil 21


t e c n o l o g i a

MENOS DESPERDÍCIO,

MAIS DINHEIRO NO BOLSO

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operação de colheita é a última e uma das mais importantes etapas da produção de soja e milho. Nessa fase, qualquer descuido resulta em perdas que prejudicam a rentabilidade da lavoura e podem comprometer o investimento durante toda a safra. O pior é que, muitas vezes, essas perdas ainda passam despercebidas. De acordo com dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), atualmente a média nacional de perdas durante a colheita de soja no Brasil é de 2 sacas de 60 quilos por hectare, enquanto que o índice tolerável é de até 1 saca. O estado que registra o menor índice de perdas de grãos é o Paraná, com a média de 1 saca por hectare. A boa notícia é que alguns produtores da região conseguem ser ainda mais eficientes, como é o caso do Moacir Marques de Jesus, proprietário da Fazenda Boa Esperança, situada em Cambé, na região metropolitana de Londrina (PR). O agricultor registrou produtividade média de 60 sacas por hectare na safra 2015/2016 e teve perdas de apenas 30 quilos do grão por hectare. “Nosso objetivo sempre é recolher o máximo que a lavoura tem a oferecer, reduzindo ao extremo o desperdício”, diz Marques de Jesus. Com colheita tão eficiente, Marques de Jesus se destacou e venceu o Concurso de Perdas na Colheita de Cambé. A competição, que é promovida pelo Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), tem o objetivo de diagnosticar desperdícios na colheita de soja em municípios paranaenses. Devagar se vai longe egundo Marques de Jesus, o segredo para ter uma colheita eficiente é não ter pressa, pois muitos agricultores pecam justamente por excesso de velocidade. “A colheita precisa ser feita devagar, por isso é essencial controlar a velocidade da máquina no campo”, afirma o sojicultor. “Também é fundamental revisar os equipamentos e sempre checar os níveis de umidade para ter mais eficiência na colheita”, diz. A Embrapa, por exemplo, recomenda velocidades entre 4 km/h e 6,5 km/h para que o sistema de corte

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COM DICAS SIMPLES, O AGRICULTOR GARANTE UMA COLHEITA MAIS EFICIENTE E PODE EVITAR AS PERDAS DE GRÃOS Por Bruno Santos

A colheita precisa ser feita devagar, é essencial controlar a velocidade da máquina.Também é fundamental revisar os equipamentos e sempre checar os níveis de umidade” Moacir Marques de Jesus,sojicultor

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da plataforma de alimentação trabalhe com a máxima eficiência e contribua para minimizar as perdas de grãos. Outro detalhe importante é ser exigente e cauteloso no manuseio das máquinas, por isso Marques de Jesus investe na capacitação dos seus operadores. “As colheitadeiras possuem muitos recursos tecnológicos e foram projetadas para não causarem desperdício”, afirma o produtor. “Se há perdas é porque o operador não foi treinado ou não conhece bem a lavoura.” Quais são os erros? e acordo com o pesquisador Lucas Cortinove, especialista em mecanização agrícola e agricultura de precisão da Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT), existem al-

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PARA SE LIVRAR DO DESPERDÍCIO

1PLANEJAMENTO

• Atenção no preparo, plantio e trato da lavoura. • Cuidado e controle das ervas daninhas nas linhas. • Orientação, treinamento e capacitação dos operadores.

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REVISÃO

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Gilberto Dutra,coordenador de marketing de colheitadeiras da AGCO

dicas

CONFIRA MEDIDAS CORRETIVAS INFALÍVEIS PARA REDUZIR AS PERDAS NA COLHEITA

Manutenção preventiva omo diz o ditado popular, “A melhor manutenção é a preventiva”, e quando falamos de máquinas e implementos agrícolas a regra é justamente essa. Mas, diferentemente do que muito produtor pensa, os cuidados com a colheita não ocorrem quando as máquinas estão prontas para entrar na lavoura e, sim, bem antes disso. O planejamento da colheita deve começar ainda na fase de preparo, plantio e trato da cultura. “Quando o agricultor se preocupa com a colheita no momento em que está iniciando o plantio, a possibilidade de perdas diminui”, diz Gilberto Dutra, coordenador de marketing de colheitadeiras para a América do Sul da AGCO, dona de marcas como a Massey Ferguson e a Valtra. De acordo com Dutra, pelo menos 30 dias antes de iniciar a colheita, o produtor precisa fazer uma boa

A rotação muito alta, além de facilitar as perdas pelo rotor, pode danificar o grão” 24 Successful Farming Brasil | sfagro.com.br

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Foto: Shutterstock/Arquivo pessoal

De acordo com Lucas Cortinove, especialista em mecanização agrícola da Fundação MT, se o momento da dessecação for muito antecipado, perdas de até 10 sacas por hectare podem acontecer

guns erros recorrentes tanto na cultura de soja quanto nas lavouras de milho. Na oleaginosa, por exemplo, um erro comum é a dessecação da cultura para obter maior uniformidade ou antecipação da colheita. “Dados da Fundação MT mostram que se o momento da dessecação for muito antecipado, perdas de até 10 sacas por hectare podem acontecer”, diz Cortinove. Outro erro comum na soja está relacionado à utilização de máquinas muito grandes em áreas que apresentam terrenos irregulares. “As perdas acontecem pelo corte parcial da planta, acima da inserção das primeiras vagens, com isso parte dos grãos nem chega a ser recolhida”, explica Cortinove. Já durante a colheita do milho, o erro mais comum é perder espigas devido à alta velocidade de trabalho da plataforma despigadora. Além disso, se o produtor não fizer um bom acompanhamento da colheita, podem ocorrer quedas de plantas e a falta de recolhimento das fileiras laterais. Outra orientação é que o milho segunda safra precisa de atenção adicional. Isso porque a colheita dos grãos ocorre num período em que geralmente o volume de chuvas é menor. “Essa situação climática exige que o produtor faça mais ajustes e regulagens da colhedora e também faz com que ele espere as melhores condições de umidade dos grãos para a colheita”, afirma o pesquisador da Fundação MT.

• Revisão e manutenção de todos os componentes das máquinas pelo menos 30 dias antes da colheita. • Ficar atento à umidade dos grãos, pois

revisão nas máquinas que vai utilizar no campo. Um ponto crucial é ter a plataforma de corte muito bem regulada e equalizada. “Perdas de colheita hoje, de 70% a 75%, estão na plataforma de corte”, afirma. No caso da soja, o produtor deve se atentar à parte de flexibilidade, sistema de corte, avanço e recuo do molinete e altura. Passando da plataforma, é importante checar os elementos de trilha, velocidade de rotação, abertura e fechamento dos côncavos, que são os mecanismos responsáveis pelo processamento do material. “A rotação muito alta, além de facilitar as perdas pelo rotor, pode danificar o grão”, diz Dutra. Ainda segundo o especialista da AGCO, outro tema importante é o processamento do mecanismo de limpeza. Para ter um grão limpo dentro do tanque, é preciso manter a equalização de ventilação nas peneiras. Esse vento deve ser regulado conforme a demanda. Por exemplo, se tiver um grão mais pesado, é necessário colocar uma quantidade de vento um pouco maior para eliminar a palha, se tiver um grão mais leve, é preciso diminuir. Abertura e fechamento das peneiras superior e inferior também são importantes. “Se atentar a esses pontos, o agricultor será muito mais eficiente na colheita”, diz Dutra. Medição de perdas tualmente existem várias ferramentas de aferição das perdas na colheita, como contagem de

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quanto menor a umidade, maior será a perda devido à facilidade de quebra. • Atenção e planejamento para sincronizar a colheita com a cultura que será plantada na sequência.

3COLHEITA PRECISA

• Equalização e regulagem da plataforma. • Manter velocidade entre 4,5 km/h e 6,5 km/h do equipamento colhedor. • Monitoramento da quantidade de grãos que a colheitadeira não recolheu.

grãos e balança, mas essas técnicas de medição exigem mão de obra. Entre as soluções mais simples para medir as perdas na soja, a Embrapa oferece um copo medidor e uma armação de 2 metros quadrados. A ferramenta é capaz de estimar a quantidade de grãos que a colheitadeira não recolhe, cai no solo e acaba sendo desperdiçada. De acordo com José Miguel Silveira, engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Soja, o sistema de medição é bem simples de ser utilizado e pode ser confeccionado com ripas de madeira ou canos de PVC e barbante. “Essa metodologia é prática, rápida e eficiente”, diz. A ferramenta funciona da seguinte forma: após a passagem da colhedora, a armação deve ser colocada transversalmente às linhas de semeadura. Os grãos que estão soltos sobre o solo e dentro da área de armação são depositados no copo medidor e o nível de perdas é determinado diretamente numa escala graduada, em sacas por hectare. Caso os níveis de perdas estejam acima de uma saca de 60 quilos por hectare, a colheita é interrompida para identificar a causa do desperdício. “O objetivo é evitar ao máximo que a colheita pare, afinal o campo não é um bom armazém para os grãos”, diz. O kit de monitoramento das perdas (copo medidor e manual) pode ser solicitado no setor de publicações da Embrapa pelo telefone: (43) 3371-6119 ou pelo e-mail: cnpso. vendas@embrapa.br. sfagro.com.br | Successful Farming Brasil 25


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SUA FAZENDA NÃO SERÁ MAIS A MESMA

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abe aquela ideia de um produtor agrícola bruto, que odeia computador, anota tudo em um caderno velho e só organiza a produção no “olhômetro” e à base da enxada? Esqueça isso. Novas tecnologias desenvolvidas por startups brasileiras prometem revolucionar a vida do produtor e consolidar o país de uma vez por todas na era da chamada agricultura de precisão, com tecnologia de ponta dentro e fora do campo para alavancar a produtividade na fazenda. “Chegou o momento de superar essa visão preconceituosa de que o produtor e as novas tecnologias não combinam”, afirma o coordenador do comitê de Agritech da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), Maikon Schiessl. “A gente tem uma visão daquele cara no campo bem antigo, matuto, meio Chico Bento. Esse cara ainda existe, mas já é uma minoria”, diz. “Até mesmo os pequenos agricultores, focados na agricultura familiar, já começam a ter algum contato com internet, smartphone, computador.” A corrida da inovação mudança de perfil do produtor sinalizada por Schiessl abre espaço para uma infinidade de novas tecnologias. E essa tendência abre espaço para que empreendedores lancem inovações voltadas para a automação agrícola, que promete melhores práticas de irrigação e uso do solo, além de permitir o uso de dados de geolo-

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NOVOS EQUIPAMENTOS E PLATAFORMAS PODEM REVOLUCIONAR A AGROPECUÁRIA BRASILEIRA Por Victor Brandão

pedro dusso, ceo da aegro (à esquerda), renato girotto, ceo da plataforma barter.digital (na foto acima) e matheus ladeia, ceo da doctor farm


Hoje, no Brasil, a operação de barter é burocrática e há uma indesejada lentidão na formalização de todos os documentos.A nossa plataforma gera documentos automáticos padronizados” Renato Girotto, CEO da plataforma Barter.Digital

renato girotto conta que, no futuro, o Bart.Digital também será capaz de monitorar produtores agrícolas via satélite para mitigar o risco de calote a credores

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o controle total de semeadura, irrigação e colheita, por exemplo, além de permitir o monitoramento de pragas agrícolas. Para driblar a precária conexão à internet em muitas regiões, especialmente na zona rural, os empreendedores apostaram na sincronização passiva. “Como a internet no campo não é confiável, o aplicativo funciona totalmente sem internet. O produtor sai de casa com tudo sincronizado, salvo no dispositivo. E, se a internet estiver ruim, o aplicativo armazena os dados e sincroniza quando tem rede”, explica Dusso. O grupo, que recebeu um investimento de R$ 150 mil da aceleradora Wow neste ano, também foi premiado com o Hana Innovation Award pela empresa alemã SAP, durante o evento mundial Sapphire, realizado em junho na Flórida. Selecionados entre mais de 100 inscrições de 36 países, eles levaram o troféu de segundo lugar na categoria Next Generation Apps (aplicativos da próxima geração, em tradução livre do inglês). O doutor do campo s startups do agronegócio, também conhecidas como empresas agritech, não se limitam ao desenvolvimento de programas para computador e celular. Há também novos equipamentos, como o Doctor Farm, que se resume num conjunto de coletores, sensores e um gateway. Idealizado pela equipe do engenheiro mecânico Matheus Ladeia, o equipamento promete levar o campo brasileiro à era da internet das

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Conheça algumas startups que estão semeando novas tecnologias nas lavouras brasileiras

AEGRO Aplicativo compatível com iOS, Android e web que automatiza a gestão de todo o processo de produção agrícola. www.aegro.com.br

de barter no Brasil. Agiliza e possibilita que o credor rastreie toda a operação. http://bart.digital

aumentar a produtividade e reduzir impactos ambientais da produção agrícola. www.ostera.com.br

DOCTOR FARM Conjunto de equipamentos que monitoram a fazenda 24 horas por dia e analisam dados como variáveis climáticas e do solo, além de alertar sobre pragas. blog.doctorfarm.com.br

PASTAR Market place digital para comercialização de animais e produtos agrícolas.www.pastar.com.br

AGROPIXEL Sistema em nuvem para integrar agricultura de precisão, fundamentos agronômicos, ferramentas de gestão, geoprocessamento e sensoriamento remoto. www.agropixel.com.br

Foto: Arquivo Pessoal/ Divulgação

calização e meteorologia. É o caso do cientista da computação Pedro Dusso, CEO e cofundador da Aegro, startup com origem no Rio Grande do Sul. Ele se uniu a mais quatro amigos – outros três da computação e um agrônomo – para criar uma ferramenta com foco em automatizar a gestão de todo o processo de produção agrícola. O Aegro foi desenvolvido para gerir lavouras de grãos, mas os empreendedores já estão desenvolvendo a versão do aplicativo para outras culturas, como pêssego, cacau e café. A pecuária e a uva também estão na mira. “Devemos entrar na pecuária no segundo semestre de 2017”, diz Dusso. Idealizado em 2014, o Aegro é um aplicativo móvel para Android e iOS, mas também com versões web e mobile web, que busca acabar de uma vez por todas com a gestão amadora no campo. “Na ausência de tecnologias apropriadas, o produtor acaba tendo que trabalhar muito com base na experiência e no instinto. Toma decisões difusas e muitas vezes sem planejamento”, afirma Dusso. “A maioria dos softwares não passavam de ferramentas de contabilidade adaptadas para o campo, que não se preocupavam com o processo de produção de fato.” À medida que o agricultor insere os dados da produção, a plataforma gerencia o histórico de todas as atividades na lavoura. Com o programa, o agricultor consegue realizar o planejamento da safra nos mínimos detalhes. É possível registrar as doses e as datas de aplicação de defensivos e fertilizantes, ter

O QUE VEM POR AÍ?

AGRUH Site que compara preços de produtos agropecuários. agruh.com.br

HIDROFITO Produtos e serviços voltados à agricultura de precisão, irrigação agrícola e paisagística. www.hidrofito.com.br

BART.DIGITAL Plataforma web criada com a ambição de digitalizar as operações

OSTERA TECNOLOGIA Soluções de hardware e software para reduzir custos com insumos,

PROMIP Produtora de ácaros predadores para o controle biológico de pragas em culturas como a do morango e a do tomate. promip.com.br SENCER Desenvolvedora de sensores baseados em nanotecnologia voltados para o monitoramento da umidade do solo. www.sencer.com.br


Com sensores, o equipamento Doctor farm coleta informações de solo e variáveis climáticas que são enviadas para uma central e geram sugestões de manejo

coisas e do big data, através da inteligência artificial. Utilizando equipamento sem fio alimentado por energia solar, o Doctor Farm inclui um coletor capaz de armazenar todas as variáveis climáticas (pluviometria, velocidade e direção do vento, índice de radiação UV, taxa de gás carbônico, umidade do ar e temperatura) e de solo (umidade, pH e temperatura). As informações são captadas por sensores distribuídos pela lavoura e enviadas para uma central. Com esses dados, o equipamento gera gráficos, alertas e sugestões de manejo. O gateway envia todas as informações para a nuvem, permitindo que o produtor acesse os dados em qualquer celular conectado à internet. “O Doctor Farm identifica quaisquer necessidades e deficiências que a fazenda tenha. Deficiência hídrica, localização em que precisa de água, onde tem água demais, onde precisa se preocupar com sombreamento”, explica Ladeia. “Além disso, o sistema registra doenças, pragas e infestações.” O equipamento ainda está passando por fase de testes em campo, mas Ladeia já traça planos ambiciosos para o futuro. “Queremos ter todas as informações de pragas e doenças da agricultura mundial, formando o maior banco de informações sobre o tema do planeta”, afirma. “Queremos ser uma espécie de Google Analytics da agricultura.” O empreendedor sabe que é preciso muito dinheiro para tirar a ideia do papel, mas conta que investidores já estão de olho no negócio. “Só para o Doctor Farm, já aguardamos um aporte de mais de R$ 800 mil de um fundo de investimento privado do Nordeste da 32 Successful Farming Brasil | sfagro.com.br

Bahia”, afirmou Ladeia, sem revelar o nome do fundo. Segundo ele, isso vai permitir que a tecnologia seja testada em grande escala. “Ao longo de 2017, vamos testar o Doctor Farm em 20 mil hectares de lavouras em três regiões do país, no Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste, com foco no café.” A estimativa de Ladeia é que, até ser lançado no mercado, o Doctor Farm precisará de um investimento superior a R$ 5 milhões. Barter online utra tecnologia promissora é a plataforma Bart.Digital, criada com a ambição de digitalizar as operações de barter no Brasil. Esse segmento representa quase R$ 50 bilhões em insumos negociados por ano, considerando apenas o milho e a soja. Mirando os grandes produtores, o Bart.Digital automatiza, agiliza e possibilita que o credor rastreie toda a operação. “Hoje, no Brasil, a operação de barter é burocrática e há uma indesejada lentidão na formalização de todos os documentos”, afirma Renato Girotto, cofundador e CEO da empresa. Segundo Girotto, é preciso colocar inteligência nessa cadeia e automatizá-la. “A nossa plataforma gera documentos automáticos padronizados, com aviso entre as partes da cadeia de barter, inteligência cognitiva que interpreta os documentos e cria um lastro de toda a operação”, explica o CEO. “A ideia é incluir na plataforma todos os players da cadeia: cooperativa, indústria, revenda e trade.” Além disso, no futuro, o Bart. Digital também poderá ser capaz de monitorar fazendas via satélite para acompanhar a produção agrícola e evitar calotes a credores dos produtores.

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FERRAMENTAS ELÉTRICAS DE ALTA TECNOLOGIA CERCA ELÉTRICA, LEITOR E GRAVADOR DE ETIQUETAS DE ORELHA OFERECEM SOLUÇÕES AVANÇADAS PARA GERENCIAR O GADO

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s novos iSeries Fence Energizer Systems da Gallagher permitem monitorar de forma rápida e fácil o desempenho das cercas, diz a empresa. Eles podem receber tecnologia opcional de telefone que liga ou envia mensagem de texto no caso de curto-circuito em uma cerca ou ativar um sistema de sirene ou luz para alertar sobre queda em uma linha. “Uma vez, um fazendeiro me disse que sua cerca mandou uma mensagem de texto no meio da noite. O que aconteceu foi que um cervo atravessou uma linha e a rompeu. Ele saiu e consertou antes que as vacas percebessem o buraco”, conta Ray Williams, da Gallagher. Os sistemas de cercas iSeries vêm em três modelos. O M1200i tem 12 joules de energia armazenada e carregará aproximadamente 64 km de cerca. O M1800i tem 18 joules e lida com 96,5 quilômetros. Já o M2800i conta com 28 joules de energia e energiza mais de 160 quilômetros de cercas. Os sistemas custam a partir de US$ 1.200. Cada cerca vem com a unidade energizadora e um controlador. O energizador funciona em condições de temperatura extrema com

capacidade movida a bateria. O controlador, que oferece uma visão do desempenho da cerca e da área, pode ser montado em um local conveniente para fácil acesso a até 50 metros de distância do energizador. As unidades são totalmente à prova d’água para montagem ao ar livre. O sistema de alarme para falta de energia em uma cerca e um controle remoto portátil do energizador e localizador de falhas são vendidos separadamente. O sistema permite encontrar falhas em áreas distantes e ligar e desligar o energizador separadamente para procedimentos de reparo. Monitores de cerca também são uma opção. Você pode acrescentar até seis para criar zonas de cerca, economizando tempo na localização de falhas e falta de energia por zona. Leitor de etiqueta Gallagher também tem um novo leitor portátil de etiquetas de orelha, o HR5, que é mais preciso do que os modelos anteriores. Com tela grande e colorida no cabo e um teclado completo, permite acrescentar dados facilmente no local enquanto os animais passam. A tela de 2,8” com retroilu-

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minação é compatível não apenas com coletores de dados de identificação de animais da Gallagher mas também de outros fabricantes. Durante a passagem do gado pelo corredor, o leitor pode identificar um animal rapidamente e exibir seu histórico, vincular pais às crias, ajudar a selecionar rapidamente, inserir textos livres que podem ser úteis posteriormente e registrar diversas características, como raça, pontuação de condição corporal ou status de gestação. Até nove características por animal podem ser registradas por sessão, enquanto que nos modelos anteriores eram apenas três. O HR5, com bateria interna recarregável, registra informações que podem ser baixadas posteriormente em um computador. “É um sistema simples para registrar dados no bastão enquanto se trabalha com animais e é de última geração”, afirma Williams. “Com leitores mais antigos, você só poderia levar informações para um computador separado. O HR5 faz tudo no bastão mesmo.” Nos Estados Unidos, o sistema (que inclui bastão, software e capacidade de conexão) custa cerca de US$ 2.200. sfagro.com.br | Successful Farming Brasil 33

Foto: Divulgação: Gallagher

Por Gene Johnston


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MONITORAMENTO

DE PRAGAS EFICIENTE CONHEÇA AS FERRAMENTAS DISPONÍVEIS E VEJA COMO NÃO COMETER ERROS BÁSICOS QUE PODEM CAUSAR PREJUÍZO E DANOS IRREPARÁVEIS NA SUA LAVOURA Bruno Santos

lagarta helicoverpa armigera

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e existe algo que tira o sono de muitos produtores são as pragas nas lavouras. Deixar de identificar corretamente um inseto ou fungo em algumas situações pode facilmente causar danos irreversíveis e acabar com a produção inteira. De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), somente com os ataques de moscas, lagartas e doenças, o Brasil perde, em média, cerca de 8% de sua produção agrícola por ano. Isso é equivalente a 25 milhões de toneladas de produtos agrícolas, acarretando prejuízo superior a R$ 55 bilhões. Por isso, é essencial que o produtor se dedique à realização do monitoramento de pragas, além de gerir corretamente a aplicação de defensivos. De acordo com a diretora-presidente da Associação Nacional das Empresas Prestadoras de Serviços em Defesa Agropecuária (Andagro), Regina Sugayama, o monitoramento das lavouras pode ser feito com três finalidades. O agricultor pode detectar uma nova espécie em uma área da fazenda, realizar o monitoramento para medir o nível de infestação na lavoura e também para identificar quando e onde determinada

praga está presente. “Com a análise correta, é possível identificar as pragas, o nível de dano e o melhor momento para aplicar o inseticida”, diz Regina. Segundo ela, há orientações fáceis para que o produtor consiga realizar um bom monitoramento. Conheça as técnicas e as armadilhas disponíveis no mercado que já podem ser utilizadas na safra 2016/2017. Quando iniciar o monitoramento? que confunde muitas vezes a cabeça do produtor é qual o momento ideal para iniciar esse monitoramento. Segundo Fábio Kagi, gerente adjunto de inovação e sustentabilidade da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), ao contrário do que muitos acham, o monitoramento não começa na lavoura e, sim, bem antes do plantio, ainda no planejamento da safra. No caso da soja, por exemplo, se o produtor plantar a oleaginosa no final de dezembro ou início de janeiro, ele estará submetendo essa produção ao período chuvoso, em que há alta infestação de fungos, registrando doenças como a ferrugem asiática. “Nesse período, o fungo já se desenvolveu e a produção da soja será fortemente atacada, pois o produtor expôs a lavoura a condições de tempo

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dicaRAsR NO

PARA NÃO ER AS MONITORAMENTO DE PRAG

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NÃO SIGA A “CALENDARIZAÇÃO”

Isso significa que manter um calendário de aplicações em vez do monitoramento resulta em gastos desnecessários, maior impacto ambiental e perda de tecnologias.

2 PROGRAMAÇÃO

No início da safra, o produtor deve fazer um planejamento sobre o número de pontos a ser amostrado, a periodicidade e os níveis de ação a serem adotados.

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EITURA CORRETA

Independentemente do método utilizado, é fundamental que o produtor faça a leitura de armadilhas ou amostragem sistematicamente obedecendo ao planejamento.

4C

armadilha iscada com feromônio sintético de helicoverpa armigera em lavoura de soja

muito ruins”, diz Kagi. “Por isso, é fundamental fazer um planejamento antes de iniciar o plantio, considerando as informações de clima, umidade, tempo e temperatura.”

“Na maioria das vezes o produtor não consegue enxergar esses números, por isso não podemos dizer que o pano-de-batida não é inviável”, diz Kagi.

O pano-de-batida ainda é uma boa ferramenta? mbora seja uma das técnicas mais antigas, o pano-de-batida até hoje é uma forma de monitoramento bem utilizada nas lavouras brasileiras. A técnica consiste em estender um pano com 1 metro de largura por 1 metro de comprimento na entrelinha da lavoura. Na sequência, basta “chacoalhar” as plantas e observar os insetos que caem no pano. Assim, os insetos coletados são registrados em fichas e o produtor pode constatar o nível da infestação. Mesmo sendo popular no campo brasileiro, a técnica divide opiniões, pois muitos produtores têm dificuldade de fazer esse controle em grandes áreas. Para Kagi, o custo-benefício dessa ferramenta merece ser analisado com calma. Segundo ele, quando se faz o pano-de-batida de forma eficiente, o produtor pode diminuir as chances de fazer uma aplicação de defensivos em excesso. Como exemplo, numa propriedade de 5 mil hectares, a aplicação de defensivos, pelo custo de R$ 60,00 por hectare, resulta em R$ 300 mil somente em uma aplicação.

Escolha a armadilha ideal tualmente existem diversos modelos de armadilhas para monitoramento de lavoura. Elas utilizam atrativos alimentares, feromônios ou paraferomônios. Para que a técnica funcione, é necessário que o produtor tenha informações que ajudem a escolher o atrativo específico, ou seja, que ele atraia somente os insetos que realmente devem ser monitorados. É preciso também que o inseto não tenha comportamento migratório, como a Helicoverpa armigera, por exemplo. Quando a praga é capaz de se locomover por longas distâncias, nesse caso a armadilha pode gerar um efeito reverso e acabar atraindo indivíduos que estavam distantes da fazenda. A boa notícia é que existem também armadilhas indicadas justamente para coletar insetos com comportamento migratório. Essas armadilhas são interessantes quando a finalidade do monitoramento é a detecção de uma espécie na área. “Independentemente do método utilizado, é fundamental que o produtor faça as leituras de armadilhas ou amostragem sistematicamente. Deixar de substituir o atrativo pode mascarar o resultado, pois ele pode achar que a po-

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Foto: Regina Sugayama/ Arquivo Pessoal

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APACITAÇÃO DA EQUIPE

Os funcionários designados para o

monitoramento precisam ser treinados para identificar as pragas nas diferentes fases do ciclo de vida e os danos que elas causam.

5 TECNOLOGIA MÓVEL

A Andef desenvolveu o aplicativo DefesaVegetal.Net, que pode ser baixado em qualquer dispositivo móvel. Nele, o profissional pode consultar qualquer informação sobre pragas, mesmo que não tenha acesso à internet no meio da lavoura. O aplicativo é gratuito e está disponível para download nas lojas da Apple e Android.

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NÁLISE RÁPIDA

Uma vez coletados os dados, o produtor deve ter um sistema que analise rapidamente a praga e forneça informações sobre a necessidade de intervenção.

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UIDADO COM AS PLANTAS DANINHAS

Ao monitorar as lavouras é preciso ficar atento também à presença de plantas daninhas, guaxas ou espontâneas, pois elas funcionam como repositórios da população de pragas.

não tripuláveis), que registram fotos aéreas para identificar alterações no padrão de refletânAs redes de cia das folhas. Isso permite, por inteligência artificial exemplo, encontrar focos de ataque por lagartas, pulgões e fune de sensoriamento gos com maior precisão. à distância serão o Segundo Luiz Alexandre Nogueira de Sá, pesquisador da Emcaminho do futuro” brapa Meio Ambiente, também é Luiz Alexandre Nogueira de Sá, muito utilizado o monitoramento pesquisador da Embrapa Meio Ambiente por satélite. Através dele é possível coletar imagens em tempo real do sombreamento da lagarta na pulação está baixa, mas, na verdade, o feromônio é folha, por exemplo. que perdeu a atratividade”, afirma Regina. Segundo Essas informações são disponibilizadas em um a diretora-presidente da Andagro, essas armadilhas software em que o produtor pode remotamente anasão relativamente baratas, e podem ser encontradas a lisar. Outra técnica semelhante é a armadilha com partir de R$ 5,00 cada uma, fabricadas com plástico ou scanner. Elas são alimentadas com baterias solares e papel. O que vai alterar o preço é o tipo de refil que o via rede sem fio. São capazes de transmitir, em tempo real, a quantidade de insetos que passaram por esses produtor vai utilizar. scanners nas armadilhas. “Essas técnicas são utilizadas geralmente por grandes produtores e embora tenham Monitoramento mais moderno tualmente, há muitas tecnologias disponíveis, custo um pouco maior, dependendo da situação, esse especialmente as opções de agricultura de pre- investimento se paga em um ano”, diz Nogueira de cisão, que beneficiam grandes agricultores. Al- Sá. “As redes de inteligência artificial e de sensoriagumas dessas utilizam os drones (veículos aéreos mento à distância serão o caminho do futuro.”

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do a planta tem algumas folhas, até a fase reprodutiva. Ou seja, o inseto pode atacar a qualquer momento. Porém, a mosca branca age de forma localizada. Ela não infesta toda a área da fazenda de uma só vez. Ela ocupa as bordas dos talhões e, gradativamente, toma as lavouras. Ciente desse comportamento da praga, o produtor pode focar o monitoramento e as aplicações de defensivos nas bordas dos talhões.

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PERIGOSA E RESISTENTE A MOSCA BRANCA ESTÁ PRESENTE NAS LAVOURAS DE SOJA, ALGODÃO, TOMATE E FEIJÃO E AGE COMO TRANSMISSORA DE DOENÇAS E FUNGOS Por Carolina Barros e Naiara Araújo

Incidência de fungos e doenças mosca branca afeta muitas culturas e se multiplica rapidamente. Mas o pior é o fato de que ela é trans-

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missora de várias doenças. Na soja, a mosca branca é uma praga sugadora e age desde o início da safra, quan-

A MOSCA BRANCA NÃO É UMA MOSCA! Embora seja conhecida por esse nome, muita gente não sabe que, na verdade, ela não é uma mosca. Na classificação da biologia, moscas são insetos da ordem Diptera, porque possuem só um par de asas. O inseto chamado de mosca branca pertence à ordem Hemíptera, o que significa que possui dois pares de asas, uma rígida presa à base do corpo e outra flexível, responsável pelo voo do inseto. Esse grupo é formado de insetos sugadores, como cigarras, cigarrinhas, afídios e bichos-frade. “Ela se chama mosca branca, mas não é uma mosca, essa praga é uma pequena cigarrinha”, afirma Cecília Czepak, professora e pesquisadora da Universidade Federal de Goiás.

O adulto da mosca branca é como uma agulha de seringa contaminada, por onde ele pica transmite doenças” Edson Hirose, pesquisador da Embrapa 38 Successful Farming Brasil | sfagro.com.br

Foto: Shutterstock/Divulgação

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inda considerada como uma praga secundária na agricultura brasileira, a mosca branca (Bemisia tabaci) já começou a tirar o sono de produtores e ser foco de pesquisadores. O inseto pode ser encontrado em plantações de soja, tomate, feijão, algodão e hortaliças. Segundo Cecília Czepak, professora e pesquisadora da Universidade Federal de Goiás, a praga consegue se reproduzir em plantações de mais de 600 espécies de plantas. Como se multiplica com facilidade e causa mais problemas em locais com altas temperaturas e clima seco, a mosca branca pode se tornar uma praga prioritária principalmente nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste. Segundo Edson Hirose, pesquisador da Embrapa, cada fêmea pode colocar de 40 a 150 ovos. Além disso, há indícios de que os defensivos podem perder eficiência no combate à praga. “A possibilidade de que ela desenvolva resistência rapidamente é grande”, diz o pesquisador.

Infestação rápida o primeiro momento, a quantidade de insetos que chega à lavoura é pequena. O problema surge quando as fêmeas colocam os primeiros ovos e nascem as ninfas, que são a fase jovem da mosca branca. O pesquisador da Embrapa explica que as ninfas não se movimentam, elas ficam grudadas e imóveis embaixo das folhas sugando a seiva da planta. O inseto na fase jovem joga fora o excesso de seiva que é rico em açúcar. Essa substância descartada se espalha pelas folhas e pode causar problemas. “Quando se tem uma população muito grande que gera esse excesso de açúcar, o fungo fumagina se desenvolve e escurece as folhas de soja”, explica Hirose. Como o fungo cresce em cima da superfície das folhas, ele impossibilita a fotossíntese, gera perda de produtividade e pode causar a morte das plantas. A fase de ninfa dura entre 18 e 25 dias. Em seguida, a ninfa se transforma em uma mosca branca adulta e as fêmeas iniciam a postura de ovos. Diferentemente do que acontece na soja, nas plantações de tomate e feijão o inseto age como um transmissor de doenças. “O adulto da mosca branca é como uma agulha de seringa contaminada, por onde ele pica transmite doenças”, diz o pesquisador da Embrapa. No tomateiro, essa praga pode transmitir até 16 tipos de virose. No cultivo de feijão, a doença mais comum transmitida pela mosca branca é o mosaico dourado.

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dicas PARA COMBATER A MOSCA BRANCA

IDENTIFICAÇÃO

A mosca branca dificilmente é confundida. Ela tem características bem definidas, corpo de coloração amarelada e nas asas apresenta um tipo de “pó branco”. Mas, por se tratar de um bichinho com apenas 1,5 milímetro, pode ficar esquecido. Segundo Hirose, não monitorar as lavouras é um erro. “O produtor talvez passe despercebido pelo inseto e se preocupe só quando começa a ver a soja escurecendo”, diz o pesquisador.

2MONITORAMENTO

Para identificar a presença da praga é recomendável a retirada de algumas folhas no terço médio nas bordas do talhão e a verificação da presença de ninfas com uma lupa. Um alto grau de infestação vai exigir controle com químicos e biológicos. Hirose alerta que a aplicação deve ser extremamente bem feita para atingir as ninfas grudadas embaixo das folhas.

3MANEJO

A pesquisadora Cecília orienta que o produtor deve fazer um plano de amostragem criterioso, que deve ser contínuo e repetido a cada três dias. Além disso, deve eliminar plantas hospedeiras antes do plantio e imediatamente depois da colheita, destruir os restos de cultura, fazer uso correto de inseticidas e controle das ninfas.

4ROTAÇÃO DE CULTURAS

Outra medida é a rotação de cultura, porque dessa forma há quebra no ciclo da praga. A orientação é fazer a rotação com gramíneas. O milho, que também é classificado como gramínea, é uma boa opção para a rotação, porque, apesar de permitir a multiplicação de mosca branca, as lavouras de milho não são hospedeiras frequentes. “Essas são medidas que devem ser adotadas por todos, pois se só alguns produtores fizerem o manejo não funcionará, já que o adulto é capaz de migrar entre as lavouras”, diz Cecília.

5NÍVEL DE DANO

Enquanto suga a seiva, a mosca branca introduz toxinas nas folhas que prejudicam o desenvolvimento da planta, reduzem a produtividade e a qualidade da produção. No entanto, a pesquisadora explica que o nível de dano na lavoura varia de acordo com a cultura. “Os danos são maiores para cultivos em que ela é transmissora de vírus”, afirma Cecília. Segundo a pesquisadora, em plantações de tomate, a mosca branca pode gerar perdas superiores a 50%. No caso do algodão, a praga prejudica a comercialização da fibra, porque a substância adocicada que a mosca branca expele ao ingerir a seiva da planta altera a composição da fibra. sfagro.com.br | Successful Farming Brasil 39


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Controle biológico de pragas com Aphidius Colemani

INIMIGOS DO BEM

um resultado tão acima das expectativas que a tecnologia está sendo replicada na área total cultivada com soja pela Agrícola Pagrisa, que soma 6 mil hectares em duas fazendas, localizadas nos municípios de Paragominas e Ulianópolis.

PRODUTORES SE SURPREENDEM COM A EFICIÊNCIA DO CONTROLE BIOLÓGICO NO COMBATE ÀS PRAGAS DA SOJA

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40 Successful Farming Brasil | sfagro.com.br

o que ocorreu na fazenda da Agrícola Pagrisa, produtora de cana-de-açúcar e grãos no Pará. Na safra 2015/2016, uma área de 75 hectares cultivada com soja foi manejada apenas com biológicos. Isso mesmo, não foi aplicada uma gota de defensivo sequer na plantação. “Foi uma área pequena para teste, mas muito relevante porque estava próxima de outras áreas que sofreram alta pressão de pragas”, diz Marcos Zancaner, diretorpresidente da Pagrisa. A experiência ousada gerou

Foto: Shutterstock

Por Darlene Santiago

á mais de duas décadas os produtores brasileiros ouvem falar sobre o controle biológico. Pesquisas comprovaram que algumas espécies de insetos e microorganismos são inimigos naturais de pragas. Com isso, esses agentes são capazes de acabar com populações de pragas e se tornam peça estratégica para realizar o manejo integrado nas lavouras. Porém, poucos têm a audácia de colocar a tecnologia em prática tão a sério como

Custo-benefício a área experimental, o manejo com biológicos foi realizado com o objetivo de controlar a falsa medideira e a lagarta da soja. Houve três aplicações do parasitoide Trichogramma pretiosum, com intervalos de sete dias, durante o estádio vegetativo da soja e uma aplicação durante o estádio de florescimento da lavoura. O custo total de controle biológico foi de R$ 120 por hectare. “Fizemos um controle excelente. A lagarta falsa medideira vinha apre-

sentando resistência aos químicos nessa região e foi praticamente exterminada com o controle biológico”, afirma Zancaner. Já na área de soja manejada com agroquímicos, com 938,14 hectares, foram realizadas cinco aplicações para controlar as lagartas durante a safra. O custo de controle foi de R$ 256,20 por hectare. Segundo Zancaner, enquanto a área manejada com químicos registrou desfolha na faixa de 25% na fase vegetativa, a área experimental com controle biológico não atingiu nem 5% de desfolha. Outro resultado que chamou a atenção foi o comparativo de produtividade. Na lavoura manejada com químicos, a cultura rendeu 39,82 sacas por hectare. Já na área de controle biológico, a colheita foi de 47,5 sacas

Resultado na ponta do lápis Pagrisa comparou os resultados do manejo biológico e das aplicações com químicos em duas lavouras de soja

CONTROLE BIOLÓGICO

• Quatro aplicações • Custo de R$ 120 por hectare • Produtividade de 47,5 sacas por hectare • Desfolha inferior a 5%

CONTROLE COM AGROQUÍMICOS

• Cinco aplicações • Custo total de R$ 256,20 • Produtividade de 39,82 sacas por hectare • Desfolha na faixa de 25%

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Tem gente que pensa que somos corajosos. Na verdade, temos um método a mais de controle. Se algo não der certo com o biológico, entramos com o químico depois. Isso significa o melhor manejo” Marcos Zancaner, diretor-presidente da Pagrisa

trole. Se por acaso algo não der certo com o controle biológico, entramos com o químico depois. Isso para nós significa o melhor manejo”, afirma Zancaner.

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4 1. Trichogramma pretiosum parasitando ovos da lagartado-cartucho-do-milho Spodoptera frugiperda 2. Controle biológico de pragas com Hippodamia Convergens contra Myzus Persicae 3. Telenomus podisi parasitoide de ovos de percevejo 4. Trichogramma pretiosum parasitando ovo de praga do milho Helicoverpa zea (lagarta-da-espiga)

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por hectare. A combinação de investimento mais barato, menor nível de desfolha e maior produtividade transformou Zancaner num entusiasta dos biológicos. “Na nossa avaliação, o controle biológico foi mais eficiente que o químico”, diz o diretor-presidente da Pagrisa. “Com o biológico podemos fazer um manejo integrado de pragas. Ele entra no controle de ovos, então controla o problema antes mesmo de a praga causar dano à lavoura. Se houver desfolha, é praticamente mínima.” Além de adotar o controle bio-

lógico em toda a área cultivada com soja pela empresa, a Pagrisa vai ampliar o leque de produtos, passando a utilizar também o agente biológico Telenomos podisi para controlar o percevejo da soja na safra 2016/2017. Mas, apesar da mudança radical no manejo das lavouras, isso não significa que Zancaner deseja exterminar o uso dos agroquímicos. O diretor-presidente da Pagrisa acredita que esses produtos passam a ser uma carta na manga. “Tem gente que pensa que somos corajosos. Na verdade, temos um método a mais de con-

Tentativa e erro uem pretende apostar nos biológicos deve estar ciente de que a tarefa não é tão simples para os iniciantes. A experiência na safra 2015/2016 não foi a primeira tentativa da Pagrisa no mundo dos biológicos. A empresa cultiva 14 mil hectares com cana-de-açúcar e, há uma década, tentou usar biológicos para controlar a broca da cana, mas não acertou. “Não tivemos sucesso porque o monitoramento não era bem feito e não sabíamos o momento certo da soltura do inimigo natural”, conta Zancaner. De lá pra cá, com a capacitação da equipe e assistência técnica, a Pagrisa acertou o manejo. Desde 2013, a broca da cana é controlada com o Trichogramma galoi e os biológicos avançam na lavoura de soja. “O produtor tem que experimentar. O ideal é iniciar em uma área pequena para aprender como se faz primeiro, porque o controle biológico exige

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Foto: Heraldo Negri/ Alexandre Milanetti/ Bug/ Koppert Biological Systems

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um acompanhamento técnico muito bom”, diz Zancaner. Para evitar erros no manejo, o produtor Haroldo Rodrigues de Godoy, que cultiva grãos no Mato Grosso do Sul, fez diferente: ele simplesmente terceirizou o serviço. “Já tinha ouvido falar sobre o controle biológico, mas não conhecia na prática. Comprei um pacote completo da tecnologia e não me preocupei com nada”, conta. Ele contratou a consultoria Agro Soluções, que se responsabilizou integralmente pelo monitoramento das pragas e aplicação do produto. Na Fazenda Amoreira, com mil hectares em Maracaju (MS), Godoy experimentou o controle biológico pela primeira vez na safra 2015/2016. Numa área de 200 hectares da sua fazenda, foram realizadas duas aplicações e meia de biológicos, cartelas com ovos da vespa Trichogramma pretiosum. As aplicações ocorreram quando a soja estava com 30 dias, 45 dias e 60 dias, e a prestação do serviço, com o objetivo de controlar as lagartas da soja, custou R$ 80 por hectare. “O controle funcionou sem nenhuma aplicação de inseticida. O resultado me surDe acordo com Alexandre De Sene, diretor de Pesquisa & Desenvolvimento da Bug Agentes Biológicos, o produtor está acostumado a usar inseticida e espera ver um resultado rápido no campo. porÉM, o biológico LEVA até quatro dias para começar a fazer efeito

preendeu”, diz Godoy. “Só não vou dizer que a desfolha foi zero porque vimos uma ou outra folha comida por lagarta. Mas o controle foi um sucesso e vamos fazer de novo com certeza.” Desinformação ara Alexandre De Sene, diretor de pesquisa & desenvolvimento da Bug Agentes Biológicos, o gargalo que dificulta a adoção da tecnologia ainda é a desinformação. “O problema é a cultura do agricultor, ele já está acostumado a usar inseticidas há anos. É difícil mudar o manejo de uma hora para outra”, diz De Sene. “O produtor quer ver um resultado rápido e o biológico não mata a praga na hora, ele demora de três a quatro dias para começar a fazer efeito. Mas a vantagem é que ele se multiplica no campo.” O produtor Haroldo Rodrigues de Godoy concorda. “Essa tecnologia existe há muito tempo, mas para nós é algo muito novo. Por isso que nem me atrevi a fazer o manejo sozinho, porque eu não saberia”, afirma. No entanto, o produtor acrescenta outra crítica. “O problema é a logística e a falta de pessoas capacitadas para divulgar essa tecnologia”, afirma. Godoy queria controlar o percevejo da soja na safra 2015/2016, mas não conseguiu por questões de logística, por exemplo. “O biológico não chegou a tempo e eu fiz três aplicações de inseticida para controlar o percevejo da soja. O transporte do produto biológico precisa melhorar.”

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dicas

LE PARA COMEÇAR O CONTRO ITO BIOLÓGICO COM O PÉ DIRE

COMEÇAR 4 COMO O CONTROLE BIOLÓGICO?

O CONTROLE BIOLÓGICO É POPULAR NA PRODUÇÃO DE ALIMENTOS ORGÂNICOS, JÁ QUE NESSE SISTEMA DE CULTIVO NÃO É PERMITIDA A APLICAÇÃO DE AGROQUÍMICOS. MAS A TECNOLOGIA TEM MUITO POTENCIAL PARA AVANÇAR NAS LAVOURAS DE GRÃOS. CONFIRA AS ORIENTAÇÕES PARA ENTENDER COMO OS BIOLÓGICOS FUNCIONAM E ACERTAR NO MANEJO

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QUAIS SÃO OS TIPOS DE CONTROLE BIOLÓGICO?

Há duas classificações para entender os produtos biológicos disponíveis no mercado: microbiológicos, produtos que utilizam fungos, bactérias e vírus, e macrobiológicos, que contam com seres vivos de maior tamanho, como as vespas.

PODE DESTRUIR 2 ELE A LAVOURA?

O biológico não vai se transformar numa nova praga. “O controle biológico respeita a dinâmica das populações. O produtor faz uma liberação inundativa, coloca no ambiente uma quantidade tamanha de vespas da qual a praga tem pouca chance de escapar. Mas, assim que o alimento acaba, a população de vespa imediatamente declina”, explica Pedro Faria Junior, engenheiro agrônomo e presidente da Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico (ABCBio). Segundo Faria Junior, o controle biológico é um fenômeno natural de manutenção do equilíbrio da natureza. “É sustentável, não prejudica o lençol freático, não tem nenhum risco de contaminação ambiental.”

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EXIGEM MAIS CUIDADOS QUE OS DEFENSIVOS?

A ideia de que o biológico requer mais cuidados do que a aplicação do químico é equivocada, segundo Faria Junior. “O cuidado na aplicação é o mesmo. A diferença é o posicionamento, o momento exato em que a praga está mais suscetível ao controle.”

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O primeiro passo é descobrir se o defensivo químico já aplicado na lavoura é compatível com o produto biológico. Segundo Faria Junior, os químicos das famílias organofosforados e os carbamatos não são compatíveis com macrobiológicos, por exemplo. “Isso depende muito da natureza do produto e da formulação. Cada fabricante de biológicos deve fornecer ao usuário a lista de compatibilidades.”

INTEGRADO 5 MANEJO DE PRAGAS

O segundo passo é montar um programa de Manejo Integrado de Pragas (MIP). A filosofia MIP tem como premissa básica usar três estratégias de controle para cada praga, sendo que o controle biológico é obrigatório. “Não existe resistência de pragas para controle biológico, por isso que ele deve ser incluído sempre”, diz Alexandre De Sene, diretor de pesquisa & desenvolvimento da Bug Agentes Biológicos.

BEM A PRAGA 6 CONHEÇA E O SEU INIMIGO

Muitos produtores ainda erram no manejo por pecar na identificação das pragas. Também é preciso conhecer bem o inimigo natural e como eles atuam. Pode ser uma vespa que coloca seus ovos dentro da lagarta e mata o inseto ou um fungo que parasita a praga, por exemplo. “Há vários inimigos naturais para cada praga e a dose de aplicação do biológico também varia”, diz De Sene. “Como os produtos biológicos são mais técnicos, algumas empresas fazem um pós-venda mais intenso e muitas vezes já se vende o produto aplicado.”

7 DIFICULDADES NA LOGÍSTICA

O produto biológico é composto de um organismo vivo e depende do correto transporte e armazenamento para funcionar. “Há produtos que demandam refrigeração constante e o produtor não pode estocar, precisa aplicar imediatamente. Outros duram 120 dias, mas em locais com temperaturas medianas”, diz Faria Junior.


m a n e j o

Foto: Fabiano Bastos/ Divulgação John Deere

DA FAZENDA 54

PISCICULTURA

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PRODUTIVIDADE DA SOJA

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MANEJO DE GADO LEITEIRO

66

GESTÃO DE FERTILIZANTES

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ESTERCO ECONOMIZA INSUMOS

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COMPACTAÇÃO DO SOLO

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ECONOMIA DE ÁGUA

46 INTEGRAÇÃO ILP E ILPF SISTEMAS INTEGRADOS PODEM QUADRUPLICAR A PRODUTIVIDADE NO CAMPO

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M A N E J O DA FAZENDA

INTEGRAÇÃO À VISTA AGENOR VICENTE PELISSA

O agricultor invest gado nelore e hojeiu no mil hectares integr tem na Fazenda Promisados sã no Mato Grosso o,

VALDEMAR ANTONIOLLI

O pecuarista aprendeu a plantar grãos, com 1.100 hectares integrados na Fazenda Platina, no Mato Grosso

PRODUTORES DE TODAS AS REGIÕES DO BRASIL CONTAM COMO IMPLANTARAM SISTEMAS DE INTEGRAÇÃO E ESTÃO TRANSFORMANDO SUAS FAZENDAS EM NEGÓCIOS SUPERPRODUTIVOS Por Darlene Santiago


cas. Aqui, a gente deixou as cercas no mesmo lugar e consegue fazer a rotação com a lavoura sem problemas”, conta Antoniolli. Para sustentar essa decisão, ele só tem máquinas agrícolas com piloto automático e trocou a estrutura antiga por cercas elétricas e mais modernas. Ainda assim, manter as cercas tem uma desvantagem, porque há uma faixa de 50 a 80 centímetros onde não é possível cultivar grãos. “Tenho perda de 1% do total da área por causa da movimentação do gado, que anda na beira da cerca. Mas acho essa perda irrelevante”, diz Antoniolli.

Com a ajuda dos filhos, o produtor Valdemar Antoniol (ao centro) manej li a 4.500 cabeças de gado nelore na Fazenda Platina em Santa Carmem (M T)

FAZENDA MODELO e lá para cá, a integração lavoura-pecuária gerou resultados invejáveis na fazenda. “O capim que foi plantado em cima de lavoura se mantém verde durante a época de seca e o gado não para de engordar”, conta Antoniolli. Não houve expansão de área, mas agora a fazenda comporta um rebanho de 4.500 cabeças, com taxa de desfrute entre 40% e 42%. “Estamos matando bois de 20 a 24 meses, com 18 a 20 arrobas. Eu gosto dos nossos resultados, mas temos metas para melhorar ainda mais”, diz Antoniolli. “Vamos começar a plantar eucalipto para fazer sombreamento, pensando no bem-estar animal.” A agricultura, além de recuperar as pastagens, segue como um negócio rentável na fazenda. Antoniolli, que ainda se considera mais pecuarista que agricultor, mantém sempre 65% da área com capim perene. O restante é cultivado com soja na primeira safra, que após a colheita da oleaginosa abre espaço para o plantio de capim. Enquanto inúmeras lavouras da região foram castigadas pela seca na safra 2015/2016, o produtor conseguiu um resultado satisfatório, com produtividade média de 54,5 sacas de soja por hectare. Para a safra 2016/2017, ele concluiu no início de novembro o plantio de soja em 1.100 hectares.

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zinha, a pecuária levaria muitos anos para amortizar esse investimento. Com a agricultura, a lavoura fez o investimento compensar. “Não existe nada melhor neste mundo do que fazer reforma de pasto com lucro, com a venda da soja. Se eu não tivesse a agricultura, eu teria um custo tão alto que a reforma seria inviável”, diz ele. APRENDENDO A SEMEAR a prática, um pecuarista não se torna agricultor da noite para o dia. O novo negócio exige investimento, tempo e dedicação. “Passamos por muitas dificuldades na compra de fertilizantes, defensivos. A gente foi comprando maquinário aos poucos”, diz Antoniolli. Mas, com persistência e muito trabalho, a agricultura foi mudando a paisagem da Fazenda Platina. “Começamos a plantar arroz porque ele não exigia tanta correção de solo. A gente foi fazendo a lavoura etapa por etapa, plantava o pasto degradado com arroz por dois anos e depois entrava com a soja. Fizemos tudo na cara e na coragem.” Segundo Antoniolli, as duas atividades se complementaram de forma incrível. “A soja é uma leguminosa que fixa nitrogênio na terra e o capim aproveita tudo isso e cresce bonito. Em contrapartida, o gado deixa as fezes e a urina no solo. Além disso, a gente desseca o capim antes de plantar a soja e essa cobertura ajuda a lavoura”, afirma Antoniolli. “Aqui não usamos mais adubo formulado. Eu compro o fósforo, o KCl [cloreto de potássio] e jogo com taxa variável. Vamos fazendo as correções de solo todo ano.”

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CERCAS INTACTAS m detalhe interessante no processo de integração da Fazenda Platina foi a decisão de manter as cercas intactas. “Todo pecuarista que quer migrar para a lavoura pensa que tem que arrancar as cer-

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Foto: André Hernandes e Arquivo pessoal

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s produtores Valdemar Antoniolli e Agenor Vicente Pelissa são amigos que moram em Sinop, no Mato Grosso, e suas fazendas estão localizadas no município de Santa Carmem, distantes menos de 100 quilômetros. Agenor vem de uma tradicional família de agricultores, enquanto Antoniolli tem a pecuária no sangue. Suas histórias de vida e metas são bem diferentes, mas um destino em comum os aproximou: o desafio de implementar sistemas de integração para transformar suas fazendas em negócios mais produtivos e sustentáveis. A trajetória desses produtores retrata os dois lados da moeda na adoção da tecnologia. Enquanto o agricultor Agenor encontrou no gado uma nova atividade, o pecuarista Antoniolli aprendeu a plantar. “Confesso que fiquei muito surpreso com o resultado da integração. São tantos ganhos que fica quase impossível enumerar”, diz Antoniolli. Pecuarista tradicional, Antoniolli se aventurou na integração lavoura-pecuária quando esse conceito mal existia no Brasil. No início dos anos 2000, ele tinha 1.700 cabeças de gado nelore na Fazenda Platina, com 2.400 hectares. Naquela época, as contas da fazenda estavam fechando no vermelho. “As nossas terras eram muito ácidas e pobres e estava difícil continuar na pecuária. O negócio tinha que se tornar viável ou eu teria que vender a fazenda. Integrar foi uma questão de sobrevivência”, conta Antoniolli. Foi aí que Antoniolli ouviu conselhos de técnicos da região e decidiu investir na agricultura com o propósito de recuperar os pastos degradados da fazenda. “Eu nunca pensei em ser agricultor, a minha vocação é a pecuária. Mas a saída econômica que encontramos foi a integração e isso deu muito certo”, conta. Segundo ele, seria muito caro recuperar as pastagens e, so-

or O agricult Pelissa te icen Agenor V 0 cabeças de 0 tem 1.7 mil hectares nelore emos com soja e integrad ndo o sistema está testa uma área de ILPF em es em Santa r 10 hecta em (MT) m r a C

A dobradinha soja e milho é uma zona de conforto. Com a pecuária você tem um trabalho maior para manejar o gado, mas tem um novo negócio e mais uma mercadoria pra vender” Agenor Vicente Pelissa, produtor de grãos e gado em Mato Grosso

NOVO NEGÓCIO PARA ENGORDAR genor Vicente Pelissa trilhou caminho inverso ao de Antoniolli. O agricultor, que cultiva grãos na Fazenda Dona Isabina, com 2.500 hectares em Santa Carmem (MT), passou a investir em gado nelore. “A dobradinha soja e milho é uma zona de conforto. Com a pecuária você tem um trabalho maior para manejar o gado, mas tem um novo negócio e mais uma mercadoria pra vender”, diz Pelissa. Pelissa contou com a ajuda da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para integrar a fazenda. Na safra 2015/2016, ele cedeu uma área de 100 hectares para pesquisas, onde foi criada a primeira Unidade de Referência Tecnológica de ILP acompanhada pela Embrapa no Mato Grosso. A área foi subdividida em 5 talhões de 20 hectares cada um. Mantendo sempre a distribuição de área de 60% para as lavouras de soja e arroz e de 40% para a pecuária, as pesquisas conduziram um sistema de rotação de culturas com soja precoce, arroz e pastagens e testou o plantio consorciado de braquiária com milheto, milho e sorgo. “Percebi que era bom trabalhar com coberturas. Com a cobertura vegetal durante o ano todo, o solo mantém a fertilidade em vez de ficar se desgastando naturalmente”, afirma. Segundo ele, outra vantagem é que investir na pecuária ajuda o agricultor a controlar pragas e doenças. “Quando você sai da monocultura de soja, acaba com pragas e nematoides de solo”, diz ele.

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ERROS E ACERTOS elissa conta que, junto com os pesquisadores da Embrapa, testou inúmeras variedades até descobrir a receita de sucesso para a sua fazenda. “Testamos

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• Mato Grosso do Sul – 2 milhões • Mato Grosso – 1,5 milhão • Rio Grande do Sul – 1,4 milhão • Minas Gerais – 1 milhão • Santa Catarina – 680 mil hectares

INTEGRAÇÃO EM NÚMEROS MARIA FERNANDA GUERREIRO

A produtora cultiva eucalipto e cria ga milho, 45 hectares integr do em Sítio Nelson Guer ados no reiro, em Brotas (SP)

O tamanho da propriedade não é problema. Só precisa de tecnologia e assistência técnica, o sistema tem muito pa ra ex p lo ra r e crescer” Maria Fernanda Guerreiro, produtora de milho, eucalipto e gado em São Paulo

muitas coberturas até acertar. Uma cobertura que se destaca muito é a Brachiária ruziziensis. Cresce rápido, é palatável para o gado, o sistema radicular dela é agressivo e resiste bem ao clima da região”, conta. Porém, segundo Pelissa, o cultivo de milho consorciado com braquiária não se mostrou um bom negócio na fazenda. “Eu parei de plantar milho consorciado com braquiária para evitar perdas porque eles competem [por nutrientes] de alguma forma, então não valeu a pena”, diz. “Hoje eu prefiro plantar milho transgênico de alta tecnologia e braquiária solteira.”

mento para plantar braquiária, por exemplo, então precisei fazer adaptações no maquinário. Fiz modificações nas engrenagens da plantadeira de soja para plantar as sementes do capim e hoje consigo fazer um plantio bem-feito”, conta Pelissa. O produtor conta que também inovou no plantio a lanço aéreo. “Adaptamos a caixa de defensivos do avião pulverizador da fazenda, então conseguimos colocar sementes também. Semeamos o capim com o avião quando a soja está lourando. Então, quando eu colho a soja, o capim já está estabelecido”, diz ele. Outra estratégia para o gado foi a decisão de não construir cercas definitivas na fazenda. “Instalei apenas cercas móveis. São barras de ferro e fios elétricos em bobinas que instalamos rapidamente. É uma coisa prática, movimentamos as cercas todo ano.” Enquanto Pelissa colhe bons resultados com a integração na Fazenda Promissão, a parceria com a Embrapa segue firme e forte na Fazenda Dona Isabina. Atualmente, Pelissa está testando o sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, com plantação de grãos, pastagem e o cultivo de eucalipto em 10 hectares da fazenda. “As fileiras de eucaliptos são distantes uma da outra, algo em torno de 30 metros. Isso é o suficiente para entrar com as máquinas e pulverizar. A vantagem do eucalipto é o sombreamento que beneficia o gado. E depois a madeira que eu colher vai servir para produzir cavaco e gerar energia”, conta o produtor.

A EXPANSÃO DO SISTEMA s erros e acertos na área experimental de 100 hectares na Fazenda Dona Isabina não foram em vão. Pelissa replicou o modelo de sucesso em outra propriedade rural, a Fazenda Promissão, com 10 mil hectares em União do Sul (MT). Desse total, são mil hectares de integração lavoura-pecuária, com o cultivo de soja e pastos que acolhem 1.500 cabeças de gado nelore. “Faço integração nas áreas com solos mais arenosos, onde eu tinha problema de solo exposto e erosão”, conta Pelissa. O gado é abatido geralmente com 24 meses e peso entre 18 e 19 arrobas. O cultivo da soja, por sua vez, alcançou produtividade média de 59 sacas por hectare na safra 2015/2016. “Nessa área colhi muito bem e não tive replantio. A palhada protegeu e manteve a umidade do solo enquanto que, fora da integração, colhi soja em alguns talhões com produtividade de 40 sacas por hectare por causa da seca”, conta o produtor. “Eu acre- INTEGRAÇÃO NO BRASIL INTEIRO dito que o sistema deve continuar avançando, mas vou área total brasileira com a adoção de sistemas ILP manter a pecuária em cerca de 20% da área. É a agrie ILPF é de 11,5 milhões de hectares. No Mato cultura que manda na minha fazenda”, diz Pelissa. Grosso, há cerca de 1,5 milhão de hectares integrados, de acordo com uma pesquisa da Rede de FoADAPTAÇÕES NA FAZENDA mento Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, realiara garantir pastos de qualidade, Pelissa fez algu- zada pela consultoria Kleffmann Group e divulgada mas adaptações na estrutura da Fazenda Promis- em novembro (veja os números no infográfico na são. “Eu precisava de uma plantadeira de alto rendi- próxima página). O sistema é tão flexível que colecio-

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No Brasil, as fazendas com sistemas ILP e ILPF ocupam 11,5 milhões de hectares * Fonte: Rede de Fomento ILPF

na histórias de sucesso em todas as regiões do Brasil. A pesquisa entrevistou 7.909 produtores que, assim como Antoniolli e Pelissa, já se lançaram na empreitada de diversificar os negócios. LEITE E GRÃOS o Rio Grande do Sul, o produtor João Kurtz Amantino cria vacas holandesas e búfalos, cultiva soja, milho e árvores frutíferas na Fazenda São João, com 200 hectares no município de Passo Fundo. Tudo começou em 2000, com o intuito de garantir conforto térmico aos animais. “A vaca holandesa sofria com o calor, então eu comecei a plantar várias árvores em volta dos açudes. Com o sombreamento, a temperatura muda muito e além do conforto animal eu colho frutas como pitanga, laranja e guavirova”, diz. Depois, ele firmou parceria com amigos agricultores para implantar lavouras. São 60 hectares com o cultivo de soja em parceria com outros três sócios, sendo que Amantino fica com 35% dos resultados da lavoura. Sozinho, Amantino cultiva outros 60 hectares com o milho primeira safra que é destinada à alimentação dos animais. O rebanho leiteiro e os búfalos ocupam 60 hectares da fazenda e o restante da área é ocupado com reserva ambiental. Sempre que as lavouras de soja e milho são colhidas, a segunda safra abre espaço para o capim. O rebanho de Amantino é composto de 70 búfalos, que vão

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JOÃO KURTZ AMANTINO

ria vacas O produtor ce búfalos, holandesas , milho e cultiva soja feras na árvores frutí João, em Fazenda Sãodo (RS) Passo Fun

para o abate com idade entre 18 e 20 meses e cerca de 450 quilos, e 390 cabeças de gado holandês. Há 213 vacas holandesas em lactação, com produtividade em torno de 25 litros de leite por animal por dia. “Faço uma exploração a pasto, com uma suplementação, em média, de 10 quilos de silagem e 4,5 quilos de ração por animal ao dia”, conta. Amantino calcula que a integração lavoura-pecuária gerou um aumento de produtividade de 20% nas lavouras e beneficiou bastante os animais. “Foi um ganho fantástico, o capim produz mais massa verde. Aumentou bastante a lotação dos animais, hoje eu tenho mais de seis cabeças por hectare”, diz. “A vantagem é o aumento da fertilidade do solo e o aumento da produção. Há uma boa sinergia entre os diferentes negócios.” ADEUS, PLANTA DANINHA o Norte do Brasil, o pecuarista Luciano Vilela iniciou a integração com um objetivo claro: conseguir se livrar do capim duro, também conhecido como capivarão, uma planta daninha que prejudica o rendimento das pastagens. “Essa gramínea fica no meio do capim, compete com o mombaça, e o gado não come”, diz Vilela. “O grande problema da região é que quando uma pessoa pega um pasto tomado por esse capim, não adianta gradear a terra e plantar outro capim. O banco de sementes vem junto e o capim duro volta

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A vaca holandesa sofria c o m o c a l o r, e n t ã o e u comecei a plantar árvores em volta dos açudes. Com o sombreamento, a temperatura muda muito” João Kurtz Amantino, produtor de leite e grãos no Rio Grande do Sul

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5 DICAS

com tudo.” Assim, em 2014 ele iniciou a integração ILP e gradativamente está aperfeiçoando o cultivo de milho e arroz na Fazenda Araguaiana, com 2.100 hectares e 2.700 cabeças de gado nelore em Araguatins (TO). “Entrei com a lavoura em áreas com solo de má drenagem e muito infestadas por capim duro. Estou ampliando a área plantada aos poucos”, conta o produtor. O clima da região da Fazenda Araguaiana não permite colher duas safras ao ano, como o que ocorre no Mato Grosso. Lá, Vilela vive outra realidade. No período de fevereiro e março, que seria hora da colheita precoce da soja para o plantio da segunda safra, chove muito e é impossível praticar a colheita. “Com o milho temos uma janela de colheita grande. Por esse motivo, a gente planta uma safra de milho e retarda a colheita para junho”, diz o produtor. Na última temporada, ele plantou milho em 33 hectares em dezembro de 2015 e colheu uma média de 105 sacas por hectare em junho de 2016. No caso do arroz, Vilela plantou 45 hectares em fevereiro de 2016 e colheu 3.400 quilos por hectare em maio deste ano. “O arroz conseguiu pagar as contas, mas eu tive uma produtividade ruim. Por isso não vou plantar arroz nesta safra, eu preciso aprender mais”, diz Vilela. Na safra 2016/2017, ele vai cultivar milho em 87 hectares. “O objetivo da integração no nosso caso é liquidar o banco de sementes do capim duro.”

PARA NÃO ERRAR

integração é como um quebra-cabeça a ser montado pelo agricultor. Cada fazenda tem um retrato único, o que permite uma customização da integração, levando em consideração informações técnicas relacionadas ao clima da região, relevo e solo da fazenda. “Não existe uma receita pronta. O produtor tem de ter objetivos claros e saber qual vai ser a principal fonte de renda. A integração vai depender da expertise dele e das condições da região”, diz o pesquisador João Meneguci, da Embrapa Agrossilvipastoril. Sistemas de integração são capazes de revolucionar a agropecuária em clima tropical. De acordo com dados da Embrapa, o Brasil tem mais de 180 milhões de hectares de pastagens, sendo que mais da metade dessa área apresenta algum estágio de degradação e pode ser revertida em áreas de alta produtividade de grãos e carne. Isso muita gente já sabe. Porém, para tirar essa teoria promissora do papel e explorar o potencial da integração, há muito trabalho a ser feito. O desafio é ajudar o produtor a chegar lá. Confira cinco dicas da Embrapa para ter sucesso na adoção da tecnologia.

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LUCIANO VILELA

O pecuarista investiu na integração lavourapecuária para recuperar pastagens e eliminar a planta daninha capim duro na Fazenda Araguaiana, em Araguatins (TO)

plantadeira usada, por R$ 73 mil. “Hoje em dia todo pecuarista aduba e aplica herbicida, então ele já tem algum maquinário. A única coisa diferente é a plantadeira”, diz. Porém, para a colheita, ele afirma que não tem condições de investir mais de R$ 1 milhão para comprar uma colheitadeira, então a melhor estratégia é terceiECONOMIA COM MAQUINÁRIO uando iniciou a integração, Vilela comprou uma rizar o serviço. “Não vale a pena gastar uma fortuna plantadeira usada, por R$ 5 mil. Depois, inves- em máquinas para plantar 100 hectares por ano”, diz. tiu novamente em maquinário, comprando outra “O meu objetivo é a pecuária, a lavoura vem como uma ferramenta. Então acho melhor terceirizar a colheita, o custo fica em torno de R$ 350 por hectare.” Outro fator que desafia a agricultura é a logística. “Não temos silo para guardar a produção, então temos que colher e vender logo”, conta Vilela. “A lavoura aqui é limitada por causa do clima e eu não vou acabar com pastos de 30 anos para fazer a agricultura, vou avaliar cada necessidade.”

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JOSEVAL PINA MOURA

O produtor cultiva co seco, a leguminos co a gliricídia e cria ovelhas na Fazend das Palmáceas, co a 1.030 hectares emm Estância (SE)

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TEM ATÉ COCO a região Nordeste do Brasil, um modelo que chama a atenção é a Fazenda das Palmáceas, com 1.030 hectares em Estância (SE), do sergipano Joseval Pina Moura. O produtor conquistou bons resultados com a integração lavoura-floresta, consorciando coqueiro e leguminosa gliricídia, que serve para alimentar o seu rebanho de ovelhas e carneiros, com 1.200 animais santa inês puros e mestiços. “O solo era arenoso e muito pobre. Sofri bastante porque eu tinha que aplicar muito adubo químico e orgânico”, diz. Com a integração, que teve início em 2010, a realidade da fazenda agora é outra. Segundo Pina Moura, a produtividade de coco seco, que girava em torno de 5 cocos por pé, chegou a 30 cocos por pé. “Fiquei im-

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1 MÚLTIPLAS POSSIBILIDADES Integração engloba lavoura-pecuária, pecuária-floresta, lavoura-floresta, tudo junto e misturado. Há infinitas possibilidades, mas o produtor tem de acabar com preconceitos e se dispor a aprender novas culturas. “Ainda há uma resistência para integrar, existe um choque cultural”, diz Meneguci. “Mas a resistência dos produtores não é por birra. É que quando não se conhece uma atividade a ignorância assusta.” 2 QUAL É O OBJETIVO? É fundamental definir os objetivos do negócio, avaliar a estrutura física da fazenda e dimensionar o investimento. “Se a fazenda estiver numa região de solo arenoso onde seja difícil produzir grãos, a principal atividade pode ser a produção de gado”, afirma Meneguci. 3 PARCERIAS Para os mais conservadores que temem a integração, é possível começar aos poucos e em parceria com outros produtores. O pecuarista pode firmar parceria com um agricultor para implantar as lavouras. Um agricultor, por sua vez, pode manter parceria com um pecuarista para aprender a manejar o gado. 4 CUIDADO COM AS FINANÇAS O produtor deve estudar o novo negócio e entender como o mercado funciona, conhecer valor dos insumos, logística e cotação final do produto. “Tem que ter organização, planejamento e acompanhamento agronômico”, diz Meneguci. 5 VALE A PENA Entre as vantagens dos sistemas, Meneguci enumera a diversificação da fonte de renda, melhoria do solo, aumento de produtividade e a adoção de práticas mais sustentáveis. “Se considerarmos um pasto degradado, a partir do momento que adota o sistema, a lotação dos animais pode quadruplicar”, diz o pesquisador.

pressionado com a quantidade de proteína da gliricí- pecuária, com 32 matrizes nelore para a produção de dia, que chega a 26%. Ela se desenvolve bem e melho- bezerros, fora da área integrada a produtora cultiva ra a qualidade do solo e eu ainda reduzi pela metade a laranja e cana-de-açúcar. compra de ração animal.” QUEM INTEGRA NÃO TEM FÉRIAS xageros à parte, integrar significa dedicação em doINTEGRAÇÃO PARA TODOS história do Sítio Nelson Guerreiro, com 106 hecbro, de acordo com o depoimento de todos os protares em Brotas (SP), é um exemplo de que a inte- dutores entrevistados pela Successful Farming Brasil. gração também é possível no Sudeste brasileiro. “Im- “Integração é para quem tem paciência e vontade de plantamos a integração em 2011, em 45 hectares da trabalhar. Você não vai ter sossego”, diz o produtor fazenda. Tenho cinco pastos divididos em piquetes Agenor Pelissa. O produtor Valdemar Antoniolli que são rotacionados com milho, braquiária maran- concorda: “Quem tem integração não para. Não vai du, piatã e gado. Todas as áreas estão com eucalipto”, para a praia no verão. A dica de ouro para conseguir conta a produtora Maria Fernanda Guerreiro, que integrar é ter persistência”, diz. herdou a fazenda do pai, Nelson. Além disso, todos frisaram que é importante se Engenheira agrônoma, ela gostou tanto da proposta identificar com as atividades e receber assistência técque se especializou e hoje atua como consultora nessa nica. “Claro que eu recomendo que todo mundo faça área. “O tamanho da propriedade não é problema. Eu a integração, o meio ambiente agradece. Mas, se o já atendi produtores com 1 hectare. Só precisa de tec- agricultor não gosta de gado, não vai conseguir fazer nologia e assistência técnica, o sistema tem muito para a integração. Precisa ter vocação e cuidado para não se explorar e crescer.” Além da produção de milho e da atrapalhar nas contas”, diz Antoniolli.

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M A N E J O DA FAZENDA Grupo Bom Futuro produz 2.500 toneladas de peixes por ano em 240 hectares de tanques escavados

dic as PARA ACERTAR NA PISCICULTURA

1 MANEJO ADEQUADO

3 SANIDADE DO VIVEIRO

2 QUALIDADE DA ÁGUA

4 CUSTO DE PRODUÇÃO

Principalmente na recria, quando os alevinos chegam com cerca de 5 gramas, o manejo deve ser muito cuidadoso e adequado para essa fase da produção. Segundo o coordenador de piscicultura do Grupo Bom Futuro, a taxa de mortalidade é maior nessa fase e pode chegar a 30%. A falta de cuidados com a água prejudica o desenvolvimento do peixe. Por isso, é importante verificar diariamente a pureza e a temperatura da água, além de retirar a matéria orgânica. Isso evita que os animais se estressem e também promove o ambiente ideal para a alimentação adequada. Se a água for bem manejada, o peixe terá mais chances de se alimentar e se desenvolver bem.

O BRASIL ESTÁ PARA PEIXE

estrutura e tecnologia é possível produzir mais em menos área”, diz o coordenador. O Grupo Bom Futuro está investindo em um projeto de melhoramento genético para o tambaqui e espera ter alevinos mais produtivos no início de 2017. Junior explica que os animais são acompanhados por chips e passam por uma análise genética, com o objetivo de selecionar os peixes com desempenho superior para os futuros cruzamentos. “A principal característica que nós procuramos é a taxa de crescimento. Inicialmente, queremos um peixe que se desenvolva mais rápido e esteja adaptado para as regiões brasileiras”, afirma Junior. “Existe um investimento muito grande

PRODUTORES DEVEM VALORIZAR ESPÉCIES NATIVAS, INVESTIR EM MELHORAMENTO GENÉTICO E ELEVAR A PRODUÇÃO Por Naiara Araújo

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A meta é quadruplicar os resultados as quatro unidades de produção localizadas no Mato Grosso, o Grupo Bom Futuro produz 2.500 toneladas de tambaqui, pintado da Amazônia, piau, tilápia e tambatinga por ano, com 240 hectares de tanques escavados. Em cinco anos, a meta é quadruplicar a produção e chegar a 10 mil toneladas por ano. “O mercado está favorável para a piscicultura e eu acredito que tenha demanda para essa ampliação da produção”, afirma Herbert Junior, coordenador de piscicultura do Grupo Bom Futuro. Atualmente, a piscicultura responde por 1% do faturamento do Grupo Bom Futuro. A expectativa é que, em dez anos, o negócio progrida a ponto de gerar 10% das receitas. Com essa aposta, o grupo não vai medir esforços no quesito investimento.

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O desafio da genética ara desenvolver a piscicultura, é preciso investir na genética dos alevinos e no manejo. “Com o melhoramento genético se consegue duplicar a produção e com

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Foto: Grupo Bom Futuro

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s carnes suína, bovina e de frango lideram o consumo de proteínas dos brasileiros. Em 2016, o consumo per capita deve atingir 32,9 quilos de carne bovina, 14,8 de carne suína e 45,7 quilos de carne de frango por ano, de acordo com previsões da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Mas a carne de peixe também quer conquistar mais espaço na mesa dos brasileiros. O consumo de carne de peixe, que chegou a 10,6 quilos per capita por ano, promete crescer exponencialmente, com a valorização de dietas saudáveis, aumento da produção e preços mais acessíveis. Quem investe nesse segmento diz que o mercado brasileiro está para peixe. Um exemplo disso é o Grupo Bom Futuro, de Cuiabá (MT), famoso pela produção de soja, milho e algodão com lavouras que somam 410 mil hectares, além da atuação na pecuária bovina. Como se não bastasse, a empresa enxergou na produção de peixe um negócio promissor e vai investir cerca de R$ 10 milhões nos próximos anos com o objetivo de alavancar a produção de peixes do grupo.

Garantir a higiene do viveiro e o bemestar animal é fundamental. Cuidados com o solo do viveiro, com a água e com a sanidade, além de fornecer ração de qualidade aos animais, representam 90% do sucesso da produção de peixes. A despesa com a alimentação pode representar até 60% do custo de produção. Por isso, investir em tecnologias que reduzam o ciclo do animal é uma alternativa para conseguir reduzir o custo de produção, sem abrir mão de uma alimentação com qualidade.

com a esperança de que haja ganho de produtividade.” Atualmente, a produtividade anual do pintado da Amazônia é de 13 mil quilos por hectare. Com o processo de seleção, a expectativa é aumentar a produtividade em 10% ao ano. “Esse aumento é esperado após a formação da primeira geração de peixes melhorados. Em cada geração, teremos um ganho”, diz o coordenador. Entendendo os peixes egundo Junior, as tecnologias para a produção de tilápia já estão avançadas e atendem as necessidades do mercado. O Grupo Bom Futuro alcançou uma produtividade de 20 mil quilos de tilápia por hectare ao ano. O desafio, a partir

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O mercado está favorável para a piscicultura e eu acredito que tenha demanda para a ampliação da produção”

Herbert Junior,coordenador de piscicultura do Grupo Bom Futuro

de agora, será entender as espécies nativas. “A piscicultura é pouco estudada na prática e a gente vive muito de achismo e do que foi feito com outras espécies”, diz Junior. O pintado da Amazônia, por exemplo, tem algumas características canibais e pode comer outros peixes durante a fase da recria. “Ele pode chegar a comer de três a quatro irmãos dele por dia”, conta Junior. Esse comportamento se manifesta em cerca de 1% do lote de alevinos. Por isso, os funcionários monitoram os peixes mais “agressivos” e os retiram dos tanques. “É fácil identificá-los porque eles têm o dobro do tamanho dos outros”, conta o coordenador. “É uma genética ruim e que não nos interessa.” Com o melhoramento genético, uma das características que devem ser desenvolvidas é a docilidade. Outra novidade é que em outubro a empresa começou a usar probióticos para melhorar os índices da produção. “O intuito é melhorar a digestibilidade dos peixes, a conversão e também diminuir o acúmulo de matéria orgânica nos viveiros”, diz Junior. sfagro.com.br | Successful Farming Brasil 55


M A N E J O DA FAZENDA

OS CAMPEÕES DA SOJA BRASILEIRA

CONHEÇA AS TÉCNICAS DE MANEJO DAS LAVOURAS MAIS PRODUTIVAS DO BRASIL

Por Igor Castanho

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nquanto a produtividade média das lavouras de soja do Brasil foi de 47,8 sacas por hectare na safra 2015/2016, de acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), os agricultores João Carlos da Cruz e Alisson Hilgenberg vivem outra realidade em suas fazendas. Apostando em uma produção de alta tecnologia e manejo cuidadoso, os dois produtores atingiram quase o triplo do rendimento nacional da oleaginosa. Hilgenberg, que planta um total de 900 hectares com soja na Fazenda Palmeira, em Ponta Grossa (PR), venceu o desafio de produtividade do Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb) na safra 2014/2015, colhendo 141,8 sacas por hectare em um talhão – recorde absoluto da competição, realizada desde 2008. “Esse valor poderia ser ainda maior, já que ocorreram problemas pontuais durante o cultivo”, diz ele. Já Cruz, que cultiva 310 hectares na Fazenda Lageado, em Buri (SP), venceu a competição da safra 2015/2016, com produtividade da soja de 120 sacas por hectare.

Manejo rigoroso desafio do Cesb considera apenas o resultado em glebas com tamanho entre 5 e 10 hectares. Então, os produtores capricharam no manejo de talhões específicos das fazendas, com o intuito de participar do concurso. Entretanto, isso não significa que o desempenho geral seja inexpressivo. No ano em que venceu a disputa, a fazenda de Hilgenberg registrou uma média

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de 90 sacas de soja por hectare, enquanto Cruz conseguiu uma produtividade média de 74,2 sacas por hectare na Fazenda Lageado, resultados muito superiores à produtividade média brasileira. O bom desempenho é explicado por um amplo conjunto de fatores. Cruz revela que ainda no plantio apostou na semeadura cruzada, feita em baixa velocidade, de 5 km/h, com um espaçamento entre linhas de 50 centímetros e mantendo uma população de 600 mil plantas por hectare. Na fase de desenvolvimento, o diferencial foi o uso de bioestimulantes para garantir o equilíbrio hormonal das plantas. Segundo ele, a adubação também foi reforçada: foram 600 quilos por hectare de 01-28-00 e mais duas doses de 15-00-40 (145 quilos/ha). “Há vários aspectos determinantes: escolha da cultivar, espaçamento de plantio, fertilidade do solo, controle de ervas daninhas, tratamento de sementes, controle de pragas e doenças, otimização da fisiologia da planta, e por aí vai”, diz. Hilgenberg seguiu estratégia semelhante. O espaço entre linhas de plantio foi de 45 centímetros, com uma população de 400 mil plantas por hectare e semeadura com velocidade máxima de 6 km/h. Na adubação, o diferencial foi a aplicação de 10 mil quilos de cama aviária por hectare. Ele também recorreu à agricultura de precisão para otimizar o controle do solo, realizando uma aplicação de 300 quilos por hectare de 01-28-00 e outra de 600 quilos por hectare de 00-00-60. Outro diferencial de peso é o histórico de boas práti-

O agricultor João Carlos da Cruz registrou produtividade de 120 sacas de soja por hectare na safra 2015/2016 na Fazenda Lageado, em Buri (SP)


dicas

o raio x

CONHEÇA AS LIÇÕES ENSINADAS PELOS PRODUTORES PARA SE TORNAR UM CAMPEÃO DE PRODUTIVIDADE NA SOJA

PARA O SUCESSO

DA SOJA PRODUTIVA

ENTENDA O QUE FAZ UMA LAVOURA PRODUZIR O DOBRO DA MÉDIA NACIONAL

Há um conjunto de fatores que geram o sucesso, como o cuidado com o solo, um tratamento adequado das lavouras, mecanização, clima favorável, entre outros. Não é algo que ocorre de uma hora para outra”

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EVOLUÇÃO GRADUAL

Alisson Hilgenberg, campeão do desafio Cesb na safra 2014/2015

“Para obter uma boa produção, além do clima favorável, é fundamental utilizar um solo bem corrigido com macro, adubação, fósforo, potássio; e micronutrientes, enxofre, magnésio, boro, cálcio, entre outros”

Uma produtividade recorde não ocorre de uma safra para outra. Em geral, ela reflete anos de melhorias nas condições de produção. Na área de Alisson Hilgenberg, a correção de solo é feita desde 1979.

Paulo Ambiel,produtor de soja em Brianorte,distrito de Nova Maringá,no norte de Mato Grosso,que espera

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MANEJO DE SOLO

colher 60 sacas por hectare de soja neste ciclo

João Carlos da Cruz, campeão do desafio Cesb na safra 2015/2016

cas, já que há mais de 11 anos é feito o plantio de aveia preta na safra de inverno, sem que haja colheita, visando apenas a formação de matéria orgânica. “É um trabalho que começou há mais de 30 anos, quando meu pai iniciou o plantio direto. Isso condicionou o solo para corresponder às tecnologias atuais”, afirma Hilgenberg. Nos dois casos, os produtores realizam um manejo cuidadoso antes mesmo de iniciar oficialmente a safra, com o objetivo de gerar condições favoráveis para que variedades manifestem todo o potencial produtivo. Eles sempre testam variedades em campos menores antes do plantio em massa. Fatores como adaptação à região, plantio durante a janela de cultivo ideal, vigor das sementes e sistema radicular das plantas são avaliados nesses talhões experimentais. “As cultivares são altamente responsivas a tecnologia, mas para isso é preciso oferecer as melhores condições para produção”, pontua Cruz. Ajuda técnica e mais dinheiro no bolso eficiência no controle de todas essas variáveis não é mérito exclusivo desses dois agricultores. Mes-

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sojicultora na cidade de Floraí, noroeste do Paraná, que já atingiu um rendimento médio de 92 sacas por hectare com a oleaginosa

mo sem apoio de técnico externo, Alisson Hilgenberg conta com a ajuda do pai, Wilson Hilgenberg, e com a bagagem de oito anos como agrônomo. “A experiência do dia a dia, pesquisas na internet e a participação em dias de campo ajudam a otimizar a gestão”, diz o sojicultor. Já Cruz, que também presta consultoria para outros produtores, não abriu mão do suporte técnico. “A fazenda é como uma empresa. Várias pessoas ajudam a tomar as decisões para minimizar os riscos e os erros”, diz Cruz. Com um desempenho agronômico acima da média, os resultados dessas lavouras significam mais dinheiro no bolso. Cruz revela que, no talhão vencedor do concurso, o custo total de produção foi de R$ 3,4 mil por hectare. Com um rendimento de 120 sacas por hectare e um valor médio de R$ 70 por saca de soja vendida, a receita bruta foi de R$ 8,4 mil e o produtor conseguiu um lucro de R$ 5,1 mil por hectare. O recorde na competição rendeu cifras ainda maiores para Hilgenberg. O custo de produção foi menor, de R$ 1,8 mil por hectare. Mas, com colheita de 141 sacas por hectare e com um preço de venda de R$ 67 por saca, ele conquistou um lucro de R$ 7,6 mil por hectare.

ESCOLHA DA SEMENTE

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CONTROLE FISIOLÓGICO

O uso de agroquímicos não se restringe ao controle de pragas e doenças. O uso de bioestimulantes e o foco na nutrição foliar garantem o equilíbrio hormonal das plantas, otimizando seu desempenho.

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BOAS PRÁTICAS DE MANEJO

As pulverizações sempre são feitas nas condições recomendadas (entre as 5h e as 9h da manhã, respeitando a velocidade do vento e

Finanças na ponta do lápis o avaliar os números, os dois produtores provam que o profissionalismo vai além da gestão agronômica. As finanças das fazendas também são controladas com precisão. “Quando assumi a gestão da fazenda, em 2006, um dos primeiros passos foi otimizar o controle de custos. Percebi, por exemplo, que havia mais máquinas do que o necessário para realizar o trabalho de campo e consegui reduzir esse gasto”, conta Hilgenberg. Outro diferencial dos agricultores é a aquisição antecipada de insumos e o uso de recursos como a fixação de preços para venda da produção. “No fim das contas, é a análise econômico-financeira que vai dizer se você acha que está indo bem ou se realmente está registrando um bom desempenho no campo”, diz Cruz. Quero chegar lá s resultados de Cruz e Hilgenberg inspiram outros produtores, como o mato-grossense Pau-

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com um nível de umidade mínima do ar).

As cultivares recordistas são testadas em safras anteriores e têm sinergia com a região de plantio, com base em aspectos como duração do ciclo, temperatura, altitude e regime de chuvas. O plantio é feito em baixa velocidade e a população de plantas é elevada.

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Foto: Claudio Gatti e Arquivo pessoal

“Ainda se espera um salto na produtividade apenas em função da genética, mas há milhares de aspectos envolvidos. Não é como uma receita de bolo, que pode ser replicada igualmente por todos”

Adubação de base, correções de desequilíbrios e cultivos que garantam a cobertura do solo são práticas constantes nas áreas recordistas em produtividade. Análises de solo constantes norteiam as medidas que serão colocadas em prática. Cultivos como trigo, aveia e milho precedem o plantio da oleaginosa no verão.

“É preciso usar tecnologia, acreditar que vai chegar lá e gostar do que faz. Mais do que um ganho pessoal, alta produtividade tem que servir de exemplo para outros agricultores irem além” Cecília Barros de Melo Falavigna,

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CONDIÇÕES CLIMÁTICAS

Nenhum dos atributos acima gera resultados se o clima não ajudar. Boas condições de luminosidade, um regime adequado de chuvas e o plantio dentro da janela ideal permitem a expressão do potencial máximo da tecnologia de cultivo.

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MENSURAÇÃO DOS RESULTADOS

Uma boa produtividade também deve significar resultado econômico positivo. Isso exige um acompanhamento estrito dos custos de produção e uma gestão adequada dos riscos, com a compra antecipada de insumos e a fixação de preços de venda antes da colheita.

FONTE: SOJICULTORES ENTREVISTADOS PELA SUCCESSFUL FARMING E DADOS DO CESB

lo Ambiel. Ele busca informações sobre as estratégias dos campeões para aperfeiçoar a própria produção. Na Fazenda São Francisco, com 2.040 hectares dedicados ao grão em Brianorte (MT), Ambiel já atingiu picos de 72 sacas de soja por hectare. A meta é conseguir uma média de 60 sacas por hectare. “Ainda é cedo para fazer previsões, mas até agora as lavouras têm se desenvolvido bem”, diz. Mesmo quem já atinge produtividade acima da média segue buscando evolução. É o caso da produtora Cecília Falavigna, que planta mais de 700 hectares de soja na Fazenda Santa Ana, em Floraí (PR). Ela registrou uma média de 79,9 sacas por hectare na safra 2014/2015 e venceu o desafio de produtividade da cooperativa à qual é associada (Cocamar). “O mundo continua precisando de alimentos, portanto é nossa obrigação continuar produzindo mais e melhor, inspirando outros agricultores a fazerem o mesmo”, diz a produtora. sfagro.com.br | Successful Farming Brasil 59


PARA AUMENTAR A PROTEÍNA NA DIETA DA BEZERRA, OS PERRIER DÃO UM SUPLEMENTO DE PASTAGEM EM CUBO COM 20% DE PROTEÍNA TRÊS VEZES POR SEMANA, A UMA TAXA DE 900 GRAMAS POR CABEÇA POR DIA

M A N E J O DA FAZENDA

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“Depois do desmame, as filhotes entram em um pasto de capim empilhado, nativo, de estação quente que ficou sem uso”, conta Perrier. “Elas pastam enquanto o capim aguentar e, às vezes, ele dura até o fim de março ou começo de abril.” Nos Estados Unidos, para aumentar a proteína na dieta, os Perrier dão um suplemento de pastagem em cubo com 20% de proteína três vezes por semana, a uma taxa de 900 gramas por cabeça por dia.

DESENVOLVA NOVILHAS COM FORRAGEM

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NOVILHAS DE REPOSIÇÃO ALIMENTADAS COM FORRAGEM SÃO FÉRTEIS E TÊM BOM CUSTO Por Raylene Nickel

Novilhas desenvolvidas em um plano de baixa nutrição crescem e ganham corpo 60 Successful Farming Brasil | sfagro.com.br

mento com forragens baratas e de qualidade razoável”, explica Perrier. “Embora a nutrição das novilhas tenha caído um pouco, ganhamos alguns pontos percentuais na taxa de prenhez de novilhas de 1 ano. Conseguimos fazer isso embora tenhamos encurtado a temporada de procriação em cerca de 30 dias.” Os Perrier retêm as 75% melhores crias das novilhas, lidando com elas em grupos nascidos na primavera e no outono. No total, desenvolverão de 150 a 175 novilhas. “Depois da procriação, abatemos de 10% a 30% das novilhas, dependendo do crescimento da grama, necessidades do rebanho e condições de comercialização”, diz. passo a passo á seis processos que os Perrier usam para orientar o desenvolvimento das novilhas até elas chegarem a 1 ano acasaladas.

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DESMAME COM BAIXO ESTRESSE

Filhotes nascidas em fevereiro e março são desmamadas no fim de setembro ou começo de outubro. O peso de desmame ajustado em 205 dias é de cerca de 260 quilos. Filhotes desmamadas são colocadas em um pasto do outro lado da cerca das mães. O período de desmame dura de duas a três semanas.

Foto: Dalebanks Angus Ranch

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limentar novilhas de reposição férteis e, ao mesmo tempo, reduzir os custos de insumo é uma meta na Dalebanks Angus em Eureka, Kansas, nos Estados Unidos. “Desenvolvemos nossas novilhas de reposição com um custo de produção de baixo a moderado”, diz Matt Perrier, proprietário e gerente de uma operação puro-sangue com a esposa, Amy, e os pais, Tom e Carolyn Perrier. “Ainda assim, também queremos que novilhas com a alta fertilidade necessária fiquem prenhas no começo da temporada de procriação”, afirma. “Para nossas reposições, queremos encontrar as novilhas mais reprodutivamente eficientes e deixar a natureza ajudar na escolha delas.” Há três anos, a família começou a usar estratégias de baixo custo e baixa energia de desenvolvimento de novilhas elaboradas na Universidade do Nebraska. Começaram a invernar novilhas desmamadas ao alimentá-las com grama empilhada. Além disso, encurtaram a temporada de procriação para novilhas com 1 ano. “Retemos mais crias de novilhas do que precisamos e, então, as deixamos resistentes durante a fase de desenvolvi-

PASTAGEM NO OUTONO E INVERNO

PROCRIAÇÃO EM CONFINAMENTO

Cerca de 45 dias antes do acasalamento, as novilhas são levadas para um confinamento, onde é mais fácil de lidar com elas na fase de IA da temporada de gestação. As novilhas recebem uma ração formada por silagem de milho, feno moído e palha de trigo, uma pequena quantidade de grãos em rolo e suplemento proteico. “Enquanto as novilhas ainda estão no pasto, começamos a alimentá-las com a ração do confinamento para que possam se adaptar a ele”, conta Perrier. “Então, elas recebem essa ração no confinamento por cerca de 30 a 45 dias durante o período de sincronização e IA.” As novilhas chegam a 340 quilos no início da temporada de cruzamento. Esse peso é cerca de 66% de seu tamanho na maturidade. No entanto, em alguns anos as novilhas pesam de 50% a 60% de seu peso na maturidade. “Nossa meta é ter menos peso no início da estação de monta, mas garantimos que as novilhas ganhem cerca de 680 gramas por cabeça por semana durante toda essa temporada”, afirma Perrier. “Com certeza não queremos que fiquem gordas no início da temporada e depois estagnem ou percam condição ao longo dela.” Depois de sincronizar os estros nas novilhas, eles detectam o cio para determinar o momento da cobertura. Novilhas que não mostram estro recebem hormônio liberador de gonadotrofina e são inseminadas em um horário fixo. Depois de outra rodada de IA, touros de repasse são misturados às novilhas por 21 dias, o que forma uma estação de monta de cerca de 40 dias. Trinta dias depois da estação de monta, os Perrier testam o sangue das novilhas para determinar a prenhez. A taxa varia com as condições de alimentação e cobertura de cada ano. Normalmente, é de 85% a 95%.

“Nossa taxa de prenhez não é tão alta quanto poderia ser se os touros de repasse fossem deixados de 60 a 90 dias”, afirma Perrier. “Ainda assim, embora tenhamos encurtado a estação de monta, ganhamos alguns pontos percentuais na taxa de prenhez em comparação com a que tínhamos usando nosso programa tradicional para desenvolver e procriar novilhas.”

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RAÇÃO DE BAIXA ENERGIA

“Esse sistema de desenvolvimento de novilhas reduz os custos com alimentação, mas o principal motivo para começarmos a usá-lo foi para reduzir perdas de embriões, o que, claro, nos dá uma melhor taxa de concepção”, diz. “Quando animais estão em um bom plano de nutrição antes e durante a estação de monta e, então, passam para a pastagem nativa no outono ou áreas com pouco forragem no início da primavera, seus corpos alertam que a nutrição está caindo”, diz Perrier. “Para garantir a sobrevivência, às vezes abortam a prenhez. Por isso, evitamos a prática de dar uma ração de alta energia imediatamente antes da procriação e, depois, levar as novilhas para a pastagem seca.” Para reduzir diferenças nutricionais entre a ração do confinamento e o pasto, a família formula uma ração de alto volume e baixa energia para o confinamento. A palha dá a matéria seca necessária para estimular a produção de micróbios necessários para a digestão da forragem.

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CRESCIMENTO ESTÁVEL

Com o sistema de baixo custo e baixa energia de desenvolvimento de novilhas, o peso corporal no início da estação de monta é menor do que o das novilhas desenvolvidas sob o sistema anterior. “Nossas novilhas agora são de 68 a 90 quilos mais leves no início da estação de monta do que aquelas que recebiam ração mais energética”, diz. Novilhas alimentadas em um plano de baixa nutrição crescem e ganham corpo durante a estação de monta. “Quando testamos a gravidez em agosto, nossas novilhas acabam pesando o mesmo do que em nosso antigo sistema de gerenciamento”, afirma.

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COMERCIALIZAÇÃO DE NOVILHAS

Uma estação de monta mais curta e detecção inicial de não prenhes permite a comercialização em agosto, quando a demanda de currais de engorda por novilhas de 1 ano é forte. “O benefício geral desse sistema é que ele deixa a natureza encontrar as fêmeas que se saem bem reprodutivamente com nutrição limitada”, afirma Perrier. sfagro.com.br | Successful Farming Brasil 61


M A N E J O DA FAZENDA

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A FÓRMULA DE SUCESSO PARA A ALTA PRODUTIVIDADE DE LEITE CRIADOR DE VACAS HOLANDESAS CONSEGUE PRODUTIVIDADE DE 28 LITROS POR DIA COM ALIMENTAÇÃO DE PRIMEIRA E MELHORAMENTO GENÉTICO

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62 Successful Farming Brasil | sfagro.com.br

na Fazenda Cristalina, localizada em Palmeira (PR). O pecuarista, destemido e ambicioso, conta que espera avançar ainda mais em 2017 e atingir uma produtividade diária de 32 litros de leite por animal, com investimento em genética e boas práticas de manejo. Ele representa a terceira geração da família Krüger, uma família de origem europeia que tradicionalmente aposta na pecuária leiteira. Com 100 hectares e 80 animais da raça holandesa em período de lactação, a produção de leite chega a 2.200 litros diários na Fazenda Cristalina. Além desses animais, há também nove vacas secas, 12 novilhas prenhas, oito vacas para inseminação e 40 novilhas com idade inferior a 1 ano. Segundo o produtor, a fórmula de sucesso na pecuária leiteira é a soma de três fatores: alimentação, manejo e genética. “Não adianta ter a melhor vaca do mundo se não tiver comida. A genética vai responder na produção através da alimentação”, afirma o pecuarista.

Foto: Shutterstock

Por Naiara Araújo

Brasil é um dos principais players globais na produção de grãos, carnes, entre outros produtos. Mas ainda engatinha quando o assunto é a pecuária leiteira. Enquanto os vizinhos Argentina e Uruguai registram uma produtividade média de 12 litros por vaca por dia e alguns países europeus ultrapassam 18 litros por vaca por dia, o Brasil apresenta a vexatória produtividade média de 4,4 litros de leite por animal, segundo o último levantamento do IBGE. Felizmente, esse número não vale para todos. Produtores brasileiros dispostos a bater as próprias metas conseguem resultados extraordinários, até seis vezes maiores que a média nacional. Esses casos inspiram e provam que o Brasil tem um grande potencial de crescimento na produção de leite. Entre os campeões de boas práticas na fazenda está o paranaense Egon Krüger, que registra uma produtividade média de 28 litros de leite por vaca

vaca gosta de rotina fazenda foi planejada para atender todas as necessidades das vacas holandesas em período de lactação. Durante a manhã, elas ficam livres no pasto de aveia e azevém, enquanto os dois funcionários da fazenda limpam o barracão e preparam a ração balanceada. Os principais ingredientes são a silagem de milho, de aveia e de azevém, aditivos e sais minerais. O alimento é picado e servido aos animais, que ficam confinados quando saem do pasto, após o meio-dia. “Cortamos o capim e a silagem em 3 ou 4 centímetros, porque tudo que for maior que a boca da vaca ela seleciona, e antes a gente tinha bastante desperdício.” Segundo Krüger, um diferencial de sua fazenda é a utilização de uma misturadora, que garante oferecer aos animais uma ração mais homogênea, o que eleva a eficiência do consumo. O produtor conta que, após a aquisição do equipamento, em 2009, a produtividade aumentou cerca de 3 litros diários por vaca. “O que melhorou foi a mistura de todos os ingredientes para a vaca não ficar selecionando o que come”, diz o pecuarista. Segundo ele, o investimento para a aquisição da misturadora, de R$ 78 mil, valeu a pena. “A misturadora se pagou sozinha com o aumento da produtividade”, conta Krüger. Cada animal come, em média, 5 quilos de ração. Mas os valores podem variar de acordo com a produção de leite. “Quanto mais leite produzir, mais ração balanceada o animal recebe”, diz o produtor. Outro detalhe de ouro para garantir a boa produtividade é seguir a rotina à risca. Os horários das ordenhas, sempre às 4h30 e às 16h30, são respeitados com devoção. “A vaca gosta de rotina”, conta Krüger. “Quanto maior a rotina, tudo sempre do mesmo jeito, tudo no mesmo local, melhor para o bem-estar da vaca.”

Não adianta ter a melhor vaca do mundo se não tiver comida. A genética vai responder na produção através da alimentação” pecuarista Egon Krüger

Como cortar custos? esde 2015 o setor do leite enfrenta uma crise motivada por problemas climáticos e aumento no custo da ração animal. Muitas regiões produtoras sofreram com uma seca severa que prejudicou as pastagens. Com isso, os animais tiveram a alimentação comprometida e registraram menor produção de leite. Outro problema relacionado à alimentação dos animais foi o aumento no preço da ração, que tem como principais ingredientes a soja e o milho. Como a seca também prejudicou a produção desses grãos, os preços ficaram altos e afetaram os custos de produção do leite. Com produtividade acima da média, o cenário desfavorável para a produção de leite não inviabilizou o negócio de Krüger. Porém, mesmo assim, ele conta que entre outubro de 2015 e março de 2016 as contas da fazenda fecharam no vermelho e ele precisou se desdobrar para reestruturar o negócio. Com a quebra da safra de milho e aumento dos preços do produto que é o principal insumo da ração, a despesa com a alimentação dos animais disparou. “O preço do milho mais que dobrou, a saca foi de R$ 20 para R$ 60”, diz Krüger. O custo de produção por litro de leite subiu de R$ 1 para R$ 1,34 e a indústria pagou menos do que o valor que os produtores esperavam. “O preço

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da ração vai ficar assim até a próxima safra e até janeiro vai ser muito difícil baixar os custos de produção”, afirma Krüger. Mesmo nesse cenário desafiador e com margens apertadas, o produtor diz que não há condições de reduzir os custos com alimentação. “A gente acabou bancando os custos de produção. Se você mudar a dieta dos animais para algo inferior, depois é muito difícil voltar para a mesma produção”, afirma o produtor. Por isso, ele precisou encontrar um caminho alternativo para enxugar as contas, como economizar na compra de produtos de limpeza para a sala de ordenha. “Antes eu comprava produtos de primeira linha e agora fomos para a segunda linha, com marcas não tão expressivas, mas com produtos bons.” O produtor defende que uma forma de garantir uma produção leiteira competitiva é produzindo silagem na fazenda. “É a silagem mais barata que a gente consegue”, diz Krüger. Segundo o produtor, a silagem é comercializada por cerca de R$ 300 a tonelada em Palmeira. Com a silagem que é produzida na Fazenda Cristalina, o custo de produção varia entre R$ 80 e R$ 90 por tonelada e a economia com a compra de silagem chega a 70%. Outra estratégia para cortar custos é virar agricultor. Krüger se prepara para plantar 40 hectares de milho e 20 hectares com soja na safra de verão 2016/2017. Os grãos serão usados para alimentar as vacas na fazenda e para produzir silagem. Além disso, o excedente da produção de grãos será comercializado. Apesar das dificuldades que impactaram o mercado de leite, o produtor mantém o otimismo. “A produção de leite tem muitos altos e baixos, mas nos sustenta e é o que a gente sabe fazer da melhor maneira possível”, diz Krüger. Atualmente, ele produz 2.200 litros de leite diariamente e recebe, em média, R$ 1,44 por litro, mais de R$ 3 mil por dia. sfagro.com.br | Successful Farming Brasil 63


Boas práticas na pecuária leiteira om desempenho do rebanho leiteiro exige a adoção de boas práticas na atividade, como cuidados com higiene, manejo adequado, treinamento dos funcionários, gestão na aplicação de medicamentos e controle de doenças, entre outros detalhes. As boas práticas na fazenda ajudam a evitar a mastite, uma doença causada pela inflamação das glândulas mamárias das vacas que é um dos principais problemas que prejudicam a produção brasileira de leite. “A gente tenta

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das mais diversas formas controlar a mastite, mas uma ou outra vaca sempre tem a doença”, diz Krüger. De acordo com Roberta Züge, médica veterinária e conselheira no Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS), o produtor de leite deve buscar garantir um ambiente sem riscos de contaminação e não deixar a área de produção com lama ou esterco, por exemplo. “Com a mastite, a composição do leite fica diferente, o animal produz menos e o produtor recebe menos. Mas, se o produtor fizer corretamente o manejo, ele evita perdas com a doença”, diz Roberta. Além de ser prejudicial para a saúde das vacas leiteiras, a mastite interfere direta-

Melhoramento Genético rüger também investe pesado no melhoramento genético da raça holandesa e acredita que esse é um dos principais caminhos para aumentar a produção leiteira. Segundo Krüger, o principal erro de muitos pecuaristas é a falta de cuidados com a qualidade do produto. “A maioria dos produtores quer só tirar leite. Alguns não cuidam da higiene dos animais e querem receber o mesmo preço de quem investe”, afirma o produtor. Além do lucro com a produção de leite, ele também comercializa

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BOAS PRÁTICAS NA ORDENHA

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pr átic as

CUÁRIA LEITEIRA

PARA APRIMORAR A PE

leiteiro, ter genética para leite e fazer com que o produtor invista na prática”, diz Roberta.

A higiene das pessoas que lidam com o rebanho e também do ambiente é muito importante e evita a mastite. Outra questão em relação à ordenha são os horários. Segundo a médica veterinária, é necessário realizar a ordenha o mais cedo possível, de preferência todos os dias na mesma hora. Essa padronização é importante para o bem-estar do animal.

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SEGURANÇA DO TRABALHADOR

É necessário reforçar a importância do uso de equipamentos de proteção individual, com capacetes, luvas, botas e chapéu. Segundo Roberta, é importante treinar os funcionários para armazenar corretamente remédios e produtos químicos.

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CUIDADOS COM OS MEDICAMENTOS

A aplicação de medicamentos deve receber atenção nas propriedades rurais. Segundo Roberta, é necessário controlar quais medicamentos foram aplicados, em quais animais e o período de carência.

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5

ALIMENTAÇÃO DOS ANIMAIS

Se a silagem não for produzida corretamente, ela fica com aflatoxinas, o que prejudica muito a fêmea, aumenta o risco de aborto e diminui a produtividade da vaca. A substância também é secretada com o leite. Segundo Roberta, quando esse leite passa por testes, o produto vale menos e a rentabilidade do produtor é reduzida.

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GESTÃO NA PECUÁRIA LEITEIRA

Aprimorar a gestão da propriedade é uma questão de sobrevivência. Mais de 50% da produção nacional de leite vem da agricultura familiar. Em muitos casos, esses pequenos produtores não fazem uma boa gestão do negócio. O produtor precisa saber qual é a sua produção diária, a produtividade do rebanho, o tempo gasto com a ordenha e o custo que tem com cada animal.

AUMENTE A PRODUTIVIDADE

O Brasil tem exemplos de excelência na produção de leite. Segundo a médica veterinária, o que falta é aplicar as informações no campo para produzir melhor. “A gente precisa é investir no gado

K

Foto: Arquivo Pessoal/ CCAS

O produtor Egon Krüger e o seu rebanho na Fazenda Cristalina, em Palmeira (PR)

mente na qualidade do leite. Segundo Roberta, o leite apresenta teor de gordura de cerca de 3,7%. No caso de uma vaca com mastite, o leite produzido tem teor de gordura inferior, de 3,1%. O teor de lactose também pode cair, de 4,9% para 4,2%. As taxas de proteína, sódio, cloreto e cálcio do leite também são prejudicadas pela inflamação mamária. É difícil controlar doenças como a mastite. Mas o caso de Krüger prova que organização na fazenda é a melhor saída para minimizar esse tipo de problema. Desde 2008, a ordenha na Fazenda Cristalina conta com um sistema automatizado que promove o registro de todos os dados do rebanho. As vacas usam um tipo de tornozeleira eletrônica que faz um completo acompanhamento do animal. Na sala de ordenha, a tornozeleira informa ao sistema a idade do animal, a distância que a vaca percorreu, quanto tempo dormiu, o período do cio, aumento de células somáticas, febre e até prevê a incidência de mastite. Segundo o produtor, o segredo do sucesso na pecuária leiteira é ter total controle da atividade. “Com boas práticas, temos mais controle sobre o que acontece com os animais e reduzimos os custos de estoque de remédios”, conta Krüger.

de 12 a 20 reprodutores por ano, com preços entre R$ 1.400 e R$ 1.500. “Sempre tem procura por animais melhorados”, conta o paranaense. O produtor acredita que, para a pecuária de corte, o melhoramento genético é uma ferramenta popular, mas para a produção de leite ainda precisa conquistar mais espaço. “Acho

ROBERTA ZÜGE,

MÉDICA VETERINÁRIA E CONSELHEIRA DO CCAS

que a genética para a produção de leite vai evoluir de forma rápida. Quando os produtores investirem mais na alimentação, a genética vai se acentuar muito”, afirma o produtor. As principais características genéticas que os pecuaristas buscam estão relacionadas ao volume de leite produzido, características que

garantam um parto menos traumático e também a altura dos úberes. “Estamos produzindo touro com genoma e o cliente sabe o que está comprando, sabe as características hereditárias”, diz Krüger. “O criador vai ter um animal mais produtivo, que vai ficar mais tempo no rebanho e, consequentemente, vai ter mais lucro com ele.” sfagro.com.br | Successful Farming Brasil 65


M A N E J O DA FAZENDA

á menos de uma década, o investimento de Jeff Brown em tecnologia estava abaixo da média. “Eu tinha ficado para trás”, diz o fazendeiro de Blue Mound, em Illinois, nos Estados Unidos. “Não conseguia entender dados e tomar decisões informadas.” Nos últimos cinco anos, ele aprimorou a operação da fazenda da família, ao fazer um investimento considerável em tecnologia para lhe ajudar a entender melhor o que os seus 890 hectares de milho e soja estão tentando lhe dizer. “Há uma história em cada campo. Cabe a mim descobrir o que aquela planta está dizendo e como responderei”, afirma Brown. “Todo ano, tento melhorar minha operação com novas tecnologias e isso se tornou uma presença fixa no meu orçamento. Há tantas ferramentas inovadoras chegando ao mercado que é fácil se empolgar e querer todos esses brinquedos eletrônicos divertidos. Mas o essencial é determinar como utilizarei uma tecnologia. O investimento precisa compensar. ”

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Todas essas tecnologias combinadas maximizam o retorno de seu investimento. “Posso pulverizar os grãos durante o dia e então passar Y-Drop no milho à noite se o tempo não colaborar”, conta. “Se os pés de milho estiverem estressados pelo calor, gosto de aplicar fungicida tarde da noite para que as plantas abram e absorvam mais produto. Sem essa tecnologia, eu teria de parar ao anoitecer e esperar até a manhã. Com a tecnologia de precisão, meu pulverizador pode continuar percorrendo a lavoura.” Brown diz que usará o pulverizador por três anos e então trocará por um novo para ter a mais recente tecnologia e uma máquina confiável. Esse é o terceiro pulverizador Hagie dos sócios. “Nos últimos anos, vi uma tendência de produtores comprarem pulverizadores novos e usados”, afirma John Fulton, professor associado da Ohio State University. “Muitos colheram

gestão de INSUMOS ma área na qual ele está focado é a aplicação de químicos e fertilizantes. Brown quer garantir que cada gota aplicada por seu pulverizador Hagie STS (do qual ele é dono junto com um sócio) chegue quando e onde é mais necessária. “Desligamentos automáticos me ajudaram a usar menos substâncias químicas devido a menos sobreposição e, assim, evitar danos à lavoura”, explica. “Com o mapeamento, sei com certeza que cobri aquela área e nada ficou faltando. Normalmente, salvo um acre ou dois em cada campo, mas isso depende de quantos ângulos o formam. É claramente uma ferramenta que economiza custos e que não posso deixar de ter.” Ele conta que pode percorrer mais horas sem estresse e nenhuma sobreposição de aplicação. “Faço muito trabalho noturno com produtos químicos pré-plantação quando os ventos estão calmos e antes da chegada da ferramenta de preparo e da plantadora na manhã seguinte.”

Há uma história em cada campo. Cabe a mim descobrir o que aquela planta está dizendo e como responderei”

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Jeff Brown, produtor de milho

mais nos últimos anos. Ter a capacidade de fazer essas aplicações no momento oportuno realmente ajudou a impulsionar essa tendência. Mais de 80% desses pulverizadores utilizam tecnologia agrícola de precisão.” Com um preço salgado, a compra com um sócio fez sentido. “Tenho de percorrer muitos hectares para justificar uma máquina que custa US$ 300 mil”, diz Brown. Segundo ele, somando a sua * Com base em US$ 3,50 por bushel ** base Úmida (bu)

ESTUDO DA POPULAÇÃO DE PLANTAS EM 2014

$ 175

$ 158

Foto: Divulgação

Custo das sementes/acre

Custo das sementes/acre

289,4

BU das sementes/acre

$ 36 Lucro/acre

289,4

BU das sementes/acre

$ 12 Lucro/acre

$ 142

Custo das sementes/ acre

264,6

BU das sementes/acre

$0

Lucro/acre sfagro.com.br | Successful Farming Brasil 67


FUNGICIDA

SEM FUNGICIDA

BUSHELS/ACRE % UMIDADE

BUSHELS/ACRE % UMIDADE

310,3 310+690 21+79 21% 307,6 307+693 20+80 20,7% 308,8 308+692 20+80 20,8% 307,3 307+693 21+79 20,9% 309,3 309+691 20+80 20,8% 307,4 307+693 21+79 21%

287,7 287+713 21+79 19,2% 288,1 288+712 20+80 18,7% 287 287+713 21+79 18,2% 288,9 288+712 21+79 19% 286,4 288+714 21+79 19,1% 287,9 287+713 21+79 19,1%

ESTUDO DO USO DE NITROGÊNIO PRIMAVERA + PPI BUSHELS/ACRE % UMIDADE

278,6 278+722 16+84 16,6% 268,3 268+732 = 16+84 16,5% 288,2 288+712 = 16+84 16,8% 307,3 285+715 = 16+84 16,8%

PRIMAVERA + PPI + APLICAÇÃO NO FINAL BUSHELS/ACRE % UMIDADE

284,2 284+716 16+84 16,6% 278,6 278+722 16+84 16,6% 294,6 294+706 17+83 17,2% 292,3 292+708 16+84 16,6%

lavoura com a do sócio, há área suficiente para fazer o investimento valer a pena. Como as margens de lucro da produção de grãos nos Estados Unidos continuam estreitas, Brown sabe que fazer uma maior interseção entre economia e agronomia é 68 Successful Farming Brasil | sfagro.com.br

uma prioridade. “A principal forma de diminuir custos é aumentar rendimentos”, afirma. Para Brown, isso significa preparar lotes para testar teorias sobre o que o campo está tentando dizer. A forma como o campo responde à semente quando ela está no solo conta uma história poderosa. “Cada semente tem o mesmo potencial. Quero obter o máximo de benefício dessa genética”, afirma Brown. “Coloquei fileiras de teste em cada lote em 2014 para aprender como os híbridos reagiriam.” O QUE ELE OUVIU? aior produtividade é sinônimo de maior lucro. “Em 2014, obtive 350 bushels por acre [366 sacas por hectare] em meu lote NCGA, o que foi um recorde para o estado de Illinois”, diz Brown. Maximizar o potencial da semente significa empregar a tecnologia em seu pulverizador para colocar fungicida e nitrogênio quando e onde a planta precisa mais. “Com os testes, quis determinar se o fungicida era lucrativo”, explica. De acordo com os resultados dos testes realizados pelo produtor (veja infográfico à esquerda), há uma diferença de 20,8 bushels por acre em trechos de 400 metros de comprimento por 24 fileiras de largura. “Posso entender a vantagem clara de usar fungicida em um ano sem a presença de doenças”, afirma Brown. “Tive rendimentos fantásticos, para começar, e teria ficado feliz sem fungicida. Pelos US$ 25 a US$ 30 a mais por acre, o fungicida aumentou o rendimento em

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20 bushels de milho. Os resultados puderam me dar dados para respaldar a aplicação de fungicida mais cedo, além da decisão de aplicar ou não.” QUANDO APLICAR NITROGÊNIO? ão há dúvida de que o nitrogênio tem um papel importante na produção da lavoura, além de ser um insumo investigado atentamente devido ao seu impacto no meio ambiente. Tecnologias como taxa variável são essenciais para ajudar a avaliar como melhorar a eficiência no uso de nitrogênio. “Vario minha taxa dependendo do ambiente de cultivo”, diz. “Por exemplo, em 2012, economizei US$ 70 mil ao não fazer aplicação tardia de nitrogênio por causa da seca. Hoje, tento vigiar o que faço. Quando tenho um bom ambiente de cultivo, boa população e bons níveis de umidade, quero colocar o nitrogênio no momento certo e no lugar certo para aumentar a rentabilidade.” Segundo o produtor, é preciso ter um bom plano de gestão de nutrientes. “Tenho de analisar dados que me mostrem do que mais aquela planta precisa. Então, poderei responder ao que ela está me dizendo”, afirma. “Sempre fiquei intrigado com a aplicação de nitrogênio no fim da estação. Depois de olhar o gráfico de utilização de nitrogênio no milho, é muito fácil determinar que preciso colocar meu nitrogênio no V10”, diz. Segundo John Fulton, a aplicação do meio ao final da safra é vantajosa. “Nas áreas boas, podemos en-

NUTRIENTES APLICADOS COM PRECISÃO

tecnologia 360 Y-Drop, da empresa 360 Yield Center, permite que Jeff Brown aplique nitrogênio na base do talo quando e onde necessário para capturar mais potencial de rendimento. A um custo de US$ 18 mil para uma configuração de 24 fileiras e 18 metros, Brown viu o retorno do investimento na primeira safra. “Em 2015, tive um talhão que rendeu 230 bushels por acre com apenas 140 lb de nitrogênio, o que é 0,6 lb de nitrogênio por bushel”, explica. “Há alguns anos, especialistas da universidade recomendavam 1,2 lb de nitrogênio por bushel”, diz.

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tregar o produto quando a lavoura exige e levá-la à sua lucratividade máxima. Uma abordagem de aplicação dividida deixa um produtor aplicar nitrogênio aos poucos no milho.” A aplicação dividida de nitrogênio é um tópico quente no momento, mas ainda é mal compreendido. “Um conceito errôneo sobre essa prática é o que ela coloca mais nitrogênio em um campo, em vez de olhar para um programa de, na verdade, usar menos nitrogênio e aplicá-lo à medida que a lavoura precisa”, diz Brad Wirth, gerente de ven-

Foto: 360 Yield Center

ESTUDO DE USO DE FUNGICIDAS EM 2014

das territoriais da Hagie Manufacturing. Isso significa uma redução da quantidade aplicada inicialmente e o uso do restante mais tarde durante a safra. “Gosto de ver da metade a dois terços no começo e da metade a um terço no final. Assim, há nitrogênio suficiente para finalizar a lavoura e maximizar o rendimento”, Wirth explica. Como não tem irrigação circular, Brown diz que tem de incorporar tecnologia como o Y-Drop (leia mais no quadro acima) em seu pulverizador. “O Y-Drop me dá uma chance de colocar

A única coisa que você precisa lembrar é que o controle do nitrogênio é anual. Quando olhamos para a aplicação do meio para o final da estação, entre as fases V8 e VT, nossa pesquisa sugere que você verá uma resposta de seis a oito em cada 10 anos” John Fulton, professor associado da Ohio State University

nitrogênio bem perto da fileira e aumentar a capacidade de disponibilização desse nutriente para a lavoura de milho”, conta Brown. Fulton concorda que o Y-Drop pode ter um papel crucial em atender a entrega de nitrogênio do meio ao final da estação, mas faz um alerta. “A única coisa que você precisa lembrar é que o controle do nitrogênio é anual. Quando olhamos para a aplicação do meio para o final da estação, entre as fases V8 e VT, nossa pesquisa sugere que você verá uma resposta de seis a oito em cada dez anos. Acho que há muito benefício e potencial de lucro na aplicação de fim de safra, mas você tem de lembrar que cada safra é diferente”, diz o pesquisador. PERCEPÇÃO DO PÚBLICO m grande mal-entendido sobre a agricultura é que os fazendeiros despejam milhares de quilos de produtos químicos em suas lavouras. Brown diz que não há incentivo para tal ponto de vista do lucro. “A quantidade modesta de fertilizantes e produtos químicos que uso nos meus campos provavelmente chocaria muita gente da cidade”, afirma. É preciso ajudar os consumidores a entender isso. “Um dos grandes desafios que os produtores enfrentarão são as regulações por vir”, afirma Wirth. “Já estamos começando a ver isso acontecer em diferentes partes dos EUA. A questão será a redução de nitrogênio, melhor aplicação, período de aplicação e administração da terra.” Escutar atentamente o que suas lavouras estão dizendo coloca Brown na vanguarda se as regulações forem implementadas. “Ao tentar novas tecnologias e diferentes métodos, estarei posicionado para lidar melhor com o que o futuro trouxer.

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sfagro.com.br | Successful Farming Brasil 69


M A N E J O DA FAZENDA

da plantadeira ou colheitadeira para a adubadeira”, conta Greenfield. “Ter a capacidade de espalhar adubo em taxa variável só me custou US$ 3 mil, para acrescentar uma válvula de vazão e um sensor de velocidade. Poder obter o máximo da tecnologia quando não tenho dinheiro extra para gastar em um sistema inteiro é uma estratégia inteligente.”

QUANDO COMPARADO COM FERTILIZANTE MAIS CONVENCIONAL, O ESTERCO APLICADO ADEQUADAMENTE NA TERRA TEM POTENCIAL DE DAR DIVERSOS BENEFÍCIOS AMBIENTAIS

ENTENDER os números mbora Greenfield esteja no primeiro ano de variar a quantidade de esterco sendo aplicada em seus campos, as primeiras estimativas mostram um retorno impressionante sobre o investimento. “Meus custos anuais de P e K são de quase US$ 60 mil para meus acres de milho e soja”, afirma Greenfield. “Ao espalhar esterco em taxa variável, conseguirei economizar cerca de US$ 30 mil no campo de milho e US$ 26 mil no de soja. Meu retorno sobre o investimento em uma tecnologia que só me custou US$ 3 mil é tremendo.” Como bônus, essa quantia nem inclui as economias que ele terá com nitrogênio. “Vai me custar US$ 43 por acre comprar nitrogênio comercialmente neste ano”, calcula Greenfield. “Meu custo foi de US$ 150 por acre para menos de US$ 50 por acre por causa da forma como aplico o esterco.” “Ao mesmo tempo, ele ainda está pressionando pelos

rendimentos”, acrescenta Bruns. Para conseguir isso, Bruns avalia atentamente mapas e metas de rendimento e tira amostras de solo em grades de 2,5 acres. “Também vejo o amplo histórico de dados de rendimento de Jon para determinar o potencial de cada campo e uso isso como guia”, afirma Bruns. “Utilizamos muitas metas de rendimento variável na equação porque seus solos bastante argilosos podem produzir de 80 a 220 bushels no mesmo campo.” Calcular corretamente a taxa de esterco por acre começa com saber seu valor em nutrientes (veja “Teste o Esterco” à direita). “Obtemos amostras de esterco pelo menos duas a três vezes por ano e tratamos esse esterco como trataríamos um crédito inicial”, compara Bruns. Com base em todas essas informações, mapas de prescrição são desenvolvidos para acomodar seu solo variável. “Tenho um campo que recebe zero esterco em uma área e 12 toneladas

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ECONOMIZE DINHEIRO COM O ESTERCO APLICAR MATÉRIA ORGÂNICA DE FORMA PRECISA NO SOLO REDUZ OS CUSTOS COM FERTILIZANTES

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s quase 8.500 toneladas de esterco que as mil cabeças de gado Black Angus de Jon Greenfield produzem anualmente são um nutriente valioso para suas lavouras. O ouro marrom não apenas contém nitrogênio, fósforo, potássio e outros nutrientes mas também acrescenta matéria orgânica ao solo. Por sua vez, isso pode corrigir a estrutura, aeração, capacidade de retenção de umidade e infiltração de água do solo. “Um liquidador de seguros local disse várias vezes que sabe se os produtores têm gado ou não ao olhar para o histórico de produção real de seus campos”, conta Paul Bruns, consultor em agricultura de precisão. “Em média, o rendimento deles é 10% superior ao do produtor de grãos sem esterco de gado para aplicar nos campos. Há muito benefício em potencial com o esterco.” Há anos, Greenfield, que cultiva 1.400 acres (566,5 hectares) de milho e soja em Balaton, Minnesota, vem aplicando uma taxa fixa de esterco em seus campos. “Quando Paul e eu começamos a olhar os testes de solo e as recomendações de nutriente, fiquei impressionado com quanto esterco eu estava subutilizando”, diz. Com a ajuda de Bruns, dono da Precision Consulting Services em Canby, Greenfield encontrou 70 Successful Farming Brasil | sfagro.com.br

uma maneira de combinar a tecnologia que já estava usando na produção da lavoura para aplicar precisamente as oito cargas de esterco que coleta semanalmente, o que totaliza 32 mil libras. “A ideia para esterco de taxa variável começou quando fizemos um pouco de cal em taxa variável”, afirma Bruns. “Até cinco ou seis anos atrás, se você colocasse cal na terra no sudoeste de Minnesota, a maioria das pessoas te achava louco, porque há alta quantidade de carbonatos de cálcio no solo.” Entretanto, pode haver uma ampla variedade de níveis de pH em qualquer campo. Quando a amostragem em grade do solo do terreno foi feita, a ficha realmente caiu. “O pH vai de 4,7 a 8,4 no mesmo campo de 80 acres”, explica Bruns. “O cal de taxa variável acabou se tornando uma das compensações mais rápidas em comparação com uma taxa fixa.” Trabalhando com um técnico para configurar a aplicação de cal em taxa variável, Bruns percebeu que tinha a mesma adubadeira Artex que Greenfield queria comprar. “Aquilo me fez perceber que poderíamos fazer isso para o adubo de forma igualmente fácil”, diz Bruns. “A melhor parte foi que eu já tinha o monitor Integra da Ag Leader, que pode ser levado facilmente

Foto: kivitimof, iStockphoto.com/ David Ekstrom

Por Laurie Berdord

em outra”, conta Greenfield. Uma balança na adubadeira também verifica quanto está sendo distribuído em cada campo. “Sei exatamente o que estou aplicando e onde. Se há alguma dúvida e preciso voltar e olhar os registros, posso facilmente fazer isso”, diz. Como o esterco está sendo colocado muito precisamente, ele pode ter outro benefício. “Depois do próximo ano, posso ter esterco extra para vender”, afirma Greenfield. Cada tonelada vale, no mínimo, US$ 11. “A tecnologia como esterco em taxa variável vai me render dinheiro nos bons momentos e me manter cultivando nos tempos difíceis, especialmente quando posso pegar uma máquina que já tenho e usar para outra aplicação”, complementa.

TESTE O ESTERCO

ntes de aplicar o esterco, faça o teste. Estudos da Universidade de Minnesota (UMN) constataram que os valores de nutrientes para nitrogênio, fósforo e potássio variam 300% entre as fazendas. A maioria dos pecuaristas reconhece a importância do teste, mas menos da metade faz isso, estima Michael Schmitt, da UMN. “Testar o esterco é crucial no gerenciamento sólido de nutrientes, de uma perspectiva agronômica, econômica e ambiental”, afirma Schmitt. “A aplicação de precisão é uma ótima tecnologia, pois os nutrientes necessários variam em um campo. Se você não conhece a análise do esterco que está aplicando, isso diminui o valor da aplicação de taxa variável.”

A

o fazendeiro de Minnesota Jon Greenfield (à esquerda) trabalhou com Paul Bruns, da Precision Consulting Services, para elaborar um plano para usar o esterco com eficIência sfagro.com.br | Successful Farming Brasil 71


M A N E J O DA FAZENDA

SAIBA COMO RECUPERAR O RENDIMENTO PERDIDO AO MUDAR ESTAS SEIS PRÁTICAS Por Jessie Scott

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frase “Nosso Solo, Nossa Força” está gravada na entrada da fazenda Hammer and Kavazanjian Farms, propriedade rural do agricultor Charlie Hammer e de sua esposa, Nancy Kavazanjian, localizada em Beaver Dam, no estado de Wisconsin, nos Estados Unidos. “Estamos vendo maiores rendimentos pela qualidade do solo que estamos obtendo com todo o nosso sistema de gestão”, diz ele. A gestão cuidadosa inclui tráfego controlado e preparo do solo em faixas em sua rotação de milho e soja. Hammer também cultiva trigo em uma área da fazenda e está experimentando o plantio de culturas de cobertura. Hammer é o primeiro a admitir que esse estilo de cultivo exige gerenciamento extra. Brinca que está ficando velho demais para esse tipo de operação, mas continua nela porque percebe a importância da saúde do solo. “Estamos realmente orgulhosos de nosso solo e como o tratamos”, afirma. A abordagem de sistemas de Hammer à criação de solo saudável é bem-sucedida porque elimina muitas técnicas que danificam a estrutura do solo e, em vez disso, incorpora práticas positivas. A estrutura de solo é essencial para cultivar boas lavouras. Ela determina a capacidade do solo de reter água, nutrientes e ar, e a sua capacidade de infiltração. Ambas são necessárias para a atividade das raízes. “A estrutura do solo também é a principal defesa contra a compactação”, afirma Jodi DeJong-Hughes, educadora do programa de extensão da Universidade de Minnesota. Compactação do solo e produtividade á inúmeros estudos sobre o efeito da compactação do solo no rendimento das lavouras. Ainda assim, é difícil estimar as perdas causadas

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pela compactação porque os rendimentos variam bastante de acordo com os tipos de solo, rotações de culturas e condições climáticas. Randall Reeder, engenheiro agrônomo aposentado do programa de extensão da Ohio State University, fez pesquisas sobre compactação de solo por mais de 30 anos. De forma conservadora, Reeder estima que a maioria dos fazendeiros pode esperar perdas de 5% a 10% por causa da compactação. Entretanto, pesquisas demonstram que a perda de rendimento pode ser de até 55%. “Os produtores olham para esse número e dizem que não podem abrir mão de seu grande trator ou colheitadeira de grãos, então simplesmente aceitam a perda de rendimento”, diz Reeder. “Só que você não precisa aceitar. Se tem a opção de recorrer ao tráfego controlado, o sistema compensará com uma melhoria de 5% no rendimento ao eliminar a compactação.” O tráfego controlado não é a única maneira de resolver o problema. Veja a seguir seis maneiras em que é possível construir solos saudáveis mantendo a estrutura do solo e reduzindo a compactação.

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REDUZIR A LAVRAGEM

“Quanto mais você lavra, mais rompe a estrutura do solo”, explica DeJong-Hughes. “Quanto menos lavragem possível, melhor.” Por que a lavragem rompe a estrutura do solo? Você precisa ser um cientista de solo para entender a resposta completa, mas a resposta resumida é que ela oxida a matéria orgânica no solo. Isso destrói as raízes e a matéria orgânica ativa que dão porosidade ao solo, fazendo sua estrutura ruir e compactar. Em solos saudáveis, a parte porosa vai de 50% a 60%, enquanto que no solo compactado a porosidade fica reduzida entre 30% e 40%. sfagro.com.br | Successful Farming Brasil 73


A compactação É FACILMENTE IDENTIFICADA

Jodi DeJong-Hughes, da Universidade de Minnesota

Como parte de seu trabalho com o programa de extensão da Universidade de Minnesota, DeJong-Hughes visita fazendeiros e cava buracos no solo para examinar suas condições. “Toda vez que cavo um buraco nos campos dos produtores, eles sabem onde ficam aqueles pontos durante anos, porque são moles. Isso acontece porque a estrutura do solo foi destruída”, explica. “Nunca faço o buraco mais largo do que o trator, porque este afundaria. Isso mostra o quão importante é a estrutura do solo.”

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CONTROLAR O TRÁFEGO

Em um ano normal, um fazendeiro pode dirigir sobre até 90% da área da propriedade rural, segundo um estudo da Universidade do Nebraska. Além disso, quase 80% da compactação do solo ocorre na primeira pas74 Successful Farming Brasil | sfagro.com.br

A carreta de grãos é o problema seguinte. “Ela precisa percorrer a mesma pista que a colheitadeira percorreu na passagem anterior, então você precisa ter um trado suficientemente longo para alcançar a carreta de grãos”, diz Reeder. A lavragem pode ser difícil em um ambiente de tráfego controlado. A recomendação de Reeder é plantar diretamente. Se achar que precisa lavrar um pouco, o preparo do solo em faixas é uma solução viável. “Você também pode usar uma cultivadora de campo depois de remover os defletores que estariam nas esteiras”, diz Reeder. “Um dos principais motivos para os produtores fazerem a lavragem é eliminar a compactação”, diz. “Mas, se você não está mais compactando o solo, já eliminou esse motivo.”

Foto: Shutterstock/ Jodi DeJong-Hughes

Quanto mais você lavra, mais rompe a estrutura do solo”

sagem pela lavoura, de acordo com DeJong-Hughes. Essas estatísticas deveriam fazer o produtor considerar o tráfego controlado. Ao controlar o tráfego, a área percorrida terá compactação levemente mais profunda, mas o solo entre as marcas não será compactado. Como Hammer mencionou, isso exigirá gerenciamento extra. O tráfego controlado também precisa de máquinas que podem usar pneus estreitos ou esteiras, o que pode ser um investimento custoso. Além disso, é preciso planejar a compra das máquinas. A plataforma de milho será o fator definidor para selecionar a largura de trabalho para seu sistema de tráfego controlado. “À medida que você trocar os equipamentos nos próximos cinco anos, comece a garantir que tudo se encaixa”, aconselha Reeder. Se você tem uma plataforma de 12 fileiras, sua largura de trabalho será de 30 pés (ou um múltiplo de 30). Por exemplo, uma plantadora de 12 ou 24 fileiras e um aspersor de 60 ou 90 pés funcionariam para esse sistema. A direção automática também é um item essencial. Há ainda dois desafios para o tráfego controlado: a plataforma para a colheitadeira e para a carreta de grãos. Você provavelmente tem uma plataforma de grãos mais larga do que a de milho. “Do ponto de vista de manuseio, isso faz sentido, pois soja e trigo rendem muito menos por hectare do que o milho”, explica Reeder. “Para ficar no tráfego controlado, a plataforma de grãos deve casar com a de milho, então você terá de abrir mão de um pouco de eficiência no campo.”

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REDUZIR CARGAS DE EIXOS E PRESSÃO DOS PNEUS

Se DeJong-Hughes pudesse fazer tudo à sua maneira, haveria uma placa na entrada de cada propriedade rural declarando: “Limite de Peso: 10 toneladas por eixo. Pressão Máxima de Enchimento: 10 psi”. Nos Estados Unidos, psi é a unidade de medida para a pressão dos pneus, que significa libras por polegada quadrada. Embora perceba que isso possa ser irrealista, DeJong-Hughes deseja que os produtores almejem esses números, em vez de se preocuparem com peso geral, número de pneus ou esteiras. “Quanto mais alto o psi,

mais profunda a compactação. Pense no psi como a intensidade da compactação”, explica DeJong-Hughes. “A carga do eixo determina a profundidade da compactação. A intensidade pode aumentar a profundidade por causa do psi.” A profundidade da compactação aumenta à medida que o peso sobre o eixo aumenta. O maior culpado não é surpreendente – é a carreta de grãos. Uma carreta típica de 1.200 sacas suporta de 35 a 40 toneladas em um eixo. A solução mais simples é optar por uma carreta com dois ou três eixos. Então, veja por onde você dirige. Não vá diagonalmente pelo campo. Se for possível, siga a passagem anterior da colheitadeira. Em seguida, observe as pressões de enchimento de seu equipamento. Um estudo da Ohio State University comparou um trator com tração nas quatro rodas e pneus duplos adequadamente inflados a 6 psi, superinflados a 24 psi, esteiras de 24 polegadas e de 36 polegadas. Os pneus enchidos adequadamente causaram menos compactação. Levemente piores foram as esteiras de 36 polegadas e, depois, as esteiras de 24 polegadas. Os pneus superinflados foram os que mais diminuíram a porosidade. Isso ressaltou um conceito errôneo comum: esteiras não necessariamente compactam menos o solo do que pneus, segundo o estudo. “Se você prestar atenção a seus pneus, poderá fazê-los funcionar muito bem”, afirma DeJong-Hughes. “Se não quer prestar atenção e enchê-los adequadamente, é melhor usar esteiras.” A flutuação e a compactação são diferentes. “Esteiras têm melhor flutuação, mas não confunda isso e ache que elas não estão causando compactação.” A indústria de pneus continua trazendo inovações que permitem reduzir as pressões de enchimento. Pneus com melhor flexão (IF) e flexão muito alta (VF) agora são oferecidos pela maioria dos fabricantes. Eles podem suportar cargas 20% a 40% maiores, respecti-

Estamos realmente orgulhosos de nosso solo e como o tratamos” agricultor Charlie Hammer vamente, com a mesma pressão de enchimento de um pneu radial padrão ou podem suportar a mesma carga com 20% a 40% menos pressão de enchimento. Sistemas de enchimento de pneus a bordo, como os disponibilizados nos Estados Unidos pelas empresas Precision Inflation ou Tire Boss, permitem ajustar e reduzir as pressões de enchimento da cabine do trator. Há uma adoção lenta desses sistemas nos EUA, mas alguns produtores estão experimentando com sistemas de enchimento a ar em suas plantadeiras de enchimento central. sfagro.com.br | Successful Farming Brasil 75


DeJong-Hughes recomenda incorporar culturas de cobertura. “O rabanete tipo ‘tillage radish’ é conhecido por penetrar em camadas de compactação”, afirma. Coisas como trevos, com sistemas radiculares fibrosos, também podem ajudar a aliviar a compactação e construir estrutura no solo. “Se você tem um mercado para isso, alfafa é a melhor coisa que pode cultivar”, diz DeJong-Hughes. “O legume melhora as populações microbianas no solo. Faz buracos na terra onde novas raízes podem penetrar e os micro-organismos podem viver. Como a alfafa cresce por vários anos, faz tremendamente bem.”

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“A plantadeira de enchimento central trouxe um visual sobre compactação para os produtores porque o milho fica mais embaixo no meio da plantadeira e rende menos”, diz DeJong-Hughes. “Se você percorre o trajeto com ela, precisa enchê-la totalmente de 70 psi a 110 psi. Isso é incrivelmente compactador no campo, especialmente com as condições certas de solo. No campo, você pode reduzir o psi para até 30.” Isso é possível com um sistema de enchimento a ar. “Vi alturas diferentes nos pés de milho e notei um atraso no crescimento atrás da plantadeira”, conta Eric Jahn, que investiu em um sistema Precision Inflation há três anos para sua fazenda perto de Clarkfield, em Minnesota. “Acho que estou obtendo melhores rendimentos graças ao sistema.”

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EVITAR TRÁFEGO EM CAMPOS ÚMIDOS

Se possível, fique longe do solo úmido. Uma pesquisa da Universidade de Minnesota conduzida em Lamberton, no estado de Minnesota, testou cargas de eixo de 10 e 20 toneladas em solo seco e úmido. Quando o solo estava seco, a maior parte da compactação ficou dentro dos 30 centímetros superiores do solo. Com condições úmidas, a carga de 20 toneladas do eixo compactou o solo de 45 a 61 centímetros de profundidade.

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ROTAÇÃO DE CULTURAS

Diferentes sistemas radiculares têm capacidades distintas de romper a compactação do subsolo. Quando você trabalha apenas com uma ou duas culturas, limita o número desses sistemas crescendo no solo. Se possível, 76 Successful Farming Brasil | sfagro.com.br

Na região Centro-Oeste dos Estados Unidos, pesquisas sobre subsolagem (lavragem mais profunda do que 25 centímetros) mostraram poucas respostas positivas de rendimento. Pesquisas feitas na Ohio State University por Reeder demonstraram uma reação positiva para subsolagem em comparação com solo compactado com escarificador, mas não comparada com o plantio direto contínuo. Entretanto, o produtor não deve descartar a subsolagem. “Se vai mudar de gestão e tentar o tráfego controlado ou realmente observar pressões de pneus e cargas de eixo, então se livre da compactação que você tem e comece do zero”, recomenda DeJong-Hughes. Antes de fazer qualquer subsolagem, verifique se tem mesmo um problema de compactação. Os sintomas visuais da lavoura são consistentes com o tráfego de rodas no passado? Há água empoçada depois da chuva que também mostra um padrão consistente com o tráfego de rodas? Além disso, garanta que o solo esteja seco ao fazer a subsolagem e que os defletores que usa rompam até a profundidade da camada de compactação. O FUTURO oferta de máquinas agrícolas maiores e mais pesadas pode ser uma tendência em queda. Recentemente, fabricantes introduziram protótipos de equipamentos menores e autônomos ou robôs. Essas máquinas poderiam trabalhar 24 horas por dia sem operador, eliminando a necessidade de equipamentos largos e pesados e permitindo que uma pessoa cubra muitos hectares rapidamente. “Acho que este é o futuro da agricultura”, afirma Scott Shearer, engenheiro agrônomo da Ohio State University. “O funcionamento ininterrupto muda a dinâmica”, diz. No longo prazo, ele prevê tratores pequenos (com 50 a 60 HP) e autônomos fazendo operações de rotina no campo. Esta tecnologia tem potencial para mudar completamente a agricultura e, ao mesmo tempo, eliminar muitos dos problemas causados pela compactação.

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Foto: Shutterstock

A calibragem correta dos pneus garante boa performance

CONSIDERAR SUBSOLAGEM


M A N E J O DA FAZENDA

COM BAIXA VAZÃO DOS RIOS, PRODUTORES SÃO OBRIGADOS A BUSCAR MAIOR EFICIÊNCIA NO CONSUMO DE ÁGUA E PLANEJAR A IRRIGAÇÃO COM MAIS CUIDADO Por Naiara Araújo

VAI FALTAR

ÁGUA?

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e não chove na hora certa, o produtor atrasa o plantio ou é obrigado a replantar e o desenvolvimento das plantas é prejudicado. Por outro lado, se chove demais, a alta umidade prejudica a colheita e a qualidade das lavouras. Esse dilema faz parte da vida do produtor desde que a agricultura existe e é por isso que muitos investem na irrigação. Com a tecnologia, é possível contornar as surpresas climáticas e garantir que não falte esse recurso precioso na lavoura. De acordo com levantamento da Agência Nacional de Águas (ANA) realizado em 2015, 6,1 milhões de hectares são irrigados no Brasil. Porém, investir nessa tecnologia não significa que os irrigantes têm um oásis à disposição. Na Bahia, por exemplo, os produtores foram obrigados a deixar de irrigar por causa da seca na última safra. Dos 120 mil hectares irrigados no oeste do estado, 60% ficaram com os pivôs desligados durante a safra 2015/2016, uma área com cerca de 72 mil hectares. “Os produtores perceberam que a vazão dos rios baixou em função da diminuição da chuva e decidiram reduzir a irrigação”, explica Júlio Cézar Busato, presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba).

O dilema dos produtores passa a ser outro: como irrigar com menos água disponível e maior eficiência? A solução encontrada pelos irrigantes do Cerrado brasileiro pode inspirar agricultores de outras regiões do país. Eles apostam em barragens para driblar a falta de água durante o período seco, que vai de maio a setembro e é tradicionalmente uma marca do bioma Cerrado. O exemplo de sucesso goiano s agricultores do Cerrado investem em barragens para armazenar água da chuva e garantir que a irrigação seja possível durante toda a safra. “No Centro-Oeste temos dois climas bem definidos, o tempo de chuva e o tempo de seca”, diz o produtor Dario Nardi. Ele cultiva soja, milho, feijão e tomate na Fazenda Village, em Cristalina (GO), com 2.400 hectares, sendo que 864 hectares são irrigados por pivôs. Geralmente, o período chuvoso começa em outubro e termina em maio. Mas, na safra 2015/2016, as alterações climáticas fizeram a chuva se despedir em março. O volume de chuva, que chegava a 1.500 milímetros, ficou em 900 milímetros na última safra. “Se você não pensar em barragem é muito difícil fazer irrigação. Muitos produtores da região ficaram sem plantar por

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Como ampliar a área irrigada? a Bahia, a área irrigada continuará a mesma na safra 2016/2017, com cerca de 120 mil hectares. Porém, a Aiba prevê uma ampliação para 500 mil hectares irrigados nos próximos 15 anos. Atualmente, a região tem 2,2 milhões de hectares de sequeiro e esse incremento na agricultura poderia dobrar o PIB agrícola do oeste da Bahia, que hoje é de R$ 9 bilhões. Embora ampliar a área irrigada signifique mais lucro no bolso do produtor, os baianos estão conscientes de que é preciso avançar com calma. “Queremos aumentar a irrigação no futuro de

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forma sustentável para que não venha faltar água para os produtores e para a sociedade”, diz Busato. “Esse aumento é importante porque a cada hectare de área irrigada a geração de renda é igual

Futuramente a fazenda vai valer pelo que tiver de água e não de área” produtor Dario Nardi

a três hectares de sequeiro.” Segundo o presidente da Aiba, algumas regiões apresentam um grande potencial de irrigação, mas têm índices baixos de precipitação. Por isso, ele diz que o avanço da irrigação tem de ocorrer de forma planejada, com investimento de longo prazo em tecnologia e infraestrutura. A orientação da associação é que os produtores mantenham o nível de tecnologia já existente no estado. “A região tem uma tecnologia de ponta e quando temos condição climática favorável a produtividade é excelente”, afirma Busato.

Temos água para avançar? ara Alécio Maróstica, presidente do Sindicato Rural de Cristalina (GO), a grande dificuldade da irrigação no Brasil não é a disponibilidade de água, mas sim a capacitação dos produtores. “Água temos e nunca foi problema, a questão da irrigação brasileira é a falta de gestão, conhecimento e planejamento”, afirma Maróstica. “Uma seca como a que atingiu a Bahia não acontecia há 50 anos, não podemos nos basear no ano que faltou chuva. Já existe tecnologia disponível e conhecimento sobre como fazer irrigação, mas temos que ter hidrólogos e a meteorologia funcionando melhor.” No município goiano, o presidente do sindicato conta que as outorgas estavam sendo reservadas para a produção de energia. Com isso, produtores que pretendiam ampliar a irrigação foram prejudicados. Porém, após negociação com representantes da Agência Nacional de Águas (ANA), os produtores conseguiram reverter a situação. De acordo com Maróstica, a partir de agora a prioridade da concessão de outorgas será a irrigação. “A situação da outorga está difícil, mas nessa nova modelagem será mais fácil. A partir de março do ano que vem acredito que isso já esteja resolvido e vamos poder ter mais 40 mil hectares irrigados”, diz Maróstica. Para que a irrigação avance, também é preciso baratear as tecnologias, segundo Maróstica. “A irrigação não pode ser uma tecnologia só para grandes produtores. O uso da água tem que ser o mais democrático possível”, diz o presidente do sindicato rural. Atualmente, o preço mínimo para a construção de uma barragem média é R$ 1 milhão. “Tem produtor que está na beira do rio e se for

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Júlio Busato, presidente da Aiba, estima ampliação de 120 mil para 500 mil hectares irrigados 80 Successful Farming Brasil | sfagro.com.br

fazer barragem gasta dez vezes mais que com irrigação, mas tem locais que precisam construir barragens. Em rios menores eu acredito que a barragem é fundamental.” A busca por eficiência ara superar os novos desafios na arte de irrigar, os produtores buscam equipamentos mais eficientes. Essa tendência valoriza sistemas como a irrigação por gotejamento, também conhecida como irrigação subterrânea. A tecnologia promete economia de água e maior eficiência na aplicação e responde por 7,8% da área irrigada no Brasil, segundo a ANA. De acordo com a Netafim, empresa israelense de soluções em irrigação por gotejamento, esse modelo de irrigação é mais caro que os pivôs centrais, porém promete consumir até 30% menos água e energia elétrica. Outra área que precisa avançar é a meteorologia. Segundo Paulo Sentelhas, professor de agrometeorologia da Esalq/USP, para reali-

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A irrigação não pode ser uma tecnologia só para grandes produtores. O uso da água tem que ser o mais democrático possível” Alécio Maróstica, presidente do sindicato rural

zar um bom manejo da irrigação, o produtor depende de informações meteorológicas precisas. “A principal forma de manejar a irrigação é por meio do balanço hídrico, para determinar o volume de água que se deve irrigar. Quatro elementos meteorológicos são fundamentais para esse cálculo: radiação solar, temperatura do ar, umidade relativa do ar e velocidade do vento. Esses quatro elementos determinam a evapotranspiração das culturas e a necessidade de água”, explica o professor. Energia cara pesa na conta uitos produtores de Cristalina (GO) têm condições e

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ÁREA IRRIGADA ASPERSÃO CONVENCIONAL AUTOPROPELIDO PIVÔ CENTRAL GOTEJAMENTO MICROASPERSÃO Foto: Shutterstock/ Aiba

falta de água”, conta Nardi. Na Fazenda Village, o produtor conta com sete barragens para garantir água nas lavouras. “A barragem é o melhor investimento que o agricultor faz na fazenda, porque futuramente a fazenda vai valer pelo que tiver de água e não de área”, afirma Nardi. “Com irrigação e barragem o custo é alto, mas tem garantia de safra. Se faltar chuva, vai ter água para irrigar.”

INUNDAÇÃO SULCOS DE INFILTRAÇÃO OUTROS

vontade de investir na ampliação da irrigação, mas, segundo o produtor Dario Nardi, falta infraestrutura, o que depende exclusivamente de investimentos do governo. “Nós estamos pensando em aumentar a irrigação com mais um pivô, mas o nosso limitante é a companhia energética do estado de Goiás. Estamos pedindo energia há, no mínimo, oito anos e não tem energia”, diz o produtor. “Em Cristalina tem 57 mil hectares irrigados, isso poderia tranquilamente chegar a 100 mil hectares irrigados.” Além da insuficiente distribuição de energia elétrica, os custos também preocupam os produto-

SISTEMAS DE IRRIGAÇÃO EM OUTORGAS FEDERAIS

13,9% 140+860 = 11,9% 120+880 = 30,1% 300+700 = 7,8% 80+920 = 5,6% 60+940 = 27,7% 280+720 = 2% 20+980 = 0,9% 10+990 = FONTE: ANA sfagro.com.br | Successful Farming Brasil 81


dicas

5 1 DEFICIÊNCIA DO MANEJO

A deficiência no manejo da irrigação é um dos principais problemas identificados nas lavouras brasileiras. O produtor precisa conhecer as necessidades da cultura para irrigar no momento certo e controlar o tempo e a quantidade de água ideal para a aplicação.“Hoje nós temos um consumo elevado de água justamente pela deficiência no manejo da irrigação”, afirma Fábio Pimentel, engenheiro agrônomo e consultor do Senar no Espírito Santo.

E CAPACITAÇÃO 2 TECNOLOGIA ANDAM JUNTAS

O mercado brasileiro oferece boas tecnologias e novidades, como sensores, programas de planejamento e monitoramento da irrigação. Porém, sozinha, a tecnologia não garante uma irrigação eficiente e sustentável. Segundo Pimentel, a dificuldade mais evidente dos produtores rurais é no quesito capacitação. “Dificilmente o produtor quer parar para se capacitar e esse é o ponto-chave”, afirma o instrutor do Senar-ES. “Tecnologia nós temos, porém toda tecnologia só vai dar retorno se for usada de maneira adequada.”

TODOS 3 PARA OS BOLSOS

Segundo Pimentel, o mercado também oferece uma grande variedade de equipamentos, com investimentos que cabem em todos os bolsos. Se o produtor estiver capacitado, ele

res. Segundo Nardi, a despesa dobrou nos últimos anos. Em 2016, ele chegou a pagar R$ 180 mil por mês, quando há dois ou três anos a conta de energia da fazenda era de cerca de R$ 90 mil. “Antes era 82 Successful Farming Brasil | sfagro.com.br

PARA IRRIGAR COM EFICIÊNCIA

vai identificar as vantagens e desvantagens de cada sistema e fazer a gestão dos custos. “Não existe um sistema de irrigação melhor que o outro. Existem sistemas bem manejados e outros mal manejados.”

4 IRRIGAÇÃO LOCALIZADA

Existe uma tendência do uso de irrigação localizada. Segundo Fábio, a tecnologia é vista com bons olhos porque não exige aplicação na área toda e, com isso, é possível diminuir muito o consumo de água. O tamanho dos emissores também influencia na eficiência do sistema. De acordo com o engenheiro, quanto menor for a vazão dos emissores, melhor será a aplicação.

MENOS 5 QUANTO ÁGUA, MELHOR

Alguns produtores já obtiveram sucesso ao reduzir o volume de água utilizado na irrigação e conseguiram aumentar a produção e a qualidade dos produtos agrícolas. “Hoje existe uma ideia errada de quanto mais água melhor e a gente tem que estar atento a isso”, afirma Pimentel. Ele cita como exemplo um produtor que reduziu as operações de irrigação de seis horas para uma hora e alcançou resultados superiores. O especialista explica que o importante é conhecer as condições climáticas, o solo e a cultura para atender as necessidades hídricas.“Nessa realidade que a gente vive em relação à disponibilidade de água, isso se torna muito importante.”

um custo relativamente alto, mas de uns anos para cá ficou pesado pagar a conta”, diz o produtor. Assim como em Goiás, a energia elétrica é um problema para os produtores rurais na Bahia,

segundo o presidente da Aiba. “Não é a disponibilidade de energia elétrica, mas sim a distribuição para começar a irrigar em lugares mais distantes”, explica Busato.


m á q u i n a s AGRÍCOLAS 88

PLANTIO PERFEITO

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ASSASSINO DE MOTOR

92

MANUAL DE TURBOCOMPRESSÃO

94

DEBATE SOBRE ÓLEO SINTÉTICO

84 PULVERIZAÇÃO LOCALIZADA SENSORES IDENTIFICAM PLANTAS DANINHAS E GERAM ATÉ 70% DE ECONOMIA DE HERBICIDAS

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M Á q u i n a s AGRÍCOLAS

O SONHO DA PULVERIZAÇÃO DE PRECISÃO

o sistema weedit pode reduzir em até 70% as aplicações de herbicidas

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maioria dos produtores rurais, agrônomos e outros profissionais que atuam na produção agrícola já devem ter pensado o quão bom seria conseguir aplicar defensivos apenas nas áreas infestadas por pragas e ervas daninhas. Com aplicação apenas no alvo, seria possível economizar água, insumos, tempo de execução do trabalho e, consequentemente, haveria redução nos custos. A boa notícia é que esse cenário hipotético já se tornou uma realidade nas lavouras brasileiras, com a chegada de uma inovadora tecnologia holandesa, batizada de WEEDit, inspirada pela palavra inglesa “weed”, que significa erva daninha. A tecnologia, já consolidada na Holanda, Austrália, Argentina e Uruguai, é composta de um conjunto de sensores a laser que é acoplado ao pulverizador, com o objetivo de identificar a presença de ervas daninhas. Dessa forma, a aplicação de defensivos só ocorre quando essas plantas são encontradas no campo. No Brasil, o primeiro a utilizar o sistema WEEDit foi o produtor norte-americano John Carroll, que cultiva soja, milho e algodão na Fazenda AgroService, com mais de 9 mil hectares em Luís Eduardo Magalhães (BA). O produtor, que já vive no Brasil há 15 anos, conta que a infestação com ervas daninhas aumentou muito, principalmente com capim amargoso

TECNOLOGIA QUE PERMITE A APLICAÇÃO DE DEFENSIVOS APENAS EM ÁREAS COM INFESTAÇÃO DE PLANTAS DANINHAS CHEGA AO MERCADO BRASILEIRO

Foto: Divulgação

Por Naiara Araújo

e erva de touro. Por isso, a nova tecnologia será muito útil. “Se você usa herbicida em 100% da área, o custo é muito alto. Com o sistema, como vamos aplicar em apenas 20% ou 30% da área, conseguimos trabalhar com a dosagem necessária para resolver o problema e diminuir o custo”, afirma Carroll. A novidade começou a ser usada nas lavouras de Carroll no início de novembro e a expectativa do produtor é reduzir o uso de herbicida em até 50%. Por enquanto, o sistema está em funcionamento apenas na fazenda de Caroll e está sendo testado por pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo, em Piracicaba (SP). O futuro da pulverização consultoria Kasuya Assessoria Inteligência Agronômica, que atende a fazenda do produtor Carroll, foi a primeira empresa a acompanhar os testes do sistema no Brasil. O engenheiro agrônomo Luís Henrique Kasuya, diretor da consultoria, acredita que o WEEDit representa o futuro da pulverização. “Essa tecnologia vai revolucionar o mercado e gerar uma economia muito grande para o produtor”, afirma Kasuya. O sistema consegue identificar, separadamente, a massa seca da massa verde nas lavouras e tem uma

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A operação vai se tornar mais viável ao produtor, que não precisará esperar para que a área esteja totalmente infestada para aplicar o produto, diminuindo o banco de sementes de plantas indesejadas” Marcos Nascimbem Ferraz, engenheiro agrônomo sfagro.com.br | Successful Farming Brasil 85


Se você usa herbicida em 100% da área, o custo é muito alto. Com o sistema, como vamos aplicar em apenas 20% ou 30% da área, conseguimos trabalhar com a dosagem necessária para resolver o problema e diminuir o custo”

Os sensores podem funcionar em qualquer horário do dia e da noite e não afetam a rotina de pulverizações da fazenda. Mas o sistema requer as seguintes condições para realizar a pulverização corretamente:

John Carroll, produtor rural

Tecnologia sem fronteiras mbora os testes no Brasil sejam em lavoura de milho e soja, esse sistema pode ser utilizado em todas as culturas, com diferentes aplicações. No caso do milho, por exemplo, os sensores podem ser úteis para que a pulverização seja acionada somente em cima da linha de plantio, sem desperdiçar produtos nas áreas dos espaçamentos. Além de maior eficiência, o produtor consegue economizar água e garantir uma produção mais sustentável. Já para os produtores de algodão, esse sistema pode favorecer a aplicação de reguladores de crescimento ao fazer com que o produto alcance apenas as plantas que estão maiores. “Atualmente, não tem como fazer esse planejamento. Seja com a aplicação terrestre ou aérea, só pulverizamos a área total. Com essa tecnologia nós vamos poder direcionar para o alvo que nós queremos”, diz Kasuya.

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Quem pode usar? WEEDit permite que qualquer produtor adapte a tecnologia de acordo com o maquinário disponível na fazenda. A regra é simples: cada sensor a laser comanda cinco bicos. O sistema atende barras pulverizadoras de 12, 22, 30 , 32 ou 36 metros. O que vai variar é o investimento, que vai depender do número de sensores instalados na pulverizadora. Porém, o valor da tecnologia pode ser considerado alto pelo produtor. Cada sensor pode chegar a custar US$ 5 mil por metro. Kasuya pondera que, com a redução de despesas com defensivos, o investimento pode ser amortizado após um ano de uso. “Os produtores estão em busca des-

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86 Successful Farming Brasil | sfagro.com.br

sas novas tecnologias desde que tragam retorno e, se fizermos a conta, o custo [com aplicações desnecessárias] é muito maior”, afirma o engenheiro agrônomo. Carroll confirma a teoria. “O custo é alto, mas se eu conseguir economizar 50% com herbicida é muita coisa, achamos que vale a pena”, afirma o produtor. Além de adaptar a máquina pulverizadora com a instalação dos sensores, o sistema inclui um aparelho que fica localizado dentro da cabine. Esse equipamento é o responsável por controlar o funcionamento dos bicos e a leitura dos sensores. Segundo Kasuya, é fácil operar o WEEDit. Mas os operadores devem receber orientação técnica para as primeiras aplicações e um treinamento básico sobre as funções da tecnologia. A empresa responsável pela importação da tecnologia e comercialização no Brasil é a Smart Sensing Brasil, do engenheiro agrônomo Marcos Nascimbem Ferraz. Segundo ele, o produtor precisa desse tipo de tecnologia para melhorar a rentabilidade da fazenda. “Considerando que as fazendas se tornaram empresas do ponto de vista de gerenciamento, o aumento da eficiência dos processos é essencial”, afirma Ferraz. Com o WEEDit, o produtor garante aplicações mais sustentáveis, de acordo com Ferraz. “A operação de pulverização vai se tornar mais viável ao produtor, que não precisará esperar para que a área esteja totalmente infestada para aplicar o produto, diminuindo o banco de sementes de plantas indesejadas na área”, diz Ferraz. “Além disso, o equipamento viabiliza o uso de produtos mais caros, principalmente visando o controle de plantas resistentes ao glifosato.” A empresa estima que cerca de 300 máquinas comecem a funcionar com o sistema WEEDit em 2017. “A agricultura de precisão ganhará um forte aliado no que diz respeito ao levantamento de informações, mapeamento de plantas daninhas e análise econômica. Com essa tecnologia de controle de plantas daninhas é possível mensurar os benefícios logo na primeira safra”, diz Ferraz.

• Temperatura abaixo de 30 graus • Ventos entre 2 e 14 km/h

ERVAS DANINHAS E ALGUMAS PRAGAS

Foto: Divulgação

sensibilidade que varia numa escala de 1 a 4, medida usada pelos sensores para identificar as plantas de acordo com o tamanho. Segundo o agrônomo, com a nova tecnologia, a economia na aplicação de defensivos agrícolas pode variar entre 30% e 70%, a depender da incidência de plantas daninhas na área.

• Umidade relativa do ar acima de 60%

O sistema WEEDit foi desenvolvido para o controle de ervas daninhas. Mas, pela sua eficiência no campo, a tecnologia pode ser ampliada para o controle de pragas. Pragas já conhecidas pelos pesquisadores e que atuam em áreas específicas das lavouras podem ser facilmente eliminadas com essa tecnologia. Esse é o caso da mosca branca (Bemisia tabaci) e do bicudo do algodoeiro (Anthonomus grandis),

insetos que entram pela bordadura das plantações e podem ser controlados com a pulverização direcionada. No caso das ervas daninhas, o capim-amargoso (Digitaria insularis), por exemplo, já é considerado um grande problema para as lavouras brasileiras. A incidência e a resistência dessa planta à aplicação de herbicidas estão aumentando. No caso da soja, o capim-amargoso pode reduzir a produtividade em até 30%, de acordo

com estimativa da Confederação da Agricultura e Pecuária. Segundo o engenheiro agrônomo Luís Henrique Kasuya, o custo para controlar essa erva daninha é de, no mínimo, US$ 30 por hectare. Porém, esse custo pode cair bastante com a aplicação localizada. Em uma fazenda com 20% da área infectada, por exemplo, com o uso do WEEDit o custo do controle do capim seria de US$ 6 por hectare.


M Á Q U I N A s AGRÍCOLAS Analisamos faixas em vez do campo inteiro e consideramos as que têm a comparação mais justa pela forma que fazemos nosso controle de qualidade” Nathan Paul,gerente de operações

Soybean Association On-Farm Network, para que calculassem o retorno sobre o investimento, bem como os resultados do desempenho durante ensaios em campo. Em 2015, metade da plantadeira dos Boender foi convertida para força descendente hidráulica. A outra usou sacos de ar. Pinos de carga foram acrescentados ao longo de toda a plantadeira, para que o peso fosse medido em cada fileira. Onze faixas de ensaios foram colocadas nos campos da família Boender para testar a força descendente hidráulica contra os sacos de ar. As faixas tinham, no mínimo, 300 pés de comprimento. Ao percorrerem o local, Darr e Paul escolheram espacialmente pontos de GPS dentro de cada tratamento. O protocolo típico de contagem foi estabelecido para patrulhar as plantas e feito em seis tratamentos em pares. Havia 12 pontos no campo onde dados populacionais foram coletados. “Analisamos faixas em vez do campo inteiro e consideramos as que ofereciam uma comparação mais justa pela maneira como fazemos nosso controle de qualidade”,

Em 2015, BJ Boender fez um retrofit em metade de uma plantadeira John Deere 1790 com força descendente hidráulica para testar se o contato entre semente e solo melhorava

O SEGREDO DO PLANTIO PERFEITO OS RESULTADOS SOBRE O DESEMPENHO DA FORÇA DESCENDENTE HIDRÁULICA DEPOIS DO PRIMEIRO ANO

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eus milharais têm aquela aparência perfeitinha? Os da família Boender não tinham. A melhor gestão da força descendente para surgimento e crescimento iguais era a maior prioridade quando eles entraram na temporada de plantio em 2015. “Quando estou na cabine, a força descendente é a coisa sobre a qual tenho menos controle”, afirma BJ Boender, responsável pela plantadeira John Deere 1790 da família em Oskaloosa, Iowa. “Eu poderia ajustar o sistema de sacos de ar em movimento, mas não com a rapidez que preciso. Quando olho para nossos mapas, fica claro que estou obtendo força descendente demais em algumas áreas e insuficiente em outras.” Na busca pela tecnologia que daria espaçamento igual de semeadura e melhor surgimento, Boender recorreu a Nathen Deppe, gerente da Centrol Precision Ag, que sugeriu duas opções. “Recomendei o sistema vDrive ou DeltaForce da Precision Planting”, conta Deppe. “O investimento para o DeltaForce é de US$ 1.500 a US$ 1.700 por fileira; o vDrive custaria cerca de US$ 1.000 a US$ 1.200 por fileira.” Como a plantadeira dos Boender está configurada para fileiras de 30 polegadas de milho e 15 polegadas 88 Successful Farming Brasil | sfagro.com.br

de feijão, isso aumentou o custo devido à estrutura eletrônica. A família escolheu o DeltaForce por dois motivos. “Primeiro, eles estavam querendo fazer mais plantio direto/lavragem mínima, e esse sistema lhes permite atingir melhor posição ao controlar a quantidade de força necessária para manter a profundidade de semeadura adequada sem aplicar pressão descendente excessiva e compactar a vala de sementes, levando à perda de rendimento”, explica Deppe. “Segundo, eles têm uma plantadeira simultânea”, continua. “Se escolhessem o vDrive, teriam de acrescentá-lo às fileiras de feijão. Não foram feitas pesquisas suficientes para comprovar um retorno sobre a adição de vDrive a fileiras de feijão. Escolher o DeltaForce permitiu que plantassem as fileiras de milho e obtivessem o melhor retorno possível sobre o investimento.” Avalie os benefícios ara avaliar os benefícios econômicos e agronômicos do DeltaForce, a revista Successful Farming pediu a Matt Darr, professor associado na Iowa State University, e Nathan Paul, gerente de operações da Iowa

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Foto: David Ekstrom

Por Laurie Bedord

Áreas verde-escuras indicam uma planta mais saudável. Verde-claras significam mais estressadas e tipicamente associadas a doença ou excesso de umidade

explica Paul. “Assim que recebemos os dados de rendimento, os sobrepusemos às imagens coletadas durante a temporada para remover pontos problemáticos.” Inconsistências nos dados de rendimento, como pontos úmidos, foram filtradas para dar uma comparação justa. Com base nos dados, não houve uma diferença significativa de rendimento entre a força descendente hidráulica e sacos de ar. Em média, a diferença de rendimento mostrou que a força descendente hidráulica perdeu 1,2 bushel por acre. “A vantagem da força descendente, no geral, tem muito a ver com a natureza”, afirma Darr. Mahaska County, onde os campos estão localizados, teve um começo seco de temporada de plantio no início de abril, seguido por um verão extraordinariamente úmido, o que significou pouco estresse sobre as lavouras. No entanto, a direção em que foram colhidos pode ter tido um impacto sobre o rendimento. Embora não haja uma diferença notável entre os dois, Darr diz que é importante entender a proposta de valor em torno de um conceito como a força descendente hidráulica. “O valor de produtos com força descendente vem do melhor contato entre semente e solo e da quantidade certa de força descendente para minimizar a compactação. Esse é um investimento com retorno diferente de tecnologias que economizam insumos, como direção automática e controle de seções”, explica. “Fiquei surpreso com a frequência com que o DeltaForce não apenas usou a pressão descendente nos pontos mais difíceis mas também a pressão ascendente nos lugares mais macios no campo, o

CHUVAS MENSAIS Medidas em polegadas

Março Abril Maio Junho Julho Agosto

0,55” 3,15” 4,00” 6,98” 8,71” 2,90”

FORÇA DESCENDENTE HIDRÁULICA versus

SACOS DE AR

Diferença média de rendimento (bu/A)

0,3 -2,3 -4,1 1,2 -0,5 -0,2 -4,6 -2,8 0,0 1,3 -1,2 Diferença média de rendimento dos 11 testes exibidos: -1,2 bu/A

que ajudou a minimizar a compactação”, diz Boender. Embora você não possa ver os efeitos no primeiro ano, Darr diz que você os verá com o tempo. “Em anos mais úmidos ou em fazendas com muita diversidade de solo ou com uma mistura de condições de resíduos, o benefício da força descendente será maior”, observa. “Ela ajuda a gerenciar o risco e reduzir uma parte complexa da operação de plantio no longo prazo.” sfagro.com.br | Successful Farming Brasil 89


Mitigação de risco ambém é importante considerar o elemento da mitigação de risco. “Poder ter mais controle ou controle automatizado da tecnologia de dentro da cabine será muito benéfico na redução de perdas em um ano difícil. Ainda assim, pode não ser necessariamente uma van-

T

tagem de rendimento em um ano bom”, diz Darr. “Embora o primeiro ano não mostre mais bushels, não fico desencorajado porque isso facilitou o plantio de milho. Ter o DeltaForce em um lado da plantadeira me ajudou a gerenciar melhor o outro lado”, afirma Boender. Ele também não duvida da co-

como se preparar TO NA FAZENDA

PARA UM EXPERIMEN

ESPECIALISTAS DÃO DICAS SOBRE COMO OBTER OS MELHORES RESULTADOS DE ENSAIOS EM FAZENDA

PREPARAÇÃO PRÉ-TEMPORADA 1 Configure o monitor de sua plantadeira para

registrar o tratamento dividido. “A maioria dos monitores agrícolas de precisão permite a configuração de variedades e a definição de configurações de máquina em uma máquina dividida ou por seção”, diz Matt Darr, da Iowa State University. “Isso garante que, quando os dados de rendimento são analisados, você possa compará-los facilmente com os tratamentos no mapa, conforme plantado.”

2 Faça pergunta a seu agrônomo especialista em precisão ou ao suporte do revendedor, caso tenha dificuldade em marcar os tratamentos nos dados como aplicados.

3 Replique tratamentos em um campo para ter a melhor medição estatística de resultados. “Lembre que o tempo pode influenciar dados agronômicos, então replicar em diversos campos também é uma opção inteligente para garantir que você fique confiante com os resultados”, afirma Darr.

DURANTE A COLHEITA 1 Alinhe passadas da ceifadora com um

tratamento único de plantadeira. “Você tem de estar perfeitamente alinhado entre o tratamento da plantadeira e a passagem de colheita da ceifadora para analisar os resultados”, afirma

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locação de sementes. “Não fico constantemente saindo do trator para verificar a profundidade da semente e, depois, mudar as configurações”, diz. “Com essa tecnologia, tenho certeza de que estou plantando aquele grão de milho onde ele precisa estar. Esse é meu retorno sobre o investimento.”

Chris Murphy, da Iowa State University.

2 Saiba que cada ceifadeira terá uma curva de calibração do monitor de rendimento levemente diferente. “Se você tiver mais de uma ceifadeira no campo, isso pode complicar a análise de seus resultados”, explica Murphy. “No melhor dos casos, você teria uma ceifadeira trabalhando em cada lado do campo e ambas se encontrando no meio. Embora essa abordagem reduza a eficiência logística de operar duas ceifadeiras juntas, os resultados terão muito valor em decisões futuras e valem alguma redução na eficiência de ceifa.”

3 Calibre os sensores de fluxo de massa e de

umidade. “Isso é particularmente importante se você tem várias ceifadeiras”, diz.

4 Seja cauteloso ao comparar resultados de

rendimento quando os dois tratamentos têm diferenças de umidade superiores a 4%. “A umidade é o motor principal nos questionamentos de desempenho do monitor de rendimento”, observa Murphy. “Se os resultados do tratamento como plantado mostram grandes diferenças de umidade, a precisão da comparação de rendimentos diminuirá.”

5 Calibre sua ceifadeira:

• Todo ano em toda a lavoura. • Quando a umidade muda mais de 4% a partir da calibração original. • Quando há mudanças significativas no peso do teste. • Em condições difíceis ou de redução de lavoura, nas quais a velocidade da ceifadeira é muito diferente da calibragem original.


M Á Q U I N A s AGRÍCOLAS Teste seu motor quanto a possíveis problemas com eletrólise usando um medidor de voltsohms padrão

O ASSASSINO DE MOTOR SILENCIOSO

A ELETRÓLISE ATACA RAPIDAMENTE AS PEÇAS DE METAL DO MOTOR E CAUSA FALHA PREMATURA Por Ray Bohacz

Foto: Ray Bohacz

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eletrólise do motor é um daqueles probleminhas que podem virar um problemão se ignorada. O termo descreve a corrente elétrica no lado de aterramento de um circuito que atravessa o resfriador do motor como um conduíte. Isso acontece por causa de uma má conexão de aterramento em algum ponto na máquina ou no veículo. Quando a eletrólise é considerada, não há como prever onde a rota final de aterramento ocorrerá. Eventualmente, você poderá ver onde ela fica, já que a eletrólise ataca e destrói a superfície que usa para aterramento. Ela é responsável por revestimentos de cilindro misteriosamente furados, radiadores e núcleos de aquecedores destruídos, falhas anormais na bomba de água ou na junta da cabeça e degradação do copo do injetor de diesel, entre outros problemas. A característica é perfuração extrema ou buracos que com frequência podem ser

encontrados em coletores de alumínio e tanques ou núcleos de radiadores (cobre ou latão também). A corrente elétrica também usa o resfriador como rota. Isso destrói o nitrato no anticongelador e permite a produção de amônia. A amônia ataca e degrada qualquer componente de cobre no sistema de refrigeração. Essa falha causada pela eletrólise produz resultados diferentes e degrada o cobre em vez de produzir os buracos comuns. Aditivos suplementares ao resfriador (SCA) podem repor os nitratos, o que deterá a produção de amônia. Esses aditivos não impedem a eletrólise. Em casos graves, um motor pode ficar destruído em apenas 30 dias de uso.

O método para verificar a eletrólise é um teste com medidor de volts-ohms usando um voltímetro (escala CC). Coloque o condutor positivo do medidor no resfriador do motor sem tocar nas laterais do radiador. Prenda o condutor negativo no aterramento da bateria. Para que o teste seja válido, precisa haver uma carga elétrica. Para conseguir essa carga, desabilite o motor para que ele não dê partida (tire o fio do solenoide de combustível na bomba de injeção ou aterre o fio da bobina). Gire o motor enquanto lê a voltagem no resfriador. Depois, acione o motor e teste novamente cada circuito elétrico desligando as luzes, o aquecimento, o ar-condicionado etc. Com um motor de ferro fundido, a leitura não deve ser de mais de 0,3 (3∕10) volt. Uma leitura de 0,5 volt destruirá um motor de ferro fundido ao longo do tempo e de 0,15 volt danificará qualquer componente ou motor de alumínio. Se a voltagem for descoberta, desligue uma carga elétrica por vez até a leitura cair para zero. Então, identifique e conserte a rota de aterramento e troque o resfriador do motor. Um teste de eletrólise deve fazer parte de um cronograma de manutenção preventiva, já que é muito fácil de realizar. sfagro.com.br | Successful Farming Brasil 91


Tampa da válvula/ coletor de admissão do motor

M Á Q U I N A s AGRÍCOLAS

Ar de entrada pressurizado

Para o motor

Tubo transversal

Válvula de descarga

Intercooler

Turbocompressor

Para escapamento

RODA COMPRESSORA

Roda da turbina Do motor Coletor de escape do motor

Porta de pressão do coletor de admissão

O BÁSICO EM TURBOCOMPRESSÃO DESCRIÇÃO DE COMO UM TURBOCOMPRESSOR PODE FAZER UM MOTOR FUNCIONAR COMO SE TIVESSE O DOBRO DO SEU TAMANHO Por Ray Bohacz

92 Successful Farming Brasil | sfagro.com.br

Eficiência volumétrica padrão usado para medir o enchimento do cilindro é chamado de eficiência volumétrica (VE) e é lido como uma porcentagem. Um motor naturalmente aspirado tem cerca de 80% de VE. Em outras palavras, usa 80% de sua capacidade com relação ao volume do cilindro. Ao empregar indução forçada devido a um turbocompressor, a VE de um motor pode melhorar 100% ou mais com base na quantidade de fluxo de ar criada e na pressão produzida. Essa pressão, aliás, é lida no coletor de admissão como impulso. O medidor em um painel lê isso como pressão por polegada quadrada, mas é realmente a quantidade de pressão na atmosfera. Se a pressão atmosférica é 14,7 psi e o turbocompressor está produzindo 14,7 psi (segundo a leitura do medidor), o cilindro está, na verdade, vendo 29,4 psi. Assim, o tamanho efetivo do motor pode ser considerado duplicado para cada 14,7 psi de impulso. Na teoria, um motor de 12 litros (1 litro é cerca de 61 polegadas cúbicas) quando exposto a aproximadamente 15 psi de impulso em pressão é o equivalente a um motor de 24 litros que respira natural-

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Um sistema de turbocompressão emprega escapamento do motor para forçar mais ar para dentro do cilindro, o que aumenta seu desempenho

Ilustração: Greg Maxson/ Foto: Ray Bohacz

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e existe um casamento mecânico arranjado pelos deuses, é aquele entre um motor a diesel e um turbocompressor. Na fazenda, essa união é encontrada em tudo, de picapes a ceifadoras. Um motor pode respirar de duas maneiras. 1. Ele pode consumir ar naturalmente via diferencial na pressão no cilindro versus atmosfera. Isso descreve um motor naturalmente aspirado. 2. Ele pode ter o ar forçado para dentro de seus cilindros através do uso de um turbocompressor ou supercompressor (indução forçada). Os dois métodos de indução forçada são diferentes na forma de acionamento. O supercompressor é acionado pelo eixo de comando do motor e consome energia. O turbocompressor, por outro lado, usa o gás de escapamento que sai do cilindro para operar e não exige potência do motor. O turbocompressor realiza duas coisas: enche o cilindro de mais ar e causa turbulência no cilindro. Esse efeito melhora bastante a combustão. Assim, um turbocompressor deixa um veículo a diesel mais potente, funcionando de forma mais limpa e usando menos combustível.

mente. O maravilhoso na turbocompressão é que o ganho de potência que ele oferece é passivo. Em outras palavras, o ganho só está ali quando você precisa dele, como nos momentos em que um motor precisa trabalhar mais. Quando a carga é baixa, ele roda em seu tamanho mecânico. Quanto mais potência é necessária, a turbocompressão ajuda o motor a responder como se fosse maior em deslocamento. O intercooler uitas aplicações de turbocompressão também usam um trocador de calor, identificado como um intercooler ou refrigerador de ar de sobrealimentação (CAC). A finalidade do CAC é resfriar o ar alimentado, o que aumenta a densidade do ar enviado aos cilindros. O CAC também ajuda a reduzir o calor causado pela ação do turbocompressor. Ar mais quente é in-

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desejável para o desempenho do motor, pois contém menos moléculas de oxigênio do que o ar mais frio. Para cada mudança de 10 °F na temperatura do ar de carga, a potência é alterada em 1%. Um turbocompressor incorpora uma roda de turbina movida a exaustão. Essa roda fica contida em uma voluta, que é uma carcaça em forma de lesma. Além disso, essa roda é conectada por uma haste a outra voluta que contém uma roda de compressor centrífugo que manda o ar de carga para o coletor de admissão. O lado da turbina de um turbocompressor é considerado quente; o lado do compressor é considerado frio. A haste que conecta as rodas fica em um alojamento de mancais que recebe óleo de motor sob pressão. Esse óleo flui pelo alojamento e volta ao motor (normalmente para o cárter ou para a tampa de distribuição). Os mancais da haste são flutuantes. Algumas aplicações de turbocompressor (especialmente os primeiros designs) podem ter usado mancais de rolamento ou semiflutuantes ou esféricos de pressão. Sob condições de alto impulso, a haste (e, portanto, a turbina e a roda do compressor) pode girar a velocidades de até 150.000 RPM. Devido ao calor de escapamento na turbina, muitos modelos também enviam resfriador de motor através do alojamento de mancais para melhorar a vida útil e reduzir a coqueificação do óleo. Vedações são usadas em um turbocompressor para manter o óleo longe das pistas de escapamento e admissão. Além disso, elas contêm os gases gastos e a pressão de impulso na voluta. Turbocompressores variam na forma como controlam a pressão de impulso. Tais controles podem ser uma válvula de descarga ou consistir em aros móveis com ventoinhas no lado da turbina. Função de carga, não velocidade do motor energia que gira a roda da turbina de um turbocompressor vem da saída do gás quente de escapamento do cilindro de um motor. O turbocompressor é passivo por responder bem menos à velocidade do eixo de comando do motor do que à temperatura de exaustão. É por isso que você ouvirá o turbo girar mais quando o motor é carregado, embora possa haver pouco ou nenhum aumento na velocidade do motor. À medida que a carga sobre o motor aumenta, o mesmo acontece com a temperatura de escape e sua velocidade. Quando a exaustão sai da porta do cabeçote do cilindro, o gás inerte sofre expansão isentrópica, ou seja, sem mudança de temperatura. Os gases quentes e em expansão são forçados para dentro do alojamento da turbina e atuam sobre a roda da turbina como se fossem a vazão de um rio movendo um velho moinho. A roda do compressor, então, alimenta ar para o coletor de admissão sob pressão. O resultado é um aumento em VE, potência e menores emissões.

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M Á Q U I N A s AGRÍCOLAS Lubrificantes sintéticos são mais caros, mas oferecem vantagens que aumentam a vida do motor

O DEBATE SOBRE O ÓLEO SINTÉTICO LUBRIFICANTES SINTÉTICOS SÃO FEITOS DE COMPOSTOS DE PETRÓLEO ALTAMENTE REFINADOS

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e você reunir um grupo de fazendeiros em volta da mesa de um café e alguém falar sobre óleo de motor, haverá diversas opiniões sobre o assunto. Se perguntar se óleo sintético é melhor ou até mesmo o que é isso, reze para ter muito tempo disponível. Embora tenha usado o termo “óleo de motor”, ele é adequadamente definido como lubrificante. O óleo é bombeado do solo na forma bruta. Então, é modificado por refinação e outros procedimentos, além da introdução de muitos aditivos para que vire um lubrificante. Os produtos que seu avô usava no motor eram, basicamente, óleos monoviscosos sem compostos. Hoje em dia, você usa lubrificantes de motor sofisticados parcial ou totalmente sintéticos multiviscosos. Ainda assim, a questão de lubrificantes sintéticos serem melhores ou não e o que os torna diferentes ainda precisa ser respondida. O que é sintético? termo “sintético” é enganador, já que todos os lubrificantes de motor têm raízes no petróleo mineral (bruto). É o que acontece com esse petróleo (definido como composto básico) que lhe permite se tornar um lubrificante sintético. Essa confusão é semelhante ao que a agricultura vem enfrentando na definição da lavragem vertical, já que cada fabricante tem sua própria definição. Assim, a Society of Automotive Engineers (SAE) criou o padrão J357, que descreve compostos básicos

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sintéticos (antes da introdução de aditivos) como produtos químicos diretamente derivados de compostos à base de petróleo. Isso significa que lubrificantes sintéticos são altamente refinados via processos que mudam tão drasticamente sua estrutura molecular que não podem mais ser categorizados como óleo mineral. Isso normalmente é feito por meio de diversos processos de síntese e, assim, vira sintético. Não há como negar que óleos minerais melhoraram bastante ao longo dos anos. Ao mesmo tempo, os lubrificantes sintéticos também estão melhores. Como fazendeiro e fã de motores, acredito firmemente em usar um sintético de alta qualidade. O processo de síntese aumenta o desempenho do lubrificante em todos os aspectos. Não há uma maneira melhor de promover longa vida do motor e minimizar o desgaste do que usando óleo sintético. O fluxo a frio, a capacidade de bombeamento e a limpeza interna do motor são apenas alguns benefícios dos sintéticos. Alguns motores mais antigos que têm vedações de extremidades inchadas para óleo mineral e são feitos de materiais velhos podem vazar com um óleo sintético devido à sua estrutura molecular menor. Normalmente, qualquer vedação feita depois de 1990 não terá problema. Sempre é prudente manter o motor o mais saudável possível. Lubrificantes sintéticos de motor podem fazer isso e dar um retorno excelente sobre o investimento.

Foto: Ray Bohacz

Por Ray Bohacz


m e r c a d o EM FOCO 100

VENDAS DE MÁQUINAS AGRÍCOLAS

104

DONALD TRUMP E O CAMPO

106

ETANOL DE MILHO

110

DESBUROCRATIZAÇÃO DO AGRO

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A MORTE DAS ABELHAS

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PERSPECTIVAS PARA 2017

120

MULHERES DO AGRO

122

DICAS SUCCESSFUL FARMING

96 AVES E SUÍNOS O MODELO DE INTEGRAÇÃO ENTRE PRODUTORES E AGROINDÚSTRIA SERÁ APRIMORADO

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M e r c a d o EM FOCO

PORTEIRAS ABERTAS PARA O DIÁLOGO

CRIADORES DE AVES E SUÍNOS E FRIGORÍFICOS APARAM ARESTAS EM RELAÇÃO AO MODELO DE CONTRATO E REMUNERAÇÃO PARA ASSEGURAR VIABILIDADE DA CADEIA PRODUTIVA NO LONGO PRAZO

Foto: Dirceu Portugal/ Divulgação ABPA e Divulgação APS

Por Igor Castanho

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m um ano marcado pela disparada nas cotações da soja e do milho, que encareceu a ração animal e aumentou o custo de produção de aves e suínos, o modelo de remuneração dos produtores de carne foi novamente colocado à prova. O sistema de integração ainda gera controvérsias, mas avança para melhorar o diálogo entre os criadores e a indústria. Isso ficou evidente no primeiro semestre deste ano. De acordo com levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), as cotações da saca de soja e de milho (responsáveis por 90% do custo total da ração) atingiram picos O avicultor José de R$ 97,61 (em junho, Roberto Brasso tem no Porto de Paranaguá) duas granjas com e R$ 53,91 (indicador 40 mil aves em Campo Mourão (PR) Esalq/BM&FBovespa),

respectivamente. “Até o mês de agosto, a maioria das empresas operou no vermelho, mas o produtor continuou sendo remunerado graças ao contrato de integração”, afirma o diretor de relações institucionais da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ariel Mendes. Durante essa fase difícil, aparentemente os criadores foram poupados do prejuízo. Porém, a percepção deles é de que ainda há distorções na remuneração paga pelas indústrias. “Essa conta dos pagamentos envolve diversas variáveis e, em alguns casos, o resultado só era positivo para as integradoras”, afirma o pecuarista José Roberto Brasso, que gerencia junto com o cunhado Antônio Gomes duas granjas com 40 mil aves em uma propriedade de 8,5 hectares, localizada em Campo Mourão (PR). “Chegamos a criar uma associação para facilitar as negociações, mas não deu resultado. Não conseguimos estabelecer uma sfagro.com.br | Successful Farming Brasil 97


com a disparada nos preços da soja e do milho, a ração animal ficou mais cara

cultura de debate, de interação com as empresas.” O impasse se agravou nos últimos anos pela falta de diálogo entre as partes (confira detalhes no quadro abaixo). “O produtor sempre foi a parte mais fraca da história. Os termos dos contratos eram impostos pelas empresas”, afirma o pecuarista e presidente da Associação de Suinocultores do Paraná (APS), Jacir Dariva. “O sistema é muito complexo, então os criadores não conseguiam fazer um levantamento preciso de todos os custos operacionais para poder negociar adequadamente.” O caminho para a mudança m largo passo foi dado neste ano para solucionar as divergências. Após mais de uma década de debates, a cadeia produtiva buscou lastro institucional

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e conseguiu aprovar a Lei de Integração (13.288/2016), que estabelece critérios para a regulamentação da atividade. A norma delimita desde as obrigações de integrados e integradoras até as negociações acerca de pagamentos. A vigência da nova regra é celebrada pelos dois lados, que apontam vantagens como a segurança jurídica e a maior transparência sobre pagamentos. “Existia uma lacuna na legislação brasileira, pois esse tipo de contrato é muito específico. Com a lei, a cadeia produtiva fica mais equilibrada”, diz o assessor técnico da Comissão Nacional de Aves e Suínos da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Victor Ayres. Preço mínimo é um sonho distante ma das principais reivindicações dos produtores para a nova lei de integração era a criação de uma política de preços mínimos, com uma medida semelhante à Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM), que regulamenta a comercialização de alguns produtos agrícolas. Entretanto, os debates não avançaram e o tema ficou de fora da Lei 13.288/2016. Representante da indústria, a ABPA se posiciona contrária ao modelo. “Não é uma medida viável, pois se trata de uma atividade com grande risco envolvido,

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A INTEGRAÇÃO É BOA PARA QUEM? integração é um contrato estabelecido entre frigoríficos e pecuaristas. As empresas fornecem os animais, insumos, assistência técnica e ração. O pecuarista é responsável pela granja e produz a carne exclusivamente para o frigorífico contratante. Isso representa garantia de demanda ao produtor, mas com poder limitado de barganha sobre os preços de venda. E é justamente nesse ponto que as divergências começam. De acordo com os criadores de aves e suínos, o valor pago pela carne aos integrados não segue fielmente a flutuação dos preços de mercado, fato considerado prejudicial quando há

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98 Successful Farming Brasil | sfagro.com.br

valorização da proteína. Além disso, a remuneração está sujeita a descontos com base em critérios como consumo de ração (quanto menos, melhor), índice de mortalidade, qualidade do plantel (como a ausência de lesões nos animais, por exemplo). Como os produtores arcam com gastos operacionais (como lenha e energia elétrica), custeio de mão de obra e obras de construção e modernização das granjas, o lucro do pecuarista está pressionado. “A empresa já pediu que realizasse certos investimentos em infraestrutura que não deram certo e acabei ficando com o prejuízo, sem ter a quem recorrer”,

diz o criador José Roberto Brasso, de Campo Mourão (PR). Atuando na atividade desde 2009, o criador espera por mudanças no modelo de integração para otimizar o desempenho da granja. Por outro lado, as indústrias de aves e suínos argumentam que o modelo é baseado na meritocracia, privilegiando quem é mais eficiente na criação. Além disso, a estabilidade nos pagamentos ajuda a manter a viabilidade da cadeia produtiva, já que não há redução nos valores pagos em momentos de desequilíbrio. Altas nos custos de produção seriam assimiladas pelas empresas para manter o sistema funcionando, sem prejuízo ao produtor.

A integração é benéfica, pois garante renda ao produtor durante o ano todo. E com a lei temos um avanço, ficamos em condição de igualdade. O desafio agora é evitar que haja um monopólio de indústrias, pois aí o poder de negociação ficaria limitado” Jacir Dariva, presidente da APS

que exige um regime de parceria”, afirma o diretor de relações institucionais, Ariel Mendes. Já a CNA acha difícil chegar a um acordo sobre o tema. “Esse é um dos pontos mais difíceis de obter um consenso. A legislação não pode engessar a atividade. Apesar disso, a lei permite que a questão da remuneração seja discutida de forma mais aberta”, pontua o assessor técnico da entidade, Victor Ayres. A aplicação da nova lei or enquanto, o trabalho é garantir que a legislação assuma efeito prático e facilite o diálogo entre indústria e criadores. Apoiadora da nova lei, a CNA está promovendo workshops regionais para apresentar a legislação. Além disso, a entidade está criando uma metodologia para controle e análise de custos de produção, respeitando as particularidades de cada região. Para isso, os técnicos têm se baseado na experiência de associações de produtores que já negociam de forma transparente com as empresas. O objetivo é empoderar os criadores e ampliar o poder de barganha deles na hora das negociações, principalmente em regiões onde não há essa tradição de debates ainda, segundo Ayres. Depois disso, o passo seguinte é a estruturação das Comissões para Acompanhamento, Desenvolvimento e Conciliação da Integração (Cadecs), previstas na lei, que

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serão responsáveis por mediar as discussões entre frigoríficos e seus respectivos integrados. “Como qualquer mudança, há um período de maturação para todos se adaptarem”, diz Ayres. Embora tenha sido aprovada em maio, segundo Ayres, a lei só deve começar a surtir efeito prático em 2017. Também está prevista para 2017 a criação do Fórum Nacional de Integração (Foniagro), que vai concentrar discussões de interesse geral, mais abrangentes. Frigoríficos e produtores estão negociando os moldes e a regulamentação do encontro.

Objetivos de longo prazo modelo de integração é considerado um dos pilares para o fortalecimento do setor de proteína animal no Brasil. As indústrias conseguiram atender aos padrões internacionais de produção, além de mitigar custos e riscos. Somente a construção de uma granja, por exemplo, pode facilmente custar mais de R$ 1 milhão. Ao mesmo tempo, a estabilidade da cadeia produtiva permitiu a permanência dos pecuaristas na atividade. “Esse é o modelo mais sustentável para todos, só precisamos de ajustes. Um agente não vive sem o outro, é uma relação ganha-ganha”, diz Mendes, da ABPA. Por essa razão, o avanço do sistema é considerado decisivo para o fortalecimento do setor de proteína animal no Brasil. Estima-se que mais de 90% dos avicultores e 80% dos suinocultores operem no regime de integração. “A integração é Até o mês de agosto, a benéfica, pois garante renda maioria das empresas ao produtor durante o ano operou no vermelho, mas o todo. E com a lei temos um avanço, ficamos em condiprodutor continuou sendo ção de igualdade. O desafio agora é evitar que haja um remunerado graças ao monopólio de indústrias, contrato de integração” pois aí o poder de negociaAriel Mendes, diretor de relações ção ficaria limitado”, afirma institucionais da ABPA Dariva, da APS.

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M e r c a d o EM FOCO

A RECUPERAÇÃO DAS MÁQUINAS AGRÍCOLAS EMPRESAS E ENTIDADES ESTIMAM QUE EM 2017 O MERCADO VAI VOLTAR PARA A ROTA DO CRESCIMENTO Por Ana Paula Machado 100 Successful Farming Brasil | sfagro.com.br

O setor de máquinas agrícolas projeta um crescimento de 5% das vendas no próximo ano


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ano de 2016 não foi dos melhores para o mercado de máquinas agrícolas. De janeiro a outubro, segundo dados da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), foram vendidos 35,2 mil equipamentos, uma queda de 13,2% no comparativo com o mesmo período de 2015. Por outro lado, as empresas se desdobraram para manter as vendas aquecidas e esse comportamento gerou boas oportunidades de compra para o produtor, seja por meio de descontos ou, seja por meio de programas de financiamento com taxas especiais (leia mais no quadro abaixo). O otimismo tomou conta do setor de maquinário e os executivos acreditam que 2017 será um ano de bons resultados. “Acredito muito na recuperação do mercado no ano que vem. Já estamos no fim do poço, agora a tendência é a retomada das vendas”, disse o presidente executivo da Associação Brasileira de Fabricantes de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), João Carlos Marchesan. A análise do Plano Safra 2016/2017, que disponibiliza R$ 183,9 bilhões para financiar o agronegócio brasileiro, indica que o mercado de máquinas está reagindo positivamente. De acordo com levantamento do Ministério da Agricultura, de julho a se-

tembro, as contratações do crédito rural da agricultura empresarial alcançaram R$ 33,4 bilhões. Nesse período, o Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e Implementos Associados e Colheitadeiras (Moderfrota), uma das principais linhas que financiam maquinário agrícola, registrou avanço expressivo. A contratação de recursos destinados ao Moderfrota apresentou crescimento da ordem de 127%, chegando a R$ 2,3 bilhões, contra R$ 997 milhões no mesmo período da safra anterior.

Essa também é a preocupação da New Holland. O diretor comercial da marca, Alexandre Blasi, afirmou que as incertezas políticas e econômicas que prejudicaram as vendas no primeiro semestre de 2016 já foram solucionadas. Com isso, o setor estima um crescimento de 5% nas vendas de máquinas em 2017. Porém, se não houver a complementação de recursos para o programa Moderfrota, a perspectiva de crescimento pode não se concretizar. “Acreditamos que o governo destinará mais dinheiro para o Moderfrota. Esse programa é essencial para melhorar a produtividade no campo no ano que vem. O governo sabe que o agronegócio é um setor importantíssimo para a economia”, disse Blasi. “Agora é a hora de voltarmos aos patamares históricos de vendas de máquinas.” Segundo Rodrigo Bonato, diretor de vendas da John Deere Brasil, o índice de confiança do agricultor aumentou no segundo trimestre de 2016, de acordo com medições do ICAgro, outro indicativo de que o cenário dá sinais de recuperação. “Commodities em bons preços, agricultores sem dívidas, crédito aos produtores e clima correto nos fazem assumir uma postura de otimismo com responsabilidade”, afirma o diretor. “Para serem competitivos, os produtores têm procurado investir cada vez mais em

As incertezas do Moderfrota expectativa do setor está ligada ao futuro do Moderfrota. De acordo com Marchesan, os recursos para financiamentos do Moderfrota para este exercício definidos pelo governo federal foram de cerca de R$ 5 bilhões e, normalmente, a demanda anual é de R$ 10 bilhões. “O Moderfrota vai até junho de 2017 e o governo precisa definir logo quanto teremos de recursos para a próxima safra”, diz Marchesan. “Estamos trabalhando junto ao governo para aumentar a complementação para o mercado não parar. E estão sensíveis ao assunto, já que o agronegócio é um dos setores que vêm ajudando a economia a formar superávit primário.”

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tecnologia. Apresentamos inovações, financiamento via Banco John Deere e diferenciais que temos para honrar a confiança de nossos clientes.” No caso da Case IH, a marca estima estabilidade nas vendas ou um pequeno crescimento em 2017. “O agricultor está capitalizado. Entretanto, o setor ainda é muito dependente das linhas de financiamento do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) e precisa de definições quanto à complementação ao Moderfrota”, afirmou Diogo Melnick, gerente de marketing da marca. Segundo Melnick, o setor já trabalha com a possibilidade de antecipação de compra por parte do produtor, caso não ocorra aumento de recursos para o Moderfrota. “Mas não será uma corrida desenfreada, porque o produtor não tem tanta necessidade de renovação de sua frota. As compras seriam mais por causa de bons negócios que as empresas estão oferecendo”, afirmou Melnick. Até a publicação dessa edição, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento sinalizou que deve anunciar a transferência de R$ 2,5 bilhões de outros programas de crédito rural para o Moderfrota. Isso porque os R$ 5,4 bilhões iniciais se mostraram insuficientes para atender a demanda do setor.

A CRISE É ATRAENTE PARA O PRODUTOR

102 Successful Farming Brasil | sfagro.com.br

de grãos AF 4130, com bônus de até R$ 20 mil, peças grátis nas duas primeiras revisões e dois anos de garantia. Facilitar a compra de maquinário não é uma iniciativa só dos fabricantes. A cooperativa paulista Coopercitrus, por exemplo, oferece condições especiais aos seus cooperados. Isso inclui financiamentos especiais e consórcio para a compra de maquinário com juros subsidiados e prazo de pagamento de no máximo 120 meses. Entre as iniciativas dos governos, vale mencionar o Pró-Implemento, programa lançado pelo governo de São Paulo em julho de 2016. A linha de financiamento prevê o empréstimo de até R$ 200 mil para a compra de qualquer implemento que possa ser acoplado ao trator. Além do Pró-Implemento, há também um programa de financiamento para a compra de trator, o Pró-Trator, com juros subsidiados pelo governo

paulista. Iniciativa similar beneficia produtores do Paraná. O programa Trator Solidário financia tratores, oferecendo ao produtor preços 15% a 20% abaixo dos praticados nas revendas, com os juros subsidiados pelo governo paranaense. Outra modalidade que aquece as compras de maquinário são as operações de barter, com o pagamento calculado em sacas de café, por exemplo. Essa foi a melhor alternativa encontrada pelo produtor Ademar Pereira, que cultiva café em Caconde, no interior paulista. “Comprei quatro tratores, máquinas de beneficiamento, lavadores de café e secadores rotativos”, diz o produtor. Com a compra dos equipamentos em operações de barter, ele conseguiu reduzir em 25% os custos de produção e aumentou em 50% a produtividade do cafezal, nos últimos dez anos. Em média, ele produz 2 mil sacas de café por safra. “O barter é uma ferramenta que veio pra ficar”, diz Pereira.

Acredito muito na recuperação do mercado no ano que vem. Já estamos no fim do poço, agora a tendência é a retomada das vendas”

Foto: Divulgação John Deere e Divulgação CNH

om o objetivo de driblar a crise e estimular a troca de maquinário, os fabricantes lançaram programas de vendas e ofereceram descontos atraentes para os agricultores. Um exemplo é a Case, que ofereceu duas campanhas focadas na compra da primeira máquina da marca: “Meu Primeiro Case IH”, para tratores, e “Minha Primeira Axial”, para colheitadeira. As campanhas facilitaram a aquisição do primeiro trator entre os seis modelos das linhas Farmall e Farmall série A, oferecendo descontos de até R$ 10 mil, peças grátis nas duas primeiras revisões e a possibilidade de financiamento pelo programa Mais Alimentos. “Devido ao grande sucesso dessa iniciativa, decidimos estendê-la para as novas colheitadeiras Axial Flow, lançadas neste ano”, disse Christian Gonzalez, diretor de marketing da Case IH para a América Latina. A campanha “Minha Primeira Axial” favorece a compra da colheitadeira

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De janeiro a outubro, foram vendidas 35,2 mil máquinas agrícolas, uma queda de 13,2% em comparação com o mesmo período de 2015

João Carlos Marchesan, presidente executivo da Abimaq

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M E R C A D O EM FOCO

em desacordo com o Farm Bureau e grupos de commodities, que veem a TPP como uma oportunidade de aumentar as exportações agrícolas dos EUA. Tanto Trump quanto a candidata democrata, Hillary Clinton, opuseram-se à conclusão da já negociada TPP, que tem o apoio do presidente, Barack Obama. Teoricamente, Obama poderia pedir ao Congresso que a aprovasse durante a sessão de final de mandato. “Acho pouco provável que o Congresso trate disso em final de mandato”, diz Thatcher. Thatcher disse não saber com certeza como Trump poderá renegociar o Nafta. O México e o Canadá são ambos grandes mercados de exportação para diversas commodities dos EUA, incluindo o milho, sendo que, nos últimos anos, o México foi o segundo maior mercado para exportação de milho, atrás apenas do Japão. Se a administração Trump tentar renegociar a TPP com as outras 11 nações do Pacífico que a assinaram, a preocupação é com o tempo que isso levará. “Certamente não queremos que nossos parceiros avancem sem nós”, diz ela. Um dos poucos grupos agrícolas que estão céticos e se preocupam com o déficit global da economia dos EUA é o National Farmers Union (NFU, sindicato nacional de fazendeiros). Muitos membros do NFU gostaram do posicionamento de Trump em relação ao comércio internacional, segundo Roger Johnson, presidente da entidade. “Eu sei que uma parte considerável de nossos membros votou em Trump em função do comércio internacional”, diz Johnson. Segundo ele, o NFU não é contra os acordos comerciais, mas acredita que os EUA não têm se beneficiado deles tanto quanto deveria.

O QUE O AGRONEGÓCIO AMERICANO ESPERA COM TRUMP? CONFIRA AS PERSPECTIVAS PARA O COMÉRCIO INTERNACIONAL, LEI AGRÍCOLA AMERICANA E PRODUÇÃO DE BIOCOMBUSTÍVEL

Energias renováveis utro tema sensível é o da produção de combustíveis. Trump disse durante a campanha à presidência que apoia o etanol. “Existem pessoas em sua equipe que são contra e outras que são a favor, então não há como saber”, disse Johnson. A preocupação de Johnson é a de que a promessa de Trump de se retirar do

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Por Daniel Looker

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está a regra “Waters of the U.S.”, da EPA, que o Farm Bureau temia que desse à agência o poder de regulamentar práticas agrícolas referentes a canais intermitentes em seus campos. No início de sua campanha, Trump falou em eliminar a EPA. “Ele não é rei, e ele não eliminará a EPA, mas acredito que ele abordará algumas das regras mais importantes”, diz Thatcher. Comércio internacional om relação ao comércio internacional, Trump promete renegociar acordos comerciais, incluindo o Nafta (North American Free Trade Agreement, acordo de livre comércio norte-americano), em vigor desde 1994. Além disso, ele pode se opor à Trans-Pacific Partnership (TPP – parceria transpacífica). Isso está

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Foto: Shutterstock

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os últimos oito anos, muitos fazendeiros norte-americanos ficaram irritados com a administração do presidente, Barack Obama, considerada como um excesso de regulação. Grupos agrícolas e apoiadores de Donald Trump esperam que isso seja reduzido, após o magnata dos imóveis ser eleito o 45º presidente dos EUA, no dia 8 de novembro. “Sem dúvida, os americanos da zona rural que apoiaram Trump o fizeram principalmente por seus comentários sobre a Agência de Proteção Ambiental (EPA)”, afirma a lobista da American Farm Bureau Federation, Mary Kay Thatcher. “Quando se pergunta aos fazendeiros qual a sua maior preocupação, é sempre a regulamentação.” Em destaque na lista de medidas impopulares

Ele só quer acordos comerciais que não levem embora empregos. É preciso renegociar esses acordos de maneira inteligente e eu acho que ele o fará” Bruce Rastetter,empresário e presidente do conselho estadual de Iowa

acordo climático de Paris possa prejudicar o apoio aos combustíveis renováveis. “Ele é tão anticonvencional e quebrou tantas regras da política que não há como saber o que ele fará”, disse Johnson. Bruce Rastetter, empresário do agronegócio e presidente do conselho estadual de Iowa e um dos quase 100 líderes agrícolas que trabalharam no comitê de consultoria para assuntos agrícolas de Trump, está otimista com o resultado das eleições. “Acredito que veremos uma administração favorável à agricultura, que aumentará as exportações e estabelecerá acordos comerciais justos”, diz Rastetter. “Ele é a favor do comércio internacional e só quer acordos comerciais que não levem embora empregos.” Ainda segundo Rastetter, a comunidade rural americana foi duramente atingida pela perda de empregos na manufatura. “É preciso renegociar esses acordos de maneira inteligente e eu acho que ele o fará”, afirma. Qual é a previsão para a Farm Bill? e acordo com o economista agrícola da Purdue University, Otto Doering, ninguém sabe ao certo o que a administração Trump significa para a “Farm Bill” (a principal lei do agronegócio americano, que consiste em um pacote de programas agrícolas federais). Outras áreas do governo federal, incluindo o comércio exterior e a política fiscal, podem ser mais importantes para a agricultura. No entanto, um indicativo do que há por vir pode ser o fato de que Trump está recebendo aconselhamento de pessoas conectadas à American Heritage Foundation, grupo que se opõe aos subsídios agrícolas, segundo Doering. Quando as duas últimas “farm bills” foram escritas, membros do comitê de agricultura de estados agrícolas de ambos os partidos conseguiram manter o mesmo nível de financiamento, conhecido como linha de base. “Eles podem ser um grupo relativamente pequeno, mas são muito unidos”, diz Doering. Devido à queda dos preços das commodities, os pagamentos da atual “Farm Bill” provavelmente serão elevados, ao menos até o final do ano fiscal de 2017. “Voltamos aos nossos amigos da Heritage Foundation. Eles se aproveitarão disso”, diz Doering. Segundo o economista, as políticas comerciais da administração Trump poderão vir a ter um efeito maior sobre a agricultura se resultarem em retaliação comercial. “A agricultura tem se beneficiado substancialmente do comércio exterior”, afirma. Segundo ele, muitas das grandes crises da agricultura têm sido causadas por problemas nesse setor. As decisões de Trump relacionadas às políticas de imigração também podem afetar a agricultura em estados produtores de frutas e verduras, como a Califórnia e a Flórida. O centro-oeste também é potencialmente afetado, porque a mão de obra imigrante é usada no processamento e na embalagem de carnes.

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M e r c a d o EM FOCO

SINAL VERDE PARA O ETANOL DE MILHO

PRODUÇÃO  BRASILEIRA DO  COMBUSTÍVEL DEVE  DOBRAR ATÉ 2018,  SUPERANDO OS  300 MILHÕES DE LITROS Por Bruno Santos

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s usinas canavieiras historicamente enfrentam um grande problema: a falta de matéria-prima para a produção de biocombustível durante a entressafra de cana-de-açúcar. Nesse período, o setor sucroenergético ficava sempre “adormecido” durante quatro meses. A maior região produtora de cana, chamada de “Centro-Sul”, por exemplo, amarga um período ocioso de dezembro a abril, enquanto que, para os produtores de cana-de-açúcar na região Nordeste, a entressafra ocorre de maio a setembro. Porém, nos últimos cinco anos, as usinas encontraram no milho a solução para que seja possível produzir etanol ininterruptamente, durante o ano inteiro. Desde 2011, a Usimat está apostando nessa alternativa, com a produção de etanol de milho no município de Campos de Júlio, no Mato Grosso. Isso só foi possível porque a Usimat investiu R$ 25 milhões com o objetivo de adaptar a sua estrutura e se tornar uma usina “flex”, capaz de processar cana-de-açúcar e milho. Com as operações durante a entressafra, a empresa garantiu receita extra de R$ 70,2 milhões. A alternativa se tornou tão atraente que a Unimat não parou mais de produzir etanol de milho e virou fonte de inspiração para outras usinas do estado. Com o cereal, em 2015, a Usimat produziu 42 mil litros de etanol durante a entressafra da cana. A produção pode dobrar tualmente há dez usinas que processam cana-de-açúcar em Mato Grosso. Desse total, três são “flex”, ou seja, também utilizam o milho para pro-

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duzir o biocombustível. Além da Usimat, as usinas Libra, localizada em São José do Rio Claro, e a Porto Seguro, em Jaciara, estão com as operações a todo vapor. Juntas, as três usinas têm capacidade para produzir 150 milhões de litros por ano. Para comparação, no período acumulado desde o início da atual safra de cana-de-açúcar até 16 de outubro, as usinas produziram 21,2 bilhões de litros de etanol, de acordo com dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar. Assim, é fácil constatar que o volume de etanol produzido a partir do milho é considerado muito inexpressivo. No entanto, os especialistas defendem que esse segmento vai avançar num ritmo acelerado. De acordo com Glauber Silveira, presidente da Câmara Setorial da Soja, órgão ligado ao Ministério da Agricultura, há duas novas usinas em construção no estado e a expectativa do setor é dobrar a produção já na próxima safra. “Com a incorporação dessas duas novas unidades processadoras, na safra 2017/2018, passaremos dos 300 milhões de litros de etanol”, afirma. Alavancar a produção de etanol de milho será possível com projetos como a da FS Bioenergia. Trata-se de uma Joint Venture entre a Fiagril, originadora de grãos que já produz biodiesel, com sede em Lucas do Rio Verde, e o grupo americano Summit, uma empresa de administração rural e de investimentos em agricultura com sede em Iowa. A construção da usina está adiantada, com inauguração prevista para junho de 2017. De acordo com o diretor-geral do grupo Summit no Brasil, Rafael Abud, a indústria ajudará a compensar a crescente demanda por etanol que não consfagro.com.br | Successful Farming Brasil 107


FUTURO PROMISSOR

Os ganhos com etanol de milho são fantásticos. Além disso, temos uma demanda crescente, pois o Brasil não é autossuficiente em combustível e acaba importando gasolina”

Evolução da produção de milho no Mato grosso

Produção atual do combustível à base do grão

(Em milhões de toneladas)

(Em milhões de litros por ano)

10 3 2

150

USINAS

2015/2016

2016/2017 * 2025/2026 * * Projeção do Imea e IBGE

2015/2016

2017/2018 *

* Estimativa.  FONTE: Imea/Famato

USINAS FLEX

(PROCESSAM CANA-DE-AÇÚCAR E MILHO)

USINAS FULL (PRODUZEM APENAS ETANOL DE MILHO)*

* Devem entrar em operação em 2017

segue ser suprida pela cana-de-açúcar. “O foco da FS Bioenergia é produzir etanol de milho e seus coprodutos com a mais moderna tecnologia disponível no mercado, que acreditamos ser a melhor proposta de valor para a região”, afirma. A FS Bioenergia está investindo R$ 372 milhões na usina, que terá capacidade para produzir 220 milhões de litros de etanol anualmente. A capacidade de processamento de milho e de sorgo será de 1 milhão de toneladas por ano. “Além do etanol, vamos produzir também 6 mil toneladas de óleo de milho e 60 mil megawatts de energia elétrica para abastecimento da rede”, diz Abud. Outra usina em construção é da empresa Cevital, multinacional argelina que atua no ramo de processamento de alimentos, mineração e aço. A Cevital está investindo cerca de R$ 2,5 bilhões para erguer a sua usina no município de Vera, próximo aos grandes

Foto: Shutterstock/ Imea/ Arquivo Pessoal

NÃO VAI FALTAR MILHO? as 26 milhões de toneladas de 2015, mas continuaremos avançando nas próximas safras”, diz. Essa expectativa de crescimento também foi um dos temas apresentados durante o Congresso do Setor Sucroenergético do Brasil, realizado recentemente em Cuiabá. De acordo com estudo do Imea em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2025 somente o estado do Mato Grosso poderá atingir produção de até 40 milhões de toneladas de milho, o que representa um crescimento de 81%. “Com ganho em produtividade a cada safra, certamente o Brasil continuará como um dos maiores produtores de milho do mundo”, diz Ozelame.

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Segundo Glauber Silveira, há estoques de milho para a produção de etanol e esse segmento pode crescer sem competir com o setor de ração animal

“Mesmo com quebra de safra este ano, ainda teve milho excedente para a produção de etanol e ainda conseguimos exportar 12 milhões de toneladas até outubro, um resultado bastante expressivo”, diz. “Além disso, para o ano que vem, a estimativa é de uma safra de alta produtividade.” De acordo com Ângelo Luís Ozelame, gestor de análise de mercado do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), a safra 2016/2017 deve realmente voltar a registrar grandes números. “Com a boa semeadura da soja do Mato Grosso, que segue em ritmo avançado, a próxima safra deve chegar a um total de 23 milhões de toneladas de milho. Não vamos bater

Panorama da produção de etanol no Mato Grosso

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Glauber Silveira, presidente da Câmara Setorial da Soja

Com os problemas climáticos e a quebra da segunda safra 2015/2016 do milho, o Brasil vivenciou uma situação atípica. Houve queda de 17 milhões de toneladas na produção, passando de 84 milhões de toneladas do grão na safra 2014/2015 para 67 milhões de toneladas na safra 2015/2016, segundo levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Mato Grosso, maior produtor brasileiro do cereal, registrou recuo de 5,5 milhões de toneladas, produzindo 15,2 milhões na safra 2015/2016. De acordo com Glauber Silveira, ainda assim, as usinas de etanol de milho não têm motivos para preocupação.

A FORÇA DO BIOCOMBUSTÍVEL

safra da cana-de-açúcar e ao mesmo tempo agrega valor ao milho, já que o grão produzido no Centro-Oeste, especialmente na porção norte do Mato Grosso, é um dos mais baratos do mundo”, afirma. Para entender melhor como o etanol de milho agrega valor ao cereal, Silveira cita, como exemplo, a produção no Mato Grosso. De janeiro até outubro deste ano, o estado exportou cerca de 10 milhões de toneladas do grão, que renderam aproximadamente R$ 3 bilhões, de acordo com dados do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea). Segundo Silveira, se esse volume de milho fosse processado para a produção de etanol, o resultado seria de 4 bilhões de litros do combustível. Calculando a receita total, que inclui os ganhos com o etanol, geração de energia e com a venda de DDG (sigla em inglês para grão de destilaria seco, um subproduto do milho altamente proteico e muito valorizado como ração animal), Com ganho em produtividade  o setor teria faturado cerca de R$ 13 bilhões. a cada safra, certamente o “Os ganhos com etaBrasil continuará como um  nol de milho são fantásticos. Além disso, dos maiores produtores temos uma demanda de milho do mundo” crescente, pois o Brasil não é autossuficienÂngelo Luís Ozelame, gestor de análise de mercado do Imea te em combustível e acaba importando gapolos produtores de soja e milho do Mato Grosso, nas solina”, diz Silveira. Ainda segundo Silveira, a produção de etanol de milho não compete com o setor cidades de Sorriso e Lucas do Rio Verde. de nutrição animal. “Para o próximo ano, a produção de milho brasileira deve ser próxima de 85 miO negócio é lucrar mais e acordo com Glauber Silveira, o etanol de milho lhões de toneladas e o consumo está estimado em 55 é uma realidade sem volta no Mato Grosso e no milhões de toneladas. Ou seja, temos um excedente Brasil. “O etanol de milho resolve dois grandes pro- de 30 milhões de toneladas e vamos produzir etanol blemas históricos: a ociosidade das usinas na entres- com este milho que está sobrando”, diz.

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M e r c a d o EM FOCO

Teremos a desoneração de cerca de R$ 1 bilhão por ano na cadeia produtiva e o produtor será diretamente beneficiado” Ricardo Cavalcanti, coordenador do Plano Agro+

consolidação do projeto”, afirma Ricardo Cavalcanti, coordenador do Plano Agro+.

O CAMPO SE DESPEDE DA

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BUROCRACIA MINISTÉRIO DA AGRICULTURA LANÇA O PLANO AGRO+, CRIADO COM O OBJETIVO DE FACILITAR O COMÉRCIO DE PRODUTOS AGRÍCOLAS E MODERNIZAR AS OPERAÇÕES DO AGRONEGÓCIO Por Bruno Santos

cio mundial agrícola, passando dos atuais 7% para 10%. Com isso, os especialistas calculam que mais de US$ 30 bilhões serão injetados na economia brasileira. “O objetivo é tirar o dinheiro da mão da ineficiência e colocá-lo à disposição da eficiência”, afirma Maggi. “Essas ações resultarão em mais empregos e mais renda para o Brasil.” Para acelerar esse processo de modernização do agronegócio, o ministério firmou parceria com a Frente Parlamentar da Desburocratização da Câmara dos Deputados e com o Conselho de Secretários Estaduais de Agricultura (Conseagri). O intuito desse acordo é minimizar o custo anual da burocracia para o Brasil, calculado em R$ 46,3 bilhões, ou seja, 25% do Produto Interno Bruto (PIB). “Esta parceria foi mais um passo importante na evolução e

O objetivo é tirar o dinheiro da mão da ineficiência e colocá-lo à disposição da eficiência. Essas ações resultarão em mais empregos e mais renda para o Brasil” Blairo Maggi, ministro da Agricultura 110 Successful Farming Brasil | sfagro.com.br

Foto: Shutterstock/DIivulgação

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e por um lado o agronegócio brasileiro não teve em 2016 o melhor desempenho de sua história devido aos problemas climáticos nas principais regiões produtoras, desvalorização de preço das commodities e dificuldades na contratação de crédito rural, por outro lado deu um enorme salto político, com a criação do Plano Agro+. Lançada em agosto, pelo ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Blairo Maggi, e pelo secretário executivo da pasta, Eumar Novacki, a iniciativa foi criada com o objetivo de melhorar os processos regulatórios e as normas técnicas para tornar o Brasil mais competitivo e com maior presença no mercado internacional. A meta traçada é clara: fazer com que, até 2020, o Brasil consiga aumentar a sua participação no comér-

O projeto om o slogan “Queremos um Brasil mais simples para quem produz e mais forte para competir”, o plano foi elaborado a partir de 315 demandas enviadas ao Mapa e de consultas a 88 entidades do setor produtivo. De acordo com Cavalcanti, por meio de encontros técnicos, seminários e workshops com entidades representativas do setor produtivo, foram diagnosticadas as necessidades e as deficiências do agronegócio brasileiro. “Já temos mais de 350 demandas, mas a ideia é manter esse canal aberto para continuarmos recebendo as necessidades de todo o setor”, diz ele. Na prática, o que o produtor ganhará com essas medidas? Segundo Cavalcanti, a cadeia produtiva deixará de ser onerada em alguns aspectos e haverá uma redução do chamado “custo Brasil”. Com isso, futuramente o produtor vai gastar menos para produzir. “Atendendo a essas demandas, teremos a desoneração de cerca de R$ 1 bilhão por ano na cadeia produtiva e o produtor será diretamente beneficiado”, diz o coordenador do plano. Entre as principais medidas, está o fim da reinspeção em portos de carregamentos vindos de unidades com Serviço de Inspeção Federal (SIF). A reinspeção causava atrasos, deixando os contêineres parados por até dez dias nos portos. Outra reivindicação do setor atendida foi o lançamento do sistema de rótulos de produtos de origem animal (carnes, mel, ovos, pescados e derivados), que permite a liberação automática da rotulagem de 90% dos produtos que têm o selo

SIF. Isso quer dizer que eventuais alterações no rótulo, na composição e na fabricação do alimento não passarão mais por análise do Ministério da Agricultura. Basta apenas que as empresas informem a mudança ao ministério. Um exemplo prático de como o plano vai ajudar os produtores a reduzir custos é a alteração da temperatura de congelamento da carne suína. A carne deixará de ser armazenada a 18 ºC negativos e passará para 12 ºC negativos. “Esse é um exemplo prático de redução de custo. O Brasil tinha um gasto maior de energia ao utilizar 6 °C a mais que o restante do mundo”, afirma Cavalcanti. Além dessas medidas, o Agro+ conta ainda com a revisão de regras de certificação fitossanitárias e o aceite de laudos digitais também em espanhol e inglês. “As nossas leis de sanidade vegetal são muito antigas e estava mais do que na

HORA DA MUDANÇA

Confira as principais ações do Plano Agro+ • Fim da reinspeção nos portos e carregamentos vindos de unidades com SIF • Lançamento do sistema de rótulos de produtos de origem animal • Alteração da temperatura de congelamento da carne suína (-18 ºC para -12 ºC) • Revisão de regras de certificação fitossanitária • Ampliar a participação do agronegócio brasileiro no comércio internacional de 7% para 10%

hora de serem modernizadas”, diz o coordenador. Desburocratização estadual pós o lançamento do Agro+ pelo Mapa, o Rio Grande do Sul foi o primeiro estado a aderir oficialmente ao programa. O plano gaúcho, apresentado no fim de novembro, já coletou mais de 100 demandas de entidades produtoras. De acordo com Fernando Henrique Sauter Groff, assessor técnico da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Agronegócio do Estado, o Agro+ RS vai ajudar a alavancar o agronegócio racionalizando recursos. “O plano vai reduzir os prazos de resposta aos setores, facilitando a articulação entre órgãos oficiais para adequar investimentos”, diz ele. Ainda de acordo com o assessor técnico, o projeto trará ganhos diretos e indiretos aos produtores gaúchos por meio da identificação de gargalos da produção. “Vamos estreitar a relação do Estado com o produtor, gerando ações mais eficazes voltadas à produtividade e qualidade de produtos”, afirma Groff. “Nosso foco é simplificar os procedimentos sem descuidar das exigências sanitárias.” Assim como os gaúchos, os representantes de Tocantins também já anunciaram adesão ao plano de desburocratização, simplificação e modernização do agronegócio. Para Cavalcanti, a adesão está ocorrendo progressivamente. “Alguns estados já começaram a montar equipes para levar às suas regiões o Agro+. Entre eles, Rondônia, Minas Gerais, Alagoas, Rio Grande do Norte, Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso”, afirma o coordenador do plano.

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M E R C A D O EM FOCO

Eu não vejo as áreas de cultivo como um problema. As abelhas produzem mais mel em áreas de agricultura do que em áreas urbanas ou de florestas” Reed Johnson, professor da Ohio State University

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QUEM MATOU O

POLINIZADOR? Acusações voam de um lado para outro. Entenda quais são os culpados pela morte das abelhas Por Kacey Birchmier

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magine que você seja um trabalhador importante em um setor global. Apesar de seus melhores esforços, você não consegue atingir suas metas porque está sempre perdendo colegas de trabalho. O que é mais frustrante é que todos os participantes do setor culpam uns aos outros pela queda dos seus números. É isso que as abelhas enfrentam atualmente. O menor trabalhador agrícola continua a lutar uma batalha perdida. Os apicultores dos Estados Unidos perderam 44% de suas colônias, entre abril de 2015 e abril de 2016, de acordo com o Bee Informed Partnership, que recebe o apoio do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) e do Instituto Nacional de Alimentos e Agricultura. Ao mesmo tempo, as abelhas contribuem com estimados US$ 15 bilhões por ano para a produção agrícola ao polinizar plantações como as de maçãs e amêndoas. “Temos perdas de colônias de abelhas acima do aceitável”, diz Ric Bessin, especialista do programa de extensão da University of Kentucky. Segundo Jerry Hayes, chefe de saúde das abelhas na Monsanto, anteriormente chefe da seção de inspeção de apiários do Departamento de Serviços ao Consumidor e Agricultura da Flórida, a morte das abelhas não ocorre apenas nos Estados Unidos. “Estão todos preocupados com a saúde das abelhas”, diz ele. Quem é o culpado? Há muita discussão sobre isso. Estas são as cinco maiores causas da redução das abelhas.

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ÁCARO VARROA

A agricultura se tornou o bode expiatório da perda de abelhas, mas ela não é a maior ameaça. O principal inimigo é o ácaro Varroa. O mais perturbador é que os cientistas possuem poucas soluções para esse ácaro. Seu nome científico é Varroa destructor, o que é apropriado, considerando-se que ele pode eliminar uma colmeia em 18 a 24 meses. O ácaro Varroa é um parasita externo, que ataca adultos e sua ninhada em desenvolvimento. Ele se alimenta do “sangue” da abelha, a enfraquece e também transmite bactérias e vírus. É como ter um peso de 5 quilos em suas costas, sugando seu sangue. “Se eu tivesse uma varinha mágica e pudes-

se dar fim a uma praga, essa seria o ácaro Varroa”, diz Reed Johnson, professor assistente do departamento de entomologia da Ohio State University. O controle do parasita poderia aumentar a saúde das abelhas em até 80%, diz Hayes. Ele não apenas enfraquece a abelha fisicamente mas também transmite diversos vírus. Esses vírus, por si só, poderiam eliminar uma colônia, uma vez que não há tratamento para eles, diz Andy Joseph, apicultor do estado de Iowa, nos Estados Unidos. A única opção do apicultor é controlar os ácaros, o que significa usar pesticidas. Como todas as pragas, os ácaros podem desenvolver resistência aos pesticidas, diz Johnson. “Nenhum apicultor quer aplicar pesticida em uma colmeia”, diz Joseph. “Mas quanto mais baixo o nível de ácaros, mais saudáveis as abelhas.” Os apicultores estão tentando evitar acaricidas e adotar alternativas inteligentes para o controle de ácaros, que sejam naturais e relativamente inofensivas para as abelhas, diz Joseph. “Não temos uma forma perfeita de lidar com ele. Não existe uma solução realmente boa para isso. Os apicultores sobrevivem e encontram formas de controlá-lo, mas é uma batalha constante”, diz Johnson.

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DEFENSIVOS QUÍMICOS

A má notícia é que o ácaro Varroa não deixa o produtor em paz. Os pesticidas desempenham uma função. Entretanto, diferentemente do ácaro Varroa, você pode criar uma estratégia para controlar pragas ao mesmo tempo que preserva as abelhas. “Apesar de os pesticidas não serem o maior agente de estresse, é sobre eles que temos o maior controle”, diz Bessin. As seguintes dicas podem ajudá-lo a mitigar o dano que os pesticidas podem causar. Utilize práticas integradas de gerenciamento de pragas durante a aplicação de pesticidas. Bessin orienta considerar todas as opções de controle de pragas, incluindo as que não se baseiam em produtos químicos. Quando a aplicação de inseticidas for necessária, esses passos podem mitigar o dano, diz Bessin. sfagro.com.br | Successful Farming Brasil 113


Leia e siga o rótulo do pesticida. Ele pode identificar ingredientes que são letais, mas são mais comuns as declarações que proíbem a aplicação quando houver abelhas à procura de alimento na área. Avalie o melhor momento de aplicação. Evite aplicar defensivos nas plantações em floração ou quando outras plantas da região, incluindo ervas

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15 bilhões

é o valor estimado da produção das plantações que as abelhas ajudam, enquanto que as abelhas nativas selvagens geram um valor estimado em US$ 3 bilhões em serviços de polinização Fonte: USDA

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daninhas, estão florescendo. “Quando as plantas estão florescendo, é quando você aumenta o risco potencial às abelhas”, diz Bessin. Evite aplicar pesticidas quando as abelhas estão à procura de alimento durante o dia. Em vez disso, aplique no final da tarde. “As abelhas são geralmente ativas cerca de uma hora após o amanhecer, até uma hora antes do entardecer”, diz Johnson. Aumente a troca de informações. Avise os apicultores da região quando as aplicações de defensivos serão feitas, para que eles possam administrar suas colmeias, diz Bessin. Monitore o clima. Se a direção do vento for desfavorável, deixe um espaço entre a área de aplicação e a colmeia. Esses passos ajudarão a reduzir a exposição das abelhas aos defensivos químicos, diz Bessin.

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INSETICIDAS

NEONICOTINOIDES

“Há muita acusação sendo feita aos neonicotinoides”, diz Hayes. A família de defensivos neonicotinoides é a maior culpada pela morte das abelhas. Sua primeira aparição nos Estados Unidos foi no milho, nos anos 90, com o tratamento de sementes Gaucho, um inseticida à base de imidacloprido. No início dos anos 2000, a clotianidina (Pon-

cho) e o tiametoxam (Cruiser) chegaram ao mercado. A maioria desses é solúvel em água e se degrada lentamente no ambiente. Isso permite que as plantas os absorvam nas folhas e caules para proteção contra insetos durante as fases iniciais do crescimento. A boa notícia é que nem todos os produtos neonicotinoides são igualmente tóxicos para as abelhas, diz Bessin. Alguns usos são menos arriscados do que os outros. “Eles estão sendo reavaliados pela Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos EUA”, diz Bessin. Entretanto, existem quatro produtos neonicotinoides que são tóxicos para as abelhas, de acordo com Johnson. Para ser claro, os pesticidas são um problema, diz Bessin. “Simplesmente resolver o problema dos pesticidas não resolverá o problema das abelhas”, diz ele. Enquanto isso, o tipo de lubrificante usado para evitar que as sementes se grudem às semeadeiras pode ajudar as abelhas. Talco e grafite são lubrificantes de sementes comuns, mas eles não reduzem a liberação de poeira. A Bayer tem um produto chamado Fluency Agent que reduz a liberação de poeira nas sementes tratadas em 90%, em relação ao talco, e 60%, em relação ao grafite. “Algumas pessoas querem dizer que os neonicotinoides são sempre um problema. Outras dizem que eles nunca são um problema. Nenhum dos dois é verdade. É uma grande área cinzenta”, diz Johnson.

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Foto: Shutterstock

Escolha um defensivo que não seja letal para as abelhas, quando isso for uma opção. Essa informação está disponível nos rótulos. “Existem pesticidas que são altamente tóxicos para as abelhas”, explica Bessin. “Os que acarretam o maior risco trazem um ícone de uma abelha em um losango, no rótulo. Existem alguns ingredientes ativos que são letais.”

Proibir os neonicotinoides não necessariamente ajudará, porque os produtos mais antigos podem ser piores para as abelhas, diz Jennifer Tsuruda, especialista em apicultura da Clemson University. “Antes de exigirmos proibições, temos que estar seguros de que existam alternativas melhores”, diz ela. A resposta pode ser um melhor gerenciamento. Uma opção é utilizar tratamento de sementes com neonicotinoides somente em campos que possuem um histórico de pragas, em vez de fazê-lo como prevenção.

GARGALO GENÉTICO

As abelhas podem ser culpadas. Existe uma falta de diversidade genética nas abelhas, porque a maioria dos apicultores estão adquirindo rainhas de uma dúzia de criadores. Por isso, existe o argumento de que certos traços tenham sido geneticamente minimizados. As abelhas estavam sendo criadas para terem traços como produção de mel e docilidade, diz Tsuruda. Ela diz que é como encontrar o par perfeito. Às vezes, não se consegue encontrar alguém que preencha todos os requisitos desejados, então, em vez disso, há prioridades. Os criadores talvez tenham que aceitar abelhas capazes de tolerar os ácaros, mas que têm produção de mel mais baixa. Atualmente, mais atenções estão voltadas para a criação e isso pode ser parte da solução para combater o ácaro. A melhor opção é desenvolver uma colmeia higiênica, que policia a si própria. Existem traços resistentes aos ácaros, pelos quais se pode fazer uma seleção, de acordo com Joseph. “O ácaro Varroa se reproduz nas ninhadas de abelhas”, diz ele. Um ácaro invade uma célula da ninhada com uma larva de abelha e produz uma prole que se desenvolve juntamente com a pupa imatura da abelha. Quando a abelha madura deixa a célula da pupa, os ácaros também o fazem. “As trabalhadoras de uma colônia higiênica abrem a célula da pupa e, se encontrarem

uma infestação, a removem da colmeia”, diz Joseph. Outro traço que está sendo desenvolvido resultará em abelhas que destroem os ácaros.

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FALTA DE HABITAT

Algumas pessoas dizem que a agricultura está eliminando o habitat dos polinizadores e que a agricultura intensiva é a culpada. “Os apicultores desejam maior diversidade no habitat”, diz Joseph. O ideal seria que as abelhas tivessem uma fonte de alimento, desde o início da primavera até o final do outono. A diversidade é limitada no ambiente à medida que mais milho e soja são plantados, de acordo com Joseph. “É uma perda de habitat para as abelhas”, diz ele. “Nossas abelhas não estão vivendo em uma paisagem natural. Quando os preços do milho e da soja estão altos, vemos mais perdas.” Ainda assim, cada região é diferente. “Eu não vejo as áreas de cultivo como um problema”, diz Johnson. Ele busca nas margens dos campos ajuda para sustentar as abelhas. “As abelhas produzem mais mel em áreas de agricultura do que em áreas urbanas ou de florestas”, diz ele. Plantações de cobertura do solo podem ser parte da solução. “Muitos dos traços das plantações de cobertura são bons para a busca de alimentos das abelhas”, diz Tsuruda. Plantações de cobertura, margens dos campos, áreas de CRP (programa de conservação de reservas) e habitats de polinizadores são passos na direção certa, para oferecer maior diversidade de plantas. “Os apicultores e os fazendeiros são aliados naturais na maioria dos casos”, diz Johnson. As abelhas precisam de diversidade de alimentos. Nem todo pólen é nutritivo, e nem todas as proteínas são iguais, diz Tsuruda. Sem diversidade, os apicultores precisam suplementar a dieta das abelhas. “Se você quiser manter uma colônia de abelhas viva durante o

inverno, você terá que alimentá-las com xarope de milho”, diz Joseph. “Estes são problemas cumulativos que as abelhas estão enfrentando.” Os desafios em relação às abelhas são de longo prazo, e a pesquisa constante indicará a melhor maneira de ajudá-las.

Quem está ajudando?

A

EPA (Agência de Proteção Ambiental) exigiu proteção aos polinizadores. A indústria agrícola também está focada em ajudar as abelhas. A Bayer Crop Science tem uma iniciativa chamada Healthy Hives 2020. Lançado em 2015, o programa busca soluções práticas para melhorar a saúde das colônias de abelhas, o gerenciamento de colmeias, a genética e a apicultura digital até 2020. A Monsanto trabalha em modificações genéticas chamadas interferências de RNA (RNAi), diz Jerry Hayes, da Monsanto. “Estamos utilizando o que a própria abelha usaria para matar, ferir ou causar danos aos ácaros Varroa”, diz Hayes. “Nós o amplificamos, colocamos em xarope de açúcar e alimentamos as abelhas com ele. Quando o ácaro se alimenta da abelha, esperase que ele absorva um pouco desse RNAi, que funcionará de forma que o parasita deixe de ter um impacto negativo para a saúde da abelha.” A empresa conduz pesquisas com RNAi com cerca de 2.500 colônias. A Basf criou uma iniciativa de pesquisa chamada Living Acres. Seu foco é ajudar os produtores a estabelecer biodiversidade em áreas não cultivadas, especialmente as serralhas, para ajudar a borboleta-monarca. sfagro.com.br | Successful Farming Brasil 115


M E R C A D O EM FOCO

PERSPECTIVAS PARA O CAMPO

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economia nacional passou por maus bocados, mas já apresenta sinais de recuperação para 2017 e o agronegócio deve ser o primeiro a sair do buraco. “O agro foi o único segmento da economia brasileira a se manter no azul em 2015 e 2016. Essa é uma conquista dos produtores, das empresas, da pesquisa e da busca incansável pelas novas tecnologias que ajudam a produzir mais e melhor”, diz Jorge Espanha, presidente da Merial Saúde Animal. Dados divulgados pela Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) e pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) mostram que o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio brasileiro cresceu 2,71% de janeiro a julho de 2016 na comparação com o mesmo período do ano anterior. Isso mostra que as dificuldades políticas e econômicas não foram suficientes para desmotivar os produtores, que incansavelmente continuam acreditando e investindo nos seus negócios. “O agronegócio tem sido um dos pontos fortes da economia, apesar da instabilidade macroeconômica. É o setor que segura o PIB”, diz Rodrigo Bonato, diretor de vendas da John Deere Brasil. No terceiro trimestre de 2016, o Índice de Confiança do Agronegócio (ICAgro) registrou alta de 4,2 pontos em relação ao trimestre anterior. Segundo a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), responsáveis pelo estudo, a pontuação é recorde e confirma o otimismo do setor. Confira as apostas de representantes do agronegócio para 2017.

RODRIGO BONATO, DIRETOR DE VENDAS DA JOHN DEERE BRASIL

CONFIRA O QUE REPRESENTANTES DO SETOR ESTÃO PREVENDO PARA 2017

uero chamar atenção para uma conquista importante: estamos vivendo no Brasil uma oportunidade revolucionária para a agricultura tropical, com a crescente adoção da Integração LavouraPecuária-Floresta (ILPF). O Brasil já tem 11,5 milhões de hectares rodando com ILPF. Podemos utilizar com sabedoria a oferta de sol e água, conciliando produtividade com respeito ao meio ambiente. O desafio agora é combinar tecnologia com economia operacional e gestão assertiva. Tecnologias como agricultura de precisão, conectividade de sistemas integrados, sistematização do plantio e limpeza dos grãos, utilização de dados na administração rural são alguns exemplos das inovações. A evolução será conectar o escritório com as máquinas, as máquinas conversarem entre si e os dados retornarem do campo para o computador, de forma que as melhorias possam ser feitas em tempo real. Nossa visão é continuar apresentando máquinas que serão “menos ferro e mais inteligência”.

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Por Darlene Santiago e Naiara Araújo

ARIEL MAFFI, VICE-PRESIDENTE DE RUMINANTES DA DSM

JORGE ESPANHA, PRESIDENTE DA MERIAL SAÚDE ANIMAL balanço do ano é positivo mesmo considerando as dificuldades. Em 2016, o boi gordo e a produção de leite se destacaram, com cotações remuneradoras na maior parte do ano. As carnes bovina, suína e de frango apresentaram desempenho positivo, com crescimento em volume e em receita. Olhando para o futuro, não se pode desconsiderar a redução do consumo interno de proteínas, desemprego e inflação. O consumo de carne bovina, por exemplo, que chegou próximo de 40 kg/hab/ano em 2013, recuou para 28 kg neste ano. Nesse cenário, o consumo per capita de carne de frango se mantém acima dos 40 kg e o de carne suína está em 15 kg. Apostamos na recuperação da economia brasileira para retomar os níveis de consumo. A pecuária é uma das maiores atividades produtivas do país. São mais de 210 milhões de cabeças, criadas em 167 milhões de hectares. A produtividade média supera pouco 1 UA (unidade animal por hectare). É possível dobrar esse percentual. O investimento em sanidade, nutrição e genética é essencial.

Fotos: Divulgação

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116 Successful Farming Brasil | sfagro.com.br

atual momento político e econômico no Brasil exige maior eficiência das cadeias produtivas de carne e leite. Na pecuária, os produtores responderam positivamente aos desafios da elevação de custos de alguns insumos e aqueles que mantiveram a atenção para o uso de tecnologias no campo ampliaram a produtividade e mantiveram a rentabilidade. Em 2016, um dos grandes momentos foi a abertura do mercado dos Estados Unidos para a carne bovina brasileira. Apesar de o volume ainda ser baixo, trata-se de um acontecimento importante à medida que muitos países seguem as orientações dos norte-americanos e, assim, há perspectiva sólida de abertura de novos mercados. Para 2017, o mercado de carnes tem espaço para crescer em âmbitos local e internacional, especialmente com uso de ingredientes que aumentam a produtividade e a qualidade do produto final. É possível ampliar muito a produção na mesma área com a adoção de tecnologias.

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EDUARDO ESTRADA, HEAD DA DIVISÃO CROP SCIENCE DA BAYER BRASIL credito que a tecnologia vai ser uma aliada cada vez mais presente, em especial a área de Digital Farming, que surge com novas oportunidades de apoio ao agricultor na tomada de decisões com base em dados, o que traz ganhos de eficiência e gestão. O ano de 2016 foi um marco para a Bayer. Anunciamos globalmente a compra da Monsanto, o que trará benefícios significativos. Para 2017, nosso grande objetivo é oferecer soluções integradas, contribuindo com o aumento da produtividade.

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sfagro.com.br | Successful Farming Brasil 117


GUSTAVO JUNQUEIRA, PRESIDENTE DA SOCIEDADE RURAL BRASILEIRA

FÁBIO MEIRELLES ANALISA

O DESEMPENHO

odemos esperar um ano difícil, com menos acesso ao crédito, mas vamos encontrar soluções para essa situação e continuar ajudando o Brasil. O desafio é saber como a gente continua crescendo no agro numa estrutura na qual o Estado vai ser menos presente e vamos ter menos benefícios e financiamento por parte do governo. Vamos ter que eliminar custos financeiros, custos burocráticos, para ter acesso ao capital mais barato. Isso requer que o Brasil reveja a regulação sobre financiamento agrícola. Outro ponto é a abertura de novos mercados, 2017 vai ser um ano que vai contar com uma expansão do comércio internacional. Nós temos competência, estamos melhorando a qualidade dos nossos produtos e isso nos dará mais competitividade. Novas tecnologias nós temos, o que a gente realmente precisa fazer é transformar o produtor em empresário rural. Isso envolve educação, orientação, planejamento.

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escassez de crédito disponível ao produtor fez com que ele revisse seus investimentos em tecnologia. É importante dizer que mesmo em um cenário desfavorável a Syngenta manteve seus investimentos em Pesquisa & Desenvolvimento. Lançamos oito variedades de soja anualmente, todas com alto incremento de produtividade. Podemos dizer que haverá crescimento no mercado de sementes, pois temos investido nesse sentido, focados em agregar ganhos de produtividade e rentabilidade para o produtor. Acreditamos que teremos condições climáticas e econômicas mais favoráveis e esperamos crescimento nos negócios. O nível de investimento em biotecnologia deve crescer, estimulando o mercado de sementes. E nosso planejamento passa por essa questão.

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118 Successful Farming Brasil | sfagro.com.br

da Federação da Agricultura e PecuáOles,presidente ria do Estado de São Paulo (Faesp), Fábio Meirelé uma das vozes mais emblemáticas do agronegó-

cio brasileiro. À frente da entidade desde 1975 e com muitas vitórias no currículo, como a criação do Senar, Meirelles tem uma trajetória que se mistura com a história da agropecuária paulista. Em entrevista exclusiva à Successful Farming Brasil, Meirelles diz o que podemos esperar do setor em 2017.

SF – Quais são as perspectivas para o agronegócio em 2017? FM – É muito difícil traçar perspectivas de um ano para o outro no estágio em que estamos. Há 13 milhões de desempregados no Brasil. Isso é uma calamidade, é uma situação difícil. Mas, nessa fase crítica, o único setor que está trabalhando como nos padrões anteriores é a agropecuária. Ela está ativa, especialmente no estado de São Paulo. A perspectiva boa que temos é a de que não vamos parar de produzir. Com prejuízo ou não, temos que continuar trabalhando, não abandonar a terra e produzir. O país não tem dificuldades maiores porque temos alimentos, enquanto que em 1964 nós importávamos tudo.

LAIR HANZEN, PRESIDENTE DA YARA BRASIL E VP SÊNIOR DA YARA INTERNATIONAL ste ano foi acima das expectativas para o segmento de fertilizantes. Até outubro, segundo dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos, as entregas de fertilizantes registraram recorde em todo o país, com um volume cerca de 10% maior que em 2015. Nossa perspectiva é muito boa, por causa, principalmente, da relação de troca que permanece atrativa para o agricultor. A previsão é que no próximo ano o cenário permaneça favorável, com o aumento da demanda global de alimentos. Já não é possível imaginar a produção mundial de alimentos sem o Brasil. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), em menos de dez anos, seremos o maior produtor de alimentos do planeta, superando os Estados Unidos. Para cumprir essa missão, precisamos sofisticar ainda mais a produção no campo brasileiro, colhendo mais em cada palmo de terra. Os fertilizantes, atualmente, são responsáveis por quase metade da produção mundial de alimentos. Portanto, entendemos que nossa missão aqui é essencial e vamos continuar investindo em prol do agronegócio brasileiro.

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SF – Qual é a sua avaliação sobre o Plano Safra? FM – O Plano Safra tem enorme importância, ele define todas as normas que embasam o agronegócio brasileiro. O que não pode é termos a falta de orçamento ou atrasar a liberação de recursos. Isso lamentavelmente não ocorre só na agropecuária, ocorre em todo o setor econômico.

Fotos: Divulgação

LAERCIO GIAMPANI, DIRETOR-GERAL DA SYNGENTA NO BRASIL

DO AGRONEGÓCIO

SF – O agronegócio precisa de novas políticas públicas? FM – Apoiamos sempre políticas que possam estimular a produção e o aumento de produtividade. Mas, evidentemente, o governo vai estudar os riscos, o orçamento e a sua própria necessidade. SF – Quais são as vitórias do agronegócio brasileiro? FM – No passado, o café era a força nacional. Só tínhamos um produto que mantinha o desenvolvimento do

Brasil. Mas houve uma magnífica evolução. Essa evolução foi tão fantástica que consolidamos um novo sistema agropecuário e de defesa agrícola. A soja é muito importante, bem como o milho, a cana-de-açúcar, o café. A agropecuária está sendo a “salva pátria”. Somos os maiores preservadores de água do mundo. A integração lavoura-pecuária é uma realidade. Hoje temos em torno de 90 milhões de hectares agricultáveis. Isso porque a pecuária já passou 50 milhões de hectares para a agricultura sem nenhum prejuízo. Hoje podemos sair da produção [da pecuária bovina] de 1,3 cabeça por hectare para 3 cabeças para pecuária. SF – E as ambições para o futuro? FM – Temos que fortalecer a nossa agroindústria. Não podemos mais vender o nosso produto em tonelada, temos que vender em grama. Isso significa que temos que aprimorar cada vez mais os produtos agropecuários. Em vez de levar o tomate para vender na cidade, o produtor pode produzir produtos como molhos de tomate na própria fazenda. Eu defendo o aprimoramento da produção e a criação de condições que permitam uma comercialização mais fácil. SF – Qual sua opinião sobre a capacitação dos produtores? FM – O Senar alcançou quase 4 milhões de certificados emitidos em São Paulo. O agricultor é muito mais inteligente e capaz do que você imagina. O homem do campo é um grande sábio. Ele tem a prática. Ele criou a estrutura agropecuária. Não podemos desprezar o valor do homem do campo, ele tem muito orgulho de sua profissão. sfagro.com.br | Successful Farming Brasil 119


M u l h e r e s DO AGRO

claro que elas se dedicam ao setor tanto quanto os homens, mas ainda falta reconhecimento. Além disso, elas estão dispostas a buscar capacitação para se destacar nas atividades agropecuárias. De acordo com o estudo, que ouviu 301 mulheres, 60% das entrevistadas têm curso superior, 25% delas fizeram pós-graduação e 88% são independentes financeiramente. Na Esalq/USP, uma das principais instituições de ciências agrárias do Brasil, a presença feminina cresceu e as mulheres já ocupam metade das vagas disponibilizadas pela unidade de ensino, segundo a engenheira agrônoma e ex-aluna Camila Felli. Ela comanda a produção de grãos da família na Fazenda Piracicaba, em Balsas (MA), mas se queixa de falta de confiança de outros profissionais. “Sou a única mulher na parte do campo e vejo que lá eu tenho dificuldade com o gerente-geral e com o gerente agrícola. Por mais que eu seja formada em agronomia, eles são homens mais tradicionais e têm dificuldade em aceitar a minha opinião”, diz Camila. Essas histórias se repetem por aí e engrossam o coro das mulheres em busca de visibilidade. Por isso, cada vez mais elas estão se mobilizando e formando grupos. Entre os exemplos de sucesso estão o Núcleo Feminino do Agronegócio e a Aliança Internacional das Mulheres do Café. O primeiro Congresso Nacional das

AGORA É QUE SÃO ELAS MULHERES SE MOBILIZAM PARA VALORIZAR A PRESENÇA FEMININA NO CAMPO

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epois que um trator cor de rosa foi entregue na Fazenda Bordin, em São Martinho da Serra (RS), Andressa Bordin se sentiu mais representada no campo. Aos 26 anos, a produtora rural faz de tudo um pouco nas lavouras de arroz e soja. Desde arar a terra, plantar, aplicar defensivos químicos até colher, atividade que começou a aprender no ano passado. Assim como outras mulheres que atuam no agronegócio, Andressa já ouviu que lugar de mulher não é na lavoura. Porém, como gosta do que faz, ela não só continuou no campo como também comprou um trator cor de rosa em sinal de empoderamento. O modelo P80 da LS Tractor não veio de fábrica na cor rosa, mas o desejo da produtora foi realizado com o envelopamento da máquina. “O trator foi um incentivo para mim, porque eu sempre gostei da lavoura e queria uma coisa diferente que não fos-

Para alcançarmos equilíbrio de gênero ainda temos muito que avançar” Vania Castiglioni, diretora executiva de administração e finanças da Embrapa 120 Successful Farming Brasil | sfagro.com.br

se só para os homens, mas que fosse para a mulher também”, conta Andressa. Inicialmente, a produtora gaúcha achou que o marido, Ivan Bordin, não aceitaria a ideia de ter uma máquina agrícola rosa. Mas, para a surpresa de Andressa, ele apoiou a ideia e confirmou a autonomia que ela tem na fazenda. Atualmente, o trator é operado somente por ela, que afirma que o novo equipamento traz mais conforto para as atividades no campo. “Antes o trator não era cabinado, eu pegava muito sol e chegava muito cansada no fim do dia. Agora, com esse modelo cabinado e com ar-condicionado fica muito fácil trabalhar no campo”, diz a produtora. Segundo ela, os vizinhos da fazenda não acreditavam que ela fazia os trabalhos de campo. Agora, com o trator cor de rosa, todos enxergaram que ela trabalha com afinco na propriedade. “Eu estou recebendo mensagens de mulheres dizendo que estão se inspirando na minha história e fico feliz pelo reconhecimento”, conta Andressa. Embora a produtora gaúcha esteja satisfeita com o seu trator rosa, as mulheres do agronegócio têm muitos outros desejos. Afinal, o que querem as mulheres? o campo brasileiro, esse mistério parece que já foi desvendado. Uma pesquisa divulgada em outubro pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) analisou o perfil das mulheres do agronegócio e ficou

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Foto: Shutterstock/Arquivo Pessoal

Por Naiara Araújo

BARREIRAS DE GÊNERO

28%

43%

Mulheres do Agronegócio, que reuniu mais de 700 pessoas na capital paulista em outubro, também mostra a força dessa mobilização.

A produtora Andressa Bordin realizou um sonho e se sente representada no campo com o trator na cor rosa

Barreiras de gênero pesquisa da Abag revelou ainda que 71% das entrevistadas já sofreram preconceito por serem mulheres. Entre as dificuldades relatadas estão serem ouvidas e ascender profissionalmente, além do sentimento de solidão por trabalhar num setor tradicionalmente masculino. Vania Beatriz Castiglioni, engenheira agronômica e diretora executiva de administração e finanças da Embrapa, é a única mulher entre os quatro membros da diretoria executiva da empresa. “Somos pouco mais da metade da população brasileira, algo perto de 51%,

mas, para alcançarmos equilíbrio de gênero nos setores profissionais mais especializados, remunerados e influentes, ainda temos muito que avançar”, afirma Vania. “A pesquisa agropecuária necessita de um grande aporte de conhecimento das ciências exatas, especialmente das engenharias, em que ainda há uma forte predominância masculina.”

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MULHERES DO AGRO RELATAM DIFICULDADES QUE ENFRENTAM NO CAMPO

ENCONTRAM BARREIRAS PARA CONQUISTAR CARGOS EM ASSOCIAÇÕES OU ORGANIZAÇÕES TÊM DIFICULDADE PARA QUE AS SUAS OPINIÕES SEJAM LEVADAS EM CONSIDERAÇÃO PELOS EMPREGADOS

41%

ENFRENTAM RESISTÊNCIA PARA SEREM OUVIDAS POR COLEGAS DE TRABALHO

27%

ALEGARAM SENSAÇÃO DE SOLIDÃO POR ESTAREM EM UM SETOR MASCULINO

Juntas elas são muitas pesar das dificuldades, o lado positivo é que elas podem beneficiar o agronegócio por meio da união e comunicação. O estudo da Abag mostrou que as mulheres têm facilidade para pedir ajuda e compartilhar dúvidas, características pouco observadas nos homens. Elas estão totalmente conectadas em busca de novidades. Entre as entrevistadas, 55% classificaram as mídias sociais como importantes para a vida profissional. No ambiente virtual elas estão acostumadas a compartilhar cotações de produtos e serviços, trocar informações sobre tecnologias, tirar dúvidas e resolver problemas na fazenda. Com essa postura, o estudo indica que as mulheres têm muito a contribuir para o desenvolvimento do agronegócio brasileiro.

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