Pulso Forte

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L A U R E N B L A K E LY

Pulso FORTE T RADUÇÃO

CARLOS SZL AK

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co py r i g ht

©

2017. j oy r i d e by l au r e n b l ak e ly.

pu b li s h e d by ar r an g e m e nt with boo kca s e lite r ary ag e n cy an d wo lfso n lite r ary ag e n cy.

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2019

Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida sob quaisquer meios existentes sem autorização por escrito do editor. Diretor editorial pe d ro

alm e i da

Coordenação editorial car l a Preparação

sacr ato

bruna brezolini

Revisão barbara

parente

Capa e diagramação osmane Imagem de capa

garcia filho

pawe l s i e r akows k i

|

s h ut te r stock

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) Angélica Ilacqua crb-8/7057 Blakely, Lauren Pulso forte / Lauren Blakely ; tradução de Carlos Szlak. — São Paulo : Faro Editorial, 2019. 240 p. isbn 978-85-9581-098-3 Título original: Joy Ride 1. Ficção norte-americana 2. Literatura erótica i. Título ii. Szlak, Carlos 19-0496 cdd-813.6 Índice para catá­logo sis­te­má­t ico: 1. Ficção norte-americana  813.6

1a edição brasileira: 2019 Direitos de edição em língua portuguesa, para o Brasil, adquiridos por faro editorial Avenida Andrômeda, 885 – Sala 310 Alphaville – Barueri – sp – Brasil cep: 06473-000 – Tel.: +55 11 4208-0868 www.faroeditorial.com.br

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Dedico este livro a Rob Kinnan, que me fez rir com aquele e-mail hilário, que checou de forma incansável fatos sobre o carro, que resolveu problemas como um bom mecânico e que me deu uma aula a respeito da cor verde-limão metálico.

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1 Os carros são como sorvete. Há um sabor para cada cliente. Alguns clientes apaixonados por automóveis optam por sorvete de baunilha. Para eles, um carro esportivo básico é suficiente. Outros querem um sundae completo, incluindo pintura customizada, rodas especiais e um sistema de som capaz de provocar um terremoto. E também existem os que escolhem sorvete de chocolate amargo, desembolsando muito dinheiro por um reluzente Aston Martin equipado com um motor de muitos cavalos e imbatível em velocidade. De vez em quando, porém, você conhece um sujeito que não sabe o que quer. Assim, ele opta por chocolate granulado colorido, rodelas de banana, nozes picadas e uma cereja no topo. Como esse cara com quem estou falando nesse exato momento em uma exposição de carros personalizados nas proximidades de Manhattan. Visivelmente em dúvida, o homem de óculos coça o queixo e, em seguida, pergunta com uma voz suave e sofisticada: — Você consegue fazer um carro blindado? Essa é a pergunta mais recente desse rapaz de trinta e poucos anos que usa calça feita sob medida e camisa branca engomada. Os óculos de aro de metal deslizam pelo nariz enquanto ele aponta para um carro esportivo verde-esmeralda totalmente personalizado que ocupa o centro do cenário. — Tenho carros blindados em meu arsenal — respondo, uma vez que já fiz algumas feras projetadas para resistir a um apocalipse zumbi, cortesia de alguns clientes decididos a sobreviver no caso de uma grande catástrofe. Em dúvida novamente, ele arqueia uma sobrancelha. — Você poderia adicionar alguns rabos de peixe elegantes? Ah, rabos de peixe. Tenho um palpite a respeito da direção que ele está seguindo agora, e não é para a terra dos mortos-vivos. — Sem dúvida.

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— E talvez possa até ter a suspensão rebaixada e responder a comandos de voz? Segurei o riso, já que naquele momento entendi qual era a dele, e adoro o entusiasmo dos novatos. — Com certeza. E suponho que você vai querer um carro preto? Os olhos azuis dele brilham. — Sim. Preto seria perfeito. Para o Batmóvel. Porque foi isso o que o cara acabou de descrever. Não o estou criticando nem o Batmóvel. Esse veículo também está definitivamente no topo de minha lista de desejos. Que fanático por carros que se preze não iria querer circular pela cidade ao volante do automóvel de um super-herói? No entanto, o rapaz não está nem perto de terminar, já que ele formula uma nova série de perguntas. — Apenas como hipótese: você seria capaz de produzir um carro qualificado para saltar grandes distâncias? Não preciso ser vidente para saber aonde ele quer chegar com base nesse novo cenário. — Você gostaria que tocasse uma musiquinha ao buzinar? Seus olhos voltam a brilhar de prazer. — Ah, esse é um item bem maneiro. Eu me pergunto de onde tirei essa ideia. O sujeito está mencionando os carros de maior sucesso na tevê ou no cinema. E sabe de uma coisa? Não há nada de errado com isso. Se a escola dele sobre carros é a tela da tevê ou do cinema, que assim seja. Talvez ele me peça para fazer um Fusca que fala. Minha irmã implorou por um modelo como esse durante anos e, se eu descobrisse como produzir um Fusca assim, entregaria para ela primeiro. — Que tal portas do tipo asas de gaivota? — ele pergunta. — Como um DeLorean? — Eu amo esse carro. — Sempre que dou de cara com um DeLorean também sinto vontade de ter um. É o motivo pelo qual entrei nesse ramo. — Você também é fã de De volta para o futuro? — Com certeza. — Alguma chance de instalar um capacitor de fluxo no carro para mim?

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— Sem dúvida. E prometo que vai atingir 1,21 gigawatts quando você pisar no acelerador — respondo. Enquanto rimos, somos rodeados pelo ruído de muitos pares de sapatos de salto alto contra o asfalto. Essa exposição está repleta de mulheres que trabalham nos estandes e fazem poses sensuais sobre os capôs ou junto às portas dos carros. Isso não me incomoda nem um pouco. Carros e garotas: isso é tudo o que preciso para o meu sustento. Mas agora não é hora de conferir o cenário, porque os negócios sempre vêm em primeiro lugar. Estendo a mão para o fã de De volta para o futuro. — Max Summers, da Oficina Summers de Carros Personalizados. Ele aperta minha mão. — David Winters. Sei que isso pode chocá-lo, mas não sei nada sobre carros — confessa. — Não há nada de errado com isso. Eu conheço muito bem. David sorri e encolhe os ombros com timidez. — Excelente. Estou atrás de um construtor capaz de fabricar o melhor carro. Como este, suponho? — ele pergunta, apontando para a belezura verde reluzente que estou tomando conta na exposição. Estou aqui com um cliente. Personalizei essa belezura para Wagner Boost, jogador da Liga Nacional de Futebol Americano, que está dando autógrafos em algum lugar próximo. Wagner é um homem imenso. Ele precisava de um carro feito sob medida para encaixar seu corpo e eu fiz esse modelo. — Vou lhe dizer uma coisa — afirmo, dando um tapinha no capô do estimado carro de Wagner. — Se você tem um sonho, tenho quase certeza de que posso torná-lo realidade. Se você quiser pneus especiais, um motor novo ou um estofamento personalizado, cuidarei disso. Se você quiser unir peças de um conversível que viu em um filme de gângster com um protótipo futurista, encontrarei um jeito. Atenderei seu desejo porque é o que eu faço. O ruído do salto alto parece mais perto agora, como se alguém estivesse se aproximando, enquanto David dispara outra pergunta: — Você pode...? A voz de uma mulher o interrompe: — Você pode pintar um tigre na porta? Não é possível. Aquela voz. Aquele ronronar sexy. Como mel, como uísque. Como sonhos obscenos.

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Tudo em mim se paralisa. Não ouvia aquela voz há anos. Nem preciso me virar porque, após alguns ruídos do salto alto, ali está ela, parada na minha frente, parecendo mais quente do que nunca. Cabelos castanhos longos. Olhos cor de chocolate. Pernas intermináveis. Henley Rose Marlowe. Puta merda! É ela. A mulher que me deixou louco. Por um instante, fico sem palavras enquanto a observo, porque Henley não tem mais 21 anos. Ela está cinco anos mais velha e 25 vezes mais quente. Mas não vou deixar um negócio em potencial escapar por entre os dedos. Nunca deixo que as mulheres atrapalhem o meu trabalho, principalmente uma que se mete no meio de uma conversa com um comentário a respeito de um maldito tigre. Contorno sua interrupção dando trela. — O tigre pode até estar rugindo — sugiro, como se ela fosse apenas uma apaixonada por carros que gosta de bater papo, e não uma garota que costumava trabalhar sob o capô da minha oficina. — Talvez até cuspindo fogo — Henley propõe, como se soubéssemos esse jogo de cor. David também entra em ação, emitindo um rugido e mostrando as mãos como se fossem garras. Henley mostra a ele o sorriso mais sexy que já vi. Em menos de um segundo, o tigre que cospe fogo se apossa de mim, porque sou ciumento como o diabo. Sem nenhuma razão. David retribui o sorriso de Henley. Ok, talvez por essa razão. O que não é absolutamente uma razão aceitável. Livro-me da emoção que não serve para nada. — É isso aí — David volta a falar. — Decidi oficialmente que quero um tigre na porta de um DeLorean. Pintado de verde, como a cor do dólar. Sim, ele gosta mesmo é de chocolate granulado colorido. Então, concentro-me no chocolate granulado e não nos sorrisos de paquera trocados entre esse cara e uma mulher que nunca foi minha, nem mesmo por uma noite. — Também posso pintá-lo em roxo-real, verde-esmeralda ou azul-safira — digo para David. — Além disso, posso desenhar uma bandeira no

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capô e uma risca fina na porta e instalar a alavanca de câmbio mais suave que você já sentiu. — Roxo e uma alavanca suave? Já me convenceu — David diz e aperta minha mão para se despedir. — Darei notícias — afirma, afasta-se um passo e para. — Roxo é uma cor muito louca? O que você acha? — ele pergunta para a mulher capaz de deixar o queijo de qualquer homem caído. Figura perfeita. Lábios carnudos. Cintura fina. Peitos que desafiam a gravidade. Se Deus criasse uma mulher ideal para vender algo para qualquer homem, Ele a faria exatamente como Henley. Porém, duvido que ele a fizesse tão dona da verdade. Henley umedece os lábios com a língua. — Roxo é quente como o pecado — ela diz para David, como se as palavras fossem dirigidas apenas para ele. Henley pressiona a ponta do dedo na língua e toca o capô do carro como se a queimasse. Levanta a mão, deixando a chama imaginária voar alto. David devora o show dela, sorrindo de modo malicioso. — É um excelente argumento de vendas para o roxo. E você, Max? Qual é sua cor favorita? — David pergunta, mostrando uma mão como um sinal para parar. — Espere. Deixe-me adivinhar. Dourado? Prateado? Vermelho? Azul? Faço que não com um gesto de cabeça e respondo: — Preto. Então, David se despede e se afasta. Fico com essa megera irritante que me odeia. Henley olha para mim como se fosse uma gata que não desvia o olhar até ganhar um hambúrguer. Não interrompo o contato visual confrontador, nem ofereço uma mordida para ela. — Preto — ela repete, batendo o bico de seu sapato de camurça vermelha no chão enquanto me fuzila com seus olhos cor de chocolate. — Como seu coração. Já disse que na última vez em que vi Henley, ela saiu de minha oficina em um ataque de fúria? Talvez porque eu despedi seu traseiro sexy cinco anos atrás. Sim, há algum ressentimento entre nós.

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2 Henley Rose e um carro incrível combinam como pêssegos em calda e creme de leite, como um bom uísque e uma noite longa e excitante. O que significa que trabalhar com ela era como entrar no Jardim do Éden todos os dias. Era um teste de força de vontade porque Henley podia personalizar um carro como se fosse uma dança erótica. Imagine como foi trabalhar com Henley durante um ano: um estado de ereção permanente. Quer dizer, um ano bem duro. Eu sobrevivi ao desafio porque Henley tinha talento de sobra. E nunca a tratei de modo diferente porque ela era mulher ou porque pensei nela nua durante uma quantidade indecente de tempo. Eu a tratei como qualquer outra pessoa; especificamente, sempre imaginei todas as pessoas com quem trabalho vestidas com um traje completo para o inverno siberiano. — O coração continua igual — digo, batendo no peito. — O mesmo modelo de antes. — Achei que a esta altura você já tivesse trocado as peças defeituosas. — Não preciso de nenhum recall em meu coração. Ele funciona muito bem neste canalha cruel — digo, lembrando-a das palavras que ela proferiu no dia em que partiu enfurecida. Com descrença, Henley ergue uma sobrancelha. — Que pena. Você devia ter me deixado cuidar dele. Sou boa em fazer todos os tipos de latas-velhas funcionarem melhor. Meu Deus, ela ainda é implacável. — Tenho certeza de que você sempre usa a ferramenta certa para consertar qualquer coisa. Ela adota uma expressão de indignação. — Não há nada de errado em usar a ferramenta certa. Como eu sobrevivi a essa mulher? Antes mesmo que eu consiga encontrar uma resposta, ela bate o bico do sapato no pneu do carro de Wagner.

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— Vejo que você ainda gosta de fazer seus carros com rodas grandes e viris — ela diz. Exprimindo aborrecimento, reviro os olhos e, em seguida, faço um movimento com as mãos como se estivesse pedindo algo. — Tudo bem, Henley. Qual é a moral da história? — Que moral da história? — ela pergunta, abrindo e fechando os olhos rapidamente, a fim de parecer mais atraente. — Grande? Viril? Você vai dizer que isso é algum tipo de compensação. Você sempre disse isso sobre os caras que queriam os maiores carros com as maiores rodas. Henley dá um sorriso malicioso. — Eu estava errada em minha avaliação? Dou uma risada. — Não sei. Nunca chequei. — Nem eu. Meu foco sempre foi o trabalho. — Como deve ser. — Foi o que você me ensinou. — Fico feliz que tenha aprendido essa lição. — Aprendi muitas lições com você. Respiro fundo e mudo de assunto. — Por que aquele comentário sobre o tigre tirado do nada? Você não podia esperar até que eu terminasse para me cumprimentar? Henley dá uma piscadela. — Ah, deixa disso. Eu só queria me divertir um pouco. — Se divertir? Na verdade foi mais uma tentativa sua de se envolver em tudo. Henley finge estar chocada e dança os dedos ao longo do capô do carro de Wagner. — Só estava tentando ajudá-lo a ganhar um cliente. Você não se lembra? Eu sempre tentava ajudá-lo. Irritado, ponho as mãos nos quadris. — Por que eu acho que você está aqui mais para me provocar do que para oferecer ajuda? Henley leva a mão ao peito. Seu grande peito. — Provocar? Eu? Só estava empolgada para dizer “oi” ao meu ex-mentor. Desculpe pelo meu entusiasmo — ela afirma, em um tom muito amável. — Como vão as coisas?

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— Não posso me queixar — respondo. Não sei o que fazer com ela... — E você? Já faz um bom tempo. — Cinco anos, três semanas e dois dias. Mas quem está contando? — Parece que você está. Henley dá de ombros como se não fosse grande coisa. Em seguida, joga-se sobre o capô e pousa o traseiro maravilhoso no carro. Wagner não vai se importar. Ele gosta de garotas bonitas, sobretudo quando ficam sobre seu estimado carro. O problema é que ele provavelmente vai querer transar com Henley depois de dar autógrafos e isso não vai acontecer sob a minha vista. Não que eu tenha controle sobre os homens com quem ela está transando. Mas farei tudo o que puder para garantir que não seja um cliente meu. — O que a traz até essas bandas? — pergunto. Da última vez que ouvi falar dela, Henley tinha voltado para casa, no norte da Califórnia, para trabalhar em uma oficina rival. Ela aponta o dedo na direção indefinida de Clint Savage, um filho da puta corpulento, barbado e boca suja que fabrica alguns dos carros personalizados mais quentes do mundo. — Estou trabalhando no estande de Savage — ela responde. — Sério? — digo, surpreso, mas não deixo transparecer. Henley nunca foi apenas um belo conjunto de pernas e peitos em uma exposição. Ela ficava sob o capô, trabalhando no motor, sujando as mãos. Ela sorri. — Ele me faz posar em cima dos carros. Ganhamos um dinheirão assim, num piscar de olhos — Henley diz e estala os dedos. — É mesmo? Henley observa meu corpo de cima a baixo. Examina as tatuagens tribais em meu bíceps. Fixa o olhar em meu peito. Na verdade, em minha camiseta. Não sou um bundão que se exibe sem camisa em uma exposição de carros. Faço isso quando dirijo com a capota abaixada. Estou brincando. Eu pareço um babaca? Não dirijo por aí sem camisa. — Brincadeira — ela responde, endireitando a coluna e saltando do carro. Isso é tudo o que ela diz, mas essa única palavra sai exatamente como se ela tivesse dito: “Não, seu idiota”. Suspiro. Ela ainda me odeia. — Então o que você está fazendo aqui?

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— Você acha que é a única alternativa disponível na cidade? Agora eu comando uma oficina em Nova York. Não fiquei vigiando Henley depois que ela foi embora em meio a uma nuvem de fumaça preta e achei que era melhor não ficar na cola dela. Precisava ficar longe da tentação... — Bom pra você — disse. Henley põe uma mão no quadril e me encara de modo desafiador. — Você pensou mesmo que eu estivesse trabalhando como uma modelo de estande? — Foi você quem disse. Ela bufa de raiva. — Você nunca me deu valor, não é? Você não tem ideia nem da metade. Não tem ideia do quanto pensei em você e o quanto isso era inapropriado. — Henley, você foi a aprendiz mais capaz com quem já trabalhei. Eu era fã de suas habilidades, e você sabe disso — digo, mantendo meu tom moderado. Ela sorri com desdém e então cutuca o dedo indicador contra o meu peito. Sua unha pintada de vermelho me arranha e provoca instantaneamente fantasias de conteúdo impróprio de unhas percorrendo meu peito e minhas costas. — Ações valem mais do que palavras. E as suas deixaram claro que você nunca me achou boa o suficiente — Henley afirma. Afasto meu olhar de seus olhos e digo: — Vejo que você ainda não se livrou do seu ressentimento. Conheço um médico que pode cuidar disso para você. Mostrando surpresa, as sobrancelhas de Henley quase alcançam o contorno de seu couro cabeludo, mas sua voz parece serena. — Obrigada pela dica. Com certeza vou pensar em você quando estiver pronta para me livrar dele, já que você é a razão pela qual o ressentimento continua existindo. — Fico feliz em saber que, finalmente, você está me dando crédito por alguma coisa — digo. Exprimindo aborrecimento, Henley revira os olhos. — Eu dei para você todo o crédito e você não me deu nada — ela diz e forma uma letra “O” com o polegar e o indicador. — Nada. Zero. — Claro, eu roubei todas as suas oportunidades. Com raiva, Henley franze os lábios e balança a cabeça.

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— Não sei por que vim aqui falar com você. — Essa é uma questão fascinante. Uma que eu adoraria saber a resposta. — Não sei. Me chame de louca. Mas achei que talvez a gente pudesse ter uma conversa civilizada. Dei uma gargalhada. — Achou? Por isso você se meteu em uma conversa com um possível cliente com seu comentário sobre o tigre? — Era para ser um comentário engraçado — ela afirma. Pela primeira vez, o seu tom parecia magoado, como se eu a tivesse ofendido. — Você costumava caçoar de mim quando eu ficava chateada com alguma coisa. Você me chamava de “tigresa” — Henley prossegue. A memória da primeira vez que eu a chamei assim toma conta de mim. Henley estava chateada por causa de um eixo de transmissão que cortou sua mão esquerda e eu disse “Vá com calma, tigresa” antes de ajudá-la, mostrando-lhe como fazer sem cortar o dedo fora. Ela me agradeceu com a voz mais meiga, e então coloquei um curativo no corte. Fico calado, talvez porque eu ainda esteja relembrando o jeito que ela sussurrou seu obrigado naquele dia, cinco anos atrás. Nesse exato momento, porém, ela dá de ombros em um gesto de rendição. — Tchau, Max. Henley era a pessoa mais quente com quem já havia trabalhado, mas não posso permitir que ela me perturbe ou me faça querer colocar curativos nela quando ela pode muito bem fazer isso sozinha. Preciso de uma nova abordagem, principalmente se estivermos nos movendo nos mesmos círculos. Henley se vira para ir embora, mas a agarro pelo braço. — Espere — digo, com a voz mais gentil agora. — Me conte o que você está fazendo hoje em dia. — Construindo carros. — Imaginei isso com base no que você disse. Qual é a sua especialidade? Os cantos dos lábios de Henley se curvam para cima em um sorriso enquanto ela se aproxima, chegando tão perto que consigo sentir seu hálito agradável. Fico imaginando como ela consegue ter um hálito tão bom às quatro da tarde, como bala de canela. Afinal de contas, aquele era um de seus muitos talentos. Hálito fresco, aparência incrível, trabalho duro.

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— O tipo de carro que eu teria feito com você se você tivesse deixado — ela diz e se aproxima ainda mais. Tão perto que poderia beijar seus lábios. — São chamados de... Os melhores. Henley gira sobre o salto alto e se afasta. Eu deveria chamá-la. Deveria me esforçar mais para tornar o passado menos doloroso. Mas é melhor deixá-la ir. Ela é muito perigosa, ainda que parte de mim goste de brincar com o fogo. Essa parte de mim precisa ficar longe de uma mulher como Henley.

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3 — Cheire isso. Minha irmã, Mia, põe um frasco debaixo do meu nariz. Sou transportado do balcão da cozinha em meu apartamento de cobertura em Battery Park para uma ilha tropical. — Abacaxi com um toque de coco. — E o que mais? Fecho os olhos. Mia queria que eu usasse uma venda nos olhos, mas isso não vai acontecer. Nunca. Cheiro mais uma vez. — Manga. O frasco tilinta quando o coloco sobre o balcão, e Mia bate palmas. — Você ainda tem o melhor nariz da história dos narizes. Abro os olhos. — Ganho uma medalha de ouro pelo meu sistema olfativo? Mia sorri, com seus dentes brancos reluzentes como a neve. — Você ganha o prêmio por ser um dos dois irmãos mais incríveis que tenho. — Uau! Isso é uma honra, já que você só tem dois irmãos. — E os dois são fofos — ela diz com um brilho nos olhos. Eu a fuzilo com o olhar. — Eu não sou fofo. — Você sempre será fofo para mim — Mia afirma, piscando. Eu rosno. — Você tem sorte de eu não estrangular você como eu faria com o Chase. Mia inclina a cabeça para trás e ri. — Você não conseguiria me estrangular. Eu escaparia porque sou ágil. Além disso, você gosta muito de mim. Ela tem razão. Como eu poderia não gostar dela? Ela é a caçula da família e também é a pessoa mais adorável do mundo. Agora ela tem 27

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anos e é empresária. Mia está hospedada em minha casa durante a semana, enquanto está na cidade para reuniões, tentando conseguir novos acordos de distribuição para sua linha de produtos de beleza desenvolvidos por métodos que não envolvem testes em animais. Inclino minha cabeça para o frasco sobre o balcão. — Qual é a história desse seu mais novo preparado? — Meus químicos o desenvolveram. É um creme de limpeza facial e queremos vendê-lo para o público masculino. Preciso formular a abordagem de vendas certa. Você acha que um rapaz gostaria? — Um rapaz que quer ter cheiro de fruta — respondo, indo até a geladeira para pegar uma cerveja. Mia bate no meu braço antes de eu abrir a porta. — Sério? — Sério. E veja, sou conhecido por me apaixonar por um abacaxi e querer passar a noite com um coco. Não, eu não usaria esse creme. — Max! — Tem um cheiro ótimo e tenho certeza de que suas clientes com seios vão adorar. Por que você está tentando vendê-lo para o público masculino? Se você quer que um cara use um creme facial, faça o produto ter cheiro de mar, de mata virgem ou o que quer que supostamente gostemos, de acordo com a grande sabedoria comercial do mundo — digo e aponto para o frasco de vidro. — Mas não precisamos ter o cheiro de um picolé sabor tropical. — Estou tentando vender para os homens porque quero tudo — Mia diz, batendo seu pequeno punho sobre o balcão. — Também quero vender o creme de limpeza facial para a população dotada de pênis, do mesmo jeito que os fabricantes de carros querem vender carros para pessoas com vaginas. Você não tem clientes com vaginas? — Precisa falar essa palavra? Mia balança a cabeça com os olhos brilhando. — Vagina, vagina, vagina. Agora, responda à pergunta. — Se eu tenho clientes com vaginas? Ela me dá um olhar do tipo “eu tenho muito orgulho de você”. — Sim. Você tem? Enquanto pego uma garrafa de cerveja preta, avalio a pergunta de Mia, e uma de minhas clientes favoritas me vem à mente. — Algumas. Como Livvy Sweetwater. Preciso levar o Rolls-Royce para a casa dela no fim dessa semana.

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— E como você vende para as Livvy Sweetwater do mundo? — Eu apenas vendo carros — respondo, dando de ombros. Mia imita o gesto de bater a mão sobre uma campainha. — Errado. Você vende brilho. Você vende segurança. Você vende luxo. As mulheres adoram luxo. Assim como os homens. E eu sei que você gosta de pequenos luxos. Você usou as bombas de banho efervescentes que mandei para você há algumas semanas. Vi que algumas estavam faltando no armário. A de capim-limão. E a de coco. — Ei! — exclamo, levando o dedo aos meus lábios, silenciando-a. — Quem está ouvindo? — Ninguém. Não quando você conta mentiras tão descaradas. — Nunca minto. E nunca conto seus segredos. Por exemplo, se você finalmente se apaixonar algum dia, nunca deixarei escapar que você tem um lado frágil — Mia afirma, cobre a boca e sorri. — Em primeiro lugar, não vou me apaixonar. E em segundo lugar, não tenho um lado frágil. — Com certeza, você vai se apaixonar algum dia. Fazendo que não com um gesto de cabeça, tomo um longo gole de minha cerveja e, em seguida, pergunto para Mia se posso fazer alguma coisa para ajudá-la a se preparar para suas reuniões. — Você me acompanharia nas compras? Por favor! Quero comprar um novo suéter para amanhã. — Qualquer coisa menos isso. — Ah, vamos, vai. Bebo a cerveja de uma vez só. — Sou alérgico a compras. — Depois a gente vai comer hambúrguer — Mia diz, balançando aquela oferta tentadora na minha frente. Demonstro interesse. Mia aproveita a oportunidade, cutucando-me e pegando a garrafa de cerveja. Ela a deixa cair na pia, me passa minha carteira e minhas chaves e pega sua bolsa. Nunca fui bom em dizer não para minha irmã. Assim, trinta minutos depois, estou sentado em uma cadeira cor-de-rosa do lado de fora do provador de uma butique do West Village enquanto Mia prova roupas, mostrando-me um suéter, uma blusa e uma regata azul royal em sequência. Então, ela volta para o provador para se trocar.

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Enquanto espero, mexo no celular e juro que não é o que parece. Que não sou eu caçando Henley Rose. Que não estou tentando encontrar todos os detalhes sobre ela. Que não são as suas fotos que estou olhando no Google. Que não é o seu rosto que vejo enquanto ela conserta uma Ferrari, parecendo uma cientista prestes a dividir o átomo. Que não é apenas a foto de uma mulher focada que por acaso detesta um cara em particular. Uma mulher que afirma que eu não lhe dei uma chance justa. Uma mulher que me atormentou hoje. Cerro meus dentes. Uma mulher que não vou ver de novo; então, por que diabos procuro por ela on-line? Nem sequer consigo encontrar o nome de sua oficina. Droga, talvez ela nem sequer esteja trabalhando em Nova York. Pode ser que ela estivesse zoando comigo. Seria seu estilo. — Quer experimentar mais alguma coisa? — a vendedora grita para Mia. Desvio o olhar da tela do celular para observá-la. Gosto do que vejo. A vendedora é esbelta, com lábios carnudos e cabelos ruivos que ficariam fantásticos trançados no meu punho. — Não, estou bem — Mia grita do provador. — Acho que vou ficar com o suéter turquesa com o desenho de morango. Meu irmão aprovou. A ruiva se vira para mim e, ao mesmo tempo, responde para minha irmã. — Esse suéter ficou perfeito em você. Seu irmão tem um gosto excelente — ela diz. Em seguida, abaixa a voz e faz pleno contato visual comigo. — Há algo que eu possa conseguir para um homem com tanto bom gosto? A intenção dela é clara. Assim como a minha quando digo: — Seu nome e seu telefone. A vendedora me dá as informações com um sorriso sedutor e depois se afasta para atender outra cliente. Salvo seus dados no celular — seu nome é Becca — e fecho as janelas do buscador de minha pesquisa. Quando fecho a última, Mia aparece ao meu lado, com o suéter sobre o braço. — Por que você está procurando por Henley? Rapidamente, guardo o celular no bolso de trás de meu jeans como se Mia não tivesse me pegado em flagrante. — Não estou.

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— Claro que não — ela zomba. — É apenas alguma outra ex-funcionária jovem e muito bonita. — Podemos ir comer aquele hambúrguer? — Só se você me disser por que estava procurando a mulher que costumava deixar você louco. Espere — Mia diz, ficando paralisada. — É por causa dela que você está mal-humorado hoje? — Não estou mal-humorado — respondo, negando com um gesto de cabeça. — Você está muito mal-humorado. — Sou um resmungão natural. Não tem nada a ver com essa mulher. Com ceticismo, Mia ergue uma sobrancelha. — Conheço você, Max. Conheço você tão bem quanto qualquer pessoa. Você acha que é durão, mas essa mulher sabe qual é a sua. — Tô a fim de um hambúrguer. Agora. Mia paga o suéter e saímos da loja. No caminho para o restaurante, meu celular toca. É David Winters. — Se é algum negócio, atenda a chamada — Mia diz. Obedeço minha irmã e fico conversando pelo celular enquanto percorremos o Village até o meu ponto favorito. Quando desligo, conto para Mia que talvez celebremos um possível novo cliente hoje à noite. * * * Durante o jantar, dou a Mia a notícia a respeito de David. Brindamos às possibilidades. Mais tarde, nessa mesma noite, em minha casa, consulto o número de Becca em meu celular. Sem dúvida, ela estaria disposta a ter uma noite de sexo sem compromisso. Mas não ligo para ela. Não é apenas porque Mia ainda está na cidade. Minha mente está em outro lugar. Estou focado somente em novos negócios. E depois de ter certeza de que fechei todas as abas do navegador em meu celular após examinar novamente a imagem de Henley trabalhando na Ferrari, não tiro os olhos do aparelho por alguns minutos. Em minha defesa, o carro está muito sexy.

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Miolo - Pulso forte - OGF - 03.indd 22

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