ESCOLA SECUNDÁRIA DE GONDOMAR TESTE DE AVALIAÇÃO DE PORTUGUÊS – 10º Ano GRUPO I A Leia o texto. Em caso de necessidade, consulte o vocabulário apresentado. Inês
Jesu, Jesu! Manas minhas! 1 Sois vós aquele que um dia em casa de minha tia me mandastes camarinhas2, e quando aprendia a lavrar mandáveis-me tanta cousinha? Eu era ainda Inêsinha3 não vos queria falar.
Erm.
Señora, tengoos servido, y vos a mi despreciado; hazed que el tiempo pasado no se cuente por perdido. Padre, mui bem vos entendo… Ò demo que vos eu encomendo, que bem sabeis vós pedir! Eu determino lá d'ir à ermida, Deos querendo.
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Inês 15
Erm. Inês
E quando? I-vos, meu santo, que eu irei um dia destes muito cedo, muito prestes.
Erm.
Señora, yo me voy en tanto.
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[Inês Pereira torna para Pero Marques] Inês
Em tudo é boa a concrusão. Marido, aquele ermitão é um anjinho de Deos…
Pero
Corregê-vos esses véos e ponde-vos em feição4. Sabeis vós o que eu queria? Que quereis, minha mulher? Que houvésseis por prazer de irmos lá em romaria.
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Inês 30 Pero Inês
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A dupla exclamação mostra que Inês ficou feliz ao reconhecer o Ermitão; frutos da camarinheira; 3 eu era ainda muito nova; 4 Pero Marques repara que as roupas da mulher estão desarranjadas e diz-lhe para se arranjar; 2
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Pero Inês 35 Pero Inês
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Pero Inês
Seja logo sem deter. Este caminho é comprido… Contai ũa estória, marido. Bofá5 que me praz,6 mulher. Passemos primeiro o rio. Descalçai-vos. E pois7 como? E levar-me-eis no ombro, não me corte a madre o frio8.
Põe-se Inês Pereira às costas do marido, e diz: Inês Pero 45 Inês Pero Inês
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Pero Inês
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Pero Inês
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E assi se vão, e se acaba o dito Auto. Gil Vicente, «Auto de Inês Pereira», in Teatro de Gil Vicente, 6.a edição, Lisboa, Portugália Editora, s/d, pp. 198-200. (Apresentação e leitura de António José Saraiva)
Canta Inês Pereira: Inês Pero Inês
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Marido, assi me levade. Ides à vossa vontade? Como estar no Paraíso! Muito folgo eu com isso. Esperade, ora esperade! Olhai que lousas9 aquelas, pera poer as talhas nelas! Quereis que as leve? Si. Ũa aqui e outra aqui. Oh como folgo com elas! Cantemos, marido, quereis? Eu não saberei entoar… Pois eu hei de só de cantar e vós me respondereis cada vez que eu acabar: «pois assi se fazem as cousas».
Carregado ides, noss’amo Com duas lousas. 70 Pero Pois assi se fazem as cosas. Inês Bem sabedes vós, marido, quanto vos quero. Sempre fostes percebido pera cervo. 75 Agora vos tomou o demo com duas lousas. Pero Pois assi se fazem as cousas.
Marido cuco10 me levades e mais duas lousas. Pois assi se fazem as cousas. Bem sabedes vós, marido, quanto vos amo: sempre fostes percebido11 pera gamo.
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interjeição: verdadeiramente; me agrada; 7 depois; 8 de modo a que a água fria do rio não me enregele; 9 pedras achatadas e compridas sobre as quais se colocavam as «talhas», grandes recipientes de barro para guardar vinho ou azeite; 10 na cultura popular, tal como o «cervo» e o «gamo», o «cuco» significa o marido traído; 11 sempre tiveste predisposição. 6
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Apresente, de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem. 1. Caracterize Inês Pereira com base nas suas palavras e atitudes. 2. Identifique os cómicos de situação presentes na última parte da peça. 3.Comente a natureza simbólica da cantiga entoada por Inês no final da obra. 4. Indique o recurso expressivo na expressão “sempre fostes percebido/pera cervo” vv 66,67. 5. Interprete o sentido do ditado popular que, segundo a lenda, estará na sua origem: «Antes quero asno que me leve que cavalo que me derrube».
GRUPO II Leia o texto seguinte.
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O humor em Portugal Em Portugal o humor, como representação da crítica moral e social, teve a sua expressão mais comum através da palavra escrita, quer sob a forma das cantigas de escárnio e maldizer quer sob a forma de teatro que Gil Vicente tão acutilantemente 1 revelou. A Inquisição2 surgiu como censora da liberdade de expressão remetendo o riso e a ironia para a representação iconográfica3 nas artes populares. Como menciona Osvaldo de Sousa, o humor, expresso através do desenho associado à palavra impressa, é referido em Portugal já nos séculos XVII e XVIII (sobretudo de origem estrangeira) mas com maior incidência no século XIX, no contexto da Guerra Peninsular4. No entanto, só em meados desse século é que emerge, com regularidade, na imprensa a publicação de caricaturas e desenhos satíricos produzidos por autores portugueses que refletem a política nacional ou a crítica de costumes. Este tipo de humor passa a funcionar como uma forma de oposição ao poder instituído. Nas décadas de 60 e 70 do século XIX, nomes como Manuel Macedo, Manuel Maria Bordalo Pinheiro e sobretudo Raphael Bordalo Pinheiro, inseridos na corrente naturalista, irão marcar uma nova visão da caricatura e do humor em Portugal. A publicação dos seus trabalhos, bem como de outros artistas, era divulgada através de periódicos como A Berlinda, O Binóculo, O Sorvete, O Charivari ou o Pontos nos ii, entre outros. Dos temas tratados, com mais ironia, destacava-se a política monárquica, denotando-se a tendência republicana de muitos caricaturistas que se acentuará no final desse século. A implantação da República e os tempos conturbados que se lhe seguiram, assim como o facto de aquela não ser afinal a derradeira solução para o país, tornaram-na alvo da sátira e da pena dos humoristas. A partir de 1926, o Estado Novo5 veio refrear a crítica política, condicionando os caricaturistas a abordarem sobretudo temas de crítica social e de costumes. Apesar dos constrangimentos da censura, é por essa altura que surge, no contexto das publicações humorísticas de caráter periódico, um dos jornais de referência da ironia em Portugal no século XX, o Sempre fixe, publicado até 1962. Os seus colaboradores zombavam dos acontecimentos ou astutamente tratavam os temas políticos. http://www.exercito.pt/sites/MusMilPORTO/Actividades/Paginas/4297.aspx. (Texto adaptado, consultado em janeiro de 2016)
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tão acutilantemente – tão bem; 2 Inquisição – tribunal de natureza religiosa, fortemente repressivo; representação iconográfica – representação em imagens; 4 Guerra Peninsular – a guerra entre os exércitos de Napoleão e os de Inglaterra, Portugal ou Espanha (1807-1814); 5 Estado Novo – regime político ditatorial que vigorou em Portugal entre 1933 e 1974; 5 caserna – quartel; 6 Guerra Colonial – guerra travada por Portugal em algumas das suas antigas colónias (1961 – 1974). 3
Para responder a cada um dos itens de 1 a 7, selecione a opção que permita obter uma afirmação correta.
1. Este texto tem como função principal (A) traçar a história do humor em Portugal. (B) apresentar os principais humoristas militares portugueses. (C) apresentar a história do humor em geral em Portugal e no exército português em particular. (D) indicar o contexto cultural de uma pesquisa efetuada por alguns soldados portugueses relativa ao humor no exército português. 2. A censura da Inquisição sobre formas de humor em Portugal exerceu-se principalmente sobre (A) as imagens. (B) a palavra escrita. (C) a palavra dita. (D) as artes populares. 3. Em meados do século XIX, o humor, em Portugal, assume forma (A) oral. (B) escrita. (C) iconográfica. (D) religiosa. 4. Na expressão «teve a sua expressão» (l. 1), o vocábulo sublinhado, quanto à classe de palavras, é (A) pronome. (B) determinante. (C) conjunção. (D) adjetivo. 5. O constituinte «como representação da crítica moral e social» (l. 1) desempenha a função sintática de (A) complemento do nome. (B) modificador do nome restritivo. (C) modificador do nome apositivo. (D) predicativo do sujeito.
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6. A forma verbal “menciona” (l.6) está no (A) pretérito imperfeito. (B) futuro. (C) presente. (D) condicional. 7. Atente no conjunto de palavras apresentado e classifique-as como arcaísmo (A) ou neologismo (N). a. soer
f. twitar
b. desvisitado
g. asinha
d. teletexto
h. guisa
e. software
i. teclar
8. Construa um campo lexical de “teatro”, constituído por quatro palavras. 9. Atente na palavra “pena”. Utilize-a em duas frases que evidenciem os seus significados distintos. 10. Identifique o processo fonológico ocorrido na palavra assi > assim
GRUPO III Escreva um texto de natureza expositiva, que tenha entre 120 e 150 palavras, no qual exponha formas de representação do quotidiano na Farsa de Inês Pereira, referindo, nomeadamente: – a relação entre raparigas casadoiras e suas mães / mentalidades sobre o casamento; – a função das alcoviteiras; – a festa do casamento.
FIM DA PROVA
COTAÇÕES GRUPO
I
II TOTAL
ITEM (cotação em pontos)
A e B: 1. a 5. 5 x 20 pontos C + Gramática: 1. a 10. 10 x 5 pontos
100
item único
50 200
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