Minas Faz Ciência - Edição 67

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A fábrica da inovação em Minas Gerais

O objetivo do projeto coordenado pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior é transformar Minas Gerais no maior polo de empreendedorismo e inovação da América Latina.

www.seed.mg.gov.br


Redação - Av. José Cândido da Silveira, 1500, Bairro Horto - CEP 31.035-536 Belo Horizonte - MG - Brasil Telefone: +55 (31) 3280-2105 Fax: +55 (31) 3227-3864 E-mail: revista@fapemig.br Site: http://revista.fapemig.br

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GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Governador: Fernando Pimentel SECRETARIA DE ESTADO DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E ENSINO SUPERIOR Secretário: Miguel Corrêa Jr.

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais Presidente: Evaldo Ferreira Vilela Diretor de Ciência, Tecnologia e Inovação: Paulo Sérgio Lacerda Beirão Diretor de Planejamento, Gestão e Finanças: Alexsander da Silva Rocha Conselho Curador Presidente: João Francisco de Abreu Membros: Esther Margarida Alves Ferreira Bastos, Flávio Antônio dos Santos, Júnia Guimarães Mourão, Michele Abreu Arroyo, Ricardo Vinhas Corrêa da Silva, Roberto do Nascimento Rodrigues, Sérgio Costa Oliveira, Valentino Rizzioli, Virmondes Rodrigues Júnior Para receber gratuitamente a revista MINAS FAZ CIÊNCIA, envie seus dados (nome, profissão, instituição/empresa, endereço completo, telefone, fax e e-mail) para o e-mail: revista@fapemig.br ou para o seguinte endereço: FAPEMIG / Revista MINAS FAZ CIÊNCIA - Av. José Cândido da Silveira, 1500, Bairro Horto - Belo Horizonte/MG - Brasil - CEP 31.035-536

De vez em quando, até parece que estamos falando de filmes de ficção científica. Prever o comportamento dos seres humanos a partir da internet? Mapear acontecimentos futuros? Antecipar a aceitação ou rejeição de clientes e usuários? Atualmente, tudo isso é possível. E mais: quem fornece as informações necessárias para tanto somos nós, internautas, ao visitarmos sites da internet, ao realizarmos buscas em sites específicos, ao comentarmos postagens nas redes sociais ou ao compartilharmos conteúdos marcados por hashtags. O uso cotidiano da internet gera um volume imenso de dados públicos, que servem como matéria-prima para a análise preditiva. Essa área, que pode ser aplicada em vários campos do conhecimento, tem sido utilizada tanto por pesquisadores como por empresas para previsões diversas. A partir de algoritmos e máquinas potentes, é possível, por exemplo, antecipar epidemias, surtos de violência e até mesmo fraudes ligadas ao uso do cartão de crédito. A reportagem especial desta edição, de autoria das jornalistas Amanda Jurno e Lorena Tárcia, apresenta um pouco mais do tema, destacando o trabalho do Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), referência no uso de dados e de predição. A MINAS FAZ CIÊNCIA também apresenta os resultados de uma pesquisa inédita que elaborou um mapa do vício em drogas (lícitas e ilícitas) na capital mineira. Conduzido por um grupo da UFMG, o trabalho ouviu cerca de oito mil pessoas com idade entre 15 e 65 anos, residentes em diferentes regiões de BH. Os dados obtidos são de grande importância: por um lado, contrariam algumas ideias (e preconceitos) sobre o perfil dos usuários de drogas; por outro, fornecem subsídios para a elaboração de políticas públicas, especialmente no que se refere ao encaminhamento e ao tratamento dos dependentes químicos. Fala-se muito sobre o papel da ciência em fornecer respostas para as demandas da sociedade. Nesta edição, temos dois exemplos de como isso pode acontecer. O primeiro caso surge de um lugar inesperado, a penitenciária José Martinho Drumond, localizada em Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de BH. Como as refeições dos presos são fornecidas em marmitas, ao fim de cada mês, o local colecionava entre quatro e dez toneladas de embalagens térmicas descartadas. Preocupados com a situação, dois agentes penitenciários levaram o problema a um grupo de pesquisadores, que chegou a uma proposta de aproveitamento do material, transformando o que iria direto para o lixo em fonte de energia. O outro exemplo está relacionado ao combate ao mosquito Aedes aegypti, transmissor de três doenças que, infelizmente, se tornaram bem conhecidas dos brasileiros nos últimos tempos: dengue, chikungunya e zika. Em todo o país, pesquisadores estão empenhados na busca por respostas, seja para a prevenção, para conhecer melhor os efeitos no organismo ou para o tratamento. Um estudo conduzido pela Fiocruz, que envolve também o Centro de Pesquisas René Rachou, de Minas Gerais, está analisando os efeitos da contaminação do Aedes pela bactéria Wolbachia. O grupo observou que, quando infectados, a capacidade dos mosquitos de transmitir os vírus das doenças diminui consideravelmente. Aliada a outra pesquisa que desenvolveu dieta artificial eficiente para os mosquitos mantidos em laboratório, a novidade é mais um passo em direção ao melhor controle epidemiológico das doenças. Boa leitura! Vanessa Fagundes Diretora de redação

AO LEI TO R

EX P ED I EN T E

MINAS FAZ CIÊNCIA Diretora de redação: Vanessa Fagundes Editor-chefe: Maurício Guilherme Silva Jr. Redação: Alessandra Ribeiro, Amanda Jurno, Camila Alves Mantovani, Lorena Tárcia, Marina Mendes, Maurício Guilherme Silva Jr., Tatiana Pires Nepomuceno, Téo Scalioni, Vanessa Fagundes, Verônica Soares e Vivian Teixeira Diagramação: Fazenda Comunicação Revisão: Sílvia Brina Direção de arte: Felipe Bueno Editoração: Unika Editora, Fatine Oliveira Montagem e impressão: Rona Editora Tiragem: 25.000 exemplares Capa: Felipe Bueno


Í N D I CE

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Entrevista

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Agricultura

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CEO da Starlight Runner Entertainment, Jeff Gomez debate o uso de narrativas transmídia na ciência

Novas técnicas ampliam quantidade e aprimoram qualidade de frutas cultivadas no semiárido mineiro

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Química

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Engenharia Mecânica

Pesquisadores do Departamento de Química da UFMG transformam marmitas usadas em presídio em combustível

Queimador de baixo custo diminui emissão de gases poluentes e previne explosões

Medicina

Pesquisa inédita investiga números e características da dependência de drogas na capital mineira

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Divulgação Científica

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Espaço do Conhecimento celebra seis anos de dedicação à lúdica disseminação de saberes

Especial

Fique por dentro da inteligência preditiva, cujas iniciativas estendem-se a diversas áreas da produção científica

Inovação

Iniciativa do governo de Minas Gerais, programa Seed garante suporte e estímulo ao empreendedorismo de startups

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Vida de cientista

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hiperlink

Saiba mais sobre os dons de Valder Steffen, professor e pesquisador da Universidade Federal de Uberlândia

Ciência

Evento mundial, Pint of Science levou pesquisadores a discutir temas científicos em bares de BH

Veterinária

Biomateriais elaborados a partir de tecnologia nacional aperfeiçoam processo de regeneração óssea

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José Reis, Nanotecnologia, Agência Espacial Brasileira e mostra Inova Minas FAPEMIG

Dengue

Inserção da bactéria Wolbachia em mosquitos Aedes aegypti revela-se eficaz contra Zika, dengue e chikungunya


o que

hoje,

?

você não faria sem

a internet

“A pergunta me faz refletir profundamente, assim como quando me questionam: ‘Qual o sentido da vida?’. Precisei fazer uma viagem no tempo! No auge dos meus 24 anos, lembro que vivi metade dessa idade sem internet, embora ela já existisse. Em minha casa, adquirimos um computador financiado em infinitas prestações; depois, mandamos instalar internet. Consigo me lembrar que, antes de conhecer esse mundo digital, eu vivia em um mundo físico. Tinha uma rede de amigos na rua onde moro e na escola. Com eles, fazíamos várias programações. Além disso, dava audiência para a TV. Lia muitos livros. Saía bastante de casa. Fazia pesquisas em enciclopédias e bibliotecas”. Raylson Lima Via Instragram

“Não manteria essa rede de amigos pulsando, tão viva e atuante. Outra coisa é a possibilidade de conhecer tantos países”. Iza Santana Via Facebook

“Nossa, essa pergunta é complicada! O que eu não faria sem a internet nos dias de hoje? Acho que mudaria minha relação com a culinária. Parece besteira, né? Mas pense comigo: um simples acesso ao Facebook ou ao Tasty Demais te dá ‘uma

surra’ de receitas fáceis, gostosas. Se não fosse a internet, você não procuraria nos livros de receita”.

Jéssica Meirelles Via Facebook

“Sem a internet, meu trabalho seria muito prejudicado, tendo em vista que conto com a web para realizar 90% do que faço”. Camila Silva Via Facebook

“Sem a internet, não me atualizaria, tão rápida e facilmente, com diversas informações de âmbitos pessoal e profissional”. Gabriela Granatto Via Facebook

“Provavelmente, eu pensaria em um método para ter internet. Mas, falando sério: acredito que eu leria menos”. Rafael Silva Via Facebook

“Sem a internet, provavelmente, não conseguiria manter certas relações tão vívidas – mesmo que a distância. Também acredito que não seria possível me informar, de maneira sistemática, sobre assuntos que tanto me interessam, como política internacional. Sem a internet, teria menos conhecimento. E, se conhecimento é poder, a ausência da internet significaria menos poder compartilhado”. Jonathan Godinho Via Facebook

MINAS FAZ CIÊNCIA tem por finalidade divulgar a produção científica e tecnológica do Estado para a sociedade. A reprodução de seu conteúdo é permitida, desde que citada a fonte. MINAS FAZ CIÊNCIA • SET/OUT/NOV 2016

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Ci ên ci a Ab erta

Nos dias de


especial

Bola de cristal contemporânea Inteligência preditiva auxilia pesquisadores a monitorar comportamentos sociais a partir da investigação de informações digitais

Amanda Jurno e Lorena Tárcia

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Romance clássico mundial, de 1869, marcado pela ironia e pelo sarcasmo velado. Fascinou gerações de leitores e virou filme. A mais recente adaptação, de 2012, é com Gérard Depardieu.

Segundo pesquisa da Universidade da Virgínia, publicada no periódico científico Decision Support Systems, muitos crimes ou agressões podem ser detectados antecipadamente, a partir da análise de conteúdo publicado no Twitter, caso essa informação seja analisada de forma adequada. De acordo com o estudo, a análise de tuítes permite prever 19 entre 25 formas de crime – especialmente, perseguição, assédio, roubo e certos tipos de agressão.

“O que é a história? Um eco do passado no futuro”, escreveu Victor Hugo, em O homem que ri. A máxima do autor remete ao fato de que, embora eventos futuros tenham circunstâncias únicas, normalmente, seguem padrões históricos e de comportamento reconhecíveis. As tecnologias computacionais desenvolvidas na última década nos põem, hoje, em condições de repensar nossa relação com o porvir, a partir da análise de grandes volumes de dados, a chamada Big Data. A predição – ou previsão – do que está por acontecer deixa de ser uma aposta nos poderes das bolas de cristal, para se tornar uma ciência baseada no imenso volume de informações públicas circulantes na web. De palavras-chave de buscas a postagens nas redes sociais, ou hashtags no Twitter, muito do comportamento e das necessidades humanas passa pelas diversas telas com as quais nos relacionamos diariamente. O mundo contemporâneo enfrenta desafios complexos, como mudanças climáticas, instabilidade política e surtos de doenças. Contudo, e se acontecimentos desestabilizadores pudessem ser previstos com antecedência? Cofundadora da empresa israelense SalesPredict, Kira Radinsky fez tal aposta há cerca de dez anos, quando passou a investir na coleta e na análise sistemática de informações sobre o comportamento humano na web, com o objetivo de calcular, em tempo real, estimativas e probabilidades de eventos futuros. O sistema combina 150 anos de artigos do jornal New York Times, a totalidade da Wikipédia e milhares de pesquisas em páginas web e nas redes sociais para modelar a possibilidade de resultados potenciais em relação a contextos específicos. O algoritmo generaliza sequências de acontecimentos históricos extraídos desse grande conjunto de dados e procura, automaticamente, todas as possíveis combinações de causa-efeito. O software pioneiro foi premiado pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT). Radinsky e seus colegas desenvolveram, por exemplo, um algoritmo capaz de prever, com precisão, o primeiro surto de cólera, em 130 anos, em Cuba. O pa-

drão inferido pelo sistema era de que as epidemias da doença em áreas sem litoral são mais prováveis de ocorrer após tempestades, especialmente quando precedidos por longo período de estiagem até dois anos antes. O padrão só ocorre em países com baixo Produto Interno Bruto (PIB) e reduzida concentração hídrica na área afetada. O dado parecia surpreendente, considerando-se ser a cólera uma doença advinda da água, o que levaria a supor que o surto aconteceria em áreas bem irrigadas. A implicação direta de previsões desse tipo é que equipes médicas podem ser alertadas com antecedência de até dois anos, em tempo de enviar água limpa ao local e quebrar o ciclo de desenvolvimento da doença. O mesmo mecanismo tem sido usado para modelar a probabilidade de surtos de violência. O sistema previu motins na Síria e no Sudão, ao perceber que distúrbios são mais prováveis de ocorrer em regiões pouco democráticas, com PIB crescente e baixa distribuição de renda, quando há elevação de preços de produtos anteriormente subsidiados. Tal relação de fatores acaba por favorecer manifestações e confrontos com a polícia. Em julho deste ano, o eBay anunciou a compra da SalesPredict, ao apostar na inteligência artificial, nos dados e no aprendizado das máquinas para prever o comportamento dos clientes e converter os anúncios em maiores volumes de vendas. Com mais de 900 milhões de anúncios publicados em todo o mundo, o eBay percebeu a oportunidade de usar análise preditiva na identificação dos atributos que podem afetar, por exemplo, o preço de um produto. Dessa forma, é possível municiar os vendedores da plataforma com informações relevantes, capazes de incrementar as vendas.

Aplicações

A análise preditiva diz respeito ao que vai acontecer. Ao tratar do passado, a pesquisa se torna descritiva. Enquanto disciplina, a área existe há muitas décadas. Sua relevância, porém, cresceu em virtude da quantidade de dados capturados pelas pessoas – a partir de redes

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sociais, por exemplo – e de sensores, como dispositivos móveis, GPS e “Internet das Coisas”. A análise preditiva é usada em vários campos do conhecimento, e tem sido muito bem-sucedida, por exemplo, na detecção de fraudes ligadas ao uso de cartão de crédito. As transações são monitoradas em tempo real, e, a depender do risco percebido, as instituições implementam um conjunto de regras e podem recusar a operação. Também a recomendação de produtos e serviços tem sido foco de aplicativos preditivos, a exemplo da indicação de filmes, livros e músicas em serviços como Netflix e Spotify. Além disso, convive-se, cada vez mais, com campanhas de marketing customizadas conforme hábitos de consumo e pesquisas na web. Outra gama de aplicativos baseados em análise preditiva concentra-se em dados obtidos a partir de sensores. Ao usar dispositivos móveis com GPS, por exemplo, os usuários enviam informações coletivas, que possibilitam prever as condições de trânsito praticamente em tempo real. Com sistemas cada vez mais precisos, seremos capazes de usá-los para alterar nossas escolhas de transporte: diante da previsão de trânsito intenso nas grandes cidades, será possível, por exemplo, optar por metrô ou bicicleta. Na Engenharia Civil, a disponibilidade de sensores menores, e com custo reduzido, permite monitorar estruturas de pontes e edifícios, assim como de máquinas, transformadores de energia e água, bombas de ar, portas e válvulas. Nesses casos, o uso da análise preditiva permite manter ou alterar materiais ou processos antes da ocorrência de falhas e acidentes. Desastres como o derramamento de óleo no Golfo do México, em 2010, ou o colapso do viaduto Guararapes, em Belo Horizonte, são exemplos de acidentes graves, que poderiam ser evitados caso houvesse sensores e modelos de manutenção preventiva.

Referência mineira

No Brasil, o Departamento de Ciência da Computação (DCC) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) é consi-

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derado referência em empreendedorismo na área de computação e no uso de dados e de predição. Em 2014, a equipe do DCC saiu vitoriosa em uma das principais conferências mundiais no campo do aprendizado de máquina e mineração de dados. Formado pelo então doutorando Flavio Diniz de Figueiredo e pelos professores Jussara Marques Almeida e Marcos André Gonçalves, o time obteve primeiro lugar em duas das três tarefas do “Predictive Web Analytics Challenge”, categoria de predição do “Discovery Challenges”. No desafio, os competidores precisavam prever se determinado conteúdo veiculado na internet viria a se tornar popular entre os usuários. Para isso, analisaram-se conjuntos de tuítes, posts do Facebook e páginas de web. Os competidores monitoraram o desempenho dos dados durante uma hora, e, por meio de cálculos matemáticos, tentaram identificar a repercussão de tais conteúdos após uma semana. Venceria a disputa a equipe que obtivesse o resultado mais preciso. Ao usar um algoritmo que explorava conceitos na área de agrupamento de séries temporais e de predição de comportamento, os representantes do DCC tiveram a menor margem de erro na previsão de popularidade dos posts do Facebook e das páginas de web.

Segundo Polyana Inácio, pesquisadora mineira na área de Comunicação Social, com ênfase em internet das coisas, “qualquer objeto a nosso redor pode receber sensores ou etiquetas de radiofrequência (RFID) para monitorar ambientes e ações, além de enviar dados, assim como já fazem os celulares. Com a chegada da internet das coisas, “somos cada vez mais monitorados, e, portanto, suscetíveis a recomendações que surgem de dados coletados quando expomos hábitos diários, intimidade e localização no mundo”.

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Foi nos laboratórios dos professores Nivio Ziviani e Alberto Laender, do DCC, que nasceu a Kunumi, empresa de alta tecnologia focada na convergência entre técnicas de Deep Learning e Big Data. “A Kunumi faz a ponte entre o mundo dos negócios e os avanços mais recentes de inteligência artificial, abordando casos práticos de forma inovadora, com grande impacto tanto em resultados quanto em processos”, explica Ziviani O portfólio de serviços da empresa inclui análise preditiva, inteligência de negócio e big data engineering. Busca-se, assim, a solução de problemas em áreas como previsão de demanda, comportamento de usuário, otimização, planejamento de inventário, análise e monitoramento de mídias sociais. No segmento da saúde, tida, pelo professor Ziviani, como uma das mais promissoras, a inteligência preditiva é usada do diagnóstico digital, por meio do reconhecimento de imagens, à recuperação de informações não estruturadas dos prontuários eletrônicos dos pacientes. “A análise preditiva aumenta potencialmente a precisão de diagnósticos, ajuda a Medicina preventiva e a saúde pública e suporta incrementos nas previsões relativas às despesas de produtos de seguros de saúde que envolvam empregadores e hospitais”, destaca o professor, ao lembrar que é possível, ainda, o desenvolvimento de modelos de previsão que não necessitam de milhares de casos como amostragem para resultados. “Desse modo, tornam-se mais precisas ao longo do tempo”, pontua. No que se refere à mídia, a Kunumi recorre à análise preditiva para entregar conteúdo de maior ressonância junto ao público, por meio do sistema de recomendações. A empresa foi fundada em 2011 e, hoje, funciona no BHTec, o Parque Tecnológico de Belo Horizonte, na região da Pampulha. Outro destaque mineiro na área é a Hekima, especializada em antecipar tendências, pensar soluções efetivas e auxiliar a tomada de decisões empresariais. “A partir do acesso a dados internos ou externos às empresas, aplicamos técnicas de inteligência artificial para detectar e entender padrões relacionados às necessidades de

nossos clientes”, explica Thiago Cardoso, CTO da empresa. Tabelas e informações oferecidas pelas organizações, dados de censos como o do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e de mídias sociais servem de base para os algoritmos encontrarem padrões que podem ser usados para antecipar acontecimentos como o cancelamento da matrícula de clientes em uma academia. “Com o conhecimento desses padrões, podemos identificar as pessoas com maior risco de deixar a academia, antes mesmo que isso aconteça. A empresa, então, pode tentar uma ação preventiva”, explica Cardoso. Durante a Copa do Mundo de 2014, a Hekima foi contratada pelo Governo Federal para prever o local e o volume de pessoas nas manifestações de rua. A metodologia usada foi desenvolvida durante os conflitos de junho de 2013 e se funda no acompanhamento de eventos em tempo real, seguidos pelo levantamento de insights estratégicos, pela identificação de tendências e pela análise especializada para além das informações. “Usamos dados coletados nas redes sociais, principalmente, no Facebook, onde os manifestantes combinavam os encontros. Também lidamos com informações da polícia, e, até mesmo, com boletins de previsão do tempo, já que, quando chovia, as manifestações tendiam a se esvaziar”, explica Victor Salles, cofundador da Hekima. A partir da análise desses extensos bancos de dados, por softwares, os desenvolvedores criaram padrões e treinaram a inteligência artificial para agir sozinha. Ao longo de 43 dias, foram gerados 172 relatórios. Só no dia da abertura, chegaram a ser coletadas e analisadas mais de um milhão de postagens, o que permitiu, por exemplo, prever as vaias à presidente Dilma Rousseff. “A inteligência artificial se desenvolveu tanto que foi capaz de superar nossa capacidade perceptiva e analítica, a partir do aprendizado com base nos dados. Certo dia, ela previu que uma manifestação na Paulista, em São Paulo, contaria com cerca de cinco mil pessoas. Desconfiamos dos resultados, pois os outros eventos reuniam

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de 60 a 100 mil participantes. No dia seguinte, confirmamos a previsão: seis mil estiveram na avenida”, conta Salles.

Considerações éticas

Dizer que os dados são disponibilizados pelas pessoas por livre vontade não significa que elas estejam cientes do armazenamento e do uso dessas informações. Ao contratar serviços de cartão de crédito ou e-commerce, criar contas em redes sociais ou instalar softwares e aplicativos em computadores e celulares, os usuários são convidados a ler e a aceitar os famosos “termos de uso”. Geralmente, os indivíduos passam por eles apenas clicando em “aceitar”, e, quando os leem, não compreendem tudo, por se tratar de cláusulas escritas de maneira genérica e com termos desconhecidos. “Assim, quando uma empresa diz ‘vamos usar seus dados para melhorar os nossos serviços’, podemos entender que ela pesquisará erros para corrigi-los, mas também pode ser que vá vender seus dados e reinvestir o dinheiro em infraestrutura”, explica Joana Ziller, professora do Departamento de Comunicação Social da UFMG e integrante do Núcleo de Pesquisa em Conexões Intermidiáticas do Centro de Convergência de Novas Mídias. Dessa forma, hábitos, atividades, e, até mesmo, a localização dos usuários são constantemente mapeados, sem que eles sequer se deem conta disso. Muitos

aplicativos associam os dados de uso aos do GPS do celular e registram informações como trajetos usuais, tempo de permanência em cada local, alteração na rotina etc. Há softwares, inclusive, que incluem autorização para acionar a câmera e o microfone dos aparelhos sem aviso prévio. Ou seja, atividades realizadas fora dos computadores e dispositivos também podem ser registradas e servir de fonte para os grandes bancos de dados, usados na análise preditiva. A abertura das possibilidades de acesso a informações pessoais e privadas está sujeita, ainda, à ação clandestina de hackers. Um dos casos conhecidos é o de um casal inglês flagrado, durante as relações sexuais, pela câmera de sua smartTV. Hackers acessaram o dispositivo, filmaram o casal na própria casa e, depois, os chantagearam em troca de dinheiro. O assunto tornou-se destaque, também, quando Mark Zuckerberg, criador do Facebook, publicou uma fotografia pessoal, na qual era possível visualizar, ao fundo, o notebook do empresário, com a webcam coberta por uma fita adesiva. Rapidamente, a imagem e as discussões sobre segurança no uso de webcams e smarTVs vieram à tona e receberam a atenção de jornalistas. Diante de tal realidade, como se proteger? Um dos caminhos, destaca Ziller, é usar os dispositivos de maneira crítica e se atentar para as possibilidades de rastreamento, escolhendo os dados que

Como funciona a predição

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Coleta de dados (Data Capture)

O primeiro passo é a coleta de dados. Podem ser visualizações, cliques em páginas web, dados de clientes ou bancos de dados próprios.

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2 Técnicas de Deep Learning (Deep Learning Engines)

A seguir, são aplicadas técnicas de Deep Learning ao conjunto de dados, de maneira a estabelecer padrões e a encontrar agrupamentos nos dados (clusters).


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Sistemas de apoio à tomada de decisão

A partir dos padrões encontrados, ferramentas de análise e tomada de decisão são aplicadas para atingir objetivos específicos do cliente.

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Visualização de dados (Data Visualization)

Os padrões detectados e o desempenho das ações tomadas, baseadas nos sistemas de apoio à decisão, são visualizados, permitindo o acompanhamento das métricas envolvidas e a obtenção de insights sobre a evolução de tais métricas.

deseja tornar públicos. Outra providência necessária é investir na regulamentação dos usos, de modo a aperfeiçoar o Marco Civil da Internet, em vigor desde 2014, e a estabelecer diálogos com os cidadãos. “Discutir nossa privacidade e exigir maior transparência das empresas e dos governos são caminhos viáveis, tendo em vista que não abriremos mão das comodidades advindas do uso de tais serviços e produtos”, argumenta a professora.

O que vem por aí

Segundo Nivio Ziviani, recentemente, “redes neuronais profundas têm obtido avanços significativos em reconhecimento de voz, visão computacional e em novas áreas de aplicação, como tradução de voz, descrição de imagens e agentes conversacionais”. Da mesma maneira, destaca o professor, o futuro da inteligência preditiva é promissor a partir do uso de redes neuronais profundas, em diversas áreas.

“Elas já apresentam excelentes resultados na detecção de fraude – em negócios de seguros ou empréstimos bancários –, ou na prevenção de doenças, como problemas cardiovasculares, por meio da leitura de eletrocardiogramas, e câncer de mama, com a interpretação de imagens”, analisa. Com o aumento das informações geradas pelos usuários e do investimento em ações no campo da predição, as empresas podem apostar em serviços personalizados para as necessidades de seus clientes. “A customização chegará ao ponto em que cada pessoa terá uma experiência completamente única”, acredita Thiago Cardoso. Por outro lado, crescem as preocupações com segurança no armazenamento e na utilização dos dados estratégicos. Estudo recente ouviu mais de 34 mil pessoas em todo o mundo sobre a confiança nas tecnologias preditivas, comparando-as ao otimismo das empresas de marketing em relação ao uso de tal método nos negócios. Dentre

os temores, estão a privacidade e a desconfiança em relação a governos e a empresas que se baseiam em predições. Os números mostram, ainda, um gap profundo entre o modo como o mercado recorre à tecnologia e a maneira como os consumidores gostariam que fosse empregada. Privacidade, transparência e relevância seriam, portanto, a chave para alcançar objetivos futuros, o que significa oferecer informações precisas e detalhadas sobre como os dados pessoais têm sido capturados, armazenados, usados e compartilhados por empresas e governos. Caso contrário, alerta o estudo, uma das mais poderosas ferramentas surgidas nas últimas décadas poderia se perder em usos e previsões socialmente irrelevantes ou distorcidas. Leia a íntegra das entrevistas e dos estudos usados nesta reportagem em https://goo.gl/8xpdnD.

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entrevista

Conhecimento em múltiplas plataformas Cortejado pelo mercado publicitário mundial e por grandes estúdios de cinema, Jeff Gomez fala sobre as relações entre as ciências e as narrativas transmídia Lorena Tárcia Quando Hollywood deseja expandir superproduções como Avatar, Piratas do Caribe ou Homens de preto para além das telas do cinema, ele é a referência. CEO da Starlight Runner Entertainment, Jeff Gomez pode criar webséries, jogos, aplicativos e mecanismos de realidade virtual, além de sugerir ações de engajamento e/ ou ampliação da experiência em múltiplas plataformas. Gomez também é idealizador de campanhas comerciais – a exemplo de “Fábrica da Felicidade”, da Coca-Cola, “Hot Wheels: via 35 – Corrida Mundial” e tantas outras – para clientes de peso, como Reebok, Disney e Hasbro. “Tenho o melhor emprego do universo”, confessa, em referência ao ofício de desenhar, estender e defender a “integridade de alguns dos maiores sucessos da cultura pop”. Por trás dos projetos inovadores da Starlight Runner, revela-se o conceito de Narrativa Transmídia (Transmedia Storytelling), definido por Gomez como “o processo de transmissão de mensagens, temas ou enredos a uma audiência de massa, por meio do uso engenhoso e bem planejado das múltiplas plataformas de mídia”. Além de uma técnica, transmídia é, para ele, uma “filosofia de comunicação

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e de expansão de marcas, que enriquece e amplia o ciclo de vida de conteúdos criativos”. No centro de tal proposta, estão a audiência e a perspectiva de participação, de coautoria e de construção coletiva. A lógica transmídia já ultrapassou o entretenimento e o marketing, e, agora, chegou à educação, ao jornalismo e a outras tantas áreas do conhecimento. Trata-se de extensão natural da chamada cultura da convergência. Gomez considera as narrativas como a base do relacionamento humano. Para ele, as histórias estão entranhadas em nossas mentes desde a pré-história e são a chave para compreender os mais básicos instintos e emoções. “Em um futuro próximo, todas as formas narrativas – inclusive, nossos movimentos e interações – serão rastreadas de forma tão individualizada que as comunicações entre as marcas e as pessoas se aproximarão de conversas íntimas e personalizadas”, destaca. Além das produções, Jeff Gomez dedica boa parte de seu tempo a ensinar transmídia a públicos diversos – o que inclui aulas gratuitas para organizações sem fins lucrativos, em países como México, Colômbia e Austrália, e nas regiões do Oriente Médio e do Norte da África.

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Crescido nas ruas violentas de Nova York, Jeff sempre defendeu as causas dos jovens. Vítima de bullying na infância, desenvolveu o seminário “Never Surrender!” (“Nunca se renda!”, em tradução livre), com o objetivo de “ensinar crianças a lidar com valentões”. Regularmente, também oferece aconselhamento de carreira a “adolescentes imaginativos e adultos jovens que enfrentam desafios na vida”. Esta entrevista procura abraçar a perspectiva transmidiática e se expande para além das páginas da revista. No blog do projeto Minas faz Ciência você encontrará dados e pesquisas em áudio, vídeo e texto sobre diversos aspectos da narrativa transmídia, além de informações complementares acerca dos projetos citados por Gomez.


Arquivo Pessoal

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Infelizmente, em grande parte, os setores têm trabalhado de forma independente e em ritmos diferentes. Mesmo subsetores da indústria de entretenimento, como música, televisão a cabo e jornalismo, têm ficado para trás quando se trata de prática transmídia. Isso agravou a distância entre as audiências de massa e de produtos como músicas gravadas, pacotes de TV a cabo e jornais. Há pouco diálogo em curso entre essas grandes empresas e seus públicos, e isso está contribuindo para a sua erosão.

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Como a comunidade científica tem se envolvido e contribuído com as discussões e experiências sobre Narrativa Transmídia? O reconhecimento formal e o interesse por Narrativas Transmídia vieram, primeiramente, da academia. O termo “transmídia” foi criado por Marsha Kinder, estudiosa de cinema e professora de Estudos Críticos na Universidade do Sul da Califórnia, em 1991. Ela foi uma das primeiras a reconhecer formalmente que a história pode ser fragmentada e espalhada por meio de diferentes meios de comunicação, contribuindo para uma experiência coletiva enriquecida, quando apreciada em conjunto. Henry Jenkins, codiretor do programa de Estudos de Mídia Comparada do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), promoveu a teoria de Kinder e chamou a atenção de escritores e produtores de Hollywood para suas perspectivas comerciais. Meu próprio trabalho prático para franquias de entretenimento, marcas e empreendimentos sociopolíticos tem ajudado a informar várias instituições e organizações educacionais, contribuindo para a formação de centros de pesquisa em muitas universidades ao redor do mundo, além de diversos currículos sobre transmídia e estudos narrativos em múltiplas plataformas. Hoje, quem você apontaria como referência na comunidade acadêmica? Além de Jenkins e Kinder, muitas pessoas fazem um trabalho notável em toda a comunidade acadêmica global. Lance Weiler, da Universidade de Columbia, em Nova Iorque, está inovando em transmídia para a educação das crianças. Luke Webster, recentemente, publicou um artigo bastante esclarecedor sobre franquias transmídia, a partir da Universidade Curtin, em Perth, na Austrália. Em Amsterdam, na Holanda, Ian Ginn configurou uma das primeiras trilhas didáticas para ensino prático de produções transmídia, por volta de 2008, na Universidade Hogeschool. Lam Wai-Keung, professor do Departamento de Design de Comunicação e Mídia Digital no Design Institute Hong Kong, criou uma

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licenciatura em transmídia, que está ajudando a levar a técnica para Hong Kong e China. Athina Tsoulis, vice-reitor executivo na Unitec Institute of Technology, tem contribuído para adequar as práticas transmídia às necessidades da mídia e da indústria publicitária da Nova Zelândia. É possível perceber conexões entre os diversos atores envolvidos com narrativa transmídia e os setores independentes, com foco em seus próprios resultados? Infelizmente, em grande parte, os setores têm trabalhado de forma independente e em ritmos diferentes. Mesmo subsetores da indústria de entretenimento, como música, televisão a cabo e jornalismo têm ficado para trás quando se trata de prática transmídia. Isso agravou a distância entre as audiências de massa e de produtos como músicas gravadas, pacotes de TV a cabo e jornais. Há pouco diálogo em curso entre essas grandes empresas e seus públicos, e isso está contribuindo para a sua erosão. Alguns dos desafios mais fascinantes que assumimos na Starlight Runner dizem respeito à construção de conexões entre diferentes setores e, também, dentro da comunidade midiática. Com nossos parceiros no México, por exemplo, projetamos uma campanha transmídia para ativar os cidadãos em torno da proposta de uma sociedade mais legal e pacífica. A proposta envolveu grandes redes de televisão e empresas de mídia, agências de publicidade, redes de supermercados e distribuidores, programas de mídia social, músicos e contadores de histórias locais. Todos esses atores foram coordenados para atuar em conjunto, e, embora a implementação não tenha sido perfeita, houve um impacto significativo. Desde então, temos investido bastante nestes esforços de promoção do “bem social” em todo o mundo, com efeitos progressivamente positivos. No mínimo, isso é prova de que os vários setores têm potencial para trabalhar em conjunto, com uso de técnicas transmídia.


De que modo comparar a narrativa transmídia na ciência e na ficção? A base da narrativa transmídia é a mesma: precisamos compreender a essência, os temas e os componentes aspiracionais de uma história ou de uma narrativa em construção e ter certeza de que essa essência está incorporada no conteúdo elaborado para as diferentes mídias. Este é um conceito simples, mas de difícil aplicação, pois os produtores do conteúdo precisam, muitas vezes, sublimar seus anseios artísticos ou interpretativos em função da mensagem a ser transmitida. Se Superman é sombrio e Batman atira nas pessoas, o narrador se afastará do núcleo central desses personagens. Assim, confundirá a audiência e seu conteúdo poderá vacilar. Por outro lado, se Capitão América e Homem de Ferro permanecem fiéis ao que essencialmente compreendemos sobre eles, os dois poderão, até mesmo, envolver-se em um combate, pois o público entenderá, considerando aquilo aceitável, interessante ou emocionante. O mesmo vale para a transmissão de conteúdo e de princípios científicos. Quando o ex-vice-presidente Al Gore tentou alertar o mundo sobre dados científicos relativos às mudanças climáticas, sua comunicação sobres esses fatos foi didática e singular. Porém, sua mensagem não levou em conta os muitos interesses que poderiam ser elencados contra ele e não adequou a narrativa para alcançar diferentes audiências, em distintos meios. Em vez disso, restringiu a comunicação a um universo narrativo altamente limitado. Gore não apelou às nossas aspirações humanas universais, nem fez suas soluções soarem empolgantes, tocando-nos emocionalmente. Isso permitiu aos adversários submergir sua mensagem com respostas duvidosas, orquestradas por meio de uma gama de múltiplas mídias. Um comunicado urgente, cientificamente factual, emitido em uma única plataforma e replicado exatamente da mesma forma em todas as mídias, foi derrotado por uma infinidade de declarações dúbias, orquestradas em múltiplas plataformas.

Como você enxerga o futuro próximo de um sistema de educação que use os universos narrativos, criticamente, nas várias profissões? Sistemas de educação transmídia são não lineares, distribuídos e capacitam estudantes a ensinar uns aos outros e a seus professores, além de aprender e comunicar de volta, por meio de mensagens multiplataforma concertadas. No ensino superior, já podemos ver que a abordagem transmídia permite relações mais fortes entre alunos e professores. Em tal cenário, por exemplo, os estudantes recebem incentivos positivos, ao invés de punições e ameaças arcaicas. A agilidade da comunicação transmídia não linear tem auxiliado estudantes acadêmica ou socialmente angustiados. Vemos, também, que estudantes dominam a gestão do tempo e as habilidades de pesquisa, como resultado das aplicações transmídia e de componentes sociais e tecnológicos inseridos em tais implementações. Em termos de currículo e preparação profissional, testemunhamos o surgimento de uma idade do ouro em cursos sobre práticas e técnicas de produção transmídia. Dez anos atrás, esses cursos, simplesmente, não existiam. Agora, expandem-se pelo mundo. Nem todos são ótimos e alguns parecem planejados por pessoas sem experiência prática na área, mas esta é uma questão transitória. Que sugestões ou conselhos você daria a quem deseja mergulhar no estudo e na produção transmídia? A maioria dos praticantes transmídia abraçou o conceito de abundância e passou a compartilhar seus conhecimentos e sua experiência online. Por isso, a partir do momento em que você os conhece e sabe onde estão, fica relativamente fácil estudar as técnicas. Há inúmeras palestras disponíveis no YouTube e um grande número de trabalhos acadêmicos disponíveis. Vejo valor, inclusive, nos fracassos relatados. Ofereço minhas mídias sociais como bons lugares para começar, já que, frequentemente, publico algo sobre o universo transmídia e acerca de minhas próprias experiências.

No Facebook: “Starlight Runner Entertainment”; no Twitter: @ Jeff_Gomez

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Agricultura

Novas técnicas de cultivo fazem com que produção de manga na região do semiárido mineiro se destaque no cenário nacional 16

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Camila Alves Mantovani


Atualmente, a região do semiárido mineiro é a segunda maior produtora de rebanho bovino no Estado.

Em todo mundo, os desafios para produção de alimentos têm se dado em virtude, principalmente, das condições climáticas adversas. No entanto, algumas áreas, que já apresentam clima desfavorável, têm sofrido, ao longo dos anos, com o agravamento do problema. No Brasil, a região do semiárido, caracterizada por escassez de água e altas temperaturas, desafia, desde sempre, o cultivo agrícola. Sendo assim, a partir da década de 1970, marco da implantação da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), políticas públicas a envolver a criação de centros de pesquisa e ensino – dentre outros aspectos – têm sido implementadas no local. Em Minas Gerais, o semiárido se localiza na região Norte e no Vale do Jequitinhonha, e, nos últimos anos, tem reescrito sua história no contexto nacional. O “sertão” da secura e da fome, tão bem retratado em obras como a de Guimarães Rosa, destaca-se, hoje, pela diversidade de produções agropecuárias – do cultivo de subsistência às atividades economicamente sustentáveis, como a fruticultura irrigada e a pecuária. No que se refere à fruticultura, além do investimento em tecnologias de irrigação, fator essencial ao cultivo na região, outras técnicas têm sido pesquisadas para auxiliar e tornar mais eficiente o manejo das culturas no semiárido. É o caso do projeto “Reguladores vegetais no manejo da produção e fixação de frutos na mangueira”, desenvolvido pelo pesquisador Moacir Brito Oliveira, da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). Nos últimos três anos, o aumento da temperatura trouxe muitos desafios aos produtores. “Uma das consequências do aumento da temperatura é a perda de polinização, o que leva a uma produção inviável para o mercado. Uma planta que produzia 300 frutos, por exemplo, começa a produzir 100, 150 frutas, que não se desenvolvem, pois a alta temperatura e a baixa umidade dificultam o aparato fotossintético do vegetal, levando-o a uma produção irregular”, explica Moacir. Para reverter a situação, uma das técnicas elaboradas pelo pesquisador, com sucesso, refere-se ao uso de reguladores

vegetais (na verdade, fitorreguladores) para o cultivo da mangueira. Os “reguladores de crescimento” são compostos químicos sintéticos usados com o objetivo de controlar o desenvolvimento vegetativo, de modo a aumentar a capacidade reprodutiva da planta. No projeto, Moacir Brito trabalhou com um regulador de crescimento chamado paclobutrazol (PBZ), que, aplicado no solo, paralisa o crescimento vegetativo, ao inibir a síntese da giberelina – um hormônio – e ao permitir a manipulação do vegetal durante todo o ano. O uso dos fitoreguladores varia conforme o método de aplicação do produto e a concentração usada. O objetivo principal da pesquisa foi avaliar os efeitos da aplicação de diferentes doses de PBZ, na mangueira Palmer, sobre a paralisação do crescimento vegetativo, a indução floral, e as características vegetativas e reprodutivas do cultivo na região Norte de Minas Gerais, durante a entressafra. Nos estudos, percebeu-se a possibilidade de redução da quantidade de regulador vegetal usada no solo: de 1g a 1,5 g por metro quadrado de cota de planta, chegou-se – conforme recomendação comercial – a 0,7g, com resultados eficientes. De acordo com Moacir Brito, a redução do uso de reguladores tem impacto importante não apenas em termos de custos ao produtor, mas, também, no que se refere ao meio ambiente. Isso porque, ao usá-los, põe-se em risco a vida abaixo do chão. “O PBZ diminui a respiração do solo, o que prejudica os organismos vivos ali existentes. Com o uso de menores quantidades de regulador, a molécula se degrada mais rapidamente, e, assim, a terra se recupera em maior velocidade. Ou seja, diminui o impacto na biota do solo”, explica o pesquisador. Além das pesquisas para manejo do PBZ de forma mais sustentável, no doutorado, Moacir conduz estudos que buscam outras opções de reguladores, a serem usados, por exemplo, na folha da planta, sem prejuízos ao solo. “Inicialmente, o objetivo era avaliar os diferentes reguladores vegetais da cultura, aplicados no manejo floral da mangueira, de forma a continuar o eficiente escalonamento de produção”,

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esclarece, ao lembrar, porém, o surgimento de variáveis importantes a serem analisadas. “Ao aplicar reguladores, aumenta-se a produção de etileno, hormônio que, sintetizado de forma continuada, reduz, ou impede, a fixação de frutos”, completa.

Fruta na mesa

No norte de Minas Gerais, a área reservada ao cultivo da manga corresponde, atualmente, a 5.200 hectares. Espera-se que tal espaço, nos próximos anos, seja ampliado. Segundo Oliveira, atualmente, a região produz, em média, 700 toneladas da fruta por semana, das quais 120 são exportadas. “Até 2017, esperamos atingir até 6,5 mil hectares. A variedade Palmer corresponde a 95% de nosso cultivo e atende muito bem aos mercados interno e externo. A polpa é amarelada, firme e apresenta bom sabor, com pouca ou nenhuma fibra”, conta. O pesquisador destaca, ainda, o fato de a região ser a única do Brasil a produzir frutos de ótima qualidade com regularidade, incluindo períodos de entressafra. Para Moacir, um dos principais fatores responsáveis pelos bons resultados é a integração da universidade com a região. A interlocução é bastante produtiva, tanto do ponto de vista de transferência de tecnologia como sob a ótica da formação. “Todo o trabalho de tecnologia da região com as culturas tropicais conta com participação da universidade. Podemos dizer que ela tem desempenhado papel fundamental, ao atuar na formação de profissionais e no desenvolvimento de tecnologias aplicáveis”, conclui.

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Culturas diversas Pesquisas recentes, conduzidas pela Embrapa Semiárido, têm mostrado que não apenas o cultivo de frutas tropicais é possível na região, mas, também, o de espécies dos climas subtropical e temperado. Relatório divulgado pelos pesquisadores Paulo Roberto Lopes e Inez Vilar Oliveira revela que o principal exemplo é o da videira, que apresenta ótima produtividade e alta qualidade. As condições edafoclimáticas – relativas às características do solo para cultivo vegetal – da região têm sido capazes de assegurar o bom desempenho de frutos como a banana, a manga e, até mesmo, o morango. “No caso, culturas como a macieira, a pereira, o caquizeiro e a ameixeira estão sendo introduzidas e avaliadas, com o objetivo de encontrar novas opções de cultivo para os produtores”, explicam os pesquisadores.

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

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medicina

Os números da dependência Realizada pela UFMG, pesquisa inédita mapeia vício em drogas na capital mineira

Alessandra Ribeiro

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A experimentação e o uso de álcool em Belo Horizonte estão acima da média nacional: metade da população da capital consumiu bebidas alcoólicas ao longo do último ano. A diferença é mais expressiva entre as mulheres: 42,8% delas usaram álcool nos últimos 12 meses, enquanto o consumo médio das brasileiras, no mesmo período, foi de 39%. A constatação pode ser previsível na “capital dos bares”, mas o consumo de outras drogas socialmente reconhecidas como mais perigosas, a exemplo do crack, também alça a cidade a uma desconfortável posição, pouco à frente de outras metrópoles do Brasil. Em outros casos, a situação é discrepante: a experimentação de alucinógenos é três vezes maior em BH, na comparação com o índice brasileiro, e o dobro, no caso dos inalantes. Tais informações estão na pesquisa “Conhecer e cuidar”, realizada pelo Centro Regional de Referência em Drogas da Universidade Federal de Minas Gerais (CRR-UFMG), a partir de demanda do Conselho Municipal de Políticas sobre Drogas, órgão da Prefeitura de Belo Horizonte. Trata-se de estudo epidemiológico inédito na capital, paralelo ao mapeamento e à avaliação qualitativa da rede de tratamento aos dependentes. O objetivo é usar os indicadores como base para o planejamento e o acompanhamento dos resultados de políticas públicas locais. Ao todo, foram entrevistadas 8 mil pessoas (288 adolescentes e 7.712 adultos, na faixa de 15 a 65 anos), de um total de 9,6 mil domicílios visitados, nas nove regionais administrativas, de novembro de 2014 a março de 2015. Para que se tenha a dimensão da amostra, o último Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), realizado em 2012, envolveu 4,6 mil pessoas em todo o Brasil. Os bairros, os domicílios e as pessoas entrevistadas foram sorteados, de maneira a tornar aleatória a amostragem, representativa de toda a população da cidade e capaz de abranger os locais com maior vulnerabilidade à saúde. Na avaliação do consumo de substâncias lícitas (álcool e tabaco), ilícitas (maconha, cocaína, crack, solventes e alucinógenos) e

de uso controlado (anfetaminas, sedativos, estimulantes etc.), consideraram-se fatores como sexo biológico, faixa etária, cor da pele, estado civil, nível educacional e faixa de renda familiar. A aplicação dos questionários foi realizada por 180 estudantes da Faculdade de Medicina da UFMG. Durante a coleta dos dados, o uso de tablets permitiu o acompanhamento da pesquisa em tempo real, por meio da internet, além de otimizar as entrevistas: conforme a resposta do participante a determinada pergunta, outras questões relacionadas podiam ser saltadas, por exemplo. “No Brasil, era inédito o emprego do recurso em pesquisas desse porte na área de saúde”, afirma Frederico Garcia, coordenador do CRR-UFMG.

Drogas lícitas

Em Belo Horizonte, 40% das pessoas já experimentaram tabaco e 15,3% são tabagistas. A pesquisa destaca que aproximadamente uma em cada três pessoas que experimentam cigarros e similares torna-se dependente. A experimentação de tabaco ocorre, sobretudo, durante a adolescência: 78% o fizeram antes dos 18 anos. “Isso sugere fortemente que a prevenção entre adolescentes ainda é insuficiente para evitar a exposição precoce ao tabaco”, aponta o relatório da pesquisa. Dentre os dependentes de tabaco, apenas 19% informaram ter recebido algum tratamento para a interrupção do uso. Já o percentual da população com transtorno mental decorrente do uso de álcool é de 12%, dos quais 8% fazem uso abusivo e 4% são dependentes de álcool. Na análise por sexo biológico, um em cada cinco homens e uma em cada dez mulheres são acometidos por transtorno mental associado ao alcoolismo. Dentre os entrevistados que disseram ter ingerido álcool nos últimos 12 meses, 32% já fizeram uso problemático (consumo de pelo menos cinco drinks para homens ou quatro para mulheres, num intervalo de até duas horas). Ser solteiro é um dos fatores de risco para a experimentação e os transtornos mentais relacionados ao uso de álcool: a prevalência de tais atos é diretamente proMINAS FAZ CIÊNCIA • SET/OUT/NOV 2016

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porcional à renda familiar, sendo maior em indivíduos abastados. “Quanto maior a renda familiar, maiores o consumo de bebidas alcoólicas e os riscos à prática. Os resultados contestam o senso comum, de que dependência é uma doença de pessoas com pior condição socioeconômica. Indivíduos de todas as classes sociais precisam de prevenção às consequências negativas do uso de álcool e de tratamento para dependências”, analisa Frederico Garcia.

Belo Horizonte, na comparação com outras capitais brasileiras. Os dados gerais mostram, ainda, que, dentre as pessoas que já usaram Cannabis sativa na capital, 35,4% continuaram a consumi-la e 23% foram diagnosticados com algum tipo de transtorno mental decorrente da prática, sendo 11,4% diagnosticados com dependência. O uso da cocaína em todos os estratos sociais também chamou a atenção, pois um em cada 20 belo-horizontinos já consumiu a droga. “Contudo, há a ideia antiga de que cocaína é coisa de gente rica”, alerta Frederico. Por outro lado, o uso de crack, ao menos uma vez na vida, foi proporcionalmente maior entre aqueles com menor poder aquisitivo, conforme relatado por 3% dos entrevistados com renda de até R$ 724. De cada cem indivíduos, um já fumou a pedra: ao todo, chega-se a cerca de 25 mil pessoas.

Drogas ilícitas Segundo a pesquisa, metade das pessoas que experimentou alguma droga ilícita usou mais de uma delas. Aspecto destacado pelo coordenador da pesquisa é o aumento da experimentação da maconha (um em cada dez belo-horizontinos já provou a erva), com índices maiores em

Norte

Noroeste

Oeste

Após a análise dos dados, o que mais preocupou os pesquisadores foi a constatação de que somente 15% dos dependentes químicos recebem algum tipo de tratamento. “A porção é muito pequena. Isso se mostra muito preocupante, visto que o uso de drogas, lícitas e ilícitas, pode ser elencado como o principal fator de risco para doenças mentais, cardiovasculares, pulmonares e câncer. Além disso, o consumo está ligado a problemas como incapacidade, mortalidade e afastamento do trabalho”, alerta Frederico Garcia. Segundo o pesquisador, além de não existir uma rede especializada bem estruturada – o atendimento dos pacientes acaba absorvido pela atenção básica, já deficitária –, o ínfimo percentual reflete a falta de confiança na própria rede de tratamento, e, na esfera individual, revela que as pessoas

Destaques regionais

Venda Nova

Pampulha

Tratamento

Nordeste

Leste

Centro Sul

Barreiro

A experimentação de drogas ilícitas varia quase 100% entre as regionais: Centro-Sul responde pelo maior índice (21,7%), enquanto Venda Nova, pelo menor (10,8%). O uso de maconha, ao menos uma vez na vida, é proporcionalmente maior na Centro-Sul, onde 19,5% dos entrevistados relataram já ter consumido a droga. A menor prevalência do uso da Cannabis é na regional Venda Nova (8,4%). O uso de crack, ao menos uma vez na vida, é proporcionalmente maior na regional Leste (2,4% dos entrevistados) e menor na Pampulha (1,1% dos entrevistados). As regionais Norte e Leste são as que apresentam maior proporção de indivíduos que relataram ter usado crack nos últimos 12 meses (0,6%), assim como de indivíduos com transtornos mentais decorrentes do uso da droga (0,6%). A prevalência de experimentação de cocaína é maior na regional Leste (10,4%); a menor, na Oeste (4,3%). Já a dependência de cocaína é maior na regional Venda Nova (2,7%) e menor na Centro-Sul (0,4%).

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não se reconhecem como dependentes, ou não admitem que a dependência química seja um problema. A menor proporção de indivíduos tratados está entre os dependentes de álcool (3%), o que se explica pela grande aceitação social do uso de bebidas alcoólicas e pela baixa capacidade de identificação dos transtornos mentais a elas associados. Na contramão, uma constatação sublinhada pelos pesquisadores é a elevada proporção de mulheres acometidas por dependência de drogas ilícitas que contaram com tratamento (75%). É mais do que o dobro do índice geral de indivíduos que já receberam ou recebem apoio contra o vício em drogas ilícitas (35%). A explicação provável é a menor aceitação da mulher dependente de drogas ilícitas pela sociedade e a maior capacidade delas de buscar e de aceitar atendimento especializado. O mapeamento da rede assistencial de pessoas que fazem uso de drogas e seus familiares identificou 426 instituições que prestam assistência em Belo Horizonte: 45% são instituições privadas e 55%, públicas. A maior parte se concentra na Regional Centro-Sul da cidade, que conta com o dobro de entidades das demais regionais (21% versus 10%, em média). A mais desfavorecida é a regional Pampulha, onde foram encontrados apenas 7% dos estabelecimentos mapeados. Das mais de 400 instituições identificadas, 150 responderam ao questionário que subsidiou a avaliação qualitativa dos serviços. Apenas 13 entidades avaliadas (9%) funcionam 24 horas por dia, mas nenhuma se dedica, exclusivamente, à assistência de pessoas que fazem uso de drogas ou garante apoio a familiares em momentos de crise ou abstinência – os plantões existentes são serviços médicos de urgência clínica e psiquiátrica. “Sabendo que a dependência química é uma doença crônica e recorrente e que as recorrências são antecedidas por ideação de uso, fissura e ansiedade antecipatória, um serviço que pudesse acolher pessoas nessa situação poderia ajudar na prevenção de recaídas”, recomendam os especialistas que assinam o relatório.

A cor do vício A pesquisa levou em conta a cor da pele declarada pelos entrevistados e usou as categorias “brancos” e “não brancos”. O segundo grupo engloba negros, pardos, amarelos e indígenas. O padrão de consumo de álcool dos não brancos os expõe a grande risco à saúde: eles apresentam maior frequência em dias de consumo e de uso problemático de bebidas. Dos entrevistados diagnosticados com dependência, 31% se declararam brancos e 69%, não brancos. O tabagismo é 3,14% maior em não brancos. Já a prevalência de experimentação da maconha é semelhante entre ambos os grupos, mas a dependência é maior entre não brancos. Já a experimentação da cocaína é duas vezes maior entre brancos. Entretanto, a dependência de cocaína é 1/3 maior entre negros, pardos, amarelos e indígenas. A prevalência de experimentação de crack é seis vezes maior entre não brancos, assim como a dependência (quatro vezes superior).

Idade de experimentação Álcool

Homens relataram o primeiro uso de álcool 1,7 ano mais cedo que mulheres. Entre os entrevistados do sexo masculino, 25% experimentaram bebidas alcoólicas antes dos 15. O índice supera a frequência nacional, de 24%.

Tabaco

Dentre as pessoas que relataram ter consumido tabaco alguma vez na vida, 79% tiveram o primeiro contato com a droga antes dos 18 anos.

Maconha

A idade média de experimentação da maconha é de 17,5 anos (58,3% das pessoas experimentaram antes dos 18 anos e 93,4%, antes dos 25).

Crack

A média de idade de experimentação do crack é de 23,8 anos. Além disso, mais de 75% das pessoas que experimentaram crack tinham mais de 18, indicação de que a experiência é mais tardia.

Cocaína

A idade média de experimentação de cocaína é de 19,7 anos e dois terços das pessoas experimentam cocaína depois dos 18.

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inovação

Mil sementes em nosso quintal Programa do governo de Minas Gerais, Seed garante apoio essencial ao desenvolvimento de startups Téo Scalioni

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Em inglês, o termo seed significa “semente”.

Ecossistema pode ser definido como o conjunto de todos os organismos a habitar determinado espaço. De uns tempos para cá, a palavra – geralmente, vista em livros de Biologia – tem ganhado nova conotação no campo da inovação, principalmente, em relação a startups, pequenas empresas inovadoras e com grande potencial de crescimento. Em tal acepção, o termo refere-se aos agentes (empreendedores, governos, empresas privadas, universidades, centros de pesquisa, fundos de investimento etc.) que trabalham para fortalecer o segmento inovador em determinada região. Hoje, a máxima de “fortalecer o ecossistema” tem sido o desafio desses atores, que observam, nas startups, um grande potencial para o desenvolvimento econômico de cidades e estados. Com base em tais premissas, o governo de Minas Gerais resolveu apostar no programa Startups and Entrepreneurship Ecosystem Development (Seed), iniciativa de aceleração que apoia empresas de inovação de todo o mundo e que, em junho, começou a funcionar no Espaço CentoeQuatro, no centro de Belo Horizonte. Após divulgação de edital, 40 startups foram selecionadas a participar da terceira rodada do Seed. Trata-se de 20 empresas mineiras, dez de outros estados brasileiros e dez estrangeiras, todas com dois ou três sócios. Além de mentorias e de espaço físico para que possam trabalhar de maneira colaborativa (em sistema de coworking), os empreendedores receberam até R$ 80 mil de capital-semente, a fundo perdido, para projetos. A contrapartida do governo exige que, nos primeiros seis meses – tempo de duração de cada rodada –, as startups desenvolvam seus trabalhos em Minas Gerais. Além disso, os empreendedores precisam se comprometer, em período de cinco anos, a participar de pesquisas e a fornecer informações sobre a evolução, os resultados e os impactos de seus projetos. No ver de Leonardo Dias, subsecretário de Ciência, Tecnologia e Inovação da Secretaria de Ciência e Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais (Sectes-MG), é preciso pôr Belo Horizonte e o estado no cenário mundial de inovação. Nesse sentido,

o Seed apresenta-se como carro-chefe do processo de transformação. Ao parafrasear o professor Berthier Ribeiro Neto, chefe do laboratório de desenvolvimento da Google no Brasil, o subsecretário destaca que o País deve seguir o caminho da inovação “no amor ou na dor”: “Trata-se de tendência mundial. Todos os países se movimentam nesse sentido. Não tem volta”. Segundo Dias, o papel do Seed é garantir poder e conhecimento aos empreendedores que participam do programa, proporcionando-lhes trocas de experiências. Afinal, acabam por conviver com pessoas de todo o mundo. Além disso, o programa serve de inspiração a empresas e profissionais de outras áreas, que, hoje, trabalham com métodos conservadores, mas podem ser apresentados a novos modelos de empreenderismo. “O papel do Seed é estratégico para nosso Estado, justamente, em um momento de crise econômica, em que a tecnologia é o caminho para vencer dificuldades”, afirma. As cidades são as responsáveis por tal desenvolvimento, assim como pela revolução tecnológica. Leonardo Dias pensa que, no Brasil, mesmo com seu forte poder econômico, São Paulo conta com perfil de destaque no ramo. Isso porque é necessário o espírito de colaboração entre os agentes, e, talvez pela grande dimensão da capital paulista, não haja tanta ajuda e interação. O subsecretário analisa três possíveis polos de desenvolvimento de startups no Brasil: Recife, com o “Porto Digital”; Florianópolis, alavancada por forte investimento da iniciativa privada; e Belo Horizonte, onde tudo aconteceu de maneira natural. “Quem se mobilizou para que a cidade tivesse esse ambiente de inovação foram os próprios empreendedores. Isso é fruto das universidades mineiras, que formam pessoas com espírito empreendedor”.

Ecossistema em desenvolvimento

Quem está no Seed também recomenda o programa. É o caso da startup belo-horizontina Risu, um shopping online do bem, em que parte do valor das compras se transforma em doação a instituições

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sociais, sem que se pague nada a mais pelo produto. Formada por três sócios – e amigos de infância –, a empresa observa na iniciativa a oportunidade para obter o crescimento almejado. “O apoio da aceleração, o dinheiro investido, o networking e o conhecimento adquirido serão fundamentais para alcançar objetivos traçados. Resultados já têm acontecido com apenas um mês de programa”, comemora Rodrigo Franzot, um dos sócios da Risu. Para ele, a maior dificuldade de startups é a ausência de conhecimento específico sobre o mercado e o negócio, o que faz com que muitas empresas morram antes do primeiro ano. Daí a importância da experiência junto ao Seed, que, na opinião de Franzot, conta com equipe competente e com história consolidada no ecossistema de empreendedorismo mineiro. “A aceleração, as palestras e mentorias têm trazido conhecimentos específicos fundamentais a qualquer empreendimento de sucesso. O mais importante é que não se trata de obviedades. São ensinamentos avançados, ministrados por profissionais experientes e com ótimo passado empreendedor”, observa. O sócio da Risu também é otimista em relação ao fortalecimento do ecossistema de Belo Horizonte. Para ele, a capital mineira é, hoje, a melhor metrópole do Brasil para empreendedores – e, em breve, quiçá, uma das mais bem capacitadas do mundo. Rodrigo Franzot cita a San Pedro Valley, comunidade de startups com mais de 200 empresas, como o ecossistema mais desenvolvido do Brasil. “O ambiente de empreendedorismo inovador mineiro tem crescido e conseguido aliados importantes, como o governo do Estado, as aceleradoras, os fundos de investimento e as universidades. Além disso, já chama a atenção do mundo com startups como Sympla, Hotmart, Sambatech e Méliuz”, orgulha-se. A startup Timokids, fábrica de conteúdos socioeducativos que podem ser distribuídos em vários formatos – de maneira a auxiliar pais e professores a se comunicar de forma efetiva e com a orientação adequada a cada tema do dia a dia das crianças –, veio de São Bernardo do Campo (SP) a BH, por conta, justamente,

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do Seed. Sócia da empresa, Fabiany Lima concorda que o ecossistema mineiro se tornou um grande polo de inovação no Brasil. “Vejo uma comunidade muito unida e pronta a ajudar startups e empreendedores da região’, afirma. Na opinião de Fabiany, além de colaborar para o fortalecimento do ecossistema, o Estado investe em modelos de desenvolvimento úteis para os negócios. “Em Minas Gerais, muitos clientes potenciais, como escolas, governo e indústria, têm interesse no conteúdo que produzimos. O Seed é um grande aliado para viabilizar nossos contatos e promover a aproximação com tais públicos”, completa.

Espaço CentoeQuatro

O prédio do Seed fica no centro de Belo Horizonte, próximo à Praça da Estação, por onde circulam, diariamente, segundo informações da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Sectes), cerca de 150 mil pessoas. O Museu de Artes e Ofícios e o Estação Cine

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Café Ltda. – que fica dentro do CentoeQuatro – também fazem parte do Conjunto Arquitetônico e Urbanístico da Praça da Estação, tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG). Sua história está ligada aos primeiros anos do século XX, período de construção de hotéis, fábricas, cafés e bares em tal ponto da capital. Inaugurado em 1908, o edifício sediaria a Companhia Industrial Bello Horizonte (CIBH). Mais adiante, a partir da década de 1930, outras companhias têxteis passaram a integrar o espaço, que ficou conhecido como “104 Tecidos”. Dentre outras tantas transformações, foi em 2009 que o prédio centenário – que passou a se chamar CentoeQuatro – despontou com proposta mais interativa: difundir a arte e democratizar o acesso da população ao conhecimento e aos bens culturais. Desde então, tornou-se palco de diversos eventos em prol da ocupação artística, do debate e da formação de pessoas.


ciência

Ciência, inovação e cerveja Evento realizado mundialmente, Pint of Science estimulou pesquisadores a conversar sobre suas áreas do conhecimento em bares de Belo Horizonte

Alessandra Ribeiro e Téo Scalioni Você já conversou sobre dengue, zika ou chikungunya numa mesa de bar? Mesmo quem nunca sofreu com tais doenças, certamente conhece alguém que tenha sido infectado. Por que, então, não assistir à apresentação de especialistas no assunto, de forma descontraída, entre drinques e petiscos? Eis o convite que, em Belo Horizonte, levou dezenas de pessoas a um dos três bares participantes do Pint of Science. Inédito em Minas Gerais, o evento foi realizado simultaneamente, de 23 a 25 de maio de 2016, em 12 cidades brasileiras e cem capitais de todo o mundo, com a proposta de aproximar os cientistas de indivíduos leigos em diversos campos do saber. Para seguir a tradição, as atividades começaram com um brinde à ciência. Na noite de estreia, no Itatiaia Rádio Bar, lo-

calizado na zona Sul de BH, quem fez as honras foi o professor Paulo Sérgio Lacerda Beirão, diretor de Ciência, Tecnologia e Inovação da FAPEMIG. Em seguida, os convidados Fábio Prezoto, do Departamento de Zoologia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), e Heverton Leandro, da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), realizaram suas apresentações, para, depois, responderem às dúvidas da plateia. Os pesquisadores aproveitaram a oportunidade para derrubar uma série de mitos sobre o Aedes Aegypti, transmissor de três tipos de infecções. Também distribuíram tubos de ensaio com larvas e exemplares do inseto, para que as pessoas pudessem ver de perto o mosquito “odioso do Egito” (em tradução livre da expressão Aedes aegypti, que, em latim, dá nome à espécie).

Professora universitária, Miriam Pontelho estava em mesa próxima ao palco, acompanhada das duas filhas. A mais velha, devidamente antenada no assunto – que poderia cair na prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) –, veio acompanhada de uma colega de cursinho. Acostumada ao discurso científico, já que ministra a disciplina de cálculo em vários cursos de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Miriam foi atraída por uma razão pessoal: teve parte do corpo paralisada depois de contrair zika, o que a afastou das salas de aula. “Vim para conversar sobre o assunto fora do ambiente hospitalar”, revela. Por razão semelhante, o médico Vicente Sanches, do Exército Brasileiro, uniu-se aos palestrantes para ajudar a

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sanar dúvidas dos participantes. “O Pint of Science é muito interessante para nós, porque na ponta da linha isso chega lá”, diz, referindo-se aos consultórios de pronto-atendimento. Os biólogos Samir de Deus Elian Andrade e Thaysa Leite Tagliaferri, doutorandos em Microbiologia na UFMG, também acompanhavam a apresentação. “Tem que ter espaço para a população discutir com o cientista”, ressaltou Samir. Para Thaysa, a iniciativa também favorece os pesquisadores, que têm a possibilidade de um “feedback da população”. A professora Miriam Pontelho concorda: “É preciso socializar a informação científica, com linguagem mais popular. A ciência tem de ir aonde o povo está, para que os pesquisadores possam identificar problemas reais da sociedade e levar de volta aos laboratórios”, defende.

vem. “A ideia é fazer, simultaneamente, em mais bares”, completa. Para o diretor da pré-aceleradora Techmall, Aluir Dias – que, ao lado de Felipe Braga, proferiu a palestra “Startup, spin off, open inovation: é de beber ou passar no cabelo?” –, o evento é interessante por adentrar o cotidiano das pessoas. “Em Belo Horizonte, existe aquela máxima de que ‘se não tem mar, as pessoas vão para o bar’. Ou seja: isso faz parte da vida dos belo-horizontinos. Estamos trazendo conhecimento, ciência, empreendedorismo e inovação ao dia a dia dos cidadãos”,

afirma Dias, para quem o Pint of Science se revela “uma sacada muito legal, pois há transmissão de conhecimento enquanto as pessoas se divertem”. A plateia também curtiu bastante o evento! É o caso de Alessandro Magno, estudante de Engenharia Elétrica, que ouviu a palestra de Aluir e Felipe no Itatiaia Rádio Bar. Para ele, o tema é importante, justamente, porque pretende iniciar uma startup: “Esclareci várias dúvidas de quem deseja empreender. A palestra foi o ponto forte para que eu tenha coragem de abrir meu próprio negócio”.

Descontração total

Por mais relevantes que sejam os temas apresentados, a intenção do Pint of Science é estimular palestras e debates descontraídos. Tanto pesquisadores quanto ouvintes podem participar tomando cerveja. Em Belo Horizonte, a descontração apareceu, até mesmo, nos títulos dos assuntos abordados: “Startup, spin off, open innovation: é de beber ou passar no cabelo?”; “Cuspe e giz são coisas do passado?”; “Futuros dos robôs”; “Cultura maker: criar, pensar e realizar”; “Do Big Bang ao DNA”; “Dengue, zika ou chikungunya, o que é fato e o que é boato?”; “Ciência na mesa: transgênicos e defensores agrícolas” e “Mundo invisível: a nanotecnologia e suas aplicações”. Além do Bar Itatiaia, o evento chegou à Cantina do Lucas e à Cafeteria do MM Gerdau. Para Roberto Rosenbaum, superintendente de inovação tecnológica da Secretaria de Estado, Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais (Sectes-MG), a primeira edição da iniciativa superou as expectativas. “A acolhida foi boa e o formato, bem recebido. Os pesquisadores falam sem palavras difíceis e todos compreendem”, observa, ao garantir que, devido à aceitação, Belo Horizonte sediará outra edição do Pint of Science no ano que

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Pint pelo mundo

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Em 2012, os pesquisadores Michael Motskin e Praveen Paul, do Imperial College London, organizaram um evento chamado “Encontro com pesquisadores”, levando pessoas acometidas por Alzheimer, Parkinson, doenças neuromusculares e esclerose múltipla aos laboratórios, para lhes mostrar o tipo de pesquisa que realizavam. A experiência mostrou-se tão inspiradora que os dois pensaram: “Por que os cientistas não podem sair de seus laboratórios para encontrar as pessoas?”. Assim nasceu o Pint of Science, cuja primeira edição foi realizada na Inglaterra, em maio de 2013. Dois anos depois, o evento estreou na América Latina e no Brasil. Em 2016, o evento também ocorreu, simultaneamente, em cidades de países como Inglaterra, Irlanda, Espanha, Itália, Austrália, Estados Unidos, Alemanha, França e África do Sul.


Tecnologia nacional para produção de biomateriais aprimora regeneração óssea tanto de animais quanto de seres humanos

Verônica Soares

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medicina veterinária

Tudo novo de novo


Qualquer tecido, quando lesado, sofre um processo de reparação, por regeneração (o tecido reparado é igual ao de origem) ou por cicatrização (o tecido reparado não é igual ao de origem).

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Tecido bastante dinâmico, o osso se destaca por sua capacidade de regeneração. Porém, quando há grande perda de massa tecidual, o processo regenerativo acaba comprometido. Nesses casos, pode ocorrer a substituição por um tecido cicatricial, que, embora seja resultado de um mecanismo de reparação, não supre a função do original. “No caso dos ossos, isso pode promover um quadro bastante debilitante, tanto para humanos quanto para animais. Dependendo do local lesionado, o animal pode perder os movimentos, ou, até mesmo, parar de andar. O tecido cicatricial não é causa de doença, mas a perda de funcionalidade de um membro pode levar a outras lesões ósseas”, explica a professora de Cirurgia Veterinária Andréa Pacheco Batista Borges, do Departamento de Veterinária da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Ela coordena uma equipe de pesquisadores que estuda os processos de regeneração óssea em animais, cujo grande desafio é desenvolver material e métodos que propiciem a regeneração óssea mesmo quando há considerável perda de tecido. À frente do projeto “Desenvolvimento de tecnologia nacional, caracterização e aplicação clínica-cirúrgica de biomateriais e terapia celular”, Andréa Borges estuda a regeneração tecidual por meio do uso de biomateriais em diferentes regiões do corpo, com distintas características e finalidades. “O biomaterial pode ser obtido de diversas fontes, mas os do tipo sintético têm sido muito estudados, por apresentar vantagens como maior disponibilidade, biocompatibilidade e homogeneidade no processo de fabricação e na resposta tecidual. Além disso, com o tempo, são degradados pelo organismo”, explica a professora, ao destacar que tal degradação é simultânea à formação óssea. “Ou seja, à medida em que o biomaterial é degradado, o osso se forma naquele local”, conclui. Biomateriais, em suma, contribuem para a cura de várias lesões ocorridas nos animais. Os estudos desenvolvidos sob a

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Biomateriais são produzidos para interagir com diferentes tecidos vivos, de maneira a permitir a reparação tecidual, seu funcionamento apropriado, ou, até mesmo, substituindo-o integralmente.


coordenação de Andréa constataram que a regeneração dos defeitos experimentais foi atingida em excelente espaço de tempo, quando comparado à literatura mundial. “O prazo é variável, pois depende da composição do biomaterial. As avaliações foram feitas entre oito e 120 dias. Cada experimento teve um período de avaliação. Além disso, não houve reações adversas nos animais, o que garante segurança e conforto a quem receber o produto no futuro”, destaca.

Metodologia

São um tipo específico de pino intramedular metálico, rosqueado em uma das extremidades. Entre as roscas, entram as substâncias hidroxiapatita e lignina

Para proporcionar a adequada regeneração de defeitos ósseos craniais, desenvolveu-se um cimento ósseo moldável, a partir da cerâmica hidroxiapatita. O material foi aplicado em defeitos de grande extensão no crânio de coelhos, com 15 mm de diâmetro. Os pesquisadores elaboraram, ainda, um compósito para ossos longos, feito de hidroxiapatita, do polímero policaprolactona e de alendronato, um medicamento utilizado no tratamento de osteoporose capaz de potencializar a regeneração em casos de perda óssea por traumas e excisões cirúrgicas de neoplasias (retirada de uma parte do osso que não está saudável). Nesses casos, realizaram-se lesões na região cortical do osso de 5 mm de diâmetro, na face lateral do olecrano, osso da região do “cotovelo” dos animais, com uso de compósitos de hidroxiapatita (HAP91®Plus) e do policaprolactona, associados ou não ao alendronato. Um compósito de HAP-91®Plus e do polímero lignina também foi analisado para substituir o cimento ósseo nas implantações de próteses totais de articulação, com vistas a melhorar a osseointegração dos implantes. O implante metálico é fixado na região medular do osso e, eventualmente, pode sair do lugar. Para avaliar a promoção de maior ancoragem (uma “cola natural” que prende o implante metálico dentro do osso), foram usados pinos de Schanz implantados na tíbia de cães. A hidroxiapatita sintética HAP-91®Plus foi avaliada na manutenção do rebordo alve-

HAP-91®Plus é o nome comercial da hidroxiapatita sintética produzida pela empresa JHS com tecnologia inteiramente nacional.

olar de cães, após a extração de dentes. Já a hidroxiapatita sintética 30% (HAP91®Plus) acabou aplicada em diferentes estados físicos, para preenchimento cutâneo em coelhos. A pesquisa associou a HAP-91®Plus a diferentes polímeros, permitindo que se associem propriedades desejáveis, que não poderiam ser obtidas com apenas um tipo de material. “Curiosamente, o próprio osso é arranjado como um compósito: a fase inorgânica da matriz confere rigidez, que é associada à flexibilidade da fase orgânica. Isso é importante para o desempenho de sua função: o osso mantém sua forma, sem se quebrar com facilidade”, detalha Andréa. A capacidade da HAP-91®Plus em promover reparação óssea, por meio de “osseocondução” e de “osseointegração”, já está bem estabelecida, segundo a pesquisadora. Porém, a hidroxiapatita é quebradiça, de modo que sua associação com polímeros permite a criação de um novo biomaterial: “As características individuais de cada material, isolado, como a hidroxiapatita e o polímero, são somadas, e, como resultado, tem-se um material superior”, explica a professora. A técnica amplia as possibilidades de aplicação, além de aumentar a eficácia do produto.

Tecnologia nacional O desenvolvimento de biomaterial para regeneração óssea é uma tendência crescente no mundo e a equipe de Andréa contribuiu para o avanço da tecnologia criada no Brasil: “As vantagens do estabelecimento de tecnologias nacionais não estão apenas relacionadas aos custos ao paciente e ao sistema público, mas, também, à simplificação de processos burocráticos e à promoção de autonomia do País nesse campo”, destaca a pesquisadora.

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A tecnologia nacional em biomateriais terá adaptação mais adequada a demandas sociais e econômicas brasileiras, o que contribui para melhores resultados em sua aplicação. Destaca-se, também, a independência brasileira de produtos importados na área: “Isso é possível porque o desenvolvimento dos produtos usados é todo realizado com tecnologias mineira e nacional, o que diminui os custos relacionados a tratamentos com material importado”. Um dos mais importantes benefícios da nova tecnologia é a relação custo-benefício para quem cuida do animal. Andréa comenta que o tratamento depende, única e exclusivamente, de seu tutor. Além disso, relaciona-se à condição financeira do indivíduo e à sua disponibilidade de tempo, dentre outros fatores. “Ao aplicar uma tecnologia barata, rápida e eficiente, os custos diminuem, o tratamento é mais rápido e eficiente. Dessa forma, o paciente animal se beneficia

enormemente”, destaca. Além disso, desde sua concepção, o projeto previa que a pesquisa poderia ser modelo experimental para humanos, já que há grande similaridade entre os processos regenerativos. O projeto desenvolveu, no Brasil, as técnicas de obtenção e cultura de células-tronco mesenquimais perivasculares do cordão umbilical de cães, para, inicialmente, ser usada na regeneração de defeitos ósseos em associação com uma membrana moldável e reabsorvível. Atualmente, a pesquisa aponta para a aplicação combinada de biomaterial testado com associação de células-tronco. “O desafio, agora, é acelerar o processo de regeneração, e, até mesmo, de defeitos considerados críticos. Ou seja, aqueles que não regeneraram sem ajuda externa. Também estudamos o uso de biomaterial associado a fármacos, para liberação controlada da substância”, conclui.

PARTICIPAÇÃO DA FAPEMIG Projeto: Desenvolvimento de tecnologia nacional, caracterização e aplicação clínica-cirúrgica de biomateriais e terapia celular. Coordenador: Andréa Pacheco Batista Borges Instituição: Universidade Federal de Viçosa (UFV) Chamada: Demanda Universal Valor: R$ 49.955,43

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química

Da marmita ao abajur

Pesquisa produz energia a partir da reciclagem de vasilhames usados na alimentação de presidiários Téo Scalioni

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Dar um destino ao lixo produzido no mundo, sem dúvida, é um dos grandes desafios da humanidade. Tanto que, segundo estimativas do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), os rejeitos mundiais devem aumentar de 1,3 bilhão de toneladas por ano – marca da atualidade – a 2,2 bilhões, em 2025, crescimento de mais de 70% em menos de 10 anos. Nas Minas Gerais, diversos projetos buscam opções de reciclagem, dentre os quais destaca-se, por dois motivos, uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG): além de reciclado, o lixo é transformado em combustível; além disso, a experiência é realizada com os rejeitos produzidos em um dos maiores complexos presidiários do Brasil. Desenvolvida pelo Departamento de Química da UFMG, a iniciativa transforma os resíduos dos marmitex de refeições feitas pelos presos da penitenciária Inspetor José Martinho Drumond – localizada em Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de Belo Horizonte – em combustível. Ainda em fase de teste, a pesquisa tem apresentado resultados positivos em laboratório. O objetivo final é viabilizar o processo em escala industrial, para, em seguida, replicá-lo. Com cerca de dois mil presos a consumir quatro marmitex por dia – duas no almoço e duas no jantar –, o complexo presidiário gera, mensalmente, entre quatro e dez toneladas de rejeitos do produto. O metal contido no resto das embalagens térmicas costuma ser descartado em aterros sanitários, onde levará mais de 200 anos para se decompor. Preocupados com a situação, os agentes penitenciários Ricardo Luiz Nascimento dos Santos e Anderson Júnior Rodrigues Pereira procuraram a UFMG em busca de solução para o problema. A partir daí, a mestranda Thais Helena de Oliveira comprou a ideia. Nos primeiros testes, ela desenvolveu os estudos químicos relativos às reações do alumínio, e, hoje, tornou-se a responsável pela execução e pelo desenvolvimento do projeto.

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No processo, o marmitex é triturado e transformado em pequenos pedaços de alumínio. O material passa por uma espécie de limpeza térmica, a uma temperatura de 350° graus. Após tal etapa, o material é levado a um reator, onde o alumínio é misturado a uma substância reagente especial. A partir daí, inicia-se o processo químico capaz de transformar o marmitex em dois produtos: um coagulante, que pode ser usado em tratamento de água, e um combustível de hidrogênio. O gás resultante pode ser armazenado e usado em veículos ou em fogões. “A maior dificuldade com o processo diz respeito ao armazenamento do hidrogênio, que é muito inflamável. Seria preciso um sistema muito seguro”, alerta Thais. Já o coagulante à base de alumínio atuaria na disposição de resíduos sólidos de estação de tratamento de água em suspensão, de maneira a facilitar a limpeza dos efluentes. Para se ter uma ideia do volume de energia a ser gerado pela reciclagem dos vasilhames de marmitex, com cerca de quatro toneladas do produto, é possível produzir o equivalente a 96 botijões de gás GLP de 13 kg, ou o necessário para acender 40 lâmpadas fluorescentes por 24 horas. “O objetivo é transformar o presídio em uma unidade sustentável, que reaproveita todos os rejeitos produzidos”, afirma a pesquisadora.

O lixo como aliado Com população de, aproximadamente, 7 bilhões de pessoas, é normal que a quantidade de lixo produzido se transforme em grave problema para a saúde do planeta. Afinal, não há espaço suficiente para tal volume de rejeitos. Os aterros já trabalham em capacidade máxima e muito do entulho tem, tragicamente, ido parar nos oceanos. Diversos países têm reciclado parte do lixo. Mais recentemente, os rejeitos passaram a ser reaproveitados como combustível: no Japão, 62% dos resíduos produzidos transformam-se em energia; na Suíça, 59%; na França, 37%. No Brasil, a quantidade não chega a 1%, pois a maioria das pesquisas encontra-se em processo de testes. Seria interessante acelerar tal processo, pois o lixo de uma cidade como São Paulo garantiria a energia de cerca de 400 mil moradias.

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Beneficiados O projeto também prevê que os presos participem do projeto. Eles já atuaram na construção de uma maquete da penitenciária, com mais de 90 lâmpadas de led, acesas pela reação produzida pela reclicagem dos marmitex. Thais de Oliveira conta que, se o método for implantado na penitenciária, os presos poderiam ser beneficiados, pois o calor produzido na reação aqueceria, por exemplo, os chuveiros. “O Estado também pode usar o gás na cozinha do presídio. Quanto ao outro produto formado, ele se destinaria à Copasa [Companhia de Saneamento de Minas Gerais]”, acredita. As primeiras pesquisas, realizadas no próprio laboratório do Departamento de

Química, mostraram processos rápidos e eficientes. Contudo, para que o projeto seja aplicado de forma mais ampla, ainda são necessários investimentos em tecnologia. “Estamos tentando conseguir recursos para testar em escala piloto. O objetivo final é viabilizar o processo em escala industrial e replicá-lo”, conta a pesquisadora, ao salientar que, para tal, seriam necessários R$ 50 mil. “Depois disso, pretendemos transferir a alguma empresa e replicar em outros presídios e outras instituições”, explica Thais. Coordenado pelo professor Rochel Lago, o projeto conta, ainda, com a aluna Maria Paula Duarte de Oliveira, estudante de graduação, com bolsa da FAPEMIG.

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Eng enharia m ecânica

Preciso, limpo e seguro Pesquisadores da Unifei inventam queimador de baixo custo, que reduz emissão de gases poluentes e previne explosões Alessandra Ribeiro*

*Com colaboração de Amanda Jurno

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O biogás é obtido da fermentação, sem oxigênio, de material orgânico. O metano presente em sua composição é um dos principais responsáveis pelo efeito estufa. “Se o queimador elimina gases nocivos ao efeito estufa, de forma que gerem menos poluentes, isto nos é devolvido com melhor qualidade do ar. Logo, teremos menos pessoas – sobretudo, crianças – doentes”, comemora o professor Hélcio Villa Nova.

Vazamentos de gás são uma ameaça para grandes cidades, haja vista a sucessão de explosões de bueiros que fizeram vítimas no Rio de Janeiro e causaram transtornos em outras capitais brasileiras, como São Paulo e Belo Horizonte. Que o digam as altas concentrações de biogás – e do metano em sua composição –, presentes em estações de tratamento de esgoto e aterros sanitários, aptos a explodir ou a causar incêndios, com danos a tubulações e reservatórios. Em alguns casos, os acidentes podem ser fatais. Instrumento para eliminar o excesso de gás combustível gerado nesses processos, o queimador atmosférico também reduz a emissão de gases causadores do efeito estufa. Ele pode ser usado, inclusive, em plataformas de petróleo. Pesquisadores do Instituto de Engenharia Mecânica (IEM) da Universidade Federal de Itajubá (Unifei) desenvolveram um protótipo que promete ser mais eficiente, com maior controle da vazão de gás e da estabilidade da chama. E o melhor: bem mais barato do que os já disponíveis no mercado, uma vez que a ideia é construí-lo com material plástico, de baixo custo. “Faço um paralelo com os para-choques dos veículos, fabricados, há 20 anos, em metal. Hoje, é difícil encontrar um desse tipo”, compara o professor Hélcio Villa Nova, da Unifei, coordenador do grupo que desenvolveu o novo produto, com a participação dos estudantes Julio Patti Pereira e Oberdan Favilla Zerbinati. Segundo o pesquisador, alguns queimadores têm sua funcionalidade comprometida, quando parte da vazão dos gases passa sem ser queimada. Ao mesmo tempo, se operarem em temperaturas muito elevadas, pode ocorrer a formação de compostos químicos indesejados. O controle da vazão de gás é outra variável importante: no caso de um aterro sanitário, ou de uma estação de tratamento de esgoto, a quantidade de gás gerada depende do volume de material em decomposição e de condições ambientais como a temperatura.

“Nosso queimador consegue trabalhar com larga faixa de vazão de gás, pois um sistema de aletas e um bico injetor, construídos com geometria específica, controlam a entrada de ar necessária à reação de combustão”, destaca. “Mesmo com elevadas vazões de gás a serem queimadas, a chama é estabilizada pela vazão de ar arrastada pelo gás combustível, e, em função da hidrodinâmica do escoamento de ar arrastado pelo gás a ser queimado, ocorre o isolamento térmico da parte construtiva do queimador”, completa. Tal isolamento é, justamente, o diferencial, pois permite o uso do plástico na confecção do aparelho. Com relação à estabilidade da chama, o coordenador explica que queimadores são abertos. Em função disso, correntes de ar e rajadas de ventos podem provocar o descolamento da chama de sua base. “Em princípio, isso é solucionado por um sistema de ignição, que, periodicamente, produz um pequeno arco elétrico, ou uma chama-piloto, produzida a partir de um sistema auxiliar – o que, porém, implica em aumento de custos de produção”, ressalva.

Testes O novo modelo de queimador foi construído em escala reduzida e testado nos laboratórios do Instituto de Recursos Naturais da Unifei. Segundo o coordenador, realizaram-se vários testes preliminares de funcionamento, com foco na segurança, além de medições da vazão de gás a ser queimado e da temperatura na parte construtiva do aparelho, bem como a análise da estabilidade da chama. Finalmente, realizou-se um teste de longa duração, filmado e fotografado com câmera de detecção infravermelha. “O protótipo respondeu muito bem às nossas expectativas. Seu funcionamento foi perfeito e seguro”, afirma Hélcio, ao lembrar que os pesquisadores observaram, até mesmo, os efeitos da formação de uma chama estável, em forma de anel, na base da tocha da chama principal. Por último, a equipe trabalha no escalonamento das dimensões do queimador, de acordo com suas aplicações para

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diferentes vazões de gases. “Se um aterro sanitário gera muito gás, precisaremos construir um grande queimador, que atenda à faixa de vazão gerada; agora, se for uma pequena estação de tratamento de esgoto, desenvolveremos um pequeno aparelho”, comenta, ao explicar que o escalonamento tem impacto direto na escolha do material e no processo de fabricação. Em 2015, o Núcleo de Inovação e Tecnologia (NIT) da universidade já realizou os procedimentos para a proteção da tecnologia junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi). O produto está pronto para chegar ao mercado, o que só depende de parcerias com empresas – inclusive, para definição das características do aparelho.

Passo a passo O projeto do queimador desenvolvido pelos pesquisadores da Unifei foi dividido em três partes:

Fase 1

Design hidrodinâmico: corresponde à forma da parte interna do queimador, onde ocorre a passagem dos gases a serem queimados.

Fase 2

Queima, formação da chama e transferência de calor: esta etapa refere-se à análise das reações químicas entre os gases a serem queimados e o ar, bem como da quantidade de calor gerada na base do queimador.

Fase 3

Escolha do material e processo de fabricação: processo de construção do queimador, a partir da observação da compatibilidade dos materiais empregados com os níveis de temperatura e com a agressão corrosiva dos compostos presentes nos gases.

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divulgação científica

Um lugar para re(conhecer) Com mais de cinco mil visitas mensais, Espaço do Conhecimento UFMG completa seis anos de zelo pelo acesso público aos saberes

Vivian Teixeira

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Ao chegar, você pode ser fisgado por uma imagem da fachada digital. Ou, quem sabe, resolva tomar um café, para, então, apreciar aquela exposição temporária. De outro modo, que tal subir um pouco mais, em busca de detalhes sobre a origem da civilização, ou seguir ao Planetário, para, do Terraço Astronômico, contemplar o anoitecer? Essas e tantas outras atividades atraem o público ao Espaço do Conhecimento UFMG, que, em 2016, completa seis anos de vida – como local de mediação entre a sociedade e os saberes científico, tradicional e estético. Integrante do chamado “Circuito Liberdade”, o Espaço compartilha, com outros museus da região, o privilégio de estar próximo a um dos pontos mais charmosos de Belo Horizonte: a Praça da Liberdade. Há, porém, certa particularidade em relação aos parceiros culturais: além de privilegiar o conhecimento como objeto principal de discussões, o local se destaca pela audiência, formada, principalmente, pelo público infantojuvenil. Duas de suas cinco mil visitas mensais são de estudantes de escolas públicas e particulares da capital mineira e da Região Metropolitana, que participam de uma série de atividades pedagógicas do programa educativo. Foi o que fez Tatiane Salles da Silva, pedagoga que atua na coordenação integral da Escola Estadual Lafayette Gonçalves. No primeiro semestre deste ano, ela levou 100 alunos da educação inclusiva para conhecer o Espaço do Conhecimento. Além de superar as dificuldades de aprendizado próprias do grupo de estudantes, a professora conta que, em função de morarem em área extremamente carente – Bairro Palmital, em Belo Horizonte –, a visita serviu para oferecer a todos a possibilidade de estar em ambiente diferente, o que não ocorreria de maneira espontânea. “Por causa da visita, organizamos, na escola, uma feira do conhecimento. Os alunos foram convidados a recriar os ambientes visitados. A repercussão nos surpreendeu a todos. Além disso, naquele momento, o gosto pela Astronomia foi despertado em muitos estudantes”, conta a coordenadora. Experiência semelhante motivou a professora Cássia Patrícia Lucílio e sua

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equipe a levar ao museu, em 2013, cerca de 150 alunos da Escola Municipal Joaquim Teixeira Camargos, de Contagem. Na escola, o reflexo das visitas ao Planetário foi percebido no desempenho dos estudantes nas edições seguintes da Olimpíada Brasileira de Astronomia (OBA). “Eles ficaram impressionados com a atividade e narraram a impressão de estar dentro de uma grande nave espacial. Percebemos aumento da participação dos alunos na OBA e melhoria considerável em suas notas. O aproveitamento passou de 60% para mais de 80%”, avalia. Para aqueles que preferem espaços de troca mais diversificados, o local oferece atividades em grupo, como oficinas, “Café Controverso” e “Jogos do Conhecimento”. Com temas diversos, as oficinas são oferecidas ao longo do ano. Músico e mediador do Espaço do Conhecimento, Artur Diamantino Ferreira comemora a possibilidade de trabalhar no museu e de poder colaborar com tantas iniciativas culturais. “Participei da oficina de música, mas também há propostas de teatro, dança etc. No meu caso, o interessante é oferecer ao público uma experiência – às vezes, inédita – com o instrumento”, descreve. Fotos: Diogo Brito Lopes

Há seis anos, Espaço do Conhecimento atrai públicos afoitos por ciência e tecnologia

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O “Café Controverso” busca promover debates e trocas de ideias e perspectivas, de forma descontraída e espontânea. Já os “Jogos do Conhecimento” propõem ações educativas baseadas em brincadeiras de tabuleiro, ligadas ao Grupo de Estudo em Jogos, UFMGames. A proposta é aproximar o público de passatempos que fazem parte de diferentes tradições culturais, de maneira a proporcionar múltiplas experiências e a instigar a curiosidade de crianças, jovens e adultos. A atividade conta com público fiel. Às quintas-feiras, cerca de 30 pessoas se encontram no museu para jogar. A esteticista Viviane de Oliveira mora no Paraná e aproveitou as férias para visitar o Espaço do Conhecimento com a família. “Não conhecia lugar parecido. Visitei a exposição temporária ‘Processaber’ e adorei a parte do aeródromo. Deu para aprender e me divertir”, acredita.

Ampliação do acesso

Embora o museu colecione experiências positivas em sua trajetória, a ampliação do acesso permanece como desafio. Segundo Bernardo Jefferson de Oliveira, professor da Universidade Federal de Minas Gerais e coordenador de duas exposições temporárias que passaram pelo Espaço do Conhecimento, apesar de a região ter grande fluxo de pessoas, a maior parte delas pertence a camadas privilegiadas da sociedade. Ele acredita que o prédio imponente ainda inibe alguns de entrar. “Apesar das iniciativas para atrair o público mais carente, como entrada gratuita e envio de cortesias para o Planetário a familiares de alunos visitantes, existe um problema mais complexo: mudar a cultura de consumo desses serviços”, afirma. Esse tem sido o maior desafio da diretora científica do Espaço, Ana Flávia Machado, que, além de cuidar do conteúdo do museu, acumula a função de gestora administrativa desde agosto de 2015. A pesquisadora conta que a presença de museus voltados à discussão e à construção de diversas formas de saber é uma tendência de cidades com muitos espaços museológicos. A realidade no Brasil, porém, é particular, já que o acesso a tais ambientes não é natural.

Exposições permanentes e temporárias, debates e ações educativas baseadas em brincadeiras fazem parte das atividades oferecidas

Segundo Ana Flávia, em cidades europeias, por exemplo, as crianças frequentam esses espaços desde muito cedo, pois acompanham o hábito de consumo dos pais. “Realizei pesquisa sobre os museus do ‘Circuito Liberdade’ e os dados mostraram que a falta de preparo dos estudantes para receber esse tipo de informação não contribui para a apreensão do conteúdo, fazendo com que as visitas se tornem apenas mero passeio”, diz. Para mudar isso, o Espaço do Conhecimento tem intensificado a formação de professores e a capacitação de mediadores. Recentemente, o museu também começou a receber a visita de alunos de Unidades Municipais de Educação Infantil (UMEIs) e de programas de Ensino de Jovens e Adultos (EJA).

despendem-se R$ 120 mil por mês. A maior parte vem da própria UFMG. Outros recursos são repassados pelo governo de Minas Gerais e pequena parcela é captada por editais. Ana Flávia Machado explica que a equipe do museu é muito capacitada: os mediadores fazem o que gostam e o trabalho, por meio dos Conselhos, é muito produtivo. Apenas a questão financeira é que, realmente, representa dificuldades. “Temos buscado alternativas para conseguir recursos, como a participação em leis de incentivo federal e municipal e o contato com outras instituições, em busca de patrocínio fixo. Desse modo, podemos garantir o sucesso e a continuidade das atividades do museu”, comenta

Manutenção

Talvez seja mais simples monetizar o custo de grandes rodovias ou de equipamentos tecnológicos usados em pesquisas de laboratório. Compreender a urgência dos investimentos necessários para manter o pleno funcionamento de um museu não é tarefa simples. Se se considera somente a equipe que trabalha no local, são cerca de 50 pessoas, entre professores, bolsistas e técnicoadministrativos. Há mais de um ano, o Espaço do Conhecimento perdeu o patrocínio de uma grande empresa de telefonia. O fato impactou as contas do museu, e, consequentemente, afetou as atividades. Apenas para manter o funcionamento do museu,

Participação da FAPEMIG Projeto: Espaço do Conhecimento: Laboratório de Experimentação, Avaliação e Produção de Divulgação Científica - FASE II Coordenador: Ana Flávia Machado Instituição: UFMG Chamada: Auxilio Universal Complementar Valor: R$ 117.610,50

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dengue

Aedes aegypti herói? Mosquitos com bactéria Wolbachia podem ser importantes no combate à zika, à dengue e à chikungunya

Tatiana Pires Nepomuceno

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O mosquitinho é danado, tem hábitos preferencialmente diurnos e adora água limpa. Por isso, muitos dizem ser difícil controlar a reprodução do Aedes aegypti e o avanço da dengue, da chikungunya e da zika no Brasil e no mundo. Outros cogitam ser impossível exterminá-lo e se revelam descrentes quanto à erradicação das doenças transmitidas pelo “danadinho”. Nada disso, contudo, desanima certos pesquisadores. Prova disso é o fato de que, a todo momento, surgem pesquisas inovadoras, com possíveis soluções para o controle epidemiológico de tais enfermidades – que, além de onerar os cofres públicos, representam sofrimento e dor às vítimas. Que o digam os dados divulgados pelo último Boletim Epidemiológico da Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais, publicado no dia 29 de junho deste ano. Segundo o documento, de janeiro a junho de 2016, registraram-se mais de 518 mil prováveis casos de dengue, dentre os quais há 163 óbitos. Trata-se de mais que o triplo de ocorrências, em relação a 2015. Isso sem falar na zika, com 4.344 confirmações por critério clínico epidemiológico, e na chikungunya, com 45 casos autóctones, isto é, contraídos em Minas Gerais. Neste contexto, o estudante de doutorado Heverton Dutra, ligado ao Centro de Pesquisas René Rachou da Fiocruz de Minas Gerais, investe em estudo pioneiro de apoio ao combate à zika, à dengue e à chikungunya. Trata-se de “dieta” artificial para mosquitos, que dispensa sangue humano e animal. A proposta alternativa baseia-se em quatro pilares: 1) uma fonte proteica de origem animal, de fácil acesso; 2) uma solução salina que simule as condições fisiológicas e bioquímicas do sangue humano; 3) um fagoestimulante químico – no caso, a adenosina trifosfato (ATP), amplamente descrita na literatura como elemento capaz de estimular as fêmeas dos mosquitos a se alimentar de determinada solução –; e 4) uma base lipídica para garantir o desenvolvimento adequado dos ovos. A tudo isso, há que se adicionar micronutrientes comumente presentes no sangue humano. “Como o projeto ainda está engatinhando, alguns de nossos componentes podem ser alterados no futuro,

de forma que, semanalmente, possamos aperfeiçoar cada um dos elementos para ficar o mais próximo possível do sangue humano”, explica Dutra. A pesquisa é apoiada pela FAPEMIG, por meio do Auxílio Universal Complementar (AUC), que prevê investimento de mais de R$ 200 mil.

Dieta balanceada

A ideia do estudo surgiu da necessidade de criar formas alternativas para a alimentação das fêmeas do Ae. aegypti, de maneira a manter os componentes nutricionais do sangue humano e as colônias para estudos. “Como todas as fêmeas de Ae. aegypti precisam de sangue para produzir ovos e dar origem a seus descendentes, necessitamos, semanalmente, de considerável volume para manter as futuras gerações”, explica Dutra. O pesquisador relata, aliás, que já passou por dificuldades, em função da falta de estoque de sangue humano para os estudos. A criação de uma fonte nutricional alternativa compatível, sem problema de contaminação por agente infeccioso externo, cobriria a demanda e evitaria o risco de trabalhar com material biológico. Além disso, dá-se continuidade às pesquisas que necessitam de tal tipo de alimento para progredir. É o caso dos estudos realizados por meio do programa internacional “Eliminar a dengue: desafio Brasil”, trazido ao Brasil, em 2012, pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A iniciativa conta com participação do pesquisador Luciano Moreira, líder do projeto no País e orientador de Heverton no doutorado. Na pesquisa, a protagonista é a bactéria Wolbachia, que, quando inserida no Aedes aegypti, reduz a capacidade de o mosquito, criado em laboratório, transmitir os vírus da dengue, da chikungunya e da zika. “O Aedes com Wolbachia só é capaz de produzir ovos, de forma satisfatória, caso alimentado com sangue humano, já que o de outros vertebrados, como camundongos e galinhas, não possui os nutrientes necessários para que o mosquito com a Wolbachia produza ovos saudáveis”, explica Heverton Dutra. Quanto maior o número de mosquitos contendo a bactéria no ambiente, portanto, maior a probabilidade

Iniciativa internacional sem fins lucrativos, o projeto estuda o uso da bactéria Wolbachia para, de maneira segura, natural e autossustentável, diminuir a transmissão do vírus da dengue pelo mosquito Aedes aegypti. Tal característica foi descoberta por pesquisadores do programa internacional “Eliminar a dengue: nosso desafio”, com participação do pesquisador Luciano Moreira, da Fiocruz, que lidera o projeto no Brasil. O programa é uma estratégia em longo prazo, que beneficiará cerca de 2,5 bilhões de pessoas, que, atualmente, vivem em áreas atingidas pela doença. Em maio de 2016, os pesquisadores publicaram estudo científico que descreve a ação da bactéria também sobre o vírus zika. Além do Brasil, o projeto envolve a Austrália, o Vietnã, a Indonésia e a Colômbia.

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de controle das enfermidades transmitidas pelo “Aedes do mal”. Daí a importância da “dieta” balanceada dos mosquitinhos. “O Aedes criado em laboratório só se reproduz bem quando alimentado corretamente, ou seja, com os nutrientes contidos no sangue humano”, complementa Luciano. Estudo desenvolvido pelo pesquisador, que faz parte do programa internacional, usou linhagens do vírus zika e foi publicado no dia 4 de maio, pela revista científica Cell Host & Microbe. Para a realização da pesquisa, utilizaram-se quatro grupos de Aedes aegypti: duas gaiolas continham mosquitos com Wolbachia, criados em laboratório pela equipe do projeto, e, em outras duas, havia insetos sem a bactéria, coletados no Rio de Janeiro. Todos eles foram alimentados com sangue humano, que continham duas linhagens do vírus zika circulantes no Brasil: metade das gaiolas recebeu material sanguíneo com uma cepa isolada em São Paulo, e a outra, com cepa originária de Pernambuco. Dentre os experimentos realizados pelos pesquisadores, com ambos os isolados virais, os cientistas coletaram amostras de saliva de 20 Aedes aegypti com Wolbachia e de 20 sem a bactéria – e que receberam sangue infectado com a

cepa isolada de Pernambuco. Percebeu-se que 55% da saliva dos mosquitos contendo Wolbachia não apresentavam positividade para o vírus da zika. Em outro experimento, após duas semanas de infecção com o vírus zika, os pesquisadores coletaram amostras de saliva de dez mosquitos com Wolbachia e de dez sem a bactéria. A saliva de cada inseto foi injetada em mosquitos de campo, sem Wolbachia, para verificar se eles se infectariam. Os testes mostraram que nenhum dos que receberam a saliva de mosquitos com Wolbachia fora contaminado pelo vírus da zika; por outro lado, 85% dos mosquitos com a saliva do grupo sem a bactéria acabaram infectados. O que isso significa? Que o mosquito Aedes aegypti com a “bactéria protagonista” também tem potencial para ser usado no controle da transmissão da zika, além da dengue e da chikungunya, conforme já comprovado por outros estudos. Segundo o coordenador do projeto no Brasil, Luciano Moreira, reuniões estão sendo realizadas com o Ministério da Saúde, juntamente a financiadores estrangeiros, para expandir as pesquisas e desenvolver estudos para melhorar o controle epidemiológico.

PARTICIPAÇÃO DA FAPEMIG Projeto: An Artificial Diet for Wolbachia – Infected Ae.Aegypti Coordenador: Heverton Leandro Carneiro Dutra Instituição: Centro de Pesquisas René Rachou da Fiocruz de Minas Gerais Chamada: Auxílio Universal Complementar Valor: R$ 200.999,73

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O dia a dia e as paixões do professor Valder Steffen Jr., que, na infância, não tirava os olhos dos muitos veículos a desfilar nas ruas

Maurício Guilherme Silva Jr.

Atualmente, o professor tem trabalhado com técnicas de monitoramento da integridade estrutural – voltada, inicialmente, às estruturas aeronáuticas e aeroespaciais. “Além disso, tenho interesse na área de dinâmica de rotores inteligentes”, explica. Há pouco, além de se preocupar com problemas inversos em Engenharia, Valder Steffen Jr. investiga técnicas de quantificação e avaliação de incertezas, para usá-las em problemas com os quais está envolvido.

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Vida de cientista

Aquele doce ronco do motor

Diante da porta de casa, em Ponta Grossa (RS), o garoto experimentava sua particular epifania: ao observar a passagem de carros, ônibus e caminhões, as retinas se encantavam de maneira realmente especial. Ciente dos gostos do filho, Leonilda Steffen era a primeira a atentá-lo às motorizadas novidades da rua. Mal sabia a delicada mãe que aquele ingênuo passatempo infantil serviria, anos mais tarde, à consolidação das vocações de Valder Steffen Jr., hoje professor e pesquisador da Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Ao lado do avô materno, que atuara como mecânico da antiga Cia. Paulista de Estradas de Ferro, Valder seria responsável pela “fundação” de certa tradição familiar: “Creio que eu seja o primeiro engenheiro da família. Hoje, porém, há vários primos e sobrinhos na área”, conta. Quanto ao interesse pela carreira científica, tudo começaria já no período colegial, quando as disciplinas de Ciências Exatas lhe atraíam a atenção e o desejo de estudá-las. “Eu queria compreender melhor os princípios por trás das equações”, conta. Ao final do curso de graduação na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), acabou por se envolver em um projeto na área de Dinâmica, sob a batuta do professor Hans Ingo Weber. Além de inspiradora, a convivência com os pesquisadores e estudantes de pós-graduação revelou-se determinante ao que se seguiria: mestrado e doutorado pela Université de Franche-Comté, na França. Já nos dois estudos de pós-doutoramento – realizados, respectivamente, no Insa, em Lyon, na França, e no Center for Intelligent Material Systems and Structures (CIMSS), na Virginia Tech, nos EUA –, dedicou-se à investigação de problemas ligados à dinâmica de rotação e à descoberta de materiais e estruturas inteligentes. “Isso reorientou minhas várias atividades futuras de pesquisa e me permitiu propor e participar do Instituto Nacional


de Ciência e Tecnologia de Estruturas Inteligentes em Engenharia (INCT-EIE), do qual sou coordenador desde dezembro de 2008”, explica.

Arte, saúde e fé

Natural de Rio Claro, no interior de São Paulo, Valder Steffen Jr. é pai de Nathalie, analista de Relações Internacionais – que, recentemente, atuou junto à Olimpíada Rio 2016 – e Samuel, cirurgião cardíaco e integrante, como fellow, do grupo de transplantes do Incor, em São Paulo. “Quando eles eram menores, eu e minha esposa, embora sempre tenhamos conversado sobre a importância dos estudos, jamais demos preferência a carreiras específicas. Os dois construíram a própria identidade profissional, mas é claro que sempre perguntavam muito sobre minhas atividades acadêmicas e científicas”, conta. O dia a dia do professor, em Uberlândia (MG), é bastante agitado. Do ponto de vista acadêmico, para além das aulas, há as orientações, os desafios da pesquisa e as obrigações da administração universitária. Steffen, afinal, é diretor da Faculdade de Engenharia Mecânica da UFU. “Trabalho regularmente aos sábados pela manhã, em minha sala na universidade. É quando consigo pôr em dia as coisas que ficaram para trás durante a semana”, conta. Quanto à vida pessoal, o pesquisador procura não se descuidar do convívio familiar, algo que, em suas palavras, sempre lhe deu estabilidade e paz. “Tais encontros são sempre alegres e descontraídos, o que me faz muito bem”, diz. Além disso, dá muita atenção aos cuidados com a saúde. Ao fim de cada dia, quando não há imprevistos, segue ao clube, onde realiza atividades físicas. “Procuro me exercitar com regularidade. Além do bem-estar físico, isso se tornou uma forma de lazer. No clube, encontro-me com pessoas com as quais tenho relacionamento, enriquecendo, assim, minha vida social”. Valder também aprecia muito as expressões artísticas, com destaque para a telona. “O cinema sempre me encantou! Gostaria de ter mais tempo para acompanhar de perto, com conhecimentos específicos e de forma mais crítica. Gosto tanto de filmes americanos quanto franceses”,

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confessa, ao ressaltar, ainda, que é muito ligado à música, mas sem preferência por gêneros: “Meu gosto vai do rock à música clássica. Quanto aos livros, aprecio temas filosóficos e teológicos”. Neste sentido, é interessante lembrar que fé e ciência convivem harmonicamente no cotidiano do pesquisador. “Tenho envolvimento com uma Igreja Presbiteriana, enquanto cristão ativo”, frisa. Quanto ao relacionamento com os amigos, as conversas e trocas são frequentes e prazerosas. “Conversamos muito em reuniões sociais, e, às vezes, jantamos juntos. Quando recebemos professores visitantes, os encontros se intensificam”, completa.

Quem é

Férias? Em função dos congressos internacionais que frequenta – realizados, geralmente, no período de férias escolares no Brasil –, Valder Steffen não se lembra de quando pôde ficar, exclusivamente, de papo para o ar. “Infelizmente, jamais consegui tirar folgas muito longas. Quando os filhos eram pequenos, gostávamos de ir à praia, especialmente, nos litorais de Santa Catarina ou São Paulo”, diz, ao esclarecer que, hoje, quando possível, planeja momentos de descanso paralelos aos compromissos profissionais: “Faço-me acompanhar de minha esposa em congressos e ‘esticamos’ um pouco a viagem para termos um tempo juntos e fazer algum passeio”.

ele?

Engenheiro mecânico formado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Professor titular e diretor da Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) Mestre (1977) e doutor (1979) pela Université de Franche-Comté, em Besançon, na França Pós-doutor pelo Institut National de Sciences Appliquées (1986-87), em Lyon, na França, e pelo Virginia Tech (1999), nos EUA Detentor do importante diploma de “Habilitation à Diriger des Recherches” (HDR), concedido, em 1991, pela Université de Franche-Comté

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Neste trabalho, quero tratar, portanto, não de como se produz um jornal ou de como os textos multimodais dizem coisas, mas de como os tratamos na escola; que lugares eles ocupam na vida dos estudantes, dentro e fora da sala de aula; como os jovens aprendem a ler infográficos e como poderiam produzir textos multimodais, já que as ferramentas de edição estão, faz algumas décadas, ao nosso alcance.

O conceito de multimodalidade surge na Semiótica Social e procura abranger, de forma ampla, estratégias textual-discursivas das múltiplas formas de linguagem verbal (escrita e oral) e não-verbal (visual). Significa, por exemplo, analisar como infográficos, linhas do tempo e podcasts podem ultrapassar as aulas de Geografia e Matemática ou os ambientes sociotécnicos para contribuir com a aprendizagem da língua materna. Em sua pesquisa de pós-doutorado na Universidade Federal de Campinas (Unicamp), a professora Ana Elisa Ribeiro, do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG), propôs-se a desvendar o descompasso entre o que vemos acontecer na circulação social dos

Brasil

Descobrir a grande história das pequenas coisas é também uma forma de olhar. Nesse olhar está contida a arte de viver, mas também de ver. De ver de perto. Pois atrás dos objetos está contida uma história outra. Aquela da mão dos homens, atarefada em extrair da natureza objetos de metal, madeira, vidro. E essa história é também a da destruição de florestas, rios e carreiras de pedras para a confecção de instrumentos de exploração. Os vários artefatos usados nos ofícios responsáveis pela mineração do ouro e diamantes, pela criação de muares e bovinos, pela plantation de cana e outros produtos agrícolas estiveram associados a vários momentos de nossas transformações econômicas e de nosso empobrecimento ecológico.

multimodal textos e as atividades apresentadas nos livros adotados, pela escola básica, para ensino de português. O resultado está a obra Textos Multimodais: leitura e produção, dividida em oito capítulos. Com exemplos e análises, a obra apresenta, de forma leve, modos de provocar e desenvolver a leitura e a escrita de textos multimodais.

Livro: Textos multimodais: leitura e produção Autor: Ana Elisa Ribeiro Editora: Parábola Editorial Páginas: 126 Ano: 2016

dos anônimos

Muitas são as possibilidades de escrita da História. Dentre as inúmeras alternativas, a pesquisadora Mary Del Priore, ex-professora da Universidade de São Paulo (USP) e da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC Rio), optou por construir narrativas baseadas na “simplicidade da vida cotidiana” brasileira. Desse modo, lançou-se ao desafio de buscar explicações plausíveis a algumas das características seminais do Brasil como nação. Primeiro volume de uma série que pretende descortinar os mais de 500 anos do País, Histórias da gente brasileira – Colônia “joga luz sobre os anônimos que deram forma” à pátria. Dividido em três partes, o livro investiga as temáticas “Terra e trabalho”, “O supérfluo e o ordinário: casa, comida e roupa lavada” e “Ritmos da vida: nascimento, adolescência, uniões, doença e morte”.

A obra é capaz de transportar o leitor a um universo essencialmente particular de desejos, tensões, conflitos, medos, esperanças, autoritarismos e diálogos. Histórias da gente brasileira conta, ainda, com ótimo glossário de termos, caríssimos à compreensão de objetos, ofícios, povos etc. O próximo volume da série abordará o Brasil Império.

Livro: Histórias da gente brasileira –

Colônia (Volume 1) Autor: Mary Del Priore Editora: Leya Páginas: 432 Ano: 2016

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LEITURAS

Ensino


HI P ER LI N K

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Na imagem ao lado, veem-se protótipos representativos do desenvolvimento de câncer no colo do útero. Feitos em alto relevo e com biscuit – matéria-prima para artesanato –, os objetos destinam-se a pessoas com deficiência visual, as quais, ao tocá-los, podem identificar o endométrio (tecido do útero) e as partes afetadas pelo tumor. Os artefatos pedagógicos foram elaborados pelas alunas Camilla de Fátima dos Santos, Juliana Monteiro da Silva, Rayanne Maria Costa Ferreira, Rebeca Cristina Goulart de Lima e Sâmella Alves de Brito, do curso de Fisioterapia do Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), sob coordenação da professora Julia Dias Santana.

VARAL

William Araújo


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PARA USO DOS CORREIOS MUDOU-SE DESCONHECIDO RECUSADO

FALECIDO AUSENTE NÃO PROCURADO

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Além da revista, o Projeto Minas Faz Ciência, da FAPEMIG, conta com outros veículos para divulgação da Ciência, Tecnologia e Inovação desenvolvidas em Minas Gerais: ONDAS DA CIÊNCIA Podcast semanal que traz entrevistas, curiosidades e estudos desenvolvidos em universidades e centros de pesquisa mineiros. CIÊNCIA NO AR Os programas, veiculados em nossa web TV, mostram a cobertura de temas relevantes e reportagens sobre os avanços da ciência BLOG MINAS FAZ CIÊNCIA Notícias, novidades e curiosidades sobre o mundo da ciência, em um formato que facilita e incentiva a participação dos leitores.

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