Embaixador da Esperança Edição 92. Maio 2015
Foto: Evandro Moreira
Mais que uma companhia
Dar oportunidade às mães de se recuperarem junto às suas crianças é um incentivo a mais para não desistir
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Pequenas atividades do dia a dia proporcionam um relacionamento novo
A
tualmente a Fazenda da Esperança tem 102 comunidades espalhadas pelo mundo; cerca de 25% são femininas e em boa parte delas um diferencial marca o cotidiano: a presença de mães em recuperação com seus filhos. Frei Hans Stapel, ofm, um dos fundadores da comunidade, explica que quando ainda era pároco em Guaratinguetá/SP, no início da década de 80, apareciam meninas grávidas pedindo ajuda na Paróquia Nossa Senhora da Glória. “Para mim estava claro que eram pessoas muito frágeis – principalmente na situação em que experimentavam a nova vida que estava nascendo – muitas vezes sozinhas, abandonadas pelos maridos. Procurei dar este apoio na paróquia, no começo e, mais tarde, também nas Fazendas”. Inicialmente, o acolhimento de mulheres que tinham filhos se dava sem a presença deles. Acreditava-se que apenas a mãe deveria passar pela recuperação. Com o decorrer do tempo os responsáveis da Fazenda descobriram que muitas mães sentiam imensa falta dos filhos e desistiam da caminhada. Então, decidiram acolher também as crianças. Assim aconteceu algo muito bonito: as mães, por causa dos filhos que estavam perto, conseguiam deixar a droga, ficar um ano inteiro e, às vezes, até mais tempo. “As crianças se envolvem nas atividades e vivem felizes porque a mãe também está alegre. Luto bastante para conseguirmos adaptar nossas Fazendas para a mesma realidade, porque a criança que nasce de uma mãe que é dependente de drogas precisa do apoio da Fazenda, da comunidade, para não ter depois consequências maiores por causa da situação particular em que se encontra a mãe”, explica Frei Hans.
Um grande motivo A recuperação é para quem está dependente dos vícios, mas proporcionar a oportunidade de ter os filhos
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por perto é um incentivo a mais para as mães que desejam mudar de vida. Elisabeth Nascimento quase perdeu a guarda dos filhos por causa da droga. Enquanto o marido – que também já passou um ano em recuperação na Fazenda da Esperança – é voluntário na comunidade de Ibiporã/PR, ela busca reconstruir a vida com os filhos, em Guaratinguetá. “Eu tenho minha família, meus pais, mas a partir do momento em que eu tive meus filhos e meu marido, minha família é formada por eles. Neste Dia das Mães vou estar completa, porque nos outros eu não tive a oportunidade de passar com eles. Tenho certeza que vai ser muito especial”.
Um lar Quando a mãe está no mundo das drogas ou de outros vícios, os filhos sofrem as consequências. A casa vai abaixo por causa dos conflitos e do distanciamento na convivência. Na Fazenda as mães podem viver com seus filhos e, com o novo estilo que aprendem no dia a dia, elas adquirem também uma nova maneira de se relacionar com eles. Muitos são os exemplos de mães que se recuperaram e tiveram seus filhos quando moravam na comunidade. Em outros casos, com a decisão de mudar de vida, elas ganharam de volta seus filhos que viviam em abrigos. Gabriela Alves faz parte deste segundo grupo. Ela usava drogas na Praça da Sé, em São Paulo, e conseguiu se recuperar. Quando ia completar o ano foi incentivada a reconquistar o filho. Gabriela cumpriu o desafio, se tornou uma voluntária da Fazenda da Esperança e hoje é a responsável pela comunidade de Palmas/TO, onde também acolhe mães em recuperação com seus filhos. Sheila Cristiane de Souza tem uma história parecida com a de Gabriela. Ela também usava drogas na capital paulista. Foi ajudada por um casal e no segundo
semestre de 2013 veio se recuperar em companhia de uma filha. Hoje é uma das madrinhas da casa. Quando usava drogas ela sonhava em ter os filhos, mas não tinha forças para buscá-los, pois estava presa aos vícios. Atualmente, duas dos cinco filhos moram com Sheila na comunidade. “Quando encontrei o caminho da Fazenda comecei essa busca intensa por eles. Então para mim, cada passo é uma felicidade. O cuidar delas, arrumar a roupa, participar das atividades, faz-me sentir muito feliz, pois aprendi e posso ser mãe”.
Cotidiano Como se estivessem em casa, na Fazenda as crianças passam uma parte do tempo com as mães e outra na escola ou na creche. Ao retornar para a Fazenda voltam ao convívio com as mães que moram nas diversas casas. “Elas têm todas as oportunidades como qualquer criança. Os filhos têm que se sentirem amados para um dia serem também capazes de amar. É muito importante, nesta idade, sentir amor e confiança na mãe, pois essa segurança vai ajudá-la para toda a vida”, afirma Frei Hans. Os aniversários sempre são lembrados, assim como as festividades. É tempo de se alegrar, mesmo que elas ainda não compreendam totalmente as dificuldades vividas pelas mães. “A Festa do Dia das Crianças do ano passado foi muito marcante para mim. Eu me senti uma criança com ele. A páscoa também foi muito legal, o Natal. Foi tudo muito bom, porque eu não tive isso lá fora. Nas datas comemorativas para as crianças eu nunca estava perto da minha filha, sempre ficava drogada”, conta, com alegria, Adriele Aparecida P. Furquim. Um filho de oito meses vive com Adriele e ela aguarda ansiosa julho chegar para a filha, de dois anos, vir a Guaratinguetá passar as férias em sua companhia. Os desafios de acolher mães e filhos são grandes, mas as alegrias são proporcionais. Ver no rosto de uma criança a felicidade de ter uma mãe recuperada e que é capaz de cuidar bem dela é um dos motivos que faz existir a Fazenda da Esperança.
A alegria da convivência dá vida nova às mães em recuperação
Aconteceu comigo Tive um bom relacionamento com minha mãe até aproximadamente dez anos de idade, meus pais eram separados e eu não entendia o porquê. Logo me interessei pela vida fácil da rua e três anos mais tarde comecei a consumir droga e aos 15 a cometer alguns furtos para alimentar meu vício. Acabei me iludindo com essa vida, tudo o que eu ganhei eu perdi e fiz uma dívida muito grande. O crime também te dá um prazo e o meu acerto de contas iria coincidir com a data do Dia das Mães. Fui fazer um assalto para tentar pagar essa dívida, mas não deu certo. No outro dia, sem o dinheiro, fui para o acerto de contas e para minha surpresa, aquela mãe que eu achava que não me dava atenção, pagou minha dívida. Naquele momento ela foi a única pessoa que estava ao meu lado e, de todos que eu conhecia, ela foi a única a me oferecer ajuda. Neste dia tive a oportunidade para pedir socorro, eu não queria viver mais aquela vida. Depois de duas semanas eu já estava na Fazenda para me recuperar. Aqui comecei a escutar sobre viver a Palavra, a perdoar, e me interessei, mas ainda não vivia plenamente o estilo de vida. Então, num dia, durante uma brincadeira, houve uma grande discussão e fui muito ofendido. A Palavra do Dia falava sobre perdoar. Não revidei, senti que eu precisava dar este passo. Eu não sabia que o perdão tinha uma dimensão tão grande. Em uma visita conversei com minha mãe, eu quis pedir perdão por tudo que eu tinha feito e pelo que fiz ela passar. E ela também me pediu perdão por tudo que havia acontecido no passado e disse que aquela dívida foi como um presente, pois tive oportunidade de me transformar num novo homem. Nesse dia eu pude sentir o amor misericordioso de Deus. Hoje, depois de dez meses de recuperação temos um novo relacionamento e assim podemos partilhar do crescimento pessoal nos dias de visitas. Ela consegue viver o estilo de vida da Fazenda lá fora e estamos descobrindo a transformação da vivência do Evangelho na nossa vida.
Leonardo Henriques, 19 anos, São Paulo/SP
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A-notável Retiro de padres e religiosos uma rica experiência. “Realmente é ver um Deus que ressuscita e, gradualmente, forma uma identidade em nossas vidas. Para mim tem sido uma convivência muito boa, porque sempre chegam novos jovens, outros vão, mas carregam consigo uma perspectiva diferente. Isso faz com q---ue a gente também mergulhe nesta riqueza”.
Entre os dias 6 e 10 de abril a Fazenda da Esperança das Pedrinhas, em Guaratinguetá/SP, recebeu padres, religiosos e religiosas de diversas partes do Brasil e países da América Latina que colaboram nas comunidades para participarem de um retiro. Eles assistiram temas de formação, ouviram e contaram experiências a respeito de seus trabalhos nas diversas Fazendas. Também visitaram lugares importantes que fazem parte da história da Família da Esperança, como os Centros Masculino e Feminino, o Mosteiro Mater Christi (Irmãs Clarissas) e a Casa Sol Nascente, que acolhe portadores do vírus HIV. A Fazenda tem uma gratidão imensa a esses padres e irmãs pelo carinho e dedicação, pois em meio a tantos compromissos, encontram um espaço no seu tempo e coração para se dedicarem aos jovens que Deus chamou para uma nova vida. O padre Lorenzo Sanches, mexicano, faz parte da Comunidade dos Missionários Servos da Palavra e trabalha na Diocese de Ourinhos, onde uma Fazenda da Esperança está inserida em seu território paroquial. Ele disse que participar do cotidiano dos jovens tem sido
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Padre Lorenzo disse ainda que o jeito de acolher dos jovens chama muito sua atenção. “Às vezes pensamos: “Será que esta gente terá capacidade de poder acolher? Chegam os que têm tatuagens, argolas… e a gente percebe que eles têm um grande coração e que compreenderam o significado da vida cristã. Afinal de contas, a fonte é a Palavra”. O padre Martins Rodrigues, que auxilia na Fazenda de Lajeado/TO e trabalha com o povo indígena Xerente, contou que se sente mais inspirado depois do encontro. “Sempre as coisas da Fazenda se renovam. Apesar de conhecermos os temas, cada vez que os fundadores falam é de forma nova e presente. Mesmo que já tenhamos escutado, aquilo cai de forma nova e renova o momento presente”. A Irmã Inez de Fátima dos Santos Godoy é voluntária na Casa de Apoio Sol Nascente em Lagoinha/SP. Ela disse que retorna ao trabalho com mais força e garra junto aos atendidos da instituição. O retiro foi encerrado com uma missa no Santuário Nacional de Aparecida. Bispos – Logo que terminou o Retiro dos Religiosos, bispos de várias dioceses do Brasil onde a Fazenda da Esperança está presente também se reuniram para um encontro.
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