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Árvores monumentais, uma memória de vida! Falar de Aveiro é também falar das suas árvores, memórias quase (in)temporais. Quem não se recorda do grande cipreste-da-califórnia (Cupressus macrocarpa) do Parque Infante D. Pedro? Os seus quase 7 metros de perímetro e 30 m de altura faziam dele uma árvore grandiosa. Classificada de Interesse Público em 1939, acompanhou várias gerações de cagaréus e ceboleiros. Resistiu ao ciclone de 1942 mas, em 2005, com mais de 300 anos, dada a sua decrepitude, teve de ser removida. Hoje, já só resta o seu cepo, que terá ficado até aos nossos dias para memória daquela que foi a árvore mais emblemática do Parque e da própria cidade. O seu declínio constitui um exemplo de que a idade avançada, também nas árvores, contribui para aumentar a sua fragilidade, reduzir a sua resiliência e a capacidade de defesa perante pragas, doenças e temporais. Ainda no Parque, destaca-se uma araucária-de-norfolk (Araucaria heterophylla) com 114 anos, classificada no mesmo ano. Outra da
mesma espécie e também com muitos anos existe ao lado do Museu de Aveiro. Apesar de ser uma árvore muito apreciada pelas suas qualidades ornamentais, sendo muito frequente nos nossos parques e jardins, esta espécie mostra-nos o quão importante é proteger as árvores. Originária da ilha de Norfolk, no oceano Pacífico, constitui um símbolo nacional da ilha, figurando na sua bandeira. Esta façanha advém da sua capacidade de sobrevivência face às diversas ameaças a que esteve sujeita, devido à crescente exploração dos solos, em virtude das vagas de colonização. Também, no Rossio, encontramos as míticas palmeiras centenárias. Embora não sejam “árvores”, pois não possuem um tronco com ramos, mas sim um caule denominado espique, e apesar deste conjunto não se encontrar classificado, figuram na lista das árvores monumentais da cidade da ria e do sal, intrinsecamente associadas à sua riqueza histórico-cultural. Contudo, a sobrevivência desta paisagem encontra-se ameaçada
pelo escaravelho vermelho (Rhynchophorus ferrugineus), uma espécie invasora que, como outras, constitui a segunda ameaça mais grave à biodiversidade, a nível mundial. Na nossa lista, podemos incluir, ainda, o cedro-do-líbano (Cedrus libani) que vigia o cemitério central da cidade. Dado o seu porte, será, possivelmente, contemporâneo da sua construção, em 1835. Digna de referência é a bonita alameda de plátanos (Platanus x hispanica) da Avenida Artur Ravarra. Estes devem a sua beleza ao facto de serem poupados às podas drásticas a que esta espécie é sujeita em muitas cidades. Esta espécie, muito usada como árvore ornamental, para além da ampla folhagem que ensombreia no verão e cai no inverno, apresenta uma casca esverdeada, com pigmentos fotossintéticos (clorofila) que permite à árvore, mesmo durante a desfolha, manter a atividade fotossintética, contribuindo, assim, para a renovação do ar contaminado que advém do tráfego automóvel. Também não nos deixam indiferentes
Rua dos Santos Mártires, 3810-171 Aveiro · tel. 234 427 053 · www.fabrica.cienciaviva.ua.pt · www.facebook.com/fccva · fabrica.cienciaviva@ua.pt
os choupos-brancos (Populus alba) da Avenida 25 de Abril, pelo conjunto, a altura e perímetro do tronco, a sombra que proporcionam e a importância como filtradoras do ar, embelezando uma avenida onde existem escolas e circulam muitos transeuntes. Ainda na mesma Avenida, na Escola Secundária José Estevão, o cedro-do-atlas (Cedrus atlantica) com mais de 70 anos, constitui um belo exemplar que tem acompanhado várias gerações de estudantes. Mas porque são estas árvores importantes?
Na verdade, a sua importância é diversa e vital à nossa própria existência. As árvores, no geral, e estas, em particular, constituem corredores de vida na paisagem natural, rural e urbana, dando abrigo, proteção e alimento a mais de 2 000 espécies de seres vivos diferentes, como fungos, líquenes, plantas e animais, onde alguns deles vivem aí em exclusividade. Além do mais, contribuem para a renovação do ar,
Foto da semana
A não perder!
Nos dias 13 e 14 de junho, a Fábrica recebeu Ryan Jenkins, coordenador do Tinkering Studio do Exploratorium de São Francisco, para um workshop/residência de dois dias, no Maker Space Ciência Viva, que abrirá brevemente em Aveiro. No âmbito do desenvolvimento do DÓING, a visita de Ryan Jenkins revelou-se uma oportunidade única de troca de experiências com a equipa da Fábrica, nomeadamente no que diz respeito a alguns conteúdos baseados em low tech.
Para estas férias de verão, a Fábrica Centro Ciência Viva programou vários dias de atividades com ciência, destinadas a crianças dos 6 aos 12 anos. É só escolher: há bolas de sabão, aranhas estaladiças, histórias e shows de ciência, robôs, gelados, música, experiências com eletricidade, sal e muito mais. As atividades decorrem de 27 de junho a 1 de julho, das 8h50 às 17h45, e repetem-se nas semanas de 4 a 8 de julho, e de 5 a 9 de setembro. Inscrições: 234 427 053 ou fccv@ua.pt.
ao fixarem nos seus tecidos grandes quantidades de dióxido de carbono, não descurando também o seu valor em termos de fruição pessoal e estética, pois, em muito valorizam os espaços onde se encontram. E se deixarem de existir? A perda será enorme! Para além do seu valor natural, estas árvores destacam-se pelo seu valor histórico e cultural, ao serem contadoras de estórias, mitos e lendas… Desde a antiguidade que são conhecidas as árvores sagradas, as árvores protetoras, as árvores políticas, representando, por isso, a memória viva de uma comunidade. São árvores únicas com a sua personalidade, têm a sua própria história, dão frutos e sombra, e mostram-nos como envelhecer graciosamente! São igualmente árvores dinamizadoras da economia, domesticadas pelo homem durante milénios como fonte de alimento, sombra e refúgio. Atualmente, são vistas como potencial de desenvolvimento educativo e turístico. Por estas razões, importa conhecer e divulgar este património para que o seu legado passado e presente possa chegar às gerações futuras.
Como as proteger?
Devido às suas características singulares, como o porte, idade, raridade ou a forma bizarra, ou pelo seu significado histórico, cultural, natural ou paisagístico, as árvores, tanto isoladas como em conjuntos arbóreos, podem ser classificadas de Interesse Público e, por isso, protegidas por legislação. Daí ser fundamental cuidar das nossas árvores jovens e mantê-las saudáveis, para que um dia contribuam com uma nova geração de árvores monumentais. E como existem muitas árvores com características monumentais que carecem de classificação, quem sabe se não descobre uma? Como cidadãos, cabe-nos a nós um papel ativo e responsável em sociedade. Respeitar e proteger estes seres notáveis é salvaguardar o nosso futuro. Informe-se junto do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas. Raquel Pires Lopes1,2 e Rosa Pinho2 Centro de Investigação Didática e Tecnologia na Formação de Formadores 2 Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro 1
mais informações em www.fabrica.cienciaviva.ua.pt
Ciência na Agenda
17 jun
21h30
CONVERSAS COM LUZ
16 jun
21h30
Ambiente p’ra Conversa – “Cimeira do Clima… e depois?”, na Fábrica Centro Ciência Viva de Aveiro.
17
21h30
Conversas com Luz – “Da retina à película: a luz na astronomia”, com Vítor Bonifácio, no Hotel Moliceiro.
19
11h00
Clube do Cientista – “Solstício de Verão”, no Aveiro Center.
25
15h00
Todos ao Ensaio! - Tudo em harmonia, na Fábrica Centro Ciência Viva de Aveiro.
26
11h00
Domingo de manhã na barriga do caracol, na Fábrica Centro Ciência Viva de Aveiro.
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27 08 jun
30 jun
jul
21h15
09h00 >17h45
Férias de Verão com Ciência, na Fábrica Centro Ciência Viva de Aveiro.
Quintas da Ria - Museologia e os territórios da Ria, no Edifício Sócio-Cultural da Costa Nova. Fábrica Centro Ciência Viva de Aveiro 2016