Política de Habitação Social e a Segregação Urbana em São Paulo: Projeto nas Ocupações do Bairro de Vila Prudente
Universidade São Francisco Arquitetura e Urbanismo
Fernanda Oliveira Orientador Roberto Montenegro
Política de Habitação Social e a Segregação Urbana em São Paulo: Projeto nas Ocupações do Bairro de Vila Prudente
Trabalho de Conclusão de Curso Itatiba | junho de 2017
Dedico esse trabalho de conclusão de curso as minorias, que lutam diariamente por um espaço igualitårio na sociedade.
“Há um gosto de vitória e encanto na condição de ser simples. Não é preciso muito para ser muito.” Lina Bo Bardi
Gostaria de agradecer primeiramente ao Divino, que me engrandeceu com sua força ao longo desses cinco anos para a conclusão desse trabalho e do curso. Em segundo
a
Universidade
São
Francisco
por
essa
oportunidade única e a todos os meus professores pelo conhecimento e compromisso, em especial a Professora
Maria Cristina Motta Oliverio e a Coordenadora do Curso Glacir Frick pelo auxílio e ideias que contribuíram para o meu projeto. Ao meu orientador Roberto Montenegro pelo apoio e dedicação. Aos meus amigos pelo incentivo constante, principalmente a Amanda Silva, Isabela Rosa e Marcela Martins, grandes companheiras, amigas e irmãs que a faculdade me presenteou ao longo desses anos. E,
finalmente, aos meus pais que não mediram esforços para tornarem tudo isso possível. Gratidão.
OLIVEIRA, Fernanda. Política de Habitação Social e a Segregação Urbana em São Paulo: Projeto nas Ocupações do Bairro Vila Prudente. Itatiba: Trabalho de Graduação do Curso de Arquitetura e Urbanismo – USF, 2017. Diante
da
problemática
histórica
em
relação
a
habitação de interesse social, principalmente na capital metropolitana paulista, vinculada
ao crescimento da
segregação sócio espacial do mesmo, é que o presente trabalho apresenta uma proposta para as ocupações irregulares do bairro Vila Prudente, proporcionando assim, o papel do arquiteto perante aos problemas sociais urbanos com projetos arquitetônicos adequados, que incluem essa população minoritária de forma mais igual e participativa do contexto urbano, através de espaços de convívio e conexões apropriadas. Palavras-chave: habitação social, inclusão, identidade, espaços de sociabilização.
OBJETIVOS 23 Principal e Específicos 25
JUSTIFICATIVA 15
APRESENTAÇÃO DO TEMA 05
INTRODUÇÃO 01
SUMÁRIO
ESTUDO E DADOS DO LOCAL 27 LOCALIZAÇÃO E HISTÓRICO 29 O BAIRRO VILA PRUDENTE 33 Ocupação Vila Prudente 34 Ocupação Ilha das Cobras 36 Ocupação Pacheco e Chaves 36 A ESCOLHA DO SÍTIO E SUAS POTENCIALIDADES 39 Relação com a disciplina Projeto Integrado 42 LEVANTAMENTO E DIAGNÓSTICO 45 Meio Físico 46 Uso do Solo 48 Gabarito 50 População e Equipamentos Públicos 52 Mobilidade 54 Zoneamento e Legislações Urbanísticas 56
Conjunto Habitacional Nemausus
ANÁLISE CRÍTICA 83
ESTUDOS INTERNACIONAIS
75 75
Conjunto habitacional Jardim Lidiane III
ESTUDOS NACIONAIS
61 61 69
Conjunto Habitacional do Rincão
REFERÊNCIAS PROJETUAIS 59
143
CONFIDERAÇÕES FINAIS
147
BIBLIOGRAFIA
85
O PROJETO
89
CONCEITO E PARTIDO
95
IMPLANTAÇÃO, SETORIZAÇÃO E VOLUMETRIA
109 PLANTAS PAVIMENTOS E CORTES
121 AS UNIDADES HABITACIONAIS E ESTRUTURA 131 FACHADAS E ESTRATÉGIAS BIOCLIMÁTICAS
INTRODUÇÃO
extremidade do bairro, já se iniciou e se intensificou um
processo significativo de verticalização e requalificação. O presente trabalho trata da função do arquiteto e da defesa da arquitetura perante a segregação sócio espacial,
No entanto, os assentamentos do objeto de trabalho possuem um alto adensamento interno significativo.
que se intensificou ao longo dos séculos no Brasil, como no
Desse modo, todos os estudos realizados tiveram o
caso da capital paulistana. A cidade de São Paulo chega à
intuito de compreender a realidade do local, direcionando
década de 90 com uma elevada população de baixa renda
o objetivo principal para melhorar as condições de vida
em
alto
dessa população através da construção de moradias de
desenvolvimento urbano que vinha ocorrendo desde a
qualidade, trazendo um melhor equilíbrio de habitantes
década de 30, junto com a desvalorização do projeto de
por hectare no local, e uma requalificação da área,
habitação social, fez com que a questão habitacional na
reconectando essa parcela da população em condições
metrópole estivesse a beira de um colapso, fazendo-se
mais precárias à sociedade, através de espaços de
refletir que a questão habitacional merecia uma atenção
sociabilização. A população não será deslocada de suas
especial.
origens e espaços habituais do cotidiano. Mesmo com a
condições
precárias
e
degradantes.
O
O bairro Vila Prudente, localizado no Arco Tamanduateí
especulação imobiliária crescente no Arco Tamanduateí
em São Paulo, local onde está sendo proposto o projeto de
pelos inúmeros projetos da Prefeitura Municipal em
Habitação Social, insere-se nessa problemática. O bairro
melhorar a área de intervenção, é um direito dessa
se formou com uma alta concentração de ocupações
população, que já vive no local há anos e possui uma
irregulares oriundas de trabalhadores imigrantes da época
identidade marcada, ter os mesmos privilégios de quem
da alta industrialização e/ou terrenos largados e ociosos
possui um poder aquisitivo maior.
que, por estarem em uma área próxima do centro e de
Sendo assim, o direcionamento da proposta do projeto
infraestrutura adequada, acabaram sendo domados pelo
vem ao encontro com o enfrentamento dos problemas
processo de favelização.
sociais do local. O local é dotado de infraestrutura e
Tendo em vista essa questão, o Conjunto Habitacional
próximo à áreas centrais, levando a ideia de reaproveitá-
proposto trabalhará com as ocupações do Bairro Vila
lo, porém com planejamento urbano e arquitetônico
Prudente, em especial: Vila Prudente (maior, mais antiga e
adequado, evitando-se modelos maciços e monótonos,
consolidada da região), Ilha das Cobras e Pacheco e
priorizando espaços de convívio, o que despertará um
Chaves. A área em que se localizam essas comunidades, é
sentimento de inclusão e pertencimento daquele local de
a área mais precária, sem atrativos e, consequentemente, a
forma mais igualitária e não excludente como vem
menos adensada da região, visto que na outra
acontecendo há tantas décadas.
introdução |
03
APRESENTAÇÃO DO TEMA
Atualmente, as políticas de habitação social no Brasil
são mais ligadas ao desenvolvimento econômico do que a estratégias de planejamento urbano e de inclusão social. Os modelos padronizados do Programa Minha Casa Minha Vida nos comprovam isso com sua monotonia, falta de espaços para sociabilização e conexão com a cidade. O problema da desigualdade sócio espacial nunca foi realmente solucionado, pelo contrário, ele se agrava cada vez mais ao repetir modelos monótonos de produção em série sem planejamento urbano e arquitetônico adequado. Habitação social é muito mais do que construir casas a população de baixa renda: é reconectar essa população esquecida e isolada no tempo, vivendo a mercê das glebas restantes direcionadas a elas numa localização estratégica, onde não se interfira nas condições de vida dos mais privilegiados ao centro, nos melhores espaços urbanísticos com infraestrutura completa e apropriada. Discorrer sobre habitação social no Brasil e, sobretudo na grande capital metropolitana, é também discutir, portanto, como as elites se tornaram as grandes possuidoras legais da maioria das terras brasileiras. A cidade de São Paulo é um importante exemplo de segregação sócio espacial em virtude dessa cultura capitalista. No livro Cidade de muros, Teresa Pires do Rio Caldeira descreve como a capital metropolitana passou por esse processo dividindo-o em três períodos:
apresentação do tema |
07
Ao longo do século XX, a segregação social teve pelo
em outras áreas, longe do caos da vida do proletariado
menos três formas diferentes de expressão no espaço
em meio ao período da forte industrialização. Com isso,
urbano de São Paulo. A primeira estendeu-se do final
legislações foram impostas beneficiando apenas a classe
do século XIX até os anos 1940 e produziu uma cidade
dominadora que se apropriou do território central. Nas
concentrada em que os diferentes grupos sociais se
regiões suburbanas, onde os pobres foram se alojando
comprimiam numa área urbana pequena e estavam
gradativamente devido ao preço abusivo dos aluguéis, as
segregados por tipos de moradia. A segunda forma
reformas centrais e a crise econômica, as leis não eram
urbana, a centro-periferia, dominou o desenvolvimento
tão rígidas, o que levou a área da classe mais baixa a ser
da cidade dos anos 40 até os anos 80. Nela, diferentes
irregular e ainda sem os meios de infraestrutura básica.
grupos sociais estão separados por grandes distâncias:
Sendo assim, segundo Jéssica Moreira Mariquito Naime
as classes média e alta concentram-se nos bairros
Silva em sua dissertação de mestrado Os interesses em
centrais com boa infraestrutura, e os pobres vivem nas
torno da Política de Habitação Social no Brasil: a
precárias e distantes periferias. Embora os moradores e
autogestão no Programa Crédito Solidário, é importante
cientistas sociais ainda concebam e discutam a cidade
ressaltar que o inicio da política habitacional, entre o
em termos do segundo padrão, uma terceira forma
século XIX e início do XX, era, portanto, de cunho
vem se configurando desde os anos 80 e mudando
sanitarista. As primeiras moradias foram vilas operárias de
consideravelmente
região
responsabilidade ainda do setor privado, apesar de existir
metropolitana. Sobrepostas ao padrão centro-periferia,
a
cidade
e
sua
a atuação do setor público, apenas com a intenção de
as transformações recentes estão gerando espaços nos
eliminar as ameaças à saúde pública.
quais os diferentes grupos sociais estão muitas vezes próximos,
e
O período foi marcado pela remoção – ou expulsão,
tecnologias de segurança, e tendem a não circular ou
mas
estão
separados
por
muros
já que na maioria dos casos não foram ofertadas
interagir em áreas comuns (CALDEIRA, 2000, p. 211).
outras habitações para aqueles desabrigados – de
parcela considerável da população pobre para as Caldeira afirma que um dos primeiros indícios da
periferias da cidade, de forma a “desocupar” os
segregação sócio espacial em São Paulo foi o fato da
centros urbanos para o capital industrial que, ainda de
classe mais baixa, sem ter condições de alojamentos
forma incipiente, já dava sinais de crescimento rumo à
decentes e uma infraestrutura básica, proporcionar fortes
industrialização do país. O isolamento da população
problemas de saneamento básico e higiene, levando a
mais pobre por parte do poder público era legitimado
elite, com medo de doenças e epidemias, a se reestruturar
pelo argumento da necessidade de “higienizar” a
08
| apresentação do tema
Fonte: Lourenção, 2011
cidade,
respaldado
pela
percepção
das
classes
dominantes de que os cortiços e bairros populares
eram
lócus
de
enfermidades,
criminalidade
e
prostituição (SILVA, 2009, p. 56). Desde a Revolução de 1930, durante o governo Vargas e a Era Populista, as questões sociais começaram a receber maior destaque, e a política de habitação social foi melhor enfrentada com o início de programas que visavam
Cortiços em SP no século XIX
construções de conjuntos habitacionais para a população de caráter precário. Nessa época surgiram as IAPs – Institutos de Aposentadorias e Pensões e a FCP – Fundação da Casa Popular. O problema é que, apesar dessas políticas possuírem uma arquitetura de ótima qualidade, como por exemplo o Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes, o famoso Pedregulho, projetado por Affonso
Eduardo Reidy em 1947 no Rio de Janeiro e o Edifício Japurá, projetado por Eduardo Kneese de Mello em São Paulo, os projetos acabaram não atendendo as classes sociais mais baixas, que mais necessitavam, e sim, a classe Conjunto Residencial Pedregulho
média. Em 1964, o governo militar cria o BNH – Banco Nacional da Habitação para comandar a política de habitação
social. Como complementar criou-se o SFH – Sistema Financeiro de Habitação, que tornou o BNH mais amplo no sentido
de
desenvolvimento
urbano,
dando
um
significado muito diferente daquilo que vinha sendo realizado anteriormente, incorporando também ações para o saneamento básico, transporte público, infraestrutura urbana, financiamento a materiais de construção e Edifício Japurá
também fomento à pesquisa. No entanto, áreas periféricas
aquelas de baixa renda efetivamente. A COHAB continuou
acabaram se estendendo sem conexões, sem urbanidade,
atuando e financiando casas populares, porém, com o
sem projeto arquitetônico e sem espaço público (SILVA,
corte nos orçamentos seus números caíram drasticamente
2009, p. 63). Além disso, as tarifas cobradas acabaram se
(SILVA, 2009, p.70). As questões de habitações sociais, a
elevando, já que a expansão do setor aliada ao não
partir disso, ficam na administração da Caixa Econômica
aumento de investimentos necessitava de um retorno de
Federal, que também reduz os custos de investimentos,
capital. A ideia de subsídios pela criação da COHAB –
deixando o país sem uma Política Nacional de Habitação
Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo,
real (BONDUKI, 1993, p. 09).
para não comprometer o aumento gritante das tarifas,
Segundo Nabil Bonduki no livro Arquitetura & Habitação
acabou promovendo uma desvalorização dos projetos
Social em São Paulo 1989-1992, a interrupção dessa
arquitetônicos por meio de uma padronização das plantas
relação com a política implantada do BNH, fez com que
residenciais para baratear os custos de sua produção.
se criasse uma visão no país em que para atender a
Porém, com a crise econômica em meados da década de
população de baixa renda, devem-se baratear os custos
80, o Banco acabou redirecionando seus financiamentos
da produção, e isso só acontece quando você deixa o
para a camada média da sociedade (SILVA, 2009, p. 65).
planejamento urbano e o projeto arquitetônico de lado. Ou seja, por todo esse tempo, a boa arquitetura foi
Dentre os erros praticados na significativa, do ponto de
relacionada a algo caro e relativamente sem importância,
vista quantitativo, produção habitacional financiada
sendo algo só de privilégio para a camada mais rica da
pelo BNH, se destaca o absoluto desprezo pela
sociedade.
qualidade do projeto de arquitetura e urbanismo, revelando-se
clara
por
soluções
impostos é o MCMV - Minha Casa Minha Vida, no qual é
sem
nenhuma
possível avaliar a volta degradante das políticas de
preocupação com a qualidade de moradia e com o
habitação social do BNH impostas na ditadura militar,
respeito ao meio físico (BONDUKI, 1993, p.09).
com seus modelos padronizados e repetitivos sem espaços
uniformizadas,
preferência
Atualmente, um dos maiores programas habitacionais
padronizadas
e
de sociabilização e conexão com a cidade. Após 22 anos de existência, o BNH foi extinto em 1986.
O arquiteto e urbanista Hector Vigliecca, atuante em
O projeto financiado durante a ditadura militar, além de
projetos de habitação e inclusão social em São Paulo, em
trazer sérios problemas sociais com projetos vagos,
entrevista a Carta Capital em 2015, critica severamente o
maciços e monótonos, também, assim como os programas
MCMV e a volta desses programas sociais que excluem
anteriores, atendeu muito mais as classes médias do que
ainda mais a população de classe baixa ao invés de
10
| apresentação do tema
Fonte: Vainer, 2013
inseri-las na cidade. Para ele, o poder público constrói "depósitos de prédios", com o objetivo de atingir metas
numéricas, mas sem se preocupar com estruturas que promovam a cidadania. Eles destinaram dinheiro para conseguir apenas uma quantidade, mas nós não transformamos o déficit habitacional do Brasil apenas atingindo um número. Temos que transformar as cidades (VIGLIECCA, 2015). Além da má arquitetura e da falta de planejamento urbano e de infraestrutura urbana para reconectar essa camada excluída à sociedade, há, ainda, a continuidade da postura de manter a classe de baixa renda nas áreas periféricas e estende-las, como também já fazia a política da BNH. Isso ressalta ainda mais a segregação sócio espacial gritante da
classe dominadora nas áreas boas e centrais, e a classe baixa ao longo das décadas excluída nas áreas periféricas, sem poder usufruir de um local mais bem estruturado e
Habitação Social do Programa BNH
próximo aos seus trabalhos, mesmo com imensos vazios urbanos em áreas centrais. Além disso, muitos dos conjuntos habitacionais criados atendem apenas a uma parcela dessas populações em áreas periféricas, enquanto
o restante ainda continua isolado e, possivelmente, em áreas de risco e irregulares. A construção de conjuntos habitacionais em áreas urbanizadas garante melhor qualidade de vida para os moradores e contribui para evitar o crescimento excessivo da mancha urbana, que tantos prejuízos Habitação Social do Programa MCMV
trazem para a cidade (BONDUKI, 1993, p. 19).
nossas casas e nos puseram aqui e puseram nossos amigos em outros lugares. Perto daqui não há um
A viabilização de projetos de habitação social nas
único lugar para tomar um café, ou comprar um
áreas centrais, destinados a moradores de cortiços, é
jornal, ou pedir emprestado alguns trocados. Ninguém
condição necessária na construção de uma cidade
se importou com o que precisávamos. Mas os
menos segregada e mais funcional (BONDUKI, 1993,
poderosos vêm aqui, olham para esse gramado e
p. 45).
dizem: ‘Que maravilha! Agora os pobres têm de tudo!’” (JACOBS, 1961, p. 14)
O problema recorrente de se realocar essas pessoas ao
centro é a perda de identidade e os laços afetivos que a
Com isso vale ressaltar algumas questões:
população acaba criando e cultivando nas áreas periféricas e no seu cotidiano. No livro Morte e Vida de Grandes
•
Qual seria a importância do arquiteto perante essas
Cidades de Jane Jacobs, a autora exalta a importância de
questões sociais?
se considerar, sobretudo, o valor do hábito e dia-a-dia das pessoas antes de se planejar as habitações e sua conexão
•
com o espaço urbano. Ela estuda e cita exemplos de
planejamento urbano?
cortiços
norte
americanos
que
foram
realojados
Qual o papel fundamental da arquitetura e do
e
reconstruídos sem preocupação com as raízes construídas
•
O que poderia ser feito e estimulado para uma
pela população local. Um dos melhores exemplos é
melhoria e reversão desse quadro tão agravante que
quando a autora cita a construção de um gramado num
segrega a população?
conjunto habitacional em Nova York chamado East Harlem: é um gramado retangular bem destacado que se
•
E como trabalhar com essas questões de um ponto de
tornou alvo da ira dos moradores (JACOBS, pg. 14). O
vista mais humano, participativo, sem quebrar o elo criado
problema real não é o gramado e sim a infelicidade que os
por essas pessoas que ficaram tanto tempo segregadas da
moradores têm de estarem em um lugar no qual não se
sociedade?
identificam, como o depoimento de uma das moradoras descrito no livro:
Nota-se, portanto, a necessidade de se olhar para essa problemática das habitações sociais com certa prioridade,
12
“Ninguém se interessou em saber o que queríamos
visto que, com o passar dos anos, ela ainda segue sem
quando construíram este lugar. Eles demoliram
uma solução plausível. Apesar das limitações não serem
| apresentação do tema
técnicas e, sim, políticas, trabalhando dentro do nosso campo de ação, a arquitetura e o urbanismo tem um
poder muito forte de transformar a vida dessa parte da sociedade, que se constitui pela maioria da população. Nossa função não é apenas estética e/ou artística, mas também social. É possível fazermos habitações sociais de qualidade, reconectando a classe de baixa renda isolada à sociedade, através de um bom planejamento urbano e da valorização arquitetônica, sem deixar de considerar que
essa população também tem demandas e merece ser ouvida e consultada. Para isso é necessário que as administrações públicas queiram realmente resolver o problema da segregação sócio espacial e não apenas lançar moradias a população sem que ela se sinta acolhida e fazendo parte daquele conjunto e perante a sociedade.
Nesse sentido, este estudo concentra-se na implantação de um Conjunto Habitacional no Bairro de Vila Prudente, região do Arco Tamanduateí em São Paulo. O projeto visa um melhor tratamento para as ocupações de Vila Prudente, melhorando as condições de vida dessa população e reconectando-a a sociedade. As habitações sociais não serão deslocadas de suas origens e espaços habituais do
cotidiano. Com planejamento urbano e arquitetônico adequado, longe de modelos monótonos e maciços, elas dialogarão com o entorno através de espaços de sociabilização e conexões, favorecendo um sentimento de inclusão e pertencimento daquele local de forma igualitária e não excludente, como vem acontecendo há tantas décadas. apresentação do tema |
13
JUSTIFICATIVA
Para o entendimento da problemática da segregação sócio espacial em São Paulo, é necessário um estudo mais aprofundado do alto crescimento das ocupações nas periferias, aliado à oferta insuficiente de habitações sociais, que acompanhasse essa evolução de aglomerados irregulares na metrópole. Para tal, foi realizado um estudo populacional das favelas de São Paulo através do trabalho Espaço e população nas favelas de São Paulo de Suzana Pasternak e Habitação em São Paulo de Maria Ruth Amaral de Sampaio e Paulo Cesar Xavier Pereira. Em São Paulo, as primeiras ocupações nasceram em meados da década de 40, junto com a expansão populacional e industrial e, no final da década de 50 e inicio da década de 60, já era possível quantificar quantos núcleos existiam em meio a capital metropolitana. justificativa |
17
Segundo Pasternak, em 1957, a cidade de São Paulo já possuía 141 núcleos, 8.448 barracos e cerca de 50 mil
Fonte: do Autor, 2017
favelados. No entanto, as ocupações acabam tendo um 900
Em 1975, era possível quantificar 117.237 favelados,
800
totalizando já 1,6% da população do Município. Em 1980, esse número já se expande radicalmente, totalizando 439.721 favelados e 5,2% da população do Município. Quando chega a década de 90, é computado quase um
milhão de favelados, 1805 assentamentos, sendo 11,3% da população municipal (PASTERNAK, 2002, p. 05).
É
População favelada (mil)
“boom” de crescimento somente a partir da década de 70.
700 600
500 400 300
nítido que, cada vez mais, a capital metropolitana se
200
encontra domada pela alta expansão e adensamento das
100
favelas. Segundo o IBGE, a taxa de crescimento dos favelados entre a década de 80 e 90 foi de 7,07% anuais, bem maior que a taxa de crescimento da população total
no período, de assetamentos
se
metropolitano
e
1,16%
ao
0
50mil
117.237mil
439.721mil
891.673mil
60
70
80
90
Tempo (Décadas)
ano. Sendo assim, os tecido
urbano
O crescimento da população favelada ainda continua
atingindo
maiores
gritante no Século XXI, conforme tabela abaixo. Segundo
dados
Sampaio e Pereira, não há ofertas para essa faixa da
apresentados no trabalho de PASTERNAK), isso tudo graças
população e ela tem cada vez menos condições de
ao histórico falho das habitações sociais que não
adquirir o que é ofertado. Como as áreas centrais sempre
conseguiram acompanhar a grande demanda de moradias
foram mais valorizadas e possuidoras de uma excelente
destinadas de fato a classe de baixa renda. O crescimento
infraestrutura, o mercado imobiliário apenas se concentra
urbano, a contínua desigualdade social, a crise econômica
nessa região, onde há consumidor com poder aquisitivo.
da década de 80, o não atendimento das classes
No entanto, a população de baixa renda, que se constitui
merecedoras e, sobretudo, a desvalorização do projeto de
maior parte da população da capital metropolitana, não
habitação social, entre outros fatores, fez com que São
tem condições de pagar por essas moradias e, com isso,
Paulo estivesse na beira de um colapso, fazendo-se refletir
as áreas periféricas, sobretudo pela autoconstrução em
que a questão habitacional merecia uma atenção especial.
áreas invadidas, só tendem a se expandir.
extensões
18
em
| justificativa
espalharam se
1990
adensaram, (até
onde
no
chegam
os
Fonte: Google Imagens, 2017
Fonte: Sampaio e Pereira, 2003
Região do Arco Tamanduateí em São Paulo
O bairro de Vila Prudente, localizado na região do Arco Tamanduateí em São Paulo, assim como todos os outros bairros dessa área, se desenvolveu a partir do “boom” de crescimento industrial com a chegada da linha férrea no local. No entanto, a descentralização das indústrias da capital para o interior com a chegada das rodovias, fez
com que o Arco Tamanduateí se convertesse em uma área pouco adensada com espaços abandonados. Sendo assim, o local passou a ser ocupado, em alguns pontos, por população de baixa renda de forma desordenada. Uma das características principais de Vila Prudente é sua alta
Ocupações do Bairro Vila Prudente em período de Enchente
concentração de assentamentos irregulares oriundas de trabalhadores imigrantes da época da alta industrialização
e/ou terrenos largados e ociosos que, por estarem em uma área próxima do centro e de infraestrutura adequada, acabam sendo domados pelo processo de favelização. Conforme o gráfico abaixo, é perceptível que mais da metade da população residente no bairro de Vila Prudente é de baixa renda, possuindo apenas até três salários mínimos. Comunidade Vila Prudente
Fonte: Subprefeitura Vila Prudente, 2016
A revitalização se faz necessária, pelas carências e pela importância do sítio, porém, é preciso uma atenção especial
quando
o
assunto
é
habitação
social,
principalmente em Vila Prudente, visto que, com a
elitização da área, pode acabar ocorrendo a “expulsão” dos moradores de baixa renda, como já vem acontecendo historicamente. Tendo em vista essa questão, o Conjunto Habitacional proposto trabalhará com as ocupações do Bairro Vila Prudente, em especial: Vila Prudente (maior, mais antiga e consolidada da região), Ilha das Cobras e Pacheco e
O Arco Tamanduateí se encontra em local estratégico e
Chaves. A área em que se localizam essas comunidades, é
com rica infraestrutura. O problema se encontra na
a área mais precária e menos adensada da região, visto
degradação da área causada pela grande concentração
que na outra extremidade do bairro, já se iniciou e se
de indústrias no local ao longo dos anos e depois seu
espalhou
abandono. Atualmente, a Prefeitura Municipal de São
requalificação. No entanto, os assentamentos do objeto de
Paulo conta com um Projeto de Intervenção Urbana (PIU),
trabalho
através do qual pretende gerar uma revitalização urbana
significativo.
um
grande
possuem
um
processo alto
de
verticalização
adensamento
e
interno
local, promovendo crescimento econômico, recuperação
O ponto de partida deste trabalho é melhorar as
ambiental e grande geração de empregos, através de mais
condições de vida dessa população através da construção
mobilidade, drenagem e áreas verdes, habitação e
de moradias de qualidade, trazendo um equilíbrio de
equipamentos públicos (PMSP, 2015). Discorre-se que isso
habitantes por hectare no local, e a requalificação da
estimulará uma alta especulação imobiliária nessa área,
área, reconectando essa parcela de caráter mais precário
fazendo com que o custo de moradia do lugar suba
à
radicalmente.
sociabilização.
20
| justificativa
sociedade,
através
de
praças
e
espaços
de
Predominância de favelas com um alto adensamento em parte do bairro menos adensado
Perigo de “expulsão” dos moradores de baixa renda, como já vem acontecendo historicamente
Melhoria das condições de vida dessa população através de moradias de qualidade, trazendo um equilíbrio de habitantes por hectare
Sentimento de inclusão e pertencimento daquele local de forma igualitária
Síntese Justificativa Fonte: do Autor, 2016
Parte mais precária com predominância de população de baixa renda
Alta especulação imobiliária com os projetos da PMSP
Permanência da população no local com a valorização de sua identidade e requalificação da área, reconectando essa parcela de caráter mais precário à sociedade
Conjunto Habitacional com Planejamento Urbano e Arquitetônico adequado, através de espaços de sociabilização e conexão com o entorno e a cidade
justificativa |
21
OBJETIVOS
1.
Desadensamento da ocupação Vila Prudente, visto que é uma das comunidades mais antigas de SP e o governo nunca destinou moradias a essa população;
2.
Reconexão da comunidade Vila Prudente e Ilha das Cobras. Com a implantação do monotrilho, os assentamentos, que sempre foram unidos, acabaram
OBJETIVO PRINCIPAL
se distanciando com a imposição dessa barreira visual;
O objetivo principal é melhorar as condições de vida dessa população através da construção de moradias de qualidade, trazendo um equilíbrio de habitantes por
3.
e Chaves, visto que são barracos bem precários,
hectare no local, e a requalificação da área, reconectando
embaixo ao viaduto Pacheco e Chaves, em meio à
essa parcela de caráter mais precário à sociedade através
insalubridade do acúmulo de lixo;
de espaços de sociabilização. A população não será deslocada de suas origens e espaços habituais do cotidiano. Enfrentado a especulação imobiliária crescente,
4.
concentração
há anos e possui uma identidade marcada, ter os mesmos
adequado,
na
planejamento contramão
urbano de
e
modelos
arquitetônico maciços
5.
espaços
de
Valorização do Planejamento urbano e arquitetônico,
comprovando que é possível reconectar essa camada
e
excluída da sociedade através de um bom projeto;
monótonos, priorizando espaços de convívio, o que despertará um sentimento de inclusão e pertencimento
criando
recuperação ambiental do Arco Tamanduateí;
maior. Apesar do espaço ser rico em infraestrutura e com
comercial,
sociabilização e convivência, além do auxílio à
privilégios cidade de quem possui um poder aquisitivo
porém
Implantação de extensas áreas verdes em meio ao Conjunto Habitacional, com equipamentos públicos e
defende-se o direito dessa população, que já vive no local
próximo à áreas centrais, a ideia é reaproveitar esse local,
Melhoria na qualidade de vida da ocupação Pacheco
6.
Oferecer cidade e cidadania a essas comunidades
daquele local de forma igualitária e não excludente,
específicas na área em estudo, que refletem uma
diferentemente de como vem acontecendo há tantas
problemática urbana e social mais geral das cidades
décadas.
brasileiras, o que contribuirá para a compreensão da questão, e desenvolvimento de possíveis soluções
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
que, ainda no caso específico, são mais gerais; objetivos |
25
ESTUDO E DADOS DO LOCAL
Localização e Histórico
LOCALIZAÇÃO Fonte: PMSP, 2015
“Art. 11. A Macroárea de Estruturação Metropolitana
abrange áreas das planícies fluviais dos rios Tietê, Pinheiros e Tamanduateí, com articulação com o Centro e prolongamento junto às avenidas Jacu-Pêssego, Cupecê e Raimundo
Pereira
de
Magalhães
e
das
rodovias
Anhanguera e Fernão Dias e caracteriza-se pela existência de vias estruturais, sistema ferroviário e rodovias que articulam diferentes municípios e polos de empregos da
Região Metropolitana de São Paulo, onde se verificam processos de transformação econômica e de padrões de uso e ocupação do solo, com a necessidade de equilíbrio na relação entre emprego e moradia.“ (PMSP, 2015) Localização do Arco Tamanduateí dentro do Município de São Paulo, fazendo parte da Macroárea de Estruturação Metropolitana pelo novo Plano Diretor.
estudo e dados do local • localização e histórico |
29
Fonte: do Autor, 2017
A área de intervenção, denominada Arco Tamanduateí,
hoje faz parte de um grande eixo central da cidade de São Paulo, pois se localiza no centro do rodoanel da região Metropolitana. Cortado por uma importante linha férrea, se constitui como uma zona industrial histórica. Seu
Mooca Cambuci Diversidade de Usos
perímetro totaliza 1.659 hectares distribuídos ao longo dos
(bairro
onde
o
projeto
será
implantado).
Vila Prudente
Ipiranga
desenvolvimento urbano do local, em meio a indústrias e traçado urbano pouco articulado, carente de áreas verdes
Bairro Planejado com Predominância de Clubes e Parques
Setor Industrial
O
bairros operários, em sua maioria por imigrantes, criou um
Parque da Mooca
Henry Ford
Bairros do Tamanduateí: Cambuci, Mooca, Parque da Mooca, Henry Ford, Ipiranga, Vila Carioca e Vila Prudente
Predominância de Patrimônios Históricos Industriais
Bairro mais Nobre com Predominância de Patrimônios Históricos
e conexões viárias. Atualmente, a Prefeitura de São Paulo
Alta Concentração de Favelas
Vila Carioca
conta com um Projeto de Intervenção Urbana (PIU), onde
Grande Mescla de Residências com Pequenas e Grandes Indústrias
pretende estimular a revitalização do local, promovendo
crescimento econômico, recuperação ambiental e grande geração de empregos, através de mais mobilidade,
Há
uma
notável
diferença
socioeconômica
no
drenagem e áreas verdes, habitação e equipamentos
desenvolvimento dos bairros ao longo dos séculos. Os
públicos. O Arco Tamanduateí se encontra em local
bairros das extremidades Cambuci, Mooca, Vila Carioca e
estratégico com rica infraestrutura. Seus problemas estão
Prudente se tornaram de caráter mais precário, com
na
predominância de cortiços, antigas vilas operárias (parte
degradação
da
área
causada
pela
grande
concentração de indústrias ao longo dos anos e posterior
superior),
e
favelas
(parte
inferior)
oriundas
de
abandono, quando os vazios da área passaram a ser
trabalhadores imigrantes da época da alta industrialização
ocupados, em alguns pontos, por população de baixa
e/ou de terrenos largados e ociosos que, por estarem em
renda de forma desordenada, como é o caso de Vila
uma área próxima ao centro e dotada de infraestrutura
Prudente.
adequada, acabaram sendo domados pelo processo de favelização, como é o caso de Vila Prudente. Já os barros
A seguir, a divisão e localização dos bairros pertencentes e que compõem o Arco Tamanduateí:
30
| estudo e dados do local • localização e histórico
Ipiranga e Parque da Mooca são de classe social mais elevada.
HISTÓRICO
Fonte: do Autor, 2017
Século XIX
Síntese dos Principais Problemas Diagnosticados no Arco Tamanduateí
Chegada da Ferrovia São Paulo Railway, trecho Jundiaí / Santos, fragmentando o território; Circulação local interrompida com a chegada da linha férrea, separando a área com a falta de transposição;
Início Século XX
Chegada também da Av. do Estado ao longo do Rio Tamanduateí, que foi retificado;
Baixa densidade populacional com o abandono das indústrias, resultando em áreas mais precárias nas extremidades e cortiços (antigas vilas operárias) e favelas (ocupações em glebas de indústrias desativadas);
Até a Década de 70
Área com constantes alagamentos devido à falta de drenagem e a alta impermeabilização do solo com o “boom” de crescimento populacional e industrial até a década de 70;
“Boom” de crescimento populacional e industrial
Formação de ilhas de calor pela grande falta de arborização. Patrimônios industriais em estado precário e de abandono, além de áreas com alto grau de solo contaminado (Vila Carioca);
Até a Década de 90
Descentralização das indústrias em São Paulo para o interior do estado, deixando as antigas fábricas desativadas;
Século XXI (Hoje)
Terrenos contaminados e construções subutilizadas de forma precária por classe de baixa renda, além de uma área totalmente degradada pela falta de mananciais ao longo do rio Tamanduateí, onde sofre constantes alagamentos. A falta de mobilidade também é um forte problema do local com a fragmentação da linha férrea;
Fonte: do Autor, 2017
Sendo assim, a ideia de um Conjunto Habitacional no Bairro de Vila Prudente com extensas áreas verdes de convívio, auxiliará na melhora das condições de vida dessa população alojada em áreas mais precárias e, de quebra,
também
contribuirá
para
a
recuperação
ambiental da área degradada ao longo dos séculos.
estudo e dados do local • localização e histórico |
31
O Bairro Vila Prudente Atualmente, a estrutura física do bairro é formada em Fonte: PMSP, 2015
sua maioria por ruas estreitas, com raras vias de grande porte
que
dão
acesso
à
implantação
de
centros
comerciais, sendo um bairro totalmente residencial. O transporte recente local traz ofertas variadas de linhas de ônibus e de trem e metrô no limite do perímetro, dando incentivo à especulação imobiliária. Com isso, parte do Fonte: PMSP, 2015
bairro que se concentra dentro do Arco Tamanduateí, foi alvo do aquecido mercado imobiliário nos anos recentes, resultando no incremento da verticalização e no possível surgimento de novas opções de serviços. (PMSP, 2015). No entanto, as ocupações a serem requalificadas no espaço urbano por esse projeto, se encontram na área em que esse processo de verticalização ainda não aconteceu, tratando-se de uma parte mais precária, com baixo adensamento adensamento
Localização de Vila Prudente no Arco Tamanduateí
populacional nas
mesclado
concentrações
de
ao
alto
aglomerados
irregulares. Com a chegada do mercado imobiliário
aliado a falta de habitações sociais atuais nesse trecho, existe o risco dessas ocupações serem realocadas para outro lugar. A área possui um imenso vazio urbano
O bairro foi fundado em 1890 e povoado por imigrantes
localizado próximo a essas assentamentos. A ideia é que o
lituanos, russos, italianos, portugueses e espanhóis. O
Conjunto Habitacional seja implantado nesse terreno em
assentamento inicial foi facilitado pela proximidade de
potencial, assim a população não se deslocaria com a
indústrias e por incentivos para a construção de moradias.
valorização do Arco Tamanduateí. estudo e dados do local • o bairro vila prudente |
33
Tendo em vista essa questão, o Conjunto Habitacional
construído e conquistado por eles próprios, desde serviços
proposto trabalhará com as ocupações do Bairro Vila
básicos como saneamento até a formação profissional,
Prudente, em especial: Vila Prudente (maior, mais antiga e
cultural e esportiva das crianças e jovens.
consolidada da região), Ilha das Cobras e Pacheco e Chaves.
Um
estudo
mais
aprofundado
dessas
comunidades foi feito e será descrito melhor a seguir.
A comunidade originou-se através da Rua da Igreja, onde os moradores iam com baldes buscar água para as suas residências. Hoje, onde se localiza a paróquia, é a viela mais larga da comunidade e que recebe todos os eventos devido ao seu único espaço mais abrangente,
OCUPAÇÃO VILA PRUDENTE
como o cine favela entre outros. A comunidade conta com
várias atividades, como o cinema ao ar livre da Fonte: Google Earth, 2017
Ecoinformação, a escola de samba Cabeções da Vila Prudente, a sede do Futebol Clube Grêmio Vila Prudente, o jornal e rádio Vozes de Vila Prudente, além de vários outros trabalhos de ONGs e dos próprios moradores É importante enfatizar, a imensa significância que a comunidade Vila Prudente possui, com uma grande carga
histórica para a cidade de São Paulo. A população que ali vive, possui um carinho enorme pela comunidade, que já foi passada por várias gerações e hoje se encontra enraizada na capital metropolitana. Atualmente, estão sendo gravados documentários que contam a história da comunidade para o resgate de sua memória, são três documentários que acabaram dando a ideia de um
lançamento de um livro A comunidade de Vila Prudente nasceu na década de 40, se constituindo como a favela mais antiga da capital
futuramente, pois apesar de
muito antiga, a prefeitura municipal nunca lhe deu a devida importância.
metropolitana e, desde então, os próprios moradores
A líder comunitária Dona Edileusa¹ da comunidade de
sempre se mobilizaram para a sua formação. De início, o
Vila Prudente sempre lutou pelos direitos dos moradores
local era apenas um pântano, área de várzea próxima ao
do local, e em uma conversa com a mesma, ela cita a
rio Tamanduateí. Com a fixação dos moradores, tudo foi
necessidade de uma atenção maior da prefeitura,
34
| estudo e dados do local • o bairro vila prudente
¹ A Srª Edileusa Ferreira da Silva me concedeu uma entrevista pelo telefone para a realização desse trabalho.
principalmente depois da ampliação do monotrilho que se
favela Vila Prudente que restará e poderá receber
encontra na Av. Prof. Luiz Ignácio Anhaia Mello, onde foi
melhorias com a oportunidade do desadensamento e a
feita a remoção de moradores com a ampliação de 40
interligação com o conjunto.
metros dessa avenida e nunca foi destinado moradias sociais para essas pessoas. ² O problema maior então da comunidade se encontra no
Fonte: Google Imagens, 2017
alto adensamento da mesma, que priva a população de ter melhores espaços de convivência e mobilidade no local, além de comprometer a salubridade. Outro problema histórico estão nas áreas de risco próximas ao rio
Tamanduateí
que
sofrem
frequentes
alagamentos.
Pensando nisso, o projeto não visa a remoção total dos moradores, mas sim uma priorização das áreas mais necessitadas e condizentes, além de um desadensamento do local e uma reconexão da mesma ao contexto urbano, como o projeto se destina ao terreno vazio ao lado, a ideia também é integrar a comunidade ao conjunto, valorizando
também a sua história. A favela é tão dinâmica e ao mesmo tempo totalmente isolada do espaço urbano por conta dessa alta densidade populacional em um espaço já muito limitado, sem possibilidades de conexão de espaços. A ideia do conjunto habitacional bem ao seu lado, oferece a oportunidade de melhorar as condições de vida dos que mais necessitam, além de colaborar para a integração
Terreno a ser implantado o Conjunto Habitacional;
dessa comunidade tão significativa ao contexto urbano,
Área de Vila Prudente preservada e/ou para uma possível fase dois;
dando a essas pessoas a oportunidade de viver melhor
Área de Vila Prudente que mais sofre com o período de enchentes;
sem descaracterizar por completo sua memória afetiva. O processo de urbanização então, se encontra sendo como uma possibilidade da fase dois do conjunto habitacional proposto. Uma diretriz projetual para parte da ² Não há informações sobre a quantidade específica de famílias removidas. Somente que elas tiveram que reconstruir suas casas dentro das comunidades, tornando o espaço ainda mais limitado.
Área de Vila Prudente mais adensada e realocada para uma proposta de equipamento público educacional; Ampliação da Rua do Centro (viela sem conexão); Localização da Paróquia (marco fundador da comunidade); Ampliação da Rua da Igreja para integração da comunidade ao conjunto;
estudo e dados do local • o bairro vila prudente |
35
OCUPAÇÃO ILHA DAS COBRAS Fonte: Google Earth, 2017
a essa parcela da ocupação de Vila Prudente, além da oportunidade de unir novamente as comunidades. Tanto a ocupação Vila Prudente quanto a Ilha das Cobras
tem
a
maior
porcentagem
de
moradores
operários, que trabalham nas indústrias próximas no bairro Henry Ford. A comunidade Ilha das Cobras totaliza, em média, 100 a 200 famílias. Já a comunidade Vila Prudente possui, em média 1000 famílias.¹
OCUPAÇÃO PACHECO E CHAVES Fonte: Google Earth, 2017
A comunidade Ilha das Cobras, segundo a Dona Edileusa, líder comunitária de Vila Prudente, nada mais é que uma ampliação da comunidade Vila Prudente após a Av. Prof. Luiz Ignácio Anhaia Mello. A ocupação foi um meio de extensão da Vila Prudente que já não possuía mais espaço em seu perímetro. Porém, segundo ela, também sofreu com a implantação do monotrilho, com a remoção
de 40 metros para a ampliação da avenida. O monotrilho separou drasticamente as duas comunidades que sempre foram muito unidas, tornando-se uma barreira visual entre as mesmas, além da dificuldade de locomoção entre elas.
A comunidade Pacheco e Chaves é um assentamento bem precário formado por barracos embaixo do viaduto
Outro ponto a ressaltar, é que a comunidade por estar
Pacheco e Chaves e em área municipal (canteiro) em meio
também bem próxima ao rio Tamanduateí sofre muito com
a insalubridade e acúmulo de lixo. Sua formação na
as enchentes. Sua realocação ao conjunto traria melhorias
verdade são de moradores de rua e/ou catadores de
36
| estudo e dados do local • o bairro vila prudente
¹ Valores estipulados para a idealização desse trabalho e com base nas conversas com moradores locais.
Fonte: Google Imagens, 2017
materiais recicláveis, que se alojaram ali por estarem próximos da Cooperativa Recifavela, uma unidade que arrecada material reciclável para coleta seletiva. O assentamento totaliza, em média, 50 famílias. ¹ Muito da precariedade da pequena ocupação, vem do fato da comunidade não possuir um local adequado para armazenamento do material coletado, tornando-se assim uma das entradas da estação de metrô Ipiranga ociosa e em péssimas condições de uso. A ideia ao realocar essa
Imagem aérea da ocupação de Vila Prudente
comunidade é também prever um espaço para galpão de armazenamento de materiais recicláveis, dando mais qualidade de vida e praticidade aos moradores locais. A escola de samba Cabeções de Vila Prudente também se localiza nessa comunidade embaixo do viaduto e em péssimas condições de conservação.
Ocupação Ilha das Cobras e VP com o Monotrilho
Ocupação Pacheco e Chaves
A Escolha do Sítio e suas Potencialidades
Além da proximidade com as ocupações, fator muito importante para a preservação da identidade e das relações dos moradores locais, o terreno em potencial escolhido se concentra em uma área bem equipada com relação à infraestrutura viária, tendo duas estações de trem relativamente próximas, a estação Ipiranga e a, recém construída, estação Tamanduateí, que faz conexão
com o sistema metroviário através da linha Verde do Metrô. Em seu entorno imediato, concentra-se uma área predominantemente industrial, visto que, apesar da área não ser mais participante do bairro Vila Prudente e, sim, do bairro Henry Ford (motivo da alta concentração industrial), ela ainda é considerada pelos moradores Vila Prudente. estudo e dados do local • a escolha do sítio e suas potencialidades |
39
Fonte: Google Earth, 2017
5
3 4
2 1
6
40
| estudo e dados do local • a escolha do sĂtio e suas potencialidades
Na sua outra extremidade, localiza-se uma pequena parte da área residencial do Parque da Mooca, um dos 1. 2. 3. 4. 5. 6.
Ocupação Ilha das Cobras; Ocupação Vila Prudente; Ocupação Pacheco e Chaves; CEI (Centro de Educação Infantil); Estação Ipiranga; Estação Tamanduateí;
bairros de classe mais nobre da região, que possui um Centro Educacional Infantil próximo. Acima, concentra-se uma pequena área comercial, onde se localiza o Sonda Supermercados. E, abaixo, parte do bairro de Vila Prudente mais precário, que ainda não foi atingido pela especulação imobiliária e nem pela verticalização. Um grande problema nesse local são as frequentes
Linha férrea da CPTM; Rio Tamanduateí; Limite do Arco Tamanduateí;
enchentes ocasionadas pela alta impermeabilização do
Limite bairro Vila Prudente no Arco Tamanduateí; Linha verde metrô;
no entorno do Centro de Detenção, que também se
Parte do bairro de Vila Prudente precário;
Parte do bairro de Vila Prudente verticalizada; Parte do bairro Parque da Mooca (residencial de classe mais elevada); Parte do bairro Ipiranga (residencial de classe mais elevada); Ocupações a serem trabalhadas e realocadas; Pequena área comercial; Predominância industrial (bairro Henry Ford e Vila Carioca); Central Plaza Shopping; Piscinão Guamiranga e localização do Centro de Detenção; Terreno em potencial;
Estações da CPTM;
solo na área de várzea do Rio Tamanduateí. Com isso, a Prefeitura Municipal construiu, recentemente, um Piscinão encontra próximo a nossa área de intervenção. Além de amenizar os constantes alagamentos, também traz uma segurança a mais ao local. O Conjunto Habitacional proposto, como já citado anteriormente,
trará
espaços
de
sociabilização
e
convivência para reconexão dessa população à sociedade, através
de
extensas
áreas
verdes
e
recreativas,
concentração comercial e equipamentos públicos. Ou seja, além de melhorar as condições de vida desses moradores, não deslocá-los de seus espaços de origem, o projeto
movimentará e trará mais “vida” à região, já que, o entorno imediato é predominantemente industrial e/ou residencial, com poucos atrativos ou áreas comerciais, apenas o Central Plaza Shopping e a pequena área comercial já citada. O terreno, além de possuir uma localização
estratégica,
possui
todos
os
requisitos
necessários, que dialogam com a ideia proposta. estudo e dados do local • a escolha do sítio e suas potencialidades |
41
RELAÇÃO COM A DISCIPLINA PROJETO INTEGRADO
2
3
5
6 7
4
10
12
1
15
8
9 16
Projeto Integrado Sem Escala Fonte: do Autor, 2017
6 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8.
42
Estação Ipiranga; Terreno em potencial; Escola de Ensino Fundamental; Alargamento do Rio Tamanduateí; Unidade Básica de Saúde; Verticalização e adensamento; Realocação SABESP; Centro Universitário;
13
11
9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16.
Núcleo Cultural e Recreativo; Passarelas de integração entre os bairros; Central Plaza Shopping; Habitação de Interesse Social; Escola de Ensino Infantil Escola de Ensino Profissionalizante; Piscinão Guamiranga e Centro de Detenção; Estação Tamanduateí
| estudo e dados do local • a escolha do sítio e suas potencialidades
14
6
Outro fator que potencializa e enriquece ainda mais o lote em questão e o bairro Vila Prudente como um todo, é o projeto elaborado na disciplina de Projeto Integrado.
Mesmo assim a área que mais sofre com o período de enchentes será realocada. ¹ Sendo
assim,
a
proposta
de
projeto
priorizará
A proposta tem o principal objetivo de conectar dois
habitações de qualidade a todos os moradores das
bairros segregados devido à linha férrea, através de um
ocupações Ilha das Cobras e Pacheco e Chaves, além de
imenso parque em seu centro, que se desmancha no
parte
Parque Linear do bairro Vila Carioca e na área mais
diminuindo seu alto adensamento para melhorias na
precária do bairro Vila Prudente, revitalizando-as. Além de
qualidade de vida dessas pessoas, através de um processo
melhorias na mobilidade e recuperação ambiental, o
de urbanização posterior (possível fase dois). O Conjunto
projeto propõe verticalização nesses bairros com baixa
Habitacional promoverá uma praça para integração da
densidade e mais equipamentos públicos necessários e
comunidade Vila Prudente com o projeto, além de espaços
atrativos
de sociabilização, que se conectam ao grande parque e as
para
predominantemente
a
movimentação
industrial.
O
sítio
da
região
escolhido
foi
dos
moradores
da
ocupação
Vila
Prudente,
potencialidades existentes e propostas em seu entorno.
conectado a esse parque através do prolongamento da
Outro fator a ressaltar, são as áreas comerciais que
Rua Guamiranga, como também conectado a Estação
movimentarão esses espaços de convivência, constituindo-
Ipiranga (transporte público mais próximo) com a criação
se como um prolongamento da escassa área comercial
de uma nova rua. Ou seja, com relação à equipamentos
existente próxima ao lote, em meio a grandes áreas
públicos, o conjunto habitacional proposto se encontra
industriais e residenciais.
bem servido, com escolas e UBS próximas, além dos equipamentos coligados inseridos ao Parque.
Fonte: Google Earth, 2017
Além do Centro Educacional Infantil perto existente, uma parte da ocupação Vila Prudente será realocada no Conjunto para uma Escola de Ensino Fundamental, um novo equipamento educacional e social de apoio ao projeto. Com relação aos frequentes alagamentos, mesmo com o prolongamento da rua, o Piscinão Guamiranga foi mantido e, além disso, foi feito um alargamento do Rio Tamanduateí no perímetro mais próximo dos pontos de
Prolongamento da Rua Guamiranga (Ligação terreno com o parque); Rua projetada (Ligação terreno com a estação Ipiranga); Estação Ipiranga;
inundação que, juntamente com a alta recuperação ambiental da área, resolverá o problema constante. ¹ Média de 200 famílias.
Terreno em potencial;
estudo e dados do local • a escolha do sítio e suas potencialidades |
43
Levantamento e Diagnóstico
A seguir, será feito um levantamento mais aprofundado do entorno do sítio escolhido. estudo e dados do local • levantamento e diagnóstico |
45
MEIO FÍSICO Fonte: do Autor, 2017
Escala 1:7500
TOPOGRAFIA E ÁREAS DE RISCO
Pontos de Inundação e Área de Alagamento
Fonte: Google Imagens e Maps, 2017
O sítio, com relação ao meio físico, encontra-se em um lugar predominantemente plano, por ser área de várzea, tendo poucos inícios de topo de morro na região. Como já citado anteriormente, um dos maiores problemas do Arco Tamanduateí, são as enchentes, inclusive no sítio, causadas pela elevada taxa de impermeabilização do solo e, com isso, a área de intervenção possui baixíssima cobertura vegetal. A Prefeitura Municipal, como tentativa de resolução paliativa dessa problemática, está construindo um piscinão
Centro de Detenção com a Construção do Piscinão
próximo ao terreno em potencial, visto que, nesse local, encontram-se quatro pontos de inundação.
Ocupações do Bairro Vila Prudente em período de Enchente
Início Alta Colina; Terraço Fluvial e Baixa Colina; Pontos de Inundação; Área de Alagamento;
Piscinão Guamiranga; Registro do alagamentos frequentes na área
USO DO SOLO Fonte: do Autor, 2017
Escala 1:7500
USO DO SOLO
Distribuição Predominante das Quadras
Fonte: Google Imagens e Maps, 2017
A região se caracteriza pela alta predominância de indústrias próximas à linha férrea, com gabarito variando de 1 à 3 pavimentos. Onde se localiza o bairro Vila Prudente e o Parque da Mooca, há uma concentração residencial grande, com poucos pontos de comércio e serviços (apenas o Central Plaza Shopping, alguns pontos no bairro Parque da Mooca e um Hipermercado acima do sítio). O gabarito mais próximo ao sítio é mais alto e significativo devido ao relevo e a predominância de
Uma das praças de Vila Prudente sem atrativo e ociosa
assentamentos irregulares.
Residencial;
Uma das Escolas Infantis próximas ao sítio
Comercial e Serviços; Industrial; Lazer; Segurança; Educativo;
Vazios Significativos; Imagem aérea do Central Plaza Shopping
GABARITO Fonte: do Autor, 2017
Escala 1:7500
GABARITO
Altura Predominante das Construções
Fonte: Google Earth e Youtube, 2017
Fonte: do Autor, 2016
Localização da Cooperativa Recifavela
Croqui da Ocupação Vila Prudente: Favela mais antiga e consolidada da região. Altamente adensada e verticalizada, com mais de uma família ocupando o mesmo lote e/ou construção;
Localização da Escola de Samba Cabeções de VP
1 Pavimento; 2 Pavimentos; 3 Pavimentos;
4+ Pavimentos; Registro do Grêmio Esportivo Vila Prudente
POPULAÇÃO E EQUIPAMENTOS PÚBLICOS Fonte: do Autor, 2017
Escala 1:7500
POPULAÇÃO
Estudo dos Equipamentos Públicos perante os Moradores
A região apresenta uma baixa densidade populacional Alta Densidade Populacional Média Densidade Populacional Baixa Densidade Populacional SOCIAL Sede Escola de Samba Cabeções de Vila Prudente INSTITUCIONAL Programa de Reciclagem Recifavela Órgão de Gestão dos Recursos Hídricos SEGURANÇA Corpo de Bombeiros
devido à predominância industrial, o que impede a vinda de
mais
equipamentos
públicos.¹
Como
já
citado
anteriormente, em alguns pontos específicos no bairro Vila Prudente, já se iniciou um processo de verticalização com o intuito de aumentar esse adensamento e redistribuí-lo melhor, já que o bairro também possui muitas ocupações irregulares, que são pontos de forte adensamento. Com a baixa/média densidade populacional, a região possui poucos equipamentos públicos e de caráter bem precários. O bairro Vila Prudente não possui nenhum equipamento de
saúde
próximo.
Com
relação
à
equipamentos
educacionais, a região possui mais Ensino Infantil e uma escola próxima de Ensino Médio. Os equipamentos de lazer são bem precários, sendo, em sua maioria, praças de rápida passagem ou com um equipamento ou outro
Centro de Detenção
em situação bem depredada, que aliado ao fato de a área
LAZER
não
Praças e Parques
possuir
nenhuma
concentração
comercial
significativa, acabam ficando vulneráveis e ociosos para a criminalidade. Sendo assim, os equipamentos de maior
Central Plaza Shopping
potencialidade na área são os de infraestrutura viária e o
EDUCATIVO
Central Plaza Shopping.² A área não possui nenhum
Ensino Médio Ensino Infantil INFRAESTRUTURA Estação CPTM Ipiranga Estação CPTM e linha verde do metrô Tamanduateí
equipamento de caráter cultural, recreativo e social,
apenas a sede da escola de samba e pequenas atividades dentro da comunidade Vila Prudente mobilizada pelos próprios moradores em condições bem precárias. ¹ Baseado no estudo de densidade da região do Arco Tamanduateí. ² Na carência de equipamentos urbanos mais interessantes, o Central Plaza Shopping ocupa o espaço deixado pela falta de outras urbanidades de convívio e atração. estudo e dados do local • levantamento e diagnóstico |
53
MOBILIDADE Fonte: do Autor, 2017
Escala 1:7500
MOBILIDADE
Principais Vias e Acessos e sua Intensidade de Trรกfego
Fonte: Google Maps e Youtube, 2016
A área possui três pontos de movimentação (Estações e Shopping),
atraindo
uma
grande
aglomeração
de
pedestres. Como já citado anteriormente, a área é bem servida com relação à infraestrutura viária, além de próxima a transportes públicos, a área possui a Avenida Dr. Francisco Mesquita, que margeia o rio, conectando a área com a ABC Paulista e o Centro da cidade através da Avenida do Estado. Além disso, é uma das avenidas de grande importância para acesso ao bairro Vila Prudente,
Registro da Ecoinformação em Vila Prudente
juntamente com a Av. Prof. Luiz Ignácio Anhaia Mello, caracterizada como um ponto de conflito. O maior problema se concentra na linha férrea, que é um grande limite de separação dos bairros da região. No entanto, próximo ao sítio, encontra-se o viaduto Pacheco e Chaves, uma das poucas transposições existentes ao longo do Arco Tamanduateí. Pontos de Conflito de Veículos Pontos de Aglomeração de Pedestres Transposições pela Linha Férrea e Rio Tamanduateí (Prioridade Veículos)
Estação Tamanduateí
Tráfego Moderado – Principais Vias de Acesso entre os Bairros Av. Dr. Francisco Mesquita – Acesso Centro / ABC Paulista (Tráfego Intenso) Linha Metrô – Acesso Linha Verde Metrô (Tráfego Intenso) Linha Férrea – Acesso Linha Turquesa da CPTM (Tráfego Intenso) Estação Ipiranga
ZONEAMENTO E LEGISLAÇÕES URBANÍSTICAS Fonte: do Autor, 2017
Escala 1:7500
ZONEAMENTO
Retirado da Subprefeitura de Vila Prudente
O Zoneamento atual se consolidou a partir do PIU
Sendo uma ZEIS II – Zona Especial de Interesse Social II
(Projeto de Intervenção Urbana). A região se caracteriza
e, segundo a Lei de Uso e Parcelamento do Solo de São
com predominância na ZPI, devido ao alto índice de
Paulo, a área máxima de um lote em ZEIS II corresponde a
indústrias. O sítio se localiza na ZEIS II: áreas vazias,
20.000m². O terreno em potencial escolhido totaliza uma
glebas ou lotes não edificados ou subutilizados, adequados
área de aproximadamente 54.000m², obrigando então a
para urbanização e destinados para a construção de
divisão da gleba. Além disso, de acordo com Lei nº
Habitação de Interesse Social (HIS). Ou seja, o sítio é
16.402/16 da Lei de Zoneamento de São Paulo, lotes ou
propício
como
glebas com áreas superiores a 40.000m² deverão ser
podemos ver, destina bastante glebas a HIS, o que é um
obrigatoriamente loteados nos termos do artigo 44,
ponto positivo para assegurar moradias à população de
destinando 40% de área pública, conforme tabelas
baixa
abaixo:
ao Conjunto
renda
no
local.
Habitacional. A
A
ZEM
se
PMSP,
estrutura
pela
transformação que o Arco Tamanduateí vem passando,
Fonte: Site PMSP, 2016
onde se propõe mudança nessas quadras, principalmente para elevar o adensamento das áreas e trazer mais equipamentos públicos, recuperação ambiental e fachadas ativas (concentrações comerciais). A ZC são zonas onde se propõe uma alta demanda de concentrações comerciais como infraestrutura de apoio para diversificar os usos.
ZPI I – Zona Predominantemente Industrial I ZEM – Zona Eixo de Estruturação da Transformação Metropolitana ZC – Zona Centralidade ZM – Zona Mista
A tabela abaixo destina-se as especificações de uso dos
lotes em ZEIS II, como ocupação, recuos e gabarito. Fonte: Site PMSP, 2016
ZEIS I – Zona Especial de Interesse Social I ZEIS II – Zona Especial de Interesse Social II
ZEIS III – Zona Especial de Interesse Social III estudo e dados do local • levantamento e diagnóstico |
57
REFERÊNCIAS PROJETUAIS
Estudos Nacionais
CONJUNTO HABITACIONAL DO RINCÃO Fonte: Oliveira, 2007
FICHA TÉCNICA Local: Vila Matilde – Zona Leste/SP Início do Projeto: 1989 Conclusão da Obra: 1992 Arquitetura: Vigliecca & Padovano Supervisão: Arq. Francisco Scagliusi Direção do Programa HABI, SEHAB¹
¹ Divisão de Projetos e Obras da Superintendência de Habitação
Popular,
da
Secretaria
de
Habitação
e
Desenvolvimento Urbano (Habi/Sehab). referências projetuais • estudos nacionais |
61
Fonte: Oliveira, 2007
O PROJETO E SUAS INFLUÊNCIAS
O projeto do Rincão foi elaborado durante a década de 90, quando a cidade de São Paulo passava por um período pós ditadura militar, com um número elevado da população de baixa renda em condições precárias e degradantes. A Prefeitura Municipal nessa época acabou Croqui de Vigliecca destacando as vilas-pátios, lugar de convívio, lazer e circulação
reformulando uma aliança com os movimentos sociais para amenizar as crises e as problemáticas consequentes
de programas falhos ao longo das décadas. Com a implantação dos mutirões autogeridos, a população pode se sentir mais integrada e reconhecida perante a sociedade, criando uma identidade com o espaço PRINCIPAIS PONTOS LEVANTADOS
1.
Valorização
de
espaços
comuns,
coletivos, públicos, permeados pelos fluxos do cotidiano (uso contínuo e intenso). 2.
Escala local, valoriza-se o estar e não apenas a circulação.
3.
Habitação social deve ser abordada a partir do desenho da cidade e não como fragmento isolado no espaço.
construído por elas mesmas. Além disso, os projetos eram dotados de boa arquitetura, com sua valorização e planejamento urbano adequado.
A demanda populacional era procedente de favelas e cortiços precários da Vila Matilde, Zona Leste de São Paulo, e regiões próximas. A riqueza da arquitetura é encontrada através da valorização dos espaços coletivo, privado e público, do estar: ou seja, os moradores recuperam sua identidade no local, e a integração da construção com o desenho urbano, e toda a infraestrutura
que possui em seu entorno, numa área de 12.878,43m² junto à Estação Vila Matilde, a estação CBTU – Companhia Brasileira de Trens Urbanos e o viaduto Vila Matilde. Antes do início dos projetos pelos arquitetos Hector Vigliecca e Bruno Padovano, uma equipe da HABI fez um estudo preliminar na área utilizando fortes influências do
62
| referências projetuais • estudos nacionais
Fonte: Oliveira, 2007
Conjunto Habitacional da Bouça – Bairro da Bouça – Porto/Portugal. Esse conjunto foi projetado em 1973 pelo arquiteto Alvaro Siza com o intuito de restaurar a população que na época vivia em péssimas condições
devido a Revolução de 74. Analisando as fotos dos dois conjuntos habitacionais, percebemos
uma
grande
semelhança
na
forma
e
disposição das unidades: ambos permitem uma melhor circulação e interação entre os moradores, priorizando o espaço de uso coletivo.
Fonte: Oliveira, 2007
Conjunto Habitacional da Bouça – Bairro da Bouça – Porto / Portugal (1973)
Conjunto Habitacional do Rincão – Vila Matilde – Zona Leste - São Paulo (1992)
LOCALIZAÇÃO E SEU ENTORNO
Segundo Oliveira, o terreno já era de propriedade do Município, o que contribuiu para alavancar o processo de realização do empreendimento. Apesar de a área ser uma sobra urbana resultante da canalização do córrego do Rincão e ter uma formato irregular, obtinha uma excelente infraestrutura. O intuito era ocupar esse vazio urbano integrando
a
classe
periférica
ao
centro
com
o
aproveitamento desses equipamentos próximos.
Fonte: Oliveira, 2007
Fonte: Oliveira, 2007
64
| referências projetuais • estudos nacionais
Fonte: Oliveira, 2007
FORMA E FUNÇÃO
A forma e as características do terreno frente à malha urbana
condicionaram-no
a
uma
ocupação
mais
introspectiva, mas que não se absteve de estabelecer relações com a cidade. As 306 unidades dividem-se em edifícios laminares praticamente idênticos, exceto pelo comprimento,
pois
cada
um
tem
uma
dimensão
longitudinal diferente devido ao córrego. A partir da Rua
Alvinópolis (sul), constrói-se um grande pórtico-cabeceira de onde partem os edifícios laminares numa orientação praticamente Leste-Oeste. Ao todo são seis lâminas de três pavimentos mais o térreo, que unidas, duas a duas, geram três pátios-corredor com acessos independentes pela rua externa. Esses pátios são como vilas que abrigam um número limitado de unidades, valorizando as relações de
vizinhança. A estratégia de unir as lâminas possibilitou às unidades do pavimento térreo uma opção de crescimento
Azul: córrego do rincão que corta o conjunto habitacional / Amarelo: circulação / Verde: lâminas de três pavimentos mais o térreo / Vermelho: lâminas mistas (laterais).
tão necessária quando se trata de unidades habitacionais tão pequenas e de famílias muitas vezes numerosas. As outras duas lâminas menores nas extremidades do conjunto possuem salas comerciais no térreo, por isso são voltadas para os extremos de frente para as ruas Evans
(leste) e Viaduto Vila Matilde (oeste), mas também possuem residências no pavimento superior. A área menor e irregular, cortada pelo córrego, acabou recebendo três edifícios de apenas dois pavimentos, seguindo a tipologia de comércios em suas extremidades.
VILA A: 90 unidades habitacionais / VILA B: 88 unidades habitacionais / VILA C: 64 unidades habitacionais. As demais 64 unidades habitacionais estão sobre as unidades mistas e na parcela menor e irregular dividida pelo córrego.
referências projetuais • estudos nacionais |
65
AS UNIDADES HABITACIONAIS
As unidades habitacionais são muito semelhantes e diferem apenas pelo tipo de circulação que lhes dá acesso, pela pouca variação de área e em função de terem um ou dois dormitórios. A maior chega a 73m² (pavimento térreo possui ampliação com quintal) e a menor a 35m² (cobertura). As unidades mostram-se bem resolvidas e econômicas, e são moduladas por um vão máximo de
5,50m aproximadamente, o que confere a possibilidade de dividi-las ao meio para a utilização de dois dormitórios iguais (1° e 2° pavimentos) ou de dividi-las de forma irregular, assegurando uma área social mais ampla e uma área intima menor (pavimento térreo). CIRCULAÇÃO Segundo Oliveira, com três pavimentos mais o térreo, o projeto abstrai o uso de elevadores, sendo todo o conjunto acessado por ruas internas, escadas coletivas e privadas (compartilhadas por duas famílias), e corredores abertos suspensos. A partir do interior dos pátios-corredor é possível acessar as unidades térreas e através de escadas,
compartilhadas por duas famílias, acessar o 1º pavimento. Nas pontas das lâminas junto ao córrego e na cabeceirapórtico situam-se os conjuntos de escadas coletivas que levam ao 2º pavimento onde se acessa um longo corredor, que também possui conjuntos de escadas (compartilhadas por duas famílias) que acessam o 3º pavimento. Fonte: Oliveira, 2007
66
| referências projetuais • estudos nacionais
Fonte: Oliveira, 2007
Nas lâminas comerciais (extremidades) há escadas, que a partir da rua, acessam duas unidades no 1º pavimento e nas lâminas mais baixas (área menor dividida pelo córrego) existe apenas a escada para o 1º pavimento.
Orientação das UH para ruas de pedestres internas, ou pátios, que por sua vez criam espaços contínuos junto ao córrego canalizado
Fonte: Oliveira, 2007
Área remanescente de canalização de córrego
Trecho de elevação interna das lâminas. Fonte: Oliveira, 2007 Acesso independente pela rua (apto 01) / Comércio e Serviços voltados para o bairro
Estudos Nacionais
CONJUNTO HABITACIONAL JARDIM LIDIANE III Fonte: Site Andrade Morettin, 2016
FICHA TÉCNICA Local: Zona Norte/SP Início do Projeto: 2011 Conclusão da Obra: 2014 Arquitetura: Andrade Morettin
referências projetuais • estudos nacionais |
69
Fonte: Site Andrade Morettin, 2016
O PROJETO E SUAS INFLUÊNCIAS
O Conjunto Habitacional Jardim Lidiane III encontra-se em um bairro de grande transformação, carente de espaços públicos, áreas de lazer e equipamentos públicos. A favela é estruturada a partir de uma única via de acesso, tendo como ponto forte uma área comercial frequentada pelos moradores do bairro. Em consideração ao urbanismo envoltório e a dinâmica
social da favela na qual o conjunto se insere, o projeto tem seu principal foco na criação de espaços públicos de
PRINCIPAIS PONTOS LEVANTADOS 1.
qualidade, que excedem os limites do edifício e geram em
Formação de espaços de convívio não só para o conjunto, mas para toda a comunidade, com áreas de lazer,
comercial
e
equipamentos
públicos. 2.
foi criada uma grande praça central no miolo da gleba, que organiza os edifícios em seu entorno, ampliando as opções de lazer da região. Em relação à circulação viária
e ao acesso ao transporte público, abriu-se uma nova rua que se conecta à uma rua já existente, oferecendo mais
Revolução
nas
elevações
em
fachadas cheios
e
com vazios,
criando um ritmo de vãos em meio à detalhes coloridos contrastando no branco do edifício. 3.
seu entorno melhorias para toda a comunidade. Para tal,
Quebra
de
uma alternativa de acesso à toda favela, conectando-a ao bairro e permitindo a circulação de ônibus em seu interior. O principal objetivo do projeto é a promoção de integração
e
acessibilidade,
buscando
na
diferenciação do posicionamento dos edifícios, mesmo eles sendo idênticos e
com
a
mesma
tipologia
apartamento.
70
| referências projetuais • estudos nacionais
as
condições de moradia, reforçando a inclusão desta
comunidade à chamada cidade formal. monotonia
melhorar
de Corte e Fachada | Fonte: Site Andrade Morettin, 2016
Fonte: Site Andrade Morettin, 2016
LOCALIZAÇÃO E SEU ENTORNO O Conjunto Jardim Lidiane III, é uma intervenção habitacional urbana na favela Lidiane em São Paulo, realocando os moradores irregulares para dentro do complexo de cinco grupos de interesse social. Junto à alça de acesso da ponte Júlio de Mesquita Neto, zona norte de
São Paulo, o conjunto encontra-se em meio a uma zona industrial, de difícil acesso e com frequentes alagamentos. FORMA, FUNÇÃO E CIRCULAÇÃO O acesso se dá pela via Sampaio Corrêa, localizada à leste do Conjunto. Este é o único acesso à habitação. O
Localização do Projeto e as demais habitações do Jardim Lidiane, juntamente com a rua nova proposta.
projeto está estruturado pela junção de quatro blocos implantados ao redor de um pátio central, porém em posicionamentos diferenciados. Esse pátio conta com quadra, bancos e equipamentos de ginástica. No seu entorno, conformando uma espécie de loggia para a praça, foram posicionadas áreas comerciais, equipamentos públicos e de uso comunitário: um telecentro, um ponto de leitura e um salão para reuniões da associação de moradores. Em complemento a praça, no alinhamento da rua Sampaio Correia, foram previstas áreas comerciais no térreo e uma marquise desenhada para abrigar os pedestres que passarem por esta calçada. Toda a circulação se faz por escadas abertas e passarelas elevadas que, afastadas das paredes do edifício, garantem a privacidade de cada unidade e ao mesmo tempo permitem o contato visual entre todos os andares. A junção dos
Implantação | Fonte: Site Andrade Morettin, 2016
referências projetuais • estudos nacionais |
71
Fonte: Site Andrade Morettin, 2016
edifícios para a formação de um bloco, é composta por essas passarelas metálicas em um vão central entre os
prédios, que permite a circulação vertical e horizontal. O vão possui efeito chaminé, melhorando o clima no interior, promovendo ventilação e iluminação no núcleo do edifício, formando também praças de acolhimento cobertas, que, com pé-direito de quatro pavimentos de altura, conectam os edifícios vizinhos.
Formação do Pátio Central
Fonte: Site Andrade Morettin, 2016
Circulação Vertical e Horizontal conectadas por uma cobertura mais elevada
Fonte: Site Andrade Morettin, 2016
AS UNIDADES HABITACIONAIS O Projeto do Conjunto Habitacional Jardim Lidiane III possui uma tipologia única, com dois quartos, uma sala de estar conjugada com a cozinha, um banheiro e uma área de serviço, totalizando aproximadamente até 50m², não necessitando de estacionamentos.
Fonte: Site Andrade Morettin, 2016
Estudos Internacionais
CONJUNTO HABITACIONAL NEMAUSUS Fonte: Nemausus Habitação Social, 2009
FICHA TÉCNICA Local: Nimes - França Início do Projeto: 1985 Conclusão da Obra: 1988 Arquitetura: Jean Nouveal
referências projetuais • estudos internacionais |
75
Fonte: Nemausus Habitação Social, 2009
O PROJETO E SUAS INFLUÊNCIAS
O Conjunto Habitacional Nemausus traz uma revolução na tipologia das habitações sociais na década de 80 na França. Construído em uma zona industrial na parte sudoeste de Nimes, ele é visto como um modelo alternativo e radical, buscando uma melhoria entre morador e espaços coletivos perante os programas habitacionais antes padronizados, sobretudo na França, PRINCIPAIS PONTOS LEVANTADOS
durante o período pós guerra. Além de fornecer uma
1.
tecnologia industrializada procurou reduzir custos da
2.
imagem nova para a habitação pública, a aplicação de
Abundância de espaço como critério principal.
construção e fornecer desse modo moradias maiores e
Grande variedade de plantas (17
construções anteriores padronizadas, porém com mais
melhores.
modelos para 114 apartamentos), com pavimentos à escolha (um, dois
3.
técnica
também
era
restrições financeiras e menor criatividade projetual, o que
não permitiu tanta flexibilidade nem a mesma qualidade
O menor número possível de áreas
industrializado, área na qual a França destaca-se do
cobertas
e
aplicar
terraços
os
princípios
e
os
materiais
edifício
guerra, à construção de habitação social. Os dois blocos de apartamentos expressam a imagem marítima e
Distribuição
por
patamares
externos
na
fachada
simples
em
concreto
Construção
do
contexto geral pela larga experimentação desde o pós
escadas
e
aeronáutica,
dentro
da
estrutura
componentes industriais pré-fabricados.
norte.
pouco espesso com cobertura de alumínio;
76
nas
arquitetônica. A edificação foi uma experiência radical em
espaçosos na fachada sul.
5.
buscada
ou três), todos com duas faces.
coletivas
4.
Essa
| referências projetuais • estudos internacionais
Croqui | Fonte: Nemausus Habitação Social, 2009
de
junção
de
Fonte: Nemausus Habitação Social, 2009
LOCALIZAÇÃO E SEU ENTORNO O terreno irregular possui 10.400m² em local que antes tinha sido um viveiro de plantas. A paisagem urbana envolvente é uma mistura de habitação de baixo nível e indústria leve. Por possuir forma irregular, o terreno trouxe influências na diferenciação dos edifícios com relação ao
seu comprimento. Localização do Projeto e seu Entorno
FORMA, FUNÇÃO E CIRCULAÇÃO O projeto está estruturado em 2 blocos paralelos com 3 pavimentos.
As
extremidades
da
face
Leste
são
arredondadas e voltadas para a Avenida Général Leclerc. Ambos os blocos estão sob pilotis em um nível mais baixo, permitindo um estacionamento coberto com 139 vagas, que é acessado por rampas na extremidade Oeste dos edifícios, de face mais quadrada. Entre os edifícios se concentra uma praça como um elemento-chave para sociabilização dos moradores. Ela conta com uma grande
Estacionamento e Acessos ao Edifício por Veículos
quantidade de árvores e equipamentos como forma de incitar a permanência e o convívio entre os moradores, resgatando princípios básicos de sociabilidade e de identificação com o entorno. Esta preocupação constitui-se como um dos pontos inovadores do projeto Nemausus. Outra grande questão é a diferenciação de terraços públicos e privados, já que os acessos de pedestres se dão por escadas externas nas laterais da face Norte dos edifícios, promovendo até maior espaço para os referências projetuais • estudos internacionais |
77
apartamentos. Na parte interna se concentram apenas os elevadores. Os terraços voltados para a face Sul acabaram
ficando mais íntimos e maiores. No total, o conjunto possui 114 apartamentos divididos em três tipologias diferentes quanto ao arranjo espacial e área, sendo térreo, duplex ou triplex, resultando em 17 tipos diferentes de unidades. A média de área por apartamento é de 91 m², muito acima de um tradicional exemplar de habitação social.
Verde: Praça / Espaço de Convívio entre os Edifícios Azul: Circulação Pública de Acesso aos Apartamentos Vermelho: Circulação Privada dos Apartamentos
Funcionamento da Escada Externa | Fonte: Nemausus Habitação Social, 2009
Implantação | Fonte: Nemausus Habitação Social, 2009
78
| referências projetuais • estudos internacionais
Fonte: Nemausus Habitação Social, 2009
Praça ao Centro
Fonte: Nemausus Habitação Social, 2009
AS UNIDADES HABITACIONAIS
O apartamento tipo é definido pelas medidas de 5x12m, incluindo o espaço do terraço que é coberto pelo pavimento superior. As áreas variam em tamanho de 60m² a 160m². Apesar das tipologias variadas, os edifícios em si são modulados em concreto
pré-fabricado de fácil
repetição e montagem. Os prédios foram apoiados sobre uma série de pilares de concreto dispostos a cada cinco
metros, delimitando a área de estacionamento. Esta decisão acompanha a ideia de permitir a continuidade visual de um lado a outro, além de possuir um baixo custo construtivo.
Porém,
com
o
arranjo
de
tipologias
diferenciadas entre os três pavimentos, essa padronização se quebra, sendo também um dos marcos inovadores do projeto.
Fonte: Nemausus Habitação Social, 2009
Setorização Plantas - Roxo: Repouso / Amarelo: Convívio / Vermelho:
Alimentação
/
Verde:
Higiene
/
Azul:
Manutenção
Apartamento Simples
APARTAMENTO SIMPLES
Apartamento Duplex Planta | Fonte: Nemausus Habitação Social, 2009
Corte | Fonte: Nemausus Habitação Social, 2009
Apartamento Triplex
APARTAMENTO TRIPLEX
APARTAMENTO DUPLEX
Planta | Fonte: Nemausus Habitação Social, 2009 Planta | Fonte: Nemausus Habitação Social, 2009
Corte | Fonte: Nemausus Habitação Social, 2009
Corte | Fonte: Nemausus Habitação Social, 2009
referências projetuais • estudos internacionais |
81
Análise Crítica Apesar de possuir apenas um único acesso e tipologia de apartamento, o Conjunto Habitacional Jardim Lidiane III é muito bem elaborado com a questão das fachadas, posicionamento dos edifícios formando um pátio central O estudo do Conjunto Habitacional do Rincão foi
com áreas comerciais e equipamentos públicos, além da
fundamental para se confirmar que é possível enfrentar a
circulação, que não tira a privacidade dos moradores, e é
problemática das habitações e a segregação sócio espacial
toda conectada e, inclusive, além de conectar um par de
vigente na cidade de São Paulo, através de modelos mais
edifícios formando um bloco, conecta todos os blocos em
bem elaborados e estudados, inserindo-se classes de baixa
si, fazendo com que o conjunto todo de edifícios e blocos,
renda em áreas centrais e com boa infraestrutura,
seja único. A melhoria e intervenção na favela Lidiane foi
valorizando espaços de convívio e permanência perante à
bem vinda, o projeto possui grande riqueza também com
malha urbana. Ocupando a área de várzea, um problema
a valorização de espaços públicos e de convívio, além de
que o conjunto sofreu ao longo dos anos, foi a questão das
promover inclusão não só social, mas também digital,
enchentes, pelo conjunto estar muito próximo do córrego
com a implantação de um telecentro, representando uma
do Rincão, que foi canalizado, o cabendo críticas a esse
nova necessidade de inclusão no século XXI.
tipo de ocupação das margens fluviais e de canalização,
O estudo do Conjunto Habitacional Nemausus também
na mão contrária da renaturalização. Há muitos paralelos
faz refletir sobre a importância da diversidade de
do projeto do estudo de caso com a área de influência
tipologias habitacionais e priorização de espaços de
para o projeto proposto, além das enchentes, consequentes
convívio para quebrar a monotonia dos conjuntos
da ocupação de várzea, como acontece nas comunidades
padronizados. Apesar de terem sido produzidos em
de Vila Prudente. O Arco Tamanduateí também é muito
contextos distintos, assim como o Conjunto Habitacional
rico em infraestrutura de transportes coletivos urbanos. Este
do Rincão, o Nemausus também traz esse conceito de
estudo de caso traz uma reflexão importante com relação a
quebrar a padronização das habitações sociais e trazer a
valorização dos espaços sociais entre os moradores para
valorização de espaços de convívio e permanência para a
se criar um vínculo não só entre eles, mas também com o
interação dos moradores, tanto no conjunto quanto no
local.
espaço urbano. referências projetuais • análise crítica |
83
O PROJETO
Divisão da gleba de acordo com as legislações urbanísticas levantadas no capítulo do sítio;
Lt. 01 16m²
Lt. 02 10m²
Lt. 03 15m²
Lt. 04 13m²
Lt. 02: 200 apartamentos Ilha das Cobras Lt. 01: 300 apartamentos Vila Prudente Lt. 04: 100 apartamentos Vila Prudente e Pacheco e Chaves
Projeto considerando: 1.
650 famílias realocadas de Vila Prudente;
2.
200 famílias retiradas de Ilha das Cobras;
3.
50 famílias retiradas de Pacheco e Chaves;
ÁREA TERRENO: 60.000m²
ÁREA OCUPADA: 16.800m²..................TO: 0,3 ÁREA CONSTRUÍDA: 67.200m².............CA: 1,5 MATERIALIDADE: Concreto e Metal (Passarelas) ESTRUTURA: Concreto Pré-moldado / Viga treliçada nas passarelas
Lt. 03: 300 apartamentos Vila Prudente
TOTAL DE APARTAMENTOS: 900 TOTAL DE COMÉRCIOS: 100 TOTAL DE BANHEIROS PÚBLICOS: 10 TOTAL DE VAGAS DE GARAGEM: 300 ¹ ¹ O terreno se localiza próximo a CPTM Ipiranga e dentro do eixo de estruturação urbana pelo novo Plano Diretor, não há obrigatoriedade de vagas a todas as unidades, incentivando a utilização dos transportes públicos próximos.
o projeto |
87
Conceito e Partido
Para a realização desse projeto, foram levantadas e exploradas as seguintes questões: Quais ações urbanas são necessárias para transformar áreas degradadas em cidade? Urbanizar um assentamento precário não seria uma forma de consolidar a pobreza? O
projeto
de
requalificação
proporciona
somente o mínimo de habitabilidade para as pessoas ou transforma esse espaço em cidade? O
projeto
de
requalificação
proporciona
espaços de qualidade urbana suficientes para que pessoas da dita cidade formal também usem essas áreas? Todo o projeto em questão foi refletido pensando na comunidade como uma grande família que tem o direito de obter melhor qualidade de vida, sem separá-las e deslocá-las de suas origens, além de inseri-las a cidade e, sobretudo, trazer a cidade até elas. o projeto • conceito e partido |
89
Fonte: do Autor, 2017 Sonda Supermercado
Parte de Vila Prudente muito adensada realocada para proposta de Escola de Ensino Fundamental e Integral de Apoio às Comunidades;
Oeste
Vista Terreno (Leve Declividade)
Centro Educacional Infantil
Parte de Vila Prudente realocada por estar em área de risco; Parte de Vila Prudente preservada para possível fase 2 futuramente; Área de alagamento;
Leste
Pequena área comercial; Ventos predominantes do Sudeste;
Sem escala
Percepção das Potencialidades e Estudo Bioclimático
Extremidade predominantemente industrial; Extremidade predominantemente residencial; Alto ruído da Avenida, Viaduto e Monotrilho;
Parte de Vila Prudente muito adensada realocada para proposta de Escola de Ensino Fundamental e Integral de Apoio às Comunidades; Parte de Vila Prudente preservada para possível fase 2 futuramente; Pequena área comercial; Extremidade predominantemente industrial;
eixo empregabilidade
Extremidade predominantemente residencial; Remoção da curva existente no terreno;
eixo comercial
Ampliação da viela Rua da Igreja (integração VP com o projeto);
Ampliação da viela Rua do Centro (antiga viela sem saída); Sem escala
Estruturação do Eixo Viário e Divisão da Gleba
90
| o projeto • conceito e partido
Divisão da gleba na horizontal (proximidade emprego/moradia); Divisão da gleba na vertical (ampliação da área comercial); Localização da paróquia de VP (marco fundador da comunidade);
Formação de praça pública de integração comunidade/conjunto;
Fonte: do Autor, 2017
Edifícios tipo 01 (equipamentos públicos no térreo); Edifícios tipo 02 (estacionamentos semienterrados); Formação dos espaços de convivência entre os edifícios;
Parte de Vila Prudente muito adensada realocada para proposta de Escola de Ensino Fundamental e Integral de Apoio às Comunidades; Parte de Vila Prudente preservada para possível fase 2 futuramente; Pequena área comercial e edifícios tipo 03 (área comercial no térreo); Extremidade predominantemente industrial; Extremidade predominantemente residencial; Passarelas de conexão entre os edifícios (reforço da ideia de família); Ampliação da viela Rua da Igreja (integração VP com o projeto); Passagem direta da cidade pelo conjunto;
Marcação da área alagável;
Sem escala
Posicionamento dos Edifícios e Formação dos Espaços de Convivência e Integração
Integração projeto com a escola proposta¹; Localização da paróquia de VP (marco fundador da comunidade);
Edifícios tipo 01 (equipamentos públicos no térreo); Edifícios tipo 02 (estacionamentos semienterrados); Parte de Vila Prudente muito adensada realocada para proposta de Escola de Ensino Fundamental e Integral de Apoio às Comunidades; Parte de Vila Prudente preservada para possível fase 2 futuramente; Pequena área comercial e edifícios tipo 03 (área comercial no térreo); Extremidade predominantemente industrial; Extremidade predominantemente residencial; Passarelas de conexão entre os edifícios (reforço da ideia de família);
Sem escala
Deslocamento dos Edifícios para quebra de monotonia
Lotes maiores com deslocamento dos edifícios para quebra de monotonia;
o projeto • conceito e partido |
91
O partido do projeto se inicia com a percepção das
Fonte: do Autor, 2017
potencialidades em seu entorno para dentro da gleba. De início, a gleba foi dividida em quatro partes através de um sistema viário em forma de cruz. O eixo empregabilidade
área alagável protegida com o pequeno aterro 3,00
conecta
o
conjunto
habitacional
à
área industrial,
aproximando ainda mais emprego de moradia. O outro
projeto no nível 1,50m 0,00
parte do estacionamento semienterrado
Sem escala
Vista Terreno Leve declividade aproximada de 3m
eixo é um prolongamento da pequena área comercial, já que há uma desvalorização de áreas comerciais nesse local de grande predominância industrial/residencial. O conceito de fachadas ativas em meio à habitação social, movimentará a região e suprirá as necessidades de mais equipamentos comerciais no local. A curva do terreno foi
Além do alargamento do Rio Tamanduateí proposto em
removida através da ampliação da viela denominada Rua
Projeto Integrado e a atual construção do piscinão
do Centro pela comunidade, antiga viela sem saída, e a
Guamiranga pela Prefeitura Municipal para amenizar as
viela denominada Rua da Igreja foi ampliada, conectando
enchentes constantes, foi observado uma leve declividade
o restante da comunidade preservada ao conjunto através
no
da formação de uma praça pública.
terreno
no
aproximadamente
sentido metros
longitudinal,
Rio
A partir da divisão, inicia-se o processo de organização
área
de
dos lotes criados com a seguinte priorização de dentro pra
alagamento no terreno e em parte da comunidade de Vila
fora: comércios ao centro, espaços de sociabilização entre
Prudente que foi realocada devido ao problema.
os edifícios e estacionamentos nas extremidades. Com
formando
uma
em
direção
caindo ao
Tamanduateí,
três
pequena
Outra solução chave encontrada para a também
exceção
dos
edifícios
que
acompanham
o
eixo
precaução dos alagamentos, foi o seu nivelamento na cota
empregabilidade, o térreo é um grande vão livre para que
1,50m, nível da maior parte do terreno que pode ser
não seja interrompido os espaços de sociabilização na
considerado plano, subindo a área alagável e formando
extremidade esquerda, atraindo a cidade ao conjunto com
uma espécie de barreira bem sútil, já que a mexida na
a construção de uma passagem direta em meio aos
terra é praticamente nula. Na outra extremidade, onde não
espaços. Na outra extremidade, possui áreas sugestivas
há
destinadas
esse
problema,
os
semienterrados.
92
| o projeto • conceito e partido
estacionamentos
ficariam
comunidade.
a
equipamentos
públicos
de
apoio
à
É importante ressaltar a significância dos espaços de sociabilização, as passarelas e a praça de integração, que são os elementos chave do projeto, além do eixo viário em cruz, que deu origem a toda a linha de raciocínio, funcionamento e ordem do conjunto. Os Espaços de Sociabilização, como estudado nas referências projetuais e debatido em todo o trabalho, promovem melhores condições de vida com espaços de convívio e interação tanto entre a comunidade como com o espaço urbano envoltório. Além de quebrar a monotonia dos projetos questionáveis dos programas sociais, é um espaço recreativo e acolhedor, não se transformando em espaços ociosos devido ao eixo comercial que o movimentará ao longo do dia. A ideia das passarelas de conexão veio da inspiração da comunidade ter o conceito de uma grande família, em que todos se conhecem e que de alguma forma estão conectados. Para não se tornarem espaços sem uma funcionalidade, ela torna os espaços de sociabilização mais privativos, sem fechá-los para a cidade, mas configurando-os,
permitindo
ao mesmo
tempo
uma
passagem direta para quem é de fora. A praça de integração com a área restante e resguardada da comunidade
Vila
Prudente,
é
onde
o
espaço
de
sociabilização se torna totalmente público, integrando comunidade, sociedade e o conjunto habitacional. Outro fator para a quebra de monotonia foi o deslocamento
dos
edifícios
maiores
na
extremidade
esquerda do projeto, tornando-o ainda mais dinâmico e atraente para o público externo e interno. o projeto • conceito e partido |
93
Implantação, Setorização e Volumetria
0,00m
Rua do Centro
Rua João Padilla
Av. Henry Ford
1,50m 1,50m
Rua Dianópolis
Rua Guamiranga
Fonte: do Autor, 2017
3,00m
Escala 1:2500
IMPLANTAÇÃO GERAL
Det. 02
Det. 01 3,00m
0,00m
Vista Terreno pela Rua Guamiranga Prolongada (leve declividade) Escala 1:2000 alt. edifício - 19,00m
19,00m – alt. edifício
nível natural - 3,00m cota do proj. - 1,50m proj. estacion. – 0,25m
2,25m – início edifício 1,50m – cota do proj. 0,00m – nível natural
Det. 01 – Lt. 01 (est. semienterrado) Escala 1:1000
Det. 02 – Lt. 03 (proteção alagamentos) Escala 1:1000
Fonte: do Autor, 2017 Estruturação dos Espaços de Circulação Sem Escala
Fonte: do Autor, 2017
A circulação foi pensada de uma forma que, apesar de possuir um eixo viário cortando a gleba, todo o conjunto habitacional priorize os pedestres com os estacionamentos
Viário e Acesso aos Estacionamentos (extremidades)
e seus respectivos acessos nas ruas envoltórias. Já os pedestres possuem livre acesso pelas circulações, tanto pelas ruas das extremidades tanto pelos espaços de sociabilização. Os
dois
edifícios
maiores,
voltados
para
a
Rua
Guamiranga e o menor voltado para viela ampliada Rua do Centro, possuem rampas que chegam apenas ao
Circulação Livre de Pedestres (caminhos retos de passagem e diretos nas caixas de escada)
pavimento térreo, dando a possiblidade de apartamentos acessíveis. Elas são acessadas tanto pelos estacionamentos no “subsolo” quanto pelos espaços de convivência. As circulações dos estacionamentos (escadas secundárias) ao edifício acontecem apenas até o primeiro andar, sendo as circulações principais próximas, dando acesso a todo o restante dos edifícios.
Fonte: do Autor, 2017
Espaços de Sociabilização (caminhos sinuosos, mais de permanência)
o projeto • implantação, setorização e volumetria |
97
SETORIZAÇÃO
1. 2.
3. 4.
Sem Escala
PAVIMENTO TIPO
Espaço para a Associação de Moradores e um Telecentro; Espaço para a sede do Grêmio Vila Prudente e Escola de Samba Cabeções de Vila Prudente; Espaço para o jornal e rádio Vozes de Vila Prudente e o Ecoinformação; Espaço para Galpão de Armazenamento de Materiais Recicláveis (para a comunidade Pacheco e Chaves);
Apartamentos acessíveis com estacionamentos no “subsolo”; Circulação; Áreas destinadas à equipamentos públicos;
1
Escadas principais;
2
Área comercial; Rampas de acesso aos apartamentos acessíveis no térreo; Escadas secundárias;
4
3
Fonte: do Autor, 2017
98
| o projeto • implantação, setorização e volumetria Fonte: do Autor, 2017
Sem Escala
PAVIMENTO TÉRREO
Apartamentos variados de 01, 02 e 03 dormitórios;
Os equipamentos públicos de apoio à comunidade são, na verdade, ideias sugestivas de espaços melhores e planejados para as atividades da comunidade de Vila Prudente, pois as atuais são bem pequenas e precárias. Os espaços destinariam lugares mais condizentes para o Futebol Clube Grêmio Vila Prudente, o Ecoinformação, que teria um lugar próprio na praça para o cinema ao ar livre,
a escola de samba Cabeções da Vila Prudente e o jornal e rádio Vozes de Vila Prudente. Também será possível um local para a reunião dos moradores (Associação) e um Telecentro, promovendo além da inclusão social, inclusão digital. A comunidade Pacheco e Chaves, que tem como principal fonte de renda, a coleta seletiva, foi proposto um
galpão de armazenamento de materiais recicláveis próximo ao edifício em que se localizariam as pessoas dessa comunidade, por isso não possui passarela de ligação com os demais edifícios pertencentes a comunidade Vila Prudente e Ilha das Cobras, deixando também o eixo comercial totalmente livre e convidativo para o entorno urbano.
Fonte: do Autor, 2017
o projeto • implantação, setorização e volumetria |
99
SITUAÇÃO Fonte: Google Imagens, 2017
Terreno onde o projeto está sendo implantado; Assentamentos participantes do projeto;
LEGENDA 1. Edifício Tipo 02: Edifícios com estacionamentos semienterrados e apartamentos acessíveis considerados no pavimento térreo (nível 2,95m); 2. Edifício Tipo 03: Salas comerciais tanto para a Rua João Padilla quanto para os espaços de convívio movimentando-os; 3. Acessos Veículos nas extremidades; 4. Estacionamentos para o comércio; 5. Edifício Tipo 01: Edifícios com equipamentos públicos no térreo. Espaço para a sede de jornal e rádio Vozes de Vila Prudente e Ecoinformação;
100
| o projeto • implantação, setorização e volumetria
6. Galpão para armazenamento de materiais recicláveis, além de maciços arbóreos para contenção dos altos ruídos vindo da Av. Prof. Luiz Ignácio Anhaia Mello e frequentes enchentes; 7. Espaços de Convívio entre os edifícios contendo Playgrounds, Academias ao Ar Livre, Hortas Urbanas, Pistas de Skate, Parklets, Bicicletários e Mesas de Jogos; 8. Quadras Poliesportivas para as comunidades e campeonatos dos grêmios, além de ensaios para a escola de samba Cabeções de Vila Prudente; 9. Espaço para o Cinema ao Ar Livre do Trabalho da Ecoinformação. Arquibancada afundada 0,50m; 10. Edifício Tipo 01: Edifícios com equipamentos públicos no térreo. Espaço para a sede do Grêmio Vila Prudente Futebol Clube e Escola de Samba Cabeções de Vila Prudente; 11. Ligação comunidade e projeto através da Praça; 12. Praça contendo, além das quadras e cinema, Playgrounds, Academias ao Ar Livre, Pistas de Skate, Parklets, Bicicletários, Mesas de Jogos e Piquenique, Churrasqueiras, Redários, Áreas para Leitura e Espaço para Feirinhas da Comunidade; 13. Edifício Tipo 01: Edifícios com equipamentos públicos no térreo. Espaço para a sede da Associação dos Moradores e a implantação de um Telecentro (inclusão digital); 14. Ligação com a Escola de Ensino Fundamental; 15. Sonda Supermercado (Pequena área comercial ampliada com o projeto para dentro do conjunto); 16. Escola de Ensino Fundamental. Ela funcionará em período integral, contendo várias atividades extracurriculares para as crianças e jovens da comunidade. Além disso, ela funcionará de final de semana para as comunidades em parcerias com ONGs para atividades recreativas, culturais e educativas; 17. Parte da Comunidade Vila Prudente preservada para uma possível fase dois projetual; 18. Sentido Estação CPTM Ipiranga; 19. Sentido Bairro Henry Ford e área Industrial (emprego); 20. Sentido CEI (Centro Educacional Infantil) e bairro Parque da Mooca (residencial); 21. Sentido Parque Projetado na Disciplina de PI; 22. Sentido Parque Projetado na Disciplina de PI e bairro Vila Prudente;
Fonte: do Autor, 2017
18 01
15 02
B
03
02 01 20 07
03 04
07
16
03 14 13 19 10 04
03
08
A
A
12
17 11
07 09 04 05 03
21
01
22
06
06 02
B
IMPLANTAÇÃO TÉRREO (Nível 1,50m) Escala 1:1500
CORTE AA Escala 1:1500
CORTE BB Escala 1:1500 o projeto • implantação, setorização e volumetria |
101
Fonte: do Autor, 2017
Fonte: do Autor, 2017
Plantas Pavimentos e Cortes
As plantas e cortes são apenas do lote 02, pois nele já possui todas as tipologias de edifícios projetadas (01, 02 e 03), tornando-se o lote base de detalhamento do projeto como um todo. o projeto • plantas pavimentos e cortes |
109
Fonte: do Autor, 2017
D
E
0,25m
C
Rua João Padilla
C
F
F
D
E
Planta do estacionamento semienterrado. O Conjunto totaliza, em média 300 vagas (01 vaga para cada 03 unidades habitacionais). Como se localiza próximo a CPTM Ipiranga e dentro do eixo de estruturação urbana pelo novo Plano Diretor, não há obrigatoriedade de vagas a todas as unidades, incentivando a utilização dos transportes públicos próximos.
PAVIMENTO INFERIOR Escala 1:500
19,00m
18,00m 15,00m 12,00m 9,00m 6,00m 2,95m
1,70m
1,50m 0,25m
CORTE CC Escala 1:400
o projeto • plantas pavimentos e cortes |
111
Fonte: do Autor, 2017
D
E
1,50m
C
Rua João Padilla
C
F
Planta com as três tipologias de edifícios no térreo.
F
D
E
PAVIMENTO TÉRREO Escala 1:500
19,00m
18,00m
15,00m 12,00m 9,00m 6,00m
1,50m
1,70m
CORTE DD Escala 1:400 o projeto • plantas pavimentos e cortes |
113
Fonte: do Autor, 2017
D
E
6,00m
C
Rua João Padilla
C
F
F 6,00m
Planta 1º andar ainda com a escada secundária do estacionamento. Passarelas de vigas treliçadas acontecem no 1º e 3º andar.
D
E
PAVIMENTO SUPERIOR Escala 1:500
19,00m 18,00m 15,00m 12,00m 9,00m
6,00m 2,95m 1,70m
1,50m 0,25m
CORTE EE Escala 1:400
o projeto • plantas pavimentos e cortes |
115
Fonte: do Autor, 2017
D
E
9,00m
C
Rua João Padilla
C
F
F 9,00m
Planta tipo (2º, 3º e 4º andar) com todos os apartamentos que vão se intercalando nos demais andares, a partir do nível 9,00m.
D
E
PAVIMENTO TIPO Escala 1:500
19,00m
15,00m 12,00m 9,00m 6,00m
1,70m
CORTE FF Escala 1:400 o projeto • plantas pavimentos e cortes |
117
As Unidades Habitacionais e Estrutura
Além de conjuntos monótonos e sem espaços de sociabilização e integração da comunidade ao contexto urbano, outra questão muito debatida é a das regras restritas para as tipologias, onde a área não pode A classe média, em São Paulo, Santiago ou
ultrapassar 50m², impossibilitando a mescla de tipologias
Londres, vive em imóveis de 70 a 80 m2. Quando
e, consequentemente, diferentes tipos de famílias. No
há dinheiro, você compra casas com esse valor, com
entanto, o que mais vemos em comunidades são todos os
mais luxo ou menos luxo. É o grosso do mercado
tipos de conformação familiar e em diversas idades.
imobiliário do planeta. Quando não há dinheiro
Sendo assim, as unidades habitacionais do projeto
[para pagar esse imóvel], o que faz o mercado?
variam entre 01 dormitório (35m²), 02 dormitórios (50m²)
Pega esse imóvel e o faz menor, com 36 m2. Faz
e 03 dormitórios (65m²), tratando-se de diferentes
duas coisas: diminui e isola. Isola ao comprar
tipologias não muito grandes, porém com espaço razoável
terreno onde ele custa bem pouco. Isso explica a
até para pessoas com necessidades especiais e não
periferia latinoamericana. Se tem dinheiro, compra
ultrapassando muito o limite restrito pelas legislações
na cidade. Se não tem, reduz o imóvel e o constrói
vigentes.
onde o solo custa quase zero. O que fez o
A ideia é mesclar essas tipologias, formando fachadas
Elemental? Quarenta metros quadrados, em vez de
dinâmicas, com varandas e brises móveis. Para tal, o
uma casa pequena, podia ser a metade de uma
projeto será todo de concreto pré-moldado em modulação
casa boa. É melhor fazer meia casa boa do que
de cinco metros, ajudando na racionalização e rapidez da
uma casa ruim (ARAVENA, 2010).
construção. o projeto • as unidades habitacionais e estrutura |
121
Fonte: do Autor, 2017
As paredes que fazem parte da modulação são todas de alvenaria, as paredes internas foram pensadas em drywall e as externas que não estão nos pilares da modulação (paredes de meia modulação e divisórias da varanda) serão de bloco de concreto celular para a minimização da carga estrutural. É importante ressaltar que todos os apartamentos foram projetados de forma que a parede hidráulica sempre fosse a mesma e na parte interna voltada para a circulação, não
dando
grandes
problemas
com iluminação
e
ventilação, além de proporcionar de forma mais racional a Escala 1:75
intercalação
dos
apartamentos
para
a
fachada
dinâmica.
APARTAMENTO SIMPLES
3,55
1,90
1,45
Serviços; APARTAMENTO SIMPLES
0,95 2,40
1,00
0,60
1,50
Área Íntima; 1,50
01 MÓDULO ÁREA: 35m²
Área Social;
3,10
PORCENTAGEM DISTRIBUÍDA NO CONJUNTO: 20%
0,80
3,50
TOTAL: 180 apartamentos simples
122
2,60 4,80
Escala 1:125
SETORIZAÇÃO Cotas em metros
| o projeto • as unidades habitacionais e estrutura
Escala 1:125 varanda em balanço de 80cm
MODULAÇÃO Cotas em metros
Fonte: do Autor, 2017 APARTAMENTO 02 DORMITÓRIOS 01 E MEIO MÓDULOS ÁREA: 50m² PORCENTAGEM DISTRIBUÍDA NO CONJUNTO: 50% TOTAL: 450 apartamentos 02 dormitórios
Escala 1:75
APARTAMENTO 02 DORMITÓRIOS
1,45
Área Social;
2,40
3,40
2,45
1,90
Área Íntima;
1,50
Serviços;
MODULAÇÃO Cotas em metros
Escala 1:125
SETORIZAÇÃO Cotas em metros
2,45 7,60
o projeto • as unidades habitacionais e estrutura |
2,45
0,80
varanda em balanço de 80cm
3,50
4,80
3,10
Escala 1:125
123
Fonte: do Autor, 2017 APARTAMENTO 03 DORMITÓRIOS 02 MÓDULOS ÁREA: 65m² PORCENTAGEM DISTRIBUÍDA NO CONJUNTO: 30% TOTAL: 270 apartamentos 03 dormitórios
Escala 1:75
APARTAMENTO 03 DORMITÓRIOS
3,40
1,90
3,40
3,50 0,80
9,80
| o projeto • as unidades habitacionais e estrutura
Serviços; Área Íntima; Área Social;
3,50
2,40
1,45
1,50
2,45
2,40
3,10
124
4,80
2,40
0,40
1,50
1,45
2,45
Escala 1:125
SETORIZAÇÃO Cotas em metros
Escala 1:125 varanda em balanço de 80cm
MODULAÇÃO Cotas em metros
10%
dos
apartamentos totais do projeto. Eles se localizam nos edifícios tipo 02, que possuem estacionamentos semienterrados, fazendo com que apartamentos
ainda
2,45
2,45
sejam 3,10
os
2,45
1,90
a
2,40
4,80
correspondem
acessíveis
1,90
apartamentos
Fonte: do Autor, 2017
Os
considerados no pavimento térreo. Os carros acabam não se tornando a
população
privilégio
de
algumas
vagas
carente poder
tem
o
Cotas em metros Escala 1:75
adquirir
cobertas,
3,10
uma poluição visual na fachada e
APARTAMENTO 02 DORMITÓRIOS
sem
perder área de habitação.
2,40
2,45
2,40
1,45
4,80
1,50
1,90
3,40
Somente apartamentos de 02 e 03 dormitórios
2,40
2,40
3,50
PORCENTAGEM DISTRIBUÍDA NO CONJUNTO: 10%
0,40
1,90
APARTAMENTOS ACESSÍVEIS
3,10
3,10
TOTAL: 80 apartamentos acessíveis
Escala 1:75
APARTAMENTO 03 DORMITÓRIOS
2,40
2,45
2,45
o projeto • as unidades habitacionais e estrutura |
125
1,50
Fonte: do Autor, 2017
1,00
2,20
4,80
1,70
projeção hidráulica
A área comercial conta com
duas tipologias, salas comerciais maiores
que
totalizam,
em
média, 60m² e utilizam dois módulos.
E
salas
comerciais
menores com 30m² de apenas um módulo. As salas possuem a possibilidade de construir uma 4,80
copa Escala 1:75 9,80
SALA COMERCIAL MAIOR (02 MÓD.)
e
seguem
um a
hidráulica
banheiro, mesma
dos
que
parede
apartamentos
acima. Os edifícios também contam com
2,20
1,00
4,80
banheiros
públicos
(05
masc. e 05 fem.) para atender a
1,50
população de passagem pela área comercial e 1,70
convivência pelo conjunto. 3,10
4,80
projeção hidráulica
ÁREA COMERCIAL TOTAL SALAS MAIORES: 10 TOTAL SALAS MENORES: 86
4,80
1,60
1,65
126
praças
4,80
| o projeto • as unidades habitacionais e estrutura
2,75
TOTAL BANHEIROS PÚBLICOS: 10
Escala 1:75
SALA COMERCIAL MENOR (01 MÓD.) / BANHEIRO PÚBLICO
de
Modelo em 3D do apartamento de 02 dormitórios. A unidade que
mais
possui
no
conjunto,
totalizando 50% do projeto.
Sem Escala
3D APARTAMENTO 02 DORMITÓRIOS
Sem Escala
DIAGRAMA PLANTA E 3D
Fonte: do Autor, 2017
Fonte: do Autor, 2017
o projeto • as unidades habitacionais e estrutura |
127
Fonte: do Autor, 2017
Apto. 01 01 módulo
Apto. 02 01 ½ módulo
Apto. 02 01 ½ módulo
Apto. 03 02 módulos Parede Hidráulica dentro da Modulação; Pilares de 20x20cm (No Estacionamento, os Pilares são de 50x50cm até a sua Fundação); Laje em Balanço de 80cm; Sentido das Vigas de 50cm; Circulação Interna de 2m Apoiada no Sentido das Vigas Divisão fora do módulo em Bloco de Concreto Celular
Apto. 01 01 módulo
Apto. 02 01 ½ módulo
Apto. 02 01 ½ módulo
Apto. 03 02 módulos Escala 1:250
PLANTA ESTRUTURAL exemplo do encaixe dos apartamentos Cotas em metros
Escala 1:150
DETALHE COBERTURA Cotas em metros
A cobertura foi projetada pensando em uma circulação de ar interna. Seu telhado tem caída para o centro do edifício, possibilitando aberturas sem que seja aparente do lado externo. A laje que cobre a área de circulação também não faz volume na fachada devido a platibanda e é apoiada através dos pilares da modulação que se prolongam até a mesma.
128
| o projeto • as unidades habitacionais e estrutura
Escala 1:150
DETALHE ESTRUTURAL Cotas em metros
Fonte: do Autor, 2017
Sem Escala
3D ESTRUTURAL edifício Lt. 02 com estacionamento
Detalhe da Circulação Interna com os Vãos para Circulação de Ar apoiados sobre as Vigas
DETALHE PASSARELA Sem Escala
Fonte: Concursos de Projeto, 2017
A passarela de conexão entre os edifícios será Escala 1:150
DETALHE PASSARELA Cotas em metros
Fonte: do Autor, 2017
de viga treliçada invertida. Ela engasta e se apoia nos pilares dos edifícios dentro da modulação de 5m, vencendo um vão de 30m. o projeto • as unidades habitacionais e estrutura |
129
Fachadas e Estratégias Bioclimáticas
Leste Todo o conjunto possui estratégias bioclimáticas através da ventilação cruzada com a abertura nas extremidades dos edifícios, ou através das caixas de escada, que são abertas, permitindo a circulação de ar. Além disso, principalmente nos edifícios que contém estacionamentos e os apartamentos acessíveis no térreo, que impossibilitam a
ventilação
cruzada
nas
extremidades
por
serem
fechados para a sua privacidade, possuem o efeito Oeste
“chaminé”, que tem a sua origem na diferença de temperatura entre o ar externo e o ar no interior do ambiente construído e pelas diferenças de pressão ocasionadas pela ação do vento. Quanto a insolação, a maioria dos edifícios se posicionam no sentido leste/oeste, onde suas fachadas são estruturadas através de brises móveis para a contenção do sol. A distância entre eles são de, no máximo, 30 metros, possibilitando assim uma boa insolação para todos, sem sobreposições e sombreamento entre os mesmos.
o projeto • fachadas e estratégias bioclimáticas |
131
Corte mostrando as extremidades de um edifício onde acontece a ventilação cruzada na circulação interna. O fechamento entre os edifícios nessas laterais acontece por uma mureta de 1,20m que é recuada, dando mais leveza a essa conexão entre os mesmos; Corte mostrando o efeito “Chaminé’ através das aberturas nos estacionamentos e na cobertura, além da ventilação cruzada nos apartamentos (Sala de Estar/Jantar));
DETALHE ABERTURA DAS EXTREMIDADES DOS EDIFÍCIOS Sem Escala
Para o funcionamento da ventilação cruzada na circulação interna, os edifícios serão abertos nas extremidades. Os edifícios que possuem em suas laterais as caixas de escada, as aberturas serão em fita, como já acontece nas próprias caixas de escada. As laterais dos próprios edifícios, como já citado, possuem muretas um pouco mais recuadas, com altura de 1,20m;
132
| o projeto • fachadas e estratégias bioclimáticas
Sem Escala – fachada do lt. 03
FACHADA COM OS ESTACIONAMENTOS
Sem Escala – fachada do lt. 03
Cada Lote da qual a gleba foi dividida, possui duas tonalidades de cores diferentes que compõem a fachada dinâmica através dos brises móveis. Em algumas ocasiões, os brises são brancos e o fundo se utiliza da cor, trazendo assim mais dinamismo a sua composição. Outro ponto em destaque são as varandas de concreto aparente que contrastam com o fundo branco do edifício. É importante ressaltar a predominância e valorização do grafite nos apartamentos acessíveis do térreo, onde os próprios moradores podem expor a sua arte, quebrando ainda mais a monotonia do edifício, principalmente os extensos voltados para a Rua Guamiranga. Os comércios funcionam tanto para a rua comercial ampliada, quanto para os espaços de sociabilização. Apesar das escadas principais serem acessadas tanto da rua quanto dos espaços de convivência, tornando os acessos de pedestres livre pelo conjunto, as caixas de escada principais, visualmente, são fechadas para o externo, tornando o edifício mais privativo para quem o vê da rua, e totalmente aberta para os espaços de sociabilização.
FACHADA COM OS COMÉRCIOS Lt. 01 Verde/Rosa
Lt. 03 Vermelho/Amarelo
Lt. 02 Azul/Roxo
Lt. 04 Vermelho/Amarelo
Detalhe das Varandas em Concreto Aparente e dos Brises Móveis, que se apoiam nas lajes e correm entre o guarda corpo dos Edifícios;
o projeto • fachadas e estratégias bioclimáticas |
133
Espaço de Convívio Lt. 01 Fonte: do Autor, 2017
Fonte: do Autor, 2017
Espaço de Convívio Lt. 01 Fonte: do Autor, 2017
Praça Pública de Conexão à Comunidade Preservada Lt. 04 Fonte: do Autor, 2017
Espaço de Convívio Lt. 02 Fonte: do Autor, 2017
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Atualmente, os conjuntos habitacionais são impostos de maneira apenas econômica e numérica, fazendo com que o arquiteto e a valorização da arquitetura e planejamento
urbano percam espaço nesse setor. Sem esse fator, a população ganha moradia, mas continua sendo excluída da sociedade e ainda sem espaços de lazer e convivência dentro desses conjuntos, que são padronizados e impostos de uma maneira que quanto mais casas empilhadas uma sobre as outras melhor, pois se tem mais moradias. O projeto partiu da ideia de urbanização do bairro Vila
Prudente, promovendo melhores condições de vida a essa população que vive em assentamentos precários e irregulares, com a construção de moradias de qualidade e planejadas especificamente para o perfil das comunidades em influência, trazendo um equilíbrio de habitantes por hectare no local, e a requalificação da área, reconectando essa parcela de caráter mais precário à sociedade através de espaços de sociabilização que conversam com o entorno urbano. Além disso, toda a população foi preservada no local, não descaracterizando a sua identidade. O presente trabalho pode concluir que, para conseguir resolver a problemática da segregação sócio espacial, que vem sendo discutida e questionada ao longo dos séculos, é possível a partir da conexão de três fatores: o arquiteto com sua experiência em planejar de uma melhor forma os espaços de acordo com o ambiente urbano, o interesse político em dar apoio e atenção a essa questão, e a inserção participativa dos moradores locais, para se criar um coletivismo, valorização, inserção e identidade dessa camada da população dentro da sociedade. considerações finais |
145
BIBLIOGRAFIA
SITES, REPORTAGENS E ENTREVISTAS
LIVROS BONDUKI, Nabil. Arquitetura & Habitação Social em São Paulo 1989 1992. São Paulo: Escola de Engenharia de São Carlos – USP, 1993.
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