Projetos de Monitoria

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SUMÁRIO 1.PSEUDODEMÊNCIA DEPRESSIVA: UM RELATO DE CASO ..........................................................6 2.CIRURGIA DE BERGER EM PACIENTE PORTADOR DE CARCINOMA ESCAMOCELULAR DE ESÔFAGO COM METÁSTASE PARA OMBRO: RELATO DE CASO .......................................................14 3.CIRURGIA PEDIÁTRICA DE CRANIOFARIGIOMA: RELATO DE CASO ............................................22 4.SÍNDROME DE GULLO: RELATO DE CASO ..............................................................................31 5.RELATO DE CASO DE PACIENTE COM DIAGNÓSTICO DE NEUROCISTICERCOSE ....................37 6.CORREÇÃO CIRÚRGICA DE FRATURA DE TERÇO MÉDIO DA FACE E USO PÓS-OPERATÓRIO DE KINESIO TAPING: RELATO DE CASO ..........................................................................................44 7.LINFOMA DE HODGKIN EM PACIENTE GRÁVIDA: UM RELATO DE CASO .................................53 8.ADENOCARCINOMA GÁSTRICO TIPO ANEL DE SINETE: UMA COMPARAÇÃO HISTOPATOLÓGICAZ .........................................................................................................................................61 9.ANÁLISE ACERCA DO TRATAMENTO DA PRESBIOPIA, ATRAVÉS DE CIRURGIA REFRATIVA A LASER, EM PACIENTES DE UM HOSPITAL OFTALMOLÓGICO NA PARAÍBA .......................................70 10.FÍSTULA ARTERIOVENOSA SAFENO FEMORAL: UMA ALTERNATIVA PARA HEMODIÁLISE

...78

11.ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DAS VARIAÇÕES DA ARTÉRIA SUBCLÁVIA E DE SEUS RAMOS ....92 12.VARIAÇÕES DA VEIA SAFENA PARVA E SUAS IMPLICAÇÕES CLÍNICAS: ESTUDO ANATÔMICO EM CADÁVER ................................................................................................................................99 13.ECTASIA DE ARTÉRIA CORONÁRIA: ESTUDO ANATÔMICO EM CADÁVER ...............................107 14.PROCEDIMENTO DE COLOCAÇÃO DE DIU EM CADÁVER E SUAS COMPLICAÇÕES ................116 15.ALTERAÇÕES HEPÁTICAS EM CADÁVERES E SUAS CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS ................126 16.DEMONSTRAÇÃO DA ARTROPLASTIA PARCIAL DE QUADRIL EM CADÁVER .........................134 17.VARIAÇÕES ANATÔMICAS DO TRONCO CELÍACO E SISTEMA ARTERIAL HEPÁTICO EM CADÁVERES: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA ..........................................................................................145 18.AVALIAÇÃO DO pH DE POLPAS DE FRUTAS COMERCIALIZADAS NA CIDADE DE JOÃO PESSOA PARAÍBA ....................................................................................................................................157


CAPÍTULO 1 Pseudodemência Depressiva: Um Relato De Caso Resumo A pseudodemência depressiva é uma síndrome demencial causada por fatores psiquiátricos, frequentemente depressivos. Esse quadro se assemelha a síndrome demencial por provocar comprometimento cognitivo, mas os esquecimentos observados na pseudodemência estão associados aos sintomas depressivos. Nos casos dessa patologia quando o quadro clínico é tratado, o déicit cognitivo regride, sendo considerada, por essa razão, uma “pseudo” demência. Assim este estudo tem como objetivo relatar o caso de uma idosa com pseudodemência depressiva, as características clínicas da doença, os fatores neurobiológicos associados ao quadro clínico da idosa, como também estabelecer o diagnóstico de pseudodemência depressiva e a importância do tratamento. Trata-se de um relato de caso cujos dados foram coletados no Centro Médico de Saúde Nova Esperança em João Pessoa-PB com uma paciente idosa com diagnóstico de pseudodemência depressiva. Como instrumento de coleta de dados foram aplicados dois testes: Escala de Depressão Geriátrica (EDG) abreviada com 15 itens e o Miniexame do Estado Mental bem como a análise do prontuário. Muitas das vezes, a depressão na terceira idade vem acompanhada de perdas cognitivas, sendo nestes casos denominada de “pseudodemência depressiva” secundária a episódio depressivo, o que explica a apatia, o retardo psicomotor, a redução da capacidade de concentração, a anedonia e a astenia apresentados pela paciente do referido estudo. Observou-se que ao iniciar o tratamento com antidepressivo, a paciente apresentou melhora dos sintomas cognitivos. Sendo assim, foi diagnosticada com pseudodemência depressiva e a terapêutica foi instituída adequadamente. Porém a recuperação não foi completa, visto que a paciente ainda possui alteração dos exames de avaliação cognitiva. Face à dubiedade para diagnosticar doenças com alterações cognitivas, faz-se essencial que os médicos conheçam a sintomatologia seja especíica ou inespecíica que leva o idoso com quadro de pseudodemência depressiva a procurar assistência e cuidados, averiguando proativamente sinais e sintomas junto da família e seus cuidadores. PALAVRAS-CHAVE: Depressão. Demência. Transtornos mentais.

Iane Alves Lemos1 Enfermeira. Graduanda do curso de Medicina - FAMENE

Luana Gadê Freitas Oliveira de Melo2 Fisioterapeuta. Graduanda do curso de Medicina - FAMENE

Raquel Xavier Rodrigues3 Enfermeira. Graduanda do curso de Medicina - FAMENE

Paulo Emanuel Silva4 Mestre. Professor titular FAMENE | FACENE

06 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


INTRODUÇÃO Depressão e transtornos mentais

do o Manual de Diagnóstico e Estatística

associados são temas abordados desde

da Associação Americana de Psiquiatria

a Antiguidade. Relatam que desde 2600

– DSM IV5, a demência é uma síndrome

a.C. os primeiros documentos já relata-

caracterizada pelo desenvolvimento de

vam esses temas. Entretanto, foi a partir

múltiplos déicits cognitivos, incluindo

dos estudos de Hipócrates (460-370 a.C.)

comprometimento da memória e, pelo

e de seus discípulos que surgiu o conceito

menos, umas das seguintes perturbações

de “melancolia”.

Juntamente com este

cognitivas: afasia, apraxia, agnosia e per-

conceito, surgiu o primeiro critério diag-

turbação do funcionamento executivo

nóstico para a condição, que propunha:

com intensidade suiciente para interferir

“se a tristeza persiste, então é melanco-

no desempenho social ou proissional do

lia¹”.

indivíduo. Desse modo, causando danos A apreensão em determinar critéri-

os para diagnosticar os transtornos men-

irreversíveis na qualidade de vida do paciente.

tais vem beneiciando e consolidando as

A pseudodemência depressiva é

pesquisas epidemiológicas. Dessa forma,

uma síndrome demencial causada por

observa-se que a depressão é uma sín-

fatores

drome frequente e pode levar a diversos

depressivos. Esse quadro se assemelha

impactos na vida do indivíduo, incluindo

a síndrome demencial por provocar com-

sofrimento e prejuízos ao desempenho

prometimento cognitivo, mas os esqueci-

social. Estudos internacionais relatam

mentos observados na pseudodemência

que a depressão é um dos principais fa-

estão associados aos sintomas depres-

tores associados à ideação suicida².

sivos. Nos casos de pseudodemência

A

depressão

comumente

psiquiátricos,

frequentemente

pro-

depressiva quando o quadro clínico é

duz um déicit de memória, especial-

tratado, o déicit cognitivo regride, sendo

mente após os 40 anos, e esse agravo de

considerada, por essa razão, uma “pseu-

memória do depressivo pode ser confun-

do” demência6.

dido com um quadro inicial de demência.

Diante do exposto, esse trabalho

Essa confusão depressão-demência pode

teve como objetivo relatar o caso de uma

ser maior ainda, levando-se em conta o

idosa com pseudodemência depressiva,

fato da depressão, constantemente, ter

apresentando as características clínicas

características atípicas nos idosos³.

da patologia, identiicando os fatores

Após os 60 anos, as diiculdades de

neurobiológicos associados ao quadro

memória e/ou cognitivas podem ser tão

clínico e estabelecendo a importância do

evidentes que chegam a levantar sus-

tratamento.

peita de um quadro

demencial4.

Segun-

07 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


METODOLOGIA Trata-se de um relato de caso re-

do Estado Mental 8, bem como a análise

alizado com paciente idosa com diag-

do prontuário. Os dados foram anali-

nóstico de pseudodemência depressiva.

sados num enfoque qualitativo, sendo

O acompanhamento do caso ocorreu

confrontados com outros estudos, ob-

no ambulatório de Geriatria, do Centro

tidos por meio da utilização de bases

Médico de Saúde Nova Esperança, situ-

de dados virtuais como Scielo, Lilacs,

ado no Bairro Gramame, em João Pes-

Medline e BVS. O estudo foi realizado

soa-PB. Como instrumento de coleta

após aprovação no Comitê de Ética em

de dados foram aplicados dois testes:

Pesquisa das Faculdades de Enferma-

Escala de Depressão Geriátrica (EDG),

gem e Medicina Nova Esperança (CAAE:

abreviada com 15 itens 7 e o Miniexame

82389418.1.0000.5179).

RELATO DO CASO Paciente de 78 anos, sexo femini-

zou a labilidade emocional da mãe com

no, viúva há 43 anos, assistente social

a ocorrência de “choro fácil”, sendo

aposentada. Compareceu ao consultório

confirmada pela própria paciente, bem

de geriatria acompanhada por sua filha,

como a presença de lapsos de memória

que relatou que sua mãe se mostrava

anterógrada episódicos e lentidão psi-

apática, com redução da capacidade

comotora. Sublinha-se a valorização de

de concentração, anedonia e astenia

todo o quadro sintomático por parte da

com um mês de evolução, quadro que

paciente ao longo da consulta, mostran-

teve início um mês após a artroplastia

do-se triste principalmente ao perceber

realizada no quadril esquerdo. Anterior-

seus déficits de memória.

mente à sintomatologia, era completa-

À data da consulta, a paciente

mente independente para atividades de

detinha discurso escasso, respondendo

vida diária (AVD’s) instrumentais.

apenas ao que lhe era questionado. Foi

De forma progressiva, deixou de

ainda averiguada alteração do padrão

participar nas tarefas de casa (cozinhar,

do sono, assinalando-se maior sonolên-

arrumar, lavar e passar roupa), não que-

cia diurna (que a doente relativiza) e in-

ria sair de casa e, quando fazia, que-

sônia noturna. A filha reforça que a mãe

ria logo retornar, evidenciando falta de

sempre se mostrou muito ativa no meio

interesse e não limitação física, já que

familiar, encontrando-se muito preocu-

estava recuperada funcionalmente da

pada com o atual estado da progenitora.

artroplastia de quadril. A filha enfati-

08 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


Como comorbidades, apresentava:

roupa.

hipertensão arterial sistêmica - contro-

Na avaliação da mobilidade, consta-

lada com Betalor (anlodipino 5mg + ate-

tou-se distúrbio da marcha, com timed up and

notol 50mg), pré-diabetes, hipotireoidismo

go test de 13 segundos, marcha de base nor-

- controlado com Puran T4 (levotiroxina

mal e com equilíbrio. O exame físico não mos-

100mcg). Possui obesidade grau I e espo-

trou outras alterações, não sendo observado

radicamente faz reeducação alimentar. Até

alterações visuais, auditivas ou orais na paci-

então sem sinais de lesão em órgãos-al-

ente. Foram colocadas como hipóteses mais

vo. Foi relatada história de incontinência

prováveis de diagnóstico: quadro depressivo

urinária crônica de esforço. No que diz

com declínio cognitivo ou processo demencial

respeito aos seus antecedentes pessoais,

inicial com sintomas depressivos.

não registava qualquer evento cardíaco ou

A propedêutica englobou hemograma,

cerebrovascular anterior, bem como pa-

função renal, sorologia para síilis, função

tologia psiquiátrica prévia. Foram excluí-

tireoideana, dosagem sérica de vitamina

dos hábitos alcoólicos e abuso de drogas.

B12 e ácido fólico e eletrólitos séricos, além

Foram excetuados quaisquer antecedentes

de tomograia computadorizada de crânio.

familiares de demência/depressão maior.

A paciente e sua ilha retornam pouco tem-

Relativamente a fatos recentes, não se

po depois, com Tomograia crânio-encefálica

reconheceram outras alterações do am-

mostrando microangiopatia degenerativa in-

biente familiar, com os quais a paciente

cipiente da substância branca e alterações

mantém boa relação.

cerebrais involutivas, tendo sido excluídas

Ao exame objetivo apresentava-se

causas reversíveis/orgânicas que justiicassem

corada, hidratada, apirética e normoten-

o respetivo quadro clínico (nomeadamente,

sa. Destaca-se, no entanto, a hipomimia

quadros infecciosos, desregulação metabóli-

(ausência de expressão facial) e ainda

ca, desequilíbrios eletrolíticos ou síndroma de

ligeira perda ponderal (2,5Kg), sendo a di-

privação). Pelo predomínio dos sintomas de-

minuição do apetite percepcionado pela

pressivos, a doente inicia prova terapêutica

cuidadora e pela própria paciente.

com Mirtazapina (Razapina®), antidepressivo

• 1ª Avaliação cognitiva (escolarida-

tetracíclico que difere dos demais por agir au-

de – mais de 11 anos de estudo):

mentando diretamente a quantidade de sero-

Minimental8:

tonina e noradrenalina entre os neurônios.

22/30;

Teste do relógio: Não representou todos os

A paciente foi reavaliada um mês após

números, dígito e hora incorretos;

o início da medicação, e foi observada melho-

Escala de Depressão Geriátrica7: 4.

ra cognitiva com o aumento da pontuação do

• Funcionalidade

miniexame do estado mental, atingindo 26

Independência para AVDs básicas. Depen-

pontos. Houve melhoria signiicativa do hu-

dência incompleta para AVDs instrumen-

mor, tendo retomado as suas atividades in-

tais – passou não cozinhar, lavar e passar

strumentais e de lazer. O desempenho funcio-

09 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


nal e a memória anterógrada melhoraram

Minimental8: 26/30;

progressivamente. Atualmente, mantém

Teste do relógio: pequenos erros espaciais,

terapêutica com estabilidade do quadro

dígito e hora corretos;

sintomático e cognitivo. O diagnóstico foi

Escala de Depressão Geriátrica7: 2.

de pseudomência depressiva, porém será

• Funcionalidade

mantido o seguimento cuidado e periódico

Independência para AVDs básicas. De-

da doente.

pendência incompleta para AVDs instru-

• 2ª avaliação cognitiva (escolaridade – mais de 11 anos de estudo):

mentais – voltou a cozinhar, lavar e passar roupa.

DISCUSSÃO O termo “demência” caracteriza sín-

mento do diagnóstico deste caso.

dromes de etiologias diversas, cujo aspecto

Estudos internacionais indicam que

fundamental é o prejuízo da memória, acom-

a depressão na terceira idade pode estar

panhado de, pelo menos, uma outra função

presente em cerca de 10% da comunidade

cognitiva (linguagem, praxia, gnosia ou

geriátrica e em 40% dos idosos internados nos

funções executivas), a ponto de comprome-

hospitais, unidades de cuidados continuados

ter o funcionamento ocupacional ou social e

e residências sénior10. Muitas vezes, a de-

representar declínio em relação ao nível an-

pressão na terceira idade vem acompanhada

teriormente superior de

funcionamento11.

de perdas cognitivas, sendo nestes casos de-

Dentre as patologias que se asse-

nominada de “pseudodemência depressiva”

melham ao quadro demencial está a

secundária a episódio depressivo, o que expli-

Pseudodemência Depressiva a qual, as-

ca a apatia, o retardo psicomotor, a redução

sim como a Demência, leva ao compro-

da capacidade de concentração, a anedonia e

metimento das funções cognitivas com

a astenia apresentados pela paciente do referi-

repercussões em AVDs. Mas, existem car-

do estudo.

acterísticas diferenciais que permitem o

A depressão não é uma consequên-

diagnóstico e adequado manejo do porta-

cia natural do envelhecimento. A maioria dos

dor da Pseudodemência Depressiva como

idosos, que recorre aos cuidados de saúde

observar que seu gatilho pode ser provo-

primários, priorizam as queixas somáticas em

cado por um traumatismo psíquico fun-

detrimento do sentimento de tristeza que facil-

cional e não por uma causa neurológica

mente é reprimido. Por outro lado, poder-se-á

como ocorre na demência e, além disso,

estar a tratar pseudodemências em virtude

tem como ponto importante a sua revers-

de alterações cognitivas, potencialmente re-

ibilidade ao iniciar

tratamento9.

E esta

versíveis com tratamento antidepressivo/

reversibilidade foi primordial para o fecha-

psicoterapia. Em muitos casos, o quadro de

10 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


deterioração cognitiva, associado a sintomas

síndrome com outras causas secundárias,

depressivos, pode ser estabilizado ou regredir

permitindo o melhor direcionamento di-

antidepressivo9.

agnóstico. Ressaltando-se que a clínica

Conirmando o que o autor relatou nesse

sempre é soberana em detrimento aos

contexto, observou-se que ao iniciar o

estudos radiológicos e laboratoriais.

apenas com tratamento

tratamento com antidepressivo, a paci-

Instrumentos de avaliação geriátrica

ente apresentou melhora dos sintomas.

são importantes e decisivos no diagnósti-

Sendo assim, a terapêutica foi instituída

co diferencial. Eles abordam sentimentos

adequadamente.

e comportamentos que decorreram na úl-

A colheita de uma história clíni-

tima semana, avaliação funcional como

ca e exame físico são igualmente es-

capacidade para banhar-se, vestir-se, ir ao

senciais sempre que há suspeita de de-

banheiro, ou seja, atividades da vida diária

pressão/défice

no

básicas e biopsicossocialmente integradas7.

idoso. Os exames laboratoriais devem

Estas escalas foram aplicadas na paciente

incluir hemograma, ionograma sérico

objetivando determinar as fragilidades da

(para despiste de alterações eletrolíti-

mesma, principalmente com relação à sua

cas), glicose em jejum (para exclusão

capacidade funcional, objetivando o plane-

de diabetes e hipoglicemias em jejum,

jamento do cuidado e o acompanhamento.

cognitivo/demência

inclusive), função renal, hepática e tiroi-

A paciente do presente estudo apre-

deia, vitamina B12 e folatos, cálcio e se-

sentou melhora rápida e importante das

rologias para sífilis (nível de evidência

funções cognitivas. Talvez a recuperação

C, grau de recomendação. A avaliação

não tenha sido completa, visto que a

integral do doente deve merecer ainda a

paciente ainda apresenta alteração dos

avaliação imagiológica estrutural, através

exames de avaliação cognitiva. Trata-se,

de TAC cerebral, devido ao menor custo e

portanto, de uma paciente que recuperou

maior disponibilidade deste exame11. De

parcialmente a cognição e funcionalidade,

acordo com relato de caso, a paciente foi

após o tratamento farmacológico, evoluin-

submetida aos exames acima descritos,

do positivamente à terapêutica e que con-

justamente para fazer a exclusão desta

tinuará sendo acompanhada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Face a dubiedade para diagnosticar

e cuidados, averiguando proativamente

doenças com alterações cognitivas, faz-se

sinais e sintomas junto da família e seus

essencial que os médicos conheçam a sin-

cuidadores. Neste contexto, o proissional

tomatologia, seja especíica, ou inespecíi-

médico pode explorar os principais sinais e

ca, que leva o idoso com quadro de pseudo-

sintomas destacados pelo paciente, insti-

demência depressiva a procurar assistência

tuindo um plano de tratamento precoce,

11 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


impedindo que a patologia avance e deixe

compreensão da patologia, bem como o seu

sequelas.

tratamento, auxiliando os proissionais na

Como benefícios, o estudo retratou a

condução de casos clínicos semelhantes.

DEPRESSIVE PSEUDODEMENTIA: A CASE REPORT ABSTRACT Depressive pseudodementia is a dementia syndrome caused by psychiatric factors, commonly depressive. This picture resembles the dementia syndrome because it causes cognitive impairment, but the forgetfulness observed in pseudodementia is associated with depressive symptoms. In cases of this pathology when the clinical picture is treated, the cognitive deicit regresses, being considered, for this reason, a “pseudo” dementia. Thus, this study aims to report the case of an elderly woman with depressive pseudodementia, the clinical characteristics of the disease, the neurobiological factors associated with the clinical picture of the elderly, as well as to establish the diagnosis of depressive pseudodementia and the importance of the treatment. This is a case report which data were collected at Nova Esperança Health Medical Center in João Pessoa-PB with an elderly patient with a diagnosis of depressive pseudo-dementia. As a data collection instrument, two tests were applied: Geriatric Depression Scale (EDG) with 15 items and Miniexame of the Mental State as well as the analysis of the medical record. Often, depression in the third age is accompanied by cognitive losses, being in these cases denominated “depressive pseudodementia” secondary to depressive episode, which explains the apathy, the psychomotor retardation, the reduction of the capacity of concentration, anhedonia and the asthenia presented by the patient of this study. It was observed that on initiation of antidepressant treatment, the patient presented improvement of the cognitive symptoms. Thus, she was diagnosed with depressive pseudodementia and the therapy was properly instituted. However, the recovery was not complete, since the patient still has altered cognitive evaluation exams. Faced with the dubiety to diagnose diseases with cognitive alterations, it is essential that the doctors know the speciic or unspeciic symptomatology that leads the elderly with depressive pseudodementia to seek assistance and care, proactively inding signs and symptoms with the family and their caregivers. KEYWORDS: Depression. Insanity. Mental disorders.

12 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


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13 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


CAPÍTULO 2 CIRURGIA DE BERGER EM PACIENTE PORTADOR DE CARCINOMA ESCAMOCELULAR DE ESÔFAGO COM METÁSTASE PARA OMBRO: RELATO DE CASO Resumo O Carcinoma Escamocelular (CEC) é tipo histológico mais frequente do câncer esofágico e, em geral, exibe prognóstico reservado. Manifesta-se clinicamente através de disfagia progressiva, odinofagia, anemia, perda ponderal e relaciona-se com tabagismo, alcoolismo, ingestão de bebidas quentes, bem como com radioterapia prévia. Apresenta duas formas terapêuticas distintas, radioterápica e cirúrgica, sendo esta última caracterizada pela Cirurgia de Berger (CB), uma desarticulação interescapulotorácica. Este trabalho teve por objetivo relatar um caso clínico peculiar de CB como tratamento de sítio metastático de paciente com CEC em esôfago e metástase para ombro. F.S.S., masculino, 65 anos, deu entrada no ambulatório de cirurgia oncológica do Hospital Napoleão Laureano, apresentando queixa de disfagia e volumosa tumoração em ombro direito com extensão para deltoide e manguito rotador. A endoscopia digestiva alta (EDA) prévia, apresentava duas lesões neoplásicas, sendo, portanto, solicitada imuno-histoquímica. Indicou-se a CB e postergou-se o tratamento do CEC esofágico. Paciente evoluiu estável, sem sinais de infecção pós-operatória. Após retorno ambulatorial, apresentava-se sem queixas, sendo encaminhado ao serviço de radioterapia para abordagem terapêutica da neoplasia esofágica. O CEC é mais comum nas porções proximal e média do esôfago, sendo a região distal o local acometido no caso relatado. Apesar dos sintomas clínicos, tem-se descoberto um crescente número de casos assintomáticos, identiicados através da EDA. O tratamento cirúrgico consiste na amputação do membro superior, junto com a escápula e a clavícula, sendo justiicado pela invasão metastática das estruturas do manguito rotador e do deltoide. Com seu alto poder iniltrativo e de disseminação metastática, o CEC de esôfago manifesta um prognóstico sombrio, cujo tratamento, baseado no caso relatado, fundamenta-se na desarticulação interescapulotorácica. PALAVRAS-CHAVE: Carcinoma de Células Escamosas. Oncologia Cirúrgica.

Flávio de Pádua Brito de Figueiredo Almeida1 Graduando de Medicina - FAMENE 2

Taiane Oliveira Lima de Andrade Silva

Graduando de Medicina - FAMENE 3

Felizardo Cordeiro Neto

Graduando de Medicina - FAMENE

Lucas Pereira Reichert4 Graduando de Medicina - FAMENE

Davi Lima Medeiros5 Graduando de Medicina - FAMENE 6

Fernando Salvo Torres de Mello

Mestre em Cirurgia pela UFPE. Professor da graduação em Medicina da FAMENE

14 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


INTRODUÇÃO O câncer de esôfago é o terceiro

esofágico, apesar dos avanços, a sobrev-

câncer mais comum do trato digestivo

ida a longo prazo, mesmo com ressecção

e representa cerca de 2% dos tumores

completa, vem desagradando. Em con-

malígnos1.

trapartida,

O prognóstico é reservado, com

taxa de sobrevida de 15% em cinco

anos2.

O Carcinoma Escamocelular (CEC)

a

radioterapia

apresenta

bons resultados como tratamento definitivo ou neo-adjunvante3.

esofágico é o tipo histológico mais comum

A amputação interescapulotorácica,

e apresenta, geralmente, prognóstico ruim

ou Cirurgia de Berger (CB), é uma cirurgia

em virtude do seu alto poder iniltrativo

ablativa e radical que envolve a ressecção

com possiblidade de metástase, além de,

de todo o membro superior, junto com a

frequentemente, ter diagnóstico em está-

escápula e um segmento da clavícula4,5.

gio avançado1. Acomete principalmente os

A CB foi originalmente descrita no início

segmentos médio e inferior do esôfago e

do século XIX, sendo, a priori, empregada

tem predomínio no sexo masculino a par-

para tratar lesões traumáticas severas das

tir dos cinquenta anos. As manifestações

extremidades superiores6-13. Atualmente,

clínicas incluem a disfagia progressiva,

a indicação mais frequente desse procedi-

odinofagia, anemia, emagrecimento, entre

mento é para o tratamento de grandes tu-

outras3.

mores malignos do membro superior, axila,

Entre os fatores de risco do CEC

ombro e escápula, intimamente ligados aos

esofágico, destaca-se o tabagismo, al-

nervos principais ou ao suprimento vascular

coolismo, bebidas quentes, exposição à

do membro. As contraindicações principais

nitrosaminas, deficiência de micronutri-

são as metástases à distância e os grandes

entes, infecção pelo papiloma vírus hu-

envolvimentos da parede torácica6-13.

mano, radioterapia prévia, neoplasias de

A amputação da extremidade afe-

cabeça/pescoço tratadas previamente,

tada foi considerada, durante anos, como

acalasia idiopática, megaesôfago cha-

padrão para tratar e curar pacientes com

gásico e estenose cáustica prévia3.

sarcomas ósseos e de partes moles dos

A endoscopia digestiva alta, asso-

membros. Entretanto, recentes avanços

ciada à técnica de cromoscopia, que se

nas técnicas conservadoras dos membros

utiliza de solução de lugol para corar as

têm reduzido o número de amputações de

células escamosas, é método eicaz para

grande porte para tumores da extremidade

o rastreamento da neoplasia

esofagiana2.

Com o complemento da biópsia, constitui

superior14. A

amputação

interescapulotoráci-

o mais eiciente método para diagnóstico

ca, apesar da morbidade, é um proced-

do câncer de esôfago3.

imento cirúrgico eventual, e a sua apli-

No tratamento cirúrgico do CEC

cação limita-se a casos que não permitem

15 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


uma abordagem conservadora, ou a pa-

tratamento de sítio metástatico de paci-

cientes com tumores recorrentes sem

ente com apresentação de CEC em esôfa-

conservador15.

go e metástase para ombro, após trata-

Este estudo tem como objetivo

mento prévio de CEC de base de língua

relatar um caso peculiar e incomum de

com radioterapia exclusiva; avaliando as

realização de Cirurgia de Berger (desar-

características clínicas, a evolução, o di-

ticulação

agnóstico e o tratamento da afecção.

resposta

ao

tratamento

interescapulotorácica)

como

RELATO DO CASO

F.S.S., masculino, 65 anos, deu en-

cas foi postergada, devido ao tratamento

trada no ambulatório de cirurgia oncológica

da lesão de partes moles. Indicou-se a re-

do Hospital Napoleão Laureano, sediado na

alização da desarticulação interescápu-

cidade de João Pessoa (PB), apresentando

lo torácica direita, chamada Cirurgia de

queixa de disfagia para sólidos, há aproxi-

Berger, com reconstrução com retalho

madamente dois meses. Apresentava uma

miocutâneo e autoenxertia de pele total.

endoscopia digestiva alta, (EDA) prévia,

Descrição do procedimento cirúr-

que identiicava lesão ulcerada iniltrativa,

gico: 1) Incisão anterior sobre a clavícula

endurecida em esôfago distal a cerca de

direita em direção à axila, prolongando-se

22cm da arcada dentária superior (ADS),

posteriormente sobre a escápula e encon-

além de uma segunda lesão arredonda-

trando-se a incisão anterior. 2) Confecção

da e ulcerada a aproximadamente 25cm

dos retalhos dermoepidérmicos bilateral-

da ADS. O anatomopatológico evidenciou

mente. 3) Secção da musculatura do gran-

Neoplasia

Pequenas

de dorsal, posteriormente, e do peitoral,

Células em ambas as lesões. Então, foi re-

anteriormente. 4) Dissecção retroescapu-

alizada imuno-histoquímica com resultado

lar. 5) Osteotomia e secção da clavícula di-

negativo para malignidade. Solicitou-se

reita com serra de Gigle. 6) Identiicação,

nova imuno-histoquímica que diagnosticou

isolamento, ligadura e secção da v. sub-

CEC. Além disso, o paciente queixava-se

clávia direita e a. subclavia direita. 7) Dis-

de volumosa tumoração em ombro direito

secção da artéria carótida interna em sua

há seis meses, de crescimento rápido e in-

extensão torácica e cervical. 8) Amputa-

dolor, sem ulcerações ou alteração da pele

ção da peça operatória contendo a cintura

ao redor. Foi solicitada ressonância mag-

escapular e o membro superior direito em

nética, a qual evidenciou formação expan-

monobloco. 9) Hemostasia. 10) Drenagem

siva de partes moles com extensão para os

com dreno portovac. 11) Síntense da pele

ventres musculares do manguito rotador e

com Nylon 3-0. 12) Reconstrução com re-

deltoide. A terapêutica das lesões esofági-

talho miocutâneo e auto-enxertia de pele

Indiferenciada

de

16 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


total na área central da ferida, retirado da

em unidade hospitalar durante cinco dias.

face lateral do quadril ipsilateral. 13) Cura-

Após a retirada do curativo de Brown, foi

tivo de Brown. 14) Curativo simples no res-

identiicado retalho pálido, com áreas de

tante da ferida.

equimose, com pouca perfusão e sem de-

Os aspectos morfológicos do es-

limitação de necrose. No retorno para ava-

tudo anatomopatológico, associados aos

liação pós-operatória, o paciente apresen-

achados imuno-histoquímicos da peça ci-

tava-se sem queixas, foi, então, realizado

rúrgica, são condizentes com o diagnósti-

desbridamento de áreas não viáveis do

co de CEC Pouco Diferenciado. O paciente

enxerto e encaminhamento à radioterapia

evoluiu estável, sem queixas ou sinais de

para tratamento de CEC de esôfago.

infecção em pós-operatório. Permaneceu

DISCUSSÃO

O carcinoma de células espinho-

de perda sanguínea. Entretanto, está

sas é a neoplasia maligna mais comum

sendo descoberto um crescente número

da boca, sendo responsável por 95% de

de casos assintomáticos, somente diag-

todos os cânceres da cavidade oral. É ori-

nosticados através da endoscopia diges-

undo do epitélio de revestimento, sendo

tiva alta de rastreamento18,19.

mais frequente em homens entre a 5ª e

CEC de boca e de esôfago raramente

7ª década de vida. Corresponde a 10% de

apresentam metástases na região do ombro

todas as neoplasias registradas no Brasil

19,20,21,22. A principal via de disseminação do

em 2006, com o registro de 13.470 novos

CEC de boca é a linfática, com predomínio

casos. Os locais mais comuns de surgi-

de metástases regionais a nível do pescoço.

mento do tumor são a língua, predomi-

Já o CEC de esôfago, por poder disseminar

nantemente na borda lateral, no assoalho

tanto por via linfática quanto hematogênica,

da boca e no lábio inferior, o que foi con-

além de por contiguidade, tende a invadir as

dizente com o caso do paciente16,17.

estruturas do mediastino, mas pode enviar

Já o CEC é responsável por aproxima-

metástase à distância (ex.: pulmão)19,20,21.

damente 90% dos casos de câncer esofági-

A amputação interescapulotorácica

co no mundo, sendo sua apresentação

(cirurgia de Berger), apesar da morbidade,

mais frequente nas porções proximal e

é um procedimento cirúrgico eventual e

média do órgão. Apesar disso, o paciente

a sua aplicação limita-se a casos que não

apresentava neoplasia na porção distal

permitem uma abordagem conservadora,

do esôfago. As manifestações clínicas

ou a pacientes com tumores recorrentes

mais comuns incluem a disfagia progres-

sem resposta ao tratamento conservador,

siva, perda ponderal, assim como sinais

especialmente se houver invasão do feixe

17 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


vásculo-nervoso da região. Consiste na

escapular. Nesse procedimento, as recidivas

amputação do membro superior, junto com

são comuns, devido às margens cirúrgicas,

a escápula e a

clavícula22.

frequentemente comprometidas22,23.

O procedimento cirúrgico é realizado

No caso citado, devido ao com-

com o paciente em decúbito lateral, com

prometimento da cintura escapular, foi

uma incisão medialmente à articulação es-

necessário realizar a desarticulação por

ternoclavicular, estendendo-se lateralmente

causa da invasão das estruturas do man-

ao longo da clavícula, seguindo inferior-

guito rotador, evidenciada na ressonân-

mente ao redor da axila até a linha axilar

cia magnética. O laudo da anatomia

posterior. Uma segunda incisão é feita na

patológica revelou margens cirúrgicas

porção superior da articulação esternocla-

livres (diferente do que revela a literatu-

vicular, contornando o acrômio até alcançar

ra), além da confirmação de CEC pouco

a incisão inicial. Depois, inicia-se a dissecção

diferenciado. Após a cirurgia, o paciente

das estruturas até atingir a articulação ester-

evolui bem, sem queixas e iniciou a ra-

noclavicular, que é desarticulada, e a secção

dioterapia para o tratamento do CEC de

dos músculos do manguito rotador, sepa-

esôfago.

rando assim o membro superior da cintura

CONSIDERAÇÕES FINAIS O CEC de esôfago com sua alta capacidade iniltrativa e de desenvolver metástases

truturas do manguito rotador, fez-se mister a desarticulação interescapulotorácica.

revela um prognóstico reservado. Viu-se que

Este relato apresenta relevância para

radioterapia prévia é considerada um dos prin-

o meio cientíico, visto que, expondo tal uso

cipais fatores de risco para desenvolvimento

peculiar da cirurgia de Berger, estudantes

do tumor, o que pode ser comprovado através

e proissionais da medicina poderão com-

do caso descrito. Além disso, percebeu-se

preender mais um exemplo prático das indi-

que a CB é utilizada em situações especiais,

cações desse procedimento cirúrgico, apli-

como o relatado neste trabalho. Uma vez que

cando os conhecimentos adquiridos, quando

a metástase alcançou o ombro e invadiu as es-

necessário, em suas atividades médicas.

18 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


BERGER SURGERY IN PATIENT WITH ESOPHAGEAL SQUAMOUS CELL CARCINOMA WITH SHOULDER METASTASIS: CASE REPORT

ABSTRACT The Esophageal Squamous Cell Carcinoma is the most frequent histological type of esophageal cancer and, in general, exhibits a reserved prognosis. It manifests clinically through progressive dysphagia, odynophagia, anemia, weight loss and is related to smoking, alcoholism, hot drinks intake, as well as previous radiotherapy. It presents two distinct therapeutic forms, radiotherapeutic and surgical, the latter being characterized by Berger’s Surgery, an interscapulothoracic disarticulation. This study aimed to report a peculiar clinical case of Berger Surgery as treatment of metastatic site of patient with Esophageal Squamous Cell Carcinoma and metastasis to the shoulder. F.S.S., male, 65 years old, was admitted to the oncology surgery clinic of the Napoleão Laureano Hospital, presenting a complaint of dysphagia and a massive tumor in the right shoulder with extension to the deltoid and rotator cuf. At the upper gastrointestinal endoscopy, there were two neoplastic lesions and immunohistochemistry was therefore required. Berger Surgery was indicated and treatment of esophageal carcinoma was postponed. Patient progressed steadily, with no signs of postoperative infection. After return, he presented no complaints and was referred to the radiotherapy service for a therapeutic approach to esophageal neoplasia. The Esophageal Squamous Cell Carcinoma is more common in the proximal and middle portions of the esophagus, with the distal region being the site afected in the reported case. Despite clinical symptoms, a growing number of asymptomatic cases have been identiied through upper gastrointestinal endoscopy. Surgical treatment consists of amputation of the upper limb, along with the scapula and clavicle, being justiied by the metastatic invasion of the rotator cuf and deltoid structures. With its high iniltrative power and metastatic dissemination, the Squamous Cell Carcinoma of the esophagus manifests a gloomy prognosis, which treatment, based on the case reported, is based on the interscapulothoracic disarticulation. KEYWORDS: Squamous cell carcinoma. Surgical oncology.

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19 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


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21 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


CAPÍTULO 3 CIRURGIA PEDIÁTRICA DE CRANIOFARIGIOMA: RELATO DE CASO Resumo Craniofaringiomas são malformações raras da área selar ou paraselar que, na maioria das vezes, não são letais, mas que ocasionam uma perda progressiva da qualidade de vida do paciente, devido ao acometimento de estruturas anatomicamente próximas. O tratamento é principalmente cirúrgico, com a ressecção do tumor e, normalmente, traz resultados satisfatórios, mas também pode trazer sequelas irreversíveis para o indivíduo, como a diabetes insipidus. A radioterapia pode ser um tratamento complementar, porém, apesar de eicaz e menos invasiva, traz vários riscos de complicações, principalmente em crianças. O presente estudo tem como objetivo relatar um caso de paciente pediátrico com craniofaringioma e hidrocefalia moderada que apresentava cefaleia, subdesenvolvimento físico grave, leucocitose e hipertensão ocular ao procurar o serviço de saúde. A partir da ressonância magnética, o paciente recebeu o diagnóstico de um craniofaringiomade aspecto sólido-cístico que ocupava as cisternas suprasselar e interpeduncular medindo 5,2 x 4,7 x 4,6 cm nos diâmetros anteroposterior, laterolateral e craniocaudal, respectivamente. Foi indicado o tratamento cirúrgico fazendo uso das técnicas de neuroendoscopia e do cateter de Ommaya. No pós-operatório, o paciente encontrava-se lúcido e orientado no tempo e no espaço e sem sequelas importantes. PALAVRAS-CHAVE: Craniofaringioma. Hidrocefalia. Neuroendoscopia.

Ilary Gondim Dias Sousa1 Acadêmica de Medicina - FAMENE

Bianca Marinho Costa Sales2 Acadêmica de Medicina - FAMENE

Taynah Leite Dantas3 Acadêmica de Medicina - FAMENE

Ana Christina Ferreira Costa4 Acadêmica de Medicina - FAMENE

Cláudia Barros Gonçalves da Silva5 Docente da Faculdade de Medicina - FAMENE

22 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


INTRODUÇÃO Craniofarigiomas são malformações

pois a radiação diminui o risco de crescimento

raras da área selar ou paraselargeralmente

tumoral se a ressecção total do tumor não for

não letais. Entretanto, existe uma piora na

possível. Apesar de eicaz e menos invasiva,

qualidade da vida do paciente, devido ao

a radioterapia traz vários riscos de compli-

acometimento das estruturas anatomica-

cações, principalmente em crianças, como ra-

mente próximas, como o quiasma/nervo óp-

dionecrose, surdez, epilepsia, hipopituitarismo

tico e o eixo hipotalâmico-hipoisário1.

secundário e tumores radioinduzidos2.

O tratamento indicado é na maioria das

Independentemente

do

tratamen-

vezes cirúrgico, podendo haver radioterapia

to escolhido, há altas chances do paciente

complementar. A cirurgia traz sequelas impor-

desenvolver deiciência hormonal do hormô-

tantes para o indivíduo, uma vez que 37.5%

nio do crescimento, substância importante

dos pacientes apresentaram casos de diabe-

para o desenvolvimento saudável do paci-

tes

insipidus2.

ente pediátrico3. O presente estudo teve

Além disso, 24.5% dos pacientes re-

como objetivo relatar um caso de cirurgia

lataram reaparecimento do tumor dentro de

de craniofarigioma em paciente pediátrico.

um período de 5 a 10 anos. Esse número está

O estudo foi realizado após aprovação no

relacionado com o fato de, muitas vezes, não

Comitê de Ética em Pesquisa das Faculdades

haver a completa retirada do tumor. Nesses

de Enfermagem e Medicina Nova Esperança

casos, é possível recomendar a radioterapia,

(CAAE: 79720017.3.0000.5179).

RELATO DO CASO Um menino de 14 anos foi encaminha-

mento importante do número de neutrói-

do ao hospital, devido a um histórico de ce-

los segmentados: valor máximo de 10.804/

faleia durante 3 meses antes da internação

mm3 (VR - 1.350 a 5.400/mm3). Os demais

e ao subdesenvolvimento físico grave. Asso-

exames de sangue, com achados normais ou

ciadamente, apresentou náuseas, vômitos e

negativos, incluíram contagem hematológica

tontura. Ao examinar mais detalhadamente,

completa, taxa de segmentação eritrocitária,

foram detectados aumento da pressão ocu-

análise de urina, teste do tempo de coagu-

lar, edema de fundo de olho e aumento de

lação sanguínea e enzimas hepáticas. A Res-

proteínas no líquido cerebrospinal: 69 mL/

sonância Magnética Nuclear (RMN) mostrou

dL (valor de referência (VR) - 15 a 45 mg/

a presença de uma lesão expansiva selar/

dL). Além disso, observaram-se alterações

suprasselar de aspecto sólido-cístico, pre-

nos 3 leucogramas realizados, com um au-

dominantemente cístico, que ocupava as

23 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


cisternas suprasselar e interpeduncular,

média. Em seguida, durotomia, corticec-

medindo 5,2 x 4,7 x 4,6 cm nos diâmetros

tomia e punção ventricular com endosco-

anteroposterior, laterolateral e craniocau-

pia. Com o acesso ao ventrículo lateral foi

dal, respectivamente (Figuras 1 e 2). Vale

feita a retirada do tumor e, por im, foi im-

ressaltar a ausência de história de câncer

plantado o cateter de Omaya e realizado o

na família. Devido ao tumor, diagnosticado

fechamento com surgicel e cola biológica.

como um craniofaringioma, foram também

No pós-cirúrgico, foi realizado o monitora-

observadas hipertensão intracraniana e hi-

mento de TSH, T4L, ACTH e cortisol (sem

drocefalia. Indicou-se tratamento cirúrgico.

alterações) e o tratamento com Hidan-

Nele, realizou-se uma incisão parafrontal

tal.

esquerda paramediana a 3 cm da linha FIGURA 1: Imagens parasagitais da RMN

FIGURA 2: Imagens axiais da RMN

DISCUSSÃO O craniofaringioma é um tumor de

tumoral. Tal fato diiculta sua remoção cirúr-

caráter, em sua grande maioria, benigno e

gica e eleva a possibilidade de sequelas

de consistência variável, podendo ser só-

pós-cirúrgicas como lesões intraoperatórias

calciicações4.

das áreas circundantes e problemas hor-

Apesar de seu caráter benigno, o peril in-

monais8. Além disso, seu caráter benig-

iltrativo que o acompanha compromete

no pode ser questionado pelo fato de ser

estruturas importantes, tais como o eixo

a lesão que mais destrói a região selar3.

pituitário, as vias visuais, além de estru-

Assim, faz-se necessário uma análise his-

turas vasculares e nervosas adjacentes à

tológica detalhada referente a seu peril de

sela túrcica, principal área de localização

malignidade9.

lido ou cístico, com ou sem

24 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


Sua origem histológica pode ser ex-

delimitação um tecido epitelial colunar. A

plicada através da teoria embriológica e de

segunda variante, o tipo papilar, é carac-

metaplasia. Quanto à origem embriológi-

terizada por um epitélio escamoso de su-

ca, admite-se que o tumor seja originado a

perfície de maturação carente que forma

partir da bolsa de Ratke (resquícios de um

uma massa monomórica, não existindo

divertículo ectodérmico da adenohipóise)

clara evidência de células tumorais, mas

que percorre o canal craniofaríngeo. A se-

apresentando discreta gliose5. O tipo pa-

gunda teoria airma que os tumores se

pilar apresenta maior incidência na faixa

originam da metaplasia de células epite-

etária adulta, podendo corresponder a até

liais escamosas remanescentes da adeno-

50% dos casos de craniofaringioma nos

infundíbulo5.

indivíduos dessa faixa etária4. Pode ain-

hipóise ou do

A incidência desta morbidade tem

da existir o tipo híbrido no qual ambas as

um característico pico bimodal: o primeiro

variantes coexistem8. No caso apresen-

na idade pediátrica, entre 5 e 14 anos, e

tado, o craniofaringioma é característico

o segundo na fase adulta entre 50 e 74

da variante adamantinomatosa, fato evi-

anos, com uma incidência e 0,5 a 2 casos

denciado pela presença de calciicações e

em 1 milhão por ano.1 São considerados

de conteúdo sólido cístico apresentado em

tumores relativamente raros, mas também

ressonância magnética, corroborando com

os tumores não gliais mais comuns entre

a airmativa de que este tipo é o mais co-

a população pediátrica, sendo referente a

mum em pacientes pediátricos bem como a

até 9% dos tumores cerebrais que ocor-

presença de calciicações também eviden-

rem nesse período de vida5. Além disso,

ciadas4.

correspondem ao segundo tumor mais fre-

A

maioria

dos

localização

craniofaringiomas

quente na região selar em qualquer faixa

apresentam

supraselar

por

etária, icando atrás apenas do adenoma

vezes com componente intraselar, sendo

ptuitário2.

as áreas adjacentes de extensão mais co-

No caso analisado, o paciente de 14

muns a fossa anterior, fossa média, fossa

anos encontra-se no primeiro grupo epide-

retroclival e fossa posterior respectiva-

miológico e apresenta lesão expansiva de

mente. Tal localização torna a intervenção

líquido espesso com focos de calciicação.

cirúrgica limitada, devido à proximidade de

Quanto à classiicação, o tumor pode as-

estruturas consideradas nobres e que es-

sumir duas variantes: adamantinomatosa

tão dispostas adjacentes à área de maior

e papilar. A primeira apresenta um epitélio

incidência tumoral. Dentre essas estrutu-

escamoso multe estratiicado formando

ras temos a hipóise, o hipotálamo, ner-

cordões, além de calciicações e cistos de

vos ópticos e artérias carótidas5. No caso

coloração acastanhada devido ao acúmulo

analisado a lesão está localizada na cis-

de colesterol. Apresenta ainda nódulos e

terna suprasselar e interpenduncular exer-

trabéculas de peril irregular que tem como

cendo consequente efeito compressivo so-

25 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


bre as estruturas do hipotálamo, terceiro

sólido-cístico,

ventrículo e pedúnculos cerebrais. Esse

co, que ocupava as cisternas suprasselar

efeito de massa local corrobora no com-

e interpeduncular medindo 5,2 x 4,7 x 4,6

prometimento funcional das estruturas ad-

cm nos diâmetros anteroposterior, latero-

jacentes à lesão expansiva1. Tal fato pode

lateral e craniocaudal, respectivamente. O

ser observado no desenvolvimento de um

acompanhamento e a progressão do caso

concomitante quadro de hidrocefalia não

devem ser feitos por ressonância magnéti-

comunicante, resultante da obstrução do

ca, pois diminui a exposição à radioativi-

sistema ventricular. Esse fato foi eviden-

dade e apresenta melhor possibilidade

ciado em exame de ressonância magnética

diagnóstica. Uma vez feita a detecção

através da moderada dilatação ventricular e

pré-operatória de calciicações e conir-

dos sinais de hipertensão intracraniana com

mação de ressecção completa do tumor,

transudação liquóricatransependimária, cor-

através de ressonância pós-operatória, é

roborando com o que consta na literatura

recomendada uma tomograia computa-

que a hidrocefalia é uma das primeiras al-

dorizada pós-cirúrgica para deinitiva con-

terações descritas em

predominantemente

císti-

irmação de ressecção total do tumor1.

crianças5.

Quanto aos métodos diagnósticos, os

Vale-se salientar que o diagnósti-

exames de imagem são os mais utilizados

co por imagem não viabiliza o diagnósti-

para uma melhor análise das características

co deinitivo de craniofaringioma. Se visto

tumorais. A ressonância magnética e a to-

separadamente, este deve ser associado ao

mograia computadorizada permitem uma

exame histopatológico, que inclusive indi-

localização mais precisa da massa tumoral

ca a variante da doença, e ao diagnósti-

bem como permitem a visualização de cal-

co clínico. Devido à localização da lesão

ciicações intratumorais presentes em até

o quadro clínico é amplo e muitas vezes a

90% dos casos, apresentando a tomogra-

manifestação dos sintomas e o diagnóstico

ia vantagem na visualização da estrutura

são tardios, principalmente na faixa etária

óssea da sela túrcica e de calciicações,

pediátrica.

principalmente no subtipo adamantino-

por sintomas provenientes do aumento da

matoso10. A ressonância magnética é uti-

pressão intracraniana, tais como dor de

lizada principalmente no pré-operatório

cabeça e náuseas.1 Posteriormente, obser-

permitindo uma melhor localização do tu-

vam-se sintomas originados do efeito de

mor, bem como permite analisar o estado

compressão de massa exercido pelo tumor.

das estruturas adjacentes, podendo ainda

Estes incluem manifestações como: déicit

através de incidências em T1 e T2 possi-

visual por compressão do nervo óptico, dei-

tumor.5

ciências endócrinas, pan-hipopituitarismo,

No caso analisado, a ressonância mag-

além de disfunções hipotalâmicas como al-

nética mostrou a presença de uma lesão

terações de sono, apetite e crescimento7.

bilitar inferir sobre a iniltração do

expansiva selar/suprasselar de aspecto

Inicialmente,

caracteriza-se

Devido à proximidade com o eixo

26 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


hipotalâmico-hipoisário, o efeito de com-

supraorbitário12. No caso analisado, após

pressão, exercido pelo tumor, resultou em

avaliação diagnóstica da equipe, realizou-se

disfunções endócrinas, como o déicit de

uma incisão parafrontal esquerda parame-

crescimento apresentado pelo paciente,

diana a 3 cm da linha média. Em seguida,

valendo salientar que a suspeita inicial do

durotomia, corticectomia e punção ven-

diagnóstico de craniofaringioma foi elenca-

tricular com endoscopia; com o acesso ao

da durante consulta com endocrinologista,

ventrículo lateral foi feita a retirada do tu-

evidenciando o caráter interdisciplinar do

mor. Por im, foi implantado o cateter de

quadro e o comprometimento de estrutu-

Omaya e realizado o fechamento com sur-

ras endócrinas adjacentes. O paciente tam-

gicel e cola biológica. A radioterapia con-

bém apresentou o quadro característico de

vencional não foi indicada, devido aos altos

náuseas e dor de cabeça, ambos devido à

riscos associados ao método, sobretudo na

hipertensão intracraniana, além de com-

idade pediátrica, tais como hipopituitaris-

prometimento visual, devido ao aumento

mo secundário e tumores radioinduzidos5.

da pressão intraocular e edema de fundo

Os glicocorticóides têm um amplo

de olho. No craniofaringioma pediátrico cer-

espectro de indicações terapêuticas, po-

ca de 20 a 50% dos casos são acompanha-

dendo ser utilizados de forma substituti-

dos de disfunções endócrinas, fazendo-se

va em casos de insuiciência adrenocorti-

necessário acompanhamento dos níveis

cal, ou no diagnóstico de doenças como

hormonais, mesmo após ressecção com-

a síndrome de Cushing6. No caso anali-

pleta do tumor7. Este fato foi constatado

sado, foi feito a corticoterapia utilizan-

ao ser solicitado no pós-cirúrgico o monito-

do Dexametasona (Decadron), devido ao

ramento de TSH, T4L, ACTH e cortisol (sem

comprometimento hipotalamo-hipoisário,

alterações) e o tratamento com Hidantal.

o qual impede a liberação dos hormônios

O tratamento para o craniofaringio-

de crescimento produzidos pela hipóise,

ma é primariamente cirúrgico. No entanto,

causando assim um déicit na estatura,

este deve ter uma abordagem interdisci-

principalmente em crianças, aparentando

plinar de modo que cada caso seja visto

serem mais novas.

de forma individualizada e métodos alter-

Existe uma extensa lista de efeitos

nativos sejam considerados, conforme a

indesejáveis durante a corticoterapia, em

viabilidade ou não do procedimento cirúr-

geral relacionados ao tempo de tratamen-

gico11.

A área bem vascularizada sujeita

to e uso de glicocorticóides de ação mais

a calciicações restringe a ressecção total

prolongada6. No caso analisado foi pos-

do tumor2. Os acessos utilizados são as ro-

sível identiicar leucocitose por uso de cor-

tas transcranianas da linha média anterior

ticoides. É de extrema importância man-

e frontolateral. Além destas, para tumores

ter sempre o monitoramento hormonal e

suprasselares é recomendada a cirurgia en-

a reposição hormonal quando indicada,

doscópica transfenoidalendobasal e acesso

atentando para as doses.

27 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


Nas duas semanas seguintes ao

sencial da equipe no apoio psicológico

pós-operatório, o paciente seguiu em es-

ao sempre explicar claramente os pro-

tado geral regular, lúcido e orientado no

cedimentos realizados. Isso mostra a im-

tempo e no espaço e sem sequelas im-

portância da Medicina humanizada na ga-

portantes do procedimento realizado.

rantia do bem-estar do paciente.

Foi ressaltado por ele o papel es-

CONSIDERAÇÕES FINAIS O relato de caso deste estudo con-

hormonais deve ocorrer de forma con-

sistiu em apresentação de craniofaringi-

tinuada, mesmo após a ressecção

oma (tumor de caráter geralmente benig-

total do tumor, na qual foi restringida

no e de consistência variável, com ou sem

ao paciente a ressecção total pela pre-

calciicações) em um paciente pediátri-

sença maciça de vascularização sujeita a

co, apresentando também a importân-

calciicações. Quanto ao tratamento, foi

cia da ressonância e da tomografia com-

possível concluir que é primariamente

putadorizada, como exames necessários

cirúrgico, mas que deve sempre ser vis-

para localização precisa da massa tu-

to de modo individualizado e buscando

moral, além da clínica, que também se

sempre métodos alternativos.

mostra essencial para um diagnóstico fidedigno.

A radioterapia convencional pode causar hipopituitarismo secundário e

A proximidade do tumor com o

tumores radioinduzidos, sobretudo na

eixo hipotálamo-hipofisário resulta no

idade pediátrica. Portanto, foi dispensa-

déficit de crescimento e a hipertensão

da no tratamento do paciente, o qual fez

intracraniana resulta em náuseas. Sin-

uso da corticoterapia, sempre controlan-

tomas todos apresentados pelo paciente

do o tempo de uso e a dose, uma vez que

relatado.

pode causar uma extensa lista de efeitos

Uma vez que uma grande por-

indesejáveis. Por essas alterações, se

centagem dos casos de craniofaringioma

faz necessário o acompanhamento por

pediátrico é acompanhada de disfunções

um endocrinologista capaz de manejar

endócrinas, o monitoramento dos níveis

essas morbidades.

28 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


PEDIATRIC SURGERY OF A CRANIOPHARYNGIOMA: A CASE REPORT

ABSTRACT Craniopharyngiomas are rare malformations of the selar or parasellar area, which are most often not lethal, but cause a progressive loss of the patient’s quality of life due to the involvement of anatomically close structures. The treatment is mainly surgical, with the tumor resection, that usually brings satisfactory results, but which can also bring important sequelae to the individual, such as diabetes insipidus. There may be complementary radiotherapy, which, although efective and less invasive, carries several risks of complications, especially in children. The present study aims to report a case of a pediatric patient with craniopharyngioma and moderate hydrocephalus who presented with headache, severe physical underdevelopment, leukocytosis and ocular hypertension when searching the health service. From magnetic resonance imaging, the patient was diagnosed with a cystopharyngioma with a solid-cystic aspect that occupied the suprasellar and interpeduncular cisterns measuring 5.2 x 4.7 x 4.6 cm in the anteroposterior, laterolateral and craniocaudal diameters, respectively. Surgical treatment was indicated using the techniques of neuroendoscopy and the Ommaya catheter. In the postoperative period, he was lucid and oriented in time and space and without signiicant sequelae. KEYWORDS: Craniopharyngioma. Hidrocephaly. Neuroendoscopy.

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29 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


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30 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


CAPÍTULO 4 SÍNDROME DE GULLO: RELATO DE CASO

Resumo A Hiperenzinemia Pancreática Benigna Familiar, ou Síndrome de Gullo, foi descrita pela primeira vez em 1996. Caracteriza-se pela elevação dos níveis séricos das enzimas pancreáticas (amilase e lipase), acima de três vezes do limite superior da normalidade (LSN), por período maior que um ano, não havendo patologia biliopancreática que justiique a elevação. Paciente de 62 anos, mulher, assintomática, busca gastroenterologista para investigação de elevação de enzimas pancreáticas, detectada em exames de rotina, apresentando abdome sem alterações ao exame físico, negativa para tabagismo e etilismo, colecistectomia prévia há 20 anos. Exames de imagem não apresentaram alterações pancreáticas ou nas vias biliares, porém os níveis das enzimas permaneceram com elevação de 2 a 3 vezes o LSN. Diante da elevação assintomática e isolada das enzimas pancreáticas (lipase e amilase), a paciente foi diagnosticada com Síndrome de Gullo e recebeu alta médica. A elevação sérica das enzimas pancreáticas é uma manifestação característica de várias doenças pancreáticas e não-pancreáticas e, na ausência de patologia que justiique esta elevação, a Síndrome de Gullo torna-se uma hipótese diagnóstica, embora sua etiologia não seja clara. O diagnóstico adequado desta forma de hiperenzinemia é importante para assegurar aos indivíduos com esta anomalia, o caráter benigno da Síndrome, além de prevenir testes de diagnóstico múltiplos e caros, ou hospitalizações e terapias desnecessárias. PALAVRAS-CHAVE: Gastroenterologia. Lipase. Pâncreas

Flávia Tomé Cavalcante1 Acadêmica de Medicina - FAMENE

João Victor Fernandes de Paiva2 Acadêmica de Medicina - FAMENE

Tarciana Vieira da Costa3 Graduada em Medicina. Docente - FAMENE

31 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


INTRODUÇÃO A Hiperenzinemia Pancreática Be-

mentos terapêuticos desnecessários, sen-

nigna Familiar, mais conhecida como Sín-

do hospitalizados e expostos a terapias

drome de Gullo, foi descrita pela primeira

ineicientes e/ou dispensáveis. Existe ain-

vez em 1996. Caracteriza-se pela elevação

da grande preocupação e receio por parte

dos níveis séricos das enzimas pancreáti-

dos mesmos, pela possibilidade aventada

cas (amilase e lipase), acima de três vezes

de tratar-se de alguma patologia potencial-

o limite superior da normalidade, por perío-

mente grave 3.

do maior que um ano. Há ausência de

O conhecimento e diagnóstico cor-

doenças biliopancreáticas que justiiquem

reto dessa síndrome tem fundamental im-

estas elevações, com pâncreas absoluta-

portância, pois se trata de uma doença

mente normal em exames de imagem 1.

benigna

e

sem

maiores

repercussões

Na maioria das vezes é assintomáti-

sistêmicas, ajudando a assegurar aos por-

ca, sendo detectada, mais frequentemente,

tadores de tal defeito enzimático que não

de forma incidental.

Pode ser esporádi-

existe enfermidade no pâncreas. Os testes

ca ou familiar e apresentar-se em quadro

bioquímicos e invasivos no paciente com

de lutuações persistentes ou transitórias,

Síndrome de Gullo apresentam-se normais,

afetando todas as enzimas pancreáticas,

incluindo Wirsungraia, mesmo diante da

mas em alguns casos, só uma delas 2.

elevação das enzimas pancreáticas1. Este

O mecanismo que gera um aumen-

trabalho tem por objetivo relatar o caso de

to na produção das enzimas pelas células

uma paciente, sem anormalidades de vias

pancreáticas é desconhecido. Porém, tal

biliares e pâncreas, diagnosticada com Sín-

defeito tem sido encontrado em vários

drome de Gullo, e revisar a literatura so-

membros da mesma família, surgindo, as-

bre tal síndrome. O estudo foi realizado

sim, uma possibilidade de bases genéti-

após aprovação no Comitê de ética em

cas

Pesquisa das Faculdades de Enferma-

1.

Em certos casos, os pacientes podem ser submetidos a exames e procedi-

gem e Medicina Nova Esperança (CAAE: 80765717.4.0000.5179).

RELATO DO CASO MFFS, 62 anos, feminino, natural

creáticas, detectada em exames de rotina.

de Serra da Raiz/PB, aposentada. Procura

Paciente assintomática, negando queixas

gastroenterologista em junho/2015 para

dispépticas ou dores abdominais. Passado

investigação de elevação de enzimas pan-

de colecistectomia eletiva há 20 anos. Re-

32 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


latava diagnóstico de transtorno depres-

suspensos e os níveis de lipase e amilase

sivo do humor, fazendo uso de duloxeti-

foram monitorados a cada três meses,

na 30mg/dia e clonazepam 2mg/noite há

durante 14 meses, exibindo lutuação dos

6 meses. Negava tabagismo e etilismo.

seus níveis, porém persistindo sempre

Exame

abdome

com elevação de 2 a 3 vezes o LSN. Cál-

alterações. Exames laboratoriais

cio sérico, lipidograma, PTH e IgG4 séri-

revelavam elevação de lipase e amilase

ca dentro dos valores de normalidade.

séricas 2 a 3 vezes o limite superior de

Em agosto/2016, foi submetida a ultras-

normalidade (LSN). Colangiorressonância

sonograia endoscópica, para avaliação

nuclear magnética, realizada em duas

de parênquima pancreático, que revelou

ocasiões, não revelou alterações nas vias

pâncreas dentro dos padrões da normali-

biliares intra-hepáticas ou no Wirsung,

dade.

sem

físico

do

demonstrando apenas discreta ectasia

Diante da elevação assintomática

do colédoco, sendo atribuída à colecis-

e isolada das enzimas pancreáticas (li-

tectomia prévia. TC de abdome com con-

pase e amilase), a paciente foi diagnos-

traste não demonstrou alterações pan-

ticada com Síndrome de Gullo e recebeu

creáticas.

alta médica.

A duloxetina e o clonazepam foram

DISCUSSÃO

A

elevação

sérica

das

enzimas

suiciência renal 4.

pancreáticas é uma manifestação carac-

A Hiperenzinemia Pancreática Be-

terística de várias doenças pancreáticas

nigna Familiar, ou síndrome de Gullo, é

e não-pancreáticas. As etiologias mais co-

uma entidade clínica recentemente identi-

muns são pancreatite aguda e neoplasias

icada, caracterizada pelo aumento sérico

pancreáticas. Tais níveis elevados também

das enzimas pancreáticas, na ausência de

podem estar associados a cetoacidose dia-

doença do pâncreas 5.

bética. Existem, também, outras etiologias

O quadro pode ser esporádico ou

não-pancreáticas, como gravidez ectópi-

familiar e, geralmente, afeta todas as en-

ca, infecção do vírus da imunodeiciência

zimas pancreáticas. Em alguns casos,

humana, traumatismo craniano, colecis-

apenas uma, de maneira persistente ou

tite aguda,

por meio de lutuações e até mesmo com

hipertrigliceridemia,

infarto

mesentérico, úlcera duodenal, obstrução

normalização transitória

ou

questão, observa-se um aumento das duas

distúrbios

inlamatórios

intestinais,

doenças hepáticas, trauma abdominal e in-

1.

No caso em

enzimas (amilase e lipase).

33 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


Na Síndrome de Gullo, há níveis de

enzimas

pancreáticas

estimulação de secretinas 4. No entanto,

persistente-

no caso dessa paciente, não houve al-

mente aumentadas, como amilase, lipase

teração nas vias biliares intra-hepáti-

e iso-amilase, sem evidência de doença

cas e no Wirsung.

pancreática. Após a detecção da hipe-

No primeiro trabalho dedicado a

renzinemia, é necessário um período de

esta Síndrome, a forma esporádica foi

no mínimo um ano para inalizar o diag-

descrita em 18 indivíduos, no período

nóstico como síndrome de Gullo. Frequen-

entre janeiro de 1987 a junho de 1991,

temente, os níveis de enzimas mostram

estando todos os pacientes com alterações

uma lutuação considerável e também

nas enzimas pancreáticas, mas sem nenhu-

normalização transitória. Quase 90-95%

ma patologia clínica identiicável, fato esse

desses pacientes apresentam níveis el-

demonstrado por nossa paciente. Em

evados de todas as enzimas pancreáticas

um trabalho posterior, foi abordada a

e raramente 5-10% desses pacientes po-

forma familiar dessa hiperenzinemia pan-

dem ter apenas níveis elevados de ami-

creática benigna, analisando-se 7 famílias

lase ou lipase

6.

Embora

e observando-se que mais de um mema

etiologia

da

hipe-

renzinemia pancreática benigna não

bro da mesma família apresentava esta elevação enzimática 1.

seja clara, o mecanismo patológico

Portanto, o diagnóstico adequa-

provavelmente está relacionado a um

do desta forma de hiperenzinemia é im-

defeito na superfície basolateral das

portante para assegurar aos indivíduos

células acinares para secretar enzimas,

com esta anomalia o caráter benigno da

o que pode resultar no aumento da

síndrome, além de prevenir testes de di-

passagem de enzimas para a corrente

agnóstico múltiplos e caros, ou hospital-

sanguínea. Também pode ser causado

izações ou terapias desnecessárias 7.

por mudanças no duto de Wirsung, por

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A

Hiperenzinemia

Pancreática

rar aos indivíduos com esta anomalia

Benigna Familiar, mais conhecida como

que há o caráter benigno da síndrome,

Síndrome de Gullo apresenta um qua-

além de prevenir testes de diagnóstico

dro clínico e laboratorial diverso, o que

múltiplos e caros, ou hospitalizações

torna importante o conhecimento sobre

ou terapias desnecessárias.

esta entidade clínica, por parte da equipe de saúde, em especial para assegu-

34 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


GULLO’S SYNDROME: CASE REPORT ABSTRACT Benign Familial Pancreatic Hyperenzyma, or Gullo Syndrome, was irst described in 1996. It is characterized by elevated serum levels of pancreatic enzymes (amylase and lipase), over three times the upper limit of normality, for a period longer than one year, and there is no biliopancreatic pathology justifying the elevation. A 62-year-old female patient, asymptomatic, gastroenterologist search to investigate the elevation of pancreatic enzymes, detected in routine exams, presenting an abdomen without alterations in the physical examination, negative for smoking and alcoholism, previous cholecystectomy 20 years ago. Image exams did not present pancreatic or biliary changes, but the levels of the enzymes remained elevated 2 to 3 times the ULN. Facing the asymptomatic and isolated elevation of pancreatic enzymes (lipase and amylase), the patient was diagnosed with Gullo’s Syndrome and was discharged. Serum elevation of pancreatic enzymes is a characteristic manifestation of several pancreatic and non-pancreatic diseases. In the absence of pathology justifying this elevation, Gullo’s Syndrome becomes a diagnostic hypothesis, although its etiology is unclear. The proper diagnosis of this form of hyperenzymaemia is important to assure individuals with this anomaly about the benign nature of the syndrome, as well as prevent multiple and expensive diagnostic tests or hospitalizations or unnecessary therapies. KEYWORDS: Gastroenterology. Lipase. Pancreas.

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36 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


CAPÍTULO 5 RELATO DE CASO DE PACIENTE COM DIAGNÓSTICO DE NEUROCISTICERCOSE Resumo A cisticercose humana tem como agente etiológico o helminto Taenia solium. A infecção ocorre quando o indivíduo ingere os seus ovos e, por possuir maior tropismo pelo sistema nervoso central, gera a neurocisticercose. A forma mais grave da doença é a principal causa de epilepsia em áreas endêmicas. O objetivo do estudo é relatar o caso de um paciente portador de neurocisticercose, através de uma pesquisa descritiva em Hospital de Emergência. Paciente do sexo masculino, 30 anos, consciente, desorientado, com cefaleia, sonolência e queixas de vômitos, sem pródromos e nem uso de medicações, sem déicit motores e nem alterações do relexo fotomor e consensual. A tomograia de crânio (TC) identiicou presença de hipodensidade arredondada com paredes parcialmente calciicadas, medindo cerca de 0,6 cm no lobo occipital direito. A ressonância nuclear magnética conirmou o diagnóstico. O paciente tem boa parte do peril epidemiológico característico. A TC de crânio, evidenciou as calciicações. Entretanto, não foi possível o diagnóstico etiológico, sendo necessária a realização de ressonância magnética com diagnóstico, após a liberação do laudo. No caso em questão, a apresentação foi típica, manifestando-se com convulsão inédita, sem pródromos e com cefaleia. O tratamento medicamentoso baseia-se em Albendazol e o Praziquantel. Além de eliminar os cisticercos, o tratamento visa também a melhora da sintomatologia clínica do paciente. Nesse aspecto, o Albendazol se destaca, pois foi melhor tolerado, com menor frequência de reações colaterais, sem contar o custo-benefício do medicamento. O paciente tem peril epidemiológico característico para a neurocisticercose, apresentou quadro de convulsão inédita e cefaleia. Os exames realizados permitiram a exclusão das inúmeras possíveis causas de convulsão. Entretanto, foi necessária a realização de ressonância magnética, mas deu um bom prognóstico para o paciente através da terapêutica adequada. PALAVRAS-CHAVE: Neurocisticercose. Exame neurológico. Albendazol.

Eduardo Brito Souza Nóbrega1 Acadêmico de Medicina - FAMENE

Rebeca de Albuquerque Paulino2 Acadêmica de Medicina - FAMENE

Ruan César Teixeira de Carvalho3 Acadêmico de Medicina - FAMENE

Yohana Oliveira de Barros4 Acadêmica de Medicina - FAMENE

Cláudia Barros Gonçalves da Silva5 Docente da Faculdade de Medicina - FAMENE

37 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


INTRODUÇÃO A cisticercose humana é um problema

ples com sintomas positivos ou negativos,

de saúde pública, com prevalência em áreas

não guarda relação entre a localização dos

com precárias condições sanitárias e socio-

cistos e das crises. Já o comprometimento

econômicas. O agente etiológico é o helminto

cognitivo é potencialmente reversível com o

Taenia solium e a infecção ocorre quando o

tratamento³.

indivíduo ingere os seus ovos. Já foram identi-

O diagnóstico da neurocisticercose

icados presença de cisticercos no globo ocu-

pode ser realizado pela demonstração con-

lar e nos músculos, mas tem maior tropismo

clusiva do cisticerco: detecção do parasita

pelo sistema nervoso central (SNC), sendo a

em biópsia de uma lesão cerebral ou medu-

neurocisticercose (NCC) a forma mais grave

lar; visualização do escólex por tomograia

da doença¹. Existem três estágios principais:

computadorizada (TC) ou ressonância mag-

vesicular (viáveis), coloidal (degenerativo) e

nética (RM); e exame de fundo de olho (in-

calciicado (inativo).

traocular). No caso em que esses exames

A neurocisticercose pode ser con-

apresentam resultados negativo, leva-se em

siderada a principal causa de epilepsia em

consideração para o diagnóstico da doença,

regiões endêmicas. Apesar de ser uma pa-

os testes laboratoriais, a história clínica e

tologia potencialmente erradicável, alguns

epidemiológica. Os exames de imagem são

fatores contribuem para a manutenção des-

considerados como padrão-ouro no diagnósti-

sa enfermidade. Em uma dada localidade,

co da neurocisticercose, por permitirem a vi-

estão associados à presença de indivíduos

sualização de estruturas do parasito e do pro-

portadores, hábitos de higiene e alimentar-

cesso reacional do hospedeiro4.

es inadequados, a criação e abate de suínos

A pesquisa teve como objetivo o re-

irregulares². Podem-se apresentar inúmeras

lato de caso de um paciente portador de

manifestações, desde formas assintomáticas

neurocisticercose, ao descrever o quadro

até síndromes clínicas, sendo a epilepsia pre-

clínico, métodos diagnósticos empregados

sente em 90% dos casos, do tipo parcial sim-

e tratamento realizado.

METODOLOGIA Trata-se

de

uma

pesquisa

do

ente admitido no Hospital com diagnósti-

tipo relato de caso de aspecto descri-

co de Neurocisticercose. O prontuário foi

tivo, realizada no Hospital Estadual de

o instrumento utilizado para a coleta de

Emergência e Trauma Senador Humberto

dados ao paciente e instituição hospitalar,

Lucena. O relato de caso é de um paci-

com o intuito de coleta de todos os dados

38 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


clínicos, laboratoriais e de imagem. O estu-

Enfermagem e Medicina Nova Esperança

do foi realizado após aprovação no Comitê

(CAAE: 80969317.0.0000.5179).

de ética em Pesquisa das Faculdades de

RELATO DO CASO E.R.M, sexo masculino, 30 anos, é

0,6 cm, com halo hipodenso, sugerindo ede-

conduzido de sua residência à urgência

ma vasogênico, localizado no lobo occipital

do Hospital por uma Unidade de Suporte

direito, não podendo descartar a possibili-

Básico (USB) do SAMU às 15:50 do dia 13

dade de processo inlamatório granuloma-

de outubro de 2017, com relato de crise

toso. Sem desvio de linha mediana. Ausên-

convulsiva inédita. No SAMU, foi realizado

cia de processo expansivo, ventrículo e

acesso venoso periférico, realizada oxige-

tronco cerebral com morfologia preser-

noterapia. Apresentando-se consciente,

vada. Os exames laboratoriais revelaram

desorientado, com cefaleia e sonolência e

K+= 4,07nmol/L, Na+= 135nmol/L. Ur=

queixas de vômitos, via aérea livre, venti-

47mg/dL. Cr= 1,6 mg/dL. Ca2+= 8,6mg/

lação espontânea, sem edema e com pul-

dl. Glicemia= 115 mg/dL.

so cheio.

A avaliação realizada pelo neuro-

O Paciente foi atendido às 17 horas

cirurgião às 20 horas e 30 minutos do mes-

do dia 13, não relatou a existência de

mo dia permitiu a prescrição 2000 mls de

pródromos e nem uso de medicações. Ao

soro ringer lactato em 24 horas, omepra-

exame físico apresentou-se consciente e

zol 40mg 1 vez ao dia, 1 comprimido de

orientado, pulso de 113 bpm, pressão arte-

Paracetamol de 750 mg de 8/8 horas, On-

rial de 110/50 mmHg e saturação de 96%.

dansetrona 4 mg/2mL endovenoso e feni-

Não havia déicit motores e nem alterações

toína 500 mg/2mL de 8 em 8 horas.

do relexo fotomor e consensual. O ritmo

O Diazepam 20 mg foi adicionado no

cardíaco estava regular em dois tempos,

dia 14/10/2017 a critério médico e 1 mL de

bulhas normofonéticas, sem sopros. Rela-

Dexametasona 10mg/2,5mL endovenoso foi

tou alergia a dipirona. A conduta foi a so-

adicionado no dia 16/10/2017. Adicionou-se

licitação de Tomograia computadorizada (TC)

5 mL de Fenoterol 5mg/mL, e 1 mL Brometo

de crânio e exame laboratoriais, prescrição

de ipratrópio 0,25mg/mL por via inalatória

de 4 mL de fenitoína 500mg/mL e solici-

por 24 horas/dia, para melhorar a sensação

tação de parecer da neurologia.

de leve dispneia do paciente.

A TC foi realizada 40 minutos depois,

No dia 28/10/2017, foi liberado o

identiicando presença de pequena imagem

laudo do exame de ressonância nuclear

arredondada, hipodensa, com paredes par-

magnética do parênquima cerebral, evi-

cialmente calciicadas, medindo cerca de

denciando granuloma occipital direito com

39 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


edema vasogênico, associado compatível

adicionado por via oral o albendazol 400

com neurocisticercose. Dessa forma, os

mg de 8 em 8 horas. Teve alta, no dia

proissionais conseguiram realizar o di-

01/11/2017, sob orientação de continuar o

agnóstico diferencial entre o processo in-

tratamento em domicílio.

feccioso e glioma. No dia 28/10/2017, foi

DISCUSSÃO Os pacientes brasileiros com NCC,

devido a ter sido uma convulsão inédi-

seguem dois peris epidemiológicos: um

ta com queixas de cefaleia e vômitos e

peril geral e outro de gravidade. O per-

com 30 anos de idade3. O exame eviden-

il geral corresponde ao indivíduo de sexo

ciou as calcificações, entretanto não foi

masculino, faixa etária dos 31-50 anos,

possível o diagnóstico etiológico, sendo

procedência rural, com manifestações

necessária a realização de ressonância

epilépticas parciais complexas, associa-

magnética com diagnóstico, após a liber-

das ou não à depressão e/ou à cisticercose

ação do laudo.

cutânea, apresentando Líquido cefalorra-

A sintomatologia da Neurocisticer-

quidiano (LCR) normal, ou com hiperpro-

cose é bastante variada e depende de fa-

teinorraquia, calciicações ao exame de

tores como o número, a localização, fase

TC5. O paciente em questão possui boa

evolutiva dos cistos e imunidade do hos-

parte do peril epidemiológico, citado aci-

pedeiro. Os sintomas mais comuns são

ma, apenas não relatando a existência

as convulsões, a cefaleia, os distúrbios

de manifestações cutâneas. Também não

psíquicos, a hipertensão intracraniana,

foi necessária a realização de exame de

de forma isolada ou associados. Sendo a

líquor e não ter havido como caracterizar

convulsão, a manifestação mais comum

ielmente a convulsão inédita.

da NCC em pacientes ambulatoriais, e a

Os exames como TC e RM são tidos

Hipertensão intracraniana (HIC) a mani-

como ferramentas importantes no diagnósti-

festação mais frequente da NCC em pa-

co da Neurocisticercose, por possibilitarem a

cientes internados, geralmente às custas

visualização de estruturas do parasita. A TC

de hidrocefalia4. No caso em questão, a

mostra-se mais sensível na detecção de

apresentação foi típica, manifestando-se

cisticercos calcificados, já a RM, por ter

com convulsão inédita, sem pródromos e

uma melhor resolução, pode evidenciar o

com cefaleia.

escólex e os cisticercos até de localização ventricular4.

O tratamento pode ser medica-

No caso em questão, o pa-

mentoso ou cirúrgico. Quando medica-

ciente teve acesso à TC de crânio com

mentoso, o Albendazol e o Praziquantel

rapidez considerável, tendo indicações

são os principais antiparasitários6. Além

40 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


de eliminar os cisticercos, o tratamento

colaterais, sem contar o custo-benefício do

visa também a melhora da sintomatolo-

medicamento7. Ou seja, por ser o melhor

gia clínica do paciente. Nesse aspecto,

fármaco, o paciente foi tratado com a re-

o Albendazol se destaca, pois foi melhor

alização de doses diárias de Albendazol.

tolerado, com menor frequência de reações

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O paciente em questão apresen-

mograia computadorizada não permitiu

tava peril epidemiológico característi-

diferenciar a causa infecciosa da neo-

co para a neurocisticercose, bem como,

plásica. Assim, a realização de ressonân-

manifestações de quadro de convulsão

cia magnética foi necessária, permitindo

inédita e cefaleia. Os exames realizados,

postergar um pouco o diagnóstico, mas

em um tempo relativamente curto, per-

permitindo um bom prognóstico para o

mitiram excluir as inúmeras possíveis

paciente através da terapêutica adequa-

causas de convulsão. Entretanto, a to-

da.

41 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


CASE REPORT: PATIENT WITH NEUROCYSTICERCOSIS DIAGNOSTIC ABSTRACT The human cysticercosis has the etiological agent the worm Taenia solium, the infection occurs when the person ingests their eggs and it has tropism by the central nervous system, causing neurocysticercosis, the most severe form of the disease, is the principal cause of epilepsy in endemic areas. The objective is to report the case of a patient with neurocysticercosis through a descriptive study in an emergency hospital. 30-year-old male patient, conscious, disoriented, with headache and drowsiness and complaints of vomiting, without prodromes and no medication use, no motor deicit and no alterations of the photomorph and consensual relex. The cranial tomography (CT) identiied presence of rounded hypodensity with partially calciied walls, measuring about 0.6 cm in the right occipital lobe. Magnetic resonance imaging conirmed the diagnosis. The patient has the majority part of the characteristic epidemiological proile. The cranial CT examination revealed the calciications, but the etiological diagnosis was not possible, and it was necessary to perform a magnetic resonance. This case was typical, manifesting with unprecedented convulsion, without prodromes and with headache. The drug treatment is based on Albendazole and Praziquantel. In addition to eliminating cysticerci, treatment also aims to improve the clinical symptoms of the patient, in this aspect Albendazole stands out because it was better tolerated, with less frequency of side reactions, not counting the cost-beneit of the drug. The patient has a characteristic epidemiological proile for neurocysticercosis, presented with an unprecedented seizure and headache. The exams performed allowed the exclusion of innumerable possible causes of seizure, however it was necessary to perform magnetic resonance imaging, but gave a good prognosis to the patient through appropriate therapy. KEYWORDS: Neurocysticercosis. Neurological exam. Albendazole.

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43 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


CAPÍTULO 6 CORREÇÃO CIRÚRGICA DE FRATURA DE TERÇO MÉDIO DA FACE E USO PÓS-OPERATÓRIO DE KINESIO TAPING: RELATO DE CASO Resumo O trauma é um grande inluenciador do peril epidemiológico de morbimortalidade da população brasileira e mundial. A face é uma área particularmente exposta e vulnerável que abriga os principais órgãos do sentido e está muito próxima do cérebro. O procedimento cirúrgico nessa região ainda pode levar a dor, paralisia facial temporária e/ou ao trismo. Como uma forma de combater essas complicações, a bandagem elástica adesiva vem ganhando espaço como medida pós-operatória pertinente. O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa descritiva, exploratória, com abordagem qualitativa, do tipo relato de caso, de um paciente feoderma do gênero masculino, 41 anos, vítima de acidente automobilístico, que chegou ao Hospital Alberto Urquiza Wanderley com lesões dermoabrasivas, em face associadas à assimetria facial. A tomograia computadorizada evidenciou imagens sugestivas de fraturas do terço médio e o paciente foi submetido à redução e ixação das fraturas com intubação nasotraqueal, sob anestesia geral. O kinesiotaping foi aplicado no pós-operatório imediato, com a técnica de polvo ou franjas, cuja base foi localizada sobre a região pré-auricular e submandibular. A alta hospitalar foi dada ao paciente com 24 horas de pós-operatório, com retorno de 5 dias para retirada de pontos e troca do kinesiotaping. O complexo zigomático torna-se uma região do terço médio da face altamente susceptível à fratura, devido a sua relativa fragilidade, posição, projeção na face. O Kinesiotaping é um recurso não medicamentoso e de baixo custo que traz uma proposta terapêutica no controle das complicações vasculares e sintomáticas do trauma. Destaca-se o entendimento anatômico e funcional das estruturas a serem abordadas pelo proissional de saúde, para que assim ocorra uma intervenção segura. O relato proporcionou um bom entendimento das medidas indicadas no pré e pós-operatório, além da própria intervenção cirúrgica, visando sempre uma boa recuperação estética e funcional da região traumatizada. PALAVRAS-CHAVE: Trauma. Bandagem Elástica Adesiva. Assistência Pós-Operatória.

Ada Rhalinne Dias Arruda Silva Araújo1 Acadêmica de Medicina - FAMENE

Andrezza Maria Diaz Araruna2 Acadêmica de Medicina - FAMENE

Gabriela De Vasconcelos Barros3 Acadêmica de Medicina - FAMENE

Lucas Lopes Fernandes4 Acadêmico de Medicina - FAMENE

Tânia Regina Ferreira Cavalcanti5 Docente da Faculdade de Medicina - FAMENE

44 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


INTRODUÇÃO O trauma é um grande inluenciador do peril epidemiológico de morbimortalidade da

traumáticas possuem associação com trauma de cabeça e face6.

população brasileira e mundial. É a principal

Na maioria das culturas, a face é, geral-

causa de óbito entre as idades de 1 a 44 anos,

mente, a única região corporal que deve per-

além de ser o terceiro maior motivo de morte

manecer sempre exposta. É um importante

na população brasileira entre todas as faixas

centro de comunicação que pode manifestar

etárias1,2. Entre os principais inluenciadores

emoções, traços do passado (como as rugas),

desses índices estão causas externas, como

idade e vários outros sinais relevantes para

Anos Potencias de Vida Perdido (APVP), que

a comunicação não verbal4. Logo, o prois-

mede a diferença entre a idade de óbito e a

sional de saúde, deve levar em consideração

expectativa de vida, e estão entre os motivos

a relevância que cicatrizes ou perdas da mo-

principais da diferença de expectativa de vida

tricidade podem ter na vida do paciente que

entre os sexos, pois atinge mais o sexo mas-

sofre intervenções na face.

culino do que o feminino³.

A vítima de traumas faciais pode ter

A magnitude do trauma no Brasil não

alterações nessa região, tanto pela lesão

pode apenas ser analisado com base nos índi-

primária, quanto pela intervenção do prois-

ces de mortalidade. Apesar da precariedade

sional de saúde. O procedimento cirúrgico

dos dados relacionados a morbidade na popu-

nessa região ainda pode levar a dor, parali-

lação brasileira, já é conhecido que acidentes

sia facial temporária e/ou ao trismo. Como

e violências são extremamente relevantes

uma forma de combater essas complicações,

para o número de internações, além dos dias

a bandagem elástica adesiva vem ganhando

de internação. O trauma é tão prevalente no

espaço como medida pós-operatória pertinen-

Brasil, que chega a inluenciar a economia na-

te, pois seu uso atua na prevenção, controle e

cional por meio dos gastos hospitalares, devi-

redução do edema; melhora do luxo linfático;

do à perda de população economicamente

aumento da oxigenação tecidual; reparo de

ativa e gastos com previdência e seguros³.

equimose e hematoma, devido à facilitação

A face é uma área particularmente ex-

da microcirculação; controle da sensibilidade

posta e vulnerável, que abriga os principais

com redução da dor e melhoria da funcionali-

órgãos do sentido, e está muito próxima do

dade na região acometida7.

cérebro. Isso justiica a informação de que 35-

Com base na relevância do trauma

45% dos traumas atinjam essa região e quan-

de face entre os traumas em geral, e na sua

do junto ao trauma de crânio é a principal

capacidade de inluenciar a morbimortali-

causa de morte por

traumas4,5.

Isso apenas

dade da população brasileira, é pertinente

airma a relevância desse tipo de trauma para

relatar o caso de um paciente que sofreu fra-

o proissional de saúde, que atua nos serviços

tura de terço médio da face, após acidente

de emergência, pois cerca de 50% das mortes

automobilístico, e teve seu tratamento por

45 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


meio de redução cirúrgica com uso de Ki-

ética em Pesquisa das Faculdades de Enfer-

nesiotaping no pós-operatório. O estudo

magem e Medicina Nova Esperança (CAAE:

foi realizado após aprovação no Comitê de

79194717.6.0000.5179).

RELATO DO CASO Paciente feoderma do gênero mas-

do terço médio, com comprometimento

culino, 41 anos, vítima de acidente auto-

do complexo zigomático-maxilar direito

mobilístico, chegou ao Hospital Alberto

(Figura 1).

Urquiza Wanderley com lesões dermoabra-

A cirurgia foi programada e o paci-

sivas em face, associadas à assimetria

ente foi submetido à redução e ixação das

facial, desnivelamento ósseo, hematoma

fraturas do terço médio da face, com in-

periorbitário, crepitação na margem infe-

tubação nasotraqueal, sob anestesia geral.

rior da órbita, diiculdade de abertura bu-

A antissepsia foi realizada na cavidade in-

cal devido ao edema, lexibilidade e dor da

tra e extraoral para a realização do acesso

maxila ao exame físico da palpação digital.

intraoral e exploração das fraturas. As fra-

Primeiro foi realizada a limpeza da

turas foram reduzidas e ixadas com placas

face, com soro isiológico, e, posterior-

e parafusos de titânio, conforme a necessi-

mente, os exames de imagem foram so-

dade da lesão, para recuperação estrutural e

licitados para melhor visualização da fratu-

funcional do terço médio da face (Figura 2).

ra e planejamento cirúrgico. A tomograia

E, por im, suturas foram realizadas nos

computadorizada dos seios da face evi-

planos profundos e acesso intraoral, para

denciou imagens sugestivas de fraturas

fechamento das feridas cutâneas.

FIGURA 1: Tomograia Computadorizada dos seios da face realizada no pós-operatório.

FIGURA 2: Procedimento cirúrgico com ixação de placas e parafusos de titâneo.

46 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


O kinesiotaping foi aplicado no

quantidade de gânglios linfáticos e com

pós-operatório imediato, com a técnica

as tiras distribuídas pela face, que obje-

de polvo ou franjas, cuja base foi local-

tivava a drenagem do líquido intersticial

izada sobre a região pré-auricular e sub-

para base (Figura 3).

mandibular, onde se concentra a maior FIGURA 3: Aplicação da técnica de Kinesiotaping no pós-operatório.

A alta hospitalar foi dada ao pa-

analgésicos. Após 1 semana de pós-oper-

ciente com 24 horas de pós-operatório,

atório e de acompanhamento, foi eviden-

com retorno de 5 dias para retirada de

ciada redução signiicativa do volume da

pontos e troca do kinesiotaping. A pre-

região edemaciada e do hematoma.

scrição constou de anti-inlamatórios e

DISCUSSÃO

Fraturas no terço médio da face

tanto, a maioria dos autores relata que

são relatadas como muito comuns em

as colisões entre veículos e motocicle-

acidentes automobilísticos e de moto-

tas lideram como causa. A prevalência

cicleta, agressão física e quedas. Devido

das fraturas em pessoas do sexo mascu-

a existência de legislações mais rigorosas

lino, entre 20 e 39 anos9, é percebida em

quanto ao controle de velocidade, entre

grande parte das pesquisas. O complexo

outras leis de trânsito, a ocorrência de trau-

zigomático torna-se uma região do terço

mas na face por acidentes automobilísticos

médio da face altamente susceptível à

vem diminuindo nos últimos anos8. No en-

fratura, devido a sua relativa fragilidade,

47 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


posição, projeção na face4,5,8.

pós-operatório imediato, com a inalidade

Para uma perfeita abordagem no procedimento

cirúrgico,

é

de controle e redução de edema e equi-

necessário

mose, obtendo-se êxito, em comparação

que além de um bom exame físico, com

com as demais cirurgias dessa categoria

análise da lesão, seja feito um exame

em que não é utilizado a terapia da banda-

complementar, a im de conirmar as fra-

gem elástica7.

turas já observadas e obter uma avaliação

O Kinesiotaping é um recurso não

melhor do trauma. A Tomograia Computa-

medicamentoso e de baixo custo que traz

dorizada é o exame de imagem de escolha

uma proposta terapêutica no controle das

para avaliar traumatismo maxilofacial,

complicações vasculares e sintomáticas

pois apresenta detalhes das estruturas

do trauma. Consiste em uma ita adesiva,

em três dimensões, além de proporcionar

de algodão, elástica e hipoalérgica, com

uma melhor análise da extensão, deslo-

ausência de princípios ativos, permeável

camento dos fragmentos e traços de fra-

e resistentes à agua. Possui elasticidade,

tura, auxiliando no melhor planejamento

espessura e peso comparáveis com a da

do proissional em sua

abordagem10.

pele, além de suas aplicações serem de

Em muitos casos de trauma facial,

longa duração13,14. Sua ação é decorrente

a intubação orotraqueal está contraindi-

do estímulo mecânico e proprioceptivo so-

cada, visto que pode diicultar a própria

bre a pele, favorecendo a drenagem lin-

intervenção cirúrgica. Na intubação naso-

fática e, consequentemente, reduzindo a

traqueal isso pode ocasionalmente acon-

congestão vascular e a dor. Atua em dores

tecer. Nestes casos, há indicação de tra-

de origem aguda e crônica7,15.

queostomia. No entanto, muitos autores

A forma de uso varia conforme a

têm indicado a intubação submentoniana

condição clínica. A tensão é graduada em

em procedimentos cirúrgicos com trauma

porcentagem, tendo o tracionamento da

de face, por permitir uma maior visibili-

ita elástica, como um dos fatores primor-

dade das estruturas, possibilitar manipu-

diais para o sucesso da aplicação, em que

lação da oclusão dentária e ser uma alter-

100% é considerado a tensão total, 75% in-

nativa à traqueostomia, pois proporciona

tensa, 50% moderada, 15-25% leve, 15-0%

menos complicações11. Porém, nesse caso

muito suave e 0% nenhuma tensão16.

foi utilizada a intubação nasotraqueal, por

A perfeita intervenção em uma fra-

ser apenas contraindicada em casos com

tura de terço medial de face proporciona

fraturas cominutivas de terço médio que

uma recuperação sem grandes compli-

causam obstrução e impossibilitam a pas-

cações e uma restauração estética e fun-

sagem do tubo, através da narina ou em

cional da região traumatizada. Para que

crânio12.

fraturas de base de

isso ocorra, é necessário um bom conheci-

No caso relatado, a aplicação da

mento anatômico e técnico do proissional

bandagem de taping foi realizada no

que realizará o procedimento, além de um

48 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


exame clínico completo, com anamnese

uma boa cicatrização, com mínimo pre-

bem feita, exame físico criterioso e análise

juízo estético, proporciona um melhor re-

detalhista do exame de imagem. Por im,

torno do indivíduo a sua rotina habitual17.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Observou-se

que

a

intervenção

relatados. Destaca-se a importância do

cirúrgica do trauma de terço médio, com

entendimento

anatômico

e

funcional

fratura do arco zigomático, ocorreu da for-

das estruturas a serem abordadas pelo

ma esperada, com realização de exames

profissional de saúde, para que assim

físicos e de imagem pré-operatórios e uma

ocorra uma intervenção segura. O rela-

recuperação adequada, através da re-

to proporcionou um bom entendimento

dução cirúrgica com fixação. Percebe-se

das medidas indicadas no pré e pós-op-

também a importância do kinesiotaping

eratório, além da própria intervenção

na cicatrização, contribuindo para que

cirúrgica, visando sempre uma boa re-

ela fosse mais rápida e menos doloro-

cuperação estética e funcional da região

sa, através de seus diversos benefícios

traumatizada.

49 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


CASE REPORT ON SURGICAL CORRECTION OF FRACTURE OF THE FACE AND POST-OPERATIVE USE OF KINESIO TAPING

ABSTRACT Trauma is a major inluencer of the epidemiological proile of morbidity and mortality in the Brazilian and world population. The face is a particularly exposed and vulnerable area that covers the major sense organs and is very close to the brain. The surgical procedure in this region can still lead to pain, temporary facial paralysis and trismus. As a way to combat these complications, adhesive elastic bandage has been gaining ground as a relevant postoperative measure. In this work, there is the report described by medical students from FAMENE Medical School of a male brown skin patient, 41 years old, victim of an automobile accident, who arrived at the Alberto Urquiza Wanderley Hospital with dermoabrasive lesions in the face associated with facial asymmetry. Computed Tomography showed images suggestive of fractures of the facial middle third and the patient was submitted to the reduction and ixation of fractures with nasotracheal intubation, under general anesthesia. Kinesiotaping was applied in the immediate postoperative period using the occlusion or fringes technique, whose base was located on the pre-auricular and submandibular region. The hospital discharge was given to the patient with 24 hours of postoperative, with return of 5 days for removal of points and exchange of kinesiotaping. The zygomatic complex becomes a region of the middle third of the face highly susceptible to fracture, due to its relative fragility, position, and projection on the face. Kinesiotaping is a non-medicated and inexpensive resource that brings a therapeutic proposal in the control of the vascular and symptomatic complications of the trauma. We emphasize the anatomical and functional understanding of the structures to be approached by the health professional, so that a safe intervention occurs. The report provided a good understanding of the measures indicated in the pre and postoperative period, besides the surgical intervention itself, always aiming a good aesthetic and functional recovery of the traumatized region. KEYWORDS: Trauma. Elastic Adhesive Bandage. Post Operative Assistance.

50 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


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and maxillofacial surgery: a pooled analysis. Physiother Theory Pract. 2014; 30(6):

14. Vercelli S, Colombo C, Tolosa F, Mori-

390-398.

ondo A, Bravini E, Ferriero G, Francesco S.

51 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


The efects of kinesio taping on the color

aplicação e seus resultados sobre a dor:

intensity of supericial skin hematomas:

revisão sistemática. Fisio e Pesq. 2014;

A pilot study. Physical Therapy in Sport.

21(1): 94-99.

2016; 23: 156-161. 17. Jardim ECG, Lima HC, Pereira TTM, 15. Banerjee G, Briggs M, Johnson MI. Ki-

Masocatto DC, Oliveira MM, Mendonça

nesiology taping as an adjunct for pain

JCG. Tratamento de fratura complexa

management: A review of literature and

de terço médio de face associada a fer-

evidence. Indian J Pain. 2016; 30:151-157.

imento extenso. Arch Health Invest.

16. Artioli DP, Bertolini GRF. Kinesio taping:

2014; 3(3): 1-7.

52 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


CAPÍTULO 7 LINFOMA DE HODGKIN EM PACIENTE GRÁVIDA: UM RELATO DE CASO Resumo O linfoma de Hodgkin (LH) é uma neoplasia rara que envolve o sistema linfático e representa cerca de 1% de todas as neoplasias, manifestando-se com linfadenomegalia, geralmente supradiafragmática. Quando a doença acomete pacientes grávidas, evita-se o tratamento quimioterápico, principalmente no primeiro trimestre, porém, em certos casos, a utilização de quimioterápico se torna inevitável. A administração de Vimblastina é uma alternativa para controle da progressão até o parto, quando o tratamento pleno se torna possível. Em casos de pacientes grávidas, acometidas pela a doença, se for possível, a paciente deve ser acompanhada, sem tratamento do LH. A administração intermitente de Vimblastina permite o controle clínico até o parto. Este estudo trata-se de um relato de caso a respeito de uma paciente grávida diagnosticada com Linfoma de Hodgkin, abordando especialmente a história clínica da doença, assim como sua evolução e intervenções terapêuticas. A paciente do sexo feminino, 36 anos, obteve acompanhamento e estadiamento por um ano e meio, desde quando observou crescimento progressivo do gânglio na região cervical esquerda (IVA supradiafragmática). A biopsia incisional revelou resultado compatível com LH de celularidade mista em imuno-histoquímica. Por este motivo, interrompeu a gestação na trigésima sexta semana e, após 21 dias de pós-operatório, deu-se início a quimioterapia. O LH é a neoplasia hematológica mais comum associada à gravidez e o tratamento nestas situações se depara com o dilema entre eicácia e toxicidade, e exigirá cada vez mais a participação informada do paciente nas decisões terapêuticas, além de um espaço aberto para fomentar as decisões que aprimorem a relação risco-benefício dos tratamentos disponíveis. PALAVRAS-CHAVE: Linfoma. Doença de Hodgkin. Gestante.

Thamyris Vilar Correia 1 Acadêmica de Medicina - FAMENE

Robson Prazeres de Lemos Segundo2 Acadêmico de Medicina - FAMENE

Kauê Tavares Menezes3 Acadêmico de Medicina - FAMENE

Juliana Machado Amorim4 Docente – FAMENE

Maria Angelina Cartaxo Filgueiras Fernandes5 Docente – FAMENE

Maria Leonilia de Albuquerque Machado Amorim6 Docente – FAMENE

53 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


INTRODUÇÃO O linfoma de Hodgkin (LH) é uma

que o LH possui uma distribuição bimodal

neoplasia rara que envolve o sistema lin-

quanto à idade, com quadro inicial aos 20

fático e representa cerca de 1% de todas

anos e o segundo pico por volta dos 50

as neoplasias. Constitui sua apresentação

anos de idade. No Estado do Ceará, Brasil,

clínica o surgimento de linfonodomega-

os casos de LH foram mais descritos na

lia isolada ou generalizada, que pode es-

faixa infanto-juvenil, aos 10 anos de idade

tar associada ao acometimento de outros

e na fase adulta, em menores de 49 anos

órgãos do sistema imunológico – em espe-

de idade2.

cial o baço – e também de órgãos extralin-

O tratamento de primeira linha

fáticos tais como pulmão, fígado, ossos,

para o LH é a quimioterapia. Várias dro-

entre outros1.

gas já foram estudadas ao longo dos

A classiicação da OMS divide o LH

anos. Atualmente, o esquema mais uti-

em dois tipos histológicos principais: lin-

lizado é o ABVD (Adriamicina, bleomici-

foma de Hodgkin predominância linfocíti-

na, vimblastina e dacarbazina), trazendo

ca nodular (LHPLN) e linfoma de Hodgkin

menos efeitos colaterais e apresentando

clássico (LHC). O LHC é subdividido em

um melhor custo benefício1.

quatro subtipos: esclerose nodular, rico

A utilização da radioterapia como

em linfócitos, celularidade mista e de-

terapia de consolidação, após

pleção linfocítica. Nos países ocidentais

oterapia, para os pacientes com diag-

LHC corresponde a 95% dos casos de LH,

nóstico de linfoma de Hodgkin estado

sendo o subtipo esclerose nodular o mais

avançado, permanece ainda controver-

comum, perfazendo 60 – 70% dos casos1.

sa. Conforme demonstrado em uma me-

Alguns fatores de risco têm sido

ta-análise, a adição de radioterapia (tera-

descritos, tais como: história de linfoma

pia bimodal) apenas aumenta o ganho em

na família, imunossupressão (casos de

tempo de progressão livre de doença sem

transplante de órgãos), doenças autoi-

haver real impacto em sobrevida global

munes, exposição à radiação, contatos

em comparação à quimioterapia isolada.

com herbicidas e doenças infecciosas.

Os que advogam seu uso consideram o

Segundo Diehl, os linfomas geralmente

fato de que a maioria das recidivas ocorre

apresentam sintomas inespecíicos como

em áreas previamente acometidas ou

febre, suores noturnos, perda de peso,

em locais não irradiados. Por outro lado,

prurido e

astenia2.

quimi-

há uma grande preocupação com os pos-

A maioria dos pacientes é diagnos-

síveis efeitos colaterais, em longo prazo,

ticada entre 15 e 30 anos e há outro pico

nos pacientes que foram submetidos à

de diagnóstico após 55 anos de idade. Nos

terapia combinada3.

países industrializados, tem sido descrito

O LH tem alta chance de cura,

54 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


entretanto, apresenta riscos de falha

resgate das modalidades de transplan-

ao tratamento quimioterápico e/ou ra-

te de células tronco hematopoiéticas. O

dioterapia, principalmente nos portado-

transplante autólogo de medula óssea

res de fatores prognósticos desfavoráveis

(ATMO) é a principal opção terapêutica.

que recidivam após terapia primária ou,

Nos casos em que o tumor é mais agres-

menos frequentemente, tornam-se re-

sivo, ou há uma recaída precoce, após o

fratários. Nestes casos, os pacientes são

transplante autólogo, a disposição atual é

expostos a diversas combinações qui-

realizar o transplante alogênico que apre-

mioterápicas na tentativa de resolutivi-

senta intensidade de drogas reduzidas e

dade5.

menor toxicidade relacionada ao procedi-

Estes pacientes são candidatos ao

mento5.

METODOLOGIA

O metido

presente e

estudo

aprovado

foi

sub-

(CAAE:

da com Linfoma de Hodgkin de células mistas,

abordando

especialmente,

a

85738818.9.0000.5179) pelo Comitê de

história clínica da doença, assim como

Ética e Pesquisa da Faculdade de Me-

sua evolução e intervenções terapêuti-

dicina Nova Esperança (FAMENE). Tra-

cas. As informações contidas neste tra-

ta-se de um relato de caso a respeito

balho foram obtidas por meio da análise

de uma paciente grávida diagnostica-

de prontuário.

RELATO DE CASO

Paciente do sexo feminino, 36 anos,

uma biópsia incisional. O resultado foi com-

refere que em abril de 2016 notou aumen-

patível com Linfoma de Hodgkin de células

to progressivo de gânglio na região cervi-

mistas segundo imuno-histoquímica. Com o

cal esquerda (IVA supradiafragmática), que

diagnóstico estabelecido, a paciente estan-

logo em seguida estabilizou o crescimento.

do na 36ª semana de gestação foi submeti-

Entretanto em junho de 2017, grávida de

da à operação cesariana para interromper

cinco meses, refere que o gânglio voltou a

a gravidez.

crescer progressivamente.

Em 05/10/17, a paciente retorna no

A paciente procurou o cirurgião de

21º dia pós-operatório da cesariana. Nega

cabeça e pescoço que decidiu por realizar

febre, perda de peso, sudorese, alergias,

55 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


contato com substâncias tóxicas, diabetes

18/10/17 seguindo o protocolo ABVD em

mellitus, hipertensão arterial sistêmica e

seis ciclos com as seguintes medicações:

cardiopatia. Surge suspeita de metástase

Doxorrubicina

em medula óssea sendo realizada a PET-CT

(6mg/m2),

seguida de biópsia de medula óssea.

micina (6mg/m2).

O

tratamento

foi

iniciado

(25mg/m2),

vimblastina

dacarbazina (375mg/m2), bleo-

em

DISCUSSÃO

Durante a gravidez, o câncer é in-

informações sobre linfonodomegalias sem

comum com incidência relatada de 0,07

expor o feto a risco mensurável de ra-

a 0,8%. Numa perspectiva quantitativa, o

diação, embora a ultrassonograia seja um

Linfoma de Hodgkin (LH) representa 13%

exame pouco sensível e examinador-de-

dos linfomas malignos e menos de 1% da

pendente, e não haja dados sobre a

totalidade das patologias malignas. A ocor-

utilização irrestrita de ressonância em

rência simultânea é uma das principais

grávida 8.

causas de morte em mulheres em idade

A decisão de que momento iniciar

fértil, representando problemas terapêuti-

as intervenções terapêuticas se baseia na

cos complexos para pacientes, familiares,

maior resolutividade e menor dano a mãe

oncologistas, obstetras, pediatras e neo-

e ao desenvolvimento do feto8. No caso da

natologistas6,7.

paciente em questão, optou-se por não re-

O LH é a neoplasia hematológica

alizar tratamento quimioterápico durante

mais comum associada à gravidez. Nas

a gestação, decidido conjuntamente com a

pacientes grávidas, a apresentação clíni-

obstetrícia a interrupção da gravidez após

ca mais observada é de linfonodomegalia

36 semanas, com a indução da maturação

cervical, não diferindo de pacientes não

pulmonar do feto com corticoide.

grávidas8.

O PET-CT oncológico utiliza a 18

Para estadiamento de LH, usual-

F-FDG, substância que pode atravessar

mente são solicitadas tomograias com-

a barreira placentária e potencialmente

putadorizadas de tórax, abdome e pelve

submeter o feto a maior risco de radiação.

ou PET-CT. As tomograias computadoriza-

O PET-CT também é contraindicado duran-

das abdominal e pélvica podem submeter

te a amamentação, que deve ser descon-

o feto à radiação de até 0,02 Gy, dose con-

tinuada por pelo menos 24 horas após o

siderada ainda abaixo da potencialmente

exame8.

teratogênica. Porém, existem exames de

Pacientes diagnosticadas no pri-

imagem que, como a ressonância magnéti-

meiro

trimestre

devem,

se

possível,

ca e a ultrassonograia, podem fornecer

aguardar até o início do segundo trimestre

56 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


para iniciar quimioterapia. Caso isso não

pacientes no primeiro trimestre e o regime

seja possível, o risco de malformações

ABVD. No entanto, em comparação com

fetais, mesmo que baixo, deve ser con-

77 crianças da mesma idade, os testes de

siderado e explicado à gestante. In-

QI verbal e de desempenho estavam den-

dicações para início imediato de qui-

tro de intervalos normais.

mioterapia no primeiro trimestre são: massa

bulky

compressiva,

Há descrição de 24 casos de LH

doença

na gestação, com dois abortamentos es-

subdiafragmática sintomática ou LH

pontâneos e cinco casos de malformação

em estádios clínicos avançados 8 .

fetal, devido à exposição ao esquema

Atualmente, o regime ABVD per-

MOPP ou à ciclosfosfamida e radioterapia

mite a quimioterapia durante o segundo e

no primeiro trimestre. Nessa mesma série,

terceiro trimestre da gravidez, por ser se-

15 gestantes, que receberam ABVD, inde-

gura para o feto e o bom prognóstico das

pendentemente do trimestre da gestação,

mulheres com complicações mínimas6.

deram à luz a crianças normais que per-

A

radiação

ionizante

deve

ser

maneceram saudáveis em avaliações pos-

evitada na gravidez devido à sua con-

teriores. O esquema MOPP ou COPP no

hecida influência teratogênica já que os

segundo e terceiro trimestre de gestação

agentes podem aumentar o risco de abor-

não foram associados à malformação8.

to espontâneo, grandes malformações,

Vale ressaltar, que pacientes com di-

restrição de crescimento intra-uterino,

agnóstico prévio de LH que recaem durante

parto pré-termo ou mesmo morte fetal. A

gestação têm prognósticos piores e devem

conduta clínica em tais pacientes deve ser

considerar interrupção da gestação. Em to-

individualizada: idade gestacional, pre-

dos os casos, a decisão é individualizada,

sença de doença subdiafragmática, tipo

e cabe ao hematologista explicar aos pais

de agentes citotóxicos a serem adminis-

os riscos e os benefícios do tratamento.

trados, e consentimento do paciente. A

Após o tratamento, a fertilidade parece ser

explicação completa de riscos de trata-

similar às mulheres em geral, um pouco

mento e perigos da própria doença deve

menor para as tratadas com MOPP e MVPP.

ser levada em consideração na decisão.

A recomendação é para que pacientes, que

Contudo, devido aos avanços tecnológi-

tiveram Linfoma de Hodgkin, aguardem

cos, a atual radiografia mantém uma dose

pelo menos dois a três anos antes de en-

de radiação bem abaixo do limiar para

gravidar novamente8.

efeitos adversos do feto e não deve, portanto, danificá-lo 9.

Estudo de coorte dinamarquês, publicado

em

2008,

comparou

292

Embora o uso de quimioterapia, du-

recém-nascidos de mães com LH gesta-

rante a gestação, permanece controverso,

cional com outros 14.042 de mães

os pesquisadores Avilés, Nambo e Neri6

saudáveis e concluiu que não houve as-

utilizaram Vimblastina isolada em quatro

sociação signiicativa de malformação,

57 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


ou baixo peso ao nascer. Porém, houve

econômica pode auxiliar no combate de

incidência 26 vezes maior de prema-

tais efeitos colaterais. Dos sobreviventes

turidade em recém-nascidos de mães

participantes da pesquisa de Magyari et

com LH, fato este que também pode ser

al.10, dois terços estavam ativos na con-

atribuído à escolha da gestante ou do

clusão do estudo e se mostraram mais

médico em interromper a gestação mais

resilientes, menos deprimidos, menos

precocemente para iniciar a quimiotera-

ansiosos, menos perfeccionistas do que

pia8.

os inativos. É de extrema relevância o cuida-

A suspeita de metástase óssea

do continuado com o paciente, mesmo

deve ser investigada, pois sugere dis-

após o encerramento do tratamento. Os

seminação hematogênica ou propagação

sobreviventes correm o risco de desen-

direta do linfonodo envolvente contíguo,

volverem efeitos colaterais psiquiátricos

podendo indicar que a doença evolu-

e psicossociais adversos, principalmente

iu para um estado avançado. Quando

nos casos com malignidade secundária

atinge a estrutura óssea, provavelmente

ou insuiciência orgânica, reduzindo a

aparece na coluna vertebral ou osso lon-

qualidade e expectativa de vida10.

go, raramente ocorre na pelve11.

O restabelecimento na vida socio-

CONSIDERAÇÕES FINAIS As deinições das diversas questões

local. Deve-se discutir eicácia e potenciais

que permanecem em aberto sobre LH que

eventos adversos em curto, médio e longo

contribuirão para aprimorar a relação ris-

prazo, pois não se pode pensar em prolongar

co-benefício dos tratamentos disponíveis.

a sobrevida do paciente sem que este tenha

Enquanto isso, o dilema entre eicácia e

preservada sua qualidade de vida.

toxicidade persistirá, e exigirá cada vez

É fundamental a alta suspeição base-

mais a participação informada do paciente

ada em achados clínicos e epidemiológicos.

nas decisões terapêuticas.

Além disto, a padronização de condutas e

A atuação multiproissional é impor-

técnicas para a detecção precoce com vis-

tante para amenizar tais sintomas e planejar

tas ao início de tratamento precoce, como

um processo de reabilitação desses pacien-

também, o desenvolvimento e validação de

tes. O proissional deve estar alerta, diante de

estratégias, baseadas em risco, trarão impor-

quadros inespecíicos e arrastados, uma vez

tante contribuição para redução de mortali-

que, a identiicação e o diagnóstico precoce

dade.

melhoram a sobrevida na medida em que

O combate a esta doença deve

previne metástases, crescimento e destruição

se basear nas medidas de saneamen-

58 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


to básico, como tratamento de águas

equipamento de proteção individual ao

e sistemas de esgoto, eliminação dos

entrar em águas contaminadas, como

caramujos hospedeiros e utilização de

também, de educação sanitária.

HODGKIN LYMPHOMA IN PREGNANT PATIENT: A CASE REPORT

ABSTRACT O Hodgkin’s lymphoma (HL) is a rare neoplasm that involves the lymphatic system and represents about 1% of all neoplasms, manifesting with lymphadenomegaly, usually supradiaphragmatic. When the disease afects pregnant patients, chemotherapy is avoided, especially in the irst trimester, but in some cases, the use of chemotherapy becomes unavoidable. The administration of Vimblastine is an alternative to control progression until delivery, when full treatment becomes possible. In cases of pregnant patients afected with the disease, if possible, the patient should be followed up without HL treatment until term or intermittent administration of vimblastin allows for clinical control until delivery. This is a case report about a pregnant patient diagnosed with Hodgkin’s lymphoma, especially addressing the clinical history of the disease, as well as its evolution and therapeutic interventions. The female patient, 36 years old, had been followed up and staged for a year and a half since the progressive growth of the ganglion in the left cervical region (supradiaphragmatic VAT). Incisional biopsy revealed mixed HL-compatible result in immunohistochemistry. For this reason, she stopped gestation at the thirty-sixth week and, after 21 postoperative days, the chemotherapy was started. LH is the most common hematologic neoplasms associated with pregnancy, and treatment in these situations faces the dilemma between eicacy and toxicity, and will increasingly require informed patient participation in therapeutic decisions, as well as an open space to foster decisions that improve the risk-beneit ratio of available treatments. KEYWORDS: Lymphoma. Hodgkin Disease. Pregnant Women.

59 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


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2. Monteiro TAF, Arnaud MVC, Monteiro JLF, Costa MRM, Vasconcelos PFC. Linfoma de

8. Kassab C, Perini GF, Bollmann PW, Ker-

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bauy FR, Hamerschlak N. Hodgkin’s dis-

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Pan-Amaz Saude. 2016; 7(1): 27-31.

2011; 9(2): 216-219.

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gkin: aspectos práticos da abordagem ra-

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dioterápica. Rev Fac Ciênc Méd Sorocaba.

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2012; 14(1): 1-4.

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matol Hemoter. 2004; 26(1): 35-42.

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MP, Lerner D. Transplante de células-tronco

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hematopoéticas em linfoma Hodgkin. Rev

2017; 15(180): 1-9.

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11. Tang F, et al. Classic Hodgkin lymphoma in pelvis: A case report highlights diag-

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2017; 96(39): 1-9.

Pregnancy. Mediterr J Hematol Infect Dis.

60 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


CAPÍTULO 8 ADENOCARCINOMA GÁSTRICO TIPO ANEL DE SINETE: UMA COMPARAÇÃO HISTOPATOLÓGICA

Resumo O câncer gástrico é uma das neoplasias malignas mais comuns, com alta mortalidade e, consequentemente, de grande preocupação para os proissionais de saúde. O adenocarcinoma gástrico corresponde a 95% de todos os cânceres gástricos e, no Brasil, está entre as principais causas de morte entre homens e mulheres. A OMS classiica o adenocarcinoma em cinco subtipos, de acordo com as diferenças histopatológicas. Esse trabalho tem o objetivo de diferenciar histologicamente os tecidos gástricos normais com aqueles que apresentam adenocarcinoma do tipo anel de sinete, os quais são constituídos, em grande parte, por células isoladas contendo mucina, células não produtoras de mucina e por aquelas com citoplasma eosinofílico granular. Para a realização do estudo, foram analisadas cinco lâminas histológicas de estômago saudável e outras cinco lâminas histológicas de estômago de portadores de adenocarcinoma do tipo anel de Sinete. O instrumento utilizado foi um formulário, contendo dezesseis questões de múltipla escolha, a im de indicar as alterações mais frequentes encontradas nos tecidos doentes. Os resultados mostraram mudanças na citoarquitetura gástrica, com desaparecimento de fossetas, proliferação neoplásica, iniltrado linfocitário e aumento da densidade vascular, com maiores alterações na camada mucosa do estômago. O estudo contribui para aumentar o arsenal teórico acerca do adenocarcinoma gástrico e permite melhor entendimento da patologia pelos estudantes de Medicina. PALAVRAS-CHAVE: Histologia. Estômago. Adenocarcinoma Gástrico. Avaliação comparativa.

Alexandre Rolim da Paz 1 Mestre em Patologia

Artrur Gonçalves de Lima França 2 Acadêmico de Medicina - FAMENE

Carolina Cabral de Carvalho 3 Acadêmica de Medicina - FAMENE

Ítalo Sousa de Moraes Castro 4 Acadêmico de Medicina - FAMENE

Vinicius Nogueira Trajano5

Docente - FAMENE

61 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


INTRODUÇÃO O estômago é uma porção dilatada

quadra o adenocarcionoma gástrico. Sen-

do tubo digestório onde o bolo alimentar

do ele uma das neoplasias malignas mais

é macerado e parcialmente digerido em

comuns e apresentando alta mortalidade,

uma pasta. Anatomicamente, é dividi-

considerado a segunda causa de morte

do em: cárdia, fundo, corpo e piloro1. A

por câncer mundialmente6.

mucosa e a submucosa formam pregas

De fato, o adenocarcinoma repre-

longitudinais denominadas rugas. Elas se

senta 95% de todos os cânceres gástri-

distendem quando o estômago está cheio.

cos, dentre os 5% restantes, incluem-se

O epitélio é simples colunar, constituído

os linfomas e os sarcomas. No Brasil, em

pelas células mucosas supericiais. Seu ci-

similaridade, o adenocarcinoma está en-

toplasma apical é repleto de vesículas de

tre as três primeiras causas de morte por

glicoproteínas²,³. Além disso, o epitélio in-

câncer no sexo masculino e entre as cin-

vagina-se, resultando nas fossetas gástri-

co primeiras nas mulheres. Sua incidência

cas que são mais rasas na região cárdica e

é maior entre homens, na proporção de

mais profundas na região pilórica. As glân-

2:1, sendo mais frequente entre 50 e 70

dulas cárdicas e pilóricas são tubulares

anos, com pico por volta dos 70 anos em

ramiicadas

mucosas3.

ambos os sexos. Ele apresenta, também,

O corpo e o fundo são semelhan-

alta prevalência em países da Ásia como

tes histologicamente, e as glândulas são

o Japão e a Coréia do Sul, além de países

denominadas gástricas ou fúndicas. Elas

andinos como o Chile7.

são tubulares ramiicadas4,5. Já a mus-

Evidencia-se, então, um progres-

cular da mucosa, comprime as glândulas

so signiicante na identiicação do He-

do estômago, auxiliando na liberação da

licobacter pylori (H. pylori) como fator

secreção. Nesse contexto, além das sub-

importante ligado ao processo da car-

camadas circular e longitudinal de mús-

cinogênese gástrica. No entanto, tem-se

culo liso, pode haver uma subcamada

observado grande heterogeneidade entre

oblíqua disposta internamente3. Ademais,

as populações, no que diz respeito ao risco

o estômago é delimitado pela serosa, ex-

de desenvolvimento de câncer gástrico as-

ceto em uma pequena região na parte

sociado à infecções de H. pylori, notando-se

posterior, próxima ao cárdia, onde há ad-

que nas populações com alta prevalên-

ventícia1,5.

cia da infecção somente uma fração da

Em 1990, a Organização Mundial

mesma irá desenvolver câncer gástrico8.

de Saúde (OMS) recomendou um siste-

Além disso, estudos da mucosa gástrica

ma de classiicação para os cânceres

em populações de alto risco têm revela-

gástricos que se baseia nas característi-

do uma série de lesões que, sequencial-

cas morfológicas, em cujo sistema se en-

mente, evoluíram da condição normal

62 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


para Gastrite Crônica Não Atróica (GCNA),

A partir disso, este trabalho tem

que evoluiria para Gastrite Atróica (GA)

como objetivo analisar as principais al-

e Metaplasia Intestinal (MI) e, inalmente,

terações tissulares decorrentes do ade-

Por-

nocarcinoma gástrico tipo anel de Sinete,

tanto, a infecção pelo H. pylori determina

comparando-as com o órgão saudável,

a ocorrência de inlamação crônica da mu-

buscando assim, diferenças e semelhan-

cosa gástrica que pode persistir por dé-

ças que facilitem o diagnóstico histopa-

cadas e conferir risco aumentado para o

tológico de cada uma dessas doenças.

para displasia e

adenocarcinoma8,9.

desenvolvimento do câncer gástrico10,11.

RELATO DO CASO

Coleta de dados

logia da FAMENE, utilizando microscópios

O presente estudo foi submetido e

ópticos biológicos binoculares Prolab®

aprovado (CAAE: 80809817.1.0000.5179)

com lentes objetivas de aumentos 4x, 10x

pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Faculdade

e 40x e oculares de aumento 16x. Como

de Medicina Nova Esperança (FAMENE). O

instrumento para coleta de dados foram

trabalho apresenta uma abordagem descri-

realizados registros fotográicos e utiliza-

tiva, visando comparar histologicamente te-

do um formulário sintetizado exclusiva-

cidos saudáveis e com tecido de portadores

mente para melhor análise comparativa

de adenocarcinoma gástrico, dando enfo-

das lâminas (Figura 1), contendo dezesseis

que para o tipo Anel de Sinete (OMS), que é

questões de múltipla escolha, elaborado

o correspondente do tipo difuso, de Lauren

segundo as mais frequentes variações das

(classiicação mais difundida pelo mundo).

principais características histológicas do

Foram selecionadas, de forma ale-

adenocarcinoma gástrico. A alternativa “A”

atória, dez preparações histológicas, sen-

correspondia as características normal-

do cinco lâminas de tecidos saudáveis e

mente observadas no estômago saudável,

cinco lâminas de tecidos portadores de

enquanto que a alternativa “B” demonstra

adenocarcinoma tipo anel de sinete. Todas

as alterações pouco aparentes e a alterna-

as lâminas diagnosticadas com adenocar-

tiva “C” para alterações mais evidentes.

cinoma gástrico foram cedidas pelo Hos-

Dessa forma, conseguiu-se analisar com-

pital Napoleão Laureano, que é referên-

parativamente as modiicações teciduais

cia no tratamento de câncer para toda a

encontradas nas lâminas diagnosticadas

região da Paraíba.

com Adenocarcinoma Gástrico.

Por conseguinte, a análise histológica foi realizada no Laboratório de Histo-

63 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


TABELA 1: Formulário utilizado para análise comparativa das lâminas

RESPOSTAS

PEGUNTA A. Prismático

1. Qual a morfologia do epitélio da mucosa? 2. Como se caracteriza a uniformidade do epitelial da mucosa?

A. Uniforme contínuo

B. Cúbico

C. Pavimentoso

B. Uniforme descontínuo

C. Disforme

3. Qual a densidade de fosseta na mucosa?

A. Alta

B. Baixa

C. Ausente

4. Qual a densidade de glândulas tubulares na mucosa?

A. Alta

B. Baixa

C. Ausente

5.Qual a densidade de células neoplásicas na mucosa?

A. Alta

B. Baixa

C. Ausente

6. Qual a densidade de iniltrado linfocitário na mucosa?

A. Alta

B. Baixa

C. Ausente

7. Qual a densidade de células neoplásicas na submucosa?

A. Alta

B. Baixa

C. Ausente

8. Qual a densidade de iniltrado linfocitário na submucosa?

A. Alta

B. Baixa

C. Ausente

9. Qual a densidade de células neoplásicas na camada muscular?

A. Alta

B. Baixa

C. Ausente

10. Qual a densidade de iniltrado linfocitário na camada muscular?

A. Alta

B. Baixa

C. Ausente

11. Qual a densidade de células neoplásicas na serosa?

A. Alta

B. Baixa

C. Ausente

12. Qual a densidade de iniltrado linfocitário na serosa?

A. Alta

B. Baixa

C. Ausente

13. Qual a densidade vascular na mucosa?

A. Normal

B. Baixa

C. Ausente

14. Qual a densidade vascular na submucosa?

A. Normal

B. Baixa

C. Alta

15. Qual a densidade vascular na camada muscular?

A. Normal

B. Baixa

C. Alta

16. Qual a densidade vascular na serosa?

A. Normal

B. Baixa

C. Alta

Nas análises estatísticas de com-

Análise estatística Os dados obtidos foram inseridos

paração foi usado o programa GraphPad

no programa Microsoft Oice Excel 2013

Prisma 6. Veriicou-se a existência de dife-

e após tabulação e montagem do banco

rença signiicativa entre as características

de dados, foram calculadas as frequências

observadas (respostas A, B e C) e entre as

relativas e os valores percentuais das ca-

características dentro de cada lâmina. To-

racterísticas. As descrições das variáveis

dos os testes tiveram nível de signiicância

foram apresentadas na forma de tabela.

de 5%.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O percentual de respostas das 16

cosa, muscular e serosa das lâminas com

perguntas referentes à morfologia e carac-

adenocarcinoma gástrico pode ser obser-

terísticas das camadas mucosa, submu-

vado na Tabela 2.

64 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


TABELA 2: Percentual (%) de respostas referentes à morfologia e características das camadas mucosa, submucosa, muscular e serosa das lâminas com adenocarcinoma gástrico.

(%)

PERGUNTAS 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16

Com relação à mucosa, observou-se que a maioria das lâminas (60%) não possui uma uniformidade epitelial, tendo uma citoarquitetura disforme. No quesito 3, que abrange a densidade de fossetas presentes, analisou-se que a maior parte das lâminas (60%) estão ausentes de fossetas (Figura 1). Em todas as lâminas, na camada mucosa, observou-se uma alta densidade de células neoplásicas e iniltrado linfocitário. Também foi observado que 80% das lâminas que foram analisadas tem uma densidade vascular normal na camada submucosa. Nos quesitos referentes à camada muscular, observou-se que 100% das lâminas possuem uma baixa densidade de células neoplásicas e infiltrado linfocitário. Já em relação à vascularização, foi evidenciado que

A 0 0 0 60 100 100 20 20 0 0 0 0 0 80 80 100

B 60 40 40 20 0 0 80 80 100 100 80 80 60 0 20 0

C 40 60 60 20 0 0 0 0 0 0 20 20 40 20 0 0

100% das lâminas apresentam uma densidade vascular dentro dos parâmetros de normalidade na camada serosa. Analisaram-se os dados, também, separando os mesmos em gráficos de acordo com as camadas histológicas do estômago. No Gráfico 1, foi observado que há uma maior taxa de altas alterações na camada mucosa, mostrando que na amostra em questão a camada mucosa é afetada de forma mais acentuada. No Gráfico 2 pode-se observar que, nas lâminas histológicas de portadores de adenocarcinoma gástrico, as camadas submucosa, serosa e muscular tiveram poucas alterações histológicas quando comparadas com a mucosa, evidenciando que esta camada é mais susceptível aos efeitos invasivos das células neoplásicas.

65 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


GRÁFICO 1: Frequência de resposta sobre alterações observadas na mucosa das lâminas com adenocarcinoma gástrico.

GRÁFICO 2: Frequência de resposta sobre alterações observadas na submucosa, muscular e serosa das lâminas com adenocarcinoma gástrico.

150

80

Frequência(%)

Frequência(%)

100

60 40

100

50 20

A

B

0

C

A

Alternativas

B

C

Alternativas

Os resultados obtidos neste estudo

desaparecimento das fossetas e da orga-

mostraram mudanças na citoarquitetura

nização glandular normal da camada mu-

do estômago com a proliferação neoplá-

cosa (Figuras 1 e 2).

sica e o iniltrado linfático, observou-se o

FIGURA 1: Mucosa do estômago com adenocarcinoma com alta densidade vascular e de linfócitos.

FIGURA 2: Lâmina histológica normal do estômago mostrando as camadas mucosa e submucosa.

66 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


Os resultados corroboram com es-

disforme e com a presença de células de

tudos histológicos do adenocarcinoma

aspecto caliciforme (Figura 4). Provavel-

em anel de sinete, que identiicaram que

mente relacionadas à patologia. De acor-

esta neoplasia apresenta células pouco

do com a classiicação da OMS, mais de

coesivas, devido a isso há uma maior pro-

50% do tumor adenocarcinoide com célu-

pensão a invadir a camada submucosa e

las de anel de sinete apresentam grupos

espaços

subserosos11.

Houve grande concentração de

pequenos ou isolados de células contendo mucina no citoplasma12-13.

células linfocitárias e neoplásicas na

Baptista15 já airmava que esse

camada submucosa (Figura 3), diferente-

tipo de tumor, além de apresentar célu-

mente do que é falado pela OMS, onde

las contendo mucina, podem conter célu-

segundo esta, geralmente há uma con-

las não produtoras de mucina e células

centração de células neoplásicas na lâmi-

de citoplasma eosinofílico granular, con-

na própria afastando as glândulas das

tendo mucina neutra. Além disto, células

fossetas12.

tumorais tendem a iniltrar difusamente o

Na análise microscópica também

corion e a serosa do estômago15.

foram analisadas lâminas com a mucosa

FIGURA 3: Iniltrado linfocitário na camada submucosa no estômago com adenocarcinoma.

FIGURA 4: Mucosa disforme com presença de células de aspecto caliciforme.

67 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente estudo, a partir da análise e comparação das alterações

ma e alterações na citoarquitetura glandular.

histológicas do estômago com adenocar-

Sabendo que há poucos estudos

cinoma do tipo anel de sinete, permitiu

histopatológicos comparativos de ade-

a constatação de maior grau de modifi-

nocarcinoma gástrico, esse material con-

cações na camada mucosa em relação às

tribui para aprimorar a formação médica,

demais, como quantidade de células neo-

fornecendo

plásicas, redução das fossetas gástricas,

mações teóricas e imagens de lâminas

aumento da densidade vascular, grupos

que facilitam o entendimento das princi-

de células contendo mucina no citoplas-

pais alterações da patologia discutida.

dados

estatísticos,

infor-

GASTRIC ADENOCARCINOMA OF SINET-RING TYPE: A HISTOPATHOLOGICAL COMPARISON

ABSTRACT Gastric cancer is one of the more common malignant neoplasia, with a high death rate and, consequently a great concern among professionals in the health area. The gastric adenocarcinoma results to 95% of all gastric cancer and, it is one of the main causes of death in Brazil. The WHO classiies ive types of Adenocarcinoma, according to the histopathological diferences. This paper has the objective to separate histologically healthy gastric tissue from signet-ring cell carcinoma tissue, which has, in majority, isolated cells with mucin, non-mucin producing cells and granular eosinophilic cytoplasm. To perform this paper, were analyzed ive histological blades of a healthy stomach and another ive histological blades of a signet-ring carcinoma stomach carrier. The instrument used was a paper form, containing sixteen multiple choices questions, in order to identify the most usual alteration found on the unhealthy tissues. The results shows cytoarchitecture changes: pits disappearance, neoplastic proliferation, lymphocytic iniltrate and an increase in vascular density, with higher alterations on the mucosal layer of the stomach. The study contributes to increase the theoretical information about gastric adenocarcinoma and allows a better understanding about this pathology by medical students. KEYWORDS: Histology. Stomach. Gastric Adenocarcinoma. Comparative evaluation.

68 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


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69 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


CAPÍTULO 9 ANÁLISE ACERCA DO TRATAMENTO DA PRESBIOPIA, ATRAVÉS DE CIRURGIA REFRATIVA A LASER, EM PACIENTES DE UM HOSPITAL OFTALMOLÓGICO NA PARAÍBA

Resumo A córnea é o tecido que permite que a luz entre no olho, atuando como uma lente, podendo ser esculpida para ajustar o foco e reparar defeitos. Correções podem ser compensadas pela cirurgia a laser, na ausência de catarata. O referido estudo trata de uma pesquisa de campo, com caráter descritivo e abordagem quantitativa, realizado no período entre o ano de 2015 e dezembro do ano de 2017. Utilizou-se como base de dados LILACS e SciELO para consulta de artigos cientíicos. Foram utilizados os Descritores em Ciência da Saúde: Acomodação e Presbiopia, Fisiologia, Abordagem Terapêutica e Técnicas cirúrgicas para o tratamento da presbiopia. O estudo foi realizado a partir da análise de prontuários eletrônicos do Hospital Visão, em João Pessoa- PB, com 25 pacientes submetidos ao LASIK. Foram incluídos 24 pacientes (48 olhos), 19 (80%) pacientes do sexo feminino, 5 (20%) do sexo masculino. A média da idade dos pacientes foi de 52 anos (variando de 43 a 59 anos), 47 (94%) olhos com hipermetropia e 3 (6%) com miopia. Nenhum dos pacientes necessitou do uso de lentes corretivas após a cirurgia para alcançar a acuidade visual desejada. No presente estudo notou-se a predileção do sexo feminino pela busca de melhora da visão de perto, o que pode ser explicado pela maior vaidade e disponibilidade de submeter-se a procedimentos cirúrgicos inerentes ao sexo feminino. Logo, a monovisão é conseguida cirurgicamente, através do LASIK. Esta técnica permite uma diminuição dos problemas relacionados a acuidade visual, demonstrando-se eicaz no tratamento e proporcionando uma melhor qualidade de vida dos pacientes submetidos. PALAVRAS-CHAVE: Pacientes. Tratamento da presbiopia. Cirurgia refrativa a laser.

Brenna Marques Amorim Tenório1 Acadêmica de Medicina - FAMENE

Caio Augusto Carneiro Da Costa2 Acadêmico de Medicina - FAMENE

Eloísa Jordana De Barros Oliveira3 Acadêmica de Medicina - FAMENE

Mariana Melo Gadelha Sarmento4 Acadêmica de Medicina - FAMENE

Tânia Regina Ferreira Cavalcanti5

Docente - FAMENE

70 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


INTRODUÇÃO A córnea é o tecido transparente

visão em pacientes com presbiopia, obser-

que permite que a luz entre no olho. Por

vou-se uma melhora signiicativa em ambos

seus raios de curvatura, ela atua como

os casos de pacientes sujeitos a cirurgia a

uma lente, controlando principalmente

laser.

o foco da retina. Ao esculpir o tecido da

No primeiro artigo, a discriminação

córnea, é possível ajustar o foco e reparar

visual foi avaliada pelo índice de pertur-

os defeitos. A operação dura cerca de 15

bação sob baixa iluminação em dois gru-

minutos por olho, incluindo os preparati-

pos de pacientes submetidos ao LASIK

vos. Ela é indolor. Um tratamento anal-

com dois algoritmos de ablação diferentes

gésico preventivo reduz a sensação dolo-

usando o laser Allegretto Wave Eye-Q 400

rosa pós-operatória imediata. Na maioria

Hz (WaveLight AG). No primeiro grupo

dos casos, a operação a laser é realiza-

(grupo padrão; 30 olhos), as ablações da

da em ambos os olhos na mesma inter-

córnea foram realizadas com o algoritmo

venção cirúrgica, o que permite uma re-

padrão. No segundo grupo, as ablações

cuperação visual binocular muito rápida,

foram feitas com o algoritmo Q-otimizado

horas1.

(F-CAT). A qualidade óptica do olho foi cal-

Quanto à presbiopia, pode ser

culada pela razão de Strehl medida com

compensada pela cirurgia a laser, na

um dispositivo de dupla passagem (OQAS,

ausência de catarata. Ao criar uma pro-

Visiometrics SL)².

em apenas algumas

fundidade de campo, a visão de perto é

Após o LASIK, tanto a razão de Strehl,

melhorada sem uma correção e uma boa

quanto a capacidade de discriminação visu-

visão de longe é mantida. No indivíduo,

al, diminuíram em ambos os grupos, embora

desprovido de qualquer anomalia refrati-

as mudanças tenham sido signiicativamente

va e enxergando perfeitamente de longe,

maiores no grupo padrão do que no grupo

a cirurgia a laser da presbiopia é mais

Q-otimizado. Uma alta correlação foi encon-

delicada e qualquer melhoria da visão de

trada entre a razão de Strehl e o índice de

perto pode ser realizada em detrimento

perturbação em pacientes submetidos ao

da acuidade visual de

longe1.

LASIK, independentemente do algoritmo

Adquirindo como referência dois arti-

de ablação aplicado. A deterioração óp-

gos, cujos objetivos foram: determinar se a

tica e visual foi maior após a ablação pa-

qualidade óptica do olho está correlacionada

drão².

com a capacidade de discriminação visual de

No segundo artigo, o método tam-

pacientes tratados com LASIK, usando dois

bém realizado com o laser Allegretto

algoritmos diferentes de ablação e avaliar a

Wave Eye-Q 400 Hz. O olho dominante

qualidade visual, após a ceratomileuse in situ

foi corrigido para visão distante e olho

no laser (LASIK), realizada para obter mono-

não dominante para visão de perto. O

71 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


algoritmo F-CAT foi programado visando

pré-operatório e 3 meses após a cirurgia.

uma asfericidade corneana pós-cirúrgi-

Assim, concluiu-se que a correção de mono-

ca de -0,80 no olho dominante e -1,00

visão pelo LASIK melhorou a visão de per-

no olho não dominante. A acuidade visu-

to funcional em pacientes com presbiopia.

al, a função de sensibilidade ao contraste,

Embora a acuidade visual fosse boa para a

as aberrações oculares, a estereoscopia,

visão distante, a sensibilidade ao contraste

o índice de dispersão e a capacidade de

e a estereoscopia diminuíram signiicativa-

discriminação visual foram analisados no

mente2.

METODOLOGIA

O estudo trata de uma pesquisa de campo, com caráter descritivo e aborda-

Nova Esperança (Protocolo CEP: 07/2018 e CAAE: 81745618.4.0000.5179).

gem quantitativa, realizado no período en-

O estudo foi realizado a partir da

tre o mês de janeiro ao mês de dezembro

análise de prontuários eletrônicos do Hos-

do ano de 2017. Utilizou-se como base de

pital Visão, em João Pessoa-PB, com pa-

dados LILACS e SciELO para consulta de ar-

cientes atendidos do ano de 2015 ao de

tigos cientíicos. Foram utilizados os Descri-

2017, tendo como base 25 pacientes. A

tores em Ciência da Saúde: Acomodação e

pesquisa foi analisada com foco no método

Presbiopia, Fisiologia, Abordagem Terapêu-

quantitativo, e tabulada estatisticamente,

tica e Técnicas cirúrgicas para o tratamento

com o auxílio de um pacote estatístico

da presbiopia. O estudo foi realizado após

SPSS (Versão 18), utilizando parâmetros

aprovação no Comitê de Ética em Pesquisa

de estatística descritiva.

das Faculdades de Enfermagem e Medicina

RESULTADOS Foram incluídos 25 pacientes (50

pode ser observada no Gráico 2. Nenhum

olhos), sendo 20 (80%) pacientes do sexo

caso foi excluído devido a complicações

feminino e 5 (20%) do sexo masculino,

cirúrgicas ou pós-operatórias.

representados no Gráico 1. A média da

O grupo de olhos dominantes com-

idade dos pacientes foi de 52 anos (vari-

preendeu 25 olhos com equivalente esféri-

ando de 43 a 59 anos), 47 (94%) olhos

co médio de +1,49 (variando de -3,75 a

com hipermetropia e 3 (6%) com miopia.

+4,75). O grupo de olhos não dominantes

A idade dos pacientes em porcentagem

compreendeu 25 olhos com equivalente

72 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


esférico médio de +1,67 (variando de -1,8

amigo (Gráico 3).

Um mês após a cirurgia, a média da acuidade visual binocular sem correção foi de 0,01 logMAR para longe e 0,0 logMAR para perto. Nenhum dos pacientes necessitou do uso de lentes corretivas após a cirurgia para alcançar a acuidade visual desejada.

GRÁFICO 1: Prevalência do sexo dos pacientes.

GRÁFICO 2: Idade dos pacientes

a +5,25) (Tabela 1). Vinte e quatro (24) pacientes (96%) relataram satisfação com os resultados do procedimento e 23 pacientes (92%) informaram que indicariam o LASIK para correção de presbiopia a um

30%

28%

25

80 Percentual (%)

Percentual (%)

100%

60 40 20

23%

20

17%

15 11%

5 Feminino

11%

10

2% 2% 1%

Masculino

1%

3%

1%

43 45 46 49 51 52 53 55 57 59 69 Idade

GRÁFICO 3: Pesquisa de satisfação.

30 25 Nº de indivíduos

25 20 15 10 5

1 Satisfeitos

Insatisfeitos

73 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


TABELA 1: Equivalente esférico pré e pós-operatório.

Paciente

Equivalente esférico pré-operatório

Equivalente esférico pós-operatório

1

OD: 2,25 | OE: 2,25

OD: -1,75 | OE: -0,37

2

OD: 1,25 | OE: 1,25

OD: -1,25 | OE: 0,00

3

OD: 1,25 | OE: 1,00

OD: -0,25 | OE: -2,00

4

OD: 1,95 | OE: 2,2

OD: 0,20 | OE: -1,25

5

OD: 1,00 | OE: 0,80

OD: 1,50 | OE: -0,55

6

OD: 0,75 | OE: 1,25

OD: -0,25 | OE: 0,25

7

OD: -0,50 | OE: -3,75

OD: 1,00 | OE: 1,63

8

OD: 2,30 | OE: 2,00

OD: 0,80 | OE: -2,00

9

OD: 1,88 | OE: 2,00

OD: 2,00 | OE: -0,75

10

OD: 1,75 | OE: 1,50

OD: 1,75 | OE: 0,25

11

OD: 1,00 | OE: 1,25

OD: -1,00 | OE: -1,5

12

OD: 2,00 | OE: 1,25

OD: -0,60 | OE: -1,75

13

OD: 4,75 | OE: 5,25

OD: -1,12 | OE: -1,25

14

OD: 3,25 | OE: 2,75

OD: -0,50 | OE: -0,60

15

OD: 2,45 | OE: 2,25

OD: -0,50 | OE: -4,00

16

OD: 1,75 | OE: 2,20

OD: 0,50 | OE: -2,00

17

OD: 2,95 | OE: 3,75

OD: -2,00 | OE: 0,00

18

OD: 1,25 | OE: 0,25

OD: -1,25 | OE: -0,12

19

OD: -0,50 | OE: -1,80

OD: 0,00 | OE: -1,80

20

OD: 3,25 | OE: 1,88

OD: -2,50 | OE: 0,50

21

OD: 2,20 | OE: 2,00

OD: -2,50 | OE: 0,00

22

OD: 1,75 | OE: 1,25

OD: -1,55 | OE: -0,25

23

OD: 2,70 | OE: 2,75

OD: -2,50 | OE: -0,75

24

OD: -1,00 | OE: -0,80

OD: -0,60 | OE: -1,50

DISCUSSÃO

A presbiopia é um fenômeno na-

de idade, quando ocorre diminuição ou

tural decorrente do envelhecimento que

perda da acomodação (endurecimento do

acomete as pessoas, a partir dos 40 anos

cristalino e seu aumento de volume) acar-

74 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


retando piora da visão para perto.

foi constituída por hipermetropes, popula-

As opções terapêuticas para pres-

ção na qual a presbiopia leva a uma maior

biopia incluem lentes corretoras. Tais len-

repercussão, já que a acomodação é mais

tes podem ser utilizadas nas armações de

solicitada, uma vez que é utilizada tanto

óculos, na superfície da córnea (lentes de

para a visão de longe quanto para a de

contato), na câmara anterior ou posterior

perto3, 4.

do olho (lentes fácicas) ou no lugar do cris-

Os pacientes relataram elevado ní-

talino (pseudofacicas). Nos últimos anos, o

vel de satisfação e, portanto, indicariam o

LASIK tem sido utilizado para se alcançar a

procedimento para outras pessoas. No pri-

monovisão, promovendo boa acuidade vi-

meiro mês de pós-operatório, a acuidade

sual para longe e perto, sem a necessida-

visual média para longe foi de 0,01 logMAR

de de óculos ou lentes de contato, já que

e para perto foi de 0,0 logMAR. Dois anos

o olho dominante é corrigido para visão de

após a cirurgia, nenhum paciente neces-

longe e o não dominante é miopizado para

sitou do uso de óculos para realizar suas

se atingir boa visão de perto.

atividades diárias.

No presente estudo, notou-se a pre-

O médico busca um resultado, mas

dileção do sexo feminino pela busca de

não tem condições de garanti-lo, pois, o

melhora da visão de perto, o que pode ser

resultado depende da habilidade, com-

explicado pela maior vaidade e disponibi-

petência e responsabilidade médica, mas

lidade e disponibilidade de submeter-se

também do corpo do paciente, que reage

a procedimentos cirúrgicos inerentes ao

de formas variadas e, ocasionalmente im-

sexo feminino. A maior parte da amostra

previsíveis, a um mesmo procedimento3.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A monovisão é conseguida cirurgica-

lentes esféricos médios do olho dominante

mente com o uso do excimer laser (LASIK

de +1,49 e +1,67 do olho não dominante.

ou PRK)5, técnica permite uma boa visão

Ademais, 96% dos pacientes submetidos

intermédia e uma visão de proximidade,

demostraram-se satisfeitos com o resul-

suiciente para realizar as suas atividades

tado, e 92% relataram que indicariam

diárias6. O desenvolvimento desse estu-

o LASIK para algum conhecido, além da

do possibilitou traçar o peril do paciente

ausência de necessidade de utilização de

submetido ao LASIK, bem como índices

lentes para correção da acuidade visual.

referentes a sua satisfação, assim como a

Sendo esse estudo de caráter docu-

eiciência da referida intervenção. A hip-

mental retrospectivo, de aspecto descritivo

ermetropia era a principal queixa pré-op-

com abordagem quantitativa, os objetivos

eratória dos pacientes, além de equiva-

projetados foram alcançados. A utilização

75 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


do questionário foi uma ferramenta ei-

esse método cirúrgico pode contribuir

caz para a captação tanto de dados so-

para o exercício das atividades cotidianas

ciodemográicos, bem como dos dados

da população.

referentes à história natural da doença,

Destarte, a utilização do LASIK

dados clínicos e de tratamento. Com base

demonstrou-se eicaz no tratamento da

nas informações sobre satisfação obtidas

acuidade visual dos pacientes submeti-

pelo relato dos pacientes, percebe-se que

dos ao procedimento, de modo que a

é necessário a publicação de mais estu-

intervenção cirúrgica proporciona uma

dos que possam descrever a eiciência

melhor qualidade de vida aos pacientes

pós-operatória do LASIK, a im de que

submetidos ao procedimento.

a comunidade possa compreender que

ANALYSIS ABOUT THE TREATMENT OF PRESBYOPIA, THROUGH REFRACTIVE LASER SURGERY IN PATIENTS OF AN OPHTHALMOLOGICAL HOSPITAL IN PARAÍBA

ABSTRACT The cornea is the tissue that allows light to enter in the eye, acting as a lens, and can be sculpted to adjust focus and repair defects. Corrections can be ofset by laser surgery in the absence of cataract. Through LASIK, a method used to obtain monovision, there was a signiicant improvement in both cases of patients undergoing laser surgery. This study deals with a ield research, with a descriptive character and a quantitative approach, carried out between 2015 and December of 2017. LILACS and SciELO databases were used to consult scientiic articles. We used the Descriptors in Health Science: Accommodation and Presbyopia, Physiology, Therapeutic Approach and Surgical Techniques for the treatment of presbyopia. The study was carried out from the electronic records analysis of the Visão Hospital in João Pessoa, Brazil, with 25 patients undergoing LASIK. Twenty-ive patients (50 eyes), 20 (80%) female patients and 5 (20%) male patients. The mean age of the patients was 52 years (ranging from 43 to 59 years), 47 (94%) eyes with farsightedness and 3 (6%) with myopia. None of the patients required the use of corrective lenses after surgery to achieve the desired visual acuity. DISCUSSION: In the present study, the predilection of the female sex was sought for the improvement of vision at close range, which can be explained by the greater vanity and availability of surgical procedures inherent to women. Thus, monovision is achieved surgically through LASIK. This technique allows a reduction of the problems related to visual acuity, proving to be efective in the treatment and providing a better quality of life of the submitted patients. KEYWORDS: Patients. Treatment of presbyopia. Laser refractive surgery.

76 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


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77 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


CAPÍTULO 10 FÍSTULA ARTERIOVENOSA SAFENO-FEMORAL: UMA ALTERNATIVA PARA HEMODIÁLISE Resumo A hemodiálise é uma modalidade terapêutica muito utilizada no tratamento da Insuiciência Renal Crônica, sendo necessária a obtenção de acessos vasculares para a realização do procedimento. Acesso este que pode ser feito por fístulas arteriovenosas, tendo por preferência as realizadas no membro superior. Entretanto, a longa utilização desses acessos acarretam em complicações, sendo necessária a realização de Fístula Arteriovenosa (FAV) em membro inferior. Portanto, devido à importância da fístula em membro inferior como alternativa na hemodiálise, realizou-se uma descrição anatômica da região que será abordada cirurgicamente na realização da FAV safeno-femoral. O presente estudo trata-se de uma pesquisa de campo, exploratória e descritiva, com abordagem quantitativa que irá descrever a relação da anatomia humana com o procedimento clínico de Fístula arteriovenosa safeno-femoral. A pesquisa foi realizada no Laboratório de Anatomia Humana da Faculdade de Medicina Nova Esperança (FAMENE). Na realização do estudo, foram utilizados três cadáveres para realizar comparações dos dados obtidos, fortalecendo os resultados. O instrumento escolhido para a coleta de dados foi por atuação direta no cadáver, através da realização do procedimento clínico de Fístula arteriovenosa safeno-femoral. Também foi realizado registro fotográico, análise e a observação direta do cadáver durante e após o procedimento, sendo feitas medições acerca da distância entre o local do procedimento e o de estruturas importantes. Evidenciaram-se estruturas relacionadas ao campo operatório da confecção da fístula e as medidas antropométricas de todas essas estruturas, estando à incisão a uma distância média de 1,1 cm do músculo sartório, de 3,5 cm do músculo quadríceps femoral, 1,45 do nervo para o músculo sartório, de 2,9 cm do nervo safeno, de 3,4 do nervo para o quadríceps femoral, de 2,9 da artéria femoral e de 3,5 da veia femoral, comparando os três cadáveres estudados. Nesse estudo foi possível evidenciar a importância do conhecimento anatômico sobre as estruturas envolvidas na realização do procedimento, o que serve de base para garantir eicácia, baixa morbidade, menos complicações e boa taxa de perviedade, assegurando a realização da hemodiálise. PALAVRAS-CHAVE: Artroplastia de Quadril. Cadáver. Procedimento Cirúrgico.

Oséas Nazário de Oliveira Júnior1 Acadêmico de Medicina - FAMENE

Gilvandro de Assis Abrantes Leite Filho2 Acadêmico de Medicina - FAMENE

Katherine Maia Florentino Silva Nunes3 Acadêmico de Medicina - FAMENE

Lucas Vieira de Almeida4 Acadêmico de Medicina - FAMENE

Miguel Xavier Bezerra Barbosa5 Acadêmico de Medicina - FAMENE

Tânia Regina Ferreira Cavalcanti6 Docente - FAMENE

78 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


INTRODUÇÃO A maioria dos pacientes com insui-

método em comparação com os cateteres ve-

ciência renal crônica (IRC) é submetida à he-

nosos de longa permanência, conforme expos-

modiálise. No Brasil, 89,6% dos pacientes di-

to.2

alíticos fazem seu tratamento por meio dessa

A escolha do tipo de acesso a ser con-

modalidade terapêutica. Isso exige que esses

feccionado é orientada por uma avaliação ini-

pacientes tenham um acesso vascular, que

cial adequada. Anamnese, incluindo a história

pode ser feito por fístulas arteriovenosas, utili-

prévia do uso de cateteres centrais e punções

zando-se veias autógenas ou próteses, ou por

venosas periféricas, e o exame físico vascular

cateteres venosos. Cada uma dessas alternati-

detalhado são de extrema importância. A ul-

vas de acesso tem suas próprias indicações e

trassonograia com Doppler colorido (US Dop-

1

restrições de uso.

pler) pode ser útil no mapeamento venoso e

Esse tipo de acesso, desenvolvido em

arterial, orientando a confecção das FAV.2

1966 por Appel, e amplamente utilizado pelos

Pode-se deinir a fístula arteriovenosa

nefrologistas Brescia e Cimino, foi o passo ini-

(FAV) para hemodiálise como a anastomose

cial para a utilização crônica da hemodiálise.

de uma artéria com uma veia através de uma

Até então, esse método de substituição renal

técnica cirúrgica já bem estabelecida com o

era utilizado para casos agudos e limitados a

objetivo de arterializar o leito venoso super-

poucas sessões, dada a diiculdade imposta

icial e profundo para conseguir um luxo de

pelas repetidas punções e o rápido esgota-

sangue com nível maior que 300 ml/min e per-

mento dos acessos. O uso de cateteres, utiliza-

mitir punções repetidas.³

dos anteriormente nos shunts e atualmente

A fístula arteriovenosa é o acesso ve-

como método de urgência ou mesmo deini-

noso mais adequado, pois constitui o acesso

tivos (cateteres de longa permanência) para

de longa permanência que viabiliza a diálise

o acesso vascular, está relacionado com au-

efetiva com menor número de intervenções.

mento da mortalidade em até 50%, quando

Apesar de constituir o melhor acesso para

comparado ao uso das fístulas arteriovenosas

hemodiálise, a fístula está suscetível a diver-

(FAV) em pacientes renais crônicos. Além dis-

sas complicações como hipoluxosanguíneo,

so, esses dispositivos acabam por deteriorar o

tromboses, aneurismas, infecções, isquemia

sistema venoso dos pacientes (estenoses cen-

e edema do membro e sobrecarga cardíaca.

trais, tromboses), impedindo a confecção das

A prevenção dessas complicações pode ser

FAV em alguns casos. Sendo assim, os pacien-

realizada por meio do emprego de cuidados

tes com IRC que necessitam de hemodiálise

adequados.4

devem ser indicados preferencialmente à con-

A construção de uma fístula arteriove-

fecção da FAV, devido às várias vantagens do

nosa consiste na junção de uma artéria com

79 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


uma veia, realizada por um cirurgião no blo-

a proximidade com a região inguinal, onde o

co cirúrgico sob anestesia local. O sangue da

risco de infecção é maior.5

artéria, com maior pressão, circula para a veia,

Vários critérios são empregados para

provocando a dilatação e espessamento des-

reconhecer a maturação da FAV. Ao exame

ta. Este processo de maturação demora, cerca

clínico, a presença de um conduto visível, com

de 6 a 8 semanas, após o qual a veia desen-

bom frêmito e facilmente puncionável, indica

volvida já permite a fácil inserção de 2 agulhas

que a FAV é capaz de fornecer luxo adequado

em cada tratamento. Uma das agulhas leva o

para hemodiálise. À US Doppler, a maturação

sangue até o dialisador e a outra permite que

é deinida como o diâmetro do conduto maior

o sangue iltrado retorne ao seu organismo.5

que 4 mm e luxo maior que 400 mL/minutos.

O método de escolha para acesso à

A taxa de falha precoce encontrada na literatu-

hemodiálise é a fístula arteriovenosa (FAV)

ra varia de 10 a 27%. As principais causas para

primária em membro superior, envolvendo

o não desenvolvimento são: as estenoses, que

a artéria radial e a veia cefálica na região do

podem ocorrem na anastomose, na via veno-

punho. No entanto, a utilização prolongada

sa ou mesmo em veias centrais; a trombose; a

desses acessos pode levar a complicações,

presença de ramos colaterais e a insuiciência

como infecção, pseudoaneurisma de punção,

arterial. O que vêm demonstrando a importân-

pseudoaneurismaanastomótico, hipertensão

cia do reconhecimento e tratamento precoces

venosa, isquemia distal e trombose, sendo a

dessas falhas, na tentativa de salvamento dos

causa mais comum de perda da fístula.5

acessos, por meio de procedimentos cirúrgi-

No esgotamento de todas as possi-

cos e/ou endovasculares.2

bilidades de acessos em membros superi-

Diante da importância da FAV safe-

ores, seja através de anastomoses arterio-

no-femoral como uma alternativa de acesso

venosas primárias, seja através de enxertos

para a terapia de hemodiálise, é de grande

com prótese ou veia autóloga, uma proposta

importância o conhecimento anatômico da

é a confecção de FAV em membros inferiores.

região de atuação cirúrgica para a confecção

A técnica consiste em confeccionar uma FAV

desta via. Sendo necessário o conhecimento

empregando uma única anastomose entre a

prévio da anatomia isiológica e de possíveis

veia safena magna e a porção distal da artéria

variações dessa região, sendo o estudo em

femoral supericial, após sua supericialização

cadáveres uma ótima opção para suprir esta

e anteriorização. Porém, esse método também

necessidade.

apresenta desvantagens, como por exemplo,

80 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


METODOLOGIA Trata-se de uma pesquisa de campo,

de localização da veia Safena Magna e da

exploratória e descritiva, com abordagem

artéria Femoral Supericial. Assim, foi veri-

quantitativa que irá descrever a relação

icado através de um roteiro que descreve

da anatomia humana com o procedimen-

como encontrar o local de incisão nos pro-

to de Fístula arteriovenosa safeno-femoral.

cedimentos realizados. Também foram re-

A pesquisa foi realizada no Laboratório de

latadas quais complicações têm possibili-

Anatomia Humana da Faculdade de Medici-

dades de ocorrerem por algum tipo de lesão

na Nova Esperança (FAMENE), localizada no

ou perfuração, veriicando nos três corpos

município de João Pessoa, estado da Paraí-

as distâncias entre os sítios de incisão e es-

ba. Na realização do estudo, foram utiliza-

truturas importantes.

dos três cadáveres para realizar compara-

A presente pesquisa respeitou os

ções dos dados obtidos, fortalecendo os

aspectos éticos preconizados pela Res-

resultados.

olução CNS 466/2012, no art. III, que impli-

O instrumento escolhido para a coleta

ca no respeito ao participante da pesqui-

de dados foi por atuação direta no cadáver,

sa em sua dignidade, respeito e cuidado,

realizando a coleta de dados antropométri-

reconhecendo sua vulnerabilidade. Foi

cos da região de atuação e realização do

aprovada pelo Comitê de Ética da Facul-

procedimento clínico de Fístula arteriove-

dade de Medicina Nova Esperança e ca-

nosa safeno-femoral: a técnica consiste

dastrada na Plataforma Brasil com CAAE

em confeccionar uma fístula arteriovenosa

59469516.8.0000.5179.

empregando uma única anastomose entre

Para demonstrar a relação das es-

a veia safena magna e a porção distal da

truturas anatômicas com o procedimento

artéria femoral supericial, com registro fo-

da fístula arteriovenosa safeno-femoral su-

tográico, análise e a observação direta do

pericial foi realizada a dissecação de três

cadáver durante e após o procedimento,

cadáveres. Inicialmente, de acordo com

sendo feitas medições acerca da distância

Corrêa5 foi feita uma incisão longitudinal de

entre o local do procedimento e o de es-

10 cm no terço médio-distal da face inter-

truturas importantes, bem como relatados

na da coxa, idêntica a realizada no procedi-

quais referenciais de localização podem ser

mento. A partir desta incisão foi retirada por

tomados para que haja um procedimento

meio da dissecação a derme e epiderme da

eicaz e seguro.

região, formando um campo de dissecação

Após a realização do procedimento, foram pontuadas partes do corpo humano

de 70 cm², deixando aparente o tecido subcutâneo adiposo.

que podem ser utilizadas como referência

81 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


FIGURA 1: Medição e marcação do local de incisão no Cadáver 1.

FIGURA 2: Incisão de 10 cm no terço médio-distal na face interna da coxa no Cadáver 1.

FIGURA 3: Janela de dissecação de 70 cm² no cadáver 1, sendo possível visualizar o tecido subcutâneo adiposo e a Veia Safena Magna marcada, a qual está marcada com um alinete de cor verde.

82 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


FIGURA 4: Medição e marcação do local de incisão do cadáver 2.

FIGURA 5: Incisão de 10 cm no terço médio-distal na face interna da coxa no cadáver 2.

FIGURA 6: Janela de dissecação de 70 cm² no cadáver 2, sendo possível visualizar o tecido subcutâneo adiposo e a Veia Safena Magna marcada, a qual está marcada com um alinete de cor vermelha.

83 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


FIGURA 7: Medição e marcação do local de incisão do cadáver 3.

FIGURA 8: Incisão de 10 cm no terço médio-distal na face interna da coxa no cadáver 3.

FIGURA 9: Janela de dissecação de 70 cm², sendo possível visualizar o tecido subcutâneo adiposo e a Veia Safena Magna.

84 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


Com a progressão da dissecação, foi

feno-femoral supericial. Assim, foi realiza-

retirado o tecido subcutâneo adiposo e a

da a marcação das estruturas e realizada

Fáscia Lata, sendo assim possível visua-

a medição da distância dessas em relação

lizar estruturas mais profundas da janela

à Veia Safena Magna, com o intuito de co-

de dissecação, local onde seria realizado o

nhecer esta região, a im de evitar lesões

procedimento de Fístula arteriovenosa Sa-

durante o procedimento.

FIGURA 10: Cadáver 1: F: Artéria Femoral, S: Veia Safena Magna, 1: Músculo Quadriceps Femoral, 2: Músculo Sartório, 3: Músculo Grácil.

FIGURA 11: Cadáver 1: F: Artéria Femoral, S: Veia Safena Magna, 1: Ramo do Nervo Femoral para o Músculo Quadriceps Femoral, 2: Nervo Safeno, 3: Nervo para o Sartório.

85 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


FIGURA 12: Cadáver 1: F: Artéria Femoral, S: Veia Safena Magna, V: Veia Femoral.

FIGURA 13: Cadáver 2: F: Artéria Femoral, S: Veia Safena Magna, 1: Músculo Quadriceps Femoral, 2: Músculo Sartório, 3: Músculo Grácil.

FIGURA 14: Cadáver 2: F: Artéria Femoral, S: Veia Safena Magna, 1: Ramo do Nervo Femoral para o Músculo Quadriceps Femoral, 2: Nervo Safeno, 3: Nervo para o Músculo Sartório.

86 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


FIGURA 15: Cadáver 2: F: Artéria Femoral, S: Veia Safena Magna, V: Veia Femoral.

FIGURA 16: Cadáver 3: F: Artéria Femoral, S: Veia Safena Magna, 1: Músculo Quadriceps Femoral, 2: Músculo Sartório, 3: Músculo Grácil.

FIGURA 17: Cadáver 3: F: Artéria Femoral, S: Veia Safena Magna, 1: Nervo Safeno, 2: Nervo para o Sartório.

87 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


FIGURA 18: Cadáver 3: F: Artéria Femoral, S: Veia Safena Magna, V: Veia Femoral.

A técnica para a realização deste

icial, afastando medialmente o músculo

procedimento consiste em confeccionar

sartório. Confecção de túnel subdérmico

uma FAV empregando uma única anasto-

através de dissecação romba na região

mose entre a veia safena magna e a por-

ântero-lateral de coxa, de modo a ante-

ção distal da artéria femoral supericial,

riorizar e supericializar a veia safena em

após sua supericialização e anterioriza-

seu novo leito. Efetua-se a passagem da

ção. Realiza-se uma incisão longitudinal de

veia safena através do túnel subdérmico.

aproximadamente 10 cm em terço médio-

Findando o procedimento com uma anas-

-distal da face interna da coxa. Disseca-se

tomose término-lateral, confeccionando a

por planos e isola a artéria femoral super-

FAV, com sutura.5

FIGURA 19: Anastomose término-lateral entre a Veia Safena Magna e a Artéria Femoral no cadáver 1

88 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


FIGURA 20: Anastomose término-lateral entre a Veia Safena Magna e a Artéria Femoral no cadáver 2.

FIGURA 21: Anastomose término-lateral entre a Veia Safena Magna e a Artéria Femoral no cadáver 3.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Avaliando as áreas dissecadas e cole-

de 1,1 cm do músculo sartório, de 3,5 cm do

tando medidas antropométricas, por meio da

músculo quadríceps femoral, 1,45 do nervo

utilização de um paquímetro, foi possível vi-

para o músculo sartório, de 2,9 cm do nervo

sualizar as estruturas relacionadas com a re-

safeno, de 3,4 do nervo para o quadríceps fe-

gião de atuação cirúrgica para a confecção da

moral, de 2,9 da artéria femoral e de 3,5 da

FAV safeno-femoral. Assim, foi feito o cálculo

veia femoral, comparando os três cadáveres

médio da distância entre a safena magna e as

estudados.

demais estruturas, encontrando uma média TABELA 1: Estruturas visíveis na dissecação dos 3 cadáveres utilizados Distância em relação à veia Safena Magna

Estruturas Visíveis Sartório Quadriceps Femoral

Cadáver 1

Cadáver 2

Cadáver 3

MM: 1 cm ML: 2,7 cm

MM: 1,3 cm ML: 3,1 cm

MM: 1 cm ML: 2,4 cm

MM: 3 cm

MM: 3,1 cm

MM: 3,1 cm

Ramo do Nervo Femoral para o Musculo Sartório

1,2 cm

2,1 cm

1,1 cm

Nervo Safeno

2,5 cm

3,7 cm

2,5 cm

Ramo do Nervo Femoral (Quadriceps)

3,2 cm

4,2 cm

2,7 cm

Artéria Femoral

2,5 cm

3,9 cm

2,4 cm

Veia Femoral

3,1 cm

4,4 cm

2,9 cm

Legenda: MM: Margem medial , ML: Margem lateral.

89 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


Em caso de lesão do Ramo do nervo

Quadríceps Femoral ocorrerá a incapacitação

Femoral para o Músculo Sartório ocorrerá a

ou redução da funcionalidade deste múscu-

incapacitação ou redução da funcionalidade

lo acarretando em alterações na extensão da

deste músculo acarretando em alterações na

perna e em caso de lesão do Nervo Safeno

lexão do quadril e do joelho e na abdução e

ocorrerá a perca da sensibilidade da face me-

rotação lateral da coxa.6 Em caso de lesão

dial da perna e do pé.6

do Ramo do nervo Femoral para o Músculo

CONSIDERAÇÕES FINAIS De acordo com os dados coletados foi

sim, com estas informações, evita-se lesões

possível evidenciar a importância do conhe-

que comprometem as funções de lexão de

cimento anatômico da região de atuação da

quadril e joelho, abdução e rotação lateral da

realização cirúrgica da FAV safeno-femoral,

coxa, extensão da perna ou da sensibilidade

para garantir eicácia, baixa morbidade, me-

medial da perna e do pé, estas realizadas pe-

nos complicações e boa taxa de perviedade,

las estruturas relacionadas a área de incisão.

assegurando a realização da hemodiálise. As-

ARTERIOVENOSA FISTULA SAFENO-FEMORAL: AS AN ALTERNATIVE FOR HEMODIALYSIS

ABSTRACT Hemodialysis is a widely used therapeutic modality in the treatment of chronic renal insuiciency, and it is necessary to obtain vascular access to perform the procedure. Access to this can be made by arteriovenous istulas, with preference being given to the upper limb, however, the long use of these accesses leads to complications, and it is necessary to perform AVF in the lower limb. Therefore, due to the importance of the istula in the lower limb as an alternative in hemodialysis, an anatomical description of the region that will be approached surgically in the saphenous-femoral AVF was performed. The present study is an exploratory and descriptive ield research with a quantitative approach that will describe the relationship between the human anatomy and the clinical procedure of saphenous-femoral arteriovenous istula. The research was carried out at the Human Anatomy Laboratory of the Nova Esperança Medical School (FAMENE). In the study, three cadavers were used to compare the obtained data, strengthening the results. The instrument chosen for data collection was by direct actuation in the cadaver, through the clinical procedure of sapheno-femoral arteriovenous istula, photographic recording, analysis and direct observation of the cadaver were performed during and after the procedure, and measurements were taken about the distance between the location of

90 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


the procedure and that of important structures. Structures related to the operative ield of the istula preparation and the anthropometric measurements of all these structures were shown, with a mean distance of 1.1 cm from the sartorius muscle, 3.5 cm from the quadriceps femoralis muscle, 1.45 from the nerve to the sartorius muscle, 2.9 cm from the saphenous nerve, 3.4 from the nerve to the femoral quadriceps, 2.9 from the femoral artery and 3.5 from the femoral vein, comparing the three corpses studied. In this study, it was possible to highlight the importance of anatomical knowledge on the structures involved in the procedure, which serves as a basis to guarantee eicacy, low morbidity, fewer complications and good patency rate, ensuring hemodialysis. KEYWORDS: Acess. Corpse. Renal dialysis.

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91 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


CAPÍTULO 11 ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DAS VARIAÇÕES DA ARTÉRIA SUBCLÁVIA E DE SEUS RAMOS

Resumo O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa transversal de natureza descritiva, com abordagem quantitativa, com a qual se fará análise da frequência das variações anatômicas existentes nas artérias subclávias direita e esquerda e nos ramos de cada uma de suas porções quanto a origem e trajeto. A pesquisa foi realizada no Laboratório de Anatomia das Faculdades Nova Esperança (FACENE/FAMENE), instituição privada de ensino superior, com sede localizada em João Pessoa-PB, Brasil. A amostra é constituída por sete cadáveres do Laboratório. O instrumento para a coleta de dados consistiu da atuação direta no cadáver, através da dissecação anatômica, realizada pelos monitores da disciplina de Correlações Anátomo-Clínicas I dos semestres 2017.1 e 2017.2. A coleta de dados foi formalizada mediante a aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da FACENE/FAMENE e ocorreu durante os meses de Junho, Julho, Setembro e Outubro de 2017. Os dados foram armazenados e analisados de forma descritiva, pelo método quantitativo, e apresentados em tabela, mostrando que das sete amostras, 51,4%, corroboram com a literatura, pois seus ramos descrevem-se de acordo com o observado nos artigos pesquisados. Contudo, observou-se que em 28,6% há variação anatômica de alguma forma de trajeto e/ou origem. A pesquisa cumpriu os determinantes da resolução 466/2012 MS/CNS e da Norma Operacional Nº. 001/2013 MS/CNS. PALAVRAS-CHAVE: Artéria subclávia. Variação anatômica. Artéria dorsal da escápula.

Carolina Leitão Sales de Oliveira Freitas1 Acadêmica de Medicina - FAMENE

Glauber Melo de Araujo2 Acadêmico de Medicina - FAMENE

Luiz Henrique Ribeiro de Moraes Ferreira3 Acadêmico de Medicina - FAMENE

Natanael Ferreira Paula4 Acadêmico de Medicina - FAMENE

Tânia Regina Ferreira Cavalcanti5 Docente - FAMENE

Luzia Sandra Moura Moreira6 Docente - FAMENE

92 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


INTRODUÇÃO O estudo das variações anatômicas

artéria se torna axilar4.

é relevante para aqueles que praticam a

De acordo com Moore2, os ramos

morfologia e para os que trabalham com

que saem respectivamente das 3 partes da

diagnóstico por imagem e ciências cirúr-

artéria subclávia são: a. vertebral, a. torá-

gicas. Embora muitas dessas mudanças

cica interna, e tronco tireocervical; tronco

possam passar despercebidas, durante a

costocervical; e normalmente a artéria dor-

vida de uma pessoa, a maioria delas são

sal da escápula, está havendo frequente

implicações de interesse clínico que valem

variação.

a pena serem estudadas¹.

A artéria dorsal da escápula deve

Embora as artérias subclávias dos

normalmente originar-se de um ramo

dois lados tenham diferentes origens – a

do tronco tireocervical, chamado tron-

subclávia direita sendo um ramo do tron-

co cervicodorsal (também chamado em

co braqueocefálico e a esquerda, originan-

outros livros de artéria cervical trans-

do-se diretamente do arco da artéria aor-

versa), havendo variações de onde essa

ta – seus trajetos no pescoço começam

artéria emerge da terceira porção da

em condições normais e, em seguida, as

artéria subclávia e com menos frequên-

respectivas articulações esternoclaviculares

cia da segunda porção. A artéria dorsal

ascendem pela abertura superior do tórax e

da escapula deve normalmente emergir

entram na raiz do pescoço. As artérias fazem

da terceira porção da artéria subclávia².

uma curva superolateral atingindo um ápice,

Gray4 airma que ela normalmente

enquanto passam posteriormente aos múscu-

se origina da terceira porção da artéria sub-

los escalenos anteriores³.

clávia e, frequentemente, emerge da se-

Os livros referência na área da anato-

gunda porção, também havendo a variação

mia se contradizem quanto ao local de ori-

menos frequente onde a artéria dorsal da

gem dos ramos das artérias subclávias,

escapula emerge do tronco tireocervical.

principalmente no que se diz respeito a

A forma como a artéria subclávia e

artéria dorsal da escapula. Para descrição,

seus ramos são apresentados nos livros tor-

cada uma das artérias – subclávia direita

na-se de difícil entendimento aos discentes,

e esquerda – é dividida em três partes: a

sendo motivo de dúvidas frequentes. As-

primeira parte, de sua origem até a bor-

sim, o objetivo deste trabalho é abordar a

da medial do músculo escaleno anterior; a

frequência das variações anatômicas das

segunda parte, atrás do músculo escaleno

artérias subclávias direita, esquerda e seus

anterior; e uma terceira parte, a partir da

ramos, quanto ao trajeto e origem, visando

margem lateral do escaleno anterior até a

tornar mais didática a forma de apresentar

borda externa da primeira costela onde a

esse conteúdo aos discentes.

93 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


METODOLOGIA Trata-se de uma pesquisa de cam-

88/2017 e CAAE: 68037417.1.0000.5179),

po, exploratória e descritiva, com aborda-

sendo dividida em quatro momentos. No

gem quantitativa, que veriicou a existên-

primeiro, realizou-se a seleção amostral

cia de variações anatômicas da artéria

no Laboratório de Anatomia, por meio dos

subclávia e de seus ramos. A pesquisa

critérios de inclusão apresentados ante-

foi realizada no Laboratório de Anatomia

riormente.

Humana das Faculdades Nova Esperança

Em seguida, foi avaliada a neces-

mu-

sidade de intervenção, por parte dos

nicípio de João Pessoa, estado da Paraíba.

monitores, na dissecação já realizada pe-

A escolha desse IES se deu em função de

los alunos, para que houvesse a melhor

ser um dos campos do aprendizado médi-

visualização das estruturas a serem in-

co-acadêmico ao longo do curso de Grad-

vestigadas. Nos casos que apresentaram

uação em Medicina. A amostra consiste

necessidade, ocorreu dissecação local

em sete (7) cadáveres, escolhidos alea-

das regiões cervical e deltopeitoral, sem-

toriamente no Laboratório de Anatomia,

pre procurando manter o cadáver íntegro

nos quais, foi avaliada apenas as aa. sub-

para estudo por parte dos acadêmicos.

(FACENE/FAMENE),

localizada

no

clávias de ambos os lados. Para seleção

No terceiro momento, ocorreu a ob-

foram considerados os seguintes critérios

servação e coleta dos dados referentes ao

de inclusão: os cadáveres deverão estar

conteúdo a ser estudado. Houve veriicação

com as regiões cervical e dos membros

de padronização de variação anatômica

superiores dissecados. Tal exigência é

e comparação com dados apresentados

necessária para que possa ser feita a vi-

em pesquisas de periódicos e livros. Em

sualização das estruturas anatômicas a

todas as fases dessa pesquisa, prezou-se

serem investigadas nessa pesquisa.

o respeito aos aspectos éticos preconiza-

A coleta de dados foi realizada após a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética

dos pela Resolução CNS 466/2012 e suas Complementares.

e Pesquisa FACENE/FAMENE (Protocolo CEP:

RESULTADOS

Para descrição e identiicação das

uma numeração de 1 à 7, para melhor

peças anatômicas, a instituição identi-

entendimento das peças e orientação das

ica-os por códigos que são ixados aos

ideias aqui formuladas (Tabela 1).

mesmos. Substituímos esse código por

94 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


TABELA 1: Numeração dos cadáveres utilizados no estudo.

Numeração do cadáver

Código

1

C6768050

2

C0677880

3

C06768051

4

C06767982

5

C014174

6

C6767987

7

C6767986

Foi observado que das sete amostras,

esquerda. Assim, do arco emergem qua-

71,4% (5) corroboram com a literatura,

tro (04) ramos, variação conhecida como

pois seus ramos descrevem-se de acordo

como arco aórtico tipo C de Adachi, que se

com o observado nos artigos pesquisados.

apresenta com incidência de 2-4%. Essa é

Contudo, foi visto que em 28,6% (2) pos-

considerada a segunda variação mais fre-

suem algum tipo de variação anatômica de

quente de arco6.

trajeto e/ou origem (Tabela 2).

No cadáver 7, a artéria supraes-

O cadáver 2 apresentou a artéria cervical

ascendente

originando-se

capular, ou artéria escapular superior, ou

da

artéria escapular transversal, é proveni-

artéria tireoidea inferior, mas a artéria

ente do tronco tireocervical. Embora às

cervical ascendente se originaria como

vezes se origine como um ramo externo

um ramo colateral do tronco tireocervical,

da artéria subclávia, esse tipo de variação

que é um dos quatro ramos colaterais da

já foi observada e descrita, conirman-

subclávia6.

do com os resultados deste estudo5. Em

O cadáver 5 teve a origem direta

nenhuma das peças de estudo foi veriica-

da artéria vertebral esquerda a partir do

da a origem da artéria supraescapular e

arco aórtico, após a artéria carótida co-

da artéria dorsal da escapula na terceira

mum esquerda e à direita da a. subclávia

porção da artéria subclávia.

95 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


TABELA 2: Variações da artéria subclávia e de seus ramos observadas em cadáveres

Porções/ variações

Porção 1: a. vertebral; a. torácica interna; tronco tireocervical (remiicando-se em a. tireiodea inferior; a. cervical ascendente; tronco cervicodorsal; e a. supraescapular)

% de adequação

Numeração do cadáver

1 3

71,4%

Porção 2: Tronco costocervical Porção 3: Nenhuma artéria.

4 6 7 2

Variações Anatômicas

28,6% 5

No cadáver 7, a artéria supraes-

foi observada e descrita, conirmando com

capular, ou artéria escapular superior, ou

os resultados deste estudo5. Em nenhuma

artéria escapular transversal, é proveni-

das peças de estudo foi veriicada a ori-

ente do tronco tireocervical. Embora às

gem da artéria supraescapular e da artéria

vezes se origine como um ramo externo da

dorsal da escapula na terceira porção da

artéria subclávia, esse tipo de variação já

artéria subclávia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Um estudo comparativo da origem

para o conhecimento dos proissionais da

e evolução dos trajetos arteriais é funda-

área médica, proporcionando um conheci-

mental para atualização de dados, já que

mento íntimo da morfologia e o máximo

as especializações que cursam com ana-

de segurança e precaução principalmente

tomia humana evoluem rapidamente. No-

nos atos cirúrgicos e diagnósticos.

vas informações são de grande relevância

96 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


EPIDEMIOLOGICAL STUDY OF THE VARIATIONS OF THE SUBCLAVIAN ARTERY AND ITS BRANCHES

ABSTRACT The present study is characterized as a cross-sectional study of a descriptive nature with a quantitative approach in which the frequency of anatomical variations in the right and left subclavian arteries and in the branches of each of its portions regarding origin and path will be approached. The research was carried out at the Anatomy Laboratory of the Nova Esperança College (FACENE/FAMENE), a private institution of higher education located in João Pessoa-PB, Brazil. The sample consisted of seven (07) of the corpses of the Laboratory. The instrument for data collection was the direct actuation in the cadaver, through the anatomical dissection performed by the tutors of the Anatomical-Clinical Correlations I course of the semesters 2017.1 and 2017.2. The data collection procedure was formalized through approval by the Ethics and Research Committee FACENE/FAMENE and was performed during the months of June, July, September, and October of 2017, stored and analyzed in a descriptive way by the quantitative method. The data were presented in a chart showing that of the seven samples, 71,4% (5), corroborate with the literature, since its branches are described according to what was observed in the articles surveyed, therefore 28,6% (2) presented anatomical variation of path and/or origin. The research was carried out obeying resolution 466/2012 MS / CNS and Operational Norm Nº. 001/2013 MS / CNS. KEYWORDS: Subclavian artery. Anatomical variation. Dorsal scapular artery.

97 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


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98 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


CAPÍTULO 12 VARIAÇÕES DA VEIA SAFENA PARVA E SUAS IMPLICAÇÕES CLÍNICAS: ESTUDO ANATÔMICO EM CADÁVER

Resumo A veia safena parva, que é uma veia supericial do membro inferior, tem como função auxiliar o retorno do sangue, através de suas válvulas. Dependendo da alteração na anatomia da veia, pode inluenciar no seu funcionamento, a qual pode dar surgimento as implicações clínicas, dentre elas as varizes. As varizes ocorrem quando há uma dilatação dessas veias. Uma possível alteração anatômica é a veia safena parva desembocar na safena magna, conhecida como veia de Giacomini, o que altera o funcionamento valvar do sistema venoso, levando ao surgimento dessas varizes. O objetivo do trabalho é analisar a importância das variações anatômicas no trajeto e nas estruturas circunjacentes da veia safena parva nos cadáveres e associar com possíveis implicações clínicas causadas por essas variações. Trata-se de uma pesquisa de campo descritiva exploratória com abordagem quantitativa, a partir da dissecação de 5 cadáveres adultos do laboratório da FAMENE/PB em outubro de 2017. Utilizou-se o material usual de dissecação e as técnicas adequadas para este im. Na visualização da veia safena parva nos cadáveres não foi observado nenhuma variação anatômica relevante, no entanto o estudo é importante para conhecimento anatômico dessa estrutura e das estruturas adjacentes. PALAVRAS-CHAVE: Variação. Veia safena parva. Varizes.

Aryana Medeiros Silva 1 Acadêmica de Medicina - FAMENE

Carla Giovanna Gomes da Costa 2 Acadêmica de Medicina - FAMENE

Thaynara Maria Honorato Muniz 3 Acadêmica de Medicina - FAMENE

Tânia Regina Ferreira Cavalcante 4 Docente - FAMENE

99 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


INTRODUÇÃO A veia safena parva tem origem na

deste território. Nos casos de agenesia e

face lateral do dorso do pé, sendo uma

quando atinge as veias profundas, pode

continuação da veia marginal lateral. Pas-

apresentar insuiciência venosa crônica,

sa posteriormente ao maléolo lateral, as-

edema, hiperpigmentação e ulceração.

cende e cruza o tendão do calcâneo e o

Segundo Oliveira³, a veia safena parva

músculo gastrocnêmio, seguida do nervo

quando toma o seu percurso para a veia

sural na linha média da panturrilha, para

safena magna, por ser mais precoce e

terminar na veia poplítea¹.

mais complexa que a veia safena magna,

As possíveis variações que po-

há o surgimento dessas varizes.

dem acontecer com a veia safena, quan-

O índice de recidiva pode variar

do referente à sua origem, é de sair de

entre 14 e 44%, podendo chegar a 61%

três ou quatro veias da planta do pé ou

dos casos devido ao coto ou safena par-

da veia dorsal do dedo mínimo com união

va residual. Somente a grande variação

ao arco venoso dorsal. Quando referente

da terminação da veia safena parva pode

ao seu local de desembocar, as possíveis

ser responsável por 10% dos casos de

alterações são de ir ao encontro da veia

recidivas pós-operatória². O objetivo do

safena magna, veia femoral ou das veias

trabalho é analisar a importância das

musculares da panturrilha¹.

variações anatômicas no trajeto e nas

A variação anatômica das veias

estruturas circunjacentes da veia safena

supericiais dos membros inferiores é de

parva nos cadáveres e associar com pos-

extrema importância, pois é um preditor

síveis implicações clínicas causadas por

da possibilidade de um paciente desen-

essas variações.

volver recidivas varizes no pós-operatório

METODOLOGIA O respectivo estudo refere-se a uma

da Saúde, publicado pela Bireme, tradução

pesquisa de campo descritiva exploratória

do MeSH (Medical Subject Headings) da Na-

com abordagem quantitativa feita entre ou-

tional Library of Medicine, autorizando o uso

tubro e dezembro do ano de 2017, usando

da terminologia comum em português, inglês

como base literária os livros relacionados à

e espanhol. Os descritores foram: Safena par-

Anatomia Humana, à Angiologia e à Cirurgia

va, Variações, Varizes. O estudo foi realizado

Vascular. Ainda foram utilizadas terminolo-

a partir da dissecação de 5 cadáveres adul-

gias cadastradas nos Descritores em Ciências

tos no laboratório de anatomia da Faculdade

100 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


de Medicina Nova Esperança, utilizando ma-

desembocadura. Em seguida, a veia foi pin-

teriais habituais de dissecação. Para a visu-

tada com tinta na cor azul para destacar o

alização da veia safena parva foi realizada

seu trajeto em relação às outras estruturas

a dissecação do membro inferior de 5 cadá-

vizinhas. O estudo foi realizado após apre-

veres, iniciando pela retirada da pele, tecido

ciação eaprovação no Comitê de Ética em

subcutâneo e fáscia muscular, separando-a

Pesquisa das Faculdades de Enfermagem e

de estruturas adjacentes, expondo a veia

Medicina Nova Esperança (Protocolo CEP:

safena parva para visualização adequada

189/2017 e CAAE: 77834017.5.0000.5179).

do seu trajeto, desde a sua formação até a

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ao inal do procedimento em cada

que quanto maior o número de colaterais

cadáver, foi possível visualizar a veia safe-

que desembocam na veia safena parva,

na parva, previamente saturada, e assim

mais propenso o desenvolvimento de

analisar suas características anatômicas

varizes e mais acesso ao sistema venoso

a procura de algumas variações. Todas as

profundo, podendo causar outras com-

estruturas da peça anatômica tinham rigi-

plicações, tais como a trombose venosa

dez e consistência diferentes das mesmas

profunda. Na sua terminação, foram per-

in vivo, devido ao processo de enrijeci-

cebidas diferenças apenas no nível da al-

mento cadavérico e ao uso de substâncias

tura da desembocadura na veia poplítea,

conservantes como formaldeído.

o que não tem nenhuma implicação clíni-

Nas Figuras 1 a 8 pode-se obser-

ca nisso.

var o trajeto da veia safena parva nos 5

Apesar de não ter sido observada

cadáveres dissecados, sendo observado

nenhuma variação anatômica relevante

que não existia variação anatômica rele-

na veia safena parva, é fundamental a

vante em nenhum deles. É possível visu-

aquisição de conhecimentos acerca des-

alizar a sua origem na face lateral do pé e

ta estrutura, por meio da análise prática

o seu trajeto, ascendendo posteriormente

em peças anatômicas.

ao maléolo lateral e entre as cabeças do músculo gastrocnêmio, para desembocar na veia poplítea. A diferença observada entre os cadáveres foi com relação as colaterais que desembocavam na veia safena parva, ao longo do seu trajeto. Isso signiica

101 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


FIGURA 1: Cadáver 1. Veia safena parva desem-

FIGURA 2: Cadáver 1. Veia safena parva se originando da face lateral do pé, ascendendo posteriormente ao maléolo lateral e entre as cabeças do músculo gastrocnêmio.

FIGURA 3: Cadáver 2. Visualização da veia safena

FIGURA 4: Cadáver 2. Veia safena parva desembocando no terço médio da veia poplítea.

bocando no terço do superior da veia poplítea.

parva em origem nas veias laterais do pé, ascendendo seu trajeto até a veia poplítea.

102 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


FIGURA 5: Cadáver 3. Veia safena parva desembocando no terço médio da veia poplítea.

FIGURA 6: Cadáver 3. Veia safena parva com

FIGURA 7: Cadáver 4. Visualização da veia safena

FIGURA 8: Cadáver 5. Veia safena parva ascendendo entre as cabeças do músculo gastrocnêmio e desembocando no terço inferior da veia poplítea.

parva desde a origem na face lateral do pé, ascendendo posteriormente ao maléolo lateral e entre as cabeças do músculo gastrocnêmio e desembocando no terço inferior da veia poplítea

origem na face lateral do pé e ascendendo posteriormente ao maléolo lateral.

103 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


Segundo Paula¹¹, a veia safena

As literaturas vistas airmam a im-

parva, também chamada de safena ex-

portância do conhecimento destes tipos

terna, é uma continuação da veia mar-

de variação para a clínica onde facilmen-

ginal lateral, posteriormente ao maléolo

te pode ser lesada em cirurgias vascu-

lateral, ascende pela margem lateral do

lares, assim como, pode evitar procedi-

tendão do calcâneo, após cruzá-lo e se-

mentos como a safenectomia radical, em

guir posterior a ele em seu terço médio.

que haverá uma grande perda no luxo

Entre as cabeças do músculo gastrocnê-

venoso supericial do membro inferior.

mio e penetra na fáscia profunda para desembocar na veia poplítea.

Oliveira¹³ diz que as variações da veia safena parva se devem a sua forma-

De acordo com Georgie¹², a ana-

ção embrionária que vem muito antes e

tomia da veia safena parva pode apre-

de forma mais complexa que a veia safe-

sentar consideráveis variações em seus

na magna. Há muitos anos essas obser-

trajetos e, principalmente, em sua termi-

vações eram feitas através da disseca-

nação, podendo contribuir para frequen-

ção de cadáveres.

tes recidivas de varizes deste território.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A veia safena parva apresenta

às veias superficiais. O que torna impor-

uma grande variabilidade anatômica,

tante o funcionamento adequado dessas

devido sua origem embriológica, justifi-

veias.

cando os possíveis locais para desembo-

Apesar de não atingir o objetivo

car e se originar. As veias superficiais

inicial referente ao estudo, identiicar as

são responsáveis por apenas 10% do

variações anatômicas relevantes da veia

retorno venoso e possuem uma pare-

safena parva, que resultam em possíveis

de muscular relativamente espessa,

implicações clínicas, a pesquisa nos cinco

com a possibilidade de ser preditora

cadáveres possibilitou um maior entendi-

das varizes. As veias profundas são en-

mento anatômico da própria veia safena

carregadas por 90% da drenagem dos

parva e das estruturas adjacentes ao lo-

membros inferiores, mas apresentam

cal.

uma parede vascular menos espessa e com menos tecido muscular, em relação

104 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


VARIATIONS OF THE GREAT SAPHENOUS VEIN AND ITS CLINICAL IMPLICATIONS: ANATOMICAL STUDY IN CADAVER

ABSTRACT The great saphenous vein, which is a supericial vein of the lower limb, has the function of assisting the return of blood through its valves. Depending on the change in the anatomy of the vein, it may inluence its functioning, which may give rise to clinical implications, including varicose veins. Varicose veins occur when there is a dilation of these veins. A possible anatomical alteration is the great saphenous vein leading to the tight extension of the small saphenous vein, known as the Giacomini vein, which changes the valve function of the venous system, leading to the appearance of these varicose veins. The objective of this study was to analyze the importance of anatomical variations in the path and surrounding structures of the saphenous vein in the corpses and to associate them with possible clinical implications caused by these variations. This is an exploratory descriptive ield study with a quantitative approach from the dissection of 5 adult cadavers from the Nova Esperança Medical School – FAMENE at the laboratory in October 2017, using the usual dissecting material and the appropriate techniques for this purpose. In the visualization of the great saphenous vein in the cadavers, no relevant anatomical variation, however the study is important for anatomical knowledge of this structure and adjacent structures. KEYWORDS: Variation. Great saphenous vein. Varicose veins.

REFERÊNCIAS

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Resolução 466/2012. Comitê de Ética em

105 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


Pesquisa. CONEP juntamente com outros

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106 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


CAPÍTULO 13 ECTASIA DE ARTÉRIA CORONÁRIA: ESTUDO ANATÔMICO EM CADÁVER

Resumo As doenças cardiovasculares são as principais causas de óbito em todo o mundo. Embora a ectasia de artéria coronária (ECA) seja causa infrequente de síndrome coronariana aguda, o prognóstico não é bom. Esta pesquisa é caracterizada como um relato de experiência referente à ECA observada durante a dissecção de cadáver. A forma de abordagem utilizada é predominantemente qualitativa. Retirou-se o cadáver do reservatório de conservação em solução salina, colocou-se na mesa pertencente ao Laboratório de Anatomia a im de estudá-lo. Após dissecção por planos, foi encontrada uma dilatação importante ao longo das artérias coronárias, sendo possível observar a ECA. A ectasia é considerada difusa quando acomete mais de uma artéria ou diferentes segmentos na mesma artéria, e localizada quando um único segmento arterial é acometido. Embora infrequente, o prognóstico não costuma ser bom. Logo, é importante o diagnóstico precoce e um tratamento efetivo, para evitar possíveis complicações e reduzir a morbimortalidade desses pacientes. PALAVRAS-CHAVE: Ectasia. Artérias. Cadáver.

Daniella Jéssica Muniz Honorato1 Acadêmica de Medicina - FAMENE

Gilvandro de Assis Abrantes Leite Filho2 Acadêmico de Medicina - FAMENE

Katherine Maia Florentino Silva Nunes3 Acadêmica de Medicina - FAMENE

Waldênio Araújo Barros dos Santos4 Acadêmico de Medicina - FAMENE

Tânia Regina Ferreira Cavalcanti5 Docente - FAMENE

107 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


INTRODUÇÃO As doenças cardiovasculares (DCV) são as principais causas de óbito em

grandes benefícios em relação a redução de recidivas e da mortalidade6.

todo o mundo e, de acordo com a Orga-

Além disso, sabe-se que as princi-

nização Mundial da Saúde (OMS), foram

pais etiologias da ECA são: aterosclerótica

responsáveis por 17 milhões de mortes

(50%), congênita (20-30%), inlamatória

em 2011, que representam 3 em cada 10

ou doenças ligadas ao tecido conjunti-

óbitos. Destes, 7 milhões de pessoas mor-

vo (10-20%) e iatrogênica (3-4%)7-8. A

reram por doenças isquêmicas do coração

maioria delas é passível de prevenção e

e 6,2 milhões por acidente vascular en-

do controle de fatores de risco, que em

cefálico. O principal representante das

comparação com a doença ateroscleróti-

doenças isquêmicas do coração é o infar-

ca coronariana são os mesmos, à exceção

to agudo do miocárdio1.

do diabetes3.

Embora a ectasia de artéria coro-

Mediante a exposição dos fatos,

nária (ECA) seja causa infrequente de

considerando a importância clínica da

síndrome coronariana aguda, tendo uma

ectasia de artéria coronária, em relação

prevalência em pacientes submetidos a

a síndrome coronariana aguda e sua alta

coronariograia por suspeita de cardiopa-

taxa de mortalidade, bem como relatos

tia isquêmica de 3,4%

2;3.

O prognóstico

de caso e periódicos a respeito da ecta-

de um paciente com obstrução arterial

sia, faz-se necessário o estudo mais apro-

coronariana em três vasos tratado com

fundado com descrição detalhada de um

medicamentos é o mesmo que em paci-

achado anatômico, durante dissecção no

entes com ectasia de artéria coronária4.

laboratório de anatomia da Faculdade de

A ECA pode ser facilmente diagnos-

Medicina Nova Esperança, melhorando

ticada por exames de imagem como eco-

o entendimento sobre o assunto entre

cardiograia, coronariograia, ressonân-

acadêmicos da área.

cia magnética e tomograia com emissão de pósitrons. Quando associada a outras patologias, como cardiopatia hipertensiva e insuiciência aórtica, o prognóstico pode ser ainda mais reservado devido a piora da perfusão miocárdica5. Mesmo não tendo consenso de tratamento, o uso precoce de antiagregantes e anticoagulantes nesses pacientes tem mostrado

108 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


METODOLOGIA caracterizada

A coleta de dados foi realizada em

como relato de experiência referente à

dias úteis nos turnos da manhã e tarde,

ectasia de artéria coronária, observada

após a aprovação do projeto pelo Comitê

durante a dissecção de cadáver durante

de Ética e Pesquisa FACENE/FAMENE (CAAE

o período letivo. A forma de abordagem

78553317.1.0000.5179).

utilizada é predominantemente qualita-

desenvolvida em duas fases. A primeira fase

tiva. As medições foram realizadas no

referiu-se ao isolamento do cadáver e do

Laboratório de Anatomia da Faculdade de

coração no laboratório. A presente pesqui-

Medicina Nova Esperança, sendo utiliza-

sa respeitou os aspectos éticos preconiza-

do um coração humano. Durante todas as

dos pela Resolução CNS 466/2012, no art.

etapas do procedimento os autores uti-

III, que implica no respeito ao participante

lizaram os equipamentos de proteção in-

da pesquisa em sua dignidade, respeito e

dividuais necessários como jaleco, touca,

cuidado, reconhecendo sua vulnerabilidade.

Esta

pesquisa

é

óculos de proteção, máscara e luvas.

A

pesquisa

foi

Todas as informações coletadas foram

O instrumento escolhido para a co-

documentadas e catalogadas em planilhas. A

leta de dados será por atuação direta no

segunda fase consistiu na correlação dos da-

cadáver, durante o procedimento de disse-

dos obtidos na peça estudada com a possível

cação, através da realização de medições

repercussão clínica e comparação com dados

com régua e paquímetro para mensuração

apresentados em pesquisas de periódicos e

de comprimento e diâmetro dos vasos, com

livros. Os dados obtidos foram dispostos em

registro fotográico, análise dos dados cole-

um texto descritivo. Posteriormente, foi uti-

tados, e correlação com artigos em periódi-

lizada a planilha eletrônica do software Excel

cos eletrônicos e livros/manuais sobre o

para a estatística descritiva simples, sendo

tema em questão.

analisado com base em literatura pertinente.

RELATO DE EXPERIÊNCIA

Retirou-se o cadáver do reser-

longo das artérias coronárias. O coração

vatório de conservação em solução sa-

em estudo foi fotografado e logo após foi

lina, o mesmo foi posto na mesa perten-

removido para medição do diâmetro das

cente ao Laboratório de Anatomia para

artérias coronárias e todos os seus ra-

estudo. Após dissecção por planos, foi

mos (Figuras 1 a 4).

encontrada uma dilatação importante ao

109 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


FIGURA 1: Artéria coronária direita e seus ramos.

1: A. Aorta; 2: Átrio D.; 3: Ventrículo D.; 4: A. Coronária D.;5: A. Marginal D.; 6: A. Interventricular posterior; 7: Ventrículo E.

FIGURA 2: Artéria coronária direita e seus ramos.

1: A. Aorta; 2: Átrio D.; 3: Ventrículo D.; 4: A. Coronária D.; 6: A. Interventricular posterior; 7: Ventrículo E.; 11: Átrio E.; 12: Ramo do nó atrioventricular; 13: Ramo do nó sinusal.

110 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


FIGURA 3: Artéria coronária esquerda e seus ramos.

1: A. Aorta; 3: Ventrículo D.; 7: Ventrículo E.; 8: A. do tronco pulmonar; 9: A. Interventricular anterior; 10: Ramos laterais da A. Interventricular anterior; 11: Átrio E.; 14: A. Coronária E.; 15: A. Diagonal; 16: A. circunlexa.

FIGURA 4: Artéria coronária esquerda e seus ramos.

7: Ventrículo E.; 9: A. Interventricular anterior; 10: Ramos laterais da A. Interventricular anterior; 17: A. marginal E.

111 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


RESULTADOS E DISCUSSÃO No cadáver em estudo foi possível

entre 1,5 e 5,5 mm para as artérias coro-

observar a ectasia difusa das artérias co-

nárias em suas origens. Os diâmetros das

ronárias. A ectasia de artérias coronárias

artérias coronárias podem aumentar até

(ECA) é deinida como uma dilatação loca-

o 30º ano de vida10. Nas Tabela 1 e 2 po-

lizada ou difusa nas artérias coronarianas.

de-se observar os diâmetros das artérias

A ectasia é considerada difusa quando

coronárias direita e esquerda, juntamente

acomete mais de uma artéria, ou diferen-

com os seus ramos do coração do cadáver

tes segmentos da mesma artéria e locali-

estudado. No entanto, as artérias coroná-

zada quando um único segmento arterial é

ria direita com 10 mm, artéria coronária

acometido11.

esquerda com 8 mm e artéria interventri-

O calibre das artérias coronárias,

cular anterior com 8 mm divergem dessas

tanto os troncos principais como os ra-

medições de moldes arteriais ou angio-

mos maiores, baseado em medições de

gramas no geral.

moldes arteriais ou angiogramas, varia

TABELA 1: Diâmetro da artéria coronária direita e seus ramos.

Vaso

Diâmetro

Artéria coronária direita

10mm

Artéria marginal direita

3mm

Artéria interventricular posterior

3mm

Ramo para o nó sinusal

1mm

Ramo para o nó atrioventricular

2mm

TABELA 2: Diâmetro da artéria coronária esquerda e seus ramos.

Vaso

Diâmetro

Artéria coronária esquerda

8mm

Artéria interventricular anterior

8mm

Artéria diagonal

5mm

Artéria circunlexa

4mm

Artéria marginal esquerda

3mm

Ramos laterais da A. interventricular ant.

4mm

112 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


Essas

dilatações

presentes

nas

A ECA é diagnosticada quando um

Artérias Coronárias geram repercussões

segmento da artéria é maior que 1,5 vezes o

clínicas para os portadores, tais como: con-

diâmetro do segmento da artéria adjacente

tribuição para a formação de fenômenos

normal18. O advento do cateterismo cardía-

tromboembólicos, através do aumento da

co permitiu a realização do diagnóstico da

viscosidade sanguínea, aumento do volume

dilatação das artérias coronárias in vivo20.

plaquetário com consequente incremento

Exames como, a cineangiocoronariograia,

da ativação plaquetária12-13, da ativação do

angiotomograia computadorizada, angior-

sistema de coagulação e do turbilhonamen-

ressonância, ecocardiograia, ressonância

to do luxo sanguíneo, facilitando a formação

magnética e tomograia computadorizada

de trombo intraarterial14. Microêmbolos for-

com emissão de pósitrons são utilizados

mados nesses segmentos podem migrar e

para um possível diagnóstico.

21, 22

serem responsáveis por síndrome coronar-

Estudos recomendam que o trata-

iana aguda, culminando em infarto agudo

mento para dilatação de artérias coronárias

do miocárdio (IAM) com suas consequências

deve incluir um método de terapia para

elétricas, funcionais e estruturais.15

cada complicação em potencial supracita-

Além disso, um estudo recente

da. O regime apropriado inclui: anticoagu-

demonstrou que as ectasias cursam com

lação para minimizar o risco de formação

disfunção endotelial e aumento dos mar-

de trombos, terapia antiplaquetária, tera-

cadores inlamatórios, igualmente respon-

pia com bloqueador de canal de cálcio para

sivos à terapia com estatinas e inibidores

evitar espasmo das artérias coronárias (deve

da enzima conversora da angiotensina, tal

ser evitado o uso de beta bloqueador, que

como as lesões ateroscleróticas16. Outro

pode levar ao espasmo das artérias coro-

estudo, também recente, aponta queda

nárias em decorrência de uma sobreposição

nos níveis de adiponectina, citocina relacio-

dos receptores alfa). Nitratos também po-

nada à proteção na doença aterosclerótica

dem ser utilizados.23;25

em pacientes com ectasia coronariana.17

RESULTADOS E DISCUSSÃO As artérias coronárias suprem os átrios

impulsiona sangue para todo corpo, sendo

e os ventrículos. Dessa forma, é de grande

um órgão vital. Embora infrequente, o prog-

importância o estudo das anomalias da ana-

nóstico não costuma ser bom. Logo, é impor-

tomia intrínseca que acometem essas arté-

tante o diagnóstico precoce e um tratamento

rias juntamente com seus ramos, visto que o

efetivo, para evitar possíveis complicações e

coração é a bomba contrátil propulsora que

reduzir a morbimortalidade desses pacientes.

113 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


CORONARY ARTERY ECTASIA: ANATOMICAL STUDY ON CORPSE

ABSTRACT Cardiovascular diseases are the leading causes of death worldwide. Although coronary artery ectasia (CAE) is an uncommon cause of acute coronary syndrome, the prognosis is not good. This research is characterized as an experience report regarding CAE observed during cadaver dissection over the school term. The approach used is predominantly qualitative. The corpse was removed from the preservation reservoir in saline solution; it was placed on the table belonging to the Anatomy Laboratory for study. After dissection by planes, an important dilatation was found along the coronary arteries. In the corpse under study it was possible to observe the difuse ectasia of the coronary arteries. Ectasia is considered difuse when it afects more than one artery or diferent segments in the same artery and is localized when a single arterial segment is involved. Although infrequent, the prognosis is not usually good, so early diagnosis and efective treatment are important to avoid possible complications and reduce the morbidity and mortality of these patients. KEYWORDS: Ectasia. Arteries. Cadaver.

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114 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


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115 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


CAPÍTULO 14 PROCEDIMENTO DE COLOCAÇÃO DE DIU EM CADÁVER E SUAS COMPLICAÇÕES Resumo O dispositivo intrauterino é um pequeno instrumento de plástico, em forma de T, que costuma ser revestido com o metal cobre. Quando o DIU contém o hormônio progesterona, passa a ser chamado de SIU (Sistema Intrauterino), também conhecido como DIU hormonal ou DIU Mirena. Este dispositivo deve ser implantado dentro do útero da mulher, através da vagina, pelo médico ginecologista. O objetivo deste trabalho é relatar o procedimento de colocação do dispositivo intrauterino, descrevendo as etapas de colocação e relacionando suas possíveis complicações. Trata-se de uma pesquisa exploratória descritiva, realizada em peças cadavéricas humanas, que fazem parte do acervo do Laboratório de Anatomia da Faculdade de Medicina Nova Esperança, e destinadas à disciplina de Anatomia. Durante o desenvolvimento do trabalho, foi utilizada uma peça de útero humano para demonstração do procedimento. Além disso, contou-se com a utilização do kit composto por espéculo vaginal, pinça Cheron em poliestireno, pinça Pozzy metálica e descartável, histerômetro em poliestireno, com haste centimetrada e stopper. Inicialmente, o procedimento foi realizado em cadáver, contudo, não foi obtido êxito devido a rigidez muscular que impossibilitou a passagem do espéculo. A partir disso, o procedimento passou a ser executado em peça isolada de útero, ocorrendo a passagem lenta e suave da sonda uterina, através do cérvix com o objetivo de medir a profundidade e a posição do útero. Em seguida, colocou-se o DIU no aplicador, inserindo-o, para posteriormente removê-lo, após inserção e ixação do dispositivo no útero. Por im, cortou-se os ios existentes no DIU, deixando-os pendurados cerca de três centímetros fora do cérvix. Assim, com a aplicação da técnica no cadáver foi possível prever e discutir as possíveis complicações de colocação do DIU ao analisar a anatomia pélvica feminina, seus órgãos e anexos, assim como, sua musculatura e disposição no corpo. PALAVRAS-CHAVE: Contraceptivo. Anatomia. Cadáver.

Jennifer Kathelen Lima Alexandre1 Acadêmica de Medicina - FAMENE

Juliana de Melo Figueiredo2 Acadêmica de Medicina - FAMENE

Maria Eduarda de Arruda Carvalho3 Acadêmica de Medicina - FAMENE

Vívian Maria Vieira Moura De Holanda4 Acadêmica de Medicina - FAMENE

Tânia Regina Ferreira Cavalcanti5 Docente - FAMENE

116 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


INTRODUÇÃO A orientação em planejamento fa-

tação do DIU pode levar ao insucesso e,

miliar é uma prática de essencial importân-

consequentemente, complicações no pro-

cia para qualquer pessoa, proporcionando

cedimento. Quanto à implantação deste

informações corretas que levem em conta

dispositivo, é importante ressaltar que para

o seu papel sexual, sua história de vida,

garantir um bom posicionamento do DIU, é

crenças e valores. O desconhecimento

necessário obedecer alguns critérios. Desse

dos métodos contraceptivos pode condu-

modo, a distância do ápice do DIU ao fun-

zir a uma gravidez não planejada, muitas

do uterino não deve ultrapassar 2,5 cm,

vezes resolvida com a solução não dese-

assim como a distância do ápice ao fundo da

jada do aborto, ou levando a problemas

cavidade uterina não deve ser superior a 5

na aceitação da criança nascida nestas

mm. A frequência de mau posicionamento

circunstâncias.1

encontrada foi de aproximadamente 11%,

O dispositivo intrauterino (DIU),

cujo único fator associado foi a nulipari-

usado por cerca de 150 milhões de mul-

dade. O DIU é considerado também mal posi-

heres de vários países, é o método contra-

cionado quando uma de suas partes penetra

ceptivo reversível mais frequente no mun-

no miométrio (incrustado) ou tem localização

do, ao qual se relacionam taxas de falhas

ectópica (além da serosa). Independente das

extremamente baixas, com a vantagem de

distâncias mencionadas, atualmente o que

prolongado.2

é mais aceito para um DIU ser considerado

Pela eicácia e boa aceitação como método

com posição inadequada é a sua penetração

contraceptivo, é atualmente a segunda al-

total ou parcial na endocérvix4

poder ser usado por tempo

ternativa de planejamento familiar depois da

As complicações do método incluem,

esterilização cirúrgica, havendo controvér-

além da perfuração uterina decorrente da

sias sobre qual dispositivo é considerado o

colocação inadequada, a expulsão e uma

melhor. Para alguns autores, o DIU conten-

maior predisposição para infecções. Quan-

do cobre parece ser mais eicaz do que

to aos índices de expulsão, há divergência

os demais. Entretanto, segundo outros,

na literatura. Existem autores que airmam

o DIU contendo levonorgestrel apresenta

ser mais frequente no primeiro ano de uso

melhores resultados em comparação aos

e outros que asseguram que continua a

que contêm cobre, quanto ao risco menor

ocorrer de forma constante ao longo dos

de complicações, descontinuação de uso

dez primeiros anos, sobretudo durante a

e ineicácia3

menstruação. Entretanto, o único fator que

O desconhecimento da realização

foi mais constantemente associado à ex-

adequada do procedimento de implan-

pulsão foi a idade inferior a 20 anos.5 Foi

117 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


observado que ocorre mudança da micro-

em atividade, gravidez conirmada, fatores

biota vaginal após a inserção do DIU, pre-

uterinos, câncer ginecológico do corpo e

dispondo a infecções, sobretudo no primeiro

colo do útero e reações adversas aos com-

ano de uso. A doença inlamatória pélvica

ponentes do DIU, geralmente ao cobre.5

(DIP), embora assintomática na maioria dos

Nesse trabalho, buscou-se relatar o

casos, ocorre devido à ascensão de agentes

procedimento de colocação do dispositivo

patógenos da cérvix para o endométrio e

intrauterino, descrevendo as etapas de co-

trompas de falópio.6

locação e relacionando suas possíveis com-

Além disso, há cinco categorias res-

plicações.

tritas de contraindicações: infecção uterina

METODOLOGIA

A

pesquisa

caracterizou-se

por

os equipamentos de proteção individual

ser do tipo exploratória descritiva. Os

necessários, como jaleco, touca, óculos

sujeitos desse estudo foram peças ca-

de proteção, máscara, luvas.

davéricas humanas do Laboratório de

Foi utilizada uma peça de útero

Anatomia da Faculdade de Medicina

humano para demonstração do procedi-

Nova Esperança, destinadas à discipli-

mento. Além disso, contou-se ainda, com

na de Anatomia. O estudo foi realizado

a utilização do kit composto por espé-

após aprovação no Comitê de Ética em

culo vaginal modelo Collin tamanho M,

Pesquisa das Faculdades de Enferma-

pinça Cheron em poliestireno, de 24,5cm

gem e Medicina Nova Esperança (CAAE:

de comprimento, pinça Pozzy metálica e

CAAE: 79614017.2.0000.5179). A equi-

descartável, de 26,5cm de comprimento,

pe que realizou a pesquisa foi formada

histerômetro em poliestireno, com haste

pelos autores desse estudo, que contou

centimetrada e stopper, com 25 cm de

com auxílio dos técnicos de laboratório

comprimento, tesoura longa metálica e

da mesma instituição. Todos utilizaram

descartável, de 25 cm de comprimento.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A peça anatômica utilizada era um

análise e realização do procedimento.

útero cujo diâmetro tinha 5,3cm (Figura

O útero é um dos órgãos mais

1) e comprimento 4,3 cm (Figura 2), sen-

dinâmicos no corpo humano. O seu volume

do retirado do cadáver para uma melhor

se modiica assim como sua coniguração,

118 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


sob a inluência hormonal da puberdade.

tionale, mais supericial, renovado ciclica-

Na fase de menacme, alcança seus

mente, e que cresce sob a ação dos es-

diâmetros máximos, atroiando com a

trogênio e progesterona e desagrega-se,

menopausa. Durante a gravidez, o útero

posteriormente, na menstruação. Ele ain-

deve crescer signiicativamente e modi-

da apresenta um estreitamento inferior,

icar-se para proteger, sustentar e inal-

o colo uterino ou cérvix, que se abre na

mente expulsar o feto em desenvolvi-

vagina. A única barreira física entre a va-

mento.7

gina e o útero é o muco cervical. A aber-

Além disso, é um órgão muscular

tura vaginal localiza-se posteriormente à

composto por três camadas: perimétrio

abertura uretral. Estes orifícios são reco-

(camada externa, conjuntiva), miométrio

bertos longitudinalmente por pregas, os

(camada

liso) e en-

pequenos e os grandes lábios. O clitóris é

dométrio, que é um epitélio escamoso es-

uma pequena estrutura formada por teci-

tratiicado não-queratinizado, composto

do eréctil, situada na extremidade anterior

por um stratum basale e um stratum func-

dos pequenos lábios8.

FIGURA 1: Medida do útero (largura).

FIGURA 2: Medida do útero (altura).

média,

músculo

A análise foi feita baseada no pro-

consideração as características anatômi-

cedimento de inserção do DIU, cujo com-

cas inerentes ao útero e estruturas pél-

primento era 3,5 cm (Figura 3) e diâmetro

vicas femininas adjacentes a ele. Dessa

de 3,2 cm (Figura 4), em peça cadavérica,

forma, iniciou-se o procedimento em cadá-

a im de reproduzir procedimento clínico e

ver, porém sem sucesso devido a rigidez

suas possíveis complicações, levando em

muscular que impossibilitou a passagem

119 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


do espéculo e, consequentemente, conti-

da, colocou-se o DIU no aplicador que foi

nuação do procedimento. Assim, optou-se

inserido de forma lenta e suave, para pos-

por realizar procedimento em peça isola-

teriormente removê-lo, após inserção e i-

da de útero, a partir da passagem lenta e

xação do dispositivo no útero (Figuras 6 e

suave da sonda uterina, através do cérvix

7). Por im, cortaram-se os ios existentes

(Figura 5), com o objetivo de medir a pro-

no DIU, deixando-os pendurados cerca de

fundidade e a posição do útero. Em segui-

três centímetros fora do cérvix.

FIGURA 3: Medida do comprimento do DIU.

FIGURA 2: Medida do diâmetro do DIU.

FIGURA 5: Inserção do isterômetro.

120 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


O dispositivo intrauterino (DIU) é

têm um io de cobre. A liberação desse íon

um dispositivo de plástico que é inserido

faz com que a cauda dos espermatozoides

pelo médico no útero (Figuras 6 e 7), po-

enrole-se, prejudicando o seu movimento

dendo durar três a cinco anos. Como um

e evitando a concepção. O DIU que libera

agente estranho, irrita a mucosa do útero,

progesterona age suprimindo a ovulação e

impedindo a implantação. Há modelos que

espessando o muco cervical.9

FIGURA 6: DIU inserido na cavidade uterina.

FIGURA 7: DIU inserido na cavidade uterina.

O DIU de cobre é uma excelente

são associados geram um maior risco car-

opção para mulheres que desejam contra-

diovascular. No entanto, nesta faixa etá-

cepção reversível, independente do coito

ria, há maior prevalência de sangramen-

e de longo prazo. Além disso, é indicação

tos uterinos disfuncionais, por disovulias.

interessante, por exemplo, em lactantes e

Nestas pacientes, acredita-se que o DIU de

em mulheres com contraindicação ao uso

cobre não seja uma boa opção, havendo

de estrogênio, como por exemplo, história

melhor indicação para o sistema intraute-

de câncer de

mama.10

rino liberador de levonorgestrel (SIU-LNG).

Quanto as mulheres na perimeno-

Naquelas que utilizam o DIU de cobre, re-

pausa, inicialmente o DIU é uma excelente

comenda-se retirá-lo após um ano da últi-

opção, sobretudo naquelas que têm con-

ma menstruação (menopausa).11

traindicações, relativas ou absolutas, a

Contudo, com a realização do proce-

terapia hormonal contraceptiva, como as

dimento, notou-se, de forma minuciosa, a

tabagistas, obesas, hipertensas e diabé-

importância da técnica de inserção deste

ticas. Desse modo, quando estes fatores

dispositivo com o objetivo de evitar possí-

121 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


veis complicações inerentes a ele. As com-

cada um, pelo canal cervical.13-14

plicações acontecem de forma rara, porém

c) Expulsão: ocorre, geralmente,

é de fundamental importância citá-las e

devido ao seu mau posicionamento, pois

analisá-las do ponto de vista anatômico e

o seu alojamento deve ser feito no fundo

funcional para o conhecimento e formação

uterino e, em alguns casos, ele não é colo-

acadêmica. Dentre elas, algumas passí-

cado nessa região o que facilita a expulsão.

veis de ocorrer, foram analisadas e discu-

Outro fator que promove sua expulsão é a

tidas durante o procedimento, como:

colocação pós-parto. O DIU é expulso mais

a) Perfuração uterina: um dos fato-

facilmente, após o parto, porque o útero

res que contribuem para tal complicação

está se contraindo e o colo do útero está

está relacionado ao útero retrovertido, ou

dilatado.14

seja, quando o corpo uterino está direcio-

d) Sangramento genital: pode ocor-

nado para as costas da paciente. Outro

rer de forma rara quando não está relacio-

fator que contribui para a perfuração é a

nado com a menstruação. Está associado

desproporcionalidade do dispositivo com o

ao deslocamento inadequado do disposi-

tamanho do útero. Os DIUs têm tamanhos

tivo, enquanto ele está implantado, como

diferentes justamente para se adequarem

também, durante a sua retirada pode ocor-

ao tamanho correto do órgão.12

rer algum tipo de sangramento que deve

b) Infecção pélvica: com o intuito de

ser investigado.15

minimizar os riscos de infecção, após in-

e) Dor: pode acontecer, assim como

serção do dispositivo, é interessante fazer

o sangramento vaginal não relacionado à

o uso de instrumentos desinfectados de

menstruação. É uma complicação rara e,

forma altamente eiciente e a limpeza do

de acordo com artigos, ocorre em 1% dos

colo do útero com um antisséptico aquo-

casos. O problema pode ser resultado de

so tal como o gluconato de clorexideno, ou

uma movimentação do dispositivo dentro

com um iodóforo (por exemplo, Betadine).

do corpo. Neste caso, o indicado é consul-

Outra forma de evitar a infecção é a téc-

tar o ginecologista, que fez o implante, e

nica de inserção “sem toque”, que abran-

descobrir as causas e como proceder para

ge carregar o DIU no aplicador, enquanto

evitar esta condição.12

o DIU ainda está na embalagem estéril, a

Assim, com a aplicação da técnica

im de evitar que se toque diretamente o

no cadáver, foi possível prever e discutir

DIU. Limpar o cérvix completamente com

essas possíveis complicações, ao analisar

antisséptico antes da inserção do DIU; to-

a anatomia pélvica feminina, seus órgãos

mar cuidado para não tocar a parede vagi-

e anexos, assim como, sua musculatura e

nal ou lâminas do espéculo como a sonda

disposição no corpo.

uterina ou o aplicador do DIU carregado.

Quanto à técnica de inserção dos

Por im, passar a sonda uterina e o aplica-

DIUs, a literatura tem observado que a

dor de DIU carregado somente uma vez,

diminuição das complicações está intima-

122 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


mente relacionada com o momento da in-

dispositivos intrauterinos são laceração do

serção. Observa-se que, quanto mais fácil

canal cervical, posicionamento inadequa-

for a inserção, sem dor e ou intercorrências,

do do dispositivo (no canal cervical ou pe-

menor é o risco de ocorrerem quaisquer

netrando miométrio), perfuração uterina

das complicações ou expulsão do disposi-

com e sem migração do dispositivo para a

tivo, aumentado as taxas de tolerabilidade

cavidade abdominal, expulsão do disposi-

e aceitação do mesmo. As complicações

tivo e impossibilidade de inserção.16

mais comuns relacionadas à inserção dos

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A forma minuciosa de realização do

Ao analisar a anatomia pélvica feminina, a

procedimento de inserção do DIU é de grande

musculatura e seus órgãos e anexos na peça

importância para que não ocorram compli-

cadavérica, foi possível prever essas compli-

cações. Algumas destas formas foram anali-

cações e analisá-las mais detalhadamente.

sadas e discutidas durante o procedimento,

É importante reiterar que a diminuição das

como a perfuração uterina, a infecção pélvi-

complicações está intimamente relacionada

ca, a expulsão, o sangramento genital e a dor.

ao momento da inserção.

PROCEDURE FOR THE PLACEMENT OF IUD IN A CADAVER AND ITS COMPLICANTIONS

ABSTRACT The intrauterine device is a small T-shaped plastic device that is usually coated with metal copper. When the IUD contains the progesterone hormone, it becomes called IUD (intrauterine device), also known as hormonal IUS or Mirena IUD. This device should be implanted inside the woman’s womb through the vagina by the gynecologist doctor. The purpose of this work is to report the procedure of placement of the intra uterine device, describing the placement steps and relating its possible complications. It is a descriptive exploratory research carried out in human rigor parts of the laboratory of Anatomy of Nova Esperança Medical College (FAMENE), destined for the discipline of anatomy. During the development of the work a human uterus piece was used for demonstration of the procedure. In addition, it was counted, with the use of the kit composed of vaginal speculum, cheron forceps in polystyrene, pozzy metal and disposable tweezers, instrument to measure the uterus and stopper. Initially, the procedure was carried out on cadaver; however it was not successful due to muscular rigidity that made it impossible to pass the speculum. From this, the procedure was performed in an

123 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


isolated part of uterus, where the slow and smooth passage of the uterine probe through the cervix was carried out in order to measure the depth and position of the uterus. Then it was placed the IUD in the applicator, inserted it, to subsequently remove it after insertion and ixation of the device in the uterus. Finally, the existing wires were cut into the IUD, leaving them hanging about three centimeters outside the cervix. Thus, with the application of the technique in the cadaver it was possible to predict and discuss the possible complications of placement of the IUD by analyzing the female pelvic anatomy, its organs and attachments, as well as, its musculature and disposition in the body. KEYWORDS: Contraceptive. Anatomy. Cadaver.

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125 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


CAPÍTULO 15 ALTERAÇÕES HEPÁTICAS EM CADÁVERES E SUAS CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS Resumo O fígado é um dos maiores órgãos do corpo humano, localizado no quadrante superior direito da cavidade abdominal, logo abaixo do diafragma. Ele pode apresentar alterações clínicas, como a hepatomegalia, uma das mais prevalentes alterações hepáticas. O objetivo do trabalho foi investigar alterações hepáticas em cadáveres dissecados no ano de 2016 no Laboratório de Anatomia da Faculdade de Medicina Nova Esperança. Realizou-se uma pesquisa de campo descritiva e observacional composta por 6 cadáveres dissecados no ano de 2016, avaliados por ocasião da disciplina de Correlações Anátomo-Clínicas II. O instrumento escolhido para mensurar o tamanho do fígado, usando-se dos pontos de maior equidistância, foi uma régua móvel milimétrica. Foi realizada a medida do diâmetro craniocaudal, através de uma linha que se estende, desde o bordo hepático superior até o inferior, e a do diâmetro transversal, por meio de uma linha que vai das maiores extremidades laterais dos lobos direito e esquerdo. Os dados foram analisados por meio do método quantitativo e os resultados foram obtidos comparando-se as amostras entre si e com a literatura especializada. De acordo com a hepatimetria obtida nos 6 cadáveres avaliados, os fígados apresentaram média de 19,83 cm para diâmetro horizontal e 14,58 cm para diâmetro vertical. Analisando os fígados, de acordo com a normalidade padrão da população brasileira (Diâmetro horizontal 20,0 cm/ diâmetro vertical 17,0 cm), apenas 1 cadáver icou acima da média desses valores (diâmetro horizontal 27,5 cm / diâmetro vertical 20,8 cm), sugerindo hepatomegalia. Dessa forma, ressalta-se a importância da investigação anatômica em cadáveres para estudantes da medicina, tendo em vista que há um enriquecimento cientíico sobre o conteúdo, como também para uma futura prática clínica relacionada a índices hepatimétricos. PALAVRAS-CHAVE: Hepatomegalia. Patologia. Anatomia. Dissecação.

Nicássio Silva Menezes1 Acadêmico de Medicina - FAMENE

Marilia Medeiros da Silva2 Acadêmica de Medicina - FAMENE

Vivian Maria Vieira Moura de Holanda3 Acadêmica de Medicina - FAMENE

Albero Ferreira de Morais França4 Acadêmico de Medicina - FAMENE

Catarina Maria Andrade Figueiredo Guimarães Maia5 Docente - FAMENE

Tânia Regina Ferreira Cavalcanti6 Docente - FAMENE

126 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


INTRODUÇÃO O estômago é uma porção dilatada

compõem esse lóbulo são denominadas

do tubo O fígado é notadamente um dos

de hepatócitos, que é a unidade funcional

órgãos mais importantes do corpo huma-

própria do fígado, além de veias, artérias e

no, sendo ele de extrema importância

pequenos canalículos biliares. Além disso,

para um funcionamento adequado do or-

têm um papel importante na manutenção

ganismo. Também é considerado um dos

da hemostasia, conversões de nutrientes,

maiores órgãos do corpo, executando

na regulação e armazenamento da ener-

suas funções de produção de várias sub-

gia, nas alterações hormonais e vitaminas

stâncias, como os sais biliares, bem como

e na biotransformação de compostos estra-

do metabolismo, tendo ação direta sobre

nhos.3

o armazenamento e degradação de substâncias, além de regular proteínas, carboidratos e

lipídeos.1

Porém,

toda

estrutura

hepática

pode ser alterada na presença de algumas doenças, como a cirrose, em que há

Outra característica importante é

uma substituição difusa da estrutura nor-

a regeneração do fígado, por ser um me-

mal por nódulos de estrutura anormal cir-

canismo de defesa do órgão contra a per-

cundados por ibrose de etiologia etílica,

da de tecido hepático funcional, podendo

hepatites crônicas virais e autoimunes ou

ser por agravo de qualquer tipo de nature-

aquelas de ordem metabólica, vascular ou

za (perda traumática, viral, química ou por

biliar.4 Às vezes, essas doenças manifes-

hepatectomia parcial). Essa capacidade,

tam-se não por nódulos, mas por aumento

na verdade, é uma resposta compen-

da massa hepática (hepatomegalia).

satória através de hiperplasia e hipertroia

Portanto, o estudo teve como obje-

do tecido remanescente, estabelecendo a

tivo realizar uma avaliação anatômica de

massa hepática anterior ao

trauma.2

fígados, através de uma hepatimetria em

O fígado é constituído por uma uni-

cadáveres do laboratório de anatomia da

dade básica chamada de lóbulo hepático,

Faculdade de Medicina Nova Esperança, a

que é um arcabouço cilíndrico que pos-

im de identiicar alterações com relação

sui medições (comprimento e diâmetro

ao seu tamanho, bem como observar es-

variável) em milímetros. As células que

truturas associadas ao órgão.

METODOLOGIA

Foi realizada uma pesquisa de cam-

vacional com abordagem quantitativa, no

po, de aspecto descritivo, do tipo obser-

Laboratório de Anatomia da Faculdade de

127 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


Medicina Nova Esperança, localizado no

e a medida foi feita nos pontos, vistos a

Bairro Gramame na cidade de João Pessoa

olho nu, de maior equidistância. Foi reali-

- Paraíba. O instrumento para coleta de

zada a medida do diâmetro crânio-caudal,

dados foi por atuação direta em cadáveres

através de uma linha que se estende des-

conservados no laboratório de anatomia

de o bordo hepático superior, até o bordo

da FAMENE. A amostra foi composta por

hepático inferior e a do diâmetro trans-

6 cadáveres dissecados no ano de 2016,

versal, por meio de uma linha que vai das

referentes a disciplina de Correlações Aná-

maiores extremidades laterais dos lobos

tomo-Clínicas II, ministrada para o terceiro

direito e esquerdo. As estruturas também

período do curso de medicina da Faculda-

foram fotografadas, a cada etapa, com a

de de Medicina Nova Esperança. O critério

permissão da Faculdade de Medicina Nova

estabelecido para seleção da amostra foi a

Esperança, a im de que a discussão desse

presença de fígado intacto e com as estru-

estudo se tornasse mais didática.

turas da cavidade abdominal preservadas.

A coleta de dados foi realizada após

Nesse sentido, foram incluídos fígados de

aprovação ética do projeto pelo Comitê

cadáveres, ainda bem preservados, princi-

de Ética das Faculdades de Enfermagem

palmente no que diz a respeito a sua vas-

e Medicina Nova Esperança FACENE/FAME-

cularização. Essa exigência é fundamental

NE (CAAE: 62582816.0.0000.5179). A co-

para que, durante a realização do procedi-

leta de dados ocorreu nos meses de abril

mento, seja possível observar as estrutu-

e maio de 2017, em dias e horários pre-

ras anatômicas com localizações e carac-

viamente agendados pelo responsável do

terísticas naturais.

laboratório de anatomia da FAMENE.

Uma régua móvel milimétrica foi utilizada para mensurar o tamanho do fígado

RESULTADOS

De acordo com a hepatimetria obtida, os fígados apresentaram diferenças

cm, também com uma diferença de mais de 10,0 cm.

bastante signiicativas e, quanto ao diâ-

A média obtida dentro da amostra

metro horizontal, o valor máximo foram

foi: diâmetro horizontal 19,83 cm e diâme-

observados nos fígados que apresentaram

tro vertical de 14,58 cm (Tabela 1).

um tamanho maior de 27,5 cm. Já o menor valor foi de 15,7 cm, uma diferença de quase 12 cm. No tocante ao diâmetro vertical, os valores foram de 20,8 cm a 10,6

128 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


TABELA 1: Distribuição dos resultados da hepatimetria em centímetros por meio do método clínico.

Cadáver

Diâmetro horizontal

Diâmetro vertical

Cadáver 1

15,7cm

14,0cm

Cadáver 2

16,8cm

14,0cm

Cadáver 3

19,0cm

10,6cm

Cadáver 4

22,0cm

15,5cm

Cadáver 5

27,5cm

20,8cm

Cadáver 6

18,0cm

12,6cm

Média

19,83cm

14,58cm

Com relação às características clíni-

acima do normal, sugerindo uma hepato-

cas, os fígados avaliados apresentaram-se

megalia, apresentou também uma colora-

dentro da normalidade padrão, ou seja,

ção esverdeada, determinando, possivel-

proporcionais ao corpo. Com exceção do

mente, que a vesícula biliar rompeu.

cadáver 5 que, além de ter seu tamanho FIGURA 1: Imagens das medições horizontais e verticais no fígado (cadáver 5).

1-Medição horizontal do fígado. 2- Medição vertical do fígado. 3- Imagem ampliada do fígado. 4- Imagem mais ampla, mostrando a relação com os outros órgãos da cavidade abdominal e torácica.

129 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


Todos os fígados encontravam-se no hipocôndrio direito e as estruturas que os compõem (vasos e ductos) esta-

vam preservadas em sua totalidade, até mesmo quanto a tamanho e sem nenhuma variação anatômica.

FIGURA 2: Imagem das estruturas vasculares dos fígados dissecados.

1: Artéria hepática própria. 2: Artéria hepática esquerda. 3: Artéria hepática direita. 4: Artéria cística.

Quanto a anatomia vascular que compõe o hilo hepático, todos os cadáveres dissecados apresentaram suas

estruturas preservadas em tamanho, quantidade e sem ausência de variações anatômicas.

DISCUSSÃO O estudo utilizou a hepatimetria

proporcional ao tamanho do corpo e em in-

como um tópico de avaliação quantitativa.

divíduos do gênero feminino, mede de 8 a

Os fígados avaliados na pesquisa apresen-

10 cm, e do gênero masculino, mede de 10

taram variações de tamanho, tendo uma

a 12 cm. Uma provável explicação para o

média quanto ao diâmetro horizontal de

variado espectro de valores existentes é a

19,83 cm e diâmetro vertical de 14,58 cm

morfologia complexa e variável do órgão.6

(Tabela 1). Já o fígado do cadáver 5 apre-

As causas de hepatomegalia podem

sentou valores superiores de diâmetro ho-

ser classiicadas por ordem de frequência.

rizontal e vertical, sendo 27,5 cm e 20,8

As mais frequentes são etilismo crônico,

cm respectivamente. Segundo Silva e Si-

esteatose não alcoólica, neoplasia 1ª ou

queira5, o tamanho de um fígado normal é

metastática, hepatite aguda viral ou insu-

130 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


iciência cardíaca direita/global e pericar-

tomegalia, incluindo septos de ibroses pe-

dite. Outras causas menos frequentes são

rivenular e periporta, hiperplasia de ductos

síndromes mieloproliferativas, síndromes

biliares e colangite.10

linfoproliferativas, obstrução biliar, hemo-

Através da observação, veriicou-se

cromatose, e doença autoimune (cirrose

que estruturas associadas ao fígado, como

biliar primária). Já as raras são Síndrome

vasos e ductos, estavam preservados em

de Budd-Chiari, amiloidose, poliquistose,

todos os cadáveres, não constando nenhu-

hidatidose, doença de Wilson, granuloma-

ma variação anatômica.

tose (tuberculose, sarcoidose, fungos), deiciência de α1-antitripsina, glicogenose.7 A hepatomegalia quase sempre está associada a

esplenomegalia.8

Um caso de anomalia congênita das vias biliares extra-hepáticas é caracterizado por ausência de ducto colédoco,

Também po-

com implantação baixa dos ductos hepá-

dem ocorrer variações vasculares, como

ticos direito e esquerdo, e implantação do

na veia porta, que são ainda classiicadas

ducto cístico no ducto hepático direito. A

em quatro tipos. No tipo I, ocorre bifurca-

disposição da via biliar normal é compos-

ção do tronco principal da veia porta em

ta por ductos hepáticos direito e esquerdo

ramo direito e ramo esquerdo, considera-

de conluência alta, pela presença de um

da padrão e normal. No tipo II, há trifurca-

ducto hepático comum e pela inserção do

ção da veia porta em ramo direito anterior,

ducto cístico em ângulo agudo, originando

ramo direito posterior e ramo esquerdo.

o ducto colédoco.11

Além desses, existem ainda, o tipo III, em

Uma variação da via biliar principal

que o tronco principal da veia porta, ini-

apresentando importância cirúrgica é a

cialmente, fornece o ramo direito poste-

formação extra-hepática baixa, quando a

rior, em seguida, o ramo direito anterior, o

conluência dos ductos hepáticos esquer-

ramo esquerdo e o tipo IV. Destaca-se que

do e direito ocorre próxima ao duodeno.

o ramo direito anterior é originado da veia

Se o indivíduo tiver um ducto cístico cur-

esquerda.9

to, existem grandes possibilidades de con-

De forma experimental, a ligadura

fundir-se o ducto hepático esquerdo com o

do ducto biliopancreático pode produzir

ducto colédoco e o ducto hepático direito

colestase, com alterações na histoarquite-

com o ducto cístico.11

porta

tura hepática e desenvolvimento de hepa-

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a prática da dissecação dos

sível encontrar, através da observação,

cadáveres e as aulas teórico-práticas no

alterações estruturais e morfológicas de

laboratório de anatomia humana é pos-

órgãos, o que incentiva os alunos ao in-

131 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


teresse para um estudo mais aprofundado.

de extrema importância para o auxílio de

Embora não seja possível a realização de

diagnósticos patológicos. Pesquisas futuras

exames histopatológicos e bioquímicos dos

devem ser realizadas com uma amostra

objetos de estudo, o exame macroscópico

maior, utilizando-se de outros parâmetros

no cadáver, junto com as características

como sexo, etnia, idade estimada, altura

morfológicas do fígado, sugerem hepato-

e IMC ou causa morte dos mesmos, sendo

megalia em 1 dos 6 fígados analisados.

possível a correlação entre eles.

Dessa forma, o conhecimento anatômico é

HEPATIC ALTERATIONS IN CADAVERS AND THEIR CLINICAL FEATURES

ABSTRACT The liver is one of the largest organs in the human body, located in the upper right quadrant of the abdominal cavity just below the diaphragm. It may present clinical changes, such as hepatomegaly, one of the most prevalent liver alterations. This study aims to investigate hepatic alterations in dissected cadavers at the Anatomy Laboratory of the Nova Esperança Medical College in the year of 2016. In the present work, a descriptive and observational ield research was carried out, composed of six dissected cadavers in the year of 2016, evaluated in the course of Anatomical-Clinical Correlations II. The instrument chosen to measure the size of the liver, utilizing points of greater equidistance, was a millimeter moving ruler. The craniocaudal diameter was measured through a line extending from the upper to lower hepatic borders and the transverse diameter by means of a line extending from the major lateral extremities of the right and left lobes. The data were analyzed using the quantitative method and the results were obtained comparing the samples with each other and with the specialized literature. According to the hepatimetry obtained in the 6 cadavers evaluated, the livers showed an average of 19.83 cm for horizontal diameter and 14.58 cm for vertical diameter and 2 cadavers were above average. However, analyzing the liver according to the standard normality of the Brazilian population (horizontal diameter 20.0 cm/ vertical diameter 17.0 cm), only 1 cadaver was beyond these values (horizontal diameter 27.5 cm/ vertical diameter 20.8), suggesting hepatomegaly. Therefore, the importance of anatomical investigation in cadavers for medical students is highlighted, considering that there is a scientiic enrichment on the content, as well as for a future clinical practice related to hepatimetric indexes. KEYWORDS: Hepatomegaly. Pathology. Anatomy. Dissection.

132 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


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133 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


CAPÍTULO 16 DEMONSTRAÇÃO DA ARTROPLASTIA PARCIAL DE QUADRIL EM CADÁVER Resumo O propósito do presente estudo é descrever a realização de uma artroplastia parcial do quadril, priorizando a técnica correta em um cadáver, com intuito de mostrar as possíveis complicações durante o acesso cirúrgico. Esse procedimento vem se tornando cada vez mais indicado para as fraturas de colo de fêmur, por sua praticidade, baixo índice de complicações, melhora da dor no pós-operatório, com consequente melhoria na qualidade de vida dos idosos acometidos. A pesquisa consiste de um relato de experiência, do tipo descritivo, com abordagem qualitativa no Laboratório de Anatomia Humana da Faculdade de Medicina Nova Esperança (FAMENE), em João Pessoa (Paraíba). Foi realizada a artroplastia parcial do quadril com prótese unipolar de Thompson em um cadáver do laboratório, sendo registrada por fotos em cada etapa e posterior descrição completa da intervenção cirúrgica feita. O acesso foi realizado por etapas, demarcando pontos anatômicos para incisão como a espinha ilíaca póstero-superior (EIPS), rebatimento da pele, gordura, fáscia do glúteo máximo e trato iliotibial. Foram observadas estruturas nobres, durante o acesso cirúrgico, como o nervo isquiático, ramos supericiais da artéria glútea superior, além da artéria glútea inferior. Observaram-se durante o acesso cirúrgico possíveis complicações nervosas, vasculares, entre outras. O domínio da anatomia topográica para demarcação da linha de incisão e o conhecimento de todas as estruturas, que devem passar por processo de diérese, para chegar na cabeça do fêmur e realizar a artroplastia parcial do quadril, levará a uma maior probabilidade de sucesso no procedimento cirúrgico e menor probabilidade de complicações intra e pós-operatórias. PALAVRAS-CHAVE: Artroplastia de Quadril. Cadáver. Procedimento Cirúrgico.

Waldênio Araújo Barros dos Santos1 Acadêmico de Medicina - FAMENE

Arthur Gonçalves de Lima França2 Acadêmico de Medicina - FAMENE

Leonardo Tenório Monteiro3 Acadêmico de Medicina - FAMENE

Pedro Henrique Coêlho de Mélo Leite4 Acadêmico de Medicina - FAMENE

Tânia Regina Ferreira Cavalcanti5 Docente - FAMENE

134 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


INTRODUÇÃO As fraturas de colo do fêmur são co-

de mortalidade observadas na literatura

muns e, devido a mudança demográica,

são: sexo feminino, idade isiológica maior

gerada pelo envelhecimento da população,

que 80 anos e déicit cognitivo.3-11 A baixa

este tipo de fratura se tornará ainda mais

presença de dor no pós-operatório é fator

comum, já que os idosos são mais pro-

deinitivo para a manutenção de uma boa

pensos, uma vez que, ao longo dos anos,

qualidade de vida do idoso.7 Apesar de ser

ocorrem alterações da qualidade óssea. A

um procedimento cirúrgico, a melhora do

incidência de fraturas do quadril aumenta

quadro doloroso, quando empregada técni-

com a idade, dobrando a cada dez anos de-

ca correta, é comprovada por vários estu-

pois de alcançado os 50 anos, sendo este

dos.3,6,7 Um tempo operatório prolongado

aumento ainda mais considerável depois

(maior que 2 horas) mostrou aumentar

da menopausa nas mulheres, e depois dos

a incidência de complicações como, por

70 anos nos homens, sendo a média de

exemplo, a trombose venosa profunda.14

idade em torno de 80 anos.1-5

O

conhecimento

da

anatomia

O tratamento ideal da fratura de

topográica é fator fundamental para o en-

colo de fêmur ainda permanece contro-

tendimento das vias de acesso cirúrgico

verso, embora a abordagem cirúrgica seja

e eventuais desfechos desfavoráveis que

elemento chave no tratamento. Entre as

possam ocorrer com o mau emprego da

opções terapêuticas, a artroplastia parcial

técnica.15 Mediante a exposição dos fatos,

do quadril vem se tornando cada vez mais

considerando a importância da artroplastia

indicada em relação a artroplastia total

parcial do quadril no tratamento de fratu-

para pacientes com baixa capacidade fun-

ras do colo femoral, bem como relatos de

cional, baixa expectativa de vida e múlti-

pesquisas e periódicos a respeito dos re-

plas comorbidades, já que é um procedi-

sultados e as possíveis comorbidades, ob-

mento mais simples, de menor morbidade

tidas no pós-operatório, somada ao sig-

e ideal para o grau de mobilidade da maio-

niicativo aumento da população alvo

ria dos idosos, que são acometidos por esta

deste procedimento, faz-se necessário

patologia.2, 3, 4, 5, 12, 13

o estudo mais aprofundado e detalhado

Os índices de mortalidade no primeiro

ano

após

hemiartroplastia

do

quadril variam na literatura entre 17% e

da técnica cirúrgica, com a inalidade de melhorar a compreensão a respeito da técnica correta e de seus benefícios.

28%, já que os pacientes idosos já apresentam

outras

comorbidades

associa-

das ao trauma. Os principais preditores

135 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


METODOLOGIA Esta pesquisa caracteriza-se como

em dias úteis dos turnos manhã e tarde.

um relato de experiência, do tipo descri-

A pesquisa foi desenvolvida em

tivo, com abordagem qualitativa, que

duas fases. Inicialmente foi realizada a

consistiu na realização de uma artroplas-

seleção amostral no Laboratório de Anato-

tia parcial do quadril em um cadáver. O

mia Humana da Faculdade de Medicina

procedimento foi realizado no Laboratório

Nova Esperança (FAMENE). Em seguida,

de Anatomia da Faculdade de Medicina

executado o acesso cirúrgico para artro-

Nova Esperança. Durante todas as etapas

plastia parcial do quadril com prótese uni-

do procedimento, os autores utilizaram

polar de Thompson, seguindo a técnica de

os equipamentos de proteção individuais

Gibson, modiicada, sendo registrado por

necessários como jaleco, touca, óculos de

fotos em cada etapa e descrito por com-

proteção, máscara e luvas.

pleto. Foram utilizadas as bases de dados

A amostra para realização do estu-

do Scielo, BVS e Google Acadêmico para

do foi constituída de uma hemipelve de um

pesquisa e confrotamento com os acha-

cadáver, a qual obedeceu aos seguintes

dos durante o acesso cirúrgico.

critérios de inclusão: hemipelve íntegra

A presente pesquisa respeitou

sem nenhuma parte dissecada, permitin-

os aspectos éticos, preconizados pela

do a realização de acesso cirúrgico para

Resolução CNS 466/2012, no art. III,

uma artroplastia parcial de quadril.

que implica no respeito ao partici-

O instrumento escolhido para a co-

pante da pesquisa em sua dignidade,

leta de dados foi por atuação direta no

respeito e cuidado, reconhecendo sua

cadáver, através da realização do proced-

vulnerabilidade.

imento cirúrgico de artroplastia parcial do

Comitê de Ética da Faculdade de Me-

quadril, com registro fotográico, análise e

dicina Nova Esperança e cadastra-

a observação direta, durante e após o pro-

da na Plataforma Brasil com CAAE

cedimento. A coleta de dados foi realizada

58438116.2.0000.5179.

Foi

aprovada

pelo

RELATO DE EXPERIÊNCIA

Retirou-se

o

cadáver

do

reser-

pôs-se em prática a técnica de Gibson,

vatório de conservação em formaldeído,

modiicada, demarcando-se uma linha de

para colocá-lo sobre a mesa, pertencente

incisão em um ponto anterior à espinha

ao Laboratório de Anatomia para estudo.

ilíaca póstero-superior e imediatamente

A partir do cadáver em decúbito lateral,

distal à crista ilíaca, acima da borda an-

136 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


terior do músculo glúteo máximo, esten-

guida de dissecção romba ampla, a im de

dendo-a até a borda anterior do trocanter

rebater pele, gordura subcutânea e expor

maior e então mais distalmente ao logo da

melhor as estruturas devido a perda da

linha do fêmur por 15 a 18 cm. Foi feita

elasticidade do cadáver (Figura 1).

uma incisão na área delimitada, prosse-

FIGURA 1: Demarcação da linha de incisão com exposição do TCSC.

1:Pele; 2: TCSC; 3: Fáscia do Glúteo Máximo; 4: Trato iliotibial.

Em seguida, incisou-se o trato

vo isquiático. Em seguida, retirou-se

íliotibial na direção de suas fibras, em

a fáscia remanescente, visualizando o

sentido distalproximal, até o trocanter

ramo superficial da artéria glútea supe-

maior. Em seguida, localizou-se o mús-

rior e expondo o trocanter maior junto

culo glúteo máximo e seu sulco no ex-

aos músculos glúteo mínimo, piriforme,

tremo proximal da incisão no trato, es-

gêmeo superior, obturador interno e

tendendo a incisão e a dissecção ao

gêmeo inferior. Foi visualizado também

longo do mesmo (Figura 2).

o nervo glúteo inferior emergindo logo

Foram rebatidas as massas an-

abaixo do músculo piriforme (Figura 3).

terior e posterior desse músculo, dissecando

os

vasos

próximos,

sendo

possível visualizar as veias glúteas inferiores e, mais profundamente, o ner-

137 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


FIGURA 2: Dissecção do glúteo máximo para exposição de ibras, divulsão do mesmo e abertura do trato iliotibial.

1: Pele; 2: TCSC; 5: Fibras do Músculo Glúteo Máximo.

FIGURA 3: – Rebatimento do glúteo máximo e dissecção da gordura e fáscia posterior ao mesmo para exposição de estruturas.

1: Pele; 2: TCSC; 6: Vv. Glúteas inferiores; 7: N. isquiático; 8: Ramo supericial da a. glútea superior; 9: N. Glúteo inferior; 10: M. piriforme; 11: M. Gêmeo superior; 12: Tendão do M. obturador interno; 13: M. Gêmeo inferior.

138 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA



FIGURA 5: Fechamento da cápsula articular e trato iliotibial com io absorvível e raia da pele com io de nylon.

Fechamento da cápsula articular, tenorraia, fechamento do trato iliotibial e pele. Imagens em sequência.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ao inalizar o procedimento no ca-

As possíveis complicações da he-

dáver, foi possível ter uma visão do aces-

miartoplastia são: trombose venosa pro-

so cirúrgico da artroplastia parcial na peça

funda, paralisia de nervo, complicações

anatômica, a qual é semelhante à realiza-

vasculares,

da in vivo, porém a rigidez e a consistência

após artroplastia, discrepância no compri-

do cadáver são diferentes, devido ao enri-

mento das pernas, não consolidação do

jecimento cadavérico e ao uso do formal-

trocanter, ossiicação heterotrópica e in-

deído como forma de conservar.

fecção. Tendo em vista que o procedimen-

fratura/perfuração,

luxação

Buscou-se realizar o procedimento

to realizado se restringiu à simulação do

de modo didático, demonstrando todo o

acesso cirúrgico em cadáver, não foi rea-

trajeto anatômico do acesso e as suas pos-

lizada a colocação da prótese unipolar de

síveis complicações. Para isso, optou-se

Thompson nem desinserção do trocanter

por dissecar de forma instrutiva, preferin-

maior do fêmur.

do uma maneira educacional de visualiza-

Em relação a trombose venosa

ção do procedimento e objetivando manter

profunda, a cirurgia inclui como fatores

a integridade anatômica cadavérica rigoro-

de risco toda a tríade de Virchow (estase

samente idêntica à da técnica in vivo.

sanguínea, hipercoagulabilidade e lesão

140 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


endotelial). Estase intraoperatória e/ou

de incisão e área manipulada, durante o

pós-operatória é causada pela imobilida-

acesso/procedimento cirúrgico.

de e pode ser associada também a menor

As complicações vasculares são re-

habilidade e conhecimento e cirurgiões

ferentes a lesão endotelial da tríade de

menos experientes. Já o estado de hiper-

Virchow. Fratura ou perfurações podem

coagulabilidade, resulta diretamente do

ocorrer devido a colocação da prótese em

trauma cirúrgico e lesão vascular, devido

si, ou devido a uma qualidade óssea bem

a manipulação de vasos como as veias

debilitada por osteoporose intensa. Luxa-

glúteas inferiores visualizadas durante o

ções podem ocorrer principalmente devido

acesso póstero-lateral.

a má angulação em posição de antever-

Os possíveis nervos que poderiam

são da cabeça do componente femoral. A

ser lesionados (gerando desfechos desfa-

discrepância no comprimento das pernas

voráveis como a dor no pós-operatório), du-

deve ser evitada, principalmente, nas pró-

rante o procedimento realizado neste estu-

teses cimentadas como a de Thompson,

do, são o nervo cutâneo femoral posterior,

compensando eventuais discrepâncias, ao

nervo isquiático e nervo glúteo inferior.

ajustar o a profundidade do componente

Todos foram visualizados, com exceção do

femoral no osso, ou ajustando o compri-

primeiro. Para evitar esta ocorrência é pre-

mento do colo da prótese. Porém, é pos-

ciso conhecer a sua localização e evitar le-

sível que mesmo fazendo as corretas me-

são por manipulação inadequada ou lesão

dições haja certa discrepância, tendo em

direta com bisturi. Segundo Canale11, as

vista que nenhum método é a prova de fa-

possíveis lesões são: neuropraxia, em que

lhas.

a condução é prejudicada; axonotmese, o

Em relação à ossiicação heterotró-

neurônio é afetado, enquanto a bainha de

pica, existem vários fatores de risco, sendo

mielina permanece intacta; a neurotmese,

os de maior importância no estudo as fra-

quando o nervo sofre ruptura total. O mais

turas intraoperatórias, lesão muscular ou

comum de ser lesado é o nervo isquiático,

hematomas localizados. São classiicados

sendo o componente ibular o de maior ris-

pelo sistema de Brooker e devem passar

co, possivelmente devido a sua localização

por excisão cirúrgica nos graus III e IV ou

ser mais lateral em relação ao componen-

quando muito sintomática.

te tibial e, portanto, mais próximo da linha

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O total conhecimento da anatomia em

palpatória, a im de realizar a correta demar-

todos os estágios do acesso cirúrgico são mui-

cação da linha de incisão e obter o conheci-

to importantes para o domínio da anatomia

mento de todas as estruturas, que devem

141 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


passar por processo de diérese, para assim

complicações intra e pós-operatórias.

chegar a cabeça do fêmur e realizar a artro-

Preservar a estratigraia anatômica

plastia parcial do quadril. Isto levará a uma

para a melhor síntese possível dos tecidos do

maior probabilidade de sucesso no proce-

paciente proporcionará a este uma melhor re-

dimento cirúrgico e menor probabilidade de

cuperação e cicatrização do acesso cirúrgico.

DEMONSTRATION OF PARTIAL ARTHROPLASTY OF THE HIP IN A CORPSE

ABSTRACT The purpose of the present study was to perform a partial hip arthroplasty, prioritizing the correct technique, on a corpse in order to show the possible complications during surgical access. This procedure is becoming increasingly indicated for femoral neck fractures, because of its practicality, low rate of complications, and postoperative pain improvement with consequent beneit in living situation of the afected elderly. The research consists in a descriptive study of case with a qualitative approach in the Laboratory of Human Anatomy of the Nova Esperança Medical School (FAMENE), in João Pessoa city, (Paraíba state). A partial hip arthroplasty was made with a Thompson unipolar prosthesis in a laboratory corpse, being registered by photos at each step and a complete description of the surgical intervention was made later. The access was made in stages, marking anatomical points for incision such as the posterior superior iliac spine (EIPS), folding of the skin, fat, gluteus maximus fascia and iliotibial tract. Noble structures were observed during surgical access, such as the sciatic nerve, supericial branches of the upper gluteal artery, and the inferior gluteal artery. During surgical access, possible nerve and vascular complications were observed, among others. The domain of topographic anatomy for the demarcation of the incision line and the knowledge of all structures that must pass through dieresis process to reach the femoral head and perform the arthroplasty will result in a greater probability of success in surgical procedure and less probability of intra and postoperative complications. KEYWORDS: Arthroplasty of the Hip. Corpse. Surgical Procedure.

142 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


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143 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


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ESHRE Capri Workshop Group. Intra-

144 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


CAPÍTULO 17 VARIAÇÕES ANATÔMICAS DO TRONCO CELÍACO E SISTEMA ARTERIAL HEPÁTICO EM CADÁVERES: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA Resumo A total compreensão da anatomia do tronco arterial celíaco (TAC), do sistema arterial hepático (SAH), é de imprescindível importância para o cirurgião durante o manejo dos vasos da cavidade abdominal, pois, muitas vezes, os médicos se deparam com variações anatômicas que podem diicultar o diagnóstico ou o procedimento cirúrgico. Portanto, é importante um conhecimento adequado da anatomia do ser humano e das variações mais frequentes que afetam a população. O presente estudo trata-se de uma pesquisa de campo exploratória e descritiva, com abordagem quantitativa, que irá descrever, com números, a relação de cadáveres com o padrão de normalidade, como também as variações anatômicas, relacionadas com as diversas ramiicações, do tronco arterial celíaco e do sistema arterial hepático, contribuindo para o estudo de médicos e estudantes de medicina. A pesquisa foi realizada no Laboratório de Anatomia Humana da Faculdade de Medicina Nova Esperança (FAMENE). Foram utilizados cinco cadáveres para realizar comparações dos dados obtidos, fortalecendo os resultados. O instrumento escolhido para a coleta de dados foi por atuação direta no cadáver, por meio da avaliação das estruturas do tronco celíaco em todos os cadáveres dissecados e do sistema arterial hepático. Esse estudo corroborou com as informações pré-existentes na literatura de que esse padrão de anatomia de trifurcação dos ramos do tronco celíaco constitui o mais comum encontrado em seres humanos. PALAVRAS-CHAVE: Variação anatômica. Cadáver. Tronco celíaco. Sistema arterial hepático.

Oséas Nazário de Oliveira Júnior1 Acadêmico de Medicina - FAMENE

Edine Medeiros de Andrade Martins2 Acadêmica de Medicina - FAMENE

Lívia Tafnes Almeida de Araújo3 Acadêmica de Medicina - FAMENE

Miguel Xavier Bezerra Barbosa4 Acadêmico de Medicina - FAMENE

Tiago Wanderley Queiroga Lira5 Acadêmico de Medicina - FAMENE

Luzia Sandra Moura Moreira6 Docente - FAMENE

145 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


INTRODUÇÃO Aristóteles e Galeno, dois grandes

artéria hepática comum. Esta última, após

estudiosos da anatomia humana, foram os

a emergência da artéria gastroduodenal,

pioneiros no estudo da anatomia arterial

continua como artéria hepática própria e

hepática e do tronco celíaco. Eles desig-

ramiica-se em artéria hepática direita e

naram que as artérias gástricas, hepáti-

esquerda no hilo hepático.

cas e esplênicas, não tinham origem num

O SAH descrito como normal

tronco comum na aorta, mas sim em dois

caracteriza-se

ramos de tronco celíaco: direito (artéria

ca direita e esquerda proveniente da

hepática comum) e esquerdo (artéria es-

artéria hepática própria que, por sua

plênica, com ramo gástrico para a artéria

vez, tem origem na artéria hepática

gástrica esquerda). Posteriormente, os pais

comum, após a emergência da artéria

da angiologia moderna, Jacques Benigne

gastroduodenal,

Wislow e Albert Haller, deiniram correta-

mente. A divisão da artéria hepática

mente a anatomia do tronco celíaco, com

própria em artéria hepática direita e

Wislow descrevendo corretamente o tron-

esquerda deve ser proximal ao fígado

co e seus ramos (sistema de trifurcação), e

dentro do ligamento hepatoduodenal. 5

Haller abordando os aspectos anômalos da

O objetivo deste trabalho é tra-

artéria hepática.1,2

como

que

artéria

corre

hepáti-

inferior-

duzir com números, de maneira quan-

A total compreensão da anatomia

titativa, a relação de cadáveres com o

do tronco arterial celíaco (TAC), do sistema

padrão de normalidade, como também

arterial hepático (SAH), é de imprescindível

as variações anatômicas, relacionadas

importância para o cirurgião durante o

com as diversas ramificações, do tron-

manejo dos vasos da cavidade abdominal,

co arterial celíaco e do sistema arterial

pois, muitas vezes, os médicos se depa-

hepático, contribuindo para o estudo de

ram com variações anatômicas que podem

médicos e estudantes de medicina.

diicultar o diagnóstico ou o procedimento cirúrgico. Portanto, é importante um conhecimento adequado da anatomia do ser humano e das variações mais frequentes que afetam uma população. Conforme descrito por Moore3 e Sobotta6, a anatomia do tronco celíaco, com origem na aorta, ramiica-se em artéria gástrica esquerda, artéria esplênica e

146 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


RELATO DE EXPERIÊNCIA Entre as atribuições designadas

margem costal até o osso ilíaco do quadril.

aos monitores da disciplina Correlações

Ainda, duas incisões junto a margem cos-

Anatômicas Clinicas 2, da Faculdade de Me-

tal, no sentido anteroposterior. Essas in-

dicina Nova Esperança, está a realização e

cisões se encontraram no ápice do pro-

orientação dos alunos na prática da disse-

cesso xifoide, sendo rebatida a parede

cação de cadáveres, disponibilizados pela

abdominal, em bloco, no sentido da sínise

instituição. Sendo assim, durante o se-

púbica. Assim, após a secção do peritônio,

mestre letivo, cinco cadáveres foram dis-

foi possível a visualização das estruturas

secados pelos alunos e monitores de acor-

anatômicas abdominais.

do com os temas de avaliação – Topograia do pescoço, tórax e abdome.

Com a abertura da cavidade abdominal, foi possível avaliar as estruturas

A dissecação da região abdominal

do tronco celíaco em todos os cadáveres

foi iniciada com a exposição da muscula-

dissecados, e do sistema arterial hepático

tura abdominal anterior e lateral, por meio

nos cadáveres intencionalmente escolhi-

da retirada da pele e tecido subcutâneo.

dos para a visualização desta região (Figu-

Logo após, foi realizada a secção dessa

ras 1 a 11).

musculatura nas linhas axilares média, da

FIGURA 1: Variações anatômicas do tronco celíaco e sistema arterial hepático no Cadáver 01.

1: Tronco Celíaco; 2: Artéria Gástrica Esquerda; 3: Artéria esplênica; 4: Artéria Hepática Comum.

147 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


FIGURA 2: Variações anatômicas do tronco celíaco e sistema arterial hepático no Cadáver 01.

1: Artéria Hepática Comum; 2: Artéria Gastroduodenal; 3: Artéria Hepática Própria; 4: Artéria Hepática Direita; (5)= Artéria Hepática Esquerda

FIGURA 3: Variações anatômicas do tronco celíaco e sistema arterial hepático no Cadáver 02.

1: Tronco Celíaco; 2: Artéria Gástrica Esquerda seccionada; 3: Artéria Esplênica; 4: Artéria Hepática Comum.

148 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


FIGURA 4: Variações anatômicas do tronco celíaco e sistema arterial hepático no Cadáver 02.

1: Tronco Celíaco; 2: Artéria Hepática Comum; 3: Artéria Gastroduodenal; 4: Artéria Hepática Própria.

FIGURA 5: Variações anatômicas do tronco celíaco e sistema arterial hepático no Cadáver 02.

1: Artéria Hepática Própria; 2: Artéria Hepática Esquerda; 3: Artéria Hepática Direita.

149 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


FIGURA 6: Variações anatômicas do tronco celíaco e sistema arterial hepático no Cadáver 03.

1: Tronco Celíaco; 2: Artéria Gástrica Esquerda; 3: Artéria Esplênica; 4: Artéria Hepática Comum.

FIGURA 7: Variações anatômicas do tronco celíaco e sistema arterial hepático no Cadáver 03.

1: Artéria Hepática Comum; 2: Artéria Hepática Própria; 3: Artéria Hepática Direita; 4: Artéria Hepática Esquerda; 5: Artéria Gastroduodenal; 6: Artéria Gástrica Direita.

150 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


FIGURA 8: Variações anatômicas do tronco celíaco e sistema arterial hepático no Cadáver 04.

1: Tronco Hepatoesplênico; 2: Artéria Gástrica Esquerda; 3: Artéria Esplênica; 4: Artéria Hepática Comum.

FIGURA 9: Variações anatômicas do tronco celíaco e sistema arterial hepático no Cadáver 04.

1: Artéria Hepática Comum; 2: Artéria Hepática Própria; 3: Artéria Hepática Direita; 4: Artéria Hepática Esquerda; 5: Artéria Gastroduodenal; 6: Artéria Gástrica Direita.

151 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


FIGURA 10: Variações anatômicas do tronco celíaco e sistema arterial hepático no Cadáver 05.

1: Tronco Celíaco; 2: Artéria Gástrica Esquerda; 3: Artéria Esplênica; 4: Artéria Hepática Comum.

FIGURA 11: Variações anatômicas do tronco celíaco e sistema arterial hepático no Cadáver 05.

1: Artéria Hepática Comum; 2: Artéria Gastroduodenal; 3: Artéria Hepática Própria.

152 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


Da casuística pesquisada de cinco

ando anatomicamente dos demais.

cadáveres, todos eram homens. Quatro

Dos cadáveres dissecados, quatro

(80%) foram classiicados com anatomia

(80%) (cadáver 1, 2, 4 e 5) apresentaram

normal do Tronco Celíaco (trifurcação em

anatomia normal da artéria hepática co-

artéria gástrica esquerda, artéria esplêni-

mum bifurcando-se em artéria hepática

ca e artéria hepática comum) (cadáver 1,

própria e artéria gastroduodenal. Em ape-

2, 3 e 5). Apenas um (20%) caso (cadáver

nas um (20%) (cadáver 3), existia variação

4) estudado apresentou Tronco Hepa-

da artéria hepática comum em uma trifur-

toesplênico e artéria gástrica esquerda

cação em artéria hepática própria, artéria

originando-se da base deste tronco, vari-

gastroduodenal e artéria gástrica direita.

TABELA 1: Anatomia do Tronco celíaco e Sistema Arterial Hepático dos cadáveres dissecados durante o semestre de monitorias da disciplina Correlações Anatômicas Clínicas 2.

Cadáver

Anatomia do Tronco Celíaco

Anatomia Arterial Hepática

01

Trifurcação em artéria gástrica esquerda, artéria esplênica e artéria hepática comum.

Bifurcação da artéria hepática comum em artéria gastroduodenal e artéria hepática própria.

02

Trifurcação em artéria gástrica esquerda, artéria esplênica e artéria hepática comum.

Bifurcação da artéria hepática comum em artéria gastroduodenal e artéria hepática própria.

03

Trifurcação em artéria gástrica esquerda, artéria esplênica e artéria hepática comum.

Trifurcação da artéria hepática comum em artéria gastroduodenal, artéria hepática própria e artéria gástrica direita.

04

Presença de tronco hepatoesplênico e artéria gástrica esquerda tendo como origem a base deste tronco.

Bifurcação da artéria hepática comum em artéria gastroduodenal e artéria hepática própria.

05

Trifurcação em artéria gástrica esquerda, artéria esplênica e artéria hepática comum.

Bifurcação da artéria hepática comum em artéria gastroduodenal e artéria hepática própria

DISCUSSÃO

A total compreensão da anatomia do

responde ao sistema de trifurcação, quan-

tronco arterial celíaco (TAC) e do sistema

do este troco surge imediatamente abaixo

arterial hepático (SAH) é de imprescindí-

ao hiato aórtico do músculo diafragma,

vel importância para o cirurgião, durante o

na aorta abdominal, dando origem a três

manejo dos vasos da cavidade abdominal,

ramos: artéria gástrica esquerda, primei-

uma vez que esses dois sistemas arteriais

ro ramo do TAC, com trajeto cranialmen-

podem apresentar diversas variações ana-

te para a curvatura menor do estômago;

tômicas. O padrão mais visto do TAC cor-

artéria esplênica, com trajeto virtuoso em

153 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


direção ao baço e, por im, artéria hepática

O sistema arterial hepático (SAH),

comum, que corre para direita para suprir

descrito como normal, caracteriza-se como

o sistema hepático.

artéria hepática direita e esquerda prove-

Segundo estudo realizado por Arau-

niente da artéria hepática própria que, por

jo Neto6, 90% de pacientes submetidos à

sua vez, tem origem na artéria hepática

TC contrastada, apresentavam a distribui-

comum, após a emergência da artéria gas-

ção descrita acima do TAC. O restante do

troduodenal, que corre inferiormente. A

estudo (10%) apresentou um sistema de

divisão da artéria hepática própria em ar-

bifurcação, onde 8,3% com tronco hepato-

téria hepática direita e esquerda deve ser

esplênico, com artéria gástrica esquerda

proximal ao fígado dentro do ligamento he-

originada diretamente da aorta abdominal,

patoduodenal.5

e 1,7% com tronco hepatogástrico, e arté-

Além disso, quatro dos cadáveres

ria esplênica também emergindo da aorta.

dissecados apresentaram anatomia nor-

A classiicação de quatro cadáveres

mal da artéria hepática comum, bifurcan-

classiicados como anatomia normal do

do-se em artéria hepática própria e arté-

Tronco Celíaco (trifurcação em artéria gás-

ria gastroduodenal. Com isso, conirma-se

trica esquerda, artéria esplênica e artéria

que a anatomia humana segue esse pa-

hepática comum) estão de acordo com as

drão, como o mais frequente, e corrobora

informações pré-existentes na literatura

com dados vistos em fontes literárias que

de que esse padrão de anatomia de trifur-

embasaram o estudo em questão.

cação dos ramos do tronco celíaco cons-

A variação da artéria hepática co-

titui o mais comum encontrado em seres

mum em uma trifurcação em artéria he-

humanos. O único cadáver (nº 4), variou

pática própria, artéria gastroduodenal e

anatomicamente dos demais, com tronco

artéria gástrica direita em um único cadá-

hepatoesplênico e artéria gástrica esquer-

ver estudado (nº 3), não foi tão evidencia-

da originando-se da base deste tronco e,

da nos estudos mais atuais envolvendo o

comparando-se com os dados da literatu-

SAH, o qual tem como anomalias mais fre-

ra, nota-se um sistema de bifurcação em

quentes a da artéria hepática direita, origi-

um menor percentual.

nando-se da artéria mesentérica superior;

Essa bifurcação também tem varia-

artéria hepática esquerda, como ramo da

ções, podendo existir tronco hepatoesplê-

artéria gástrica esquerda; artéria hepáti-

nico, com artéria gástrica esquerda, como

ca direita oriunda da artéria mesentérica

ramo direto da aorta, ou da base do pró-

superior, associada à artéria hepática es-

prio tronco formado, que foi o identiicado

querda oriunda da artéria gástrica esquer-

na pesquisa. Outra forma de apresentação

da, e artéria hepática comum ramo da ar-

seria um tronco hepatogástrico e a artéria

téria mesentérica superior.

esplênica emergindo da aorta, condição não encontrada no presente estudo.

154 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante da alta incidência das varia-

para as cirurgias hepáticas, principalmen-

ções no sistema arterial hepático e sua in-

te o transplante. Um número expressivo

luência nos procedimentos que envolvem

de complicações pode ser evitado quando

a região, é de suma importância que ela

do reconhecimento de possíveis variações

seja bem estudada, detalhada e conheci-

anatômicas, tanto na captação quanto no

da por estudantes e proissionais da área

implante hepático de cadáveres ou entre

de saúde. Este conhecimento é relevante

vivos.

ANATOMIC VARIATIONS OF CELIAC TRUNK AND HEPATIC ARTERIAL SYSTEM IN CADAVERS: AN EXPERIENCE REPORT

ABSTRACT The complete understanding of the anatomy of the celiac arterial trunk (CAT) of the hepatic arterial system (HAS), is of essential importance for the surgeon during the management of the vessels of the abdominal cavity, since doctors often encounter anatomical variations that may hinder the diagnosis or surgical procedure. Therefore, an adequate knowledge of the anatomy of the human being and the most frequent variations afecting a population is important. The present study is an exploratory and descriptive ield research, with a quantitative approach that will describe, with numbers, the relation of cadavers to the standard of normality, as well as the anatomical variations related to the various branches of the celiac arterial trunk and hepatic arterial system, contributing to the study of physicians and medical students. The research was carried out at the Human Anatomy Laboratory of Nova Esperança Medical School (FAMENE). In carrying out the study, ive cadavers were used to compare the obtained data, strengthening the results. The instrument chosen for data collection was by direct actuation in the cadaver, through the evaluation of the structures of the celiac trunk in all dissected cadavers and the hepatic arterial system. This study corroborated with the pre-existing information in the literature that this pattern of trifurcation anatomy of the celiac trunk branches is the most common in humans. KEYWORDS: Anatomical variation. Corpse. Celiac trunk. Hepatic arterial system.

155 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


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3. Moore KL, Dalley AF, Agur AMR. Anatomia

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orientada para a clínica. 7. ed. Rio de Janeiro:

variantes. Radiol Bras. 2016; 49(1): 49-52.

156 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


CAPÍTULO 18

AVALIAÇÃO DO pH DE POLPAS DE FRUTAS COMERCIALIZADAS NA CIDADE DE JOÃO PESSOA, PARAÍBA

Resumo Neste trabalho, foi avaliado o pH de polpas de frutas congeladas de diferentes sabores e marcas, comercializadas no município de João Pessoa (PB). O experimento foi conduzido em Delineamento Inteiramente Casualizado (DIC), disposto em um arranjo fatorial 6 x 3, ou seja, utilizando 6 níveis do fator sabores de polpa e 3 níveis do fator marcas (X, Y e Z) com 3 repetições. Houve variações dos valores de pH entre as marcas e os sabores nas amostras de polpas de frutas analisadas (p<0,05). Porém, estas apresentaram pH condizentes com a legislação preconizada, IN nº 1 de 7 de janeiro de 2000 do MAPA, que indica padrões de identidade e de qualidade sobre as polpas de frutas. Constatou-se também, a necessidade de que sejam estabelecidas na legislação, padrões de pH para a polpa de morango. PALAVRAS-CHAVE: Polpa de frutas. pH.

Homero Perazzo Barbosa1 Docente - FAMENE

Carolina Uchôa Guerra Barbosa de Lima2 Docente - FAMENE

Amanda Justino Costa3 Acadêmica de Medicina - FAMENE

Layanna carla ferreira Sousa4 Acadêmica de Medicina - FAMENE

Marcela Carvalho César Félix5 Acadêmica de Medicina - FAMENE

157 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


INTRODUÇÃO O consumo e a comercialização de

No Brasil, a qualidade das polpas

polpa de frutas aumentam consideravel-

de frutas comercializadas é regulamenta-

mente a cada ano. As pessoas estão bus-

da pela Resolução RDC nº 12, de 2 de ja-

cando produtos saudáveis e que tenham

neiro de 2001 e pelo Regulamento Técnico

praticidade na hora do preparo. Como as

para Fixação dos Padrões de Identidade e

frutas são produtos perecíveis, a polpa de

Qualidade para Polpa de Frutas - Instrução

fruta é uma boa opção de substituição. São

Normativa nº 1 de 7 de janeiro de 2000,

produzidas nas épocas de safra, ou seja,

que estabelecem bioindicadores da quali-

pode-se ter matéria-prima com facilidade

dade higiênica. A qualidade da polpa tam-

e preço mais acessível nos períodos mais

bém está relacionada à preservação dos

favoráveis e podem ser comercializadas

nutrientes e às suas características físi-

de acordo com a demanda do mercado

co-químicas e sensoriais, que devem ser

consumidor.1

próximas da fruta in natura, de forma a

A alta perecibilidade dos frutos e

atender às exigências do consumidor e

sua sazonalidade impulsionam o desen-

da legislação vigente. Desse modo, as-

volvimento de processos tecnológicos.

pectos como pH e outras características

Dentre os quais pode-se destacar a pro-

físico-químicas são determinados nas nor-

dução de polpas, que é uma atividade

mas especíicas de cada tipo de polpa de

agroindustrial importante à medida que

fruta.5,6

agrega valor econômico à fruta, evitan-

O pH inluencia em diversos fa-

do desperdícios e minimizando as per-

tores, entre eles o equipamento escolhido

das que podem ocorrer durante a comer-

para processamento, seleção de aditivos,

cialização do produto in natura, além de

palatabilidade, entre outros, o que torna

permitir estender sua vida útil com ma-

importante sua determinação.7 Diante

nutenção da qualidade.2

disso, o objetivo do presente trabalho foi

Por apresentarem concentrações eleva-

o de avaliar o pH de diferentes polpas de

das de açúcares simples e alta atividade de

frutas congeladas, comercializadas na ci-

água, as frutas são substratos favoráveis à mul-

dade de João Pessoa – PB.

tiplicação de microrganismos e, portanto, são susceptíveis a uma rápida deterioração, principalmente sob conservação inadequada.3 As infecções e intoxicações alimentares representam grave problema de sanidade pública e a transmissão de muitos patógenos aos seres humanos ocorre pela manipulação inadequada e/ou má conservação dos alimentos.4

158 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


METODOLOGIA As amostras foram transportadas

frutas congeladas, das diferentes marcas,

em suas embalagens originais e íntegras

foram coletadas nos sabores de acerola

e em caixa térmica, para o Laboratório

(Malpighia emarginata), cajá (Spondias lu-

de Bioquímica das Faculdades Nova Es-

tea), caju (Anacardium occidentale), goia-

perança (FACENE/FAMENE), durante os

ba (Psidium guajava), graviola (Annona

meses de fevereiro e março de 2018, para

muricata) e morango (Fragaria sp).

posteriores análises. Como critério de in-

Após a homogeneização, o pH das

clusão, foram utilizadas polpas de frutas

amostras foi determinado em pHmetro

dentro do prazo de validade, devidamente

QUIMIS Mod. Q 400 HM. Foram realizadas

embaladas e adquiridas na Cidade de João

pelo menos 3 medidas de pH para cada

Pessoa (PB).

amostra, sendo o valor inal dado pela

O experimento foi conduzido em

média aritmética simples das medidas.

delineamento inteiramente casualizado

Para a análise de variância (Tabe-

(DIC), disposto em um arranjo fatorial 6 x

la 1), utilizou-se o software SAS SYSTEM

3, ou seja, 6 níveis do fator sabores de pol-

(Statistical Analysis System - SAS Institute

pa, 3 níveis do fator marcas (X, Y e Z), com

Inc., North Carolina, USA).8 Aplicou-se

3 repetições, totalizando cinquenta de

o teste de Tukey a 5% de probabilidade,

quatro amostras analisadas. As polpas de

para comparação das médias.

TABELA 1: Análise de Variância (ANOVA) dos dados experimentais.

Fontes de Variação

GL

SQ

QM

F

Polpas

5

7,1025

1,4205

6136,58*

Marca

2

0,1797

0,0899

388,72*

Polpas e Marcas

10

0,1764

0,0176

76,24*

Erro experimental

36

0,0083

0,00023

Total corrigido

53

7,4671

*Signiicativo a 5% de probabilidade pelo teste F

Os resultados obtidos foram comparados, também, individualmente, aos padrões estabelecidos pela normatização

brasileira para cada tipo de polpa de fruta.5

159 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


RESULTADOS E DISCUSSÃO O controle de qualidade, no que

das polpas de frutas analisadas. Houve

diz respeito ao pH, é muito impor-

diferenças estatisticamente signiicati-

tante na padronização do produto e na

va, entre as marcas e os sabores estu-

análise de alterações ocorridas durante

dados, sendo que a média obtida para

o processamento e o armazenamento.

a marca Y foi superior às demais. A pol-

A Tabela 2 expressa os valores médios de pH das marcas e sabores

pa de cajá foi a que apresentou menor pH (P<0,05).

TABELA 2: Médias* de pH das polpas congeladas de seis sabores, em três marcas diferentes, comercializadas nas cidades de João Pessoa (PB).

Polpas

X

Y

Z

Médias

Acerola

3,09eA

3,07eA

2,93eB

3,03e

Cajá

2,66fA

2,63fB

2,66fA

2,65f

Caju

3,74aB

3,79aA

3,49bC

3,67a

Goiaba

3,68bB

3,70bA

3,55aC

3,64b

Graviola

3,43cB

3,63cA

3,38cC

3,48c

Morango

3,17dC

3,26dA

3,22dB

3,22d

Médias

3,29B

3,35A

3,21C

CV (%) = 0,46; dms (polpas/marcas) = 0,04 e dms (marcas/ polpas) = 0,03 *Médias seguidas da mesma letra minúscula, nas colunas, e maiúsculas, nas linhas, não diferem signiicativamente entre si, pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Para as amostras estudadas, os va-

A polpa de acerola deve apresentar

lores médios de pH (Tabela 2) variaram

cor variando de amarelo ao vermelho, sa-

de 2,63 (cajá) a 3,79 (caju) apresentando

bor ácido, aroma próprio e pH mínimo de

diferenças entre si (P<0,05). Por sua vez,

2,85,6 igual ao determinado por outros es-

a Marca Y (pH médio de 3,35) apresentou

tudos.9 Castro et al.10 encontraram, para

para, os diversos sabores estudados, pH

a polpa de acerola pH de 3,7, valor mais

superior (P<0,05) às outras marcas estu-

elevado do que a média determinada neste

dadas (X = 3,29 e Z = 3,21).

experimento de 3,03. Por sua vez, Santos

160 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


et al.11 encontraram para a acerola pH de

variável de branco a vermelho, sabor leve-

3,2 e Bueno et al.12 pH de 3,3.

mente ácido, aroma próprio e deverá obede-

O cajá é uma fruta muito aromática e

cer as características determinadas e apre-

de polpa suculenta, que apresenta um sab-

sentar pH que varie de 3,5 a 4,2. O valor

or característico denominado de agridoce.

médio de pH determinado (3,64) se aprox-

Como padrão, a polpa de cajá deve ter pH

ima do mínimo para aceitação para con-

mínimo de

2,25

valor inferior a média de-

sumo e próximo ao determinado por Bueno

terminada nesta pesquisa (pH de 2,65) se-

et al.12 de 3,8. Evangelista e Vieites2, em

melhante ao de Bueno et al.12 e Canuto et

três amostras avaliadas, observaram pH

al.9, que obtiveram pH de 2,7. Por sua vez,

acima de 4,2. Já um estudo feito por Castro

Santos et

al.13,

avaliando diferentes mar-

cas, determinaram valores médios superi-

et al.10 encontraram valores mais elevados (4,16).

ores (pH de 3,12).

A polpa de graviola deve apresen-

Um estudo realizado por Caldas et

tar cor variando do branco ao marim,

foi observado que o pH das polpas

sabor ácido, aroma próprio e pH mín-

congeladas de cajá estavam de acordo

imo de 3,56, valor aproximado ao do

com a legislação. Resultados semelhan-

presente trabalho de 3,48. Por sua vez,

tes foram encontrados por Dantas et al.15,

Canuto et al.9 obtiveram pH de 3,7.

al.14,

ao analisarem polpas comercializadas em

Siqueira et al.17 encontraram va-

Campina Grande/PB. Valores inferiores a

lores médios de pH 3,75 para polpas

0,9 foram encontrados por Monção et al.

de morango conservadas em refriger-

16,

onde três das cinco amostras de polpas

ação, valor superior ao determinado

de cajá utilizadas estavam abaixo do míni-

neste estudo de 3,22. O pH de três

mo estabelecido.

marcas avaliadas, no estudo de Pereira

A polpa de caju deverá exibir cor

et al.18 para polpa de morango conge-

variando do branco ao amarelado, sabor

lada, variou entre 3,50 e 3,61. Oliveira

próprio, levemente ácido e adstringente

et al.19 encontraram valor de 3,60. O

com aroma próprio. Santos et al.11, avalian-

valor mínimo ou máximo da polpa de

do polpas congeladas, determinaram um

morango não consta nesta legislação

pH de 3,2 para a polpa de caju, valor inferior

especíica.5

ao encontrado nessa pesquisa de 3,67. Em

Fatores edafoclimáticos podem

avaliando

inluenciar na variação do pH das frutas.

diferentes marcas, determinaram valores

A presença de ácidos orgânicos, com-

médios um pouco superiores (pH de 3,82).

ponentes importantes na formação de

Porém, dentro do máximo preconizado pela

diversas propriedades das frutas, tam-

legislação5,

bém pode contribuir para a variação do

outra pesquisa, Santos et

al.13,

que é de 4,6. Canuto et

al.9

en-

contraram valores de 4,7. A polpa de goiaba deverá ter cor

pH.20 Segundo Castro et al.10, para a

161 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


preservação dos alimentos, a indústria

de 4,5 para que sejam conservadas de

tira proveito da ação do pH sobre os mi-

maneira adequada sem necessidade

crorganismos, pois o baixo pH diminui a

do uso de altas temperaturas e que as-

microbiota alterante. Assim, as polpas

sim não coloquem em risco sua quali-

de frutas devem apresentar pH abaixo

dade e segurança dos consumidores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Todas as marcas estudadas apresentaram valores de pH dentro do padrão

necessidade de se estabelecer padrões físico-químicos para a polpa de morango.

estabelecidos pela legislação vigente. Há

EVALUATIONS OF THE pH OF THE COMMERCIALIZED FRUIT PULPS IN THE CITY OF JOÃO PESSOA, PARAÍBA STATE

ABSTRACT The objective of this work was to evaluate the pH of frozen fruit pulp of diferent lavors and brands, marketed in the city of João Pessoa (Paraiba state, Brazil). The experiment was conducted in a Completely Randomized Design (CRD), arranged by a 6 x 3 factorial scheme, in another words, using 6 tiers of the factor pulp lavor and 3 tiers of the brand factor (X, Y and Z) with 3 repetitions. There were variations in the pH values between brands and the lavors in the analyzed fruit pulps (P<0,05), however these showed pH compatible with the law established by the IN nº 1 of January 7th of 2000 of MAPA, which indicates identity patterns and quality about the fruit pulps. It was also found the necessity that it must be established, by the legislation, patterns of pH for the strawberry pulps. KEYWORDS: Frozen. Fruit Pulp. pH.

162 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


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163 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


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164 PROJETOS DE MONITORIA 2017 | FACULDADES NOVA ESPERANÇA


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