10 minute read
PANORAMA ECONÔMICO
from Revista do Sistema Fecomércio-BA Edição 43
by Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia
Por Guilherme Dietze
Cr Dito D Sinais De Esgotamento Com A Alta Taxa De Juros
Advertisement
A taxa de juros básica da economia brasileira está em 13,7% ao ano. Esse percentual já é considerado muito alto. Contudo, quando se observa a taxa média cobrada do consumidor, das mais diversas modalidades de crédito, o patamar mais que quadruplica, vai para 58,3% ao ano, segundo dados do Banco Central. Há um ano, a taxa média estava cerca de 10 pontos percentuais abaixo da atual, em 48,1% ao ano.
Seria natural pensar que, com o crédito caro, haveria maior restrição da sua oferta para o público em geral. Em outras épocas, isso acontecia de fato. Agora, o que se viu desde o início do ciclo de expansão da SELIC, ainda em 2021, foi uma ampliação da oferta e maior facilidade na obtenção de recursos no sistema financeiro.
Vale ressaltar que o crédito é essencial para o crescimento da economia, seja para compra básica de um supermercado no cartão de crédito, seja para financiar a tão sonhada casa própria, em 30 anos. O problema é quando a conjuntura econômica não contribuiu, como foi no ano passado. A inflação alta trouxe dificuldades no orçamento e esse crédito fácil, porém caro, ficou difícil de ser quitado.
Tanto que, em Salvador, em outubro passado, houve recorde de inadimplentes, com 43,7% das famílias com contas em atraso, segundo dados da Fecomércio BA. O Banco
Central, num âmbito nacional, também sinaliza para o aumento do atraso na quitação. Em fevereiro deste ano, 6,1% do saldo de crédito disponível contava com atraso superior a 90 dias, sendo que um ano antes esse percentual era de 4,7%.
Diante dessa situação, juro muito alto e risco maior de inadimplência, o sistema financeiro começa a restringir mais o crédito para o consumidor final, dando sinais claros de esgotamento. Por exemplo, por mais que o saldo de crédito disponível no Brasil para os consumidores tenha crescido 17% em 12 meses, ele cai 0,5% entre os meses de janeiro e fevereiro. Tendência oposta ao que se viu nos dois anos anteriores.
As concessões de crédito, o que é tomado pelo consumidor a cada mês, mostraram queda neste início de ano, como por exemplo o crédito pessoal (20,1%) e cartão de crédito (7,6%).
Portanto, embora ainda haja um volume grande disponível de crédito no mercado, a seletividade cresce e dificulta a retomada da economia, sobretudo daqueles segmentos que têm forte correlação com compras financiadas, como é o caso de veículos, eletrodomésticos, móveis, entre outros. Situação que, a princípio, só deve melhorar no segundo semestre deste ano.
REFORMA TRIBUTÁRIA: COMO SAIR DESSE LABIRINTO?
Setores concordam sobre necessidade, mas discordam do método das propostas em discussão no Congresso Nacional
A reforma tributária já é um tema conhecido entre os setores empresariais. Há quase três décadas sua importância é discutida, no entanto, sua complexa execução parece se transformar em um labirinto sem saída. Atualmente, três propostas para solucionar a questão correm em diferentes instâncias, sendo as principais a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 45/2019 e a PEC 110/2019. No entanto, nenhuma parece levar a um consenso entre as entidades.
O PROBLEMA
No Brasil, paga se muito imposto. De acordo com o impostômetro, site criado pela Associação Comercial de São Paulo como uma forma de explicitar a quantidade de impostos paga diariamente no país, até 12h do dia 11 de abril havia uma arrecadação de mais de R$ 869 bilhões de reais em impostos, apenas no ano de 2023.
Além da pesada carga tributária, a arrecadação é complexa. Segundo Sérgio Couto, advogado espe cializado em Direito Tributário e coordenador da Câmara de Assuntos Tributários (CAT) da FecomércioBA, atualmente, existe um cascateamento, ou seja, a incidência de um tributo sobre outro, o que termina encarecendo o produto ou serviço final para o consumidor. “A reforma tributária nasceu com a Constituição de 88. Ela tem grandes virtudes, mas também criou uma série de nós que não conseguimos desatar ao longo dessa história”, afirma Couto.
A Certeza
Representantes de diferentes entidades concordam quanto a necessidade e a urgência de uma mudança do modelo atualmente praticado. Para o secretário da Fazenda do Estado da Bahia (SEFAZ Bahia), Manoel Vitório, a reforma tributária é necessária para a economia brasileira, mas “ainda não há uma proposta que seja considerada ideal ou já esteja pronta”.
A cada entrada de um novo Governo, se reacende a esperança de, enfim, encontrar uma solução para a questão. Nesse caso, o tempo é um fator essencial. “A reforma está aí há muito tempo, é um consenso quanto a sua necessidade. Só que o ambiente político não ajuda muito”, afirma Couto. De acordo com ele, toda reforma estruturante deve ser feita no primeiro ano de uma nova gestão. Só que além deste importante tema, o Governo também apresentou uma proposta sobre o arcabouço
EMPRESARIADO BAIANO.
Sérgio Couto, advogado especializado em Direito Tributário e coordenador da Câmara de Assuntos Tributários (CAT) da Fecomércio-BA fiscal, que será encaminhada para debate no Congresso Nacional.
“Se essa discussão não for rápida ou se prolongar muito no tempo, o país vai perder o timing de fazer as mudanças propostas. Se chegar em agosto ou setembro e a gente ainda estiver discutindo arcabouço fiscal, não haverá ambiente político para discutir a reforma tributária, ainda mais uma tão complexa quanto a nossa”, declara Couto.
As Propostas
As principais propostas em avaliação têm como objetivo simplificar a arrecadação de impostos, com a unificação de diferentes tributos e a sua substituição pelo Imposto sobre Bens e Serviços (IBS). O IBS tem como inspiração o modelo de arrecadação IVA (Imposto sobre Valor Agregado), que também consiste na unificação de diversos impostos e já aplicado em outros países. Nesse modelo, cada etapa
CONFIRA AS PREMISSAS PARA A REFORMA TRIBUTÁRIA COM A VISÃO DO SETOR DE COMÉRCIO DE BENS E SERVIÇOS
ELABORADA PELA CNC: da cadeia de produção recebe o imposto referente ao valor que adicionou ao produto ou serviço. Dessa forma, se espera maior transparência e facilidade no processo que envolve a tributação no Brasil.
Os Entraves
No entanto, alguns fatores são adicionados a essa equação. A complexidade em encontrar uma solução se dá, em parte, pelo grande número de atores envolvidos e disputa de interesses em questão. Com a simplificação, haverá compensação de tributos federais, estaduais e municipais num único imposto, como explica Couto. “Isso esbarra numa cláusula pétrea da Constituição, que é o pacto federativo, em que municípios, estados e a União têm autonomia financeira e orçamentária. Hoje, os estados e municípios se mostram preocupados em perder autonomia, isso quebraria o pacto federativo”.
CRÉDITO: DIVULGAÇÃO
Entenda As Propostas
PEC 45/2019
CÂMARA DOS DEPUTADOS
NOSSA PREMISSA FUNDAMENTAL É QUE QUALQUER REFORMA TRIBUTÁRIA DEVE GARANTIR OS PADRÕES DE ARRECADAÇÃO DOS MUNÍCIPIOS.
PL 3887/2020
GOVERNO FEDERAL
Substitui cinco tributos já existentes (PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS) pelo Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), para todas as operações com bens e serviços que tenham como destino estado ou município.
Além disso, a proposta também prevê o IBS com crédito financeiro e tributação no local de destino, crédito imediato nas aquisições de bens destinados a ativo imobilizado (investimentos), manutenção do tratamento favorecido hoje às micro e pequenas empresas, além de não haver previsão de incentivos fiscais.
PEC 110/2019
SENADO FEDERAL
Substitui nove tributos já existentes (IPI, IOF, PIS, Pasep, Cofins, CIDE-Combustíveis, Salário-Educação, ICMS e ISS) pelo Imposto sobre Bens e Serviços (IBS). A alíquota do IBS poderá variar de acordo com cada produto e cada serviço, mas deve ser a mesma em todo o território nacional.
Cria a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), em substituição ao PIS/Pasep e à Cofins, que deverão ser extintos. A alíquota da CBS será de 12% para empresas em geral e de 5,9% para entidades financeiras como bancos, planos de saúde e seguradoras. As empresas optantes pelo regime do Simples Nacional seguirão com o tratamento tributário favorecido. Contudo, o crédito transferido será baseado no valor efetivamente pago pelas empresas do Simples.
COFINS - Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social.
ICMS - Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
IOF - Imposto sobre operações financeiras
IPI - Imposto sobre Produtos Industrializados
ISS - Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza
PASEP - Programa de Integração Social e o Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público
PIS - Programa de Integração Social
Giovanna Victer, secretária da Fazenda do Município de Salvador (SEFAZ Salvador), endossa esse ponto de vista. “É importante que o município seja dono desses recursos e não fique à mercê de uma distribuição aleatória de outros entes, seja do estado, seja da União. É importante que esses recursos sejam diretamente distribuídos ao município para não ficarmos dependentes de repasses”, defende. Humberto Miranda, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia (FAEB) ressalta a falta de clareza dos projetos e tramitação. “É difícil que a gente chegue num consenso que possa não atrapalhar o setor agropecuário. A gente não consegue enxergar claramente de que forma vai beneficiar a sociedade. Estamos entendendo que vai causar, à princípio, para o setor agropecuário e consequentemente para a população, só impactos negativos”.
As Preocupa Es
Um estudo elaborado pela CNC aponta um aumento médio de 84% no imposto sobre o setor de serviços no caso da aprovação de uma Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) de 12%. “No entanto, essa elevação poderia chegar a quase 200% em segmentos como locação de serviços de mão de obra. Isso pode significar não apenas o encarecimento do produto para o consumidor, como a inviabilidade de empresas e consequente aumento do desemprego”, afirma Guilherme Mercês, diretor de Economia e Inovação da CNC.
Para Giovanna Victer, há uma preocupação nos municípios, es pecialmente em Salvador, com relação ao risco da perda de arrecadação. “Não podemos arcar com nenhuma perda de arrecadação, pois temos nossos compromissos assumidos com a prestação de serviços da cidade. Então, a nossa premissa fundamental é que qualquer reforma tributária deve garantir os padrões de arrecadação dos munícipios”, afirma.
Para o secretário Manoel Vitório (SEFAZ Bahia) é preciso ter em vista o processo de erosão das bases de arrecadação do ICMS, principal imposto estadual. Já Humberto Miranda, presidente da FAEB, ressalta que a reforma pode ser extremamente danosa, não apenas para o setor agropecuário, mas para toda a sociedade. “O estudo feito pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) mostra que pode chegar a um impacto de 875% na agricultura, 783% na pecuária, o que dá uma média nos setores privados de mais de 643% nesses setores produtivos”, pontua.
Já para Sérgio Couto, um ponto de preocupação é que “na comissão de Reforma Tributária não temos nenhum deputado baiano. A gente carece de uma representatividade e nos preocupa que, por conta disso, algumas decisões sejam tomadas em prejuízo da Bahia e do nosso Nordeste”, alerta. É nesse sentido que a Fecomércio BA tem atuado. “A Câmara de Assuntos Tributários está com o objetivo de trazer o debate para dentro da Federação, inclusive, levando as angústias do empresariado baiano. O estado da Bahia, pela proeminência que tem do ponto de vista econômico, social e territorial, não pode ficar afastado dessa discussão”.
OS CAMINHOS
Apesar das opiniões diversas, existem pontos em comum que podem guiar a discussão no sentido de encontrar um caminho. Para Sérgio Couto, “é necessário simplificar a questão da tributação, principalmente das obrigações acessórias, tornando a atividade mais simples, mais transparente e mais econômica para o contribuinte”.
Manoel Vitório defende que é necessário pautar a questão do desenvolvimento regional em associação com a reforma tributária, tendo em vista que os estados, sobretudo os nordestinos, deverão perder instrumentos de que dispõem hoje para a atração de investimentos privados. “Será preciso associar à reforma ações que promovam o efetivo desenvolvimento de cada região para que o país amplie o combate às disparidades regionais, porque do contrário estas disparidades poderão se aprofundar”.
Já Humberto Miranda acredita que, antes de uma reforma tributária, é necessária uma reforma administrativa. “Precisamos de uma diminuição do tamanho do Estado, uma melhoria nos gastos públicos, ou seja, gastar melhor as arrecadações e uma rearrumação dos tributos já existentes, melhorando a forma da cobrança dos impostos, otimizando essa arrecadação para os setores e investindo na melhoria do custo de vida da população”.
SERÁ PRECISO ASSOCIAR À REFORMA AÇÕES QUE PROMOVAM O EFETIVO DESENVOLVIMENTO DE CADA REGIÃO PARA QUE O PAÍS AMPLIE O COMBATE ÀS DISPARIDADES REGIONAIS.
Manoel Vitório, Secretário da Fazenda do Estado da Bahia
“O caminho seguro e democrático sempre será o do diálogo e da construção conjunta de soluções para um país melhor. A CNC tem mobilizado esforços para apresentar suas preocupações e propostas aos Poderes Executivo e Legislativo, para que a reforma tributária seja realmente justa, igualitária e desenvolvimentista”, declara Guilherme Mercês.
Dia Do Trabalho Tem Programa O Especial
No dia 1 º de maio, o Sesc Bahia presta homenagem aos Trabalhadores do Comércio de Bens, Serviços e Turismo e realiza uma série de atividades recreativas, culturais, de saúde e educativas para o trabalhador e sua família. Na capital, a programação acontece na unidade de Piatã e no interior, nas unidades de Porto Seguro, Vitória da Conquista e Santo Antônio de Jesus. Shows musicais, torneios esportivos, oficinas de artes, apresentação teatral, exposição e orientações de saúde são alguns dos atrativos para que o público presente desfrute de tudo que o Sesc tem a oferecer.
2ª EDIÇÃO DA FLISAJ
ACONTECE EM MAIO
De 11 a 13 de maio acontece a 2ª edição da Festa Literária de Santo Antônio de Jesus, a FLISAJ. O evento é uma iniciativa do Sesc Bahia em parceria com Secretaria de Cultura do município e neste ano terá como tema: O Recôncavo baiano e suas narrativas. A Festa traz uma programação diversificada com o propósito de aproximar o público de escritores e artistas santatonienses e contribuir para formação de novos leitores, valorizando a literatura oral e escrita da Cidade das Palmeiras. Serão três dias de intensa programação para movimentar e promover a literatura local e a programação completa da FLISAJ 2023 estará disponível nos sites - www. sescbahia.com.br | www.saj.ba.gov.br e nas redes sociais @sescsaj e @prefsaj.
Mostra Sesc De Cinema Chega Sua Vi Edi O
Uma das principais iniciativas de incentivo ao cinema independente no Brasil, a Mostra Sesc de Cinema – MSDC, está com inscrições abertas para sua 6ª edição, que acontecerá de forma digital e gratuita. Podem ser inscritas obras nas categorias curtas, médias e longas-metragens. A lista das produções selecionadas será divulgada em agosto e as exibições ocorrerão entre outubro e dezembro de 2023. Acesse sesc.com.br/mostradecinema.