Fecomércio 70 Anos - Uma História Exemplar

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70 anos promovendo o desenvolvimento econômico e social do comÊrcio de bens, serviços e turismo da Bahia.




Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia

PRESIDENTE

CONSELHO FISCAL

Carlos de Souza Andrade

Bernardino Rodrigo Brandão N. Filho Joaquim Luiz de Souza Vicente de Paula Lemos Neiva

VICE-PRESIDENTES

1º Kelsor Gonçalves Fernandes 2º José Carlos Moraes Lima 3º Benedito Vieira dos Santos Carlos Fernando Amaral Francisco de Assis Ferreira Isaque Neri Santiago Neto Luiz Fernando Coelho Brandão Marcos Antonio L. Mendonça Roberto Brasileiro Lima DIRETORES SECRETÁRIOS

1º Juranildes Melo de Matos Araújo 2º Herivaldo Bittencourt Nery 3º João Luiz dos Santos Jesus DIRETORES TESOUREIROS

1º Arthur Guimarães Sampaio 2º Antonio Augusto de O. Lopes e Costa 3º Antonio Chaves Rodrigues DIRETORES

Alberto Vianna Braga Neto Américo Soares Sales Campos Antonio Pithon Barreto Neto Avani Perez Duran Carlos Alberto Souto Silva Cíntia Freitas Lima Modesto Claudêncio Barbosa de Souza Edvaldo Lima de Oliveira Enzo Augusto L. Souza Andrade Geraldo Cordeiro de Jesus Hilton Morais Lima Jesonias Telles Bastos João Arthur Prudêncio Rêgo João Morais de Oliveira Marcelo Ferraz Nascimento Maria da Conceição G. Cardoso Valente Maria José Carneiro Lima Raimundo Jorge Dresselin Sérgio da Silva Sampaio

DIRETORES SUPLENTES

Afonso Ramos da Rocha Aldemar Macêdo Alyson Montezano de Freitas Antônio Alves de Menezes Antônio Florisvaldo Tarzan C. Lima Filho Antônio José Guimarães Ferreira Antônio Robespierre Lopes dos Santos Carlos Alberto Luz Braga Cláudio Dantas Pinho Eduardo da Costa Teixeira Eduardo Morais de Castro Fabiano Leal Santiago Gilene Rodrigues de Santana Glauber Andrade Ferreira Jacira Macedo Santiago Joel Santos Lessa Jossaelson Alves de Luna José Márcio Pacheco de Queiroz José Nildo de Souza Júlio César Fernandes Cairo Luiz Henrique Mercês dos Santos Maria de Fátima de Carvalho Rêgo Mozart Bulhões Ferreira Newton Rodrigues de Oliveira Osvaldo Ottan Soares de Souza Paulo Valeriano Miranda de Sena Raimundo de Menezes Alves Roque Bittencourt Lopes Wenceslau Seoane Carrera Wilson Ribeiro de Oliveira Wolfgang Weckerle CONSELHO FISCAL SUPLENTES

André Coelho Brandão Luiz Trindade Pinto Sérgio Fernandes Eiras


Sindicatos filiados à Fecomércio-BA: Sindcom – Sindicato do Comércio Varejista de Santo Amaro

Sicomerciovc – Sindicato do Comércio Varejista de Vitória da Conquista

Sindamac – Sindicato do Comércio Atacadista de Materiais de Construção da Cidade do Salvador

Sincofarba – Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos do Estado da Bahia

Sindbeleza – Sindicato dos Salões de Barbeiros, Cabeleireiros, Institutos de Beleza e Similares da Cidade do Salvador

Sicomércio Ilhéus – Sindicato do Comércio Varejista de Ilhéus

Sirceb – Sindicato dos Representantes Comerciais do Estado da Bahia Secovi – Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis e dos Edifícios em Condomínios Residenciais e Comerciais do Estado da Bahia Sindarmazenador – Sindicato do Comércio Armazenador do Estado da Bahia Sindal – Sindicato do Comércio Atacadista de Gêneros Alimentícios da Cidade do Salvador Sindfeira – Sindicato dos Vendedores Ambulantes e dos Feirantes da Cidade do Salvador Sindilojas – Sindicato dos Lojistas do Comércio do Estado da Bahia Sindcacs – Sindicato do Comércio Atacadista da Cidade do Salvador Sincodiv – Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos do Estado da Bahia Sindtav – Sindicato do Comércio Atacadista de Tecidos, Armarinhos e Vestuário da Cidade do Salvador Sindalimentos – Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios da Cidade do Salvador Sicomércio Jequié – Sindicato do Comércio Varejista e dos Feirantes de Jequié Sincamed – Sindicato do Comércio Atacadista de Drogas e Medicamentos da Cidade do Salvador Sindeletro – Sindicato do Comércio Varejista de Material Elétrico e Aparelhos Eletrodomésticos da Cidade do Salvador Sicovfamil – Sindicato do Comércio Varejista dos Feirantes e dos Vendedores Ambulantes de Ilhéus

Sindescobrimento – Sindicato do Comércio Varejista de Porto Seguro, Santa Cruz de Cabrália e Belmonte Sincomsaj – Sindicato do Comércio Varejista de Santo Antônio de Jesus Sicomfs – Sindicato do Comércio de Feira de Santana Sicomércio Alagoinhas – Sindicato do Comércio Varejista de Alagoinhas e Região Sincom – Sindicato do Comércio de Irecê e Região Sincomvrpr – Sindicato do Comércio Varejista de Ribeira do Pombal e Região Sindpat – Sindicato Patronal do Comércio Varejista de Jacobina e Região Sicomércio Camaçari – Sindicato do Comércio Patronal de Camaçari e Região Sinpa – Sindicato Patronal do Comércio de Paulo Afonso e Região Sindicom – Sindicato das Distribuidoras de Combustíveis do Estado da Bahia Sindicom Itabuna – Sindicato do Comércio Varejista do Município de Itabuna Sindicomércio Eunápolis – Sindicato do Comércio Varejista de Eunápolis Sincomércio Teixeira de Freitas – Sindicato do Comércio Varejista de Teixeira de Freitas Sindilojas Juazeiro – Sindicato do Comércio Varejista de Juazeiro


Uma história exemplar Copyright Fecomércio-BA© 2017 EDIÇÃO

Solisluna Design Editora Enéas Guerra Valéria Pergentino TEXTO

Carlos Ribeiro REVISÃO DO TEXTO

Maria José Navarro de Oliveira DESIGN E EDITORAÇÃO

Enéas Guerra Valéria Pergentino Elaine Quirelli ENTREVISTAS

Carlos Ribeiro (jornalista) Malaika Kempf Braga (áudio e vídeo) Kin Guerra (vídeo) COORDENAÇÃO FECOMÉRCIO-BA

Délia Coutinho Marcos Maciel

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Odilio Hilario Moreira Junior CRB-8/9949

CRÉDITOS FOTOS (PÁGINA 215)

Arquivo CNC Arquivo Fecomércio-BA Arquivo Senac-BA Arquivo Sesc-BA César Vilas Boas Coleção Ewald Hackler Kin Guerra T . Dias Reprodução Almir Bindilatti: Acervo João da Costa Pinto Acervo Postais Ubaldo Sena Arquivo Municipal Arquivo Público Instituto Feminino da Bahia Museu de Arte da Bahia Museu Tempostal

R484p

Ribeiro, Carlos Uma história exemplar: 70 anos promovendo o desenvolvimento econômico e social do comércio de bens, serviços e turismo da Bahia. / Carlos Ribeiro. - Lauro de Freitas - BA : Solisluna, 2017. 216 p. : il. ; 23cm x 28cm. Inclui índice, bibliografia e anexo. ISBN: 978-85-89059-94-7 1. Comércio. 2. Comércio - Bahia. 3. Federação do Comércio. I. Título.

2017-315

CDD 360 CDU 331.105.422 Índice para catálogo sistemático: 1. Associações sociais 360 2. Associações patronais 331.105.442


Sumário 11

Prefácio

70 anos da Fecomércio-BA 13

Apresentação

Olhando para o futuro 19

Introdução

os

Na plenitude dos 70 anos

29

Capítulo I

hia 53

Antecedentes: a saga do comércio na Bahia Capítulo II

Fecomércio-BA: uma nova fase na história da Bahia 73

Capítulo III

Tempos heróicos: uma instituição à frente do seu tempo 117

Capítulo IV

Consolidação e renovação do Sistema 155

Capítulo V

Imagens do comércio nos tempos modernos: desafios do século XXI 191

Entrevistas e Depoimentos

A memória viva de uma história de sucesso no desenvolvimento da Bahia



Prefácio

70 anos da Fecomércio-BA

E

m meu nome pessoal e da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, vimos registrar nossa satisfação e orgulho em participar desta publicação em que a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia registra e comemora 70 anos de suas atividades. Fundada em 1947, a Fecomércio-BA vem, desde então, realizando extraordinário trabalho de aglutinação do empresariado comercial do Estado da Bahia, no sentido de promover o desenvolvimento econômico regional. Paralelamente, por meio dos programas realizados pelo Sesc e Senac, estão sendo promovidos o empreendedorismo e as atividades destinadas à formação da força de trabalho do Estado, associadas ao desenvolvimento profissional e cultural, ao turismo e ao lazer dos trabalhadores e de suas famílias. Nesta oportunidade, julgamos de justiça ressaltar a eficiente gestão administrativa do Dr. Carlos de Souza Andrade que, desde 23/6/2014, vem realizando como Presidente da Fecomércio-BA, em sucessão aos queridos amigos Deraldo Motta, Nelson Daiha e Carlos Fernando Amaral. Antonio Oliveira Santos Presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC)

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Apresentação

Olhando para o futuro

A

Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia chega aos 70 anos de existência em um momento de grandes transformações e inovações. Momento, portanto, propício para reflexões, mas, principalmente, para a disposição de aglutinar esforços e trabalhar no sentido de cumprir sua missão básica de representar, integrar e desenvolver os sindicatos e empresas do comércio. Este é o espírito com que celebramos esta data. E é também o sentimento com o qual apresentamos este livro. Ao percorrer estas páginas, o leitor perceberá não apenas o registro histórico das grandes realizações desta entidade, valorosa e vitoriosa, mas também esta qualidade definidora da Federação ao longo de sete décadas: a vontade determinada de realizar ações em benefício do comércio baiano. Chegamos aos 70 anos revigorados, com entusiasmo e confiança. Ao inventário do passado sobrepomos o objetivo de construir o futuro com ações concretas no presente. A ampliação da base sindical, a atualização do Plano Estratégico, a ênfase na interiorização do Sistema Fecomércio-BA com a implantação

Que estas páginas sejam uma homenagem a incontáveis gerações de comerciários e comerciantes que, ao longo dos séculos, contribuíram e vêm contribuindo para o desenvolvimento da sociedade.

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O presidente Carlos de Souza Andrade, da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia (Fecomércio-BA).

de novas unidades do Sesc e do Senac em municípios baianos, a criação de Câmaras Empresariais são alguns exemplos deste trabalho de modernização. Destacamos especialmente a nossa parceria com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), à qual a Fecomércio-BA é vinculada, e ao trabalho dinâmico e incansável dos nossos diretores, conselheiros, presidentes de sindicatos e colaboradores que compartilham os ideais aqui expressos. Que estas páginas sejam também, e sobretudo, uma entusiástica homenagem a incontáveis gerações de empresários do comércio que, ao longo dos séculos, contribuíram e vêm contribuindo, com grandes esforços e muitos sacrifícios, para o desenvolvimento da sociedade. Neles está representado o espírito ao qual nos referimos no início desta apresentação: pelo que realizaram e pelo que realizarão num futuro marcado por novas tecnologias e procedimentos na dimensão virtual do e-commerce.


Esperamos que a celebração destes 70 anos seja a afirmação, firme e inequívoca, de um lema que nos é muito caro: o de que uma Federação forte se faz com sindicatos fortes. E que a prosperidade seja alcançada pelo trabalho e pelo entendimento entre todas as partes que compõem o corpo desta instituição. Só assim pode-se torná-la efetivamente participativa. Quero finalmente prestar uma homenagem a todos os presidentes que me antecederam e que são aqui lembrados por suas realizações: Arthur Fraga, Orlando Moscozo, Deraldo Motta, Nelson Daiha e Carlos Amaral. Todos eles grandes empreendedores a cujo legado devemos o que há de melhor nesta septuagenária instituição. A história da Fecomércio-BA continua para além destas páginas, e é com os olhos direcionados para o futuro que concluo esta breve apresentação. Certo de que há muito ainda para se fazer. Carlos de Souza Andrade Presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia

Vista panorâmica da Av. Tancredo Neves e adjacências. À esquerda, o prédio da Casa do Comércio e o Salvador Shopping.





Introdução

Na plenitude dos 70 anos

C

ontar a história da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia (Fecomércio-BA) requer ter em mente um contexto mais amplo de homens e mulheres, comerciantes e comerciários, que vêm construindo uma civilização voltada para o progresso e para uma contribuição efetiva nos destinos do mundo.1 Homens e mulheres dispostos a aprender com os erros e recomeçar, a cada dia, o seu às vezes árduo ofício, com a mesma determinação dos que, ao longo dos últimos séculos, atravessaram terras e oceanos, fugindo de guerras, fome e revoluções para construir um novo mundo em terras brasileiras. E dos que, nascidos aqui, confrontaram a incerteza, a instabilidade, o atraso nos campos da economia pública, da política e das ideias para fazerem valer os seus negócios, e vê-los prosperar. Não poderia ser diferente. O comércio, na história da humanidade, ocupa lugar central como gerador de grandes realizações e empreendimentos, construindo uma cadeia sucessiva de elos que inclui desde a mais ínfima vendinha, na periferia do mais remoto povoado, até as grandes empresas multinacionais que determinam gostos, hábitos, ideais e pensamentos a milhões de pessoas. Contar a história de uma instituição é contar a história de pessoas; contar a história de pessoas é contar a história de grupos organizados, associações e sindicatos que nos levam a outras instituições, maiores: lojas, fábricas, indústrias, bancos. E que nos trazem, de volta, a pessoas. Aqui, especialmente, nos limites definidos por estas páginas, sobressaem-se de imediato as figuras de homens notáveis que presidiram e presidem esta valorosa instituição, desde a sua fundação, em 2 de maio de 1947, ocorrida durante o governo Otávio

O comércio, na história da humanidade, ocupa lugar central como gerador de grandes realizações e empreendimentos, construindo uma cadeia sucessiva de elos que inclui desde a mais ínfima vendinha, até as grandes empresas multinacionais.

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Mangabeira, num momento crucial de renovação da cultura e da economia no estado da Bahia. Dava-se, então, o pontapé inicial num jogo que se estende até o momento presente. Momento, aliás, em que se verifica o processo de atualização dessa entidade em uma nova era de informação e transparência, de novos mercados, reais e virtuais, marcados por uma economia criativa que exige novas estratégias, preparando-se para os grandes desafios deste, ainda novo, mas já surpreendente século XXI.2 Escrever a história da Fecomércio-BA implica, portanto, lançar alguma luz sobre o legado e as realizações dos seus presidentes: Arthur Fraga (1947-1954), Orlando Moscozo (1954-1956), Deraldo Motta (1956-1987), Nelson Daiha (1987-2002), Carlos Fernando Amaral (2002-2014) e do seu atual dirigente, Carlos de Souza Andrade. Mas também de importantes colaboradores (vice-presidentes, diretores, secretários, assessores, funcionários, conselheiros e dirigentes dos sindicatos que compõem o Sistema), alguns dos quais nos dão, através de valiosos depoimentos, as informações necessárias para buscar o fio que liga e dá sentido às realizações dessa entidade, que responde pelo desenvolvimento de um segmento fundamental da economia no estado, tendo como missão representar, integrar e desenvolver os sindicatos patronais e as empresas do comércio. Mas que, como poderemos constatar, ao longo deste livro, vai muito além disso. A Fecomércio-BA foi fundada em 2 de maio de 1947, com Carta de Reconhecimento pelo Ministério dos Negócios do Trabalho, Indústria e Comércio, de 9 de agosto do mesmo ano (ao lado). Na página seguinte, a Ata da Assembleia Geral de Fundação da Federação do Comércio do Estado da Bahia realizada em 2 de maio de 1947.

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Presidentes da Fecomércio-BA 1. Arthur Fraga 2. Orlando Moscozo 3. Deraldo Motta 4. Nelson Daiha 5. Carlos Fernando Amaral 6. Carlos de Souza Andrade

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1

DINES, Alberto. Prefácio. In: ZWEIG, Stefan. Brasil, país do futuro. Tradução de Kristina Michahelles. São Paulo: L&PM Editores, 2013. p. 7-9. (Coleção L&PM Pocket). Cabe, neste momento, lembrar a introdução daquele que, segundo a palavra abalizada do jornalista Alberto Dines, “[...] é o mais famoso de todos os textos que se escreveram sobre o Brasil”: o célebre ensaio Brasil, País do Futuro do eminente escritor alemão Stefan Zweig (18811942). Nela, Zweig revela sua primeira visão do Rio de Janeiro como uma das impressões mais poderosas que experimentou em toda a sua vida. E que, alguns dias mais tarde, o levaria à constatação de que estava diante de “Um país cuja importância para as próximas gerações é inimaginável até fazendo as combinações mais ousadas [...] Percebi que tinha lançado um olhar para o futuro de nosso mundo”, diz ele. (ZWEIG, 2013, p. 15).

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FEDERAÇÃO DO COMÉRCIO DE BENS, SERVIÇOS E TURISMO DO ESTADO DA BAHIIA. Ata da sessão da diretoria. Salvador, 17 set. 1947. Nesse documento, o presidente do Conselho Nacional do Comércio, João Daudt d´Oliveira, agradeceu “[...] a colaboração prestimosa da delegação bahiana para a solução satisfatória dos assuntos debatidos no Conselho de Representantes da Confederação de Comércio”. E é comunicado, na Ordem do Dia, que “[...] em sessão da Diretoria da Associação Comercial ficou acertada a instalação da Federação, do Senac e do Sesc no edifício da Associação, devendo ser oportunamente estabelecidas as condições de locação”. A ata, histórica, revela a atuação dinâmica e relevante, em âmbito nacional, dos comerciantes baianos, tendo como polo irradiador a bicentenária Associação Comercial da Bahia em cuja sede, na Praça da Inglaterra, funcionou a Federação do Comércio nos seus primeiros anos de existência.

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Linha do Tempo Fecomércio-BA 1947 - 2017 1947 1947 Fundação da Federação do Comércio do Estado da Bahia em 2 de maio de 1947. Em 20 de agosto do mesmo ano Arthur Fraga assume a presidência e Raul da Costa Lino a vice-presidência.

1950 1950 A refinaria de Mataripe começa a produzir gasolina extraída do petróleo baiano. 1952 Fundação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE). Em 1980 acrescentaria o S de social, tornando-se BNDES. 1954 Orlando Moscozo assume a presidência da Fecomércio-BA.

1956 Inauguração do Ginásio de Esportes Presidente Orlando Moscozo do Sesc.

1971 Inauguração do Centro de Formação Artesanal do Sesc, idealizado pelo artista plástico Sante Scaldaferri. 1972 Inauguração do restaurante do Sesc, no bairro do Comércio. A unidade dispõe atualmente de Posto de Orientação Social e Central de Atendimento.

1967 Fundação do Centro Industrial de Aratu, primeiro polo industrial do estado da Bahia. 1968 Criação do Centro de

1975 Inauguração do Shopping

1958 Mudança da sede para

1968 Criação da Colônia de Férias do Sesc, em Piatã, atual Centro de Lazer e Hospedagem – Sesc Piatã.

1958 Inauguração do Sesc Nazaré.

1970

1975 Criação do complexo Sesc-Senac no Pelourinho, contribuindo para a revitalização deste importante centro turístico.

Formação Profissional Arthur Fraga (Escola do Senac), no Aquidabã.

1948 Criada a Federação das Indústrias do Estado da Bahia, entidade parceira da Fecomércio-BA.

Marques, do Senac, na Rua Rui Barbosa.

é inaugurada a TV Itapoan, primeira emissora televisiva da Bahia. Pouco a pouco, ao longo da década de 60, com a gradativa popularização desse novo meio de comunicação, a TV passa a exercer uma forte influência na publicidade e na propaganda, possibilitando aos comerciantes a adoção de novas formas de divulgação dos seus produtos.

1956 Deraldo Motta assume a presidência da Fecomércio-BA.

o Edifício Nelson de Faria, no Comércio.

1948 É criada a Escola Silvino

1960 Em 19 de novembro

1965 É constituída a Federação da Agricultura da Bahia (FAEB), fechando, assim, o trio de representação dos principais setores produtivos na Bahia: o comércio, a indústria e a agricultura.

A Fecomércio-BA funcionaria até 1958 no andar térreo da Associação Comercial da Bahia, no bairro do Comércio.

1947 Otávio Mangabeira toma posse como governador da Bahia, iniciando um período de grandes transformações econômicas, culturais e sociais com forte impacto sobre vários segmentos do comércio.

1960

Iguatemi, no Caminho das Árvores. Início de uma revolução nos hábitos de consumo na Bahia.

1979 Efetivada a compra de dois lotes no Centro Empresarial Metropolitano, na região do antigo hipódromo, para construção da futura sede do Sistema Fecomércio-BA. O projeto foi entregue ao escritório baiano TGF, integrado pelos arquitetos Jader Tavares, Oton Gomes e Fernando Frank.


1980 1985 Decretado pelo Presidente José Sarney, no dia 1º de maio, o Plano Cruzado, em mais uma tentativa frustrada de conter a inflação através do congelamento dos preços.

1990 1992 Inauguração do restaurante Sesc Centro, na Rua Rui Barbosa (Centro), numa área de grande concentração de comerciários.

2000 2000 A Federação do Comércio do Estado da Bahia é rebatizada como Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia. 2001 Criado o OdontoSesc,

1985 Realizada a primeira cerimônia de entrega do título de Comerciante do Ano. 1987 Nelson Daiha assume a presidência, iniciando uma fase importante de fortalecimento dos sindicatos filiados à Fecomércio-BA e o processo de interiorização do Sistema.

1988 Inauguração da Casa do Comércio Deraldo Motta na Avenida Tancredo Neves, no bairro do Caminho das Árvores. A mudança marca o processo de descentralização do comércio de Salvador, até então concentrado em áreas centrais do Centro Histórico e adjacências.

unidade móvel montada em uma carreta que leva assistência odontológica às comunidades de baixa renda.

2010 2011 Criada a Câmara Empresarial de Turismo da Bahia para maximizar a representatividade da Federação no turismo. 2013 Inaugurações do Grande Hotel Sesc Itaparica, Sesc Barreiras e Senac Rua Chile, em Salvador. 2014 Carlos de Souza Andrade assume a presidência.

1994 O Ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, decreta o Plano Real, obtendo pleno sucesso no combate à hiperinflação. 1994 Inauguração do Sesc Rua Chile - Centro de Convivência da Terceira Idade. Prioriza o atendimento ao idoso, proporcionando-lhe serviços e atividades com uma programação diversificada nas áreas de saúde, cultura, lazer, educação e assistência. 1996 Início do processo de interiorização do Sistema com a instalação de unidades Sesc e Senac em Vitória da Conquista, no sudoeste baiano.

2002 Carlos Amaral assume a presidência.

2014 Reinauguração da Escola Sesc como Escola Sesc Nazaré – Zilda Arns, no bairro da Saúde. 2014/2015 Criadas as Câmaras do Jovem Empresário, Mulher Empresária e Empresários em Shopping Centers.

2003 Lançamento do Mesa Brasil Sesc na Bahia.

2016 É realizado o movimento “Por um Comércio mais forte”, em parceria com a ACB, FCDL e CDL Salvador.

2006 Inauguração do Museu da Gastronomia Baiana do Senac, o primeiro do gênero na América Latina.

1999 Criado o Senac Móvel, unidade montada em uma carreta para oferecer cursos por toda a Bahia.

2016 É realizada a primeira missa campal na Casa do Comércio, celebrada pelo Arcebispo Primaz do Brasil.





Capítulo I

A saga do comércio na Bahia

A

s caravelas que aportaram na Terra Brasilis, no início do século XVI, vieram através do oceano Atlântico impulsionadas por grandes e poderosos interesses econômicos. Em linguagem figurada, pode-se dizer que aqui chegaram trazidas pelos “ventos” do comércio, que sopravam fortemente nos quatro cantos do mundo conhecido de então, impulsionando sonhos e delírios de riqueza. Iniciava-se o primeiro processo transoceânico de globalização. Os caminhos do mar tinham sido abertos, e, à frente deles, sempre havia uma promessa de riqueza: prata, ouro, bacalhau, algodão, animais exóticos, especiarias, madeiras, dentre as quais o pau brasil. E, claro, a própria terra. No caso específico da Terra Brasilis, decorreram-se alguns anos até que o rei de Portugal enviasse representantes da Coroa com o objetivo manifesto de proteger a terra contra ataques de outras nações e explorar o que ela pudesse oferecer que interessasse ao comércio europeu. Já havia um sem número de aventureiros espalhados, ao longo do litoral brasileiro, misturados com os índios, ou os combatendo, mas a primeira tentativa efetiva de ocupação só se verificaria com a vinda do fidalgo Francisco Pereira Coutinho, em 1536. Primeiro donatário da Capitania Hereditária da Baía de Todos-os-Santos, Coutinho estabeleceu-se, com seus familiares, nas proximidades da enseada da Barra e logo ordenou a construção das casas que formariam a Vila do Pereira, mais tarde denominada Vila Velha. Construiu dois engenhos. Plantou algodão e cana. Formou o povoado que seria posteriormente sitiado pelos

Os ventos do comércio impulsionaram todo o processo de colonização no Brasil. A promessa de grandes riquezas era o elemento determinante para a ocupação da terra e sua exploração. Fundar uma cidade seria o passo decisivo para garantir os interesses da Coroa portuguesa.

Nas páginas anteriores, a Rua Portugal, no passado, forte centro comercial do varejo em Salvador. Ao lado, Rua Conselheiro Dantas, ambas na Cidade Baixa em Salvador.

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O arraial fortificado de Thomé de Souza expandiu-se, ao longo dos séculos, em torno do Forte de Santo Antônio da Barra, em cujo interior foi construído, em 1668, o farol que viria a tornar-se uma das principais atrações turísticas de Salvador. Abaixo, uma vista das cercanias do farol, local onde se constituiria um balneário e, mais tarde, um bairro nobre de Salvador.

índios e saqueado pelos franceses. E, no seu devido tempo, foi morto e devorado pelos tupinambás, após um naufrágio na Ilha de Itaparica. Era preciso defender a integridade do “território lusitano”. Razão pela qual se deu, em 1549, sob as ordens do Rei de Portugal, a fundação da Cidade do Salvador, agora sob o comando do fidalgo Thomé de Souza, na condição de capitão-governador da Bahia de Todos-os-Santos. Se a primeira e frustrada tentativa de ocupação portuguesa às Terras do Brasil ocorrera entre o Porto e o Farol da Barra atuais, área próxima ao mar e vulnerável aos ataques inimigos, a fundação da cidade, que seria a sede do Governo português, deveria obedecer a um “plano piloto” em que a segurança era fator primordial e decisivo. Formou-se, em pouco tempo, o arraial fortificado de Thomé de Souza, ao qual se juntaram a Casa dos Contos, a Casa de Câmara, os armazéns, as oficinas, a Alfândega e o Palácio do Governo. Iniciava-se ali, na área que mais tarde seria o maior porto exportador do hemisfério sul, o principal centro comercial da Bahia e do Brasil. No entanto, foram necessários dois séculos para que Salvador passasse da condição de arraial à de uma imponente cidade senhorial, curiosamente dividida em duas. No alto da encosta, tendo a leste as águas da Baía de Todos-os-Santos, um pântano a oeste e duas portas ao norte e ao sul, local denominado mais


tarde de Cidade Alta, onde foram construídos o núcleo administrativo e as residências das elites agrárias, e, mais tarde, industriais da Bahia. Na parte baixa, à beira mar, pequenas casas e toscos armazéns pareciam anunciar a vocação comercial dessa área. Aí se multiplicariam, posteriormente, trapiches, armazéns e residências que marcaram o desenvolvimento comercial. Uma cerca de pau a pique e alguns baluartes contornavam esse nascente aglomerado. Nos dois séculos seguintes, muitas águas rolariam desde que Coutinho teve sua Vila saqueada pelos índios. Um período econômico inteiro, da cana de açúcar, alcançaria o seu apogeu e declinaria. Outro, do ouro, se cumpriria nos sertões brutos de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. Grande parte das nações indígenas já havia sido exterminada ou expulsa para o interior do país. Legiões de negros de diversas etnias, trazidos da África, escravizados, misturaram-se com os colonizadores brancos e com os índios formando a miscigenada e multiforme nação brasileira. Muito diferente, portanto, era o cenário urbano de Salvador, no final do século XVIII e o início do século XIX.

A Alfândega era instrumento essencial para o controle da chegada e saída de mercadorias na Baía de Todos-os-Santos, num tempo em que predominava o comércio marítimo e fluvial.

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Feiras livres A presença maciça de negros escravos na paisagem urbana de Salvador era uma realidade em meados do século XVIII. Eram eles, agora, que mercavam produtos diversos, como ambulantes, percorrendo a pé os becos, ladeiras e ruas tortuosas da província, ou nas feiras livres também chamadas “quitandas”, conforme registra Antonio Risério1 em Uma História da Cidade da Bahia: “Que se pense, ainda, no caso das ‘feiras livres’, por exemplo – naquela época, chamadas ‘quitandas’, uma expressão banto. Havia a quitanda da Praia, a quitanda do Terreiro de Jesus, a quitanda das Portas de São Bento. Nelas, mulheres negras vendiam peixe, toucinho, carne de baleia, hortaliças, etc. Era para tais quitandas que o povo se encaminhava, quando ia comprar o de-comer.” Risério remete a Vilhena2 a primeira referência documentada a respeito do que hoje chamamos “cozinha baiana”, também associada à população escrava.

As feiras livres acompanhariam o processo de crescimento de vilas e povoados no interior do Estado. Na foto, o registro de uma dessas formas típicas de mercado em Alagoinhas, Bahia.

“Naquela época, século XVIII, essas comidas circulavam pelas ruas, becos e praças, levadas por vendedores ambulantes, negros. E eram uma fonte de renda dos ricos, não dos pobres. ‘Não deixa de ser digno de reparo o ver que das casas mais opulentas desta cidade, onde andam os contratos, e negociações de maior porte, saem oito, dez, e mais negros a vender pelas ruas a pregão as cousas mais insignificantes, e vis’, informa Vilhena.


Explicitando o ‘catálogo das viandas tediosas’, nosso cronista apresenta o seguinte rol: mocotó, caruru, vatapá, mingau, pamonha, canjica, acaçá, acarajé, bobó, arroz-de-coco, feijão-de-leite, pão-de-ló, rolete de cana, queimado e ‘doces de infinitas qualidades’. Por fim, refere-se ele a uma ‘água suja’, chamada aluá, ‘que faz vezes de limonada para os negros’ ”.3 O comércio fixo de primeira necessidade, no varejo, consolidou-se, no decorrer dos séculos, na forma de “vendas” ou “vendinhas”, armazéns de secos e molhados e mercearias que se disseminaram em todo o território brasileiro até os mais distantes rincões. Caracterizavam-se, sobretudo no nordeste e centro-oeste do País, pela utilização de uma balança no balcão, usada para pesar diversos gêneros alimentícios, a exemplo do milho, da farinha, do arroz e do feijão, vendidos a granel e acondicionados em recipientes de caixas, latas ou vidros. O fato é que o ambiente selvagem de fortificações, batalhas, flechas e arcabuzes dos primeiros anos da colonização, na área

Formada nos anos 40, próximo ao Porto de Salvador, a feira de Água de Meninos enfrentaria grandes resistências para sua implantação. Após o incêndio, ocorrido em 1964, foi transferida para São Joaquim, área localizada no mesmo bairro do Comércio, consolidando-se como a maior feira livre de Salvador.

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Área original de formação do comércio, em Salvador, a Conceição da Praia reunia grande número de pessoas em função da troca e venda de mercadorias.

original de fundação da cidade de Salvador, dera lugar a uma movimentada área mercantil. A freguesia da Conceição da Praia, de acordo com a historiadora Consuelo Novais Sampaio,4 em seu excelente 50 anos de Urbanização – Salvador da Bahia no Século XIX , era então um lugar onde, “[...] estavam representadas todas as camadas sociais, desde os mais distintos negociantes até os mais rebeldes escravos e toda sorte de marginalizados da sociedade. Devido a sua localização privilegiada – separada do palácio do Governo apenas pela encosta da montanha e ligada ao mar pelo cais de desembarque –, atraiu grandes e pequenos comerciantes, nacionais e estrangeiros, assim como havia atraído Thomé de Souza, que ali mandara erguer a primitiva igreja de Nossa Senhora da Conceição, de taipa. No mesmo lugar foi edificado depois, todo de mármore, o belo templo que lá se encontra, inaugurado em 1765 e que domina a área, dando a ela o seu nome.”

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Novais chama a atenção para o fato de que “A freguesia da Conceição também acolheu mulheres que tinham seus próprios negócios: costureiras, quitandeiras, fateiras etc., [...] Na estreita faixa de terra que separava a montanha do mar, haviam-se erguido casas de negócios e sobrados de até quatro andares. Esses sobrados abrigavam, ao rés-do-chão, bem à vista dos passantes, os produtos para venda: a família alojava-se nos andares superiores, cabendo aos empregados e escravos o último piso”.5 O comércio continuava sendo a grande força propulsora da cidade, e sua expansão exigia a abertura de mais espaços que o existente na estreita faixa de terra localizada entre a encosta da Cidade Alta e o cais do porto. Daí a necessidade de alargá-la por meio de sucessivas etapas de aterros, avançando sobre o mar e que culminaria, em 1912, com a grande obra de ampliação do Porto de Salvador. Em consequência disso, e do crescente movimento portuário, tornava-se necessária a construção de trapiches – armazéns que serviam como apoio nas atividades comerciais marítimas –, em sua maioria pouco higiênicos e suscetíveis a incêndios.

Nos séculos XVII e XVIII, a compra e venda de produtos de primeira necessidade já configuravam um comércio com características próprias. A população negra escrava imprimia uma marca singular na forma dos alimentos e do que, mais tarde, seria a culinária baiana.


Consuelo Novais6 descreve, de forma vívida, uma cena cotidiana no bairro do Comércio, no século XIX. “Movimento constante de barcos, gentes, animais, rodas, cores – esta é a imagem da cidade do Salvador, na segunda metade do século XIX. As águas calmas, azul profundo, da Baía de Todos-os-Santos, riscadas por longas espirais de brancas espumas, abrem-se em leque, como a chamar navios de longo curso que, com suas bandeiras de cores variadas, aproximam-se da área portuária. As alvarengas – tipo grande de escaler movido a remo –, em agitação frenética, por vezes chocam-se umas contra as outras, carregando e descarregando mercadorias de grandes navios, até as precárias pontes de madeira dos muito trapiches que se alinham na borda da área comercial. Vapores de menor porte fazem a navegação de cabotagem, transportando passageiros e mercadorias.” A cena revela um quadro dinâmico das trocas comerciais em que o transporte marítimo e fluvial desempenha um papel decisivo. Saveiros descarregando mercadorias diversas na zona portuária de Salvador.

“Marujos e oficiais de navios estrangeiros e nacionais enchem as ruas da Cidade, em algazarra constante. Grandes e pequenos comerciantes andam apressados para realizar altos negócios;


vendedores ambulantes, negros ou mulatos, escravos ou não, transportam pesados volumes, sustentando-os nos ombros ou na cabeça”.7 Grande era também o fluxo de mercadorias, parte delas transportadas em saveiros que “enxameavam” a Baía de Todos-os-Santos com suas velas brancas, em todas as direções possíveis e imagináveis. Um intenso comércio que se estenderia até meados do século XX, entre Salvador e pequenas cidades e povoados, tais como, Itaparica, São Francisco do Conde, Nagé, Cachoeira, São Félix, Jaguaripe, Maragogipinho, Nazaré das Farinhas e Santo Amaro da Purificação. Ou ainda, barra-fora, em Itapoã, Camamu, Valença, Boipeba e Morro de São Paulo. Vale lembrar que até 1873,8 Salvador ainda era o porto mais movimentado do país. A partir dali, entretanto, começaria a perder a liderança para o centro-sul cafeeiro, dando início à decadência econômica que se estenderia até meados do século XX. Iniciava-se, naquele momento histórico, uma reconfiguração das relações políticas e econômicas de poder em que as regiões

Inaugurado em 1879, o Mercado do Ouro foi uma das mais ativas “praças de mercado” de Salvador. O antigo “Cais Dourado” reunia numerosas embarcações que descarregavam mercadorias oriundas de diversas regiões do estado.

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Vista do Plano Inclinado Gonçalves que foi, durante muitos anos, um dos principais meios de ligação entre a Cidade Alta e a Cidade Baixa em Salvador.

do norte e nordeste do Brasil receberiam a pesada herança de atraso e subdesenvolvimento que persiste até os dias atuais, como nos lembra Consuelo Novais:9 “Ainda em processo de consolidação em meados do século XIX, as discrepâncias regionais acentuaram a subordinação da Província ao capital estrangeiro, oficialmente decretada com a abertura dos portos do Brasil ao comércio internacional em 1808. A partir dessa data, alargaram-se as vias de penetração desse capital, sobretudo do inglês, que dominou o País de modo absoluto ao longo desse período. A construção de estradas de ferro, de portos, companhias de seguro e navegação, serviços urbanos básicos, sempre com o objetivo maior de facilitar o comércio de exportação, foram os principais meios de penetração do capital inglês e estrangeiro de modo geral, beneficiando mais a retirada de lucros do que a população do País.” Deve-se ressaltar a figura ímpar de José da Silva Lisboa, o Visconde de Cairu (1756-1835), cujas ideias, inspiradas na obra

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magna de Adam Smith, A Riqueza das Nações, tornar-se-iam a principal referência na aplicação das aspirações do livre comércio, adequando-as à sociedade escravista. Exerceria também influência decisiva, como Conselheiro do Príncipe Regente, na assinatura, por Dom João VI, da Carta Régia de 28 de janeiro de 1808, que resultaria na abertura dos portos brasileiros às “nações amigas”. E, não menos importante, pelo estímulo dado ao desenvolvimento da indústria e manufaturas no Brasil.10 A despeito da crise, verificava-se, a partir desse momento, um processo gradual de mudança na configuração urbana da Capital. Em meados do século começaram a operar os primeiros bondes,11 e, em 1873, o primeiro elevador hidráulico da Bahia, o da Conceição, mais tarde denominado Elevador Lacerda, ligando a Cidade Baixa à Cidade Alta. O historiador Cid Teixeira refere-se a outros mecanismos – os “Guindastes” – utilizados desde os tempos iniciais da colônia, como forma de ligação entre as duas partes da Cidade, e que evoluíram para os Planos Inclinados, dentre eles, o mais famoso e duradouro, Plano Inclinado Gonçalves, cuja inauguração remete ao ano de 1874.

José da Silva Lisboa, o Visconde de Cairu (1756-1835), teve papel de grande relevância no processo de modernização econômica do Brasil, com efeitos marcantes no desenvolvimento da indústria e do comércio.


O incipiente processo de industrialização, ocorrido na segunda metade do século XIX, transformava lentamente a paisagem urbana de Salvador. Aos poucos, uma nova cidade surgia com a luz elétrica e os bondes.

“Desde os tempos iniciais da colônia que algumas iniciativas foram tomadas no sentido de facilitar a ligação entre os dois planos topográficos em que, por opção do fundador Tomé de Souza, se divide a Cidade do Salvador. Primeiro, foi o Guindaste dos Padres Jesuítas que, de reforma em reforma, chegou – passando pelo tempo em que foi o Chariot, por seu equipamento vindo da França – ao atual Plano Inclinado Gonçalves. Depois, tivemos o Guindaste do Carmo que, transformado e eletrificado, veio a ser o Plano Inclinado Pilar, hoje, infelizmente, arruinado. De existência curta e sem vestígios atuais, tivemos o Guindaste dos Tirésios (entre o fundo do atual Museu de Arte Sacra e a Praia da Preguiça) e o Guindaste da Praça, com a parte alta bem junto à Casa dos Governadores, descendo até a Rua da Conceição da Praia. De elevadores, conhecemos o do Taboão, já da fase da energia elétrica e o Elevador da Conceição, a que esta cidade, em reconhecimento ao seu idealizador e construtor, deu o nome de Elevador Lacerda.”12 Pouco a pouco, uma Bahia mecanizada, de transporte urbano, coletivo, substituía a Bahia do transporte de tração animal, e humano, dos “[...] pés negros que faziam a cidade se movimentar”, conforme a arguta definição de Consuelo Novais. O esgotamento da tração animal “[...] abriu caminho para a energia elétrica que, em Salvador, chegou primeiro aos bondes, em 1897, tendo de esperar pelo menos três anos para iluminar ruas e repartições públicas e, em seguida, residências.”13 Com a utilização da energia elétrica nos transportes coletivos e na iluminação pública, Salvador ganhava, pouco a pouco, a feição de uma cidade moderna em consonância com os centros mais desenvolvidos da Europa e dos Estados Unidos. A era do automóvel daria seus primeiros passos, na passagem do século XIX para o século XX, quando intervenções urbanas de grande monta, como as que foram feitas durante o governo de J. J. Seabra, (1912-1916), colocariam abaixo antigos casarões, abrindo ruas e construindo novas avenidas para a passagem de carros, bondes, ônibus e caminhões.

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Grandes iniciativas Dava-se, naquele momento, o primeiro impulso industrial com a nascente indústria têxtil que se impunha no vazio deixado na economia baiana pela decadência dos engenhos. Fábricas de fiação e tecelagem se instalaram em cidades como Valença, Nazaré e Salvador. Destaca-se, nesse contexto, a figura notável de Luís Tarquínio (1844-1903), “[...] pioneiro das tentativas de industrialização da Bahia nas décadas finais do século XIX e inícios do século XX”, na abalizada concepção do historiador Luís Henrique Dias Tavares.14

Praça na Villa Operária Luiz Tarquínio: pioneira na formação de uma indústria têxtil, na Bahia, foi também a mais duradoura, funcionando de 1891 até 1973.

“A Bahia de 1850 possuía fábricas de tecidos, mas eram poucas e de tecnologia ultrapassada. Sócio de Bruderer e Cia., Luís Tarquínio tinha o suficiente para ser mais um rico comerciante da Bahia. Inimigo, porém, do sistema de trabalho escravo dominante no Brasil, lutou por sua extinção, chegando a apresentar um plano para o seu fim em tempo rápido. Ele bem sabia que a industrialização exigia operários pagos para o trabalho que realizavam. Em viagens à Inglaterra, aprendeu o que era indústria , muito especialmente a de tecidos. E desejou fundar uma fábrica têxtil na

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Fundada em 15 de julho de 1811, a Associação Comercial da Bahia é a primeira entidade de classe das Américas e um dos mais belos patrimônios arquitetônicos do Brasil. Uma joia plantada na área comercial de Salvador.

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Bahia. Veio a ser a Empório Industrial do Norte, construída na Boa Viagem, local aprazível da parte baixa de Salvador.”15 Fundada em 4 de março de 1891, a Companhia Empório Industrial do Norte, considerada a primeira vila operária do país, foi, dentre outras tantas iniciativas industriais surgidas nos anos 1890, motivada pela atuação de Ruy Barbosa como Ministro da Fazenda do governo de Deodoro da Fonseca (1889-1891), a única que ultrapassou a metade do século XX, sendo finalmente extinta em 1973. Algumas mudanças, verificadas na área comercial, já haviam acontecido desde o início do século XIX. A principal delas, talvez, tenha sido a percepção de que faltava aos comerciantes locais o espírito associativo, fundamental para a criação de uma entidade que os congregasse e defendesse os interesses comuns da classe. Tomando como referência a Praça do Comércio de Lisboa, chegaria-se, finalmente, à proposta de criação de uma Praça do Comércio da Bahia.16


Partiu de Dom Marcos de Noronha e Brito, VIII Conde dos Arcos e último vice-rei do Brasil, em 12 de abril de 1811, por meio de carta endereçada ao Príncipe Regente Dom João VI, a proposta de construção dessa Praça do Comércio, que, mais tarde, levaria o nome de Associação Comercial da Bahia. A proposta viria ao encontro do anseio do próprio Príncipe, que a acolheu de pronto e determinou a criação da entidade por meio de Carta Régia, datada de 10 de maio e dirigida ao solicitante. Nela, determina a “[...] construção do edifício que destina para a Praça do Commercio, no terreno que sobeja do serviço das Peças da Bateria de São Fernando, o que deve naturalmente ser de grande utilidade ao Commercio dessa Praça”.17 Foi assim, então, fundada a Associação Comercial da Bahia, em 15 de julho de 1811, atendendo à aspiração dos comerciantes de terem um lugar apropriado para se reunirem regularmente e realizarem seus negócios. Constituiu-se uma Junta de Administração dos fundos a serem arrecadados, levantado os recursos

O desenvolvimento do espírito associativo entre representantes do comércio foi um passo decisivo para o fortalecimento da classe e uma forma eficaz de superar as sucessivas crises econômicas verificadas no País.

Palácio da Associação Comercial visto do mar. O aterramento da área, em 1905, distanciaria bastante o prédio da área portuária.


necessários para dar início à construção. Waldemar Mattos relata que, em 5 de agosto teve começo, então,

A Farmácia Humanitária funcionava na rua das Portas do Carmo, no Largo do Terreiro, próxima à Faculdade de Medicina da Bahia. Na foto ao lado, no bairro do Comércio, a grande Drogaria América, de Manoel Seraphim Carneiro & Co.

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“[...] a demolição das baterias do Forte de S. Fernando e imediata construção do edifício. Formaram, naquele dia, ‘os batalhões da guarnição que deram as descargas da ordenança’. Navios de guerra, ancorados no porto, ‘salvaram em demonstração de rigosijo, durante todo o dia’. À noite, um ‘esplêndido baile oferecido ao governador’, encerrou as comemorações do início da construção do ‘mais belo edifício histórico que possuímos’, segundo algumas opiniões.” 18 O imponente Palácio, inaugurado em 28 de janeiro de 1817, com luxo e pompa, tornou-se uma “jóia da coroa” na tradicional área do Comércio, belíssimo exemplar da arquitetura colonial que mereceria elogios de visitantes ilustres, como


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O bairro do Comércio abrigava, desde o final do século XIX, um grande número de drogarias. Dentre elas a farmácia Galdino e que permanece, hoje, como a mais longeva e tradicional do ramo no estado da Bahia. Acima, postal divulgando os efervescentes de Sães Carlsbad Evans, cura para o fígado e o reumatismo.

Louis-François Tollenare, Spix e Martius, Domingos Rebelo, Kidder e Fletcher e o rei da Bulgária e ex-czar Fernando Maximiliano Carlos Leopoldo Maria de Saxe-Coburgo-Gota. Desde sua criação, a Associação Comercial da Bahia teve importante participação em acontecimentos marcantes da história da Bahia e do Brasil, inclusive abrigando em sua sede outras instituições, como faria, em 1947, com a então recém-fundada Federação do Comércio do Estado da Bahia, como veremos no próximo capítulo.

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Naquele momento de transição de sua história, ao se aproximar a passagem para o século XX, o comércio era a principal atividade econômica da Bahia, especialmente na Capital. Os comerciantes mais destacados eram ainda os exportadores, mas já ocorria um crescimento progressivo de lojas e casas comerciais, em geral, não somente na tradicional área do Comércio, na Cidade Baixa, como também em pontos específicos da Cidade Alta. A Rua Direita do Palácio, existente desde 1549, seria rebatizada, em 25 de julho de 1902, como Rua Chile, em homenagem à passagem da marinha chilena, na época uma das mais importantes esquadras do mundo. Ali se estabeleceria, ao longo do século XX, o centro comercial mais conceituado da cidade, estendendo-se para áreas adjacentes, como a Avenida Sete, a Rua da Ajuda, o Terreiro de Jesus e o Pelourinho. Com construções mais sólidas e higiênicas, as casas comerciais obtinham nome e prestígio, adotando muitas vezes os nomes de seus proprietários que funcionavam como marcas de reconhecimento e credibilidade. Organizados em associações,

A diversidade era, desde o final do século XIX, uma característica do comércio, em Salvador. A lenta, mas contínua, expansão da cidade já demandava um investimento crescente na compra, venda e construção de imóveis, além do natural crescimento de casas comerciais.


os comerciantes varejistas sairiam do século XIX para entrar no século XX, com muito maior poder político, diminuindo – ou mesmo anulando – a distância em relação aos grandes nomes da indústria. Indústria e comércio tornavam-se palavras indissociáveis no, muitas vezes, acidentado, mas sempre continuado, caminho para o progresso. Na Praça da Sé, lojas tradicionais resistem como opção para o consumidor, a exemplo da Primavera que comercializa instrumentos musicais desde 1876.

Notas RISÉRIO, Antonio. Uma história da cidade da Bahia. Rio de Janeiro: Versal Editores, 2000. p. 169. 2 Luís dos Santos Vilhena (1744-1814), português, professor de grego na Bahia entre 1787 e 1799, é autor de cartas de grande valor histórico, nas quais registra informações sobre a Bahia e outras regiões do Brasil no século XVIII. 3 RISÉRIO, op. cit., p. 169. 4 SAMPAIO, Consuelo Novais. 50 anos de urbanização: Salvador da Bahia no século XIX. Prêmio Clarival do Prado Valladares. Rio de Janeiro: Versal, 2005. p. 29. 5 Ibid., p. 29. 6 Ibid., p. 17. 7 Ibid., p. 17. 8 Ibid., p. 18. Em 1873 aconteceria uma crise aguda do sistema capitalista, referida pelos historiadores como “a grande depressão”, e que, conforme a autora, “[...] coincide com a perda de influência política da Bahia no contexto nacional”. 1


SAMPAIO, Consuelo Novais. 50 anos de urbanização: Salvador da Bahia no século XIX. Prêmio Clarival do Prado Valladares. Rio de Janeiro: Versal, 2005. p. 19. 10 O Visconde de Cairu exerceu, em 1797, o cargo de Deputado e Secretário da Mesa de Inspeção da Agricultura e Comércio da Bahia, tornando-se um dos primeiros e mais importantes promotores do comércio em Salvador. Foi também autor de obras importantes, a exemplo do Direito Mercantil e Leis da Marinha, em oito volumes, que serviria como Código Comercial durante muitos anos. Não por acaso, o seu nome é dado à principal praça do tradicional bairro do Comércio, em Salvador, onde ficam o Elevador Lacerda e o Mercado Modelo. 11 Inicialmente funcionaram bondes de tração animal, que seriam substituídos por bondes em trilhos. A partir de 1897, bondes elétricos transitavam pela cidade. A primeira linha eletrificada foi feita entre a Calçada e o Bonfim. 12 TEIXEIRA, Cid. O Comércio na Bahia. Exposição ilustrada realizada na Bovespa. Salvador: Solisluna, 2002. 13 SAMPAIO, op. cit., p. 21. 14 TAVARES, Luís Henrique Dias. História da Bahia. 10. ed. São Paulo: Editora Unesp; Salvador: Edufba, 2001. p. 413. 15 Ibid., p. 413-414. 16 MATTOS, Waldemar. Palácio da Associação Cultural da Bahia (antiga Praça do Comércio). Salvador: Associação Comercial da Bahia, 1950. p. 12-13. Neste livro, o autor cita o seguinte trecho de documento escrito pelo Desembargador João Rodrigues de Brito, em 1807, sobre a necessidade de uma Praça do Comércio na Bahia: “Também facilita as communicações e transacções mercantis reunindo os Commerciantes na hora assignalada em hum único ponto, onde o Lavrador apparecendo com as listas dos seus generos, acha quasi todos os compradores em face huns dos outros, cuja presença os obriga logo a prommetter os justos preços, em que não pode facilmente ser enganado estando instruido delles pelas folhas mercantis, que na mesma praça se distribuem. Ella contribue muito para a diffusão das luzes commerciaes e para a moralidade dos Negociantes, que receando verem-se arguidos publicamente perante seus Collegas da falta de pontual cumprimento das suas obrigações, e quebrar por isso alguma parte do seu credito, são mais exactos em seus pagamentos, e mais circumspectos em suas promessas.” 17 Ibid., p. 18. O autor transcreve a Carta Regia, com referência, em nota de rodapé, a texto de J. Caetano Tourinho, intitulado “Associação Comercial da Bahia” e publicado no Jornal de Notícias em 17/7/1911. 18 Ibid., p. 20. Neste trecho, a obra “A Bahia de Outrora” (1922, p. 240) e a reportagem publicada no jornal A Tarde de 5/8/1941, de Manoel Querino, são tomadas como referência, nas citações. 9

Folhetos, distribuídos para a população, consistiam em um recurso primário, mas eficiente, de propaganda dos mais diversos produtos que chegavam ao mercado.





Capítulo II

Fecomércio-BA: uma nova fase na história da Bahia

E

m sua monumental estrutura de concreto, aço e vidro a sede do Sistema Fecomércio-BA se impõe, em pleno coração financeiro de Salvador, como expressão maior de um legado simbólico: o do trabalho contínuo e persistente de incontáveis gerações de comerciantes, comerciários e sindicalistas de um setor vital da economia que aqui se implantou com a fundação da cidade do Salvador, no século XVI. Setor que se consolidou, não sem grandes sacrifícios, ao longo dos últimos quinhentos anos, nas promissoras terras do novo mundo, florescendo sob toda sorte de desafios e dificuldades. E que hoje se vê compelido a repensar seus métodos e processos em função de novos paradigmas e exigências tecnológicas. O surpreendente edifício, idealizado pelos arquitetos Jáder Tavares, Fernando Frank e Otto Gomes, nos últimos anos da presidência de Deraldo Motta, compõe um belo aglomerado de formas retangulares intensificado pelo vermelho forte de suas vigas de aço. Conjunto que dialoga, harmonicamente, com os tons negros de suas janelas de vidro e o verde espraiado em belos jardins suspensos, no gramado e nos arbustos floridos ao lado de sua principal entrada. A Casa do Comércio ainda ostenta, em sua lateral, uma obra de arte, de 16 metros de altura, “Sinal da Cruz”, de Mário Cravo Júnior. Oásis de extrema ousadia e refinado bom gosto, em volta do qual se agita a vertiginosa metrópole soteropolitana do século XXI, a Casa do Comércio descortina, do alto dos seus 11 andares, através das janelas do seu bar-restaurante, uma paisagem impensável há apenas trinta anos, quando ali foram lançados

A imponência da sede da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia faz um contraponto harmônico com a área residencial do Caminho das Árvores. Exemplo de conciliação do desenvolvimento econômico com qualidade de vida.

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Momento inicial de construção da Casa do Comércio Deraldo Motta, sede da Fecomércio-BA. O crescimento de Salvador em direção à Avenida Paralela e ao litoral norte do estado era ainda uma promessa que se cumpriria com grande impulso nas décadas seguintes.

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seus fundamentos. A construção, singularíssima, tornou-se uma das grandes referências arquitetônicas de Salvador, ao lado de monumentos tão diversos como o Elevador Lacerda, o Mercado Modelo, o Farol da Barra, a Igreja do Bonfim e a Associação Comercial da Bahia, acrescentando mais um estilo arquitetônico inovador à miscelânea de edificações coloniais, neoclássicas, art déco e militares portuguesas que convivem harmoniosamente na paisagem soteropolitana. Mais um cartão postal de Salvador que atrai, não somente os cliques das máquinas dos turistas, como a atenção de arquitetos de vários países, obtendo diversos prêmios internacionais. Em 1988, ano de sua inauguração, naquela área não existiam muito mais que longas extensões de dunas povoadas por orquídeas, bromélias, cajueiros e mangabeiras, além de córregos e lagoas frequentadas por diversas espécies de aves, répteis e mamíferos. Contavam-se nos dedos de uma mão os empreendimentos pioneiros que já estavam naquela área e que hoje ainda persistem entre dezenas de escritórios, restaurantes, quadras de tênis, espigões, bancos, viadutos, estacionamentos, passarelas e postos de gasolina, disputando o valorizadíssimo espaço da


Avenida Tancredo Neves e adjacências: o Shopping Iguatemi, atual Shopping da Bahia, o jornal A Tarde, a sede da construtora Odebrecht, o supermercado Paes Mendonça, atual Hiper Bompreço, e o Terminal Rodoviário de Salvador. Seguiam a tendência de crescimento da cidade em direção norte, iniciada com a implantação, na década de 1970, da Avenida Luís Viana Filho (Paralela) e do Centro Administrativo da Bahia. No vertiginoso vaivém de carros, pedestres, ônibus e caminhões, a recém-criada linha do metrô corta ao meio o entrecruzamento de rodovias e viadutos, ligando a região do Iguatemi a lugares tão díspares como a Estação da Lapa e o bairro de Bom Juá, expandindo-se em direção ao Aeroporto Internacional Luis Eduardo Magalhães. Pode-se dizer, com razoável grau de certeza, que, mesmo nas mentes mais visionárias dos grandes empreendedores, a cena que se desenrola nesta já consolidada área de expansão da cidade, surpreende e fascina por sua extraordinária vitalidade.

A Avenida Tancredo Neves consolidou-se, na passagem do século XX para o século XXI, como principal centro comercial de Salvador, concentrando bancos, lojas, dois grandes shoppings e diversos empreendimentos.

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Para todos os que estiveram à frente da Federação, quando esta funcionava ainda numa sala da Associação Comercial e, posteriormente, no Edifício Nelson de Faria, no tradicional bairro do Comércio, a Avenida Tancredo Neves se apresentaria, hoje, como uma realidade improvável, além de todas as expectativas. E uma prova incontestável do acerto dos que, contrariando prognósticos e enfrentando grandes resistências, perceberam que Salvador havia mudado e que o centro comercial da cidade já não cabia nos estreitos limites do centro histórico. Voltando no tempo para o já distante 2 de agosto de 1947, pode-se constatar que o início da Federação do Comércio do Estado da Bahia, nome original da entidade, deu-se num cenário menos frenético, mas nem por isso menos marcante e promissor. A Bahia vivia então um momento especial da sua história política e econômica. Começava, finalmente e a duras penas, a superar a paralisia resultante da decadência da economia agrário-mercantil, dirigida para o mercado externo, que, conforme Luís Henrique Dias Tavares, tinha como único diferencial em relação à economia do Império, o fato de não mais existir a escravidão.

Edifício Nelson de Faria, no tradicional bairro do Comércio.

Deraldo Motta acompanhado de personalidade civis e militares em visita ao prédio em que iria funcionar o restaurante Senac Pelourinho. Na página ao lado, vista da Associação Comercial da Bahia, onde funcionou a primeira sede da Fecomércio-BA.

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Grandes lojas especializadas, expondo seus produtos nas calçadas, como na foto acima, eram comuns numa paisagem comercial que começava a ficar, pouco a pouco, para trás. A Bahia, finalmente, saía da inércia e se modernizava, iniciando uma nova fase em seu processo de industrialização.

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O processo de industrialização do país mostrava-se retraído na Bahia, assim como em outros estados do norte-nordeste, excluídos da concentração do poder político e do capital verificada sobretudo nas regiões sul-sudeste, especialmente em São Paulo e Minas Gerais. O atraso, na Bahia, era consequência ainda da febre da industrialização sem planejamento, ocorrida ao final do século XIX, que resultaria numa das maiores crises da história do estado da Bahia e em numerosas falências. Os reflexos dessa crise se estenderiam pelas quatro primeiras décadas do século XX, constituindo-se no que Otávio Mangabeira denominaria de “enigma baiano”. Já em 1947, ano em que o


estadista baiano assumiu o governo da Bahia e que coincidiria com a criação da Fecomércio-BA, verificava-se a triste realidade de um estado no qual “Faltavam escolas, hospitais, estradas de rodagem, portos marítimos e fluviais, navios e estradas de ferro”.1 Realidade que impactava diretamente o comércio em seus diversos segmentos que ainda se recuperavam dos efeitos deletérios da II Guerra. Nos dois governos de J. J. Seabra (1912-1916 e 1920-1924) havia-se empreendido mudanças drásticas no Centro Histórico de Salvador, no intuito de modernizá-lo, com a abertura de avenidas, muitas vezes à custa da demolição de prédios antigos de

Inaugurado em 1912, o antigo prédio do Mercado Modelo (foto abaixo) funcionou durante décadas entre a Alfândega e o largo da Conceição, na Cidade Baixa. Após o grande incêndio de 1969 o imóvel foi demolido e um novo prédio foi reconstruído, na Praça Visconde de Cairú, tornando-se uma das principais referências turísticas de Salvador.


grande valor histórico. No governo Góes Calmon (1924-1928), dera-se um impulso, até então inédito, na construção de estradas de rodagem, na ampliação das vias férreas e no crescimento do transporte marítimo e fluvial. Nada disso, entretanto, resultou em um melhor desempenho da economia do estado em relação ao centro-sul do país. Luís Henrique Dias Tavares é enfático em seu diagnóstico:

A criação da Federação do Comércio do Estado da Bahia, em 1947, coincide com um momento especial de virada na economia baiana que permanecia em um estado de letargia desde o final do século XIX.

Na página ao lado, Salão Elegante. Serviços na área de estética, masculina e feminina, indicavam, desde meados do século passado, o crescimento de um setor cujo avanço resistiria a todas as crises econômicas.

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“No que pese a existência de investimentos na área industrial, com ênfase nas fábricas de tecidos e usinas de açúcar, além da produção de cigarros, charutos, e de calçados, alpercatas e chinelos, a Bahia não logrou alcançar o êxito esperado no contexto da industrialização brasileira.” 2 A estagnação da economia baiana iria, portanto, estender-se pelas quatro primeiras décadas do século XX, como consequência, principalmente, da derrocada da economia baseada na exportação de produtos primários do Recôncavo Baiano. Tratava-se, portanto, de uma realidade desoladora para um Estado que atravessara dois séculos, XVI e XVIII, como um dos principais centros exportadores de açúcar no mundo, e que tinha, a partir do final do século XIX, na indústria têxtil, um dos seus principais sustentáculos. No momento em que se constituía a Federação do Comércio, já se verificava também o processo de decadência da economia cacaueira que havia prosperado, com grande vigor, desde os anos 90 do século XIX até os anos 1930. Período em que o cacau se fixou como importante produto de exportação e que teve, dentre as suas maiores conquistas, a construção, em 1926, do Porto de Ilhéus, que ganhava certa autonomia no processo de exportação do cacau baiano. Com a quebra da bolsa de Nova Iorque de 1929, entretanto, a crise econômica atingiria fortemente as exportações do cacau, provocando, também neste segmento, uma estagnação econômica que se estenderia nas décadas seguintes. Atrasado, pobre, endividado, com estradas de ferro onerosas e deficientes que não atendiam às suas necessidades de comunicação, e incipientes



No século XX, o porto de Salvador recebeu investimentos de monta com instalações mais amplas e seguras para armazenamento dos produtos trazidos por navios cargueiros.

estradas de rodagem, a Bahia continuava concentrando, no transporte marítimo e fluvial, grande parte das suas expectativas. Razões não faltavam, portanto, para os polpudos investimentos feitos pelo governo do Estado, nas intermináveis obras que se estenderiam ao longo de trinta anos no porto de Salvador – ponto de embarque e desembarque de mercadorias na zona portuária do Comércio, principal centro comercial da cidade. Todo esse conjunto de elementos constituiu a realidade socioeconômica do estado, ao longo das quatro décadas iniciais do século XX, período que abarcou conflitos internos entre correntes políticas e que resultaram em consequências dramáticas, como o bombardeio da cidade do Salvador, em 1912, levantes militares, sucessivas interventorias federais e agitações populares, atravessando uma ditadura no Brasil (1937-1945) e duas guerras mundiais (1914-1918 e 1939-1945).


A outra face do comércio No âmbito do comércio varejista, mais próximo do dia a dia do cidadão comum, verificava-se uma mudança efetiva nos hábitos, costumes e práticas comerciais que derivavam de mudanças ocorridas na própria estrutura da urbe. Os novos tempos deixavam para trás a paisagem do século anterior com suas ruas estreitas percorridas por carroças, agora substituídas por automóveis, ônibus e bondes elétricos. Na área portuária, os trapiches, nos quais eram desembarcados passageiros e mercadorias transportados pelos mais diversos tipos de embarcações (corvetas, saveiros, sumacas, barcas, canoas, jangadas, lanchas e alvarengas), davam lugar a armazéns mais amplos, modernos e higiênicos. Pouco a pouco, verificava-se um progressivo alargamento da área comercial com a formação de um mercado consumidor que, através da ampliação do sistema viário no estado, alcançava com mais facilidade cidades e povoados do interior. Dava-se início à formação de redes comerciais mais eficientes. Com os sucessivos aterros verificados no local, o Comércio consolidou-se como o principal centro comercial da capital baiana. Ali, já em meados do século XX, encontrava-se um diversificado conjunto de casas comerciais, grandes firmas de importação e exportação de produtos, escritórios de advocacia, cartórios, os bancos mais importantes e as sedes das instituições mais influentes do estado, como os Correios e Telégrafos, a Petrobras e o Instituto do Cacau da Bahia. Dentre estes, destacava-se o belíssimo Palácio da Associação Comercial da Bahia, imponente casa em estilo colonial, na Praça Conde dos Arcos, antiga Praça do Comércio, inaugurado no dia 28 de janeiro de 1817. Instituição de grande influência na história e na economia baianas, a Associação Comercial abrigou a recém-criada Federação do Comércio do Estado da Bahia, nos seus primeiros anos de funcionamento, assim como já havia feito com instituições diversas, como o Banco Comercial, a Mesa do Consulado, o Tribunal do Comércio da Província, o restaurante Novo Mundo, o Banco Econômico da Bahia e o Consulado da Alemanha.

Lojas tradicionais investiam em produtos que demarcavam um campo de distinções sociais, a exemplo da prestigiada marca de relógios Longines.

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A Federação do Comércio teve, na Associação Comercial, seu primeiro reduto, ocupando um espaço cujas dimensões eram bastante modestas. Arilton Soares Esteves, funcionário mais antigo da Fecomércio-BA, dá um testemunho sobre como eram as instalações: “Eu me lembro muito bem, era uma sala um pouco maior, na entrada, uma escada e mais duas salas: uma de reunião com o conselho, com mais ou menos vinte cadeiras e uma outra com a mesa de diretoria. Havia ainda uma cantina para fazer o café que era servido aos funcionários e os sanitários. Era só isso que tinha na Associação Comercial.” Com a mudança para o Edifício Nelson de Faria, na Rua Miguel Calmon, 39, área tradicional do Comércio, na Cidade Baixa, zona portuária de Salvador, o espaço físico aumentou consideravelmente. A Federação, o Sesc e o Senac ocupavam agora seis andares. Em um deles funcionava o Senac com o restaurante que atendia toda a comunidade do Comércio e vizinhanças. Ampliou-se também o número de funcionários que ultrapassava agora a casa dos 100, entre Sesc, Senac e a Federação. Todos trabalhando no prédio. Já naquela época, a atuação do Senac dava um grande impulso à formação de mão de obra qualificada, no O Senac tem um papel fundamental na capacitação de mão de obra desde os anos 40 do século passado, a exemplo dos “Cursos Senac de Manicure” (1959) e de “Cabelereiros de Senhoras” (1965).

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Salão do Restaurante do Comerciário Sesc, no bairro do Comércio.

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estado, através de cursos nas áreas de cabelereira e manicure, cozinha e secretariado, entre muitos outros. Há setenta anos, portanto, a Federação do Comércio do Estado da Bahia, rebatizada no ano 2000 como Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia, já exercia, embora em escala menor que na atualidade, sua missão de “Representar, integrar e desenvolver os sindicatos patronais e empresas do comércio”,3 realizando, conforme declara hoje em seu estatuto: “[...] um trabalho de grande relevância para o desenvolvimento da Bahia, fomentando o empreendedorismo e atuando de forma decisiva na formação de mão de obra especializada nas diversas vertentes da atuação comercial”.4 No conjunto de suas múltiplas funções, destaca-se por seu posicionamento como legítima representante do comércio patronal da Bahia, exercendo o papel de porta-voz e salvaguarda dos interesses do comércio perante o poder público e a sociedade civil organizada. Sua atuação visa a defesa dos legítimos interesses do setor produtivo, contribuindo eticamente para a


formação e implementação de diretrizes e políticas públicas voltadas para a economia, tributação, administração, preservação ambiental e bem-estar social. Dirigido inicialmente por Arthur Fraga, primeiro presidente do Sistema Fecomércio-BA, a Federação cuidava, no período imediatamente posterior à guerra, de ações rotineiras relativas à importação de máquinas agrícolas, remessas de valores do Brasil para o exterior, reforma sindical, assistência jurídica aos sindicalizados, participação em conferências internacionais e outras medidas junto a instâncias do poder legislativo e executivo. Contava, então, em seus quadros, com representantes ilustres da sociedade baiana, a exemplo do eminente jurista Orlando Gomes, diretor chefe do Departamento Jurídico da entidade, que muitos serviços lhe prestou.

A Fecomércio-BA iniciava suas atividades em um momento especial de transformações que marcariam para sempre o perfil socioeconômico da

Contexto de sua fundação

Bahia. Sua participação

Vale ressaltar, ao final deste capítulo, que a fundação da Fecomércio-BA coincidiu com um momento muito especial da história política e econômica da Bahia. Ao assumir o Governo, em janeiro de 1947, Otávio Mangabeira, após tantos anos de turbulências políticas e pasmaceira econômica, indicou o economista Inácio Tosta Filho para estudar o que considerava ser um “enigma baiano” no contexto da economia baiana e propor um plano de desenvolvimento para o estado. Com a adoção de algumas medidas saneadoras e criativas em áreas vitais da economia, das artes, da cultura, do urbanismo e da educação, entre outras, possibilitou um avanço inédito em nossa história. O período que inclui o final dos anos 40 até o início dos anos 60, ocorre, portanto, de uma forma singular. É, talvez, o único momento, em toda a história da Bahia, em que coexistem o que de melhor o nosso passado nos legou com as transformações econômicas e culturais que há muito carecia. Um forte impulso já havia sido dado, em 1939, com o início da exploração do petróleo em Lobato e a implantação da refinaria de Mataripe – marco no processo efetivo de industrialização do estado. Foi no governo

percebida durante a

nesse processo já seria gestão do seu primeiro presidente Arthur Fraga.

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Alunos do Curso de Cozinha – Senac Bahia: formação de mão de obra especializada numa terra cuja importância na área de gastromia é reconhecida internacionalmente.

Mangabeira que a Bahia obteve uma renovação econômica e cultural sem precedentes no Estado, assim definida por Risério: “Passada a primeira metade da centúria de novecentos, tudo vai começar a mudar. O panorama será completamente diferente. Sim: a partir da década de 1950, a Bahia irá ingressando – progressiva, mas decididamente – na dança do capitalismo moderno. Na expansão nordestina do movimento industrial brasileiro. Basicamente, por dois caminhos: a criação de um setor petroleiro em nossa economia e a política de isenção tributária do Governo Federal via Sudene – às quais se aliam, de resto, nossos primeiros gestos de planejamento econômico estadual. Assim, a Cidade da Bahia e seu Recôncavo se viriam envolvidos num processo de ‘redefinição espacial’ da economia brasileira, como disse um economista – processo destinado a alterar os padrões de produção e crescimento da região nordestina.”5 A Bahia rompia, de forma bastante enfática, um certo isolamento, abrindo-se, conforme Risério “[...] a um considerável fluxo internacional de informações, que iria desembocar, adiante, em movimentos que, como o Cinema Novo e a Tropicália, alterariam definitivamente o panorama cultural brasileiro”.6 Outras mudanças


mais estruturais, no âmbito da educação, pela ação revolucionária de Anísio Teixeira, à frente da pasta, e da atuação da Universidade da Bahia, no reitorado de Edgard Santos, colocaria o, até então, sonolento estado da Bahia na vanguarda do desenvolvimento nacional, e, em alguns aspectos, internacional. Embora à parte dos holofotes, a Federação do Comércio era um elemento importante desse movimento de atualização, incorporando ao seu modus operandi preocupações outras, ligadas ao turismo e ao meio ambiente.

O Senac Bahia já se antecipava no reconhecimento da importância do aprendizado do inglês como segunda língua. Acima, curso de inglês na Escola Silvino Marques, em 1950.

Notas 1

TAVARES, Luís Henrique Dias. História da Bahia. 10. ed. São Paulo: Editora Unesp; Salvador: Edufba, 2001. p. 461.

2

Ibid., 467.

3

FEDERAÇÃO DO COMÉRCIO DE BENS, SERVIÇOS E TURISMO DO ESTADO DA BAHIA. Missão, Visão e Valores. Salvador, 2015. Disponível em: <http://www.fecomercioba.com. br/node/2/missao-visao-e-valores>. Acesso em: 28 jan. 2017.

4

FEDERAÇÃO DO COMÉRCIO DE BENS, SERVIÇOS E TURISMO DO ESTADO DA BAHIA. Estatuto. Salvador, 2015. Disponível em: <http://www.fecomercioba.com.br/sites/default/files/fecomercio-ba/files/pagina_arquivo/estatuto_fecomercio_-_2015.pdf>. Acesso em: 27 mar. 2017.

5

RISÉRIO, Antonio. Uma história da cidade da Bahia. Rio de Janeiro: Versal Editores, 2000. p. 316-317.

6

Ibid., p. 327.

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Capítulo III

Tempos heróicos: uma instituição à frente do seu tempo

O

s anos 50 abriam as portas para o que parecia ser um momento de excepcional importância na história da Bahia. A bucólica cidade de Caymmi e suas canções marinhas, de praias solitárias e extensos areais salpicados de arbustos, dava lugar a extensões frias de asfalto e cimento, estendendo os limites da cidade para bairros então considerados distantes, como o Rio Vermelho e Amaralina. A inauguração, em 1949, da Avenida Otávio Mangabeira, ligando o Rio Vermelho a Itapuã, foi um sinal eloquente de que a cidade de Salvador crescia e precisava se expandir. Havia então uma Bahia paradisíaca que resistia à industrialização; uma Bahia pobre e atrasada que via nela a solução de seus problemas estruturais; e uma elite de pensadores (jornalistas, escritores, lideranças empresariais e administradores) que ansiava conciliá-las numa única Bahia, rica em suas tradições, preservada nos seus recursos naturais, mas aberta para o futuro. Uma Bahia que se modernizasse sem romper com o passado. Formava-se a percepção de que, dentro do modelo econômico proposto, o surgimento de novas indústrias era fundamental e que seria necessário definir o lugar onde seriam instaladas.1 A criação, em 1955, da Comissão de Planejamento Econômico (CPE), primeiro órgão de planejamento do Estado, constituiu-se uma estratégia eficaz para se implantar as condições necessárias para que a Bahia construísse o seu parque industrial. Para isso, seria necessário angariar investimentos, de forma planejada e com base no desenvolvimento de atividades de pesquisa,

A Casa do Comércio Deraldo Motta surgia na paisagem de Salvador, nos anos 1980, como símbolo maior de uma visão arrojada do futuro e do papel que a Federação iria desempenhar na Bahia do século XXI.

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A construção, em 1967, da Avenida Lafayete Coutinho, (Av. Contorno), importante via de acesso entre a Cidade Alta e a Cidade Baixa, em Salvador, foi uma das grandes obras financiadas pelo Banco de Desenvolvimento da Bahia.

funcionando, conforme assinala Gustavo Falcón, em Três Décadas que Mudaram a Bahia: “[...] como fórum de debates, promovendo assistência técnica, orientação e elaboração de projetos para os setores públicos e privados. [...] A Comissão de Planejamento Econômico realizou nos anos 50 o trabalho indispensável para o surgimento dos projetos inovadores e pioneiros que irão modificar posteriormente a nossa paisagem econômica e social”.2 Dentre as muitas consequências do trabalho realizado pela CPE estão a criação do Fundo de Desenvolvimento Agroindustrial (Fundagro)3, em 1956, e, sucedendo este, do Banco de Desenvolvimento da Bahia (Bandeb)4, em 1966, cuja ação modernizadora se expressaria, de forma inequívoca, no financiamento do Plano Diretor do Centro Industrial de Aratu (CIA), conforme enfatiza Falcón: “[...] maior complexo contínuo de indústrias do país, concebido para atender as exigências da Sudene com relação as necessidades de infraestrutura, sem o cumprimento das quais a Bahia

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ficaria de fora do programa de apoio e incentivo à industrialização. O CIA terá papel de destaque na formação do parque industrial baiano, da nova classe operária e exercerá grande atratividade sobre os capitais externos incentivados pela Sudene para se instalarem fora de suas regiões de origem.”5 Outra consequência direta da ação do Bandeb foi o financiamento da estrada CIA-Aeroporto, principal via de acesso ao Centro Industrial de Aratu, e, já nos anos 70, da Avenida Contorno, desde então a principal ligação rodoviária entre a Cidade Alta e a Cidade Baixa. A construção da Avenida Castelo Branco no Vale de Nazaré, que promove a ligação do Túnel Américo Simas com a Avenida Bonocô, e da Avenida Luiz Viana Filho, mais conhecida como Avenida Paralela, principal via de expansão de Salvador em direção ao litoral norte do estado, são outros exemplos. Intervenções de grande importância para a reconfiguração urbana de Salvador e Região Metropolitana, cujo impacto ultrapassaria questões de ordem viária, para transformar a fisionomia social, cultural e econômica da antiga capital do país. Inclusive nos setores de comércio e serviços.

Vista geral da área onde se construiu a Avenida Luís Viana Filho (Paralela), um dos marcos da expansão de Salvador para a região norte do estado.


Comércio em transe Sob o signo da modernidade, Salvador abria-se para novas oportunidades. Multiplicava-se o número de lojistas, balconistas, caixeiros e garçons que necessitavam adaptar-se a uma demanda específica de um mercado consumista marcado por inovações e padrões mais exigentes de atendimento. A crescente profissionalização dos processos de compra e venda tornava-se uma realidade em áreas mais sofisticadas do comércio varejista, como a Avenida Sete e a Rua Chile onde se concentrava a vida social das classes mais favorecidas. O cotidiano naquela área da cidade, nos dourados anos 50, é assim descrito:

Avenida Sete, uma das ruas mais sofisticadas do comércio varejista na década de 1950, em Salvador. Na foto, destaque para o Relógio de São Pedro.

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“A Rua Chile servia como palco de inúmeras e variadas manifestações da vida urbana de Salvador. Namorar no ponto da Sloper, bater papo no Café das Meninas ou visitar a escada rolante da loja Duas Américas, inaugurada em 1958 e única da cidade, faziam parte dos programas de lazer da época. As pastelarias finas Peres, Alameda e Triunfo – destruídas por um incêndio em


1963 – e as casas de chá A Baiana e Duas Américas, localizadas no centro, eram bastante frequentadas. A sorveteria Cubana, por sua localização privilegiada, ponto de passagem obrigatório para as pessoas que utilizavam o Elevador Lacerda, recebeu muitos nomes da intelectualidade baiana, constituindo-se um must da época. À meia-noite a sorveteria fechava, e então se esticava até o cabaré Tabaris. O restaurante e bar Cacique, na Praça Castro Alves, era outro ponto de encontro, no qual gostavam de se reunir jornalistas e cinéfilos do Clube do Cinema da Bahia. Além destes locais, havia também a Gruta de Lurdes, mais conhecida como café de Bernadete. Ao seu lado ficava a Livraria Civilização Brasileira, onde, entre um cafezinho e outro, intelectuais discutiam e compravam livros.”6

Inauguração das primeiras escadas rolantes de Salvador, na loja Duas Américas. Um grande acontecimento para a cidade na década de 1950.

As áreas comerciais mais frequentadas restringiam-se então a alguns núcleos principais. No centro da Cidade Alta, os mais conceituados espaços englobavam a Rua Chile e a Avenida Sete, estendendo-se até o São Bento e a Piedade. Na rua Dr. J. J. Seabra, a Baixa dos Sapateiros, podia-se comprar um sem número de produtos de cama, mesa e banho a preços módicos, constituindo-se, portanto, junto com a Barroquinha e o bairro da Liberdade, no principal centro de comércio popular da cidade. O centro da Cidade Baixa, tradicional bairro do Comércio, reunia, por sua vez, o grosso do comércio varejista. No livro Comércio

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A rua Dr. J. J. Seabra, popularmente conhecida como Baixa de Sapateiros, reunia comerciantes voltados para produtos domésticos, de cama, mesa e banho. Até hoje é um dos mais movimentados centros do comércio popular em Salvador.

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Baiano: Depoimentos para sua História, Jafé Borges e Gláucia Lemos7 lembram alguns estabelecimentos marcantes daquele período: as casas Krause, Novais, O Mundo Elegante, Mozart, Florensilva, Valéria, A Fonseca, Stella, Clark, Rialto, Barletta, Braga, A Lâmpada, Vera Cruz, Lisboa Sampaio, Gide, Chapelandia, Machado Soares, Raimundo Correia, Os Gonçalves, Alfaiataria Londres, Tecidos Carvalho, Correa Ribeiro, Suerdieck, Souto Maia, Machado Soares, Raymundo Correia, loja Athayde, Louvre, Schlang. Destacavam-se também lojas exclusivas de artigos masculinos, sapatarias, drogarias, magazines, gráficas, livrarias, representações comerciais, sobretudo na área de tecidos e inúmeros restaurantes, casas de lanches, cafés, bares e pastelarias, a exemplo do restaurante Maria de São Pedro, no Mercado Modelo, e do Colon, ambos em funcionamento ininterrupto até os dias atuais. O Comércio reunia ainda uma infinidade de escritórios comerciais e bancos, muitos dos quais desaparecidos nas procelas das crises econômicas e de má gestão verificadas nas últimas décadas.


Vale observar que os principais referenciais da modernidade literária e artística em Salvador estavam associados a bares, restaurantes, mercados populares e boates nos quais orbitavam os seus protagonistas: escritores, jornalistas, críticos de cinema, artistas plásticos e intelectuais das mais diversas estirpes. A Academia dos Rebeldes, que reunia, nos anos 20/30, entre outros, Jorge Amado, Dias da Costa, Alves Ribeiro e Clóvis Amorim, tinha como ponto de encontro o Café das Meninas, na Rua Chile. Este era também o principal reduto do grupo Arco & Flexa, em torno do qual movimentavam-se intelectuais de renome, como Carlos Chiacchio, Carvalho Filho, Eugênio Gomes, Hélio Simões, Eurico Alves e Pinto de Aguiar. Os poetas da Baixinha – Bráulio de Abreu, Pinheiro Viegas, Elpídio Bastos e Aníbal Rocha – revezavam-se no Café Progresso e no Café Moderno, localizados numa área mais popular, situada

Restaurante Maria de São Pedro, localizado no Mercado Modelo, em foto atual. Exemplo de longevidade em um segmento instável do comércio na Bahia.

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entre o Pelourinho e a Baixa dos Sapateiros. E, já nas décadas de 40/50, o grupo do Caderno da Bahia, formado entre outros por Carlos Vasconcelos Maia, Heron de Alencar, Wilson Rocha e Darwin Brandão, mas também pelos artistas plásticos Mario Cravo Júnior, Carlos Bastos, Jenner Augusto, Rubem Valentim e Lígia Sampaio, tinha na boate O Anjo Azul, localizada na Rua do Cabeça, a sua principal trincheira. Boêmios errantes circulavam também por setores mais populares, como o Mercado do Ouro, os mercados de Santa Bárbara e São Miguel e o Mercado Modelo. Nessa atmosfera de atualização cultural – no cinema, na literatura, no teatro, nas artes plásticas – e na própria economia, uma novidade, cuja dimensão não podia ainda ser avaliada, se imporia de forma definitiva: a televisão surgia como a grande novidade da década. Iniciada no Brasil em 1950, mais especificamente no estado de São Paulo, só chegaria à Bahia dez anos depois, em 19 de novembro de 1960, com a inauguração da TV Itapoan. Com ela inaugurava-se também uma nova era para a publicidade e a propaganda perante a qual o comércio teria que se reinventar. E a Fecomércio-BA teria um papel fundamental nesse processo de atualização, profissionalização e desenvolvimento do setor.

Os primeiros anos Nos anos iniciais da Fecomércio-BA, coube ao seu primeiro presidente, Arthur Fraga, a tarefa essencial de dar os encaminhamentos necessários para que a entidade cumprisse a sua função básica de representar os sindicatos patronais desse setor e defender os interesses do comércio perante o Estado. Era fundamental o trabalho cotidiano de consolidação das estruturas que permitiriam, no futuro, voos mais ousados. Em ata8 do dia 10 de agosto de 1950, verificam-se alguns exemplos das principais preocupações e atribuições da diretoria, então composta por Arthur Fraga, Raul Costa Lino, Antonio Alves Guimarães e Manoel Lemos dos Santos, respectivamente

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presidente, vice-presidente, secretário e tesoureiro da instituição. Como se vê no seguinte trecho: “Da Ordem do Dia – constou o pedido do Sindicato de Feirantes para que a Federação defendesse os associados das exigências do fisco federal que autuou vários elementos da classe para compeli-los a pagar patente de registro. O Snr. Presidente informou aos companheiros da direção que havia destacado o Procurador Fiscal, para acompanhar o processo e defendê-los. Em seguida o Presidente comunicou à casa da ida do Snr. Osmar Gomes aos países platinos, propondo que telegrafasse ao mesmo fazendo votos de boa viagem, o que foi aprovado. Disse mais da tristeza com que comunica aos companheiros o desaparecimento de dois grandes vultos do comércio e da indústria desta capital – Carlos Ribeiro e Augusto Suerdick. O primeiro, grande empreendedor, a cuja capacidade de trabalho e inteligência deve a Bahia o equilíbrio das comunicações entre esta Capital e o sul do Estado, no curso da guerra. E o segundo, industrial humanitário, que sempre viveu auscultando os anseios dos seus operários, alma de artista e espírito de escol. Terminada as considerações propôs que se lançasse em ata um voto de pesar pelo desaparecimento dos dois grandes vultos; e que se comunicasse às respectivas famílias e firmas, tendo sido aprovado por unanimidade. Nada mais havendo a tratar, declarou o Sr. Presidente encerrada a sessão.” Pode-se observar nessas linhas, redigidas pelo secretário, mas ditadas pelo presidente, algumas características atribuídas a Arthur Fraga pelos que o conheceram pessoalmente: um “toque” de distinção na linguagem, na escolha dos termos e nas preocupações manifestadas, aqui, de forma sutil. Características que se coadunam com a figura polida, diplomática e cordial do então presidente e destacada figura da sociedade baiana.

Com a TV Itapoan a Bahia entrava numa nova era da informação e do entretenimento, com fortes repercussões na forma de vender e divulgar os produtos.

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O ex-vice-presidente da Associação Comercial da Bahia, superintendente do Sesi e atual diretor tesoureiro da Fecomércio-BA, Arthur Guimarães Sampaio, dá o seguinte testemunho sobre ele: “[...] eu nasci e me criei na rua Afonso Celso, no antigo número 38, no comecinho da rua. Na quarta ou quinta casa da direita de quem entra, morava o doutor Jaime Tanajura, casado com dona Solange Fraga Tanajura, filha de seu Arthur. Então eu brincava ali e o meu ponto de brincadeira era ali, no começo da rua, que não tinha movimento nenhum. A gente jogava bola, roubava mangas dos quintais e, um dia, eu estava lá brincando na porta quando chegou um senhor de gravata, paletó, ainda tinha isso naquele tempo, mesmo na Barra, na beira da praia. Aí dona Solange disse assim, ‘Tuca, Tuca...’ – Tuca era eu, eu era Tuca Sampaio –, ‘Tuca, venha cá’, e me apresentou. ‘Papai, esse aqui é seu xará, é Arthur Sampaio’. Ele disse, ‘Você é neto do coronel Arthur Sampaio da Casa Stela?’, eu digo, ‘Sou, sim senhor’. Nós conversamos ali. Aí eu estive com o seu Arthur umas duas ou três vezes... até então eu só sabia que ele já era presidente daqui [da Federação do Comércio] e depois foi presidente da Associação Comercial da Bahia. [...] Mais tarde, meu pai comentou que ele gostava de fazer associativismo, defender a classe, naquele tempo chamava-se classe... Você veja que eu tinha menos de oito anos, certo? Depois já eu vim a saber que ele foi presidente da Associação Comercial durante muitos anos, porque, com 23 anos eu fui ser diretor da Associação Comercial e a memória de seu Arthur ainda era muito viva na Associação.” A instalação da primeira Escola Sesc, em 1950, no bairro da Saúde9, foi um dos marcos na consolidação do sistema Sesc10 e Senac11 na Bahia, fruto do trabalho desenvolvido pela Federação. Em ata12 de 12 de setembro de 1952, logo após a reeleição de Arthur Fraga para a presidência, registra-se o recebimento de telegramas e ofícios enviados por um grande número de instituições, a exemplo da Confederação Nacional do Comércio de

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Bens, Serviços e Turismo (CNC), dos Empregados do Comércio da Bahia e da Associação Comercial da Bahia, “[...] felicitando a Diretoria que terminou o mandato por ter conseguido firmar o conceito da Federação do Comércio da Bahia e em particular o seu Presidente pela ação desenvolvida no Sesc e no Senac tornando esses órgãos uma realidade em nosso meio e com o critério que lhe é peculiar preparou as bases para a construção da sede própria a fim de tornar mais eficientes os serviços prestados aos comerciários”. Conclui-se então o comunicado fazendo votos para que “[...] a diretoria recém-eleita continue o programa da anterior engrandecendo-a com novas e úteis iniciativas”. Faz-se, assim, justiça à memória do primeiro presidente da instituição, que colocou a primeira pedra – angular – desse hoje portentoso edifício. Após a morte de Arthur Fraga, marcou-se nova eleição, a 3 de agosto de 1954, para constituição de uma nova diretoria, tendo como candidato único para a presidência o “[...] médico por

Curso Fundamental na Escola Silvino Marques, Senac Bahia, em 1953. Investimento em educação como prioridade.

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formação acadêmica, empresário por herança familiar e político por vocação”13 Orlando Moscozo Barretto de Araújo.14 Moscozo ocupava então o cargo de delegado do Sindicato do Comércio Atacadista da Cidade do Salvador e de vice-presidente da Federação do Comércio da Bahia, além de candidato à Assembleia Legislativa da Bahia. Logo após a eleição para deputado estadual, e já na reta final para a campanha política, licenciou-se da presidência que passou a ser ocupada pelo vice, Deraldo Motta. Finda as eleições, e eleito deputado estadual, reassumiu a presidência, permanecendo no cargo por dois anos, até as eleições de 1956. Sobre o segundo presidente da Fecomércio-BA, Arthur Guimarães Sampaio traça o perfil de um homem com grande sensibilidade social: Solenidade da Federação, em 1956, com a presença do presidente Orlando Moscozo.

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“O segundo presidente [da Fecomércio-BA] foi meu amigo, doutor Orlando Moscozo Barretto de Araújo. Eu o conheci muito cedo,


porque [ele] era pai de uma colega de minha irmã. Ele era vice-governador do Estado, proprietário dos terrenos todos da casa que o meu pai construiu no Chame-Chame. Chamava a atenção porque a gente olhava para ele e via que era uma pessoa muito jovem, mas tinha a cabeça branca, completamente branca e era uma pessoa muito simpática, muito dada. E eu devia ter dezoito anos ou um pouco menos, e vinha voltando do teatro Vila Velha, onde havia ido buscar minha mãe e minha irmã que eram frequentadoras assíduas. E, quando vínhamos pela Avenida Sete, avistamos doutor Orlando, no meio da rua, andando assim, fora do passeio. Você imagine como a Bahia era, ele era vice-governador do Estado e vinha andando sozinho, devia ser entre onze horas e meia-noite. Aí nós demos uma carona para ele. Minha mãe passou para trás e nós viemos conversando. Este foi o primeiro contato que eu tive com o doutor Orlando. Ele era um homem muito ligado e voltado para o associativismo, para a defesa do empresariado. Tinha uma sensibilidade social que vi em poucas pessoas. Ele deve ter se dedicado muito ao Sesc e Senac, deve ter dado muito do sangue dele para implantação do Sesc e Senac. Eu nem sei em que ano ele foi presidente daqui, mas ele deve ter feito um trabalho muito grande nessa área social porque é o retrato dele. Ele tinha uma sensibilidade social na Fieb. Eu dizia a ele assim: ‘Doutor Orlando o senhor é o último dos liberais’. Então, imagino que ele tenha feito um trabalho muito grande nessa área social do Sesc e do Senac, tenho certeza disso, os arquivos aí devem comprovar isso.” De fato, este que foi uma das maiores lideranças políticas e empresariais da Bahia,15 promoveu, no curto período de dois anos em que esteve à frente da Fecomércio-BA, a instalação de um ginásio do Sesc na Av. Castelo Branco, entre outras realizações. A unidade foi inaugurada em 2 de setembro de 1956 com a denominação de Ginásio de Esportes Presidente Orlando Moscozo, contando com quadra poliesportiva e espaços para cursos das modalidades de esporte de quadra e artes marciais, além de atividades recreativas.

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O obstinado Deraldo Motta

Assinatura de convênio entre a Fecomércio-BA e o Grupo Paes Mendonça, dono, na época, da maior rede de supermercados da Bahia. Na foto, Mamede Paes Mendonça, Deraldo Motta e o Dr. Lise Pinto de Oliveira.

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A eleição seguinte, realizada em 13 de agosto de 1956, resultou em disputa, acirrada, entre o presidente e o vice-presidente do período anterior, respectivamente Orlando Moscozo e Deraldo Motta, resultando na vitória deste último por uma diferença de apenas dois votos.16 A disputa se estenderia numa ação judicial perante o Ministério do Trabalho que concluiu a questão confirmando o resultado obtido na eleição e afastando qualquer suspeita de irregularidade. Do episódio parece não ter ficado nenhuma rusga. Em diversas situações, as duas grandes lideranças comerciais da Bahia se apoiariam mutuamente, à frente da Fieb e da Fecomércio-BA, respectivamente, em defesa dos interesses das classes por eles representadas. A ascensão de Motta, no contexto sindical e empresarial de Salvador, foi rápida e precisa. Com grande experiência, no interior da Bahia, como “[...] mascate (vendedor ambulante) de


tecidos, perfumarias e miudezas, caixeiro-viajante e pracista de produtos farmacêuticos, estes dois últimos como assalariado de atacadistas estabelecidos em Salvador”,17 chegou à Capital, em 1943, estabelecendo-se na Baixa de Sapateiros com o Armarinho Santo Antônio, em 1º de setembro de 1947. O armarinho foi berço da primeira loja O Cruzeiro.18 Em 1952 foi eleito como delegado do Sindicato dos Lojistas do Comércio e do Comércio Varejista de Material Elétrico da Cidade do Salvador, no Conselho de Representantes da Federação do Comércio do Estado da Bahia, e diretor secretário do Sindicato. Em sua primeira gestão à frente da Fecomércio-BA, Deraldo Motta investiu, de imediato, em duas grandes realizações: a inauguração do Ginásio de Esportes Presidente Orlando Moscozo, atual Sesc Aquidabã Complexo Esportivo, um dos mais dinâmicos espaços do Sesc em Salvador ao longo dos últimos sessenta anos, e a instalação de uma sede própria, sonho que já era

I Encontro dos Empresários do Nordeste. O evento contou com a presença do Ministro do Interior do governo Ernesto Geisel, Maurício Rangel Reis, em dezembro de 1978. Na foto, da esquerda para a direita, Luiz Sande de Oliveira, Renato Caria, Alfeu Pedreira (na ocasião presidente da Associação Comercial da Bahia) e Deraldo Motta.

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acalentado por Arthur Fraga e que finalmente se tornava realidade. Em 1958, a Fecomércio-BA despediu-se do seu exíguo espaço na Associação Comercial da Bahia e mudou-se para o Edifício Nelson de Faria, localizado próximo dali, na Rua Miguel Calmon, 39, onde ocuparia, com o Sesc e o Senac, seis andares do prédio. Em um deles funcionaria o Senac com um restaurante que atendia a comunidade do Comércio e adjacências. O dinamismo da Federação, nesse período, pode ser medido tanto pelo número de realizações quanto por sua qualidade e


pioneirismo. No primeiro caso, pode-se relacionar a inauguração, em 1962, do Sesc Nazaré;19 em 1968, do Centro de Formação Profissional Arthur Fraga (Escola do Senac) na rua J. J. Seabra, trecho do Aquidabã;20 da monumental Colônia de Férias do Sesc, no então longínquo e paradisíaco bairro de Piatã, denominada posteriormente Colônia de Férias Deraldo Motta,21 e do Centro de Recreação Infantil Presidente Jessé Pinto Freire, do Sesc, no bairro de Nazaré.22 Em 1972 inaugurou o restaurante do Sesc, no bairro do Comércio, oferecendo refeições a preços módicos para

Visão geral da Colônia de Férias Sesc em Piatã, voltada para o lazer dos comerciários e seus familiares.


Arthur Guimarães Sampaio, presidente da Junta Comercial do Estado da Bahia, entrega a Deraldo Motta a Carteira de Comerciante n.1. Joaquim Alves da Cruz Rios, Cândido Braga e Ivanilson Trindade compõem a mesa.

os comerciários;23 em 1975, o Centro de Formação Profissional para Turismo e Hospitalidade do Senac no Pelourinho, incluindo restaurante de comidas típicas baianas e um teatro de arena.24 E, finalmente, no início da década de 80, a construção de sua sede definitiva, a Casa do Comércio Deraldo Motta, símbolo maior da pujança da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo da Bahia nos 70 anos de sua história. O aspecto qualitativo da gestão de Deraldo Motta pode ser destacado a partir de trechos dos depoimentos apresentados a seguir: “Deraldo realmente é um vulto na história da Bahia. Ele realizou um trabalho formidável. As pressões que ele sofreu quando construiu esta sede não foram poucas! Foram pressões muito grandes. Mas algo tão importante quanto esta Casa,25 que ele construiu, tão importante quanto ela, foi a colônia que ele fez em Piatã. Quando ele comprou aquele terreno em Piatã, aquilo era um arrabalde, não existia nada lá. Fazer uma colônia daquela, para o trabalhador do comércio da Bahia, num tempo em que nem sei se

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já existiam serviços em turismo, foi algo extraordinário. Depois ele teve a coragem de construir no Pelourinho, viu a potencialidade turística dali e investiu contra muita gente [que se opunha à proposta] e realizou aquela obra. É um espetáculo aquilo, não é somente o restaurante não, é um conjunto Sesc-Senac. Eu me lembro, isso aí eu já estava ao lado dele, quando ele construiu o teatro. Quando eu fui ver, eu achei que era uma loucura, que ele não conseguiria fazer. Ele cavou por debaixo dos prédios antigos e inaugurou aquilo. O fato histórico tem que ser analisado no momento histórico. Olha, depois que Antônio Carlos [Magalhães] levantou a bandeira de revigorar o Pelourinho, foi uma beleza, todo mundo acompanhou, agora eu quero ver quem apoiaria na hora em que Deraldo tomou a iniciativa. Deraldo foi um precursor do Pelourinho, isso tem que ser dito, fora as outras muitas coisas que ele fez aqui no Sesc e no Senac.” Arthur Guimarães Sampaio, diretor tesoureiro da Fecomércio-BA.

Casarões do Pelourinho no dia da inauguração do complexo turístico, em 5 de janeiro de 1975.


“Eu tenho o diploma da escola comercial Silvino Marques que era o Senac, que dava clareza a todos os comerciários. Isso era lá na Rua Rui Barbosa, número 13, onde tinha um correio. E agradeço muito ao Deraldo Motta. Foi ele quem me colocou na Escola Comercial Silvino Marques, porque eu ainda não tinha o primário completo. Quando eu comecei a trabalhar aqui, com 17 anos, não tinha concluído nem o primário, então eu tinha que fazer admissão na Escola Comercial Silvino Marques para depois fazer ginásio, para depois ser técnico de contabilidade, para depois fazer Ciências Contábeis. [...] Deraldo dava a oportunidade para todos os funcionários que quisessem estudar.” Arilton Soares Esteves, um dos primeiros funcionários. Trabalhou na Federação de 1952 até 2015, ocupando as funções de servente, auxiliar de caixa, arrecadação e contador. Restaurante do Pelourinho: marco no desenvolvimento e renovação do Centro Histórico de Salvador.

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“Deraldo Motta foi realmente um visionário. Nos anos 70 surgiu o grande resgate do Pelourinho, que estava em um estado de degradação muito grande, afastando turistas e dificultando


a sobrevivência dos que ali estavam estabelecidos. Ele teve uma boa parceria e confiou no governo do Estado. Aquela era a oportunidade, e ele prometeu reformar os casarios, incentivar as atividades e serviços de restaurantes, bares, artesanato e conseguiu adquirir três casas nas quais implantou um restaurante, um teatro e uma arena, arena essa à qual gostava muito de ir à noite e ficava olhando para a igreja que tinha lá em cima, que tinha duas colunas. A lua passava e ele tinha a satisfação de ver que aquilo dava uma vida ao Pelourinho. E, de fato, o Pelourinho viveu momentos muito bons com os investimentos feitos pelo governo do Estado, feitos pela prefeitura, com o ordenamento de tráfego, chegada de pousadas, chegada de restaurantes, de bares, artesanato e o Sesc e Senac também que se agigantaram ali e, hoje, graças a Deus, continuam funcionando com uma excelente qualidade de serviço, uma excelente alimentação. Tem até um museu hoje, lá, tudo isso é resultado de dotar aquela área de construções, de atrair, de vitalizar o comércio da Baixa de Sapateiros e do Comércio na Cidade Baixa.”

A coragem, o dinamismo e a determinação de Deraldo Motta são algumas das qualidades lembradas por pessoas que conviveram com ele ao longo dos 31 anos que presidiu a Federação do Comércio da Bahia.

Paulo Schettini Motta, presidente do Sindilojas e filho de Deraldo Motta.

“[...] Ele tinha aqui o sonho de criar [na Casa do Comércio] uma universidade voltada para o turismo, e na parte de hotelaria ele desejava fazer daqui uma universidade e trazer pessoas de fora para estudar aqui, era o sonho dele. Ele queria fazer um restaurante internacional, um restaurante tipo esses que tem em grandes transatlânticos. Então, ele era muito entusiasta e passava esse entusiasmo, a gente trabalhava com amor mesmo, era como a espécie de um sonho que ele queria ver realizado, era isso, o sonho do senhor Deraldo Motta era esse.” Sonia Maria S. Correia da Silva, assessora jurídica da Fecomércio-BA nos anos 1970/80.

“Deraldo adquiriu três lotes naquela faixa [da Avenida Tancredo Neves] e edificou a Casa do Comércio de uma forma surpreendente e que cresceu na paisagem. Hoje ela já está de certa forma envolvida por outros prédios, mas, logo no início, tinha uma visão

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Planta da Casa do Comércio apresentada por Deraldo Motta a segmentos empresariais e políticos da Bahia, nos anos 1980. Estratégia de convencimento para a realização do sonho de construção da sede definitiva da Fecomércio-BA.



muito solta daquele prédio magnífico, todo ele em ferro, usando muito metal e num impacto provocado por um estilo muito moderno, a ponto de eu ter chegado para ele e ter dito: ‘Presidente, eu estou surpreso, porque quando eu lhe sugeri aproveitar esse momento para transferir a sede para um outro ponto, eu imaginei algo um pouco mais contido’ e eu não esqueço nunca que ele olhou para mim e disse: ‘Olha, eu tenho um compromisso com Salvador e com a Bahia, eu preciso oferecer à Bahia um patrimônio, um imóvel que tenha grandeza, que possa ser visto por quem chega por terra, pelo ar e pelo mar’. Em realidade, até hoje, mesmo do mar, mesmo com essas construções existentes, quem passa de navio em um determinado ponto, dá para identificar a existência da Casa do Comércio. Quem vem por terra, sempre... Ali tornou-se um referencial, ‘É próximo à Casa do Comércio’, ‘É onde está a Casa do Comércio’. E pelo ar sempre ficará sendo visto.” Walter Pinheiro, presidente da Associação Bahiana de Imprensa (ABI) e diretor do jornal Tribuna da Bahia.

Ao lado, solenidade do lançamento da pedra fundamental da Casa do Comércio, em 16 de julho de 1981, com a presença de José Salvador Borges, Sydrach de Araújo, Nilza Gomes, assessora sindical da Federação por mais de 40 anos, Antônio Carballido e Deraldo Motta.

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“Deraldo era um empreendedor. Nunca vi Deraldo Motta ficar preocupado de que não ia dar certo isso, não ia dar certo aquilo. Um homem que me ensinou a ser otimista, ver que o homem empreendedor resolve todos os problemas da vida. Menos a morte, que é o único que a gente não pode resolver. De Deraldo Motta eu vi tudo de bom. Um homem de pouca alfabetização, mas de grande percepção. Os discursos e improvisos dele eram um primor. A condução de uma reunião, por ele, nos órgãos coletivos, tanto do Sesc quanto do Senac quanto da Federação do Comércio, fazia a reunião valer a pena. Ficava embasbacado: como é possível aquele homem de pouco conhecimento livresco, ser, assim como foi, um dos mais importantes autodidatas que já conheci?” Edvaldo Britto, ex-prefeito de Salvador, 2º funcionário da Fecomércio-BA.

Do ponto de vista imaterial, talvez o mais significativo acréscimo feito durante a gestão de Deraldo Motta à ação e aos objetivos da Federação tenha sido a percepção do turismo como elemento inovador e propulsor do comércio no século XX. Intuiu,



Prédio do Centro de Recreação Esportiva do Sesc no bairro de Nazaré. Abaixo, fase inicial de construção da monumental sede da Fecomércio. Em meio ao concreto e ao aço estavam sendo plantados também os alicerces do futuro centro comercial da Bahia.

talvez, que no canto da sereia do modelo industrial adotado no Brasil, desde aqueles “anos dourados”, quando a indústria pesada e a busca do lucro exorbitante e imediato atropelaram os sonhos dos que acreditavam numa “Bahia que se modernizasse sem romper com o passado”, o antídoto para os efeitos colaterais da industrialização seria uma indústria limpa, não poluente, associada ao conhecimento de novas cidades, países e culturas diversas. Uma indústria que, na contramão do progresso a qualquer custo, trouxesse uma possibilidade de desenvolvimento efetivo para o segmento comercial, tendo como referenciais a preservação e conservação do patrimônio cultural, histórico e ambiental. Podia-se, talvez, resistir à desumanização de sistemas urbanos concebidos para automóveis e não para pessoas, à poluição das águas e da atmosfera, à especulação imobiliária e ao impacto do processo de urbanização sobre os ecossistemas de dunas, restingas, manguezais e matas, ainda relativamente exuberantes no estado. O Brasil não atingira a dimensão hiperbólica do consumo de bens supérfluos que se alastraria pelo mundo em tempos de globalização, no que se passaria a chamar, após os anos 80, de cultura do descarte.


Já em 23 de janeiro de 1959, Motta havia instalado o Conselho de Turismo da Fecomércio-BA, formando a primeira turma de guias-intérpretes do Senac e atuando em parceria com a Diretoria de Turismo da Prefeitura de Salvador. As finalidades do Conselho, segundo ele, eram “[...] apenas de estudar, classificar, sugerir e incentivar todas as iniciativas públicas ou particulares que visam o desenvolvimento do turismo”.26 Uma iniciativa pioneira num estado em que, somente a partir de meados da década de 60, o turismo passaria a ser explorado de forma planejada, e consistiria, de fato, numa mudança de paradigma no conceito de desenvolvimento econômico. Conceito que dispensa grandes firmas de exportação e importação, oligopólios e no qual o comércio varejista, principalmente, encontraria um novo alento por meio do impulso de sobrevivência e prosperidade, principalmente numa cidade como Salvador, rica em atrativos culturais, arquitetônicos e naturais. A Fecomércio-BA expressaria, nas palavras do seu presidente, a ênfase dada a esse segmento na economia do Estado. No dia 5 de janeiro de 1975, durante a inauguração do Centro de Formação Profissional para Turismo e Hospitalidade do Senac, no Pelourinho, Deraldo Motta abriria seu discurso fazendo uma profissão de fé:

Com o governador Antônio Carlos Magalhães, principal parceiro da Fecomércio-BA para o trabalho de revitalização do Pelourinho, no Centro Histórico de Salvador.

“O comércio baiano acreditou sempre que o turismo é uma das maiores possibilidades econômicas, senão mesmo a principal do Estado. Quando empossado, o governador Antonio Carlos Magalhães convocou a Bahia para processar a recuperação do Pelourinho. Fizemos a nossa parte e aqui estamos para entregar à Bahia a Empresa Pedagógica Senac, voltada para o turismo e a hospitalidade.”27 O Sistema Fecomércio-BA passava, então, a ministrar cursos voltados para o atendimento profissional especializado e direcionado, cada dia mais, aos numerosos grupos de turistas que chegavam a Salvador, trazendo divisas e boas razões para que os poderes públicos investissem na divulgação da Bahia, no Brasil e no exterior. Formavam-se, no Estado, importantes polos turísticos 99


em áreas específicas, como a Baía de Todos-os-Santos, o Recôncavo Baiano, o Médio Sul, a Chapada Diamantina, o Extremo Sul e o Litoral Norte. Deraldo Motta morreu enquanto dormia, na madrugada do dia 13 de julho de 1987, antes de inaugurar a sua obra magna,


a Casa do Comércio. A insistência em só inaugurá-la após os serviços de acabamento no teatro o impediu de assistir ao funcionamento da sede com a qual tanto havia sonhado. Arilton Soares Esteves lembra o entusiasmo com que, durante a construção, ele convidava os funcionários para visitar as obras: “Não tinha elevador e a gente subia onze andares para ele mostrar as ideias dele. A mim mesmo ele disse [quando chegou no alto do prédio em construção]: ‘Venha aqui ver a sua sala’. E, realmente, quando ficou tudo pronto, eu fui trabalhar naquele lugar”. Ele próprio, entretanto, não chegou a ocupar a sala que lhe seria reservada, nem a colocar em prática um dos seus projetos mais acalentados: o de instalar, naquele prédio, um centro de estudos voltado para o Nordeste, similar à Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro, e uma Universidade do Turismo. Sonho que, ao contrário de tantos outros, não pôde realizar.

No canteiro de obras da Casa do Comércio, Motta acompanhava cada etapa da construção da futura sede da Fecomércio-BA.


Nelson Daiha: entre dois mundos Em julho de 1987, o comando da Federação passou para o então primeiro diretor tributário, Nelson Antônio Daiha. Aos 45 anos de idade, Daiha reunia as qualidades necessárias para realizar o trabalho que se lhe impunha naquele momento. De acordo com o atual presidente da Fecomércio-BA, Carlos de Souza Andrade, “Nelson era uma pessoa por demais comunicativa, um empresário do comércio de perfumaria e de brinquedos, de armarinho. Era também muito determinado e fez uma relação muito boa com a presidência da Confederação”.28 Como membro atuante da diretoria da Fecomércio-BA, ele teria exercido, segundo Andrade, papel relevante, durante a gestão de Motta, no processo de construção e inauguração da nova sede: “Nelson Daiha convenceu o nosso presidente da Confederação, Antonio de Oliveira Santos, de que a Bahia precisava desta casa, por ser a primeira capital do Brasil, por ter sido aqui onde se decretara a abertura dos portos às nações amigas, por ser a mentora desse fato histórico. Ele invocava a construção de um prédio de referência para o nosso estado. Eu acho que ele não sabia que ia chegar a esse entorno tão grande, mas Deraldo pensava alto, sonhava alto, eu acho que ele [Daiha] fez uma realização à altura do sonho dele.” Em 1987, quando Daiha assumiu a presidência, fazia apenas três anos que se havia concluído o ciclo dos governos militares, com a eleição de um civil, o político mineiro Tancredo Neves, para a presidência da República. Tancredo concentrava a esperança de 120 milhões de brasileiros na condução do processo de redemocratização. Uma grande perplexidade tomaria conta da nação, entretanto, ao saber que o presidente eleito havia sido hospitalizado devido a uma doença cuja gravidade havia sido mantida em segredo. A rápida escalada da enfermidade o levaria a entrar em estado de coma, mobilizando o país em vigília pela recuperação que terminou não acontecendo.

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O país sofria, assim, um grande trauma provocado pelo desaparecimento do homem que representava o anseio nacional pelo fim do arbítrio, expresso no movimento das “Diretas Já”. Em seu lugar foi empossado o então vice-presidente, José Sarney, cujo governo, que durou de 15 de março de 1985 até 15 de março de 1990, ficaria marcado pela tentativa fracassada de conter a hiperinflação. Era este, pois, o contexto político-econômico no qual Nelson Daiha assumia a presidência da Federação do Comércio: o descontrole das finanças públicas, embora já não atingisse o processo de construção da nova sede, a esta altura quase pronta, dificultaria, entretanto, a conclusão do empreendimento cujas demandas implicavam ainda um considerável esforço de gerenciamento e conciliação. A “década perdida”, como seriam depois chamados os anos 80, teria a seu favor, entretanto, a par da redemocratização em curso, a instalação da Assembleia Nacional Constituinte, em 1988, com a promulgação da Carta Magna que rege o Brasil até os dias de hoje. Em benefício do processo de continuidade que, a despeito de todas as dificuldades, precisaria ser deflagrado, não só para aquele momento como para tudo o que viria depois, havia o que Carlos Andrade chamava de relação simbiótica entre Motta, Daiha e o sucessor deste último, Carlos Amaral:

Nelson Daiha enfrentou o desafio de concluir e inaugurar a Casa do Comércio num momento de grave crise política e econômica pela qual passava o Brasil.

“Então, quem teve realmente a ideia desse prédio, dessa magnitude de prédio que é uma referência para a cidade de Salvador, para o estado da Bahia e para a nossa Federação do Comércio, quem construiu foi Deraldo Motta, tanto que o nome é Casa do Comércio Deraldo Motta. Mas Deraldo não conseguiu inaugurar, veio a falecer antes da inauguração e Nelson Daiha, que foi o seu sucessor, realmente tem muito mérito, pois teve muito trabalho para concluir esse prédio majestoso. E depois de Nelson, o Carlos Amaral manteve a estrutura funcionando aqui na Federação, com dois andares e mais o Sesc e o Senac. Hoje nós ocupamos um prédio que tem onze andares e temos em torno de dez mil metros quadrados de área.”

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A luta para a inauguração encetada por Daiha é também ressaltada por Nelson Daiha Filho, que assim se refere ao processo vivenciado por seu pai naquela época:

Casa do Comércio Deraldo Motta Idealizada e iniciada por Deraldo Motta e inaugurada em 28 de janeiro de 1988, sendo presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, Antonio Oliveira Santos, e presidente da Federação do Comércio do Estado da Bahia e dos Conselhos Regionais do Serviço Social do Comércio-Sesc e do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial-Senac, Nelson Antonio Daiha.

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“No que concerne aos sacrifícios por ele enfrentados, destacaria, logo de início, os imensos embaraços existentes em relação à obra de construção do edifício da Casa do Comércio. Foi uma série de problemas de ordem técnica, fiscal, administrativa e trabalhista que precisaram ser suplantados, para que o sonho da comunidade empresarial baiana pudesse se tornar realidade. E, nesse sentido, não poderia deixar de invocar a memória de um nome, dentre outros tantos que o auxiliaram: leal, competente e habilidoso, Dr. Aquinoel Borges, chefe da Assessoria Jurídica, foi fundamental para ‘expurgar’ os obstáculos jurídicos então existentes e propiciar a conclusão da tão almejada obra e sua consequente inauguração. É preciso fazer justiça: o apoio do saudoso Dr. Aquinoel foi determinante para que a Fecomércio-BA



pudesse se tornar, como é hoje, a principal entidade de defesa da classe empresarial comercial baiana. Inquestionavelmente, os outros desafios enfrentados por Nelson Daiha na Presidência da Fecomércio-BA foram os diversos planos econômicos pelos quais o país atravessou: Planos Bresser, Verão, Collor e o início do Real. Naquele momento, o processo de negociação com os governos federal, estadual e municipal se faziam importantes, e a habilidade e o poder de persuasão que ele detinha foram essenciais para minimizar as dores vivenciadas pela classe empresarial.”

Fernando Frank, um dos arquitetos que traçaram o ousado projeto da Casa do Comércio.

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Destacado por suas qualidades pessoais – a simplicidade com que lidava com as pessoas e as coisas do dia a dia, a intransigência com quaisquer desvios éticos, a forma cordial e amistosa como tratava todos os funcionários e a competência e a diligência com que tratava os interesses da classe patronal, dos sindicatos e dos comerciários –, Daiha logo conseguiu transmitir a todos os integrantes do Sistema a confiança necessária para enfrentar os desafios dos novos tempos que se anunciavam. O mundo passava, naquele momento, por transformações surpreendentes que marcariam o futuro da humanidade nas décadas seguintes, estabelecendo o fim de uma era. A queda do Muro de Berlim, ocorrida em 9 de novembro de 1989, teve o significado simbólico de representar o fim da Guerra Fria, abrir a possibilidade para o subsequente processo de reunificação da Alemanha e da Unificação Europeia, evento geopolítico de grande impacto na passagem do século XX para o século XXI. O momento histórico coincidiria com o processo de globalização, com o desenvolvimento de novas tecnologias de informação e comunicação, e, no Brasil, já no governo de Fernando Collor de Mello (1990-1992), com a abertura do país para o mercado externo, com forte impacto na economia e, especialmente, no comércio de bens eletrônicos. Iniciava-se ali o surgimento gradativo dos telefones celulares, TVs digitais, videogames, i-phones e smartphones que se multiplicam vertiginosamente até os nossos dias.


Enquanto isso, a Fecomércio-BA atuava em várias frentes, com destaque para três pontos considerados essenciais nesse período: primeiro, o apoio intensivo aos comerciários, pelo incentivo às ações do Sesc e do Senac na Capital. Nessa gestão foram inaugurados o Restaurante Sesc Centro, na Rua Rui Barbosa, no Centro da Cidade Alta, onde realizam-se campanhas educativas e apresentações artísticas, além de dispor de um Posto de Orientação Social, e o Sesc Rua Chile - Centro de Convivência da Terceira Idade, com ações voltadas prioritariamente para o idoso, proporcionando-lhe serviços e atividades com programação diversificada nas áreas de Saúde, Cultura, Lazer e Educação; segundo, o trabalho de aproximação e fortalecimento dos sindicatos integrantes do Sistema, e, terceiro, o início efetivo do processo de interiorização do Sistema S, com a implantação de unidades em municípios baianos. Ações que vêm sendo ampliadas nas gestões posteriores, de Carlos Amaral e Carlos Andrade. A interiorização do Sistema S é enfatizada por João Luiz dos Santos Jesus, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de

O governador da Bahia, Waldir Pires (1987-1989), ao lado de Nelson Daiha, durante a inauguração da Casa do Comércio, sede definitiva da Fecomércio-BA, em 28 de janeiro de 1988.

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Comemoração dos 50 anos da Federação. Missa na Igreja da Conceição da Praia, em Salvador, reúne grande número de convidados e personalidades da Bahia.

Vitória da Conquista. Para ele, a instalação da primeira unidade no interior da Bahia, naquele município, teve um efeito muito positivo na economia regional.29 Lembra que, na oportunidade, foi feito um pleito a Nelson Daiha, que acolheu o pedido, dando “o pontapé inicial para a interiorização do Sistema Sesc-Senac”. Após a unidade de Vitória da Conquista, seria a vez de Feira de Santana, e, mais tarde, outros municípios, como Jequié, Santo Antônio de Jesus, Porto Seguro e Jacobina. O Sistema, agora, está presente em onze municípios da Bahia. Como ressalta João Luiz: “Então, o Sesc e o Senac prestam um grande serviço na área social, educacional e na área de saúde. Sinto-me muito feliz e honrado por ter cobrado de Nelson Daiha que nos atendeu prontamente. Ele foi muito acessível ao nosso pleito e, na oportunidade, em 26 de julho de 1996, inauguramos em Conquista, no mesmo dia, o Sesc e o Senac. O Sesc, construído pela Federação do Comércio e o Senac, pelo nosso sindicato, com recursos próprios. Na realidade, não construímos o Senac, fizemos uma unidade de 1.500 metros quadrados, na qual, em comodato, o Senac está lá com a gente, já há 20 anos.

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Foi um marco, para quem não tinha nada no interior da Bahia, no mesmo ano inaugurar esses dois braços sociais do Sistema, que são atuantes, pela sua capacidade técnico-operacional e pela seriedade com que o Sistema é gerido, seja pelos diretores regionais, seja pelos gerentes locais de todas as unidades do Sesc-Senac. Pelo menos, na Bahia, eu posso garantir que sim.” José Carlos Moraes Lima, segundo vice-presidente da Fecomércio-BA e presidente do Sindicato do Comércio de Feira de Santana, também atribui à gestão de Nelson Daiha, o impulso maior para a expansão do Sesc-Senac no Estado: 30 “Nelson foi o presidente que procurou expandir, procurou melhorar o entendimento entre os sindicatos. [...] Para o comerciário isso foi excelente e agradecemos muito ao Sesc e ao Senac por terem ido para Feira. [...] Hoje é um ponto positivo no treinamento para o comerciário, principalmente a parte de cozinha, nos hotéis, na área hoteleira. Nós estamos tendo um grande sucesso, isto pelo apoio que a Federação deu em Feira de Santana.” Poucas pessoas conseguem reunir, numa mesma proporção, qualidades pessoais e profissionais como as que são louvadas e reconhecidas na pessoa de Nelson Daiha por todos os que Posse da diretoria da Fecomércio-BA para o triênio 1995/1998. Nelson Daiha assina termo de posse ao lado do vice-presidente Carlos Amaral.

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conviveram com ele. Esse ponto é destacado pelo presidente da ABI, Walter Pinheiro: “Nelson era figura maravilhosa, um homem do comércio, um homem devotado às ações do Sistema Fecomércio-BA, e as pessoas que o conheciam às vezes demonstravam uma estranheza pelo fato de que o presidente da Federação do Comércio, com todo o poder que tinha, vivendo nas instalações como as que aqui temos, revelasse uma simplicidade impressionante. Eu mesmo o encontrava no armarinho que tinha, perto do Elevador Lacerda, sentadinho lá, fazendo as contas... Quer dizer, era um homem que tinha todo esse poder, tinha toda essa facilidade de se valer desses recursos, mas ele não fazia, ele mantinha a humildade, a simplicidade, que ele aprendeu desde a época do pai, quando constituiu a Loja Daiha, lá no Comércio. E coube a ele dar vida à Casa do Comércio, porque ele terminou a obra e, a partir daí, começou a implantação de todo o sistema da Federação, do teatro, dos restaurantes, que lá tem, das salas de encontros, promovendo ou sendo um ponto muito utilizado para seminários, para painéis, reuniões, servindo também não só aos comerciantes, como aos comerciários, além do trabalho que o Senac desenvolve ali.”

Exposição “História do Comércio em Salvador 1500/2000”. Nelson Daiha, ao lado da esposa, Vera, mostra foto da Associação Comercial da Bahia, primeira sede da Federação do Comércio do Estado da Bahia.

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Comemoração dos 50 anos da Fecomércio-BA em 1997. Solenidade de entrega de medalhas e diplomas a conselheiros, presidentes de sindicatos e funcionários. Na foto, Nelson Daiha, presidente da Fecomércio-BA na ocasião, entregando medalha à Carlos de Souza Andrade, atual presidente da Federação.

Para Vera Daiha, que foi casada com Nelson durante 34 anos, até a sua morte, a simplicidade era uma de suas características mais marcantes como ser humano e homem público: “Os funcionários tinham grande consideração pelo Nelson pela forma como ele tratava as pessoas. Não fazia diferença entre elas, cumprimentava todas as pessoas... o rapaz que estava passando o pano no chão, o rapaz que estava na recepção, as pessoas do elevador. Ficavam impressionados porque ele cedia o lugar na fila do elevador. Então era uma coisa dele. Ele era uma pessoa simples, um comerciante que lidava com os camelôs, que os camelôs chamavam pelo nome. Era advogado, mas se sentia comerciante. Então ele tinha esse lado muito humano e muito simples de ser.” Carlos Amaral, que na última gestão de Daiha ocupava a vice-presidência, afirma que na administração de Nelson Daiha, a Federação, na Bahia, alcançou todos os benefícios possíveis, dotando os comerciários de lazer e ensino. Os passos seguintes seriam dados em sua própria gestão.

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Notas 1

FERREIRA, Wagner. Salvador: hoje cidade turística, antes industrial. Portal Bahia Econômica, Salvador. Disponível em: <http://www.bahiaeconomica.com.br/noticia/40978, salvador-hoje-cidade-turistica-antes-industrial.html>. Acesso em: 26 abril 2017. Iniciava-se, nesse período, uma consciência maior sobre os prejuízos provocados pela instalação de indústrias poluentes no perímetro urbano. Os resultados dessa consciência, entretanto, demorariam a aparecer. A antiga fábrica de chocolates Chadler, instalada na Península Itapagipana em 1944, levaria ainda 50 anos para ser fechada. Mas as restrições à instalação de novas indústrias já passavam a existir. Para o economista Armando Avena, “Para que uma indústria esteja instalada em uma grande cidade, é preciso que esta não seja poluente, que atue, por exemplo, nos ramos têxtil, de serviços, informática, entre outras atividades e, por este motivo, terá o seu percentual poluente reduzido. Esses pré-requisitos garantem que o impacto ambiental não seja direto à população que circunvizinha a fábrica”.

2

FALCÓN, Gustavo Aryocara de Oliveira. Três décadas que mudaram a Bahia. Salvador: Solisluna Design e Editora, 2003. p. 25, 27.

3

Ibid., p. 35.

4

Ibid., p. 31.

5

Ibid., p. 31.

6

RUBIM, Antonio Albino Canelas; COUTINHO, Simone; ALCÅNTARA, Paulo Henrique. Salvador nos anos 50 e 60: encontros e desencontros com a cultura. Revista de Urbanismo e Arquitetura, Salvador, v. 3, n. 1, p. 30-38, 1990. Disponível em: <https://portalseer.ufba.br/index.php/rua/ article/viewFile/3104/2218>. Acesso em: 2 Maio 2017.

7

BORGES, Jafé; LEMOS, Gláucia. Comércio baiano: depoimentos para sua história. 2. ed. Salvador: Assembleia Legislativa do Estado da Bahia, Associação Comercial da Bahia, 2011. p. 119.

8

FEDERAÇÃO DO COMÉRCIO DE BENS, SERVIÇOS E TURISMO DO ESTADO DA BAHIIA. Ata da Sessão da Diretoria da Federação do Comércio da Bahia. Salvador, 10 de agosto de 1950 (Livro de Atas, p. 17).

9

SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO. Escola SESC Zilda Arns. Salvador, 2017. Disponível em: <http://www.sescbahia.com.br/zildaarns.aspx>. Acesso em: 22 abr. 2017. SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO. O Sesc Bahia. Salvador, 2017. Disponível em: <http://www. sesc-bahia.com.br/osescbahia.aspx>. Acesso em: 24 abr. 2017.

10

SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM COMERCIAL. Conheça o Senac. Salvador, 2017. Disponível em: <http://www.ba.senac.br/Institucional>. Acesso em: 25 abr. 2017.

11

FEDERAÇÃO DO COMÉRCIO DE BENS, SERVIÇOS E TURISMO DO ESTADO DA BAHIIA. Ata da Sessão da Diretoria da Federação do Comércio da Bahia. Salvador, 12 set. 1952 (Livro de Atas, p. 28-29). Nesta, que foi a terceira e última gestão de Arthur Fraga à frente da instituição, a diretoria da Fecomércio-BA passou a ser composta também por Orlando Moscozo Barretto de Araújo (vice-presidente), Deraldo Motta (secretário) e Arthur Machado Soares Júnior (tesoureiro).

12

PORTO FILHO, Ubaldo Marques. Deraldo Motta, realizador de sonhos. Salvador: Associação de Fomento à cultura, 2004, p. 28.

13

Eleita a chapa, constituiu-se, assim, a nova diretoria: Orlando Moscozo (presidente), Deraldo Motta (1º vice-presidente), Everaldo de Souza Bacellar (2º vice-presidente), Antônio França Jenkins (1º secretário), Manfredo Brandão Torres (2º secretário), Albertoni Bloisi (1º tesoureiro) e Arthur Machado Soares Júnior (2º tesoureiro).

14

Orlando Moscozo Barretto de Araújo (1922-1996) foi, dentre muitas outras atividades, presidente da União dos Estudantes da Bahia em 1943/44, deputado estadual (1955/1959), vice-governador da Bahia no governo de Juracy Magalhães (1959/1963) também vice de Lomanto (1963/1967), grande empresário do cacau e presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), de 1983 a 1992.

15

A diretoria eleita foi constituída por Deraldo Motta (presidente), Adhemar Ferreira Batista (1º vice-presidente), Alberto Bloisi (2º vice-presidente), Christóvam Colombo Maia Sampaio (1º secretário), Fernando Ayard Maciel (2º secretário), Everaldo de Souza Bacellar (1º tesoureiro) e Florisvaldo Atálico de Assunção (2º tesoureiro).

16

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PORTO FILHO, Ubaldo Marques. Deraldo Motta: realizador de sonhos. Salvador: Associação de Fomento à Cultura, 2004. p. 18.

17

Mais tarde formaria a rede de Lojas O Cruzeiro, de artigos para o lar, eletrodomésticos e presentes, bastante popular em Salvador.

18

SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO. Sesc Nazaré – Centro de Atividades. Salvador, 2017. Disponível em: <http://www.sescbahia.com.br/nazare.aspx>. Acesso em: 3 Maio 2017. Atual Centro Odontomédico e Escola de Educação Infantil. O Centro conta também com auditório com capacidade para 84 lugares, Central de Atendimento, Biblioteca e Restaurante/Lanchonete.

19

PORTO FILHO, op. cit., p. 52. Neste documento o autor diz: “Com capacidade para dois mil alunos, nos três turnos, destinava-se a abrigar, preferencialmente, filhos de dependentes dos comerciários baianos.”

20

SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO. Informações sobre reservas. Salvador, 2017. Disponível em: <http://www.sescbahia.com.br/piata.aspx>. Acesso em: 3 Maio 2017. Atualmente denominado Centro de Lazer e Hospedagem Sesc-Piatã.

21

PORTO FILHO, op. cit., p. 52. Compunha-se de equipamentos voltados às atividades de entretenimento e desenvolvimento artístico-cultural das crianças, disponibilizando parque de diversões, escolas e serviços médico-odontológicos.

22

SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO. Sesc Comércio – Restaurante. Salvador, 2017. Disponível em: <http://www.sescbahia.com.br/comercio.aspx>. Acesso em: 3 Maio 2017. A unidade dispõe hoje de Posto de Orientação Social e Central de Atendimento.

23

SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO. Teatro Sesc – Senac Pelourinho. Salvador, 2017. Disponível em: <http://www.sescbahia.com.br/teatrosescsenac.aspx>. Acesso em: 3 Maio 2017. Inaugurado em 1975, ano de restauração dos casarões que formam o Complexo Turístico Sesc-Senac Pelourinho, o Teatro possui duas salas: um palco italiano e um semi-arena. Após ampla reforma em parceria com o Governo do Estado, o espaço foi reinaugurado em 1998, com nova infraestrutura, que inclui hall, bilheteria, área administrativa, foyer, café bar, camarins e iluminação cênica. Desde então, possui uma programação ininterrupta. Importante espaço cultural de Salvador, o Teatro já recebeu, ao longo de sua trajetória, diversos artistas nacionais e internacionais do teatro, do circo, da dança e da música. É um dos mais intensos da cidade, com atrações a preços populares para atender aos comerciários, seus dependentes e ao público em geral, além de contribuir para a formação e fidelização de novos públicos culturais.

24

25

A maioria dos depoimentos foram colhidos em dependências da Casa do Comércio.

PORTO FILHO, Ubaldo Marques. Deraldo Motta: realizador de sonhos. Salvador: Associação de Fomento à Cultura, 2004. O depoimento foi dado, segundo Ubaldo Marques Porto Filho (p. 62) em entrevista ao jornal Diário de Notícias, em 29 de agosto de 1957, portanto dois anos antes da implantação efetiva do Conselho.

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27

Ibid., p. 66.

Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), à qual as federações do comércio, no Brasil, são filiadas.

28

SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO. Sesc Vitória da Conquista. Salvador, 2017. Disponível em: <http:/www.sescbahia.com.br/conquista.aspx>. Acesso em: 3 Maio 2017. O Sesc Vitória da Conquista, fundado em 27 de julho de 1996, vem atuando de forma consistente, oferecendo diversos serviços aos comerciários e seus dependentes, como: Odontologia, Escola de Educação Infantil e Fundamental, Biblioteca, Atividades de Lazer, Turismo Social, Atividades Culturais, Ação Comunitária, Cursos de Educação Complementar e de Valorização Social, Desenvolvimento físico-esportivo e desenvolvimento artístico cultural, além do Trabalho Social com Idosos.

29

SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO. Sesc Feira de Santana. Salvador, 2017. Disponível em: <http:/ www.sescbahia.com.br/feira.aspx>. Acesso em: 3 Maio 2017. O Sesc Feira, fundado em 6 de março de 1997, vem atuando de forma consistente, oferecendo diversos serviços como: Odontologia, Escola de Educação Infantil e Fundamental, Biblioteca, Atividades de Lazer, Turismo Social, Atividades Culturais, Ação Comunitária, Cursos de Educação Complementar e de Valorização Social, Desenvolvimento físico-esportivo e desenvolvimento artístico cultural.

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Capítulo IV

Consolidação e renovação do Sistema

A

o assumir a presidência da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia, em 2002, Carlos Fernando Amaral já habitava um mundo vertiginoso e imprevisível. Vertiginoso pelo impacto da comunicação instantânea, pela circulação cada dia mais rápida da informação através das redes sociais, pela conexão entre pessoas dos mais diversos quadrantes do globo, pela transformação contínua das novas tecnologias digitais. Imprevisível pela escalada da violência e do terrorismo em proporções inauditas, verificada após os atentados de 11 de setembro de 2001. À promessa de entendimento e unificação representada pelo final da Guerra Fria e o desarmamento nuclear, contrapunha-se a incidência, cada dia maior, da intolerância política e religiosa e a imposição de poderosos interesses econômicos. A invasão do Iraque pelos Estados Unidos e o Reino Unido, naquele mesmo ano, agravaria ainda mais o clima de hostilidade e resultaria em novos e infindáveis desdobramentos. Outra crise, de ordem econômica, provocada pela quebra do tradicional banco Lehman Brothers, nos EUA, em 2008, afetou dramaticamente as finanças de vários países ao redor do mundo, sem, entretanto, causar maiores consequências ao Brasil, que, já no segundo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2007-2011), conseguia manter-se estável em sua balança de pagamentos e no controle da inflação. A situação seria revertida, entretanto, no segundo governo de sua sucessora, Dilma Rousseff, em 2016, com a deterioração progressiva da economia, cujas consequências mais dramáticas traduziam-se no alto índice de falências de

No início do século XXI, o mundo passava a enfrentar desafios impostos pela escalada do terrorismo em escala global, por crises econômicas e transformações tecnológicas que impactariam as relações sociais e de trabalho em todo o mundo.

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empresas e no desemprego. O quadro geral da administração pública aliado à impopularidade da presidente e a interesses políticos outros resultaria, em 31 de agosto de 2016, no impeachment da presidente, substituída pelo vice Michel Temer. Em pouco mais de dez anos, o país que aparecia no cenário internacional como uma emergente potência econômica, ao lado do “tufão” chinês e dos chamados “tigres asiáticos”, conheceria a euforia do crescimento econômico e da inclusão social, e uma profunda depressão agravada por denúncias de corrupção em alta escala no “Mensalão”, e, posteriormente, no “Esquema da Petrobras”, denunciado pela Operação Lava Jato. No dia a dia do homem comum, o ambiente hostil revelava-se no aumento exponencial da criminalidade, traduzida em guerras de quadrilhas, assaltos, explosões de caixas eletrônicos, tiroteios entre bandidos e policiais, “balas perdidas” vitimando inocentes e no crescente caos urbano, marcado pelo crescimento da sensação de insegurança. As ruas deixavam de ser um acolhedor espaço de convivência para tornar-se fonte de medo e inquietação. A sensação de insegurança já era, em Salvador, desde os anos 70, embora em menor escala, um dos motivos da migração de grande parte do público consumidor de classe A e B de áreas comerciais da Avenida Sete, Rua Chile, São Bento e Rua da Ajuda, bem como da Barra e do Canela, para a fria segurança dos shopping centers. A partir de 1975, ano de inauguração do Shopping Iguatemi, primeiro da Bahia e segundo do Brasil, surgiriam outros estabelecimentos do gênero que passavam a fazer parte do cotidiano de Salvador. Em 12 de dezembro de 1980, inaugurou-se o Shopping Itaigara, em bairro nobre, originado de um loteamento da Pituba; em 31 de outubro de 1986, o Brotascenter, no populoso bairro de Brotas; em 16 de novembro de 1987, o Barra, na Avenida Centenário; em 21 de outubro de 1999, o Aeroclube Plaza Show, um dos mais badalados pontos de encontro dos jovens, entre os bairros da Boca do Rio e Armação, na orla marítima; em 22 de maio de 2007, o Salvador Shopping, na Avenida Tancredo Neves; 118


em março de 2008, o Bela Vista, no Horto Bela Vista. Todos incluíam a oferta de um grande número de lojas, praças de alimentação, restaurantes e salas de cinema, além de estacionamento próprio. Outros shoppings, pequenos e médios, proliferavam-se pelos bairros, na zona metropolitana, e cidades do interior. A decadência do comércio de varejo e dos, até então, prestigiados cinemas de rua do centro da cidade, seria causa e consequência do afastamento gradual dos fregueses – agora denominados “clientes” – sobretudo os das classes média e média alta. Para sobreviver, num clima de forte instabilidade econômica e pouco amparo dos poderes públicos, os comerciantes de rua percebiam agora a necessidade de abraçar alguns elementos já considerados essenciais: estacionamento próprio ou de fácil acesso nas

Os shopping centers modificaram radicalmente a dinâmica do comércio, com forte impacto sobre o comércio de rua. Na foto, Salvador Shopping, um dos mais frequentados estabelecimentos do gênero em Salvador.

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Surgimento dos shopping centers levam lojas de rua a investir na imagem como forma de atrair os clientes.

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proximidades dos estabelecimentos, contratação de seguranças, originalidade, conforto, marketing. Ainda assim, no período de quarenta anos, desde os anos 70 até hoje, registrava-se um alto índice de falências e o desaparecimento de casas comerciais.1 Conforme ressalta o diretor suplente da Fecomércio-BA, conselheiro do Senac e presidente do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, Eduardo Morais de Castro, “[...]o advento dos shopping centers trouxe a decadência das chamadas ‘ruas principais de comércio’ em todo o Brasil, particularmente aqui na Bahia, onde não soubemos evoluir, disseminar, mas também, mais do que tudo, preservar”. A situação começou a ser revertida, ainda no final dos anos 80 e nos anos 90, com o investimento de lojas de departamentos, fast foods e grandes magazines que se instalaram em áreas comerciais da cidade, fora dos shopping centers.2 De acordo com Paulo Motta, presidente do Sindilojas, existem hoje aproximadamente doze mil lojas em Salvador e 70% deste total estão na rua. “Nós geramos 125 mil empregos em Salvador e 88 mil estão no comércio de rua.”


Para a Fecomércio-BA, lidar com este quadro de oscilações e instabilidade não seria uma tarefa muito fácil. Talvez fosse o momento de acolher, com mais cuidado do que se fizera até então, os segmentos dos comerciantes e comerciários que procuravam reagir num horizonte tão complexo e movediço. Para Carlos Amaral, dar continuidade ao trabalho realizado por Daiha era, naquele momento, mais que uma consequência lógica, um percurso inevitável. Ele próprio, como vice-presidente do seu antecessor, ajudara a construir o legado que agora, na condição de presidente, teria a oportunidade de levar adiante: “Daiha dirigia a Federação do Comércio junto comigo, dirigíamos com muita afinidade. Ele imprimiu um grande progresso para as entidades [Sesc e Senac], e eu dei sequência a isto.” Um dos principais trabalhos desenvolvidos na gestão anterior, diz Amaral, de forma bastante enfática, foi o de maior aproximação com os sindicatos e de fortalecimento da representatividade destes. Priorizá-los era, portanto, necessário desde a

Lojas de rua garantem a exposição de seus produtos como forma de atrair os clientes num momento de grandes mudanças.

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constatação óbvia de que a Federação é formada por sindicatos e que, portanto, “[...] ela vive para eles, que são os verdadeiros formadores da Federação”. Como homem de confiança de Daiha, e na condição de presidente da Comissão de Enquadramento Sindical da CNC, que é por onde passam os filtros para adesão ao Sistema, ou seja, que decide quais os sindicatos, atendendo normas legais específicas, serão filiados, Amaral teve uma atuação decisiva neste momento junto aos sindicatos. Coube também a ele dar continuidade ao processo de interiorização do Sistema, no sentido de ampliá-lo e consolidá-lo. A importância crucial desse processo é enfatizada pelo presidente da Associação Bahiana de Imprensa (ABI) e diretor do jornal Tribuna da Bahia, Walter Pinheiro: Yvette Amaral e o presidente Carlos Amaral, a diretora regional do Senac, Marina Almeida, Lucia Cunha e Sidney Cunha, diretor nacional do Senac, no Festival da Gastronomia Baiana em Lisboa (Portugal), no ano de 2004.

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“Carlos Amaral marcou a sua gestão com muita austeridade, muito preocupado com os ajustes de conta e também com a interiorização dos serviços da Fecomércio-BA. Então, surgiram unidades em Jequié, Santo Antônio de Jesus, Barreiras e em Porto Seguro também. E, enfim, outras já programadas para instalação, para


levar os trabalhos do Sistema Fecomércio-BA para outras áreas do estado da Bahia onde há carência de treinamento de mão de obra e de serviços aos comerciários. Então, Amaral manteve os investimentos e a vida sociocultural, de entretenimento e treinamento que a Casa do Comércio oferece, como também os melhoramentos permanentes nas áreas da Colônia de Férias e nessas unidades outras que foram implantadas em todo o estado.” A consolidação e a renovação se daria com base na necessidade de reorganização e fortalecimento econômico e institucional do Sistema. Diferentemente dos seus antecessores, a revolução dava-se agora de forma silenciosa, distante dos holofotes, por meio de um cuidadoso planejamento estratégico. Este ponto é ressaltado pelo atual presidente da Fecomércio-BA, Carlos Andrade: “Eu fui o primeiro vice-presidente de Amaral e destaco a participação que ele tem com a formação de uma equipe, a diretoria trabalhando mais com cooperação, ouvindo mais os parceiros. Porque, antes, o sindicalismo era muito individualista. Já na época de Amaral, a partir do ano de 2010, ele foi mais receptivo a fazer um planejamento estratégico para a Federação do Comércio, e aí contou com a colaboração de alguns novos diretores, inclusive eu que já era vice-presidente. Convocamos cinco ou seis companheiros e fizemos durante seis meses esse planejamento estratégico. E esse plano foi colocado de forma que todos os sindicatos pudessem participar e que fosse aprovado pela diretoria. Assim a Federação teve outro rumo.”

Carlos Amaral, ao lado da esposa, Yvette Amaral, recebe o Título de Cidadão da Cidade do Salvador, em homenagem prestada pela Câmara Municipal. Justo reconhecimento por suas ações em prol do desenvolvimento do comércio baiano.

Ao assumir a presidência, em 2014, Andrade já dispunha de um plano traçado em 2010 e que serviria de orientação para o cumprimento das metas da Federação, a curto, médio e longo prazos: “Hoje eu estou procurando fazer, com esse grupo todo, uma meta para ampliar o número dos sindicatos, porque naquela época nós tínhamos 29 sindicatos. Nesta data, nós já estamos com 34 sindicatos, e com a participação efetiva, que já estava no nosso planejamento estratégico pretendemos ampliar o número deles,

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principalmente nas cidades do interior. Nós queremos consolidar uma Federação com participação do interior representativo e atuante.” A evolução contínua da Fecomércio-BA, ao longo dos seus 70 anos, deve-se, portanto, a alguns fatores essenciais para o progresso do Sistema: a probidade imprimida por todos os seus presidentes e a continuidade dos trabalhos desenvolvidos em todas as gestões. Características que marcaram Carlos Andrade em sua experiência junto à instituição: “A Federação do Comércio teve uma coisa muito importante que foi a seriedade dos ex-presidentes; tanto Deraldo, como Nelson, como Amaral deixaram um legado de seriedade com a coisa pública, com os empresários do comércio. Isso me deu muita vontade de trabalhar num ambiente fértil.”

Antonio Oliveira Santos, presidente da CNC, com o presidente da Fecomércio-BA, Carlos Amaral e a então diretora regional do Sesc, Célia Batista, na inauguração do Grande Hotel Sesc Itaparica.

Com o planejamento estratégico, começava-se, no início do século XXI, a se construir um legado sólido que agora, numa Bahia bastante transformada e mesmo transfigurada, serve de alicerce para outras não menos ousadas realizações. Andrade destaca, como um dos elementos fundamentais para a renovação que se processa atualmente na Federação, o apoio dado pela CNC, instituição à qual é vinculada, através do presidente Antonio


Inauguração do Sesc Nazaré – Escola Zilda Arns. Carlos Amaral, Célia Batista, diretora regional do Sesc de 1996 a 2015, e Denise Santos, diretora da Escola no ato oficial de inauguração de uma das mais importantes escolas do Sesc no Estado da Bahia.

Oliveira Santos. Apoio que se acresce à coesão da diretoria atual, em torno do qual pode-se focar em um objetivo básico: o de, com a participação de todos os sindicatos e ênfase na interiorização do Sistema, fazer com que a Bahia possa ter uma representatividade do comércio ainda mais ampla e eficaz. Carlos Andrade disse: “Eu sempre acreditei no trabalho, porque eu sempre dizia que quando a gente trabalha muito e bem, com planejamento, com assiduidade, com amor, a prosperidade vem. E aqui na Federação, quando trabalhamos com competência, uma boa equipe, uma diretoria executiva séria, transparente, competente, com vontade de progredir, de mudar, a Federação muda para melhor, e isso nós estamos fazendo. Quero dizer, ninguém trabalha só, ninguém constrói só, eu acho que um dos grandes pontos para a Federação hoje, em 2017, é ter alcançado o reconhecimento no nosso Estado, junto à imprensa, à sociedade e aos governos federal, estadual, municipal. Quando existe esse objetivo de uma equipe, de um grupo, querendo somar, prevalece o entendimento e o bem maior que é a Federação. Estou conseguindo, junto com os meus companheiros, alcançar esse objetivo, tanto no passado, em 2010, quanto na sequência, em 2014 e até 2018.”

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Carlos Andrade: reformando o futuro Ao assumir a presidência da Fecomércio-BA, em 2014, Carlos Andrade recebeu uma Federação organizada, com as finanças equilibradas e com as diversas frentes de trabalho em curso.3 Percebeu, entretanto, que os novos tempos, já entrados no século XXI, estavam exigindo novos caminhos com o objetivo de implantar-se um modelo administrativo mais profissional, técnico, ágil e moderno, assim resumido por ele.

Carlos de Souza Andrade, atual presidente da Fecomércio-BA: ação determinada para a renovação do Sistema Fecomércio na Bahia.

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“O primeiro aspecto a destacar foi a elaboração do diagnóstico da nova estrutura organizacional do Sistema Fecomércio-BA. Dando sequência a esse trabalho, foi feita a atualização do Plano Estratégico da Federação, que definiu novos Missão, Visão e Valores, além de Programas de Ação para as áreas específicas e da publicação das Diretrizes de Gestão, o que permite colocar em prática o que foi planejado.


Uma prova clara de que estamos no caminho certo é a ampliação da nossa base sindical, com cinco novos sindicatos filiados nos primeiros dois anos, avançando no cumprimento de uma de nossas principais diretrizes.” 5 Destaca ainda a ampliação do debate de temas de interesse da classe, mantendo o diálogo constante com o poder público e a sociedade civil organizada, exercendo ações de influência legislativa, sempre com vistas à proteção dos interesses dos representados, e o trabalho desenvolvido em sinergia com a CNC, representante máxima dos 4,5 milhões de empresários brasileiros do comércio: “Em parceria com a Confederação, destacamos os projetos de aperfeiçoamento de gestão sindical, a exemplo do Sistema de Excelência em Gestão Sindical (SEGS) e do Banco de Dados de Contribuição Sindical (BDCS), que visam a autossustentação das entidades sindicais.” A reforma do Estatuto foi o ponto de partida para um novo modelo de administração. Em tempo recorde de cinco meses, contados a partir da posse da nova diretoria, conseguiu-se desenhar o novo estatuto, contando com uma mudança crucial e necessária, limitar dois mandatos à presidência da Fecomércio-BA. Proposta amplamente discutida com os presidentes dos sindicatos e estudada por uma comissão específica. “Precisamos renovar, precisamos oxigenar a entidade. Necessitamos da experiência dos mais velhos, mas também da garra, vitalidade e inovação dos mais novos. Nossa diretoria é hoje bem mais dinâmica e, em 2018, vamos fazer mais modificações para tornar a Federação ainda mais participativa.” Outros pontos importantes do processo de reforma foram a criação de quatro comitês de integração (Jurídico, Comunicação e Marketing, Recursos Humanos e Tecnologia da Informação) envolvendo os diretores regionais do Sesc e do Senac, superintendente da Fecomércio-BA e funcionários das três entidades do Sistema; a elaboração de um novo desenho organizacional com a definição de seis áreas distintas: Comunicação, Controladoria, Institucional, Jurídico, Marketing e Sindical ligadas diretamente

Os presidentes, Carlos de Souza Andrade, da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia (Fecomércio-BA) e Antonio Oliveira Santos, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

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à Superintendência Executiva; lançamento do primeiro Programa de Demissão Incentivada (PDI) do Sistema Fecomércio-BA, numa ação de valorização dos funcionários mais antigos. “Em 2015, já com o processo de mudança de gestão em andamento, contratamos uma segunda consultoria para nos auxiliar na atualização do Planejamento Estratégico e na formação de uma Nova Cultura Empresarial. Nossa equipe participou de dois importantes momentos de treinamento e integração: os seminários Cultura Empresarial e DNA da Comunicação. Este último com a finalidade de dirimir as barreiras que travam o fluxo da comunicação no ambiente de trabalho. Definimos Programas de Ação (PAs) para cada uma das áreas da Fecomércio-BA, que estão sendo acompanhados mensalmente pela superintendência e consultoria contratada.” 6 A par da reforma do Estatuto, procedeu-se também a reforma da estrutura física do 9° andar da Casa do Comércio. Com dez mil metros quadrados de área, parte da infraestrutura já deixava a desejar para sua utilização dentro das demandas hoje 128


existentes. As alterações na infraestrutura para o uso eficaz de energia elétrica, internet e segurança contra incêndios tornaram-se prioritárias. Dois novos espaços foram criados: a Sala dos Presidentes de Sindicatos Nelson Daiha e o Centro de Treinamento Fecomércio-BA. A estratégia de atuação da Federação engloba seis pontos considerados essenciais: a interiorização do Sistema Fecomércio-BA, materializado com o crescimento da base de filiados no interior e na construção de novas unidades do Sesc e Senac; o fortalecimento da representatividade que tem como principal objetivo representar e defender os interesses dos milhares de empresários do comércio de bens, serviços e turismo baiano; a ampliação da base associativa dos sindicatos, visando ampliar e legitimar a representatividade e a eficácia dos sindicatos patronais do comércio, com a meta de chegar a 40 sindicatos filiados ao final do mandato;7 a criação de Câmaras Empresariais, órgãos de caráter consultivo, que funcionam como um fórum de discussão para assuntos específicos de uma categoria8; as parcerias estratégicas, com atuação

Na renovação do 9º andar, sede da Fecomércio-BA, reforma da Sala do Conselho Visconde de Cairu.

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conjunta de entidades idôneas, que possuem objetivos afins, a exemplo das Federações da Agricultura (FAEB), da Indústria (FIEB), das Câmaras de Dirigentes Lojistas da Bahia (FCDL), da Associação Comercial da Bahia (ACB), da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Salvador (CDL); e o Plano de Comunicação com a publicação de uma revista trimestral, reforço nas redes sociais com a criação de uma fanpage no Facebook, além do novo portal da internet. O Plano inclui criação de ferramentas para a comunicação interna, abertura de espaços na mídia impressa e televisiva e a realização de campanhas assistenciais, como o Natal Solidário, com ampla repercussão e resultados na sociedade. Walter Pinheiro resume assim a importância da gestão de Carlos Andrade para o Sistema Fecomércio-BA: “Sou testemunha do que ele representa para o comércio baiano, principalmente no conjunto das farmácias, onde ele participa de forma expressiva. Ele representa muito bem o comerciante baiano e tem uma participação expressiva na Confederação


Nacional defendendo os interesses do comércio baiano como um todo. Esse comércio é muito forte, muito expressivo e eu acho que a Federação tem tomado posições e dado a representação necessária para o grande comércio que é a Bahia. Então, verifica-se a realização de cursos, treinamentos, palestras, a vinda de pessoas seja da CNC, seja de empresários e autoridades que também vêm participar nas instalações da Federação, no Foyer [da Casa do Comércio] com exposições permanentes de obras de arte, o teatro em si, que passou a ser muito frequentado, casando o teatro com o restaurante. Então sextas e sábados ali é um movimento intenso na parte da noite, isto é, algo assim que integrou muito bem a Casa do Comércio ou o Sistema Fecomércio-BA aos interesses da comunidade de Salvador. De forma que quando nós estamos comemorando os setenta anos da Federação do Comércio, podemos verificar que ela veio, venceu e integrou-se aos interesses realmente de Salvador.”

Formação de mão de obra para o segmento de restaurantes: garçons, cozinheiros e chefs de cozinha. Serviço de excelência em espaço privilegiado no décimo-primeiro andar da Casa do Comércio, onde funciona o restaurante escola.


A força do turismo

O bairro do Comércio é também um importante point do turismo em Salvador. Na foto abaixo, vê-se, ao fundo, dois ícones da história e da arquitetura baianas: o Mercado Modelo e o Elevador Lacerda, além da encosta que separa a Cidade Alta da Cidade Baixa.

A percepção do turismo como importante elemento de desenvolvimento econômico sustentável, especialmente na área do comércio varejista, já havia sido incorporada pela Fecomércio-BA desde os anos 50, com a criação do Conselho de Turismo. Assim, a Federação se manteria pari passu com os avanços verificados no setor, tanto no âmbito das iniciativas governamentais quanto da própria CNC, cujas ações marcaram o segmento, no Brasil e no exterior, ao longo dos seus setenta anos de existência. A conscientização sobre a necessidade de se promover uma indústria limpa e não poluente, com impacto bastante positivo no comércio varejista, especialmente nos ramos da hotelaria, lojas (souvenirs) e restaurantes, ganharia força sobretudo a partir dos anos 70. Nesse período foram criados órgãos, no âmbito dos governos estadual e municipal, voltados para a exploração intensiva desse segmento como forte elemento propulsor da economia, num estado com grande riqueza cultural, arquitetônica e ambiental. A diversidade de ecossistemas associada a paisagens de grande beleza cênica; a exuberância da fauna e da flora; o clima ameno; a rica arquitetura colonial, especialmente em Salvador e no Recôncavo Baiano; a variedade e os sabores exóticos da


gastronomia, bem como o interesse pelas manifestações culturais e festas populares, como o São João e o Carnaval, tornam o estado da Bahia excepcionalmente atrativo para o trade turístico. Razão pela qual formaram-se, ao longo dos anos, polos que exercem forte atratividade, tanto em nível nacional como internacional. As potencialidades do estado da Bahia têm sido aproveitadas, pela Federação, em áreas específicas como as do turismo étnico, ecológico e de eventos, entre outros. Vale ressaltar, em meio a esta diversidade, o turismo social, desenvolvido pelo Sesc Bahia, que tem como principal objetivo estimular o hábito de viajar, promovendo conhecimento histórico e cultural. Para isso, oferece passeios e excursões com preços subsidiados aos comerciários e seus dependentes por meio de ações classificadas como Hospedagem e Turismo receptivo, realizadas em Salvador, no Sesc Piatã, e no Grande Hotel Sesc Itaparica (este último incluído na lista dos 25 hotéis econômicos do Brasil do site Trip Advisor, maior site de viagens do mundo), e Turismo Emissivo. A integração ao Sistema Sesc propicia, a milhares de participantes, anualmente, excursões aos Centros de Hospedagem Sesc de todo o Brasil, e também viagens nacionais e internacionais. O Senac, por sua vez, atua no turismo como instituição essencial para o treinamento de mão de obra em seus diversos cursos ministrados em todo o Estado, seja em unidades móveis ou em seus dois restaurantes escola em Salvador, com cursos na área de Hospitalidade e Gastronomia, a exemplo de Guia de Turismo, formação em Cozinha, Serviço de Restaurante (Garçom), entre tantos outros. Seu restaurante no Pelourinho é o único com 40 pratos típicos diários, o da Casa do Comércio surpreende pela vista panorâmica. Tem ainda o Museu, único na América Latina sobre comida, anexo ao restaurante do Pelourinho que tem como curador o antropólogo Raul Lody.

O Grande Hotel Sesc Itaparica conta com uma infraestrutura especialmente voltada para o bem-estar, conforto e segurança dos hóspedes. Destaque para as atividades gastronômicas e sociais, a proximidade do mar e a exuberante paisagem natural.

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O fator feminino

O intercâmbio e o entrosamento entre os sindicatos são alguns dos objetivos buscados, com sucesso. Outra iniciativa importante é a criação de Grupo de Trabalho Sindical voltado para o desenvolvimento da autossustentabilidade.

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Uma das características mais marcantes verificadas nas décadas iniciais do século XXI tem sido o acesso de mulheres a posições de liderança e cargos de direção, tanto no âmbito da administração pública como no da iniciativa privada. Ou atuando em profissões e atividades antes consideradas exclusivas do sexo masculino, como condutoras de veículos pesados, policiais militares, delegadas de polícia, engenheiras, eletricistas, cineastas, jogadoras e juízas de futebol. A eleição de Juranildes Melo de Matos Araújo como 1a Diretora Secretária, por ser a primeira vez em setenta anos de história da Federação que uma mulher ocupa um cargo na diretoria executiva da entidade, representa o sinal de uma mudança bastante salutar. Com ampla experiência na área sindical, como delegada do Sindicato dos Lojistas do Estado da Bahia (Sindilojas), fundadora e presidente da Câmara de Diretores Lojistas de Camaçari e atual presidente do Sindicato Patronal do Comércio de Camaçari, município industrial do estado, Juranildes foi convidada, em 2009, pelo então presidente Carlos Amaral, para compor o corpo de conselheiros da Federação. Sentindo a necessidade de contribuir para o aprimoramento dos trabalhos desenvolvidos pela Federação, Juranildes apresentou algumas propostas que foram acolhidas e logo colocadas em prática. A primeira delas dizia respeito à necessidade de maior aproximação com os sindicatos. Foi viajando e visitando cada um dos sindicatos filiados ao Sistema que se identificou quais eram as deficiências, o que cada um tinha de bom e de que forma poderia se copiar ou se adaptar de um para o outro. Era importante, segundo Juranildes, ter em mente, de forma clara, as funções básicas de cada sindicato. Por exemplo: desenvolver ações junto ao comércio local, ao prefeito e vereadores do município para ajudar a criar leis que facilitem o desempenho dos comerciantes e melhorem a vida da população.


A criação do Grupo de Trabalho Sindical foi outro elemento importante para motivar os dirigentes sindicais. Seria, então, através do GT que se discutiria, levantaria e analisaria quais as melhores práticas no sentido de desenvolver a autossustentabilidade. Daí seria dado mais um passo, com a implantação do Sistema de Excelência de Gestão Sindical (SEGS), criado pela CNC. Juranildes toma como exemplo de modelo para uma boa gestão o Sindicato de Santo Antônio de Jesus, que funciona em uma sede com a Câmara de Dirigentes Lojistas e a Associação Comercial daquele município. “Eles trabalham vários projetos e todos em sinergia. Cada um com seu CNPJ, que é a sua identidade, e no fim fazem um projeto que é exemplo para a Bahia. Eu já os visitei várias vezes em busca de troca de conhecimentos para campanha promocional na minha cidade e fui orientada por eles. Então, para mim, é uma escola.” A realização de campanhas promocionais é uma experiência bem sucedida do sindicato presidido por Juranildes. Em convênio com a Prefeitura local, foi dado um caminhão de prêmios e um apartamento numa campanha realizada junto aos lojistas e aos comerciantes em geral, para estímulo de vendas. “A gente vendia os tíquetes que eram registrados na Loteria Federal, e cada pessoa que comprava na loja tinha direito a um tíquete. E aí concorria a um carro, a um apartamento ou uma casa totalmente mobiliada.”

Natal Solidário Ações que já eram implantadas pelo Sindicato do Comércio de Camaçari, foram trazidas por Juranildes para a Fecomércio-BA. “Eu já vinha promovendo, na minha cidade, há alguns anos, sempre algo na área de responsabilidade social. Quando cheguei aqui [na Fecomércio] eu disse: temos que criar algo que marque a casa, que fique na memória. Então concebemos o projeto do Natal Solidário. E o fiz junto com a minha equipe daqui, porque temos pessoas muito competentes na casa que deram todo apoio. Fizemos agora a terceira edição. E a proposta é aperfeiçoá-lo, ampliá-lo cada dia mais.”

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A aceitação do evento pela sociedade, pode ser medida pelo volume de bens arrecadados ao longo dos três anos. No primeiro ano, três toneladas de alimentos. No segundo, cinco. Em 2016, onze. No segundo ano as doações foram entregues à sete instituições beneficentes9. No terceiro, vinte e três. O Natal Solidário inclui também apresentações de corais como o Neojibá e o da Polícia Militar para os colaboradores do Sistema Fecomércio-BA. A terceira edição teve outra novidade: a realização de uma missa na Casa do Comércio, celebrada pelo Arcebispo Primaz do Brasil e vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Murilo Krieger. O evento contou com a presença de mais de 300 pessoas nesta primeira missa campal. Dentre aqueles que, não somente acreditaram, como deram todo apoio às iniciativas, Juranildes destaca os dois últimos presidentes da Fecomércio-BA. “Carlos Amaral por ter dado a abertura. Carlos Andrade por estar fazendo uma mudança radical, fantástica. Eu acho que nós temos que mudar. O mundo está aí para você sair dos velhos paradigmas e acompanhar os novos. E eu sou de sair do velho e ir para o novo.” A criação da Câmara da Mulher Empresária (CME) é uma das iniciativas voltadas para uma participação efetiva de mulheres na atual gestão da Fecomércio-BA. Sob a coordenação da empresária Missa celebrada pelo Arcebispo Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger, na terceira edição (2016) do “Natal Solidário”. A cerimônia ocorreu na área externa da Casa do Comércio.

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Casa do Comércio iluminada durante período natalino quando, desde 2014, é realizado com grande sucesso o evento beneficente “Natal Solidário”.

Joana Andrade, diretora de Mercado da Petrobahia, a CME constitui-se em um fórum de debates voltado para questões relacionadas à participação da mulher no mundo empresarial e na economia, agregando empreendedoras e gestoras de negócios baianas, em especial, as ligadas ao comércio de bens, serviços e turismo. Segundo Juranildes: “[...] às vezes a mulher trabalha, fabrica algo, mas não sabe como escoar aquele produto. Então, vamos ensinar para ela a utilizar a estratégia mais adequada, proporcionar um estudo de como ela pode fazer aquilo. Mostrar as facilidades que existem e como pode-se fazer bem.”

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Outras áreas de atuação “Queremos um país democrático, plural, inclusivo, com um ambiente de negócios favorável e liberdade para empreender. Exigimos dos nossos representantes que, mais que os próprios interesses, priorizem o interesse maior do país e da sociedade. O comércio exige respeito. Não vamos fechar as portas.” Trecho do manifesto do comércio diante da situação do país na campanha “Por um Comércio Mais Forte” realizada pela Associação Comercial da Bahia, Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas da Bahia, Câmara dos Dirigentes Lojistas de Salvador e a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia.

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“Fazer bem” tem sido uma das características da Federação em vários momentos de sua história. Nunca, entretanto, esse fazer multiplicou-se tanto e em tantas frentes de ação. O dinamismo imprimido à entidade nos últimos três anos leva a atividades tão diversas como o lançamento da primeira Agenda Política e Legislativa do Comércio, que acompanha os projetos de lei que impactam o setor; missões técnicas no exterior, como se verificou no final de 2016, na Argentina, homenagens promovidas pela instituição a personalidades da Bahia que contribuem para o Estado, como a que foi prestada em novembro de 2016 ao ex-governador Roberto Santos pela passagem dos seus 90 anos e à Ufba pelos seus 70 anos; promoção de eventos diversos e ações desenvolvidas com parcerias, a exemplo do Projeto Quinta do Crédito, do Movimento por um Comércio Mais Forte, da Pesquisa Conjuntural do Comércio Varejista (PCCV) da Bahia, seminários sobre o novo Código Comercial Brasileiro, encontros com candidatos ao


A ACB, a CDL Salvador, a FCDL Bahia e a Fecomércio-BA se uniram no movimento “Por um Comércio mais Forte”. A iniciativa tem o objetivo de chamar a atenção da sociedade e do poder público para a alarmante situação política e econômica do país e seus reflexos negativos no comércio e em todo o setor produtivo. Na página ao lado, “abraço” dos funcionários à Casa do Comércio marcou o ato. Abaixo, grupo reunido na Associação Comercial da Bahia.

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Lançamento da primeira edição da Agenda Política e Legislativa do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia reuniu parlamentares na Casa do Comércio.

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governo do Estado e à prefeitura municipal para apresentar proposta do comércio, Seminários de Conjuntura Econômica com a Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI); encontros periódicos na Câmara Federal para apresentar as ações e resultados do Sistema na Bahia; realização de palestras e oficinas ligadas ao mercado de trabalho, economia, entre tantos outros temas de interesse do empresário. Ações que se multiplicam dia a dia, mês a mês, sem esquecer a continuidade de iniciativas já consolidadas, como a entrega anual do título Comerciante do Ano. Bons resultados têm sido obtidos também pelas Câmaras Empresariais. Por estar associada a uma das principais vertentes de atuação da Fecomércio-BA, a Câmara Empresarial de Turismo da Bahia, criada em 2011, com o objetivo de maximizar a representatividade da Federação nesse segmento, é um órgão que reúne representantes de 34 entidades ligadas ao comércio e ao turismo baianos10. Sob a coordenação da empresária Avani Perez Duran, a Câmara promove reuniões periódicas entre empresários e


Comerciantes do Ano 1985: Sydrach de Araujo 1988: Deraldo Motta (Post Mortem) 1989: Mamede Paes Mendonça 1990: Luiz Antonio Costa Santana 1991: Israel Portnoi (1) 1993: Edson Prado Junior 1

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1994: Francisco Amaral Filho 1995: José Lemos de Sant’ana 1996: José de Castro Paixão 1997: Ernesto Weckerle 1998: José Faro Ruas (2) 1999: Cícero Pereira Amorim (3) 2000: Severino Pinheiro Vidal 2002: Nelson Daiha (Post Mortem) 2003: Luciano Lopes de Araújo

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2004: Aristóteles Martins de Santana 2005: Armindo Carvalho 2006: Zenildo Lemos Rodrigues 2007: João Carlos Paes Mendonça (4) 2008: Geraldo Cordeiro de Jesus (5) 2009: João Freitas Brandão 2010: Eduardo Morais de Castro 2011: Antoine Youssef Tawil 2012: José de Araujo Góes e Souza

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2013: Eliezer Schnitman (6) 2014: Luiz Henrique Mercês Santos 2015: Frutos Gonzalez Dias Neto (7) 2016: Luis Sérgio Neto Velanes (8)

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gestores do poder público. Esses encontros são oportunidades para apresentação de demandas e sugestões de melhoria em favor do desenvolvimento do setor turístico na Bahia.11 A Câmara dos Empresários em Shopping Centers (CESC) tem como objetivo “[...] ampliar a representatividade da Federação neste segmento do comércio, tão relevante para a economia baiana, reunindo os empresários ligados às associações de shopping centers de Salvador. O empresário Felipe Sica é o atual coordenador desta Câmara. A CDL Salvador, a FCDL e a ACB também participam da câmara”.12 A Câmara do Jovem Empresário (CJE), criada em 2014, “[...] é um fórum permanente de discussão com o objetivo de fomentar o empreendedorismo – em especial no comércio de bens, serviços e turismo – e a cultura associativista entre os jovens líderes empresariais baianos”13. Thiago Andrade e Laís Gramacho já coordenaram a Câmara, que agora tem à frente, João Pedro Bahiana. Em 2016 foi criada a Câmara de Assuntos Tributários (CAT), coordenada por Antônio Carlos Nogueira Cerqueira, e, mais recentemente, em 2017, a Federação, junto à FIEB e ao Consulado da Argentina na Bahia, criou a Câmara Empresarial de Comércio Argentina-Bahia. A Fecomércio-BA oferece serviços como a emissão de certificados digitais, desde 2011, em parceria com a Certisign, com pontos de atendimento em 17 municípios; o Certificado de Origem, utilizado para comprovar a origem da mercadoria em transações de importação e exportação que, em seu processo de produção, cumpriu os critérios de origem previstos nos acordos internacionais; a Declaração de Exclusividade, atestando que a empresa solicitante é a única a comercializar determinado produto em um dado território, isentando-a da exigência de celebrar licitações perante órgãos públicos sob a justificativa de competição inviável para determinados produtos. Com todo este conjunto de ações, a Fecomércio-BA faz a sua parte na construção de um futuro mais promissor, não somente para os empresários do comércio, mas para toda a sociedade.


Entende que, ao mesmo tempo em que se mantem atualizada com as novas e mais avançadas tecnologias, preserva valores humanos essenciais de uma atividade que tem no convívio humano uma de suas mais valiosas características. Essa questão é assim colocada pelo presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, Carlos de Souza Andrade: “Eu participei há alguns anos da National Retail Fair (NRF), a maior feira do varejo nos Estados Unidos, e, no encerramento, perguntei a um determinado palestrante sobre o que ele achava da internet, do comércio eletrônico, do e-commerce. E se, com a chegada da venda pela internet, as lojas de rua iriam acabar. Seria a oportunidade de acabar com o comércio de rua? Os shoppings iriam acabar? Ele me olhou e disse: ‘Realmente, presidente, a sua pergunta tem muito fundamento, mas o comércio de rua nunca vai acabar, o comércio vai precisar da internet para viverem os dois juntos, eles têm que caminhar passo a passo, um ao lado do outro, o comércio de rua precisando da informática e a informática usando a estrutura de rua, de grandes lojas, da loja física.’ Então, eu acho que é uma mão lavando a outra. O comércio será sempre maior que as suas manifestações.”

Na página ao lado: 1. Avani Duran – Coordenadora da Câmara Empresarial do Turismo (CET) 2. Joana Andrade – Coordenadora da Câmara da Mulher Empresária (CME) 3. Felipe Sica – Coordenador da Câmara de Empresários em Shoppings Centers (CESC) 4. Antonio Carlos Cerqueira – Coordenador da Câmara de Assuntos Tributários (CAT) 5. João Pedro Bahiana – Coordenador da Câmara de Jovens Empresários (CJE).

Presidentes de Federações do Comércio participam da Missão Técnica à Argentina, em Buenos Aires, promovida pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), com o objetivo de potencializar oportunidades para o comércio, estreitando as relações bilaterais.

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Sesc Bahia: Educação como prioridade Com o foco em cinco programas básicos, nas áreas de Saúde, Educação, Lazer, Cultura e Assistência, o Sesc Bahia vem imprimindo um ritmo mais intenso no sentido de ampliar suas unidades no estado da Bahia. Destas, 18 são unidades operacionais fixas, presentes em municípios baianos; outras cinco, móveis, estão em funcionamento, e, mais quatro, no interior, serão inauguradas perfazendo o total de 27 unidades, além da sua sede na Casa do Comércio. O Diretor Regional do Sesc Bahia, José Carlos Boulhosa Baqueiro, vê a diversificação das atividades do Sesc no estado como uma missão. O dinamismo bastante intenso do nosso tempo, diz ele, exige uma crítica mais objetiva do ponto de vista da gestão. É necessário ter uma percepção clara do serviço que será prestado ao público para o qual ele foi criado. Do ponto de vista dos programas, tem-se verificado um aumento da demanda bastante acentuado. Isto se deve, ao fato da entidade estar se movimentando mais para encontrar o seu público beneficiário, “onde ele estiver”. Boulhosa enfatiza ser necessário que o pessoal do Sesc conheça o Sesc: “O objetivo é fazer do comerciário e de sua família o público das nossas unidades. Precisamos mostrar mais o que fazemos, não no sentido de fazer uma apologia, mas para que possamos trazê-lo mais para dentro do próprio Sesc.” Unidade Móvel BiblioSesc, instalada em um caminhão do tipo baú, oferece ao cidadão serviços de empréstimo de livros e consulta a periódicos.

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Os resultados alcançados têm sido bastante promissores. Somente no ano passado (2016), foram feitas 242 mil carteiras para comerciários e seus dependentes. Um grande desafio, considerando-se que as exigências que os comerciários tinham são hoje muito maiores. “Quando você tem uma demanda e consegue fazer com que essa demanda seja satisfeita, novas demandas surgem.” A ênfase maior tem sido na área da Educação. O Sesc atualmente tem talvez a maior rede privada de escolas em todo o Estado. São dez escolas com uma capacidade média de atendimento a 4.800 alunos. “Nós estamos procurando atender exclusivamente aos filhos de comerciários. O Sesc entende que a educação é um ponto fundamental. Sem ela nosso país vai ter muita dificuldade para sair da situação em que se encontra hoje. O Sesc tem um papel preponderante nisso, porque tem a capacidade de fazer e fazer bem feito.” Ampliar a capacidade educativa, do ponto de vista formal, para atingir o ensino médio é, portanto, uma das metas para o futuro. O Sesc atinge hoje a Educação Infantil e o Ensino Fundamental I. Até 2018, todas as escolas Sesc da Bahia terão o 6° ano. Boulhosa prevê que, “[...] dentro de um horizonte de mais dois ou três anos, devemos estar com tudo isso funcionando para dar

A expansão do Sesc no interior do estado contribui para o dinamismo da economia em municípios carentes de serviços nas áreas de Educação, Saúde, Cultura, Lazer e Assistência. Na foto, a unidade de Barreiras, no Oeste da Bahia, inaugurada em 15 de dezembro de 2013. Destaque, à esquerda, para o Teatro da unidade, um dos espaços culturais que a entidade mantém no Estado.

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Uma nova unidade do Sesc será implantada, no município de Jacobina (foto 2), extremo norte da Bahia. Instalações modernas e funcionais incluirão biblioteca, consultório odontológico, quadra poliesportiva e auditório para atividades culturais. Com infraestrutura similar também estão sendo erguidas unidades Sesc em Alagoinhas (foto 1) e Porto Seguro (foto 3). Em Feira de Santana (foto 4) será inaugurado um Centro Cultural e um Restaurante do Comerciário.

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ao filho do nosso comerciário, a possibilidade de entrar com três anos de idade e sair do Sesc aos 14 para poder galgar uma atividade profissional. Uma das coisas que eu sonho é que o Sesc possa formar todo esse contingente e entregá-lo ao Senac, que é o braço profissionalizante do Sistema, para que ele dê o destino adequado a esse adolescente. O Sesc forma a base e entrega ao Senac uma pessoa com uma formação muito boa, para que ele tenha condição de se empregar melhor e ser um bom profissional”. Outras ações de grande relevância estão sendo desenvolvidas nos segmentos de cultura, lazer e esporte, com a existência, em quase todas as suas unidades, de parques com quadras esportivas, piscinas, jogos de salão, além da promoção de corridas e caminhadas, com circuitos na capital e nas cidades do interior onde existem unidades Sesc.


Destaque também para ações educativas na área de saúde, com as unidades móveis odontológicas (OdontoSesc) e de saúde da mulher (Saúde Mulher), esta última implantada em fevereiro de 2016. Na área assistencial, o destaque é o programa “Mesa Brasil” que atua como intermediário para disponibilização de alimentos e outros suprimentos para as entidades cadastradas. A área cultural tem sido beneficiada com a construção de teatros – nove, no total, em todo o estado – com equipamentos de primeira linha e uma programação efetiva. Na capital, o Sesc possui um dos maiores espaços da cidade, o Teatro Sesc Casa do Comércio, que tem 542 assentos, além do Teatro Sesc-Senac Pelourinho. Segue uma tradição de grande peso e importância, em nível nacional, como destaca o diretor regional José Carlos Boulhosa: “Hoje o Sesc do Brasil é o maior indutor cultural que existe neste país. Se o Sesc acabasse hoje no Brasil, o impacto seria enorme no setor de cultura. Hoje temos no país inteiro circulação de grupos que se apresentam em teatro, em praças e locais os mais diversos possíveis.”

O diretor regional do Sesc, José Carlos Boulhosa, a secretária estadual, Olívia Santana, e o presidente da Fecomércio-BA, Carlos de Souza Andrade, no ato oficial de inauguração da Unidade Móvel Sesc Saúde Mulher, em 2016. A Unidade Móvel realiza exames de mamografia e citopatológico.

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Senac Bahia: atuando em diálogo com a sociedade Primeiro centro de educação profissional do Senac Bahia, a unidade do Aquidabã passou por ampla reforma, ganhando nova fachada e instalações modernas, com Laboratórios de Manicure & Pedicure, Beleza & Saúde, e cursos nas áreas de estética facial e corporal, massoterapia e design de sobrancelhas, entre outros.

O Senac tem um longo e profícuo histórico de atuação no estado, como, aliás, pode-se constatar ao longo deste livro. Com a missão de educar para o trabalho em atividades de comércio de bens, serviços e turismo, o Senac Bahia realiza um trabalho cujos números são bastante expressivos. Somente no ano passado (2016), uma média de oitenta e cinco mil pessoas passaram nas doze unidades existentes em Salvador e em várias cidades do interior. A entidade tem hoje um quadro fixo de mais ou menos 800 pessoas a ela vinculadas. A Diretora Regional do Senac Bahia, Marina Almeida, cita, entre os cursos com maior aceitação pelo público, os que são ministrados nas áreas de Hospitalidade, Beleza, Informática, Gestão, Pós-Graduação e Educação a Distância. Lembra que os serviços são oferecidos de acordo com as demandas sociais e de mercado,


Carlos de Souza Andrade, Marina Almeida, Juranildes Araújo e Benedito Vieira descerram a placa de Inauguração do Senac Alagoinhas em 2017. Novas instalações em mais uma frente de atuação no interior do estado. Abaixo, Unidade Senac em Porto Seguro, inaugurada em 2010.

o que resulta em oscilação das preferências conforme o contexto social e econômico de cada época. Na fase pré-Copa 2014, por exemplo, oferecemos cursos de capacitação que atendessem à demanda por mão de obra qualificada para servir aos turistas. O diálogo com a comunidade, o setor produtivo e parcerias com o setor público são, portanto, essenciais para o desenvolvimento de ações de responsabilidade social. Exemplo disso são os Programas de Aprendizagem, o Programa Senac de Gratuidade e o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e de Emprego, o Pronatec.

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Marina Almeida diz: “Hoje, o Senac tem um portal que atende o Brasil todo e através do qual oferecemos cursos de diversas áreas: técnicos, de pós-graduação, de educação continuada. Os cursos técnicos são também muito valorizados, porque possibilitam que o estudante faça o ensino médio completo e já saia com uma profissão. Nós já temos uma oferta de cursos nesta área há muitos anos. O nosso carro-chefe aqui é o de Enfermagem. Inclusive temos uma grande parceria com o hospital São Rafael. Quando os alunos terminam, eles já são praticamente empregados.” Outras áreas muito valorizadas e das mais tradicionais, em Salvador e no interior, são as de guia de turismo, que tem na Embratur uma parceira de muitos anos, e de gastronomia, a de maior projeção no exterior. Há mais de vinte anos são realizados festivais gastronômicos em vários países, que cumprem outro objetivo do Senac, que é divulgar a culinária baiana. “Esta é uma área prestigiada, por termos aqui os restaurantes escola, então é uma atividade bastante frequentada, tanto por alunos quanto pelos clientes, muitos deles, cativos. Como a Bahia tem excelência em gastronomia no Brasil, nossos instrutores aqui são premiados, têm cursos no exterior, então ela se tornou uma referência no nosso Senac”, diz Marina. A lista de ações do Senac inclui, hoje, trabalhos importantes de promoção social, de atendimento corporativo, de preparação de alunos para competições de educação profissional, educação ambiental e inclusão digital, entre muitas outras. Notas: 1

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No segmento de bares, lanchonetes e restaurantes, pode-se citar o desaparecimento progressivo de estabelecimentos como o Café Brasil, Feitiço, Xamego, Diolino, Brazeiro, Avalanches, Bar do Galo, Granada, Lobrás, Gooday, Manon, Torrone, Close up, Petisko´s, Língua de Prata, Extudo, Casquinha de Siri, Oásis, Moenda, Tatu Paka, Sorveteria Primavera, Miramar, Pitubar, Bar Brasil, Mercadinho Triunfo, Verão Vermelho, Bartuq, Lótus, Caras e Bocas, Pastel Mel. Em outros segmentos, diversos: Lojas Duas Américas, Adamastor, Wash, Lido, Petrônio Júnior, Mesbla, Chapelândia, Óticas Barreto, Joalheria Estrela, Foto Oriental, Nova Elegância, Armarinhos Cintra, Livraria Civilização Brasileira, Livraria da Torre, Grandes Autores, Literarte, Maskio & Femina, Fotolândia, Casa Stella, Livraria São Paulo, Lojas Clark, Aroma, Óticas Barreto, Oficina Japonês, Gil Cabelereiros,


Sócalças, Enoch Silva. E os cinemas Tupy, Bahia, Liceu, Capri, Excelsior, Tamoio, Popular, Aliança, Pax, Jandaia e Politeama (posteriormente dividido em duas salas: Art I e Art II), Rio Vermelho, Nazaré e Maria Betânia, entre outros. 2

Ricardo Eletro, Insinuante, Tok Stok, TendTudo, Perini, Barbacoa, Le Biscuit, Papel & Cia, Casas Bahia são alguns exemplos.

3

Após ter participado da diretoria em três mandatos, e chegado à vice-presidência na gestão de Carlos Amaral, Andrade, empresário de sucesso na área farmacêutica, proprietário da conceituada farmácia de manipulação A Fórmula, começou a frequentar a Fecomércio-BA na gestão de Deraldo Motta, participando mais ativamente na gestão de Nelson Daiha.

4

FEDERAÇÃO DO COMÉRCIO DE BENS, SERVIÇOS E TURISMO DO ESTADO DA BAHIA. Missão, Visão e Valores. Salvador, 2015. Disponível em: <http://www.fecomercioba.com. br/node/2/missao-visao-e-valores>. Acesso em: 28 jan. 2017.

5

Na mensagem, constante das Diretrizes 2014/2018 da Fecomércio-BA, seu presidente, Carlos de Souza Andrade, apresenta uma síntese das prioridades que nortearão seu mandato. FEDERAÇÃO DO COMERCIO DE BENS, SERVIÇOS E TURISMO DO ESTADO DA BAHIA. Diretrizes 2014/2018 Transformando pela integração e representação. Salvador, 2014, p. 3.

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Ibid., p. 15.

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Na data em que deu o depoimento, a Fecomércio-BA já contava com 34 sindicatos associados. A ampliação pretende atingir principalmente as cidades do interior do estado.

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Já tinham sido criadas três novas câmaras setoriais: Câmara do Jovem Empresário (CJE), Câmara da Mulher Empresária (CME) e a Câmara dos Empresários em shopping centers (CESC), e, em processo de implantação, a Câmara de Assuntos Tributários (CAT). A Câmara Empresarial de Turismo (CET) já havia sido instalada em 2011.

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Os donativos são arrecadados em postos instalados nos principais shoppings de Salvador e nas unidades do Sistema Fecomério-BA e distribuídos para instituições diversas: creches, abrigos de idosos, Santa Casa da Misericórdia etc. A logística da distribuição é efetuada pelo Sesc por meio do Programa Mesa Brasil. São elas: a Associação Baiana de Turismo Rural (Abaturr); Associação Brasileira de Agências de Viagem da Bahia (Abav-BA); Associação das Empresas de Transporte Coletivo do Estado da Bahia (Abemtro); Associação Brasileira de Empresas de Eventos – Regional Bahia (Abeoc-BA); Associação Brasileira da Indústria de Hotéis – Bahia (Abih/ Bahia); Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla); Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo (Abrajet); Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce); Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-BA); Associação Comercial da Bahia; Associação Cultural Hispano-Galega Caballeros de Santiago; Associação dos Transportes Marítimos da Bahia (ASTRAMAB); Associação das Cooperativas, Associações e Permissionários dos Transportes (Atac); Alternativos e Complementares do Estado da Bahia; Associação de Turismo de Ilhéus (Atil);

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FEDERAÇÃO DO COMÉRCIO DE BENS, SERVIÇOS E TURISMO DO ESTADO DA BAHIA. CET - Câmara empresarial de turismo da Bahia. Salvador, 2015. Disponível em: <http://www.fecomercioba.com.br/%3Cfront%3E/cet-camara-empresarial-de-turismo-da-bahia>. Acesso em: 24 abr. 2017.

11

Idem. CESC - Câmara dos empresários em shopping centers. Salvador, 2016. Disponível em: <http://www.fecomercioba.com.br/%3Cfront%3E/cesc-camara-dos-empresarios-em-shopping-centers>. Acesso em: 29 abr. 2017.

12

Idem. CJE - Câmara do jovem empresário. Salvador, 2015. Disponível em: <http://www. fecomercioba.com.br/%3Cfront%3E/cje-camara-do-jovem-empresario>. Acesso em: 26 abr. 2017.

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Capítulo V

Imagens do comércio nos tempos modernos: desafios do século XXI

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iversidade. Esta é talvez a palavra que melhor define o panorama do comércio nesta primeira metade do século XXI. A despeito da ação intensiva de corporações e monopólios para impor uma padronização característica das grandes lojas de departamentos, fast foods, redes de supermercados, concessionárias e um sem número de franquias, muitas lojas, na paisagem urbana de Salvador, como em muitas outras capitais, têm conseguido encontrar seu espaço nas margens do sistema globalizante, buscando, em cada negócio, a sua marca própria, a sua identidade local. A tensão dialética entre o global e o local é, também no comércio, uma marca característica do nosso tempo. A cópia, não somente da experiência bem sucedida, mas do método, do discurso e da aparência, convive com a imperiosa necessidade de inovação e originalidade num mercado cada dia mais complexo, amplo e competitivo. Exemplos não faltam: os restaurantes a quilo (self service), inexistentes no Brasil há pouco mais de duas décadas, são hoje majoritários em todo o país, sobretudo em áreas comerciais. A entrega de alimentos e medicamentos pelo sistema de delivery é cada vez mais numerosa – e os motoboys que transportam esses produtos, em grande número, fazem parte da paisagem urbana e das estatísticas de empregabilidade. Em se tratando de comércio, há sempre a necessidade de inovar e de copiar. A criatividade torna-se, portanto, imperiosa na

A diversidade do comércio, hoje, revela a capacidade de resistência e inovação mesmo num quadro de crise econômica. O surgimento do e-commerce aponta para novas possibilidades. É preciso se reinventar para sobreviver.

Centro Histórico de Salvador, um dos principais pontos de resistência onde o comércio de rua permanece vivo e atuante.

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paisagem urbana com sua infinidade de formas, cores e utilidades. À frente dos olhos e ao alcance das mãos. Num mundo em que tanto se fala de tecnologias de ponta e de processos virtuais de compra e venda, o comércio de rua, entretanto, persiste com toda sua força e potência, como se verifica em espaços tão diversos quanto lojas de departamento, grandes magazines, redes de supermercado, no atacado e no varejo. Mas também em feiras livres, pequenas lojas especializadas, bares, boates, frigoríficos, luminárias, perfumarias, livrarias, agricultura orgânica e artigos infantis.


A chegada do e-commerce não impede a coexistência da tradicional venda em que produtos de primeira necessidade, como feijão, açúcar e farinha são acondicionados em sacas e comercializados no balcão. O ensaio fotográfico presente neste capítulo mostra a vitalidade desse segmento da existência humana, que persiste, apesar de todas as crises e dificuldades. Expressa sobretudo a criatividade de todas aquelas pessoas que, em cada negócio, por menor que seja, dá a sua contribuição para a sociedade humana e para a própria civilização.

O porto de Salvador, com localização privilegiada para a Bahia de Todos-os-Santos, tem perfil exportador e expressiva participação no comércio exterior.






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Entrevistas e Depoimentos

A memória viva de uma história de sucesso no desenvolvimento da Bahia

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ma instituição permanece viva não somente no conjunto do seu capital humano e material, nem em seus procedimentos e objetivos. Sua permanência se dá, sobretudo, na memória de todos aqueles que vivenciaram seus momentos mais decisivos, decidiram seus rumos, testemunharam seu existir, participaram de seu destino e constroem o seu futuro. Testemunhas e personagens de sua história. É na memória destes integrantes do Sistema que se constrói uma narrativa, nunca definitiva e sempre passível de ser revista e ampliada. E assim se faz um livro, como este que o leitor tem em mãos, construído com lembranças compartilhadas, sentimentos, sensações e versões, mas também com fatos e dados que os embasam e justificam. Assim, a memória viva da Fecomércio-BA nutre-se desse patrimônio comum cujas entrelinhas dão margem a outras histórias, paralelas, às vezes aqui e ali divergentes, mas que confluem para o mesmo fim: registrar, confirmar e exaltar sua importância no contexto do seu tempo. Importância que pode ser resumida em algumas linhas básicas, a saber, o benefício incontestável ao seu público fim: sindicatos patronais e empresas do comércio; o valioso apoio aos comerciantes e comerciários, bem como aos seus familiares; a afirmação incisiva dos seus valores e princípios éticos; a expansão do Sistema; a conquista e consolidação do bem-estar do seu corpo de funcionários e colaboradores; o reconhecimento do legado de seus dirigentes; a sua atualização no tempo através da adoção de novos paradigmas, com os olhos sempre voltados para o futuro. Enfim, a sua capacidade de sonhar e de realizar.

A Fecomércio-BA tem, na memória de seus dirigentes, funcionários e colaboradores o elemento vital que dá sentido à sua existência. É no conjunto desses depoimentos que se consolida uma reflexão sobre o seu passado e a possibilidade de construção de um futuro próspero e feliz.

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Diretrizes a seguir até 2018

Carlos de Souza Andrade Presidente da Fecomércio-BA

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Em junho de 2014, assumi a presidência para o quadriênio 2014/2018, sucedendo o então presidente Carlos Amaral, em cuja gestão ocupei o cargo de primeiro vice-presidente. Junto com minha diretoria executiva, e contando com o apoio da unanimidade sindical, começamos a trabalhar no sentido de modernizar a gestão da Federação, sem perder o legado de solidez da administração anterior. O primeiro passo, logo nos primeiros meses de mandato, foi a efetivação da reforma estatutária, que passou a permitir apenas uma reeleição a cada presidente eleito, garantindo a oxigenação da liderança. Logo depois lançamos e divulgamos internamente um documento pioneiro – as Diretrizes de Gestão, que reúne as ações prioritárias que esperamos executar até 2018. Entre elas destaco a busca incansável pela interiorização do Sistema Fecomércio-BA, levando os serviços do Sesc e Senac cada vez mais ao interior por meio de novas instalações físicas, unidades móveis ou ainda através de convênios com prefeituras e entidades parceiras. Em segundo lugar, destaco a diretriz – Ampliação da nossa base sindical. A meta da diretoria é aumentar o número de filiados, principalmente no interior, chegando a 40 sindicatos patronais do comércio filiados até 2018. Quando assumimos, a Federação possuía 29 sindicatos e hoje temos 34. Já estamos avançando. Além disso, temos o desafio de construir uma base de sindicatos empresariais representativos e sustentáveis, capazes de sobreviver mesmo diante da ameaça do fim da contribuição sindical compulsória.


Nova dinâmica na representação do Sistema Quando foi iniciada a atual gestão da Fecomércio-BA, em 2014, encontramos um ambiente bem organizado, financeiramente saudável, mas como toda mudança prevê, adotamos novas medidas, trilhamos novos caminhos. Realizamos a contratação de novos profissionais, fizemos uma avaliação global de como a Federação estava, e foi decidido que era o momento ideal para ampliar a representação do Sistema. Estamos com uma equipe bem montada, realizando trabalhos externos e internos. Desde então, a Federação vem atuando para ser mais presente na rotina dos seus representados, com novos serviços e profissionais, e mais necessária como instituição, para o fortalecimento e crescimento dos negócios. A dinâmica do mercado está em constante mudança, temos um mercado altamente informatizado e precisamos dar suporte e respostas efetivas para o público que procura e confia na instituição. Os desafios são grandes e temos muito a fazer, principalmente no interior do estado, onde a carência é maior. É papel também do Sistema Fecomércio-BA minimizar as dificuldades, ajudando o empresariado e, consequentemente o comércio, a progredir. Nas áreas do Sesc e do Senac, nosso objetivo é treinar, capacitar mão de obra, oferecer educação de qualidade, novas unidades e serviços. É isto que temos feito no nosso dia a dia, para cumprir a missão da Fecomércio-BA.

Kelsor Fernandes 1º vice-presidente da Fecomércio-BA

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Fazer sempre bem, da melhor maneira possível

Arthur Sampaio Diretor Tesoureiro da Fecomércio-BA

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A Federação tem esta característica: um presidente continua o que o outro deixou. Isto infelizmente a gente não vê no Estado brasileiro. Quem chega à presidência da Federação do Comércio continua cuidando, melhorando o que o antecessor fez. O Centro de Convenções [da Bahia] está como está porque não teve manutenção, porque é caro e não interessa aos órgãos governamentais fazerem manutenções, porque não dá Ibope... Mas, aqui, eu me lembro muito bem disso: Nelson [Daiha] me disse: “Estou gastando [para concluir as reformas da Casa do Comércio] o que gastaria para construir um prédio de seis a oito andares.” Além da continuidade, há o cuidado de se fazer sempre bem, da melhor maneira possível. Você chega em uma unidade do Sesc ou do Senac e dá gosto de ver o movimento dos alunos e como tudo é bonito e limpo. Há dois anos fui conhecer a unidade do Sesc em Vitória da Conquista e fiquei impressionado. Faz gosto você entrar. No Senac de Feira de Santana, eu já estive algumas vezes lá, sem avisar, parece a sala de visita de uma tia minha, tia Betinha, que adorava casa bem cuidada, entendeu? É tudo nos trinques. Os restaurantes, o conjunto Sesc e Senac do Pelourinho, você pode ir lá qualquer dia e qualquer hora, é tudo bem cuidado. E há a dedicação... Eu acompanhei a construção da Casa do Comércio até porque eu era presidente da Junta Comercial da Bahia e José Salvador Borges, que era o primeiro secretário de Deraldo [Motta], era o vice-presidente de lá. Então eu acompanhei o passo a passo dessa obra [de construção da Casa do Comércio] integralmente. A doutora Sonia Maria Sampaio era assessora jurídica aqui de Deraldo Motta em toda a luta da construção da sede. Então eu acompanhei isso... E Nelson teve a coragem de dar continuidade e concluir este prédio, não foi moleza. Nelson assumiu, terminou e fez justiça, dando o nome: Casa do Comércio Deraldo Motta.


Mulher ganha espaço empresarial na contemporaneidade O grande desafio da mulher é corresponder às expectativas que foram criadas em função da dinâmica feminina. Nos dias atuais ela tem vivido essa provocação, pois desempenha ao mesmo tempo os papéis de dona de casa, universitária, esposa, mãe, conselheira, consultora do marido... E muitas conseguem, com verdadeira maestria, serem também empresárias. Contudo, não é novidade que as mulheres, além de terem conquistado o mundo empresarial, têm também alcançado posições de destaque em todo mundo, na política, na economia, tecnologia e outras áreas historicamente ocupadas pela figura masculina. Lembro-me muito bem da minha avozinha, quando contava que no tempo em que era uma criança de mais ou menos nove anos de idade, já tinha autonomia para dar as coordenadas da casa, mas o pai deixava claro que ela não podia mandar muito, pois, afinal, era uma mulher. Percebo que esse preconceito, que ainda existe hoje, está enraizado na nossa sociedade. As mulheres que enfrentam e conseguem quebrar esse paradigma são dignas dos meus parabéns. O espaço que nós conquistamos é muito importante e foi galgado num mínimo espaço de tempo se compararmos à trajetória dos homens. Hoje, ocupando os assentos de presidente do Sindicato Patronal do Comércio de Camaçari e Região e diretora secretária da Fecomércio Bahia, além de empresária, mãe, esposa e eterna estudante, considero-me uma vencedora. Carrego em mim a certeza de ter superado um preconceito de berço, pois ultrapassei os limites impostos pela família e pela sociedade. Assim, na minha passagem pela Federação, meu desejo é deixar a marca da mulher aguerrida, acolhendo e apoiando outras mulheres, auxiliando-as em projetos sociais e empresariais. Hoje, reflito e sei que não foi fácil conseguir o que já conquistei até aqui. Outras mulheres, com suas histórias de sucesso, que o digam! Uma coisa é fato: não há sucesso sem esforço, sem luta. Eu não sonhei e acordei na posição em que estou hoje, eu trabalhei para isso e comprovo que todos podem alcançar os seus sonhos, basta lutar por eles.

Juranildes Araújo Diretora Secretária da Fecomércio-BA

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A força sindical no crescimento de Feira de Santana e região

José Carlos Moraes Lima Segundo vice-presidente da Fecomércio-BA Presidente do Sindicato do Comércio de Feira de Santana

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Em Feira de Santana, o sindicalismo patronal do comércio era ligado a Santo Amaro da Purificação, mais precisamente ao Sindicato do Comércio de Santo Amaro e Feira de Santana. Depois Feira cresceu muito, e decidimos criar nosso próprio sindicato. Então eu convoquei um grupo de empresários, eu era da CDL nessa época, fui presidente dessa entidade, e decidimos fundar um novo sindicato, que representasse a nossa cidade. Daí tivemos que criar inicialmente a associação, pois o Ministério do Trabalho exigia que primeiro fosse fundada uma associação de lojistas de Feira de Santana. Essa fundação ficou de 1979 até 1984, se não me engano, depois entramos com o processo de criação do Sindicato do Comércio Lojista de Feira de Santana. Por causa do sindicato de Santo Amaro nós preferimos começar com o Sindicato dos Lojistas de Feira de Santana, e foi uma proposta bem recebida pelo comércio local. Nós fizemos várias reuniões com o pessoal de Feira até chegar à carta sindical, que foi entregue, inclusive, ainda no período de Deraldo Motta. Lembro que foi Paulo Motta que foi a Feira de Santana entregar a nossa carta sindical. Posteriormente, Nelson Daiha assumiu a Federação, e nós continuamos o trabalho para complementar essa parte de divulgação, inclusive com o Ministério do Trabalho. Mais tarde, mudamos para Sindicato do Comércio Varejista e Atacadista de Feira de Santana, e por último, passamos a ser denominados Sindicato do Comércio de Feira de Santana, já bem adiante. Então, hoje nós contamos com uma sede própria, temos uma participação ativa aqui na Federação e fomos criando um ambiente muito bom com o comércio de Feira de Santana. Contamos com todo o apoio da Fecomércio-BA e estamos tocando o nosso trabalho para que, cada dia mais, a cidade de Feira de Santana e o seu comércio cresçam.


Ações de atendimentos em benefício dos sindicatos Não participei da Federação em seus primeiros momentos, quando foi sucessivamente presidida por Arthur Fraga, Orlando Moscozo, Deraldo Motta e Nelson Daiha, hoje falecidos. Meu primeiro contato com ela deu-se na década de 1980, quando o presidente era Deraldo Motta. Sua sede ficava no Edifício Nelson de Farias, no Comércio – Cidade Baixa onde se encontravam os maiores estabelecimentos comerciais, sedes dos bancos e setores da administração pública. Com o deslocamento do polo comercial para o Iguatemi, a Federação também se sediou nessa região, na Casa do Comércio, imponente prédio cujas instalações mais amplas permitiram maior espaço aos sindicatos para melhor servi-los, eles que formam a Federação. Foi uma mudança exigida pela própria evolução urbana. Tive maior entrosamento com o Sistema Fecomércio-BA na administração de Nelson Daiha, da qual participei como 1º vice-presidente. Ele partilhou comigo suas tarefas e preocupações, contribuindo para que eu conhecesse melhor os problemas da Federação que, posteriormente, foi presidida por mim de 2002 a 2014. Nessa fase, a Federação iniciou seu processo de interiorização, criando muitas unidades nas principais cidades do estado da Bahia. Assim aumentou o seu raio de ação, levando os serviços do Sesc e do Senac para os comerciantes e os comerciários que não residiam na metrópole e tinham muita necessidade de progresso e assistência. Fui sucedido na presidência por Carlos Andrade de cuja administração espero êxito. Neste ano em que o Sistema Fecomércio-BA celebra seus 70 anos, congratulo-me com todos que atualmente dão continuidade à sua história e sinto-me feliz por ter dedicado a ela parte do meu tempo e dividido com outros as minhas possibilidades.

Carlos Amaral Presidente da Fecomércio-BA no período 2002 a 2014

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Importante registro da história e memória da entidade

Paulo Schettini Motta Presidente do Sindilojas

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É um motivo de orgulho para nós, toda essa vivência que Deraldo Motta teve, durante 31 anos, na presidência da Fecomércio-BA. Parte importante dos 70 anos que a Federação vai comemorar este ano. Eu considero este livro um fato muito importante, registrar a memória e ter disponível a história do que é a entidade. Deraldo Motta foi um visionário. Ele chegou a Salvador vindo de Jaguaquara com a minha avó, dona Nina, em 1947, e se estabeleceram na Baixa dos Sapateiros. Conto essa história inclusive para mostrar como rapidamente ele ganhou a confiança dos pares: em 1954 ele já era presidente do Sindicato dos Lojistas, em 1956 ele assumiu a Federação do Comércio, que naquela oportunidade não tinha nem sede, funcionava no porão da Associação Comercial da Bahia. O sistema sindical foi crescendo, a estrutura do Sistema S, que também surgiu nos anos de 1947, foi amadurecendo e, com isso, os recursos foram chegando e viabilizaram que ele adquirisse a primeira sede da Federação do Comércio lá no [bairro do] Comércio. Então, ele sempre teve uma visão de construção, ele sempre teve uma visão de servir ao comerciário e também atender às demandas do empresário mantenedor do Sistema. Com o passar dos anos, em função da confiança que ele foi sempre tendo dos seus pares, dos sindicatos, dos filiados que vinham crescendo e uma boa diretoria, muito unida, isso permitiu que as ideias dele fossem levadas para as reuniões e para os debates e serem acolhidas, recebendo o respaldo da CNC para cumprir as formalidades legais dos investimentos em obras. Daí ele começou a dar passos bem seguros no campo da representação patronal, valorizando os sindicatos filiados, motivando os companheiros a se organizarem nos sindicatos, como também passou a se preocupar em como atender as demandas do comerciário.


A interiorização do Sistema é uma das principais ações da Fecomércio-BA O sindicato é o representante legal perante a classe laboral, e principalmente, no que nos delega a Constituição Federal de 1988, à frente das convenções coletivas de trabalho. Uma das funções precípuas do sindicato é, exatamente, o de ser o representante do patronal em todas as negociações com o laboral. Então, hoje, em toda a relação capital-trabalho, você precisa desse diálogo entre os produtores e a classe dos trabalhadores. Como mostra o nosso organograma, nós somos filiados à Fecomércio Bahia que, através dos seus braços sociais, Sesc e Senac, nos ajuda a desenvolver um grande trabalho para a comunidade dos comerciários. O Senac com a aprendizagem comercial e o Sesc, com o serviço social, todos desenvolvem um grande trabalho. O sindicato, por si só, é a base do Sistema, porque este é piramidal. É o sindicato, João Luiz dos Santos Jesus federação e confederação. Então, por incrível que pareça, é Presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Vitória da Conquista a base do Sistema e é o primo pobre do Sistema, porque a representação realmente com maior visibilidade é a do Sesc e a do Senac em todo o Sistema, que ficam diretamente atrelados à presidência da Federação. Então, os sindicatos que são filiados à Federação fazem um trabalho muito consistente e profícuo. Vitória da Conquista foi assim, digamos, o pontapé inicial para a interiorização do Sistema Sesc-Senac na Bahia. Em seguida veio Feira de Santana, e todas as cidades que tem comércio contribuem para o Sistema que hoje se interiorizou. O processo de interiorização começou com Nelson Daiha, depois continuou com o Dr. Carlos Amaral e continua com o atual presidente Carlos Andrade. Está continuando com as construções em três ou quatro grandes centros fazendo-se justiça a esses polos de comércio forte, como Conquista, Jequié e Feira de Santana. Alagoinhas agora está construindo, Porto Seguro está construindo, Barreiras vai começar, Jacobina está concluindo, são várias as cidades.

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A Fecomércio-BA vislumbra um momento de renovação

Cláudio Pinho Presidente do Sindeletro

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O período de Nelson Daiha foi o auge da Federação. Ele foi um presidente de moral, de respeito, de caráter, de dignidade, de prestígio político, era um homem muito considerado, tanto assim que, quando ele veio a falecer, o enterro aqui em Salvador foi uma comoção social muito grande, isso aqui ficou tomado ao ponto do próprio Antônio Carlos Magalhães reconhecer e dar o nome a esse elevado aí, que liga a Paralela à Pituba, de viaduto Nelson Daiha. Ele foi um presidente realmente digno de elogios e de memória viva para o resto da vida. Daiha veio a falecer em 2002, foram quinze anos, quase, de gestão, mas ele conseguiu impor respeito por parte da Prefeitura, do Estado e da União com a Federação do Comércio do Estado da Bahia, e junto à Confederação [Nacional do Comércio] também. Ressalto também o trabalho feito por Edson Mascarenhas, que foi vice-presidente de Carlos Amaral, e chegou a assumir a presidência interinamente por algum tempo. Ele dinamizou a gestão conduzindo o trabalho de uma consultoria administrativa que fez um projeto de renovação, atualização da Federação, envolvendo o Sesc e o Senac. Agora, estou vendo que há um vislumbre de alguma coisa nova, porque o nosso atual presidente é um comerciante nato, natural de Amargosa. Carlos Andrade é companheiro nosso, da minha época ou antes de mim ainda, ele chegou aqui antes de 1989.


Do signo de libra, Nelson Daiha era a própria balança Nelson [Daiha] foi indicado para substituir o presidente da Fecomércio-BA que tinha falecido, que era o Deraldo Motta. Então, ele assumiu, sendo um dos mais novos, porque toda a equipe já era de pessoas mais idosas, mais velhas do que ele. Ele assumiu ainda muito jovem, aos quarenta e cinco anos e morreu com sessenta e foram quinze anos [como presidente]. Sr. Deraldo tinha trinta e um anos de Federação. Então, claro que teve suas dificuldades. Mas ele foi aos poucos e com a ajuda sempre dos companheiros daqui, ele foi indo, graças a Deus, e fez uma gestão muito boa. Isso é uma coisa que é falada, comentada, até pela sua parte humana. Ele era muito humano e se importava com as pessoas, com o pessoal que ganhava menos, inclusive com os comerciários. Ele não se sentia antagonista a eles. Nelson queria sempre o bem-estar também do comerciário, porque achava que tudo fluiria melhor se houvesse isso. Ele era do signo de libra e retratava isso perfeitamente. Era uma pessoa totalmente equilibrada. Ele sempre estava simplificando as coisas. Ele criticava quem complicava. E ele sempre tentou fazer isso e sempre conseguiu, dentro do possível, desburocratizar muita coisa. Por exemplo, ele tinha o gabinete dele aberto, quem quisesse falar com ele, qualquer funcionário, qualquer pessoa podia. Claro que tinha uma secretária, mas ela tinha a orientação de deixar que as pessoas chegassem a ele para apresentar problemas ou alguma coisa, ela fazia um filtro suave, leve, mas tinha isso. Então os funcionários tinham essa tranquilidade de poder dizer “Eu vou falar com o presidente”, ia, falava e ele recebia. E quando havia problemas entre funcionários, que isso acontece em toda empresa, ele sempre chamava as duas partes para conversarem juntas e chegarem a um ponto comum. Há um equilíbrio. É o que eu digo, ele era a própria balança.

Vera Daiha Viúva do presidente Nelson Daiha e funcionária da Biblioteca Senac

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Hoje, com a internet, não sabemos aonde o comércio vai chegar

Eduardo Morais de Castro Conselheiro do Sesc e diretor da Fecomércio-BA

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O comércio teve uma transição bastante interessante desde os seus tempos iniciais, onde ele estava instalado na região chamada, até hoje, Comércio. Lá tínhamos os casarões basicamente em quatro andares: no térreo, a loja, efetivamente, do comerciante, no primeiro andar, a residência do proprietário, no segundo e terceiro andares, depósito de mercadorias, e no quarto andar você tinha a residência dos empregados. Se vê aí que não tinha o deslocamento de pessoal, uma mobilidade que fosse mais expressiva, porque você concentrava praticamente todo mundo junto, ali só ia o chamado freguês. Depois disso o comércio expandiu-se para outras áreas, com a Cidade Alta também vindo a transformar-se numa área comercial, visto que a própria Avenida Sete, há cem anos quando foi construída, era uma área eminentemente residencial, e hoje você vê que é praticamente comercial. Então tivemos essas transformações, depois o advento dos shoppings que trouxe a decadência das chamadas “Ruas Principais de Comércio” em todo o Brasil, particularmente também aqui na Bahia, onde nós não soubemos evoluir, disseminar, mas também mais do que tudo, preservar. E hoje nós temos a internet e ninguém sabe aonde vamos chegar. Só o tempo, ninguém previa que pudesse ser o que temos hoje, mas também o que poderemos chegar a ter com a evolução da tecnologia. Sob alguns aspectos alguns questionam que o comércio tradicional, a loja, a loja de departamentos, enfim, possa ser efetivamente superada. E que, vamos dizer assim, talvez acabe. Eu não tenho essa sensação porque você ainda tem o aspecto do consumidor querendo ver o produto, querendo pegar, querendo observar, por mais que uma venda pela internet seja às vezes mais barata do que efetivamente num estabelecimento comercial. Outra evolução muito grande que nós tivemos aqui foi a transformação dos armazéns, vamos dizer assim, comerciais de bairro para os shopping centers de supermercados.


Papel de destaque na sociedade baiana Quero, em primeiro lugar, agradecer a lembrança do meu nome para integrar um evento tão marcante. E devo dizer até que este assunto foi tratado na primeira reunião deste ano [2017] da nossa ABI, através do conselheiro Luiz Guilherme Pontes Tavares, que incluiu no calendário das comemorações “Os setenta anos da Federação do Comércio”, ou seja, a Associação Bahiana de Imprensa também estará associada às comemorações pelo transcurso desta data magna. Além disso, eu quero ressaltar toda essa convivência e participação com inúmeros amigos e pessoas que se dedicaram e se dedicam à Federação, a começar pelo meu saudoso pai, Antônio da Silva Pinheiro, que foi diretor-financeiro da instituição por longos anos. Também pelo nosso Deraldo Motta, Nelson Daiha, Carlos Amaral e Carlos Andrade. E não posso deixar também de lembrar o nosso Arthur Sampaio. Arthur foi meu colega, companheiro de infância, que por isso sempre salienta: “As nossas mães eram as mais bonitas da Barra” e, como o Mirabeau Sampaio (seu pai), grande artista plástico, teve uma convivência muito próxima com a minha família. Estudamos nos mesmos colégios (Helena Mateus, ACBEU e Colégio Maristas) e continuamos amigos fraternos. Por isso, tenho uma forte admiração por Arthur, e, sem dúvida, ele também tem por mim. Acho que tudo aquilo a que Arthur se dedica – como agora está com a Fundação Jorge Amado – ele se dedica de corpo e alma. É um entusiasta e não gosta de aparecer. Acho que ele integra todo esse conjunto, e sua integração com esses homens antes mencionados permitiu que a Federação desenvolvesse, crescesse, ocupasse este papel de destaque que tem na sociedade baiana, razão pela qual a comemoração dos seus Setenta Anos merece estar revestida de muito brilho e efusividade.

Walter Pinheiro Diretor da Tribuna da Bahia Presidente da ABI

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É preciso colocar paixão no trabalho para se ter bons resultados

Marina Almeida Diretora Regional do Senac

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O Senac é, no Brasil, uma das mais reconhecidas instituições de educação profissional. O Regional Bahia é uma referência nacional, com um quadro de colaboradores engajados e preparados e isso é resultado de um trabalho contínuo, que envolve capacitação e motivação da equipe. Nada acontece à toa. Se você não vestir a camisa, não botar o seu sangue, os resultados não acontecem. E no Senac não é diferente. Aqui nos envolvemos com a instituição em cada detalhe, as pessoas colocam paixão no que fazem, pois acreditam que a capacitação profissional faz a diferença na construção de uma sociedade mais justa, mais igualitária. E esse espírito que permeia a instituição, de pertencimento, de alegria em trabalhar, nos ajuda a enfrentar os problemas, as fases de crise, de recessão no país que enfrentamos ao longo da nossa história. Como o Senac é uma instituição de abrangência nacional, o Regional Bahia tem a oportunidade de valorizar os seus colaboradores e alunos em programas diversos, no Brasil e no exterior, como nas competições de educação profissional. Já recebemos medalhas em várias modalidades, com alunos competidores nas áreas de Serviço de Restaurante, Gastronomia e também em ocupações nas áreas de Saúde e Beleza, outros segmentos que atuamos bem na Bahia. Essas competições trazem uma visibilidade muito boa para a educação profissional. Aliás, não poupamos esforços para divulgar o nosso trabalho, pois sabemos do poder de transformação que o Senac tem na vida de tantos baianos que procuram os nossos cursos todos os anos.


O sindicato pode ser um parceiro do Sesc A necessidade que nós temos de interiorizar [o Sistema S] é um ponto para discussão: até quando e como nós vamos fazer isso. Este é o desafio maior, encontrar essa forma. Estamos avançando muito, na Bahia, nesse sentido. No ano em que a Federação está completando 70 anos, o Sesc está construindo, finalizando, mais quatro unidades no interior: Alagoinhas, Jacobina, Porto Seguro e Feira de Santana. E, em fase de aprovação de projeto arquitetônico, a futura unidade de Ilhéus. Isso é motivo para comemorar. Num período de crise que assola o País, vamos proporcionar aos comerciários, dessas cidades, muito mais qualidade de vida por meio dos serviços do Sesc. Os sindicatos são, no meu ponto de vista, a célula inicial do Sistema, depois do empresário, evidentemente. Os empresários se reúnem e formam o sindicato, os sindicatos, por sua vez, se juntam e formam uma Federação. Acredito que o sindicato pode ser um parceiro do Sesc, claro, cada um guardando as suas atribuições e objetivos. A lógica é simples: o Sesc atende mais comerciários, na medida em que consegue, por meio dos sindicatos, atrair mais empresas para prestar os seus serviços. Logo, estas empresas constroem uma imagem positiva dos sindicatos do comércio, afinal eles estão na base do Sistema do qual o Sesc faz parte. O Sesc, que é mantido com a contribuição do empresário do comércio, atua em cinco programas distintos, levando serviços de saúde, educação, cultura, assistência e lazer à nossa clientela preferencial, o comerciário baiano.

José Carlos Boulhosa Baqueiro Diretor Regional do Sesc

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No caminho de uma Federação cada vez mais ágil e moderna

Paulo Studart Superintendente da Fecomércio-BA

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Cheguei à Fecomércio em 2013, por intermédio de uma empresa de consultoria que desenvolveu um planejamento estratégico para a Federação, que passava por uma fase de mudanças. A contratação de um superintendente executivo fazia parte desse processo. Meus anos de bagagem de mercado ainda não acumulavam passagem por uma entidade sindical de empresários e isso me soou como um grande desafio. E assumi esse novo desafio, que me foi dado pelo então presidente Carlos Amaral, com entusiasmo. A Federação tinha uma demanda por melhoria dos processos de trabalho e a busca da sustentabilidade para se modernizar de uma forma geral, como vinha acontecendo com outras federações pelo Brasil. Tenho experiência em mudança cultural em 21 fábricas petroquímicas brasileiras, de diferentes estados e cidades, porém nada foi tão difícil se comparado ao processo que venho atravessando na Fecomércio-BA. Para atender às demandas necessárias, novas áreas foram criadas, a exemplo de Comunicação, Marketing e Relações Institucionais, e mais profissionais contratados, formando as novas equipes. A partir de 2014, com o início da gestão do presidente Carlos Andrade, continuamos a fazer avanços importantes no caminho de uma federação cada vez mais ágil, moderna, e com sindicatos fortes. Destaco, a publicação das Diretrizes de Gestão, que definiu, pela primeira vez na história da Casa, as linhas de atuação que a diretoria seguirá no curso de seu mandato. Também traçamos um novo Planejamento Estratégico, um Programa de Ação e estamos trabalhando cada vez mais unidos com o Sesc e o Senac, como uma instituição em forma de sistema tem que ser.


Papel importante na reformulação e desburocratização do país Deraldo [Motta] era um desbravador. Naquela rua [onde hoje é a Avenida Tancredo Neves] não tinha nada e ele já pensou na expansão da cidade para aquele lado e quis implantar aquele prédio ali. O prédio é revolucionário para hoje, quanto mais para a época. Olhe a estrutura do prédio da Federação do Comércio. E aí, Deraldo enfrentou Deus e o mundo. Os licitantes, os perdedores, para poder deixar bem definido, para não se identificar quem foi, resolveram delatar – que está na moda a expressão – Deraldo Motta junto ao SNI, Serviço Nacional de Informações da Revolução de março de 1964. Como sofremos. Eu digo no plural, porque Deraldo sofria e eu também, sofríamos muito. E, todo sábado, nós ainda tínhamos que responder às indagações do SNI. Naquele tempo o dia de sábado não era fim de semana, alguns trabalhavam na chamada Semana Inglesa até meio-dia, Edvaldo Brito Assessor Jurídico da Fecomércio-BA outros tantos, o dia todo. E eu preparava aquelas petições e ia levar nos quartéis das Forças Armadas, onde funcionava o SNI, lá em São Joaquim ou na Sexta Região Militar, para justificar por que esse grande empreendedor tinha que fazer valer seu sonho. Sonho que ele não viu realizar-se. Deraldo morreu antes da inauguração do prédio. E aí, eu confesso que entrei no prédio sob as forças do espírito de Deraldo Motta. Lembrando que aquele homem era capaz de fazer o que fez. Pessoas que foram depois presidentes da Federação, foram por ele chamadas para o seu lado. Uma delas foi Nelson Daiha, com que eu viajei muito, nas comissões de Deraldo, na grande reformulação da desburocratização do país. Nós íamos para reuniões com o ministro desburocratizador naquela época [Hélio Beltrão, ministro do governo João Baptista de Figueiredo], em Brasília e depois fui sempre para São Paulo, onde Nelson Daiha me ensinou a andar na [rua] 25 de março e criamos uma amizade insuperável. Participei, portanto, da gestão Nelson Daiha nessa perspectiva que eu me referi.

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Na defesa incondicional do comércio da Bahia

Nelson Antônio Daiha Filho Gerente jurídico da Fecomércio-BA de 2012 a 2016

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Sempre tive a referência da Fecomércio-BA como uma de minhas casas. Um local que sempre respeitei, venerei e defendi desde os dez anos de idade, ou seja, há quase trinta anos! Tive o privilégio e a honra de lá trabalhar na Gerência Jurídica ao longo de quase doze anos (2005 a 2016), a convite do amigo e mestre, meu e de meu pai, Dr. Aquinoel Borges. Lá vivenciei momentos importantes da entidade, chorei e sorri, amadureci e me tornei um verdadeiro homem. Tornei-me amigo de vários dos amigos de meu pai, a exemplo dos presidentes Carlos Amaral e Carlos Andrade. Sempre tive uma sensação de “pertencimento” da entidade, de apreço e de zelo. Mas a Fecomércio-BA não é de ninguém, senão dos empresários do comércio de bens, serviços e de turismo. E de mais ninguém. Serve somente a eles. E chegou a hora, como um “bom filho”, de sair de casa. De enfrentar novos desafios. Não sem antes reconhecer a importância dessa fenomenal entidade no seio da comunidade empresarial baiana e na minha vida e de toda a nossa família, representada pelo nosso orgulho maior: Nelson Antonio Daiha. À Fecomércio-BA deixo uma pequena mensagem: EU TE AMO, continue a seguir o seu trilhar na defesa incondicional do comércio da Bahia, muito obrigado por tudo e, como diria Nelson Daiha (pai), você sempre foi, é, e continuará a ser simplesmente SEN-SA-CI-O-NAL! Perdoe-me pelos excessos... É que falar da Fecomércio-BA, para mim, é mexer com muitas emoções e lembranças. Espero que, de alguma forma, tenha conseguido colaborar para a edição desse livro tão especial. Parabéns pelo trabalho e continuo sempre à disposição para o que for necessário.


A construção da Casa do Comércio foi feita com total transparência Quando eu fui contratada pela Fecomércio-BA, o meu cargo não era propriamente de assessora jurídica, era assessora da presidência. Depois, com a necessidade de se ter um apoio jurídico ao Comitê, ele foi criado para fazer as licitações, realizar os processos licitatórios para a construção da Casa do Comércio, aí me convidaram para eu fazer parte da assessoria jurídica. Nós funcionávamos assim, era uma equipe que tinha uma assessora jurídica que era eu, um assessor da parte de arquitetura que era Edvaldo França, um na área da construção civil e uma senhora que era da parte contábil financeira, dona Amália. Então era uma equipe que trabalhava dando apoio ao Comitê que eles criaram. Um comitê para realizar essas licitações, que, na verdade, a Federação não estava obrigada a fazer com tanto rigor, porque não era regulamentada pelo Dra Sonia Ma. S Correia da Silva decreto lei n. 200, que é o decreto federal que tratava das Assessora jurídica da Fecomércio-BA nas década 70/80 licitações na época. Não se referia às entidades do Sistema S, mas o senhor Deraldo Motta, como havia recursos transferidos para cá, inclusive pela própria CNC, ele quis dar total transparência a esse processo. Então, foi feita a licitação pública para todas as etapas, toda a parte de [engenharia] civil, estrutura metálica, telefonia, tudo isso foi feito com licitações públicas. Não precisava tanto rigor, mas ele quis fazer com total transparência e eram publicados os editais em jornais. Mas eu não trabalhei só nisso. Trabalhei também na parte do estatuto da microempresa, em favor do qual, um dos maiores batalhadores foi o doutor Nelson Daiha e eu também ajudava nessa parte. Todas as coisas novas que tinham, o senhor Deraldo entrava e dizia, “Você vai ter que dar um apoio nisso”, aí eu dava um apoio também, mas o forte do meu trabalho aqui foi na implantação na Casa do Comércio.

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A Fecomércio me deu a oportunidade de crescer

Arilton Soares Esteves Um dos primeiros funcionários da Fecomércio-BA

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Eu comecei aqui em 2 de janeiro de 1952 como servente. O primeiro presidente da Fecomércio-BA foi Arthur Fraga e funcionou na Associação Comercial da Bahia, na Praça Conde dos Arcos, no Comércio. Eu tenho o diploma da Escola Comercial Silvino Marques que era o Senac, que dava clareza a todos os comerciários, isso era lá na Rua Rui Barbosa, número 13. Antes de terminar o ginásio me nomearam para o Edifício Nelson de Faria. No Edifício Nelson de Faria eu trabalhei em uma função como auxiliar de caixa, não me lembro o ano. De auxiliar de caixa eu passei a chefe de arrecadação, eu antigamente era chefe. Fui ser, depois, auxiliar de caixa, de caixa para arrecadação, e da arrecadação vim para a contabilidade onde fiquei até o ano de 2015. Essa foi a minha trajetória na Federação, de 1952 até 2015. Eu adoro a Federação, ela é uma família. Antigamente era restrita para o funcionário, mas uma família. Dia de domingo a gente se encontrava para ir para a praia, jogar bola, ia lá para a Colônia de Férias, em Piatã, os funcionários eram todos assim... hoje eu não sei, eu também já cheguei a uma idade que eu não tenho mais como ir para a colônia, para jogar bola.



Presidentes dos Sindicatos filiados à Fecomércio-BA

Antônio Mário Reis

Geraldo Cordeiro

Marcelo Nascimento

Jesuíto Costa

Sindamac

Sindbeleza

Sirceb

Kelsor Fernandes

Cíntia Modesto

Secovi

Sindarmazenador

Carlos Fernando Amaral

Nilton Ávila

Sindal

Sindfeira

Paulo Motta

Raimundo Valeriano

Sindilojas

Sincodiv

Antônio Pithon

Ladanir Lopes

Sindalimentos

Sincamed

Cláudio Pinho

Afonso da Rocha

João Luiz Jesus

Roberto Brasileiro

Sicovfamil

Sicomérciovc

Sindcom

Sindeletro

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Sincofarba


Antônio Costa

Antonio Chaves

Sicomércio Ilhéus

Sindescobrimento

Benedito Vieira

Edvaldo de Oliveira

Sicomércio Alagoinhas

Sincom

Juranildes Araújo

Francisco de Assis

Vicente Neiva

José Carlos Lima

Simcomsaj

Sicomfs

Marcos Lamêgo

Isaque Néri Neto

Sincomvrpr

Sindpat

Ruy Argeu Andrade

Eduardo Carqueija

Sicomércio Camaçari

Sinpa

Erivelto de Melo

Alisson Ferreira

Paulo Henrique Barreto

Sindicomércio Eunápolis

Sincomércio Teixeira de Freitas

Sindilojas Juazeiro

Sindicom

Sindicom Itabuna

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Bibliografia BORGES, Jafé; LEMOS, Gláucia. Comércio baiano: depoimentos para sua história. 2. ed. Salvador: Assembleia Legislativa do Estado da Bahia, Associação Comercial da Bahia, 2011. DALTRO, Pedro (Coord. Editorial). Associação Comercial da Bahia: 200 anos de história. 1811 a 2011. Salvador: Associação Comercial da Bahia, 2011. DINES, Alberto. Prefácio. In: ZWEIG, Stefan. Brasil, país do futuro. Tradução de Kristina Michahelles. São Paulo: L&PM Editores, 2013. p. 7-9. (Coleção L&PM Pocket). FALCÓN, Gustavo Aryocara de Oliveira. Três décadas que mudaram a Bahia. Salvador: Solisluna Design e Editora, 2003. FEDERAÇÃO DO COMÉRCIO DE BENS, SERVIÇOS E TURISMO DO ESTADO DA BAHIIA. Ata da sessão da diretoria. Salvador, 17 set. 1947 ______. Ata da sessão da diretoria. Salvador, 10 ago. 1950. ______. Ata da reunião da diretoria. Salvador, 12 set. 1952. ______. Diretrizes 2014/2018 Transformando pela integração e representação. Salvador, 2014. p. 13. ______. Home page. Salvador; 2017. Disponível em: <http://www.fecomercioba.com.br>. Acesso em: 24 abr. 2017. FERREIRA, Wagner. Salvador: hoje cidade turística, antes industrial. Portal Bahia Econômica, Salvador. Disponível em: <http://www.bahiaeconomica.com.br/noticia/40978,salvador-hojecidade-turistica-antes-industrial.html>. Acesso em: 26 abril 2017. MATTOS, Waldemar. Palácio da Associação Comercial da Bahia (antiga Praça do Comércio). Salvador: Associação Comercial da Bahia, 1950. PAES, Fabio (Org.). Fundação Visconde de Cairu: cem anos educando para a vida. Salvador: Solisluna Design e Editora, 2005. PORTO FILHO, Ubaldo Marques. Deraldo Motta: realizador de sonhos. Salvador: Associação de Fomento à Cultura, 2004. RIBEIRO, Carlos. Um século de jornalismo na Bahia 1912-2012. Lauro de Freitas: Solisluna Editora, 2012. RIBEIRO, Carlos; BOCCA, Pedro; SOUZA, Nilton. Viva Saveiro: patrimônio naval da Bahia. Lauro de Freitas: Solisluna Editora, 2013. RISÉRIO, Antonio. Uma história da cidade da Bahia. Rio de Janeiro: Versal Editores, 2000. RUBIM, Antonio Albino Canelas; COUTINHO, Simone; ALCÅNTARA, Paulo Henrique. Salvador nos anos 50 e 60: encontros e desencontros com a cultura. Revista de Urbanismo e Arquitetura, Salvador, v. 3, n. 1, p. 30-38, 1990. Disponível em: <https://portalseer.ufba.br/ index.php/rua/article/viewFile/3104/2218>. Acesso em: 2 maio 2017. SAMPAIO, Consuelo Novais. 50 anos de urbanização: Salvador da Bahia no século XIX. Prêmio Clarival do Prado Valladares. Rio de Janeiro: Versal, 2005. SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO Bahia. Home page. Salvador; 2017. Disponível em: <www.sescbahia.com.br>. Acesso em: 24 abr. 2017. TAMBINI, Michael. O design do século: o livro definitivo do design do século XX. São Paulo: Ática, 1997. TAVARES, Luís Henrique Dias. História da Bahia. 10. ed. São Paulo: Editora Unesp; Salvador: Edufba, 2001. 214


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Créditos Fotos ACB/Divulgação: página 202. Acervo João da Costa Pinto: páginas 31 e 41. Acervo Postais Ubaldo Sena: páginas 26/27, 30, 32 (inferior), 36, 37, 39 (inferior), 42 e 43. Arquivo CNC: páginas 127 e 143. Arquivo família Deraldo Motta: página 99. Arquivo Fecomércio-BA: página 54, 57, 83, 86, 87, 90, 92, 94/95, 98 (inferior), 100/101, 107, 108, 109, 110, 111, 123 e 141. Arquivo Municipal: página 75. Arquivo Público: páginas 28 e 35. Arquivo Senac-BA: páginas 64, 65, 68, 69, 91 e 97. Arquivo Sesc-BA: páginas 66, 84, 122, 144, 145, 147, 148, 149, 187 e 189. Na página 187, foto dos colaboradores do Sesc apresentando a “Colcha de Retalhos”, feita no Centro de Formação Artesanal do Sesc (CFA), em comemoração aos 70 anos desta entidade, em 2016. César Vilas Boas: páginas 136, 137, 138, 139, 140, 208 e 211. Coleção Ewald Hackler: páginas 32 (superior), 33, 45, 46 (esquerda), 49 (superior), 58, 61 e 63. Exposição O Comércio de Salvador, de Cid Teixeira na Bolsa de Valores do Estado da Bahia (Bovesba): página 62. Extraído do livro Três Décadas que Mudaram a Bahia: página 74. Fernanda Menezes: página 195. Instituto Feminino da Bahia: páginas 34, 38, 47, 50/51 e 78. Kin Guerra: páginas 2, 4/5, 10, 12/13, 14/15, 16/17, 18, 48, 52, 55, 70/71, 72, 79, 104, 105, 114/115, 116, 119, 120, 121, 126, 1 28/129, 130/131, 132, 152/153, 154, 156/157, 158/159, 160/161, 162, 163, 164/165, 166/167, 168/169, 170/171, 172/173, 174/175, 176,177, 178, 179, 180/181, 182, 183, 184/185, 186, 188/189, 190, 192, 193, 194, 196, 197, 198, 199, 200, 201, 203, 204, 205, 206, 207, 209, 208 e 210. Museu de Arte da Bahia: páginas 44, 49 (inferior) e 76. Ramón Llampayas: páginas 39 (superior). T . Dias: páginas 46 e 59. Valter Lessa: páginas 88/89 e 98 (superior). Internet: páginas 77 e 81. 215


Este livro foi editado em agosto de 2017 pela Solisluna Design Editora, na Bahia. Impresso em papel couchĂŠ 150 g/m2


ISBN 978-85-89059-85-5

7 88589 059855 05 9855 99 788589


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