FEVAREJISTA PARANÁ: QUATRO DÉCADAS DE HISTÓRIA
FEVAREJISTA DO PARANÁ: QUATRO DÉCADAS DE HISTÓRIA
EXPEDIENTE
Sistema Fecomércio Sesc Senac PR
Presidente: Darci Piana
Sesc PR
Diretor Regional: Emerson Sextos
Senac PR
Diretor Regional: Vitor Monastier
NÚCLEO DE COMUNICAÇÃO E MARKETING
Coordenador Geral: Cesar Luiz Gonçalves
Coordenador de Jornalismo: Ernani Buchmann
Assessora de Comunicação e Marketing do Senac PR: Camila Manssour Tremea Assessora de Comunicação e Marketing do Sesc PR: Rosane Guarise
Revisão: Silvia Bocchese de Lima e Sônia Amaral
Projeto Gráfico e Capa: Vera Andrion
Pesquisa fotográfica: Silvia Bocchese de Lima
Acervo fotográfico: Sesc PR, Senac PR, Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional
Reprodução fotos: Bruno Tadashi e Ivo José de Lima
Impressão: Ajir Artes Gráfica e Editora Ltda. Curitiba PR
Tiragem: 1 mil exemplares
FEVAREJISTA PARANÁ: QUATRO DÉCADAS DE HISTÓRIA
A fusão necessária
Fevarejista
Sete presidentes ao longo da história
A década de 1950
A Varejista entra em cena
Os anos 1960
Novo capítulo da vida política
Anos 1970: novo perfil socioeconômico
Ares civis em figurino político
O tsunami do mundo globalizado
“A pior condenação é sentir-se inútil”
Enfim, juntas sob a mesma sigla
Bibliografia
A fusão necessária
A partir da implantação do Plano Real, em meados da última década do século passado, as instituições empresariais e associativas brasileiras sofreram forte abalo. Acostumadas a viver da aplicação financeira de suas receitas, viram a fonte secar da noite para o dia. Literalmente, porque as operações overnight, responsáveis por ganhos expressivos entre o fechamento dos bancos e sua reabertura na manhã seguinte, foram extintas no processo de enxugamento da economia.
Assim, nos anos seguintes, desapareceram marcas relevantes para os paranaenses, como Bamerindus, Banestado, Hermes Macedo, Disapel, Farmácias Minerva e outras. No cenário nacional, a maior parte da rede bancária ruiu: Nacional, Econômico, Banerj, Banespa, entre elas. Redes tradicionais do comércio varejista como Mesbla, Arapuã, Mappin e Jumbo Eletro também viraram simples lembrança.
Outras instituições trataram de diminuir seu tamanho ou fundir as operações. Casas Bahia e Ponto Frio passaram a somar forças, assim como Itaú e Unibanco, Brahma e Artarctica; o grupo Pão de Açúcar aposentou marcas, de forma que alguns anos depois a realidade econômica brasileira estava radicalmente mudada.
Nesse ambiente, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), órgão de representação legal do comércio no país, sentiu a necessidade de unir entidades de atividades similares, de forma a racionalizar a administração do setor.
Aqui no estado, desde a fundação da Federação do Comércio Varejista do Estado do Paraná (Fevarejista Paraná), em 1960, cisão que levou com ela a administração regional do Senac, convivíamos com duas entidades. Na época, a antiga Federação do Comércio, por meio de alteração estatutária, passou a representar exclusivamente os setores atacadista e de serviços, fi-
FEVAREJISTA PARANÁ: QUATRO DÉCADAS DE HISTÓRIA
cando também responsável pelo Sesc, com o setor varejista passando para a nova Federação do Comércio Varejista do Estado do Paraná.
A fusão em 1998 – concretizada no ano seguinte – mostrou-se salutar e eficaz. Restaurou-se a integridade da Federação do Comércio do Paraná, agregando ainda os setores de serviços e turismo, com os sindicatos integrantes das duas entidades abrigados sob uma única diretoria.
Passados 20 anos da fusão, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Paraná possui 63 sindicatos filiados. Sesc e Senac ampliaram suas atuações para todas as regiões do estado – hoje, já são mais de 70 unidades das duas casas espalhadas pelo Paraná. Somos responsáveis por gerar 63% do PIB paranaense, por meio de 500 mil empresas que empregam mais de dois milhões de pessoas.
A fusão era necessária. Seus resultados comprovam o acerto daquela histórica e sensata decisão. F
Darci Piana Presidente do Sistema Fecomércio Sesc Senac PRFevarejista
A história da Federação do Comércio do Estado do Paraná teve início oficialmente em 19 de janeiro de 1948, “em mais um passo decisivo para a evolução vitoriosa do sindicalismo brasileiro”, como consta em sua primeira ata. Sua incumbência era não só representar o setor empresarial como administrar o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial no Paraná (Senac PR) e o Serviço Social do Comércio no Paraná (Sesc PR).
A convocação para a assembleia constituinte foi publicada no Diário Oficial do Estado e nos jornais Gazeta do Povo e O Dia. Nessa assembleia, foi escolhida a diretoria provisória da entidade, presidida por Emanuel Coelho, do Sindicato dos Lojistas do Comércio Varejista dos Gêneros Alimentícios do Paraná e, como 1º vice-presidente, Anacleto Theogenes Carli, do Sindicato do Comércio Atacadista de Madeiras do Paraná.
A primeira reunião da diretoria provisória ocorreu no dia 27 de janeiro de 1949, sob a presidência de Emanuel Coelho e a 1ª secretaria a cargo de Hasdrubal Bellegard, do Sindicato do Comércio Atacadista de Madeiras do Paraná.
Dois anos antes, na friorenta noite de 7 de julho de 1947, os primórdios da Federação haviam sido lançados, com a criação do Senac PR. Em pleno inverno, o auditório da Associação Comercial do Paraná recebeu a presença de Manoel Francisco Lopes Meirelles, enviado especial da Administração Nacional do Senac, para que, em nome de seu presidente, João Daudt D’ Oliveira, presidente do Conselho Nacional do Senac (CNS), fosse criado o Senac PR.
FEVAREJISTA PARANÁ: QUATRO DÉCADAS DE HISTÓRIA
Meirelles abriu a sessão. A primeira ata reza que “Em seguida, após findar sua oração, solicitando que a selecta plateia permanecesse de pé, declarou, em nome do Sr. Doutor João Daudt D’ Oliveira, presidente do Conselho Nacional do Senac, instalada oficialmente a delegacia...”
A visão humanista e inovadora de Daudt D’ Oliveira, cuja filosofia sempre foi a de priorizar a boa relação entre o trabalho e o capital, tornou-se a marca da existência do Senac. Em seu discurso de posse no CNC, em 1946, no Rio de Janeiro, divulgou a Carta da Paz Social:
“O trabalho é um direito de cada um e participar na vida social um dever de para ela contribuir com o melhor de suas aptidões, assegurando aos trabalhadores um salário que lhes garanta uma existência digna, sã e eficiente. Não só por motivo de solidariedade social, mas de conveniência econômica deve ser o mais rapidamente possível aumentado o poder aquisitivo da população...”
São palavras que refletem a filosofia do Papa Paulo VI: “O Homem vale bem mais que a máquina e bem mais do que produz”.
A procura da Paz Social ficara evidente naquele discurso de Daudt D’ Oliveira: “Os empregadores e os empregados que se dedicam no Brasil aos vários ramos de atividade econômica reconhecem que uma sólida paz social, fundada na ordem econômica, há de resultar precipuamente de uma obra educativa, através da qual se consiga fraternizar os homens, fortalecendo neles os sentimentos de solidariedade e confiança”.
Na mesma reunião em 1947, em Curitiba, foram escolhidos os componentes do Conselho Consultivo da Delegacia Paranaense do Senac, com Anacleto Theogenes Carli, eleito presidente.
No dia seguinte à reunião, foram colocados em prática os projetos dos cursos Prático de Escritório (no qual foram aprovados oito alunos) e Prático de Comércio, além da concessão de Bolsas de Estudo, e o chamado Grande Torneio Cultural. Surgia com a entidade, na prática, o objetivo de organizar e administrar escolas de aprendizagem comercial.
Também em 1947, foi estabelecida a primeira sede da instituição no estado como Delegacia Estadual do Senac, no edifício João Prosdocimo, na Praça Tiradentes, em Curitiba.
Três capítulos são importantes para se compreender o início da história e o que viria depois: a constituição da Federação do Comércio do Estado do Paraná, em 1948; a cisão havida com criação da Federação do Comércio Varejista do Estado do Paraná, em 1960, e a fusão dessas entidades sob uma só legenda – Federação do Comércio do Paraná (Fecomércio), em 1998.
A Federação do Comércio do Estado do Paraná nasceu de cinco sindicatos, com orientação da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e apoio da Associação Comercial do Paraná, em 19 de janeiro de 1948. Passou a ser responsável pela administração do Senac e Sesc no Paraná.
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Naquele ano, o Paraná aparecia como o sexto estado exportador do país. A Carta Sindical, reconhecendo a Federação do Comércio do Estado do Paraná como associação sindical de segundo grau, foi emitida pelo Ministério do Trabalho em 31 de dezembro de 1948.
Doze anos depois, em 17 de junho de 1960, na própria sede da entidade-mater, por reivindicações de empresários do setor varejista, criou-se a Federação do Comércio Varejista do Estado do Paraná, endossada por 16 sindicatos. A outra entidade permaneceu com a denominação Federação do Comércio do Estado do Paraná, representando os setores atacadista e de serviços.
O Diário do Paraná, de 1947, traz matéria sobre a instalação do Senac no Paraná
Reunindo 16 sindicatos de atividades varejistas, a Federação do Comércio Varejista do Estado do Paraná passou a ser àquela altura a maior entidade sindical no estado. A carta sindical foi assinada, a 13 de julho do mesmo ano, pelo ministro do Trabalho, Indústria e Comércio, João Batista Ramos. A Varejista passou a administrar o Senac no nosso estado.
No terceiro capítulo dessa história, somam-se objetivos comuns das duas entidades então existentes e cria-se a Federação do Comércio do Paraná (Fecomércio), que reúne o capital econômico, político e social das anteriores, com a responsabilidade administrativa e financeira tanto do Senac quanto do Sesc. A nova entidade surge em 14 de outubro de 1998, em uma assembleia composta
por dirigentes de 51 sindicatos das áreas de comércio atacadista, varejista e de serviços, seguindo determinação da IV Assembleia do Sicomércio, em outubro de 1997, no Rio de Janeiro. Depois de estudos e reuniões com mais de 800 sindicatos espalhados pelo país, a Confederação Nacional do Comércio determinou a fusão das federações em todos os estados.
A maioria dos fatos determinantes na existência de duas entidades transformadas em única é minuciosamente arquivada por uma espécie de guardião dessa história, o economista e administrador de empresas Alberto Franco Samways. Ele foi admitido na Federação do Comércio do Estado do Paraná, em 1966, como auxiliar administrativo, na administração Osmário Zilli. Depois, foi assistente do Assessor da Área Econômica, Ário Taborda Dergint, Secretário Executivo, Diretor Executivo, durante 20 anos e, desde 2014, Diretor do Setor Sindical da Fecomércio.
É dele a frase: “Desde que acompanho de forma direta a existência tanto do Sesc como do Senac e, depois, como Fecomércio, sou testemunha de sua importância tanto para empregadores como para empregados, sendo essencial para a vida sindical do Paraná”. F
Seleção de futebol formada pelos alunos do Curso de Prático de Escritório, no campo ao lado da Escola Plácido e Silva, em Curitiba, em outubro de 1952
A cidade de Andirá, interior do Paraná, recebeu, na década de 1950, a instalação do Curso Prático de Escritório, ofertado pelo Senac Paraná
Sete presidentes ao longo da história
Em 38 anos de existência, a Federação do Comércio Varejista do Estado do Paraná (Fevarejista) teve sete presidentes.
O primeiro foi o empresário José Luiz Demeterco, de 1959 a 1962. Em 1951, ao herdar um armazém de secos e molhados de seu pai, Pedro Demeterco, fundara a rede supermercados Mercadorama, considerada a pioneira em autoatendimento no Paraná, com a primeira loja na Praça Tiradentes.
Anteriormente vice-presidente na chapa de Demeterco, Ney Marques de Macedo o sucedeu e tornou-se o segundo presidente da entidade, função que exerceu durante dois anos.
Macedo iniciou suas atividades profissionais como funcionário da Farmácia Stellfeld, na qual trabalhou de 1949 a 1954. Durante esse período, em 1951, concluiu o curso de Farmácia na Universidade Federal do Paraná.
O terceiro (1964 a 1968) a presidir a Fevarejista foi Júlio Maito Sobrinho, curitibano, empresário, atuante, que fundou nos anos 1950 a Sociedade Comercial de Máquinas e Equipamentos (Socomaqui Ltda.).
FEVAREJISTA PARANÁ: QUATRO DÉCADAS DE HISTÓRIA
1968-1980
Seu sucessor, o empresário e advogado João Kracik Neto, permaneceu de 1968 a 1980. A bagagem de experiência desse catarinense de Blumenau era respeitável tanto na área privada, como profissional – advogado no campo do Trabalho e Previdência Social – e pública: foi eleito vereador em 1947, presidente da Casa Legislativa por dois períodos e, em dezembro daquele ano, assumiu como prefeito interino de Curitiba.
Mais um farmacêutico, George Christofis, presidiu a Federação do Comércio Varejista do Estado do Paraná também por 12 anos, sucedendo a João Kracik Neto. Filho de pais gregos, farmacêutico formado pela UFPR, empresário no ramo farmacêutico desde 1955, e advogado, Christofis, de extenso currículo, permaneceu à frente da entidade de 1980 a 1992.
1980-1992
O guarapuavano Abrão José Melhem, advogado formado pela UFPR, em 1966, e juiz classista do TRT PR, no período 1995/1998; que sucedeu a Christofis, foi o primeiro empresário radicado no interior a disputar uma eleição e a presidir, de 1992 a 1995, a Fevarejista. Sua eleição trazia claramente a marca dos anos 1990: mudança, transformações.
1992-1995
Frederico Wiltemburg foi o último a presidi-la, de 1995 a 14 de outubro de 1998, quando houve a transição para a fusão da Fevarejista com a Federação do Comércio do Estado Paraná, e a criação da Fecomércio.
O ponta-grossense Wiltemburg mudou-se aos 17 anos para Castro e viu seu pai fundar e iniciar as atividades da Casa dos Presentes. Começou nessa mudança a sua vida profissional. F
1995-1998
A década de 1950
A primeira administração da Fevarejista foi marcada pela experiência e ousadia empresarial de seu presidente José Luiz Demeterco. Ele havia criado a primeira rede de supermercados do Paraná, em 1951, e participou dos debates, em novembro de 1959, para a criação da Federação do Comércio Varejista do Estado do Paraná (Fevarejista), tornando-se presidente.
Também em 1951, Getúlio Vargas assumiu – eleito pelo voto, após governar por quase 15 anos como ditador, seu segundo mandato na presidência da República –, e sancionou a criação, um ano depois, a Lei nº 1.628, que criou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), mais tarde Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), provocando transformações no desenho econômico e político do país.
O Paraná, naquela época, foi se estruturando. Havia sobrevivido quase 100 anos sem planejamento. As primeiras tentativas foram no primeiro governo Moysés Lupion, com o Plano de Metas lançado em 1947.
A edição da Revista A Divulgação, de janeiro de 1955, traz o registro da cerimônia de inauguração da Biblioteca Pública do Paraná
O jornal Diário da Tarde, de 31 de outubro de 1951, faz referência à inauguração do Centro Cívico, na capital do estado, como uma das atividades de comemoração ao centenário da Emancipação Política do Paraná
Instalação de Empresas Comerciais Fictícias no Senac Paraná, pelo professor alemão Werner Nehab. Por meio das empresas, os estudantes faziam transações comerciais. O jornal Diário do Paraná, de 1957, destaca que as empresas eram “uma inovação corajosa, pois pela primeira vez, tentaremos romper com os métodos expositivos e por demais passivos, de ministrar o ensino das matérias técnicas”, traz a matéria. Nehab nasceu na Alemanha em 1914, chegou ao Brasil em 1934 e faleceu aos 101 anos, em 2015
Com o governo Bento Munhoz da Rocha Neto (1951-1954), as primeiras medidas estruturantes foram implantadas. Bento também realizou grandes obras, como o Centro Cívico, do qual o Palácio Iguaçu representava a joia da coroa, o Teatro Guaíra e a Biblioteca Pública, e promoveu a Exposição Internacional por ocasião das comemorações do centenário da emancipação política do Paraná.
Renunciou para assumir o Ministério da Agricultura do fugaz governo de Café Filho e viu seu antecessor no governo paranaense, Moysés Lupion, tornar-se também o governador que o sucedeu – ainda que entre ambas as administrações o Paraná tenha tido o empresário Adolpho de Oliveira Franco em um mandato-tampão no segundo semestre de 1954.
Lupion era tido como o homem mais rico do Paraná. Saiu do Palácio com a injusta fama de favorecer a corrupção, assistindo impotente ao ex-cunhado e ex-aliado de Bento Munhoz da Rocha Neto, o lapiano Ney Braga, vencer as eleições para o governo, escorado na grande popularidade de Jânio Quadros, candidato presidencial vitorioso naquele início de nova década. F
A Varejista entra em cena
Já em agosto de 1960, alunas do curso de Cabeleireiro – que havia sido criado em abril daquele ano, atendendo à demanda do mercado curitibano –, participaram do Desfile de Penteados promovido pelo Departamento Regional do Senac, em cooperação com a Liga das Senhoras Católicas de Curitiba.
Em setembro de 1960, já criada a Fevarejista, o Conselho de Representantes da Federação resolveu filiar-se à Confederação Nacional do Comércio (CNC).
A história tanto do Senac quanto do Sesc é umbilicalmente ligada à da CNC. Também no Paraná, quando houve a separação das duas entidades, a atuação da CNC foi providencial.
Segundo o empresário Abrão José Melhem, que seria eleito presidente da Federação do Comércio Varejista do Estado do Paraná em 1992, José Luiz Guerra Rego, em 1960, fora ao Rio de Janeiro para conversar com o catarinense Charles Moritz, presidente desde outubro de 1959 da CNC e, em consequência, do Sesc e do Senac. “O Guerra Rego mostrou ao Charles que a Federação do
Carta de aprovação do estatuto e de reconhecimento da Federação do Comércio Varejista do Estado do Paraná
Registro da Conferência proferida pelo professor Luiz Fernando Van Erven Der Broocke, em 4 de janeiro de 1967, no auditório do Colégio Estadual do Paraná sobre o Imposto de Circulação de Mercadorias (ICM). Há mais de 50 anos, houve a substituição do então Imposto Sobre Vendas e Consignações (IVC) pelo ICM. O novo imposto colocou o Brasil na vanguarda tributária
A matéria do jornal Diário da Tarde, de 21 de julho de 1960, trazia nota sobre o reconhecimento da Federação do Comércio Varejista do Estado do Paraná como a maior entidade desse grau sindical no estado
Comércio parecia dar maior atenção ao setor atacadista e que, por isso, a insatisfação crescera entre os comerciantes. Muitos varejistas haviam reclamado com Guerra Rego, presidente da Federação do Comércio do Estado do Paraná e uma liderança entre todos”, conta Melhem. A resposta do presidente da CNC foi enfática: “Você funda a Varejista que lhes dou o Senac”.
A liderança de José Luiz Guerra Rego e seu contato direto com a CNC iniciaram nos anos de 1949 a 1952, quando foi 2º secretário da Federação do Comércio do Estado do Paraná. Na administração seguinte, até 1954, foi 1º vice-presidente. Nesse ano, se elegeu presidente da entidade e delegado efetivo junto ao Conselho da Confederação Nacional do Comércio (CNC). Guerra Rego foi reeleito, sucessivamente, na presidência da Federação do Comércio do Estado do Paraná até 1962.
As providências seguintes redundaram na criação, em junho de 1960, da nova entidade, Federação do Comércio Varejista do Estado do Paraná, tendo sob sua responsabilidade o Senac PR.
Naquele ano, em Curitiba, o Diário da Tarde disponibilizava em suas páginas a interação com seus leitores, publicando um número de telefone de cinco dígitos para que entrassem em contato com o jornal quando sou-
bessem de alguma “informação digna de registro”. Atualmente, a prática é comum em veículos de comunicação. Porém, os dígitos chegaram a nove em Curitiba e as plataformas são muitas. Assim como as mudanças foram muitas nas duas entidades, que acabaram por se fundir em 1998.
Em 1962, com Demeterco a responder por sua presidência, o Senac PR iniciou as atividades do seu Restaurante-escola em Curitiba, o primeiro do Brasil, “para formar pessoal especializado para a área hoteleira”, no Clube do Comércio, na Associação Comercial do Paraná. Funcionou, depois, nas dependências do antigo Hotel Jonscher, na Rua Barão do Rio Branco, antes de ganhar sede própria, em 1968.
Ao longo dos anos, o mesmo Restaurante-escola passou a realçar a parte educativa e prática, com o exercício de técnicas profissionais em contato direto com o público. A experiência gerou excelência: meio século mais tarde, em 2012, um dos alunos do curso de Garçom do Senac, Ueslei Felipe de Oliveira, recebeu a Medalha de Ouro na ocupação Serviço de Restaurante nas Olímpiadas do Conhecimento, tendo direito a uma vaga na WorldSkills, maior competição de educação profissional do mundo.
Com a necessidade de ampliar as instalações do Senac PR em Curitiba, a instituição adquiriu, em 2 de janeiro de 1973, de Jayme Canet, o imóvel localizado ao lado da atual sede, na Rua André de Barros, 762. A aquisição foi o primeiro passo para concretizar uma das metas do Senac para o ano de 1973, quando a entidade pretendia formar 22.192 alunos em todo o Paraná. Justificando a compra do imóvel, José Luiz Guerra Rêgo salientou que a atual sede do Departamento Regional abrigava, além do Centro de Formação Profissional, a Administração Regional e a Federação do Comércio Varejista do Estado do Paraná
O Senac Paraná conquistou o primeiro lugar na seletiva para a mais importante competição de educação profissional mundial, a WorldSkills, com o aluno do Curso de Garçom da unidade de Curitiba, Ueslei Felipe de Oliveira. Depois de ganhar o ouro na etapa nacional da Olimpíada do Conhecimento em 2012, Ueslei representou o Brasil na ocupação de Serviço de Restaurante, na Alemanha
Na década de 1960, enquanto Curitiba se desenvolvia, a construção do novo edifício da Administração Regional do Senac tomava corpo, em terreno adquirido do empresário Jayme Canet Júnior (futuro governador do Paraná). Sob a administração de Júlio Maito Sobrinho na Fevarejista, cursos se multiplicavam sob a responsabilidade da entidade nas cidades do interior. Sempre seguindo à risca a meta prioritária de oferecer educação profissionalizante para as atividades do comércio.
Em 1966, os cursos de Vitrinismo e Cartazismo estavam em alta. Era uma prova de que o comércio preocupava-se em encantar seus clientes. No ano seguinte, Londrina também diplomava seus vitrinistas.
Curso de Manicure, ministrado em Arapongas, em 1968, pela professora Aparecida Gonçalves
A excelência em educação do Senac recebeu um tônico significativo com a inauguração da sua primeira biblioteca, na Unidade Centro, com duas mil obras, em outubro de 1969, durante a presidência de João Kracik Neto. Oficialmente, ela só foi inaugurada em julho de 1972, recebendo o nome de Júlio Maito Sobrinho, antecessor de Kracik Neto, já com 3.078 livros em seu acervo. Atualmente, a rede de bibliotecas do Senac PR é composta por 32 unidades. O Sistema Fecomércio contabiliza ainda
18 nas unidades do Sesc e a biblioteca em sua sede central. Ao todo, o sistema mantém 51 bibliotecas, com um acervo de 130 mil obras.
Desde 2009, o Senac PR usa um sistema integrado de bibliotecas, o “Pergamum”– software informatizado de gerenciamento que contempla as principais funções do setor e utiliza o formato MARC 21 como padrão para intercâmbio de informações bibliográficas.
As bibliotecas são eficiente mecanismo para a formação profissional, inclusive possibilitando a aplicação do Modelo Pedagógico Senac. Nelas, é possível desenvolver os predicados das marcas formativas que caracterizam o domínio técnico-científico, a visão crítica e a visão empreendedora, sustentável e colaborativa. F
Entrega do certificado – de 3º lugar no Concurso Literário para Comerciários – a Irena Kłosinska, promovido pelo Senac, em 1967, em comemoração ao Dia do Comerciante
Visita do ex-presidente da República Juscelino Kubitschek ao Departamento
Regional do Senac, em Curitiba, em 9 de dezembro de 1968
Os anos 1960
O primeiro marco da década no país foi a inauguração de Brasília pelo então presidente da República, Juscelino Kubitschek (PSD), eleito em 1955, depois de quatro anos de construção.
No cenário econômico paranaense, o sucessor de Demeterco na Fevarejista foi Ney Marques de Macedo, anteriormente vice-presidente. Ele assumiu em 1962 e deixou o cargo quatro anos depois. Macedo encerrou suas atividades empresariais em 1968 e passou a ser funcionário público, lotado no então Departamento de Compras do Estado.
O Brasil e o Paraná viveram oscilações econômicas e principalmente políticas nos anos 1960. No mundo, esses dez anos ficaram conhecidos como “a década da constestação, da rebeldia ante os costumes estabelecidos, da liberação sexual, dos movimentos pela ampliação dos direitos civis, da Guerra no Vietnã, de Sorbonne e a revolta estudantil, de Woodstock”, uma salada em todas as atividades humanas. Também durante esses anos, aconteceram as primeiras transmissões televisivas a cores.
Em 1962, nas dependências do Clube do Comércio, foi inaugurado o 1º Restauranteescola do Senac no Brasil, em Curitiba. No prédio da Administração Regional, em 1967, o restaurante passou a funcionar de maneira experimental, até ser inaugurado oficialmente, em 24 de abril de 1968, com um jantar registrado em foto
Jantar oferecido no Restaurante-escola do Senac, em Curitiba, com a presença do presidente do Conselho Regional do Senac, João Kracik Neto
Inauguração, em 11 de fevereiro de 1966, do novo prédio da Administração
Regional do Senac Paraná, na Rua André de Barros, em Curitiba, local onde a instituição está instalada até hoje
Em paralelo, teve início a utilização da informática para fins comerciais, mesmo não sendo de forma massificada.
O mundo assistiu de olhos esbugalhados às notícias sobre a corrida espacial: em 1961, o russo Yuri Gagarin foi o primeiro homem a ser lançado ao espaço; cinco anos depois, os soviéticos repetiram a ousadia e enviaram um robô para a Lua.
Os americanos foram pioneiros em enviar um homem, Neil Armstrong, à Lua, em 1969, a bordo da Missão Apolo XI, e também nesse ano uma sonda norte-americana alcançou Marte, feito emulado pela então União Soviética meses depois, com o envio de um robô para Vênus. Como na época das Grandes Navegações, os homens lançaram-se definitivamente ao espaço planetário.
Em novembro de 1966, o diretor geral do Senac, Maurício de Magalhães
Carvalho, acompanhado por técnicos da Organização Internacional do Trabalho (OIT), estiveram em visita ao Departamento Regional do Senac Paraná
Em todas as áreas científicas, a ousadia esteve presente nessa década. Em 1967, na África do Sul, foi realizado o primeiro transplante de coração, o que também aconteceu no Brasil em maio de 1968. Naquele emblemático mês, a Sorbonne, um dos símbolos da intelectualidade francesa, foi palco de uma convulsão estudantil que, paralela a outros movimentos de trabalhadores em Paris, repercutiu e criou seguidores por todo o
mundo, com reflexos inclusive no Brasil e no Paraná.
A década foi marcante. Depois do desastre Jânio Quadros, que desembarcou do governo oito meses após a posse, o governo populista de João Goulart viria culminar, quatro anos depois na intervenção militar de 1964. Nesse ano, em Curitiba, a gasosa Cini comemorava seis décadas de existência.
Os índices econômicos nos anos 1960 revelam que no Paraná, no primeiro ano da década, o caixa da administração pública era sofrível. A dívida flutuante do estado saltara de Cr$ 4 bilhões, no início daquele ano, para Cr$ 13 bilhões ao seu final. Mais de Cr$ 3 bilhões dessa dívida eram de créditos abertos por motivo de calamidade pública, sem que nenhum desastre houvesse acontecido em terras paranaenses naquele ano.
Em 1959, o estado tinha 38.731 servidores, com um percentual equivalente a 1% da população paranaense, que se manteve estável na década. No ano seguinte, esse quadro evoluiu para 55.286 servidores, com 16.555 contratações. Os gastos com pessoal dobraram, de Cr$ 3,1 bilhões em 1959 para Cr$ 6 bilhões em 1960. F
Novo capítulo da vida política
Ney Braga, ao suceder Moysés Lupion, a partir de 1961, inaugurou um novo período da história política no Paraná. Seu percurso à época se confunde com a história política paranaense na segunda metade do século XX. Sua administração de 1961 a 1965 é apontada por estudiosos, sociólogos e historiadores como marco de modernização administrativa, especialmente em dois aspectos: a integração física do estado, com a rodovia do Café pondo fim ao distanciamento que havia, até então, entre a região Norte, rica na produção cafeeira (ligada a São Paulo) e a região Sul, tradicionalista e centro de decisões políticas, além de haver proporcionado um primeiro impulso de industrialização, com uma política fiscal de atração de empresas.
Flagrante do encontro de dirigentes das Federações do Comércio do Paraná e do Comércio Varejista do Estado do Paraná, com o presidente da República Ernesto Geisel e o governador Pedro Viriato Parigot de Souza, no Palácio Iguaçu, em 1972
A economia do estado dava mostras de vitalidade. O Paraná já começava a se beneficiar a partir daquela década de uma nova regionalização industrial, que redundava em distribuição de renda mais equilibrada e, consequentemente, de novo plasma ao comércio, especialmente varejista, que podia expandir o mercado de trabalho em função do crescimento do mercado de consumo.
Outro tônico era a significativa renda que vinha da área rural. O café, especialmente na região Norte do estado, esparramava-se por grandes áreas.
FEVAREJISTA PARANÁ: QUATRO DÉCADAS DE HISTÓRIA
O Paraná foi, entre 1950 e 1970, o primeiro produtor do grão no país, com os cafeeiros chegando a cobrir mais de um milhão de hectares, responsáveis por mais da metade da oferta nacional.
A economia, apesar de dividir-se por todo o estado, passou a ter um cerne receptor mais destacado. Curitiba, que já era o centro político, como capital do estado, passou a ser também o núcleo urbano com maior magnetismo: em 1960, moravam na cidade 356.830 pessoas; em 1970, esse número evoluiu para 642.362 habitantes, com um aumento de cerca de 80%. Os meios de comunicação ganharam força: em 1960, Nagib Chede descerrou a placa de inauguração da TV Paranaense, o Canal 12, seguido, 45 dias depois, pela inauguração da TV Paraná, integrante da rede dirigida pelo jornalista Assis Chateaubriand. A população no estado já era de 4,2 milhões de pessoas.
Na década de 1960, o Senac iniciou uma série de atividades com o objetivo de contribuir com a comunidade e com o bem-estar dos comerciários. Para atender a demanda dos colaboradores da instituição, foi organizada uma entidade para finalidades culturais e recreativas.
Nascia assim o Senaclub
Em 1962, ano de início de atividades do primeiro Restaurante-escola do Senac em Curitiba, a seleção brasileira de futebol sagrou-se, no dia 17 de junho, bicampeã mundial da modalidade, com a consagração das pernas tortas de Garrincha, acompanhadas pelas de outros nomes famosos, como Zito, Didi, Gilmar, Vavá, entre eles, e as de Pelé, que se contundiu no segundo jogo e ficou fora da competição. A última partida, com a vitória de 3 x 1 sobre a Tchecoslováquia, ocorreu no Estádio Nacional de Santiago, em cujos corredores de entrada há uma placa, em metal, homenageando jogadores e comissão técnica brasileira.
Em Curitiba, os sonhos do futebol também povoaram jovens desde sempre e, mais especificamente de jovens
do Senac PR, desde a década de 1950. Em maio de 1952, foi realizado o primeiro jogo de futebol entre alunos dos cursos do Senac. Em 1960, foi organizado o Senaclub, entidade para fins culturais e recreativos e que tinha, claro, o seu time de futebol.
Se a história da seleção brasileira, dois anos depois, fortaleceu-se pela magia dos jogadores que foram ao Chile, a história do Senac PR explica-se pelos alicerces dessa instituição, que viria em 1998 ser somada ao outro braço do qual se separara em 1960, o Sesc.
Desde 1948, o Senac PR seguia à risca sua missão de “educar para o trabalho em atividades do comércio de bens, serviços e turismo” e o Decreto-lei nº 8621, de 10 de janeiro de 1946: “Tem por finalidade a elevação do nível técnico-profissional dos comerciários do país”.
Dois anos depois desse decreto, o Senac PR distribuiu 90 bolsas de estudo aos melhores alunos de escolas técnicas de comércio do primeiro semestre do ano anterior (1947) na capital e no interior – Curitiba (31 bolsas), Londrina, Paranaguá, Irati, Ponta Grossa e Jacarezinho (10 bolsas por município) e Castro (9).
Também em 1948, houve a instalação do Escritório Modelo no edifício do Sindicato dos Empregados no Comércio em Curitiba. Foram oferecidos cursos praticados em Especialização para Contabilistas e Praticagem em Serviços para Escritório, por meio de acordo de cooperação com a Faculdade de Ciências Econômicas de Curitiba. Em dezembro daquele ano, foram entregues os certificados aos alunos das primeiras turmas. Os mesmos cursos
foram ofertados em Londrina, Paranaguá, Irati e Cambará.
Em 1949, a oferta de 98 bolsas de estudo foi esgotada rapidamente. Ao mesmo tempo, instalou-se o Cinema Educativo Senac, com a projeção de 62 filmes. Em janeiro de 1950, criou-se oficialmente o Departamento Regional do Senac no Paraná.
Visita do ministro do Trabalho e Previdência
Social, Jarbas Passarinho, em março de 1969, ao Senac Paraná, quando da instalação do governo federal no Paraná, pelo presidente Arthur da Costa e Silva
Os dirigentes do Senac enfatizam que desde sua criação a preocupação da entidade, paralela ao objetivo de organizar e administrar escolas de aprendizagem comercial, sempre foi a de lapidar a cidadania. Há cursos profissionalizantes e atividades culturais constantes em todo seu histórico. Em 1950, foi lançado um concurso de teses sobre o tema “Pinho”. Um dos trabalhos se destacou pela visão de futuro – a derrubada irracional dos pinheirais e as possíveis consequências, feito por Eleutério de Souza Paicha Neto, que ficou em terceiro lugar entre os classificados.
Outros concursos de monografias foram organizados ao longo dos anos, com temas como “Vida e obra do Barão do Serro Azul”, “A economia paranaense nos cem anos de emancipação política do estado” e “O comércio como fator de engrandecimento e progresso”. Em 1972, por exemplo, o tema ligou-se ao objetivo fundamental da entidade: “O papel do Senac como instrumento de mudança e integração”.
Em 1980, em concurso para estimular o estudo e a reflexão, o tema mais uma vez foi a existência da própria entidade – “Senac nos anos 80
Perspectivas”.
No ano seguinte, com a presença de 200 vendedores, foi realizado o II Encontro dos Profissionais de Vendas, que pretendia buscar saídas, na época, para um mercado retraído e vendas em queda. Foram inúmeros os concursos e promoções culturais ao longo das décadas, galvanizando tanto o público interno quanto o externo do Senac.
Desde os anos 1950, a preocupação de aliar o ensino profissional com a cultura se materializa em objetivos claros: “Estar na vanguarda da educação do comerciário paranaense e aprofundar as pesquisas socioeconômicas e pedagógicas”. A partir dessa premissa, foram realizados debates e mesas-redondas nas Semanas de Orientações Técnico-Pedagógicas do Ensino Comercial.
Em 1959, às margens da separação da Federação do Comércio do Estado do Paraná para a criação da Federação do Comércio Varejista do Estado do Paraná, foi instituído o Curso Comercial Básico e seguindo diretrizes do Decreto nº 42.671, aprovado pelo Senado Federal em 1957, autorizando o funcionamento do Ginásio Comercial, com uma turma matinal e duas vespertinas.
Inauguração, em Curitiba, em 28 de novembro de 1959, da Loja de Treinamento do Senac Paraná
Nesse ano, inaugurou-se o Centro Sesc Senac Federação do Comércio, na Rua José Loureiro. Nesse local, também funcionava a Loja de Treinamento do Senac, que adquiriu relevância em sua história no Paraná por ser a primeira empresa pedagógica da instituição. Na Loja-escola, os alunos tinham contato com a venda de diversos tipos de mercadoria, melhorando a formação profissional com vistas ao mercado de trabalho.
No Relatório do Senac, quatro anos depois e já com certa experiência acumulada, há uma descrição do que era a Loja-escola: “A Loja atua como
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um verdadeiro posto de venda, utilizando impressos fiscais fornecidos pelas empresas proprietárias das mercadorias que arcam com os ônus fiscais decorrentes das operações realizadas. O movimento deve ser de tal ordem que permita as oportunidades de vendas que a programação de vendas pressupõe, mas não precisa atingir os níveis de uma organização comercial preocupada com o legítimo resultado do lucro. As pequenas comissões sobre as vendas não são atribuídas com o objetivo ‘lucro’, mas destinadas a gratificações aos funcionários e aos alunos estagiários”.
A missão permanente do Senac PR sempre se fez presente ao longo das décadas: educar para o trabalho em atividades do comércio de bens, serviços e turismo.
Em 1960, depois das solicitações de empresários ao presidente da CNC, Charles Moritz, e aprovação da nova entidade, o Senac PR passou às mãos da Federação do Comércio Varejista do Paraná (Fevarejista) e o Sesc ficou com a Federação do Comércio do Estado do Paraná (Fecomércio PR).
Em comemoração ao Dia do Comerciário de 1964, celebrado no dia 30 de outubro, os presidentes das federações do Comércio do Estado do Paraná e do Comércio Varejista do Estado do Paraná emitiram nota de saudação à categoria. “Nesta manifestação reafirmam o pensamento de que só a paz social, pela crescente compreensão entre o Trabalho e o Capital, poderá resultar no progresso para todos nós”, dizia a nota publicada no Diário da Tarde
O processo constante de respaldo à cultura continuara na década anterior: em 1952, foi realizado o Grande Torneio Cultural Senac PR; em 1954, criado o jornal mensal 16 de Julho (nome que homenageia o Dia do Comerciante); em 1958, circulou o primeiro número do Jornal Mural Tribuna do Senac, feito por alunos orientados por instrutores; em 1959, foi instalada a empresa pedagógica Loja-escola).
A 2 de setembro de 1960, ano da
instalação da Federação do Comércio Varejista do Estado do Paraná, foi criado o Clube da Leitura, no auditório do Senac/Sesc.
Em 1962, a recém-criada Federação demonstrava sua preocupação não só com o comércio, mas igualmente com os produtores rurais e, sobretudo, com a economia estadual. Dirigentes dessa entidade e da Associação Comercial do Paraná reuniram-se com o então secretário da Agricultura, Paulo Pimentel, para solicitar preço mínimo para o feijão. O apelo, publicado pelo Diário da Tarde, solicitava ao secretário e trazia também seus porquês: “a não ocorrência de especulação, a exemplos de ocasiões anteriores, no comércio do referido produto”.
No ano seguinte, contudo, ao mesmo tempo a economia e a população paranaense, e o setor terciário –o comércio – sofreram um choque tão grave quanto o que viria nos anos 1970.
Logo depois de uma seca histórica, foi registrado o maior incêndio em território estadual, de julho de 1963 a janeiro de 1964. A longa estiagem e incêndios que irromperam em 42 dos 295 municípios então existentes chegaram ao clímax em setembro de 1963, com a destruição de 200 mil hectares de florestas e campos, além de danos ao solo, fauna e recursos hídricos, que queimaram expectativas mais otimistas.
O Coral do Senac era formado por alunos e alunas da entidade
O Senac no Paraná, administrado pela Fevarejista, contudo, prosseguia seu objetivo de formar cidadãos. No biênio 1967/68, promoveu concursos literários entre os comerciários paranaenses e entre os alunos da Escola Senac, além de as atividades de cinema, teatro e música. Foi criado o Coral dos Alunos do Senac.
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Mas, sem se descuidar do ensino profissionalizante, abrindo novas frentes diversificadas de cursos, afora as atividades culturais. Em 24 de abril de 1968, Júlio Maito Sobrinho, que fora antecessor de Kracik Neto, inaugurou o Restaurante-escola do Senac PR, na Rua André de Barros, em Curitiba, com a presença de Jessé Pinto Freire, então presidente da Confederação Nacional do Comércio.
Naquele mesmo ano, substituindo Júlio Maito Sobrinho, o empresário João Kracik Neto, que desde os anos 1940 dava fundamentação jurídica ao movimento sindical paranaense, assumiu a presidência da Federação do Comércio Varejista do Estado do Paraná.
Kracik Neto respondeu durante 12 anos pela presidência da Fevarejista (e do Senac PR) – de 1968 a 1980. Ao ser empossado, discursou: “Presidirei a Federação do Comércio Varejista do Estado do Paraná e, consequentemente, o Conselho do Senac, com o sentimento vivo e latente de que essa mesma apregoada união deve ser a baliza de nossas decisões no ambiente interno”.
O Diário da Tarde, de 15 de setembro de 1960, traz com destaque na capa do periódico a posse da primeira diretoria da Fevarejista
Em 1969, enquanto os Beatles chocavam o mundo com sua última aparição pública e gravavam seu penúltimo álbum coletivo, Abbey Road, depois de terem enlouquecido o planeta com suas canções e novos costumes assumidos
pelos jovens, o núcleo de Londrina do Senac inovava com o curso de Fotografia e Foz do Iguaçu lançava o curso de Aperfeiçoamento para Barman.
No Paraná, naquele ano, o Coritiba sagrou-se pela 19ª vez campeão do Campeonato Estadual de Futebol e o Ferroviário foi o vice. Também em 1969, o jornal O Estado do Paraná informava que os artistas Poty Lazzaroto, Arcângelo Ianelli e Fernando Veloso “que fazem parte da comissão julgadora do Salão, reuniram-se na Biblioteca Pública do Paraná para anunciar os vencedores da 26ª edição do Salão Paranaense”.
Em junho do mesmo ano, começara a circular, sob responsabilidade da Fevarejista, O Mensário do Comércio, dirigido pelo Departamento Jurídico da entidade, que comunicava as decisões que afetavam o setor aos então 10 mil associados em todo o Paraná.
Um curso de Atualização em Legislação Trabalhista, muito solicitado, foi implantado em Londrina, Palotina, Apucarana, Cornélio Procópio, Paranaguá, Prudentópolis, Toledo e Umuarama. Ao mesmo tempo, Irati, Nova Esperança, Siqueira Campos e Pato Branco receberam o curso de Correspondência Comercial. Londrina, assim como Maringá, Campo Mourão e Palmas abriram vagas para um curso de Comunicação (A Expressão do Pensamento).
As implantações de cursos não paravam: em Cambé, Cascavel, Jacarezinho, Paranavaí, Rio Negro, Santo Antônio da Platina e União da Vitória as vagas estavam disponíveis para “Introdução à Administração de Empresas”. E em Paranaguá, “Curso de Classificador de Cereais”.
Atento às demandas do mercado, e no auge da produção cafeeira no Paraná, o Senac PR ofertava em suas unidades o Curso de Classificador de Café
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A cada ano, os cursos se diversificavam e se multiplicavam. Inclusive, em contato com a 5ª Região Militar, foi providenciado um curso de Relações Humanas, ministrado para 16 militares. Assim como para atender necessidades empresariais e capacidades distintas, houve a estruturação de cursos em diferentes áreas.
Paralelamente, a Federação do Comércio Varejista do Paraná engrandecia a sua participação comunitária. No fim dos anos 1960, Kracik Neto solicitou ao então prefeito de Curitiba, Omar Sabbag, uma representação junto ao Conselho Rodoviário Municipal, e ao mesmo tempo defendeu, com outras autoridades, que as cinco federações de classe da cidade, que somavam 126 sindicatos e considerável parcela dos 640 mil habitantes de Curitiba, deveriam ter participação no mesmo Conselho. F
Anos 1970: novo perfil socioeconômico
Em 1970, a Federação Varejista colaborou para o aumento do eleitorado paranaense, em campanha desencadeada pela Secretaria do Interior e Justiça do Estado, então sob a responsabilidade de Fabrício de Melo.
A proposta da instalação de um posto eleitoral no prédio do Senac PR fora apresentada pelo então presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos, George Christofis.
O Paraná tinha sete milhões de habitantes e cerca de três milhões de eleitores. “Quanto maior o número de eleitores, maior o prestígio de nosso estado no cenário nacional”, entendia Kracik Neto, mesmo em época de eleições indiretas para governadores e para cidades mais populosas.
Em 23 de abril de 1971, houve a inauguração oficial da Empresa Comercial de Treinamento Senac, em Curitiba, na Rua André de Barros. A ideia da ECTS era ser um sistema de ensino totalmente prático e dinâmico em que os alunos aprendiam praticando. “O trabalho ali é tudo real, com exceção da compra e do dinheiro, cunhado especialmente para uso interno”, trazia matéria do jornal Diário do Paraná: Órgão dos Diários Associados
Não foi só o eleitorado que cresceu no estado; Curitiba, em 1970, transformou-se na nona capital mais populosa do país, com pouco mais de 640 mil habitantes. A cidade parecia se preparar para o salto de transformações econômicas, sociais e urbanísticas que impressionou o mundo a partir de então.
FEVAREJISTA PARANÁ: QUATRO DÉCADAS DE HISTÓRIA
Herdeira de uma massa humana formada em sua maioria por imigrantes de inúmeros países, a capital paranaense, apesar de ares ainda provincianos, começava a ter sotaques variados, em formato mais metropolitano, com pessoas de origens diversificadas, inclusive de vários estados do país, o que se consolidou a partir daquele ano e dos seguintes, com a implantação de sua Cidade Industrial e o fortalecimento do seu parque fabril.
A mudança da economia em Curitiba fez com que o Paraná também mudasse: o parque industrial, instalado nas bordas da cidade, provocou uma nova era, com menor dependência da produção rural e transferência dos recursos fabris para as áreas urbanas. Em síntese, mudou também o perfil socioeconômico paranaense.
Os anos 1970, de intensas transformações tanto em Curitiba quanto no estado, assim como no país, foram também de realizações significativas no Senac do Paraná.
Em março de 1972, diretores da Fevarejista participaram da III
Conferência Nacional das Classes
Produtoras, no Museu de Arte Moderna, no Rio de Janeiro. Na oportunidade, representantes de entidades empresariais analisaram assuntos ligados à economia nacional e buscaram a integração do empresariado brasileiro na busca por soluções para os problemas sociais e econômicos do Brasil
O perfil econômico e social paranaense mudaria definitivamente em meados daquela década. O dia 17 de julho de 1975 não foi especial só para o calendário dos curitibanos, que puderam “desfrutar” do clima europeu, quando a neve caiu sobre a cidade, com o registro de seis graus negativos nos termômetros, mas, na madrugada seguinte, tornou-se dramático quando as geadas “queimaram” a principal fonte de economia do estado, dizimando a cafeicultura, com graves problemas no mercado internacional. As geadas junto à industrialização crescente nos centros mais
evoluídos do estado provocaram a mudança, de vez, do perfil da economia, da urbanização das cidades paranaenses e das pessoas, com grande êxodo do campo para o meio urbano.
Na época, o estado tinha um parque cafeeiro de cerca de 1,8 milhão de pés de café, espalhados por 1,05 milhão de hectares e em torno de 900 mil trabalhadores rurais que dependiam diretamente da cafeicultura. O fenômeno climático decretou o fim da monocultura do café em terras paranaenses. O Paraná, que era o maior produtor do país, não colheu um só grão de café em 1976.
O momento, senão crítico, era de cautela. Isso foi ressaltado por João Kracik Neto, em reunião promovida em Maringá pela Associação Profissional dos Lojistas do Comércio, em junho de 1976, “...quando a inflação leva os organismos oficiais a restringirem o crédito, atingindo com isso, de maneira mais intensa, as pequenas e médias empresas comerciais”.
O jornal Diário da Tarde trouxe, na edição de 16 de junho de 1970, nota sobre o aniversário de 10 anos da Fevarejista e destacou algumas de suas conquistas, como a fixação dos salários de inscrição dos empregados e a desvinculação com a legislação do Imposto de Renda, a possibilidade das empresas poderem creditar junto ao Imposto de Circulação de Mercadorias e a modificação da lei que obrigava o pagamento do ICM referente à mão de obra
No mesmo encontro, o presidente da Fevarejista lembrou que as entidades de classe de todo o país estavam preocupadas com o crescente índice de estatização. “Recentemente, o presidente da Confederação Nacional do Comércio, Jessé Pinto Freire, discursando para o Senado Federal, manifestou a preocupação de todo o comércio nacional com a estatização e salientou que aquela entidade contratou trabalho sobre a economia brasileira, junto
O Paraná foi representado por diretores da Fevarejista no I Encontro Nacional das Classes Empresariais para Estudos sobre o Problema do Menor (Enceprom), em outubro de 1972. Confederações patronais e Federações de todo o Brasil estiveram reunidas com autoridades brasileiras, representantes de entidades privadas e governamentais, sociólogos, assistentes sociais, educadores, que estudaram e debateram sobre o número crescente de menores abandonados no Brasil. Como resultado do encontro, produziram um documento que foi encaminhado ao governo federal, contendo um anteprojeto de um instrumento legal, que acreditavam ser capaz de solucionar o problema
à Fundação Getúlio Vargas, que deverá fornecer subsídios mais concretos em torno da questão”.
Em outubro daquele ano, o presidente da República, Ernesto Geisel, por meio da Confederação Nacional do Comércio, comentara aos empresários de todo o país, que “a atual crise brasileira é transitória e será superada”. No dia 9 de fevereiro do ano seguinte, a Fevarejista realizou uma conferência, coordenada pelo empresário Aldo Lúcio Bertoldi, presidente da Abrave-PR, com Orestes Gonçalves, delegado regional da Secretaria de Planejamento da Presidência da República em São Paulo. Ele abordou aspectos das perspectivas para 1977.
Em 24 de novembro de 1977, empresários paranaenses, em reunião presidida pelo empresário Pedro Stier, vice-presidente da Fevarejista, solicitaram ao ministro Corregedor do Tribunal Superior do Trabalho, Thélio da Costa Monteiro, a criação de novas turmas ao TRT da 9ª Região, “para que cumpra a sua nobre missão social, acelerando os processos, dando curso rápido ao seu andamento e a suas conclusões”.
Enquanto isso, no mesmo dia, Tarley Rosi Vilela, presidente da Associação dos Criadores de Gir do Brasil, divulgava uma notícia não muito saborosa aos consumidores do país. “Não existe mais carne na América do Sul para o abastecimento de seus países. Cada um precisa de sua carne para seu próprio consumo. Será muito difícil o Brasil conseguir pelo menos 10 mil toneladas de carnes uruguaia que pretende adquirir. ...Na verdade, o governo brasileiro está batido hoje no assunto carne. Não tem condições para solucionar o problema de abastecimento do país”.
Naquela década, a população urbana cresceu em todo o Paraná e em sua capital, muito mais. Os reflexos se deram também no setor terciário da economia.
Em meio a essas transformações, cujo primeiro ano da década é marcado pela conquista do tricampeonato mundial de futebol pela seleção brasileira, no México, o Senac PR, sob a presidência de João Kracik Neto, teve significativa presença na elevação do nível profissional das pessoas e, inclusive, de participação política.
Em 1972, o Senac inaugurou minicentros pelo interior do estado (Londrina, Maringá, Ponta Grossa, Guarapua-
De 19 a 26 de maio de 1973, no antigo estado da Guanabara, foi realizado o XXIV Congresso da Câmara de Comércio Internacional, que contou com representantes do Paraná, da Fevarejista e da Fecomércio. Aproximadamente
2.500 executivos das maiores empresas do mundo participaram do encontro. O evento foi um verdadeiro teste turístico para o Brasil. O jornal Correio da Manhã, de 1973, trouxe a seguinte observação:
“Tudo está sendo feito para que estes homens de negócios voltem para seus países com a melhor das impressões do Brasil. Para que isso aconteça, é indispensável a colaboração ativa dos hotéis onde eles ficarão hospedados. O Brasil está ingressando na era do turismo organizado e a vinda de tão expressivo grupo de líderes empresariais ao Rio, de uma só vez, é um ótimo teste para os serviços de hotelaria em nosso estado”
FEVAREJISTA PARANÁ: QUATRO DÉCADAS DE HISTÓRIA
va, Apucarana, Pato Branco, Irati, Umuarama e Cascavel). A determinação continuaria cumprindo objetivo ao longo da década e em 1978 foi implantada uma dessas unidades em Campo Mourão.
Ainda em 1972, o Restaurante-escola da entidade foi redecorado e seu bar, reequipado. A empresa pedagógica Lanchonete-escola foi inaugurada em fevereiro de 1975.
Em 1976, o Senac PR, além de elaborar o módulo “Objetivos Educacionais para o Manual de Ensino Senac”, adotado em todas suas Regionais, implantou o Ensino por Correspondência, acompanhando o pioneirismo no país da Educação a Distância.
Dois anos depois, a Região Sul, abrangendo do Paraná ao Rio Grande do Sul, inaugurou em Curitiba o Centro de Teleducação, chamado de Centel4. Naquele ano, 4.382 alunos matricularam-se nos sete cursos oferecidos. Em 1984, só no Paraná o Centro registrou 37.159 alunos.
As metas continuaram a ser batidas ao longo da história do Senac PR. Em 2017, o portfolio da entidade oferecia 50 cursos técnicos, com opções presenciais e a distância. Também a partir de 2017, 30 cidades paranaenses desfrutavam de um calendário único, com 116 turmas, das quais 45 a distância e 71 presenciais.
Desde 2014, anualmente o Senac PR promove a Feira de Profissões e abre as unidades para as comunidades locais. Na programação do evento, palestras, oficinas e demonstrações profissionais
A primeira Feira de Informação Profissional foi realizada em Curitiba, em 1979, com a visita de 61 mil pessoas. Além disso, foram iniciados em 1979 cursos radiofônicos de Informações Turísticas, em Londrina, Maringá e Curitiba. E im-
plantada uma unidade gráfica, no Portão, em Curitiba, com capacidade para atender à demanda do material impresso pelo Senac. A Feira de Informação Profissional seria retomada em 2014. A agora denominada Feira de Profissões teve 11 mil matrículas, já sob a marca da Fecomércio.
Em 1974, ainda sob o regime militar, um memorial foi assinado pelo então presidente em exercício da Federação do Comércio Varejista do Estado do Paraná, José Luiz Guerra Rego, e entregue pelo então governador do estado, Emílio Gomes, ao general Ernesto Geisel, recém-eleito presidente da República.
Reunião do Conselho Regional do Senac, realizada em maio de 1974, na Universidade Estadual de Ponta Grossa, com a presença de membros do Conselho de Representantes da Federação do Comércio Varejista do Estado do Paraná e do Conselho Regional do Sesc
O documento destacava que “o Paraná identifica-se, pelas suas autênticas forças do trabalho, com a esperança brasileira de que o Governo do presidente eleito, general Ernesto Geisel, tem a integralidade das condições necessárias para realizar com segurança o desenvolvimento em ritmo que todos desejamos”.
Nos anos 1970, tornou-se habitual o Senac promover cursos, seminários e palestras, concretizando um dos seus objetivos fundamentais de educar, atender necessidades empresariais e capacidades diversificadas.
De 18 a 20 de agosto de 1976, entre as dezenas de exemplos, o Senac PR (leia-se Federação do Comércio Varejista do Estado do Paraná) promoveu um seminário, com a participação inclusive de instrutores paulistas, sobre “Incentivos Fiscais para Formação Profissional nas Empresas”.
Nessa década, foram criados minicentros em Pato Branco, Irati e Umuarama (1974), além de Cascavel (1976).
Em 1978, a Federação Varejista, somada ao Centro de Comércio Varejista do Paraná, encaminhou à CNC, como subsídio ao estudo que essa confederação fazia e seria encaminhada ao então ministro Mário Henrique Simonsen, recomendações para a regulamentação da Lei nº 6.643/77, em seu artigo 1, para que fosse deixado claro “que suas exigências abrangem tão somente as vendas a prestação realizadas a consumidores finais... definindo as vendas a prestação, para efeitos da lei, como sendo aquelas unicamente realizadas para pagamento em prazo superior a 180 dias”.
O Diário da Tarde, de 6 de maio de 1971, trouxe relato do processo eleitoral que reconduziu João Kracik Neto à presidência da Fevarejista
Não se tem registro de que o ministro Simonsen e/ou os legisladores tenham aproveitado esses subsídios. Mas, não foi a primeira e nem única tentativa da entidade em subsidiar autoridades ao representar anseios de comerciantes e de outros setores empresariais. O próprio Simonsen, segundo registros da época, assumira com a Federação Varejista o compromisso de “retirar a incidência do ICM nas compras a prazo, cujo financiamento seja feito com capital próprio das empresas”.
Ao finalizar uma década de João Kracik Neto à frente da Fevarejista, Guerra Rego, um dos diretores naquela gestão, mostrou alguns porquês da necessidade de continuidade daquela diretoria: estavam filiadas mais de 10 mil empresas, com 16 sindicatos em várias cidades em todo o estado.
Ainda computava como avanço na gestão a fixação dos salários de inscrição dos empregadores na entidade e sua desvinculação com a legislação do Imposto de Renda, além das empresas poderem creditar junto ao ICM as
mercadorias devolvidas pelo particular. E, sobretudo, a modificação da lei que obrigava o pagamento do ICM no que tange à mão de obra.
Kracik Neto foi reeleito, em pleito com a presença de 19 sindicatos filiados, 14 deles de cidades do interior do estado. Ele só deixou a presidência em 1980, sendo sucedido por George Christofis.
Christofis havia sido, de 1968 a 1989, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos do Estado do Paraná, além de vice-presidente da Associação Brasileira do Comércio Farmacêutico, de 1968 a 1974. Em 1969, participou do 9º Congresso Nacional de Farmácia e Bioquímica, no qual presidiu o Simpósio Comercial. Sucessivamente, nos anos seguintes, participou do mesmo congresso em Belém e em Brasília. Ele presidiu em 1971 a Comissão de Construção do prédio do Senac em Londrina.
Foi membro do Conselho Nacional do Senac de 1980 a 1989. Junto com sua escolha para presidir a Fevarejista, foi eleito automaticamente presidente do Conselho Regional do Senac, cargo que ocupou durante nove anos.
O artista plástico Poty Lazarotto foi contratado, em 1977, para criar o painel que ornamenta o hall de entrada do edifício da Administração Regional do Senac PR. A obra revela, em madeira de Cedro do Amazonas, diferentes flagrantes da formação profissional – síntese da finalidade maior da existência do Senac. Além do painel, Poty elaborou a ilustração do cardápio e da carta de vinhos do Restaurante-escola do Senac e ilustrou, ainda, o convite para a inauguração do prédio
Ares civis em figurino político
No início dos anos 1980, o país começa a respirar ares civis, depois de ficar desde 1964 sob tutela das forças militares. No primeiro ano da década, o Congresso Nacional aprovou por unanimidade a emenda constitucional que reestabeleceu eleições diretas pra governadores dos estados e do Distrito Federal. Dois anos depois, ampliando o leque partidário, o Tribunal Superior Eleitoral concedeu o registro do Partido dos Trabalhadores, fermentado entre três núcleos principais: sindicatos, grupos da Igreja Católica e universidades.
Assim, em 1982, foram eleitos governadores em eleições diretas. No Paraná, foi eleito, pelo PMDB, José Richa, ex-prefeito de Londrina. No ano seguinte, a 15 de março, todos os governadores eleitos nas urnas pela primeira vez depois da intervenção militar em 1964 tomaram posse. O país político mudou seu modelo. Quatro anos depois, o senador Alvaro Dias, outro peemedebista, foi eleito governador do Paraná.
A economia brasileira sofreu solavancos nos anos 1980, especialmente em seus meados. Em 1986, foi lançado
Entrega de certificados do Curso de Legislação e FGTS, ministrado no Sindicato dos Lojistas, em Curitiba, em outubro de 1980
Na década de 1980, a Fevarejista promoveu, com apoio dos sindicatos da base, encontros varejistas em diversas cidades paranaenses.
Na foto, o registro do encontro realizado em Pato Branco. Os empresários pediam por menor carga tributária ao pequeno comerciante, tratamento fiscal diferenciado e acesso ao crédito (Crédito Imagem: Rudi Bodanese)
FEVAREJISTA PARANÁ: QUATRO DÉCADAS DE HISTÓRIA
o Plano Cruzado, durante o governo José Sarney, com Dilson Funaro responsável pelo Ministério da Fazenda.
O governador do Paraná, José Hosken de Novaes (ao centro), ladeado pelo presidente da Federação do Comércio Varejista do Estado do Paraná, George Christofis, e pelo diretor regional do Senac PR, Luiz Fernando M. Gonçalves. Novaes eleito vice-governador na gestão Ney Braga, governou o Paraná no período de 14 de maio de 1982 a 15 de março de 1983
O plano deixou o comércio de cabelos eriçados e bolsos vazios. Sua principal marca foi o congelamento de preços. Além do dólar, que também foi congelado, combustíveis, produtos de limpeza, serviços e alimentos tinham preços tabelados pelo governo.
Curitiba também mudou seu figurino. Houve uma multiplicação no número de habitantes, que chegou a 500 mil pessoas no início da década de 1970 e atingiu 843 mil pessoas na cidade e mais de um milhão, contando os municípios metropolitanos, nos anos 1980. A tendência se manteve e a taxa de crescimento, idem: 1,8 milhão de habitantes viviam em Curitiba em 2010, concorrendo com Brasília na taxa de crescimento nos anos 1990 (índice médio de 2,6% ao ano).
Registro do jantar oferecido pela Fevarejista ao Tribunal Regional do Trabalho, em 1983
Na religiosidade, as mudanças não foram ainda tão perceptíveis como as transformações posteriores, com a “invasão” de dezenas de cultos e práticas. Nos dias 6 e 7 de julho de 1980, a capital do Paraná tornou-se a sétima cidade a receber a visita da autoridade maior da Igreja Católica: uma multidão de um
milhão de pessoas recepcionou o Papa João II, especialmente em frente ao Palácio Iguaçu.
Mas, Curitiba destacava-se também, nesses tempos, no terreno político, sendo palco de momentos significativos da história paranaense e brasileira, como o lançamento, em 1984, da campanha pelas “Diretas Já”.
As demandas da cidade e do estado se diversificaram, espelhando-se inclusive nas atividades do comércio e sua entidade representativa. O Senac PR atendia às exigências desse perfil.
Integrar o indivíduo ao contexto socioeconômico e cultural foi um dos objetivos principais do Senac PR também nos anos 1980. Para isso, usou um diversificado conjunto de atividades para que houvesse a valorização profissional e da criatividade, além da consolidação de mecanismos de intercâmbio.
Uma das determinações foi capacitar e atualizar os instrutores de seus cursos. No primeiro ano da década, houve a formação de instrutores na área de saúde e, quatro anos mais tarde, os instrutores de datilografia participaram de cursos em máquina eletrônica.
Dessas pessoas exigia-se um padrão de qualidade Senac – baseado em qualificação e atualização. Nos anos 1980, para que as regras ficassem claras para todos, o Senac PR publicou o seu Manual do Instrutor.
Telex informando sobre a realização da cerimônia de encerramento do IX Projeto de Integração do Comerciário de Cascavel, realizado em 6 de novembro de 1987. Na oportunidade, o presidente da Fevarejista, George Christofis, acompanhado pelo diretor regional do Senac do Paraná, Luis Fernando M. Gonçalves, entregou certificados aos representantes de 133 turmas de 13 cursos
Também com esta orientação promoveu, além de cursos profissionais, o Salão de Exposições para Artes Plásticas, em 1980, com um portfolio não só de pinturas, mas igualmente de desenhos e artesanato, por exemplo. Foi realizado igualmente o “Salão Prata da Casa”, com espaço para funcionários do Senac PR e da Federação Varejista, com prêmios para os melhores trabalhos de pintura, desenho, gravura, escultura, colagem, fotografia, xilogravura e artesanato.
O calendário cultural da entidade apresentou ainda recitais de música e lançamentos de livros. O Senaclube apresentou filmes como O menino de Brodósqui, sobre a vida e obra de Cândido Portinari. A Semana Nacional do Livro foi comemorada pelo Senac PR em Londrina, em 1980, com doações de publicações, vitrines de obras raras, mural de poemas, sessões de declamação, palestra sobre literatura de cordel e apresentação musical.
A adição profissionalização e cultura intensificou-se. Em 1982, por exemplo, o professor Antonio Theolindo Trevizan, componente do Conselho Regional, lançou o livro A qualificação profissional dirigida a populações de baixa renda. Era, mais uma vez, a soma do aspecto profissional com o cultural.
O caráter reivindicatório em nome dos comerciantes e da classe empresarial compõe capítulos importantes da Federação do Comércio Varejista do Estado do Paraná.
Em 1981, a Fevarejista, em atitude que nos tempos atuais (de celulares, plataformas de internet e outras formas mais ágeis e democratizadas de comunicação) parece prosaica, manifestou-se contra a multimedição para aparelhos telefônicos. Por decisão unânime de sua diretoria, a entidade dirigiu-se ao então presidente da Empresa de Telecomunicações do Paraná (Telepar), Gilberto Geraldo Garbi, solicitando estudos para eliminar o sistema de cobrança que passaria a vigorar em julho daquele ano, por determinação do Ministério das Telecomunicações.
O presidente da Fevarejista, George Christofis, ao ministrar a palestra “Os problemas econômicos: as razões mediatas e imediatas de sua formação”, em outubro de 1988, em Curitiba
Até então, para os telefones de empresas comerciais, de serviços, das indústrias e de atividades agrícolas eram computadas apenas as ligações, independentemente do tempo do uso do aparelho, com uma franquia mínima de 90 minutos mensais. O sistema a ser instalado contaria um impulso a cada quatro minutos de ligação.
Além disso, o usuário que ultrapassasse este limite deveria pagar uma sobretaxa de 30%, inclusive para qualquer tipo de ligação interurbana, em recurso a ser destinado ao Fundo Nacional de Telecomunicações. “A decisão significará um profundo gravame nos custos operacionais das empresas comerciais, de serviços, industriais e agrícolas, que são, afinal, as grandes responsáveis pelo desenvolvimento da economia do Paraná”, argumentava o ofício assinado pelo presidente da Fevarejista, George Christofis.
Em maio de 1988, Curitiba recebeu o VII Seminário Nacional Sobre Normas Internacionais de Trabalho, evento que reuniu professores e juízes do Brasil, Uruguai, Espanha e de outros países. O seminário teve como um dos organizadores o professor de Direito Privado da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Júlio Assumpção Malhadas, que promoveu debates e análises sobre os direitos sociais aprovados pela nova Constituinte
No mesmo ofício, a entidade reivindicava que se o sistema de multimedição não pudesse ser eliminado, a Telepar pelo menos estendesse o tempo de impulso (de 4 para 15 minutos) e que, além disso, fosse aumentado o limite de franquia (de 90 para 300 mensais) para as empresas comerciais, industriais, agrícolas e de serviços.
Em 1981, o Senac PR realizou em Pato Branco o Encontro de Secretárias e, em Guarapuava, o Encontro de Profissionais da Área de Escritório. Em 1983, Cascavel promoveu o Encontro de Vendedores Viajantes; Apucarana sediou palestras sobre Informação Profissional para estudantes de segundo grau e Foz do Iguaçu, o Festival Artístico Cultural. E assim as múltiplas atividades proliferaram em todas as regionais do Senac PR.
Paralelamente, o aspecto institucional da Federação do Comércio Varejista do Estado do Paraná/Senac foi constantemente ampliado.
Em uma das reivindicações significativas durante o período em que Ernane Galvêas esteve à frente do Ministério da Fazenda, a entidade paranaense encaminhou ofício à Confederação Nacional do Comércio, manifestando-se contra a cobrança do PIS sobre receita bruta. “Não leva em consideração as vendas canceladas, os descontos e outros elementos na base de cálculo do PIS”, clamava o texto.
O mesmo documento pedia que se reconsiderasse “o reestabelecimen-
to da base do cálculo do PIS, segundo o fixado pela Lei Complementar nº 7, do Conselho Monetário Nacional”.
A Assessoria Fiscal da CNC deu um parecer, segundo o qual “a alteração da base de cálculo do PIS, determinado pela Resolução nº 482, do Conselho Monetário Nacional, datada de 26.06.78, não tem amparo legal”. Em longo ofício enviado ao ministro da Fazenda, a CNC ressalta, entre outros pontos, que “as empresas sentem-se lesadas em sua economia, cada vez mais visadas e sacrificadas pelas variadas imposições fiscais. Ocorre ainda que, a alteração na base de cálculo do imposto, tornando a contribuição mais onerosa, equivale à majoração da imposição, o que só poderá ser efetuado por lei, como determina o artigo 97 do Código Tributário Nacional”.
Em fevereiro de 1989, o gerente de Aplicação da Caixa Econômica Federal, Celso Hanke Camargo, e o presidente da Federação do Comércio Varejista do Estado do Paraná, George Christofis, assinaram convênio entre as duas instituições com o intuito de ampliar os benefícios a empresas e usuários do Cheque Azul. A parceria também dava garantia de pagamento, sem ônus às empresas, de cheques emitidos no valor de até Ncz$100
Em 1982, Christofis reuniu comerciantes em várias cidades do estado, alertando-os para a necessidade de defender três pontos básicos: menor carga tributária para o pequeno comércio, menos peso burocrático e maiores facilidades para sobrevivência e crescimento deste segmento empresarial. Na mesma programação, foi incluída uma palestra de Edson Neves Guimarães, secretário de finanças do estado durante o governo Ney Braga, sobre linhas de crédito e financiamento que as instituições bancárias paranaenses dispunham para oferecer aos empresários.
No primeiro Encontro Varejista, em Ponta Grossa, em 27 de março de 1982, o presidente da Fevarejista e do Conselho do Senac, George Christofis, lembrou o peso das pequenas empresas no estado (de 72,3 mil empresas,
Em reconhecimento ao empresário fundador do Grupo HM, a Fevarejista outorgou, em outubro de 1984, o título de Empresário Emérito, a Hermes Macedo. O grupo, que nasceu em Curitiba, em 1932, chegou a ter 263 lojas em seis estados brasileiros, 15 mil colaboradores, patrimônio avaliado em US$ 500 milhões e uma cartela de dois milhões de clientes. Em 1981, a empresa era a 107ª maior do Brasil, a 59ª em faturamento e a 41ª em lucratividade. Obteve por duas vezes consecutivas o título de empresa de melhor desempenho no setor do comércio varejista concedido pela Revista Exame
69,6 mil eram de pequeno porte) e a necessidade de especial atenção para esse segmento da economia paranaense. Segundo ele, havia três pontos básicos de reivindicações: 1) menor carga tributária para os pequenos comerciantes; 2) alívio de peso burocrático nas relações com os poderes públicos e 3) maior amplitude de recursos financeiros. “Sem os pequenos, não seremos uma nação grande”, resumiu.
Em meados dos anos 1980, na seara política e democrática do país, uma novidade – em 1987, o metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva foi lançado como candidato à Presidência da República pelo PT.
Aliás, a década teria vários capítulos políticos na agenda do país: em 1987, foi instalada a Assembleia Nacional Constituinte; no ano seguinte, promulgada a nova Constituição do Brasil e, em 1989, eleição de Fernando Collor de Mello para a Presidência da República. F
O tsunami do mundo globalizado
Os anos 1990 mostravam mudanças em toda a América do Sul, com a criação, em 26 de março de 1991, com o Tratado de Assunção, do Mercado Comum do Sul (Mercosul), para o qual o Paraná contava, entre outros benefícios, com sua localização estratégica. A criação deste organismo internacional descortinava um novo panorama econômico para os países que dele participaram.
O Senac não ficou alheio à esta nova realidade: em 1992, Cascavel participou, com sua Unidade Cascavel, da organização do VI Seminário do Mercosul, que visava sobretudo sensibilizar empresários e autoridades do Oeste do estado para um outro perfil econômico e cultural a partir do organismo internacional; em 1994, foi implantado em Curitiba o Centro de Idiomas do Senac, com turmas de Inglês e Espanhol.
Nos anos 1990, a marca Mercadorama, de Curitiba, foi considerada a maior rede supermercadista do estado
Representantes de 42 federações e de 700 sindicatos dos setores de comércio e de serviços de todo o Brasil reuniram-se no Rio de Janeiro, em setembro de 1993, durante a II Convenção Nacional do Sistema Confederativo da Representação Sindical do Comércio, promovida pela Confederação Nacional do Comércio. O objetivo do encontro – que reuniu representantes de 1,4 milhão de empresas comerciais e de serviço, que juntos empregavam 10 milhões de trabalhadores e que participavam com 25% do Produto Interno Bruto do país – , foi definir a nova organização sindical após a promulgação da Constituição de 1988.
Na foto: Diógenes Spack, Antonio Oliveira Santos e Abrão José Melhem
FEVAREJISTA PARANÁ: QUATRO DÉCADAS DE HISTÓRIA
pela Associação Paranaense de Supermercados, o que indicava a pujança da economia na região da capital.
No início daquela década, o Paraná tinha 8,4 milhões de habitantes, com 1,3 milhão deles em Curitiba. Na economia, desde então houve uma evolução progressiva de seu setor terciário, que se destacou como a maior fonte geradora do produto interno bruto da cidade.
Houve, contudo, fatores econômicos e políticos a serem observados durante essa década que também evidenciaram mudanças no Senac PR.
Os anos 1990 chegaram a Curitiba e ao Paraná com fatos marcantes e exigências novas. E vieram de um mundo com características cada vez mais globalizantes, que priorizava em escala ascendente a tecnologia em todos os setores, sobretudo nos meios de comunicação, exigindo um ritmo constante de atualização e aperfeiçoamento.
Não havia como ficar de fora dessa “revolução”, com tudo o que trouxe na economia, na política e na cultura, com exigências inéditas na educação, no profissionalismo, no comércio, na indústria, no campo, na administração de empresas, na incorporação de novas tecnologias ao processo produtivo e aos modelos de gestão.
Escrutínio de votos da eleição da diretoria da Fevarejista, em 1995. Na foto, Biratan Giacomini, Secretário Executivo da Federação do Comércio Varejista do Estado do Paraná, e o chefe da Assessoria Parlamentar junto ao Poder Legislativo (Apel-CNC), Roberto Velloso
No começo dos anos 1990, o Senac PR iniciou seus primeiros laboratórios de informática e, em 1994, foi desenvolvido o primeiro sistema para gestão escolar, com o papel de inserir a novidade de uma cultura administrativa baseada em sistemas de informações.
Quatro anos depois, foi preciso criar um projeto para reequilibrar esse sistema de gestão acadêmica, aprimorando-o para uma plataforma mais segura e robusta de acordo com os avanços tecnológicos.
Paralelamente, foram iniciados estudos de iniciação de sistemas de gestão empresarial, conhecidos como Enterprise Resource Planning (ERP), para atender de forma mais efetiva o segmento administrativo. Esse projeto se tornou possível com a criação de um centro de processamento de dados e de rede de comunicações integrando todas as escolas.
Processo eleitoral para escolha da diretoria da Fevarejista para o triênio 1993-1996
Os objetivos do Senac continuaram diversificados em 1997 no Paraná: assim, em julho daquele ano, foi criado o Coral do Senac, com 23 integrantes, e lançado o jornal interno Ei, Senac.
No decorrer dos anos 1990, houve mudanças no perfil econômico paranaense, determinadas especialmente pela instalação da Cidade Industrial de Curitiba havia duas décadas. Ela possibilitou, por exemplo, o anúncio em 1996 de três das sete grandes montadoras multinacionais que pretendiam vir ao Brasil – Renault, Volkswagen/Audi e Chrysler – a se instalar no Paraná.
Apesar dessas mutações, no início dos anos 1990 o Brasil dava sinais claros de empobrecimento notadamente de sua classe média. O mesmo fenômeno se verificava no Paraná. Enquanto o segmento de calçados crescera
40,6% de janeiro a outubro de 1990 em relação a 1989, o segmento de móveis e decorações tivera o mesmo percentual em declínio, assim como materiais de construção e supermercados venderam 21% a menos que no mesmo
O cenário econômico e político brasileiro das décadas de 1980 e 1990, o Plano Bresser (1987) – que congelou preços, aluguéis e salários –, Plano Verão (1989) – que congelou preços e salários, alterou a moeda para Cruzado Novo, estabeleceu novas regras para correção da poupança –, Plano Collor I (1990) – que substituiu o Cruzado Novo pelo Cruzeiro, confiscou valores dos investimentos em poupança acima de 50 mil Cruzados Novos, por 18 meses –, e o Plano Collor II (1991) –responsável pelo congelamento de preços e salários, aumento de tarifas públicas e alteração na taxa de juros – foram decisivos para a falência de uma infinidade de empresas no Paraná e em todo o país
período do ano anterior, de acordo com pesquisas da Federação do Comércio Varejista do Estado do Paraná.
Dos 11,5 milhões de postos de trabalhos gerados no país entre 1992 e 2001, 66% eram de trabalhadores domésticos ou sem carteira assinada ou que desenvolviam suas atividades como autônomos. Os demais, 34%, se distribuíam entre assalariados com carteira, funcionários públicos e empregadores.
De 1992 a 2001, o maior crescimento acumulado da população, por classificação de renda familiar, foi verificado entre a classe baixa (18,85%) e o menor, entre a média (12,6%). A população de classe alta cresceu 18,3% no período. Ou seja, a classe média encolheu, segundo pesquisas realizadas em todo o país pela Prefeitura de São Paulo.
Esta pesquisa mostrou também que houve expansão de trabalhadores que recebiam até dois salários mínimos e retração daqueles com rendimento superior a dois salários. A participação no mercado dos trabalhadores com carteira que recebiam até dois salários, por exemplo, aumentou de 27,5% para 46,6% no período, enquanto que, entre aqueles que recebiam mais de dois salários, a participação caiu de 72,5% para 53,4%.
Em síntese, houve uma significativa mudança econômica e social no país, em prejuízo dos cidadãos com poder de consumo um pouco maior.
Outro fator a ser mensurado como fundamental na economia do país foi que o Plano Econômico Collor I, de 16 de março de 1990, bloqueou saldos bancários de pessoas físicas e jurídicas, além de haver mudado a moeda brasileira: no lugar do cruzado novo, passou a valer o cruzeiro. Rubens Brustolin, à época presidente da Federação do Comércio do Estado do Paraná e, posteriormente, presidente da Fecomércio, registrou que o Plano Collor começou com um confisco e que toda empresa, grande ou pequena, ficou com apenas 50 mil cruzados em caixa. Em seu livro A dimensão de um trabalho, Brustolin argumenta que “naquela época, em termos de empresa, 50 mil e nada era a mesma coisa”.
Os fatos não passaram desapercebidos pela Fevarejista. Em 15 de novembro de 1992, Abrão José Melhem, então à frente da entidade, lançou uma campanha para pressionar a área econômica do governo federal para baixar as taxas de juros. “Não é mais possível conviver com a redução do consumo, da produção e do emprego”, justificava.
Em 24 de agosto de 1995, eram inaugurados no Senac Centro, em Curitiba, dormitório e hospedaria. Os espaços serviam de ambiente pedagógico. Nessa mesma oportunidade, o almoxarifado da instituição também foi inaugurado
O movimento no comércio varejista em Curitiba, de janeiro a setembro de 1992, experimentou uma queda de 0,65%. Melhem assinalava que em todo o país “são despejados anualmente 3 milhões e 500 mil novos trabalhadores no mercado de trabalho e não há absorção dessa mão de obra”. Segundo ele, se houvesse redução na taxa de juros, “o comércio aumentaria suas vendas e a indústria começaria a investir, o que significaria mais ofertas de empregos”.
Em 1992, os jornais noticiaram a crise econômica que o comércio varejista enfrentava, confirmada em pesquisa pela Fevarejista. A expectativa dos empresários era de retomada das vendas com a chegada do Natal
Os fatos, claro, mexeram profundamente no perfil econômico paranaense e refletiu-se no comércio e em suas entidades, com a necessidade de atender a esses tempos de desafios.
As linhas mestras do Senac PR vislumbravam, de forma prática, parte desse imperativo no mercado: “O Departamento Regional do Senac no Estado do Paraná, seguindo os ideais democráticos da liberdade e igualdade, elegeu linhas de ação de cunho social, além de profissional”.
E sua razão de existência, igual: “A função do Senac PR é de elo entre os empresários e os futuros funcionários que chegam em busca de formação profissional ou funcionários que precisam de aprimoramento para desempenhar suas tarefas de forma eficiente. O Senac forma profissionais competentes e, dessa maneira, contribui para diminuir o problema socioeconômico”.
Já no Relatório em 1987 da entidade, estava evidente seu comprometimento: “com o homem, jovem ou adulto, desempregado, empregado ou empregador (...) elemento que constitui a razão de ser desta entidade e que compõe a sociedade que se pretende mais justa, mais humana e mais feliz.”
Por sua vez, a política paranaense teve turbulências importantes nas eleições para governador em 1990. Seu episódio mais crítico se deu no segundo turno do pleito, quando disputavam o Palácio Iguaçu José Carlos Martinez, tido como favorito para ser eleito, e Roberto Requião.
O sociólogo Fernando Henrique Cardoso também foi componente das transformações pelas quais passou o país nesses anos. Em 1994, foi eleito, depois de haver implantado o Plano Real (com a estabilização da moeda) como ministro da Fazenda do governo Itamar Franco, o 34º presidente do Brasil. Cinco anos depois, reeleito, Fernando Henrique iniciou seu segundo mandato à frente da Nação.
Em termos políticos paranaenses, se deu o mesmo: o arquiteto Jaime Lerner foi eleito em 1994 e reeleito governador do Paraná quatro anos depois.
Abrão José Melhem elegeu-se em 1992, presidente da Federação do Comércio Varejista do Estado do Paraná (Senac PR), derrotando George Christofis.
Na segunda metade da década de 1980, o Senac PR recebeu em sistema de comodato, as instalações do antigo Hotel Cassino Iguaçu. Por dez anos neste imóvel, o Senac foi responsável por promover atividades de educação profissional e foi responsável pela formação de milhares de trabalhadores de Foz do Iguaçu e da Região Oeste. Em 2009, a unidade do Senac Foz do Iguaçu voltou a funcionar no antigo hotel e mantém sua vocação de capacitar para o mercado de trabalho e de promover a transformação social por meio da educação
Hoje com 75 anos, advogado, formado pela Universidade Federal do Paraná em 1966, e empresário, que desde criança aprendeu os mistérios do comércio de lãs, linhas e aviamentos, em loja herdada de seus avós e que passara por seus pais, em Guarapuava, onde nasceu, Melhem é conselheiro atuante da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Paraná (Fecomércio PR). “O atendimento de nossa entidade atualmente, sob a presidência do Darci Piana, se dá em todo o estado”, diz.
Em 27 de fevereiro de 1994, foi promulgada a Medida Provisória nº 434, que instituía a Unidade Real de Valor (URV), utilizada exclusivamente para servir como padrão de valor monetário do Programa de Estabilização Econômica do Governo Federal. O programa, implantado no governo Itamar Franco, foi uma medida econômica visando ao controle da hiperinflação que assolava o Brasil. De acordo com a MP, toda a base monetária no Brasil foi trocada de acordo com a paridade de CR$2.750,00 para cada R$1,00. Desde a criação da Fevarejista foram realizadas diversas reformas econômicas: Cruzeiro Novo (1967), Cruzeiro (1970), Cruzado (1986), Cruzado Novo (1989), Cruzeiro (1990), Cruzeiro Real (1993) e Real (1994) que, desde então, tem influenciado a política econômica brasileira
O currículo diversificado de Melhem soma a presidência do Sindicato do Comércio Varejista de Guarapuava desde 1987, a vereança de sua cidade durante dez anos, como líder da bancada do PFL, a vice-prefeitura do município entre 1982 e 1986, assumindo a prefeitura interinamente durante a gestão de Nivaldo Krueger, a secretaria geral da Associação dos Vice-prefeitos do Paraná e a secretaria jurídica da prefeitura de Guarapuava. Mas, ele começou a conhecer melhor a estrutura do Sesc e Senac quando se empregou na entidade, em Curitiba, em 1962.
O ano seguinte teve um significado ímpar na história do Senac PR em busca de atingir seu objetivo de disseminar a formação profissional. Em 1963, a divulgação de cursos disponibilizados pela entidade ganhou grande espaço na mídia de então – TV, rádio e jornal. Três anos depois, em fevereiro de 1966, foi inaugurado o Centro de Formação Profissional João Daudt D’ Oliveira, em homenagem ao ex-presidente da Confederação Nacional do Comércio.
Candidato à presidência da Fevarejista e do Senac em 1992, foi eleito, com uma biografia que além da experiência empresarial somava o tino político. Ele lembra que 35 sindicatos votaram nesse pleito e “apenas quatro votaram na situação. Tivemos votos pelo Paraná inteiro. Em Lon-
drina, havia quatro sindicatos; todos votaram conosco. Nossa campanha foi muito forte no interior, mas tivemos três votos também em Curitiba”, rememora Melhem.
“O Senac, que anteriormente se restringia praticamente a Curitiba, passou a estar presente em todo o estado. Eu ficava em Curitiba de segunda a quinta-feira e, quando não podia estar presente, delegava poderes para presidentes de sindicatos para que acompanhassem o desenvolvimento dos cursos profissionalizantes que fomos espalhando pelo o Paraná. “Percorri o estado de automóvel quatro vezes”.
Em 1993, Curitiba comemorou três séculos de existência e não deixaria de ser a capital política e econômica do estado.
Em abril de 1990, o presidente da Fevarejista e do Senac PR, George Christofis, e o comandante da 5ª Região Militar/Divisão do Exército, Região Heróis da Lapa, general de divisão, Benedito Onofre Bezerra Leonel, assinaram convênio que objetivava a formação profissional de conscritos do serviço militar. Por meio do Projeto Caxias, o Senac capacitou profissionalmente cerca de 1.200 conscritos de diversos municípios do Paraná
Quando Melhem assumiu a Federação do Comércio Varejista do Estado do Paraná (Fevarejista), no fim de 1992, a entidade tinha 11 Núcleos de Formação Profissional.
Segundo ele, o objetivo do Senac, a partir de então era “estabelecer uma ação cooperativa nos municípios do interior do estado e nas periferias dos grandes centros.” Melhem optou por instalar núcleos em convênios com prefeituras, a partir de um modelo que, depois, deixou de ser adotado por exigências legais.
“Fazíamos reuniões nas microrregionais, mandando convites a todas
Para comemorar o aniversário de 300 anos de Curitiba, um dos grandes contistas do estado, Dalton Trevisan, lançou uma coletânea de contos “Em busca de Curitiba perdida
as autoridades e, explicitamente, para a prefeitura. Eles ficariam responsáveis pela infraestrutura e nós pelos cursos, de acordo com a demanda e a solicitação da comunidade, que incluía a economia local, as dificuldades e potencialidades de cada município”, conta.
Em janeiro de 1993, o então prefeito de Campo Mourão e hoje deputado federal Rubens Bueno “nos mostrou que cursos profissionalizantes funcionavam em duas garagens. Então, nos arrumou um prédio no centro da cidade só para a instalação dos cursos existentes, além de outros que poderiam ser instalados. Assim fizemos”, recorda Melhem.
Não foi só em cidades do interior que os cursos do Senac se alastraram. Na capital do estado, ocorreu o mesmo. “Em Curitiba, no Portão, montamos um grande parque gráfico e aproveitamos para, nos fundos do terreno, fazer uma área de lazer para os funcionários do Senac. No centro, na Rua André de Barros, havia uma área inutilizada junto ao prédio do Restaurante-escola. Os próprios donos de óticas nos solicitaram um curso especializado e instalamos o curso, com todos os equipamentos doados por eles. Na reforma, aproveitamos e fizemos um auditório para 200 pessoas. Implantamos cursos profissionalizantes também em toda a Região Metropolitana”, acentua Melhem.
Ele entende que “do ponto de vista de melhoria socioeconômica, os resultados foram indiscutíveis. Demos nossa contribuição para criar formas objetivas para que houvesse igualdade de oportunidades para a população e assim atingisse a profissionalização e tivesse maior acesso ao mercado de
trabalho. Tudo, claro, contribuiu para o desenvolvimento socioeconômico não só desses municípios, mas de todo o Paraná”.
Durante sua administração na Fevarejista, Abrão José Melhem presidiu também o Conselho Paranaense da Livre Iniciativa (Coparlivre), considerado a maior força representativa da classe empresarial, com atividades conhecidas e públicas que reunia várias entidades do Paraná.
O Coparlivre havia sido criado em 1988 e constituído por técnicos e administradores em várias áreas constitucionais – economia, tributos, direitos civis, saúde etc. –, para discutir e apresentar subsídios às duas Constituições: a Federal, de 1988, e a Estadual, de 1999.
Escritor, advogado, político e empresário brasileiro, João Daudt D´ Oliveira (ao centro) foi o primeiro presidente do Conselho Nacional do Senac e presidente da Confederação Nacional do Comércio, no período de 1946 a 1947. Coube a ele instalar, em 7 de julho de 1947, em Curitiba, a Delegacia Estadual do Senac. Em homenagem ao primeiro presidente, o prédio da Administração Regional e o auditório do Senac Curitiba Centro receberam o nome de João Daudt D´Oliveira. A unidade do Sesc Água Verde, em Curitiba, inaugurada em 1964, também recebeu o nome do ex-presidente
Durante a Constituinte de 1988, época em que a Fevarejista era presidida por George Christofis, a Federação Varejista foi a mais importante entidade na discussão e proposta de emendas, especialmente do projeto de constituição “B”, que foi votado em segundo turno, segundo empresários e advogados que dela participavam.
Em meados de 1995, ainda durante a gestão Melhem, mas por motivos externos, a Coparlivre começou a perder motivação. Seus participantes de então lembram que já tendo sido realizada a primeira revisão da Constituição e com o Plano Real em vigor, o que estabilizaria a economia, a Coparlivre extinguiu suas atividades.
O princípio do Senac PR, contudo, não sofreu oscilações. Seguindo à risca o seu comprometimento com o ser humano e de olho nas novas necessidades de mercado, o Senac PR instalara no início dos anos 1990 seus dois primeiros laboratórios de informática, com 16 microcomputadores. Na década seguinte, houve um salto e, na posterior, outra evolução: em 2017, somavam 60 laboratórios, com 1.326 máquinas, entre microcomputadores, notebooks e ultrabooks
Quase ao fim da gestão George Christofis, em 1991, foi criado o Programa de Desenvolvimento Empresarial, para atender às necessidades específicas de empresas e contribuir para um desempenho melhor. Esse programa beneficiou 1.685 empresas em 93 municípios do estado.
Sempre no mesmo tom, a participação e a organização de concursos visando à evolução técnica e profissional aconteceram em todas as gestões do Senac PR. Em 1985, Curitiba sediou o XIV Concurso Nacional de Alunos Cozinheiros, Garçons e Barman. No período em que o Senac PR ficou vinculado ao Sistema Estadual de Ensino (1987 a 2011), foram aprovados 26 títulos de cursos técnicos e dois títulos de especializações técnicas, esses ofertados em Unidades de Educação Profissional e Tecnológica da entidade.
Palestras, seminários e congressos, além de cursos, constituíram o cardápio do Senac, quer sob a responsabilidade da Federação do Comércio Varejista do Estado do Paraná ou da Fecomércio, sempre ressaltando o comprometimento com o ser humano, como registrou Christofis, presidente da entidade nos anos 1980/90.
No fim dos anos 1990, já sob a presidência de Frederico Wiltemburg, mudanças no campo social, como o aumento do índice da população acima dos 60 anos, determinaram cuidado e atenção do Senac para auxiliar na qualidade de vida das pessoas sexagenárias. F
Em 1997, por exemplo, o Programa Maturidade & Qualidade de Vida melhorou a vida de muitas pessoas. A palestra “Eterna Juventude – Será Possível?”, proferida pelo psiquiatra José Ângelo Gaiarsa, em 1998, teve 220 participantes. Gaiarsa foi enfático ao afirmar que “a pior condenação que existe para um idoso é sentir-se inútil”.
Registro fotográfico da solenidade de posse da diretoria do Sindicato de Maquinismos de Curitiba, em dezembro de 1992, no Restaurante-escola do Senac PR
Wiltemburg presidiu a Fevarejista até 1998. Sua experiência empresarial começou logo depois da adolescência, ao suceder seu pai. Além da Casa dos Presentes, em Castro, atuou nessa cidade também no ramo de materiais de construção e ferragens, e presidiu durante 18 anos o Sindicato do Comércio Varejista local. Lá foi responsável pela construção do prédio do Senac.
Sua vocação empresarial, assim como de liderança sindical, aflorou desde a juventude. Além de delegado representante do Senac PR junto à Confederação Nacional do Comércio, integrou o Conselho Regional do Sesc e o Conselho do Sebrae. Fez parte do Conselho Estadual da Previdência Social.
Em seu portfolio, consta um consistente mandato à frente da Fevarejista, que com uma somatória de sete administrações anteriores, desde 1960, seria entregue ao responsável pela transição dessa entidade a incorporar-se
“A pior condenação é sentir-se inútil”
FEVAREJISTA PARANÁ: QUATRO DÉCADAS DE HISTÓRIA
à Federação do Comércio do Estado do Paraná, o outro braço da Fecomércio.
O presidente da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Antonio de Oliveira Santos (ao centro), esteve em maio de 1993, em Curitiba, quando visitou as sedes da Fevarejista, Fecomércio e os departamentos regionais do Sesc e do Senac. Ladeiamno o ex-presidente da Fevarejista, George Christofis e o presidente da Fevarejista, Abrão José Melhem
Em 1998, seguindo a nova Constituição Federal, que afastava a interferência do governo no sistema sindical e novamente por orientação da Confederação Nacional do Comércio, juntaram suas forças, como se fossem siamesas, em um só corpo, a Federação do Comércio Varejista do Estado Paraná (Fevarejista) e a Federação do Comércio do Estado do Paraná. Cada qual trazia uma rica história e objetivos semelhantes –de representação sindical e promoção social geral – em suas trajetórias nas terras paranaenses. F
Enfim, juntas sob a mesma sigla
Ao mesmo tempo, naqueles anos, em todo o país, começaram a fervilhar discussões em torno da necessidade de uma reforma política. Nos meios empresariais, no biênio 1998/99, a Associação Comercial do Paraná liderou um movimento com esse escopo, discutindo pontos como voto distrital misto, fidelidade partidária, cláusula de desempenho e voto facultativo. A proposta dormitou nas gavetas de senadores. Ao contrário, a Nova Constituição, proclamada pelo então presidente da Câmara Federal, Ulysses Guimarães, em 1988, trouxe demandas com respostas práticas, inclusive nas entidades representativas.
“No Paraná, tínhamos duas federações, que já tinham observado e colocariam em prática a determinação da Confederação Nacional do Comércio de que cada estado deveria ter apenas uma Federação. Na mesma época, no Piauí, havia seis e no Rio Grande do Sul, cinco”, lembra o presidente do Sindicato dos Lojistas de Curitiba e Região Metropolitana (Sindilojas Curitiba) e vice-presidente da Fecomércio Ari Faria
Presidente do Sindilojas Curitiba e vicepresidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Paraná, Ari Faria Bittencourt
O secretário de Relações do Trabalho no Ministério do Trabalho e Emprego assinou, em 2 de junho de 1999, a certidão que atesta a fusão da Fecomércio PR com a Fevarejista PR, a alteração estatutária, a extensão da categoria e da base territorial
Bittencourt, cuja história no sindicalismo teve início em 1973.
O Paraná foi o primeiro estado a ter a fusão reconhecida pelo Ministério do Trabalho. Presidida pelo empresário Rubens Brustolin, que desde 1986 ocupava a mesma função na Federação do Comércio do Estado do Paraná e no Serviço Social do Comércio (Sesc), a nova entidade somava, em 1998, forças significativas.
A receita para a Fecomércio vinha da arrecadação da Contribuição Sindical.
Esses números haviam sido herdados pelo empresário Rubens Brustolin, aclamado na noite de 14 de outubro de 1998 para presidir a nova entidade, função que ele exerceu durante seis anos, já como Sistema Fecomércio, que reúne, no Paraná, o Senac e o Sesc.
Rubens Brustolin nasceu em Curitiba, em 1924. Formou-se em Contabilidade, Administração de Empresas e Finanças, e acumulou um vasto currículo em atividades classistas. Em 1986, foi eleito, também por aclamação, presidente da Federação do Comércio do Estado do Paraná e sucessivamente reeleito até sua eleição para presidir a Fecomércio, surgida com a fusão.
Há inúmeros fatos elencados durante a gestão Brustolin à frente da Federação do Comércio do Estado do Paraná. Um deles é a participação, como representante da Confederação Nacional do Comércio, da 81ª Conferência
Internacional do Trabalho, em Genebra, na Suíça, nomeado pelo então presidente da República, Itamar Franco. Repetiria essa representação no ano 2000, com nomeação por parte do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Nos anos 1992 e 1993, a entidade que presidia participou ferrenhamente da luta, enfim vitoriosa, contra a criação do Estado do Iguaçu, pretendida por lideranças do Oeste.
Em 1995, em sua gestão, foi implantada a pesquisa conjuntural do comércio atacadista e de serviços no Paraná, que permanece até os dias atuais, editada mensalmente pela Fecomércio e referência dos empresários e pauta permanente para os veículos de comunicação.
A Fecomércio e a Fevarejista foram representadas diversas vezes nas conferências promovidas pela Organização Internacional do Trabalho. Na foto, o registro da participação na 88ª Conferência Internacional do Trabalho, em Genebra, na Suíça, em 2000: o embaixador brasileiro Celso Amorim; o presidente da Fecomércio PR, Rubens Brustolin; o ministro do Trabalho e Emprego, Francisco Neves Dornelles, e o presidente da CNC, Antonio Oliveira Santos. No encontro, estiveram reunidos representantes dos governos, dos empresários e dos trabalhadores de 348 países
Outro destaque da gestão Brustolin é ter organizado e participado, na presidência do Sesc, de projetos para criar melhores condições de vida para as populações mais carentes. Em 1991, por exemplo, após Brustolin ter participado de reuniões na Santa Casa, o Sesc passou a encaminhar sopas a serem distribuídas aos mais carentes da Vila Torres, em Curitiba. Um pouco mais de 100 pessoas recebiam as sopas, que eram distribuídas em caminhonetes da entidade. Anos depois, os veículos do Sesc levavam mais de duas mil sopas e dois mil pães para cidades mais carentes do estado.
FEVAREJISTA PARANÁ: QUATRO DÉCADAS DE HISTÓRIA
Na noite de 14 de outubro de 1998, Brustolin delegou poderes a Frederico Wiltemburg para que continuasse à frente do Senac PR, o que ocorreu até junho de 2004, quando o Senac PR passou a ser administrado por Darci Piana.
A edição de nº 7 da revista Notícias Sistema Fecomércio, de 2000, traz matéria sobre a Recondução do empresário Rubens Brustolin à presidência da Fecomércio no Paraná e à sincronização de mandatos, aprovada durante a realização da 5ª Assembleia Geral do Sincomércio. De acordo com o texto da revista, “a falta de sincronia acarretava a não participação de muitos presidentes de sindicatos na diretoria da federação, como também a não participação de presidentes de federações do comércio na diretoria da CNC.”
Naquela noite, compunham a mesa diretiva, além do Delegado Regional do Trabalho, Tércio Alves de Albuquerque, o presidente da Federação do Comércio do Estado do Paraná, Rubens Brustolin, o presidente da Federação do Comércio Varejista do Estado do Paraná, Frederico Wiltemburg, o coordenador da Comissão Fecomércio, Júlio Maito Filho, e Abrão José Melhem, coordenador da Comissão Fevarejista.
E assim a entidade Federação do Comércio Varejista do Estado do Paraná comportou-se ao longo de sua breve (40 anos), mas rica história. Sempre compartilhada com sua congênere, Federação do Comércio do Estado do Paraná, até voltarem a se encontrar com as mesmas metas e objetivos.
Em 30 de março de 1999, foi reconhecida oficialmente a alteração estatutária unindo as duas entidades pelo ministro Francisco Dornelles, do Trabalho e Emprego. Em 2 de junho do mesmo ano, o Secretário de Relações do Trabalho, Murilo Duarte de Oliveira, deu ciência do despacho publicado no Diário Oficial da União, de 19 de abril de 1999, da alteração estatutária das
duas entidades então existentes, de sua fusão e da nova denominação – Federação do Comércio do Paraná.
Onze líderes originalmente da Federação do Comércio do Estado do Paraná, Sesc PR, e outros onze, da Federação do Comércio Varejista do Estado do Paraná, Senac PR, compuseram a primeira diretoria da Fecomércio PR, em seus 22 cargos principais. Sob a presidência de Brustolin, a diretoria tinha ainda a participação de Júlio Maito Filho (1º vice-presidente), Ari Faria Bittencourt (2º), Luis Carlos Favarin (3º), Nelson Torres Galvão (4º), Nelson Renato Buhler (5º), Luis Fernando Koehler de Carvalho (6º), Jefferson Proença Testa (7º), Moisés Antônio Bortolotto (8º), Arno Seigmeister (9º), Alceu Ribeiro (10º), Ruberlei Gomes Carneiro (11º), Odebal Bond Carneiro (12º), Omar Tosi (13º), Sidney Catenaci (14º), Darci Piana (15º), Gelcio Miguel Schibelbein (1º diretor-secretário), Nivaldo Ricci (2º), Luiz Antonio Cossio (3º), Paulo Celso Barbosa (1º diretor-tesoureiro), Luiz Sérgio Wozniaki (2º) e Zenaide da Silva Cobianchi (3º), a única mulher da chapa.
Cerimônia de transmissão de cargo do então presidente da Fecomércio PR, Rubens Brustolin, a Darci Piana, à nova diretoria, Conselho Fiscal e delegados representantes junto ao Conselho da CNC, na gestão de 2004-2007, em 23 de junho de 2004
Brustolin cumpriria o mandato da entidade que surgira da fusão como transição para uma nova diretoria. Porém, houve um detalhe significativo: apesar do mandato de Rubens Brustolin na nova Federação do Comércio do Paraná ter sido estabelecido em três anos, 1998/2001, no
intercurso a V Assembleia Geral do Sicomércio, no Rio de Janeiro, aprovou a sincronia de mandatos entre sindicatos, federações e Confederação Nacional. Seu mandato, por isso, só terminaria em 2004, com a eleição do novo presidente da Fecomércio, Darci Piana.
A fusão gerou extensa sinergia para nova a entidade: a Fecomércio PR, com 63 sindicatos filiados, representa atualmente cerca de 500 mil empresas do comércio, serviços e turismo, com dois milhões de empregados, que geram 63% do PIB paranaense. O Sesc e Senac, entidades de serviços social e formação profissional, administradas pelos respectivos Conselhos Regionais, sob a presidência da Fecomércio PR, apresentam números que são referenciais em todo o país, resultados de suas ações em 86 unidades espalhadas pelo Paraná, das quais 10 unidades móveis. F
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FONTES DE CONSULTA
Jornais
Diário do Paraná, Curitiba. Diário da Tarde, Curitiba. Diário Oficial do Estado, Curitiba. Gazeta do Povo, Curitiba. O Dia, Curitiba.
Livros
FEDERAÇÃO DO COMÉRCIO NO ESTADO DO PARANÁ. A dimensão de um trabalho: relatório da gestão Rubens Brustolin – 1986-2004. Curitiba: Fecomércio/Sesc, 2004.
MONTEIRO, N. Pedaços, histórias de muita vida: a história dos 122 anos da Associação Comercial do Paraná. Curitiba: Edição do Autor, 2012.
FIGUEIREDO, G.C.C. de; CHRESTENZEN, L.M. Restaurante-escola Senac PR – meio século de histórias e receitas. São Paulo: BB Editora, 2014.
SENAC, Departamento Regional do Paraná. SENAC 70 anos. Curitiba: SENAC PR, 2017.
Revistas
A Divulgação, Curitiba.