Revista Femucic 40 anos

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[40 ANOS]

FESTIVAL DE MÚSICA CIDADE CANÇÃO - FEMUCIC 40 ANOS DE VIAGEM MUSICAL PELO BRASIL



[PALAVRA DO PRESIDENTE]

FEMUCIC, DIGNO DE ANTOLOGIA Bruno Tadashi

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m 1977, quando o Sesc sediou o embrião do Femucic, em parceria com a Prefeitura Municipal, ninguém poderia imaginar que o evento teria a longevidade que conquistou. Muito menos a representatividade que hoje é um de seus principais atributos. Àquela época o Paraná estava tratando de se reinventar, após a geada negra de 1975, responsável por exterminar a cultura cafeeira no estado. Buscavam-se novas opções no setor agrícola, enquanto o comércio e os serviços inventavam estratégias para sobreviver em um ambiente de desânimo. Mas os ventos pareciam soprar a favor de Maringá. Além da criação do Femucic, no dia 3 de outubro, o Grêmio Maringá, o inesquecível Galo, empatava com o Coritiba no Estádio Belfort Duarte (atual Couto Pereira) e trazia para a cidade o terceiro título de campeão paranaense. Mudava o astral, era a chama do progresso que voltava a luzir.

Darci Piana

O Femucic teve diversos formatos, premiando a cidade e o estado com edições antológicas, que enriqueceram – e enriquecem – a nossa cultura. Por essas razões, estamos publicando esta revista, como homenagem à cidade de Maringá, aos protagonistas do Femucic – artistas e público – e para perenizar a memória deste monumento musical que o Sesc e a PMM vem produzindo há mais de 40 anos em nome da riqueza cultural paranaense. C

DARCI PIANA Presidente do Sistema Fecomércio Sesc Senac Paraná

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REVISTA FEMUCIC 40 ANOS

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[ÍNDICE]

[PÁGINA] 3 .......................PALAVRA DO PRESIDENTE

27 ....................A PLURALIDADE MUSICAL

5 ......................PALAVRA DO DIRETOR REGIONAL

28 ....................CELEBRIDADES

6 .....................1977: O ANO DA MÚSICA

30 ...................ARTISTA-EDUCADOR

7 .......................CIDADE-CANÇÃO E ORIGEM DO SESC MARINGÁ

34 ...................ICONOGRAFIA

9 ......................OS FESTIVAIS

36 ....................GRAVAÇÕES

13 .....................O SESC NOS FESTIVAIS

37 ....................SESC MARINGÁ, UM DIFUSOR DA MÚSICA

14 ....................FEMUCIC, O INÍCIO

39 ....................CENTRO DE DIFUSÃO MUSICAL

18 .....................OS PALCOS DO FEMUCIC

42 ..................FEMUCIC NAS ESCOLAS

22 ....................PERSONALIDADES DO FEMUCIC

43 ...................FEMUCIC NAS EMPRESAS

24 ....................DE COMPETIÇÃO À MOSTRA

44 ...................40 ANOS DE FESTIVAL

[EXPEDIENTE] ESTA REVISTA É UMA PUBLICAÇÃO ESPECIAL DA CULTURA DO SESC PARANÁ SISTEMA FECOMÉRCIO SESC SENAC PR: Rua Visconde do Rio Branco, 931 – 1º andar | CEP: 80.410-001 | Curitiba – PR | (41) 3883-4500 www.sescpr.com.br | jornalismo@fecomerciopr.com.br | www.flickr.com/photos/fecomerciopr | https://issuu.com/fecomerciopr

PRESIDENTE DO SISTEMA FECOMÉRCIO SESC SENAC PR: Darci Piana | DIRETOR REGIONAL DO SESC PR: Emerson Sextos NÚCLEO DE COMUNICAÇÃO E MARKETING COODENADOR-GERAL: Cesar Luiz Gonçalves | COORDENADOR DE JORNALISMO: Ernani Buchmann JORNALISTA RESPONSÁVEL: Karen Bortolini | TEXTOS: Renato Bittencourt Gomes e Karen Bortolini DIRETORA DE EDUCAÇÃO CULTURA E AÇÃO SOCIAL: Maristela Massaro Carrara Bruneri | GERENTE DE CULTURA: Georgeana França REVISÃO: Silvia Bochese de Lima | PROJETO GRÁFICO E FINALIZAÇÃO: Alexandre Sfeir Conter e Vera Andrion | Fotos: Ivo Lima e Acervo Sesc PR IMPRESSÃO: Graciosa Gráfica e Editora Eirelli – ME | TIRAGEM: 1.000 exemplares

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40 ANOS DE MÚSICA Ivo Lina

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á mais de 70 anos, o Sesc Paraná presta serviços em prol dos trabalhadores do comércio, de seus familiares e de toda sociedade, levando serviço social, educação, cultura, esporte, lazer e saúde, nos mais diferentes formatos de projetos. Em toda história institucional, poucos destes projetos do Sesc PR têm vida longeva e exitosa como tem o Femucic – Festival de Música Cidade Canção, que em 2018 completou 40 anos de realização e de transformação social.

Emerson Sextos

Em respeito à história e visando à preservação da memória do Femucic, o Sesc PR publica esta revista comemorativa que, demonstra, sobretudo, o orgulho da entidade em conceber, realizar e aperfeiçoar, ano a ano, um evento musical que dá oportunidade aos artistas e aos espectadores à arte brasileira. Para nós do Sesc PR, a música é uma das principais formas de manifestação artística e cultural. Dotada de alegria e harmonia, a música é uma forma simbólica para significar e ressignificar os fatos do mundo. E, como as demais formas de arte, a música nos permite ampliar o entendimento a respeito do mundo e dos seres humanos. Nas próximas páginas desta revista, o leitor poderá verificar como o Femucic contribuiu para a disseminação da música no nosso país e como a entidade se importa e está comprometida em propagar a arte e transformar a vida das pessoas e da sociedade brasileira. Desejo a todos uma boa leitura. E ao Femucic, vida longa! C

EMERSON SEXTOS Diretor regional do Sesc Paraná

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[FEMUCIC]

1977: O ANO DA MÚSICA

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ano 1977 foi marcado por eventos musicais que ficaram na memória coletiva, ecoando até hoje. Este foi o ano de início do Festival de Música Cidade Canção - Femucic, em Maringá, uma iniciativa do Sesc Paraná. É sobre a trajetória desse marco da música brasileira que essa edição especial vem tratar, ao promover uma viagem musical por suas quatro décadas. Paralelamente, nesse período, grandes fatos ocorreram na área musical pelos diversos cantos do mundo. A cantora lírica grega Maria Callas (53 anos), o eterno rei do rock Elvis Presley (42) e a brasileira Maysa (40), musa da dor de cotovelo, deixaram os palcos para marcarem a história.

Enquanto isso, em Porto Rico, foi criada a banda adolescente Menudos, que revelou Ricky Martin. O punk-rock ganhou a cena em Nova Iorque. E do outro lado do Atlântico os ingleses Sex Pistols lançaram seu único e marcante álbum de estúdio. Os australianos Bee Gees venderam 48 milhões de cópias de Saturday Night Fever: The Original Movie Sound Track, álbum duplo com as canções de Os embalos de sábado à noite, filme ambientado nas danceterias de Nova Iorque, estrelado por John Travolta, trazendo a contagiante onda da disco music, que tomou conta do mundo C

Na primeira edição do Femucic, pró-reitor da UEM e Vidal Balielo, apresentadores

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CIDADE-CANÇÃO E ORIGEM DO SESC MARINGÁ

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ascido em Minas Gerais e radicado no Rio de Janeiro, Joubert de Carvalho (1900-1977) lançou em 1932 uma canção narrando uma história de amor e saudade vivida por retirantes nordestinos. A composição, que contava sobre a cabocla Maria do Ingá, deu origem ao nome da cidade de Maringá, no período de expansão da lavoura cafeeira no Norte paranaense. O mestre do conto e jornalista João Antônio (1937-1996), paulistano radicado no Rio, em seu último livro Dama do Encantado, narra em

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detalhes como se deu o batismo da cidade. Conta o autor em seu conto-reportagem Joubert – Maringá: “No tempo da guerra, diretores da Companhia de Terras Norte do Paraná não achavam um nome de batismo para a cidade em construção, a mulher de um deles, Elisabeth Thomas, [...] sugeriu o nome de uma canção, os trabalhadores suados meio que merencórios naquele pó vermelho costumavam cantar e com que se distraíam na luta braba da construção, suor, e, de assim, Joubert de Carvalho que nada tinha a ver entrou para a história toda no imponderável do acaso”. C

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[FEMUCIC]

MARINGÁ - JOUBERT DE CARVALHO Fonte: Prefeitura de Maringá

[ESTROFE 1]

[ESTRIBILHO]

[ESTROFE 2]

Foi numa léva Que a cabocla Maringá Ficou sendo a retirante Que mais dava o que falá

Maringá, Maringá, Depois que tu partiste, Tudo aqui ficou tão triste, Que eu garrei a maginá

Antigamente Uma alegria sem igual Dominava aquela gente Da cidade de Pombal

E junto dela Veio alguém que suplicou Prá que nunca se esquecesse De um caboclo que ficou

Maringá, Maringá, Para havê felicidade, É preciso que a saudade Vá batê noutro lugá

Mas veio a seca Toda chuva foi-se embora Só restando então as água Dos meus óio quando chóra

Maringá, Maringá, Volta aqui pro meu sertão Pra de novo o coração De um caboclo assossegá

Este fato teria predestinado Maringá, que passou a ser conhecida como Cidade Canção. No entanto, seu reconhecimento como município autônomo deu-se somente em 1951, ano coincidentemente também marcado pela música, com a primeira edição do Festival da Canção Italiana, o Festival de Sanremo. Com quase 70 anos, ele é o mais longevo evento musical do mundo. Em virtude da dinâmica do novo município, em 1956 o Serviço Social do Comércio (Sesc) instalou uma Agência (nomenclatura adotada para unidades de serviço na época) em Maringá. Data também de início do Festival Eurovisão da Canção, organizado por países

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europeus. Com mais de 60 edições, este festival segue até hoje. O cenário musical estava em ascensão naquele período. Nesse mesmo ano, Elvis Presley (1935-1977) gravava seus primeiros trabalhos, nos Estados Unidos. Enquanto isso, no Brasil, Vinicius de Moraes (1913-1980) e Tom Jobim (1927-1994) registravam em LP as canções da peça Orfeu da Conceição, de autoria de Vinicius. Chegava ao poder o médico Juscelino Kubitschek de Oliveira (1902-1976). Chamado de presidente bossa nova, apaixonado por serestas, começou um governo marcado pela industrialização e pela renovação. C

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OS FESTIVAIS

Sexta edição do Femucic

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istoricamente, a música popular é um dos pontos altos da cultura brasileira, tornando-se umas das referências mundiais. A grande variedade de ritmos do país alia-se à riqueza de sonoridades e à elaboração das letras. Há duas décadas, no entanto, instaurou-se uma polêmica artificial, alimentada por editorias de cultura de grandes jornais, que opôs letristas e poetas, como se a poesia das canções fosse algo inferior. Não se levara em conta, entretanto, a figura tutelar

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Oitava edição do Femucic

de Vinicius de Moraes, notável tanto por seus livros de poesia como pelas canções cujas letras são de sua autoria. Artistas como Abel Silva e Arnaldo Antunes também compuseram para canções e livros de poemas. Raimundo Fagner fez melodia para versos de Cecília Meireles e da portuguesa Florbela Espanca. Já o trabalho de Belchior, fortemente autoral, tem como pano de fundo o diálogo com a obra de poetas como João Cabral de Melo Neto e Olavo Bilac.

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Contudo, essas relações denotam a grande proximidade entre o cancioneiro popular e a poesia literária no Brasil. Essa conexão marcou o que podemos chamar de era de ouro dos Festivais, de 1960 a 1972, realizados por emissoras de televisão como Record, Excelsior, TV Rio e Rede Globo. Entre as canções vencedoras destacam-se as clássicas Arrastão (Edu Lobo e Vinicius de Moraes), A Banda (Chico Buarque), Disparada (Geraldo Vandré e Théo de Barros), Ponteio (Edu Lobo e Capinam), Sabiá (Chico Buarque e Tom Jobim), Sinal Fechado (Paulinho da Viola) e Fio Maravilha (Jorge Ben Jor), todas compostas por letristas-poetas.

1982

Nota-se então que dos festivais surgiu uma geração de artistas, compositores e intérpretes, originários da tendência batizada de MPB. É a geração de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Paulinho da Viola (os três nascidos em 1942), Chico Buarque (1944), Belchior (1946-2017) e Raimundo Fagner (1949). A partir dos festivais, tornaram-se famosos os intérpretes Wilson Simonal (1938-2000), Jair Rodrigues (1939-2014), Clara Nunes (1942-1983), Nara Leão (1942-1989), Milton Nascimento (1942) e Elis Regina (1945-1972), a cantora mais emblemática desta vertente da música brasileira. Embora o pesquisador Zuza Homem de Mello considere a era dos festivais compreendida do primeiro Festival da TV Record (1960) até o sétimo Festival Internacional da Canção (1972), da TV Globo, houve bons certames posteriores: MPB Shell (1980 a 1982), e o Festival dos Festivais (1985), ambos transmitidos pela TV Globo, trazendo ao público Jessé (1952-1993), Tetê Espíndola (1954), Oswaldo Montenegro (1956) e Leila Pinheiro (1960). C

1983

1984

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[FESTIVAL DE WOODSTOCK] Marcado na memória popular, o Festival de Woodstock, oficialmente Feira de Música e Arte de Woodstock, foi realizado entre 15 e 18 de agosto de 1969, em uma fazenda no estado de Nova Iorque, nos Estados Unidos. Anunciado como Uma Exposição Aquariana: Três Dias de Paz & Música, o festival contou com três dezenas dos mais conhecidos músicos da época, como Ravi Shankar (1920-2012), Joan Baez (1941), Jimi Hendrix (1942-1970), Janis Joplin (1943-1970), Joe Cocker (1944-2014), Johnny Winter (1944-2014); as bandas Creedence Clearwater Revival; Crosby, Stills, Nash & Young; Grateful Dead; Jefferson Airplane; Santana; e The Who. Mundialmente, esses foram os principais nomes que definiram o som e a atitude dos jovens nas décadas seguintes. Cartaz do Festival de Woodstock (1969), perceptivelmente uma inspiração para o Femucic

Por pelo menos 25 anos, os festivais sustentaram a renovação dessa vertente da música brasileira. Período em que o Femucic também se fez presente, ao dar oportunidade a todas as tendências e receber participantes de todo o Brasil. Seguindo a cronologia, na década de 1980 surgiram bandas de rock como Legião Urbana, Titãs e Os Paralamas do Sucesso, abrindo novos caminhos para gêneros diversificados. Posteriormente, na década de 1990, foi a vez da chegada da Axé Musical. Identificado inicialmente na Bahia, o fenômeno foi seguido da renovação e efervescência do sertanejo. Entretanto, em nosso país a música regional sempre foi manifestação presente, mas nos grandes meios de comunicação não ocupava horários nobres, até que nas últimas três décadas passou a estar no centro da cena. C 2001

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O SESC NOS FESTIVAIS

Há 40 anos o Sesc PR está presente em festivais, na imagem, a edição de 2003

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Sesc é uma entidade privada de atuação pública. Sua receita provém, principalmente, da contribuição compulsória do empresariado do comércio. Com esses recursos, a instituição proporciona atendimentos ao público, com prioridade aos trabalhadores do comércio e seus dependentes. Ao longo de sete décadas, o Sesc mantém em suas unidades programação cultural, realizando ações nas diversas linguagens artísticas, e nas áreas de Ação Social, Educação, Esporte, Saúde e Lazer. Os festivais destacam-se entre as ações da Cultura, com forte presença nos Departamentos Regionais do Sesc São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná.

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O Sesc São Paulo realiza o Festival Sesc de Música de Câmara; em parceria com a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP-USP), também realiza o Festival Música Nova Gilberto Mendes, além de participar da realização do Festival Internacional de Música Experimental (Fime). O Sesc Rio Grande do Sul realiza o Festival Internacional de Música. Por sua vez, o Sesc Paraná realiza o Festival de Música de Raiz, no Sesc da Esquina, em Curitiba; o Festival Jacarezinhense da Canção (Fejacan), no Sesc Jacarezinho, e o Festival de Música Cidade Canção (Femucic), em Maringá. C

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[FEMUCIC]

FEMUCIC, O INÍCIO

1978

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o ano de 1977, chamado somente em seu ano de estreia de Festival de Música do Sesc (FemuSesc), foi uma iniciativa que partiu da então técnica adjunta do Sesc Maringá, Luiza Elizabeth Basaglia (1950-2010). Ela reuniu poucas pessoas, nem todas colaboradoras do Sesc, para definir os parâmetros da competição. Seriam duas eliminatórias somando 30 concorrentes para selecionar 10 finalistas e, por fim, eleger as três músicas vencedoras. As três noites de espetáculo, no Auditório Sesc Maringá, resultaram na vitória da canção Último Aboio, de autoria do radialista maringaense Frambel Carvalho, uma canção nordestina, por conta de suas raízes. Quarenta anos depois, ele voltou ao palco do Femucic para ser homenageado. Contou que apesar de descrente em sua produção artística, suas composições caíram no gosto popular. “Não achava que merecia participar de um festival, pois sou muito exigente comigo mesmo. Não ia nem assistir às noites de apresentação, pois, se minha música não fosse bem acreditaria que ela não tinha qualidade suficiente e não que foi mal interpretada”, relembra. Ele relata que jamais tivera a certeza que seria aplaudido. Amante da música e da escrita, sua ideia era expor seus pensamentos no papel, a eles acrescentar uma melodia e entregar esse conjunto a um intérprete. “Mas havia um temor, pois achava que coloquei o cara numa fria, e assim ficava em casa apreensivo sem interferir na apresentação. Sabia do resultado só no dia seguinte”. Seu sonho de fazer música foi incentivado pelo FemuSesc, principalmente com a vitória de sua composição. Suas influências estavam na Bossa Nova, na Tropicália – um dos movimentos musicais populares mais ricos -, e no Iê Iê Iê – denominação do rock brasileiro da década de 1960. “Comecei escrevendo letras relacionadas a esses movimentos, e, mesmo tocando violão muito mal, tomei gosto ao produzir os acordes. Ao vencer a primeira edição, passei a acreditar que conseguia fazer música. Após essas quatro décadas, fiquei surpreso ao ser lembrado e muito feliz em rememorarmos aqueles bons tempos”, comemorou.

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Músicos aguardam a premiação

1982, Grupo Gralha Azul, de Paranavaí

Antônio Vieira e Frambel Carvalho, um reencontro de 40 anos

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[FEMUCIC]

vez na organização de um festival de música, de pequeno porte, ao congregar somente intérpretes. Seguiu como diretor do Sesc Ponta Grossa, e, por fim, foi para o Sesc Maringá ocupando o mesmo cargo, onde despertou sua vocação para a condução de tamanho projeto musical. Vieira lembra que, na infância, as aulas de música e o canto coral no seminário católico, enquanto voltara-se ao sacerdócio, despertavam-lhe grande interesse. “A participação em corais foi uma constante em minha vida até poucos anos atrás”, comenta. Mas sua carreira religiosa foi breve, pois ainda antes de ingressar no Sesc, tornou-se professor.

1986, Grupo Elemento de Ligação, de Maringá

O ano seguinte a sua vitória, 1978, foi marcado pelo nome de Femucic. O período foi de pleno desenvolvimento ao conquistar a comunidade e as parcerias com a Prefeitura de Maringá, a TV Cultura de Maringá (posteriormente integrada à Rede Paranaense de Comunicação – RPC, filiada da Rede Globo) e a Universidade Estadual de Maringá (UEM). Nesta segunda edição, o vencedor foi Lydio Roberto, com Deusa das Camélias. Na década de 1980, chegou a Maringá um entusiasta do Festival até os dias de hoje. Atualmente gerente executivo, Antônio Vieira é nascido ali perto, em Sabáudia, a menos de 80km de distância. Sua atuação iniciou na Unimos, nomenclatura adotada para as Unidades Móveis, de 1974 a 1977. Em 1975, na cidade de Califórnia, próxima à Apucarana, Vieira envolveu-se pela primeira

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Acompanhando a trajetória do Femucic de perto por esse longo período, Vieira passou a ser referência e fonte de consulta quando o assunto é o festival. “Acredito que sua longevidade está atrelada às diversas situações que enfrentou, que contribuíram para sua sobrevivência. Hoje vejo o significado que o Femucic tem para a cidade, que leva a canção em seu nome e carrega as raízes maringaenses. Sou privilegiado em ter acompanhado esse projeto por 38 anos”, pontua. Ele chegou à unidade maringaense quando o Femucic recebeu reconhecimento oficial ao se constituir como etapa classificatória do primeiro Festival Paranaense de MPB, também chamado Festival de Todos os Cantos. Promovido pela Secretaria de Estado da Cultura e do Esporte, contou com etapas classificatórias em Antonina, Cascavel, Curitiba, Londrina, Maringá, Pato Branco, Ponta Grossa e União da Vitória. Nesta terceira edição do Femucic (1980), os três primeiros lugares foram Sete Quedas, de José de Fátima Coninck; Caravana, de Flávio Cacace e José Feliciano Filho; e Ciranda de Sempre, do maringaense Márcio Rosa de Carvalho foi a vencedora da etapa, portanto, ganhadora do primeiro Femucic. Sete Quedas e Caravana ainda se sagraram como primeiro e terceiro lugares, respectivamente, no Festival de Todos os Cantos. Para Vieira, no período de desenvolvimento do Femucic, o Sesc situou

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Edição do Femucic em 1981, quando Boi conquistou o primeiro lugar com a música Paraiano

a Cultura em um dos patamares de maior importância de sua área de atuação. “E esta iniciativa veio ao encontro dos anseios da instituição. Nossas portas se abriram não só para ouvirmos o cenário maringaense, mas toda uma pluralidade musical, o que favoreceu sobremaneira para o festival chegasse até onde chegou”, pondera. Em 1981, com Paraiano, Boi foi o vencedor da 4ª edição do Femucic. Embora nascido em outra localidade Rubens Neves, o Boi, era radicado em Maringá, identificava-se com a cidade. Assim como Frambel, campeão do FemuSesc, Boi foi um dos homenageados na edição de 40 anos, subindo ao palco para trazer sua canção, acompanhado do filho e irmão, prova de que o sangue musical está nas veias da família Neves. O apelido, conta ele, vem do período colegial de infância e lhe acompanhou por São Paulo, Brasília, Mato Grosso, e Paraná, estado que acolheu a si e a sua música. “Cantei Paraiano no Cine Maringá, aquela vitória era uma dádiva para todo músico. O nome da canção era um trocadilho de paranaense com baiano, e a letra fazia referência à história do nordestino que chega ao Sul”, conta. O músico lembra que sua participação no Femucic foi um reconhecimento para

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Rubens Neves, o Boi, retornou na edição de 40 anos do Femucic

seguir em frente, para ter mais confiança em seu trabalho, iniciado ainda aos 16 anos ao violão. “Isso me ajudou como compositor, intérprete e na minha carreira, incluindo a abertura de espaços para apresentações em eventos, participações em diversos festivais como os de Cascavel e de Londrina”, destaca. Mas sua participação iniciou em 1977, quando morava em Paranacity – vizinha de Maringá -; com a música Memória de meu Pai. “Vi uma divulgação, inscrevi e foi sucesso total. Era um forró, que depois foi adaptado ao pop rock”, lembra. O público ficava extasiado pelas canções inéditas. A reação positiva vinha ao encontro da tamanha aceitação dos festivais. “Eventos como o Femucic são uma afirmação a quem trabalha na vida musical. Há um lugar para mostrar seu trabalho, ser aplaudido. Vivo da música há muitos anos, e tenho orgulho de carregar essa bandeira do Femucic por tanto tempo. Na edição de 40 anos do Femucic vejo subindo ao palco composições que concorreram em seu início e percebo que elas não ficam velhas, elas se renovam”. C

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[FEMUCIC]

OS PALCOS DO FEMUCIC Ao longo das quatro décadas, vários locais sediaram o Femucic. Ele iniciou no Auditório do Sesc, e, nos anos seguintes, com a ampliação do público, necessitou de espaços mais amplos. As apresentações chegaram

aos cinemas, ginásios de esportes e teatros. Mas ao longo do tempo, o repertório musical tomou conta da Cidade Canção, estendendose por espaços públicos.

[AUDITÓRIO SESC MARINGÁ] Com acomodação para 200 pessoas, este foi o local de início do festival, ao sediar o FemuSesc (1977) e o primeiro Femucic (1978). Em funcionamento até a reforma do prédio, no fim da década de 2010, o espaço abrigou palestras abertas ao público, treinamentos internos e apresentações artísticas.

[CINE MARINGÁ] Foi palco do Femucic em 1980 e 1981, com capacidade para 800 pessoas. Situado em prédio histórico, o Cine Maringá era de propriedade de Odwaldo Bueno Netto. Hoje, sedia uma igreja neopentecostal. Havia na Câmara de Vereadores um projeto para tombamento desse imóvel, mas diante do fato da sua compra pela denominação evangélica esse projeto foi retirado.

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[CINE HORIZONTE] Palco do Femucic em 1979, 1982, 1984, 1985, 1990 e 1991, o Cine Horizonte funcionava, já em seu segundo endereço, na avenida Riachuelo, na Vila Operária, atraindo espectadores inclusive de outros pontos da cidade. Foi assim de 1966 até fins da década de 1990, quando fechou suas portas, sendo o último cinema de rua a encerrar atividades em Maringá. Depois disso, foi utilizado por igrejas evangélicas, esteve um tempo abandonado e, por fim, foi demolido, dando espaço para o Residencial Lumière, cujo nome homenageia os irmãos Auguste (1862-1954) e Louis Lumière (1864-1948), dupla de empresários franceses do iniciante ramo fotográfico, considerados inventores do cinema.

[GINÁSIO DE ESPORTES DO COLÉGIO MARISTA] Esta foi a primeira experiência do Femucic além de um espaço tradicional de cultura, em 1983. Funcionando junto ao Colégio Marista de Maringá, conhecido como Maristão, abriga eventos esportivos e culturais.

[CINETEATRO PLAZA] Sediou o Femucic em 1992, 1993, 1995, 1996, 1997 e 2004. Foi inaugurado em 1972, como Cine Plaza, e assim funcionou até 1990, quando foi adquirido pela municipalidade e transformado no Cineteatro Plaza. Com palco de 180m2 e capacidade para 610 espectadores, recebeu apresentações de múltiplas artes, como dança, música, conferências e cinema. C

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[FEMUCIC]

[GINÁSIO CHICO NETO] Inaugurado em 1976, com capacidade para quase seis mil espectadores, foi palco do Femucic de 1986 a 1989, voltando a sediar o Festival em 1995. Considerado uma referência das grandes turnês do rock nacional, recebeu nomes consagrados da década de 1980, como RPM, Barão Vermelho em uma das últimas apresentações com Cazuza (1958-1990), que deixou a banda em 1985, Engenheiros do Hawaii, Capital Inicial, Legião Urbana. Francisco Bueno Netto (1894-1959), o Chico Netto, era natural de Mogi Mirim (SP), iniciou no esporte aos 14 anos, no interior, foi craque do Fluminense e técnico da Seleção Brasileira, encerrando sua carreira em 1924. Permaneceu um período em Catanduvas (SP), radicou-se em Maringá, em meados dos anos 1950, a convite de seu irmão Odwaldo Bueno Netto. Após a vida pacata no Norte paranaense, foi homenageado com seu nome dado ao Ginásio de Esportes Francisco Bueno Neto, popularmente Ginásio Chico Neto, localizado em frente ao Sesc Maringá.

Ginásio Chico Neto

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[TEATRO CALIL HADDAD] Com capacidade para 759 pessoas, recebeu o Femucic em três períodos: 1998-2003, 2005-2010 e 2012-2018. Calil Haddad (1926-1979) era natural de Jaú (SP) e, com sua família, radicouse em Maringá em meados dos anos 1940. Graduado em Direito, exerceu o magistério e organizou um grupo de teatro amador, que deu origem ao Teatro Maringaense de Comédia, fundado em 1956, sob sua direção. O maior espaço de cultura do Paraná recebeu seu nome em 1996. Mantido pelo poder público municipal, o Teatro Calil Haddad, conta com quase 8 mil m2 de área construída, um palco de 112m2, fosso para pequenas e médias orquestras, e auditório com palco alternativo com cerca de 50m2.

[TEATRO MARISTA] Em atividade desde 1998, foi sede do Femucic em 2011. O Teatro Marista de Maringá é anexo ao Colégio Marista Santa Maria e tem a maior capacidade da região: 911 lugares. C

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[FEMUCIC]

PERSONALIDADES DO FEMUCIC Estadual de Maringá (UEM), aparenta ter alma carioca, pois é um devoto do samba. São muitas as relações de Helington com o samba do Rio de Janeiro. “Fui criado ouvindo música boa. Segui à área profissional de engenharia, e pouco a pouco vim me direcionando à vertente musical”, conta. Há 30 anos a música tornouse uma de suas fontes de rendimento, e há menos de uma década, passou a ser o meio exclusivo de seu sustento e de sua família. Vocalista do Receita do Samba, fundou o grupo há mais de 25 anos. Fundou também a Casa de Bamba, estabelecimento maringaense de samba e o choro. No início funcionava mensalmente em sua residência, com festas no quintal. “O Femucic ajudou a compor meu estilo de vida, pois ao frequentar o festival, a música ultrapassava os limites do rádio e do disco”. Durante a entrevista, o empresário e artista entremeava a fala de suas lembranças com trechos de sambas. Um desses sambas cantados por Helington foi Seja sambista também, de autoria de Arlindo Cruz e Sombrinha, que faz parte do repertório da banda Fundo de Quintal, que renovou o samba. Diz um trechinho da letra: Helington Lopes, fundador do Grupo Receita do Samba, com 25 anos de história

P

or toda sua trajetória, o Femucic, formou uma geração de apreciadores de música e músicos maringaenses. Assíduo em todas as edições do Femucic, Helington Lopes, conta que nas primeiras, assistia da plateia ainda garoto. Foi a partir da quinta edição que subiu ao palco como participante. Natural de Mandaguaçu, o engenheiro civil graduado pela Universidade

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“Ser sambista é ver com olhos do coração Ser sambista é crer que existe uma solução É a certeza de ter escolhido o que convém É se engrandecer e sem menosprezar ninguém Aconselho a você que seja sambista também”

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[40 ANOS]

Já o músico Ronaldo Gravino é carioca, mas se fez maringaense por força do trabalho com a música. Mudou-se para o Norte do Paraná para atuar em um estúdio de gravação, fazendo vinhetas e jingles, e auxiliando na produção. Em 1987, foi realizada a gravação do primeiro disco de vinil do Femucic, com selo Som Livre, no Ginásio de Esportes Chico Neto, tendo o maestro César Camargo Mariano na presidência do júri. , Em 1989, ocorreu a gravação do segundo disco Femucic, desta vez com selo RCA. Ao fim da década de 1980 os concorrentes passaram a contar com a tecnologia disponível, ao encaminhar suas inscrições não mais em gravações caseiras, mas realizadas em estúdio, em formato profissional. Estabelecido na cidade, que foi se tornando um polo de produção de discos evangélicos (eram cinco ou seis vinis por mês), Gravino lembra de quando, já nos anos 1990, deixou seu envolvimento com as gravações para participar do Femucic como compositor. Assim, foi se inserindo no circuito dos festivais que aconteciam por todo o país, e viu se formar uma confraria dos músicos. Após as apresentações do Femucic, reuniam-se na casa dele para confraternização.

Ronaldo Gravino foi homenageado na 40ª edição

Gravino acompanhou a transição do modelo competitivo, em que havia premiação em dinheiro, compreendido de 1977 a 1992, até o período de mostra. Para ele, as premiações tinham caráter relativo, pois nem sempre as músicas preferidas do público eram as mesmas da comissão julgadora. Ele relembra que, uma de suas canções não se classificou para o Femucic, mas foi premiada em outros festivais. O instrumentista mais marcante ao longo da história do Femucic foi Geraldo Bitencort de Lima; autêntico homem do choro, virtuose do cavaquinho e compositor. Há pouco mais de dez anos ele ganhava a vida como pintor de paredes e conciliava com a representação da melhor tradição do choro, daqueles que incorporam o instrumento ao nome. Chamado

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O instrumentista Geraldo Bitencort de Lima

de Geraldinho do Cavaco, foi inclusive apontado por Gravino como o melhor dançarino. “Não tem mulher que não queira dançar com ele, em quem aposto todas as fichas...”, garantiu o amigo. C

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[FEMUCIC]

DE COMPETIÇÃO À MOSTRA

Na década de 1980, o Femucic manteve seu caráter competitivo

A

abolição do caráter competitivo fez aumentar o número de inscrições. Em 1992, último ano de competição foram 160 inscritos, o menor índice registrado. No ano seguinte, primeira edição de mostra, foram 346 inscrições. O Femucic era competitivo quando concebido, pois seguia a tendência de outros festivais transmitidos pelas emissoras de televisão. Assim, recebiam prêmios as melhores canções, os melhores intérpretes e os melhores arranjos. “Quando saímos do período competitivo, começamos a trabalhar para dar uma diversidade e uma provocação diferenciada para os músicos. Criamos então o Femucic Instrumental, em 1988, foi quando a música instrumental foi

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introduzida no festival como um festival a parte”, relembra o gerente executivo de Maringá. Neste período, que se estendeu de 1987 a 1991, foram realizados os primeiros registros sonoros do festival, com a gravação dos LPs. Com o modelo de mostra, a partir de 1993, o Femucic permitiu uma atmosfera mais colaborativa. A proposta inspirou outros festivais. A programação desta edição do Femucic foi composta por uma noite de rock e uma de música sertaneja de raiz, ambas no ginásio Chico Neto, e duas noites no cineteatro Plaza, uma de MPB e outra de instrumental. “Passou a ser um modelo altamente atraente

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[40 ANOS]

principalmente para os músicos. Não havia mais as torcidas e as faixas, mas, em contrapartida, foram os músicos que vibraram com o novo formato”, conta. Este também foi um período muito importante para o Sesc, pois o modelo inovador permitiu uma ressonância do festival. Em 1994, gerentes de Cultura do Sesc de todo o Brasil reuniram-se em Juazeiro do Norte (CE) para incentivar que

os regionais enviassem suas canções a serem selecionadas pela comissão organizadora. O festival tornou-se então de caráter nacional, passando a ser representado por 21 a 22 estados. Os valores, que eram destinados aos prêmios passaram a ser distribuídos em forma de ajuda de custo aos selecionados. O Sesc fornecia hospedagem e alimentação aos músicos. C

[NÚMERO DE CANÇÕES INSCRITAS]

1988

280

2004

358

1989

237

2005

356

1990

256

2006

319

1991

195

2007

308

1992

160

2008

464

1993

346

2009

680

1995

325

2010

913

1996

449

2011

800

1997

482

2012

1.014

1998

467

2013

778

1999

523

2014

855

2000

572

2015

915

2001

707

2016

1.131

2002

500

2017

1.772

2003

550

2018

1.398

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[FEMUCIC]

[UMA FESTA DA CIDADE] Nas duas primeiras décadas, o Femucic foi realizado no mês de setembro, chegando a acontecer em outubro e novembro. Até que em 1994 foi adiado, justamente por problemas com a data. A partir de 1995, passou a ocorrer no mês de maio, algumas vezes em junho, em comemoração ao aniversário de Maringá, celebrado em 10 de maio.

Em 2017, o Femucic segue como mostra. No palco, Grupo Chão de Areia, de Tramandaí (RS)

No modelo de mostra, até hoje praticado, o artista se inscreve, envia seu material, e fica na expectativa de ser classificado para as noites de apresentação. Todavia, por algum tempo o Femucic guardou características de competição: os músicos se esmeravam na qualidade da apresentação para garantir participação no CD e, um pouco mais tarde, no DVD. Posteriormente, esse acervo começou a ser disponibilizado pela internet.

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Gravino ainda destaca a assertividade em expandir o festival à formação musical. “Hoje, a melhor coisa que vejo do Femucic é o investimento na educação, nas crianças, nos corais, nos novos músicos. Como o Femucic nas Escolas, em que os músicos levam seus repertórios aos colégios e os alunos conhecem os instrumentos”. C

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[40 ANOS]

A PLURALIDADE MUSICAL

A

nova proposta sem competição trouxe diferentes ritmos a um palco aberto à diversidade. Toda a pluralidade musical brasileira passou a transitar pelo Femucic e o público teve acesso à produção não comercial de qualidade. As portas abriram-se ao rock, ao sertanejo de raiz, à música folclórica e ao fandango. Vieram sergipanos, alagoanos, amapaenses, paraibanos, cearenses e gaúchos. “Forjamos um público que entendeu mais da musicalidade brasileira e se tornou receptivo. Com a mostra, o público acostumado a ter resultados no festival, passou a conviver com

a diversidade musical brasileira e se tornou receptivo O aplauso caloroso da plateia e a acolhida aos músicos em agradecimento pela oportunidade de ouvir aquelas canções”, pondera Vieira, Além do festival, o fluxo de músicos no Femucic também alimenta um intercâmbio em que profissionais de outras localidades tornam-se conhecidos na cidade e se apresentam em seu circuito noturno. Houve um tempo em que um dos bares locais com música ao vivo mantinha um apartamento para abrigar esses músicos em suas curtas temporadas por Maringá. C

A diversidade musical dividia o público em torcidas. No registro, a competição de 1985

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[FEMUCIC]

CELEBRIDADES

A

o longo dos anos, o Femucic recebeu artistas consagrados nacionalmente, que ajudaram a compor o corpo de jurados ou apresentaram shows nas noites do Festival.

Grande público assiste às celebridades e aguarda pela premiação

Sediada em Maringá, a Banda Metrópole by Poppi, do músico e produtor Sérgio Poppi, apresenta-se em eventos, pré-shows, bailes de formatura, aniversários e feiras agropecuárias pela região Sul. Em 1981, com sua formação precursora, o Grupo Musical Nova América integrava o Femucic, ao servir de banda de apoio por 25 anos. Era de sua responsabilidade acompanhar os artistas selecionados, criar arranjos, executar a abertura, realizar a sonorização e a iluminação. O professor de música, compositor e apresentador de um programa musical regional na TV, Lydio Roberto esteve em várias edições. Ganhador de diversos prêmios, em 1982 apresentou sua canção Festival, que por muitos anos foi tema de abertura do Femucic.

A secretária de Cultura de Maringá, Marilin Cordeiro Tupã, entrega a premiação, em 1982.

O grupo Gralha Azul também participou do Femucic, em 1982 e 1983. Surgido em Paranavaí, no contexto dos festivais do Norte do Paraná. Dorival Torrente, um dos fundadores, conta que o grupo foi criado em 1977, coincidentemente data de sua primeira participação e surgimento do então FemuSesc. Suas canções foram premiadas nas três primeiras edições. No aniversário de 40 anos eles voltaram ao palco com as antigas canções regionais e composições que integram o novo CD, gravado de forma independente. “Nos 20 anos de Femucic, fomos convidados especiais. É muito gratificante participar novamente, após quatro décadas, representando a música regional paranaense”, comenta Torrente. O grupo inicialmente era composto por Torrente, Paulinho, Preto, Valésio e Juca. Com a morte de Valésio, outros dois membros

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[40 ANOS]

A imprensa registrava desde as primeiras edições

ingressaram no grupo, Josias e Ricardo. Participantes de diversas edições e de muitos eventos musicais do Sesc – incluindo em Curitiba e no Sesc Caiobá –, o grupo apresentava-se em São Paulo, no Som Brasil, da Rede Globo, com apresentação de Rolando Boldrin. “Constantemente recebemos jovens acadêmicos para entrevistas, interessados na longevidade e na tradição do Gralha Azul”, comenta o músico. Ao se aproximar da primeira década do Femucic, a organização sentiu a necessidade de expansão do festival. Durante oito anos foram trazidas atrações nacionais no encerramento de cada noite. Eram cobrados valores de ingressos facilitados para que fossem cobertas as despesas com os shows. Subiram ao palco Toquinho, Moraes Moreira, MPB 4, Adriana Calcanhoto, Ivan Lins, Eduardo

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Dusek, entre outros. A estratégia era um atrativo ao público que ainda não conhecia o Femucic, uma estratégia para disseminar o festival. Em 1985, a atração foi o carioca Carlos Lyra, veterano dos festivais e do circuito universitário. Em 1987, César Camargo Mariano comandou o júri e, depois das apresentações, somente em meio à equipe de trabalho, sentou-se ao piano, entregando-se a um recital somente para “os de casa”. Em 1988, foi a vez de Cida Moreira, João Bosco e Belchior, que também faziam o circuito universitário naquela época. Em 1989, Alceu Valença só subiu ao palco com seu frevo quando lhe foi providenciado um guarda-chuva – conseguido com muito custo em uma noite sem chuva, e jogado à plateia tão logo o artista dançou os primeiros passos no Ginásio Chico Neto. C

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[FEMUCIC]

ARTISTA-EDUCADOR

O

A plateia esperava atenta pela premiação

Entre os prêmios, os músicos eram presenteados com instrumentos. À direita, Luiza Elisabeth Basaglia, uma das idealizadoras do Femucic

Femucic é marcante na trajetória de personalidades de outros pontos do mapa, alguns muito distantes. É o caso de Alemberg Quindins, que veio do sertão do Cariri para a edição de 1991, na época em que o festival maringaense esteve dividido nas modalidades MPB e Instrumental. Ele e sua esposa Rosiane Limaverde (19642017), ambos músicos experimentais, arqueólogos e pesquisadores da cultura popular, apresentaram Junto das Pedras: A Lenda do Reino Subterrâneo. Lançaram mão de instrumentos originais criados por eles mesmos: cabaças com cordas de viola ou lâminas de aço acrescentadas, potes de barro e mesmo pedras de formação cretácea. A voz de Rosiane servira de instrumento musical, impostando textos no idioma Cariri. O casal conquistou os prêmios de melhor música instrumental e melhor arranjo, somando Cr$700.000 (setecentos mil cruzeiros – uma bela cifra para a época). Com o prêmio, puderam iniciar a Fundação Casa Grande – Memorial do Homem Kariri, um multifacetado centro cultural direcionado primeiramente às crianças, na cidade de Nova Olinda, no sertão do Ceará. Ali fizeram a memória do Vale do Cariri, congregando arqueologia, mitologia, artes e comunicação, mantendo-se um canal de TV, emissora de rádio, editora de quadrinhos, além de um acervo de mais de 2.500 gibis e mais de 1.500 clássicos do cinema. Em 2016 o artista-educador Alemberg esteve no Sesc Caiobá, no litoral paranaense, fazendo a abertura do Vivência Autoral - principal evento da área de Educação do Sesc PR, um encontro anual que reúne 300 profissionais. Na palestra magna, Alemberg abordou o protagonismo social e a inovação relatando a experiência de sucesso da Fundação Casa Grande. No dia seguinte, no Sesc da Esquina, em Curitiba, replicou a palestra.

Alemberg Quindins, durante palestra no projeto Vivência Autoral

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Essa diversidade toda se encarna em Geraldinho do Cavaco, que não é só do choro, pois também toca sambas, boleros e valsas. E ainda é o músico com mais gravações nos discos do festival. Juliano Bitencort, seu filho, dará sequência à carreira do pai. Também compositor e cavaquinhista, apresenta uma diferença nas afinações. Para o pai, Mi, Si, Sol e Ré (reproduzindo as quatro primeiras cordas do violão, em sua afinação mais comum), enquanto para o filho é Ré, Si, Sol e Ré, na afinação mais comum para os cavaquinhos. Juliano já tocou com grandes nomes de destaque nacional, como Almir Guineto. Nascido em Rancharia, no estado de São Paulo, Geraldinho despertou para a música quando morava em Santos. Na época,

interrompia partidas de bolinha de gude para ouvir com mais atenção, em algum rádio da vizinhança, Jacob do Bandolim (1918-1969) que, coincidentemente, também tinha o mesmo sobrenome Bittencourt, embora com outra grafia. Ele aprendeu a tocar em um velho cavaquinho que a família adquiriu com o dinheiro conseguido na colheita de algodão. Também é grande admirador de Waldir Azevedo (1923-1980), outro nome imortal do choro e referência obrigatória entre os cavaquinhistas. Em Maringá, Geraldinho do Cavaco é marco fundamental quando se fala em música instrumental. É muito grato ao Femucic, que lhe deu o devido destaque e proporcionou registros da sua obra.

[A MÚSICA SEGUNDO OS MÚSICOS] Outro destaque, moderna referência entre os instrumentistas de Maringá, é Ricardo Agostini, que integra, inclusive, a equipe de orientadores de atividades do Centro de Difusão Musical do Sesc (CDM). Ricardo também leciona música no Centro Universitário de Maringá (UniCesumar) e frequenta as rodas de bamba da cidade. Tocou seu violão de sete cordas e seu bandolim ao lado de Geraldinho do Cavaco, Juliano Bitencort, Helington Lopes e Miguel Perez, entre muitos outros. Apresentou-se em espetáculos produzidos por Ronaldo Gravino; e foi homenageado por Juliano Bitencort com a música Choro pro Rica.

Oficina no CDM

Atualmente, Ricardo Agostini está em uma empreitada a quatro mãos com o também instrumentista e procurador público Joaquim Mariano, que promove rodas de choro em sua casa. A dupla de músicos e pesquisadores está levantando a história do chorinho em Maringá para um livro acompanhado de CD, tendo Geraldinho do Cavaco como fio condutor. Ricardo Agostini desenvolve formação musical no CDM

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[FEMUCIC]

O secretário municipal de Cultura, Miguel Perez, natural de Maringá, é músico, toca violão e guitarra. Sua formação passa pelo Femucic, por ser um frequentador do festival desde 1999. Ele sustenta que o Femucic está enraizado na identidade de Maringá e do maringaense. O que garante sua tradição. “O Femucic é um divisor de águas. Apesar de Maringá ser chamada de Cidade Canção, até o momento em que nasceu o FemuSesc não tivemos uma mostra ou festival que reunisse a produção local. Mesmo havendo registro de bandas e duplas caipiras desde a década de 1940”, ponderou. A presença do gênero sertanejo se deve pelo fato de Maringá ser um ponto estratégico, por onde circulavam muitos circos, em que as aberturas de shows eram realizadas por duplas caipiras. Além de trabalhar há anos com cultura e ter assumido um posto de gestor público na área, Perez é um pesquisador, tendo publicado, em coautoria, um livro sobre a história do circo no Paraná. Estudioso da cultura maringaense, ele conta que em 1951 foi inaugurada a Rádio Cultura de Maringá, produzindo cultura local e mantendo programas em um auditório com capacidade para cerca de 300 pessoas. “Há fotos de duplas sertanejas com o auditório completamente abarrotado. Quem estuda história do rádio sabe que esses shows eram ao vivo”, conta. Daquele momento até a década de 1960 não houve nenhum grande movimento musical, embora em 1958 a cidade tenha sediado o primeiro Festival de Cinema Nacional de Maringá, com uma década de edições. “O cinema é intimamente ligado à música. Teria lastro para se desdobrar em um festival de música que não aconteceu”, comenta. Nos anos 1960, o fomento foi para outras linguagens artísticas. Deixada de lado, a música foi se constituindo espontaneamente e na década de 1970 já havia uma efervescência de bandas, muitas delas ligadas ao rock, inspiradas no movimento da Jovem Guarda. José Gonçalves de Brito animava bailes com a primeira guitarra elétrica de Maringá em seu grupo Britinho e seus Cometas.

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O diretor regional do Sesc PR, Emerson Sextos, e o secretário de Cultura de Maringá, Miguel Perez, durante homenagem aos 40 anos do Femucic

Foi quando o FemuSesc entrou em cena que Maringá passou a ser de fato uma Cidade Canção. “Antes desse momento não havia uma ação institucionalizada para reconhecer essa condição. É o Femucic que fez Maringá voltar a respirar esse conceito musical, sem tirar o mérito de outras ações já realizadas no município”, ponderou o secretário. Ele destaca os desdobramentos do festival organizados pelo Sesc, como o Femucic na Praça, que oferece apresentações a céu aberto

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[40 ANOS]

à população, e o Femucic Rock, com noites dedicadas ao gênero já no primeiro ano em que o Femucic foi realizado no Ginásio Chico Neto. O gerente executivo do Sesc Maringá, Antônio Vieira, recorda que em 1993, primeiro ano em que o Femucic passou a ser mostra musical, a programação era dividida em quatro noites. Uma delas somente para rock, outra para música sertaneja raiz e duas noites para música instrumental e MPB, no Cineteatro Plaza. Na mesma década, em parceria com a Rede Globo, foi realizado o Rock na Praça,

com apresentações de bandas em diversos pontos da cidade, às tardes de domingos. Perez considera o Femucic o maior exemplo de ação artística e cultural de Maringá. “Sob o ponto de vista da gestão pública, considero o festival um instrumento de fruição, circulação e intercâmbio.” Sobre os caminhos futuros do festival ele acrescenta: “hoje o que temos é uma perspectiva de profissionalização, de mercado em parceria com as políticas públicas da cidade”. C

Para o secretário de Cultura, o Femucic é um exemplo de ação artística e cultural. Na foto, uma imagem da década de 1980

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[FEMUCIC]

ICONOGRAFIA

E

m 1977, foi elaborado um cartaz para o FemuSesc com um violão pairando no espaço ou no céu, tendo em seu bojo uma Clave de Sol, composta com raios solares onde se banha uma mão em gesto de louvor. Já em 1978, para o primeiro Femucic, o cartaz trazia a imagem que se tornou a marca do Festival, passando por releituras ao longo dos anos. A arte consiste em um pássaro sobre a mão de um violão, segurando uma nota musical com o bico, inspirado nos elementos do cartaz do Festival de Woodstock (1969).

retornou ao tradicional pássaro sobre o violão. Em 1988, quando o Festival se dividiu em duas modalidades – MPB e instrumental –, o cartaz estampou a partitura da canção Maringá, de Joubert de Carvalho, enquanto o cartaz de 1989 trouxe o formato de um envelope de correspondência, com um trecho de partitura à esquerda e ao alto. Como selo, o pássaro empoleirado no violão.

Não há registro histórico do motivo, mas em 1983 o cartaz do Femucic saiu do padrão reproduzido anualmente. O novo design trazia a imagem de um trompete. Todavia, em 1984

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[40 ANOS]

Novamente como selo, mas muito discreto, o pássaro sobre o violão figura no cartaz de 1990, que destaca um teclado de piano incrustrado com ramos de árvore. O pássaro volta ao destaque em 1991, e, deste ano até 2004, o cartaz do Festival foi sendo recriado a cada edição com variações do tema, algumas vezes com notas musicais soltas ou em uma partitura. Em 2005, um novo padrão: a ave sobre o violão figurou em meio a uma profusão de fotografias de artistas se apresentando. Seguindo as variações do tema, de 2006 a 2013, a arte do cartaz foi realizada com uma

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imagem especialmente produzida pelo artista plástico paranaense Rogério Dias, conhecido por ter nos pássaros um tema obsessivo de sua obra. De 2014 a 2016, com um novo enquadramento, o cartaz do Femucic trouxe essa imagem de Rogério Dias. Em 2017, o violão foi deslocado para segundo plano, figurando entre outros instrumentos nas mãos de músicos, enquanto o pássaro ficou em destaque, repousando sobre um ramo de café. Em 2018, na quadragésima edição, o violão foi abolido. Na nova identidade, dois pássaros canoros fazem a guarda do dístico Femucic 40 Anos. C

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[FEMUCIC]

GRAVAÇÕES

C

1990, foram os long plays – elepês ou LPs, como são comumente chamados. De 1996 a 2010 foram gravados os CDs – ao quais se superpuseram os DVDs a partir de 2008. Com isso, somam-se 4 LPs, 17 CDs e 4 DVDs.

No fim da década de 1980 e começo dos anos

Os registros não se resumem às mídias físicas, pois, de 2010 a 2013, os vídeos das apresentações ficaram disponíveis em plataformas digitais, no site www.sescpr. com.br/femucic. Desde 2014 todas as apresentações ficam registradas e disponíveis nas plataformas digitais, como Facebook e Youtube. C

om seus programas sociais nas áreas de Educação e Cultura, o Sesc se caracteriza como instituição social que realiza ações diretamente para o público, não se constituindo como editora ou gravadora. Assim, a organização do Femucic esteve mais direcionada para a realização do Festival e ao fomento da produção musical do que para seu registro. Ainda assim há material fonográfico e/ou audiovisual de mais da metade destas quatro décadas de história do Festival de Música Cidade Canção.

[ REGISTROS FEMUCIC ]

1987 e 1989-1991

LP

1996-2007 e 2009

CD

2008 2010-2012 2013

36        REVISTA FEMUCIC 40 ANOS

CD E DVD CD, DVD

e disponibilização de vídeos em www.sescpr.com.br/femucic Disponibilização de vídeos em www.sescpr.com.br/femucic

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[40 ANOS]

SESC MARINGÁ, UM DIFUSOR DA MÚSICA PROJETOS PARALELOS AO FEMUCIC TRAZEM MUSICALIDADE DURANTE OS 365 DIAS DO ANO

Femucic na Praça demonstra a expansão do festival além do palco

O

Sesc instalou-se em Maringá quando o município ainda não contava dez anos de emancipação, oferecendo seus serviços nas diversas áreas de atuação, como segue fazendo até hoje. Entretanto, a Cidade Canção e a Unidade de Maringá tinham um encontro marcado com a música. Essa vocação se evidenciou com o surgimento do FemuSesc, logo ampliado como Femucic, que permanece em constante desenvolvimento durante sua longevidade, desdobrando-se em projetos paralelos.

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Com o surgimento do Femucic nas Escolas, em 2008, artistas passaram a ser levados a colégios de educação básica, estabelecendo um contato direto de crianças e adolescentes com a musicalidade e a apresentação de instrumentos. E, posteriormente a criação do Centro de Difusão Musical (CDM) em 2011, que mantém ações sistemáticas na Unidade Sesc. Durante várias edições, o Femucic na Praça permitiu que a população tivesse um encontro com a boa música em espaços ao ar livre.

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[FEMUCIC]

ANO

[NÚMERO DE NOITES DE APRESENTAÇÕES]

1978 – 1979

2

1980 – 1992

3

1993

4

1994

NÃO FOI REALIZADO

1995

4

1996 – 2000

3

2001 – 2003

4

2004

5

2005 – 2014

4

2015 – 2017

2

2018

3

A iniciativa alcançou uma abrangência de público, principalmente aquele que não se desloca ao Teatro Calil Haddad para as noites de apresentação. Em 2018, esta experiência foi reeditada com o 1º Encontro de Bateristas de Maringá, realizado no dia 16 de junho, na Praça Napoleão Moreira da Silva, reunindo 40 instrumentistas. No ano de comemoração de quatro décadas, as ações musicais estenderam-se por uma semana em Maringá. De segunda a sábado, a programação abrangeu o Femucic nas Escolas; Femucic nas Empresas (semelhante ao Femucic

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nas Escolas, mas direcionado para corporações fidelizadas no Comércio em Movimento, que é mais um programa social de educação do Sesc Paraná; Oficinas Musicais, realizadas na Unidade Sesc; Shows Abertos, com grupos das oficinas e do Centro de Difusão Musical (CDM), realizados em praças da cidade; Caminhada Cultural, que culminou com o Encontro de Bateristas, saindo da Unidade e concentrandose na praça Raposo Tavares; Sons da Cidade, apresentando a produção das oficinas e do CDM no teatro Calil Haddad; e Mostra Femucic, no Calil Haddad, com a apresentação oficial das músicas selecionadas na edição. C

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[40 ANOS]

CENTRO DE DIFUSÃO MUSICAL

C

om a maturidade conquistada, o Femucic hoje oferece aos seus variados públicos uma rica diversidade sonora. Para garantir sua perenidade e incentivar a musicalidade desde a juventude, o Centro de Difusão Musical (CDM) vem cumprindo sua missão social na educação direcionada à formação musical. Fundado em 2011, realiza um trabalho sistemático, continuado e sólido àqueles que não teriam acesso a um conservatório ou como adquirir um instrumento, principalmente os

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que têm custo muito alto. Oferece, portanto, educação musical completa, teórica e prática, em diferentes vivências: teoria e apreciação musical, canto coral e instrumentalização. O CDM conta com duas modalidades de aprendizagem: Curso e Coro. A primeira é composta das etapas de Educação Musical e Prática Musical, com duração de dois anos, podendo se estender por mais dois para prática aprofundada em conjunto e orquestra. E a segunda, o Coro Infantojuvenil, que atende a crianças da rede municipal de ensino.

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[FEMUCIC]

[CENTRO DE DIFUSÃO MUSICAL – CDM] ALUNOS MATRICULADOS

2012 112

2013 314

2014 383

2015 271

O CDM integra o Programa de Comprometimento e Gratuidade (PCG) do Sesc Paraná, que proporciona educação para o público de baixa renda: trabalhadores do comércio, seus dependentes e estudantes da Educação Básica na rede pública de ensino, com renda familiar de até três salários mínimos, piso nacional. A parceria musical do Sesc com as escolas vem de 2009, mas a proximidade se tornou maior e mais sólida com a criação do CDM. Um exemplo dos resultados é o caso de Giulia Vitória Proença Felix, que despertou o interesse para o violoncelo durante as aulas. Giulia iniciou na viola clássica e passou por

2016 283

2017 313

2018 413

outros instrumentos até se fixar no violoncelo. Com ele, chegou à Orquestra Filarmônica Unicesumar (Ofuc). O assistente de regência dessa orquestra é o técnico do Sesc Maringá responsável pelo CDM, Érico Bondezan. Pianista e trombonista, é graduado em Regência e Coral, e regente de orquestra e coro da Igreja Assembleia de Deus. Conforme Bondezan, o CDM trouxe densidade ao trabalho com música realizado pelo Sesc Maringá. “Até então, havia uma sensação de vazio ao fim de cada edição do Femucic. O Centro de Difusão Musical trouxe continuidade para as ações, formando uma nova geração,

O orientador de atividades, Ricardo Agostini, com os alunos do CDM na abertura do Femucic

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enquanto as oficinas, realizadas dentro da programação do Festival, despertam um novo interesse em participar pelo Femucic. Com a variedade apresentada, eles também percebem que não se trata de um evento apenas de música regional, o que estimula novas composições”, analisa o regente. “A criação do CDM criou bases sólidas de um trabalho musical permanente que devíamos para a comunidade desde 1977. Diria que fechamos um ciclo de expectativas ao cumprirmos com a missão de imprimir o caráter pedagógico e educativo da música nas mentes e corações dessas crianças”, avalia o gerente Antônio Vieira. A iniciativa deu origem a uma roda de choro, que se reunia toda sexta-feira, no saguão de entrada da Unidade. Essa união resultou na abertura de caminhos para o grupo se apresentar em outros espaços da cidade. A participação dos alunos CDM no Femucic os aproxima de músicos veteranos, permite o intercâmbio, e segue ecoando depois do festival, pois o repertório da mostra torna-se tema de estudo nas turmas do Sesc Maringá.

Entre os instrumentistas do CDM, Bondezan rege a violonista clássica Rhabechy Jhennifer Gomes Santos, e os violoncelistas Wesley Simões de Rossi e Saulo Fernandes Demchuski Generoso, que já conquistou reconhecimento no cenário musical de Maringá, e hoje está inserido no circuito dos profissionais que tocam em casamentos e em outros eventos. Já a jovem Rhayane Teixeira Martins optou pela viola caipira. Entre tantos clássicos que interpreta, um deles é Cuitelinho, tema tradicional folclórico, recolhido por Paulo Vanzolini. Estudante de Filosofia na UEM, a ex-aluna do CDM mantém o vínculo com a Unidade. Ela reencontra frequentemente seus antigos professores, como Ricardo Agostini, que a acompanhava com o violão sete cordas, e faz novas amizades com os atuais alunos. Esses desdobramentos ocorrem porque o compromisso do CDM não é somente ensinar música como profissão e sim proporcionar educação musical aprofundada, compondo o repertório cultural e vivencial dos alunos. Trata-se de formação não só de profissionais, mas sim de pessoas, que seguem caminho com a música em si. C

O CDM incentiva a musicalidade em Maringá durante todo o ano. Na imagem, oficina de música na semana do Femucic

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FEMUCIC NAS ESCOLAS

A compositora e cantora Flávia Saoli participou do Femucic nas Escolas, na edição 40

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Femucic nas Escolas surgiu sob o pensamento de aproximar as crianças e jovens da música de qualidade. Anualmente, músicos que se apresentam nas noites do Femucic vão até colégios da rede pública de ensino para tocar suas canções e conversar com os alunos sobre música e instrumentos. “Pela manifestação positiva das crianças, percebemos o quanto esses músicos são importantes para elas. Eles sentem o carinho, abraçam, dão autógrafos”, conta o gerente executivo do Sesc Maringá. Essa pode ser considerada também uma iniciação musical. Para Sueli Rocha Tavares, diretora da Escola Municipal Odete Ribarolli Castro, o acesso à cultura é importante dentro da escola. “Precisamos integrá-la sempre em nossas atividades. Trazer o Femucic para

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dentro das escolas incentiva a participação das crianças, vemos a troca deles com os músicos. Ao completar 40 anos, o Femucic faz parte da história de Maringá, da música nacional. Quantos cantores maringaenses já passaram pelas escolas de Maringá, e quantos músicos podem sair dessas escolas? Quem sabe teremos novos músicos incentivados por essa iniciativa? Pois acredito que ela interfira na educação e no processo de formação do indivíduo”, diz. A diretora comenta que o ritmo contribui para a alfabetização da criança, o desenvolvimento da linguagem, tanto escrita quanto falada. “Vemos a alegria das crianças e dos professores que se contagiaram com a música. É uma situação que fica marcada na vida dos alunos”. C

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Valdecir Toigo, gerente do supermercado Muffato

FEMUCIC NAS EMPRESAS

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ara estreitar os laços com o público do comércio, o Femucic nas Empresas se desloca até os estabelecimentos comerciais para levar musicalidade e proporcionar momentos culturais de maneira bem descontraída. Essa é uma maneira de devolver ao empresário, por meio de seu grupo de colaboradores, a contribuição concedida ao Sesc.

Para a diretora da Escola Municipal Odete Ribarolli Castro, Sueli Rocha Tavares, o acesso à cultura é importante dentro da escola

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Valdecir Toigo, gerente do supermercado Muffato, agradece pela parceria firmada há anos. “É gratificante para nossa equipe, porque o Femucic nas Empresas traz muita alegria e motivação. É um dia diferenciado para nossos colaboradores. Quando eles retornam aos seus setores percebemos que estão mais alegres, e isso é transmitido para os clientes. Então, todos ganham: a cultura, o estabelecimento e nossa clientela”, pondera. C

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[FEMUCIC]

40 ANOS DE FESTIVAL CIDADE CANÇÃO RESPIRA MÚSICA DURANTE O FESTIVAL MUSICAL MAIS ANTIGO DO PAÍS

Coral das crianças de escolas públicas com a orquestra do CDM realizam a abertura da 40ª edição do Femucic

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m dos festivais de música mais antigos do país completou 40 anos em 2018, com programação alusiva aos principais momentos de sua trajetória. Participantes de outras edições foram convidados a participar novamente e celebrar no palco do Teatro Calil Haddad, na semana de 11 a 16 de junho. Além dos veteranos o público contou também com a apresentação dos músicos selecionados. Somente em 2018, 127 músicos da região participaram das oficinas no Sesc Maringá, e apresentaram os resultados de ensaios na primeira noite do Femucic, no dia 14 de junho. O espetáculo Sons da Cidade trouxe Edu Ribeiro, Nelson Faria e professores do Centro de Difusão Musical. Também subiram ao palco Geraldinho do Cavaco, figura emblemática do Femucic; e o Grupo Corda Crua, que encerrou a noite. HOMENAGENS Personalidades foram homenageadas nesta edição ao receberem o título de Mérito Comunitário, proposto pelos vereadores Carlos Emar Mariucci e Mario Verri. O gerente executivo do Sesc Maringá, Antônio Vieira, foi um dos homenageados, por coordenar e incentivar as atividades musicais desde a década de 1980.

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Ao receber a honraria de Mérito Comunitário, o diretor regional do Sesc Paraná, Emerson Sextos destacou: “O Femucic é uma oportunidade de os músicos disseminarem suas produções. A edição que celebra seus 40 anos contou com 1.395 canções inscritas, 30 escolhidas, 13 delas de edições anteriores. Uma maneira de homenagear quem fez parte dessa história e rememorar os melhores momentos”. Ele também destacou a importância das parcerias com a Prefeitura de Maringá e RPC, entregando a eles um troféu comemorativo. O gerente regional de Comunicação da RPC, Edwaldo Formentão Junior, relembrou edições anteriores e agradeceu ao Sesc PR. “Somos apoiadores desde o início dessa história, e nosso papel é dar continuidade para que Maringá consiga manter um festival dessa dimensão, o mais antigo do país”, destacou Formentão. Por fim, o secretário municipal de Cultura de Maringá, Miguel Perez, falou sobre a transformação da sociedade por meio da arte e da cultura. Músicos também foram agraciados, como Geraldinho do Cavaco, ícone da música instrumental de Maringá e participante com mais canções gravadas em CD e DVD; Ronaldo Gravino, participante, incentivador e colaborador do Femucic; Rubens Neves, o Boi,

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primeiro maringaense a vencer o Femucic, em 1981; e Helington Lopes, criador do Grupo Receita do Samba, que contribuiu para a disseminação do Festival. Também foram homenageados Frambel Carvalho, autor da música vencedora do então FemuSesc, em 1977 – primeiro e único ano em que o projeto teve esse nome –; e Dina Dollis, que contribuiu para a divulgação do Festival, foi intérprete, apresentadora, e membro da Comissão Organizadora do Femucic, pela Secretaria de Cultura de Maringá. APRESENTAÇÕES O teatro lotou nas noites de apresentação. A abertura ficou por conta das crianças de quatro escolas municipais e alunos do Centro de Difusão Musical, que interpretaram trechos de canções que foram tema em outras edições. O grande público assistiu ao repertório que contou com vozes femininas, diversos gêneros musicais, músicos que se apresentaram há 30 anos no Femucic, e músicas instrumentais. No encerramento, a plateia assistiu ao show de Ellén Oléria, vencedora da primeira edição do programa The Voice Brasil, da Rede Gobo, aplaudida de pé, por sua impecável apresentação e afinação musical.

Após participar em 2008, Elen Oléria volta aos palcos do Femucic, no show de 40 anos

FEMUCIC NA CIDADE Alunos de dez colégios da rede pública de Maringá receberam os músicos participantes do Femucic nas Escolas, alcançando um público de 1.732 crianças. Já o Femucic nas Empresas levou música a nove estabelecimentos fidelizados ao Comércio em Movimento, com um público de 1.090 comerciários.

Caminhada musical leva o Femucic às ruas de Maringá

A Caminhada Musical, com saída em frente ao Sesc Maringá, reuniu músicos e estudantes, e culminou no primeiro encontro de bateristas. C

Primeiro encontro de baterias, em 2018

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