FEC - Percurso para a Quaresma 2012

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Quaresma 2012

EIS O TEMPO FAVORÁVEL

Crédito da Foto: Luís Milteu ao serviço da Fundação Gonçalo da Silveira

8 PASSOS NO CAMINHO DO DESENVOLVIMENTO

FEC Fé e Cooperação

Fundação


ENQUADRAMENTO


ENQUADRAMENTO Tempo de Transformações através de Olhares Cruzados

Quaresma significa caminho de transformação, preparando a Páscoa, que significa passagem da morte à vida, da escravidão à liberdade. Viver a Quaresma e celebrar a Páscoa pretende ser e deve ser uma experiência de transformação que implica os cristãos na construção do Reino. Nesta Quaresma, a FEC (Fundação Fé e Cooperação, ONGD da Conferência Episcopal Portuguesa) volta a propor que este percurso de fé seja transposto para o Desenvolvimento. Porque, na realidade, os dois percursos não devem ser distintos, devem estar entrelaçados e alimentarem-se mutuamente. O desenvolvimento é a passagem de condições menos humanas a condições mais humanas (Encíclica Populorum Progressio).

Para além da sua acção na área da Cooperação para o Desenvolvimento, a FEC – Fundação Fé e Cooperação, deseja promover espaços de reflexão sobre o desenvolvimento humano e sustentável e promoção da justiça global. Através da Rede Fé e Desenvolvimento, pretende promover este processo no seio da própria Igreja, repensando-se a si própria em diálogo com a sociedade. O que se propõe

Mais do que sugerir propostas de acção para esta Quaresma, quisemos catalisar um tempo de reflexão forte na vida de cada um e na vida em sociedade, neste momento difícil que atravessamos. As bases de partida para esta reflexão são as leituras próprias da liturgia de Quaresma e Páscoa, sobre as quais apresentamos diferentes meditações a partir de diferentes perspectivas – Olhares Cruzados diante da Cruz e da Ressurreição.

Trata-se de um percurso em oito etapas - 4ª feira de cinzas, seis domingos da Quaresma e domingo de Páscoa. Para cada etapa sugere-se uma dimensão do Desenvolvimento e um olhar a partir de um sector concreto da sociedade, fazendo reflexo da própria Encíclica Caridade na Verdade, em que o Papa Bento XVI aborda a crise actual e o Desenvolvimento Humano Integral complementando estas diferentes perspectivas.

Tivemos o privilégio e a oportunidade de cruzar a riqueza de diversos olhares e experiências de diferentes personalidades da sociedade portuguesa e também desde a Guiné-Bissau e Angola, países em que a FEC trabalha, que se enquadram de seguida de forma sistematizada:

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ENQUADRAMENTO ETAPA

UM OLHAR A PARTIR DA(S)...

CHAVE DE LEITURA

REFLEXÃO

22 Fevereiro 4ª Feira de Cinzas

DESENVOLVIMENTO QUE PROMOVE O BEM COMUM

IGREJA

D. José Policarpo, Cardeal Patriarca de Lisboa, Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa e do Conselho de Fundadores da FEC

26 Fevereiro I Domingo da Quaresma

DESENVOLVIMENTO PELA RESPONSABILIDADE

EMPRESAS

Pedro Rocha e Melo, Vice – Presidente da Brisa, membro da ACEGE

4 Março II Domingo da Quaresma

DESENVOLVIMENTO COMO ABERTURA

CULTURA

José Tolentino Mendonça, Sacerdote, Poeta, Responsável pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura

11 Março III Domingo da Quaresma

POR UM DESENVOLVIMENTO MAIS JUSTO

UNIVERSIDADE

Américo Mendes, Professor Associado da Faculdade de Economia e Gestão da UCP do Porto, área da Economia Social Maria Raquel Freire, Professora de Política Internacional da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra

18 Março IV Domingo da Quaresma

DESENVOLVIMENTO HUMANO INTEGRAL

ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL

Irmã Marlene Wildner, Directora da Caritas Angola Nuno Macedo, Coordenador FEC Angola

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ENQUADRAMENTO 25 Março V Domingo da Quaresma

DESENVOLVIMENTO COMO UM DOM

1 Abril Domingo de Ramos

DESENVOLVIMENTO PELA COERÊNCIA

COMUNICAÇÃO SOCIAL

António Marujo, Jornalista Manuel Augusto Ferreira, mccj, Missionário Comboniano e Director da Revista Além-Mar

POLÍTICA E SERVIÇO PÚBLICO

Guilherme d’Oliveira Martins, Presidente do Tribunal de Contas Assunção Cristas, Ministra da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território

8 Abril Domingo da Ressurreição

DESENVOLVIMENTO COMO PASSAGEM

IGREJA

José Frazão sj, Faculdade de Filosofia da UCP em Braga Irmã Esperanza Ospina, Guiné Bissau RITA CORTEZ, aci, Escrava do Sagrado Coração de Jesus, Projecto Tasse.

O percurso termina com uma proposta para um maior aprofundamento interior do Desenvolvimento à Luz Pascal. Tratase uma conferência da Irmã Rita Cortez aci, por ocasião da celebração da sua Congregação (Escravas do Sagrado Coração de Jesus) em Portugal, em Fevereiro de 2011 - “Entre a Beleza do Mundo e o Espanto do Céu – o Evangelho da Justiça e a Inserção Social”. Uma leitura muito interpeladora.

O desafio que se deixa é o de juntar a este conjunto de reflexões o nosso próprio exercício, a partir da nossa realidade, com as nossas inquietações, nesta procura de como ser sal da terra que nos toca viver, sal que transforma, que dá sabor e sentido.

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ENQUADRAMENTO Porquê propor este percurso? Algumas razões principais: 1/ Contextualizar o momento que vivemos na História da Salvação: A vivência da Páscoa remete-nos para a História da Humanidade que nos precede, História de tantas lutas, crises, epopeias e apogeus, História de Revelação de Deus através da fragilidade humana, libertando o Seu povo a caminho da Terra Prometida. É importante enxertarmos o momento que atravessamos nesta História, percebendo que estamos neste Caminho de Salvação, em que a Crise não tem a última palavra. É importante não absolutizarmos a “nossa crise”, tanto no Tempo, como no Espaço. Porque muitos outros já a sofreram e muitos outros a sofrem desde sempre, noutros pontos do Planeta. Que este percurso possa ser uma ajuda para nos situarmos na História que nos cabe viver e salvar, como portadores de Esperança e Transformação. 2/ Rezar o Desenvolvimento Humano Integral: Em tempo de falências várias dos sistemas financeiros, sociais, ambientais, urge considerar o sentido pleno do Desenvolvimento Humano Integral – de todas as Pessoas e da Pessoa no seu todo. Pode vir-nos a tentação de pensarmos a realidade do nosso País, ou até da nossa família e amigos, de forma desligada da realidade Global. Jesus pergunta na parábola do Bom Samaritano: quem é o teu próximo? Que este percurso nos ajude a compreender que a nossa casa é o Mundo e que o meu próximo é também o irmão caído longe. Ou, o que pode resultar igualmente difícil, o irmão caído que sou eu próprio(a), ou um outro da minha própria casa. 3/ Integrar Cristianismo e Cidadania: Muitas vezes pomos em gavetas separadas a nossa vida de fé e a nossa vida quotidiana de cidadãos, cada um com a sua marca própria de família, trabalho, amigos, interesses e responsabilidades. Mas ser Cristão é ser profundamente Cidadão, com um sentido forte de Missão na construção de sociedades justas e fraternas, em que todos tenham um lugar. Nos tempos difíceis que atravessamos, o tempo quaresmal pode ser ocasião de considerar com maior claridade a Paixão e Ressurreição de Cristo na nossa realidade, pessoal, local e global. Não como um filme a que assistimos, mas sim de forma profunda, com um olhar desde dentro, que nos implica. “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a Boa-Nova aos pobres; enviou-me a proclamar a libertação dos cativos e a vista aos cegos, a restituir a liberdade aos oprimidos e a proclamar o ano da graça do Senhor”. (Lc 4,18). Este é o caminho de desenvolvimento assumido e proposto por Jesus. Talvez a dificuldade dos dias que vivemos nos abram também a porta para experimentar pessoalmente esta passagem da Escritura. Como vivo eu este caminho? Quem são os pobres e cativos que me toca libertar? Que injustiças me cabem denunciar? Que injustiças me tocam viver e integrar? 4/ Alimentar uma acção cristã mais reflectida: Quaresma é tempo de jejum, penitência, oração. Passos que se podem

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ENQUADRAMENTO rapidamente quantificar em acções concretas. É-nos mais fácil deixar de comer chocolates ou dar esmolas, do que aceitar fazer o processo de reflexão sobre os nossos estilos de vida e as causas estruturais da pobreza e de situações de injustiça. O que é o verdadeiro jejum? A verdadeira penitência? Estas propostas concretas só fazem sentido como processo de transformação interior e de conversão, que levem a relações mais ordenadas e justas de cada um consigo próprio, com Deus, com os outros, com os bens e recursos. Propostas que levem a um sentido profundo da Partilha, do Bem Comum, do valor e dignidade da Pessoa, seja qual for a sua realidade, do valor da Criação. Propostas que levem a processos de mudança de atitudes e comportamentos, em procuras inquietas da justiça. 5/ Diferentes perspectivas sobre a realidade, diferentes olhares pascais sobre o Desenvolvimento: Vivemos tempos culturalmente individualistas e sectários, que potenciam a competição e o isolamento, mais do que a solidariedade e a abertura ao outro, a outras realidades. Por outro lado, a Cooperação e as Parcerias são temas muito caros ao Desenvolvimento, o qual só se realiza com a integração de diferentes dimensões, actores e sectores. De forma a ter diferentes perspectivas sobre a realidade que vivemos, e também diferentes olhares de Esperança, de Páscoa, convidámos diversas pessoas de diferentes contextos a contribuir com a sua reflexão crítica da realidade à luz das leituras que nos são propostas neste tempo litúrgico. Que o exercício que aceitaram fazer, cruzando a sua fé com a sua vida, inspire esse mesmo exercício em cada um de nós e das nossas comunidades.

A FEC agradece profundamente a todos os que aceitaram este desafio de partilhar o seu olhar sobre a realidade através de uma experiência cristã, procurando a Páscoa na sua Vida e no nosso tempo. Que esta “Parábola do Desenvolvimento”, a que todos somos chamados, ilumine esta Quaresma. 21 de Fevereiro de 2012

NOTA: Deixe a sua opinião / sugestão e peça mais informações e recursos para o endereço redefedesenvolvimento@fecongd.org

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PARTILHA 21 FEVEREIRO | QUARTA-FEIRA DE CINZAS


22 de Fevereiro | Quarta-feira de Cinzas

DESENVOLVIMENTO PELO BEM COMUM REFERÊNCIAS •

I Joel 2, 12-18

2 Cor 5, 20 - 6, 2

Mt 6, 1-6.16-18

REFLEXÃO MENSAGEM DE D. JOSÉ POLICARPO, CARDEAL-PATRIARCA DE LISBOA PRESIDENTE DA CEP E DO CONSELHO DE FUNDADORES DA FEC A Quaresma é o tempo litúrgico que nos convida a situar a nossa vida cristã no essencial da sua verdade: a de peregrinos do Céu, na humildade da nossa fragilidade e na coragem da nossa fidelidade. Experimentamos já uma realidade que ainda não possuímos completamente. O desejo da plenitude é o motor da nossa fidelidade. Só no Céu viveremos plenamente a Páscoa de Jesus; mas ela é já a realidade decisiva da nossa vida. Em cada Quaresma, que o mesmo é dizer em cada Páscoa, somos chamados a viver com uma fidelidade renovada esta semente de eternidade que foi semeada em nós pelo Espírito de Cristo ressuscitado. É assim que o Santo Padre começa a sua Mensagem: “A Quaresma oferecenos a oportunidade de reflectir mais uma vez sobre o cerne da vida cristã: o amor. Com efeito, este é um tempo propício para renovarmos, com a ajuda da Palavra de Deus e dos Sacramentos, o nosso caminho pessoal e comunitário de fé. Trata-se de um percurso marcado pela oração e pela partilha, pelo silêncio e pelo jejum, com a esperança de viver a alegria pascal”. A segurança da nossa fé

1. A fé é uma atitude que cresce e se aprofunda, à medida que nos leva a entrar em comunhão pessoal com Cristo e, por Ele, com Deus Trindade Santíssima. A Quaresma tem de ser tempo de aprofundamento da fé, pessoal e comunitária. A fé é para ser vivida, na ousadia da liberdade e da vida, e não para ser guardada no cofre das memórias de família. Sempre que dizemos “eu creio”, afirmamos a nossa decisão de vida, a sua compreensão e o itinerário para atingir a sua plenitude. A firmeza da fé foi a força dos mártires, o desafio dos santos, levou à coerência da vida, vivida na lógica da fé, da Palavra de Deus, da Palavra da Igreja, dos mandamentos do Senhor.

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22 de Fevereiro | Quarta-feira de Cinzas

DESENVOLVIMENTO PELO BEM COMUM A persistência da esperança 2. A verdade da Quaresma reside na sinceridade com que nos relacionamos com Jesus Cristo, cuja Páscoa celebramos. Vivem da esperança aqueles que já experimentaram a realidade definitiva da Páscoa de Jesus, inauguração da vida definitiva; e, porque já a experimentaram, desejam a sua plenitude. A esperança é persistência no que já se tem, como fruto da nossa união a Cristo, e desejo de aprofundar essa vida nova. O próprio esforço de fidelidade está ligado à esperança. Só o Espírito Santo pode alimentar em nós esse desejo de plenitude. Num momento particularmente difícil que estamos a viver, são muitas as vozes a tentar suscitar a esperança. A esperança teologal engloba todas as realidades da nossa vida presente, que ganham em Cristo um sentido novo. A esperança é a virtude que nos ajuda a viver toda a realidade humana à luz da Páscoa de Jesus. A esperança exprime a fé no concreto da vida presente. Só a esperança teologal nos ajuda a não “desesperar” quando o sofrimento nos bate à porta. A primazia da caridade 3. São Paulo afirma que, nesta vida presente, em que, unidos a Cristo, vivemos já as “primícias” do Reino dos Céus, permanecem a fé, a esperança e a caridade, mas que a maior é a caridade, a única que permanecerá no Reino definitivo (cf. 1Cor. 13, 8.13). Viver unido a Cristo é uma experiência de caridade: o amor com que Deus nos ama no Seu Filho e, com a força do amor de Deus, o amor com que nos amamos uns aos outros. A fé e a esperança são experiência do amor próprias da nossa situação de peregrinos do Reino dos Céus. Quando o cristão diz “eu creio”, no fundo ele diz: “eu amo” a Deus em Quem acredito; quando diz “eu espero”, ele diz: eu desejo deixar-me amar, e desejo amar de uma maneira cada vez mais generosa e total. É a caridade, vivida e desejada, que dá densidade à fé e à esperança. O amor dos irmãos 4. O amor de Deus e o amor dos irmãos, para os cristãos, são um único amor, que é infundido no nosso coração pelo Espírito Santo. Quem ama a Deus, ama os irmãos. Se isso não acontecer, é porque o nosso amor a Deus não é sincero. A fé e a esperança exprimem-se, também, no amor fraterno.

Compreende-se, assim, que o Santo Padre, ao desafiar-nos para uma Quaresma vivida na profunda união a Jesus Cristo,

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22 de Fevereiro | Quarta-feira de Cinzas

DESENVOLVIMENTO PELO BEM COMUM ponha o acento no amor fraterno. Este não é redutível a esquemas impessoais de solidariedade; é amor de uma pessoa por outra, que se olham de frente, que se conhecem em toda a sua realidade. Noutro texto, o Santo Padre disse que a caridade fraterna é “um coração que vê”. Quando olhamos para o nosso irmão com o coração, quando ele nos comove, ele torna-se o nosso próximo. No fundo é ter para com os nossos irmãos a mesma atitude que a fé nos leva a ter com Jesus Cristo: olhá-lo de frente, como o outro que vem ao meu encontro, tentando perceber quem é e o que faz por mim. Ouçamos o Santo Padre: “é um convite a fixar o nosso olhar no outro, a começar por Jesus, e a estar atentos uns aos outros, a não se mostrar alheio e indiferente ao destino dos irmãos”. Olhar toda a realidade dos nossos irmãos 5. Pode acontecer que quando estamos sobretudo sensíveis às necessidades materiais, ignoremos a verdade espiritual do nosso irmão, a sua necessidade de conversão à fé e à esperança. Um falso sentido de respeito pela intimidade do outro, a perda da noção do que é verdadeiramente bom ou mesmo a perda da noção da diferença do bem e do mal, podem dispensar-nos de, ao olharmos para o nosso irmão, o amarmos em toda a sua realidade. Se a fonte do nosso amor fraterno é o amor com que Deus nos ama, a ajuda material aos irmãos pode ser ocasião do anúncio do amor de Deus e de convite à conversão. A fé, a esperança e a caridade, e o anúncio da salvação 6. Convido-vos, pois, na sequência do Santo Padre, a vivermos esta Quaresma ao ritmo das três virtudes teologais: a fé, a esperança e a caridade, o que exige de nós uma coerência com a profundidade sobrenatural da vida em união com Cristo, de cuja Páscoa vivemos, e que nos preparamos para celebrar. Convido-vos a mergulhar no mistério de Deus, Trindade Santíssima e a arrastarmos para essa comunhão as pessoas a quem amamos com um amor que tem a sua fonte em Deus. É preciso ir além das nossas rotinas pastorais e voltar a encarnar a ousadia da Igreja apostólica. Esta Quaresma tem mesmo de ser, para todos nós, ocasião de conversão. Cristo, que continua a querer salvar todos os homens, precisa da nossa ousadia, porque O queremos seguir e partilhar com Ele a missão, nesta sociedade que parece ter-se afastado tanto d’Ele e do Seu Evangelho.

† JOSÉ, Cardeal-Patriarca de Lisboa

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ALIANÇA 26 FEVEREIRO | I DOMINGO DA QUARESMA


26 de Fevereiro | I Domingo da Quaresma

DESENVOLVIMENTO PELA RESPONSABILIDADE REFERÊNCIAS •

Gén 9, 8-15

1 Pedro 3, 18-22

Mc 1, 12-15

REFLEXÃO Pedro Rocha e Melo, Vice-Presidente da BRISA Membro da ACEGE (Associação Cristã de Empresários e Gestores) “Estabelecerei a minha Aliança convosco, com a vossa descendência e com todos os seres vivos que vos acompanham”

A história de Deus com os homens é um caminho de Aliança. Um caminho de revelação de um Deus de Amor, um Deus de Misericórdia, um Deus que toma sempre a iniciativa, respeitando a liberdade do homem, mas nunca desistindo de o procurar. Esta liberdade implica responsabilidade. Responsabilidade para procurar a vontade de Deus em todas as vertentes e momentos da nossa vida.

De facto, esta Aliança de Amor, conta com a presença sempre fiel de Deus, mas necessita também da nossa disponibilidade como instrumentos livres nas Suas mãos. Deus quer a nossa colaboração, e nós, no meio do turbilhão das nossas vidas, precisamos de conseguir ouvir a Sua voz.

O tempo da Quaresma é propício para uma paragem, para, em ambiente de silêncio e de paz, nos encontrarmos e aprofundarmos o conhecimento sobre nós próprios. Como me vejo? O que pretende Deus de mim neste momento, nesta situação? Qual a minha responsabilidade concreta?

Enfrentamos desafios difíceis em Portugal e na Europa. É nestes momentos, com maior dificuldade de antever o que nos espera, e em que muitos se refugiam nos seus interesses e egoísmos, que nós cristãos temos a responsabilidade de assumirmos aquilo que somos. Partindo da força da Aliança de Amor com Deus, e na sua família, na sua comunidade, no

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26 de Fevereiro | I Domingo da Quaresma

DESENVOLVIMENTO PELA RESPONSABILIDADE seu lugar de trabalho, cada um deve procurar o seu papel, o seu contributo para um futuro que se desenhará em função daquilo que hoje concretizarmos.

Para os empresários e gestores o desafio é procurar utilizar o princípio do amor ao próximo como critério de gestão, respeitando a liberdade e a dignidade das pessoas, para que todos tenham a oportunidade de seguir a sua vocação e, dessa forma, possam contribuir decisivamente para um desenvolvimento humano integral nas comunidades onde trabalham.

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CONFIANÇA 4 MARÇO | II DOMINGO DA QUARESMA


4 de Março | II Domingo da Quaresma

DESENVOLVIMENTO COMO ABERTURA REFERÊNCIAS •

Gén 22, 1-2.9a.10-13.15-18

Rom 8, 31b-34

Mc 9, 2-10

REFLEXÃO JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA Sacerdote, poeta responsável pelo Secretariado nacional da pastoral da cultura Um dos mais espantosos apelos de Quaresma que conheço não foi assinado por um eclesiástico, nem por um teólogo, mas sim por um poeta. Escreveu-o T.S.Eliot em 1930, três anos após a sua conversão, e deu-lhe um nome austero, sem o cómodo encosto que por vezes é o dos adjectivos: chamou-lhe simplesmente “Quarta-feira de Cinzas”. Nesse poema, dizem-se três coisas fundamentais. Se as soubermos ouvir, percebemos que elas correspondem a caminhos muito objectivos (a mapas pessoais e comunitários) de conversão. E não é esse o desafio da Quaresma, e desta Quaresma em particular? 1. A Quaresma vem ao nosso encontro para que nos reencontremos. Os traços que o poeta desenha coincidem dramaticamente com os do nosso rosto: damos por nós a viver uma vida que não é vida, acantonada entre lamentos e amoques, sem saber aproveitar verdadeiramente a oportunidade que cada tempo constitui, como se tivéssemos capitulado no essencial, e passássemos a olhar para as nossas asas (e para as dos outros) sem entender já o papel delas. “Esmorecendo, esmorecendo”. 2. A Quaresma vem ao nosso encontro para nos devolver ao caminho pascal. O que é que nos dá o sentido de redenção no tempo? – pergunta o poema. E o poema evangelicamente responde: o sentido de transformação é-nos dado quando aceitamos trilhar um caminho. O que nos permite passar do cerco das coisas triviais à revigoração da fonte, o que do sono nos dá acesso à vigília iluminada da vida é aceitarmos o desafio de nos fazermos de novo à estrada, e à estrada menos óbvia e mais adiada que é aquela interior. A Páscoa é a grande possibilidade de revitalização. Mas é

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4 de Março | II Domingo da Quaresma

DESENVOLVIMENTO COMO ABERTURA preciso consentir naquela imagem brutalmente verdadeira do profeta Ezequiel: por agora somos mais uma sucata de restos, do que uma primavera do Espírito. 3. A Quaresma vem ao nosso encontro para que a tensão criadora do Espírito de Jesus redesenhe em nós a vida. Interessantes são os verbos que o poeta usa como prece: “que sejamos instigados”, “que sejamos sacudidos”. A Quaresma faz-nos passar do “deixa andar”, e do viver espiritualmente entorpecido, ao estado da corda tensa. Aquela que é capaz de avizinhar da nossa humanidade reencontrada a música de Deus.

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JUSTIÇA 11 MARÇO | III DOMINGO DA QUARESMA


11 de Março | III Domingo da Quaresma

POR UM DESENVOLVIMENTO MAIS JUSTO REFERÊNCIAS •

Ex 20, 1-3.7-8.12-17

1 Cor 1, 22-25

Jo 2, 13-25

REFLEXÃO Américo Mendes, Professor Associado da Faculdade de Economia e Gestão da Universidade Católica Portuguesa, Porto “Não terás outros deuses perante mim.” (Ex 20, 3) “Irmão: os judeus pedem milagres e os gregos procuram sabedoria. Quanto a nós, pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios.” (1 Cor 1, 22-23) “Tirai isto daqui; não façais da casa de meu Pai casa de comércio.” (Jo 2, 16)

O que é que isto tem a ver com Desenvolvimento mais Justo? Tem tudo a ver. O crescimento económico que se acelerou nas sociedades humanas depois da chamada “Revolução Industrial” tem sido principalmente o fruto da “natureza expansiva da relação de mercado”, ou seja, da capacidade que a economia de mercado tem para gerar tendencialmente uma quantidade e uma diversidade cada vez maiores de bens e serviços.

A economia de mercado tem um problema: inclui os consumidores que têm rendimento suficiente para comprarem aquilo que querem e as empresas que são capazes de produzir bens e serviços a preços para os quais conseguem arranjar clientes, mas, ao mesmo tempo que isto acontece, são EXCLUÍDOS os consumidores e as empresas que não estão nessas condições.

A economia de mercado não tem o exclusivo da inclusão e exclusão. Outros modos de organização da actividade económica também incluem uns e excluem outros. Seja como for, no mundo em que vivemos, onde a economia de

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11 de Março | III Domingo da Quaresma

POR UM DESENVOLVIMENTO MAIS JUSTO mercado é a forma de organização da actividade económica que largamente predomina, é do seu modo de inclusão e exclusão que se impõe falar. Esse modo de inclusão/exclusão baseia-se no TER (ter rendimento; ter meios para se ser competitivo) e no que garante esse ter, ou seja, no sistema de direitos de propriedade privada. Por isso, o mercado “falha” quando não é possível garantir este tipo de direitos de propriedade. No mercado os bens e serviços são valorizados como valor de TROCA. Como valores de troca os bens e serviços não só são permutáveis, como são COMENSURÁVEIS. As suas diferenças qualitativas anulam-se, sendo reduzidos a uma unidade de medida comum.

O Deus em que acreditamos não se confunde com outros deuses que imperam nas sociedades assentes neste modo de organização da actividade económica:

• Não se confunde com os deuses que incluem uns e excluem outros; • Não se confunde com os deuses do ter; • Não se confunde com os deuses da troca; • Não se confunde com os deuses que reduzem tudo e todos a uma dimensão única.

O Deus em que acreditamos é o Deus que inclui todos como seres humanos. O Deus em que acreditamos é o Deus do Ser. O Deus em que acreditamos é o Deus da loucura da gratuitidade. O Deus em que acreditamos é o Deus que permanentemente nos chama a atenção para o sagrado da dignidade humana que não se deve comprar, nem vender. O Deus em que acreditamos é o Deus que nos conhece a cada um pelo nome, que preza a individualidade, a liberdade e a dignidade de cada um de nós, e que nos convida a seremos assim para com os outros seres humanos. Um Desenvolvimento mais Justo é um Desenvolvimento feito por seres humanos animados por um Deus assim e não por outros deuses. A verdadeira acção que devemos fazer na Quaresma é FAZER como Deus nos manda, ou seja, amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Por mais exemplares e instrutivos que possam ser os casos de quem assim faz e que aqui poderiam ser citados, isso de nada vale se cada um de nós, por si próprio, não fizer assim.

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11 de Março | III Domingo da Quaresma

POR UM DESENVOLVIMENTO MAIS JUSTO Outras referências (Obras do Padre Américo): • Pão dos Pobres (4 vols) • O Barredo • Doutrina (3 vols) • Viagens • Obra da Rua • Notas da Quinzena • De como eu fui • Viagens • Cantinho dos Rapazes • Correspondência dos Leitores Das páginas mais profundas, mais vividas e mais belas escritas em Portugal sobre um Desenvolvimento mais Justo, escritas por um Homem “de um livro só”.

MARIA RAQUEL FREIRE NÚCLEO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS FACULDADE DE ECONOMIA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA ‘Os judeus pedem milagres e os gregos procuram a sabedoria.’ A frase retirada da Leitura da Primeira Epístola do Apóstolo S. Paulo aos Coríntios sublinha as diferentes direções em que os vários olhares se vão perdendo. Aponta para a ausência de princípios basilares partilhados, que não têm que significar harmonização num sentido de uniformização, mas antes identificar como base de partida o respeito por valores e princípios fundamentais, transversais a culturas e tradições, como por exemplo a questão da dignidade humana e da justiça.

A evolução do sistema internacional tem refletido uma tendência de desumanização e desvirtuação de alguns conceitos, nomeadamente o de segurança humana, que na sua formulação original, no âmbito das Nações Unidas, visava um olhar mais atento aos indivíduos e comunidades num quadro de organização internacional ainda muito centrado nos estados e em visões estatocêntricas de poder e influência. Os pressupostos de desenvolvimento associados implicam não só uma leitura de desenvolvimento num quadro estatal, mas também individual. Desenvolvimento significa a

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11 de Março | III Domingo da Quaresma

POR UM DESENVOLVIMENTO MAIS JUSTO capacidade de melhorar condições materiais e humanas num quadro de participação, onde o ideal universal que o conceito preconiza, inclui claramente uma definição para além do simples crescimento económico. No Relatório do Desenvolvimento Humano das Nações Unidas de 1990 esta preocupação de um entendimento abrangente de desenvolvimento é evidenciada. E esta acepção de desenvolvimento global passa então por uma dimensão estrutural que visa condições básicas e dignas de sobrevivência, bem como a possibilidade de viver sem opressão num regime participativo e inclusivo; e também por uma dimensão de desenvolvimento individual onde a capacitação, formação e educação são princípios fundamentais, complementados por considerações relativas à dignidade do outro, a pressupostos associados à construção da paz e à cooperação para o bem comum (ver Carta Encíclica Populorum Progresso de Paulo VI sobre o desenvolvimento dos povos).

Neste quadro, o surgimento do conceito de segurança humana, num alinhamento de desafio aos modelos positivistas, preconizava princípios de resposta a problemas estruturais relacionados com a dignidade da existência humana e o acesso a condições básicas de sobrevivência, além de sublinhar a necessidade do desenvolvimento individual, que se pressupõe seria construído com base nesta capacitação. Segurança humana surge assim na agenda internacional como uma nova abordagem, mais densa e aprofundada nas preocupações que engloba e nas respostas que pretende sejam dadas, com particular enfoque para situações de pós-violência armada, mas não só. Como sabemos, e no quadro atual de grave crise financeira, política e social, as necessidades básicas que no mapa europeu já não deveriam ser ‘básicas’, regressaram às preocupações, face aos problemas sociais que têm resultado de políticas nem sempre visionárias e estrategicamente orientadas para a promoção de um desenvolvimento sustentável. Mas voltando ao conceito de segurança humana, tem sido evidente um uso distorcido do mesmo para fins que não os originariamente pensados. As práticas de intervencionismo internacional e o princípio da ‘responsabilidade de proteger’ têm, em algumas instâncias, ultrapassado os limites da legalidade e legitimidade, justificando intervenções com base em violações sistemáticas de direitos humanos, genocídio e crimes de guerra, resultando em ingerência interna, como o caso da Líbia ilustrou. Os critérios de intervenção, ou de decisão de não intervenção não são claros e uma linha de egoísmo tem prevalecido nas políticas e práticas de grandes estados no sistema internacional. O poder do material, do controlo de acesso a fontes e rotas energéticas, por exemplo, tem-se sobreposto ao valor da pessoa humana, o que tem tornado a questão da mercantilização das sociedades e das relações de interdependência no sistema internacional, uma questão preocupante. Por outras palavras, o ser humano vem sendo reduzido a uma quantificação material que não atende a princípios básicos estruturantes de sobrevivência e de qualificação e respeito pelo indivíduo enquanto pessoa.

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11 de Março | III Domingo da Quaresma

POR UM DESENVOLVIMENTO MAIS JUSTO

Estas interrogações refletem-se a vários níveis. Relativamente aos programas de apoio ao desenvolvimento, é muito frequente nos seus objetivos de fundo não estar claro um programa de desenvolvimento estrutural de competências e infraestruturas básicas que capacitem indivíduos e comunidades locais numa lógica gradual emancipatória. Sem formação adequada, sem capacitação ajustada às necessidades face a recursos parcos e contextos adversos, as injeções de financiamento revelam-se muitas vezes limitadas e aquém da promoção do desenvolvimento estrutural necessário a uma dinâmica de sustentabilidade. Além do mais, o intervencionismo é um processo bidirecional, onde importa a atuação do agente interventivo ou doador, mas também dos agentes nos países recetores ou de acolhimento. De facto, as dificuldades a nível local são bem conhecidas. A corrupção que grassa ao nível das elites políticas e económicas em muitos países em desenvolvimento, bem como no denominado norte desenvolvido, minam esforços no sentido de desenvolvimento de programas de inclusão e com expressividade num contexto social e político alargado. Em muitos casos, a perpetuação de dinâmicas de exclusão ou mesmo de dominação, impedem também, do lado dos recetores, a promoção de políticas emancipatórias. Estas dinâmicas favorecem injustiças quer pelas disparidades que alimentam, quer pelas lógicas de exclusão que impõem. Além do mais, contribuem negativamente para um continuum de dificuldades estruturais que em nada dignificam a pessoa humana. Os problemas associados à tradução de princípios acordados e assinados em documentos oficiais no seio das Nações Unidas e de outros organismos em práticas concretas aponta para a necessidade de um novo mandamento: agir segundo os princípios formalmente acordados e os objetivos definidos para uma prática responsável face aos mesmos.

Destas linhas de reflexão parece claro que a busca pelo poder, influência e benefícios materiais têm estado em muitas circunstâncias à frente de princípios ordenadores de cariz cosmopolita, representativos e com base em equidade. Os novos ‘deuses’, traduzidos na busca incessante por mais poder, influência e benefícios materiais, minam sociedades fragilizando a sua coesão através das clivagens sociais que criam. Ainda, em quadros de fragilidade institucional, questionam mesmo o princípio de prossecução das funções básicas do Estado, extremamente vulneráveis à intervenção externa e incapazes de assegurar ordem e estabilidade internamente. É importante no entanto sublinhar que um quadro de equidade ao nível da representação ou da justiça, não deve ser lido numa óptica utilitarista socialista marxista. Ou seja, é importante sublinhar que igualdade não significa uniformidade. Os limites muito claros do modelo socialista marxista na preconização de uma sociedade justa, que se revelou profundamente injusta na precariedade das condições de vida, na ausência de capacidade de decisão e participação das populações, na ingerência no quotidiano, são exemplo (nesta matéria ver Carta Encíclica Rerum Novarum do Papa Leão XIII sobre a condição dos operários).

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11 de Março | III Domingo da Quaresma

POR UM DESENVOLVIMENTO MAIS JUSTO

Face a este cenário de difícil articulação entre promoção do desenvolvimento e efeitos adversos que resultam do mesmo, a dimensão normativa é fundamental e deveria assumir-se como preponderante no sistema internacional. O que fazer, então, para um horizonte mais justo? Regressando às leituras sugeridas, tal como Jesus no templo expulsa os ímpios, nas sociedades é preciso expulsar a corrupção e a hipocrisia materialista. Tal como sublinhado na Carta das Nações Unidas e documentos subsequentes sobre partilha de valores e princípios fundamentais, não chega apenas verbalizálos, é necessário concretizá-los. Muitos são os instrumentos à disposição num sistema de anarquia internacional, onde não existe autoridade suprema reguladora no ordenamento internacional. A existência de organismos como as Nações Unidas e outras organizações internacionais intergovernamentais, os regimes internacionais e o direito internacional devem constituir a base de construção de uma nova ordem assente em princípios de responsabilidade social e cuja aplicação vise uma ordem mais justa e mais equitativa. Mas a responsabilidade e ética na leitura e interpretação dos mesmos tem de ser uma constante que evite desvirtuamentos irremediáveis.

Uma melhor (re)distribuição de poder e capacidades exige, no entanto, o assumir de políticas inclusivas, o que tem sido difícil num quadro estatocêntrico como inicialmente definido. Veja-se por exemplo a discussão em torno da reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas e como a dificuldade em avançar para modelos mais representativos espelha esta característica de manutenção e reforço de poder e benefícios materiais e de grande inflexibilidade que permeia o sistema internacional. Estamos assim perante um mundo onde princípios egoístas de promoção material se vão sobrepondo ao normativismo.

Assim, e desta curta reflexão, três ideias fundamentais a reter para um desenvolvimento mais justo: primeiro, a necessidade de priorizar a dignidade humana como princípio básico e fundamental para o desenvolvimento na agenda internacional; segundo, uma leitura e implementação de políticas para o desenvolvimento assentes na capacitação efetiva para a emancipação social e libertação de dinâmicas de opressão e exploração, que deverá passar por regimes participativos, onde o indivíduo possa exercer a sua condição de cidadão e envolver-se nas actividades sociais e políticas da comunidade ‘com e pelos outros’ (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, Cap. V); e, terceiro, a premência de atuação concreta e firme com base em princípios de solidariedade e numa leitura competente de acordos e outros compromissos assumidos internacionalmente. O estabelecimento de programas comuns a nível internacional visando o bem comum, assente em princípios de solidariedade não é uma proposta irrealizável, veja-se por exemplo a mobilização internacional face a catástrofes naturais, é antes um objectivo que deve permear a construção das relações internacionais com base nos pressupostos de desenvolvimento e cooperação aqui avançados.

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UNIVERSALIDADE 18 MARÇO | IV DOMINGO DA QUARESMA


18 de Março | IV Domingo da Quaresma

DESENVOLVIMENTO HUMANO INTEGRAL REFERÊNCIAS •

2 Cr 36, 14-16.19-23

Ef 2, 4-10

Jo 3, 14-21

REFLEXÃO IRMÃ MARLENE WILDNER, CÁRITAS ANGOLA O Evangelho de João 3, 14-21 do IV domingo da quaresma, parte do diálogo de Jesus com Nicodemos, nos apresenta como tema central a fé em Cristo e seu projecto salvífico, dom que Deus oferece e que o ser humano pode acolher ou rejeitar. “Deus tanto amou o mundo ao ponto de dar seu filho unigénito, para que quem crê Nele (…) tenha a vida eterna. Deus não mandou seu filho ao mundo para julgar o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por seu meio” (Jo, 3,16-17).

A presença de Deus no mundo requer da sociedade e da pessoa uma escolha de acolhimento ou rejeição. As consequências para a vida da pessoa e da sociedade dependem desta escolha.

Na perspectiva do Evangelho de João:

“O julgamento se dá aqui e agora, no confronto das pessoas e da sociedade com a prática de Jesus. Jesus não julga, são as pessoas, as sociedades que fazem seu próprio julgamento de acordo com o estilo de vida que escolhem viver. É o próprio ser humano que constrói em si luz ou trevas, ele próprio realiza o seu julgamento. Quem opera o mal acaba necessariamente por odiar a luz porque não quer que suas más obras venham à luz. O amor de Deus contínua fazendose presente em nosso mundo, em nossa história por meio das pessoas que movidas pelo Espírito Santo vivem como Jesus viveu. Pessoas que fazem de sua vida uma paixão pelo proposta de Jesus e pela salvação da humanidade. A fé não é um sentimento subjectivo mas é adesão a uma pessoa objectiva e concreta que é Jesus Cristo e sua proposta de vida” (Cf. Instituto humanistico Unisinos, www. Ihu.Unisinos.br).

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18 de Março | IV Domingo da Quaresma

DESENVOLVIMENTO HUMANO INTEGRAL No v.21 João usa uma expressão aparentemente curiosa: fazer a verdade. Na nossa linguagem e compreensão actual a verdade não é algo para se fazer mas para ser conhecida. Ao invés, para João a verdade não é um conceito a ser aprendido ou conhecido, nem mesmo uma simples realidade, mas é o Plano salvífico de Deus para ser acolhido e construído - “Quem faz a verdade se aproxima da luz, para que seja manifestado que as suas obras são feitas em Deus”.

Agir correctamente não é só um fato de coerência mas é condição indispensável para criar um “lugar hermenêutico” onde o mistério de Deus pode se revelar na sua força e persuasão, como um lugar em que seja possível intuir a verdade, a origem de Cristo e do seu dom salvífico.

Na óptica do evangelista, a fé, via para a salvação, se dá no afecto, no coração e com as mãos. A Salvação é crer com as mãos, com actos, com a prática de vida. A mão de Deus estendida ao ser humano é Cristo e seu projecto. Assim como Deus não se cansa de estender a mão, o ser humano, se quer viver na luz, deve escolher em seu coração o projecto de salvação de Jesus, vivê-lo com todos os seus afectos e praticá-lo em todos os seus actos.

Estas três dimensões (afecto, coração e mãos) são portanto a proposta cristã para uma sociedade justa e fraterna que permite o desenvolvimento integral de todos os seus membros. Uma sociedade onde “cada um é chamado a dar sua contribuição para que o amor com que somos sempre e para sempre amados por Deus se torne operante na vida, força de serviço, sentido de responsabilidade” (Cf. Cidade do Vaticano (Agência Fides), Discurso do Papa Bento XVI aos membros da Caritas, 24 de Novembro, por ocasião do 40º aniversário de fundação da Caritas Italiana).

A proposta de desenvolvimento humano, na perspectiva do projecto salvífico de Jesus, se traduz, no contexto social mundial actual, necessariamente, em: expressão de atenção para com aqueles que mais sofrem e que são excluídos do acesso à justiça e às oportunidades de desenvolvimento; em acções pedagógicas que ajudem os mais pobres a crescerem na sua dignidade e a sociedade civil a assumir conscientemente suas obrigações.

Exige, enfim, capacidade de ler a progressão da vida das pessoas, abertura da mente, olhar amplo, intuição, “um coração que vê”. Exige entender que responder às necessidades não só significa dar pão aos famintos, mas também se deixar interpelar pelas causas da fome, com um olhar de Jesus, que sabia ver a realidade profunda das pessoas que se aproximavam Dele . Parafraseando o Papa Bento XVI, trata-se de assumir a responsabilidade de educar para a vida boa do Evangelho, que não tem sentido se não integrar, de maneira orgânica, o testemunho da caridade.

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18 de Março | IV Domingo da Quaresma

DESENVOLVIMENTO HUMANO INTEGRAL Estaremos então vivendo como pessoas e como sociedade a alegria da ressurreição, espírito que permeia a liturgia do IV Domingo da Quaresma, que significa estender a mão e erguer aquela parte da nossa sociedade caída por terra sem dignidade e oportunidade de desenvolvimento.

nuno macedo, fec angola Oração Pública em Desenvolvimento

Muitos apelos e preces foram feitos nas últimas semanas de Novembro com vista à preparação do Fórum de Alto Nível sobre a eficácia da Ajuda Pública ao Desenvolvimento em Busan, na Coreia do Sul. A nível internacional, muitos pediram um desenvolvimento mais justo e mais solidário. Neste contexto, a CIDSE – aliança de ONG católicas europeias e norteamericanas à qual a FEC pertence - pedia que se protegesse a sociedade civil e os direitos humanos, e que a economia estivesse ao serviço do homem, numa carta pública cujo conteúdo foi dado a conhecer a muitos. Mas será que os senhores do mundo ouviram o que se lhes disse, em Busan, na Coreia?

Também em Portugal, muitas vozes se levantaram, particularmente preocupadas com o futuro da Cooperação Portuguesa. Como participaremos nós na construção desse mundo melhor, que possibilidades e responsabilidades temos? A Plataforma Portuguesa das ONGD fez até uma carta dirigida ao Primeiro-Ministro de Portugal, ao Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros e ao Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, em que se lhes pedia uma série de coisas importantes, relativas aos processos da Cooperação, tais como “a Harmonização, a Apropriação Democrática, a Transparência e a Previsibilidade”. Será que os senhores de Portugal ouviram o que se lhes disse, em Lisboa?

Em Angola não ouvi falar de Busan na Coreia, nem no Fórum de Alto Nível sobre a eficácia da Ajuda, nem da carta da CIDSE, ou da Plataforma… Nem da Sociedade Civil, nem dos Direitos Humanos, nem da Transparência ou da Apropriação Democrática! Mas vi, na velha Igreja do Cacuaco, uma mulher de joelhos em frente à imagem do Cristo, com a sua filha pequenina ao lado, que pedia algo que só ela sabe. E tive a plena certeza que aquela prece estava a ser ouvida no Céu. Tal a eficácia da Oração Pública em Desenvolvimento.

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ENTREGA 25 MARÇO | V DOMINGO DA QUARESMA


25 de Março | V Domingo da Quaresma

DESENVOLVIMENTO COMO UM DOM REFERÊNCIAS •

I Jer 31, 31-34

Hebr 5, 7-9

Jo 12, 20-33

REFLEXÃO ANTÓNIO MARUJO, JORNALISTA Vemo-nos gregos por um grão de trigo que deve morrer

Os gregos queriam ver Jesus. Terá isso algo a ver com a crise que atravessamos? Ou com cativeiros e opressores? Ou com um grão de trigo que deve morrer?

Percorremos os textos da liturgia católica deste V Domingo da Quaresma. E escutamos a promessa de uma aliança: “Imprimirei a minha lei no seu íntimo e gravá-la-ei no seu coração. Serei o seu Deus e eles serão o meu povo.”

Sentimos ainda o lamento dos que vão “cativos”, levados por opressores, e que se sentam a chorar junto aos rios da Babilónia, “com saudades de Sião”. Percebemos a garantia de que Jesus se tornou “para todos os que lhe obedecem fonte de salvação eterna”. E perscrutamos a parábola: “Quem se ama a si mesmo, perde-se; quem se despreza a si mesmo, neste mundo, assegura para si a vida eterna.” Outra forma de dizer: “Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto.”

É preciso, então, morrer? E quem deve morrer para que outros vivam?

Se olharmos para o que se tem passado na Tunísia, no Egipto, na Síria, no Iémen,... percebemos que muitos grãos de trigo estão a morrer. E darão frutos? Os pessimistas sempre nos dirão que tais revoluções acabarão com os fundamentalistas no poder, que serão os militares a controlar a situação ou que os povos árabes são incompatíveis com a democracia. Esquecerão, porventura, que a democracia é uma construção difícil, feita de

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25 de Março | V Domingo da Quaresma

DESENVOLVIMENTO COMO UM DOM avanços e recuos. A avaliar por aquilo que se passa em Portugal e na Europa, é mesmo uma construção lenta, cheia de escolhos...

Seria fácil escrever que, só na medida em que cada um de nós se anula, é que pode ajudar a que outros vivam. E repetir discursos e morais acerca desta parábola. Mas a sua moral maior estará, talvez, na frase seguinte – que a explica: “Quem se ama a si mesmo, perde-se...”

O discurso católico tem repetido à exaustão a ideia de que, na presente crise económico-financeira, está em causa sobretudo uma crise de valores. É verdade. E isso pode ter muito a ver com essa frase do evangelho deste domingo: “Quem se ama a si mesmo, perde-se...” E poderia acrescentar-se: e faz perder os outros. É que, de facto, foi um sistema financeiro que se centrou sem si mesmo que se perder. Um sistema que se perdeu por ter perdido a razão primeira de existir – ajudar a criar e a movimentar a riqueza, para o bem das pessoas. Porque um sistema financeiro que não sirva as pessoas, de nada serve.

É o Papa Bento XVI que o recorda na encíclica Caritas in Veritate: “O sistema financeiro deve ser orientado para dar apoio a um verdadeiro desenvolvimento. Sobretudo, é necessário que não se contraponha o intuito de fazer o bem ao da efectiva capacidade de produzir bens. Os operadores das finanças devem redescobrir o fundamento ético próprio da sua actividade, para não abusarem de instrumentos sofisticados que possam atraiçoar os aforradores.” (nº 65).

Pior ainda: esse sistema (bancos, Banco Mundial, FMI, Reserva Federal dos Estados Unidos, Banco Central Europeu, grandes multinacionais,...) está a atirar as vidas de pessoas e de povos inteiros para a perdição. O sistema financeiro (ou seja, aqueles cujo primeiro interesse é o lucro a qualquer preço e que desprezam a vida, o trabalho e a dignidade humana de tantos) quer roubar a democracia que tantos sacrifícios tem custado a construir. E quer reduzir as nossas vidas à pobreza – sem nunca se sacrificar a si mesmo ou aos que o servem. Por isso, continua a haver cativos a chorar junto aos rios das nossas babilónias contemporâneas...

Pessoas que ninguém escolheu, que ninguém votou, que ninguém elegeu arvoram-se hoje o direito de pôr e dispor das nossas vidas, dos nossos empregos, dos nossos países. E querem fazê-lo em nome da “regulação dos mercados”, forma encapotada de impor um conjunto de medidas que retiram direitos à generalidade das pessoas (mas não ao “sistema financeiro”), reduzindo-nos a meras máquinas de produção intensiva. O exemplo dos feriados aí está: se não se entende

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25 de Março | V Domingo da Quaresma

DESENVOLVIMENTO COMO UM DOM que a pessoa humana tem necessidade de outros tempos que não apenas o do trabalho e da produção, então nada se entende do humano. E é pena ter visto a Igreja Católica a entrar nesse jogo, esquecendo a antropologia que a sua doutrina social transporta...

Se o grão de trigo não morrer... Esta imagem ensina-nos também que algo de pequeno pode muitos frutos. O que se pressente hoje é que as manifestações, os protestos, as indignações, são difusos sinais de esperança, de que outro mundo é possível, porque outro mundo se deseja. Mesmo se essas manifestações estão cheias de contradições, de incoerências, de violências sempre injustificadas, de vontades difusas...

São grãos de trigo. Que darão lugar a muitos frutos.

MANUEL AUGUSTO LOPES FERREIRA, MCCJ DIRECTOR DA REVISTA ALÉM-MAR Na sociedade mercantilista em que vivemos - na União Europeia, para falarmos só de nós - no desenvolvimento não há tempo nem lugar para o dom. Tudo o que tem a ver com desenvolvimento humano, tanto na sua vertente pessoal como comunitária, tem um peso e um preço. Os capitais requeridos para o desenvolvimento social, nos campos da capacitação técnica e do ensino, da saúde e do bem-estar, da cultura e do lazer, das vias e dos meios de comunicação têm juros altos. O know how e as tecnologias estão bem registados: o seu uso e a transferência do saber consomem tempo em burocracias e custam caro.

Bento XVI, com a encíclica «Caritas in Veritate» (A Caridade na Verdade) veio dar força (sobretudo na Introdução e no capítulo terceiro) a um pensamento contra-corrente a respeito do desenvolvimento humano das pessoas e das sociedades, da pessoa humana na sua inteireza. Ele veio alertar-nos para o que deveria ser óbvio: que o desenvolvimento para ser humano - da pessoa toda e de todas as dimensões da sua vida, das sociedades e de todos os âmbitos que tornam humano o conviver social - deverá ter em conta outras dimensões para além da mercantilista: a dimensão da «caritas», do amor e da gratuidade. Numa palavra: do dom, que está justamente no título proposto para esta reflexão e que deve estar no topo do dicionário cristão do desenvolvimento, a primeira das palavras que lhe é sinónimo.

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25 de Março | V Domingo da Quaresma

DESENVOLVIMENTO COMO UM DOM Esta gramática renovada do desenvolvimento, que o Papa Bento XVI sugere na sua carta, fica facilitada se olharmos para o desenvolvimento, das pessoas e das sociedades, não só de portas para dentro; isto é, dentro do nosso país, onde a crise actual colocou em causa o nosso ritmo de desenvolvimento e ameaça fazer-nos regredir para novas formas de pobreza, para situações de ausência de desenvolvimento pessoal e comunitário. Certamente entre nós, percebemos agora que o desenvolvimento e as condições de vida a que todos aspiramos implicam o dom para nos desenvolvermos solidários, de modo que ninguém fique para trás. E, por causa da crise, estamos a experimentar o desenvolvimento como dom; como partilha dos bens materiais e dos valores espirituais, mais do que noutros tempos recentes em que, apesar de sermos cristãos, alinhámos acriticamente no mercantilismo que caracteriza o nosso progresso e bem-estar social.

Mas, mesmo na crise que nos aflige, percebemos melhor o desenvolvimento como dom, se olharmos um pouco para mais longe; se, não perdermos a perspectiva global e considerarmos, por exemplo, os países com menores índices de desenvolvimento, à cabeça dos quais estão os países africanos.

Sou missionário e sinto que não devo silenciar esta minha condição na Igreja. Gostaria de trazer para esta reflexão a perspectiva, mais universal e aberta aos outros, que os missionários incarnam e trazem para este debate, por força da circunstância de se encontrarem a viver no meio de povos excluídos do desenvolvimento humano, vítimas do desenvolvimento mercantilista que a Europa e a América estão a exportar para o sul do mundo, por via da globalização da economia, dos meios de produção e da distribuição de bens.

Quem contacta com missionários em África – eu estive recentemente no nordeste da Etiópia e no sul do Sudão em visita a jovens missionários combonianos portugueses que lá trabalham – percebe que a palavra dom está na gramática que eles mais adoptam; que o dom envolve todas as dimensões do desenvolvimento que eles promovem pela via do seu envolvimento nos processos de transformação social actualmente em curso nesses países.

A começar pelos meios económicos que eles recolhem para implementar os projectos, no âmbito da saúde e da educação. Felizmente, os missionários ainda confiam na Providência de Deus e na generosidade das pessoas, cristãos e amigos, comunidades paroquiais e grupos eclesiais, para recolherem os meios financeiros que as iniciativas de desenvolvimento requerem. Trata-se de dinheiro fruto de partilha: dom que resulta de uma grande generosidade de pessoas e grupos, de dinheiro limpo de exigências, juros, contrapartidas.

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25 de Março | V Domingo da Quaresma

DESENVOLVIMENTO COMO UM DOM Mas para além destes recursos financeiros, o desenvolvimento exige o dom de pessoas, de recursos humanos, que oferecem às pessoas e às sociedades dos países subdesenvolvidos o conhecimento, a capacitação e a visão que o desenvolvimento precisa para ser efectivo e, sobretudo, autenticamente humano. Na missão cristã hoje no mundo, o contributo mais notável está a ser dado pelo dom que são os leigos e leigas, técnicos e profissionais que se envolvem com as populações excluídas do progresso e as capacitam, pela via do testemunho e pelo exercício exemplar da profissão, para se tornarem protagonistas do próprio desenvolvimento.

Quem viaja pela África hoje e olha nos olhos os jovens, as pessoas, contempla a beleza e a riqueza natural do continente sem prejuízos nem interesses egoístas, facilmente percebe que o que os africanos mais precisam, para se desenvolverem, é do dom de uma oportunidade, de uma presença amiga que os capacite para as tarefas do desenvolvimento das suas sociedades. Esta presença amiga e capacitadora dos missionários e dos leigos cristãos, é o dom maior, o factor decisivo, do desenvolvimento humano conjugado e vivido segundo uma gramática cristã.

Na liturgia do V Domingo de Advento encontramos inspiração para assim conjugarmos o verbo promover / desenvolver e assim participarmos nos processos de transformação social, mesmo naqueles que nos vêm por caminhos tortuosos e dolorosos, como são os desta crise financeira.

Na primeira leitura, do profeta Jeremias (31, 31-34), o sonho da Nova Aliança é visto e descrito como dom de Deus; algo que, de tão novo e diferente, só poderia vir d’Ele e da acção do Seu Espírito. A nova aliança a que alude o profeta, e as relações que ela estabelece, entre as pessoas e entre estas e Deus, têm o dinamismo próprio de Deus que é Amor, que é dom transformante: amor que se dá, comunicando aos outros a capacidade de amarem e corresponderem ao amor por eles mesmos. Diz o profeta: «ninguém ensinará mais o seu próximo dizendo “aprende a amar o Senhor», pois todos me conhecerão»!

A carta aos Hebreus (5,7-9) lembra-nos que esse amor de Deus, que se expressa como dom que transforma e eleva o outro, que o capacita para um diálogo de salvação e felicidades entre iguais, não é amor que se vive e se pratica a bom preço, pelo atalho das opções fáceis, do retorno egoísta. É caminho difícil, diz Paulo, que «Cristo apesar de ser filho, aprendeu na obediência e nas lágrimas do que sofreu» e que os cristãos terão que trilhar para darem alma aos processos de transformação social e promoverem um desenvolvimento ao serviço da pessoa toda e de todas as pessoas, como filhos e filhas de Deus.

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25 de Março | V Domingo da Quaresma

DESENVOLVIMENTO COMO UM DOM O evangelho de João (12, 20-23) faz-nos ouvir, pela boca de Jesus, este axioma que liga o dom (o amor) ao desenvolvimento das pessoas e das sociedades: «se o grão de trigo lançado à terra não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto». As palavras de Cristo não foram uma receita para terceiros: foram a profecia do seu próprio itinerário, da sua vida e da sua morte. À sua semelhança, para os cristãos, as razões que ligam o desenvolvimento ao dom - dos bens, dos afectos, do próprio tempo e da própria vida - não são receitas para outros, mas caminho próprio e empenho de vida pessoal e comunitária.

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COERÊNCIA 1 ABRIL | DOMINGO DE RAMOS


1 de Abril | Domingo de Ramos

DESENVOLVIMENTO PELA COERÊNCIA REFERÊNCIAS •

Is. 50, 4-7

Filip. 2, 6-11

Mc. 14, 1

REFLEXÃO GUILHERME D’OLIVEIRA MARTINS PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE CONTAS O SINAL E A MARCA 1. “O Senhor deu-me a graça de falar como um discípulo, para que eu saiba dizer uma palavra de alento aos que andam abatidos. Todas as manhãs Ele desperta os meus ouvidos, para eu escutar, como escutam os discípulos. O Senhor Deus abriu-me os ouvidos e eu não resisti nem recuei um passo.” (Is 50,4-5)

O último domingo da Quaresma tem, compreensivelmente, uma liturgia da Palavra especialmente exigente. Aproximando-nos do momento crucial do ano religioso cristão, impõe-se que nos disponhamos a ouvir com especial atenção e cuidado a Palavra de Deus. Por isso, Isaías vem-nos recordar a necessidade de “uma palavra de alento aos que andam abatidos” — palavra de Fé e de compreensão, de Esperança, de atenção e de cuidado.

2. É de Esperança que falamos nestes dias de incerteza e de provação. E, se há, no tempo que corre, uma especial actualidade e pertinência na invocação da segunda virtude teologal, a verdade é que não se trata de considerar um horizonte optimista, sem mais, mas de ligar a espera divina à responsabilidade e à eminente dignidade das pessoas. “Cristo Jesus, que era de condição divina, não Se valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio. Assumindo a condição de servo, tornou Se semelhante aos homens.” (Filip 2,6-7)

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1 de Abril | Domingo de Ramos

DESENVOLVIMENTO PELA COERÊNCIA O mistério da Encarnação divina obriga-nos a considerar que a Revelação leva a compreendermos que a condição humana se aproxima de Deus, através de Jesus Cristo. Longe de uma concepção distante e insondável de Deus, chegamos à compreensão do Amor e da proximidade, que nos permite responder a quem pede a nossa ajuda. “Por isso Deus O exaltou e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes, para que ao nome de Jesus todos se ajoelhem no céu, na terra e nos abismos, e toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.” (Filip 2,9-11)

3. E chegamos à memória do tempo da Paixão e dos seus prolegómenos. “Faltavam dois dias para a festa da Páscoa e dos Ázimos e os príncipes dos sacerdotes e os escribas procuravam maneira de se apoderarem de Jesus à traição para Lhe darem a morte.” (Mc 14,1)

Sentimos que há sempre o risco da cegueira, da indiferença e da insensibilidade. Em lugar da atenção às palavras de esperança e de “alento aos que andam abatidos”, sobressai a tentação de prevalecerem as considerações imediatistas e o interesse egoísta do poder, da ostentação, que são a matéria-prima do desespero.

E o episódio de Betânia é significativo: “«Para que foi esse desperdício de perfume? Podia vender-se por mais de duzentos denários e dar o dinheiro aos pobres». E censuravam a mulher com aspereza. Mas Jesus disse: «Deixai-a. Porque estais a importuná-la? Ela fez uma boa acção para comigo. Na verdade, sempre tereis os pobres convosco e, quando quiserdes, podereis fazer-lhes bem; Mas a Mim, nem sempre Me tereis. Ela fez o que estava ao seu alcance: ungiu de antemão o meu corpo para a sepultura. Em verdade vos digo: Onde quer que se proclamar o Evangelho, pelo mundo inteiro, dir-se-á também em sua memória, o que ela fez».” (Mc 14,4b-9)

Quem foi incapaz de compreender a missão de Jesus Cristo viu apenas um desperdício. Mas o Filho de Deus apressouse a esclarecer e a tornar evidente que o domínio do Amor se constrói na relação entre as pessoas a pensar nas obras que se projectam na eternidade.

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1 de Abril | Domingo de Ramos

DESENVOLVIMENTO PELA COERÊNCIA 4. “Os discípulos partiram e foram à cidade. Encontraram tudo como Jesus lhes tinha dito e prepararam a Páscoa.” (Mc 14,16)

A preparação da Eucaristia fez-se como se todos ajudássemos a invocar a relação do Amor entre as pessoas, que prefiguram o banquete celeste. Se a Deus ninguém O viu, a verdade é que nos é dada permanentemente oportunidade de O receber, porque só o Amor permite encontrar a marca, o sinal e a manifestação da eternidade.

Mas é fácil esquecermo-nos de quem está ao nosso lado para nos anunciar o tempo do definitivo Amor. Em Emaús o reconhecimento tardou. S. Tomé só acreditou vendo e tocando… S. Pedro negou três vezes antes do galo cantar. “Disse-lhes Jesus: «Todos vós Me abandonareis, como está escrito: ‘Ferirei o pastor e dispersar-se-ão as ovelhas’. Mas depois de ressuscitar, irei à vossa frente para a Galileia».” (Mc 14,27-28) 5. “«Simão, estás a dormir? Não pudeste vigiar uma hora? Vigiai e orai, para não entrardes em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca».” (Mc 14,37b-38)

Pedro é a nossa imagem. Nós próprios adormecemos e distraímo-nos. E se é certo que “O Senhor deu-me a graça de falar como um discípulo”, também é verdade que fomos e somos (de facto) cegos e surdos relativamente ao que nos é pedido… Eis a responsabilidade a que somos chamados: ter atenção e cuidado! 6. “E às três horas da tarde, Jesus clamou com voz forte: «Eloí, Eloí, lamá sabachtháni?» que quer dizer: «Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonastes?».” (Mc 15,34)

Num texto muito sentido e intenso, o romancista japonês Shusako Endo descreve esse episódio como se o tivesse presenciado, assumindo a dificuldade e a angústia de uma injustiça suprema. Mas, ao falar da imprecação fala-nos num fantástico sinal de Esperança, uma vez que é um Salmo inteiramente que está presente, pondo a esperança no lugar central da nossa vida.

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1 de Abril | Domingo de Ramos

DESENVOLVIMENTO PELA COERÊNCIA Como se estivéssemos nesse dia distante mas presente, podemos olhar a multidão que, desordenada e esquecida, abandona em torpel o cenário… “Entretanto, Maria Madalena e Maria, mãe de José, observavam onde Jesus tinha sido depositado.” (Mc 15,47)

Assunção Cristas Ministra da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território SERVIR PARA SER COERENTE

Talvez a maior ambição da nossa vida, da vida de um cristão, seja aquela mais improvável a uma lógica puramente humana: a de servindo, viver com e em Cristo. Servir terá seguramente muitas aplicações e interpretações, há concerteza muito tempo e espaço para o serviço, para cada um servir de acordo com a sua medida, mas há algo incontornável em todo o apelo ao serviço: a alteridade. A existência do outro está na essência indeclinável do serviço, a inclinação para o outro é o alicerce do serviço, a aniquilação, a humilhação de si próprio, à semelhança de Jesus, é o terreno fecundo onde o serviço pode frutificar.

Saber como, no concreto dos dias e dos anos - que não passam por nós, mas que nós queremos viver intensamente –, podemos agir cumprimento a vocação de serviço comum a toda a humanidade, é talvez o mais misterioso e contínuo desafio das nossas vidas.

Na política a ideia de serviço é – no sentido performativo do dever ser - rigorosamente omnipresente. Na política, o outro são todos os outros, organizados em grupos mais ou menos difusos, que vão do conjunto de todos os cidadãos até grupos mais pequenos distinguidos mediante critérios diversos: os jovens, os idosos, os desempregados, os agricultores…Os temas são imensamente diversificados, com variações técnicas eventualmente impenetráveis, mas em todos eles, e no limite, temos o outro, as pessoas concretas que precisam de soluções concretas, que precisam que a sua visão seja tida em conta, seja vista, seja vida, seja ouvida. O outro pode ser mesmo a própria natureza, que queremos preservar por muitas razões – nomeadamente pelas consequências da sua destruição -, mas também e sobretudo pelo respeito e amor à obra da criação.

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1 de Abril | Domingo de Ramos

DESENVOLVIMENTO PELA COERÊNCIA

Em qualquer caso, é-nos exigida uma escuta atenta, e não há escuta atenta sem uma procura de humildade, de um certo apagamento, de abandono de si próprio para ouvir o outro na perspetiva do outro. Só assim se pode aprender e, pedindo a graça da doçura e da delicadeza, impregnar as nossas ações de sentido do outro.

Em cada Quaresma é-nos dada a imensa oportunidade de refletir sobre o que fazemos e como fazemos. Como o nosso amor a Cristo é visível na nossa ação. Como a alegria que recebemos de Cristo é ampliada pela nossa vida. Como a interpelação para a concórdia tem resposta clara da nossa parte. Se é certo que bastará um momento de coerência na nossa vida para que a misericórdia de Deus nos salve, também é certo que a graça de procurar viver a coerência tornam a vida infinitamente mais extraordinária e então pode-se saborear a cada momento o gosto de vivermos com os outros e para os outros.

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TRANSFORMAÇÃO 8 ABRIL | DOMINGO DA RESSURREIÇÃO


8 de Abril | Domingo da Ressurreição

DESENVOLVIMENTO COMO PASSAGEM REFERÊNCIAS •

Act. 10, 34A. 37-43

Col. 3, 1-4 ou 1 Cor. 5, 6B-8

Jo. 20, 1-9

REFLEXÃO

JOSÉ FRAZÃO, SJ FACULDADE DE FILOSOFIA DE BRAGA, UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA Fazendo caminho connosco e atravessando todos os lugares estreitos e perigosos da nossa existência, Jesus faz-Se passagem, Ele, nossa Páscoa, nossa esperança. Livremente, adianta-se e segue à frente e, assim, se diz como Palavra e se realiza como gesto de Deus entre nós. Expõe-se-nos, dando tudo de si para que vivamos segundo o desejo de Deus para nós. Dá a própria vida, não porque lhe seja roubada ou exigida, mas, porque, intimamente, o quer. E, assim, tão dado, vence todas as mortes, enxuga todas as lágrimas, cura todas as feridas. Na maior das solidariedades, desce, ele próprio, ao sepulcro das nossas mortes, fazendo brilhar, aí, a nova luz da confiança. Neste dia, tão feliz, «Maria Madalena foi de manhãzinha, ainda escuro, ao sepulcro e viu a pedra retirada». Estava vazio. Uma força prodigiosa marca a nossa história com um novo início. Um fermento novo já está a fazer nova a velha massa. Aquele que tinha sido abandonado na cruz está vivo. Vive, agora e para sempre, como Graça que salva a vida de cada homem e de cada mulher. Não a vida abstracta ou ideal, mas aquela de carne e de sangue que se narra e se decide no quotidiano de cada biografia e de cada grupo. Em Jesus de Nazaré, no seu gesto de nos dar a vida, Deus vence todas as nossas mortes.

Da morte à vida, esta é a grande passagem que nos toca viver. Desde que nascemos, para todos, é esta a mais elementar das transformações. Passar do medo à confiança, da separação ao encontro, da insensibilidade à atenção, da frieza à ternura, do ressentimento ao perdão, da mesquinhez à grandeza de alma, da protecção de si, a todo o custo, à dádiva de si, sem condições. São estas as passagens mais vitais, porque são as que restituem, cada um, à verdade de si próprio e do seu estar no mundo. Mas, porque geram resistências viscerais, são, também, as mais dramáticas e as mais dolorosas. De facto, não há vida que não passe pela prova da morte a si próprio, porque quem se quiser conservar, esse, perder-

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8 de Abril | Domingo da Ressurreição

DESENVOLVIMENTO COMO PASSAGEM se-á. Estranhamente, querendo viver, acontece que nos ligamos ao que nos faz morrer. Querendo o bem, muitas vezes, é o mal que preferimos. Gastamos tanta energia para atrair outros, mas acabamos, facilmente, por não suportar a sua presença. Amamos a humanidade, mas o pobre que encontramos na rua deixa-nos indiferentes. Aspiramos a muito e sonhamos alto, mas, contentamo-nos, facilmente, com demasiado pouco. Temos boas intenções, mas, muitas, não passam disso, de boas intenções. De um «admirável combate» se trata, entre a protecção de si, à custa dos outros, e a dádiva de si, incondicional, para o bem de qualquer outro. Nesta luta, quem não for passando, passo a passo, pela morte ao «seu próprio amor, querer e interesse», decidindo entregar-se, livremente, pela vida de um outro, resigna-se a fazer do sepulcro casa, mortificando o desejo íntimo de uma vida justa e de relações conseguidas. Mas, aquele que, reconhecidamente, acolher a graça do Ressuscitado que o restitui à vida, aprenderá, também ele, passo a passo, a gerar vida pelo dom que fizer de si. Dia-a-dia aprende com o seu Senhor que a única vida que vale a pena ser vivida é aquela que se dá. Nesta passagem, vive. E, deste modo, fará viver.

IRMÃ ESPERANZA OSPINA GUINÉ-BISSAU Depois de 10 meses da minha chegada à Guiné-Bissau, não me atrevo a tentar descrever uma realidade pluricultural tão vasta, tão complexa que desafia a minha visão ocidental do mundo. Posso dizer que o percebo como um país que ainda não conseguiu recuperar das suas lutas de libertação seguidas da guerra interna que aconteceu há 13 anos; coexistem nele uma tradição fortemente enraizada e alguns vestígios de modernidade; um país com um índice de pobreza de 70%, que tem acostumado muitos dos seus habitantes a limitar-se a estender a mão para receber as ajudas do primeiro mundo, ainda que tendo a terra mais fértil que tenho visto na minha vida, que com as primeiras chuvas começa a enverdecer de maneira milagrosa; com um clima privilegiado capaz de produzir quase qualquer produto. Um país com um alto nível de corrupção e impunidade, que se reflecte no receio e no temor de falar a verdade. Um país cuja capital conheceu o primeiro semáforo em Setembro do ano passado, e que no meio das suas ruínas começa lentamente a ressurgir.

A partir de um olhar rápido e superficial, poder-se-ia dizer da Guiné Bissau, o que no seu tempo foi dito de Nazaré, “dali pode sair algo de bom?” E é neste contexto aparentemente hostil que Deus me vai mostrando uma via alternativa para reconhecer os pequenos e grandes sinais de transformação e de Páscoa, que muitas vezes não se identificam com

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8 de Abril | Domingo da Ressurreição

DESENVOLVIMENTO COMO PASSAGEM os nossos ideais de êxito, bem estar, fama, poder; e que necessariamente passam pela casa dos pobres, excluídos e esquecidos deste mundo, que preferimos esquecer nos seus sepulcros, de maneira que não incomodem os nossos “bem ganhos estilos de vida”.

Situo-me agora no Evangelho de Marcos, Capítulo 5, 1 - ss, que me levam a pensar nas ruínas que foram por mais de dez anos as instalações do antigo internato de Bor, que apenas podia evocar um passado de sofrimento, um presente de conformismo e um futuro desesperançados, que escondia entre as suas paredes, os “endemoninhados” pelo vício e pela delinquência, que devolviam violentamente o que violentamente receberam. E ver hoje neste mesmo lugar o que hoje é a Casa de Acolhimento Bambaran que foi sonhada pelo Bispo de Bissau e pelos “amigos do terceiro mundo”, provenientes de Itália, nascida oficialmente em 16 de Abril de 2011 para acolher e proteger meninos e meninas desde os 0 aos 14 anos, órfãos, abandonados, maltratados, é para mim um primeiro e claríssimo sinal de ressurreição. Porta de entrada, para os grandes e subtis milagres de transformação que vão acontecendo nesta pequena e invisível família Bambaran.

O possesso de Gerasa é por excelência o marginal para quem nada nem ninguém se atreve a olhar ou a tocar, porque “passa as noites e os dias nos sepulcros dando gritos e golpeando-se com pedras” e ao qual um só gesto de amor, proximidade e acolhimento de Jesus o levou a reconhecer a sua humanidade, passando de condições desumanas a condições dignas de toda a pessoa humana, “sentado, vestido e no seu perfeito juízo”. Identifico-o com os rapazes que chegaram à casa Bambaran com quadros de desnutrição grave, com antecedentes de maus tratos físicos e psicológicos, que diante dos primeiros gestos de ternura, talvez desconhecidos para eles, reagiram com violência, choro, isolamento, mas que pouco a pouco os foi humanizando, primeiro um sorriso, uma palavra, até conseguir hoje cantos, risos, jogos, alegria…

Identifico-o com o “menino irán”, denominado assim aquele que por ter nascido com uma enfermidade neurológica ou alguma malformação não é considerado pessoa, mas portador de desgraças para a sua família e que por conseguinte, deve ser eliminado, um menino hoje resgatado, protegido e amado, que é portador de boas notícias até pelo seu nome que significa “Deus connosco”.

Vejo este ser marginalizado, no bebé recém-nascido, que foi abandonado num hospital, depois da sua mãe ter morrido, uma mulher estrangeira, portadora de HIV, totalmente sozinha…um bebé que na casa Bambaran cresce saudável, feliz…

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8 de Abril | Domingo da Ressurreição

DESENVOLVIMENTO COMO PASSAGEM É por aqui que vai actualizando o grande acontecimento da ressurreição, acredito que é por aqui que devem ir passando as nossas transformações, desde a base, desde o pequeno, desde o quotidiano, desde o profundo do coração. Deixando de esperar passivamente as respostas do poder político ou económico, dos macro projectos, das grandes inversões que prometem desenvolvimento e progresso puramente material, esquecendo os valores do pobre de Nazaré, de todos os pobres da terra, autenticamente humanos, como os que também o povo guineense tem e que segundo a minha opinião são essenciais para um desenvolvimento humano integral: a solidariedade, a hospitalidade, o sentido da família alargada, o respeito pelos mais velhos, o espírito festivo, a resistência, que liberta da opressão, do isolamento, da violência.

Ao contemplar este pequeno grupo de meninas e meninos, que cada manhã me saúdam com um alegre “Bom dia, Mãe”, agradeço a Deus a oportunidade que me dá de acreditar que o amor que semeamos neles germinará para o futuro, em homens e mulheres novos, que contribuem verdadeiramente para a construção de um progresso realmente humano e inclusivo.

Estou convencida que cada um dos cristãos e cristãs comprometidos com a sua fé podem acabar desde a sua própria realidade, com muitos sepulcros, expulsar muitos demónios e converter-se em rasgos luminosos da Ressurreição, e talvez até converter-se na consciência de um mundo que foge da cruz, que esquece os crucificados da história, e fecha as portas da verdadeira Vida, que nos traz a Páscoa do Senhor.

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8 de Abril | Domingo da Ressurreição

DESENVOLVIMENTO COMO PASSAGEM Rita Cortez aci Escrava do Sagrado Coração de Jesus, Projecto TASSE Conferência apresentada nos 75 anos do Instituto das Escravas do Sagrado Coração de Jesus em Portugal, 10 de Fevereiro de 2011 ENTRE A BELEZA DO MUNDO E O ESPANTO DO CÉU - O EVANGELHO DA JUSTIÇA E A INSERÇÃO SOCIAL “PROMOVER O PRÓXIMO SEM FINS LUCRATIVOS” INTRODUÇÃO

Entre a Beleza do Mundo e os Espanto do Céu, serviu-me de sugestão de ponta pé de saída para começar esta conversa…

Permanecer e desejar ficar próximo da dor, de acompanhar e amar o que é pobre e frágil, ficar ali junto de realidades visivelmente feias – duras e dolorosas - e não “amáveis” só é possível se se descobre a Beleza escondida que as mesmas encerram. E quando se fica e se ama, descobre-se e toca-se o Céu. O Espanto do Céu.

O Espanto do Amor Criador que não ama só o que é amável, mas porque ao amar tudo o que é criado e tem vida, converte o que ama em amável. Em Belo.

Falar de Promover a Justiça, de promover o outro em contextos de vulnerabilidade é, sem dúvida alguma, situar-nos aqui: entre a Beleza escondida destes pequenos “mundos” e a certeza inabalável que aí tocamos, muitas vezes, o Céu! I. O EVANGELHO DA JUSTIÇA E A INSERÇÃO SOCIAL

A promoção da justiça e a preferência pelos mais pobres fazem parte da história do Instituto das Escravas do Sagrado Coração de Jesus desde a sua fundação: assim começou o Instituto no coração da nossa fundadora, Rafaela Maria, procurando

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8 de Abril | Domingo da Ressurreição

DESENVOLVIMENTO COMO PASSAGEM aqueles que, no seu tempo, eram os mais desfavorecidos e excluídos. Podemos, por isso afirmar que a promoção da justiça no amor e a defesa dos mais pobres está no coração do nosso carisma e missão. Faz parte dele, não é opção.

Creio poder falar de conversão a Cristo e ao seu Evangelho neste caminho… na nossa história. Conversão para encontrar aí, nesses lugares de ruptura, a Cristo que precisamente aí, COM esses irmãos, quer ser servido e encontrado. E onde também nós nos encontramos.

Nesta linha de promoção da Justiça, algo que hoje, para as gerações mais novas parece ser óbvio, associar a missão das Congregações religiosas apostólicas a trabalhos de inserção social junto e com os mais pobres, nem sempre foi assim na história da Igreja e na história de muitas Congregações. Foi passar de Promover a Justiça POR ELES (uma classe desprotegida que não conheço, nem ponho rosto) a fazê-lo COM eles, CONTIGO que tem um nome e rosto, COM quem passo a ter uma relação.

As chamadas comunidades de inserção foram um passo nesta direcção, neste desejo de nos aproximarmos e aproximarmos outros. Em Portugal surge em 1992 com a fundação da comunidade da Fonte da Prata; no Instituto é mais recente, uns anos antes.

A grande e maior diferença foi passar de promotores da mudança a agentes e participantes da mudança COM aqueles com quem passámos a viver. A) EVANGELHO E JUSTIÇA – EVANGELHO DA JUSTIÇA?

O anúncio da Fé em Jesus Cristo leva consigo a prática da Justiça, porque a Boa Nova de Jesus, o Seu Evangelho, o que Jesus anuncia e pratica é a Boa Nova da Justiça. A Justiça que brota do evangelho não é uma linha política, uma ideologia, nem muito menos uma estratégia de pastoral. O Evangelho de Jesus é Justiça, por isso uma prática imperiosa para quem O segue. Ou como disse recentemente o Papa Bento XVI: “quem quer ser verdadeiramente companheiro e amigo de Jesus deve partilhar com Ele o Seu Amor aos pobres”.

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8 de Abril | Domingo da Ressurreição

DESENVOLVIMENTO COMO PASSAGEM B) PALAVRAS – UMA PRAXIS

A promoção da Justiça é, portanto, uma praxis, um modo de estar e de viver a fé, de entrar com Amor nos sofrimentos da história. O lugar de exercício deste Amor são, então, todos os lugares históricos – todas as margens - onde o Senhor Jesus quer ser encontrado.

Que prática é esta? Proponho-vos um exercício de contemplação:

1. LUGAR: Sinagoga – sábado 2. VER AS PESSOAS E VER O QUE FAZEM Jesus entrou na sinagoga. E estava lá um homem que tinha uma das mãos paralisadas. Ora eles - os fariseus observavam-no, para ver se iria curá-lo ao sábado, a fim de o poderem acusar. 3. OUVIR O QUE DIZEM 1. Jesus disse ao homem da mão paralisada: «Levanta-te e vem para o meio.» 2. E a eles perguntou (aos fariseus): «É permitido ao sábado fazer bem ou fazer mal, salvar uma vida ou matá-la?» Eles ficaram calados. 3. Então, olhando-os com indignação e magoado com a dureza dos seus corações, disse ao homem: «Estende a mão.» Estendeu-a, e a mão ficou curada. Assim que saíram, os fariseus reuniram-se com os partidários de Herodes para deliberar como haviam de matar Jesus. 4. REFLECTIR PARA TIRAR ALGUM PROVEITO AS PALAVRAS 1.«Levanta-te e vem para o meio»: levanta e põe de pé quem estava caído - devolve dignidade; coloca no meio quem está na margem – cria oportunidades. Inversão dos papéis e relações sociais. Quem estava fora fica dentro. 2. «É permitido ao sábado fazer bem ou fazer mal, salvar uma vida ou matá-la?»: questiona a prática da justiça humana e da lei que não está ao serviço do homem e da vida, mas ao serviço do poder e dos poderosos criando e alimentando estruturas – políticas, sociais, económicas - injustas.

A injustiça tem a sua raiz numa cultura de vida, isto é na maneira como pensamos, como nos organizamos, como partilhamos… são os valores que dão origem a um estilo de vida. Que cultura promovo?

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8 de Abril | Domingo da Ressurreição

DESENVOLVIMENTO COMO PASSAGEM 3. «Estende a mão.»: devolve ao excluído as suas capacidades. A prática da justiça não é assistencialismo, é abrir possibilidade de futuro e criar oportunidades. Autonomia. Empowerment. Dar capacidade de decisão e participação a nível pessoal e comunitário. Daí a enormíssima importância da Educação e da Formação em contextos de exclusão.

CONSEQUÊNCIA: queriam matar Jesus, silenciá-lo. Parece, então, claro que proclamar a Fé e o exercício da Justiça implica anuncio e denuncia; quebrar ciclos e estruturas que dão suporte ao um sistema repressivo e injusto, que promovem só alguns e os colocam cada vez mais no centro, e que, simultaneamente, aumentam de forma gigantesca aqueles que habitam as margens do nosso mundo. II. PROMOVER O PRÓXIMO - COLOCÁ-LO NO CENTRO

O primeiro relatório sobre o Desenvolvimento Humano (do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) foi publicado em 1990 e começava com a premissa: “A verdadeira riqueza de uma nação está nas pessoas”. Com esta nova forma de conceber e medir o desenvolvimento, o relatório teve um forte impacto nas políticas de desenvolvimento de todo o mundo ao colocar a pessoa no centro das estratégias de desenvolvimento.

Este relatório definia desenvolvimento humano como “um processo mediante o qual se ampliam as oportunidades dos povos”, associando esta definição ao “bem-estar da pessoa humana e pleno exercício da sua liberdade”, mediante 3 indicadores: melhor saúde, mais educação e um nível de vida mais digno. O centro passou a ser a pessoa e o seu bem-estar – oportunidades/liberdades -e não o crescimento dos mercados.

Apareceu um novo conceito de economia e de desenvolvimento: economia do desenvolvimento humano: expandir oportunidades e liberdades. Este novo conceito ou modelo de desenvolvimento concebido apenas há 20 anos não é novo o que nos acontece é que esquecemo-lo com frequência. Porquê? Porque é completamente incompatível com a lógica de ambição e competitividade em que, normalmente, vivemos.

Modelo que não é mais do que falávamos antes: a prática de Jesus, a lógica do Reino. Um convite a dilatar o coração… colocando o “outro” no centro da minha vida, na minha família, no meu trabalho e interesses profissionais, das minhas decisões…. Quando este exercício passa do desejo e da reflexão teórica à prática, o que vejo é muito mais, o horizonte e o meu campo de visão rasgam-se brutalmente. O coração dilata-se e os pulmões enchem-se de oxigénio!

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8 de Abril | Domingo da Ressurreição

DESENVOLVIMENTO COMO PASSAGEM Trazer esta enormíssima massa humana que vive nas “margens” para o centro das nossas vidas é a única forma de não vivermos nós à margem, descomprometidos com o mundo e ao mesmo tempo, paradoxalmente, engolidos por ele... Estou disposto a assumir as consequências de colocar milhões de vidas humanas no centro da minha vida? A assumir essa inversão de papéis sociais que me fará optar, decidir… no dia a dia como nas grandes decisões?

Resumindo: a minha capacidade de promover o outro, de promover desenvolvimento humano, de anunciar o Evangelho da Justiça passa, então, pelo VALOR que dou à pessoa humana a ponto de a colocar no centro da minha vida.

A pergunta que está subjacente a esta reflexão é: estou também certa que o outro é a maior riqueza para o desenvolvimento da sociedade em que todos vivemos? III. SEM FINS LUCRATIVOS – SER PARA O OUTRO

Seria um erro, um tremendo engano dar por certo que quando até compreendo esta lógica e opto por ela, estou isento de não misturar na minha acção outros interesses: políticos, institucionais e até mesmo pessoais.

Por experiência posso dizer-vos que infelizmente não é assim: que convivemos neste âmbito de acção social com muitos interesses que ocultam os interesses daqueles a quem servimos… e temos e devemos estar alerta!

O lucro em contextos de exclusão, quando trabalhamos tentando promover a vida dos mais fracos, assume o nome de desejo de dominar, de impor sem ouvir, das lutas de poderes institucionais e políticos e até de um certo prestigio e reconhecimento social... com enormes fins lucrativos!... lucro que só fere a dignidade do outro….

Porque entrar e estar em lugares de exclusão não é apenas definir medidas e acções, criar instrumentos e indicadores, medir resultados, articular com os parceiros e intervir… Sem entrar no âmbito do juízo, o campo da intervenção social pode ser altamente escorregadio, na tomada de decisões conduzidas pelo mal – interesses próprios - sob aparência de Bem.

Ao longo destes anos fui percebendo que a única postura que podemos assumir para promover o outro SEM FINS LUCRATIVOS, diminuindo o risco de não estar ali em proveito próprio – pss, institucional ou políticos - é de SER PARA E COM O OUTRO.

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8 de Abril | Domingo da Ressurreição

DESENVOLVIMENTO COMO PASSAGEM 1. SER PARA O OUTRO: ACTO DO SERVIÇO

O servo responde e cumpre com um serviço. Assiste o débil, dá pão a quem tem fome, distribui roupa, arranja casa, ajuda a pagar rendas, cria oportunidades de estudo e de trabalho, defende o imigrante…. 2. SER COM O OUTRO: ACTO DE AMOR

De servo a amigo, permitimos que nos comunique a sua intimidade, a sua vida… o lugar de encontro onde se presta o serviço, deixam de ser apenas os lugares físicos onde se dá algo, mas um espaço de relação e encontro de recuperação e reparação do outro.

Na missão da “promoção do outro” a amizade entende-se como o espaço relacional privilegiado onde se promove o outro sem fins lucrativos. A amizade – enquanto acto de serviço e de amor - é “mediação” porque é abertura, diálogo e comunicação de vidas. ESCUTA. Amizade como espaço relacional, possibilitadora de comunicação de vidas, não apenas de papeis e processos. Precisamos, com alguma, urgência de humanizar os “atendimentos e os serviços sociais”. Aqueles a quem servimos e amamos merecem que o façamos bem, entregando-lhe o melhor. “Fazer o Bem, bem feito”, dizia o P. Amadeu Pinto sj.

Jesus que passou pela vida fazendo o Bem, bem feito também disse aos seus amigos: “já não vos chamo servos, mas amigos…”. Será que aqueles a quem servimos também dizem de nós: “já não vos chamo servos/as, mas amigos/as?”, já não vos chamo servos/as mas irmãos/ãs? CONCLUSÃO PROMOVER O PRÓXIMO SEM FINS LUCRATIVOS….

Ser chamados a viver e anunciar a Boa nova da Justiça num Mundo que gira sob o princípio da Injustiça, do total desajuste, que gira à volta do egoísmo, do “lucro” fácil esta proposta parece quase um acto inútil e suicida…. Será? Não! Creio que é possível.

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8 de Abril | Domingo da Ressurreição

DESENVOLVIMENTO COMO PASSAGEM Como? Não vivendo de costas para esta história que é a nossa. Entrando nela fazendo-nos valer da sabedoria do discernimento, de mãos dadas com Aquele que é o Senhor e Dono desta história, que a habita e que pede de nós uma resposta. PROMOVER O PRÓXIMO SEM FINS LUCRATIVOS….

Sendo Homens e Mulheres de Deus para o Mundo, pedindo a graça e o dom do discernimento, vamos sendo capazes de decidir aquilo que mais conduz ao Bem e à Promoção da Justiça do Reino já iniciado.

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