FUNDADA EM 12 DE JULHO DE 1936
Setembro/ Outubro de 2016 Nº 915
O SEMEADOR Internacional ÓRGÃO DA FEDERAÇÃO ESPÍRITA DO ESTADO DE SÃO PAULO FUNDADO EM 1º DE MARÇO DE 1944
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12ª de Rua Típica Francesa
Festa Beneficente
das 11h às 20h
Rua Maria Paula, 140 - Bela Vista - SP Excepcionalmente este ano de 2016 a FESTA KARDEC será realizada dia 06 de NOVEMBRO
Sumário
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Editorial
O Reino dos Céus Programação de Palestras Públicas
Palestras públicas na FEESP Paulo Oliveira
Bezerra de Menezes O Apóstolo da Unificação João Demétrio Loricchio
Fraternidade - Lei Universal Miriam Ofir
O melhor aproveitamento do tempo na Terra
16 O hábito de julgar 18 Depuração do Planeta Azul 20 Memória, lembrança e Leda Maria Flaborea
Roberto Vilmar Quaresma
Roberto Watanabe
esquecimento
22 Religião, Ciência e a busca Marcelo Ferreira
do conhecimento do Universo
25 Eventos Espíritas Especial
EXPEDIENTE Revista bimestral Assinatura anual: R$ 36,00 Fundado em 1º de março de 1944, por Marta Cajado de Oliveira (Diretora Responsável 1896/1989); Pedro Camargo “Vinícius” (Diretor Gerente - 1878/1966) e Cmte. Edgard Armond (Diretor Secretário - 1894/1982). Conselho Editorial Silvia Cristina Stars de Carvalho Puglia, Fátima Luisa Giro, Paulo Sergio de Oliveira. Editor: Altamirando Dantas de Assis Carneiro (MTb 13.704) As opiniões manifestadas em artigos assinados, bem como nos livros anunciados são de responsabilidade de seus autores, não refletindo, obrigatoriamente, o pensamento da Revista O Semeador Internacional, de seu Conselho Editorial ou da FEESP. FEDERAÇÃO ESPÍRITA DO ESTADO DE SÃO PAULO CNPJ 61.669.966/0014-25 Rua Maria Paula, 140, Bela Vista, CEP 01319-000, São Paulo - SP Tel.: (11) 3115-5544 Portal: www.feesp.org.br Email: redacao@feesp.org.br Diretoria Executiva: Presidente Zulmira da Conceição Chaves Hassesian presidente@feesp.org.br Vice-Presidente João Baptista do Valle vicepresidente@feesp.org.br Diretora da Área de Assistência Social Nancy Cesar Campos Raymundo social@feesp.org.br Diretora Área de Ensino Fátima Luisa Giro ensino@feesp.org.br Diretora Área Espiritual Vera Cristina Marques de Oliveira Millano espiritual@feesp.org.br Diretora Área de Divulgação Silvia Cristina Stars de Carvalho Puglia divulgacao@feesp.org.br Diretora Área Infância, Juventude e Mocidade Vera Lúcia Leite infanciamocidade@feesp.org.br Diretora Área Financeira Guiomar Cisotto Bonfanti financeiro@feesp.org.br Diretora Área Federativa Regina Helena Tuma Carlim federativa@feesp.org.br Assistência Social da FEESP Casa Transitória Fabiano de Cristo CNPJ: 61.669.966/0002-91 Av. Condessa Elizabeth de Robiano, 454, Belenzinho, São Paulo – SP, Tel.: (11) 2797-2999 Sede Santo Amaro: Rua Santo Amaro, 370, Bela Vista, São Paulo – SP, Tel.: (11) 3107-2023 Casa do Caminho, Av. Moisés Maimonides, 40, Vila Progresso, Itaquera, São Paulo – SP, Tel.: (11) 2052-5711 Centro de Convívio Infanto-Juvenil D. Maria Francisca Marcondes Guimarães – Rua Franca, 145, B. Bosque dos Eucaliptos, São José dos Campos – SP (12) 3916-3981 Editoração: TUTTO (11) 2468-3384 Impressão: Mix Gráfica e Editora (11) 3451-9395
Editorial
O REINO DOS CÉUS
O O
“Eis que o Reino de Deus está vós.” (Lucas, 17:21)
Espiritismo nos ensina que o Reino dos Céus não existe como lugar confinado, como mansão de repouso ou plano de mera contemplação beatífica. Jesus Cristo interrogado pelos fariseus sobre quando havia de vir o Reino de Deus, respondeulhes: o Reino de Deus não vem como aparência exterior. Nem dirão: ei-lo aqui, ei-lo ali, porque eis que o Reino de Deus está entre vós. Evidentemente, se um homem vive em paz com sua consciência, e é perseverante na observância dos ensinamentos evangélicos, estará vivendo num paraíso. Por outro lado, se alguém apenas pratica iniquidade e reluta em praticar o caminho do bem, implicitamente estará vivendo em um inferno. A Doutrina Espírita proclama a existência de planos superiores, onde os Espíritos que desempenharam de modo satisfatório as suas tarefas na Terra, ou nas tantas moradas na Casa do Pai, desfrutam das bem -aventuranças próprias desses planos, as quais são outorgadas àquelas almas que souberam assimilar as leis do amor. Indubitavelmente esses lugares não são destinados à inação ou a contemplação estática. Com o objetivo de legar aos seus pósteros alguns ensinos alusivos em edificação das almas e sua preparação para a vida futura, o Mestre teceu vários comentários e ensinou algumas parábolas que definem claramente como devemos conceber o tão decantado Reino dos Céus. - o Reino dos Céus é semelhante ao grão de mostarda que um homem, tomando-o, lançou na sua horta, e cresPaulo Alves Godoy
Silvia Cristina Puglia Diretora da Área de Divulgação
ceu, e fez-se grande hortaliça, e em seus ramos se aninharam as aves dos céus; - o Reino de Deus é semelhante ao fermento que uma mulher, tomando-o, escondeu em três medidas de farinha, até que tudo levedou; - o Reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido num campo que um homem escondeu, e pela posse dele vai, vende tudo quanto tem, e compra aquele campo; - o Reino de Deus é semelhante ao homem negociante, que busca boas pérolas, e encontrando uma pérola de grande valor, foi, vendeu tudo quanto tinha, e comprou-a; - o Reino dos céus é semelhante a uma rede lançada ao mar, e que apanha toda qualidade de peixes, e estando ela cheia, puxam para a praia; e assentando-se, apanham para os cestos os bons; os ruins, porém, lançam fora. Todas essas cinco parábolas encerram praticamente o mesmo significado, revelando que o Reino dos Céus não é aquilo que os homens acreditam. Não é um lugar misterioso, cheios de problemas discriminatórios. A máxima buscai antes o Reino de Deus e sua justiça e tudo nos será acrescentado, por si só basta para demonstrar que abrindo o coração para que nele se aninhem os sentimentos do bem, o homem estará recebendo em sua alma, pequenina semente que ali desabrochará e produzirá coisas maravilhosas, ao ponto de sentir-se em íntimo contato O SEMEADOR Internacional
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com os Benfeitores Espirituais, os quais, como aves dos Céus dele se aproximarão, atraídos pelos sentimentos virtuosos, que o Cristo comparou aos ramos de uma grande vegetação. Aquele que sentir em seu íntimo o despertar para as coisas de Deus deverá desvencilhar-se de todas as imperfeições, agindo como aquele homem que encontrando uma pérola de grande valor ou um tesouro escondido, decide-se a dispor de tudo quanto tem, a fim de adquiri-los. O homem que pressentir, no recesso de sua alma, que as premissas do Reino dos Céus estão bafejando com suas emanações, dado o fato de ter-se transformado numa pessoa que tomou a deliberação de caminhar pelas veredas do bem, deverá abandonar então todas as preocupações de ordem secundária, os vícios, os maus pendores, para que assim possam usufruir de patrimônio mais relevante. Fazendo analogia entre o Reino dos Céus e uma rede cheia de peixes, da qual o pescador separará os bons, guardando-os na cesta, e atirando os maus de volta ao mar, Jesus Cristo nos legou um ensino velado, do qual cumpre extrair-se o espírito que vivifica: O Reino dos Céus é a herança de todas as criaturas de Deus. A rede generosa é lançada, portanto, para toda a humanidade, de forma indistinta, assim como Deus derrama sua infinita misericórdia sobre todos os seus filhos. Muitos, porém, não se preocupam em manter essas coisas relevantes, preferindo antes chafurdar-se nos vícios terrenos. 4
Quando chegar a hora de se defrontarem com os problemas da vida do além-túmulo, ocorrerá então aquela separação mencionada nos Evangelho, sobre as separações dos peixes. Aqueles que se compenetrarem dos seus deveres, entrarão no gozo das coisas boas que Deus reserva aos que souberam pautar seus atos pela lei do amor. Estes simbolizam os peixes bons. Por outro lado, os que malbarataram seus talentos, que preferiram viver mergulhados nas coisas más, nas vaidades do mundo, nos vícios tenebrosos, estes como peixes ruins, serão atirados de volta ao mar, para, em novas encarnações, em novas existências atribuladas, aprende-
rem a retomar o caminho certo que os levará a Deus. Quando alguém nos afirmar que o Reino de Deus está ali, aqui ou acolá, não lhe devemos dar crédito, uma vez que esse tão aspirado Reino está entre nós, e nós poderemos nele viver sempre que quisermos. Esse é um trecho retirado do livro “O Evangelho pede licença” de autoria de Paulo Alves Godoy o qual recomendamos a leitura. Este é um dos 150 títulos das Edições FEESP e está a venda em nossa livraria.
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BEZERRA DE MENEZES
O Apóstolo da Unificação
“Descerás às lutas terrestres com o objetivo de concentrar as nossas energias no país do Cruzeiro, dirigindo-se para o alvo sagrado dos nossos esforços. Arregimentarás todos os elementos dispersos, com as dedicações do teu Espírito, a fim de que possas criar o nosso núcleo de atividades espirituais, dentro dos elevados propósitos de reforma e regeneração.” (Ismael) (Brasil, Coração Mundo, Pátria do Evangelho - Humberto de Campos Francisco Cândido Xavier)
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m razão da comemoração do natalício de Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, ocorrido a 29-081831, como costuma acontecer, a Federação Espírita do Estado de São Paulo dedica todo o mês de agosto para lembrarmos e homenagearmos esse querido Espírito iluminado, que é um pai espiritual para todos nós. Alinhando-nos a essas homenagens, o Semeador Internacional, destaca um pequeno apanhado de informações, cujo objetivo é de primeiramente enfatizar a missão e a responsabilidade assumidas por Dr. Bezerra, como é carinhosamente conhecido o nobre batalhador da Doutrina Espírita e do Evangelho de Jesus, descrita na epígrafe deste artigo, que é a de “concentrar as nossas energias no país do Cruzeiro”, de acordo com as ordenações de Ismael, Guia Espiritual e Protetor de nosso país. Como sabemos, os Espíritos de ordem superior não se preocupam tanto com as homenagens que lhes rendamos, mas sim com a nossa adesão voluntária à prática dos ensinamentos que tenham sido trazidos por sua contribuição, junto à comunidade dos Espíritos encarnados. Com o nosso homenageado, não seria diferente. Assim, vamos nos ater a relembrar alguns dos ensinamentos e exemplos deixados por ele, para nossa orientação e reflexão, dando-nos a oportunidade de, uma vez mais, buscarmos a nossa conscientização quanto a tudo o que precisamos modificar em nossos pensamentos, palavras e atitudes diárias, para que, seguindo seus exemplos cujo objetivo não é senão o de apoiar a todos nós que nos encontramos na retaguarda da evolução, possamos um dia alcançar a perfeição junto de Deus, nosso Pai e Criador. Devemos sempre lembrar que a missão a que nos referimos acima, e que ele aceitou com grande alegria e emoção, é a de reunir os esforços de implantação e desenvolvimento do Espiritismo, doutrina consoladora prometida por Jesus
Cristo (João 14:16-17), a qual desempenha papel fundamental na preparação para a “reforma e regeneração” de nosso planeta, especialmente no momento atual de transição do qual participamos. Assim posto, iniciamos relembrando que até os dezoito anos de idade, Bezerra de Menezes professava fervorosamente a fé na Igreja Católica. Porém, diante de sua mudança para o Rio de Janeiro em 1851, passou a conviver com “livres -pensadores”, que acabaram por influenciá-lo, aprofundando as próprias dúvidas em relação a alguns pontos da religião de então, passando a adotar um comportamento cético e questionador em relação a tudo aquilo que aprendera, chegando ao ponto de se afastar da Igreja Católica. Descrente do catolicismo, com sérias dúvidas sobre as questões dogmáticas e as práticas adotadas sem embasamento na razão e na lógica, segundo seu modo de pensar, seguiu para o ceticismo embora mantivesse a pedra fundamental de sua fé em seu coração, que era a convicção na existência de Deus e da alma que sobrevive ao corpo. Do ceticismo à descrença seria uma consequência natural, mas o fato de perder a esposa, após quatro anos de casado, abalou-o profundamente, exigindo muita persistência e fé para continuar sua vida e cuidar dos dois filhos pequenos. Nesse tempo, recebeu das mãos de um amigo um exemplar de O Livro dos Espíritos de Allan Kardec, tendo a oportunidade de entender que a verdadeira religião, aquela cuja função é a de religar o homem a Deus, provia-o com conhecimentos que intuitivamente já trazia e que os entendia como sendo elementos de preenchimento à sua razão e lógica, havendo a aceitação imediata dos fundamentos da Doutrina Espírita. Tornou-se um espírita convicto e praticante de todos os ensinamentos, pois, conforme suas próprias palavras, “minha alma encontrou finalmente onde pousar!”. Com
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essa nova fé raciocinada e com a nova disposição obtida pelos ensinamentos recebidos, reconheceu que blasfemara mentalmente contra Deus por causa da perda de um filho, e que agora, após a perda de outros quatro filhos, podia perceber a modificação de sua atitude mental, resignando-se e agradecendo a Deus “por ter-lhe provado sua obediência a Seus Sacrossantos Decretos”, como afirmaria mais tarde. Em sua atuação na doutrina, o tema da unificação do movimento espírita no Brasil foi e tem sido uma constante de seus artigos, os quais batem sempre na tecla da união dos espíritas, para que juntos possamos ter a força necessária para contribuirmos para sua divulgação e expansão do Espiritismo para todo o nosso planeta Terra. Um ponto importante que deve ser salientado é com relação à afirmação feita por Dr. Bezerra em um de seus artigos, de que: “Da união resultará o apoio mútuo, quer no sentido de socorro caridoso, quer no dos recursos para a obra da propaganda. Da união, em suma, NASCERÁ O MÉTODO, sem o qual todo esforço humano é perdido, toda boa vontade é estéril.” Muita disputa de poder ainda aparece em nosso cenário, cujos atores dizendo-se representantes de Dr. Bezerra, ou sendo orientados por ele, se prestam à dissenção, à competição, à desunião, o que está em completo desacordo com a orientação primeira que sempre pautou a vida e as atitudes desse mentor escla-
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recido e iluminado. Sem a ideia de julgar a ninguém, mas com o dever de observar as atitudes que são contribuidoras para a separatividade no movimento espírita, continua o nosso querido amigo a dizer: “SOLIDÁRIOS SEREMOS UNIÃO. SEPARADOS UNS DOS OUTROS, SEREMOS PONTOS DE VISTA.” Dr. Bezerra, quando ainda encarnado, escreveu diversos artigos publicados tanto na imprensa tradicional, como também na espírita. Dentre os seus artigos existe um, intitulado “Clama, não cesses”, que vai tocar no tema da divulgação da doutrina com responsabilidade. Sua chamada de atenção, no entanto, é maior em relação à necessidade de prosseguir o Espiritismo na senda da prática da Lei de Amor, Justiça e Caridade, com humildade. Entra na questão sobre os debates que querem definir o que de fato é o Espiritismo: Ciência, Filosofia ou Religião? Diversas opiniões de elementos doutos em doutrina espalharam-se como fogo em rastilhos de pólvora, levantando-se movimentos em prol da “pureza doutrinária” que, em muitos casos, tratava-se apenas de uma forma de rigidez e de aprisionamento da doutrina bendita na camisa de força das demonstrações científicas. No citado artigo, Dr. Bezerra desconstrói a ideia de que o Espiritismo é uma ciência, nos moldes
dos que pensam exclusivamente com os padrões científicos do mundo. Tal a ideia em relação à qual ele se insurge, deixando claro que o Espiritismo, Terceira Revelação complementar e ampliadora da Revelação Cristã, é uma Religião científica, e que, em sua opinião, a Religião é a ciência das ciências. Alerta-nos de que Espíritos ignorantes que ele chama como “das trevas”, estão à espreita para se insinuar no movimento espírita, provocando essas dissensões que só servem para buscar atrasar a sua implantação em nosso planeta, decorrentes de questões menores que acabam tomando o palco em relação ao que é realmente importante: o
caráter essencial da verdadeira fé é a humildade no sentimento e nas ações. A Doutrina Espírita é divina e será implantada, com ou sem a nossa cooperação. Felizes se pudermos atuar no sentido de aplicar nossos esforços para sua correção divulgação e vivência em nossos atos diários. Trabalho com respeito e humildade! A unificação tão desejada por Dr. Bezerra, em cumprimento à sua missão, é ainda o grande desafio do movimento espírita no Brasil, especialmente. Por ser a pátria do evangelho, precisamos compreender, vez por todas, que nossa missão não é ficar fazendo ciência pela ciência, filosofia pela filosofia, e nem a religião vista de forma mística puramente. Evangelho é luz, é ciência, é filosofia e é moral totalmente coordenadas para o único fim que é elevar o homem dos pântanos da indigência espiritual para
os páramos da luz e do amor. Não é possível mais admitir-se que haja dissenções puramente por caprichos pessoais ou de linhas de pensamento puramente teóricas, que distantes estão da prática do Evangelho de amor de Jesus Cristo, que é o Nosso Senhor. Nossa posição como tarefeiros da doutrina, neste especial momento psicológico do planeta, só poderá sair engrandecida e mais eficaz, se levarmos em conta o exemplo e os ensinamentos de pacificação, confiança, fé, amor e senso de responsabilidade dos quais Dr. Bezerra de Menezes é o exemplo límpido, como o raio do sol numa manhã de primavera. Que o nosso paizinho espiritual possa sempre estar conosco, mas que possamos, por nossa parte, também estarmos com ele, colocando nossos pés, com decisão, na estrada para a marcha ascensional comum a todos os filhos de Deus.
Paulo Oliveira Articulista de jornais e revistas espíritas e trabalhador da FEESP psdo2010@gmail.com
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FRATERNIDADE
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Lei Universal
o Antigo Testamento encontram-se registros dentro de um período de mais de mil anos, onde constam anúncios reveladores sobre a vinda do ungido de Deus aqui na crosta da Terra. Segundo palavras proféticas o anunciado viria a ser o Salvador da Humanidade e davam-lhe pseudônimo de O Cordeiro de Deus, pois sabiam o que Lhe reservava nas mãos dos Homens. Mais que um revolucionário, como mencionado pelos romanos da época, Ele foi um novo marco no calendário humano e implantou um novo itinerário para se chegar ao Criador: a Verdade. Mais que um grande conquistador como esperado pelos hebreus, encarna em nosso plano mais grosseiro do planeta, em um meio pobre e simples, dando o maior exemplo do que se propunha revelar: a Humildade. Mais que um rei aspirado pelo considerado primeiro povo de Deus, o judaísmo, é um Ser Divino, discorrendo em sua jornada terrestre o que sugeria ao Homem: a Paz. E, mais que um Homem, Ele era o Cristo de Deus a trazer o único caminho para a irmandade da Humanidade: a Fraternidade. Ele é JESUS. Aquele que deu exemplo e testemunho do que pretendia transmitir em sua jornada humana, como disse: O filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos. (Mateus 20:28) O Mestre Divino, claramente, traz dentro de seu maravilhoso Evangelho, uma lei muito profunda para ser praticada, a caminho do Mundo de Regeneração: a Lei da Fraternidade Universal. São as Leis Morais, reveladas por Jesus na Terra, leis essas que são Universais, dentro de um contexto que reflete o Amor de Deus. A fraternidade é um conceito filosófico, profundamente ligado às ideias de liberdade e igualdade e, com os quais, forma o tripé que caracterizou grande parte do pensamento Iluminista, em 1789, na França: «Liberdade, Igualdade e Fraternidade”. Trouxe-nos essa expressão o grande sociólogo, Jean-Jacques Rousseau.
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Na essência significa aproximação, irmandade, amor, formando-se membros de uma mesma família, de uma mesma comunidade e, por extensão, de um mesmo Pai: Deus. A ideia de fraternidade estabelece, na evolução atual da Humanidade, como sendo uma vivência imprescindível para uma vida consciente em sociedade. A Declaração Universal dos Direitos do Homem, já em seu primeiro artigo, diz que: “Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. Este conceito, como peça-chave, tem o princípio fundamental de que todos os homens são iguais e possuem a imagem e semelhança do Criador.” Essa palavra, por vezes, é confundida com a expressão caridade e solidariedade, embora elas tenham significados radicalmente diferentes, pois, muitos as detêm e não possuem a raiz da fraternidade: a dignidade perante todos os homens.
Em Atos dos Apóstolos (livro I- 02:17), Pedro já dizia a seus seguidores: “Honrai a todos. Amai a fraternidade. Temei a Deus. Honrai ao rei.” Assim, mostrando o verdadeiro caminho dos filhos de Deus e do cidadão no meio social. Fraternidade é um termo oriundo do latim frater, que significa simplesmente: “irmão”. Existe fraternidade nas escolas, entre os estudantes; nas profissões, entre os colegas; na família, entre os entes queridos e deverá ser desenvolvida na sociedade, por sermos uma única família: a Humanidade Terrestre.
Mas, o antônimo de fraternidade é: antipatia, e alinha-se a esse pensamento, o desrespeito; o preconceito; o fanatismo; a intolerância, em razão do momento de transição planetária que ocorre, como sendo o fim de uma geração do Mundo de Provas e Expiações, agregam-se nas sociedades terrestres, credores e devedores para um acerto e reequilíbrio definitivo. Tudo isso motivado das existências pretéritas, onde ainda persistem os instintos primitivos nos seres humanos: o egoísmo, a ganância, o fanatismo, o ódio, a brutalidade e a competição individual. Esses juízos errôneos terão ainda um percurso de, aproximadamente, de um a dois séculos à frente, aí sim, a Humanidade mais amadurecida assimilará e praticará, por definitivo, a fraternidade verdadeira. A Doutrina Espírita, mastro da bandeira da fraternidade, não diz: Fora do Espiritismo não há salvação, mas, fraternalmente, como o Cristo ensinou: Fora da Caridade não há salvação. A fraternidade foi, expressamente, dada como a lei maior por Jesus, nas seguintes palavras: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. (Mateus 22:39) Não só aqui na crosta terrestre, entre Espíritos encarnados, trabalha-se para o aprimoramento da fraternidade, mas, também, na espiritualidade maior Espíritos que conquistaram energias mais purificadas, trabalham na sublime reforma da Humanidade. Muitos estão encarnados, mas a maioria é composta de desencarnados, compondo os pre-
cursores da Nova Humanidade do Terceiro Milênio Cristão. Assim, mentores estão atuando no Ocidente, trazendo maior profundidade nos conhecimentos espirituais, bem como levando o Cristianismo ao Oriente. É o sentimento de irmandade entre Oriente e Ocidente e o intercâmbio de ideias, conhecimentos e trabalho fraterno. Embora existam diferenças psicológicas e culturais de cada hemisfério, contribuem eles mutuamente nesse propósito de trabalho em prol da evolução do planeta Terra. Esses Espíritos se caracterizam por serem universalistas, antissectários (não intolerantes) e simpatizantes de todas correntes filosóficas e religiosas. Nesse grande movimento regenerador, a Doutrina Espírita tem um papel considerável, no sentido de estimular e praticar a caridade, a tolerância e a irmandade, que ligará os Homens num sentimento comum de fraternidade, em vez de dividi-los em seitas inimigas. Assim, o império da fé cega que só destroi e aniquila a razão, será substituída pela fé raciocinada que edifica e concretiza a razão, levando a Luz ao Espírito Imortal.
João Demétrio Loricchio foi conferencista do Congresso Espírita da FEESP de 2008, 2011 e 2014. É expositor, palestrante, escritor e articulista espírita de revista e jornais. joaodemetrio@terra.com.br
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O MELHOR APROVEITAMENTO
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endo como exemplo aqueles que se dizem possuidores da fé, tal fato nos remete à conscientização da maneira como estamos aproveitando a atual encarnação neste planeta de provas e expiações em que nos encontramos na atual experiência de vida, dentre tantas outras vidas que virão e das quais viemos. Faz-se necessária prudência redobrada para os que já são conhecedores dos ensinamentos do Cristo, afinal, quantos, ao adentrarem ao caminho da fé, iniciam um verdadeiro trabalho de tentar conduzir, a todo custo, os que o cercam em direção à sua própria fé. Por estar ou estarem envolvidos com essa nova proposta pessoal, agem por impulso e a ação impulsiva, neste caso, é danosa principalmente para quem a pratica. Considera assim, poder transformar o outro, chegando às raias do fanatismo. Existem diversos caminhos para o processo obsessivo e um deles está circunscrito a este tipo de ação, pois aquele que diz ter fé, considerando-se assim um verdadeiro crente da força da fé, inicia um trabalho persuasivo, insistente e constante, a fim de impô-la aos que com este convivem, abrindo assim, brechas para a influência dos Espíritos desencarnados ou não, que se afinizarão com essa conduta desastrosa, iniciando assim o processo obsessivo, formando uma perfeita sintonia entre mentes. A obsessão é um caminho de mão dupla, ou seja, há o agente e o reagente, que em harmonia de pensamentos, acabam por se utilizar da mesma via de acesso entre si, alimentando assim a conduta danosa, causando o que podemos chamar de “cegueira espiritual”, o pensamento se torna constante naquele mesmo ponto, nada mais podendo ver, aquele que está sob o efeito do processo obsessivo. Utiliza para tal feito da palavra calorosa, induz e conduz aqueles que o ouvem como se fosse detentor da verdade plena, não aceitando ideias que não sejam convergentes à dele. Quando é indagado sobre tais conceitos, não consegue aceitar que haja outro entendimento por parte daqueles que o ouvem, negando-lhes qualquer tipo de esclarecimento que divirja do seu. Age como se fosse um “verdadeiro profeta”, denota,
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do tempo na Terra
porém, atitudes de um “falso profeta”, quando impõe as palavras sem tomar em consideração a condição daquele que as está ouvindo, ou seja o querer e o poder do outro, bem como seus limites e crenças. Podemos identificar, neste tipo de crente, a condição daquele que ao receber quaisquer tipo de indagação contrária às suas ideias, logo exacerba, se sente ofendido, principalmente junto aos mais próximos que dele se encontram, como familiares ou aqueles que com eles trabalham, seja no campo material ou no de voluntariado. Afirma ser conhecedor dos ensinamentos do Cristo, pode até mesmo decorar e transmitir trechos inteiros de passagens evangélicas, assumindo quase que um papel de sábio. Utiliza da máscara inconsciente da hipocrisia, pois se esquece que o verdadeiro cristão será reconhecido por suas obras, e não pelo verbo que profere. É necessário que aquele que se considera um “homem de fé”, inicie as obras no bem, que utilize dos recursos que adquiriu para ajudar ao próximo, não impondo sua crença ou sua fé, pois àqueles a quem deseja impô-la, estaria condenando-o a terem a fé cega, que é frágil e não resiste à primeira queda durante a vida terrena. O Espiritismo veio descortinar o véu que encobria a “visão espiritual”, mostrando para todos o motivo pelo qual estamos aqui neste planeta Terra, bem como, de onde viemos e para onde iremos. Faz-nos raciocinar sobre o que é a fé e como adquiri-la, nos fala de dois tipos de fé, aquela que nos liga diretamente a Deus, que chama de “fé Divina”, e’ a outra, que faz com que olhemos para dentro de nós mesmos, a qual chama de fé humana”. Estes dois tipos de fé que quando bem trabalhadas, podem potencializar sua força e poder, quando se unem. A primeira, que se desenvolve com o aprendizado das verdades cristãs, junto ao Evangelho do Cristo, onde o homem se liga a Deus, acredita Nele e tem a certeza de que Ele tudo sabe, e tudo vê, que para o Universo Divino as máscaras utilizadas pelos homens na Terra caem, Ele consegue nos ver sem os artifícios de que muitos se utilizam para disfarçar suas próprias imperfeições morais, mostrando exteriormente que são bons, pacientes, misericordiosos, porém, intimamente se mostram verdadeiros lobos em pele de carneiro.
No Novo Testamento, na Primeira Epístola a Timóteo, Paulo de Tarso vem fortalecer os ensinamentos cristãos, pedindo a ele que tenha cuidado com este tipo de conduta. É certo que aquele que já reconhece o poder da fé e que busca seu aprimoramento que o conduza a caminhar para a sua ascensão a Deus, passe a levar seu conhecimento aos que considera necessitar deles, o que nos alerta Paulo é que não excedamos na convicção de que os outros devem ter a mesma compreensão e crença que aquele que já despertou em si para tal força. A fé não pode ser comprada, não pode ser imposta, não pode ser emprestada e nem servir para troca. Ela precisa ser trabalhada, buscada até ser alcançada, individualmente. Em razão disso o Espiritismo nos alerta para a condição da necessidade da reformulação de nossos sentimentos, à prática do bem, o desenvolvimento do verdadeiro amor e finalmente à sua prática – a caridade, que nada mais é do que o amor em ação.
mamente, sendo que a lei não é feita para os justos, mas para os injustos e obstinados, para os ímpios e pecadores, para os profanos e irreligiosos, para os parricidas e matricidas, para os homicidas, para os mentirosos, devassos e para os contraditores.” (Paulo, I Timóteo, 1:8-9) Lembremos do alerta cristão: “os sãos não precisam de médico”. Se queremos alcançar o Reino dos Céus, é necessário que desenvolvamos a fé, sendo que: “a fé sem obras é morta”. Nosso Espírito tem um objetivo, uma finalidade, que está instituída no maior mandamento “o amor” de coração puro, boa consciência e de uma fé não fingida. Assim, quando nos desviamos deste caminho de aprendizado, nos deparamos com contendas, que poderiam ser evitadas. Disse Jesus: “Bem-aventurado”, assim, aprendamos a agradecer por esse lenitivo que nos traz a possibilidade de compreendermos que podemos ser felizes, dando assim, graças a Deus, por nos colocar no lugar Trilhando esse novo caminho o certo, com as pessoas com quem verdadeiro cristão aprende a com- iremos aprender a desenvolver essa bater a erva daninha do orgulho e virtude maior, do amor. da vaidade. O Pai é misericordioso, entende “Consegue perceber que a lei é as nossas falhas e espera por nossos boa, se alguém dela se utiliza legiti- acertos, conhece os pensamentos
mais íntimos, Ele tudo sabe, Tudo vê. Com essa certeza, nos sentimos fortes para conservarmos a nossa fé, pois temos a consciência tranquila quando cumprimos com nosso dever na Terra. Quando rejeitamos ou nos afastamos desse caminho, somos como os náufragos que nadaram, nadaram, mas, não conseguiram chegar à terra firme. Ou como o barqueiro que usa de um só remo e fica girando em torno de si mesmo, sem sair do lugar, sem alcançar o outro lado da margem do rio. É necessário que utilizemos dos dois remos, um acreditando e o outro agindo, para chegarmos ao objetivo maior e alcançarmos assim a paz íntima, que chamamos de Reino dos Céus. Nesse caminho de fé e reconhecimento da proteção Divina que paira sobre todos nós, justos ou injustos, é que a fé se faz fortalecida, mas não basta isso, o desenvolvimento da fé humana, aquela potencialidade que temos de falar, atuar, agir em nós, pode ser alcançado quando utilizamos o que já conhecemos e iniciamos as obras no bem. Sendo a caridade o amor em ação, quando assim agimos, sendo caridosos, estamos potencializando a fé e então conseguiremos, unindo essas duas vertentes da fé, a Divina 13 O SEMEADOR Internacional
e a humana, fazê-la forte e robusta, que não enverga ao primeiro sopro, nem desfalece perante a ingratidão, muito menos perante os males da mente ou do corpo. Ela propicia a saúde, o bem-estar e a felicidade relativa, que podemos experimentar nessa morada que chamamos de planeta azul. Temos muito que aproveitar dos ensinamentos do Cristo, seu Evangelho está à disposição de todos, a compreensão desses ensinos nos auxiliam a clarear nossas ideias, mas sua força está em praticá-lo, indistintamente, sem olhar a quem, começando conosco, reformulando nossas ideias e atitudes, para com o próprio exemplo chegarmos até o próximo, sem imposição, mas trazendo a aceitação natural, daquele que vê em nós, um bom exemplo a seguir. Percebemos que a fé não pode ser
imposta, ela precisa ser aceita, trabalhada e edificada em nós. Jesus utilizou diversas vezes do exemplo da fé: “Se tivesses fé do tamanho de um grão de mostarda....; Andando sobre as águas; Na cura dos doentes....” Dizia aos que já o acompanhavam mais de perto, os Apóstolos, que se tivessem fé conseguiriam igualmente curar, andar sobre as águas, crescer e se desenvolver como a mostarda. E disse muito mais: “Ninguém vai ao Reino dos Céus se não por mim; Vós podeis isso tudo e muito mais.” Que cada trabalhador da Seara do Mestre possa bem aproveitar de todo o cabedal de ensinamentos que possui, seguindo o exemplo de Jesus, sabendo bem aproveitar esta encarnação, afinal o tempo é curto!
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Miriam Ofir É expositora da FEESP. miriamofir@hotmail.com
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O HÁBITO
N N
de Julgar
a lição número 12, do livro Palavras de Vida Eterna, de Emmanuel, psicografado por Francisco Candido Xavier, o estimado benfeitor espiritual reporta-se à última ceia que Jesus fez com Seus discípulos, durante a qual avisa que alguém, entre eles O trairia. A história de Judas incomoda-nos tanto, a ponto de rapidamente condená-lo, incriminando-o, senão por gestos e atos de violência – comuns nas festividades de Páscoa – ao menos por pensamento. Mas por que esse fato nos incomoda? A Psicologia moderna explica e vamos contar uma pequena história, buscando, através dela, responder a essa questão: “Uma mulher vai ao seu terapeuta, que a atende semanalmente, e entra queixando-se das agressões verbais recebidas do marido, censurando-a por ser péssima mãe e péssima esposa. Diz ela sentir-se agredida e humilhada porque sabe ser ótima mãe e esposa devotada. O médico ouve-a atentamente e quando ela encerra as reclamações ele diz: - Eu não me importaria com isso, mas sim, com a mancha que tem no rosto. - Eu não tenho mancha no rosto, retruca ela. - Tem sim, eu estou vendo – afirma o médico. - Não, eu não tenho, contesta a paciente convicta. A conversa continua com os queixumes dela. Depois de algum tempo, ele pergunta à mulher: - Por que você não se incomodou com a minha afirmação de que tinha uma mancha no rosto? - Porque sei que não tenho, responde ela. - Eis aí, diz o médico, a resposta que precisava para suas lamentações. Se as agressões do seu marido lhe fazem tanto mal e a incomodam muito, é porque você própria não tem certeza de ser boa mãe e boa esposa. A agressão atingiu-a porque refletiu sua própria realidade interior”. Certamente, é isso que acontece conosco quando julgamos e condenamos o discípulo leviano e os nossos semelhantes. Emmanuel traz para nós, na lição acima citada, a essência do ensinamento evangélico do “não julgai para não serdes julgados”, por nós mesmos. A advertência tem razão de ser, na medida em que conclama à prática do Evangelho como forma de proteção contra nós próprios, permitindo-nos sair desse círculo de sofrimentos em que nos colocamos, pela nossa ignorância das coisas divinas. 16
O conhecimento e a prática dos ensinamentos de Jesus fazem-nos, lentamente, perceber que somos todos discípulos Dele, e não mestres como muitos supõem, aprendendo a vigilância dos próprios atos, para não fracassarmos mais; e discípulos em testemunho, a fim de aprendermos a exemplificar, compreendendo, agindo e perdoando, como a Mestre sempre fez. Estamos caminhando com bastante dificuldade, mas através da escola bendita da reencarnação – “Necessário vos é nascer de novo” -, vamos combatendo o egoísmo, sendo menos exigentes nos prazeres egoísticos, percebendo a necessidade do outro. Também já estamos conseguindo ter alguma consciência da necessidade de cuidar da vida espiritual, e não ir somente à caça de bens materiais. Jesus sabe das nossas limitações e não desconhece nossas fragilidades, e por isso nos conclama, através do Seu amor, refletido em todos os Seus ensinamentos, a desenvolvermos a humildade – sentimento contrário ao orgulho – para que não apenas Ele, mas nós próprios, também, reconheçamos nossos limites. Esse é, sem sombra de dúvida, o primeiro passo para conseguirmos superar nossas limitações e iniciarmos a construção do edifício íntimo do Reino de Deus em nossos corações. Lembra Emmanuel, na obra supracitada, que “na edificação íntima do Reino de Deus, meditemos nossos erros, conscientes ou não, definindo nossas responsabilidades e débitos para com a vida, para com a Natureza e para com os semelhantes e, em todos os assuntos que se refiram à deserção perante o Cristo, teremos bastante força para desculpar as faltas do próximo, perguntando com sinceridade, no âmago do coração: “Por ventura existirá alguém mais ingrato para contigo do que eu, Senhor?” Dia virá em que, revestidos de poder e força, não mais julgaremos nossos semelhantes, pois teremos compreendido que quanto mais força moral e poder tivermos, mais nos compadeceremos das fragilidades humanas e mais estenderemos nossas mãos amorosas para socorrer, elevar e amparar, exatamente como Jesus faz conosco hoje.
Leda Maria Flaborea, expositora da Feesp. Articulista de vários periódicos espíritas impressos e virtuais. ledaflaborea@uol.com.br
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DEPURAÇÃO
A A
do Planeta Azul
quele que se mantém sob os ensinos do Evangelho de Jesus escapará, com certeza, dos preparativos em andamento, motivadores e estimuladores da aprendizagem da conjugação do verbo amar no devido tempo presente.; Esse que prima por corrigir-se e colocar em ação o aprendizado do que o Cristo nos legou, invade as áreas nobres dos sentimentos, situando-se, gradativamente, em patamar mais próximo da verdade. Portanto, esforça-se para expurgar as iniquidades armazenadas ao longo dos milênios, trabalha em si mesmo o desenvolvimento do amor. Eis um exemplo para aqueles que sob a predominância do egotismo, aceleram o desrespeito e, sem a devida percepção, exalam desequilíbrio em seus comportamentos em favor próprio. Os momentos atuais são de depuração. Daí, o porquê de tanta agitação e descontrole. O fato ocorre em razão de que todos que se encontram em caminhos dúbios, tendem a exacerbar suas tendências com o sentido de manter a predominância do suposto poder, embora, intimamente, reconheçam que o Bem vencerá. Condição óbvia já que fomos criados por Deus, e esse clamor está latente no âmago de todos e de tudo, e permanecerá eternamente. Os instantes controvertidos dos Espíritos desequilibrados levam-os a promoverem escândalos sobre escândalos, sem darem conta que extrapolam seus direitos e desqualificam seus deveres. Verifica-se, na atualidade, um turbilhão de imoralidades que visam a devastar as
boas ações e desqualificar o respeito pelo outro e pela vida e, em especial, construindo quadros perniciosos com a pretensão de enxovalhar a dignidade alheia. As anormalidades observadas amplamente nos espaços terrestres ferem, ou tentam ferir, as virtudes conhecidas. O desrespeito vai de encontro onde há honestidade procurando de mil e uma maneiras denegri-la, obscurecê-la e, tentando afastar o indivíduo do eixo devido, induzi-lo pelos atalhos da indisciplina mental, e levá-lo ao abismo das sombras. Então, aquele que não houver sedimentado, pelo menos, parte dos ensinamentos de Jesus, poderá deixarse conduzir pelas energias impróprias e maléficas de Espíritos ignorantes, acreditando, por conseguinte, na impunidade, sem se dar conta que essa impunidade é passageira, como passageiros são todos os atos praticados em desobediência às Leis Universais; pois, sempre a seguir encontra-se o efeito da causa como instrumento de correção do desvio. No dicionário divino impunidade é ignorância e deve ser dissipada, para dar lugar ao desenvolvimento que levará o Espírito à felicidade, obviamente, pelas vias do amor. Todos os mundos no Universo, e são incontáveis, sofrem o processo do aperfeiçoamento. Após percorrerem cada estágio do processo evolutivo dos planetas – transitório, primitivo, provas e expiações, regeneração, mundos felizes – entram em uma faixa de transição, a qual permitirá acesso a estágio de maiores progressos, já que cumpriu o período marcado por Deus na atual situação. Nesse período de transição, para mudança de faixa evolutiva, acontece o processo de depuração, isto é, de separação do “joio do trigo” ¹, ou seja, purificar-se para compatibilizar com as condições evolutivas superiores, que requerem maiores cabedais de intelectualidade e moralidade, capazes de fazer-nos trilhardisciplinadamente os caminhos do novo ciclo. Quando da separação do joio e do trigo, as provações se intensificam e são mais severas a fim de verificar aqueles com capacidade real de assumirem a posição do “trigo”. Verificam-se, nesses intervalos de transição, enormes conflitos, perturbações e embates de todas as naturezas, além do mal digladiando consigo mesmo,
na esperança de perdurar um pouco mais, e sobrepor o tempo previsto para a sua atenuação. Esse momento, em que os agregados aos parâmetros do mal intentam conquistar, não acontecerá findo o período de Transição da Terra de Mundo de Provas e Expiações para mundo de Regeneração, programado por Jesus. Quando essa etapa terminar o “depurar”, também programado pelo Mestre, cessará e outras prerrogativas passarão a vigorar. Todos que não se aprimorarem moralmente, não adquirirem pendores capazes de lançá-los em existências mais felizes, ficarão impossibilitados de seguir na Escola Terra. Deus os designará para ocuparem outras moradas; cada qual terá hospedagem em um mundo compatível com seu nível moral e, nesses mundos, encontrará instrumentos capazes de promover a depuração necessitada e, futuramente, de acordo com as Leis Divinas, em reencarnação no porvir, Deus po-
derá permitir que retornem ao Planeta Azul. ¹ Leia: Mateus 13: 24 a 30 - Propôs-lhes outra parábola, dizendo: O reino dos céus é semelhante ao homem que semeia a boa semente no seu campo. Mas, dormindo os homens, veio o seu inimigo, e semeou joio no meio do trigo, e retirou-se. E, quando a erva cresceu e frutificou, apareceu também o joio. E os servos do pai de família, indo ter com ele, disseram-lhe: Senhor, não semeaste tu, no teu campo, boa semente? Por que tem, então, joio? E ele lhes disse: Um inimigo é quem fez isso. E os servos lhe disseram: Queres pois que vamos arrancá-lo? Ele, porém, lhes disse: Não; para que, ao colher o joio, não arranqueis também o trigo com ele. Deixai crescer ambos juntos até à ceifa; e, por ocasião da ceifa, direi aos ceifeiros: Colhei primeiro o joio, e atai-o em molhos para o queimar; mas, o trigo, ajuntai-o no meu celeiro.
Roberto Vilmar Quaresma foi conferencista do Congresso Espírita da FEESP de 2008, 2011 e 2014. É expositor, escritor, palestrante e articulista espírita de revista e jornais robertovilmarquaresma@gmail.com
19 O SEMEADOR Internacional
MEMÓRIA,
U U
lembrança e esquecimento
m dos aspectos centrais do homem é a consciência de sua identidade, isto é, de que cada um é um ser único com seu caráter próprio e suas qualidades estritamente pessoais. E isso só é possível graças à faculdade da memória, que nos dá a certeza de sermos a mesma pessoa, desde o nascimento até o momento atual. É a memória que nos permite reter todas as vivências experimentadas no decorrer de nossa existência e tudo que aprendemos até agora, sendo este aprendizado a base para novas aquisições, que vão se acumulando ao longo da vida. Em sua incessante busca por Deus, Santo Agostinho se volta para o seu íntimo e encontra a memória, deixando-nos o seguinte relato: “Chego aos campos e vastos palácios da memória onde estão tesouros de inumeráveis imagens trazidas por percepções de toda espécie. Aí estão presentes o céu, a terra e o mar com todos os pormenores que neles pude perceber pelos sentidos. É lá que me encontro a mim mesmo e recordo as ações que fiz. É lá que estão também todos os conhecimentos que recordo. Encerro também na memória os afetos da minha alma.” (Confissões, X.8 e 14). Mas, afinal, o que é a memória? É a faculdade de conservar e lembrar estados de consciência passados e tudo quanto se ache associado aos mesmos (Dic. Houaiss). E por que precisamos da memória? Porque o conteúdo da consciência é limitado e, além disso, a preocupação central da consciência são as questões da vida presente, sejam de natureza material ou espiritual, a par dos projetos que elabora visando o futuro. É por isso que os dados e informações não utilizados pela consciência são retidos ao nível da subconsciência, podendo, porém, ser resgatados à medida das necessidades presentes. A partir daí compreendemos a importância da memória, a qual se subdivide em três tipos básicos: memória sensorial, memória de curto prazo e memória de longo prazo. A memória sensorial é extremamente curta: um exemplo é a imagem visual de um objeto qualquer, que permanece na mente por apenas uma fração de segundo. Já a memória de curto prazo é aquela na qual uma informação é brevemente armazenada e processada como, por exemplo, a memorização do número de um telefone, que só dura enquanto estamos tentando contatar alguém. Por último, a memória de longo prazo é aquela onde armazenamos informações e experiências para uso no futuro e que, como o próprio nome diz, é de longa duração. 20
Embora diga mais respeito ao Espírito que ao corpo físico, é inegável que a condição orgânica tem influência sobre a funcionalidade da memória. Nesse sentido, O Livro dos Espíritos nos ensina que os órgãos são os instrumentos da manifestação das faculdades da alma. Essa manifestação está subordinada ao desenvolvimento e ao grau de perfeição dos respectivos órgãos (questão. 369). É por isso que determinadas enfermidades que afetam o cérebro constituem-se em obstáculos para o bom funcionamento da memória. Tal é o caso do Mal de Alzheimer, que mantém relativamente intacta a memória de longo prazo, mas afeta consideravelmente a de curto prazo. Nesse sentido, o enfermo preserva, por exemplo, as recordações de eventos longínquos ocorridos na infância, mas não se lembra do que ingeriu na última refeição, isso quando não se recorda sequer de ter tomado a refeição. Daí a importância da ação preventiva que busca manter a mente ocupada, dedicando-se ao estudo e à prática de atividades saudáveis. Passemos agora a tratar da lembrança, que nada mais é do que o resultado da evocação de um determinado conteúdo armazenado na memória. Lembramo-nos de conhecimentos adquiridos, tais como uma fórmula matemática necessária para a realização de um cálculo, da mesma forma que nos recordamos de ações pretéritas que resultaram em sucesso e que procuramos repetir, assim como daquelas que redundaram em fracasso e buscamos evitar. Há também as lembranças associadas a afetos caros que vivenciamos, tais como os momentos felizes que experimentámos e que alimentam nossa alma, assim como a recordação de um ente querido que, embora ausente, permanece vivo em nossa memória. Por outro lado, há também os traumas e decepções que aturdem a nossa mente, na medida em que nos mantêm presos a um passado doloroso que, muitas vezes, nos esforçamos inutilmente para superar. E aqui entramos no tema do esquecimento, que é a perda aparente de conteúdo armazenado na memória. Se, por um lado, nos esforçamos para não esquecer conhecimentos e experiências adquiridos, na medida em que são a base para novas aquisições, por outro lado, fazemos um esforço deliberado para esquecer as experiências infelizes, embora raramente tenhamos êxito. Por que isso ocorre? A razão é que material armazenado na memória com forte conteúdo afetivo tem pouca chance
de ser esquecido. Isso nos remete ao tema do perdão, tão enfaticamente recomendado por Jesus, quando Pedro lhe pergunta quantas vezes deveria perdoar e ele lhe responde: Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete vezes (Mateus, 18:21). Se, por um lado, a ofensa recebida resultou em trauma doloroso que relutamos em olvidar, por outro lado, a mágoa e ressentimento que dela decorrem nos mantêm fixos no passado e impedem nosso avanço, além de redundar em males diversos, inclusive em nível orgânico. Daí a importância de entendermos que o perdão sincero das ofensas redunda, acima de tudo, em nosso próprio bem; nesse sentido, vale a pena relembrar aquele sábio conselho do nobre Espírito Simeão: “Esquecei o mal que vos tenham feito, e pensai apenas numa coisa: no bem que possais fazer.” (O Evangelho segundo o Espiritismo, X.14). Tenhamos em mente que perdoar a ofensa recebida não é necessariamente esquecer o fato específico da ofensa, até porque a Doutrina Espírita nos ensina que nada se perde de tudo que nos acontece; nesse sentido, afirma Léon Denis: “As menores particularidades da nossa vida registramse em nós e deixam traços indeléveis. Pensamentos, desejos, paixões, atos bons ou maus, tudo se fixa, tudo se grava em nós.” (O Problema do Ser, Cap. VIII). Importa não olvidar que isso inclui também as ofensas por nós cometidas. Perdoar a ofensa, portanto, é dar-lhe o devido valor, o qual se torna bem pequeno quando o comparamos ao imenso bem que resulta de um perdão sinceramente concedido. Alguém poderia nos contestar, dizendo: “Como dizer que nada se perde de tudo que nos acontece, se Kardec nos ensina que, ao reencarnar, esquecemos o nosso passado? A resposta
é que tal esquecimento é temporário, pois ele mesmo afirma que esse esquecimento só existe durante a vida corpórea. Voltando à vida espiritual o Espírito reencontra a lembrança do passado.” (O Evangelho segundo o Espiritismo, V.11). A razão do esquecimento é evitar os óbices que surgiriam caso isso não ocorresse, pois, como poderia alguém reconciliar-se com um desafeto do passado, reconhecendo -o como tal no presente? Ou como poderia um criminoso refazer-se dos atos iníquos do pretérito tendo -os presente à mente? Enfim, como poderia alguém resignar-se com seu atual estado de penúria, sabendose detentor de vultosas posses no pretérito, que utilizou de maneira inconsequente? Ademais, conforme nos explica Kardec, Deus nos dá o necessário e o suficiente para nos melhorarmos: a voz da consciência e as tendências instintivas (O Evangelho segundo o Espiritismo, V.11). Compreendamos enfim que, embora vivamos sujeitos ao tempo enquanto reencarnados, como Espíritos imortais nós transcendemos ao próprio tempo. E assim, saibamos valorizar as lições do pretérito, entendendo que, na condição de Inteligências ainda atuantes num mundo de expiação e provas, os males que possam nos afligir decorrem de causas que talvez ainda não consigamos aquilatar e, contudo, tenhamos a firme convicção de que é preciso seguir adiante, buscando no dever bem cumprido o remédio para todos os males.
Roberto Watanabe é expositor da Área de Ensino da Federação Espírita do Estado de São Paulo. rowata@uol.com.br
21 O SEMEADOR Internacional
RELIGIÃO, CIÊNCIA
e a busca do conhecimento do Universo
“A Ciência e a Religião são as duas alavancas da inteligência humana. Uma revela as leis do mundo material, e a outra as leis do mundo moral. A incompatibilidade, que se acredita existir entre essas duas ordens de ideias, provém de uma falha de observação e do excesso de exclusivismo de uma e de outra parte. Disso resulta um conflito, que originou a incredulidade e a intolerância.”
K K
(Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. I, item 8)
ardec explica no capítulo IV do livro “A Gênese” que os primeiros livros sagrados foram ao mesmo tempo os primeiros livros de ciência, como foram, durante largo período, o código único das leis civis e à medida que o homem foi se adiantando no conhecimento dessas leis, também foi penetrando os mistérios da criação e retificando as ideias, que formara acerca da origem das coisas. No entanto, em determinados momentos de nossa história, os caminhos traçados pelos pensamentos científico e religioso foram se distanciando dando origem à incredulidade e intolerância. Se o sagrado e o estudo dos fenômenos eram entendidos em um único contexto, em quais momentos históricos ocorreram o distanciamento e a falta de respeito diante as diferenças entre os pensamentos? A busca do conhecimento sempre teve uma forte influência de crenças e dogmas religiosos inseridos, como verificamos em diversos povos da antiguidade (egípcios, Chineses, entre outros), nos conceitos de matemática, medicina e engenharia. A definição e entendimento atual denominado “pensamento científico” surgiu na Grécia Antiga com os pensadores pré-socráticos (séc. VI a.C.) que foram definidos também de pré-cientistas. Nesse período a sociedade ocidental pela primeira vez abandonou o modo de pensar baseado em mitos e dogmas, estabelecendo uma nova forma naturalista de observarmos o mundo, definida como ceticismo. Esta forma entende que o pensamento humano não pode atingir nenhuma certeza a respeito da verdade, visão oposta ao pensamento dogmático, onde as ideias são pré-concebidas e sem margem para serem questionadas ou discutidas. No pensamento cético colocamos o que é observado como sendo superior às ideias. A ação de contemplar, examinar, especular, pode 22
ser entendida como forma de pensar e entender algum fenômeno a partir da observação. Este comportamento foi definido pela palavra grega theoria. Para a ciência uma teoria é composta por uma estrutura de fatos e ideias, sendo que se forem observados fatos que comprovem uma falsidade da ideia, a mesma deve ser modificada ou reconstruída. Na época de Sócrates (séc. V a. C.) e seus contemporâneos o pensamento científico se consolidou com a difusão do conceito de prova científica associada à observância de repetição do fenômeno natural. O termo grego dialektiké significa a arte do diálogo, de debater, persuadir ou raciocinar. Aristóteles (séc. IV a. C.) define silogismo como a argumentação lógica perfeita que era baseada em três proposições conectadas de tal modo que a partir das duas primeiras, denominadas premissas, é possível deduzir uma conclusão. Num exemplo clássico de silogismo percebemos como chegamos a uma definição através de duas premissas: (1)“Todo homem é mortal” (2)“Sócrates é homem.” (3)”Logo, Sócrates é mortal”. Durante a Idade Média, os filósofos escolásticos (séc. IX até XVI), baseados na necessidade de responder às exigências da fé ensinada pela igreja, responsável pelos valores espirituais e morais do cristianismo e formadora do pensamento vigente da época, criaram uma visão dogmática de ciência. Estes pensadores não admitiam o uso, por exemplo, da matemática e aceitavam somente a dialética e a lógica aristotélica como formas de análise científica. Neste período da nossa história, pensadores como Nicolau Copérnico, Galileu Galilei, Giordano Bruno, entre outros, foram perseguidos pela Igreja, em função de suas ideias sobre como percebiam o mundo. Na renascença (séc. XIV a XVII) os pensadores retomam o pensamento científico pré-socrático e passam a usar a matemática como forma de análise científica.
O método científico surgiu como uma tentativa de organizar as ideias no entendimento do mundo. Pensadores como Francis Bacon e René Descartes trouxeram um novo caminho (método) de como estudamos e percebemos a criação divina (natureza). Segundo Herculano Pires “... A tradição escolástica medieval é o exemplo clássico da ciência dedutiva, aristotélica, contra a qual se processou a revolução indutiva de Francis Bacon e a revolução racionalista de René Descartes.” (O Espírito e o Tempo, 3º Parte, Cap.2). Através da “revolução do método”, pois Bacon e Descartes partiram da necessidade de um método à busca do conhecimento, os caminhos do pensamento científico foram modificados. “... não bastava a sanção das antigas escrituras sagradas, dos livros de Aristóteles ou da tradição cultural, para que a ciência se impusesse e pudesse ser transmitida como verdade. Cabia ao homem equacionar de
novo os velhos problemas, para encontrar as soluções mais seguras.” (O Espírito e o Tempo, 3º Parte, Cap.2). Outro momento marcante no relacionamento entre ciência e religião ocorreu na França no começo do século XIX, com uma corrente filosófica que defendia a ideia que o pensamento científico é a única forma de conhecimento verdadeiro. O Positivismo, desenvolvido por Augusto Comte, não considera os conhecimentos ligados às crenças que não possam ser comprovados cientificamente e assume que o progresso da humanidade depende exclusivamente dos avanços científicos. É neste ambiente filosófico do início da Europa contemporânea que Kardec apresenta ao mundo a Doutrina Espírita. O codificador demonstra o Espiritismo como a nova ciência que vem revelar aos homens, por provas irrecusáveis, a existência e a na-
tureza do mundo espiritual e suas relações com o mundo corporal (E.S.E., Cap. I) e explica que como meio de elaboração o Espiritismo procede exatamente da mesma maneira que as ciências positivas, aplicando o método experimental. (A Gênese, Cap. I). O Espiritismo não tem como objetivo tomar lugar da ciência material, mas pretende ampliar seu conhecimento, demonstrando que as manifestações espirituais são objetos de estudo e podem ser compreendidas de forma racional. Como nos explica Leon Denis que a ciência material apresenta as suas restrições, no entanto a natureza não tem limites. (No Invisível, Capítulo I). Nesta relação, a ciência pode auxiliar na desmistificação dos fenômenos espirituais e a religião contribuir para que a ciência não desabe em erros pela falta de critérios que a distancie dos caminhos que levam 23 O SEMEADOR Internacional
“a ciência sem a religião é manca e a religião sem a ciência é cega” Albert Einstein
à evolução da alma. Na historia que traçamos neste planeta escola, ambos os pensamentos começaram de mãos dadas na condução da humanidade à evolução. Em determinados momentos este relacionamento foi rompido e na busca de estarem à frente como o carro condutor do pensamento humano, batalhas foram travadas e ambas colheram os prejuízos oriundos do preconceito, do orgulho e da vaidade.
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Einstein mencionou certa vez que “a ciência sem a religião é manca e a religião sem a ciência é cega”. O Espiritismo conjumina estes pensamentos, racionalizando a fé e ampliando os horizontes científicos além do material. Nas muletas da razão e nas lentes do amor ao próximo deixaremos as mancadas e cegueiras apenas como momentos históricos de uma humanidade em constante evolução espiritual.
Marcelo Ferreira Expositor da FEESP. marcelufe@bol.com.br
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