diálogos entre arquitetura e preceitos religiosos

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diรกlogos

entre arquitetura e preceitos religiosos

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Orientado: Felipe Elias Dos Santos joaquim

Orientadora: Ana Lucia Machado Ferraz Centro Universitรกrio Barรฃo de Mauรก

2020

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construção e espaço religioso

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da arquitetura e suas atmosferas

a arquitetura material à atmosfera envolvente


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interlocução entre arquitetura e religiosidade

considerações

referências

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di รก

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lo gos substantivo masculino 1. fala em que há a interação entre dois ou mais indivíduos; colóquio, conversa. 2. por extensão contato e discussão entre duas partes (p.ex., em busca de um acordo); troca de ideias.

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O trabalho proposto pretende examinar questões relacionadas à ligação entre objeto arquitetônico e preceitos religiosos. Visa apresentar e discu•r um descompasso entre arquitetura e religião, um distanciamento ao pensar arquitetura e seu entorno. Sobretudo pensar como arquitetura contribui para a conformação do senso crí•co do seu usuário. Dessa forma, pretende-se delimitar como a arquitetura dos espaços religiosos, na religião protestante, esclarece uma maneira de pensar novas prá•cas religiosas e como essas prá•cas altera o pensamento espacial. No intuito de resgatar o valor espacial da arquitetura religiosa a pesquisa visa aplicar pensamentos da arquitetura sensorial criando conexões que despertem no usuário um momento de reflexão, não somente o usuário direto, mas também o que está de passagempelo seu entorno. Pensar um objeto que traga uma

simbologia

que discorra sobre o espaço público e privado, que pensa qualidade espacial através de soluções arquitetônicas.

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Este trabalho propõe a discussão sobre o protagonismo da arquitetura na configuração de espaço religioso que resgata a iden•da histórica da igreja e o valor simbólico do objeto dentro da sociedade e espaço urbano onde está inserido, que interaja com seu entorno imediato e estabeleça

comunicação e discurso com o usuario. Pensar como os preceitos religiosos podem ser traduzidos no objeto arquitetônico de forma que se comunique com o urbano e as pessoas. Cri•car a expressão espacial vigente dos templos protestantes. Propor um objeto arquitetônico onde atenda às necessidades das reuniões e que estabeleça uma relação com a cidade assim como com o corpo. Revelar através da arquitetura alguns preceitos religiosos. Se por um lado nosso recorte é delimitar a igreja protestante neopentecostal, por outro


foto: igreja da luz, TadĂŁo Ando fonte: archdaily

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construção e o espaço religioso protestante.

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foto: 01 igreja Adven•sta do Sé•mo dia fonte: site da igreja foto: 02 igreja Assembléia de Deus

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fonte: autor foto: 03 igreja Comunidade Cristã fonte: autor foto: 04 igreja Missão Atos fonte: autor foto: 05 igreja bola de neve fonte: site da igreja

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[ construção e o espaço religioso protestante

percebemos que dentro deste grupo existem diferentes

pensar a religiosidade. formas de

Temos nesse grupo igrejas tradicionais, pentecostais e neopentecostais que carregam caracterís!cas específicas,e uma nova expressão através da arquitetura dos edi#cios religiosos das igrejas neopentecostais que começaram a surgir nos anos 2000. 4

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greja AssemblĂŠia

us autor

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[ o templo como super•cie

O protestan•smo surge como crí•ca aos costumes e alguns ensinamentos da igreja católica, sendo uma dessas crí•cas o desligamento de questões materiais por exemplo: libertar-se da expressão de poder e riqueza que existe nos templos católicos através de ornamentação, elementos com ouros, pratas e bronze, igrejas monumentais, riqueza dos detalhes arquitetônicos, escultura e pinturas. Assim como cri•cando os “santos, esculturas e quadros” pois o defende a ideia que não existe homem que seja santo, somente Jesus,

como o discurso de preceitos religiosos, um espaço de reflexão que se comunique com o usuário. Em alguns casos onde se reu•liza uma edificação já existente, galpões, barracões e salões não foi reconhecida singularidade que externe a ideia de um espaço para fins religiosos, distanciando assim o diálogo entre arquitetura e preceitos religiosos.

desapegando assim de objetos simbólicos dentro dos templos, como imagens, pinturas, cruz, quadros, velas. A consequência desse pensamento são

templos evangélicos onde são construções sem preocupação com a qualidade espacial, onde o objeto não discute o lugar, não busca soluções espaciais que a arquitetura pode oferecer, | 19


observada dois •pos de construção de igreja evangélica, a que a ins•tuição adquire um terreno e constrói do zero e a que a ins•tuição adquire uma edificação e adapta a sua necessidade. No entanto em ambos objetos foi iden•ficado comunicação

fachada frontal decorada , placas de iden•ficação do uso do local e através da

outdoors,

Sistema que é chamado por Robert Venturi, em seu texto arquitetura feia e banal, ou o

galpão decorado , onde a aplicação de uma ordem de

símbolos sobre outra. Já o dialogo estabelecido no espaço interno das construções de igrejas neopentecostais, que é o recorte deste trabalho, são desprovidos de luz e ven•lação natural cruzada, fechados e com paredes escuras fazendo com que o usuário perca a noção de tempo e espaço, a luz ar•ficial não é ar•culada para definir espaço ou limite, mas sim de criar um auditório, espaço cênico voltado ao palco, onde acontece as apresentações de música, 20 |

dança, orações e demais liturgias do culto com jogos de luzes, fumaça, e projeções no telões.


[ o templo como comunicação

foto: fachada igreja onda dura fonte: site da igreja

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Por outro lado, a cada dia a importância desta como informação tem ampliado. Trazendo essas imagens e símbolos para o contexto da comunicação para a incorporação dos jovens ao culto. Com isso dentro das igrejas existe o chamado “ministério de midia” onde funciona todo planejamento de eventos, parcerias e divulgações, onde as

redes sociais ganham força na disseminação do pensamento da ins!tuição, cultura, costumes, reuniões, fes!vais, locais de culto, entre outras informações fazendo-se assim a conexão com o indivíduo e buscando um público jovem par agregar a comunidade evangélica. Algumas igrejas tem o departamento de marke!ng e planejamento bem estruturado e com isso elaboram um conceito, es!lo de vida e fundamentos, e aplicam isso no objeto, nos livros e materiais de ensino, nas redes sociais, bandas e todas ferramentas de

captação de novos membros , assim sendo se distanciam da arquitetura e todas as soluções que a mesma pode oferecer. 22 |


[ comunicação religiosa do •sico ao virtual.

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Nos úl•mos 20 anos aproximadamente houve uma renovação na expressão das igrejas protestantes neopentecostais através da arquitetura. Podemos classificar hoje três •pologias de igrejas evangélicas: As tradicionais, exemplo: Presbiteriana de 1903, luterana de 1904, metodista de 1885 e Adven•sta do Sé•mo Dia de 1893. Cultos mais silenciosos, regidos por doutrina e códigos de conduta exige dos líderes formação teológica. As pentecostais: assembleia de Deus de 1910 e congregação Cristã de 1910. Já se tem maior liberdade de expressão de adoração nos cultos, regida por doutrina e códigos de conduta. As neopentecostais: Universal do reino de Deus de 1977, Apostólica Renascer em Cristo de 1986, Comunidade evangélica Sara nossa terra de 1992, igreja internacional Ágape de 1996 com sede em Pompano Beach, USA. Observase maior liberdade de expressão na adoração, tem códigos de conduta e exige dos líderes formação teológica, traz para os cultos o uso de tecnologias como telões, fumaça, jogos de luzes e 24 |

instrumentos musicais, arquitetura cênica o que atraiu um público mais jovem. Em 2000 foi fundada a igreja Bola de Neve Church, Pelo Apostolo Rina (Rinaldo Seixas Pereira) Surfista e formado em Marke•ng, que saiu da igreja Apostólica Renascer em Cristo, sendo observado a par•r de então uma nova expressão através da arquitetura, muitas vezes se apropriando de lugares já existentes e dando uma nova função para o edi•cio. Esse movimento de nova expressão através da arquitetura vem acontecendo desde 2000 e em suas referências arquitetônicas são passíveis de perceber uma aproximação com a arquitetura cênica e comercial. Essa arquitetura de es•lo e signos é an•espacial; é uma arquitetura mais de comunicação do que de espaço; a comunicação domina o espaço como um elemento na arquitetura e na paisagem. (VENTURI, 2003, p.33) Para entendermos o recorte que trataremos nesse trabalho é preciso entender como chegamos até aqui, assim o esquema abaixo nos mostra o caminho percorrido pela igreja protestante até os dias de hoje.

Percebemos três movimentos no Brasil, também conhecido com as três ondas do avivamento, sendo o primeiro o surgimento das igrejas protestantes tradicionais e ou conservadoras, o segundo das igrejas pentecostais e o terceiro movimento o surgimento das igrejas neopentecostais.


[ construção do espaço religioso

foto: culto igreja bolda de neve fonte: site da igreja

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Adven•sta do Sé•mo Dia. Nota-se nas igrejas tradicionais uma ligação ainda muito forte com a igreja católica, através da organização espacial, fachada mesmo que simplificada, forma de conduzir os cultos mais silenciosos, organização dos bancos para ouvintes.

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foto 01: igreja adven•sta do sé•mo dia fonte: site da igreja foto 02: foto interna igreja adven•sta do sé•mo dia

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fachada lateral.

templo como super!cie. obejeto livre de ornamentos arquitetônicos, santos, pinturas e escuturas

fachada frontal. livre de ornamentos, porém se diferencia das laterais

espaço envoltório. obejeto centralizado no terreno, podendo ser contemplado em todas suas faces

fachada lateral. diálogo material e imaterial. objeto permite ven!lação e iluminação cruzada

fachada posterior. | 27


Assembléia de Deus Ribeirão Preto (IADERP) O segundo movimento, igrejas protestantes pentecostais vem com uma caracterís!ca muito forte que é maior liberdade na expressão de adoração, com abertura maior para os fiéis par!ciparem dos cultos, notase um layout reorganizado com assentos distribuídos em departamentos. A expressão através da arquitetura para remeter a ideia de igreja fica por conta da fachada de fronte ao logradouro. Podendo neste movimento ter dois !pos de uso e ocupação do espaço, podendo ser somente reuniões religiosas, como também habitacional. 01

foto 01: igreja assembléia de Deus fonte: utor foto 02: foto interna igreja assembléia de deus

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fachada lateral.

templo como super!cie. obejeto livre de ornamentos arquitetônicos, santos, pinturas e escuturas

fachada frontal decorada. livre de ornamentos, porém se diferencia das laterais, decorada com pedras na vedação e placa de iden!ficação

espaço envoltório. obejeto inserido na lateral do terreno, encosta na construção vizinha

fachada lateral. diálogo material e imaterial. objeto permite que a luz ilumine todo seu interior, porém nao tem ven!lação cruzada

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a igreja neopentecostal. Nesse terceiro momento da igreja protestante, retrata as igrejas neopentecostais, conhecida no meio cristão como a terceira onda do avivamento e a que mais cresce no país, sendo também a mais influente. Essa •pologia traz consigo algumas singularidades que influenciaram e con•nuam influenciando as duas anteriormente citadas. Abriu-se nesse movimento o uso de tecnologias nos cultos, uso de TV, cultos on-line, uso do marke•ng digital e pela TV, estruturas de shows durante os cultos, usando elementos como fumaças, jogos de luzes e vídeos em grandes telas. Estes não são edi!cios que cri•cam os aspectos visuais da cultura moderna. No design e nos espetáculos mul•mídia que ocorrem no interior, a megaigreja abraça o mundo mul•mídia casual, comercial, confortável e diver•do. Em 1996, o pastor da Faith Community Church, em West Covina, Califórnia, disse ao Los Angeles Times: “O que

almejávamos era a sensação de um shopping. Um lugar que é familiar, um lugar realmente gregário”. (BUGGELIN, 2004)

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Sem preocupação em estabelecer uma comunicação e relação com a cidade, os edi!cios são, em contexto geral, sem aberturas e seu interior com paredes escuras (grande maioria preta e tons de cinza) e com a necessidade de grande dinamismo do layout. expressão através da arquitetura, no entanto, se ramifica sobretudo em duas •pologias, sendo que a primeira u•liza prédios existentes e os adapta (galpões, salões, barracões), e a segunda o projeto é feito especificamente para o programa religioso. Em ambas as edificações se observa que a preocupação quanto a referência, dis•nguibilidade e iden•dade do objeto como igreja fica por conta da fachada voltada para o logradouro, logomarca e ou redes sociais. Os ambientes são fechados e muitas vezes ignorando o entorno. A auten•cidade, ele acredita, é uma meta importante para a arquitetura e o culto. Para que a experiência autên•ca ocorra, os cristãos devem reconhecer os aspectos modernos de suas vidas e não se re•rar para es•los históricos por nostalgia de um passado mais piedoso. A grande arquitetura sempre foi “moderna”, respondendo e desafiando as culturas que a produzem. (BUGGELIN, 2004)

Exemplificada pela igreja Missão Atos, localizada em Sertãozinho – SP, fundada em 30 de agosto de 2000, pelo pastor Adilson Costa, é um modelo de igreja neopentecostal que adquire um

galpão e o adapta para atender as necessidades do programa e reuniões. As igrejas neopentecostais expressão seus pensamentos religiosos por meio das tecnologias, não somente dentro do templo durante os cultos com telões, televisores e músicas, mas também através das mídias sociais, abaixo alguns exemplos dessa comunicação.


01

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foto 01: fachada igreja Ba•sta fonte: autor foto 01: fachada igreja Comunidade Cristã fonte: autor foto 01: fachada igreja Missão Atos 01

fonte: autor

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foto 01: fachada igreja Ba•sta fonte: autor foto 02: espaço culto, igreja Ba•sta

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[ igreja Ba•sta

fachada lateral.

templo como super!cie. obejeto livre de ornamentos arquitetônicos, santos, pinturas e escuturas

fachada frontal decorada. livre de ornamentos, porém com placa de iden!ficação e outdoor

espaço envoltório. obejeto inserido na lateral do terreno, encosta na construção vizinha

fachada lateral. diálogo material e imaterial. objeto permite que a luz ilumine todo seu interior, porém nao tem ven!lação cruzada

fachada posterior

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foto 01: igreja Comunidade CristĂŁ fonte: autor foto 02: foto interna

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greja Comunidade CristĂŁ

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[ igreja Comunidade Cristã de Sertãozinho

fachada lateral.

templo como super!cie. obejeto livre de ornamentos arquitetônicos, santos, pinturas e escuturas

fachada frontal decorada. livre de ornamentos, porém com placa de iden!ficação do uso

espaço envoltório. obejeto inserido na lateral do terreno, encosta na construção vizinha

fachada lateral. diálogo material e imaterial. objeto permite que a luz ilumine todo seu interior, porém nao tem ven!lação cruzada

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foto 01: igreja MissĂŁo Atos fonte: autor foto 02: foto interna grejaMissĂŁo Atos

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[ igreja Missão Atos

fachada lateral.

templo como super!cie. obejeto livre de ornamentos arquitetônicos, santos, pinturas e escuturas

fachada frontal decorada. barracão decorado, placa de iden!ficação do uso.

espaço envoltório. obejeto inserido na lateral do terreno, encosta na construção vizinha

fachada lateral. diálogo material e imaterial. objeto permite que a luz ilumine todo seu interior, porém nao tem ven!lação cruzada

fachada posterior

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A arquitetura é nosso principal instrumento de relação com o espaço e o tempo, e para dar uma medida humana a essas dimensões. Ela domes•ca o espaço ilimitado e o tempo infinito, tornando-o tolerável, habitável e compreensível para a humanidade. (Pallasmaa, 2011, p. 17)

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[ da arquitetura e suas atmosferas

Estudaremos como o

es!mulo sensorial através da arquitetura é capaz de estabelecer um diálogo entre o homem e o objeto.

Tendo como base para estudo os autores Pallasma e Zunthor, ambos que discorrem sobre os es!mulos através da arquitetura dos sen"dos, visão, audição, olfato, paladar e tato e como o espaço cria uma atmosfera que conecta o corpo humano ao objeto levando-o a uma experiência singular e de reflexão, mesmo que cada pessoa tenha uma

vivência diferente e pessoal. Para fins, estudaremos também a relação da luz e sombra aplicados através da arquitetura não somente em espaços religiosos, mas como são abordados e aplicados.

imagem da página 36 re!rada do livro “Os olhos da pele, Pallasma“

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[ a experiência mul•sensorial segundo Pallasma

Segundo (Pallasmaa, 2011) todas as modalidades de sen•dos trabalham em constante interação e com isso é reforçado nosso senso de realidade. A arquitetura por sua vez não é um fato isolado e independente mais sim segundo (Pallasma, 2011) uma extensão da natureza no âmbito antropogênico que oferece respaldo para percepção do horizonte e compreensão do mundo, bem como dá uma resposta conceitual e material as ins•tuições societárias

Ao olhar para a arquitetura grega o autor (Pallasmaa, 2011) faz uma reflexão onde é evidente e predominante o sen•do da visão, onde as obras cheias de requintes de correções ó•cas pensadas

Toda experiência comovente com a arquitetura é mul•ssensorial; as caracterís•cas de espaço, matéria e escala são medidas igualmente por nossos olhos, ouvidos, nariz, pele, língua,

A arquitetura reforça a experiência existencial, nossa sensação de pertencer ao mundo e essa esqueleto e músculos.

é essencialmente uma experiência de reforço da iden•dade pessoal. Em vez da mera visão, ou dos cinco sen•dos clássicos, a arquitetura, envolve diversas esferas da experiência sensorial que interagem e fundem entre si. (Pallasmaa, 2011, p. 39)

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especificamente para o prazer dos olhos, contudo segundo (Pallasmaa, 2011) a inclinação para o sen•do da visão não resulta na rejeição dos demais sen•dos e sim na absorção da informação e consequentemente es•mulando os demais sen•dos.

Os olhos convidam e es!mulam as sensações musculares e táteis. O sen•do da visão pode incorporar e até mesmo reforçar outras modalidades sensoriais; o ingrediente tá•l inconsciente que existe na visão é par•cularmente importante e muito presente na arquitetura histórica, mas extremamente negligenciado na arquitetura de nossa época. (Pallasmaa, 2011, p. 25)

O autor ainda analisa a arquitetura de Mies Van Der Rohe onde existe a predominância da perspec•va

uma sensibilidade para ordem, estrutura, peso, detalhe e trabalho frontal, contudo com

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artesanal, tornando assim rico o aspecto visual. Uma obra de arquitetura se torna excelente precisamente em função de suas intenções e alusões opostas e contraditórias e seus impulsos inconscientes para que o trabalho se abra a par•cipação emocional do observador. (Pallasmaa, 2011, p. 28)


imagem da página 41 re•rada do livro “Os olhos da pele, Pallasma“

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[ o comportamento audi•vo

O autor (Pallasmaa, 2011) defende que a audição capta as informações do espaço, que na proporção que a visão é direcional e solitária, o som é unidirecional e solidário, onde a visão remete a uma experiência de exterioridade a audição traz uma experiência de interioridade. O autor ainda aborda como a audição estrutura e ar•cula o entendimento do espaço, dando a pessoa a compreensão da dimensão do espaço, em diferentes ambientes, seja em uma catedral, em um porto ou nas ruas. Essas compreensões que podemos tratalas como sensações es•muladas pelo som, a sensação de estar

perto ou longe, em um lugar aberto ou fechado.

De querer desbravar o ambiente, es•mulando assim outros sen•dos como tato e visão. O som mede o espaço e torna sua escala compreensível. Acariciamos os limites do espaço com nossos ouvidos. Os gritos das gaivotas de um ponto nos fazem cientes da imensidão do oceano e da infinitude do horizonte. (Pallasmaa, 2011, p. 48)

petrificado , em que a maior experiência audi•va que pode nos proporcionar é a tranquilidade, que através dela o homem pode se emancipar do abraço do tempo, onde as edificações e cidades se tornam museus do tempo dando ao homem a

compreensão dos ciclos do tempo mesmo que esses ciclos sejam além das nossas vidas individuais. Dito isso o autor ainda complementa dizendo que a arquitetura nos conecta com os mortos através das edificações, onde o tempo permanece imóvel nas construções, como no exemplo dado pelo autor no salão hipos•lo do templo de Carnac. Tempo e espaço estão eternamente Intertravados nos espaços silenciosos entre duas colunas gigantescas; matéria, espaço e tempo se fundem em uma experiência elementar e singular: a sensação de exis•r. (Pallasmaa, 2011, p. 49)

Segundo (Pallasmaa, 2011) a arquitetura é

a

arte do silencio | 47


[ o comportamento olfa•vo

Segundo (Pallasmaa, 2011)

a

memória mais persistente de um espaço é o

seu cheiro, defende que o cheiro especifico de um lugar é um ga"lho para uma memória já esquecida, (Pallasmaa, 2011) descreve em seu livro Olhos da pele, relatos de lugares como loja de balas e como seu aroma

desperta lembranças da infância sua inocência e curiosidade. Dito isso o cheiro é

a imaginação fazendo com que o observador capaz de es"mular

traga à tona uma memória e sensações. O odor pungente de uma sapataria nos faz imaginar cavalos, selas e arreios e a emoção de se cavalgar; a fragrância de uma padaria projeta imagens de saúde, subsistência e força #sica, enquanto o perfume de uma confeitaria nos remete a felicidade da burguesia. (Pallasmaa, 2011, p. 52)

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[ o comportamento gusta•vo

Sobre o paladar (Pallasmaa, 2011) sugere que a organização de alguns elementos na arquitetura como cores e detalhes delicados despertam sensações orais. O mesmo ainda cita o trecho de uma carta de John Ruskin. “ Eu gostaria de comer toda essa Verona, toque a toque” (Pallasmaa, 2011, p. 56) A capacidade de os materiais despertarem sensações orais no corpo humano está na sutileza de como são e organizadas, a aplicação das cores, texturas lisas ou ásperas. Assim como o som desperta sensações que es!mulam o tato e a visão, super"cies e cores despertam sensações orais. Os materiais sensuais e tão bem trabalhados pela arquitetura de Carlo Scarpa, assim como as cores

sensuais das casas de Luis Barragan, frequentemente evocam experiências orais. As super"cies deliciosamente coloridas de Stucco lustro, reves!mento extremamente polido de super"cies de madeira, também se oferecem a apreciação da língua. (Pallasmaa, 2011, p. 56)

foto: a casa estudio, Luiz Barragan fonte: site archdaily

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Arquitetura é em grande parte construída para agradar prioritariamente os olhos e os prazeres da visão, (Pallasmaa, 2011) reconhece isso e ainda traz para a reflexão as construções na•vas e das culturas tradicionais autóctones em argila ou barro onde são prioritariamente provenientes dos sen•dos musculares e táteis e depois da visão. Fazendo com que o autor (Pallasmaa, 2011) iden•fique e classifique a transição da arquitetura autóctones para o controle dos olhos como perca da plas•cidade, da in•midade e da junção dos elementos culturais e na•vos. Podemos inclusive iden•ficar a transição da construção autóctone da esfera tá•l para o controle da visão como uma perda de plas•cidade da in•midade e da sensação de fusão total caracterís•cas dos contextos de culturas na•vas. (Pallasmaa, 2011, p. 25)

(Pallasmaa, 2011) enfa•za através das mãos, segundo o autor as mãos são órgãos do pensamento onde seus movimentos e tarefas permanecem dentro desse elemento. Dito isso (Pallasmaa, 2011) também discorre sobre a pele o maior órgão do corpo humano, que é capaz de ler a textura, o peso, a densidade e a temperatura da matéria.

foto: maçaneta, re•rada do livro “os olhos da pele“

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[ o comportamento tá•l

É um prazer apertar

a

maçaneta da porta que brilha com os milhares de mãos que passaram por ela antes de nós; o brilho tremeluzente do desgaste atemporal se tornou uma imagem de boas-vindas e hospitalidade. A maçaneta da porta e o aperto de mão do prédio. (Pallasmaa, 2011, p. 53)

esses es"mulos sensoriais ele revela a sensação de conforto de in!midade. Há uma forte iden!dade entre a pele nua e a sensação de um lar. A experiência do lar é essencial a experiência do calor ín!mo. (Pallasmaa, 2011,p. 55)

Contudo segundo (Pallasmaa, 2011) o tato nos

conecta com o tempo e tradição, pelas impressões do

toque, através da pele podemos sen!r o lugar e gerar sensações de pertencimento, expresso ao citar que a pele acompanha a

temperatura do ambiente seja da sombra de

uma arvore ou o calor de um lugar ao sol. Assim como a gravidade é medida pelos nossos pés, sen!ndo a textura, a temperatura. O autor ainda revela que a troca que nossa pele faz com o ambiente é capaz de despertar a

sensação de aconchego, que pertencente a fenomenologia do verbo habitar, estabelece então a sensação de pertencimento, de habitar, pois, quando o corpo recebe

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E é este o espaço envolvente que se torna parte da vida, da minha ou na maioria dos casos, da vida de outras pessoas. É um lugar onde as crianças podem crescer. Talvez estas, inconscientemente, se lembrem daqui 25 anos de algum edi•cio, de uma esquina de uma rua, uma praça, sem nada saber do arquiteto, o que também não importa. (ZUMTHOR, 2009, p. 64)

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[ da arquitetura material à atmosfera envolvente

No âmbito de intensificar a relação entre arquitetura e preceitos religiosos, pensar a arquitetura e as sensações das pessoas no espaço se faz importante. O escritor (ZUMTHOR,2009) ressalta a importância de criar uma atmosfera nos espaços projetados e como o objeto estabelece a par•r de então uma comunicação com os observadores, visitantes e com a vizinhança.

E é este o espaço envolvente que se torna parte da vida, da minha ou na maioria dos casos, da vida de outras pessoas. É um lugar onde as crianças podem crescer. Talvez estas, inconscientemente, se lembrem daqui 25 anos de algum edi!cio, de uma esquina de uma rua, uma praça, sem nada saber do arquiteto, o que também não importa. (ZUMTHOR, 2009, p. 64)

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[ atmosfera

No livro atmosferas (ZUMTHOR,2009) faz uma reflexão sobre a qualidade arquitetônica, e descreve que uma boa obra é quando ela tem a capacidade de tocar alguém com uma presença bela e natural, denominando isso atmosfera. Atmosferas, onde o autor (ZUMTHOR,2009) discorre sobre o que é de fato a qualidade arquitetônica, o mesmo ainda afirma que qualidade arquitetônica é a capacidade que a obra tem de tocar uma pessoa. Para (ZUMTHOR,2009) a atmosfera comunica com o a percepção emocional do ser humano, sendo assim a percepção que funciona de forma ins•n•va, o corpo se comunica com o as informações externas tendo uma aceitação imediata ou recusa imediata.

A atmosfera comunica com a nossa percepção emocional isto é a percepção que funciona de forma ins•n•va e que o ser humano possui para sobreviver. (ZUMTHOR,2009, p. 12) foto: estação de Broad Street, re!rada do livro “Atmosferas de Zumthor“

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[ o corpo da arquitetura a

Também relaciona a solidez da arquitetura e a simplicidade musical, onde ambos precisam de procedimentos, interesses, instrumentos e ferramentas. Ainda exemplifica a percepção emocional que temos através da música. Para (ZUMTHOR,2009) o corpo da arquitetura, é juntar as coisas do mundo, organizar os materiais do mundo e criar um espaço, compara a anatomia humana, onde o corpo da arquitetura possui sistemas, pele, massa e nesse pensamento o autor ainda fala sobre a consonância dos materiais, destacando que os materiais são infinitos, e como se relacionam, combinam e irradiam em conjunto. As probabilidades de uso desses materiais, exemplifica o uso de uma pedra, onde pode ser furada, serrada, cortada, usada em tamanhos pequenos ou grandes quan•dades e serão sempre diferentes assim como se aplicar onde fica exposta a luza será mais uma vez diferente, o autor (ZUMTHOR,2009) reflete sobre a importância de testar esses materiais em conjunto, em explorar as possibilidades de uso. Apenas um material e já temos mil possibilidades. (ZUMTHOR,2009, p. 24)

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[ o som do espaço

No texto “som do espaço”, Zumthor faz uma reflexão sobre a forma, as super•cies dos materiais configuram a qualidade espacial do objeto. E seu pensamento dialoga com a linha de pensamento abordado neste trabalho, onde o objeto pode ser projetado a partir do som, pensando qual som ecoara no edi•cio, quando as pessoas se comunicarem, quando usam o espaço para uma leitura, quando andam o som que emite entre o andar e o piso, ou se não emi!ra som, a atmosfera que o ambiente tem através do som ou falta dele. “Cada espaço funciona como um instrumento grande, coleciona, amplia e transmite sons”. (ZUMTHOR, 2009, p. 28)

foto pagina 52: Capela de Campo Bruder Klaus, Peter Zumthor fonte: site archdaily foto pagina 53: Capela Saint Benedict, Peter Zumthor fonte: site archdaily

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[ a temperatura do ambiente

Segundo (ZUMTHOR, 2009) cada edi•cio tem uma temperatura e exemplifica mais uma vez o uso dos materiais para criar essa atmosfera, na obra citada no livro, Pavilhão da Suiça em Hânover, foi u•lizado muita madeira, assim como vigas de madeira que criaram um espaço onde o objeto •nha sua própria temperatura, quando estava frio no ambiente externo, o espaço interno se man•nha mais quente, e quando o ambiente externo estava mais quente, o interno man•nha-se menos quente. O fato de que os materiais re•ram mais ou menos do nosso calor corporal é conhecido. Histórias de como o aço é frio e por isso re•ra o calor. Mas ao falar disso ocorre-me a palavra temperar. É semelhante a temperar pianos, ou seja, encontrar o ambiente certo. No sen•do literal e figura•vo. Quer dizer que

esta temperatura é física e provavelmente psíquica. O que vejo, o que sinto e o que toco, mesmo com os pés. Cada espaço funciona como um instrumento grande, coleciona, amplia e transmite sons. (ZUMTHOR, 2009, p. 34)

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[ entre a serenidade e a sedução

No texto “entre a serenidade e a sedução”, o autor discorre sobre a capacidade dos arquitetos em criar espaços que permite o usuário simplesmente exis•r, que tenha liberdade de ir que se conecte com o edi•cio.

Conduzir, seduzir, largar, dar liberdade. Para certo •po de u•lização é melhor e faz mais sen•do criar a calma, serenidade, um lugar onde não terão de correr e procurar a porta, onde nada nos prende e podemos simplesmente exis•r. Os auditórios, por exemplo, deveriam ser assim. (ZUMTHOR, 2009, p. 44)

foto pagina 54: Pavilhão Swiss Sound, Peter Zumthor fonte: site archdaily foto pagina 55: The Therme Vals, Peter Zumthor fonte: site archdaily

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[ a luz sobre as coisas

O texto “A luz sobre as coisas” de Zumthor discute como a luz deve ser parte do pensar o projeto, a maneira como permi•r a luz ou sombra no objeto de maneira que seja natural, não um recurso que vem no final proposto por recursos de iluminação ar•ficial, não pensar a iluminação como algo posterior mais sim no início do projeto, pensar como

a luz

revela os espaços e objetos, a harmonia com as super!cies criando uma atmosfera, despertando sensações nos usuários Pensar o edi!cio primeiro como uma massa de sombras e a seguir, como num processo de escavação colocar luzes e deixar a luminosidade infiltrarse. (ZUMTHOR, 2009, p. 61) A segunda ideia preferida é colocar os materiais e super!cies, propositadamente a luz e observar como refletem. (ZUMTHOR, 2009, p. 61)

foto pagina 56: The Therme Vals, Peter Zumthor fonte: site archdaily

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[ a arquitetura como espaço envolvente

No texto “arquitetura como espaço envolvente” de zumthor, o autor mostra a par•cularidade dos edi•cios que conseguem estabelecer um envolvimento do observador, usuário e ou vizinhança. A capacidade de fazer parte da vida das pessoas, de ser referência de alguma memoria, de despertar nas pessoas um vínculo até mesmo afe•vo. E na arte há uma bela expressão an•ga: as coisas encontram-se, estão em si, porque são, o que querem ser e a arquitetura é feita para nós a u•lizarmos, não é nenhuma das Belas Artes, acho que esta também é a tarefa mais nobre da arquitetura o fato

arte para ser u!lizada

de ela ser uma

, mas o mais belo é quando as coisas se encontram, quando se harmonizam, formam um todo, o lugar, a u•lização e a forma. A forma remete para o lugar, o lugar é este e a u•lização é esta. (ZUMTHOR, 2009, p. 69)

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[ diálogos entre espaço interno e externo por Zumthor

No livro Atmosferas (ZUMTHOR, 2009) define espaço interno e externo de maneira única, nos mostrando a tensão entre ambos e a maneira como o nosso corpo recebe essas informações. No texto “a tensão entre interior e exterior”, o autor pensa nos elementos que constroem um espaço interno ou externo, as sensações relações e correlações de estar dentro ou

O que o edi!cio revela do seu interior para a rua e o oposto o que o fora.

edi!cio trás da rua para dentro de si. Na arquitetura re"ramos um pedaço do globo terrestre e colocamo-lo em uma pequena caixa e de repente existe um interior e exterior, estar dentro e estar fora, fantás"co e isto implica outras coisas igualmente fantás"cas; soleiras, passagens, pequenos refúgios, passagens impercep#veis entre interior e exterior, uma sensibilidade incrível para o lugar. (ZUMTHOR, 2009, p. 46) foto pagina 58: Kunstmuseum, Peter Zumthor fonte: site archdaily foto pagina 59: Kunsthaus Bregenz, Ma!hias Wessengruber fonte: archdaily

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[ diálogo espaço interno e externo por Hertzberger

Uma vertente dessa pesquisa é entender os caminhos percorrido pela igreja protestante quanto a suas edificações, como esses objetos estabelecem diálogo com a cidade. De que maneira propõe os espaços entre áreas privadas e públicas. Para (HERTZBERGER,2006) é importante primeiro estabelecer uma tradução de público e privado para os termos espaciais, que o mesmo define como áreas de uso cole•vo para público e áreas de uso individual para privado. Porém o autor ressalta que para entender esses espaços devemos olhar com mais atenção a su•lezas que existem entre ambos, assim como o tempo pode ser um delimitador de público e privado, onde em um espaço de tempo é de uso público e em outro uso privado. Sobre tudo existe alguns elementos de conexão e transição desses espaços e a forma como são aplicados no projeto mexem com o sen•do das pessoas, chamados de intervalo por (HERTZBERGER,2006)

foto pagina 61: escola Montessori, Del! fonte: livro “lições de arquitetura”, texto “o

A criança sentada no degrau em

intevalo“

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frente à sua casa está suficientemente longe da mãe para se sen•r independente, para sen•r a excitação e a aventura do grande desconhecido. Mas ao mesmo tempo sentada ali no degrau, que é parte da rua assim como da casa, ela se sente segura pois sabe que a sua mãe está por perto.

Acriança se sente em casa e ao mesmo tempo no mundo exterior . Esta dualidade existe graças a qualidade espacial da soleira

um lugar em que dois mundos se superpõem em vez de estarem como uma plataforma,

rigidamente demarcados. (HERTZBERGER,2006, p. 32) O autor (HERTZBERGER,2006) nos mostra em suas reflexões a importância dos elementos que compõem esses espaços de conexão e transição entre privado

e público, que podem em determinadas aplicações exercer funções sociais, onde promovem encontros entre pessoas de interesse comum, assim como reflete sobre a importância da soleira em ser “um espaço para as boas vindas e despedidas e, portanto, é a tradução e, termos arquitetônicos da hospitalidade”. (HERTZBERGER,2006)


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“ qualidade arquitetônica só pode significar que sou tocado por uma obra” (ZUMTHOR, 2009, p. 10)

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A igreja da Luz de Tadão Ando traz consigo o pensamento das igrejas

protestantes do Brasil, onde os templos são livres de ornamentação, formas geométricas simples espaço sem muitas aberturas. Tadao Ando foi sensível em conceber o projeto levando em consideração o pensamento cristã. Contudo trouxe para o objeto sua forma de pensar, onde valoriza a natureza, é su•l nos espaços intermediários entre o objeto arquitetônico e a cidade, mesmo assim criando espaços de percurso que atraem a pessoa para dentro do objeto. Em seu interior a luz entra por uma Cruz estruturada no edi•cio em sua fachada leste, que ilumina todo interior criando uma Atmosfera única Para Tadão Ando a luz é um fator primordial em seus projetos e na igreja da Luz ele cria uma dualidade com a materialidade o uso do concreto formando uma caixa escura, e rasgando a parede da face leste, permi•ndo a entrada da luz que ilumina toda a caixa e transforma o lugar em um espaço religioso.

função: Igreja da Luz Localização: IbarakiShi, Japão Arquitetos: Tadao Ando Architect & Associates Ano: 1999

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[ Interlocução entre arquitetura e religiosidade

espaço envolvente, dialogo e percurso com o corpo humano

diálogo do objeto com preceitos religosos, livre de ornamentação, e fachada decorada

diálogo luz e sombra, a atmosfera envolvente

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A capela San Alberto Magno esta implantada em um espaço publico e tem acesso de varias direções. Sua capacidade é de 250 pessoas senta- das mais isso pode ser ampliado para mais 500 pessoas, pois suas fachadas oeste e sul se abrem completamente O objeto em si parece um cubo de concreto apoiado sobre uma base de madeira e seu interior recebe luz natural através de iluminação zenital, que fica sobre o altar.

Função: Igreja Localização: Valparaiso, Chile Arquitetos: José Requesens Aldea, Juan Pavez Aguilar Área:320 m² ano:2014

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[ Interlocução entre arquitetura e religiosidade

espaço envolvente, as portas de madeira na escala próxima do corpo humano, esquenta em contraste com o frio do concreto e envolve o corpo humano

diálogo do objeto com preceitos religosos, livre da fachada frontal decorada

diálogo luz e sombra, a atmosfera envolvente

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A igreja Don Bosco, faz parte de um complexo religioso implantado em um parque que o protege das duas ruas que o cercam. O edi•cio tem três materiais principais, concreto, madeira e aço e com poucos ornamentos, criando um espaço de reflexão. A igreja suporta 300 pessoas sentadas e seu interior recebe luz natural por uma claraboia alocada sobre o altar que representa uma coroa, a iluminação ar•ficial fica por conta de 100 lâmpadas de acrílico em pendentes espalhadas pela nave da igreja. O espaço interno cria um percurso onde o olhar é direcionado ao céu trazendo os signos cristãos e criando uma atmosfera de reflexão de preceitos religiosos. O complexo se desenvolve em forma retangular, com um pá•o interno que insere o espaço externo ao complexo, sendo convida•vo e com espaços de transição com su•s mudanças que mudam a percepção da pessoa de ambientes, sem ser agressivo. função: Igreja Localização: Maribor, Eslovenia Arquitetos: Dans arhitek• Ano: 2015

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[ Interlocução entre arquitetura e religiosidade

espaço envolvente,o recuo na geometria do objeto é convida•vo ao corpo humano, cria um espaço intermediario e de transição

diálogo arquitetura e preceitos religiosos, o objeto revela a verdade constru•va, livre de fachada frontal decorada e ostentação de ornamentos

diálogo luz e sombra, a atmosfera envolvente

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“ mas o mais belo é quando as coisas se encontram, quando se harmonizam, formam um todo. o lugar, a u•lização e a forma. A forma reme para o lugar, o lugar é este e a u•lização é esta.” (ZUMTHOR, 2009, p. 69)

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O conceito adotado é “diálogo” entre luz e sombra, cheio e do vazio, do material e imaterial e como essas relações estabelecem diálogo entre si, e •rar par•do dessas diretrizes para traduzir no objeto arquitetônico qualidades espaciais que despertem os sen•dos humanos para um espaço de reflexão, a•vidades per•nentes ao programa e estabelecendo um discurso e integração com a cidade.

foto do lote de estudo.

O terreno escolhido é cortado por um curso de água que muda o traçado urbano do entorno, qualificando assim o mesmo. Questões naturais foram essências para que o local fosse escolhido, na direção do vento predominante fica um espaço de lazer e convívio “praça: Antônio almussa, popularmente praça dos peixes”, assim como o percurso do sol foi um fator determinante para inserção do objeto no lote. Onde o espaço religioso através de uma abertura em forma de cruz em sua face que fica para o sol pente, permite a entrada da luz natural iluminando e alinhando-se perfeitamente com o espelho d’água que corta o objeto, em alguns dias do ano, discu•ndo assim através do objeto a relação luz e sombra, material e imaterial, os preceitos religiosos

fonte: autor

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[ par•do arquitetônico

dialogando através da arquitetura, onde a luz, a água, a abertura na parede, a materialidade, o objeto e o discurso se tornam um. Já o espaço de eventos, discute o diálogo do privado e cole•vo, o homem na sociedade, o objeto dialogando com o urbano, para isso a paginação do piso térreo segue a mesma que da calçada se tornando sensível ao corpo humano a percepção de pertencimento do espaço, permi•ndo assim que a pessoa ande por toda a praça sem estranhamento de troca repen•na de espaço, no enteando se torna sensível ao corpo a troca de ambientes por meio das aberturas, pé direito baixo outra hora duplo, recuo de fachada, painel de madeira que esquenta o ambiente e contrasta com a frieza do concreto do piso, aberturas com painéis votantes que torna o espaço hora público hora privado, assim como o uso e horário se torna um fator determinante de uso cole•vo ou privado, de abrir-se para a cidade e revelar seu interior, hora só abre parte e revela vistas da cidade para quem está dentro do edi•cio.

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espaรงo permanencia

espaรงo de controle e gestรฃo

espaรงo de apoio

espaรงo de apoio

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80.90 %

1.75 % 7.99 % 9.36 %


[ programa

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O terreno esta localizado no bairro Jardim Nova Sertãozinho, fica na zona ZER - Zona retritamente residencial taxa de ocupação: 70 %taxa de permeabilidade: 5 % testada mínima: 12 m Gabarito maximo: 2 (consitera-se todos os pavimentos, incluindo o tétrreo)

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[ área de inserção do objeto

estado: São Paulo

cidade: Sertãozinho

bairro: Nova Sertãozinho

o Lote

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No mapa de figura e fundo podemos observar o comportamento da edificações dentro da malha urbana. As áreas ocupadas sao densas dentro das quadras deixando poucos espaços livres o que nos faz refle•r como o objeto ira dialogar com o lote escolhido, pensando em soluções que permitam vazios.

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[ área de inserção do objeto

neste mapa observamos o gabarito da área de estudo e fica ni•do a predominancia de edificações até 4 pavimentos, refle•ndo assim um entorno pouco ver•calizado, e nos mostrando a iden•dade de uma cidade que nao é compacta. No entando refle•remos no dialogo do objeto com a cidade e como tornar esses espaço mais democra•co permi•ndo areas de uso cole•vo, aumentando a densidade populacional na éarea de estudo

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Neste momento observamos que a predominancia de uso do solo na área de estudo é de residencias, o que nos direciona ao impacto do objeto sendo que o mesmo visa aglomerações e ventos, podendo causar ruidos sonoros, nos dando assim diretriz para escolha dos mayeriais e metodo constru•vo para minimizar e até eliminar consequencias nega•vas devido ao uso do objeto aqui proposto.

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[ área de inserção do objeto

Os aspectos naturais é o que fascina no lote escolhido, o curso d´água passa pelo terreno dando um novo desenho na grelha urbana, criand perspec•va e uma nova paisagem urbana, o espaço de lazer popularmente conhecido como praça dos peixes, abre um vazio entre as edificações do entorno, possibilitando assim que o vento predominante perca temperatura por causa da

umidade gerada pelas arvores da praça, chegando assim no lote escolhido mais fresco e mudando a atmosfera do local. O sol por si gera uma paisagem unica, sendo seu percurso cortando na transversal o curso d´água, dando diretriz para implantação do

objeto arquitetonico, gerando um dialogo entre material e imaterial, a luz e a sombra, o ceu e a terra.

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[ área de inserção do objeto

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[ área de inserção do objeto

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[ área de inserção do objeto

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[ área de inserção do objeto

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[ área de inserção do objeto

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[ área de inserção do objeto

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“ um espaço conhecido a nossa volta, onde sabemos que nossas coisas estão seguras e onde podemos nos concentrar sem sermos pertubados pelos outros, é algo de que cada individuo precisa tanto quanto o grupo.” (Hertsberger, 2006, p. 28)

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[ implantação

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[ paginação de piso

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[ planta baixa do tĂŠrreo

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[ planta baixa do pavimento superior

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[ cortes, espaรงo religioso

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[ cortes, espaรงo de eventos

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[ elevações

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[ elevações

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O espaço religioso, conta com três trilhos contendo 1 painel em cada trilho, sendo um painel de vedação em vidro, e os outros dois em madeira criando entre eles um vacuo e trabalhando assim como isolante acus•co e térmico. Os painés em madeira aquecem o ambiente, contrastando com o frio do concreto, sua altura busca a escala humana, deixando o corpo humano acolhido pelo objeto.

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[ o espaรงo religioso

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Os painés correm pelos trilhos, mudando a paisagem interna assim como a externa, um dialogo generoso entre o objeto e a cidade, hora o objeto revela seu interior para cidade, e de reciproca generosidade permite que a paisagem urbana se integre com sua área interna, permite que entre os sons da cidade, do curso d água, do vento que vem da praça popularmente conhecida “praça dos peixes“. Os elementos naturais dialogando com o objeto discorre sobre os preceitos religiosos, a abertura na laje, permite a entrada da luz mantendo sempre clara a face onde acontece uma abertura na parede em formato de cruz, cruz essa que permite que a luz atravesse por ela e ilumine o espaço interno, no entanto em alguns dias do ano essa luz reflete a cruz simetricamente no espelho d´água que corta a igreja, O espelho d´água por sua vez leva o olhar, tocar, e andar da pessoa até a cruz, ele simboliza o Espirito Santo, conduzindo a pessoa até jesus representado pela cruz, por sua vez a cruz revela a luz, que poderiamos chamar de céu, significando assim o Deus pai, os tres se tocam e se tornam um, assim como a trindade. As questoes materiais e imaterias em pleno dialogo percorrendo sobre os discursos cristãos, torna assim uma atmosfera envolvente dentro do objeto. 110 |


[ o espaรงo religioso

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O espelho d´água externo cria uma hierarquia onde a pessoa nao tem acesso direto a fachada frontal, o observador para de frente a igreja, e tem ai uma paisagem do dialogo do objeto arquitetônico com a natureza, a um respeito pelo curso d´água existente, por isso no projeto é proposto que a água da chuva seja coletada e reservada, minimizando assim a quan•dade de água que cai de uma vez no leito o que pode provocar enchentes em determinadas áreas da cidade, contudo essa água é liberada aos poucos sobre o espelho d água, que por sua vez tem borda infinita, gerando uma cascata sobre o corrego, consequentemente mudando a paisagem urbana, e permi•ndo que o som da água entre pelo objeto, assim como a umidade levada pelo vendo que baixa a temperatura do local.

Como proteção para que ninguem caia na agua, foi proposto um banco que cria assim um elemento que conduz a permanencia das pessoas, e que nao seja somente um caminho de passagem, mas que permita o dialogo entre pessoas, entre objeto e cidade, entreespaço publico e privado.

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[ o espaรงo religioso

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No momento que os paines do espaço religioso se abrem, permite um novo pensar de layout, onde o espaço que antes era externo por hora pode se tornar interno e aumentar o alcanse de publico que o edificio atende. Os paines de madeira são ripados ver•calmente, que permite a passagem de luz, e da vista do observador, contudo em momentos em que um painel passa por detras do outro essa abertura para a visao e a entrada da luz é fechada.

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[ o espaรงo religioso

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[ o espaço religioso

No momento que os paines do espaço religioso se abrem, permite que entre o vento fresco que bate no espelho d´água, o barulho da água caindo no corrego, assim como os sons da cidade, dos passaros, dos carros, das pessoas conversando e uma paisagem tranquila, onde é proposto pensar soluções atraves do paisagismo para criar uma barreira visual para as empenas cegas que existem al lado do curso d´água.

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[ a praça interna

Este espaço promove o uso publico, o convivio e permanencia, pode ser usado também para a•vidades privadas que constam no programa, como estudos, musica, dança, momentos de reflexão e contemplação da paisagem natural no sen•do do curso d´água, ou a paisagem urbana no sen•do oposto.

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esse pa•o que integra os dois objetos também promove o uso publico, o convivio e permanencia, pode ser usado também para a•vidades privadas que constam no programa, como estudos, musica, dança, momentos de reflexão e contemplação da paisagem natural no sen•do do curso d´água, ou a paisagem urbana no sen•do oposto.

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[ a praรงa interna

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Este é o espaço de evento, um espaço auditório que atende a demanda de uma lugar para conferencias, possui como vedação painés de madeira que sao ó•mos na reverberação do som, assim como atuam como no isolamento acus•co e termico, conforto termico que é solucionado tambem, pelo pé direito duplo. Os paines são pivotantes e girão em sua totalidade, são independentes podendo ficar uns abertos, outros fechados, podendo tambem trabalhar sua aberturas como brises que vao se moldando de acordo com o percurso do sol. Eles tambem permitem que o espaço fique totalmente aberto para a cidade e o espaço religioso, onde a pessoa atravessa em sua totalidade, a•ngindo os estremos do lote.

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[ o espaรงo de eventos

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É uma diretriz deste trabalho pensar na su•leza dos espaços de transição, por isso foi proposto a mesma paignação de piso da calçada, dos pa•os internos, e dos objetos arquitetonico. Orecuo na fachada, cria um espaço intermediario, de abrigo, de proteção do sol ou chuva, permite que o que era fora se torna dentro, ao mesmo tempo que a pessoa esta fora ela se sente abraçada e protegida pelo edificio. hora estando nesse recuo se torna convida•vo explorar mais o obejeto, entrar por ele, e assim o prédio vai revelando faces, paisagens, caminhos.

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[ o espaรงo de eventos

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[ a proposta de objeto arquitetonico

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[ referências bibliográficas

NESBITT, Kate.(org) . Uma Nova Agenda para Arquitetura: antologia teórica. S.P: Cosac Naify,2008 ZUMTHOR, P. Atmosfera; architectural environments surrunding objects. Basel: Birkhauser;2006. BUGGELN, Gretchen T. Sacred Spaces. 2004. Disponivel em <h!p://www.religion-online. org/ar"cle/sacredspaces/#www.chris"ancentury. org> Acesso em: 25 març.2020 VENTURI, Robert. Aprendendo com Las Vegas. Coleção face norte ed.2003 HERTZBERGER, Herman. Lições de Arquitetura. São Paulo: Mar"ns Fontes, 2006. ZEVI, Bruno. Saber ver arquitetura. Mundo Arte, 2009. PALLASMAA, Juhani. Os olhos da pele. Bookman, 2011.

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