Formação Econômica do Brasil
Material Teórico O ciclo do Ouro
Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Nelson Calsavara Gonçalves de Medeiros Revisão Textual: Prof. Esp. Márcia Ota
O ciclo do Ouro
• Introdução • Fluxo de renda • Regressão econômica e expansão da área de subsistência • Economia de transição para o trabalho assalariado
·· Nesta Unidade, será abordado O Ciclo do Ouro, que, em termos práticos, retrata o fluxo de renda, a regressão econômica e expansão da atividade de subsistência, e por fim, os aspectos que envolveram a economia de transição para o trabalho assalariado no século XIX. Com isso, será possível compreender a importância, onde e como foi desenvolvida mais uma atividade econômica no país, assim como a relevância das economias satélites, como o comércio de animais.
O primeiro passo para o entendimento dessa Unidade é a leitura completa da bibliografia indicada, inclusive do material complementar. Em seguida, você deverá (toda vez que julgar necessário) entrar em contato com o tutor para que as dúvidas sejam esclarecidas. Feito isso, deverá ainda assistir à videoaula e à apresentação narrada para só então executar as atividades que serão propostas ao longo do estudo da unidade.
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Unidade: O ciclo do Ouro
Contextualização Com a instalação da depressão na economia açucareira, a massificação da atividade de subsistência, a atividade de pecuária também apresentando fortes sinais de decadência e a pauta de exportação do país se resumindo a produtos tropicais, como cacau, fumo, resinas aromáticas entre outros, Portugal não enxergava uma solução aparente. Sem grandes volumes de exportação, a receita com impostos era insuficiente para manter as despesas com a colônia. Em face da ausência de alternativas, a Metrópole decidiu então apostar todas as suas fichas na busca por metais preciosos e pode-se afirmar que a aposta foi lucrativa, com o ápice em torno do ano de 1760, pois desse momento em diante, essa atividade econômica foi marcada pela diminuição da produtividade e consequente lucratividade. A localização geográfica onde a exploração do ouro foi efetuada de modo mais intenso exigiu a mudança do sistema de tração, antes dominado pelo boi, agora pela mula, suscitou um novo comércio. Outra mudança significativa foi o papel do escravo, que agora poderia comprar sua alforria e quando isso acontecia, adquiria escravos para também tentar a sorte grande na mineração. O deslocamento da população entre as regiões da Serra da Mantiqueira, de Cuiabá e de Goiás, pode ser comparado aquele praticado por uma nuvem de insetos, já que a população era fixa até que todos os minérios existentes, principalmente nos cursos dos rios, fossem extraídos a exaustão. A partir daí, a população se mudava para outro destino, em busca de metais preciosos, sempre ávida, pelo consumo de alimentos, roupas, utensílios para a mineração, couro, entre outros. Com o fim do ciclo do ouro, surgiu novamente um excedente de mão de obra que se ocupou única e exclusivamente da subsistência, porém será aproveitado em uma próxima atividade econômica: o café.
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Introdução O ciclo do ouro respondeu a muitos anseios que a Metrópole, a Inglaterra e também os colonos locais possuíam, porém não foi capaz de fomentar atividades econômicas que pudessem alavancar a produção de algum produto que lograsse êxito nas exportações, ou ainda que promovessem a algum tipo de crescimento ou desenvolvimento para a economia brasileira. Sob o ponto de vista da Metrópole, a colônia precisava a todo custo ser dotada de viabilidade econômica, já que, após o declínio da atividade açucareira, grande parte da população se ocupou da atividade de subsistência e as exportações declinaram sobremaneira. “Que poderia Portugal esperar da extensa colônia sul americana, que se empobrecia a cada dia, crescendo ao mesmo tempo seus gastos com manutenção? Era mais ou menos evidente que da agricultura tropical não se podia esperar outro milagre similar ao do açúcar. Iniciara-se uma intensa concorrência no mercado de produtos tropicais, apoiando-se os principais produtores – colônias francesas e inglesas – nos respectivos mercados metropolitanos. Para os observadores de fins do século XVII, os destinos da colônia deveriam parecer incertos. Em Portugal, compreendeu-se claramente que a única saída estava na descoberta de metais preciosos”. FURTADO (2007, p. 117).
Para os colonos locais, havia a necessidade de desenvolver uma atividade que propiciasse algo mais do que a subsistência, pois a vida para essas pessoas era muito difícil, dada as condições precárias de infraestrutura, e opções parcas de sobrevivência, geralmente ligadas a atividades como a pecuária, artesanato, agricultura e comércio local. Levando em consideração o ponto de vista mais vantajoso, é preciso apresentar o papel dos ingleses nesse ciclo econômico. Isso porque com o incremento das exportações de ouro e outros metais preciosos para a Metrópole, a mesma acabou transferindo-os para os ingleses como pagamentos pelas importações. “Foi o século XVIII a era de maior fartura para o Erário Régio. O convento de Mafra, o palácio das Necessidades, a reconstrução de Lisboa e os gastos descompassados da Corte foram pagos com rendas provenientes do Brasil”. SIMONSEN (1978, p. 265).
O resultado dessa prática foi muito lucrativo para os ingleses que alcançaram o posto de novo centro financeiro da Europa, em substituição à Amsterdam, além de utilizar esse metal precioso para financiar investimentos ligados à produção manufatureira, potencializando ainda mais os ganhos para o país. “No alvorecer do séc. XIX, a indústria mineradora do Brasil, que se iniciara sob tão brilhantes auspícios e absorvera durante cem anos o melhor das atenções e atividades do país, já tocava sua ruína total. Os prenúncios desta já se faziam, aliás, sentir para os observadores menos cegos pela cobiça, desde longa data”. PRADO JÚNIOR (1970, p. 171).
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Unidade: O ciclo do Ouro
Fluxo de renda A economia mineira se assentou na região entre a serra da Mantiqueira (Minas Gerais) e a região de Cuiabá (Mato Grosso), passando por Goiás. Contudo, nem todas as regiões tiveram um desenvolvimento contínuo, fato que provocou grandes movimentos populacionais. O próprio movimento populacional (longe de ser uniforme) denota que o fluxo de renda era maior em algumas regiões do que outras e quando isso ocorria, no momento seguinte, instalava-se um movimento de depressão. Em outras palavras, quanto mais rica a região, maior o atrativo para a população e menor o tempo de produtividade, seguido da queda populacional. O ápice da exportação do ouro ocorreu em 1760, quando a atividade atingiu cerca de 2,5 milhões de libras. Esse montante não obteve sustentação e em 1780 já não alcançava 1 milhão de libras. “No século XVIII, o ouro do Brasil deu o primeiro impulso à formação dos grandes estoques deste metal nos tempos modernos. Entre 1700 e 1770, a produção do Brasil foi praticamente igual a toda a produção do ouro do resto da América, verificada entre 1493 e 1850; alcançou cerca de 50% do que o resto do mundo produziu nos séculos XVI, XVII e XVIII”. SIMONSEN (1978, p. 258).
História da mineração no Brasil
Fonte: Johann Moritz Rugendas (1802-1858)
Levando-se em consideração os números gerados por essa etapa de ápice da exploração mineira, há de se destacar que essa atividade não superou os auferidos pela conomia açucareira. 8
Entretanto, suas potencialidades eram maiores, devido alguns fatores, como a expansão territorial. Nesse caso, essa variável também pode ser avaliada como um problema, já que havia dispersão da renda devido à localização da população. A distância do porto aumentava o preço dos produtos importados e crescia a procura por bens de consumo em detrimento dos artigos de luxo. Mesmo com o estabelecimento de centros urbanos e as dificuldades de importação, não houve desenvolvimento de expressivo de atividade manufatureira, nos centros urbanos ligados à extração do ouro. À priori, pode-se atribuir o atrofiamento dessa atividade ao decreto de 1785, proibindo qualquer atividade manufatureira da colônia. Contudo, o desenvolvimento dessa atividade não havia logrado êxito mesmo antes do referido decreto, motivado pela incapacidade técnica dos imigrantes para iniciar atividades manufatureiras em escala. É importante destacar que o atrofiamento dessa atividade não foi uma característica peculiar da colônia, pois Portugal também passou pelo mesmo problema, devido à assinatura do Tratado de Methuen em 1703, popularmente conhecido como Tratado dos Panos e Vinhos. “Aparentemente simples, esse tratado, que tem sido tão amplamente discutido, teria, no momento, um significado todo especial. De fato, as três cláusulas que, à primeira vista, nada de anormal podem indicar para a mentalidade de hoje ou para os cultores da chamada escola liberal do século XIX, continham, no entanto, dispositivos que envolviam os próprios fundamentos da economia brasileira. Pela primeira, Portugal permitia a entrada de panos e outras manufaturas de lã inglesa, cuja importação proibira em leis de 1681 e 1690, fosse qual fosse à procedência; pela cláusula segunda, os vinhos portugueses teriam na Inglaterra um tratamento preferencial sobre os vinhos franceses, em relação aos quais gozavam de um abatimento de 1/3 nos direitos, ficando Portugal habilitado a denunciar o tratado, caso cessasse este tratamento preferencial. A cláusula terceira, meramente protocolar, marcava dois meses de prazo para a ratificação do convênio”. SIMONSEN (1978, p. 267).
Esse tratado foi um marco importante para a Metrópole, pois o mesmo encerrou um período em que Portugal enfrentava um movimento de depressão em decorrência da queda da atividade açucareira. Com queda das receitas geradas pela exportação do açúcar, Portugal foi obrigado a reduzir suas importações e fomentar a produção interna. O resultado dessa política foi expressivo, já que, a partir de 1684, durante vinte anos, o país conseguiu reduzir e praticamente abolir a importação de tecidos. O primeiro sinal de que problemas ocorreriam, em relação à produção de manufaturas, foi um decreto oriundo da Inglaterra, que proibiu a entrada desse produto vindo da França. Em seguida, um dos grupos dominantes de Portugal, os produtores de vinhos, aliaram-se com os ingleses, já que tinham dificuldades de exportação de seus produtos para a Inglaterra, 9
Unidade: O ciclo do Ouro
devido à concorrência francesa. Por outro lado, os ingleses queriam que Portugal retirasse o embargo à importação de suas manufaturas. A saída encontrada para tal impasse foi a assinatura do referido tratado, que desencadeou a estagnação do setor manufatureiro português. Com a assinatura do Tratado de Panos e Vinhos, o esperado seria que houvesse uma deterioração econômica em Portugal ainda maior, já que esse tipo de relação centro-periferia onde o país desenvolvido exporta produtos com maior valor agregado, frente à importação de commodities oriunda do país menos favorecido - é muito atual e o resultado dessa relação é conhecido. Por que o esperado não ocorreu? O ouro foi como um “colchão amortecedor” para a economia portuguesa, já que a extração desse metal no Brasil começou exatamente quando o referido tratado foi assinado. Com o incremento da atividade mineira na colônia e a maior necessidade de importação de manufatura, a mesma era transferida para a Inglaterra, enquanto Portugal utilizava o ouro para efetuar importações e construções de monumentos, pontes e assim sucessivamente. O que implica em afirmar que o ouro também foi transferido para outros países, sobretudo a Inglaterra. “Ora, o ouro do Brasil não ficaria em Portugal em pagamento de seus vinhos, nem nas reservas do erário real que, sem saldos efetivos, não poderia retê-lo; atravessava o país em demanda da Inglaterra, em pagamento da balança de comércio, inteiramente favorável a esta nação”. SIMONSEN (1978, p. 267).
E se Portugal tivesse continuado com a atividade manufatureira, seria possível expandir a atividade e atender à demanda da colônia? Tudo indica que os lucros deste seriam de tal ordem que a acumulação de capital ocorreria rapidamente, com possibilidade de assimilar novas técnicas de produção que estavam se desenvolvendo. Isso não significa que o país não encontraria dificuldades, como por exemplo, a falta de mão de obra devido ao ciclo mineiro no Brasil e o terremoto de Lisboa. Em relação aos demais países da Europa, a Inglaterra foi o único país que seguiu em todo o século antes da Revolução Industrial, a atividade manufatureira. Não é à toa que a mesma é conhecida como o berço da Revolução Industrial. A Inglaterra encontrou, em Portugal, um mercado em rápida expansão e quase unilateral, incrementado pela demanda da colônia. Além disso, o ouro recebido de Portugal, proveniente de suas exportações, serviu ao propósito de concentrar os investimentos no setor manufatureiro e financiou mais adiante as guerras napoleônicas. Com toda essa fonte de financiamento (ouro) à disposição da Inglaterra, houve uma mudança no centro financeiro europeu, já que anteriormente esse título pertencia à Amsterdam.
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“Por outro lado, recebendo a maior parte do ouro que então se produzia no mundo, os bancos ingleses reforçaram mais e mais sua posição, operando-se a transferência do centro financeiro da Europa de Amsterdam para Londres. Segundo fontes inglesas, as entradas de ouro brasileiro em Londres chegaram a alcançar, em certa época, 50 mil libras por semana, permitindo uma substancial acumulação de reservas metálicas, sem as quais a Grã-Bretanha dificilmente poderia ter atravessado as guerras napoleônicas”. FURTADO (2007, p. 131).
Você já ouviu a expressão “Santo do pau oco”? Ela tem relação direta com a exploração do ouro no Brasil no período abordado. É um bom momento para fazer uma pesquisa. Santo do pau oco
Fonte: epocadoouronobrasil.blogspot.com
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Regressão econômica e expansão da área de subsistência Com a ausência de uma atividade duradoura que provocasse mudanças na estrutura econômica das regiões mineiras, exceto pela agricultura de subsistência, assim que ocorre declínio na extração do ouro, toda a atividade pereceria. “Chega-se assim, no alvorecer do séc. XIX, a um momento em que já se tinham esgotado praticamente todos estes depósitos de superfície na vasta área em que ocorreram. A mineração sofre então seu colapso final. Nada se acumulara na fase mais próspera para fazer face à eventualidade. Os recursos necessários para restaurar a mineração nas novas bases que a situação impunha se tinham volatizado, através do oneroso sistema fiscal vigente, no fausto caricaturesco da corte de um D. João V e na dispendiosa e ineficiente administração portuguesa; às migalhas que sobravam desta orgia financeira se foram também na dissipação em imprevidente dos mineradores. A ignorância, a rotina, a incapacidade de organização nesta sociedade caótica que se instalara nas minas, e cuja constituição não fora condicionada por outro critério que dar quintos a um rei esbanjador e à sua corte de parasitas, e nos restos satisfazer o apetite imoderado de aventureiros, davam-se a mão para completar o desastre”. PRADO JÚNIOR (1970, p. 173).
Os indícios do declínio do ciclo do ouro começaram com a redução da produção e a consequente redução também da mão de obra, já que os empresários não possuíam condições financeiras para a manutenção desse serviço. Esse tipo de trabalho entorpecia a mente do empresário, tal qual o vício de um jogo, pois o mesmo acreditava que a qualquer momento sua sorte poderia mudar. Tal peculiaridade resultou na lenta destruição de seu ativo, em vez da possibilidade de transferência para outra atividade econômica. Na Austrália, por exemplo, a produção de ouro teve outro desfecho, pois a depressão da atividade tornou-se o início para a adoção de uma política protecionista com vistas à industrialização. O efeito da atividade mineira resultou no aumento populacional desse país. Com isso, houve a necessidade da intensificação da indústria de lã e de produção de alimentos. Para atender toda a demanda, esses setores adotaram técnicas mais desenvolvidas e conseguiram acelerar o desenvolvimento ainda na etapa de expansão da produção do ouro. “A experiência da economia aurífera australiana é ilustrativa da flexibilidade de um sistema que tinha acesso a uma tecnologia mais avançada. Com a descoberta do ouro, a população da Austrália praticamente triplicou num decênio, passando de 438 mil em 1851, para 1,168 milhão em 1861. Em tais condições é fácil imaginar a drenagem de mão de obra da economia lanífera preexistente e a pressão sobre a oferta de alimentos”. FURTADO (2207, p. 133).
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No Brasil, como resultado da crise do açúcar, foram introduzidas técnicas que reduziam a necessidade da mão de obra tanto para a produção de lã, como para a agricultura e por isso, essas atividades não conseguiram absorver a mão de obra. A História da presença negra em Minas Gerais
Outro fator importante para caracterizar o caso brasileiro foi o regime de trabalho escravo. Tal regime fez com que uma quantidade menor de pessoas livres fosse necessária para essa atividade. Por isso, a perda maior foi para os empresários que tinham despendido grandes quantias de dinheiro para a compra de escravos e observaram a rentabilidade do negócio definhar dia a dia. Diferentemente da indústria açucareira, já que a rentabilidade fora assegurada com alta produtividade, o declínio da atividade transformou o empresário em faiscador e, com o tempo, o mesmo foi obrigado a dedicar-se à atividade de subsistência.
Fonte: professorataniavieira.blogspot.com.br
Com o passar dos anos, toda a estrutura de núcleos urbanos, que foram criados em prol da atividade de mineração, foi desarticulada e com similaridade da indústria açucareira, surgiram núcleos de subsistência voltados para a atividade agrícola, que estavam espalhados por uma vasta região, muitas vezes isolada.
“Dessa forma, uma região cujo povoamento se fizera em um sistema de alta produtividade, e em que a mão de obra fora um fator extremamente escasso, involuiu numa massa de população totalmente desarticulada, trabalhando com baixíssima produtividade numa agricultura de subsistência. Em nenhuma parte do continente americano houve um caso de involução tão rápida e completa de um sistema econômico constituído por população principalmente de origem europeia”. FURTADO (2007, p. 134).
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Economia de transição para o trabalho assalariado Os acontecimentos ocorridos na Europa, no final do século XVIII e começo do seguinte, desencadearam pelo menos dois efeitos: a) aceleraram a evolução política do país; b) prolongaram a etapa de dificuldades econômicas com a decadência do ouro. Além disso, outros acontecimentos são de fundamental importância no contexto da época: a) a separação definitiva de Portugal em 1822; b) acordo firmado com a Inglaterra em 1827, onde foi reconhecida a situação de potência privilegiada. Partindo de uma análise mais ampla, pode-se afirmar que a relação do Brasil com a Inglaterra, sustentada com base em privilégios, contribuiu para favorecer a independência, sem maiores desgastes de recursos, sem a necessidade de conflitos. Isso não ocorreu, por exemplo, na região da Nova Granada (Colômbia, Equador, Panamá e Venezuela), que conquistou sua independência a partir de 1814 quando liderada por Simón Bolívar, que empreendeu uma campanha militar para libertação em duas frentes: a) a partir do norte, expulsa os espanhóis da Colômbia, Venezuela e do Equador; b) A partir do sul, sob o comando de San Martín, liberta a Argentina, o Chile e o Peru. Você sabe quem foi Simón Bolívar? Quais foram suas realizações? Então, é uma boa hora para iniciar uma pesquisa. Simon Bolivar
Fonte: Arturo Michelena (1863-1898)/Wikimedia Commons
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Nesse momento, não havia, tampouco, unidade territorial para fomentar uma luta prolongada, já que a busca pelos interesses regionais é que constituía a realidade nacional, fato que começou a ser modificado somente quando ocorreu a mudança do governo português para o Rio de Janeiro. “Os interesses regionais constituíam uma realidade muito mais palpável que a unidade nacional, a qual só começou realmente a existir quando se transferiu para o Rio de Janeiro o governo português. A luta ingente e inútil de Bolívar, para manter a unidade de Nova Granada, constitui um exemplo de difícil que é impor uma ideia que não encontra correspondência na realidade dos interesses dominantes”. FURTADO (2007, p. 144).
Embora a relação com a Inglaterra favoreceu a independência, não se pode afirmar que ela contribuiu para evitar o desenvolvimento do Brasil. Isso se justifica na medida em que a colônia estava intimamente ligada às economias europeias, das quais dependia, logo após o rompimento com a Inglaterra. Não possuía um sistema autônomo, sendo apenas uma grande plantação de produtos tropicais. Outro fator importante foi a tensão que existiu entre a Inglaterra e o Brasil. Isso pode ser notado com a análise de alguns pontos: a) a Inglaterra não se preocupou em abrir os mercados aos produtos brasileiros, pois esses competiam com os oriundos das Antilhas; b) os ingleses praticaram uma ideologia liberal que criou dificuldades à economia brasileira, quando os agricultores começavam a governar o país; c) o comércio de escravos foi fortemente atacado pelo governo inglês, pois entendeu que seus interesses no mercado do açúcar estavam prejudicados com a concorrência brasileira. Apesar dessas disputas, não houve nenhuma contradição séria entre as nações, que levasse a crer que se o governo brasileiro tivesse independência, o país teria apresentado um crescimento significativo. “O tratado de comércio de 1810, referindo-se embora com bonitas palavras ao novo “system liberal”, constitui, na verdade, um instrumento criador de privilégios. Por outro lado, os ingleses não se preocuparam em abrir mercados aos produtos brasileiros, os quais competiam com os de suas dependências antilhanas. Aplicadas unilateralmente, a ideologia liberal passou a criar sérias dificuldades à economia brasileira, exatamente na etapa em que a classe de grandes agricultores começava a governar o país. É nesse ambiente de dificuldades que a Inglaterra pretende impor a eliminação da importação de escravos africanos. Assim, entre as dificuldades que encontravam para vender os seus produtos e o temor de uma forte elevação de custos provocada pela suspensão da importação de escravos, a classe de grandes agricultores se defendeu tenazmente, provocando a ira dos ingleses”. FURTADO (2007, p.145).
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Apesar disso, é inegável que a relação com a Inglaterra criou dificuldades para a economia brasileira. Um exemplo disso são as províncias do norte: Bahia, Pernambuco e Maranhão. Os preços do açúcar estavam muito baixos e os do algodão ainda mais. Na região sul, as dificuldades econômicas se acentuaram devido à decadência do ouro e ocorreram rebeliões, as quais junto com a prolongada guerra civil do extremo sul são o reflexo desse processo de empobrecimento. Revolução Farroupilha ou Guerra dos Farrapos
Fonte: obshistoricogeo.blogspot.com.br
Você sabe o que foi a Guerra dos Farrapos e seus desdobramentos? É uma boa hora para iniciar uma pesquisa. “Nos anos 30 e 40 do século XIX o Brasil viveu um período praticamente ininterrupto de revoltas e guerra civil. Pará, Maranhão, Ceará, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso e Rio Grande do Sul atravessaram convulsões internas. No Pará, no Ceará e em Pernambuco o período de convulsões durou anos, e no Rio Grande do Sul a guerra civil se estendeu por decênios”. FURTADO (2007, p. 147).
Novamente, em um processo de grande depressão, surge uma nova atividade para fomentar o desenvolvimento do país, o café. A partir de 1830, o café se firmou como principal elemento da exportação brasileira, entretanto, ainda encontrava um empecilho, a Inglaterra. Outro exemplo de dificuldades devido à relação com a Inglaterra foi quanto à arrecadação. Nesse período, o montante arrecadado pelo governo central, não era suficiente para, sequer, cobrir metade dos gastos incorridos com a guerra na Banda Oriental do Uruguai (ocupada pelos portugueses em 1815). Para resolver essa dificuldade, o governo financiou o déficit por meio da emissão de moeda, desencadeando inflação, dificultando a vida das populações urbanas e aumentando o ódio contra os portugueses (comerciantes), que foram responsabilizados por todos os problemas.
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“Entre 1824 e 1829 o governo do Brasil conseguiu alguns empréstimos externos, se bem que em condições extremamente onerosas, no montante real de 4,8 milhões de libras. Esses recursos foram, entretanto, totalmente absorvidos nos gastos diretos da independência, inclusive parte da indenização de 2 milhões de libras paga a Portugal”. FURTADO (2007. p. 148).
Para viabilizar o desenvolvimento da economia brasileira na primeira metade do século XIX, era necessário aumentar as exportações. No entanto, antes disso, era necessário aumentar a capacidade de importação, haja vista a inexistência de desenvolvimento técnico capaz de suprir toda demanda. O consumo do país estava em queda, devido à depressão da atividade mineira. A industrialização deveria começar por aqueles produtos que já tinham mercado, como por exemplo, os tecidos, que eram consumidos por todos os tipos de camadas sociais, inclusive a escrava. Para viabilizar a expansão da indústria do tecido, era necessário romper algumas dificuldades, tais como: a) forte baixa dos preços dos tecidos ingleses; b) impedimento da instalação de uma indústria têxtil moderna pelos ingleses; c) impossibilidade de conter a importação do tecido oriundo da Inglaterra. Com a impossibilidade de rompimento dessas variáveis, a economia brasileira apresentou na primeira metade do século XIX, a estagnação de suas exportações. Como se não bastasse, as exportações nesse período cresceram a uma taxa média anual de 0,8%, enquanto que a população cresceu 1,3%, dificultando ainda mais as condições locais. Dentre a pauta de exportações do Brasil, cabe destacar os seguintes produtos: a) açúcar; b) algodão; c) fumo; d) couros e peles. Mesmo considerando que não houve crescimento significativo das exportações, havia, ainda, a possibilidade de crescimento em setores sem ligação direta com a exportação, como serviços nas zonas urbanas, indústrias, urbanização e assim por diante. Contudo, essa esperança não foi concretizada e foi auferido apenas um crescimento do setor de subsistência. Algumas estimativas apontam que a renda per capita nessa época tenha sido mais baixa do que qualquer período da colônia, quando se leva em consideração as muitas regiões do Brasil.
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Material Complementar Livros: PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo: Brasiliense, 2000, p. 171-188. SIMONSEN, R. C. História Econômica do Brasil: 1500/1820. São Paulo: Ed. Nacional, 1978, p. 247-302.
Leituras: ANDRADE, L. B. de. A formação econômica de Minas Gerais e a perspectiva regional: encontros e desencontros da historiografia sobre os séculos XVIII e XIX. Disponível em: http://goo.gl/Fh3iUC TEIXEIRA, A. B. População, sistema econômico e poder na transição do século XVIII para o XIX em Minas Colonial - Barbacena - 1791/1822. Dissertação de mestrado. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cp056838.pdf
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Referências FURTADO, CELSO. Formação Econômica do Brasil. 34 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. Páginas: 117, 124-134, 142-149 e 159-163. PRADO JUNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. 26 ed. São Paulo: Brasiliense, 2000, p. 171 e 173. SIMONSEN, R. C. História Econômica do Brasil. 8 ed. São Paulo: Nacional, p. 258, 265 e 267.
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Anotações
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