Oásis

Page 1

OÁSIS



OÁSIS

Felipe Kilaris Gallani

Universidade de São Paulo Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Trabalho Final de Graduação Orientação por Angelo Bucci Agosto de 2017



Agradecimentos A Angelo Bucci, pelo privilégio de sua orientação.

Aos professores Cesar Shundi Iwamizu e Juliana Braga pela participação na banca.

À Joana Mello, pela dedicação à Academia.

À minha família, por tudo.

À Victória, pelo amor e paciência.

A todos os amigos que contribuíram com a minha formação.



[00] Introdução

09

[01] Formal

013

planejamento perímetro

aproveitamento [02] Técnico

conceito

estrutura

referências [03] Simbólico

memória

sensibilidade elo

[04] Projeto

ocupação programa

018 020 026 039 039 045 045 051 051 057 064 071 071 075



[00] Introdução Não é fácil em São Paulo reconhecer o cuidado da relação entre a escala humana e o espaço construído. Proporcionalmente, talvez seja possível a associação de uma frequência como a de oásis no deserto. Predomina um ambiente hostil, desproporcional e desconexo, ferido por empenas cegas, muros, grades, cercas e violentas avenidas. Mas, resistem exceções, espaços que permitem a recuperação do sentido de individualidade e de sociedade, algumas doses de gostos entre tantos dissabores. À multiplicação destes, desenvolve-se este trabalho. É flagrante a manifestação do desequilíbrio entre infraestrutura e moradia no centro da cidade de São Paulo. Em reação a isso, justifica-se o recorte territorial metropolitano para atenciosa leitura, orientando uma resposta arquitetônica de projeto. Ademais, vislumbra-se a discussão das problemáticas urbanas com a

possibilidade de sua replicação conceitual, respeitando-se as particularidades de cada caso. Destaca-se a identidade heterogênea da cidade, a saber, por exemplo, a inexistência de uma mesma lógica para sua malha urbana. A questão segue ainda em outra escala, conformada nos limites das próprias quadras. Estas parecem sintetizar os contrastes encontrados, principalmente através dos recortes volumétricos dos edifícios, dos desenhos irregulares dos lotes e do mal aproveitamento do solo. Por este motivo, opta-se ao exercício projetual contido nos limites de uma quadra, acreditando-se na proposição de novas lógicas urbanas a partir da multiplicação de alternativas conceitualmente semelhantes. Assim, determina-se o objetivo do trabalho como a ativação dos espaços vazios, sejam eles edifícios mal aproveitados, abandonados ou lotes vazios. [00] Introdução 09


Apresenta-se, ao final, uma proposta para novos percursos e permanências na cidade, imaginando-se novos tratamentos e usos ao pavimento térreo dos edifícios, destacando-se os potenciais dos miolos das quadras. É prevista ainda a incorporação de atividades comerciais, culturais, de serviços públicos e privados, considerando-se sempre o cuidado sensorial aos espaços, hora mais tranquilos, hora mais agitados. É determinado como fundamental o respeito aos edifícios existentes, entendendo-se a opção de demolição somente àqueles não tombados que representam prejuízo ao potencial de aproveitamento da rica infraestrutura urbana do território. De uma forma ou de outra, almeja-se potencializar o aproveitamento do solo. Sistematicamente, à luz do entendimento do espaço como o lugar em que existem três tipos de agir possíveis [00] Introdução 010

- definidos por Bernward Joerges (1937) e Ingo Braun (1959-) e recuperados por Milton Santos (1926-2001) em A Natureza do Espaço (1996) -, o trabalho é embasado nos campos Formal, Técnico e Simbólico. O projeto, assim, existe como produto final para os três campos de ação, traduzindo o saber condensado e não desassociado. Além disso, responde aos determinados problemas resgatando o seu propósito de exercício.

“A importância do lugar na formação da consciência vem do fato de que essas formas do agir são inseparáveis, ainda que, em cada circunstância, sua importância relativa não seja a mesma” (SANTOS, 1996: 53). Desenvolve-se o trabalho em ordem da escala territorial macro para


a micro, desde a leitura da área delimitada, até a unidade da quadra. Tal aproximação conduz a escolha de um estudo de caso, permitindo prospecções das reconfigurações possíveis. Procuram-se, enfim, possibilidades de preenchimento dos espaços vazios, ao mesmo tempo em que se ativa e estimula a permanência no centro da cidade. Seu ideal de repetição conceitual recupera a identidade heterogênea do território, vislumbrando a possibilidade de novos caminhos aos pedestres no térreo, a criação de uma segunda frente aos edifícios e a incorporação de um potencial construtivo não aproveitado. Almeja-se a discussão de uma nova cidade, um novo centro, sem que sua história ou memória deixe de existir. Ao contrário, entende-se sua importância, a necessidade de sua valorização e recuperação, possivelmente garantida a partir da sua maior exposição, contato e vivência. [00] Introdução 011



[01] Formal Supondo a obediência aos formalismos jurídicos, econômicos e científicos, entender o que é posto como lei na cidade serve também ao exercício de sua transgressão, à imaginação e proposta de novas ordens, necessárias à sua transformação. Concilia-se a isto, a recuperação da evolução urbana de São Paulo e a caracterização do seu território. Propõe-se, aliás, novos rumos, alternativas que defendam o melhor aproveitamento do solo a partir da sua região central. Fundada junto às missões jesuíticas, em 25 de janeiro de 1554, São Paulo destaca desde os seus primeiros desenhos a predominância da sua relação direta com a geografia[01]. À mostra disso, recupera-se o seu estratégico centro histórico, consolidado no alto do morro e com as principais limitantes os vales do Ribeirão Anhangabaú e do Rio Tamanduateí. No entanto, em contraste às conformidades e proveitos naturais

do território, a tortuosidade dos seus caminhos viria a ser desafiada pelo esforço do traço ortogonal no cruzamento da Rua São Bento com a Rua Direita, resistindo até hoje como um símbolo da tentativa de racionalização e ocupação do espaço. Historicamente, identificam-se características em semelhança às definições de uma vila até o século XVIII. A cidade só enfrentaria um processo de modernização entre 1889 e 1930, com a ampliação significativa de sua rede de serviços públicos. Em reflexo a isso, após os anos 20, qualquer sinal da persistência colonial significaria o atraso às maiores pretensões da metrópole do café. Em consequência, serviu como principal objeto de estudo e intervenção urbana a malha viária da cidade. Entendida como insuficiente e carente de transformações para suportar o próprio crescimento, vislumbrou-se um sistema [01] Formal 013


[01] Mapa da Capital da Província de São Paulo. Publicado por Fr.do de Albuquerque e Jules Martin em 1877. Reprodução a partir da versão publicada pela Comissão do IV Centenário, em 1954.


radial perimetral, aos moldes de cidades como Moscou, Viena e Paris. Concebido em 1930 pelo engenheiro Ulhôa Cintra (1887–1944) e concretizado a partir de 1938 com Francisco Prestes Maia (1896–1965), implantou-se o Plano de Avenidas da cidade de São Paulo[02]. Priorizando a força industrial, novas escalas e ritmos puderam ser traduzidos com o processo de verticalização das construções, também no centro da cidade. Seguindo parâmetros americanos, a legislação permitiu edifícios de todos os usos e altura limite regulada em função da largura da rua. Também com o possível emprego de escalonamentos sucessivos, os altos gabaritos usufruíram de coeficientes de aproveitamento de até vinte vezes a área do lote. Ao mesmo tempo, parece justo afirmar que o alargamento e a abertura de novas vias em defesa da intensa verticalização e do crescimento da malha urbana não corresponderam à

desconfiguração tradicional do centro da cidade. Ao contrário, reproduziu-se a mesma lógica dos edifícios existentes, isto é, nestes e nos seguintes anos continuou-se a construir edifícios considerando o desenho do espaço público, sobretudo porque se mantiveram os alinhamentos dos terrenos e não se adotaram recuos laterais. Destaca-se aqui o explosivo crescimento da mancha urbana de São Paulo, incentivado por um planejamento voltado a veículos de transporte automotores, capaz de manter o aquecimento industrial[03]. A leitura do território permite a sua comprovação, serve de testemunho aos diversos períodos e administrações. Ainda assim, a compreensão histórica da cidade não encerra o campo para a ação formal. É necessário considerar também os ideais futuros de sua organização, o que se coloca como melhor caminho. Isto permite a análise da Lei nº 16.050, de 31 de julho de [01] Formal 015


[02] “Esquema Teórico para São Paulo no Plano de Avenidas” de Preste Maia e Ulhôa Cintra — 1930. TOLEDO, Benedito Lima. “Prestes Maia e as Origens do Urbanismo Moderno em São Paulo”. São Paulo, Empresa das Artes, 1996. Figura 206.


[03] Evolução da mancha urbana de São Paulo. Csaba Deák (1988).


2014, que aprova a Política de Desenvolvimento Urbano e o Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo. planejamento Como marco da política urbana, a elaboração do Plano Diretor Estratégico foi o primeiro passo dado pela Prefeitura no processo de revisão do conjunto de leis que constituem o Zoneamento, o Código de Obras e Edificações, Planos Regionais das Subprefeituras e Planos de Bairro. Sua implementação orienta o desenvolvimento da cidade pelos próximos dezesseis anos a partir do sancionamento da Lei, prevendo-se o início da percepção dos seus efeitos entre os primeiros cinco e seis anos. Segundo sua própria descrição, o Plano traz um amplo conjunto de diretrizes, estratégias e medidas para ordenar a transformação da cidade. Representa um pacto à sociedade em direção [01] Formal 018

da justiça social, ao uso mais racional dos recursos ambientais, à melhoria da qualidade de vida e à intensa participação social nas decisões sobre o futuro da cidade. Para que isto ocorra, são estabelecidas dez estratégias: A socialização dos ganhos da produção imobiliária O direito à moradia digna para quem precisa A melhoraria da mobilidade urbana A qualificação da vida urbana nos bairros A reorganização das dinâmicas metropolitanas A orientação do crescimento da cidade nas proximidades do transporte público A promoção do desenvolvimento econômico da cidade A preservação do patrimônio e a valorização das iniciativas culturais O fortalecimento da participação


popular nas decisões dos rumos da cidade A incorporação da agenda ambiental no desenvolvimento da cidade

Defende-se a “socialização dos ganhos da produção da cidade”, um conjunto de instrumentos que busca racionalizar as dinâmicas e o aproveitamento do solo urbano. Adota-se, por exemplo, um coeficiente de aproveitamento básico igual a um para todo o território municipal, de modo que o proprietário de um lote urbano tenha inerente ao seu direito de propriedade a possibilidade de construir uma vez a área de seu terreno. Assim, é determinado que o potencial construtivo adicional dos terrenos pertence à sociedade paulistana e que seu ganho deva ser revertido para a coletividade, com melhorias urbanas como equipamentos públicos, praças, transporte, drenagem e habitação.

O plano acrescenta novos parâmetros urbanísticos como Fruição Pública e Fachada Ativa, objetos de estudo a este trabalho. O primeiro visa melhorias da qualidade urbana e ambiental, pretendendo ampliar o uso público de áreas localizadas no pavimento térreo que não podem ser fechadas com edificações, instalações ou equipamentos. Busca-se com isso o estímulo e a melhoraria da oferta de áreas qualificadas que privilegiem o pedestre e promovam o desenvolvimento de atividades com valor social, cultural e econômico. Tendo como único critério a condição de área mínima igual a 250 m², devidamente averbada em Cartório de Registro de Imóveis, seu incentivo permite que toda área voltada à Fruição Pública seja integralmente revertida ao potencial construtivo do empreendimento. A Fachada Ativa, por sua vez, corresponde à ocupação da fachada localizada no alinhamento de passeios [01] Formal 019


públicos por uso não residencial com acesso à população e abertura para o logradouro. Definem-se como seus objetivos os usos mais dinâmicos dos passeios públicos em interação com atividades instaladas nos térreos das edificações, a fim de fortalecer a vida urbana nos espaços públicos. Evitando-se a multiplicação de planos fechados entre construções e o passeio público, é critério à sua aplicação lotes com testada maior que 20 metros, com área do térreo destinada a usos classificados nas seguintes subcategorias: usos não residenciais – nR1 - e usos não residenciais toleráveis – nR2. Incentiva-se o seu emprego por não ser computável - até o limite de 50% - a área do lote destinada à implementação deste instrumento. perímetro Tendo em vista as diretrizes metropolitanas apresentadas, a [01] Formal 020

aproximação ao recorte territorial de um perímetro específico revela outras questões inevitavelmente relacionadas com a cidade, mas, voltadas às suas particularidades. Nesse sentido, definese a área de leitura[04] aquela que incorpora o centro velho e parte do centro novo de São Paulo, ambas as margens do Rio Tamanduateí e do Vale do Anhangabaú, coincidente ao primeiro anel rádio concêntrico do Plano de Avenidas. Parte-se da emblemática distinção entre os dois distritos contidos no perímetro: República e Sé. Se a cidade pode ser definida como dos anos 1970, uma vez que esta década é a que concentra um quarto dos três milhões de imóveis registrados no município, o primeiro traduz um dos vetores de ampliação da ocupação do território. O segundo, por sua vez, destaca-se como resistência, ainda é endereço de inúmeros edifícios históricos, tendo uma idade média de cinquenta e dois anos

[04] Definição do perímetro. 1 : 7500


UN

PTE . DO TAM AND RIO UAT EÍ

RUA


TV. DOS

para cada apartamento ou loja. Restando apenas oito imóveis paulistanos do século XIX, contra setecentos e cinquenta mil do século XXI, a idade média das construções para cada quadra[05] neste recorte territorial revela mais do que a oportunidade da valorização histórica, a necessidade do seu usufruto. Analisados a infraestrutura urbana, os edifícios notáveis e a área pedonal deste mesmo perímetro[06], é excepcional para a realidade da cidade a constatação de que estes critérios não restringem um maior proveito. Ao contrário, identifica-se esta como uma das mais bem servidas porções territoriais de São Paulo. São quatorze bibliotecas e espaços culturais, doze museus, quinze salas de teatro/cinema/shows, uma escola de ensino fundamental e médio, três unidades de saúde, cinco estações de metrô com a conexão de duas linhas diferentes, três terminais de ônibus e [01] Formal 022

HISTAS

DESEN

anos 2000 e 2010 anos 1980 e 1990 anos 1960 e 1970 até anos 1950

[05] Idade média das construções de cada quadra. 1 : 7500 Estadão Dados (2017)

ESC

ADA

RIA


UN

PTE . DO TAM AND RIO UAT EÍ

RUA


TV. DOS

HISTAS

DESEN

transporte público 1 - estação da Sé 2- estação São Bento 3 - estação Anhangabaú 4 - estação República 5 - terminal Bandeira 6 - terminal parque Dom Pedro equipamentos públicos 1 - Caixa Cultural 2 - Pátio do Colégio 3 - Centro Cultural Banco do Brasil 4 - Museu Catavento - Espaço Cultural da Ciência 5 - Mercado Central 6 - Praça das Artes 7 - Prefeitura da Cidade de São Paulo 8 - Galeria Prestes Maia edifícios notáveis 1 - Catedral Metropolitana de São Paulo 2 - Edifício Triângulo 3 - Edifício Altino Arantes 4 - Edifício Martinelli 5 - Mosteiro de São Bento 6 - Igreja Largo do Paissandu 7 - Teatro Municipal de São Paulo 8 - Biblioteca Mário de Andrade 9 - Faculdade de Direito Universidade de São Paulo área pedonal

[06] Infraestrutura, edifícios notáveis e área pedonal. 1 : 7500 Geosampa (2017)

[01] Formal 024

ESC

ADA

RIA


PTE . DO TAM AND RIO UAT EÍ

5 6

5

4

2

4 6 4

3

6

UN

7 RUA

7

8

8

3

3

2

2

5

1

9

1

1


dois mercados municipais. No entanto, o objeto de reflexão volta-se ao que parece ignorar esses dados: a densidade demográfica deste território. Enquanto que a cidade apresentou em 2010 o índice médio de 74,58 (hab./ha), é predominante neste recorte um índice inferior a 30,00 (hab./ha). Não suficiente a discrepância de um ou outro caso ainda no próprio perímetro, o vetor em direção à continuidade do centro novo revela índices superiores a 400,00 (hab./ha). A leitura do território quanto à variação de altura de seus edifícios[07] contesta em princípio a teoria de sua desocupação construtiva. Além disso, apresenta um vazio não construído, o espaço aéreo livre ou o não preenchido, que serve ao ideal de ocupação do centro, à investigação de estratégias urbanas que defendam um território menos disperso e mais denso. Frente a isto, define-se como a [01] Formal 026

própria quadra a porção territorial que enfim parece exprimir e condensar os principais questionamentos. Independentemente da sua escolha, esta unidade viabiliza a leitura de outros contrastes, em sintonia a um caminho de aproximação que almeja identificar, em última instância, a relação humana com o espaço. aproveitamento Os diversos sentidos e possibilidades de aproveitamento são razões principais à ação formal deste trabalho. A partir da constatação que a ocupação do território não reflete necessariamente nos índices de densidade demográfica, parte-se à análise de quais seriam os caminhos para um ambiente urbano mais eficiente. Aliás, entende-se que sintomas contemporâneos de insustentabilidade dos sistemas públicos de transporte, segurança, saúde e educação

Edifícios de até 5 pavimentos Edifícios de até 10 pavimentos Edifícios de até 15 pavimentos Edifícios de até 20 pavimentos Edifícios de até 25 pavimentos Edifícios de até 30 pavimentos Edifícios de até 35 pavimentos Edifícios de até 40 pavimentos Edifícios com mais de 40 pavimentos

[07] Variação de altura dos edifícios. 1 : 7500


UN

PTE . DO TAM AND RIO UAT EÍ

RUA


relacionam-se diretamente com a ordem da cidade, com a condição e o direito ao seu acesso. Define-se como estudo de caso uma quadra[08], recuperando em sua escala o ideal da repetição do seu partido projetual a outras situações, também conformadas neste mesmo perímetro. A escolha parece confirmar sob uma ótica mais aproximada as questões observadas anteriormente, principalmente quanto ao seu ambiente construído inabitado. Questiona-se, portanto, de que forma se configura a ocupação do território, a existência, ou não, de uma relação direta com o coeficiente de aproveitamento do solo. Localizada imediatamente ao lado da Praça da Sé[09 e 010], em referência simbólica ao ponto mais central da cidade possível, a quadra tem como limite as ruas Benjamin Constant, Praça da Sé, Senador Feijó e Quintino Bocaiúva. Em seus vinte lotes, além do contraste dos [01] Formal 028

diferentes gabaritos das construções, apresenta-se a diferença de épocas. São seis os imóveis tombados pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (CONPRESP), nos PAs nº 2000-0.218.872-0 e 2007-0.209.235-1. Segundo a definição dos níveis de proteção para a área do centro velho, dois dos três níveis são determinados aos edifícios da quadra: II e III. O primeiro corresponde a bens de grande interesse histórico, arquitetônico ou paisagístico, determinando a preservação de suas características externas e de alguns elementos internos, discriminados caso a caso. O segundo, por sua vez, corresponde a bens de interesse histórico, arquitetônico ou paisagístico, determinando a preservação de suas características externas. Em sequência, recuperam-se os dados da ficha de cada imóvel tombado:


[08] Cadastro da quadra. Departamento do Patrimônio Histórico de São Paulo.


[09] Esquina Praça da SÊ com Benjamim Constant. Acervo pessoal (2017).


[010] Perspectiva AĂŠrea. Martim Passos (2017).


SQL 005 021 0002 Identificação: Palacete Gonzaga Autor/Construtor: Construção/Acabamento: Alvenaria e concreto Época: Década de 1920/1930 Conservação: Bom Classificação: P3 SQL 005 021 0077, 0078 e 0080 a 0094 Identificação: Edifício Benjamin Constant Autor/Construtor: Siciliano e Silva Construção/Acabamento: Alvenaria e concreto Época: 1910/1920 Conservação: Bom Classificação: P2 – Hall com elementos decorativos “góticos” em massa; barrado de madeira e duas luminárias “góticas” SQL 005 021 0006 Identificação: [01] Formal 032

Autor/Construtor: Construção/Acabamento: Alvenaria e concreto Época: Década de 1940 Conservação: Regular Classificação: P3 SQL 005 021 0176 a 0243 Identificação: Prédio A.V.C. Autor/Construtor: Construção/Acabamento: Alvenaria e concreto Época: Década de 1930 Conservação: Bom Classificação: P3 SQL 005 021 0264 a 0295 Identificação: Edifício Anhembi Autor/Construtor: Construção/Acabamento: Alvenaria e concreto Época: Década de 1930/1940 Conservação: Regular Classificação: P3


SQL 005 021 0099 a 0123 Identificação: Edifício Santa Rita Autor/Construtor: Construção/Acabamento: Alvenaria e tijolos Época: Década de 1940 Conservação: Bom Classificação: Luminárias, rodapés e elementos decorativos em latão dourado. Paredes e escadaria do térreo ao 1º pavimento em mármore Carrara. Área de circulação com piso em mosaico. Nicho com imagem de Santa Rita e porta em ferro batido Quanto à unidade da quadra, confirma-se o diagnóstico do aparente mau aproveitamento do solo no perímetro urbano determinado, identificando-se o vazio interno da quadra que cresce proporcionalmente à distância vertical do térreo[011]. Ou seja, quanto mais alto o pavimento, menor a ocupação construída.

Isto significa que apesar dos edifícios respeitarem um mesmo raciocínio de alinhamento frontal e lateral com o limite do lote, verticalmente inexiste uma mesma lógica. Em função disso, busca-se caminhos a níveis mais altos de densidade e verticalização, que otimizem os recursos públicos já investidos. Serve, enfim, a análise da Operação Urbana Centro, aprovada pela Lei nº 12.349 de 6 de junho de 1997 como um instrumento legal que se sobrepõe às definições do Plano Diretor Estratégico, tendo como objetivo promover melhorias urbanas através da parceria entre Poder Público e iniciativa privada. A partir da versão revisada de 2010 da Cartilha da área central de São Paulo, destacam-se as condições para direitos adicionais de uso e ocupação do solo acima dos limites estabelecidos pelo zoneamento, concedidos aos proprietários de imóveis em troca de uma [01] Formal 033


contrapartida financeira, paga à Prefeitura. Define-se que os valores arrecadados devem ser empregados em melhorias urbanas na região, podendo conter também concessões não onerosas, entendidas como um estímulo adicional à ocorrência de investimentos. São diretrizes urbanísticas da Operação Urbana Centro: I – a abertura de praças e de passagens para pedestres no interior das quadras; II – o estímulo ao remembramento de lotes e à interligação de quadras mediante o uso dos espaços aéreo e subterrâneo dos logradouros públicos; III – a disciplina do espaço destinado ao transporte individual e a adequação dos espaços destinados ao transporte coletivo; IV – o incentivo à não impermeabilização do solo e à arborização das áreas não ocupadas; [01] Formal 034

V – a conservação e restauro dos edifícios de interesse histórico, arquitetônico e ambiental, mediante instrumentos apropriados; VI – a composição das faces das quadras, de modo a valorizar os imóveis de interesse arquitetônico e a promover a harmonização do desenho urbano; VII – a adequação, aos objetivos desta Lei, do mobiliário urbano existente e proposto; VIII – o incentivo à construção de habitações; IX – o incentivo à construção de garagens; X – o incentivo à recuperação e reciclagem de próprios públicos existentes na área central; XI – a criação de condições para a implantação de ruas ou regiões comerciais com regime de funcionamento de 24 (vinte e quatro) horas por dia; XII – o desestímulo à permanência e

[011] Vazio não construído da quadra.


Pra

ça

da

Rua Quintino Boc aiuva

Pra

ça

da

Rua Quintino Boc aiuva

Sé da ça

Sé da

Rua Quintino Boc aiuva

Pra

Rua Sena dor

Feijó

Rua Benjamim Constant

Rua Sena dor

Feijó

Feijó

4º Pavimento

Rua Benjamim Constant

Rua Benjamim Constant

Rua Benjamim Constant

Rua Benjamim Constant

Rua Sena dor Feij ó

Rua Sena dor Feij ó

Sé da ça Pra

Sé da ça Pra

Sé da ça Pra

Sé da ça

Rua Sena dor Feij ó

Rua Quintino Boc aiuva

3º Pavimento

Rua Quintino Boc aiuva

2º Pavimento

Pra

Sé da ça Pra

Rua Sena dor Feij ó

Rua Benjamim Constant

1º Pavimento

Rua Quintino Boc aiuva

Rua Benjamim Constant

Rua Sena dor

Feijó

Rua Quintino Boc aiuva

Térreo

Rua Quintino Boc aiuva

ça

Rua Sena dor

Feijó

Rua Benjamim Constant

Pra

da ça Pra

Rua Sena dor

Rua Quintino Boc aiuva

Rua Benjamim Constant

Rua Quintino Boc aiuva

Rua Benjamim Constant

Rua Sena dor Feij ó

Rua Benjamim Constant

Rua Benjamim Constant

Rua Benjamim Constant

Rua Benjamim Constant

Rua Benjamim Constant

Feijó

10º Pavimento

Rua Sena dor

Feijó

11º Pavimento

Rua Sena dor

Feijó

12º Pavimento

Rua Sena dor

Feijó

13º Pavimento

Pra ça da Sé

Pra ça da Sé

Pra ça da Sé

Pra ça da Sé

Pra ça da Sé

Rua Sena dor

Rua Quintino Boc aiuva

9º Pavimento

Rua Quintino Boc aiuva

8º Pavimento

Rua Quintino Boc aiuva

7º Pavimento

Rua Quintino Boc aiuva

6º Pavimento

Rua Quintino Boc aiuva

5º Pavimento

Rua Sena dor

Feijó

14º Pavimento


à proibição de instalação de novos estabelecimentos de comércio atacadista de cereais, de madeiras e de frutas na área da Operação Urbana. Enquanto que o PDE estabelece um coeficiente de aproveitamento básico igual a um para todo o território e máximo igual a quatro somente aos eixos de estruturação da transformação urbana, a Operação Urbana Centro permite um valor máximo igual a seis. Promove-se um incentivo ainda maior ao saber que áreas destinadas a salões de festas, cinemas, teatros e anfiteatros, salas de espetáculos, auditórios para convenções, congressos e conferências, museus, creches, educação e cultura em geral não são computáveis no cálculo do coeficiente de aproveitamento do terreno. Também não são computáveis as áreas destinadas à fruição pública abertas à circulação de pedestres, localizadas no pavimento térreo ou em pavimentos [01] Formal 036

correspondentes à soleira de ingresso da edificação ao nível dos logradouros públicos. Somado a isto, é diretriz a transferência de potencial construtivo de imóveis contidos no perímetro da intervenção, mecanismo destinado a incentivar a preservação de imóveis de interesse histórico e a doação de áreas particulares à municipalidade para a ampliação das áreas verdes de uso público na área central. O cálculo do montante de potencial construtivo transferível poderá ainda ser utilizado dentro ou fora da área da Operação Urbana Centro. Finalmente, merece destaque a determinação que as características de uso e ocupação do solo estabelecidas pela legislação urbanística vigente e pelo Código de Edificações do Município poderão ser ultrapassadas mediante análise caso a caso e pagamento de contrapartida financeira. Poderão ser


solicitadas: modificações dos índices urbanísticos, características de uso e ocupação do solo e das disposições do código de edificações (exceto as relativas à segurança das edificações); a regularização de construções, reformas ou ampliações executadas em desacordo com a legislação vigente até a data de publicação da lei da Operação Urbana Centro.

[01] Formal 037



[02] Técnico No que diz respeito ao campo de ação técnico, são apresentadas informações formalmente requeridas que correspondem diretamente à proposta de ocupação e transformação espacial da quadra escolhida, garantindo tecnicamente a existência do projeto. Para tanto, soma-se ao raciocínio de sua viabilidade construtiva, o seu embasamento conceitual e a exemplificação de referências. Em princípio, deve-se recuperar o contexto urbano, a complexidade da quadra e a repetição de suas características em outros endereços no mesmo perímetro de estudo. Desta forma, as diferenças de altura, sistemas construtivos, ocupação do lote e idade dos edifícios seguem como as principais preocupações. Admite-se, portanto, o caráter heterogêneo da quadra, condicionando o seu viés sugestivo para além da improvável única solução a todo o projeto.

conceito Analogamente, empresta-se o termo protocoperação da biologia ao ideal de ocupação dos espaços vazios aéreos, ou não construídos. Apropria-se o que é definido como “relação benéfica para ambas as espécies, embora lhes seja dispensável”, ao modo como um edifício novo pode ser disposto acima dos existentes na quadra. Declara-se mais que o respeito às construções existentes: o estabelecimento de uma relação que permita o proveito a ambas as partes. Em busca da correspondência à rica infraestrutura central da cidade, a verticalização através da justaposição integrada permite o acréscimo de um novo volume sob o existente de modo que seja possível a conexão entre eles. Conceitualmente, servem de exemplo em sua semelhança as históricas altanas venezianas e o recente projeto Elbphilhamornie (2017). [02] Técnico 039


O primeiro caso[012], apesar de despercebido à maioria que visita a cidade italiana, é classificado como característico de sua arquitetura. Predominantemente construídas com estrutura em madeira, sobrepostas à cobertura dos edifícios, as altanas seguem multiplicando-se pelo território, permitindo a admiração de novos horizontes. Sua recorrência, assim, talvez só possa ser observada a quem sobe em uma das torres da cidade, ou então, nos últimos pavimentos de um edifício. À luz da compreensão das possibilidades de ocupação dos espaços vazios na cidade, a segunda construção segue um partido semelhante. A Elbphilharmonie[013], projeto do escritório suíço Herzog & de Meuron, recupera uma enorme estrutura de armazenamento portuário desativado em Hamburgo, convertendo o seu uso junto à sobreposição de um novo edifício: a sala de concertos da cidade.

[02] Técnico 040

Ainda que imediatamente revelada a brutal desproporção entre estes dois casos, destaca-se o compartilhamento de um mesmo ideal. É este o critério de seleção, e não a sua escala. Aliás, a sua interpretação serve à inspiração, motor ao processo criativo e investigativo das possibilidades de ação. Soma-se a isso, a série Urban Strategies[014], de autoria de Ciro Miguel (1980-) e Bruna Canepa (1988-). Através de colagens digitalmente manipuladas, provocações gráficas apresentam possibilidades impossíveis, levando-se em conta a configuração urbana e a paisagem natural de cidades ao redor do mundo, incluindo São Paulo. Nesta, a imagem sugere justamente o preenchimento do que não é preenchido, o ato de sobrepor exacerbado pela condição da materialidade do concreto como um volume novo.


[012] Altanas venezianas. Emilia (2010).


[013] Elbphilharmonie. Iwan Baan (2017).


[014] “Sobrepor”. Miniatura (2012).


estrutura O desafio técnico estrutural da potencialização do espaço aéreo urbano e a multiplicação dos usos e funções dos próprios edifícios, leva em consideração as opções de menor interferência possível. Em acordo ao raciocínio da inexistência de uma solução estrutural comum a todo o projeto, entende-se a análise específica, pautada na singularidade de ocupação de cada lote para a proposição dos melhores apoios. Diante da indisponibilidade de informações fundamentais como o perfil do solo para toda a quadra e a análise precisa das condições estruturais dos edifícios existentes, é de interesse a oportunidade investigativa, a qual permite discorrer sobre alguns caminhos possíveis, independentes da sua escolha ou não. Imaginando-se um volume sobreposto a outro, é evidente que este deve [02] Técnico 044

ser construído com o menor peso possível - indicando caminhos técnicos como o emprego de lajes em steel deck e estrutura metálica. No entanto, a questão fundamental diz respeito à transmissão das cargas até o solo. Neste sentido, uma primeira possibilidade imagina a extensão superior das estruturas existentes com ou sem o reforço das fundações e pilares. A isto, é condicionante a determinação da troca de elementos existentes internos pesados para outros mais leves, como alvenarias sem função estrutural a elementos de divisórias em dry-wall, ou ainda, a confirmação da reserva de capacidade de carga estrutural existente, sem que seja necessária modificações no edifício existente. Outro caminho possível é o da construção de uma nova estrutura que atravesse as construções inferiores, de modo que sejam lançados novos pilares e fundações independentes dos existentes. Seria obrigatório, pois, o extremo


cuidado em garantir a não impossibilidade de uso de todo e qualquer espaço das construções abaixo do novo volume, permitindo-se pontuais interferências. Enfim, também se entende como possibilidade imaginar a estrutura de um novo edifício como ponte, suspensa acima de um ou mais lotes existentes, sem que exista a transmissão das cargas imediatamente abaixo. Para tanto, seriam apropriados sistemas construtivos de protensão ou treliçamento, garantindo a estabilidade estrutural no determinado trecho. referências Para qualquer dúvida quanto à viabilidade econômica ou mesmo executiva do projeto, destacam-se recentes referências. Estas permitem a constatação de edifícios construídos em diversas cidades do mundo, apresentando, cada qual a sua maneira, soluções de

ocupação de espaços vazios, sejam eles aéreos acima ou além do lote. Isis Condominium 303 East 77th St, Fx Fowle Architects, Nova Iorque, EUA, 2008 160 East 22nd Street, NAvid Maqami, Nova Iorque, EUA, 2014[015] The Porter House, SHoP Architects, Nova Iorque, EUA, 2003[017] BLUE Residential Tower, Bernard Tschumi, Nova Iorque, EUA, 2004 Elbphilharmonie, Herzog & de Meuron, Hamburgo, Alemanha, 2016 Antwerp Port House, Zaha Hadid, Antwerp, Bélgica, 2016 Havre 77, Francisco Pardo and Julio Amezcua, Cidade do México, México 2016 Athens rooftop cabin, Panos Dragonas and Varvara Christopoulou, Atenas, Grécia, 2015

[02] Técnico 045


Shoreditch Rooms, Archer Architects, Londres, Inglaterra, 2012 192 Shoreham Street, Project Orange, Sheffield, Inglaterra, 2012 Stealth Building, WORKac, Nova Iorque, EUA, 2016 Seona Reid Building, Steven Holl Ar-

[015] “160 East 22nd Street”. Miguél Guzman (2017).

[02] Técnico 046

chitects, Glasgow, Escócia, 2014[018] Lude House, Grupo Aranea, Cehegín, Espanha, 2011 3BOX, Stephan Malka, Paris, França, 2016 Clínica Olivé Gumà, Octavio Mestre + Guim Costa, Barcelona, Espanha, 2012 Metropolis Center by Bureau XII and 100P, Bucharest, Romênia, 2010 Casa Dorda, Martín Lejarraga Architects, Cartagena, Espanha, 2010 Museum der Kulturen, Herzog & de Meuron, Basel, Suiça, 2011[016]


[016] “Museum der Kulturen”. Nazar Leskiw (2015).


[017] The Porter House. SHoP Architects (2013).


[018] Seona Reid Building. Iwan Bann (2014).



[03] Simbólico Às questões simbólicas, volta-se aos livros Atmosferas (2006) de Peter Zumthor, e Os olhos da pele (1996) de Juhani Pallasmaa. Ambos apresentam a necessidade de leitura e concepção do ambiente segundo aspectos sensoriais, principalmente a partir da interação do indivíduo com o espaço. Pretende-se com isso a abordagem do campo que não é apresentado como dado, a recuperação do valor humano à arquitetura, independentemente dos usos e escalas previstos. Segundo I. Braun & B. Joerges, o agir simbólico:

“(...) não é regulado por cálculo e compreende formas afetivas, emotivas, rituais, determinadas pelos modelos gerais de significação e de representação” (1992, p. 81-82) Dos campos de ação, este é o único designado ao não evidente, ao não

concreto. Neste sentido é que reside a sua complexidade; a tradução de suas causas e efeitos correspondem a abstrações, não substituindo a questão em si. No entanto, seu destaque é justificado e necessário por motivar a transgressão, o pensar desvinculado de limitações. Para a arquitetura, o pensamento do que não vemos diante dos nossos olhos recupera valores humanos essenciais à ocupação e memória do espaço. Aliás, o não questionamento ou somente a aceitação daquilo que é apresentado, corresponderia à perda da singularidade, a ignorância da possibilidade do espaço promover o sentido de individualidade. memória É possível associar nossas referências sensoriais à memória, visto que a lembrança de experiências particulares quase que inconscientemente [03] Simbólico 051


nos condiciona a querer ou não a sua redescoberta. Espacialmente, isto permite a capacidade do convite e acolhimento, ou então, do repúdio e frieza. Talvez como herança instintiva, associações primárias de conforto e desconforto sejam inerentes ao processo de adaptação humana ao ambiente construído, não recorrendo às informações técnicas e normativas. Se analisada a sobrevivência histórica de edifícios, pode-se destacar, entre outros aspectos, a sua capacidade extraordinária de conexão com o indivíduo. Caso contrário, é de se imaginar que a sua memória desconfigurar-se-ia com o passar do tempo. Posto como mostra, recupera-se a virtude de uma das mais bem preservadas construções romanas antigas, o vislumbre sentido em silêncio ao passar pelo pórtico do Panteão de Roma [019] e praticamente sentir a materialidade da luz através de sua abertura zenital. [03] Simbólico 052

Ainda que extrapolada a relação homem-edifício para a escala urbana, o mesmo continua válido. Alguns caminhos, esquinas, ruas e bairros permitem a resistência da memória justamente pela unicidade do seu contato sensorial. O contrapartido das diferenças espaciais para a cidade promoveria, senão, o seu próprio descobrimento. Seria justa também a investigação do sentimento de pertencimento urbano e social a partir da construção da memória pelo uso da cidade. Para tanto, servem os exemplos da cidade francesa de Lion e a favela brasileira Rocinha. Mesmo que em discrepantes contextos, ambos permitem esta discussão em comum, apresentam a relação homem-cidade estritamente atrelada à experiência sensorial e sua memória. Para Lion, destacam-se as Traboules [020] (termo com origem no verbo em Latim transambulare, no sentido de atravessar). Caracterizadas como


[019] PanteĂŁo de Roma. Acervo Pessoal (2014).


[020] Traboule “Cour des Voraces”. Jeff Bussiere (2016).


passagens históricas da cidade, associadas originalmente ao caminho conhecido pelos produtores de seda e outros comerciantes para o transporte das mercadorias do porto até a cidade, e vice-versa, até hoje servem como alternativas ao deslocamento pedonal. Curioso é o fato de essas travessias ignorarem o desenho formal das quadras, com o proveito do pavimento térreo dos edifícios permeáveis ora por discretas portas, ora por pátios e escadarias internas. Os caminhos significam de certo modo um segredo, algo que dificilmente é explicado através de palavras, pressupondo a própria experiência como condição de seu conhecimento. Quanto ao segundo caso [021], é evidente a sua concepção a partir de um cenário socioeconômico que revela materialmente os seus graves problemas. Sua merecida atenção reside nos seus possíveis percursos de conexão entre

os limites da cidade formal e as entradas das residências informais. É notável um labirinto praticamente indecifrável por quem nunca viveu ali, de forma que a melhor opção de deslocamento talvez não corresponda ao percurso de menor distância possível. Para além dos fatores físicos particulares como a topografia e a vizinhança, o que pode ser entendido como fator determinante à diária escolha de percurso, corresponde aos aspectos sensoriais atrelados aos sentimentos de segurança e refúgio. Seria possível, portanto, relacionar características da identidade de cada sociedade às suas respectivas experiências urbanas. Isto significa que o desaparecimento ou a multiplicação de singulares caminhos, esquinas, ruas e bairros demonstraria alterações sensoriais em seu contexto, reflexo direto de objetivos da ação. Esta, por sua vez, deve ser interpretada e [03] Simbólico 055


[021] Favela da Rocinha. Jefferson Bernardes (2016).


pensada ao fortalecimento da vida em sociedade, ao reconhecimento de indivíduos semelhantes a si, capazes de percorrer ou sugerir caminhos frente à memória. sensibilidade Essencialmente compreendida como instrumento de domesticação do espaço e tempo, a arquitetura encontra na sensibilidade uma ferramenta de concepção e conexão. Para ambos os atos, implicam questões existenciais particulares a cada indivíduo, não sendo possível afirmar que uma mesma intenção corresponderá a reflexos de idêntica intensidade. Ainda assim, é justa a investigação do que permite o que se quer transmitir, ou então, do que se sente espacialmente. Em seu livro Atmosferas (2006), o arquiteto suíço Peter Zumthor (1943-) aproxima-se desta temática, apresentando fatores que

colaboram à sua leitura e idealização espacial [022].

“Uma denominação para isto é a atmosfera. Todos nós a conhecemos: vemos uma pessoa e temos uma primeira impressão. E eu aprendi: não confies nisto, tens de dar uma oportunidade a esta pessoa” (2006, p.10) Em primeiro lugar, destaca-se O corpo da arquitetura e a sua anatomia, postos quase que literalmente. O edifício seria a princípio uma massa, tecido ou invólucro, tudo que o rodeia e o pode tocar. Toque este, posto no sentido oposto ao que estamos habituados a pensar, obviamente não corresponde ao ato físico, mas ao que segue explica-se com A consonância dos materiais. Aliás, pelas suas incalculáveis possibilidades de combinação e escolha, também o são para o acerto e erro em sua harmonia, [03] Simbólico 057


[022] “Three Seascapes”. Joseph Mallord William Turner (1827).


quando irradiam em conjunto. A análise do que seria este toque não tátil segue ao Som do espaço. Segundo Zumthor, as superfícies dos materiais, suas fixações e suas formas interferem diretamente no funcionamento do edifício como um instrumento. Imaginam-se as possibilidades do seu tratamento segundo a intenção de colecionar sons, ampliá-los ou transmiti-los; o que isto significaria à sua construção, por exemplo[023].

“Acho muito bonito construir um edifício e pensá-lo a partir do silêncio. Ou seja, fazê-lo calmo, o que hoje em dia é bastante difícil, porque nosso mundo é tão barulhento” (2006, p.30) Em continuidade às motivações do arquiteto, o capítulo A temperatura do espaço destaca como objeto de análise

a relação de sentido literal e figurativo do que associamos ao grau de agitação das moléculas de um corpo. Significa dizer que existe uma conexão psíquica entre o que tocamos e o que nos deixamos ser tocados. Mostra disso é a nossa preferência ao toque da madeira em dias frios em detrimento ao toque do aço, sem que necessariamente precisemos do contato físico[024]. As coisas que me rodeiam parece explicar a necessidade de percepção da arquitetura à imprevisibilidade. Quer dizer, um edifício talvez não deva ser concebido a toda e qualquer utilidade, mas deve entender conforme suas limitações, a necessidade de sua futura ocupação, a sua medida de descontrole. Isto implica Entre a serenidade e a sedução, o prazer em não ser conduzido, em ter a liberdade de escolha. O espaço deve permitir a sensação de satisfação e proteção, em acordo com a ressonância particular a cada [03] Simbólico 059


[023] “MIT Chapel”. Jim Stephenson (2016).


[024] Termas de Vals. Fernando Guerra(2004).


indivíduo. Ademais, é com A tensão entre interior e exterior, o privativo e o público, que a arquitetura trabalha. Os Degraus da intimidade aprofundam esta questão [025].

“Relaciona-se com proximidade e distância. Um arquiteto clássico diria: escala. Mas isso soa muito acadêmico, estou a falar num sentido mais corporal de escala e de dimensão” (2006, p.50) Finalmente, há que se pensar na luz sobre as coisas, em como esta ideia deve acompanhar a elaboração do projeto desde o início. Segundo o autor, podese pensar a concepção de um edifício a partir da escavação de uma massa de sombras, ou ainda, a partir da reflexão e interação dos materiais quando postos à luz. São estes aspectos particulares, os que procuram traduções à defesa da [03] Simbólico 062

sensibilidade na arquitetura de Peter Zumthor. Servem, em consequência, à consideração de outros aspectos que não foram apresentados, à evidência que não devem existir limites ou regras no campo de ação simbólico. Para além disto, cabem valores de maior intimidade, ao menos objetivo, ao que provavelmente não seja apropriada a interpretação. Zumthor encerra a obra desta forma, com três adicionais questões as quais recupero suas próprias palavras. A arquitetura como espaço envolvente

“É um lugar onde as crianças podem crescer. Talvez estas, inconscientemente, se lembrem daqui a 25 anos de algum edifício, de uma esquina, uma rua, uma praça, sem nada saber do arquiteto, o que também não é importante” (2006, p.64) A Harmonia recupera “(...) uma bela expressão antiga: as coisas encontraramse, estão em si. Porque são, o que querem ser. E a arquitetura é feita para


[025] “Kaufman House”. Julius Shulman (1998). © J. Paul Getty Trust. Getty Research Institute, Los Angeles (2004.R.10).


nós a utilizarmos. Não é nenhuma das Belas Artes. Acho que esta também é uma tarefa mais nobre da arquitetura, o fato de ela ser uma arte para ser utilizada. Mas o mais belo é quando as coisas se encontram, quando se harmonizam. Formam um todo. O lugar, a utilização e a forma” (2000, p.68) A forma bonita, enfim, porque “(...) quando esta forma não me toca, volto para trás e recomeço do início” (2000, p.72) elo O modo como se dá a conexão entre indivíduo e meio deve ser entendido como abstrato apenas em sua tradução. Aliás, o fato da experiência espacial ser intraduzível em sua totalidade ainda que combinadas as mais diversas formas de representação -, sugere na [03] Simbólico 064

imersão física a sua única opção de integridade. Seriam os sentidos, pois, o elo que permite a interação com aquilo que nos é externo, com a própria descoberta de nós mesmos. Para tanto, deve-se compreender na consciência a sua subordinação intransgressível a algo. É neste ou em qualquer outro algo que se encontra a correspondência a um fenômeno da consciência. Tal interdependência e, porque não, unicidade entre nossos corpos e o que a eles não pertencem, é viés à determinação da nossa própria existência, nos garante o poder da intencionalidade[026]. Se visto como demasiado poético, servem a este raciocínio os estudos fisiológicos e fenomenológicos que desvendam nossos vínculos com o meio. Em sequência a filósofos como Maurice Merleau-Ponty (1908-1961), Edmund Husserl (1859-1938) e Martin Heidegger (18891976), o arquiteto finlandês Juhani


[026] “Rothko Chapel”. Chad Kleitsch(2011).


Pallasmaa (1936-), em seu livro Os olhos da pele (2011), dá continuidade a estas questões. Preocupado há algum tempo quanto à predileção da visão em detrimento dos demais sentidos no modo como a arquitetura e as artes estão sendo concebidas, o autor persegue as razões do desaparecimento das características sensoriais. A propósito, seria este o caminho ao nosso envolvimento e da arquitetura com as questões mentais dos sonhos, imaginações e desejos, à nossa busca pela identidade.

“É evidente que uma arquitetura ‘que intensifique a vida’ deva provocar todos os sentidos simultaneamente e fundir nossa imagem de indivíduos com a nossa experiência do mundo” (2011, p.11) [03] Simbólico 066

Desde o título da obra, Pallasmaa

expressa a importância do tato para entendermos e nos comunicarmos com o mundo, provocando o conflito entre a associação dos órgãos e os sentidos. Pretensiosamente, opõem-se a visão e o tato, os extremos sensoriais do que hoje é respectivamente dominante e reprimido. Em contraposição a isso, o autor constata que é justamente a partir da especialização do tecido cutâneo que se desenvolvem e especificam-se todos os sentidos, não sendo compreensível a intenção de um estímulo que ignore a nossa pluralidade sensorial. Os avanços tecnológicos, no entanto, parecem reforçar a hegemonia da visão, confundindo o real e o virtual pelo suporte das novas invenções. A produção incalculável de imagens distorce noções de espaço e tempo, rendidas à velocidade. Em consequência, caminhamos à experiência de um presente infinito acompanhado unicamente pelos nossos olhos, temporalizando-se o


espaço e espacializando-se o tempo. São notáveis, invariavelmente, os reflexos na produção da arquitetura contemporânea. Ao contrário de promover a experiência sensorial e permitir a recuperação do caráter humano, é crescente o número de estratégias incorporadas à sedução visual instantânea, à persuasão imediata. Apesar disso, mesmo que ignorada a condição do indivíduo frente às questões de mercado, engana-se quem não recorre a si próprio para reconhecer nosso potencial instintivo[027].

busque a redescoberta de experiências em que espaço, matéria e tempo encontram-se unificados. À nossa sintonia com o mundo, é necessário entender a capacidade única da arquitetura em permitir a troca entre indivíduo e meio. É necessário defender a razão da integridade, mediada exclusivamente através dos nossos sentidos[028].

“Apesar da nossa preferência pelos olhos, a observação visual muitas vezes precisa ser confirmada pelo tato” (2011, p. 23) O momento trágico, no entanto, é também oportuno ao destaque. Se ainda não temos em vigência a construção urbana completamente automatizada, há espaço para que o seu processo criativo [03] Simbólico 067


[027] “A incredulidade de São Tomé”. Michelangelo Merisi da Caravaggio(1601).


[028] “Kolumba Museum”. Nina Mironova (-).



[04] Projeto Tendo a quadra como unidade, este exercício pretende traduzir uma nova organização de um grupo de edifícios e pessoas, respeitando-se as pré-existências e incorporando-se o novo. Inexiste à sua concepção o entendimento de um campo disciplinar de projeto, correspondendo este ao momento em que o saber encontra-se condensado. Neste sentido, é fundamental a consideração e a proposição de conflitos, o artifício do desenho como instrumento à investigação de uma nova cidade. Ademais, recupera-se o ideal de uma nova lógica que possa ser replicada conceitualmente no território, uma possibilidade para o maior aproveitamento do espaço. Vislumbram-se novos caminhos aos pedestres no térreo, a criação de uma segunda frente aos edifícios e a viabilização de novas construções ao incorporar o potencial construtivo não aproveitado dos demais lotes.

Almeja-se a discussão de uma nova cidade, um novo centro, sem que sua história ou memória deixe de existir. Ao contrário, entende-se sua importância, a necessidade de sua valorização e recuperação a partir da sua maior exposição, contato e vivência. Imagina-se, enfim, a multiplicação de espaços públicos, a consolidação de experiências sensoriais urbanas que promovam o deslocamento e a permanência, o sentido de pertencimento a partir da construção da identidade e do fortalecimento da vida em sociedade. ocupação A ocupação da quadra como estudo de caso defende o caminho investigativo às viabilidades da permanência humana no território determinado. Considera-se assim, problemáticas e propostas comuns a diversas situações, de modo que, respeitadas as [04] Projeto 071


particularidades, seja possível a sua repetição. Parte-se do entendimento que a ativação espacial não pressupõe a construção de um novo edifício, que o miolo da própria quadra – atualmente residual - permite a abertura de novos caminhos e o usufruto público. O pavimento térreo, assim, apresenta uma nova frente aos edifícios, destacandose sua potencialidade ao benefício do comércio, com atividades necessárias à vida cotidiana. Tendo em vista a ideia de um vazio central e o anseio à maior permeabilidade dos edifícios, o projeto parece sintetizar-se em dois principais eixos. O primeiro diz respeito à construção exclusiva de novos edifícios, uma vez que os existentes representem prejuízo à oferta de infra-estrutura. Entre as Ruas Quintino Bocaiuva e Praça da Sé, quatro lotes servem à disposição exclusiva de dois novos edifícios residenciais, tendo o acesso e [04] Projeto 072

passagem pública previstos. A taxa de ocupação destes lotes segue da forma mais concisa possível, valorizando o vazio do meio da quadra. O segundo eixo traduz outro caminho possível para o melhor proveito do centro da cidade. Entre as Ruas Senador Feijó e Benjamim Constant, são selecionados três edifícios existentes ao exercício de travessias ao miolo da quadra e seu provável aproveitamento ao comércio. Além disso, é proposta a sobreposição de um edifício novo, interferindo-se da menor maneira possível as construções existentes, interpretadas com baixo aproveitamento. Volumetricamente, a ocupação segue os alinhamentos frontal e lateral dos limites de cada lote, estabelecendo uma nova ordem à frente do centro da quadra, paralela ao eixo viário. O gabarito máximo adotado novamente reafirma a preocupação e o respeito aos edifícios existentes, sendo o


seu valor igual ao edifício de altura maior da quadra, localizado na Rua Senador Feijó, nº 40. À análise do que se configura como vazio ou ocupado, no entanto, voltase à tradução numérica dos espaços, de forma não subjetiva. Emprega-se para tanto os parâmetros de incentivos à Fruição Pública, Fachada Ativa, edifícios de uso misto e possíveis transferências de potencial construtivo. A quadra é então posta como uma somatória de suas construções - existentes e novas -, a fim de comparação. Em última análise, o projeto parece reafirmar a política urbana da Operação Urbana Centro. Ou seja, o projeto parece aproximar-se do que se defende como futuro da cidade, viabilizando novos percursos e usos públicos, novas unidades habitacionais e o maior aproveitamento do solo no centro de São Paulo. A tradução numérica é enfim apresentada pelo novo volume que

de fato aumenta a área construída da quadra, mas, que diminui o seu coeficiente de aproveitamento existente.

[04] Projeto 073


SQL

Pavimentos Existentes

Área do lote (m²)

Área construída térrea existente (m²)

Área de Área construída comércio Pavimento tipo existente total voltado à rua existente (m²) (m²) existente (m²)

Área não computável existente (m²)

Área computável existente (m²)

CA atual

Pavimentos novos

Pavimento tipo novo (m²)

Área computável nova total (m²)

Potencial construtivo transferível (m²)

CA novo

005 021 0023

10

216.24

216.24

181.43

221.49

2431.14

108.12

2539.26

11.74

2.00

399.10

798.20

0.00

15.43

005 021 0358 a 0360, ...

8

431.42

358.90

351.19

359.00

3230.90

179.45

3410.35

7.90

4.00

128.27

513.08

1938.54

4.60

005 021 0164

13

479.04

285.39

0.00

268.99

3782.26

0.00

4067.64

8.49

0.00

0.00

0.00

0.00

8.49

005 021 0077-0078, 0080 a 0094

8

400.97

308.23

80.73

308.30

2774.61

80.73

3002.11

7.49

4.00

133.36

533.44

1809.56

4.30

005 021 0005

4

263.14

263.14

263.14

263.14

1315.71

131.57

1447.28

5.50

8.00

106.96

855.68

0.00

8.75

005 021 0007

5

336.18

303.89

259.69

303.89

1823.36

151.95

1975.30

5.88

6.00

005 021 0006

6

155.82

155.82

39.21

155.82

1090.72

39.21

1207.33

7.75

5.00

78.95

310.62

394.75

1863.72

654.43 0.00

11.42

6.08 9.33

005 021 0025 a 0026, ...

9

447.82

373.44

315.07

373.44

3734.39

186.72

3921.11

8.76

1.00

257.18

257.18

0.00

005 021 0249 a 0256

7

362.87

323.78

117.66

326.57

2609.77

117.66

2815.89

7.76

2.00

176.13

352.26

0.00

8.73

005 021 0316 a 0336

11

177.43

135.27

39.46

135.27

1623.25

39.46

1719.06

9.69

1.00

93.77

93.77

0.00

10.22

005 021 0011

2

125.57

125.57

125.57

125.57

376.70

62.78

439.48

3.50

0.00

0.00

0.00

0.00

3.50

005 021 0012

3

443.50

408.91

408.91

408.91

1635.62

204.45

1840.07

4.15

12.00

158.10

1897.20

0.00

4.28

005 021 0176 a 0243

9

275.75

245.99

184.74

245.99

2459.90

123.00

2582.90

9.37

1.00

261.04

261.04

1475.94

4.96

005 021 0057 a 0059, ...

13

213.49

189.05

154.45

189.05

2646.73

94.53

2741.25

12.84

0.00

0.00

0.00

0.00

12.84 9.91

005 021 0016

5

82.66

82.66

46.10

82.66

495.93

41.33

537.26

6.50

4.00

70.47

281.88

0.00

005 021 0264 a 0295

7

111.43

88.28

59.62

88.28

706.23

44.14

750.37

6.73

4.00

80.01

320.04

586.82

4.34

005 021 0024

10

117.13

117.13

83.13

117.13

1288.46

58.57

1347.03

11.50

1.00

103.96

103.96

0.00

12.39

005 021 0099 a 0123

12

338.95

194.19

51.32

194.19

2524.44

51.32

2667.31

7.87

0.00

0.00

0.00

1514.67

3.40

005 021 0021

1

292.68

292.68

292.68

292.68

585.36

146.34

731.70

2.50

12.00

86.01

1032.12

0.00

3.53

005 021 0022

3

247.60

247.60

247.60

247.60

990.41

123.80

1114.21

4.50

0.00

0.00

0.00

0.00

4.50

5519.67

4716.15

3301.70

1985.12

40856.92

7.40

9558.32

7979.96

5.46

Quadra

[029] Tabela Coeficiente de Aproveitamento

[04] Projeto 074


programa Em virtude dos diagnósticos territoriais e da leitura específica da quadra, o projeto consiste em diálogos e conexões entre as novas unidades de habitação, os novos espaços públicos e os edifícios existentes. A ideia de circuitos não mais paralelos às vias dos automóveis e não mais necessariamente horizontais, fundamenta rumos a uma cidade mais democrática, que multiplique suas possibilidades de aproveitamento. O projeto organiza-se com um térreo aberto pensado em duas frentes, voltado à construção de novos caminhos para os edifícios existentes e novo. Neste pavimento a distribuição de percursos possíveis pode seguir o atravessar a própria quadra ou a sua verticalização. Para o caso da segunda opção, dispõe-se de elevadores públicos e controlados, além de módulos de saídas de

emergência. Os elevadores públicos voltam-se especificamente a duas paradas, o térreo elevado e a cobertura. Na primeira, encontra-se a extensão do programa com espaços como galeria de arte, restaurante, café, sala de leitura, sala de estudo e mirante. Na segunda, é oportuno o proveito da iluminação natural, um solarium urbano aberto. Para os elevadores de acesso controlado, voltam-se as unidades de habitação, dispostas acima e abaixo do pavimento do térreo elevado. Por sua vez, o acesso a cada uma delas, após o percurso vertical, é garantido com generosos espaços de circulação horizontal que incorporam a possibilidade do convívio e encontro dos moradores. A variabilidade da disposição dos ambientes em planta encontra a semelhança na determinação, sempre que possível, de apartamentos de dois pavimentos, priorizando a qualidade de iluminação e [04] Projeto 075


ventilação dos ambientes nas duas frentes do novo edifício. Os módulos de saídas de emergência, como o próprio projeto sugere, são defendidos segundo a necessidade. Ou seja, imaginando-se as diversas oportunidades de conexão entre os edifícios existentes e o novo, cria-se uma rede redundante de caminhos, questão que também sustenta a proposta de projeto.

[04] Projeto 076


solarium

circulação vertical

circulação horizontal

habitação

térreo elevado

habitação

edifícios existentes

quadra [030] Diagrama do edifício. Situação sem escala.


[031] Planta Pavimento TĂŠrreo +00.00 0

[04] Projeto 078

2


Rua

Benjamim

Constant

B

Bocaiuva

755

da

Quintino

756

A

Pra

Rua

A

ça

757

758

Rua

r

759

B

Senado

Feijó


[032] Planta 8ยบ Pavimento +24.48 0

[04] Projeto 080

2


Rua

Benjamim

Constant

da

Quintino

Bocaiuva

B

Rua

r

B

Senado

Feijó

Pra

Rua

A

ça

A


[033] Planta TĂŠrreo Elevado +30.24 0

[04] Projeto 082

2


Rua

Benjamim

Constant

da

Quintino

Bocaiuva

B

Rua

r

B

Senado

Feijó

Pra

Rua

A

ça

A


[034] Planta 14ยบ Pavimento +41.76 0

[04] Projeto 084

2


Rua

Benjamim

Constant

da

Quintino

Bocaiuva

B

Rua

r

B

Senado

Feijó

Pra

Rua

A

ça

A


[035] Corte AA. 1 : 500


[036] Corte BB. 1 : 500


Rua Benjamin Constant

Rua Quintino Bocaiuva


Rua Senador Feijó

Praça da Sé

[037] Corte contínuo 0

2


Rua Benjamin Constant

Rua Quintino Bocaiuva


+47.52 +44.64 +41.76 +38.88 +36.00 +33.12 +30.24 +27.36 +24.48 +21.60 +18.72 +15.84 +12.96 +10.08 +7.20 +4.32 +0.00

Rua Senador Feijó

Praça da Sé

[038] Elevação contínua 0

2


[039] Elevação Rua Benjamim Constant. 1 : 500

[04] Projeto 092



[040] Elevação Praça da Sé. 1 : 500

[04] Projeto 094



[041] Elevação Rua Senador Feijó. 1 : 500

[04] Projeto 096



[042] Elevação Rua Quintino Bocaiuva. 1 : 500

[04] Projeto 098



[04] Projeto 0100


1 2 3 4

5

6 7 8 9 10 11 12 13 14

Elevação externa

Planta

Corte

1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14.

Brise horizontal metálico Pivô inferior Cortineiro Forro de gesso Guarda-corpo em madeira Brise vertical metálico pivotante Pintura branca Alvenaria Estrutura metálica Piso em madeira Steel deck Contrapiso Pivô inferior Pingadeira

[043] Ampliação. Elevação externa, planta e corte. Escala 1 : 50


[044] Implantação.


[045] Perspectiva aĂŠrea.


[046] Perspectiva Praça da Sé.


[047] Vazio interno.


[048] Circulação interna.


[049] Unidade habitacional.



Bibliografia BRAUN, Ingo & Joerges, Bernward. Techniques du quotidien et macrosystèmes techniques. In: Gras, Joerges & Scardigli. Sociologie des techniques de la vie quotidienne. Paris, Harmattan, 1992. BUCCI, Angelo. São Paulo, razões de arquitetura. Da dissolução aos edifícios e de como atravessar paredes. São Paulo, Romano Guerra, 2010. CAMPOS, Candido Malta. Os rumos da cidade: urbanismo e modernização em São Paulo. São Paulo, Editora Senac, 2002. DEÁK, Csaba. The crisis of hindered accumulation in Brazil/ and questions of urban policy. Proceedings, BISS 10/ Bartlett International Summer School. México, 1988.

DE BEM, José Paulo. São Paulo: cidade/memória e projeto. Tese de Doutorado. São Paulo, FAU-USP, 2006. HUSSERL, Edmund. Meditações cartesianas. São Paulo, Mandras, 2001. BLOOMER, Kent C. / MOORE, Charles W. Body, Memory and Architecture. New Haven, Yale University Press, 1977. PALLASMAA, Juhani. Salvaterra, Alexandre. Os olhos da pele: a arquitetura e os sentidos. Porto Alegre, Bookman, 2011. PRESTES MAIA, Francisco. Os melhoramentos de São Paulo – Palestra pelo engenheiro Francisco Prestes Maia – Prefeito Municipal. Segunda tiragem, São Paulo, jan. 1945.


REIS, Nestor Goulart. São Paulo, vila, cidade e metrópole. São Paulo, Via das Artes, 2004.

http://infocidade.prefeitura.sp.gov. br/htmls/7_populacao_recenseadataxas_ de_crescimento_1980_10745.html

SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4. ed. São Paulo, EDUSP, 2014. 384 p. Coleção Milton Santos. 8ª reimpressão da 4. ed., de 2014.

http://sao-paulo.estadao.com.br/ noticias/geral,sao-paulo-e-umacidade-dos-anos-70-14-dos-imoveis-edaquela-decada,70001739800

TOLEDO, Benedito Lima de. Prestes Maia e as origens do urbanismo moderno em São Paulo. São Paulo, Empresa das Artes, 1996. TOLEDO, Benedito Lima de. São Paulo, três cidades em um século. São Paulo: Cosac Naify: Duas Cidades, 2007. ZUMTHOR, Peter. Atmosferas: entornos arquitetônicos, as coisas que me rodeiam. Barcelona, Gustavo Gili, 2006.



SISÁO


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.