FACULDADE ESTÁCIO DO PARÁ CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - PUBLICIDADE E PROPAGANDA
MARCOS FELIPE SILVA DE LIMA
UMA ANÁLISE DE BUFFY, A CAÇA-VAMPIROS: o seriado de televisão e a modernidade líquida. (trabalho de conclusão de curso)
Belém, Pará 2013
MARCOS FELIPE SILVA DE LIMA
UMA ANÁLISE DE BUFFY, A CAÇA-VAMPIROS: o seriado de televisão e a modernidade líquida.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à banca Examinadora do Curso de Publicidade e Propaganda da Faculdade Estácio do Pará - ESTÁCIO FAP, como exigência parcial para obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, com Habilitação em Publicidade e Propaganda, sob orientação do professor Renato Souza do Nascimento. Área de Concentração: Comunicação Audiovisual.
Belém, Pará 2013
MARCOS FELIPE SILVA DE LIMA
UMA ANÁLISE DE BUFFY, A CAÇA-VAMPIROS: o seriado de televisão e a modernidade líquida.
Trabalho de Conclusão de Curso qualificado como exigência parcial para obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social com Habilitação em Publicidade e Propaganda da Faculdade Estácio do Pará - ESTÁCIO FAP, pela seguinte banca examinadora:
Belém, PA, ____/____/ 2013.
Prof. Msc. Renato Souza do Nascimento Faculdade Estácio do Pará
Prof. Msc. Fabrício Mattos Faculdade Estácio do Pará
Profª. Msc. Viviane Menna Barreto Faculdade Estácio do Pará
Dedico este trabalho à Buffy, minha heroína.
"You think you know what's to come. What you are. You haven't even begun." Buffy, the vampire slayer.
AGRADECIMENTOS
Agradeço à minha família pelo apoio e respeito, em especial à minha mãe Cristina, à minha avó Nazaré, ao meu pai Clélio, às minhas tias Cláudia e Otávia;; e ao meu irmão caçula Hugo, pelo amor incondicional. Agradeço às minhas amigas, principalmente à Karol, por ser a minha pessoa;; à Juliana, que trocou várias idéias comigo enquanto eu escrevia essa monografia;; e à Dally, Faby, Giulidia, Samy e Talita, que sempre me encorajaram a acreditar em minha capacidade. Agradeço também aos amigos que tenho;; ao Túlio, amigo desde a sétima série;; ao Rômulo, que sempre confiou em mim;; e ao Luís, parceiro de trampo, mochilão e outros projetos. Agradeço à minha prima Gabi que desde o seu primeiro dia de vida me mostra a incrível interseção que existe entre família e amizade. Agradeço à Gabriela e ao Leonardo, incríveis amigos que fiz no início do curso e que levo pro resto da vida. Eram esses os nomes que junto ao meu deveriam ter assinado esse trabalho, mas ambos optaram por outros caminhos profissionais e os desejo o máximo de sucesso. Agradeço ao meu orientador e coordenador Renato pela paciência em lidar com minha ansiedade e teimosia, e por acreditar em minha pesquisa quando poucos colegas acadêmicos acreditaram. Agradeço aos excelentes professores que tive o prazer de ser aluno;; em especial à Shirley, à Helen, e ao Raffael;; mentores que olharam confiantes em meus olhos e disseram que eu me tornaria um grande profissional. Agradeço à José Cuervo por todos os momentos proporcionados nesses últimos cinco anos. Agradeço à Joss Whedon por ter criado os personagens que foram os primeiros verdadeiros amigos que eu tive na vida. Agradeço aos colegas da extinta comunidade do orkut “Buffy Belém” por terem feito eu me sentir menos “anormal” por ser tão fissurado em uma série de TV. Agradeço à Sofia e à Gia Coppola por terem me inspirado a escolher os desafios que virão após a formatura. Agradeço ao Google que através do Docs ofereceu um pacote de softwares gratuitos para edição de documentos em plataforma online que foram essenciais para a realização desse trabalho. Por último agradeço à Buffy, o motivo de tudo.
RESUMO “Buffy, a caça-vampiros” é um seriado estadunidense de televisão exibido originalmente entre 1997 e 2003. Este estudo busca identificar, através de análise descritiva, as representações culturais da pós-modernidade presentes nesse produto audiovisual. Para isto foi realizada uma pesquisa bibliográfica acerca das publicações dos sociólogos Zygmunt Bauman (2001) e Stuart Hall (2006) referentes à transição da modernidade sólida para a líquida e da formação de identidade cultural na pós-modernidade;; além de uma reflexão sobre a segmentação do conteúdo televisivo no mundo pós-moderno. Palavras-chave: buffy;; seriados;; televisão;; identidade;; modernidade;; pós-modernidade.
ABSTRACT "Buffy the Vampire Slayer" is an american television series originally shown between 1997 and 2003. This study seeks to identify, through descriptive analysis, the cultural representations of postmodernity in this audiovisual product. For this we conducted a literature review on the publications of the sociologists Zygmunt Bauman (2001) and Stuart Hall (2006) concerning the transition from solid to liquid modernity and the formation of cultural identity in postmodernity, and a reflection on the segmentation of television content in the postmodern world. Keywords: buffy;; series;; television;; identity;; modernity;; postmodernity.
LISTA DE FIGURAS
1. Elenco da primeira temporada.
Página 34
2. Elenco da segunda temporada.
Página 35
3. Elenco da terceira temporada.
Página 37
4. Elenco da quarta temporada.
Página 38
5. Elenco da quinta temporada.
Página 39
6. Elenco da sexta temporada.
Página 40
7. Elenco da sétima temporada.
Página 41
LISTA DE ABREVIAÇÕES
BR
Brasil.
BaCV
Buffy, a Caça-Vampiros.
BUFFYVERSE
Buffy-Universe.
CBS
Columbia Broadcasting System.
EUA
Estados Unidos da América.
UPN
United Paramount Network.
ULBRA TV
Universidade Televisão.
The-CW
The CBS and Warner Bros Television Network.
The-WB
The Warner Bros Television Network.
Luterana
do
Brasil
SUMÁRIO
Folha de Rosto
Página 01
Folha de Aprovação
Página 02
Dedicatória
Página 03
Epígrafe
Página 04
Agradecimentos
Página 05
Resumo
Página 06
Lista de Figuras
Página 08
Lista de Abreviações
Página 09
Introdução
Página 12
1. A Transição entre a Modernidade e Página 16 a Pós-Modernidade. 1.1 - A modernidade sólida e a líquida: o Página 16 derretimento das instituições sociais. 1.2 - As relações de trabalho nas Página 17 sociedades sólida e líquida: dos baby boomers aos millenials. 1.3 - As novas estruturas familiares e a Página 21 descentralização da religião no mundo pós-moderno. 1.4 - Identidade cultural na Página 24 pós-modernidade: formação, fragmentação e descentração. 1.5. A televisão como agente Página 28 modernizadora na sociedade líquida.
Metodologia
Página 32
2. Buffy, a Caça-Vampiros: Um Guia Página 34 do Enredo. 2.1 - Primeira Temporada.
Página 34
2.2 - Segunda Temporada.
Página 35
2.3 - Terceira Temporada.
Página 36
2.4 - Quarta Temporada.
Página 37
2.5 - Quinta Temporada.
Página 39
2.6 - Sexta Temporada.
Página 40
2.7 - Sétima Temporada.
Página 41
3. Buffy, a Caça-Vampiros: A Série de Página 43 TV e a Pós-Modernidade. 3.1 - A identidade pós-moderna em Página 43 BaCV: 3.1.1 - Colegial, universitária, figura Página 43 materna e caça-vampiros. 3.1.2 - Estudiosa, hacker, wicca, vampira Página 48 e portadora do apocalipse. 3.2 - Planejamento de carreira em Página 57 Sunnydale: a trajetória de Xander. 3.3 - Scooby Gang: uma representação da Página 61 família pós-moderna. 3.4 - As referências religiosas de BaCV.
Página 67
Considerações Finais
Página 73
Referências
Página 76
Anexos
Página 81
INTRODUÇÃO Os seriados norte-americanos de televisão surgiram na década de 1950 e anos mais tarde foram importados por emissoras estrangeiras que ainda não possuíam conteúdo original para preencher suas grades de programação. De lá pra cá, o mundo passou por transformações estruturais em todos os seus setores sociais, fenômeno o qual Bauman1 (2001) se refere como a transição da modernidade sólida para a líquida, onde as instituições da sociedade “derreteram” e passaram a ter fluidez e flexibilidade para se adaptar à novos formatos. Tal fenônemo pode ser observado através da análise descritiva desses seriados de televisão, cujas narrativas possuem representações culturais das sociedades de seus respectivos tempos. “Buffy, a caça-vampiros" (Buffy the vampire slayer) é um seriado estadunidense de televisão criado por Joss Whedon e baseado no filme2 homônimo de 1992. Whedon3 (1998) afirma que escreveu o episódio piloto como uma sequência ao seu roteiro4 original do filme. A série inicia quando Buffy Summers e sua mãe se mudam para uma cidade fictícia na Califórnia, a adolescente está disposta a esquecer seu passado como caçadora de vampiros. No entanto, descobre que “Sunnydale”, sua nova cidade, foi construída acima de um centro de convergência mística: a "Boca do Inferno", esta atrai vampiros, demônios e demais seres maléficos de diversos mundos. A protagonista conta com a ajuda de seus novos amigos e do bibliotecário do colégio “Sunnydale High” para combater o mal. O estudo realizado pretende fazer uma análise descritiva desse produto audiovisual, afim de identificar as representações culturais da pós-modernidade nele presentes. O referencial teórico teve como principal fundamentação os conceitos apresentados por Zygmunt Bauman em “Modernidade Líquida5”. Essas conceituações são exemplificadas através de dados obtidos pelo vídeo documentário All work and all play6 e 1
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. Buffy, the vampire slayer: the movie. 1992. Direção: Fran Rubel Kuzui. Roteiro: Joss Whedon. Intérpretes: Kristy Swanson, Donald Sutherland, Luke Perry. Los Angeles: Fox Home Entertainment, 2011, 86min, Blu-Ray Disc. 3 GOLDEN, Christopher. et al. Buffy, the vampire slayer: the watcher's guide. Pocket Books, 1998. 4 A adaptação canônica do roteiro original foi publicada em 1999 com o título: "Buffy, the vampire slayer - The Origin". Graphic novel desenhada pelo artista paraense Joe Bennet. 5 BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. 6 All work and all play. Roteiro e Direção de: Lena Maciel, Lucas Liedke e Rony Rodrigues. Edição de: 2
de artigos disponíveis em meio eletrônico na internet. Para explicar o processo de construção da identidade do indivíduo social no contexto pós-moderno, foi escolhido o livro “A Identidade Cultural na Pós-Modernidade7”, do autor Stuart Hall, além do vídeo documentário We all want to be young8, resultado de pesquisas concebidas pela empresa brasileira BOX18249. Outros autores como: Baudrillard10, Giddens11 e McLuhan12 foram citados como fonte secundária para embasar reflexões feitas acerca de fenômenos ocorridos dentro do tema proposto por Bauman13. A análise descritiva apresenta um resumo do enredo das sete temporadas de "Buffy, a caça-vampiros", oferecendo ao leitor um apanhado geral sobre o objeto de estudo. Após essa etapa, os elementos narrativos de determinados episódios serão analisados afim de identificar as representações culturais pós-modernas que foram neles apresentadas. O referente programa foi ao ar originalmente entre os anos 1997 e 2003, com cinco temporadas exibidas pelo canal The-WB e duas temporadas exibidas pelo canal UPN14, totalizando 144 episódios. No Brasil, todas as temporadas foram exibidas pelo canal por assinatura FOX, e algumas delas, na TV aberta pelas emissoras Rede Globo e Rede TV. Atualmente, o seriado é reprisado pelo canal aberto ULBRA TV15, de segunda a sexta, as 12h15. Em 1999, deu origem ao spin-off16 "Angel", com duração de cinco temporadas. A série foi transmitida nos EUA pelo The-WB e no Brasil pela FOX e Rede Globo.
Fernanda Krumel. Co-Produção de: Zeppelin Filmes. São Paulo: BOX1824, 2012. 10 minutos, vídeo em internet. Disponível em: <http://vimeo.com/44130258>. Acesso em: 14 set. 2013. 7 HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11. ed. Rio de Janeiro. DP&A Editora, 2006. 8 We all want to be young. Roteiro e Direção de: Lena Maciel, Lucas Liedke e Rony Rodrigues. Co-Produção de: Zeppelin Filmes. São Paulo: BOX1824, 2010. 09 minutos, vídeo em internet. Disponível em: <http://vimeo.com/16641689>. Acesso em: 30 ago. 2013. 9 BOX 1824. São Paulo. Disponível em: <http://www.box1824.com.br/>. Acesso em: 14 set. 2013. 10 BAUDRILLARD, Jean. Simulacro e simulações. Lisboa: Relógio D’água, 1991. 11 GIDDENS, Anthony. Sociologia: uma breve porém crítica introdução. Rio de Janeiro. Zahar, 1984. apud PASQUALOTTO, Thiago J. A formação da opinião pública na televisão: uma análise dos Simpsons. Disponível em:<http://www.webartigos.com/artigos/a-formacao-da-opinia o-publica-na-televisao-uma-analise-dos-simpsons/14857/ >. Acesso em: 15 ago. 2013. 12 MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem. São Paulo. Cultrix, 1964. 13 BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. 14 Os canais americanos de televisão The-WB e UPN tinham programação voltada ao público jovem. Em 2006 ambos se fundiram no atual The-CW, que mantém a mesma proposta. 15 ULBRA TV. Porto Alegre. Disponível em: <http://www.ulbratv.com.br/buffy/>. Acesso em: 30 ago. 2013. 16 Spin-off é um termo em inglês usado para se referir a uma série derivada de outra série.
Entre 2002 e 2004, o seriado foi lançado em DVD nos EUA, pela Fox Home Entertainment17, em sete boxes18. A edição especial The Chosen Collection19, que armazenou em 40 discos todos os episódios do programa - mais conteúdo extra sobre os bastidores, chegou às lojas em 2005. A Fox Film do Brasil20 comercializou somente cinco temporadas em DVD e até o presente momento não divulgou nenhuma previsão de lançamento para as duas últimas. Em julho de 2013, o seriado completo foi disponibilizado com áudio original e legendas - além de dublagem - em português BR, através do serviço de streaming media on demand21 da plataforma virtual Netflix Brasil22. Após seu cancelamento na televisão, a saga ganhou sequência canônica desenvolvida em quadrinhos com supervisão criativa de Whedon e publicação realizada pela editora Dark Horse Comics23. A 8ª temporada foi publicada mensalmente nos EUA em 40 edições, entre os anos de 2007 e 2011. No Brasil, cinco edições foram lançadas em 2009 pela editora Panini24 até sua decisão de retirar a continuação da série de seu catálogo. A 9ª temporada teve 25 edições publicadas, entre 2011 e 2013, paralelamente à 1ª temporada de "Angel & Faith", nova expansão do universo vampiresco arquitetado por Joss Whedon, além de duas minisséries25 de cinco edições cada. Apesar de se tratar de um produto categorizado como pertencente à cultura pop, o seriado tornou-se objeto de estudo de professores de filosofia, sociologia, antropologia e
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FOX CONNECT. Los Angeles. Disponível em: <http://www.foxconnect.com/>. Acesso em: 15 set. 2013. 18 Embalagens com três a seis discos, contendo todos os episódios de uma temporada da série. 19 Buffy, the vampire slayer: the chosen collection. 1997-2003. Criação e Produção Executiva de: Joss Whedon. Co-Produção de: David Greenwalt, Marti Noxon. Intérpretes: Sarah Michelle Gellar, Alyson Hannigan, Nicholas Brendon. Los Angeles: Fox Home Entertainment, 2005. 40 discos, DVD. 20 FOX FILM DO BRASIL. São Paulo. Disponível em: <http://brasil.foxinternational.com/>. Acesso em: 28 ago. 2013. 21
Serviço que oferece ao cliente acesso à exibição de conteúdo multimídia, via tecnologia streaming, sem permissão para download, por meio de assinatura paga. 22 NETFLIX BRASIL. São Paulo. Disponível em: <http://movies.netflix.com/WiHome?locale=pt-BR>. Acesso em: 28 ago. 2013. 23 DARK HORSE COMICS. Milwaukie. Disponível em: <http://www.darkhorse.com>. Acesso em: 15 set. 2013. 24 PANINI COMICS. Barueri. Disponível em: <http://www.paninicomics.com.br/web/guest/home>. Acesso em: 28 ago. 2013. 25 "Willow: Wonderland" e "Spike: A Dark Place", publicadas originalmente entre 2012 e 2013.
teologia, de renomadas universidades americanas, no livro: “Buffy, a caça-vampiros e a Filosofia26” (2004), devido a complexidade psicológica dos personagens e seus conflitos, o que permitiu aos pesquisadores realizarem ensaios densos sobre o conteúdo do seriado. Em decorrência desses fatores e de toda a notoriedade que teve, a série foi escolhida como o objeto de análise deste estudo comunicacional que busca compreender como as representações culturais da pós-modernidade são apresentadas em seriados americanos de televisão e quais são suas implicações na formação de identidade do seu público.
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SOUTH, James B., and William Irwin, eds. Buffy, a caça-vampiros ea Filosofia: medo e calafrios em Sunnydale. São Paulo. Madras, 2004.
1. A TRANSIÇÃO ENTRE A MODERNIDADE E A PÓS-MODERNIDADE.
1.1 - A modernidade sólida e a líquida: o derretimento das instituições sociais.
A segunda revolução industrial27, consolidada no início do século XX, trouxe consigo o surgimento do rádio e da televisão, meios que possibilitaram a comunicação por intermédio de ondas eletromagnéticas capazes de se propagarem pelo espaço na velocidade aproximada de 300.000 km/s. Essa transcendência na relação entre tempo e espaço, de acordo com Zygmunt Bauman28, caracteriza a modernidade:
A modernidade começa quando o tempo e o espaço são separados da prática da vida e entre si, e assim podem ser teorizados como categorias distintas e mutuamente independentes da estratégia e da ação;; quando deixam de ser, como eram ao longo dos séculos pré-modernos, aspectos entrelaçados e dificilmente distinguíveis da experiência vivida, presos numa estável e aparentemente invulnerável correspondência biunívoca. Na modernidade o tempo tem história, tem história por causa da sua “capacidade de carga”, perpetualmente em expansão – o alongamento dos trechos do espaço que unidades de tempo permitem “passar”, “atravessar”, “cobrir” – ou conquistar. O tempo adquire história uma vez que a velocidade do movimento através do espaço (diferentemente do espaço eminentemente inflexível, que não pode ser esticado e que não encolhe) se torna uma questão do engenho, da imaginação e da capacidade humanas.
O autor divide a modernidade em duas etapas, classificando a primeira de "modernidade sólida" e a segunda de “modernidade líquida”. A modernidade sólida, tem como principal característica, a estabilidade da forma de seus aspectos. Bauman29 explica tal afirmação em uma analogia onde informa que “(...) os sólidos têm dimensões espaciais claras, mas neutralizam o impacto e, portanto, diminuem a significação do tempo (resistem efetivamente a seu fluxo ou o tornam irrelevante). (...)” ao explicar como funcionavam as instituições sociais no mundo moderno, com uma
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HISTÓRIA DO MUNDO. Revolução Industrial - História da Revolução Industrial. Disponível em: <http://www.historiadomundo.com.br/idade-moderna/revolucao-industrial.htm>. Acesso em: 21 ago. 2013. 28 BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. p.15-16. 29 Ibidem. p.8.
estrutura bem definida que apresentava resistência à mudanças. Já a modernidade líquida, segundo o autor30, é caracterizada pela “leveza” de sua forma, que constantemente “flui”, “escorre”, “esvaece”, “respinga”, “transborda”, “vaza”, “inunda”, “borrifa”, “pinga”;; pode ser “filtrada” e “destilada”. Ele afirma que, durante a transição da modernidade sólida para a modernidade líquida, as instituições da sociedade passaram por um processo de “derretimento” onde adquiriram fluidez para se adaptar à novas formas. Como exposto no trecho abaixo:
O que está acontecendo hoje é, por assim dizer, uma redistribuição e realocação dos “poderes de derretimento” da modernidade. Primeiro, eles afetaram as instituições existentes, as molduras que circunscreviam o domínio das ações-escolhas possíveis, com os estamentos hereditários com sua locação por atribuição, sem chance de apelação. Configurações, constelações, padrões de dependência e interação, tudo isso foi posto a derreter no cadinho, para ser depois novamente moldado e refeito;; essa foi a fase de “quebrar a forma” na história da modernidade inerentemente transgressiva, rompedora de fronteiras e capaz de tudo desmoronar: Quanto aos indivíduos, porém – eles podem ser desculpados por ter deixado de notá-los;; passaram a ser confrontados por padrões e configurações que, ainda que “novas e aperfeiçoadas”, eram tão duras e indomáveis como sempre.
Podemos considerar que as modernidades sólida e líquida correspondem às sociedades moderna e pós-moderna.
1.2 - As relações de trabalho nas sociedades sólida e líquida: dos baby boomers aos millenials.
Na primeira metade do século XX, a organização do trabalho na sociedade moderna foi marcada por processos industriais criados durante a segunda revolução industrial: o fordismo e o taylorismo31. O fordismo seguia uma linha vertical de produção em massa e mão-de-obra não
Ibidem, p.8. SOUSA, Rainer. Fordismo e Taylorismo. Disponível <http://www.brasilescola.com/historiag/fordismo-taylorismo.htm>. Acesso em: 21 ago. 2013. 30
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em:
qualificada. Sua fabricação não tinha relação direta com a demanda de consumo. Os funcionários executavam a mesma função sem ter noção de onde se encaixavam no plano geral e de como se articulavam com as demais funções, sofrendo alienação física e mental. O taylorismo seguia uma linha horizontal de produção customizada e mão-de-obra qualificada. A mão-de-obra qualificou-se a partir do momento em que os funcionários passaram a otimizar sua capacidade produtiva através do máximo controle racional sobre as etapas de produção. Ambos os sistemas representavam bem a “solidez” estrutural que as instituições da sociedade moderna possuíam, com hierarquias lineares e funções bem definidas. Destaca-se ainda que a maioria dos trabalhadores daquela época costumavam passar suas carreiras inteiras em uma só empresa, o que gerava baixa rotatividade no quadro de funcionários. A geração baby boomer32 teve suas relações profissionais diretamente influenciadas por ambos os sistemas industriais, como explica o roteiro do documentário “All work and all play33”:
(...) manter as coisas simples era o lema de trabalho dos baby boomers nos anos 60 e 70. As regras eram mais claras naquela época. O espaço de trabalho limitava-se ao escritório. Responsabilidades eram individuais e específicas. E você sabia a hora certa de começar e terminar seu trabalho. Naquela época, após as guerras mundiais, as instituições representavam a estabilidade que todos desejavam. Por isso, fazia todo o sentido vestir a camisa da empresa e responder bem a estruturas lineares e hierárquicas. Ao escolher uma carreira, essa decisão ia ser praticamente para o resto da vida. Os mais velhos ensinavam os mais novos pois, eram os anos de experiência que levavam ao crescimento na empresa. Ter um emprego garantia status social e era o primeiro passo para o casamento e um filho nove meses depois. (...) sacrifícios diários garantiam o sustento da família e eles sabiam que a grande recompensa viria mesmo que “demorasse um pouco”.
Na segunda metade do século XX, o toyotismo34, sistema de produção industrial implantado no Japão, foi caracterizado pela organização descentralizada e altos índices de
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Geração nascida entre anos 1940 e 1950, após a segunda guerra mundial. ALL work and all play. Roteiro e Direção de: Lena Maciel, Lucas Liedke e Rony Rodrigues. Edição de: Fernanda Krumel. Co-Produção de: Zeppelin Filmes. São Paulo: BOX1824, 2012. 10 minutos, vídeo em internet. Disponível em: <http://vimeo.com/44130258>. Acesso em: 14 set. 2013. 34 PENA, Rodolfo Alves. Toyotismo e acumulação flexível. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/geografia/toyotismo-acumulacao-flexivel.htm>. Acesso em: 21 ago. 2013. 33
terceirização. O toyotismo teve sua fabricação adequada à demanda do mercado consumidor através da criação do conceito just-in-time35. Observa-se nele a "fluidez" a qual Bauman36 se refere quando comenta sobre o “derretimento” dos modos, previamente conhecidos, de organização das instituições sociais. A terceirização de serviços causou uma ruptura na linearidade hierárquica das empresas, pois gerou interdependência entre elas. Esse sistema, assim como o modo que a geração X37 gerenciou seus planos de carreira nos anos 1980 e 1990, foi precursor das primeiras mudanças estruturais que resultariam na organização do trabalho na sociedade líquida:
A geração X, no entanto, redefiniu a relação de tempo entre trabalho e recompensa. Super confiantes, extrovertidos, competitivos e fazendo tudo possível para ter um rápido crescimento, esses caras estavam sempre buscando melhores propostas. Uma ideia lucrativa podia facilmente colocá-los na chefia, com base na meritocracia e não na sua experiência. Procurando formas de se destacar pessoalmente e serem mais independentes, dependiam de diplomas, MBAs e PHDs para sair na frente dos concorrentes. Nessa lógica mais individualista, um bom guarda-roupa e cartão de visitas ajudavam a fechar negócios e expandir seus contatos, estar no lugar certo e na hora certa era o que definia a carga horária. O espaço de trabalho foi estendido para o happy hour e essa mistura de vida pessoal com profissional tornou o workaholic alguém admirável e até sexy. O vencedor era quem chegasse na mesa da diretoria em menor tempo possível, e então viver imediatamente o prazer de suas conquistas. (All work and all play, 2012)
A modernização tecnológica38, resultado de uma série de evoluções feitas no campo tecnológico a partir da década de 1970, provocou um grande impacto no comportamento do trabalhador pós-moderno, que começou a cobrar de si mesmo uma “modernização pessoal” caracterizada pela necessidade de estar sempre em busca da melhor versão atualizada de si próprio. Essa necessidade é causada pelo medo de tornar-se defasado, assim como ele observa acontecer frequentemente com as tecnologias que usa. Para alcançar tal “modernização”, esse jovem trabalhador costuma optar pela educação continuada39, que geralmente vem acompanhada da procura de um emprego idealizado
35
Ibidem. Acesso em: 21 ago. 2013. BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. 37 Geração nascida entre os anos 1960 e 1970. 38 DE FREITAS, Eduardo. Revolução Técnico-científico-informacional. Disponível em: <http://www.mundoeducacao.com/geografia/revolucao-tecnicocientificoinformacional.htm>. Acesso em: 23 ago. 2013. 39 VIEIRA, Alexandre. Educação Continuada: O Que É?. Disponível em: <http://www.artigonal.com/educacao-artigos/educacao-continuada-o-que-e-730312.html>. Acesso em: 24 set. 2013. 36
que consiga recompensar todos os seus esforços e também satisfazer todas as suas expectativas, incluindo realização pessoal - um estado de satisfação extremamente volátil, localizado no topo da pirâmide de Maslow40 - isso gera uma alta rotatividade de funcionários em empresas e a inversão da expectativa do prazo de recompensa pelos esforços feitos durante a carreira. O trabalhador moderno esperava que a recompensa viesse à longo prazo, ao “final da linha de chegada”. Hoje, na pós-modernidade, o conceito de “final da linha de chegada” é raramente visto. O imediatismo dita que a recompensa deve vir à medida proporcional dos esforços que são feitos:
(...) hoje a jornada é um pouco diferente, parece mais importante curtir o caminho do que chegar no destino final. Ironicamente, os millenials, aqueles garotos imprevisíveis, são quem melhor traduz esse novo olhar. Em um tempo onde o prazer determina a realização profissional, eles sabem, como ninguém, como reconhecer oportunidades que combinam paixão com trabalho. A economia criativa, novas profissões, o boom do empreendorismo e a nova força coletiva estão pintando um cenário inédito e brilhante. Por isso os millenials são tão impacientes! A velocidade com que se conectam com o mundo dá ritmo para as duas relações de trabalho. Projetos que só farão diferença a longo prazo simplesmente não os estimulam. (...) A pirâmide tradicional não combina com esses jovens ansiosos. Estão entusiasmados por trabalhar com outras gerações, mas em um relacionamento de igual pra igual, com respeito mútuo. (...) Além de ter um emprego, se tornou importante ter um propósito que pode ser exercido de várias formas ao mesmo tempo. Mobilidade, espaços compartilhados, home-offices e a possibilidade de criar seu próprio horário fazem o trabalho sempre presente, em qualquer momento, em todos os lugares. (All work and all play, 2012).
As relações de trabalho, que na geração baby boomer eram sólidas e estáveis, se tornaram líquidas com a geração dos millennials41 que representam a sociedade pós-moderna. O trecho acima, explica que essas relações transcendem o limite que existia entre tempo e espaço. Essa transcendência, segundo Bauman42, caracteriza o início da modernidade. Ao analisarmos o trabalho como instituição social, claramente enxergamos um exemplo de “derretimento” que ocorreu na sociedade durante a transição da modernidade sólida para a líquida.
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CABRAL, Gabriela. Maslow e as necessidades humanas. Disponível em: <http://www.mundo educacao.com/psicologia/maslow-as-necessidades-humanas.htm>. Acesso em 23 ago. 2013. 41 Geração nascida entre os anos 1980 e 1990. 42 BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. p.8.
1.3 - As novas estruturas familiares e a descentralização da religião no mundo pós-moderno.
“A verdade é que o jeito que trabalhamos influencia novas tendências e comportamentos na sociedade43”. Nas famílias modernas, assim como nas fábricas, cada membro tinha seu papel bem definido: o pai era o patriarca, responsável pelo sustento da família e a mãe cuidava dos filhos e do lar. Os filhos, se fossem do sexo masculino, estudavam e se preparavam para um dia encontrar uma parceira e constituir sua própria família. As filhas, muitas vezes, eram premeditadas pela própria família a casar com determinados rapazes, em prol de benefícios sociais e financeiros, afim de perpetuar os bons costumes da época e os valores que seus sobrenomes carregavam. Percebe-se que esse modelo familiar era uma instituição tradicional muito forte na sociedade moderna. No entanto, as famílias pós-modernas são formadas por várias estruturas que surgiram do “derretimento” da hierarquia familiar predominante na primeira metade do século XX. Tal afirmação é comentada no trecho a seguir pelo sociólogo Michael Rosenfeld44:
Os casamentos já não cabem nos ideais dos anos 1950 de I Love Lucy e Ozzie and Harriet - casamentos gays, casamentos mistos e pais solteiros têm sido em ascensão nos últimos tempos. A questão do casamento tem uma tradição filosófica, desde a afirmação de Hegel de que homens e mulheres, logicamente, se complementam para o incentivo libertário da JS Mill45 de experimentação.
As mulheres foram pioneiras na conquista de direitos individuais que, dentre outros benefícios, lhe proveram independência financeira para liderar suas famílias através da conquista de prestigiosos cargos no mercado de trabalho, pondo em declínio a hierarquia 43
ALL work and all play. Roteiro e Direção de: Lena Maciel, Lucas Liedke e Rony Rodrigues. Edição de: Fernanda Krumel. Co-Produção de: Zeppelin Filmes. São Paulo: BOX1824, 2012. 10 minutos, vídeo em internet. Disponível em: <http://vimeo.com/44130258>. Acesso em: 14 set. 2013. 44 ROSENFELD, Michael. The Postmodern Family. Disponível em: <http://philosophytalk.org/shows/postmodern-family>. Acesso em 19 ago. 2013. 45 UOL Educação. John Stuart Mill. Disponível em <http://educacao.uol.com.br/biografias/john-stuart-mill.jhtm> Acesso em: 19 ago. 2013.
do patriarcado. Babás exercem funções parentais em crianças quando seus pais estão profundamente envolvidos em outras atividades, à exemplo de suas ocupações profissionais, o que resulta no desenvolvimento de uma nova dinâmica na relação familiar, geralmente caracterizada pela ausência do diálogo entre pais e filhos. Dentre as “novas famílias”, a mais controversa devido a dogmas religiosos, vem do casamento civil entre casais homoafetivos, união aprovada legalmente em vários países, assim como seu direito de adoção. Michael Rosenfeld46 comenta:
Em relação aos pontos fortes e fracos de vários tipos de casamento, uma coisa é certa: qualquer família é melhor do que a alternativa de crianças criadas pelo Estado. Temos dados que mostram que casamentos do mesmo sexo não afetam majoritariamente o desenvolvimento educacional da criança. Em termos de desenvolvimento social, "os pais não socializam as crianças, as crianças socializam as crianças". E há sempre a idade da independência.
Bauman cita uma entrevista47 que Ulrich Beck cedeu a Jonathan Rutherford no dia três de fevereiro de 1999, onde ele se refere a família pós-moderna como um dos principais exemplos do fenônemo pelo qual ele conota como “a modernidade voltando para si mesma”, na era da “modernização da sociedade”, como conferimos abaixo:
Pergunte-se o que é realmente uma família hoje em dia? O que significa? É claro que há crianças, meus filhos, nosso filhos, mas mesmo a paternidade e a maternidade, o núcleo da vida familiar, estão começando a se desintegrar no divórcio … Avós e avôs são incluídos e excluídos sem meios de participar nas decisões de seus filhos e filhas. Do ponto de vista dos seus netos, o significado das avós e dos avôs tem que ser determinado por decisões e escolhas individuais.
A família moderna era regida por outra instituição, de cunho religioso: a Igreja. A moral cristã regeu a sociedade sólida, no entanto, o papel da igreja se restringia a fornecer essa formação moral e espiritual aos indivíduos. Os dogmas cristãos perderam muita força e influência sobre a sociedade com o advento da modernidade. As descobertas científicas feitas na Europa, entre os séculos 46
Ibidem. Acesso em 19 ago. 2013. BECK, Ulrich. 1999. apud BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. p.13. 47
XIV e XIX durante o humanismo renascentista48, contribuíram para o declínio de credibilidade das explicações que a Igreja oferecia sobre o homem e os fenômenos da natureza:
Por meio do Humanismo, o homem passou a ser visto como imagem e semelhança do seu criador Deus, tornando-se a medida de todas as coisas. Os humanistas romperam com o Teocentrismo (a ideia de que Deus era o centro de todo o universo e de toda a vida humana) e passou a prevalecer a ideia do Antropocentrismo (o homem no centro do universo e da vida humana).
A descentralização49 é o que caracteriza a religiosidade na pós-modernidade, não é mais o indivíduo quem se adequa à religião e sim a religião que se adequa ao indivíduo. Isso gera uma mistura de várias crendices dentro da prática de uma mesma crença. Por exemplo, no contexto pós-moderno não é difícil encontrar um indivíduo adepto à vertente de uma religião, como o catolicismo;; que simultaneamente acredita em esoterismos, como a astrologia. Muitas pessoas afirmam seguir religiões “não-institucionalizadas” quando se referem ao meio que encontraram de adorar suas respectivas divindades ao seu ver, sob suas próprias concepções de valores morais:
Obviamente que não podemos falar da religiosidade no contexto pós-moderno dentro de uma visão absoluta, uma vez que uma das marcas da pós-modernidade é a ausência de absolutos. Entendemos, portanto, que todas as verdades sobre o fenômeno encontram limite na própria idéia da relatividade: os fenômenos são e não são ao mesmo tempo, a liquidez e a volatilidade também é um sinal da pós modernidade e se reflete da mesma forma na religião. (AZEVEDO50, 2008.)
Sendo assim, chegamos a conclusão de que a religião perdeu sua forma “sólida”, “derreteu” e ganhou “fluidez” para se adaptar às necessidades específicas de cada grupo e indivíduo durante a passagem do mundo moderno para o pós-moderno.
48
CARVALHO, Leandro. Humanismo Renascentista. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/historiag/humanismo-renascentista.htm>. Acesso em 21 ago. 2013. 49 AZEVEDO, Neilson Santos. O fenômeno religioso na pós-modernidade. Disponível em: <http://religare.blogs.sapo.pt/35170.html>. Acesso em 29 ago. 2013. 50 Ibidem. Acesso em 29 ago. 2013.
1.4 - Identidade cultural na pós-modernidade: formação, fragmentação e descentração.
Para estudarmos a identidade cultural no mundo pós-moderno, de acordo com Stuart Hall51, precisamos distinguir três concepções de identidade52: o sujeito do iluminismo, o sujeito sociológico e o sujeito pós-moderno. A modernidade tem raízes históricas no humanismo renascentista desenvolvido na Europa durante o renascimento entre os séculos XIV e XVI. A ruptura da filosofia medieval por uma nova linha de pensamento que exaltava a autonomia da razão, a liberdade do ser, o domínio científico sobre a natureza, a emancipação humana e o antropocentrismo;; originou o sujeito do iluminismo. O qual Hall53 descreve a seguir:
O sujeito do iluminismo estava baseado numa concepção da pessoa humana como indivíduo totalmente centrado, unificado, dotado das capacidades de razão, de consciência e de ação, cujo “centro” consistia num núcleo interior, que emergia pela primeira vez quando o sujeito nascia e com ele se desenvolvia, ainda que permanecendo essencialmente o mesmo – contínuo ou “idêntico” a ele – ao longo da existência do indivíduo. O centro essencial do eu era a identidade de uma pessoa.
Partindo do ponto de vista de Bauman54 sobre o início da modernidade, o sujeito do iluminismo estava presente nas sociedades pré-modernas, enquanto o sujeito sociológico estava presente na sociedade moderna do século XX. Segundo Hall, a identidade desse sujeito moderno “preenche o espaço entre interior e exterior - entre o mundo pessoal e o mundo público55” ao se espelhar em estereótipos como um modo de conectar sua subjetividade à objetividade das posições sólidas que ele ocupa na sociedade. Esse sujeito usa como referência pessoas e signos que admira, a exemplo de um chefe, um pai, um líder religioso, um âncora de telejornal ou um herói de histórias em quadrinhos como o
51
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11. ed. Rio de Janeiro. DP&A Editora, 2006. 52 Ibidem. p. 10-14. 53 Ibidem. p-10-11. 54 BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. p.8. 55 HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11. ed. Rio de Janeiro. DP&A Editora, 2006. p. 12.
Superman. O autor comenta:
A noção de sujeito sociológico refletia a crescente complexidade do mundo moderno e a consciência de que este núcleo interior do sujeito não era autônomo e auto-suficiente, mas era formado na relação com “outras pessoas importantes para ele”, que mediavam para o sujeito os valores, sentidos e símbolos - a cultura - dos mundos que ele/ela habitava. G.H. Mead, C.H. Cooley e os interacionistas simbólicos são as figuras-chave na sociologia que elaboraram esta concepção “interativa” da identidade e do eu. De acordo com essa visão, que se tornou a concepção sociológica clássica da questão, a identidade é formada na “interação” entre o eu e a sociedade. O sujeito ainda tem um núcleo ou essência interior que é o “eu real”, mas este é formado e modificado num diálogo contínuo com os mundos culturais “exteriores” e as identidades que esses mundos oferecem. (HALL, 2006, p.11).
O processo de formação e fragmentação da identidade cultural na pós-modernidade é similar ao da construção do sujeito sociológico, só que inserido no contexto pós-moderno:
O sujeito, previamente vivido como tendo uma identidade unificada e estável, está se tornando fragmentado;; composto não de uma única, mas de várias identidades, algumas vezes contraditórias ou não-resolvidas. Correspondentemente, as identidades, que compunham as paisagens sociais “lá fora” e que asseguravam nossa conformidade subjetiva com as “necessidades” objetivas da cultura, estão entrando em colapso, como resultado de mudanças estruturais e institucionais. (HALL, 2006, p.12-13)
Ao falar das “mudanças estruturais e institucionais”, o autor se refere ao “derretimento” estrutural das instituições sociais, teoria proposta por Bauman56 . O indivíduo, que vive na modernidade líquida, não tem somente uma estrutura de cada instituição como referência, mas várias, como Hall57 cita no trecho acima: “algumas vezes contraditórias”. Segundo o autor, é ao entrar em contato com essa demasiada quantidade de variáveis presentes no ambiente ao seu redor, que a identidade fragmentada do sujeito pós-moderno é formada:
Esse processo produz o sujeito pós-moderno, conceptualizando como não 56
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11. ed. Rio de Janeiro. DP&A Editora, 2006. p. 12-13. 57
tendo uma identidade fixa, essencial ou permanente. A identidade torna-se uma “celebração móvel”: formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam (Hall,1987). É definida historicamente, e não biologicamente. O sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que são unificadas ao redor de um “eu” coerente. Dentro de nós há identidades contraditórias, empurrando em diferentes direções, de tal modo que nossas identificações estão sendo continuamente descoladas. Se sentimos que temos uma identidade unificada desde o nascimento até a morte é apenas porque construímos uma cômoda estória sobre nós mesmos ou uma confortadora “narrativa do eu” (veja Hall, 1990). A identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente é uma fantasia. Ao invés disso, à medida em que os sistemas de significação e representação cultural se multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos identificar - ao menos temporariamente. (HALL, 2006, p.12-13).
De acordo com o documentário “We All Want To Be Young58”, produzido pela empresa brasileira Box1824 - de pesquisa do comportamento do consumidor e tendências, os indivíduos que nasceram entre os anos 1960 e 1970 pertencem a geração popularmente conhecida como “X”. Os jovens da geração “X” aproveitaram os direitos conquistados pelos baby boomers e tomaram controle de suas individualidades através de estereótipos. Nos anos 1980 eles tinham uma opinião bem radical acerca do poder das tribos, onde enxergavam a identidade do indivíduo como “sólida”, onde não era socialmente bem visto pertencer a mais de um grupo. Essa visão começou a “derreter” nos anos 1990, quando a ideia de pertencer somente a uma tribo já não era tão bem vista como antes:
Nos anos 90 o poder das tribos já não era algo legal de se estar vinculado. Alguns começaram a se chamar de “normais” para poder transitar entre os diferentes grupos. Hoje, ser normal se tornou chato e ao invés de neutralizar suas diferenças, se tornou legal expressá-las. É possível ser surfista, DJ, roqueiro, nerd, cinéfilo, designer ao mesmo tempo. Nós estamos falando da geração de jovens mais plural da história. É a pluralidade que garante que os jovens possam simultaneamente, reconhecer-se, mesmo com suas diferenças pessoais. (We All Want To Be Young, 2010).
É aí que a população jovem é substituída pela geração mundialmente conhecida como “Y”, constituída de indivíduos que nasceram entre os anos 1980 e 1990, os quais o vídeo-documentário se refere como millennials e “juventude global”, por ser a primeira 58
WE all want to be young. Roteiro e Direção de: Lena Maciel, Lucas Liedke e Rony Rodrigues. Co-Produção de: Zeppelin Filmes. São Paulo: BOX1824, 2010. 09 minutos, vídeo em internet. Disponível em: <http://vimeo.com/16641689>. Acesso em: 30 ago. 2013.
geração de jovens conectada à internet:
Os jovens millennials são pragmáticos. Eles também são mais realistas. Seus ídolos não são mais figuras totalmente idealizadas. Mas sim, pessoas comuns que realizam pequenos e possíveis sonhos. Que não são utópicos. Eles são os rostos da nova economia. Comandada por open source e crowdsourcing. E iniciativas independentes que com o poder da internet, podem ter um impacto imensurável. (We All Want To Be Young, 2010).
A identidade individual da geração dos millennials é descentrada. Segundo Hall59, a descentração da identidade do sujeito pós-moderno é oriunda da deslocação e fragmentação das identidades modernas do sujeito sociológico. O autor defende que a identidade cultural no “aspecto de nossas identidades que surgem de nosso pertencimento a culturas étnicas, raciais, linguísticas, religiosas e acima de tudo nacionais60”, a partir da mudança estrutural das instituições sociais, parou de fornecer as posições sólidas que antes localizavam os indivíduos. O autor define que “esta perda de um ‘sentido de si’ estável61” é chamada de deslocamento ou a descentração do sujeito, o que gera uma “crise de identidade” para o indivíduo:
O excesso de informação e possibilidades está fazendo essa jovem geração ter ansiedade crônica. Está se tornando mais necessários que eles escolham os filtros certos, para organizar suas experiências, com tanto conteúdo e pessoas em suas vidas. O medo de se sentirem perdidos na multidão, faz com que usem linguagem hiperbólica para se expressarem. Nem sempre é fácil entender o que os millennials estão dizendo. Isso porque eles desenvolveram um modo não-linear de pensar, que reflete exatamente a linguagem de internet, onde uma infinidade de assuntos podem ser acompanhados ao mesmo tempo. (We All Want To Be Young, 2010).
O trecho acima exemplifica o que foi dito sobre a descentração do sujeito pós-moderno, colocando a internet como um dos principais agentes responsáveis pelo processo. O fácil acesso a uma grande quantidade de informações na era digital proporciona várias referências, muitas vezes contraditórias, à formação da identidade do
59
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11. ed. Rio de Janeiro. DP&A Editora, 2006. p.12-13. 60 Ibidem. p.08. 61 Ibidem. p.09.
indivíduo social.
1.5. A televisão como agente modernizadora na sociedade líquida.
A televisão62, no sentido de aparelho televisor e sistema eletrônico de reprodução instantânea de imagens e sons, surgiu nos EUA durante o auge da segunda revolução industrial no final da década de 1920, consolidando-se nos lares americanos por volta dos anos 1950. Sendo assim, pode-se entender que a mídia televisiva é uma criação do mundo moderno. A linguagem televisiva assume o papel de atividade institucionalizada e, assim como outras instituições, também se adequou aos novos formatos da sociedade líquida. No trecho abaixo, o sociólogo Anthony Giddens63 explica o que é uma sociedade e como as linguagens assumiram a função de instituição social quando inseridas em seu contexto:
Uma sociedade é um grupo, ou sistema, de modos institucionalizados de conduta. Falar de formas "institucionalizadas" de conduta social é referir-se a modalidades de crença e comportamento que ocorrem e recorrem ou, como expressa a terminologia da moderna teoria social, são socialmente reproduzidas no tempo e no espaço. A linguagem é excelente exemplo de uma forma de atividade institucionalizada, ou instituição, por ser tão fundamental para a vida social. Todos nós falamos línguas que, enquanto indivíduos, nenhum de nós criou, embora possamos utilizar a linguagem de forma criativa.
Essa “fluidez”, proveniente do “derretimento” que ocorre na modernidade líquida, resultou em transformações estruturais no formato desse tipo de mídia que são observadas através do desenvolvimento de um novo formato de tevê com programação segmentada às necessidades específicas de cada perfil de telespectador. Essa modalidade foi implantada ao final do século XX e ficou popularmente conhecida como TV por assinatura. Sobre
62
PINTO, Tales. Breve história da televisão. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/historiag/breve-historia-televisao.htm>. Acesso em: 15 set. 2013. 63 GIDDENS, Anthony. Sociologia: uma breve porém crítica introdução. Rio de Janeiro. Zahar, 1984. apud PASQUALOTTO, Thiago J. A formação da opinião pública na televisão: uma análise dos Simpsons. Disponível em:<http://www.webartigos.com/artigos/a-formacao-da-opinia o-publica-na-televisao-uma-analise-dos-simpsons/14857/ >. Acesso em: 15 ago. 2013.
esse novo formato de televisão, Samuel Possebon64 afirma:
A TV por assinatura foi o laboratório onde a segmentação, a interação e a personalização da informação, hoje tão em voga no mundo na internet, foram testados. O surgimento dessa industria mudou a forma como as pessoas se relacionam com a TV, o que veem e como veem (...) Isso é TV por assinatura, em essência: pagar para receber, na televisão, um conteúdo que de outra forma não estaria disponível.
Esse discurso televisivo exerce enorme influência sobre a formação da opinião pública65. Como conteúdo inserido em um veículo de comunicação segmentada com alto poder de penetração ao seu público, ele revela seu potencial como catalisador de mudanças sociais ao transmitir simulacros que contribuem com a modernização da sociedade. Bauman (2001, p.36) caracteriza a modernização como:
A compulsiva e obsessiva, contínua, irrefreável e sempre incompleta modernização, a opressiva e inerradicável, insaciável sede de destruição criativa (ou de criatividade destrutiva, se for o caso: de “limpar o lugar” em nome de um “novo e aperfeiçoado” projeto;; de “desmantelar”, “cortar” “defasar”, “reunir” ou reduzir”, tudo isso em nome da maior capacidade de fazer o mesmo no futuro - em nome da produtividade ou da competitividade).
O conceito “criatividade destrutiva” citado acima pelo autor tem caráter evolucionista e progressista. Quando se refere a “limpar o lugar” “em nome da produtividade ou competitividade”, ele posiciona a modernização como a troca de algo por uma versão melhor de si. Simulacro, segundo o dicionário Michaelis66, significa “Imagem feita à semelhança de uma pessoa ou coisa, especialmente sagrada”. “Aquilo que a fantasia cria e que representa um objeto sem realidade;; aparência sem realidade”. “Representação de uma personagem ou divindade pagã;; imagem”. “Visão sem realidade;; espectro, fantasma”. “Ação Simulada”.
POSSEBON, Samuel. TV por assinatura: 20 anos de evolução. Samuel Possebon, 2009 . PASQUALOTTO, Thiago J. A formação da opinião pública na televisão: uma análise dos Simpsons. Disponível em:<http://www.webartigos.com/artigos/a-formacao-da-opiniao-publica-na-t elevisao-uma-analise-dos-simpsons/14857/ >. Acesso em: 15 ago. 2013. 66 WEISZFLOG, Walter. Michaelis Moderno. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/modern o/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=simulacro>. Acesso em: 15 set. 2013. 64
65
Baudrillard67 comenta sobre simulação e dissimulação no trecho abaixo:
Dissimular é fingir não ter o que se tem. Simular é fingir ter o que não se tem. O primeiro refere-se a uma presença, o segundo a uma ausência. Mas é mais complicado, pois simular não é fingir. Aquele que finge uma doença pode simplesmente meter-se na cama e fazer crer que está doente. Aquele que simula uma doença determina em si próprio alguns dos respectivos sintomas. Logo fingir, ou dissimular, deixam intacto da realidade: a diferença continua a ser clara, está apenas disfarçada, enquanto que a simulação põe em causa a diferença do “verdadeiro” e do “falso”, do “real” e do “imaginário”.
O conteúdo televisivo do gênero ficção é feito de simulações da vida cotidiana, à exemplo dos seriados estadunidenses. Sobre os gêneros televisuais, Simone Rocha68 comenta:
Dentre os discursos sociais disponíveis e que nos oferecem um modo de ver e conhecer aspectos de nossa realidade social, aqueles veiculados pela TV são fundamentais. (...) “os gêneros são categorias discursivas e culturais que se manifestam sob a forma de subgêneros e formatos” (DUARTE, 2006, p.1) sendo que “o subgênero seria da ordem da atualização;; o formato da ordem da realização”. (DUARTE, 2006, p. 5). (...) Compreendemos que a televisão não mostra a realidade e, sim, apresenta-a de forma própria, bem como acreditamos que o universo ficcional tem possibilidades tão próximas da realidade quanto outras. A nosso ver os gêneros, ao oferecerem uma promessa, enriquecem o entendimento, pois são convenções, uma espécie de estrutura geral que orienta a maneira de significar os programas, determinando regras, modos e limites para o processo de produção. Compreendê-los dessa maneira permite-nos identificar como significados e acontecimentos são codificados na feitura de um determinado produto cultural.
Essas simulações têm a capacidade de subverter valores e moralismos, além de introduzir novos estilos de vida à sociedade líquida;; pois de acordo com Hall69, a formação de identidade do sujeito pós-moderno é feita através das interações que o mesmo tem com os diversificados elementos presentes no ambiente ao seu redor, tanto no real quanto no virtual.
67
BAUDRILLARD, Jean. Simulacro e simulações. Lisboa: Relógio D’água, 1991. p. 09-10. ROCHA, Simone Maria. Como a noção de gênero televisivo colabora na interpretação das representações. MOTTA GOMES, Itania Maria. Televisão e Realidade, Salvador: EDUFBA, p.267-291, 2009. ISBN 978-85-232-0671-0. 69 HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11. ed. Rio de Janeiro. DP&A Editora, 2006. p. 12-13. 68
McLuhan70 comenta a influência imagética da televisão sobre a sociedade:
O que era preferência pela câmera cinematográfica nos anos 20 e 30, passou a ser preferência pela câmara de TV nos anos 50 e 60, e este deslocamento abrangeu toda a população. Nestes dez anos, o novo gosto americano em matéria de roupa, alimentação, alojamento, diversão e veículos exprime o novo padrão de inter-relação de formas de desenvolvimento do tipo “faça você mesmo” gerado pela imagem da TV.
Expor o público à novas tendências sociais através da ficção televisiva é um dos modos pelo qual é possível induzir novos comportamentos à sociedade, abrindo espaço para questionamentos e debates, tornando-a passível de ser modernizada pela mídia audiovisual.
70
MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem. São Paulo. Cultrix, 1964. p. 360.
METODOLOGIA O seriado juvenil “Buffy, a caça-vampiros” (Buffy the Vampire Slayer) - programa originalmente exibido entre o final do século XX e o início do século XXI, foi escolhido como o objeto de análise deste estudo comunicacional. Partindo do método indutivo, através do estudo desse caso particular, pretende-se compreender como as representações culturais da pós-modernidade são apresentadas em seriados americanos de televisão e quais são suas implicações na formação de identidade do seu público. O referencial teórico, feito através de pesquisa bibliográfica, envolveu artigos publicados em periódicos disponíveis em bancos de dados na internet, bem como artigos de sites educativos e documentários realizados por uma empresa de pesquisa. Além de livros que apresentam conceitos referentes às modernidades sólida e líquida e a identidade cultural na pós-modernidade. Para maior compreensão acerca desse tema através do objeto de estudo, fora observada a importância de preparar um guia do enredo das sete temporadas do seriado. Esse resumo será apresentado antes da análise realizada através do método descritivo, “onde não há interferência do pesquisador, isto é, ele descreve o objeto de pesquisa71”. Foram analisadas as características contraditórias das identidades das personagens Buffy e Willow sob a ótica de Hall72, acerca de seus estudos sobre a identidade do sujeito pós-moderno;; e os elementos que o círculo de amizades das personagens possui em comum com os dos padrões da família pós-moderna, estabelecidos pelo sociólogo Michael Rosenfeld73- levando em consideração o ponto de vista de Jes Battis74. No que se diz respeito ao modo que os jovens da geração “Y” lidam com as suas carreiras na pós-modernidade, foi feita uma análise da trajetória do personagem Xander após este se graduar no ensino médio. Por último, foi realizado um levantamento das referências religiosas presentes no programa. 71
BARROS, Aidil Jesus da Silveira;; LEHFELD, Neide Aparecida de Souza. Fundamentos de metodologia científica: um guia para a iniciação científica. 3. ed., ampl. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2007. p.84. 72 HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11. ed. Rio de Janeiro. DP&A Editora, 2006. 73 ROSENFELD, Michael. The Postmodern Family. Disponível em: <http://philosophytalk.org/shows/postmodern-family>. Acesso em 19 ago. 2013. 74 BATTIS, Jes. Blood Relations: Chosen Families in Buffy the Vampire Slayer and Angel. McFarland, 2005
Nas considerações finais, foi estabelecida a relação entre as representações identificadas e a influência que essas podem exercer na formação da opinião pública dos telespectadores do objeto de estudo, fazendo uso do conteúdo levantado no referencial teórico a respeito da televisão como agente modernizadora na sociedade líquida. Como as análises foram organizadas prioritariamente por tópicos, elas não se limitam a um determinado episódio, abrangendo vários, apresentando transcrições dos diálogos que sustentam os argumentos defendidos pelo trabalho. Essas análises descritivas foram realizadas através do acesso do pesquisador aos discos da coleção de DVDs "The Chosen Collection75" e a plataforma virtual "Netflix76", além da leitura dos livros "Buffy, a caça-vampiros e a Filosofia77" e "Why Buffy Matters: The Art of Buffy the Vampire Slayer78". As referências bibliográficas foram organizadas em três listas: a de livros e artigos consultados, a de materiais especiais obtidos através de multimeios e a de homepages institucionais que forneceram dados para esta pesquisa. As imagens em anexo foram separadas em duas categorias: "materiais de pesquisa", com figuras de produtos relacionados a série que foram citados durante o trabalho;; e "monstros e vilões de BaCV", com figuras de personagens mencionados durante a análise descritiva.
75
Buffy, the vampire slayer: the chosen collection. 1997-2003. Criação e Produção Executiva de: Joss Whedon. Co-Produção de: David Greenwalt, Marti Noxon. Intérpretes: Sarah Michelle Gellar, Alyson Hannigan, Nicholas Brendon. Los Angeles: Fox Home Entertainment, 2005. 40 discos, DVD. 76 NETFLIX BRASIL. São Paulo. Disponível em: <http://movies.netflix.com/WiHome?locale=pt-BR>. Acesso em: 28 ago. 2013. 77 SOUTH, James B., and William Irwin, eds. Buffy, a caça-vampiros ea Filosofia: medo e calafrios em Sunnydale. São Paulo. Madras, 2004. 78 WILCOX, Rhonda. Why Buffy Matters: The Art of Buffy the Vampire Slayer. IB Tauris Publishers, 2005.
2. BUFFY, A CAÇA-VAMPIROS: UM GUIA DO ENREDO.
2.1 - Primeira Temporada:
Figura 01: Elenco da primeira temporada, da esquerda pra direita - Nicholas Brendon (Xander), Anthony Stewart Head (Giles), Sarah Michelle Gellar (Buffy), Charisma Carpenter (Cordelia) e Alyson Hannigan (Willow). Fonte: http://tvcoffeeandbooks.files.wordpress.com/2013/05/turminha-da-pesada.jpg. Acesso em: 14 out. 2013.
Após os eventos que ocorreram no roteiro original do filme BaCV, Buffy e sua mãe tentam começar uma vida nova na pequena cidade de Sunnydale. A adolescente está disposta a esquecer seus dias como caça-vampiros, no entanto, descobre que Sunnydale foi construída em cima de um centro de convergência mística - a "Boca do Inferno" - e que o bibliotecário britânico de sua nova escola, Rupert Giles, foi enviado pelo “Conselho 79
” para treiná-la. Em sua primeira missão, Buffy salva as vidas de Willow e Xander, colegas de
escola, que rapidamente se tornam seus melhores amigos e parceiros no combate ao mal. Ela também conta com a ajuda do misterioso Angel, que mais tarde se revela um vampiro com alma80. Além de seus deveres de caçadora, Buffy e seus amigos precisam conviver com as provocações de Cordelia Chase, a garota mais popular da escola.
79
Sociedade secreta que há gerações treinam as caça-vampiros. Na mitologia de BaCV, um pessoa perde a alma quando é vampirizada, em decorrência disso ela fica apta a seguir seus instintos assassinos sem arrependimentos. 80
2.2 - Segunda Temporada:
Figura 02: Elenco da segunda temporada, da esquerda pra direita - David Boreanaz (Angel), Sarah Michelle Gellar (Buffy), Alyson Hannigan (Willow), Nicholas Brendon (Xander) e Charisma Carpenter (Cordelia). Fonte: http://images2.wikia.nocookie.net/__cb20101015020025/buffy/images/5/58/BuffyCast-S2_(1).jpg. Acesso em: 14 out. 2013.
Após ter morrido afogada, por alguns minutos, enquanto tentava impedir o grande vilão da primeira temporada - o "Mestre dos Vampiros81" - de ascender à superfície, Buffy tenta superar o trauma e acaba se aproximando mais de Angel, que perde sua alma após ter tido uma noite íntima com a caçadora, devido a uma maldição cigana que o impediria de ter um momento de felicidade verdadeira. Sem alma, Angel se transforma no impiedoso Angelus, que junto com os vampiros Spike e Drussila, constituem os grandes vilões da segunda temporada.
81
Anexo 2, Figura 7.
Kendra, a caça-vampiros que foi ativada após a morte de Buffy, fez algumas participações nesta temporada antes de ser assassinada por Drussila. Xander inicia um relacionamento com Cordelia, que entra para a Scooby Gang - o nome pelo qual Buffy e seus amigos referem-se a si mesmos - após descobrir a existência de vampiros e o dever sagrado da caçadora. Desiludida com sua paixão platônica, Willow inicia um relacionamento com o músico e lobisomem Oz82. Ela começa a estudar ocultismo e magia negra após a morte da professora Jenny Calendar (também assassinada por Angelus), conseguindo restaurar a maldição sobre Angel, mas não em tempo de impedir Angelus de ter aberto uma fenda que faria a Terra ser "engolida" por um “universo paralelo infernal”, obrigando Buffy a enviá-lo para essa dimensão afim de fechar o portal e de salvar o planeta.
2.3 - Terceira Temporada:
Buffy foge de casa e vive durante três meses em Los Angeles, tentando superar o que foi obrigada a fazer com o amor de sua vida. Ao voltar para Sunnydale, descobre que Willow decidiu se tornar uma bruxa praticante após ter conseguido restaurar a alma de Angel, que retorna para o universo da caçadora através dos poderes do “Primeiro Mal”, que disse ter planos para ele. Cordelia termina seu relacionamento com Xander e se afasta da Scooby Gang após ter flagrado uma traição. A “demônio de vingança” Anyanka83 é introduzida na série ao criar uma realidade alternativa, concedendo um desejo para Cordelia, no qual Buffy nunca teria chegado em Sunnydale. Faith, a nova caça-vampiros que foi ativada após a morte de Kendra, chega à "Boca do Inferno". Fazendo uso de seu próprio método sanguinário de caça, a problemática nova caçadora acaba por se render ao mal, ajudando o prefeito/fundador de Sunnydale - o grande vilão da terceira temporada - a planejar sua ascensão a um demônio superior e para isso ele teria que devorar todos os alunos da turma de Buffy no dia de suas formaturas.
82
Anexo 2, Figura 2. Anexo 2, Figura 4.
83
Figura 03: Elenco da terceira temporada, da esquerda pra direita - Nicholas Brendon (Xander), Anthony Stewart Head (Giles), Charisma Carpenter (Cordelia), David Boreanaz (Angel), Sarah Michelle Gellar (Buffy), Seth Green (Oz) e Alyson Hannigan (Willow). Fonte: http://images.sodahead.com/polls/000370231/polls_buffy3_1351_311604_poll_xlarge.jpeg. Acesso em: 14 out. 2013.
2.4 - Quarta Temporada:
Angel e Cordelia se mudam para Los Angeles e abrem uma agência de investigações paranormais, dando origem a série “Angel”. Buffy, Willow e Oz vão estudar na "UC Sunnydale". Xander tenta encontrar seu próprio caminho entrando no mercado de trabalho, enquanto namora Anya Jenkings, o nome que a ex-demônio Anyanka adotou após ter perdido seus poderes graças a Giles, que segue a vida desempregado, oferecendo sua casa como ponto de encontro para as
reuniões da Scooby Gang. Buffy inicia um relacionamento com Riley e mais tarde descobre que ele é agente de uma organização militar destinada a estudar vampiros e demônios: a “Iniciativa”. Esse órgão implanta um chip no cérebro do vampiro Spike, o impedindo de ter qualquer impulso violento contra seres não-demoníacos. Willow descobre sua homossexualidade ao se apaixonar por Tara, outra bruxa que mora no campus, após Oz tê-la abandonado ao perceber que havia perdido o controle de seus poderes licantrópicos.
Figura 04: Elenco da quarta temporada, da esquerda pra direita - Seth Green (Oz), Anthony Stewart Head (Giles), Nicholas Brendon (Xander), Marc Blucas (Riley), Sarah Michelle Gellar (Buffy), James Masters (Spike) e Alyson Hannigan (Willow). Fonte: http://1.bp.blogspot.com/-vq7VqrHAQVM/UCZ52OV0VRI/AAAAAAAAirU/zTpQdBdFGWU/s1600/7.b uffy.jpg. Acesso em: 14 out. 2013.
2.5 - Quinta Temporada:
Figura 05: Elenco da quinta temporada, da esquerda pra direita - Alyson Hannigan (Willow), Anthony Stewart Head (Giles), Sarah Michelle Gellar (Buffy), Amber Benson (Tara), Michele Tratchtenberg (Dawn), James Masters (Spike), Emma Caufield (Anya), Nicholas Brendon (Xander) e Marc Blucas (Riley). Fonte: http://static.wetpaint.me/ringer/ROOT/photos/buffycover1-4420960485389572784.jpg. Acesso em: 14 out. 2013.
Dawn, a irmã caçula de Buffy, é misteriosamente apresentada no seriado. Mais tarde, a caçadora descobre que Dawn é uma “chave” procurada há décadas pela "deusa infernal" Glorificus84 ou Glory, para ser usada para abrir uma fenda que serviria como meio de retorno ao mundo que criou, liberando dessa forma diversos seres demoníacos de outras dimensões na Terra. Ela foi transformada em humana por monges que queriam proteger o planeta através da caça-vampiros, "injetando" falsas memórias em Buffy e em todos com quem ela teve contato. Riley parte de Sunnydale ao descobrir que a caçadora não retribui seus sentimentos 84
Anexo 02, Figura 06.
da mesma forma. No entanto, Anya e Xander, assim como Willow e Tara, consolidam seus relacionamentos. Joyce, a mãe de Buffy, falece devido a um tumor cerebral obrigando a caçadora a abandonar os estudos para tomar conta de sua irmã. Giles abre uma loja de itens mágicos, a "Magic Box", que acaba se transformando no novo ponto de encontro da Scooby Gang, que começa a receber a colaboração de Spike, agora inofensivo, devido ao chip que a extinta Iniciativa implantou em seu cérebro. Ao final da temporada, Buffy salva sua irmã e o mundo ao pular de uma torre em cima da fenda aberta por Glory, resultando em sua morte. Última temporada exibida pelo canal The-WB.
2.6 - Sexta Temporada:
Figura 06: Elenco da sexta temporada, da esquerda pra direita - Michele Tratchtenberg (Dawn), James Masters (Spike), Sarah Michelle Gellar (Buffy), Amber Benson (Tara), Alyson Hannigan (Willow), Nicholas Brendon (Xander) e Emma Caufield (Anya). Fonte: http://www.syfy.co.uk/sites/syfy.co.uk/files/styles/show_keyart_560x280/public/Header_2.jpg?itok=co 2Uo8f5. Acesso em: 14 out. 2013.
O sexto ano do programa foi o primeiro exibido pelo canal UPN. Willow e a Scooby Gang fazem um feitiço para ressuscitar Buffy, que estava no paraíso e retorna sem vontade de viver nesse mundo. Situação que se agrava quando ela descobre que não tem dinheiro para se sustentar, tampouco para sustentar Dawn e que sua aplicação para uma bolsa de estudos na "UC Sunnydale" foi rejeitada. Então, a caçadora de vampiros se vê obrigada a trabalhar em uma lanchonete para pagar as contas e tentar dar um futuro decente a Dawn, como válvula de escape, ela mantém relações sexuais com Spike sem que ninguém saiba. Willow, que precisou invocar poderosas forças sombrias para combater Glory no final da temporada passada e ressuscitar Buffy no início dessa, acaba se viciando em magia negra, o que resulta no término de seu relacionamento com Tara. Xander abandona Anya no altar, no dia de seu casamento, ao perceber que não estava pronto para assumir tal compromisso, tamanho ódio e decepção faz com que Anya ganhe seus poderes de volta e retorne a ser uma "demônio da vingança". Giles vai embora para a Inglaterra logo após a ressureição de Buffy ao perceber que sua presença atrapalhava a caçadora de assumir os compromissos da vida adulta. Os grandes vilões da temporada são o "trio85", um grupo de nerds com o objetivo de dominar a cidade e a caça-vampiros, até que um deles atira em Buffy e acidentalmente mata Tara com uma bala no coração, isso faz com que Willow perca de vez o controle de seus poderes, assassine um deles e em seguida invoque o templo de uma "deusa satânica" afim de destruir a raça humana. Quem salva o mundo é Xander, cuja amizade traz à tona o pouco de humanidade restante em Willow.
2.7 - Sétima Temporada:
Willow se recupera na Inglaterra com Giles, enquanto Buffy e Xander treinam Dawn para ajudá-los a patrulhar Sunnydale.
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Anexo 02, Figura 06.
Anya continua realizando desejos de vingança de mulheres com problemas de relacionamento ao redor do mundo até não conseguir mais sentir satisfação em ser uma criatura das trevas, fazendo com que ela volte a ser humana e perca seus poderes, retornando assim para a Scooby Gang para ajudar Buffy com seus conhecimentos sobre demonologia, com o intuito de combater a mais antiga força sombria existente no universo: o “Primeiro Mal”. Willow volta para Sunnydale e juntos reúnem um exército de "Potenciais" - garotas que poderiam ser a próxima caça-vampiros caso Faith morresse, essa, após ajudar Angel em Los Angeles, retorna para Sunnydale com o objetivo de auxiliar Buffy a treinar essas garotas para uma batalha contra os “Turok-Hans86”. A série termina ao final da batalha, quando Sunnydale é "engolida" pela "Boca do Inferno" junto com os corpos de Anya e Spike, que nessa temporada lutou ao lado de Buffy com alma87, tendo o chip implantado pela “Iniciativa” retirado de seu cérebro.
Figura 07: Elenco em cena final da sétima temporada, da esquerda pra direita - Michele Tratchtenberg (Dawn), Anthony Stewart Head (Giles), Eliza Dushku (Faith) Sarah Michelle Gellar (Buffy), Alyson Hannigan (Willow) e Nicholas Brendon (Xander). Fonte: http://nowhitenoise.com/wp-content/uploads/2013/01/btvs-s7.jpg. Acesso em: 14 out. 2013.
86 Vampiros primitivos com força superior aos híbridos (humanos vampiros). Anexo 02, Figura 5. 87
Ao final da sexta temporada, após se arrepender por ter tentado estuprar Buffy, Spike parte para a África e faz um pacto com um demônio que restaura sua alma.
3. BUFFY, A CAÇA-VAMPIROS: A SÉRIE DE TV E A PÓS-MODERNIDADE.
3.1 - A identidade pós-moderna em BaCV:
3.1.1 - Colegial, universitária, figura materna e caça-vampiros.
Em Welcome to the Hellmouth88, Buffy é uma adolescente de 16 anos tentando se adaptar em uma escola secundária na Califórnia no final da década de 1990. Ela não quer pertencer a um grupo específico, apesar de ter sido naturalmente aceita por Cordelia ( a garota mais popular do colégio “Sunnydale High”), ela ainda demonstra interesse em se tornar amiga de Willow, mesmo tendo presenciado a humilhação que a ruiva sofreu de Cordy em frente ao bebedouro do corredor da escola:
Cordelia: Willow! Que vestido legal. Vê-se que você frequenta a Sears. Willow: Uh, oh, foi minha mãe que escolheu. Cordelia: Por isso que você faz sucesso com os rapazes, já terminou? Willow: Uh, oh. (Willow retira-se do recinto). Cordelia para Buffy: Para se adaptar aqui, saiba identificar seus perdedores. (...) Buffy: Oi. Willow: Oi Buffy: Você é a Willow, né? Willow: Por quê? Quer dizer, oi! Você quer que eu saia daqui? Buffy: Que tal começarmos com: Eu sou a Buffy? E continuamos comigo lhe pedindo um favor, que implica em você conversar um pouco comigo. Willow: Mas você não é amiga da Cordelia? Buffy: Não posso ser amiga de vocês duas? Willow: Legalmente não. Buffy: Quero me adaptar muito bem aqui. Escola nova, e… a Cordélia foi muito legal. Pelo menos comigo. Mas eu não estou querendo me dar mal nas minhas matérias. Ouvi dizer que você é a pessoa indicada para estudar comigo. (Welcome to the Hellmouth / Bem vindos à Boca do Inferno, Parte Um)
Temporada 01 : Episódio 01. Exibido originalmente em 03/03/1997. Escrito por Joss Whedon. Dirigido por Charles Martin Smith. 88
Além de se tornar popular, Buffy também demonstra interesse em tirar boas notas, pertencendo assim não somente ao grupo das “patricinhas”, mas também aos dos “nerds”. A personagem em sua fase adolescente é uma representação da identidade fragmentada do sujeito pós-moderno, teoria proposta por Hall89, que apresenta o indivíduo “composto não de uma única, mas de várias identidades, algumas vezes contraditórias ou não-resolvidas”. Nesse mesmo episódio, a protagonista também representa esse “conflito de identidades” ao descobrir que o novo bibliotecário de “Sunnydale High”, Rupert Giles, é na verdade o seu novo vigilante enviado pelo “Conselho” para treiná-la (visto que o último morreu tragicamente em Los Angeles), e que a cidade de Sunnydale foi construída acima de uma “Boca do Inferno”. Buffy reluta em aceitar novamente o seu destino como caça-vampiros. Parte dela quer ser uma heróina e salvar pessoas inocentes, ela vê essa escolha como moralmente correta. No entanto, outra parte dela também tem interesse em ser somente uma garota “normal”, mesmo que outras pessoas se machuquem por causa disso:
Buffy: É o meu primeiro dia, estava preocupada que eu ia chegar atrasada nas aulas, que não ia fazer amigos, que meu cabelo ia ficar fora de moda. Eu não achei que haveria vampiros na escola. E isso não me importa. Giles: Então por que está aqui? (Na biblioteca). Buffy: Hum. (Hesitação). Buffy: Para dizer que eu não me importo. (Welcome to the Hellmouth / Bem vindos à Boca do Inferno, Parte Um)
Obviamente, Buffy se importa. Posteriormente ela aceita seu destino como caça-vampiros e restringe seu círculo social à Giles, Willow e Xander, nascendo assim a Scooby Gang. Esse conflito também é abordado em outras situações no decorrer da série. No episódio What’s My Line? - Part One90, a caçadora participa de uma feira vocacional e percebe que suas escolhas profissionais são bem limitadas devido ao seu dever sagrado:
89
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11. ed. Rio de Janeiro. DP&A Editora, 2006. p. 12-13. 90 Temporada 02 : Episódio 09. Exibido originalmente em 17/11/1997. Escritor por Howard Gordon e Marti Noxon. Dirigido por David Solomon.
Giles: Buffy, vá mais devagar, por favor. Buffy: Giles, temos trabalho a fazer. Vamos em frente. Giles: Você está sendo imatura. Buffy: Sabe porquê? Sou uma adolescente, ainda não amadureci. Giles: Só fiz uma crítica construtiva. Buffy: Não. Você foi indelicado. Como se eu tivesse escolhido isso. Eu é que fui escolhida. Giles: É mais que uma missão. É uma tarefa sagrada. A qual não precisa impedi-la de procurar um emprego gratificante. Tal como eu fiz. Buffy: Uma coisa é ser sentinela e bibliotecário, essas coisas combinam, tal como uma galinha, e outra galinha. Ou duas galinhas, ou algo assim. Sabe o que quero dizer. Ninguém repara se você passa todo o seu tempo com os livros. O que eu posso fazer? Fabricar estacas? Giles: Entendo seu ponto de vista. Admito que eu nunca...Tenho uma ideia. Já pensou em trabalhar com o cumprimento da lei, na polícia? Buffy: Argh. (What’s My Line? - Part One / O que é que eu Faço? - Parte Um)
Em Choices91, a loira cogita com Wesley e Giles a possibilidade de sair de Sunnydale afim de estudar em Illinois na universidade Northwestern:
Wesley: Não entendo. Buffy: Acho que não entendeu, Wes. Quero sair. Wesley: Agora? Buffy: Não, agora não. Depois de me formar. Faculdade? Wesley: Mas você é a Caça-Vampiros. Buffy: Sou uma pessoa. Não pode me ver só como caça-vampiros. Isto é… um tipo de estigma. Giles: Sei que falamos sobre sua saída. Buffy: Entrei na Northwestern. Giles: Que ótima notícia. Parabéns. Wesley: Muito bem. Monstros, demônios, mundo em perigo? Buffy: Deve haver tudo isso em Illinois. Wesley: Você não pode sair de Sunnydale. Com o poder me dado ao conselho, eu a proíbo. Buffy: Claro, isso resolve tudo. Wesley: Faith ficou má e tem o prefeito. Buffy: Sei que é complicado. Sei que minha formatura pode ser adiada, mas e se eu parar a Ascensão e Faith? Giles: Espero que pare. Buffy: Se fizer isso, só precisarão controlar as forças do mal. E voltarei em tempo para a agitação. E há as férias. Podemos ao menos pensar? Wesley: Se fosse diferente… Buffy: Farei com que seja. (Choices / Opções)
Temporada 03 : Episódio 19. Exibido originalmente em 05/04/1999. Escrito por David Fury. Dirigido por James A. Contner. 91
Em The Freshman92, Buffy começa uma nova vida ao virar universitária na “UC Sunnydale”, passando a morar no campus e ganhando a oportunidade de criar uma nova identidade. No entanto, em seu primeiro dia de aula, ela sente dificuldades em assimilar todas as informações as quais é exposta, se sentindo esmagada pelo tamanho da biblioteca, pela diversidade cultural dos estudantes e pelo rigor dos professores, além de perceber que Willow e Oz estão se ajustando bem. Todos esses fatores somados a faz se sentir “perdida”.
Xander: Como é a universidade? Buffy: Está bem. A universidade é boa. Xander: Diga outra vez, com menos entusiasmo. Buffy: Não, falo sério. A Willow está no céu e… o Oz tem uma casa legal com a banda, fora do campus da universidade. Xander: E você está aqui sozinha no bar, com cara de doença fatal. Buffy: É que… tem uma vampira lá, que me derrotou e eu… Não sei como detê-la. Xander: E onde está o pessoal? Vamos nos reunir! Vamos lá! Buffy: Não, não quero incomodá-los. Estão começando a faculdade, e não precisam disso. (...) Xander: Afinal de contas, a universidade não é assim tão assustadora, certo? Buffy: Está começando a se parecer um pouco com o colégio e com isso eu posso lidar. Pelo menos sei o que esperar. (The Freshman / A Caloura)
No episódio Tough Love93, Buffy anuncia a seus professores que não poderá concluir aquele semestre na faculdade, pois terá que cuidar melhor de sua irmã caçula após a trágica morte de sua mãe. É nesse momento que a caça-vampiros perde sua identidade de estudante universitária e cria uma nova, exercendo a função de figura materna e chefe de família para Dawn, onde Buffy abre mão da própria juventude para assumir a responsabilidade de se tornar um modelo para uma adolescente de 14 anos.
Buffy: Eu simplesmente não sei o que fazer. Ela está fazendo bobagem e eu também. É uma loucura. Giles: Você tem de ser mais severa. Temporada 04 : Episódio 01. Exibido originalmente em 05/10/1999. Escrito por Joss Whedon. Dirigido por Joss Whedon. 93 Temporada 05 : Episódio 19. Exibido originalmente em 01/05/2001. Escrito por Rebecca Rand Kirshner. Dirigido por David Grossman. 92
Buffy: Eu tento, mas eu não estou acostumada a ser severa. Eu quero que você seja. Você pode ser severo. Giles: Não Buffy, acho que não. Buffy: Por favor? Por favor? Você pode ser muito mais severo do que eu. E você é muito mais amadurecido do que eu. Dawn precisa de uma figura de autoridade, uma mão firme. Ela o ouvirá. Giles: Como você sempre fez. Buffy: Eu ouço. De verdade. Giles: Então preste atenção. Eu posso ser maduro, mas você é a família dela, a única família dela, ela precisa que você faça isso. (Tough Love)
Apesar de exercer a função de figura materna, Buffy explica para Angel no episódio Chosen94 que ainda não estava preparada para assumir tal responsabilidade, levando em consideração que, mesmo sendo a guardiã legal de Dawn, ela ainda não terminou de se tornar quem ela supostamente deveria ser:
Buffy: Sabe, em meio a toda essa… loucura, algumas coisas estão começando a fazer sentido. Sobre os homens… Eu achava que havia algo errado comigo… porque eu não fazia dar certo. Talvez eu não deva fazer. Angel: Porque você é a Caçadora. Buffy: Porque… Certo, eu sou massa de biscoito. Não estou no ponto ainda. Não terminei de me tornar… o que eu nem sei ainda o que devo ser. Talvez eu passe por esta e pela próxima… e depois para a próxima… e talvez um dia eu acorde e perceba que estou pronta… que sou biscoito. (Chosen / A Escolhida)
No decorrer de sete temporadas, Buffy assumiu várias identidades que foram formadas e modificadas a partir de circunstâncias externas, “na ‘interação’ entre o eu e a sociedade95”. Essas identidades contraditórias entravam constantemente em conflito de interesses, fênomeno o qual Hall classificou como o descentramento do sujeito pós-moderno, pois Buffy tinha “identidades contraditórias, empurrando em diferentes direções96” enquanto colegial, universitária, figura materna e caça-vampiros.
Temporada 07 : Episódio 22. Exibido originalmente em 20/05/2003. Escrito por Joss Whedon. Dirigido por Joss Whedon. 95 HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11. ed. Rio de Janeiro. DP&A Editora, 2006. p. 11. 96 Ibidem. p. 12. 94
3.1.2 - Estudiosa, hacker, wicca, vampira e portadora do apocalipse.
James B. South publicou um ensaio97 interessante sobre a personagem Willow Rosenberg em “Buffy, a caça-vampiros e a Filosofia”. Ele comenta sobre sua multiplicidade de talentos e os vários “lados” da personagem que foram apresentados no decorrer do seriado.
Podemos começar com um ponto básico a respeito de Willow. No fim da sexta temporada, Willow é a única personagem central da série que ainda não descobriu seu lugar no mundo. Ainda está lutando para definir quem ela é. Esse fato em si já torna interessante uma exploração de suas ações e escolhas, pois ela não encontrou ainda um meio de estar confortavelmente no mundo. (...) Um problema que Willow enfrenta é a grande multiplicidade de papéis que ela interpretou na vida, além de Wicca, excelente aluna e ajudante da caça-vampiros. Essa extravagante variedade de interesses e funções é uma evidência do fato de que não parece haver uma identidade central em Willow - nada a define. (SOUTH, 2004. p.140)
Quando Buffy conhece Willow em Welcome to the Hellmouth98, logo percebemos que ela se encaixa no estereótipo “nerd”, pois demonstra exorbitante empolgação com os estudos, característica que a maioria dos jovens de sua idade aparentemente não demonstram:
Willow: Se estiver livre na sexta aula, podemos ir à biblioteca. Buffy: Melhor não. Talvez um lugar mais calmo, é...agitado. Aquele lugar me assusta. Willow: Todos pensam assim, mas eu adoro ir lá. Tem um acervo ótimo e o novo bibliotecário é muito legal. Buffy: Ele é novo? Willow: É, ele acabou de chegar. Ele era curador de um museu britânico ou do Museu Britânico. Não sei bem. Ele sabe tudo. Ele trouxe esses livros de história. Você deve estar me achando chatíssima. Buffy: De jeito nenhum. (Welcome to the Hellmouth / Bem vindos à Boca do Inferno, Parte Um)
97
SOUTH, James B., “Meu Deus, é como uma tragédia grega”: Willow Rosenberg e a irracionalidade humana. SOUTH, James B., and William Irwin, eds. Buffy, a caça-vampiros ea Filosofia: medo e calafrios em Sunnydale. São Paulo. Madras, p.137-150, 2004. 98 Temporada 01 : Episódio 01. Exibido originalmente em 03/03/1997. Escrito por Joss Whedon. Dirigido por Charles Martin Smith.
Joss Whedon a descreveu no roteiro original99 do episódio piloto como:
She is shy, bookish, and very possibly dressed by her mother. The inteligence in her eyers and the sweetness of her smile brings a genuine charm that is lost on the unsubtle high school mind. It’s certainly lost on Xander, though he brightens considerably to see her. The new face forgotten, at least for now. (...) Ela é tímida, estudiosa e provavelmente é sua mãe quem escolhe suas roupas. A inteligência no seu olhar e a doçura do seu sorriso traz a tona um charme genuíno que está perdido na obviedade da mentalidade dos jovens secundaristas. Com certeza está perdido em Xander, embora ele a note. O novo rosto esquecido, pelo menos por enquanto. (Tradução Livre)
Em The Freshman100 ela fala pra Buffy que se encaixou muito melhor na faculdade do que no colégio:
Willow: É que no colegial ninguém queria aparentar saber nada. Tínhamos que nos esforçar pra aprender. Já aqui, a energia, a inteligência coletiva… é como uma força penetrante. E já sinto a minha mente se abrindo, sabe? Deixando esse lugar penetrá-la e e esguichar sabedoria na… Essa frase acabou em um lugar diferente daquele em que começou. Buffy: Estou contigo. Sou a favor da sabedoria que esguicha. (The Freshman / A Caloura)
No início da série, Willow ajudava Buffy invadindo bancos de dados online e fazendo pesquisas em livros com Giles, até o assassinato da Profª Jenny Calendar por Angelus em Passions101. Após esse trágico evento, o diretor do colégio “Sunnydale High”, Snyder, pede para que ela substitua-a temporariamente nas aulas de informática. Ao ler os arquivos que a professora possuía sobre paganismo e ocultismo, a adolescente se interessou e fez um feitiço para que Angelus não entrasse102 mais na casa de Buffy, 99
Buffy, the vampire slayer: the chosen collection. 1997-2003. Criação e Produção Executiva de: Joss Whedon. Co-Produção de: David Greenwalt, Marti Noxon. Intérpretes: Sarah Michelle Gellar, Alyson Hannigan, Nicholas Brendon. Los Angeles: Fox Home Entertainment, 2005. Boxe 01: Disco 01, DVD. 100 Temporada 04 : Episódio 01. Exibido originalmente em 05/10/1999. Escrito por Joss Whedon. Dirigido por Joss Whedon. 101 Temporada 02 : Episódio 17. Exibido originalmente em 24/02/1998. Escrito por Ty King. Dirigido por Michael E. Gershman. 102 Na mitologia popular vampiresca, um vampiro só pode entrar em uma residência se for convidado pelo dono da casa. Na mitologia de Buffy, esse convite pode ser retirado com um feitiço.
além de outros pequenos encantamentos de proteção para a Scooby Gang. Ela descobre que a falecida professora havia encontrado um meio de recuperar a alma de Angel, através da restauração da maldição cigana que havia lhe sido lançada anos atrás. Willow se arrisca a fazer o feitiço, apesar do perigo que o envolve, já que se trata de uma maldição que invoca energias sombrias. Ela o faz com sucesso e logo após se torna uma bruxa praticante. Em Choices103, Willow conta a Buffy que foi aprovada em todas as universidades as quais se inscreveu, incluindo Harvard e Oxford. No entanto, após enfrentar Faith e ter conseguido matar um vampiro com seus poderes, ela encontra um propósito: O de ajudar pessoas ao lado de sua melhor amiga.
Willow: E aqui estou eu, podendo fazer o que quiser. Posso ir para qualquer faculdade do país. E para 4 ou 5 da Europa. Buffy: Aonde quer chegar com isso? Willow: Não. Não quero chegar a lugar nenhum. Buffy: Universidade de Sunnydale? Willow: Fiz matrícula para a turma de 2003. Buffy: Fala sério? Willow: Diga, não é para onde vai? Buffy: Não acredito. Fala sério? Espere. O que estou dizendo? Não pode. Willow: Como assim, não posso? Buffy: Não te deixarei. Willow: Como assim, não posso? Buffy: Não te deixarei. Willow: Das duas, quem manda em mim? Buffy: Há escolas melhores. Willow: Sunnydale não é ruim. E posso planejar meu currículo. Buffy: Há escolas mais seguras. Há prisões mais seguras. Não pode ficar por minha causa. Willow: Não é por você. Embora goste de você, não me entenda mal. Noite passada, ao ser capturada, ficando cara a cara com Faith, as coisas ficaram mais claras. Você combate o mal aqui há três anos, e eu tenho ajudado. E agora temos que decidir o que vamos fazer para o resto de nossas vidas. E descobri que quero fazer isso. Combater o mal, ajudar pessoas. Acho que vale a pena, não acho que você o faz porque é obrigada. É uma boa causa, Buffy. E quero participar. Buffy: Eu te adoro. (Choices / Opções)
A narrativa da série deixa bem claro que Willow nunca teve uma amizade tão
Temporada 03 : Episódio 19. Exibido originalmente em 05/04/1999. Escrito por David Fury. Dirigido por James A. Contner. 103
próxima quanto a de Buffy. Até o dia em que Willow conheceu a caçadora, suas únicas amizades íntimas tinham sido com rapazes: Xander e Jesse, esse foi transformado em vampiro e morto com uma estaca enfiada no coração por Xander no episódio The Harvest104. Em Witch105 ela cita ter tido uma leve amizade com Amy Madison durante o ensino fundamental.
Willow: Ei, Amy... Ela tá legal? Buffy: Ela está preocupada com a mãe dela. A grande Rainha das Líderes de Torcida. Willow: É, a mãe dela é meio... Buffy: Nazista? Willow: Se ela engorda uma grama, ela tranca a geladeira. E só toma sopa. Buffy: Então a supermãe, é na verdade uma madrasta malvada? Willow: Ela tem seu lado ruim, mas a Amy é legal. Nós costumávamos ficar juntas no ensino fundamental. Quando a mãe dela ficava numa de tomar sopa, a Amy ia lá pra casa, e comíamos brownies. (Witch / Bruxa)
Amy Madison era filha de Catherine Madison, uma poderosa bruxa que trocou de corpos com a filha através de um feitiço e tentou matar Buffy, que a aprisionou dentro de uma pequena estátua feita em sua homenagem pelos seus dias de glória como animadora de torcida do time de futebol americano do colégio “Sunnydale High”. Em Bewitched, Bothered and Bewildered106 Amy mostrou ter seguido os passos da mãe em relação à bruxaria. No episódio Gingerbread107 ela se transforma em uma ratazana, por acidente, ficando aos cuidados de Willow até a sexta temporada, quando a bruxa consegue trazê-la de volta à forma humana. Ainda nessa temporada, as duas viram arqui-inimigas devido as suas diferenças ideológicas em consideração ao uso da magia. Com o passar da série, Willow larga cada vez mais suas habilidades de hacker para priorizar o desenvolvimento de suas competências como bruxa. Ao ficar mais poderosa, 104
Temporada 01: Episódio 02. Exibido originalmente em 10/03/1997. Escrito por Joss Whedon. Dirigido por John T. Kretchmer. 105 Temporada 01: Episódio 03. Exibido originalmente em 17/03/1997. Escrito por Dana Reston. Dirigido por Stephen Cragg. 106 Temporada 02: Episódio 16. Exibido originalmente em 10/02/1998. Escrito por Marti Noxon. Dirigido por James A. Contner. 107 Temporada 03: Episódio 11. Exibido originalmente em 11/01/1999. Escrito por Jane Espeson. Dirigido por James Whitmore, Jr.
ela começa a questionar o por quê de ser tão submissa as decisões de Buffy como líder e caça-vampiros. Como aconteceu no episódio Fear It Self108:
Buffy: E como funciona? Willow: Conjura um emissário do além que ilumina o caminho. Buffy: Conjuração, é? Bem, vamos ser realistas, tá? A sua magia básica não passa de 50%. Willow: Ah, é? Sua cara também! Buffy: O quê? O que você quer dizer? Willow: Eu não sou sua coadjuvante! (Fear It Self / O Próprio Medo)
O argumento de Willow se fundamenta no poder, pois está tão forte quanto à caçadora. Sendo assim, sente-se tão capacitada quanto ela. Em Tough Love109, Willow coloca esse ponto de vista em prática ao tentar se vingar de Glory por ter roubado a mente de Tara:
Buffy: Will, descanse. Não pode fazer nada agora. Willow: Eu posso sim. Buffy: Não, nem pense em confrontar a Glory! Willow: Viu o que ela fez! Não posso deixá-la impune! Buffy: Não, é preciso. Nem eu sou páreo pra ela. Willow: Mas talvez eu seja. (Tough Love)
Se Willow canalizou energias negras através do livro “Darkest Magick” (A Mais Negra das Magias - Tradução: Netflix BR110) que estava na “Magic Box” para combater Glory quando esta roubou a mente de Tara, ela perde o controle quando Warren acidentalmente assassina o amor de sua vida e termina por “sugar” o poder e conhecimento de todos os livros de magia negra que também estavam na loja de itens
Temporada 04 : Episódio 04. Exibido originalmente em 26/10/1999. Escrito por David Fury. Dirigido por Tucker Gates. 109 Temporada 05 : Episódio 19. Exibido originalmente em 01/05/2001. Escrito por Rebecca Rand Kirshner. Dirigido por David Grossman. 110 NETFLIX BRASIL. São Paulo. Disponível em: <http://movies.netflix.com/WiHome?locale=pt-BR>. Acesso em: 28 ago. 2013. 108
místicos com a intenção de exterminar todos os membros do “trio” em Villains111. Ela vai atrás de Warren e o esfola vivo, logo após queima seu cadáver sem deixar vestígios, depois persegue Andrew e Jonathan, mas acaba sendo impedida pela Scooby Gang, por não acreditarem que matar humanos seja uma solução. Buffy luta contra Willow, mas fica em desvantagem. É quando Giles interfere fazendo uso dos poderes que recebeu de um coven, mas Willow acaba absorvendo tal poderes, decidindo acabar com o sofrimento do planeta, destruindo-o.
Willow: Adrenalina. Oh, Giles. Quem é seu fornecedor? Estou muito poderosa. Giles, é como se...nenhuma pessoa mortal já tivesse tido tanto poder. É como se eu estivesse conectada à tudo. Eu posso sentir… Parece… Eu posso sentir… todo mundo. Ai, meu Deus. Toda a emoção e a dor. Não, é demais. É demais. Giles: Willow! Não tem que ser assim. Você pode parar. Willow: É, eu posso. Eu tenho que parar com isso. Vou fazer sumir. Giles: Não. Willow: Seus coitados. O seu sofrimento tem que acabar. (Grave 112/ Túmulo)
Quem salva o mundo é Xander, que através de um discurso, resgata o pouco de humanidade restante em Willow.
Willow: Você não pode parar isso. Xander: É, eu sei. Mas para onde eu irei? Você foi minha melhor amiga a vida toda. O mundo vai acabar, onde mais eu estaria? Willow: Este é seu plano? Você vai me deter me dizendo que me ama? Xander: Eu ia levá-la a um penhasco e lhe dar uma bigorna, mas pareceu muito de desenho. Willow: Ainda fazendo piadas. Xander: Eu não estou fazendo piadas. Eu sei que você está sofrendo. Não consigo imaginar a dor que está sentindo. Sei que você está prestes a fazer algo apocalíptico e idiota. E eu ainda quero ser seu amigo. Você é a Willow. Willow: Não me chame assim! Xander: No primeiro dia do jardim de infância, você chorou porque quebrou um lápis amarelo… e ficou com medo de contar para as pessoas. Você mudou muito. Acabar com o mundo não é um ótimo conceito. Mas eu ainda amo você. Eu amo a Willow que quebra lápis e amo a Willow assustadora e cheia de veias. Então, se eu for morrer, vai ser aqui. Se você quer matar o mundo, bem, então comece comigo. Eu mereço isso. Willow: Acha que não mataria? Temporada 06 : Episódio 20. Exibido originalmente em 14/05/2002. Escrito por Marti Noxon. Dirigido por David Solomon. 112 Temporada 06: Episódio 22. Exibido originalmente em 21/05/2002. Escrito por David Fury. Dirigido por James A. Contner. 111
Xander: Não importa. Eu ainda amarei você. Willow: Cala a boca! (Willow abre um corte no rosto de Xander usando magia). Xander: Eu amo você. (Willow usa a mesma magia, dessa vez abrindo vários cortes no corpo de Xander). Eu...amo você. Willow: Cala a boca! (Willow ataca Xander com um feitiço de raios, mas o mesmo falha). Xander: Eu amo você, Willow. Willow: Pare! (Willow tenta usar o mesmo feitiço, mas falha novamente). Xander: Eu amo você. Willow: (choramingando) Pare! (Ela tenta soltar outro feitiço, mas nenhuma faísca sai de suas mãos, ela parte pra cima dele, tenta alguns socos, mas desaba em lágrimas em seu ombro). Xander: Eu amo você. (Ele a abraça enquanto ela chora). (Grave / Túmulo)
Na sétima temporada, Willow sente-se culpada por ter sucumbido aos poderes das trevas, então começa a ficar insegura em relação a eles. Sendo assim, volta a atuar na série como hacker, utilizando sua força somente quando necessária. No entanto, no episódio final, a jovem bruxa consegue realizar um feitiço muito poderoso que foi fundamental para que Buffy, Faith, a Scooby Gang e as Potenciais vencessem a guerra contra o exército de “Turok-Hans” do “Primeiro Mal”.
Como a aparentemente forte Willow, surgida no fim da terceira temporada, pode ser a mesma Willow que se torna viciada em magia, toma uma decisão errada atrás da outra e se torna incapaz de lidar com suas perdas? Não pretendo dizer que há uma resposta à essa pergunta. Mas quero vislumbrar uma estrutura para compreendermos por que não pode haver resposta. (SOUTH113, 2004, p.143).
South (2004) comentou que pode não haver uma resposta para o questionamento que ele levantou acima, mas se analisarmos a personagem sob a ótica114 de Hall (2006), veremos que Willow possui uma identidade descentrada115 e por isso sofreu uma “crise” de deslocamento. Ela não soube lidar com suas perdas porque não possuía mais o que a mantinha “estável”. As atitudes e o comportamento de Willow ficaram na tênue linha entre o bem e o mal quando ela se viciou em magia negra, o que resulta no término de seu relacionamento com Tara. Ela a reconquista após meses de reabilitação. Felicidade que 113
SOUTH, James B., “Meu Deus, é como uma tragédia grega”: Willow Rosenberg e a irracionalidade humana. SOUTH, James B., and William Irwin, eds. Buffy, a caça-vampiros ea Filosofia: medo e calafrios em Sunnydale. São Paulo. Madras, p.143, 2004. 114 HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11. ed. Rio de Janeiro. DP&A Editora, 2006. 115 Ibidem. p. 12-13.
dura pouco por conta do trágico acidente em Villains116, quando Tara é morta por um tiro disparado por Warren que tentava matar Buffy. Tara foi o motivo que manteve Willow focada durante seus meses de reabilitação, ao perceber que ela havia sido morta e que não existia magia que a poderia trazer de volta, ela permite que seu lado negro venha à superfície em busca de vingança. Willow, que dominava as “forças místicas do mal” afim de destruí-lo quando este se opunhava a ela e seus amigos, acabou se deixando destruir por ele, virando um exemplo prático para o clássico ditado popular “o feitiço que virou contra o feiticeiro”. Além da “Dark Willow”117, outra “versão má” de Willow foi apresentada na série: A “Vamp Willow118”. Ela vive em uma realidade paralela criada por Anyanka (demônio da vingança) em The Wish119. Nesse universo, Giles quebra o amuleto de Anya e a transforma em humana na realidade onde ela criou esse novo universo. Em Doppelgangland120, Anya tenta recuperar seus poderes convencendo Willow (que nesse novo mundo é vampira) a fazer um feitiço para que ela recupere seu amuleto perdido no universo que criou, mas o feitiço falha e acaba trazendo a Willow dessa realidade paralela para a realidade padrão apresentada na série. O curioso é que ambas “Vamp” e “Dark” Willow usam a frase “Já Cansou” (do inglês “Bored Now”) a qual South (2004) comenta abaixo:
Não é surpreendentemente que a Willow Má sinta que o mundo de Willow “não é divertido”. Afinal de contas, o mundo de Willow não é um lugar onde os vampiros dominam, como no da Willow Má. No mundo de Willow, a Willow Má não pode agir conforme seus desejos;; não é o lugar dela. Mais surpreendente para o o telespectador é que Willow não gosta de seu próprio mundo. A chave para compreendermos a queixa das duas Willows, pode ser encontrada numa expressão que a Willow Má gosta de usar. “Já cansou”. De fato, essa expressão re-aparece em “Seeing Red”, da sexta temporada, quando Willow, totalmente dominada pela vingança, pára de torturar Warren, o indivíduo que matou Tara,. Após tê-lo torturado de várias maneiras extremas, 116
Temporada 06: Episódio 22. Exibido originalmente em 14/05/2002. Escrito por Marti Noxon. Dirigido por David Solomon. 117 Nome pelo qual os fãs telespectadores popularmente se referem à Willow dominada pela magia negra no final da sexta temporada da série. 118 Nome pelo qual os fãs telespectadores popularmente se referem à Willow vampira oriunda de uma realidade paralela à apresentada no seriado de televisão. 119 Temporada 03: Episódio 09. Exibido originalmente em 08/12/1998. Escrito por Marti Noxon. Dirigido por David Greenwalt. 120 Temporada 03: Episódio 16. Exibido originalmente em 23/02/1999. Escrito por Joss Whedon. Dirigido por Joss Whedon.
ela completa sua vingança pronunciando um “já cansou”, e com um mero aceno de mão, indicando ao mesmo tempo tédio e o uso magia, esfola-o vivo. Agora que sabemos existir uma ligação entre a personalidade de Willow Má e a de Willow, o uso da expressão não serve para nos fazer pensar só na Willow Má - como se a outra Willow tivesse perdido a alma, nesse ponto. Na verdade, Willow deve realmente estar entediada. (SOUTH121, 2004, p.145)
De fato, a Willow “original” concordou com a “Vamp Willow” quando esta comentou que nossa realidade “não era divertida”.
Willow Vampira: Esse mundo não é divertido. Willow: Você percebeu isso, também? (Doppelgangland 122 / A Terra dos Clones)
Willow é apresentada como uma garota tímida, estudiosa e com competências em informática, que mais tarde começa a namorar com um guitarrista de rock e a aplicar suas habilidades de aprendizagem no oculto e no paganismo. Na faculdade, após a partida de seu namorado do campus, ela inicia um relacionamento com uma garota, mesmo sem nunca ter sentido atração por meninas anteriormente. Quando ela precisa escolher entre ele e Tara em New Moon Rising123, ela opta pela segunda opção, mesmo com seu histórico com Oz. Nesse momento crucial Willow assumiu um novo lado de sua identidade, ela é lésbica, orientação que é confirmada em Him124 quando ela, Anya, Dawn e Buffy estão enfeitiçadas e acreditam estar apaixonadas por um garoto.
Willow: Você nem o conhece. Anya: Conheço, eu vi a alma dele. Willow: Ele ia embora. Se a alma dele era o bumbum… Anya: A.J é meu melhor amigo e meu querido. Willow: É R.J! E você captou o carinho e a devoção dele comigo. Buffy: O que aconteceu? Anya: Willow acha que está apaixonada por RJ. 121
SOUTH, James B., “Meu Deus, é como uma tragédia grega”: Willow Rosenberg e a irracionalidade humana. SOUTH, James B., and William Irwin, eds. Buffy, a caça-vampiros ea Filosofia: medo e calafrios em Sunnydale. São Paulo. Madras, p.145, 2004. 122 Temporada 03 : Episódio 16. Exibido originalmente em 23/02/1999. Escrito por Joss Whedon. Dirigido por Joss Whedon. 123 Temporada 04 : Episódio 19. Exibido originalmente em 02/05/2000. Escrito por Marti Noxon. Dirigido por James A. Contner. 124 Temporada 07 : Episódio 06. Exibido originalmente em 05/11/2002. Escrito por Drew Z. Greenberg. Dirigido por Michael Gershman.
Dawn: O quê? Vocês não podem fazer isso comigo! Buffy: Willow, você é gay, lembra? Willow: Isso não é sobre a presença física dele. Anya: A presença física dele tem um pênis Willow: Eu posso dar um jeito nisso. (...) Tenho habilidades. Posso provar meu amor com magia. Anya: E o que você vai fazer? Transformá-lo em uma moça? Droga! ( Him )
Ela é a melhor representação da identidade pós-moderna de Hall (2006) em BaCV. Sua multiplicidade de talentos reflete os jovens da geração “Y”, também conhecidos como millenials. Sua identidade foi explorada através de vários recursos narrativos, incluindo um alter ego na forma de uma vampira oriunda de uma dimensão paralela - além da mudança de orientação sexual. No que se diz respeito a “Dark Willow”, ela é uma metáfora para o pensamento de que o bem e o mal coexistem dentro da mesma pessoa, que há ausência de absolutos na identidade fragmentada do indivíduo que vive na pós-modernidade.
3.2 - Planejamento de carreira em Sunnydale: a trajetória de Xander.
Alexander “Xander” Lavelle Harris é descrito por Joss Whedon no roteiro original 125
do episódio piloto como:
He is bright, funny, and will one day be suave and handsome. Till that day arrives, he’ll do his best with bright and funny. (...) Ele é inteligente, engraçado e um dia será bonito e charmoso. Até que esse dia chegue, ele dará o melhor de si como inteligente e engraçado. (Tradução Livre) (WHEDON, 2005, Boxe 01: Disco 01.)
Após o término do colegial, Xander opta por um caminho contrário ao escolhido por suas amigas Buffy e Willow, não indo para a faculdade, porém não fica explícito na série o real motivo para tal decisão. O que entendemos é que sua família não lhe deu 125
Buffy, the vampire slayer: the chosen collection. 1997-2003. Criação e Produção Executiva de: Joss Whedon. Co-Produção de: David Greenwalt, Marti Noxon. Intérpretes: Sarah Michelle Gellar, Alyson Hannigan, Nicholas Brendon. Los Angeles: Fox Home Entertainment, 2005. Boxe 01: Disco 01, DVD.
suporte moral e financeiro por escolha, pois no episódio Hell’s Bells126 seu pai afirma estar arcando com todos os custos de seu casamento, mostrando que não há dificuldades quanto a dinheiro. Xander tenta encontrar-se profissionalmente através de vários subempregos: distribuidor de barras de cereais com sabor duvidoso, vendedor de sorvete, atendente de bar e telefonista de telesexo. Encontra uma certa estabilidade no ramo da construção civil, iniciando como carpinteiro e sendo promovido à supervisor de obras. Quando Buffy precisa arrumar um emprego em Life Serial127, é Xander que lhe oferece uma oportunidade (devido a força física da caçadora) mas é obrigado por seu superior a demiti-la, após esta se envolver em uma briga com demônios durante seu expediente de trabalho. Sua namorada, a ex-demônio de vingança Anya, já relacionou o capitalismo ao patriotismo americano, defendendo determinado tipo de sistema. Comicamente, Anya é viciada em ganhar dinheiro, exercendo muito bem sua função de vendedora trabalhando para Giles na “Magic Box”:
Xander: Querida. Um velho ditado: “um freguês vigiado nunca compra”. Anya: Eles comprariam se fossem patriotas. [Willow e Xander se entreolham] Xander: Deixe comigo. Patriotas? Anya: Sim. Eu me dei conta de que sou mais do que uma humana. Eu também sou americana. Giles: Imagino que seja, você nasceu aqui. Seu eu mortal. Anya: Isso mesmo, forasteiro. Li muito sobre os velhos Estados Unidos e a ideologia que ajudou a formá-los. Willow: Democracia? Anya: Capitalismo. Um mercado livre dependente da troca de bens por dinheiro. Um sistema de beleza simbiótica perdido nesses velhos (apontando discretamente para os clientes presentes na loja). Anya: Vejam-nos examinando as prateleiras. Despindo a mercadoria com os olhos. Pura cobiça, nenhum dinheiro. Não é apenas aborrecedor, é antiamericano. Giles: Terrível. Como se pensassem que dinheiro não compra felicidade. (tom de ironia) Anya: Totalmente antiamericano. Sabem o que é mais antiamericano? Franceses. Willow: Não diga. Anya: Soube que não dão gorjeta. Franceses velhos? São os piores. Temporada 06 : Episódio 16. Exibido originalmente em 05/03/2002. Escrito por Rebecca Rand Kirshner. Dirigido por David Solomon. 127 Temporada 06 : Episódio 05. Exibido originalmente em 23/10/2001. Escrito por David Fury e Jane Espenson. Dirigido por Nick Marck. 126
Xander: Anya, que tal sermos menos preconceituosos e mais inclusivos? Não nós (aponta pra ele e Willow), só você. Anya: Está bem. Vou fazer esses reacionários comprarem algo. (Tough Love128)
Apesar de não ter frequentado a faculdade, Xander foi o primeiro dos amigos de Buffy a ter sucesso na carreira. Willow segue o caminho mais longo da vida acadêmica, fazendo referência ao jeito dos baby boomers, de receber suas recompensas após anos de esforços, tanto que durante a série, seu conhecimento acadêmico em nenhum momento tende à especialização de uma profissão, apesar dela ter estudado “Introdução à Psicologia” com Buffy. A caça-vampiros, mesmo tendo cursado poucas matérias de Psicologia, na sétima temporada ganha um emprego como orientadora pedagógica na recém reconstruída “Sunnydale High”. Mais tarde é revelado que o diretor Robin Hood, por já desconfiar que talvez ela fosse a caça-vampiros de sua geração, facilitou o acesso ao cargo. Xander também faz referência ao lado profissional, ao brincar com Buffy, quando esta diz que largou a faculdade para cuidar melhor de sua irmã caçula após a morte de sua mãe, dando as boas vindas à caçadora para a “vida real”:
Xander: E aí? É Dawn Giovanni e a Buffster! Buffy: Olá a todos! Giles: Foi tudo bem na universidade? Buffy: Sim. Já saí. Xander: Legal. Bem vinda ao mundo real. É divertido aqui. Você verá. Buffy: É temporário. Voltarei semestre que vem. Xander: Também é legal. Seja o que for, você terá o meu apoio. Pense em mim… como seu… Quero incentivá-la mas estou todo delicado. Quero algo mais viril, pense em mim assim. (Tough Love129)
Xander começa a colher os frutos de seu trabalho a partir da quinta temporada, quando compra um apartamento confortável para viver com Anya. Na sexta temporada,
Temporada 05 : Episódio 19. Exibido originalmente em 01/05/2001. Escrito por Rebecca Rand Kirshner. Dirigido por David Grossman. 129 Temporada 05 : Episódio 19. Exibido originalmente em 01/05/2001. Escrito por Rebecca Rand Kirshner. Dirigido por David Grossman. 128
no episódio musical Once More With Feeling130, ele cita ter dado folga a sua equipe devido ao feitiço que todos em Sunnydale estavam sob efeito, o que mostra que ele realmente já havia chegado ao nível de gerente. Na sétima ele compra um belo carro, sendo assim, Xander foi quem recebeu reconhecimento por seus méritos profissionais com maior agilidade. Em determinados momentos a partir da quinta temporada, ele é tido como o que “possui mais dinheiro” dos Scoobies, pois Willow provavelmente ainda vive através do auxílio financeiro de seus pais por ser estudante universitária e Buffy passa um período sobrevivendo do dinheiro que sobrou do seguro de vida materno até precisar trabalhar para sustentar Dawn. Xander não teve um caminho profissional sólido para seguir, precisou encontrá-lo... construí-lo;; apesar de ter começado com sub-empregos e trabalhos braçais, começa a exercer uma função de colarinho branco131, mesmo estando dentro da construção civil. Nesta parte da série, as características da geração dos millenials já podem ser notadas em Xander, na sua busca incessante por um emprego que lhe dê satisfação pessoal e econômica, não tendo medo de experimentar diversas profissões, aprofundar-se nelas ou não, sem medo de correr riscos, como foi visto no documentário All work and all play (2012) no trecho “Além de ter um emprego, tornou-se importante ter um propósito, que pode ser exercido de várias formas ao mesmo tempo132”. Em What’s my Line? - Part One133, ele crítica seu teste vocacional, dizendo que “não deveria escolher com 17 anos o que faria pro resto de sua vida”, e ironicamente seu resultado é o de guarda carcerário, o menos “elaborado” de todos seus colegas. Durante o ensino médio, é implícito que pouco poderia se esperar dele, diferente de Willow, que era uma excelente aluna, mas isso foi subvertido na inauguração do novo “Sunnydale High” no início da sétima temporada, no qual Xander trabalhou já com uma carreira estável, provando que ele, apesar de não ter se graduado no ensino superior, aprendeu como exercer bem sua função, firmando-se no campo da construção civil. Ele demonstrou que Temporada 06 : Episódio 07. Exibido originalmente em 06/11/2001. Escrito por Joss Whedon. Dirigido por Joss Whedon. 131 Funções assalariadas que não requerem mão-de-obra física para a execução de suas demandas. 132 All work and all play. Roteiro e Direção de: Lena Maciel, Lucas Liedke e Rony Rodrigues. Edição de: Fernanda Krumel. Co-Produção de: Zeppelin Filmes. São Paulo: BOX1824, 2012. 10 minutos, vídeo em internet. Disponível em: <http://vimeo.com/44130258>. Acesso em: 14 set. 2013. 133 Temporada 02 : Episódio 09. Exibido originalmente em 17/11/1997. Escrito por Howard Gordon e Marti Noxon. Dirigido por David Solomon. 130
podem existir outros caminhos para o sucesso profissional além da faculdade e que é possível obter recompensas pela escolha de outra trajetória, oposta a tradicional. Levando em consideração que os personagens de BaCV se graduaram no ensino médio no ano de 1999, eles fazem parte da primeira remessa da geração “Y”. Logo, Xander foi o exemplo usado para mostrar um lado mais profissional dos Scoobies, gerenciando seu próprio caminho e usufruindo de bens materiais que ele proporcionou, provando que nem sempre encontra-se a carreira ideal na primeira tentativa, solidificando o conceito de “derretimento“ da sociedade sólida, já que quebra-se os conceitos de solidez estrutural do fordismo e taylorismo, sistemas industriais desenvolvidos durante a primeira metade do século XX que influenciaram os modos de organização do trabalho na sociedade moderna.
3.3 - Scooby Gang: uma representação da família pós-moderna.
É possível identificar várias representações da família pós-moderna em BaCV. A primeira referência vem da protagonista, que é uma heroína filha de pais divorciados. Ela inicia sua jornada na série quando vai morar em Sunnydale com sua mãe, após o divórcio. Em The Harvest134, monta um time de combate composto por ela, Giles - seu novo vigilante , Willow - nova amiga e hacker e Xander - amigo leal, que no episódio What’s My Line? - Part One135 batiza o grupo de Scooby Gang. Giles exerce uma figura paterna sobre Buffy, como pode ser observado em Helpless 136
:
Presidente do Conselho: Parabéns, você passou. Demonstrou coragem e lucidez extraordinárias, em combate. O Conselho está muito satisfeito. Buffy: Vou receber uma medalha de ouro? Presidente do Conselho: Entendo que você esteja chateada… Temporada 01 : Episódio 02. Exibido originalmente em 10/03/1997. Escrito por Joss Whedon. Dirigido por John T. Kretchmer. 135 Temporada 02 : Episódio 09. Exibido originalmente em 17/11/1997. Escrito por Howard Gordon e Marti Noxon. Dirigido por David Solomon. 136 Temporada 03: Episódio 12. Exibido originalmente em 19/01/1999. Escrito por David Fury. Dirigido por James A. Contner. 134
Buffy: Não entende nada! Aquele monstro raptou minha mãe! Presidente do Conselho: Acha que o teste foi injusto? Buffy: Acho melhor sair da cidade, antes que eu recupere as forças. Presidente do Conselho: Nosso ramo não é o “justo”. Estamos numa guerra. Giles: Você está em guerra, e ela, lutando. É diferente. Presidente do Conselho: Sr. Giles, se não se importa… Giles: O teste acabou, estamos quites. Presidente do Conselho: Não exatamente, ela passou, você não. A Caça-Vampiros não é a única a ser avaliada. Sugeri, e o Conselho acatou, que o dispensasse do cargo de guardião. Você está despedido. Giles: Quais os motivos? Presidente do Conselho: Sua afeição pela pupila o impede de julgar clara e imparcialmente. Você a ama como filha… e isso prejudica o trabalho. (Helpless / Indefesa)
Além da caçadora, ele exerce essa função parental também em Willow e Xander, cujas famílias são ausentes:
Willow: Mãe? Sheila: Willow! Não sabia que viria. Ah, oi Bunny! Buffy: Érr… Oi. Willow: Mãe, o que você está fazendo aqui? Sheila: Eu li no jornal, e como seu pai viajou… Você cortou o cabelo! É um visual novo. Willow: É, eu aparei, em agosto. (...) Willow: Mãe, como você sabe o que eu sei fazer? Da última vez que conversamos mais de três minutos, falamos do tom patriarcal do programa do Sr. Rogers. (Gingerbread 137 / Pão de Gengibre) Xander: Bem, eu farei meu acampamento de Natal anual. Eu pego minha cama, e vou dormir na grama. Willow: Deve ser legal. Xander: É, eu gosto de ver as estrelas, sentir a natureza. Cordelia: Achei que fosse pra não ver sua família bêbada brigando. Xander: Sim, era segredo. Obrigado por compartilhá-lo com todos. (Amends138/ Reparos)
A Scooby Gang passa diversas horas fazendo pesquisas sobre como combater demônios na biblioteca de “Sunnydale High” - o ambiente de convivência desta “família
137
Temporada 03: Episódio 11. Exibido originalmente em 12/01/1999. Escrito por Jane Espenson. Dirigido por James Whitmore Jr. 138 Temporada 03: Episódio 10. Exibido originalmente em 15/12/1998. Escrito por Joss Whedon. Dirigido por Joss Whedon.
escolhida139”, ironicamente frequentada por nenhum outro aluno:
Giles: O que você deseja? Owen: Um livro. Buffy: Vê, está é uma escola, e os alunos pegam livros emprestados e aprendem coisas. Giles: Estava começando a crer que isso era um mito. (Never Kill a Boy on the First Date140 / Nunca Mate um Garoto no Primeiro Encontro)
Eles patrulham as ruas de Sunnydale durante a noite e celebram feriados. Juntos, eles formam muito mais do que um time de combate, mas sim uma família construída. Giles os orienta e ensina, dá ordens, Buffy, Willow e Xander o respeitam como um pai. Logo, para eles, caçar demônios não é somente um dever sagrado e uma boa ação e sim o trabalho que proporciona a recompensa de ganhar uma família e sobreviver ao inferno metáforico que é o ensino médio:
Sunnydale High is based on every high school of America, because so many kids feels like their school is built on a hellmounth. (...) A Escola Secundária de Sunnydale é baseada em todas as escolas secundárias dos Estados Unidos, pois existem vários jovens que se sentem como se suas escolas tivessem sido construídas acima de uma boca do inferno. (Tradução Livre) (WHEDON141, 2005, Boxe 01: Disco 01).
Na quarta temporada, após o incêndio do colégio “Sunnydale High”, cada membro original da família Scooby Gang segue um caminho individual. Giles, que já havia sido demitido da sua função de vigilante pelo conselho em Helpless, agora também perdeu seu emprego como bibliotecário após o incêndio de
139
Tradução livre, do termo Chosen Family, citado por Jes Battis em Blood Relations: Chosen Families in Buffy the Vampire Slayer and Angel (McFarland, 2005). 140 Temporada 01: Episódio 05. Exibido originalmente em 31/03/1997. Escrito por Rob Des Hotel. Dirigido por David Semel. 141 Buffy, the vampire slayer: the chosen collection. 1997-2003. Criação e Produção Executiva de: Joss Whedon. Co-Produção de: David Greenwalt, Marti Noxon. Intérpretes: Sarah Michelle Gellar, Alyson Hannigan, Nicholas Brendon. Los Angeles: Fox Home Entertainment, 2005. Boxe 01: Disco 01. DVD.
“Sunnydale High” em Graduation - Part Two142, entrando dessa forma em um período sabático onde ele precisa reavaliar que rumo seguir, visto que ele passou a vida inteira se preparando para ser um vigilante. Buffy, Willow e Xander lidam com a adaptação para a entrada da vida adulta. Buffy inicia um relacionamento com Riley após o traumático adeus de Angel. Willow, após ser abandonada por Oz, inicia uma imprevista relação amorosa com Tara. Xander, que não entrou para a faculdade, tenta construir a sua vida mesmo sem ter algum norte. Diferente de Willow e Buffy, que possuem a vida acadêmica. O ápice da união dessa representação da família pós-moderna aconteceu na quinta temporada, no episódio Family.143
Pai de Tara: O lugar dela é com a família. Espero que esteja claro. Buffy: Está. O senhor a quer Sr. Maclay? Pode levá-la. Só terá de passar por mim. Pai de Tara: Como? Buffy: O senhor ouviu, se quiser levar Tara contra a vontade dela, terá que passar por mim. Dawn: E por mim. Pai de Tara: Isso é piada? Não serei ameaçado por duas garotinhas. Dawn: Não vai querer brigar conosco. Buffy: Ela puxa cabelo. Giles: E você não está lidando com apenas duas garotinhas. Xander: Está lidando com todos nós. Spike: Exceto eu. Xander: Exceto o Spike. Spike: Não quero saber. Pai de Tara: Isso é loucura. Vocês não tem o direito de interferir. Somos os parentes de sangue dela. E quem são vocês? Buffy: Somos família. (Family / Família)
Neste episódio, Tara recebe uma visita de seus familiares que a lembram de uma maldição da família Maclay, onde as mulheres se tornariam demônios ao completar 20 anos, porém tudo não passa de uma lenda para “controlar” a prática de magia, visto que Tara descende de uma linhagem de bruxas. A Scooby Gang, ao descobrir que o pai de Tara a estava forçando abandonar a
Temporada 03 : Episódio 22. Exibido originalmente em 13/07/1999. Escrito por Joss Whedon. Dirigido por Joss Whedon. 143 Temporada 05 : Episódio 07. Exibido originalmente em 07/11/2000. Escrito por Joss Whedon. Dirigido por Joss Whedon. 142
faculdade e retornar para seu lar (após descobrir que a mesma estava praticando bruxaria), interfere frente à família dela na “Magic Box”, provando o forte laço familiar que envolve a turma de Buffy, a caça-vampiros. Tara, apesar de neste momento da série não ter muita convivência com a Scooby Gang, foi completamente aceita como novo membro da família por ser a parceira de Willow. O episódio termina na festa de aniversário de Tara, mostrando todos celebrando, como uma verdadeira família deveria ser. Aceitando-a do jeito que ela é, inclusive sem preconceitos em relação ao seu namoro com Willow. Isso nos mostra uma representação da família pós-moderna, resultado de um ciclo de mudanças comportamentais muito bem refletidas nos dias atuais. A família perde a concepção de que para ser parente de alguém é necessário possuir laços sanguíneos com essa pessoa ou de que é preciso ter as figuras masculina e feminina compondo o casal. A Scooby Gang, ao defender Tara de seus familiares, demonstrou um laço afetivo muito mais forte, pois na verdade estavam tentando evitar o sofrimento de Willow que teria de lidar com a ausência de sua amada, já que (como citado acima) Tara não participava tanto do grupo. Relaciona-se isso também a visão da geração “Y” de que vale mais o respeito às escolhas individuais, de que cada ser humano deve viver do jeito que lhe convém, do que às tradições culturais estabelecidas pelas gerações anteriores. Na temporada seguinte, a sexta, com a transferência da série para o canal UPN, essa representação da família pós-moderna passa a lidar com problemas mais adultos. Buffy, após ser ressuscitada, perde a vontade de viver neste mundo, pois sente que foi expulsa do paraíso, porque nesta dimensão tem que lidar com problemas terrenos. Como válvula de escape mantém relações sexuais em segredo com Spike. Esses tais “problemas terrenos” remetem-se às responsabilidades que Buffy tem como mãe solteira, papel que tem que exercer com Dawn. Lavar, cozinhar, pagar as contas e ter que ensinar valores morais para que sua “filha” não destoe dos caminhos “corretos”. Isso nos mostra que a caçadora de vampiros entra em conflito por ter que assimilar todas essas tarefas, sem ter uma pessoa ao seu lado, para repartir tais problemas, visto que seu pai não se importava mais com o bem estar das filhas e que Giles voltou para o Reino Unido no início desse ao perceber que sua presença física em Sunnydale retardava o amadurecimento de Buffy. Esta é uma característica intrínseca da família pós-moderna: A mulher solteira tendo que, além de
assumir um papel de provedora do lar, também ter de ficar responsável por sua família - função que antes era bem definida pela figura do marido nas famílias tradicionais da sociedade moderna. Willow, após toda a energia sombria que precisou canalizar para combater Glory e trazer a caçadora de volta do mundo dos mortos, acaba se viciando em magia negra, o que resulta no término de seu relacionamento com Tara. Xander abandona Anya no altar no dia de seu casamento ao perceber que ainda não estava pronto para assumir tal compromisso. Com tanto ódio e decepção, Anya recupera seus poderes e volta a ser demônio. A separação dos casais acaba atingindo as estruturas familiares da Scooby Gang, mas isso não os impede de continuarem se ajudando. Buffy e Xander dão suporte para a superação do vício de Willow, enquanto ela e Buffy apoiam Xander após o fiasco da sua festa de casamento. No entanto, nenhuma delas viram as costas para Anya, mesmo quando descobrem que ela voltou a ser demônio e Tara, que continua a se encontrar com Dawn, mesmo que poucas vezes, exercendo sua função de “tia”, mesmo após o “divórcio” dela e de Willow que moravam junto com Dawn e Buffy. Dawn, que apesar da pouca idade já enfrentou problemas como a perda da mãe, o surgimento da cleptomania, desenvolvida pela falta de atenção de sua irmã primogênita e figura materna, ainda terá que lidar com o afastamento de Willow e Tara, as quais exerceram a função de “tias adotivas“ ao cuidarem dela durante os quatro meses que Buffy permaneceu morta. Acima, podemos ver outro exemplo de laço familiar construído na convivência: O de Willow e Tara com Dawn. As amigas de Buffy acabam sentindo-se responsáveis pela caçula da Scooby Gang, o sentimento de protecionismo aflora nas “tias adotivas”, porém com seus afastamentos, Dawn sente-se abandonada, órfã, porque não somente as visualiza como “pessoas mais próximas” e sim como partes integrantes de uma família que tem todos os componentes característicos: amor, proteção, atenção. Outro ponto importante é o real significado da doação das amigas de Buffy a sua irmã caçula: A necessidade de ter que ajudar a caça-vampiros por enxergá-la como irmã, membro de sua família, que naquele momento precisava de auxílio.
Na sétima temporada, após passar um período com Giles em um coven144 na Inglaterra para recuperação do controle sobre seu enorme poder, Willow volta para Sunnydale para ajudar Buffy e os outros a combater o “Primeiro Mal”. Sentindo-se insatisfeita em causar dor e destruição, Anya abre mão de seus poderes e volta a ser humana, sendo convidada por Buffy a reintegrar a equipe. Andrew, o membro sobrevivente145 do trio de Super Vilões, acaba se integrando a Scooby Gang, após ter demonstrando arrependimento de deus atos. O que prova a a capacidade de compaixão de todos os seus membros. Por sete anos, a Scooby Gang passou por mudanças de entrada e saída de personagens e de conflitos entre eles. A formação original dessa família contava com Giles Willow, Buffy e Xander . No colegial, Oz, Angel e Cordelia participaram da família como parceiros dos três. Na faculdade, foi a vez de Tara, Riley e Anya. E posteriormente Spike. Até a saída de Giles e a vinda da figura materna de Buffy e de Willow e Xander como tios junto com Anya e Tara, para Dawn. Eles sempre apoiaram uns aos outros e respeitaram suas diferenças, servindo como uma representação da família pós-moderna, mesmo não seguindo o modelo patriarcal tradicional, ela demonstra funcionar muito bem.
3.4 - As referências religiosas de BaCV.
As referências religiosas são frequentes em BaCV, levando em consideração o teor sobrenatural da série. O mito da caçadora, de acordo com a mitologia do seriado, se remete ao mito do “salvador” presente em vertentes religiosas como o cristinianismo, o judaísmo e o islamismo.
144
Sinônimo de Coventículo ou Conciliábulo - caracterizado por um grupo de seguidores da religião Wicca que se unem como uma família espiritual. 145 Warren foi assassinado pela Dark Willow no final da sexta temporada e Jonathan foi morto por Andrew sob a influência do “Primeiro Mal” no início da sétima.
In every generation there is a chosen one. She alone will stand against the vampires, the demons and the forces of the darkness, she is the slayer. (...) Toda geração nasce uma caçadora, ela sozinha lutará contra os vampiros, demônios e as forças da escuridão, ela é a caça-vampiros. (Tradução Livre) Narração de abertura da primeira e segunda temporada de BaCV.
Em BaCV é muito forte a crítica as “religiões institucionalizadas”. Vê-se isso logo no adversário de Buffy da primeira temporada: O “Mestre dos Vampiros”. O Mestre é um vampiro que vive preso em uma igreja abandonada no subterrâneo de Sunnydale e lidera a “Irmandade de Aurelius”, sempre mencionando as escrituras sagradas aos seus seguidores antes de suas tentativas de ascender à superfície, visto que ele está fraco demais para sair de seu ambiente sagrado. Seu objetivo é tentar recuperar a supremacia dos demônios que viviam antes da humanidade, os “Antigos” (citados por Giles em The Harvest146, quando esse explica a origem do mundo no “Buffyverse” - dizendo que a terra foi habitada por demônios antes dos humanos prevalecerem), para isso tem que abrir a “Boca do Inferno” localizada em Sunnydale. Já podemos notar aí uma forte subversão de vertentes religiosas como o cristianismo, com citações sagradas sendo “demonizadas”. A seguir, um monólogo onde o “Mestre dos Vampiros” exerce a função de líder religioso ao ler uma profecia para seus seguidores:
Mestre: “E haverá um período de crise. Em que os mundos estarão pousados em equilíbrios e neste período há de vir… o Messias. O grande lutador do Mestre. E a Caçadora não o reconhecerá… e não o impedirá… e ele a levará ao inferno. Da forma como está escrito… assim se sucederá. Cinco morrerão, e das suas cinzas o Messias há de se erguer. A Irmandade de Aurelius há de recebê-lo… e conduzi-lo ao seu destino imortal. Da forma como está escrito… assim se sucederá”. “E um dos membros da Irmandade há de sair à caça na noite anterior… E ser morto… porque ele não consegue esperar acabar a sua tarefa antes de comer”. Não, espere! Isso não está escrito em lugar nenhum. O Messias é a minha arma mais forte contra a Caçadora. Se vocês falharem na tarefa de trazê-lo a mim, se permitirem que aquela garota os impeça… (ele ataca um de seus seguidores) Aqui acaba a lição. (Never Kill a Boy on the First Date147 / Nunca Mate um Garoto no Primeiro Encontro.)
Temporada 01 : Episódio 02. Exibido originalmente em 10/03/1997. Escrito por Joss Whedon. Dirigido por John T. Kretchmer. 147 Temporada 01 : Episódio 05. Exibido originalmente em 31/03/1997. Escrito por Rob Des Hotel. Dirigido por David Semel. 146
Segue abaixo o trecho do diálogo em que Giles ensina a Scooby Gang a origem do mundo dentro do universo ficcional de BaCV:
Giles: Esse mundo é mais velho do que vocês imaginam. Ao contrário da mitologia mais difundida, ele não começou como um paraíso. Por eras incontáveis, demônios povoaram a Terra. Eles fizeram dela a sua casa, o seu Inferno, mas eles perderam o seu poderio sobre essa realidade. O caminho ficou livre para os animais mortais, para o Homem. Dos Antigos só restam vestígios. Algumas mágicas, algumas criaturas. Buffy: E vampiros. Xander: É aí que eu começo a ter problemas. Porque estamos falando de vampiros. Tendo uma conversa sobre vampiros. Willow: Não foi isso que vimos ontem a noite? Buffy: “Não, aqueles não eram vampiros. Eram só caras que precisavam de uma plástica, ou talvez eles tivessem raiva. E aquele cara que virou poeira148? É um truque de iluminação”. Foi o que eu disse a primeira vez que vi um vampiro. Bem, depois de gritar bastante. (The Harvest149 / Bem Vindos à Boca do Inferno - Parte dois.)
Existem outros momentos no seriado em que as “religiões institucionalizadas” são subvertidas e “demonizadas”. No episódio Anne150, um demônio se disfarça de líder religioso, oferecendo aos jovens desabrigados das ruas de Los Angeles a libertação contra um “passado de pecado, dor e incerteza” através de um ritual de “limpeza” que consistia na lavagem física do corpo da pessoa em uma “lagoa cerimonial”, que na verdade era um portal para uma dimensão demoníaca onde esses jovens passariam o resto de suas vidas sendo escravos. Wendy Love Anderson151 (2004) disserta a respeito da metáfora desse episódio:
Um exemplo mais contemporâneo é “Family Home” em “Anne”, obviamente baseada num ministério cristão fundamentalista: Buffy tenta infiltrar-se afirmando que “Acordei, olhei no espelho e pensei, porque todo esse pecado? … Estou suja. Sou má, má, com a coisa do sexo, da inveja e da música alta que os jovens escutam hoje em dia”. Ela conhece o operador da casa, Ken e sua última vítima Lily, numa “lagoa cerimonial” (a orientação no 148
Na mitologia de BaCV, quando um vampiro morre, ele vira pó. Decisão tomada pelos produtores da série para evitar cadáveres acumulados no chão após as batalhas de Buffy, o que resultaria no aumento da classificação etária do programa. 149 Temporada 01 : Episódio 02. Exibido originalmente em 10/03/1997. Escrito por Joss Whedon. Dirigido por John T. Kretchmer. 150 Temporada 03 : Episódio 01. Exibido originalmente em 29/09/1998. Escrito por Joss Whedon. Dirigido por Joss Whedon. 151 LOVE ANDERSON, Wendy. A garota da profecia e os poderes existentes: a filosofia da religião no universo Buffy. SOUTH, James B., and William Irwin, eds. Buffy, a caça-vampiros ea Filosofia: medo e calafrios em Sunnydale. São Paulo. Madras, p.211-224, 2004.
script toma o cuidado de não dizer “pia batismal”), onde ele a encoraja a “se lavar de todo o passado… do pecado, dor e da incerteza”. Claro que, em se tratando do universo Buffy, a lagoa se revela um portal para a dimensão demoníaca onde os seres humanos são forçados a passar a vida em trabalho industrial, enquanto suas identidades são destruídas. Ken - já exposto como demônio - ajuda a identificar o lugar como o “inferno” e diz a Lily que ela “esteve caminhando até aqui a vida toda”. Depois, Buffy salva o dia liderando uma rebelião dos escravos, subindo numa plataforma e segurando uma foice e um martelo antes de matar Ken. A famosa definição de Marx da religião como “o ópio das massas” está claramente presente aí.” (Wendy Love Anderson 152, 2004, p.215)
Outro personagem que também reflete a “religião demonizada” é Caleb - um padre que após se corromper molestando e assassinando suas fiéis é recrutado pelo “Primeiro Mal” para combater Buffy, a Scooby Gang e as Potenciais na sétima temporada - mas acaba sendo morto em combate pela caçadora, que o parte ao meio com um machado. Buffy também manifesta seu posicionamento crítico em relação as “religiões institucionalizadas” e as adorações divinas em outros três momentos: Em seu primeiro dia de faculdade, quando é abordada por uma aluna;; quando comicamente cogita entrar em um convento (após salvar a vida de uma freira) devido a sua decepção amorosa causada pelo término de seu relacionamento com Riley;; e quando responde à uma afirmação de superioridade de Glory ao impedir que Willow vingasse o que ela fez com Tara, como vemos em ordem de apresentação nos diálogos abaixo:
Garota: Você aceitou Jesus Cristo como seu salvador pessoal? Buffy: Bem...eu ia, mas… fiquei muito ocupada. (The Freshman 153 / A Caloura) Freira: O que era aquilo? Ele parecia um demônio. Buffy: É, parecia. A senhora está bem? Freira: Acho que sim. Venha. Buffy: Então… sobre ser freira. Em relação à renúncia da companhia masculina, como é para a senhora? A renúncia. Freira: Huum. Bom. Buffy: É preciso ser super religiosa? Freira: Bem… Buffy: Como é a comida? (Triangle154 / Triângulo)
152
Ibidem, p.215. Temporada 04 : Episódio 01. Exibido originalmente em 05/10/1999. Escrito por Joss Whedon. Dirigido por Joss Whedon. 154 Temporada 05 : Episódio 11. Exibido originalmente em 09/01/2001. Escrito por Jane Espenson. Dirigido por Christopher Hibler. 153
Glory: Sabe o que faziam com as bruxas? Eles as crucificavam. (Glory aponta uma faca para matar Willow quando Buffy a interrompe). Buffy: Eles costumavam se curvar aos deuses. As coisas mudam. (Tough Love155)
Apesar de sua posição crítica em relação a religiosidade, Buffy utiliza símbolos cristãos e habilidades pagãs de seus amigos para combater seus oponentes, embora em nenhum momento ela dê crédito a esses artifícios, usando-os somente como ferramentas. Como diz Wendy Love Anderson156 (2004) em “Buffy, a caça-vampiros e a Filosofia”:
Buffy não hesita em usar água benta, cruzes, profecias, as habilidades mágicas de seus amigos ou até milagres dela mesma para ganhar uma luta contra vampiros e demônios. Entretanto, ela não tem vontade de rezar depois, muito menos de atribuir o sucesso a qualquer uma das divindades que possa ter invocado. (Wendy Love Anderson 157, 2004, p.213)
O discurso de BaCV faz uma forte crítica às religiões fundamentalistas e favorece as relações humanas - uma tendência da pós-modernidade. A autora argumenta:
O que a série realmente enfatiza é a confiança de Buffy nos amigos, na família e finalmente na própria força interior. Quando Ângelus a provoca, dizendo que tirou dela os amigos, as armas e a esperança, ela responde que ainda tem “a mim mesma” (“Becoming, Part Two 158”);; quando a Primeira Caçadora a desafia num sonho, ela responde: “Eu não estou sozinha… Agora devolva meus amigos” (“Restless159”). Esses são os momentos de triunfo de Buffy, não as crises ou afirmações religiosas. (Wendy Love Anderson 160, 2004, p.217)
Temporada 05 : Episódio 19. Exibido originalmente em 01/05/2001. Escrito por Rebecca Rand Kirshner. Dirigido por David Grossman. 156 LOVE ANDERSON, Wendy. A garota da profecia e os poderes existentes: a filosofia da religião no universo Buffy. SOUTH, James B., and William Irwin, eds. Buffy, a caça-vampiros ea Filosofia: medo e calafrios em Sunnydale. São Paulo. Madras, p.211-224, 2004. 157 Ibidem, p.213. 158 Temporada 02 : Episódio 22. Exibido originalmente em 19/05/1998. Escrito por Joss Whedon. Dirigido por Joss Whedon. 159 Temporada 04 : Episódio 22. Exibido originalmente em 23/05/2000. Escrito por Joss Whedon. Dirigido por Joss Whedon. 160 LOVE ANDERSON, Wendy. A garota da profecia e os poderes existentes: a filosofia da religião no universo Buffy. SOUTH, James B., and William Irwin, eds. Buffy, a caça-vampiros ea Filosofia: medo e calafrios em Sunnydale. São Paulo. Madras, p.217, 2004. 155
A heroína principal não convive em um universo regido por uma crença institucionalizada. Podemos notar no seriado a descentralização da religião. Buffy utiliza de variados métodos oriundos de diversas crenças religiosas, como o cristianismo e o paganismo, para combater seus oponentes. Há uma “adequação“ do uso dessas crenças em benefício próprio, como podemos ver nos dias atuais, na qual os indivíduos descentralizam a religiosidade, sob suas próprias concepções de valores morais. Como o exemplo citado anteriormente no referencial teórico sobre o indivíduo que é adepto à vertente de uma religião mas que não deixa de acreditar nas crenças de outras.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
“Buffy, a caça-vampiros” foi um seriado estadunidense de televisão com caráter subversivo voltado para o público jovem. Em entrevista161, Joss Whedon - o criador da série - afirma ter tido a ideia de criar a personagem para subverter o simulacro da mulher loira nos produtos audiovisuais do gênero terror, que até então era o da garota que morria de forma estúpida. No decorrer de sete anos, ele também subverteu outros valores que até então eram “sólidos” para a sociedade, abordando a possibilidade dos jovens obterem reconhecimento profissional mesmo sem seguir o caminho predisposto pelas gerações anteriores, a valorização da “família construída” e a quebra de preconceitos sobre os casais gays através da homossexualidade da segunda presença feminina mais forte da série. Além de criar um universo ficcional cuja metafísica não é regida por nenhuma crença institucionalizada do “mundo real”, fazendo referências à diversas religiões e a valorização das relações humanas acima dos dogmas ditados por tais crenças. O programa também tratou dos aspectos “negativos” da pós-modernidade ao trabalhar a crise de identidade das personagens e os caminhos obscuros que isso pode levar, no entanto, mostrando que podemos nos recuperar através do apoio das pessoas que amamos. Através de simulações da realidade, o seriado levou os jovens da geração “Y” (público-alvo do programa) a refletirem sobre os assuntos abordados, dando espaço para novos pensamentos, colaborando com a difusão da própria pós-modernidade em uma sociedade que ainda estava nas primeiras etapas de ser classificada como pós-moderna. Sendo assim, através da análise descritiva, conclui-se que BaCV foi um dos primeiros programas produzidos com valores pós-modernos, levando em consideração a data original de exibição (1997-2003). A série, como um produto midiático, colaborou com a formação da opinião pública
161
Buffy, the vampire slayer: the chosen collection. 1997-2003. Criação e Produção Executiva de: Joss Whedon. Co-Produção de: David Greenwalt, Marti Noxon. Intérpretes: Sarah Michelle Gellar, Alyson Hannigan, Nicholas Brendon. Los Angeles: Fox Home Entertainment, 2005. Boxe 01: Disco 01, DVD.
de seus telespectadores acerca dos assuntos abordados, pois de acordo com Hall162 (2006), nossas identidades são formadas a partir de nossos contatos com as “paisagens sociais ‘lá fora’163”. Além disso, o seriado permitiu uma identificação de seu público com os dramas vividos por seus personagens. Do conflito em ser aceito por diversos grupos na escola, passando pela adaptação ao início da vida adulta até ao repentino advento de responsabilidades que podem parecer demais para quem “cresceu” há tão pouco tempo. Amber Benson, atriz que interpretou Tara, afirma164 ter recebido cartas de fãs que desistiram do suicídio por serem gays, graças as personagens homossexuais do programa, que as ajudaram a aceitar sua condição natural. No Brasil, a TV por assinatura deu o espaço e reconhecimento que o programa não conseguiu ter na TV aberta, devido ao caráter segmentador de sua programação, pois a maioria do público brasileiro ainda não estava preparado para receber todas as mensagens enviadas pela série, visto que até os dias atuais tópicos como: homossexualidade, diversidade religiosa e feminismo ainda geram polêmicas, quando abordados na televisão. Após o término de BaCV, outros personagens homossexuais ganharam destaque em seriados americanos que não eram segmentados para esse público específico, a exemplo de Grey’s Anatomy (2005165). As personagens loiras também ganharam mais “força” em séries de terror, a exemplo de Sookie Stackhouse em True Blood (2008166), de Caroline Forbes e Rebekah Mikaelson em The Vampire Diaries (2009167) e de Cassie Blake em The Secret Circle (2011168). Ao final do trabalho, conclui-se que o objeto de estudo contribuiu para a modernização da sociedade subvertendo paradigmas conservadores através da exposição de seu público às representações culturais da pós-modernidade previamente analisadas.
162
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11. ed. Rio de Janeiro. DP&A Editora, 2006. 163 Ibidem, p.12-13. 164 Afirmação feita em entrevista cedida à Fox Home Entertainment para integrar o conteúdo exclusivo do disco extra da coleção de DVDs “The Chosen Collection”. 165 Ano de estréia. 166 Ibidem. 167 Ibidem. 168 Ibidem.
Sendo assim, compreendemos que essas representações são apresentadas em seriados americanos de televisão por meio de recursos narrativos manifestados nos personagens e nos ambientes em que eles estão inseridos, que acabam por implicar na formação de identidade dos seus telespectadores. Além disso, o mesmo ainda abriu possibilidades para novas pesquisas acerca do mesmo tema em outros objetos de análise ou vice-versa.
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2012.
10
minutos,
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Homepages Institucionais:
BOX 1824. São Paulo. Disponível em: <http://www.box1824.com.br/>. Acesso em: 14 set. 2013. CBS. EUA. Disponível em: <http://www.cbs.com/>. Acesso em: 28 ago. 2013. DARK HORSE COMICS. Milwaukie. Disponível em: <http://www.darkhorse.com>. Acesso em: 15 set. 2013. FOX CONNECT. Los Angeles. Disponível em: <http://www.foxconnect.com/>. Acesso em: 15 set. 2013. FOX FILM DO BRASIL. São Paulo. Disponível em: <http://brasil.foxinternational.com/>. Acesso em: 28 ago. 2013. NETFLIX BRASIL. São Paulo. Disponível em: <http://movies.netflix.com/WiHome?locale=pt-BR>. Acesso em: 28 ago. 2013. PANINI COMICS. Barueri. Disponível em <http://www.paninicomics.com.br/web/guest/home>. Acesso em: 28 ago. 2013. REDE TV. São Paulo. Disponível em: <http://www.redetv.com.br//series/buffy/wall1a.htm>. Acesso em: 28 ago. 2013. THE-CW. EUA. Disponível em: <http://www.cwtv.com/>. Acesso em: 28 ago. 2013. ULBRA TV. Porto Alegre. Disponível em: <http://www.ulbratv.com.br/buffy/>. Acesso em: 30 ago. 2013. ZEPPELIN FILMES. Petrópolis. Disponível em: <http://www.zeppelin.com.br/>. Acesso em: 14 set. 2013.
ANEXOS
Anexo 1 - Materiais de Pesquisa
Figura 01: The Chosen Collection. Fonte: http://www.hipointweb.com/david2/buffy_3-4.jpg. Acesso em 06 Nov. 2013.
Figura 02: Captura de tela do menu de navegação dos episódios de “Buffy, a caça-vampiros” no Netflix BR . Captura realizada em 07 Nov. 2013.
Figura 03: Coleção da série em DVDs na versão original. Fonte: http://thumbs2.ebaystatic.com/d/l225/m/m5stzdofQVH_eS_wPcYWHQA.jpg. Acesso em 06 Nov. 2013.
Figura 04: Blu-ray do filme “Buffy, a caça-vampiros” em versão original. Fonte: http://ecx.images-amazon.com/images/I/91IRNHnE8HL._AA1500_.jpg. Acesso em 06 Nov. 2013.
Figura 05: Cena do filme “Buffy, a caça-vampiros”. Fonte: http://longagoandohsofaraway.files.wordpress.com/2013/04/4846_2.jpg. Acesso em 06 Nov. 2013.
Figura 06: Wallpaper oficial de lançamento dos comics da oitava temporada de “Buffy, a caça-vampiros”. Fonte: http://www.whedon.info/IMG/jpg/buffy-season-8-comics-wallpaper-1024.jpg. Acesso em 06 Nov. 2013.
Figura 07: Wallpaper oficial de lançamento dos comics da primeira temporada de “Angel & Faith” e da nona temporada de “Buffy, a caça-vampiros”. Fonte: http://www.whedon.info/IMG/jpg/buffy-season-9-comic-book-wallpaper.jpg. Acesso em 06 Nov. 2013.
Figura 08: Capa da minissérie em comics “Willow: Wonderland”.
Fonte: http://acecomics.co.uk/wp-content/uploads/2012/12/Willow-Wonderland-2.jpg. Acesso em 06 Nov. 2013.
Figura 09: Capa da minissérie em comics “Spike: a Dark Place”.
Fonte: http://store.geekroom.com/v/vspfiles/photos/RVM029-2.jpg. Acesso em 06 Nov. 2013.
Figura 10: Capa da versão brasileira do livro “Buffy the Vampire Slayer and Philosophy”.
Fonte: http://1.bp.blogspot.com/-yv_DArQGXIY/Tn1FUVZRlyI/AAAAAAAADcM/XHWOZBYpSOw/s1600/li vro+buffy+a+caca+vampiros+e+a+filosofia+%25281%2529.JPG. Acesso em 06 Nov. 2013.
Figura 11: Capa da versão original do livro “Buffy the Vampire Slayer: The Watcher’s Guide, volume 01”.
Fonte: http://d28hgpri8am2if.cloudfront.net/book_images/cvr9780671024338_9780671024338_hr.jpg. Acesso em 06 Nov. 2013.
Figura 12: Capa do livro “Why Buffy Matters: The Art of Buffy the Vampire Slayer”.
Fonte: http://ecx.images-amazon.com/images/I/81DPwclN-gL._SL1500_.jpg. Acesso em 06 Nov. 2013.
Figura 13: Capa do livro “Blood Relations: Chosen Families in Buffy the Vampire Slayer and Angel”.
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/b/ba/Blood_Relations_(Buffyverse).jpg. Acesso em 06 Nov. 2013.
Anexo 2 - Monstros e Vilões de BaCV
Figura 01: Dark Willow. Fonte: http://static.comicvine.com/uploads/scale_super/6/68345/1793190-darker_willow_131.jpg. Acesso em 06 Nov. 2013.
Figura 02: Oz se transformando em Lobisomem. Fonte: http://images3.wikia.nocookie.net/__cb20100815054555/buffy/images/5/5f/Oz-Wolf.jpg. Acesso em 06 Nov. 2013.
Figura 03: Vamp Willow. Fonte: http://images2.fanpop.com/image/polls/316000/316220_1256199523533_full.jpg. Acesso em 06 Nov. 2013.
Figura 04: Anyanka. Fonte: http://buffyjpegs1.tripod.com/sitebuildercontent/sitebuilderfiles/Anyanka.jpg. Acesso em 06 Nov. 2013.
Figura 05: Turok Han. Fonte: https://www.screenused.com/images/buffy/7866_6.jpg. Acesso em 06 Nov. 2013.
Figura 06: Glorificus / Glory. Fonte: http://time-wellspent.com/wp-content/uploads/2013/01/glory.jpg. Acesso em 06 Nov. 2013.
Figura 06: Andrew, Jonathan e Warren (trio). Fonte: http://criticalviewing.files.wordpress.com/2013/01/buffy604.jpg. Acesso em 06 Nov. 2013.
Figura 07: Mestre dos Vampiros. Fonte: http://static2.wikia.nocookie.net/__cb20090104053733/buffy/images/9/9f/Master01.jpg. Acesso em 06 Nov. 2013.
Figura 08: Caleb. Fonte: http://images2.wikia.nocookie.net/__cb20130724052944/buffy/images/3/32/Caleb.png. Acesso em 06 Nov. 2013