Reportagem "Cidade Baixa outra vez em alta" (Revista RRPP Atualidades)

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Cultura & Lazer

Cidade Baixa outra vez em alta • Como a associação comunitária renovou a imagem e encheu as ruas do bairro FELLIPE VARGAS

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o final de 2011, um dos bairros conhecidos como “berço da boemia” portoalegrense encontrava-se em crise. Moradores descontentes com a sujeira das ruas e com o barulho após o horário permitido entravam em conflito com comerciantes e frequentadores do bairro em uma disputa que parecia não levar a lugar algum. Como resultado do crescimento dessas tensões, diversos bares foram fechados e consequentemente as ruas da antes efervescente Cidade Baixa se encontraram vazias. O que outrora fora referência social e cultural, freqüentado por gênios como Lupicínio Rodrigues, começava a perder espaço para outras opções de entretenimento em novos locais espalhados pela cidade. Como conciliar todos os públicos para uma convivência saudável? Como trazer de volta a essência de um dos mais populares pontos de encontro dos jovens de Porto Alegre? Como renovar a imagem do local e deixar suas ruas cheias outra vez? Com essas questões em mente, em uma tarde daquele mesmo ano, o publicitário Tiago Faccio, 34 anos, percebeu que era preciso deixar de lado as reclamações e tomar uma atitude para “salvar” a Cidade Baixa. Depois de algumas conversas e com o apoio de comerciantes locais, surgia a “Cidade Baixa em alta”, uma associação que visava resgatar o espírito alegre e cultural do bairro. Em entrevista, Tiago conta que, de fato, quando a associação foi criada, não era esperada tamanha repercussão em tão pouco tempo. Morador do bairro desde a infância, ele acompanhou todas as transformações do lugar e a ascensão enquanto pólo cultural e de entretenimento da cidade. Contudo, diante dos eventos ocorridos temeu que a Cidade Baixa seguisse os passos de outro bairro que já foi referência cultural, o Bom Fim, que nos anos 70 e 80 era um dos centros de entretenimento da cidade e, após o fechamento de estabelecimentos e queixas dos moradores, perdeu espaço e preferência de bares e casas noturnas. “Para evitar o mesmo desfecho, a ideia inicial da associação era repovoar o bairro

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e acabar com a falta de diálogo entre moradores e comerciantes, mas logo se percebeu que o projeto iria além”, revela o publicitrário. Com uma ajuda de custo dos novos associados, a primeira ação foi a divulgação e distribuição de um “Manual de boa convivência”, buscando fazer com que o projeto fosse um catalisador das relações entre os públicos, facilitando a comunicação de todas as partes envolvidas. “A ação ‘viralizou’ rapidamente e em apenas três horas teve em torno de quatro mil compartilhamentos nas redes sociais”, contabiliza Tiago. Desde então, cada nova ação veio com estrondoso sucesso, a associação, que começou com cinco comerciantes, hoje tem 60, um patrocinador privado e o apoio do poder público representado pelas secretarias da Saúde e da Cultura. O “Cidade Baixa em alta” foi além e trouxe de volta todo o viés cultural, característico do bairro com ações como o “Bueiro com Arte”, que convidou artistas a pintarem bueiros para deixar as ruas mais coloridas e criativas e ainda se engajou em questões sociais, com ajuda da FASC, promovendo atividades culturais e entretenimento para moradores de rua, como a mostra de curtas produzidos entre eles. A consolidação do sucesso da associação aconteceu, sem dúvida, no carnaval de rua de Porto Alegre deste ano. A cidade sempre teve a tradição de colocar blocos na rua, mas não era oferecida infraestrutura adequada. Porém, no ano passado com apoio

da associação, cerca de 80 mil pessoas foram às ruas durante a semana de carnaval e esse ano em um único dia, enquanto a organização do evento esperava em torno de 20 mil pessoas, 45 mil marcaram presença na folia da Cidade Baixa. Em eventos dessa proporção se torna difícil o controle do público, o que acarreta em dispersão e certo tumulto, por isso o poder público tem sido importante parceiro no auxílio. Entretanto, Tiago garante que o resultado foi extremamente positivo e ressalta que o “Beatles Day”, ocorrido em março, contou com praticamente o mesmo público do carnaval de rua e não registrou qualquer incidente ou tumulto. Os resultados são inegáveis e o êxito da associação pode ser visto por todos nos números e na aceitação do público a cada nova ação. A Cidade Baixa hoje está mais em alta do que nunca, graças à criatividade e ousadia de um grupo de pessoas que se dispôs a renovar a imagem e o conceito do bairro. As ruas cheias, as noites ébrias, a cultura e a boemia voltaram e ainda há muito mais a caminho. A associação promete diversos eventos ainda esse ano e busca parcerias para inovar e tornar a Cidade Baixa uma referência, assim como expandir as ações para outros bairros e regiões, tornando o projeto em um exemplo de transformação e reinvenção a ser seguido. Giulia Vargas Fellipe Vargas Isabela Vargas


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