Revista Dealer Edição 11

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Ano 2 • Nº 11 • Outubro / Novembro 2008

Publicação Bimestral da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores – FENABRAVE

Mobilidade Urbana Trânsito, meio ambiente e questões sócio-econômicas travam a liberdade de ir e vir nos grandes centros.

Os reflexos da crise internacional na avaliação de Germano Rigotto Como Curitiba se tornou modelo em transportes. Entrevista com Jaime Lerner Conectividade: vantagens e desvantagens de estar disponível 24 hs por dia



Revista

Publicação bimestral da Fenabrave – Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores. Ano 2 – Edição 11 – Outubro / Novembro 2008 Conselho Diretor Presidente dos Conselhos Deliberativo e Diretor: Sérgio Antonio Reze Presidente Executivo: Alarico Assumpção Jr. Vice-Presidentes: Apolo Rizk; Edson Luchini; Ênio Sardagna; Flávio Meneghetti; Joel Jorge Paschoalin; José Divalsir Gondaski; Mário Sérgio Moreira Franco; Vice-presidentes “Ad-hoc” Aldair Câmara; Gláucio Geara; Luiz Eduardo Barros Cruz e Guião; Mauro De Stefani; Octavio Leite Vallejo; Ricardo Teixeira De Stefani; Teodoro da Silva. Membros Natos (Ex-presidentes): Alencar Burti e Waldemar Verdi Júnior. Conselho Editorial Paula Dorotéia de Sousa, Luiz Adelar Scheuer, Valdner Papa, Rita Mazzuchini e Fátima Turci. Editoria e Redação MCE – Mazzuchini Comunicação e Eventos Rua Frei Rolim, 59 – CEP 04151-000 – São Paulo, SP Tels.: (11) 2577-6533 / 5582-0041/ 5582-0049 e-mail: rita@mcepress.com.br Editora e Jornalista Responsável Rita Mazzuchini (Mtb 22128) Editor Assistente Igor Francisco Redação Solange Suzigan Projeto Gráfico e Edição de Arte Heraldo Galan e Patricia Tagnin Fotos Marcos Alves Comercial DNF Comunicação Tels.: (11) 2281-8134 e (11) 3323-8138 E-mail: dealer@dnfpropaganda.com.br Impressão Pancrom Indústria Gráfica Tiragem 10 mil exemplares – distribuição nacional gratuita. Endereço para correspondência Fenabrave – Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores Avenida Indianópolis, 1967 – Planalto Paulista CEP 04063-003 – São Paulo/ SP Tel.: (11) 5582-0000 / Fax: (11) 5582-0001 E-mail: fenabrave@fenabrave.org.br Para contatos na redação E-mail: rita.comunic@fenabrave.org.br

EDITORIAL

O fim do universo paralelo Por Sérgio Antonio Reze Há três anos, quando reassumi a presidência da Fenabrave, lembro-me que um dos meus primeiros editoriais da Revista Dealer falava sobre a responsabilidade de cada um, sejam empresários, governantes ou simples cidadãos. O tempo passou e, ao renovar minha atuação nesta presidência, agora dividida com o companheiro Alarico Assumpção Júnior como presidente executivo, acredito que o tema RESPONSABILIDADE esteja, mais do que nunca, atual. Não quero ficar repassando meus conselhos, mas é preponderante, diante da crise internacional que já nos afeta, que tomemos consciência do que podemos e do que devemos fazer em prol de nossos negócios, de nossa cidadania e de nosso País. Numa fase como a que estamos passando, onde a crise maior em nosso setor chamase CRÉDITO, devemos estancar sangramentos financeiros, adiar investimentos de grandes volumes e manter a cabeça firme, de olho no caixa, mas sem alarde e sem o costumeiro pânico que faz com que muitos tomem iniciativas equivocadas como demissões em massa. Especialistas profetizam que esta crise deve durar uns dois anos e nosso segmento e, acredita-se, nosso País, tem plenas condições de passar por isso sem quebradeiras. O setor automotivo, no que tange ao mercado interno, tem ainda uma imensa demanda reprimida que, se não houver corte na renda/emprego, deverá continuar crescendo. É claro que em patamares mais comedidos, como já havíamos, inclusive, anunciado desde o início deste ano. Não seria saudável, afinal, termos crescimento de quase 30% todos os anos. Isso seria viver num universo paralelo e irreal. Com a maior massa da população já atendida, era de se esperar que em 2008 e 2009 o aumento das vendas fosse mais moderado. Mas vejam bem, disse aumento moderado, o que significa que devemos continuar sim crescendo. Isso significa dizer que não voltaremos ao patamar de 1996, tampouco de 2006. Avançaremos a passos mais brandos e nem por isso menos seguros. No entanto, é preciso alertar para a gestão de nossas empresas. Estar atentos ao caixa, ao atendimento ao cliente que, consciente da atual crise, tem se mostrado ainda mais perspicaz nas negociações. Do lado da Fenabrave, estamos alertas sobre a necessidade de interlocução com entidades congêneres e com o governo. Estamos em linha com a Anfavea, com quem mantemos contatos estreitos, nossa consultoria econômica (MB Associados) tem nos consolidado panoramas sempre atualizados da crise e seus mais prováveis impactos, e estamos conversando com o governo para que soluções sejam providas com urgência para que o crédito seja rapidamente restituído. Assim, retomando o início de minha argumentação, é preciso, mais do que nunca, que estejamos unidos. Que as concessionárias participem de suas associações de marca e estas da Fenabrave. Apenas um setor coeso e preparado pode avançar, seja em tempos de vôo de brigadeiro seja em tempos de turbulências. Não estamos vivendo em um universo paralelo. A crise afeta a todos e cabe a cada um cumprir o seu papel para que os efeitos sejam minimizados e suplantados. Boa leitura e bons negócios!

Autorização para reprodução de textos As matérias assinadas nesta revista são de responsabilidade do autor não representando, necessariamente, a opinião da Fenabrave. Autorizada a reprodução total ou parcial das matérias sem assinatura, desde que mencionada a fonte. A reprodução de matérias e artigos assinados devem contemplar autorização prévia e por escrito do autor.

Outubro / Novembro 2008

Sérgio Antonio Reze

Presidente da Fenabrave – Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores, entidade que reúne cerca de 5 mil concessionárias por meio de 37 associações de marca filiadas.


SUMÁRIO

Expediente/ Editorial

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Panorâmica

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Notas e notícias sobre o setor automotivo.

Painel Fenabrave

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Debate

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Fenabrave participa do 1o Encoserv, realiza III Encontro de Novas Lideranças e marca presença em diversos eventos do setor. Abrare, Assobrav e Regional do Paraná vencem Concurso de Participação no XVIII Congresso Fenabrave. NADA Convention & Expo terá palestras exclusivas em português.

Matéria de capa

Os congestionamentos diários vividos pelas populações das metrópoles afetam não só a qualidade de vida das pessoas, mas também o meio ambiente, além de ser uma questão preocupante para a economia do País. O que o Governo tem feito para melhorar a fluidez do trânsito? Quais são as soluções possíveis para aumentar a mobilidade nas grandes cidades?

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Por Luiz Carlos Bueno de Lima

O Secretário Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana comenta a Política Nacional de Desenvolvimento Urbano (PNDU).

Apoio Jurídico

Entrevista

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Por Ives Gandra da Silva Martins

O professor emérito da Universidade Mackenzie comenta o projeto sobre a Reforma Tributária, enviada pelo Governo Federal ao Congresso Nacional.

Tendências

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Visão econômica

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O ex-governador do Paraná e ex-prefeito de Curitiba, Jaime Lerner, fala sobre as soluções possíveis para melhorar a fluidez do trânsito nas metrópoles e sobre os projetos urbanísticos da cidade paranaense, que fizeram da capital do Paraná referência em planejamento urbano.

Com o avanço da tecnologia, os profissionais estão cada vez mais “conectados” com o trabalho. Diuturnamente, executivos estão acessíveis pelo celular, BlackBerrys ou por meio da internet. Até que ponto este nível de comprometimento é saudável?

Por Germano Rigotto

O ex-governador do Rio Grande do Sul e coordenador da Reforma Tributária no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social avalia a crise econômica internacional e seus reflexos no Brasil.

Gestão Ambiental

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Por Frederico Marinho

Assim como os eletroeletrônicos, a partir de abril de 2009, os veículos automotores sairão de fábrica com uma Etiqueta Veicular, na qual será indicado o consumo de combustível de cada modelo.

Espaço Aberto

O jornalista Fernando Calmon, especializado no setor automotivo, comenta sobre a camuflagem utilizada nos protótipos, parte da estratégia das montadoras para criar expectativa nos consumidores.

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Produtos e Lançamentos

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Salão Internacional do Automóvel e Salão da Motocicleta apresentam as últimas novidades do setor.

Outubro / Novembro 2008




Mobili谩rio para escrit贸rio www.alberflex.com.br


PANORÂMICA

Empresas podem ter acesso fácil e ágil por meio do Cartão BNDES

Oito jornalistas especializados e um leitor da revista DUAS RODAS testaram 38 motocicletas de 13 categorias na pista da Pirelli em Sumaré- SP e elegeram a Suzuki B-King como “Moto Ano 2008”. O modelo foi vencedor também na categoria Roadster. A premiação faz parte da 11a Edição do Concurso “Moto do Ano”, promovido pela revista. O concurso, realizado anualmente pela revista DUAS RODAS, é um dos mais democráticos e respeitados do segmento de motocicletas do Brasil. Neste ano, chegou à sua 11ª edição reunindo 150 motocicletas de diversas categorias. O concurso leva em conta o voto dos leitores e de jornalistas especializados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Os jurados avaliaram diversos quesitos, como Estilo, Motor, Suspensão, Conforto, Freios e Maneabilidade. Ao final dos testes de cada categoria os jurados aplicavam notas de 5 a 10 para cada quesito. Mario Villaescusa/DUAS RODAS

Mais de R$ 160 milhões já foram autorizados para micros, pequenas e médias empresas por meio do Cartão BNDES para aquisição de diversos tipos de veículos. Desde o lançamento do cartão, em setembro de 2002, R$ 51.599.847,85 já foram liberados para a compra financiada de motocicletas. Já para os veículos comerciais leves (camionetas, furgões e pick-ups) foram concedidos R$ 23.778.975,27. O crédito para o segmento de caminhões totalizou R$ 16.743.648,66. O restante do montante foi dividido em reboques, carrocerias, barcos, triciclos e quadriciclos, bicicletas, tratores rodoviários entre outros. São mais de 90 mil produtos disponíveis para a compra, desde computadores até aeronaves. O cartão BNDES atende diversos segmentos: coureirocalçadista, moveleiro, transformação plástica, panificação, edição de livros, têxtil, produtos fonográficos, rochas ornamentais, metalmecânico e automobilístico. Desde seu início, o cartão apresenta crescimento contínuo e expressivo. Atualmente, existem 145 mil cartões habilitados, somando um limite de crédito disponibilizado pelos bancos emissores (Bradesco, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal) superior a R$ 4,3 bilhões. “O cartão significou para o banco uma nova abordagem da concessão de crédito, visando simplificar e agilizar o acesso das micros, pequenas e médias empresas aos recursos do BNDES”, afirmou Rodrigo Bacellar, chefe do departamento de operações

Suzuki B-King é eleita a “Moto do Ano 2008”

Campeões por categoria BMW R 1200 GS Big-Trail Suzuki Boulevard 800 Custom Sundown V-Blade Custom até 250 cc Yamaha YZF R1 Esporte KTM 690 SM Motard Honda Hornet Naked Suzuki B-King Roadster Yamaha Neo Scooter Honda Pop Street até 110 cc Honda CG 150 Titan Street até 200 cc Yamaha Fazer 250 Street até 500 cc BMW G 650 XCountry Trail até 700 cc BMW K 1200 GT Turismo

%

Esses modelos receberam a maior nota em suas categorias. A Suzuki B-King obteve o maior número de pontos (493) e foi eleita a “Moto do Ano 2008”.

por internet do BNDES. Neste ano, até setembro, já foram desembolsados R$ 550 milhões por meio do cartão, em aproximadamente 40 mil operações, o que representa um crescimento de mais de 50% em relação ao mesmo período de 2007. O financiamento pode ser feito de 3 a 36 meses. O prazo médio atual é de 30 meses. Por meio de um simulador disponível no site (www.cartaobndes.gov.br) as empresas podem avaliar o prazo mais adequado em função da sua capacidade de pagamento. As prestações são fixas e iguais ao longo do período do financiamento. Em setembro, a taxa utilizada foi de 1,14% ao mês. Não há cobrança de abertura de

Suzuki B-King é a grande vencedora do concurso

crédito e nem de anuidade. Segundo Bacellar, as principais vantagens de se financiar com o cartão são: crédito rotativo pré-aprovado; financiamento automático em até 36 meses; prestações fixas e iguais e taxa de juros atrativa. “Além disso, geralmente, não há exigência de constituição de garantia real”, completou Bacellar. Para obter o cartão, as empresas de controle nacional devem ter faturamento bruto de até R$ 60 milhões, além de exercerem atividade econômica compatível com as políticas operacionais e de crédito do BNDES. São necessários os seguintes

documentos: certidão negativa de débito previdenciário emitida pela Receita Federal, certificado de regularidade do FGTS, certidão conjunta de débitos relativos a tributos federais e à dívida ativa da União e comprovação de regularidade quanto à entrega da RAIS. Mais informações: www.cartaobndes.gov.br

Rodrigo Bacellar, chefe do departamento de operações por internet do BNDES Outubro / Novembro 2008


Estudo aponta melhoria da produtividade Um estudo da Proudfoot Consulting, baseado em projetos realizados em 91 empresas do setor automotivo de 16 países, (Bélgica, Cingapura, México, Suíça, Austrália, Brasil, Hungria, Canadá, Itália, Áustria, Espanha, África do Sul, Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e França), apontou uma média de mais de R$ 9 milhões em benefício financeiro por empresa, um total de R$ 853 milhões nos últimos 10 anos. “Este estudo demonstra que os países mais desenvolvidos do setor são também os que mais investiram em produtividade durante o período em que foram coletados os dados. Esta tendência vale também para as empresas presentes no Brasil, considerando o aquecimento recente verificado no mercado nacional”, analisa João Currito, presidente da Proudfoot Consulting no Brasil. Os resultados obtidos devem-se à correção e investimentos em determinados processos, como o aumento de processamento produtivo (com a mesma infra-estrutura, ou seja, sem investimentos, como o CAPEX – Capital Expenditure); nível de satisfação das encomendas (completas e no prazo pré-determinado); redução de custos e diminuição de horas extras. A tabela a seguir mostra os principais vetores de atuação, o percentual em que apareceram nas 91 empresas estudadas e qual foi o benefício financeiro alcançado após o trabalho da consultoria. “O objetivo da pesquisa foi levantar a preocupação existente com a produtividade em empresas desse setor. O mercado tem feito muita pressão para que haja redução de desperdícios durante a produção”, afirma João Currito.

Principais vetores de atuação

%

Total de benefícios

Aumento de processamento produtivo

36,26

R$ 89.000.000,00

Diminuição de horas extras Gestão da cadeia de suprimentos Custos de qualidade Nível de satisfação de encomendas e no prazo pré-definido Redução de custos Outros Total de resultados

23,08 28,57 15,38 16,48

R$ 153.000.000,00 R$ 228.000.000,00 R$ 172.000.000,00 R$ 40.000.000,00

41,76 8,79

R$ 150.000.000,00 R$ 19.000.000,00 R$ 853.000.000,00

(com a infra-estrutura já existente – sem CAPEX)

Empresas analisadas por país (%) França Alemanha Reino Unido EUA África do Sul Espanha Áustria Canadá Itália Hungria Brasil Austrália Suíça México Cingapura Bélgica

Outubro / Novembro 2008

26,37 17,58 12,09 9,89 7,69 5,49 4,40 3,30 2,20 2,20 2,20 2,20 1,10 1,10 1,10 1,10

Iveco registra crescimento recorde em consórcio O Consórcio Nacional Iveco apresentou crescimento de 300% comparando o desempenho de janeiro a setembro de 2008 com o mesmo período do ano anterior. “O resultado se deve às excelentes condições de plano do consórcio Iveco, cujo valor da parcela é linear, além das variadas campanhas promocionais, da participação do consórcio em festas do setor e do trabalho realizado pelas equipes de vendas da rede de concessionárias Iveco”, afirmou Adriano Bruni, gerente do consórcio. Com uma grande campanha batizada de “Programma Campione”, o Consórcio Nacional Iveco atraiu novos clientes e alcançou a venda de 800 cotas nos últimos seis meses. O programa premia consorciados com uma viagem à Itália para conhecer Milão, Brescia e Veneza com todas as despesas pagas. Os premiados ainda visitam a fábrica da montadora em Suzzara e assistem a um jogo de futebol do Milan ou da Inter, no Estádio San Siro, em Milão. A política de menor custo adotada pela administradora, isentando o consorciado da cobrança de diversas taxas e seguros praticados pelo mercado é um dos diferencias do Consórcio Nacional Iveco, além das propostas flexíveis em relação aos prazos de pagamento e entrega dos veículos, adaptáveis às necessidades de cada cliente. A montadora mantém planos com o menor custo final do mercado, baseados em taxas de administração que variam entre 0,11% e 0,14% ao mês, com isenção de custos de adesão e seguros.


Nova identidade visual das concessionárias Honda Automóveis viabilizam uso de materiais recicláveis. Express Service: mais transparência e agilidade em serviços de oficina.

Honda Automóveis tem nova identidade visual A rede de concessionárias de automóveis Honda passa por uma transformação que trará mais modernidade à imagem da marca. O conceito central da nova identidade visual se fundamenta na busca constante da Honda por soluções que minimizam os impactos ao meio ambiente. Dessa forma, a empresa encontrou na avançada tecnologia uma alternativa para o uso racional dos recursos naturais em suas concessionárias e PAV’s (Pontos Avançados de Vendas).

turais, diminuir o desperdício, reduzir os custos e aumentar a produtividade. Entre as ações desenvolvidas pelas concessionárias, destacase o programa de coleta seletiva de resíduos descartados nas oficinas, como plástico, papel, papelão, metal e vidro. Já os materiais industriais (óleo usado, pneus e bateria) são encaminhados às empresas com certificação ambiental.

Além disso, as oficinas da rede de concessionárias de Seguindo uma tendência internacional da Honda, o novo automóveis contam com um sistema de exaustão de gases padrão tem uma representação mais avançada da marca, que livra o ambiente de fumaças tóxicas de escapamento além de uma infra-estrutura que viabiliza a utilização de e depósitos de fuligem prejudiciais à saúde. Outro exemmateriais recicláveis. plo são os boxes de lavagem dos veículos que removem As fachadas são iluminadas por LED’s, garantindo menor poluentes e impurezas da água antes de descarregá-la no consumo de energia e baixo custo de manutenção. sistema de esgoto. Concessionárias ecológicas – A preocupação com o meio ambiente não se restringe apenas à parte externa das distribuidoras. A Honda Automóveis incentiva e orienta as autorizadas a buscar soluções para preservar os recursos na-

Express Service Lançado com o objetivo de agilizar o atendimento nas oficinas das concessionárias da marca, o Express Service oferece serviços rápidos e de baixa complexidade, como revisões (10, 20 e 30 mil quilômetros), troca de óleo, alinhamento, substituições de pastilhas e de lâmpadas, entre outros, em até 90 minutos. Desta forma, elimina duas das principais objeções ao se levar o automóvel para uma revisão: uma possível longa es-

Lanterna multiuso: ideal para momentos de emergência Para um motorista, tão importante quanto fazer a revisão do veículo antes de viajar, é ter equipamentos adequados caso um acidente ou algo fora do planejado aconteça. A lanterna LED Saver Light, lançada pela OSRAM, empresa especializada em iluminação, promete facilitar a vida dos motoristas em momentos difíceis. Trata-se de 10

A implantação da nova identidade visual teve início em abril, na cidade de São Paulo, após um estudo criterioso realizado por profissionais da empresa. A previsão é que o programa seja implantado em todo o país até 2010. pera e a possibilidade de ficar sem o carro durante boa parte do dia. Também terá um atendimento baseado na transparência, uma vez que poderá acompanhar todo o processo. O Express Service representa um novo modelo de negócios para a rede autorizada. Com a introdução desse programa, a concessionária verá diminuir o tempo de ocupação de cada automóvel na oficina, aumentando espaços para novos serviços e reduzindo custos operacionais.

uma lanterna de emergência que pode fornecer até 70% mais luminosidade quando comparada com uma lanterna convencional. Ou seja, os condutores de veículos terão muito mais facilidade no momento de trocar um pneu ou mesmo procurar algum objeto dentro do veículo em situações em que há falta de luz. A LED Saver Light também garante ao motorista mais segurança caso um acidente mais grave aconteça. Uma das extremidades da ferramenta

Volvo é a melhor empresa para trabalhar no Brasil A Volvo foi reconhecida como a melhor empresa para trabalhar no Brasil, segundo pesquisa realizada pelas revistas Você S/A e Exame, da editora Abril. Neste ano, 550 empresas de todos os segmentos se inscreveram no levantamento, um número recorde nos 12 anos desde que a investigação começou. O guia avaliou a satisfação dos funcionários de três categorias de organizações: acima de 1,5 mil empregados, de 501 a 1,5 mil pessoas e até 500 funcionários. Na Volvo, trabalham 2,6 mil colaboradores. É a primeira vez que a Volvo é escolhida como a melhor empresa para trabalhar no Brasil, no que é considerado o estudo mais profundo de ambiente de trabalho do País. “As pessoas são nosso melhor ativo. Esta premiação é o reconhecimento de um extenso programa de investimentos nos funcionários que a Volvo mantém”, declara Tommy Svensson, presidente da Volvo do Brasil. “Paixão, energia e respeito pelas pessoas. Este é o segredo da Volvo para ser a melhor para trabalhar”, afirma Sônia Gurgel, gerente de recursos humanos da Volvo do Brasil.

Num só produto: lanterna, luz de segurança e quebra vidros

foi elaborada especialmente para quebrar vidros, enquanto a outra foi preparada para cortar os cintos de segurança.

Isso projetado para que o motorista não se machuque ou machuque os outros passageiros do veículo. Outubro / Novembro 2008



PAINEL FENABRAVE

Fenabrave participa do 1º Encoserv

C

om o objetivo de discutir uma política específica para o setor varejista brasileiro, a Fenabrave promoveu, com outras seis entidades, o 1º Encontro Nacional de Comércio e Serviços, no dia 13 de outubro, em São Paulo/SP. Patrocinaram também o evento: Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores (ABAD), Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS), Associação Brasileira de Franchising (ABF), Associação Brasileira de Lojistas de Shoppings (Alshop), Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) e Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV). Durante a abertura do evento, Marcos Stricker, sócio da consultoria A. T. Kearney, apresentou o Índice Global de Desenvolvimento do Setor de Varejo (GRDI), um estudo que analisa 30 países emergentes em termos de atratividade para o investimento internacional. O estudo analisa quatro elementos: Risco País, atratividade do mercado, saturação de mercado e a urgência em aproveitar uma janela de oportunidade. “O Brasil está situado na 9ª posição do ranking, subindo 11 posições em relação a 2007 e 18 comparado ao estudo de 2006”, comentou Stricker. A recente melhora no grau de investimento, aliada com uma possibilidade de fechamento das janelas de oportunidade

Sérgio Reze participa do painel “Políticas de Internacionalização e Exportação para o Comércio e Serviços”.

para países como China, Índia e Rússia, devido ao investimento já realizado, podem colocar o Brasil em posições ainda mais atrativas no curto prazo. No resultado, pôde ser verificado o forte crescimento dos países da América Latina. Já o Leste Europeu e Ásia estão em declínio e a África do Norte e o Oriente Médio estão começando a crescer. “O Brasil

apresenta maior atratividade de mercado entre os países emergentes no estudo – maior que o Vietnã e os outros do grupo. No entanto, o Risco País é ainda alto, o que acaba influenciando o índice negativamente”, comentou Stricker. Para ele, no futuro, não há dúvidas. A atratividade e importância do Brasil como oportunidade de investimento aumentará.

Edson Lupatini Jr., Secretário Nacional de Comércio e Serviços, o consultor Emerson Kapaz e o deputado Sandro Mabel participaram do evento em São Paulo.

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Políticas Tributárias e Trabalhistas – Durante a programação, o deputado Sandro Mabel falou sobre a Reforma Tributária, apresentando a visão da Câmara dos Deputados. Segundo Mabel, a idéia é “que paguem todos, para todos pagarem menos”. “A reforma vai aumentar a arrecadação, cobrando de quem não paga”, comentou o deputado, enfatizando que “o governo quer fazer uma reforma que vá desmanchando a cumulatividade”. A implantação do Código de Defesa do Contribuinte também está prevista na reforma. “É preciso dotar o contribuinte de maiores garantias”, esclareceu Mabel. A informalidade no mercado de trabalho e a Reforma Trabalhista também foram temas relevantes durante o evento. “Há muito o que fazer na área trabalhista. A legislação ainda é do tempo de 1943. O trabalho se modernizou. Hoje tem características bem diferentes”, afirmou o professor José Pastore, no Painel Políticas Tributárias e Trabalhistas no Comércio e Serviços, ressaltando que as relações de trabalho são mescladas – empregado, Outubro / Novembro 2008


cooperados, autônomos, entre outros. As novas tecnologias permitem, inclusive, trabalhar em casa. As jornadas de trabalho se tornaram atípicas. “O que você faz após as 8 horas de trabalho? Você para de trabalhar ou ainda resolve alguns assuntos por telefone e responde e-mails?”, questionou o professor. Segundo Pastore, a atual legislação despreza a correlação entre tecnologia, recursos humanos e o complexo e fragmentado processo produtivo. “É preciso conseguir proteção às várias maneiras de se trabalhar. É esta Reforma Trabalhista que o Brasil precisa”, enfatizou. Políticas de internacionalização e exportação – O amplo trabalho desenvolvido pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) também foi abordado durante a programação no Painel “Políticas de Internacionalização e Exportação para o Comércio e Serviços”. Maurício Borges, diretor de negócios da ApexBrasil pontuou algumas ações promovidas pela agência, entre elas, apoio à instalação de empresas no exterior; logística de distribuição; estudos setoriais das oportunidades de mercado, competitividade, e oportunidades de investimentos. A troca de informações, a capacitação do setor e os acordos multilaterais foram outras questões relevantes apontadas por Artur Grynbaum, presidente da Associação Brasileira de Franchising. “É preciso não só disponibilizar

País Vietnã Índia Rússia China Egito Marrocos Arábia Saudita Chile Brasil Turquia Outubro / Novembro 2008

linhas de financiamento para exportação de marcas, mas também tornar os processos menos burocráticos”, comentou Grynbaum. Sérgio Reze, presidente da Fenabrave, participou do painel e disse que “a Fenabrave representa os distribuidores de veículos, um setor regulamentado pelas concedentes que não pode atuar no exterior. Mas, o desenvolvimento de uma política de internacionalização do comércio será altamente produtivo”. Ele ressaltou, ainda, a importância sobre a troca de informações e de experiências entre os diversos setores da economia. No mesmo painel, Sussumu Honda, presidente da ABRAS, falou sobre diversas ações implementadas pela entidade no setor de exportação como: a intensificação de canais de importação e exportação, e troca de experiência e conhecimento em viagens técnicas internacionais. Propostas do setor para Ministério do Desenvolvimento – Ao final do evento, Emerson Kapaz, consultor estratégico do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo, entregou um documento com propostas para o setor ao Secretário de Comércio e Serviços, Edson Lupatini, que estava representando Miguel Jorge, Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. “É urgente que o setor se articule com o governo para planejar seu crescimento para os próximos 5, 10, 15 anos, preparando as políticas que possam dar sustentação a uma visão de longo prazo”, disse o consultor

Ranking 2008

Ranking 2007

1 2o 3o 4o 5o 6o 7o 8o 9o 10o

4o 1o 2o 3o 14o 15o 10o 6o 20o 13o

o

estratégico do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo. Para ele, nenhum resultado será alcançado de forma sustentável sem uma efetiva integração de toda a cadeia produtiva. Entre as sugestões apontadas para a área trabalhista está a criação de um “Simples Trabalhista”, visando desonerar a folha de pagamento das empresas. As principais questões indicadas para a área de tributos são: a redução da carga tributária, simplificação do sistema tributário e diminuição dos tributos dos produtos que compõem a cesta básica.

Outros quesitos abordados no documento são os programas de incentivo para o pequeno e médio empresário e o crédito. Foi sugerido apoio do BNDES ao setor com ampliação de linhas de financiamento e a criação de mecanismos que facilitem a concessão de crédito pelo sistema financeiro. Outras demandas também constam no documento como, por exemplo, análise segmentada dos diversos setores do comércio e serviços, treinamento e qualificação dos trabalhadores e programas para estimular investimentos.

NADA promove workshops para brasileiros A Fenabrave está organizando uma missão técnica para a NADA Convention & Expo. A convenção, promovida pela NADA- National Automobile Dealers Association, acontecerá de 20 a 27 de janeiro de 2009, em New Orleans, nos Estados Unidos. “É a primeira vez que a NADA propõe, oficialmente, um evento específico para os brasileiros com vários workshops com tradução simultânea”, afirmou o consultor Francisco Trivellato, que dará suporte ao grupo de brasileiros durante a viagem. Na oportunidade, os concessionários brasileiros poderão conhecer as melhores práticas de gestão e geração de resultados das distribuidoras de veículos norte-americanas e participar de workshops especialmente programados pela NADA para a Fenabrave, com tradução simultânea para o português. A missão técnica é dirigida para titulares, executivos e sucessores das concessionáFrancisco Trivellato. rias. Estão programados cinco workshops exclusivos para os integrantes do grupo, abordando os temas: Gestão de Veículos Novos, Benchmarking-Desempenho Econômico-Financeiro, Gestão de Veículos Usados, Gestão de Pós-Vendas e F&I. Durante a programação, o grupo também visitará a feira e três concessionárias. Após cada visita, haverá reuniões monitoradas com os participantes para aprofundar a discussão sobre o tema. Cada participante receberá programação, portifólio das empresas visitadas, questionário sugestivo de visita e cópia da apresentação dos workshops em português. Durante toda a programação, o grupo terá suporte do consultor Trivellato e uma equipe responsável pelo suporte logístico. O investimento para participar da missão técnica será de US$ 3.190, em apartamento duplo, e de US$ 3.590, em individual. Os valores incluem despesas de passagem aérea (classe econômica), 5 diárias de hotel, traslados aeroporto/hotel/aeroporto, transporte para visitas e eventos, suporte técnico, seguro de viagem e inscrição na Convenção da NADA. Para mais informações, acesse: www.fenabrave.org.br

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PAINEL FENABRAVE

Fenabrave participa de eventos do setor Os meses de setembro e outubro foram repletos de eventos do setor automobilístico. A Fenabrave, por meio do presidente Sérgio Reze, participou, no dia 11 de setembro, da exposição comemorativa de 15 anos da Audi no Brasil, em São Paulo/SP. No dia 15 do mesmo mês, Reze representou a entidade na comemoração de 20 anos do Consórcio dos Concessionários Volkswagen, realizada no Jóquei Club de São Paulo. No dia 17, acompanhou o lançamento do sedan Fiat Linea. Em 6 de outubro, Edson Zanetti, assessor econômico da Fenabrave, participou do workshop “A Integração da Indústria de Autopeças na América Latina”, em São Paulo/SP e abordou os desafios da distribuição de veículos, promovido pelo Sindipeças – Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores.

III Encontro de Novas Lideranças reune jovens em São Paulo A Fenabrave realizou o III Encontro de Novas Lideranças, nos dias 12 e 13 de novembro, na sede da entidade. “Nosso objetivo foi promover a formação político- empresarial da nova geração de líderes no setor da distribuição automotiva e mostrar a importância do engajamento nos meios de representação associativa nos jovens que possuem forte e sólida formação técnica”, disse Sérgio Reze, presidente da Fenabrave. Segundo ele, o momento foi propício para a realização do evento, pois a crise financeira mundial e a nova realidade do crédito devem alterar as decisões a serem tomadas pelos empresários. No primeiro dia do evento, o presidente da Fenabrave abordou a importância da atuação política associativa, tema também do debate da mesa redonda, onde Paulo Simões Filho, diretor

superintendente da concessionária Abolição e Alarico Assumpção Júnior, presidente executivo da Fenabrave, apresentaram um Case Prático. No final do dia 12, houve um evento surpresa para os participantes, com coquetel e show da cantora Malu Magalhães. No dia 13, Dr. Francisco Gabilan, advogado de várias associações do setor automotivo, falou sobre a Lei 6729 e sua implicação no dia-a-dia da atividade da concessionária, e “Os Desafios e a Prática Sucessão nos EUA” foi abordado por Matthew C. Haiken, sucessor e representante da National Automobile Dealers Association (NADA). Na parte da tarde, Luis Otávio Matias, diretor do Banco Itaú, comentou a crise econômica mundial e seus impactos no Brasil. Ao final da programação, o consultor Francisco Trivellato falou sobre “Estratégias Rentáveis para 2009”.

A cantora Malu Magalhães faz show para jovens líderes do setor na sede da Fenabrave.

A Fenabrave também foi representada, no dia 7 de outubro, por Alarico Assumpção Júnior, presidente executivo da entidade, na Automec Pesados & Comerciais - 1ª Feira Internacional Especializada em Peças, Equipamentos e Serviços para Veículos Pesados & Comerciais. A Kawasaki Motores do Brasil também contou com a presença da Fenabrave no dia 10 de outubro, em evento realizado, em São Paulo, para inaugurar formalmente suas atividades no Brasil. A empresa implantará unidade industrial em Manaus/AM. No dia 14 de outubro, a Federação também foi representada por Sérgio Reze no jantar comemorativo dos 30 anos da Associação Brasileira dos Concessionários Scania (Assobrasc), realizado em São Paulo/SP. No dia 28 de outubro, Reze foi um dos painelistas do Seminário “Setor Automotivo: Perspectivas 2009”, realizado por Autodata no WTC Hotel, em São Paulo-SP.

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XVIII Congresso premia Abrare, Assobrav e Regional PR Duas associações de marca e uma regional venceram o Concurso de Participação no XVIII Congresso Fenabrave, realizado no mês de agosto, em Curitiba/PR. O concurso teve como objetivo estimular a adesão ao evento. A grande vencedora foi Edenete Barbosa Bezerra Araújo, executiva da Abrare – Associação Brasileira dos Concessionários Renault, que conseguiu a adesão de 100% da rede. Mauro Imperatori, da Assobrav – Associação Brasileira de Distribuidores Volkswagen, ficou com o segundo lugar, com 87% de participação da rede da marca. A primeira colocada recebeu um pacote de viagem no valor de R$ 5 mil e o segundo, um pacote de viagem de R$ 2,5 mil. A Regional que se destacou foi a Fenabrave/PR. A executiva da entidade Isabel Cristina da Silva recebeu um pacote de viagem no valor de R$ 5 mil.

Outubro / Novembro 2008


Sérgio Reze e Alarico Assumpção Jr. dividem presidência da Fenabrave Eleições realizadas no último dia 30 de setembro, na sede da Fenabrave-Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores, em São Paulo/SP, garantiram, por aclamação das associações de marca, a permanência de Sérgio Antonio Reze na presidência da Federação durante o triênio 2008-2011. O organograma da entidade sofrerá alguns ajustes para o próximo período. Ao se pronunciar durante a reeleição, Sérgio Reze disse que ocupará a presidência dos Conselhos Deliberativo e Diretor da Fenabrave e anunciou o nome de Alarico Assumpção Júnior, um dos vice-presidentes que compõem o Conselho Diretor da entidade, para o cargo de presidente executivo da federação. “Com esta medida, estaremos dividindo atribuições

O Conselho Deliberativo da Fenabrave é composto pelos presidentes das associações de marca filiadas à Federação, e o Conselho Diretor, eleito para o triênio 2008-2011, será composto por:

Alarico Assumpção Júnior

na casa. Permanecerei com as atividades de representatividade política e de contato com a imprensa, e Alarico ficará com a responsabilidade administrativa da entidade”, revela Sérgio Reze. A diretoria executiva, ou Conselho Diretor, continua sendo composta por concessionários que representam todos os segmentos automotores: automóveis e comerciais leves, caminhões e ônibus, tratores e máquinas agrícolas, implementos rodoviários e motocicletas. “Temos concessionários indicados pelas associações de marca para representar cada segmento e daremos continuidade às comissões setoriais para que possam ser alavancadas ações específicas”, explica o presidente dos Conselhos.

Aldair Câmara Apolo Rizk Edson Luchini Ênio Sardagna Flávio Meneghetti Gláucio Geara Joel Jorge Paschoalin José Divalsir Gondaski Luiz Eduardo Barros Cruz e Guião Mário Sérgio Moreira Franco Mauro De Stéfani Octávio Leite Vallejo Ricardo Teixeira De Stéfani Teodoro da Silva

PRESIDENTE DOS CONSELHOS

PRESIDENTE EXECUTIVO

Sérgio A. Reze, Presidente dos Conselhos da Fenabrave - Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores, tem 72 anos, é administrador de empresas e titular das concessionárias Volkswagen Abrão Reze e Cobel em Sorocaba-SP. Detém, ainda, concessões Hyundai e Dafra, nas cidades de Sorocaba, Itu e Indaiatuba, todas no interior paulista. Reze iniciou sua carreira associativa há mais de 30 anos, fazendo parte da diretoria da Assobrav - Associação Brasileira de Distribuidores Volkswagen, entre os anos de 1973 a 1984. Em 1985, foi eleito presidente desta entidade para um mandato de dois anos e, em 1988, foi efetivado como presidente do Consórcio dos Concessionários Volkswagen, onde permaneceu até 1995 e, de 1999 até 2005. Vice-presidente da Fenabrave desde 1987, assumiu, em maio de 1992, pela primeira vez, a presidência da entidade. Foi reeleito em 1994 e teve o mandato prorrogado até setembro de 1998. Em 1999, assumiu novamente a presidência da Assobrav tendo sido reeleito para ocupar o cargo até 2005, quando deixou esta entidade para reassumir a presidência da Fenabrave até 2008. Agora reeleito na presidência dos Conselhos da Fenabrave, permanecerá no cargo durante o triênio 2008-2011.

Natural da cidade de Araguari-MG, o empresário Alarico Assumpção Júnior tem 55 anos e é diretor superintendente do Conselho de Acionistas da Holding Deriva Participaões S/A (Grupo Suécia), que detém as concessionárias Suécia Veículos S/A (Volvo), Viking-Center – Seminovos (Volvo), Urca Motors Veículos Ltda (Hyundai), Urca Motos Ltda (Dafra) e filiais das três marcas distribuídas nos estados de Tocantins, Minas Gerais, Goiás e no Distrito Federal, totalizando 17 pontos de atendimento. Na vida associativa, Alarico Assumpção Júnior foi presidente do Conselho Deliberativo e Diretoria Executiva da ABRAVO- Associação Brasileira dos Distribuidores Volvo (1992-2004), Conselheiro Titular (1992-2004) e Vice-Presidente da Fenabrave – Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (2005-2008). Indicado para Presidente Executivo da entidade, exercerá o cargo durante o período de 2008 a 2011.

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debate

Por Luiz Carlos Bueno de Lima

Uso racional do automóvel O uso racional dos meios de transporte pode ser benéfico para diversos setores da sociedade. Este conceito, alinhado a políticas de infra-estrutura eficientes, ampliam a mobilidade urbana em grandes cidades e ainda contribuem para a melhora da qualidade de vida. setoriais essenciais para o desenvolvimento urbano do ponto de vista econômico, social e estratégico. Quatro Secretarias Nacionais: Habitação, Saneamento Ambiental, Transporte e Mobilidade Urbana e Programas Urbanos; o Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN) e duas empresas públicas: Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) e Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre S/A (TRENSURB) constituem a estrutura para o desenvolvimento e a condução da Política Nacional de Desenvolvimento Urbano (PNDU), cujo objetivo é “orientar e coordenar esforços, planos, ações e investimentos dos vários níveis de governo e, também, dos legislativos, do judiciário, do setor privado e da sociedade civil na busca da equidade social, maior eficiência administrativa, ampliação da cidadania, sustentabilidade ambiental e resposta aos direitos das populações vulneráveis: crianças e adolescentes, idosos, pessoas com deficiência, mulheres, negros e índios”. Especificamente para a mobilidade urbana, a PNDU estabeleceu objetivos em três campos estratégicos de ação: para o desenvolvimento urbano, “a integração entre transporte e controle territorial, a redução das deseconomias da circulação e a oferta de transporte público eficiente e de qualidade”; para a sustentabilidade

ambiental, “o uso equânime do espaço urbano, a melhoria da qualidade de vida, a melhoria da qualidade do ar e a sustentabilidade energética”; e para a inclusão social, “o acesso democrático à cidade e ao transporte público e a valorização da acessibilidade universal e dos deslocamentos de pedestres e ciclistas”. A consecução dos objetivos da PNDU, por sua vez, é orientada por três conceitos de aplicação prática: “o planejamento integrado de transporte e uso do solo, a atualização da regulação e da gestão do transporte coletivo urbano, a promoção da circulação não motorizada e o uso racional do automóvel”. Como ação continuada no âmbito do Governo Federal, o Ministério das Cidades, por meio da Secretaria

Divulgação

A

maioria das cidades brasileiras de médio e grande porte vem enfrentando diversos problemas relativos à gestão dos sistemas de transporte público e de circulação. Essas questões têm sido discutidas intensamente no Brasil, na busca de caminhos para uma política urbana e de transporte que seja capaz de lidar de maneira satisfatória com os problemas decorrentes de ações inadequadas praticadas ao longo das últimas décadas. A prioridade dada ao uso do automóvel em detrimento do incentivo ao uso e à melhoria do sistema de transporte público e a ausência de políticas eficazes de planejamento urbano e de controle do uso do solo permitiram o uso indiscriminado das vias para o tráfego de veículos. O mau uso das vias, associado à falta de um plano de hierarquização viária, tem propiciado, nos centros urbanos, notadamente em suas áreas mais adensadas, degradação ambiental, aumento do número de acidentes envolvendo pedestres e retardamentos no fluxo de tráfego. Desde a criação do Ministério das Cidades, em 2003, o Governo Federal concentrou em uma única Pasta as políticas públicas de trânsito e transporte urbano que, até então, encontravam-se dispersas, articulando-as também com outras políticas

Luiz Carlos Bueno de Lima é secretário Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana

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Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana - SeMob, promove atividades de mobilização e sensibilização que têm por objetivo a reflexão sobre a sustentabilidade dos meios de transporte e o uso racional do automóvel. No dia 22 de setembro, várias cidades do mundo se reuniram para repensar o significado e a importância da vida diante das estatísticas de morte no trânsito, sensibilizando-se sobre a democratização do uso do espaço público e a dimensão da solidariedade, sobre o incentivo ao uso do transporte coletivo e formas solidárias de deslocamento, sobre um alinhamento em relação às políticas ambientais, de qualidade de vida, e sobre a mobilidade urbana de forma sustentável, onde a prioridade esteja no deslocamento das pessoas e não na fluidez de veículos. Desde 2004, como instrumento de divulgação da Política Nacional de Mobilidade Urbana, o Ministério das Cidades promove a Jornada Brasileira “Na cidade sem meu carro”, que se insere no contexto do movimento internacional “Dia Mundial Sem Carro”, em defesa do meio ambiente e da qualidade de vida nas cidades. O desafio central desse projeto é estimular as pessoas a deixarem seus carros na garagem durante o dia 22 de setembro. Assim elas verão que uma outra cidade é possível, com menos poluição, menos acidentes e mais espaço para as pessoas. Porém, há um objetivo implícito à ação do Governo Federal que é sensibilizar as pessoas para a opção de deixar os carros nas garagens não só no dia 22, mas sempre que for possível. Dessa maneira, es-

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O objetivo é chamar a atenção para a necessidade de se repensar o modelo de mobilidade e os impactos negativos do uso indiscriminado do automóvel.

taremos estimulando o uso racional do automóvel e, no final das contas, a cidade agradece! O objetivo é chamar a atenção para a necessidade de se repensar o modelo de mobilidade e os impactos negativos do uso indiscriminado do automóvel. Neste ano de 2008, o Ministério das Cidades realizou o Seminário “Na cidade sem meu carro” que contou com a participação de quase 200 pessoas entre representantes de governos estaduais e municipais, órgãos do Governo Federal, estudantes, professores, associações e entidades ligadas à mobilidade urbana e grupos de ciclistas. Para ampliar o alcance, proporcionando maior visibilidade e divulgação à Política de Mobilidade Urbana, lançamos, paralelamente, a mostra fotográfica “Bicicletas pelo Mundo – Rodando o Brasil”, que está sendo veiculada em estações do Metrô-DF, Trensurb e CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos) ao redor de todo o Brasil. Mesmo reconhecendo a importância da indústria automobilística, não significa que a SeMob não deva estimular o debate sobre os automóveis. A ocasião do Dia Mundial Sem Carro constitui momento propício para a expressão pública diante do assunto e para a congregação de esforços no sentido de promover novos rumos que aliem desenvolvimento econômico e sustentabilidade sócio-ambiental. Embora o movimento do “Dia Mundial Sem Carro” seja incisivo na questão do automóvel, não se trata de acreditar que as cidades podem viver sem eles. A questão colocada para reflexão é sobre o uso racional dos meios de transporte.

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CAPA

Os desafios da mobilidade urbana A mobilidade urbana ultrapassa os constantes congestionamentos ocorridos nas metrópoles. É uma questão que envolve não apenas a fluidez do trânsito, mas uma série de aspectos ambientais, sociais e econômicos. Apesar do Governo ter realizado algumas ações visando melhorar o trânsito nas grandes cidades, faltam políticas públicas de longo prazo para assegurar maior qualidade de vida à população.

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L

ocomover-se nas grandes cidades tornou-se um dos aspectos mais exaustivos para os cidadãos. Os congestionamentos, o transporte público, acidentes e todas as variáveis relacionadas à mobilidade urbana são temas relevantes e constantes não só dos noticiários, mas da rotina dos habitantes das metrópoles. Os efeitos causados pelos congestionamentos estão associados à qualidade de vida dos habitantes, ao meio ambiente e até mesmo à competitividade das empresas. Mas, não se pode considerar apenas um ou outro aspecto e tornar o volume de veículos nas ruas o grande vilão da história. Os números relacionados à produção, vendas e frota de veículos são expressivos. Em 2007, houve aumento de 27,8% no emplacamento de automóveis e comerciais leves no país e, em 2008, o aumento deve chegar próximo aos 20% mesmo com a atual crise internacional. Serão mais de 3 milhões de veículos circulando e mais de 5 milhões se forem somados caminhões e ônibus, motocicletas, máquinas agrícolas e implementos rodoviários. O aumento do número de carros novos nas ruas das grandes cidades, especialmente em São Paulo, tem gerado uma série de debates sobre o caos do trânsito. A média diária das vendas de automóveis e comerciais leves no país chegou a 11 mil unidades no acumulado até outubro de 2008. Só em São Paulo foram para as ruas cerca de 1,4 mil carros novos por dia.

Alfredo Peres da Silva.

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A frota brasileira cresce a passos largos. Em janeiro de 2008, o Brasil ultrapassou a marca de 50 milhões de veículos cadastrados no RENAVAM. Este número coloca a frota brasileira entre as 10 maiores do mundo. De acordo com o Denatran, só de 1990 a 2007, a frota brasileira quase triplicou, crescendo 171,77%. Em 1998, a frota somava 30,9 milhões de veículos. Este número saltou para 42 milhões em 2005, numa alta de 35,98%. Comparando os períodos, a população aumentou 13,85%, de 161,7 milhões para 184,1 milhões. “Apesar da população ter aumentado em proporção menor, a relação veículo/habitante cresceu 19,37%”, afirmou Alfredo Peres da Silva, diretor do Denatran, para quem os desafios dos gestores públicos são enormes: aumento dos índices de motorização, acidentes, congestionamentos, conflitos no trânsito, poluição atmosférica e, conseqüentemente, dos custos. Para Peres, o trânsito seguro e eficiente passa pelo sistema de educação, fiscalização e engenharia. “Atrelado a esses três aspectos, constam outros como melhorias nos sistemas viários e transportes; preenchimento dos vazios urbanos e descentralização das atividades econômicas, o que reduziria os deslocamentos, instituição da Inspeção Anual Veicular, melhorias na gestão e legislação de trânsito”, enumera Peres. O agravamento dos congestionamentos nas grandes cidades já vem sendo anunciado há muito tempo por especialistas mas, nos últimos anos, está beirando o caos. A estabilidade econômica aliada ao crédito

Gilberto Luiz do Amaral.

facilitado estimulou o aumento da frota de veículos brasileira e os investimentos em infra-estrutura têm sido insuficientes. “É preciso investir em obras viárias e engenharia de trânsito, com mudanças, inclusive, de circulação em diversas vias. O que é feito com a arrecadação de impostos que incide sobre os veículos?”, questionou Sérgio Reze, presidente da Fenabrave, acrescentando: “Não dá para tentar resolver os congestionamentos retirando os veículos de circulação”. Tributos na carona – A tributação em toda a cadeia automotiva é elevada. “Os tributos chegam ao consumidor representando 38% do preço final do veículo de baixa cilindrada. Os de maior cilindrada o percentual sobe para 43%”, afirmou Gilberto Luiz do Amaral, presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT). Segundo o especialista, toda a cadeia automotiva tem grande representatividade na economia do País. O setor tem potencial altamente arrecadador. Além da tributação sobre as vendas dos veículos ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), PIS (Programa de Integração Social) e Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social), há tributos sobre a folha de pagamento da mão-de-obra (INSS e FGTS), itens financeiros (IOF), patrimoniais (IPVA e IPTU) e sobre o lucro (IR e Contribuição Social). “A carga tributária no Brasil é uma das mais elevadas do mundo”,

Flávio Adura.

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“Os acidentes de trânsito são as principais causas de morte não natural no mundo”. dr. Flávio Adura, presidente da ABRAMET.

CAPA

disse o presidente do IBPT. Na Argentina, a cobrança de impostos chega a 24%, na Europa a 30% e, na China, a incidência é de 20%. No segmento de importados, cerca de 60% do valor do veículo são tributos. Na opinião de Amaral, a alta tributação prejudica não só o acesso da população aos veículos, mas também à aquisição de itens de segurança e conforto como airbag, arcondicionado e ABS. “O consumidor acaba comprando um veículo básico e menos seguro”, comentou. Questão social, ambiental e econômica – Na opinião de Jackson Schneider, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a mobilidade urbana vai além dos problemas de congestionamentos do dia-a-dia. É uma questão social, ambiental e econômica, tanto para o ir e vir do cidadão, quanto para a qualidade de vida e para a própria sustentabilidade das economias. “A mobilidade urbana deve ser vista a partir de um conjunto de fatores: quantidade de veículos, transporte individualizado, transporte público, adensamento

residencial e populacional, infra-estrutura viária, engenharia de trânsito e planejamento urbano das grandes cidades”, sintetizou Schneider. Segundo o presidente da Anfavea, o futuro exige a definição de políticas públicas permanentes para as metrópoles, envolvendo diversos setores do governo e setores privados, de caráter nacional, integradas com políticas sociais e estaduais. A indústria automobilística está fazendo a sua parte – desenvolve e produz veículos com tecnologia de última geração visando reduzir o consumo de combustível e as emissões, não só de gases poluentes, mas também de ruídos. “Os veículos emitem hoje 20 vezes menos CO2 que aqueles dos anos 80, com redução de 40 gramas de

Comparativo de lentidão (km)

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CO2 por quilômetro rodado para 2 gramas por quilômetro”, comentou Schneider. A emissão de hidrocarbonetos também foi reduzida de 4 gramas por quilômetro para 0.3 gramas. Os carros ficaram menos barulhentos. O ruído externo diminuiu de 84 decibéis nos anos 70 para 74 decibéis na atualidade. Os carros compactos, que representam hoje 90% do mercado brasileiro, também favorecem a mobilidade. Com menores dimensões e motorizações de 1.0 a 2.0 litros, esses modelos ocupam menor espaço nas vias públicas. Os investimentos em prol de tecnologias “mais limpas” não páram. Os veículos bicombustíveis, que rodam com álcool-gasolina, somam 5,6 milhões de unidades no mercado. Segundo o presidente da Anfavea, até 2015, mais de 25 milhões de veículos estarão circulando no País com esta tecnologia. Pesquisas e projetos em favor da mobilidade e meio ambiente são desenvolvidos constantemente em outros países. De acordo com Schneider, os conceitos de qualidade ambiental e de mobilidade urbana estão cada vez mais presentes no DNA dos veí-

Fonte CET/SP

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culos, anunciados para o futuro no cenário internacional. Em sua opinião, outra medida que ajudaria a questão da mobilidade urbana é a inspeção veicular. “Em São Paulo, parte substancial dos congestionamentos decorre de veículos quebrados parados nas vias públicas, uma vez que 30% da frota da região metropolitana, segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego, circula em situação irregular do ponto de vista de segurança e meio ambiente”, exemplificou Schneider. Custo social do trânsito – Os números relacionados a acidentes de trânsito são assustadores. No Brasil, a cada dia, cerca de 100 pessoas morrem e 1.000 ficam feridas. A cada ano, só no SUS (Sistema Único de Saúde) - cerca de 35 mil mortes (taxa de 19,4/100 mil habitantes), 380 mil feridos e 120 mil internações hospitalares são registradas. Nos últimos 10 anos, as taxas de mortalidade (número de óbitos em relação à população), permaneceram estáveis entre 1996 e 1997, decresceram até 2000 e aumentaram entre 2001 e 2005. Segundo o dr. Flávio Adura, médico especialista em Medicina de Tráfego e presidente da Associação Brasilei-

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ra de Medicina de Tráfego (ABRAMET), o decréscimo verificado entre 1998 e 2000 pode corresponder a um reflexo da atuação do novo Código de Trânsito Brasileiro. Já o aumento, registrado em seguida, pode ser atribuído à flexibilização das medidas de fiscalização e inaplicabilidade das sanções previstas na nova legislação. “Os acidentes de trânsito são as principais causas de morte não natural no mundo. No Brasil, são a segunda causa, sendo superados apenas pelas armas de fogo”, indignou-se o presidente da ABRAMET, acrescentando: “Em São Paulo, esta relação se inverteu recentemente”. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os acidentes de trânsito superarão a AIDS e os acidentes vasculares cerebrais como principais causas de mortes evitáveis. “No Brasil, um terço das lesões medulares que levam seus portadores à condição de cadeirantes pelo resto de suas vidas são provocadas pelos acidentes de trânsito”, enfatizou. O fator humano é citado como preponderante nas causas dos acidentes, mas a falta de manutenção dos veículos e falhas mecâni-

cas também estão entre os principais agentes de desastres, assim como dirigir em excesso de velocidade, desobedecer sinalizações, guiar sob efeito de álcool, fadiga, sono e uso de medicamentos que causam sonolência. Segundo pesquisa divulgada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a morte de uma pessoa em um acidente de trânsito representa um prejuízo de R$ 291 mil. Em 2007, o Brasil perdeu R$ 30,4 bilhões em acidentes de trânsito. “Para se avaliar o custo social dos acidentes de trânsito, deve-se levar em conta a agressão à saúde física e psíquica, as perdas de vidas, a perda da sobrevida esperada, o sofrimento da vítima, dos parentes e amigos, angústias e tristezas, danos à qualidade de vítima, os impactos econômicos, as faltas e perdas do emprego e os problemas legais envolvidos”, considerou o Adura. Bebida e direção – “O álcool é um dos principais vilões do trânsito porque é uma substância que altera a percepção, aumenta a agressividade, diminui a atenção e está presente no sangue das vítimas em quase 50% dos acidentes fatais”, afirmou Adura.

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CAPA

Com a implantação da Lei Seca que, desde o dia 20 de junho pune motoristas que dirigem após ingerir bebidas alcoólicas, o número de atendimentos a vítimas de acidentes nos hospitais estaduais de São Paulo foi 49,2% menor comparando os dois meses de vigência da Lei com o mesmo período imediatamente anterior à entrada da medida em vigor. Segundo o levantamento da Secretaria de Estado da Saúde, foram cerca de 9 mil acidentados a menos. No primeiro mês de vigência, a Lei fez cair o número de acidentes de trânsito atendidos pelo Samu em 17 capitais e no Distrito Federal. O Grupamento de Socorro de Emergência (GSE) dos Bombeiros do Rio de Janeiro também atendeu menos vítimas decorrentes de acidentes de trânsito no segundo mês em que vigorou a nova legislação. A queda, segundo a Agência Brasil, foi de 16% em relação ao mesmo período de 2007. Iniciativas do Governo – O governo implantou, neste ano, uma série de medidas para reduzir os congestionamentos, aumentar a fluidez e, assim, também melhorar a qualidade do ar. Após a entrada em vigor das novas regras impostas ao tráfego de caminhões na cidade de São Paulo, os índices de congestionamentos têm diminuído na capital paulista. A nova legislação restringe a circulação dos VUC’s (Veículos Urbanos de Carga) na Zona Máxima de Restrição de Circulação (ZMRC), que compreende 100 km². No primeiro mês de vigência, de 30 de junho a 31 de julho de 2008, os VUC’s com final de placa par transitaram das 5h às 21h na área de restrição apenas em dias pares do mês. Já os caminhões com placa final ímpar rodaram em dias ímpares no mesmo horário. De 1º de agosto a 31 de outubro, o horário de circulação dos VUC’s com final de placa par foi das 10h às 16h em dias pares. E os com final de placa ímpar apenas nos dias ímpares no mesmo horário. A partir de novembro, o tráfego passou a ser permitido à noite e de madrugada. Os caminhões grandes já tinham circulação restrita no Centro. Em julho, os caminhões também passaram a integrar o mesmo sistema de rodízio 22

“É preciso investir em obras viárias e engenharia de trânsito, com mudanças, inclusive, de circulação em diversas vias. O que é feito com a arrecadação de impostos que incidem nos veículos?” Sérgio Reze, presidente da Fenabrave.

de automóveis, implantado há 10 anos na capital paulista, e ficaram proibidos de circular, conforme o dia da semana e o final da placa, no horário das 7h às 10h e das 17h às 20h no centro expandido da cidade. Os primeiros resultados puderam ser sentidos na mobilidade urbana após a vigência das restrições aos caminhões. Segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), após um mês e meio da entrada em vigor da nova restrição para carga e descarga de caminhões no centro da cidade e 15 dias após a vigência do rodízio municipal de placas para caminhões, no centro expandido, o resultado alcançado foi muito positivo. Houve boa melhoria na fluidez do trânsito na cidade de São Paulo, em todos os horários a partir das 7h30 e acentuada diminuição da lentidão no pico da manhã. A comparação dos índices de lentidão registrados em julho de 2007 (eliminadas as duas primeiras semanas, nas quais o rodízio de veículos foi dispensado) com julho de 2008 demonstram redução de 28% no período de pico da manhã (7h às 10h) e 6% no período de pico da tarde/noite (17h às 20h). Entre os horários de pico (10h às 17h), houve também melhoria na fluidez, com redução de 24%. Nas duas primeiras semanas de agosto, comparadas com o mesmo período do ano passado, também foi constatada redução de 15% de lentidão no horário de pico pela manhã e de 9% no horário de pico no período da tarde/noite. Outra iniciativa que deu certo foi a faixa reversível da Av. Penha de França, no bairro Penha, implantada no dia 22 de setembro pela SPTrans e CET. O novo corredor virtual, que funciona entres as ruas Caquito e Henrique de Souza Queiroz, gerou ganho de tempo de 85% para os usuários de ônibus. Antes, os coletivos demoravam 15 minutos para atravessar o trecho, que agora pode ser cumprido em quatro minutos. A medida beneficiou cerca de 37 mil pessoas que utilizam 377 ônibus que circulam pelas 31 linhas da região. Transporte coletivo cresce – A participação do transporte coletivo está aumentando. Segundo levantamento do Metro (Cia. do Outubro / Novembro 2008


Após a restrição aos caminhões em São Paulo, a CET registrou redução de 28% na lentidão durante o período de pico.

Metropolitano de São Paulo), CPTM (Cia. Paulista de Trens Metropolitanos), EMTU/ SP (Empresa Municipal de Transportes Urbanos), SPTrans (São Paulo Transporte) e CET, a população da Região Metropolitana de São Paulo está utilizando mais o coletivo nos seus deslocamentos. Pela primeira vez, depois de 40 anos de medições, o estudo mostrou que o transporte coletivo está sendo mais valorizado. Em 2007, foram realizadas 13,8 milhões de viagens diárias por modo coletivo, o que representa 55% das travessias, enquanto o modo individual totalizou 11,2 milhões de viagens, o que equivale a 45% do total de deslocamentos. Número favorável se comparado aos registrados entre 1967 a 2002, quando a participação do transporte coletivo havia caído de 68% para 47% e as viagens individuais haviam subido de 32% para 53%. As razões apontadas para a inversão no cenário das viagens se devem a vários fatores. Nos últimos 10 anos, o Metrô aumentou a oferta de lugares em 45% e a CPTM em 84%, reduzindo o intervalo entre os trens. Além disso, medidas de política tarifária foram implementadas, permitindo a transferência livre entre CPTM e Metrô nas estaOutubro / Novembro 2008

ções Luz, Brás, Barra Funda e Santo Amaro, e a integração entre os sistemas de ônibus locais e o transporte sobre trilhos. Outro fator que contribui para a atratividade do sistema metroferroviário foi a maior abrangência. Foram inauguradas três estações na Linha 2-Verde: Chácara Klabin, Imigrantes e Alto do Ipiranga. A Linha 9-Esmeralda da CPTM também ganhou três novas estações: Autódromo, Primavera-Interlagos e Grajaú, além da modernização da Linha 12-Safira que, agora, conta com mais cinco novas estações. Até 2010, o Governo do Estado de São Paulo, por intermédio da Secretaria dos Transportes Metropolitanos (STM), investirá mais R$ 19 bilhões no Plano de Expansão, destinados à CPTM, EMTU e Metrô. Com essa aplicação, a rede metroferroviária vai praticamente quadruplicar e chegar a 240 km, com a transformação de 160 km da CPTM em metrô de superfície, que se caracteriza pela rapidez, qualidade dos trens e estações. Com parte dos recursos, 99 trens estão sendo adquiridos, maior compra já realizada neste setor. A modernização dos sistemas de sinalização da CPTM e Metrô permitirá redução

nos intervalos entre as composições. A Linha 1-Azul do Metrô, em 2010, terá intervalo entre trens reduzido de 109 segundos para 95 segundos e a Linha 3-Vermelha, de 101 segundos para 85 segundos. Já na CPTM, o intervalo diminuirá, na média, 30%. Outros projetos que devem facilitar a vida da população paulistana é a construção da Linha 14-Ônix, com o Expresso Aeroporto, da CPTM, que ligará, sem paradas, a Estação da Luz ao Aeroporto Internacional em Guarulhos. Em 2009, também será construído o corredor de ônibus Guarulhos – Tucuruvi, com 35 km, que integrará o maior município da Grande São Paulo à zona norte da capital. Diversas ações pontuais já foram implantadas com o objetivo de melhorar a fluidez do trânsito, especialmente em São Paulo, onde há grande concentração de veículos. “Mas é preciso buscar, constantemente, soluções estruturais e políticas públicas de longo prazo para reduzir os altos índices de congestionamentos nas metrópoles e, assim, não só facilitar a vida da população, mas melhorar a qualidade de vida de seus habitantes”, sentenciou Alfredo Peres, diretor do Denatran. 23


Entrevista Jaime lerner

Fotos Lina Faria / Instituto Jaime Lerner

Melhoria da mobilidade passa por transporte pĂşblico de qualidade

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Nascido na cidade de Curitiba, há 71 anos, Jaime Lerner é arquiteto e urbanista, formado pela Escola de Arquitetura da Universidade Federal do Paraná. Participou do desenvolvimento das diretrizes básicas do Plano Diretor de Curitiba e foi um dos fundadores do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC). Como prefeito da cidade (1971-75; 1979-83; 1989-92), Lerner a levou a ser referência nacional e internacional em planejamento urbano, principalmente em transportes, meio ambiente, programas sociais e projetos urbanísticos. Em 1975, assumiu o cargo de consultor da Organização das Nações Unidas (ONU) para Assuntos Urbanos e esteve à frente do Governo do Estado do Paraná, de 1995 a 1998 e 1999 a 2002. Seus projetos e obras se destacaram tanto que Lerner recebeu diversos prêmios e títulos internacionais, entre eles, Prêmio Máximo das Nações Unidas para o Meio Ambiente (1990), UNICEF Criança e Paz (1996), “The 2001 World Technology Award for Transportation” (2001), o Prêmio “The 2002 Sir Robert Mathew Prize for the Improvement of Quality of Human Settlements”, pela União Internacional de Arquitetos – UIA e o “2004 Volvo Environment Prize”. O urbanista também desenvolveu planos para várias cidades do País, como Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e Goiânia. Em entrevista concedida à Revista Dealer, o exgovernador paranaense fala sobre possíveis soluções para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos que perdem horas no trânsito caótico das metrópoles e sobre alguns programas ou políticas públicas adotadas em prol do desenvolvimento urbano.

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Revista Dealer – Quais os principais pontos que afetam uma política urbana? Jaime Lerner – Além dos desafios inerentes à gestão de uma cidade nas áreas de educação, saúde, atenção à criança e ao idoso, por exemplo, destacamse para a qualidade da vida urbana um tripé que congrega as questões de mobilidade, sustentabilidade e identidade/coexistência. Revista Dealer – Há alguma receita para se mudar o perfil de uma cidade? Jaime Lerner – Não acredito em receitas; acredito, contudo, na possibilidade de qualquer cidade melhorar significativamente sua qualidade de vida em três anos, a partir de ações focadas na tríade citada anteriormente. Revista Dealer – Em seus três mandatos na Prefeitura de Curitiba, o senhor

implementou medidas que levaram a cidade a ser conhecida por possuir um dos maiores índices de qualidade de vida do País. Hoje, Curitiba é considerada uma cidade modelo. Quais os principais programas ou políticas públicas adotadas em prol do desenvolvimento urbano que contribuíram para este resultado? Jaime Lerner – Curitiba conseguiu se estabelecer como referência em boas práticas urbanas tendo como premissa fundamental a concepção da cidade como uma estrutura de vida e trabalho, juntos. A compreensão desse binômio é de suma importância. O investimento em um sistema de transporte público de qualidade, a adoção de diretrizes articuladas de usos do solo, transporte e sistema viário, a busca de soluções criativas, simples e econômicas para os desafios ambientais, a valorização das

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referências da história e da memória urbana merecem destaque.

Foto: Ippuc / Prefeitura Municipal de Curitiba

Entrevista Jaime lerner

Revista Dealer – O Sistema Integrado de Transporte Coletivo de Curitiba é reconhecido internacionalmente pela sua qualidade, eficiência e baixo custo. Atualmente, outras cidades brasileiras poderiam trilhar o mesmo caminho da capital paranaense? Jaime Lerner – Há hoje mais de 80 cidades no mundo implantando sistemas de transporte em superfície inspirados nas soluções de Curitiba, como Bogotá, Los Angeles, Cidade do México. No enfrentamento dos desafios da mobilidade urbana é necessário ‘fazer com urgência’, e entender como ‘metronizar’ o ônibus: operação em canaletas exclusivas, com embarque em nível e pré-pago e freqüência elevada. Revista Dealer – Qual o papel do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC) e da Cidade Industrial de Curitiba (CIC) no desenvolvimento urbano da capital paranaense? Jaime Lerner – Fundamental. Cabe ao Ippuc responder a necessidade de inovação constante.

Sistema de transporte da cidade de Curitiba.

Revista Dealer – Curitiba tem um dos melhores índices de áreas verdes do País e é conhecida como a cidade mais ecológica brasileira. Que políticas públicas foram adotadas para garantir este resultado? Jaime Lerner – Não aceitamos indústrias poluentes em nossa cidade. Investimos em transporte público; na reciclagem de espaços que precisavam de novos usos, como o Parque das Pedreiras, a Unilivre, o Teatro do Paiol; na resolução integrada de problemas de drenagem urbana e criação de parques; no tratamento do lixo, com programas como o lixo que não é lixo, câmbio verde e compra do lixo.

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Revista Dealer – A educação no trânsito é importante para a questão da mobilidade? Ajudaria na convivência entre motociclistas e condutores de automóveis? Jaime Lerner – A melhor educação é priorizar o uso do transporte público para os deslocamentos de rotina. Revista Dealer – Quais os “gargalos” no sistema modal de transporte? Isto afeta no crescimento do País? Como reverter esta situação? Jaime Lerner – Há uma centralização excessiva do transporte aeroviário em São Paulo, e não existem alternativas eficientes no modal ferroviário. Revista Dealer – O excesso de veículos nas ruas é, frequentemente, apontado como uma das causas dos congestionamentos nas grandes cidades. No entanto, a venda de veículos gera uma arrecadação expressiva ao governo devido à incidência da alta carga tributária. O que poderia ser feito com esta arrecadação com o objetivo de melhorar a mobilidade nestas cidades? Jaime Lerner – Melhorar o transporte público. Revista Dealer – Nos últimos anos, ficou muito evidente o caos vivido nos aeroportos brasileiros. Há uma enorme tendência de centralização em São Paulo. A crise aérea é decorrente de que fatores? Jaime Lerner – Na minha visão falta um tratamento adequado ao que classifico como linhas diretas e linhas troncais e, conseqüentemente, quais aeroportos podem ser realmente tratados como ‘hub airports’, ou seja, portais ou centros logísticos de importância intercontinental. Revista Dealer – Que solução seria viável para desafogar os aeroportos de Congonhas e Internacional de Guarulhos?

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Jaime Lerner – Utilizar mais e melhor o Aeroporto Internacional de Viracopos, no município de Campinas, e o Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim (Galeão), no Rio de Janeiro. Revista Dealer – Por que o Aeroporto de Viracopos é tão esquecido? Jaime Lerner – Constam informações de que a Infraero tem planos de transformar o Aeroporto Internacional de Viracopos em um dos maiores da América Latina, ampliando, nos próximos anos, significativamente, sua capacidade de operação de passageiros e cargas. Revista Dealer – Que medidas o senhor sugere para o Rio de Janeiro, onde os bairros nobres estão muito próximos às favelas? Jaime Lerner – A cidade precisa, em seu território, integrar as diferentes funções urbanas, níveis de renda, idades, etnias. Quanto mais diversificada, mais humana – e, conseqüentemente, mais sustentável – a cidade será. É a ‘sociodiversidade’. Infra-estrutura para as áreas de favela deve ser fornecida, empregos devem ser criados. Eu sugeri que áreas nas favelas, onde empregos locais fossem criados, se tornassem zonas-francas. A geração de empregos promoveria uma troca positiva de bens e serviços, o que também ajudaria a reduzir a violência. Revista Dealer – E para São Paulo? Que soluções seriam viáveis para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos que perdem horas no trânsito caótico da cidade? Jaime Lerner – Em termos de mobilidade, primeiramente, há que haver um compromisso inequívoco com a oferta de transporte público de qualidade, que permita aos usuários utilizá-lo com dignidade, conforto, segurança e eficiência. E, para ofertar

essa opção, cada cidade precisa extrair o melhor de cada modo de transporte que tenha, seja na superfície, seja subterrâneo. A chave reside em não se ter sistemas competindo no mesmo espaço e utilizar tudo aquilo que a cidade tem da forma mais efetiva. Ainda, há que se considerar a utilização de veículos individuais associados aos demais elementos da rede pública de transporte, como é o caso do velib, em Paris. Revista Dealer – Que medidas adotadas no planejamento urbano de Curitiba poderiam ser implantadas em outras cidades? Jaime Lerner – A visão de que a cidade é uma estrutura de vida e trabalho juntos. Não separar as funções, não afastar o trabalho da moradia. Revista Dealer – E a questão da política de inclusão social? Que programas foram adotados na capital paranaense para garantir a acessibilidade das pessoas portadoras de necessidades especiais? Jaime Lerner – A dignidade na oferta do transporte público inclui que as pessoas com diferentes necessidades possam acessar o sistema de forma autônoma. Em Curitiba, por exemplo, as estações-tubo são dotadas de pequenos elevadores hidráulicos que permitem o fácil acesso dos cadeirantes. Revista Dealer – Em quais projetos o senhor está envolvido atualmente? Jaime Lerner – Temos trabalhos sendo desenvolvidos em Brasília, Campinas e Cidade de Durango, no México, focando aspectos de estruturação urbana e projetos estratégicos, propostas para o transporte urbano no Rio de Janeiro, de desenho urbano em Luanda, Angola, e para requalificação da região da Nova Luz, em São Paulo, entre outros.

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APOIO JURÍDICO

Por Ives Gandra

A eventual reforma tributária O Governo Federal já encaminhou ao Congresso Nacional seu projeto de reforma tributária, seguindo a tradição de todos os governos anteriores. Estou convencido, entretanto, de que o Governo Federal nunca teve interesse numa reforma profunda, pois tendo assegurado, com o texto atual, em torno de 60% do bolo tributário, teme que possa vir a perder receita, se Estados e Municípios unirem-se para elevar a partilha fiscal.

É

de se lembrar que, na Constituição de 88, a União, que repassava apenas 33% da receita do IPI e Imposto de Renda, para Estados e Municípios, passou a repassar 47%, o que a obrigou a criar a COFINS e aumentar sua alíquota de 0,5% (antigo FINSOCIAL) para 7,6% e do PIS de 0,65% para 1,65%. Assegura, contudo, o Governo que, agora, é para valer. As cinco grandes novidades são: 1) compactar COFINS, PIS, CIDES, Salário educação, num grande IVA; 2) compactar I.Renda e CS Lucro num só tributo; 3) reduzir a contribuição previdenciária sobre a mão-de-obra; 4) reformular o ICMS para evitar a guerra fiscal com o regime de destino; 5) ressuscitar Imposto sobre Grandes Fortunas, decadente em todo o mundo, repartindo-o entre Estados e Municípios. Assim, teremos o IVA, que é um imposto, o qual, fora as vinculações constitucionais, é tributo desvinculado, incorporando contribuições, que são tributos vin-

culados à determinada finalidade. Certamente, a definição do perfil constitucional levará tempo para ser conformado pelo Judiciário. Por outro lado, a manutenção do artigo 149 da C.F. não impedirá que o Governo crie, no futuro, por legislação ordinária, outras COFINS, independentemente da alteração no artigo 195 das contribuições previdenciárias. A meu ver, a compactação de COFINS e CIDES poderia ser realizada por lei ordinária, sem necessidade de modificação constitucional, o mesmo ocorrendo com a do I.RENDA e Contribuição Social sobre o lucro, já com regime jurídico idêntico. Apesar de PIS e Salário Educação estarem previstos constitucionalmente como tributos distintos poderiam ter o mesmo regime jurídico ordinário, sem necessidade de mudança da lei suprema. É de se louvar a redução da contribuição previdenciária sobre a folha de salários, se não implicar aumento de outras imposições. No ICMS, haverá Estados ganhadores e Estados perdedo-

res, ou seja, os que enviam mais mercadorias para outras unidades da federação do que recebem. O programa do Governo, de que um Fundo de Estabilização – sem perfil definido –, compensará tais unidades é compromisso em que poucos acreditam, pois a tradição das autoridades federais, em matéria tributária, é não cumprir suas promessas, que comprometem apenas as pessoas que as recebem. Admitindo, todavia, que os Estados ganhadores não vão abrir mão das receitas acrescidas – são a

Ives Gandra da Silva Martins é professor Emérito da Universidade Mackenzie, em cuja Faculdade de Direito foi Titular de Direito Econômico e de Direito Constitucional e Presidente do Centro de Extensão Universitária

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maioria do Congresso, o que é necessário para aprovar a emenda à lei suprema –, os Estados perdedores precisarão recuperar as suas. Se tais recursos não vierem de aumentos internos, terão que vir, em valores consideráveis, da União, a qual deverá também partilhar com os Estados o IVA, imposto que resultará da integração da COFINS e do PIS, que hoje não são partilhados. O mais grave, todavia, é que toda a regulamentação do ICMS - à luz de uma lei complementar, possivelmente, mais abrangente que a LC 87 – será elaborada pelo CONFAZ. Em outras palavras, os Estados “Importadores líquidos”, que são a maioria, imporão aos “Estados exportadores líquidos”, a minoria, um regulamento que terá que ser seguido pelos segundos. Inclusive a definição das alíquotas será de competência do CONFAZ, cabendo ao Senado aceitá-las ou rejeitá-las, mas não modificá-las, assim como a forma de fiscalização. Nada impedirá que autorizem que os fiscais dos Estados importadores líquidos fiscalizem os Estados exportadores líquidos, criando, pois, um “inferno austral” para todas as empresas que trabalhem com outros Estados. Para um órgão que, por seu notório fracasso, gerou a guerra fiscal, parece-me que é dar-lhe força excessiva, violando, tal delegação de competência legislativa, o princípio da legalidade (cláusula pétrea). O próprio regime de des-

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No ICMS, haverá Estados ganhadores e Estados perdedores, ou seja, os que enviam mais mercadorias para outras unidades da federação do que recebem. tino já não é tão de destino, pois, parte do tributo, correspondente a uma alíquota de 2%, será cobrado na origem. Quanto ao obsoleto imposto sobre grandes fortunas, se for introduzido, não mais sairá do sistema, pois será partilhado entre 5.500 entidades federativas. Será – como ocorreu nos países que o adotaram e abandonaram -, um fantástico desestímulo à poupança e investimentos, podendo gerar fuga de capitais. E nem se fale que será um meio de distribuição de riquezas, pois, no Brasil, o custo da carga tributária beneficia mais os detentores do poder do que o povo, lembrando-se que o “Bolsa família”, que atende a 11 milhões de brasileiros, é suportado por menos de 1,5% do orçamento federal. Qualquer avaliação, todavia, do projeto, só será possível com a apresentação dos textos de leis ordinárias e complementares a ser elaborados e do funcionamento dos Fundos Compensatórios para recompor as perdas dos Estados lesados pela alteração do regime do ICMS.

De qualquer forma, alguns pontos já preocupam decididamente. O primeiro deles é que embora o IVA (imposto) resulte da junção de quatro contribuições, o artigo 149 da Constituição Federal continua inatingível, com o que nada impediria que, com base neste artigo – e não no artigo 195- criem-se novas contribuições semelhantes ao COFINS ou PIS, com regime jurídico próprio, objetivando exclusivamente a arrecadação. Mais do que isto, os dois fundos (Desenvolvimento Regional e de Equalização) não têm perfil definido e poderão resultar numa frustração semelhante àquela da promessa não cumprida do governo federal de compensar os Estados perdedores com a Lei Complementar n. 87/96, pela imunidade de exportação dos produtos semi-elaborados. Por fim, a não definição de um perfil consolidado da “não-cumulatividade”, que poderá agora ser alterada por lei infraconstitucional é mais um elemento de preocupação, tendo a maior parte dos tributaristas a impressão de que o Planalto objetivou criar exclusivamente um imposto a favor da União sobre bens e serviços, restando aberta a porta para qualquer outra contribuição que pretenda criar. Como está, o projeto, abre uma verdadeira avenida para considerável aumento do nível impositivo, que implicará, por decorrência, aumento da carga tributária.

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TENDÊNCIAS

Por celular...

“Estou sempre disponível”

“Estou no celular”. Apesar de gramaticalmente errada (a menos que sua casa e/ou carro tenham o formato de um celular), esta frase aponta para um dos hábitos mais comuns do mundo corporativo: estar sempre disponível. Estabelecer um limite entre vida pessoal e vida profissional, muitas vezes, é difícil para a maioria dos profissionais que utilizam a tecnologia, fora do trabalho, para se manterem conectados com seus compromissos. Mas até onde é saudável este nível de comprometimento e responsabilidade? Até que ponto a onda dos BlackBerrys deve envolver sua vida?

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C

om o auxílio da tecnologia, executivos e funcionários de diversas empresas, em todo o planeta, mudaram seus hábitos e suas relações com o trabalho. Os aparatos tecnológicos portáteis fazem com que esses profissionais se mantenham “conectados” com o trabalho durante 24h ininterruptas. Muitas vezes, este alto grau de comprometimento e responsabilidade com as atividades profissionais acaba afetando diretamente nos relacionamentos pessoais. Uma pesquisa sobre os hábitos de trabalho realizada, recentemente, na Espanha, com 1,5 mil executivos pela rede hoteleira Crowne Plaza Hotels & Resorts revela que os profissionais de médio e alto escalão trabalham cada vez mais horas além da sua jornada regular, previsto no contrato de trabalho. Três quartos dos pesquisados completam mais de três horas extras todos os dias e ao menos 5% deles afirmaram estar quase dobrando a sua carga horária regular, trabalhando sete horas a mais sem a devida remuneração. A investigação sobre os hábitos de trabalho abrange executivos de diversos segmentos, dos quais apenas 20% afirmam desligar-se completamente quando deixam o escritório. Para os 80% restantes, é impossível não verificar o correio eletrônico fora das horas de trabalho. Além disso, um em cada três garante estar disponível para a empresa 24 horas por dia, durante os sete dias da semana. Os resultados do levantamento também refletem o impacto das tecnologias modernas. Entre os pesquisados, 62% levam para a cama o celular ou o BlackBerry para receber uma eventual chamada importante ou uma mensagem durante a noite. Para José Augusto Minarelli, presidente da Lens & Minarelli, consultoria especializada em aconselhamento de carreira para executivos, as empresas globalizadas são as principais responsáveis para a criação deste perfil. Segundo ele, o contato com a matriz em outro país ou com algum outro funcionário que esteja trabalhando em assuntos urgentes fora Outubro / Novembro 2008

de sua base, faz com que os profissionais locais tenham que estar conectados no horário de trabalho de outras localidades. “O fuso-horário é um dos principais culpados pelo executivo ficar on-line 24h”, explica. “A tecnologia surgiu com o objetivo garantir maior qualidade de vida e dar mais tempo para as pessoas, mas ao contrário do que se imaginava, tem feito com

possuem uma condição de trabalho mais “saudável”. Para Tiago Galli, gerente de produtos e serviços da Nextel, a utilização da tecnologia a favor da produtividade é uma premissa básica para as pessoas que passam boa parte de seu tempo longe do escritório. Segundo ele, a disciplina do usuário é fundamental para que ele não se torne escravo da tecnologia. “O usuário deve ser

José Augusto Minarelli, Tiago Galli e Gláucia Santos.

que as pessoas fiquem sempre acessíveis”, argumenta Minarelli. A conseqüência, segundo ele, é a falta de tempo livre em período integral já que o executivo está sujeito a ter seu período de descanso quebrado por qualquer forma de comunicação com o emprego. “Não posso negar que é uma grande facilidade para resolver assuntos urgentes, mas a pessoa deixa de ter privacidade”, alerta. De acordo com o que foi apurado pela Lens & Minareli, 44% das pessoas atendidas pela consultoria, que perderam o emprego, se sentem aliviadas com a demissão. “Este é um resultado que demonstra o aumento da cobrança por resultados”, explica Minarelli. Segundo ele, no momento da recolocação, “alguns executivos mudam de posição e preferem ser recolocados em empresas de porte menor, que

disciplinado. Deve dominar a tecnologia e não o contrário”, argumenta. Saber dividir a pessoa física da pessoa jurídica é uma das principais dificuldades encontradas pelos usuários. Desligar o aparelho celular corporativo nos finais de semana, por exemplo, pode ser

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TENDÊNCIAS

uma alternativa para ampliar a qualidade de vida pessoal. “A tentação de checar o e-mail é muito maior quando o aparelho está ligado”, conta Galli. O gerente da Nextel aconselha aos usuários deste tipo de tecnologia a utilizarem o aparelho apenas em tempo ocioso durante o horário de trabalho. “Ao pegar um táxi, voltando de uma viagem, por exemplo, é o momento ideal para checar e-mails e mandar mensagens. Mesmo longe do escritório, a pessoa consegue ganhar tempo resolvendo pendências à distância”, diz. Este é o mesmo conselho dado por José Augusto Minarelli. Segundo ele, os profissionais, quando fora do horário de trabalho, devem desligar o aparelho, e deixar uma mensagem explicando que em breve retornará. “Esta é uma forma de disciplina. Assim o executivo conseguirá ter mais tempo para ele, para sua família e seu círculo de amizades”, explica. A psicóloga e consultora de RH do Grupo Catho, Gláucia Santos, afirma que este nível de comprometimento com o trabalho pode ser benéfico para a imagem do profissional, que acaba servindo de exemplo para seus subordinados dentro da empresa. Mas, segundo ela, paga-se um preço alto pelo excesso de dedicação. “Chega uma hora que a pessoa não consegue mais saber quando está trabalhando ou não. Acaba trazendo para a vida pessoal problemas de trabalho e vice-versa”, explica. Para ela, a família do executivo é uma das partes mais afetadas com o excesso de trabalho, o que pode criar certo desapego em suas relações. “As pessoas aprendem a não contar mais com ele. Perde-se o vínculo familiar”, analisa. O comportamento workaholic, como é chamado no mundo empresarial, além dos problemas causados nas relações interpessoais, pode causar diversas doenças, provenientes do estresse. Para se ter uma idéia, até agosto de 2008, de acordo com levantamento feito pelo Ministério da Previdência Social, 21.809 trabalhadores brasileiros, beneficiários de auxílio-doença, foram afastados de seus cargos com enfermidades geradas pelo estresse. 32

“Chega uma hora que a pessoa não consegue mais saber quando está trabalhando ou não. Acaba trazendo para a vida pessoal problemas de trabalho e vice-versa”

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Visão econômica

Por Germano Rigotto

A crise, suas circunstâncias e as saídas Apesar do cidadão comum ainda não ter sentido seus efeitos, a crise econômica internacional, gerada nos Estados Unidos, não está mostrando sinais de cansaço e, em breve, deve repercutir no cotidiano da sociedade. Este artigo mostra que para enfrentar a crise é preciso passar não só pela reforma do sistema tributário nacional, mas também pela redução da taxa de juros. Estes são alguns dos desafios da equipe do Governo Lula.

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ão nos enganemos. Apesar do otimismo do presidente Lula e da responsabilidade com que a macroeconomia brasileira tem sido gerida nos últimos anos, o Brasil está sofrendo as conseqüências da crise econômica originada nos Estados Unidos. A propósito: no ambiente globalizado em que vivemos, não há mais qualquer ilha de isolamento. Não houve no período de bonança, também não haveria agora no momento de dificuldade. Alguns dos efeitos ainda não estão totalmente deflagrados, mas os balanços de muitas empresas, em breve, vão revelar o verdadeiro tamanho do estrago. E não me refiro a investidores que aplicaram dinheiro em derivativos, pois esses apostaram sabendo do risco que corriam. Minha maior preocupação é com as muitas empresas que, por exemplo, têm financiamentos em dólares ou que dependem de insumos do exterior. Era razoável que ocorresse uma variação no câmbio, mas ninguém poderia imaginar que o salto fosse tão grande, a ponto de colocar em dificuldade quem possui negócios firmados em dólar. O governo precisa estar atento a esse quadro, de modo a não permitir uma quebradeira em escala e a preservar o papel dessas or-

ganizações. Afinal, elas não podem ser confundidas com especuladores mal sucedidos. Não! São empresas importantes no contexto do País e que, até pelos empregos que geram, precisam ser preservadas. É verdade, por outro lado, que o Brasil se preparou para enfrentar essa situação por meio da diversificação dos seus parceiros comerciais e do fortalecimento do mercado nacional. Mas não se pode falhar agora. É preciso máxima atenção a cada movimento da economia mundial, apoio aos setores afetados e esforço para a abertura de novos mercados, tudo sem perder o olho na inflação. Avizinha-se, provavelmente, o maior desafio da equipe econômica do presidente Lula. O governo tem tomado medidas importantes, tal como a utilização das reservas cambiais para evitar a exagerada flutuação do câmbio. Porém, é preciso ter um olho voltado para a crueza da realidade econômica e social. Os bancos, por exemplo, estão represando o crédito de maneira exagerada e, apesar de compreensível, uma retração excessiva do sistema financeiro vai agravar os efeitos da crise no país. A dificuldade de crédito que, de resto, fica evidente no mercado deve ter uma intervenção urgente do governo. É fato que o cidadão comum, em sua maioria, ainda não sentiu os efei-

tos desse quadro. Ou seja, a economia real ainda não mostra sinais de fadiga. Entretanto, não é pessimismo projetar que a crise internacional veio para atacar com força também o Brasil, o que em breve vai repercutir no cotidiano da sociedade e, claro, na arrecadação de tributos do governo. O desaquecimento mundial dos mercados, a retenção de investimentos e a falta de liquidez são características da nova conjuntura mundial que acabarão incidindo diretamente em nosso País. Diante disso, seria um bom momento para o governo propor uma redução responsável do tamanho do Estado, que cresceu exageradamente nesses últimos anos. Trata-se de uma lição que ainda falta fazer. Estudos da Secretaria do Tesouro Nacional mostram que os gastos da União avançaram 38% nos quatro anos passados, já

Germano Rigotto é ex-governador do Rio Grande do Sul e coordenador da Reforma Tributária no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (www.germanorigotto.com.br)

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descontada a inflação. Logo, há uma boa margem para a diminuição do custeio e para a redução dos gastos públicos, mas essa tem sido uma preocupação menor do governo. A gestão política parece desconhecer que o tempo da bonança, em que a economia mundial navegava em céu de brigadeiro, acabou. Precisamos agir antes que as marés fiquem ainda mais revoltas. Um dos principais antídotos para o enfrentamento desta e de qualquer crise financeira é a constituição de um novo sistema tributário nacional, que precisa ser modernizado, racionalizado e simplificado. Diferente do que estão defendendo alguns governadores, o recrudescimento da crise não é motivo para engavetar a reforma tributária. Ao contrário: a atual situação deveria servir para agilizar o processo de tramitação no Congresso Nacional, o que, infelizmente, não vem ocorrendo. A chance de que o projeto seja votado ainda este ano é praticamente zero. Ora, o grande objetivo da reforma tributária é tornar o País mais competitivo. Enquanto mercados se fecham e diminuem de tamanho, isso era tudo o que precisávamos. Só que, além da falta de vontade política para sua aprovação, o relatório final não foi bem costurado. É o caso dos Fundos de Desenvolvimento Regional e de Equalização, que não foram formatados em parceria com os Estados. Ou seja: era um processo que já estava lento e que deve parar ainda mais a partir de agora. Só que, paradoxalmente, os efeitos da crise deveriam ter acelerado o andamento da reforma tributária. Outra medida importante a ser adotada, neste contexto, é a redução da taxa de juros. Menos mal que o governo não a tenha aumentado na última reunião do Copom, mas ao manter a taxa SELIC em seus atuais

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Considerando que as políticas monetária e fiscal devem ser adaptadas à situação extraordinária decorrente da crise financeira e que a ação do Estado deve ser imediata para não perder efetividade diante das proporções do problema, apresentamos quatro recomendações básicas ao governo: estabilização do câmbio, direcionamento do crédito, redução de juros e manutenção dos investimentos públicos. índices, o Brasil está na contramão das medidas que o mundo inteiro tomou. Basta ver que os motivos para os aumentos anteriores, como a economia aquecida e um possível comprometimento das metas inflacionárias, hoje não mais existem. O ambiente atual é contrário: não há explosão de consumo, falta liquidez no mercado, a economia está desaquecida e não há risco de inflação. Mas quando deveríamos reduzir de maneira criteriosa a taxa de juros, imperou novamente um conservadorismo prejudicial à vida econômica da nação. Todas essas medidas e ponderações já foram – e vão ser novamente – reforçadas junto ao governo federal, através do Conselho de Desen-

volvimento Econômico e Social, do qual faço parte como um de seus coordenadores. No último encontro, destacamos que a crise não pode ser subestimada, pois a recessão já atinge os EUA e a Europa, sendo certa a contração da demanda mundial. Como a globalização cria vasos comunicantes entre as economias nacionais, é inevitável que as conseqüências danosas da atual conjuntura cheguem também ao Brasil. Salientamos, ainda, que o impacto da crise no país já se faz presente pela rápida desvalorização do real e pelo represamento da liquidez e do crédito. Considerando que as políticas monetária e fiscal devem ser adaptadas à situação extraordinária decorrente da crise financeira e que a ação do Estado deve ser imediata para não perder efetividade diante das proporções do problema, apresentamos quatro recomendações básicas ao governo: estabilização do câmbio, direcionamento do crédito, redução de juros e manutenção dos investimentos públicos. Além desses pontos, claro, reiteramos a importância da reforma tributária. Não é hora de errar, nem por conservadorismo, tampouco por irresponsabilidade. Nem por falso otimismo, tampouco por falso pessimismo. A história mostra que, nestes momentos, é preciso senso de realidade, coragem e espírito público. O governo já demonstra mais realismo em relação ao alcance da crise financeira internacional, tanto que adotou medidas importantes. Mas ainda há um leque de iniciativas políticas e econômicas que precisam ser colocadas em prática o quanto antes. A preocupação agora não se resume à frieza de números e metas. Estamos falando diretamente do equilíbrio econômico e social de toda nação.

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gestão ambiental

Por Frederico Marinho

A Etiqueta Veicular e a eficiência energética a serviço do consumidor cidadão. A partir de abril de 2009, os veículos comercializados no Brasil poderão exibir a Etiqueta Nacional de Consevação de Energia. Assim, o consumidor poderá escolher o modelo que atenderá melhor a sua necessidade quanto à economia de combustível.

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oi com muita honra que recebi o convite do Sérgio Reze para ocupar uma página bimestral desta prestigiosa revista. Nela pretendo apresentar temas relacionados à eficiência energética veicular e à questão da mobilidade urbana, em todas as suas dimensões, apresentados no XVIII Congresso da Fenabrave em Curitiba, em agosto. Neste artigo vamos falar da Etiqueta Nacional de Conservação de Energia para automóveis, lançada no dia 07 de novembro de 2008, durante o XXV Salão Internacional do Automóvel, em São Paulo. Com ele pretendo informar à força de venda da imensa rede da Fenabrave sobre os detalhes técnicos da Etiqueta Veicular para que ela possa explicar aos consumidores de automóveis, com segurança, as informações nela contidas. A etiqueta veicular não é novidade para a indústria automobilística. Ela está presente nos automóveis vendidos nos Estados Unidos desde 1975; no Canadá, desde 1976; na Austrália, desde 1983; na União Européia e Japão, 1998 e, desde de 2005 na China e em Cingapura. Nos EUA, China e Japão ela é com-

pulsória. Nos demais países, Brasil inclusive, ela é voluntária. A etiqueta veicular que será exibida nos automóveis comercializados no Brasil, a partir de abril de 2009, tem a aparência mostrada na figura ao lado. Ela informa ao consumidor que o automóvel que ele esta comprando tem seu consumo de combustível, no ciclo urbano e no ciclo estrada exibidos de forma bastante clara em km/litro. Seja o automóvel a movido à gasolina ou a álcool. Além disso, cinco barras coloridas, identificadas pelas letras A, B, C, D, E, informam como o veículo, em sua categoria,

está classificado em termos de eficiência energética. Espero que a Etiqueta, com todos os seus elementos identificados e explicados, se constitua em um poderoso instrumento para a decisão de compra do consumidor. Ele perceberá que o veículo mais eficiente polui menos e representa economia no seu bolso. É importante destacar que O Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular – PBE Veicular, não teria êxito sem a fundamental contribuição da ANFAVEA e da ABEIVA em estreita colaboração com os órgãos do Governo Brasileiro que assinam a Etiqueta – o CONPET e o INMETRO.

Frederico Marinho é gerente de suporte do CONPET (Programa Nacional de Recionalização do Uso dos Derivados de Petróleo).

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PRODUTOS E LANÇAMENTOS

Salão Internacional do Automóvel apresenta 450 modelos O 25o Salão Internacional do Automóvel de São Paulo 2008 reuniu, de 30 de outubro a 9 de novembro, 170 expositores de cerca de 40 marcas, que apresentaram aproximadamente 450 veículos, em uma área de 85 mil m², no Pavilhão de Exposições do Anhembi, em São Paulo/SP. Esta edição do evento teve um sabor especial. “A partir desse ano, o Salão do Automóvel começou a fazer parte do calendário de eventos Motorshow da OICA (Organização Internacional de Fabricantes de Veículos Automotores), que reúne as associações nacionais dos fabricantes de veículos”, afirmou Evaristo Nascimento, diretor de feiras da Reed Exhibitions Alcântara Machado, organizadora e promotora do evento, demonstrando, assim, a importância do Salão do Automóvel brasileiro para o setor automobilístico mundial. As montadoras apresentaram veículos para todos os gostos, desde os pequenos, compactos, até os maiores e mais velozes, como os superesportivos.

C4 Hatch

Chevrolet Volt

Chevrolet A Chevrolet apresentou sua linha de veículos completa, desde o Celta, passando pelo Classic, Prisma, Corsa, Astra, Vectra GT e Omega, além dos monovolumes Meriva e Zafira, picapes Montana e S10 e os utilitáriosesportivos Tracker, Blazer e o recém-lançado Captiva Sport. Os visitantes também puderam conferir a versão definitiva do automóvel elétrico Volt – que faz até 64 km sem usar uma gota de gasolina e sem emitir gases -, o sedã Malibu, e os carros-conceito Camaro e GPIX, um crossover cupê conceito totalmente desenvolvido no Brasil. O Volt começará a ser produzido em 2010 e será comercializado primeiramente nos EUA, China e Europa. O utilitário-esportivo Captiva, possui motor V6 de 3.6 litros, que desenvolve potência de 261 cv e 32,95 kgfm de torque.

Chevrolet Captiva

Citroën O Salão foi palco para a avant-première do C4 Hatch (5 portas) no País. Com lançamento previsto para março de 2009, o modelo dispõe de limitador de velocidade, detector de chuva, acendimento automático dos faróis. Estão previstas versões com motorização 1.6i 16V Flex e 2.0i 16V Automático. Outro destaque no estande da montadora foi o novo Citroën 1.6i 16V Automatique. O modelo, que oferece versões GLX e Exclusive, é equipado com caixa de câmbio automática seqüencial auto-active AL4, a mesma usada no C4 Pallas. Segundo Jean Louis Orphelin, presidente da Citroën, a montadora está otimista com o market share conquistado pela marca, 2,6%.

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Fiat A Fiat apresentou o recém-lançado Linea, que reconduziu a montadora ao segmento de sedãs médios. O novo modelo é equipado com motor 1.9 16V Flex e T-Jet, que concilia tamanho, economia e alto desempenho. Chega ao mercado em quatro versões, dois tipos de câmbio e três níveis de acabamento. O carro-conceito FCC II foi outro destaque da marca. Desenvolvido totalmente pela engenharia no Brasil, o carro foi norteado pelo conceito Enviroment & Fun – ecologicamente correto e prazeroso de dirigir. O veículo off-road utiliza motor elétrico, alimentado por 93 baterias de íon lítio, que podem ser recarregados em qualquer tomada 220V. Para a construção de sua carroceria, carro-conceito utiliza-se de fibras naturais de fontes renováveis. Peças como reparos, discos de freio, molas e montantes de suspensão receberam revestimentos organometálicos isentos de materiais pesados.

Fiat Linea

Ford As principais novidades foram o EcoSport 2.0 Flex e o crossover Edge, o mais luxuoso Ford do mercado, além do conceito internacional Verve. Com a nova motorização Flex 2.0L, de 141 cv a gasolina e 145 cv com álcool, a linha EcoSport é representada pelas versões Automático, 4WD, FreeStyle e o conceito Limited, além do modelo 1.6 Flex XLT. Já o crossover Edge foi apresentado em três modelos, sendo uma versão personalizada – o Edge Sport, com um conjunto de acessórios que inclui aerofólio, spoilers e câmera de visão traseira. O conceito Verve serve como base de inspiração de design da marca. Na área de veículos especiais, o destaque ficou por conta do Mustang Shelby GT500 King of the Road. Completam a exposição a família Fiesta, o novo Focus Hatch e Sedã, o Fusion, a Ranger e a F-250 em diferentes versões. Marcos Oliveira, presidente da Ford, prometeu lançar, entre 2009 e 2013, 23 ações de produtos, seja em reestilizações ou em novos modelos. Sobre o futuro, os representantes da montadora demonstraram otimismo. “A indústria automotiva brasileira enfrentará desafios neste ano e em 2009, mas olhamos estas dificuldades como oportunidade para desenvolvermos ainda mais os nossos negócios”, comentou David Schoch, vicepresidente da montadora.

Ford Verve

Honda

Honda Fit

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A Honda aproveitou o Salão do Automóvel para lançar a segunda geração do monovolume Fit. Equipado com a nova geração de motores i-VTEC Flex 16V – 1.4 litros de 101 cv e 1.5 litros de 116 cv, o New Fit conta com novos bancos, duplo airbag frontal, computador de bordo multifunções no painel Black-out, transmissão automática de 5 velocidades com Shift Hold Control e CD Player com MP3. Há versões do mercado LX e LXL (1.4 litros) e EX (1.5 litros) e a novidade EXL. As versões EX e EXL vêm com ar-condicionado digital, conexão do tipo P2 e entrada USB, freios a disco com ABS e EBD nas quatro rodas. Já a EXL conta, também, com bancos de couro.

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Peugeot Em uma área de 1.750 m², a Peugeot lançou oficialmente o sedã compacto 207 Passion. Uma das fortes características do 207 Passion é o amplo porta-malas de 420 litros, que, por ser mais baixo, também proporciona maior comodidade para carregar e descarregar o compartimento. Seis ganchos de retenção permitem utilizações variadas da rede do porta-malas, que pode ser utilizada plana, como divisória ou suspensa, possibilitando a amarração de objetos volumosos ou frágeis. Sua grande área envidraçada, com quase 3 m², proporciona maior luminosidade a bordo do veículo. A montadora apresentou outros destaques, entre eles, o 207 Escapade, o 207 CC e o 908 HDi FAP, a família 307 e o novo 407. Peugeot 207 Passion

Fiat Sandero Stepway

Renault Uma das principais atrações da Renault foi o Sandero Stepway, quinto de uma série de seis novos modelos do plano “Renault Mercosul Contrato 2009 – Compromisso Brasil”. Disponível numa única versão de acabamento e de motorização (1.6 16V Hi-Flex), o veículo chega ao mercado com ampla oferta de acessórios e itens de série. O modelo sai de fábrica com direção hidráulica, computador de bordo, imobilizador de acionamento do motor, estribos laterais e molduras nos pára-lamas, barras de teto, faróis com máscara negra, rodas de liga leve aro 16 e faróis de neblina. A montadora inovou também ao conseguir refletir a personalidade do comprador no Stepway. Ao comprar o veículo, o consumidor pode escolher um dos seis diferentes adesivos e fixá-lo na coluna traseira, do lado esquerdo da carroceria. Também foi apresentado o Sand’up Concept, primeiro carro-conceito totalmente desenvolvido pela Renault no Brasil. Baseado no Sandero Stepway, o modelo conta com teto rígido e é capaz de se transformar em conversível ou picape.

Volkswagen O Novo Voyage foi um dos principais destaques do estande da Volkswagen. O sedã tem como principal atrativo o amplo espaço para a bagagem, um dos mais flexíveis da categoria. É possível ter acesso a ele a partir do habitáculo e ampliar o seu espaço com o rebatimento do banco traseiro em todas as versões – o banco bipartido é opcional em todas as versões. O modelo pode ser encontrado com motorização 1.6 VHT (Volkswagen High Torque) e 1.0 VHT. O motor VHT 1.0 é o de maior torque da categoria: 10,6 kgfm com álcool e 9,7 kgfm com gasolina, a 3.580 rpm. Na linha de importados, os visitantes puderam conferir o Passat CC, luxuoso cupê de quatro portas equipado com motor V6 de 300 cv de potência e o utilitário-esportivo Tiguan. Ambos modelos devem chegar no primeiro trimestre do ano que vem no mercado brasileiro. A linha de novidades no segmento de importados se completa com o conversível Eos. A montadora também apresentou o conceito BlueMotion, que foca a consciência ambiental e tem como o principal objetivo a redução do consumo de combustível e de emissões de CO2. Na Europa, este conceito já é empregado em modelos movidos a diesel. Esse programa no Brasil tem como ponto de partida os modelos Pólo, Fox e Novo Gol com motor VHT 1.6 Total Flex, que devem ser lançados em 2009. Thomas Schmall, presidente da Volkswagen, também demonstrou otimismo com o mercado brasileiro. “Vamos manter futuros investimentos e nossas metas”, comentou. Só para 2009 devem ser apresentadas mais 16 novidades da marca.

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VW Voyage

VW Passat CC

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Salão da Motocicleta reúne novidades O primeiro Salão da Motocicleta apresentou, de 21 a 26 de outubro, no Expo Center Norte, em São Paulo/SP, as últimas novidades de mais de 250 empresas do mercado de duas rodas. Organizado pelo bicampeão de Fórmula 1, Emerson Fittipaldi, a Megacycle e a Anfamoto (Associação Nacional dos Fabricantes e Atacadistas de Motopeças), o evento, que consumiu mais de R$ 10 milhões em investimentos, tem um sabor especial para Fittipaldi. “É um bom momento para o motociclismo brasileiro”, disse Fittipaldi, lembrando que começou seus dois primeiros anos de carreira correndo de motocicleta. “Mas após uma surra de vassoura dada por minha mãe, tive de abandonar a carreira”, comentou. Recentemente, realizou o primeiro passeio para conscientização sobre a segurança no trânsito. Novos modelos, novas marcas, a primeira moto bicombustível do mundo e produtos inovadores no segmento de peças e acessórios foram algumas das atrações do salão.

AME Amazonas A empresa foi um dos destaques do salão com a primeira motocicleta bicombustível com motor de 300cc. Foram dois anos de desenvolvimento para preparar o modelo que incorpora mais de 60 inovações. Além de permitir escolher entre gasolina, álcool ou ambos, e gerar menos gases do efeito estufa, promete economia de 25% no bolso do motociclista.

AME Bi-combustível

Kawazaki Ninja ZX 10R

Suzuki B-King

Kawazaki A Kawazaki, que acaba de se instalar no Brasil por meio da sua divisão Consumer Products & Machinery, para a importação, produção e comercialização, de motocicletas, quadriciclos e jetskis, apresentou seus modelos Ninja ZX-6R e Ninja ZX-10R.

Suzuki

Buell 1125 CR

Uma das grandes estrelas no estande da Suzuki foi a Suzuki B-King, que chegou ao Brasil no início do ano, com motorização de 1340 cm³, quatro cilindros, 16 válvulas, DOHC e injeção eletrônica de combustível. Outro destaque foi o modelo 2009 da GSX1300R Hayabusa, considerada a moto mais veloz do mundo. Equipada com avançado sistema de injeção eletrônica digital, o modelo atinge velocidade de 320 km/h.

Harley-Davidson XR1200

Grupo Izzo – IMOCX A empresa mostrou 80 produtos das marcas premium Harley-Davidson, Buell, MV Agusta, Ducati, Triumph, Husqvarna e Malaguti. Entre os destaques da Harley-Davidson esteve a XR 1200. Já a Buell apostou na nova City Cross colorida, geração naked da veloz 1125. A inglesa Triumph apresentou a Street Triple, entre outros. Já a Husqvarna apresentou produtos on e offroad, ao lado da sua equipe brasileira de competição, a IMOCX Racing, representada pelos pilotos Nielsen Bueno, Carlo Mônaco e Rômulo Botrel.

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ESPAÇO ABERTO

Por Fernando Calmon

A arte do disfarce Camuflar o novo estilo de um carro para escondê-lo de olhos curiosos tornou-se uma verdadeira arte e vem evoluindo ao longo do tempo.

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indústria automobilística vive e respira, diuturnamente, a criação de novos modelos. E isso tem grande importância para dois grupos de interessados: os competidores e a imprensa. Os primeiros porque precisam reagir o mais rápido possível às inovações que estão sendo constantemente introduzidas. Para os jornalistas é um tema bastante sensível por atrair leitores e telespectadores. O aspecto exterior do carro já diz muita coisa sobre o futuro lançamento e se sobrepõe às características técnicas em termos de curiosidade. Assim, camuflar o novo estilo de um carro para escondê-lo de olhos curiosos tornouse uma verdadeira arte e vem evoluindo ao longo do tempo. Os modernos programas de computadores são ferramentas capazes de desenvolver ou simular várias etapas do processo de criação de um produto. Equipamentos, estilistas e engenheiros ficam bem protegidos em setores de alta segurança nas fábricas ou centros de projetos. Mas é inevitável que os resultados necessitem de validação e aí não há outra solução: protótipos precisam ser liberados para o seu habitat – ruas e estradas. As fábricas passam, então, a uma pesada operação de disfarçar os protótipos. As primeiras saídas para testes exigem camuflagens grotescas e deformam completamente a aparência. Criam-se moldes para produzir estruturas de plástico fixadas à carroceria por meio de cintas ou tiras de velcro porque as frotas de protótipos podem passar de 200 unidades. Materiais específicos, recheados de espuma, ajudam a esconder o contorno do veículo e as linhas das janelas. Em muitos casos torna-se essencial não dar nenhuma pista do tipo de carroceria. Faróis e lanternas exigem mais atenção porque as autoridades de trânsito não permitem que protótipos circulem sem a sinalização de segurança devida. O disfarce

Assim como o Vauxhall New Insignia, diversos veículos do mercado brasileiro são disfarçados durante seu desenvolvimento.

deve atender as normas e ao mesmo tempo esconder qualquer pormenor que permita identificação. O jeito é fabricar artesanalmente luzes e faróis falsos, mal-acabados e distanciados da realidade. Quanto mais feio, melhor.

Vale-tudo – Um dos truques utilizados no

exterior era o uso de emblemas modificados de marcas concorrentes. Dessa forma, enganava-se o fotógrafo-espião. Uma rede de informantes, no entanto, começou a filtrar os trajetos utilizados e monitorar entrada e saída de instalações conhecidas. Hoje, ninguém se surpreende com essa manha. Os fabricantes tentam reinventar rotas e mudar trajetos, porém muitas vezes, há limitações técnicas em razão da repetibilidade de certos testes. Até chegar o momento, mais próximo do lançamento, em que os disfarces pesados prejudicam a aerodinâmica e os testes acústicos, como detecção de ruídos de vento e grilos em geral. A carroceria precisa ficar limpa de penduricalhos. Durante anos elas eram disfarçadas por quadriculados em preto e branco, como num tabuleiro de xadrez. Mas isso ainda dava boas dicas para o profissional especializado em apagar marcas com a ajuda

de programa de tratamento de imagens. Agora se empregam técnicas bem apuradas. As subsidiárias da GM na Europa, Opel e Vauxhall, desenvolveram desenhos superficiais elaborados para confundir lentes das câmeras e até olhos humanos. O material do disfarce, brevemente, terá efeito de cintilamento, prejudicando a qualidade das fotos. No final é um longo jogo de gato-erato, embora, no fundo, as fábricas saibam que criar expectativas faz parte da estratégia de chamar a atenção de compradores potenciais para um novo projeto. Mesmo que, em público, não admitam.

Fernando Calmon é jornalista especializado no setor automotivo, autor da coluna Alta Roda, veiculada em diversos meios de comunicação do País, e articulista da Revista Dealer, entre outras publicações do setor.

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