A eternidade

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Sugest達o de leitura Da nossa colega Margarida Cardoso


François Cheng e A Eternidade não é de mais  Em 2001, é editado pela Bizâncio O que disse Tianyi, de François Cheng, poeta, tradutor, calígrafo e romancista que, como o jovem pintor Tianyi, abandona a China para se instalar em Paris, em 1948, sem, contudo, romper com o país natal ou perder a confiança no futuro da pátria. Assim se explicam as palavras registadas no final da obra: “…o tempo retomará sem falhas o seu ritmo imemorial. No horizonte subirá o fumo azul que não engana, lá onde o sol se põe, cedendo o lugar à lua. A terra noturna, aspirada pela claridade cristalina, espreitará o começo imprevisível do novo ciclo. A eternidade não será de mais para que a árvore do desejo volte a rebentar. Caso contrário, para que é que uma pessoa cá andou, dilacerada por fomes tão violentas, por desgostos tão inconsoláveis? De certeza que só é preciso saber esperar”.


A Eternidade não é de mais  Vislumbra-se já o título do romance seguinte, A Eternidade não é de mais, que narra, com uma tocante sensibilidade, a “paixão vivida por duas personagens simultaneamente vulgares e pouco comuns”, no fim da dinastia Ming (séc. XVII), período marcado pela chegada de jesuítas à China e consequente diálogo entre culturas e religiões. O autor sublinha que “a paixão mais elevada, mais sublimada, se por um lado se manifesta num contexto de peias sociais, não menos vezes surge num quadro de demandas e interrogações espirituais; é o caso deste período do fim da dinastia Ming. Pela idealização do sentimento humano, ou por um impulso verdadeiramente místico, os parceiros envolvem-se num processo de contínuas superações”.


A Eternidade não é de mais  Deixando o mosteiro taoista, Dao-sheng desce da montanha para reencontrar Lan-ying cujo olhar cruzou há trinta anos e que depende de um tirano, o Segundo Senhor. No final de um romance feito de separações e reencontros, de aproximações e afastamentos, o tempo ensinou ao protagonista que o verdadeiro encontro entre seres e/ou culturas assenta na capacidade de dialogar. Por razões diferentes que o leitor descobrirá, o Segundo Senhor e Dao-sheng sofrem por só intermitentemente verem Lan-ying por quem nutrem uma paixão comum. A impossibilidade de saciar o desejo transforma o tirano num criminoso, enquanto Dao-sheng, que tem o dom do diálogo, se torna sábio.


ď‚´ O nosso especial agradecimento Ă Margarida pela sua partilha de leituras!


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