DSG1030/ MPB/ fernandaguizan

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PUC-Rio / Departamento de Artes e Design DSG1030 Anteprojeto Comunicação Visual relatório de G2 Fernanda Guizan Professora: Izabel Oliveira


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SUMÁRIO

introdução, 4

propósito/ objetivo, 6

metodologia, 7

cena musical e outras reflexões, 8

o que se entende por imagem, 9

artistas selecionados, 10

palavra, imagem e movimento, 40

experiência 1, 41

experiência 2, 51

conclusões e definições iniciais, 55

planejamento, 58

bibiografia, 59


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INTRODUÇÃO

A música brasileira já teve uma visualidade mais expressiva, na época da tropicália, por exemplo, em que era possível reconhecer os artistas que participavam deste movimento a partir da linguagem utilizada em suas capas de disco - uma representação gráfica que era tradutora de comportamentos sociais e políticos. Com o avanço das mídias, o design gráfico neste contexto basicamente vem ganhando novos suportes para trabalhar com as imagens que traduzem o som dos músicos. Temos no Brasil uma nova geração musical absolutamente diversa, de extrema qualidade e que transita por infinitas influências e tendências, sonoras e visuais. Por outro lado, toda essa diversidade certamente se cruza, apresenta pontos em

comum, tem elementos fortes e característicos, e isso pode ser aproveitado favoravelmente no sentido de representar e expor o cenário da atual música brasileira. Além disso, a realidade vivenciada por músicos que produzem sem o filtro da indústria e com o suporte da internet é completamente diferente daquela pela qual passavam as gerações que nomeiam a música brasileira. Dessa maneira, a renovação da produção musical compreende também um processo de reposicionamento e ajustes dentro desse novo modelo. Toda essa renovação, no entanto, não afeta a originalidade e identidade musical do país e é neste ponto que pretendo tocar com o projeto. É fundamental que essa


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noção não se perca, que seja feito o exercício de reconhecer os traços que dão forma a essa musicalidade. Como estudante do curso de design com habilitação em comunicação visual, entendo que nesta temática há grande potencial para realização de um projeto, pois partindo deste contexto surge a motivação em compartilhar o trabalho dos novos artistas, produzindo algo que dê visibilidade às relações entre seus trabalhos, que retrate essa nova geração e resgate o interesse visual em representá-la. Tratando de uma referência clara entre som e imagem, o desenvolvimento do projeto permite um estudo reflexivo e prático sobre os recursos da linguagem gráfica, enquanto expressão da visualidade musical brasileira.

Há também o interesse do ponto de vista cultural, uma vez que busca-se valorizar a produção de música brasileira contemporânea e reafirmá-la enquanto movimento. Ainda, a imersão em um recorte neste universo musical pode gerar uma visão sobre o papel e a posição do design gráfico neste contexto, em uma fase de surgimento de novas mídias e valorização de diferentes suportes.


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PROPÓSITO/ OBJETIVO

Partindo de uma seleção de artistas da música brasileira atual, produzir material visual que retrate essa nova geração a partir de seu trabalho musical, ressaltando características, reconhecendo grupos, expressando particularidades. Gerar diálogos, encontros e desencontros que dêem a dimensão de rede e apresentem assim um panorama gráfico, como resultado da relação entre imagem e som. Ao reconhecer a multiplicidade de ritmos que a nova produção musical brasileira apresenta, há uma certa dificuldade em caracterizar as vertentes que cada artista representa. A questão aqui identificada não se preocupa em, necessariamente, chegar a tais caracterizações, mas sim em experimentar, criar graficamente conteúdo que reconheça estas possíveis

congruências, divergências, e demais relações entre os trabalhos. Assim, apresentar uma perspectiva, um panorama visual (dos infinitos possíveis) que funcione como estímulo a novos pensamentos e relações. O que faz pensar na possível função de registro do projeto, uma referência que permita consulta e interpretações de um momento na música.


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METODOLOGIA

Enquanto metodologia, os principais geradores de conteúdo do projeto são interpretação e experiência pessoais e coletivas a respeito dos músicos selecionados, em experimentos que relacionem imagem e som. Portanto, além de um processo de pesquisa teórica no universo da nova música brasileira, proponho uma abordagem que parte de dinâmicas que convidam o olhar de outras pessoas a compor em conjunto uma “imagem” deste cenário musical. Dessa forma, os resultados coletados em cada experimento são usados como conteúdo e também como insumo para pensar a proposta do próximo. Esse processo se encerra na medida em que o conteúdo levantado for suficiente para uma concretização.

Assim, a materialização do projeto, ou seja, definições como seu suporte e formato ideais são consequências do processo de experimentação e das conclusões obtidas nele.


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CENA MUSICAL E OUTRAS REFLEXÕES

É possível dizer que hoje os músicos da nova geração estão com um domínio e uma liberdade quase ideais do espaço de trabalho e podem desfrutar dos novos suportes e maneiras de lidar com um público que também se afeta por essas mudanças. Cabe aos artistas uma postura de apropriação desse novo modelo, em que o conteúdo de imagem produzido relativo a seu trabalho não mais depende das gravadoras e da formatação imposta pela indústria fonográfica. Com a internet e o crescimento da música independente, abre-se um leque infinito de possibilidades de como se colocar nesse meio. Muitos discos da nova cena musical são financiados coletivamente via internet, alguns casos em que o projeto gráfico do disco é resultado de

concurso entre fãs, entre outras situações que configuram um processo muito mais horizontal, aberto e pessoal. Se as gerações musicais passadas eram caracterizadas, representadas e agrupadas por um movimento ideológico e político, hoje podemos dizer que para a neo-mpb a noção de movimento se configura de outra maneira: o reposicionamento e os ajustes para se enquadrar dentro de um novo modelo que abriga a música, a busca por um espaço, o que não significa dizer que a nova geração está vazia de influências e referências políticas e ideológicas. Por outro lado, ao mesmo tempo que os avanços das tecnologias de informação e comunicação proporcionam um maior alcance na distruibuição

e divulgação do trabalho dos músicos, facilitando o acesso ao potencial musical dos mesmos, perde-se a visão de conjunto, um lugar nessa rede que reúna e relacione seus trabalhos. Essas condições afetam a maneira como são passadas as imagens dos artistas, e pensar sobre elas foi importante para me tornar consciente de que o exercício deste projeto é construir imagens a partir da perspectiva do som deles.


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O QUE SE ENTENDE POR IMAGEM

Em termos de elementos visuais, muitas são as possibilidades para a construção de imagens. Neste projeto imagem configura-se como um conteúdo a ser extraído das músicas, pautado por interpretações coletivas que conciliam duas frentes de investigação: características visuais na música e características musicais nas imagens. Na transposição de uma para a outra, buscar estímulos que motivem a criação de composições gráficas, que no momento não se limitam a nenhum princípio. Imagem é, então, o canal de exposição das minhas percepções que partem das dinâmicas investigativas realizadas durante o período de execução do projeto.


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ARTISTAS SELECIONADOS

Como já mencionado anteriormente, a nova geração de música brasileira é muito numerosa e múltipla. Para que a concretização do projeto se torne viável foi importante, então, definir um recorte deste quadro. O critério para definição desse recorte foi priorizar artistas que surgem mais ou menos dos anos 2000 até o momento atual, por compreenderem o quadro musical já traçado nos tópicos anteriores e por isso vivenciarem uma liberdade musical, um descomprometimento com o mercado, pois essa postura é extremamente valiosa e influente no que se faz no Brasil, configurando seus trabalhos como contemporâneos. Ao selecioná-los, intuitivamente fiz um primeiro agrupamento. Depois, fiz o exercício de buscar motivos e pontos em comum

para cada grupo, entendendo que isso já poderia ser uma enumeração de características sobre cada som.


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OTTO / KARINA BUHR / EDDIE / JOHNNY HOOKER Este grupo se forma naturalmente pela localidade, música nordestina, todos de Pernambuco. Em suas carreiras possuem projetos uns com os outros, ou já se apresentaram juntos. No som, ambos bebem da fonte dos ritmos regionais e do manguebit, alguns ajudaram a construir a cena desse movimento, na década de 90. Todos apresentam além das influências regionais, um pouco de pop, rock e eletrônica. Com exceção de Eddie, são bastante performáticos. AVA ROCHA / LETUCE / TONO Além de serem do Rio de Janeiro, ambos neste grupo fazem um som mais experimental, marcado pela presença forte da voz como instrumento que ecoa nas harmonias.

CÉU / TULIPA RUIZ / MARIANA AYDAR / SILVIA MACHETE Mulheres que possuem influências mais claras das raízes brasileiras em suas músicas, não é a toa que são mais reconhecidas pela mídia como a geração de novas cantoras da MPB. MORENO VELOSO / KASSIN / TATÁ AEROPLANO Além de surgirem mais ou menos na mesma época, possuem arranjos bastante parecidos estruturalmente, sendo o Kassin um ponto de encontro entre as sonoridades dos outros dois músicos.


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OTTO / PE

Artista da cidade pernambucana Belo Jardim, é ex-integrante da banda Mundo Livre S/A e já tocou com integrantes da banda Nação Zumbi. Suas melodias misturam os ritmos regionais do Brasil e a eletrônica contemporânea com liberdade, inteligência

e carregam uma certa ironia em suas letras. Otto consegue distanciar-se dos lugarescomuns do regionalismo sem esforço e é considerado um dos mais inteligentes músicos brasileiros atuais. Atualmente reside no Rio de Janeiro e já declarou considerar sua mudança para a cidade um marco cultural em sua carreira.


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EDDIE / PE EDDIE é uma banda pernambucana que existe desde meados da década de 1990. Fazem um som influenciado pelo movimento mangue beat. Sendo uma banda com mais de 15 anos de estrada, EDDIE vem da histórica cidade de Olinda, um celeiro de bandas e artistas como Alceu Valença e Chico Science & Nação Zumbi. EDDIE despontou nacionalmente junto com Movimento Mangue Beat – um jovem movimento cultural

que surgiu em Pernambuco no início dos anos 90. Sua sonoridade é leve e descontraída, como o carnaval de Olinda – fonte de inspiração para inúmeras músicas da banda. A EDDIE mistura os ingredientes rock, reggae, dub, samba e frevo para fazer uma dançante batida sonora.


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Karina nasceu em Salvador, e aos 8 anos, foi morar em Recife e viveu intensamente a ebulição musical da cidade, desde o começo dos anos 90, primeiro cantando e tocando percussão em vários grupos como os maracatus Estrela Brilhante do Recife e Piaba de Ouro, o Véio Mangaba e suas Pastoras Endiabradas, além de acompanhar cavalos marinho, rodas de coco e ciranda em Recife e no interior de Pernambuco. Tocou em bandas como a Eddie, Bonsucesso Samba Clube, Dj Dolores e Orchestra Santa Massa, (com Erasto Vasconcelos e Antônio Nóbrega).

KARINA BUHR / PE Em 1997 formou a banda Comadre Fulozinha, com a qual lançou 3 discos, integrou trilhas sonoras, como do filme Deus é Brasileiro, fez várias turnês brasileiras e uma turnê mundial de 2 meses, entre França, Suíça, Suécia, Bélgica, Canadá e EUA. Foi com a Comadre Fulozinha que se revelou compositora e também ilustradora, com os desenhos das capas e encartes dos discos da banda (são dela também os desenhos do encarte de “Eu Menti pra Você”, seu primeiro trabalho solo).


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JOHNNY HOOKER / PE “As ideologias morreram. Nós só queremos dançar.” É a partir desse conceito que Johnny Hooker parte para um passeio entre os caminhos da vida noturna, e do modo de vida de seus personagens trazendo à tona uma música dançante e enérgica orientada para as pistas. Johnny Hooker já foi duas vezes finalista do Festival Microfonia, o maior festival de

novos talentos de Pernambuco e indicado ao Prêmio Recife Rock! como Artista Revelação. Dividiu o palco com artistas como Los Hermanos, Cachorro Grande, Mombojó e também com bandas independentes como a Vamoz!, Mellotrons, Backing Ballcats Barbies Vocals e Montage (durante o Rec Beat 2007).


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AVA ROCHA / RJ

Numa viagem musical e poética, o canto de contralto raro de Ava Rocha - cineasta, cantora e compositora - se enlaça a uma pesquisa sonora que cruza percussões e timbres de violão acústico e violoncelo com loops e samples criados em computador, compondo uma narrativa de arranjos. Integrando

outros parceiros como o músico eletrônico Edson Secco e Pedro Paulo Rocha, fundem sons inspirados na sensação, na espacialidade e no tempo do cinema, tramando efeitos sonoros a caminhos melódicos e harmônicos.


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LETUCE / RJ Letuce é um duo composto pelo casal Lucas e Letícia, que fazem uma mistura de lounge, pop e mpb. Iniciaram a carreira em 2007, no Rio de Janeiro. Os dois, carametades, se somam a comparsas de altíssimo nível para um desfile de canções-jóias diversas, de quem saca além da tropicália, transa Dalva de Oliveira e Courtney Love, galopa de cavalinho azul pelo Leblon todo aceso da Marina, e pela Tijuca swingada dos erasmos, jorges

e afins: sem pastiche, mas com pistache. O show é mais que um happening, cada glitter nos olhos, cada imagem projetada na banda, cada serpente cintilante de luz enroscada nos pedestais de microfone, cada verso safado em francês, cada verso embriagado de amor, cada nota dissonante do coro dos contentes é parte de um espetáculo maior que é total, porque “cada parte é um todo”.


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TONO / RJ Formada por cinco jovens e inventivos músicos, ao longo dos últimos dois anos o Tono percorreu os palcos da Cidade Maravilhosa apresentando um show que se destacou pela originalidade das canções, melodias e arranjos, e também da formação – o baterista Rafael Rocha é ao mesmo tempo vocalista e fica posicionado no meio e mais à frente do palco, coisa bastante rara de se ver por aí.

Despretensiosamente, a banda aos poucos conquistou e formou uma legião de fãs fiéis às suas apresentações, provocando o primeiro e bem recebido lançamento. Isso naturalmente impulsionou o grupo a mergulhar de cabeça neste projeto musical, que agora já está no terceiro disco. Membros: Rafael Rocha Bateria e Voz, Bem Gil - Guitarra, Bruno Di Lullo - Baixo, Ana Cláudia Lomelino - Voz e Metalofone, Leandro Floresta Flauta e Synth.


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CÉU / SP Cantora paulista, com seus 31 anos já alcançou muito em sua pequena carreira. Seu trabalho traz influências tanto dos ritmos brasileiros, particularmente o samba, como de hip hop, afrobeat, jazz, R&B, etc. Já afirmou em entrevista que não rejeita o rótulo de MPB, mas pondera: “O rótulo da MPB ficou limitado. Ele é bem abrangente, afinal é música popular brasileira. E me considero isso. Quando vou fazer um som, me alimento do que gosto e, como muitos outros

da minha geração, me alimento não só de coisas específicas. Gostamos de ouvir música da Jamaica, agora estou escutando música etíope. Não penso que tipo de música estou fazendo. Simplesmente faço um som.” Em 2005, foi considerada pela revista francesa Les Inrockuptibles como uma das cinco revelações do ano. Foi a mais alta posição nas paradas dos EUA já alcançada por uma artista brasileira, desde Astrud Gilberto com “Garota de Ipanema”.


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Nascida em Santos, Tulipa cresceu na cidade mineira de São Lourenço. Seu contato com a música começou cedo, influenciada pelo pai, Luiz Chagas, jornalista e guitarrista da histórica banda Isca de Polícia de Itamar Assumpcão. Na adolescência, a cantora teve um programa de rádio, fez coral e estudou por cinco anos canto lírico com a maestrina Edna de Sousa Neves. Mudou-se para São Paulo, onde estudou Multimeios.

TULIPA RUIZ / SP

Apesar de ter integrado bandas durante a faculdade, tratava a música como hobby. Formada, trabalhou como ilustradora e redatora por anos até que começou a participar informalmente de alguns projetos musicais. O convite para o primeiro show, criou a necessidade de ter uma banda.


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Também paulista, sua trajetória musical teve início em 2000, quando aos 20 anos começou a cantar profissionalmente como backing vocal do violeiro Miltinho Edilberto, cujo repertório era basicamente de forró. Logo depois, comandou sua primeira banda, Caruá, também de forró, durante três anos. Neste período, teve a oportunidade de dividir o palco com grandes nomes da música popular brasileira, como Dominguinhos e Elba Ramalho. Em 2004, após anos de estudo no Brasil e na Berklee School

MARIANA AYDAR / SP of Music, em Boston, morou em Paris por um ano. Lá conheceu Seu Jorge, que a convidou para abrir os shows na turnê europeia. Observar o Brasil com um olhar estrangeiro foi muito importante para sua formação. Então sentiu-se pronta e inspirada para voltar e gravar o seu primeiro álbum juntando as influências colecionadas ao longo da sua vida e da vivência no exterior. O resultado é um trabalho artesanal, misterioso e que está pronto para ser descoberto por seus ouvintes.


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SILVIA MACHETE / RJ Carioca no auge de seus 35 anos, é cantora, compositora, performer, malabarista e trapezista brasileira. Silvia saiu do Brasil para estudar Civilização Francesa na Sorbonne. Largou a universidade, se formou em artes circenses e foi para as ruas mostrar o que aprendeu. Ganhou prêmios em

festivais de artistas de rua de na Holanda e na França, mudou para Nova York, onde começou sua carreira. Recebeu elogios no New York Times, na revista Time Out e recomendação do Village Voice, em seguida voltou para o Brasil para gravar seu disco. Aqui foi comparada a Carmen Miranda, por sua irreverência e brincadeiras nas vestimentas.


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MORENO VELOSO/ RJ Filho de Caetano Veloso e sua primeira esposa, Dedé, esteve envolvido com música desde criança. Em 1982 fez a letra da música “Um Canto de Afoxé para o Bloco do Ilê”, música do pai, gravada no disco “Cores, Nomes”. Quinze anos depois, sua composição “How Beautiful Could a Being Be” entrou no repertório do disco “Livro”, de Caetano (1997).

Chegou a estudar física na faculdade, até que em 2000 gravou seu primeiro disco, “Máquina de Escrever Música” (Rock It!), em que canta, toca violão e violoncelo, com o grupo Moreno+2, formado por ele, o baixista Kassin e o baterista Domênico. No mesmo ano, apresentaram-se no Free Jazz Festival.


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KASSIN / RJ Alexandre Kassin (1974) é um produtor musical, cantor, compositor e multiinstrumentista brasileiro. Kassin integra, junto com Moreno Veloso e Domenico Lancelotti, o aclamado grupo +2 (que atualmente se desdobrou para +ela, sob liderança de Adriana Calcanhotto) e também a big-band Orquestra Imperial.

Além disso, ainda fomenta experimentalismos em projetos como o Artificial, no qual lançou o disco Free Usa e “toca” as músicas com um Game Boy. Integrou a banda Acabou la Tequila, notória no cenário independente carioca dos anos 90.


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TATÁ AEROPLANO / SP Tatá Aeroplano é músico, compositor, DJ e agitador cultural da cena musical paulista. Vocalista das bandas Cérebro Eletrônico, Jumbo Elektro e Zeroum. A banda Cérebro Eletrônico já gravou três álbuns: “Onda Híbrida Ressonante” (2004), “Pareço Moderno” (2008) e “Deus e o Diabo no Liquidificador” (2010). Com o Jumbo lançou dois discos

“Freak to Meet You” (2004) e “Terrorist!?” (2009). Como DJ, é residente da casa de shows Studio SP e da festa “On The Rocks” no Clube D-edge. Também se apresenta em outras casas tanto de São Paulo quanto de outras capitais do país. Nas pick-ups é conhecido por realizar sets ecléticos, com muita música brasileira, rock eletrônico atual e sons dançantes de todas as épocas.


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PALAVRA, IMAGEM E MOVIMENTO

Com as experiências propostas no projeto, pretende-se investigar como a música desses artistas sensibilizam as pessoas e, a partir de então, interpretar visualmente as interpretações dos colaboradores. Para isso, neste momento foco em quais são as formas de sensibilizar as pessoas, propondo dinâmicas que tragam como resultado as respostas que quero obter. A maneira como estas dinâmicas são conduzidas são igualmente importantes como dados do projeto, pois influenciam parcialmente nos resultados. Se o projeto parte de estímulos sensíveis propostos a pessoas, foi preciso definir quais seriam os canais pelos quais esses convidados poderiam expressar suas sensações. Separei as possíveis maneiras de obter visualizações em três categorias: palavra, imagem e movimento.

Cada uma desta categoria deve gerar uma experiência e, por consequência, uma bateria de resultados. Se este processo se define como uma fonte de estímulos que levem a composições gráficas, o trabalho a fazer em cima destes resultados é extrair elementos que sejam utilizados como recursos da construção de um panorama gráfico representativo da neo-mpb.


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EXPERIÊNCIA 1

Os experimentos neste projeto tem o intuito de possibilitar análises que saiam do lugar comum e permitam um olhar baseado nas sensações e no repertório de cada um. Dessa maneira, nesta primeira dinâmica o objetivo foi gerar um mapeamento de características ligadas ao som dos artistas selecionados. Para direcionar a intenção, criei regras para sua execução: ¬ Ouvir trechos de 5 músicas de cada artista, previamente selecionadas por mim, considerando toda a sua discografia. ¬ Anotar características/ qualidades visuais que surgem a partir do som, podendo ser utilizado como registro palavras e desenhos.


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INDIVIDUAL Experimentei esta dinâmica primeiramente sozinha para que pudesse chegar a uma primeira leva de conclusões que me guiassem a modificá-la ou aprimorá-la. O que / como aconteceu: Algumas músicas transmitiam uma ideia muito mais clara do que outras. Em alguns exemplos consegui ser mais específica, chegando a cores, texturas e situações bem descritas, como "caleidoscópio", "vidros translúcidos coloridos". Em outros casos, conseguia visualizar características, mas tive muita dificuldade em transpor para palavras. Acabei precisando fazer desenhos, ou às vezes nem desenho, mas algum tipo de expressão corporal.

Os tipos de caracterização que foram surgindo influenciaram muito nos próximos artistas. Exemplo: Quando pela primeira vez citei "noite", sentia naturalmente necessidade por esse tipo de qualificação no próximo artista. Foi mais fácil e agradável fazer a dinâmica conversando e compartilhando minhas impressões com alguém, verbalizar proporcionou chegar a um vocabulário mais solto e o alcance foi maior. Reparei que as palavras entre si quase sempre geram narrativas, sendo possível imaginar "uma situação" para cada artista. Como sou fã da maioria dos artistas selecionados, procurei não me influenciar pelas vivências que tive relacionadas a cada um. Mas no fim das contas acho que foi positivo contribuir com a minha


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experiência. Acabou trazendo a dinâmica pro real, contextos em que essas músicas acontecem/ aconteceram. Achei esse dado relevante. Porém, reconheço que leigos também são importantes, pois representam um olhar "puro", "com que imagem esses artistas são percebidos quando não há contato prévio".

Conclusões: ¬ Importante contar com outras formas de registro (video, gravar as conversas...), no caso de as pessoas quererem se expressar de outra maneira que não as palavras. ¬ Valorizar o bate-papo ¬ Reunir pessoas variadas (fãs e leigos - conhecidos e desconhecidos) ¬ Oferecer papel para escrita, materiais de desenho, colagem.

¬ Experimentar criar com todos as tais narrativas.


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EM GRUPO Convidei, então, 11 amigos que me ajudassem a compor este primeiro experimento. Antes de começar, introduzios ao tema de projeto e expliquei brevemente a minha investigação do momento. Reunimo-nos em torno de uma mesa , sobre a qual estendemos uma bobina de papel para registro e ofereci canetas e pastéis coloridos. Prosseguimos da seguinte maneira: para organizar o conteúdo a ser levantado, ouvimos um artista por vez para que cada pedaço de papel fosse uma perspectiva exclusiva daquele. A ordem de reprodução foi aletória entre os artistas, para que não partisse de mim nenhum tipo de indução. Deixei as pessoas confortáveis para compartilharem o que estavam

escrevendo e pensando, conversando sobre. A dinâmica como um todo foi muito produtiva, no entanto bastante cansativa por termos um total de 14 artistas para analisar, além de ser uma atividade que demanda bastante concentração. Conseguimos fazer em uma noite a análise de 10 dos artistas: Ava Rocha, Letuce, Tulipa Ruiz, Otto, Eddie, Moreno Veloso, Tatá Aeroplano, Silvia Machete, Mariana Aydar e Céu. Em relação a maneira como os papeis foram preenchidos, algumas conclusões: ¬ Poucas pessoas utilizaram a cor como um dado; ¬ Foram usados como recurso de registro a escrita, que algumas vezes apareceu de maneira esquemática e o desenho;

¬ Ao escrever sobre artistas característicos por um som mais expansivo, os preenchimentos se apropriavam mais do espaço em branco, com tendência a palavras e desenhos maiores, que esbarravam uns nos outros. Da mesma maneira, quando se tratava de um som mais tímido, as palavras e desenhos ocuparam mais timidamente o papel. ¬ Muitas coincidências foram encontradas ao longo da atividade, como referências a uma mesma palavra e quando isso acontecia a surpresa iniciava uma conversa.


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VER IMAGENS EM DETALHE: http://migre.me/pJKfK


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Sobre o conteúdo levantado, pude perceber dois diferentes resultados. UM DELES FALA DE COMO CADA UM SE ENCAIXA MUSICALMENTE Aqui puderam ser reconhecidos dois eixos principais: 1. os mais descompromissados com o formato de música brasileira tradicional, que se arriscam mais, aos quais podem ser atribuidas estas características: a plástica do som, poesia concreta, colagem de sons, jogo (de fala), nonsense, solto. AVA / LETUCE / TULIPA RUIZ / OTTO / KARINA BUHR / EDDIE / TATA AEROPLANO / 2. os que são mais apegados ao formato de música brasileira tradicional, em que o canto acompanha harmonicamente a palavra/letra.

SILVIA MACHETE / MARIANA AYDAR / CÉU / MORENO VELOSO / O OUTRO FALA DAS TEMÁTICAS QUE SE RELACIONAM AO SOM / PALAVRAS FANTASIA cores, lugares, verbos, qualidades visuais, partes do corpo, substantivos, onomatopeias, desenhos do som.


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Como a proposta de criar narrativas a partir do conteúdo levantado sobre cada artista não foi concluida em grupo, me encarreguei de criá-las por minha conta para entender se era possível chegar a uma circunstância/situação para cada um deles. Fiz esse exercício escrevendo frases que resumiam o conteúdo apresentado nos papeis.

MORENO VELOSO “Domingo de tardinha no quintal da avó, de chinelo caminhar macio sorrindo, conforto.”

OTTO “Calor na noite suada, inferninho astral masculino. Doce, mas bruto.”

CÉU “Balanço que amansa e conduz o corpo na água, quadril levemente movimenta, suave e aveludado o vento no cabelo, ginga no vapor.”

EDDIE “Férias de verão com a galera no calor e no vento quente da areia, vendo a vida passar, clima malandro de paquera.” TATÁ AEROPLANO “Entre fritações e depressões, narrativas urbanas alucinadas e confissões melancólicas.”

TULIPA RUIZ “Delicadeza ácida: solta tudo sem cerimônia, de corpo inteiro no volume e na potência, remelexo sensual colorido, berros espontâneos se alastram pelo ambiente.”

SILVIA MACHETE “Palco > cênico > personagem > fantasia > extravagante > tropical > latino america > AYAY > cor e calor”


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MARIANA AYDAR “Solta pé no chão, marca o passo, vem e diz transparente sentimento feminino.” LETUCE “Sagaz-espertinha, madrugada jogando papo fora, verdade que vem de dentro e vai pra cima” AVA ROCHA “Temporal/pancada da mulher poderosa de sensações transitórias, desalinhadas, forte e consistente.”

Com a realização dessa primeira etapa vejo que, depois de levantar características a respeito do som dos artistas, as próximas ações deverão acontecer no sentido de buscar nesse conteúdo parâmetros gráficos que conduzam e guiem a criação de imagens, pois para desenhar as possíveis aproximações, diálogos, ou diferenças e particularidades destes sons é preciso de um critério.

Pude também reforçar a ideia de que o projeto não tem pretensão de institucionalizar nenhuma conclusão a respeito de um cenário musical, principalmente porque a metodologia adotada lida com recursos de interpretação ligados ao subjetivo e ao sensível. Portanto, este mesmo projeto realizado um mês depois pode perfeitamente chegar a resultados completamente diferentes.

Exemplo: Se Ava e Letuce falam de colagem e essa palavra é muito importante pra imagem do som das duas, o termo “colagem” conduz a criação de uma imagem que represente as duas bandas. E se em um primeiro momento o exercício foi de gerar visualizações a partir da música, complementarmente pensar em recursos gráficos que possam ser extraídos destas visualizações.

Mais uma vez, entendo que a principal relevância da proposta apresentada se refere à importância de exercitar esse olhar e registrá-lo, enquanto iniciativa de reconhecer o valor de conjunto do que é produzido de música no país. De todas as maneiras possíveis de registro, o uso da imagem, neste caso, aparece como a ferramenta mais adequada por passar informações sinteticamente, e que proporciona diversas interpretações.


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EXPERIÊNCIA 2


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Considerando os resultados do primeiro experimento, senti necessidade de propor atividades mais abstratas, que partissem de interpretações mais naturais e imediatas.

música de cada artista e reproduzidos cerca de 2 minutos de cada uma.

Desta vez, o objetivo era expressar sensações vindas do som a partir de movimentos com o corpo. Para isso, chamei pessoas que tivessem alguma intimidade com dança e expressão corporal para participar. A instrução foi que não se apegassem a coreografias e ornamentos da dança, mas se preocupassem em fazer movimentos “literais” sobre o som.

¬ As músicas escolhidas são interessantes, pois tem muitos efeitos sonoros, uma gama de ferramentas para movimentação. ¬ Os movimentos de uma pessoa acabam afetando os movimentos da outra, de maneira que se estabeleceu um diálogo entre os corpos durante o exercício. ¬ A limitação do espaço e a intimidade com o mesmo é um fator que também influencia nos movimentos. ¬ Talvez fosse interessante chamar pessoas que não

Para a realização desta experiência foi escolhida uma

Observações dos participantes e conclusões

se familiarizassem com a movimentação, geraria resultados completamente diferentes. ¬ Cada música enfatizava uma parte do corpo, enquanto algumas traziam mais movimentos com as pernas, outras concentravam os movimentos só no ombro.


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ASSISTIR A TRECHOS DO Vテ好EO http://youtu.be/iwKixGfFzwM


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CONCLUSÕES E DEFINIÇÕES INICIAIS

Mais uma vez, entendo as experiências propostas como um estímulo a gerar pensamentos que guiem a concretização do projeto. Os resultados obtidos até o momento revelam um processo de interpretação de natureza subjetiva e reflexiva. Incluir a participação de um grupo de pessoas nesta investigação trouxe ao projeto a dimensão de que as respostas obtidas estão sempre sujeitas a variações, que as sensações obtidas e expressas configuram um conteúdo vivo e, portanto, não é possível nem interessante chegar a conclusões fechadas, mas considerar a possibilidade de trazer estas experiências para a concretude do projeto. Assim, apresentar um conteúdo base que parta das minhas interpretações, escolhas

subjetivas e afetivas, a minha forma de categorizar as respostas recebidas a partir das dinâmicas propostas e, além disso, permitir que novas visualizações interfiram e sejam incorporadas ao conteúdo-base, possibilitando grande liberdade de leitura sobre esse panorama gráfico. A maneira que os estudos aqui apresentados aconteceram me trouxe alguns primeiros direcionamentos sobre como o projeto se materializa. Entendendo a dimensão do espaço como uma importante característica para apresentação do material gráfico gerado no desenvolvimento do trabalho, começo a avaliar a possibilidade de algo como uma exposição/ ocupação/instalação que não encerre os resultados em só uma peça, mas que proponha um conjunto de visualizações,


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maneiras diferentes de mostrar o conteúdo, configurado em um lugar, e gere uma experiência ao público que entrar em contato. A proposta de dividir a investigação em diferentes canais é semelhante a um processo de dissecar a música em elementos que estão atrelados a sua existência, mas não necessariamente são racionalizados quando estamos em contato com ela. Esse conceito é interessante, pois pode se refletir graficamente na apresentação do conteúdo, no sentido de separar os elementos e reforçar a sua existência. Trazendo esses pensamentos para a realidade de uma exposição, por exemplo, apresentaria a minha forma de categorizar os resultados a partir das experiências propostas, mas também

permitindo que essas experiências possam ser feitas no momento da exposição, para que essa visualidade e forma de categorizar seja complementada. O material tratado e exposto é visto por pessoas que podem contribuir ao conteúdo, formando um grande mapa vivo de “depoimentos” visuais (resultados das experiencias) para que o conteúdo não se encerre a um grupo limitado de participantes. Existe uma base, que é como eu exponho as minhas interpretações visuais. E os critérios seguidos para a criação desse material pode ser replicado em exercícios no momento da exposição, que geram novas visualizações sobre o conteúdo.


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Síntese do projeto Partindo da nova geração de artistas da mbp e entendendo que neste cenário existe uma nova noção de movimento – o reposicionamento do trabalho com a música em um diferente modelo – dar visualidade a este movimento, representando suas relações. Utilizando como insumo uma investigação entre som e imagem através de estímulos experimentais, fazer traduções e interpretações que gerem um panorama gráfico sobre este novo movimento e que possibilite novas leituras/ interpretações sobre o novo cenário musical do país, configurando-se em um espaço para visitação e apreciação do conteúdo.


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PLANEJAMENTO

mês 1

Gerar visualizações sobre conteúdo-base: mapas visuais, desenhos de relações Edição de conteúdo

Estudos e definições de linguagem

Estudos e definição de como o conteúdo se apresenta: suportes, etc.

Estudos e definição de espaço em que o conteúdo será exposto

Estudos e definição de ambientação

Estudos e definição de sonorização do espaço

Documentação do processo

mês 2

mês 3

mês 4


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BIBLIOGRAFIA

AMPLIFICADOR: a central da nova música brasileira. Disponível em: <http://oglobo. globo.com/blogs/amplificador/ posts/2013/11/28/julianna-save-musica-carioca-em-processode-reposicionamento-516619. asp> [Consult. 2015-04-18] ANDRE MIDAN: DO VINIL AO DOWNLOAD. Direção: Andrucha Waddington e Mini Kerti. Produção: Conspiração Filmes Rio de Janeiro - RJ, 2015. 180 min. AVA ROCHA. Disponível em: <http://www.avarocha.com/> [Consult. 2015-04-30] CANÇADO, WELLINGTON e MARQUEZ, RENATA. Atlas Ambulante. Belo Horizonte: Ed. ICC, 2011. CÉU. Disponível em: <http:// www.ceumusic.com/> [Consult. 2015-04-30] EDDIE. Disponível em: <http:// www.bandaeddie.com.br/> [Consult. 2015-04-30]

KARINA BUHR. Disponível em: <http://www.karinabuhr.com.br/> [Consult. 2015-04-30] LETUCE. Disponível em: <http:// www.letuce.com.br/> [Consult. 2015-04-30] MARIANA AYDAR. Disponível em: <http://www.marianaaydar.com. br/site/> [Consult. 2015-04-30] NAVES, Santuza Cambraia. DA BOSSA NOVA À TROPICÁLIA: contenção e excesso na música popular*. Revista Brasileira de Ciências Sociais, SP, VOL. 15, N˚ 43. jun, 2000. OTTO. Disponível em: <http:// trama.uol.com.br/otto/hotsites/ principal/> [Consult. 2015-04-30] SILVIA MACHETE. Disponível em: <http://www.silviamachete. com/> [Consult. 2015-04-30] TATA AEROPLANO. Disponível em: <http://www.tataaeroplano.com/ site/> [Consult. 2015-04-30] TONO. Disponível em: <http:// www.tono.mus.br/site/?page_ id=5> [Consult. 2015-04-30]


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