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1 Introdução
5
4 Desenvolvimento
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2 Contexto/ conceito
7
5 Estudos de identidade visual e nome
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7 Solução final
8 Conclusão
109
124
3 Briefing
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6 Nosso primeiro muro
96
9 Fontes Consultadas
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3
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1
INTRODUÇÃO
Este projeto parte de dois processos simultâneos de contextualização e conceituação, que aos poucos foram se encaminhando para um mesmo objetivo. Partindo de um comum interesse e prévio envolvimento com a comunidade criativa local, tivemos a oportunidade de encontrar no Santa Marta um ambiente muito propício de inserção, para entender os valores que estas pessoas geram no espaço. No decorrer dos processos de pesquisa e convívio na comunidade, percebemos que a inserção desse ambiente na nova geografia carioca traz a eles benefícios, mas também malefícios. A crescente valorização dos terrenos e a descoberta de um novo espaço com alto potencial lucrativo resultam no processo de gentrificação, que, a grosso modo, consiste no fato de um lugar se tornar insustentável para as pessoas que originalmente o habitam. Entendendo que na ideia de “comunidade” pessoas e espaço são indissociáveis, decidimos ter como meta reforçar esse vínculo. Percebemos, também, que essa relação deve ser repensada na ideia de cidade como um todo. Partimos do princípio de que quando tornamos as coisas visíveis, elas se tornam mais fáceis de serem assimiladas. Pensando nas paredes como meio de comunicação urbano, na expressão desse vínculo contida nas pessoas e influenciados pelo trabalho da artista americana Candy Chang (www.candychang.com), desenvolvemos o “Não Saio Daqui Porque”. Ao propor que as
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pessoas preencham esse questionamento em uma parede de grande visibilidade, acreditamos acender uma reflexão coletiva, reforçando a união e a ideia de comunidade, fazendo com que as pessoas entendam de uma nova forma o seu papel em relação àquele espaço. Ao redirecionar olhares para opiniões, as opiniões redirecionam olhares.
6
2
CONTEXTO/ CONCEITO
2.1
FERNANDA FRANCISCA
Em 2012.1, na disciplina de projeto DSG1003 - Projeto Básico_Desenvolvimento, tivemos a oportunidade de desenvolver o projeto Museu é o mundo, que tem como objetivo principal produzir um sistema de exposições ao ar livre, que envolve a logística de recolher, expor e distribuir o conteúdo história e arte - da produção cultural das comunidades periféricas, ambientes em que a produção cultural pode ser mais explorada, de maneira a direcionar o olhar
para o conteúdo exposto. Ele consiste em pensar não somente na produção dos expositores, mas também no funcionamento e na dinâmica das exposições, viabilizando e propondo um maior acesso à cultura das comunidades para as próprias. Como estudo de caso, o projeto foi desenvolvido na favela Santa Marta, localizada em Botafogo, porém é possível e se pretende expandir a produção dos expositores em série para outras favelas. Como resultado, projetamos
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e produzimos o Patut: nosso expositor, que consiste em um suporte modular, móvel e desmontável, através do encaixe entre as peças, que tem a intenção de ser ao mesmo tempo neutro e contrastante.
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Este projeto nasceu da percepção, a partir das visitas feitas à comunidade, de que existe uma mobilização em torno do artesanato naquele local, visto que existem grupos ativos que produzem e vendem suas peças tanto para o interior, como para o exterior da comunidade. Tendo em vista o tema proposto para a disciplina DSG1004 - Projeto Avançado: Estratégia e Gestão, que é "Empreendedorismo na classe C", identificamos a oportunidade de continuar trabalhando com este grupo de pessoas, que são empreendedoras, gerando valor não apenas econômico, mas cultural e social para o espaço em que estão inseridas.
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Fizemos entrevistas no local, para tentar entender a perspectiva de moradores e trabalhadores, incluindo os próprios artesãos, sobre algumas questões gerais em relação à rotina. Obtivemos nas respostas informações tais como a necessidade de trabalhar em mais de um emprego para obter sustento, a praticidade de trabalhar na proximidade do lar, além do interesse por cursos como ferramenta para conseguir trabalhar com atividades extras. Uma entrevista em especial nos chamou a atenção. Carlos Barbosa, morador do Santa Marta há 5 anos, é um dos artesãos ativos da comunidade, que possui uma visão de grupo que muito nos inspirou, quando falou sobre o prazer e a descoberta da possibilidade de trabalhar com algo que gosta. Como um dos principais valores que acredita gerar para a comunidade, está a vontade de passar para os moradores do Santa Marta o exemplo de conseguir se sustentar dessa maneira. Gostaria, ainda, de promover oficinas criativas para os moradores, que funcionassem como ferramenta para a geração de uma vontade pelo trabalho.
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ESTUDO DE PARTES ENVOLVIDAS
A partir das pesquisas feitas no Santa Marta foi possível entender de maneira geral como trabalham os artesãos da comunidade e a articulação que há entre eles. Considerando a produção cultural desses moradores/artesãos como oportunidade, identificamos caminhos pertinentes a questionar:
o passo a passo da produção das obras
a memória cultural da comunidade
o aproveitamento de materiais
o custo do material, o tempo que é gasto em cada etapa.
aspectos visuais, lembranças, valores, histórias: como isso está representado nas obras, de que outras maneiras poderia passar a ser.
que materiais reciclados são utilizados, quem coleta, onde são armazenados, que outros materiais já usados poderiam ser substituídos por reciclados.
como o trabalho é divulgado
o trabalho em cooperativa
eventos, identidade visual, páginas na internet.. - o que já existe, como funciona, como poderia passar a funcionar.
de que maneira os artesãos trabalham juntos, com que frequência isso acontece, como isso influencia em seus trabalhos.
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Fizemos um exercício complementar às pesquisas iniciais, com o propósito de entender quais eram as partes envolvidas no nosso universo de projeto e buscando esquematizar as relações existentes no grupo com o qual estávamos trabalhando. Dessa forma, pudemos entender as questões já listadas, a partir da maneira como se dá a organização dos artesãos, inseridos no contexto da comunidade.
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JORNADA DO USUÁRIO
Utilizamos a ferramenta Jornada do Usuário para descrever as etapas de envolvimento com relação à rede de artesãos. Neste exercício, foi importante prestar atenção que podíamos avaliar duas situações diferentes:
quanto à compra feita pelos turistas
quanto aos outros moradores/valorização da cultura da comunidade
> usuário planeja visita à comunidade. em sua visita encontra quiosque de artesanato. > para guardar como recordação e por apreciar o trabalho o usuário faz a compra dos produtos em dinheiro, diretamente com o vendedor. > usuário leva seu produto pra casa deixando-o exposto ou utilizando como acessório. > com o desgaste natural do produto ao longo do tempo o usuário descarta o objeto doando-o ou jogando no lixo.
> morador circula pela comunidade > ao passar pelo quiosque repara que há grande valorização das peças pelo público de fora e que sua produção cultural é de qualidade e pode ser mais explorada > morador passa a valorizar o trabalho e se sente capaz de produzir e vender seus próprios produtos e fortalecer a identidade cultural da comunidade. > a experiência faz com que o morador coloque suas novas ideias em prática acreditando que pode se sustentar financeiramente e preservar sua memória cultural dessa maneira.
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Fizemos um infográfico para mapear a relação da rede de artesãos com as outras atividades que encontramos na comunidade Santa Marta.
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+
entrevistas pessoais + valores
exemplo por trabalharem com o que gostam
ZEQUINHA PC & MARLENE
posição dos empreendedores sobre seu trabalho na comunidade
+ praticidade BARBOSA PIERRE GRAÇA
trabalho próximo ao lar
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OBJETIVO
No contexto de comunidade em que trabalhamos, entendemos a pacificação como um ponto muito influente em nossa pesquisa. Dessa forma, achamos pertinente e julgamos imprescindível focar nas grandes mudanças que estão acontecendo com esse processo, fruto da instalação das UPP's. Esse aspecto faz com que mais pessoas se sintam à vontade para visitar estes espaços, não é a toa que o turismo tem um crescimento inquestionável nestes ambientes, além de visitas feitas por pessoas "do asfalto", como se diz, em geral. Entretanto, faz-se necessário destacar que nesta "melhora" de cenário há um lado negativo.
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Descobrimos o processo de gentrificação que acontece nas favelas. Um conjunto de transformações no espaço, que especificamente neste contexto se traduz na pacificação e nas consequências que ela traz, fomentando a valorização imobiliária destes espaços. Esse ambiente passa a ser descoberto pelas classes que antes não tinham interesse no local, tornando vulnerável a condição dos atuais moradores de permanecer lá. Isso faz com que a palavra comunidade, que vem de comum, perca seu sentido.
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A partir daí, chegamos à conclusão de que a presença do Estado investe muito mais no espaço do que nas pessoas, no sentido de que "se tudo der certo" e as UPPs continuarem agindo, instaurando a segurança de maneira permanente, é muito provável que os atuais moradores acabem tendo que se mudar para outros lugares, fazendo com que as favelas virem nada mais do que extensões dos bairros onde estão inseridas. Partimos do princípio de que as diversas experiências geradas pelo artesanato e outras manifestações culturais contribuem para o desenvolvimento humano e social e estimulam o vínculo da população com os lugares onde vivem. Assim, avaliando quais características de todo o levantamento inicial nos levariam a uma oportunidade de projeto viável, fizemos um recorte e definimos nosso principal objetivo: focar neste vínculo, pensando que o patrimônio imaterial - os saberes, os modos de fazer, as formas de expressão - não pode ser perdido, por conter um potencial muito forte de concretizar a identidade do grupo. A partir deste objetivo, identificamos uma oportunidade de projeto e a transformamos em uma frase que nos guiou ao longo de parte do processo:
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Estimular o vínculo dos moradores com o espaço a partir da valorização da produção cultural - história e arte - da comunidade. Um exercício que fizemos foi pensar qual era a nossa pretensão com o projeto e encontramos alguns aspectos principais: > Estímulo a uma maior produção cultural da comunidade > Valorização das pessoas, através do maior entendimento da importância que sua produção cultural tem > Artesãos como "semeadores", no sentido de espalhar todos esses ideais acima para os outros setores.
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20
2.2
GABRIEL, PEDRO E TATIANA
Fizemos a nossa primeira visita a favela Santa Marta acompanhados de colegas de turma, do SEBRAE e de nosso professor logo no início do período, com o interesse de identificar empreendimentos e empreendedores no local. Logo nos encantamos com a identidade visual da comunidade, marcada principalmente pelos letreiramentos das faixas e estabelecimentos comerciais, todos muito característicos e semelhantes, em letras desenhadas manualmente muito bem acabadas e precisas, e com muita personalidade, comumente ornadas com pinturas e floreios ao seu lado. Decidimos procurar os responsáveis por isso, para que potencialmente pudessemos tê-los como parceiros no projeto. Durante mais de uma semana, investigamos a comunidade em busca dos empreendedores que tinham como negócio o letreiramento. Durante esse período, tivemos a oportunidade de entrevistar outros comerciantes e pessoas que geriam
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As pinturas de Jorge marcam e dão identidade à comunidade.
negócios próprios, e, acima de tudo, conhecer melhor o local, as pessoas e o contexto no qual trabalharíamos. Conhecemos relações entre as pessoas, tanto pessoais quanto comerciais, conhecemos os tipos de atividades que estavam sendo desenvolvidas lá, e o cenário atual do lugar, que tem passado por muitas mudanças, anteriormente descritas. Encontrar os letreiradores do Santa Marta não foi fácil. Logo descobrimos quem eram, seus nomes, e onde moravam. Mauro, o primeiro que descobrimos, não se encontrava disponível em nenhum momento em que estavamos lá, pois trabalhava “no asfalto” durante todo o dia e só ficava livre em casa mais tarde da noite.
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Jorge Crispim em seu ateliê, no segundo andar da Igreja Nazareno.
Do que nos diziam, Jorge, o segundo, era mais disponível, e além de tudo era responsável pela maior parte das letras e também pinturas da comunidade. Mesmo assim, tivemos que ir três vezes ao morro, em busca dele particularmente, para que calhasse de nos encontrarmos. Felizmente, quando nos encontramos, ele foi muito receptivo e nos contou muito sobre o seu trabalho e, por consequência, sobre sua vida. Nesse e nos encontros subsequentes, Jorge Crispim nos mostrou uma quantidade enorme de trabalhos e nos apresentou ao seu processo de criação, que se esticava desde o desenvolvimento de faixas, placas e letreiros em geral, às artes plásticas e ao artesanato. Ele nos falou sobre os desafios que teve de superar para seguir com seu desenvolvimento artístico e do
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quanto aquilo era uma necessidade para ele. Jorge também nos contou que, para se sustentar, trabalhou durante 17 anos como entregador de jornal, dentre os quais, nos primeiros 7, não folgou nenhum dia e nem teve nenhum tipo de férias. Depois de um tempo sem trabalhar no jornal, voltou trabalhando como encartador e posteriormente como folguista, posição que ocupa atualmente, para que outros pudessem ter folga. Apesar de se sentir muito prejudicado em ter de dividir seu trabalho de verdade com um trabalho no jornal, ele se sente muito preso ao jornal e tem dificuldade em sair. Ele nos falou que no ano de 2010 ele foi selecionado com louvor para a feira da General Osório, onde expôs e vendeu seus trabalhos, mas não com muito êxito financeiro. Quanto à pintura de faixas, nos contou que trabalha principalmente com metragem e com número de cores, para precificar, e que tem, em geral, sua própria caligrafia, mas que, quando sente necessidade ou é requerido, pode usar outros tipos de letreiramentos. Em muitos momentos ele falou de o quanto sonha em ser reconhecido, e em viajar (especialmente para a França) e o quanto sente que perdeu por ser uma pessoa muito tímida, coisa que cada vez mais ele procura mudar. Segundo Jorge, por ser recatado e ter poucos amigos, as pessoas só vieram a conhecê-lo e só veio a ter algum sucesso
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de trabalho dentro da comunidade depois que passou a pintar ao ar livre, onde havíamos o achado. Ele nos mostrou seus trabalhos e, em especial, o que tem trabalhado agora. Pretende produzir mais coisas em escalas menores e passou, depois de muito tempo, a ter a própria favela como tema, pretende passar a vender esses quadros para turistas e visitantes, uma vez que há uma frequência cada vez maior destes, e que é importante que eles venham, e que é importante que eles tenham algo que conserve a memória de ter ido. Ele nos disse, no entanto, que tem problema em administrar tantas áreas de atuação diferentes, e que talvez devesse se focar em uma só coisa, mas que gosta, e as vezes precisa, de atuar em tudo. Durante nossas conversas, ele falou da ideia de economia solidária, e de que acredita que ao fazer algo, ele deve compartilhar o valor daquilo que faz com a sua comunidade. Ele nos disse, por exemplo, que pensa em ensinar desenho e pintura para crianças, e que tem o desejo de trazer para aquelas pessoas o interesse e a possibilidade de conhecer e ter arte. A partir disso passamos a pensar sobre o quanto seu trabalho era um artigo identitário daquela comunidade, e do quanto expressava seus valores. Dentro do contexto de mudanças pelas quais o Rio de Janeiro e, principalmente, as
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favelas pacificadas têm passado, a ideia de identidade comunitária tem tomado uma força grande por se fazer cada vez mais necessária, e ao mesmo tempo ainda é muito frágil e indefinida na maior parte dos lugares. Nos questionamos sobre o quanto o que Jorge fazia era visível, ou visto, não exatamente no sentido de as pessoas verem sua obra, mas de fato se verem na obra e a entenderem como uma extensão e potencializadora de sua identidade coletiva.
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Rede de relações e geração de valores identificadas na favela Santa Marta Grupo ECO
Consumidor
Ponto de Cultura pipa social
Mauro
Associações de Artesãos do Santa Marta
Jorge Igreja do Nazareno
UPP
Associação de Moradores do Dona Marta Bar do Toca JR Biju Fornecedores
Bar da Rita Econômico Social Cultural
Bar da Margarida
Jorge Crispim entrevista
cursos
desenho início do interesse pela pintura
feirinha general osorio
folguista jornal aulas para crianças
conseguir viver apenas com arte
jornal
timidez pintura pintura de letreiros e pintar publicamente
quadros para turistas
expor na frança montar seu ateliê
o que já fez planos futuros 27
MAPA DE POSICIONAMENTO DAS SOLUÇÕES EXISTENTES
Artes Plásticas
Pintura em Materiais Alternativos
Pintura de Telas
Menos Acessível
Mais Acessível
Pintura de Placas e Letreiros Pintura de Faixas Artes Aplicadas
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OBJETIVO
A partir de nossos encontros e reflexões, identificamos três caminhos que poderíamos tomar em nosso projeto com Jorge:
1 > Criar/gerir melhor a comercialização, a partir de uma maior inserção de Jorge na economia criativa da comunidade
2 > Otimizar/ estruturar a produtividade das obras e artes aplicadas, partindo de um viés organizacional
3 > Valorizar a produção cultural/artística da comunidade usando a obra de Jorge como ponto de partida, tanto para os visitantes quanto para os moradores
A terceira oportunidade foi a que mais nos interessou, apesar de ser a mais abrangente, pois lidava com questões mais latentes da comunidade e acreditamos nesse momento que faria mais sentido termos Jorge como uma peça valiosa na articulação de algo maior para aquele contexto do que tê-lo como um fim em si mesmo, pois isso o desvalorizaria enquanto profissional criativo e como membro daquela cultura.
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Depois da G1, formulamos a frase “Criar visibilidade para as obras de Jorge, consequentemente ampliando o acesso dos moradores da comunidade à arte produzida no local, de modo a valorizar e fortalecer a articulação da comunidade criativa do Santa Marta”. Porém, conversando com os professores, vimos que o objetivo ainda estava meio confuso, e o reformulamos, chegando em algo um pouco mais objetivo: “Ampliar o acesso dos moradores às obras de Jorge, de modo a valorizar e fortalecer a articulação da comunidade criativa do Santa Marta”.
30
2.3
CONVERGÊNCIA Como antes foi dito, este projeto surgiu da convergência de dois processos de pesquisa, contextualização e conceituação. É importante explicar que, apesar de haver esta divisão inicial, os dois caminharam juntos, sempre buscando o grande potencial de complementaridade que existia nas informações coletadas. Partindo da definição dos objetivos gerados nesta etapa anterior, percebemos que nossas propostas estavam bastante alinhadas, o que nos fez concluir que a melhor opção era aproveitar esta oportunidade e somarmos todo o conteúdo que tínhamos, seguindo com as próximas etapas em conjunto. Então, passamos a pensar como unir a ideia de estímulo do vínculo das pessoas com o espaço, a partir da valorização da produção cultural da comunidade, à articulação e ao fortalecimento da comunidade criativa do Santa Marta, levando em conta a ampliação de acesso ao trabalho de Jorge Crispim.
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3
BRIEFING
Todas as informações geradas pelos dois processos de conceituação e contextualização deram origem a um briefing geral:
> trazer vínculo do morador com o espaço
> manuseio intuitivo
> registro do processo
> aproveitamento das áreas
> convite ao uso
> registro do uso
> estímulo de produção cultural
> processo colaborativo
> registro colaborativo
> uso por diferentes usuários
> replicabilidade/ “código aberto”
> custo acessível
> interatividade
> spread
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4
DESENVOLVIMENTO
4.1
CENÁRIOS Como exercício complementar ao nosso processo de desenvolvimento, construímos possíveis cenários futuros que possibilitam criar diversas abordagens em relação ao desenrolar do projeto. 1. Partindo do principio que, após a temporada de grandes eventos previstos para o Rio de Janeiro, as políticas públicas, tanto de segurança quanto de infraestrutura e desenvolvimento social, parem de existir no local, temos um espaço relegado ao abandono. Voltamos a uma situação de precariedade, onde a oportunidade da construção de uma identidade comunitária se perde em meio a um cotidiano vivido na margem. O nosso objetivo, nesse caso, serviria para criar um espaço em que procuramos dar voz a um sentimento não concretizado de pertencimento daquelas pessoas. De todo modo, encontrariamos uma barreira muito grande. 2. Em um cenário ideal, os projetos do poder público para a área são concebidos de forma a favorecer o desenvolvimento social, ao mesmo tempo que valoriza a identidade comunitária e respeita os vínculos estabelecidos entre aquelas pessoas e aquele lugar. A área permanece segura e recebe os
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benefícios adequados do Estado, que por sua vez toma suas ações considerando os direitos de permanência daquelas pessoas, sem levar em conta interesses estritamente econômicos. Nesse cenário, agiriamos de uma forma que basicamente afirmaria uma situação ótima. 3. Considerando que as UPPs continuem a sua atuação na comunidade da forma como têm o feito, e as políticas atualmente em progresso se concretizem, temos como cenário previsto um ambiente seguro, limpo, acessível e alinhado com o modelo urbano esperado para a cidade do Rio de Janeiro. Como contrapartida, o processo de gentrificação e as remoções tendem a se manter crescentes, e, pouco a pouco, a comunidade é descaracterizada e as pessoas que antes atribuiam o status de “lugar” àquele “espaço” perdem o seu vínculo com sua cultura e identidade local. Acreditamos que esse é o cenário mais provável e no qual nosso objetivo é mais pertinente, pois há uma situação de fragilidade, mas um momento em que é muito oportuno repensar essas questões que envolvem vínculo, comunidade, etc.
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4.2
SIMILARES E CORRELATOS Para gerar alternativas começamos a fazer um levantamento de projetos, de alguma forma pertencentes ao mesmo contexto e relacionados aos mesmos objetivos já traçados, identificando em cada projeto o que pode nos servir como referência.
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Rua dos Inventos O projeto "Rua dos Inventos"de Gabriela Gusmão foi uma de nossas primeiras referências e influências, por ser um movimento de recolha de inventos projetados por moradores de rua. Gabriela coletou todo este conteúdo, o categorizou, fez registros fotográficos e, ao final do processo, sua maneira de expor todas essas histórias foi promovendo uma exposição e publicando um livro. Consideramos importante para o nosso processo a característica do projeto de dar valor às coisas normalmente despercebidas, fortalecendo a cultura, os modos de fazer e as formas de expressão.
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Mapa Gentil O "Mapa Gentil" prevê a instalação de intervenções urbanas pelas cidades do Distrito Federal, todas elaboradas por alunos, inicialmente do Centro de Ensino Médio EIT – CEMEIT que participam de palestras e oficinas de capacitação. O projeto nos inspira no sentido de inserir a arte ao cotidiano das pessoas e trabalhar a autoestima das comunidades, revelando sutilezas que se perderam em meio à pressa cotidiana.
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Memórias do futuro "Memórias do Futuro – Olhares da Infância brasileira pesquisa a Cultura da Infância do Brasil através de um processo de sensibilização do olhar investigativo e criativo de jovens, educadores e crianças, em ações que se propagam em redes virtuais e presenciais, estimulando a aproximação de gerações e a troca de conhecimentos, fazeres e práticas relacionados ao brincar ." Esse projeto tem como característica resgatar memórias antigas, valorizá-las e registrá-las para que não sejam perdidas.
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Mestres da cultura O Projeto Mestres da Cultura visa valorizar as figuras dos Mestres e o Patrimônio Imaterial do Vale do Paraíba a partir da criação de um documentário que permita oferecer conhecimento histórico da cultura popular da região. São considerados Mestres da Cultura os membros reconhecidos pela comunidade como detentores de saberes e fazeres das culturas tradicionais em diversos campos do conhecimento, da música à dança, do artesanato aos ritos religiosos, da “contação de causos” à literatura, entre tantos outros.
TEMPORAL - Stephan Doitschnoff
No projeto artístico "Temporal" o artista plástico Stephan Doitschnoff passou um ano morando na pequena cidade de Lençois, no interior da Bahia. Aos poucos, foi pintando as casas e construções da cidade, incorporando os elementos da cultura local ao seu trabalho, com o objetivo de construir uma relação visível daquele lugar com sua mitologia, seu folclore e sua cultura. https://vimeo.com/2301531
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JR O trabalho do fotógrafo francês JR, na série 28mm - womens are heroes compreende a instalação de fotografias em proporções gigantescas no morro da providência, no Rio de Janeiro. JR fez pesquisa de campo para conhecer as heroínas da favela e retratar suas histórias com seu olhar fotográfico. Seu trabalho nos serviu como referência não só quanto à solução de aplicação nas paredes e mobiliário urbano com lambe-lambe, mas também quanto ao direcionamento de olhar para personagens específicos da comunidade.
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Projeto Parede O projeto Parede teve uma iniciativa, chamada CadaVer no MAM de São Paulo, com a proposta de que 52 artistas preenchessem uma parede disponível do museu. Não havia temáticas pré-estabelecidas para os desenhos, apenas foram disponibilizados materiais como canetas hidrográficas e nanquim e a ideia era que o público acompanhasse todo o processo de preenchimento da parede. Essa iniciativa nos atentou para o uso das paredes como um suporte muito interessante, que é muito presente no contexto em que estávamos trabalhando.
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Iconografias do Maranhão o projeto "iconografias do maranhão" concebido pela professora Raquel Noronha teve como resultados a constituição de um acervo digital, a criação de produtos e peças gráficas, a realização de uma exposição temporária e a publicação de dois livros, todos com o intuito de promover e fortalecer iniciativas produtivas de 12 grupos tradicionais da cultura afro-maranhense. É um ponto muito interessante desse trabalho o fato de gerar aspectos positivos diretos na cadeia produtiva da cultura na Ilha do Maranhão, ao possibilitar que os grupos envolvidos se apropriem de novos produtos e novas estratégias de produção.
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Pequenos Monumentos da Memória O "Pequenos Monumentos da Memória" é um projeto que nasceu na PUC. Eles recolhem memórias e histórias das pessoas e as expressam de diversas formas, também utilizando a rua como ambiente de exposição, promovendo intervenções gráficas. Uma questão bastante interessante é a forma como criam unidade em relação às intervenções, fazendo com que seja construida uma narrativa por parte dos transeuntes. http://pequenosmonumentosdamemoria.wordpress.com/
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Museu da Pessoa O Museu da Pessoa é um espaço virtual e colaborativo de relatos de vida. Nele, as pessoas tem acesso a um acervo de textos, imagens, vídeos e áudios, que são compartilhados colaborativamente nas mídias sociais. Funciona como um convite para que as pessoas relatem suas histórias que trazem na memória, revelando acontecimentos que marcam sua vida. Este projeto nos chamou atenção para importância de um sistema que pensa na rotatividade das informações. Permitir que as pessoas compartilhem suas histórias é inclui-las no processo, o que é muito pertinente quando se tem o objetivo de estimular o seu vínculo com o projeto. http://www.museudapessoa.net/conheca.php
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Candy Chang O trabalho da artista plástica americana Candy Chang foi uma grande descoberta que muito contribuiu para o nosso processo. A proposta que une os trabalhos que dão nome e reconhecimento mundial à Candy é de repensar o espaço urbano como um meio de interação social e contemplação, chegando à maneiras de proporcionar experiências colaborativas nos caminhos, por meio de intervenções no espaço. Para isso, distribui alguns temas pela cidade, para que as pessoas preencham, como o "Before I die I want to______" e o "I wish this was______". Admiramos nesses trabalhos a maneira criativa e divertida de gerar lacunas interativas no espaço urbano e instigar a participação das pessoas, com mensagens condizentes com o contexto. Ainda, o funcionamento dos projetos como sistemas, que pensam não só o suporte, mas o funcionamento das atividades e todas as suas etapas. www.candychang.com
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#poaprecisa (shoot the shit) Inspirados no trabalho da artista americana Candy Chang, o grupo desenvolveu esse projeto chamado "#poaprecisa", em que abriram espaรงo para as pessoas se manifestarem sobre o que poderia ser melhor na sua cidade. http://www.shoottheshit.cc/poaprecisa
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Museu de favela Museu de Favelas - MUF, situado nas favelas Pavão, Pavãozinho e Cantagalo. Trata-se do primeiro museu territorial e vivo sobre memórias e patrimônio cultural de favela do mundo, o acervo são cerca de 20 mil moradores e seus modos de vida, um dos poucos e únicos projetos de valorização da produção cultural das favelas e para as favelas.
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AVALIAÇÃO DOS SIMILARES E CORRELATOS
Utilizamos a ferramenta do gráfico radar para avaliar nossos similares e correlatos, de acordo com as categorias listadas acima. Assim, definimos manchas que muito contribuiram para entendermos e percebermos quais deles eram mais interessantes e funcionais.
gráfico radar
eficiência
adaptabilidade
praticidade
candy chang
beleza funcional
facilidade de uso
rua dos inventos exposição rua dos inventos livro mapa gentil
memórias do futuro
valor simbólico
interface com o usuário museu de favelas
custo temporal
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FLUXOGRAMAS DE USO
Para mapear todas as etapas de utilização do usuário em relação aos nossos similares, fizemos fluzogramas de uso de cada um deles. Este exercício foi importante para aprendermos como funciona a gestão dos processos em cada projeto e podermos retirar referências para compor e complementar futuramente no nosso projeto.
>>LIVRO
>>EXPOSIÇÕES
chegada
>> visão geral do ambiente de exposição
>>
1˚momento escolha escolher qual “invento” quer olhar primeiro
leitura sem seguir a ordem estabelecida
>>
ler a informação textual
tomar as duas informações ao mesmo tempo
apenas olhar o objeto
>>
fecha o livro
deixar a exposição
2˚momento escolha escolher novo objeto
>> >>
>> leitura na ordem estabelecida pela autora
>>
abre o livro
>>
>>
fluxograma de uso rua dos inventos
49
>>
fluxograma de uso mapa gentil usuário anda pela rua a pé
usuário anda pela rua de carro/ônibus
usuário anda pela rua de bicicleta
>> se depara com a intervenção
indiferente
>>
>> continua o seu trajeto
>>
quando passa novamente pelo local
>>
>> >>
busca pela intervenção
>>
fluxograma de uso memórias do futuro criança/jovem participa da ação proposta pelo projeto
>>
>>
vai brincar
participa do registro da ação
entra em contato com todo o acervo de ações
>>
sai do site
>> >>
>>
>>
>>
>> entra no site do projeto
sai do site
pessoa
50
>>
fluxograma de uso museu de favela usuário conhecedor do acervo
usuário caminha pela comunidade
>>
>> se depara com uma casa-tela
>>
>>
>> continua seu trajeto
busca a primeira obra
busca por outras obras
>> >> >>
continua seu trajeto
usuário caminha pela cidade
>> encontra intervenção
>>
>>
reflete sobre respostas de outros
preenche parede com sua resposta
>> procura saber mais sobre o projeto através do site
a compartilha com o mundo atraés do site do projeto
>> >>
decide desenvolver a sua própria intervenção
>>
realiza e cataloga a sua versão
>> >>
descobre outras intervenções em outros lugares
>>
>>
fluxograma de uso before I die
51
>>
fluxograma de uso before I die
morador permite/pede que sua casa seja pintada
>>
Doitschnoff pinta a casa usando elementos do folclore local unidos a sua própria iconografía
>>
a pequena cidade lentamente vai sendo pintada por completo, ou quase
>> a medida que isso vai acontecendo, a cultura local já naturalizada vai ficando evidente através das paredes e ganhando potencia
>> >>
>>
A auto-estima da cidade e a intensidade do seu vínculo cultural se intensificam, assim como a relação do mundo exterior com aquela cultura
52
MAPA DE REFERÊNCIA DE ESTILO
Fizemos um mapa de referência de estilo, baseado nas referências que os nossos similares e correlatos nos passaram, com o objetivo de sintetizar visualmente as características que se encaixavam e que viriam a estimular a geração de alternativas.
53
4.3 DESENHOS PARA GERAÇÃO DE ALTERNATIVAS
54
55
56
57
58
59
60
61
62
63
64
65
66
67
68
4.4 REGISTRO DA CONSTRUÇÃO DOS SIMULADORES PARA EXPERIMENTAÇÃO
De maneira geral, levantamos pontos que seriam essenciais para o desenvolvimento das primeiras alternativas. A ideia de mapear locais e histórias da comunidade foi um ponto forte no início do projeto conjunto, pois nos pareceu um dado relevante, tanto na relação de vínculo das pessoas com os lugares da comunidade, quanto no que tange à cultura do local. Sentimos a necessidade de coletar novas entrevistas com maior foco nesses aspectos, e fomos atrás de segmentos diferentes de moradores. Passamos por moradores antigos da comunidade, que pudessem nos contar histórias e mitos, por moradores conhecidos por seu papel no desenvolvimento e na história política, social e cultural da favela, ainda atuantes, e por jovens, para que entendêssemos o quanto desse legado permanece, como é a trajetória desses valores culturais, e como se manifestam os membros da nova geração do Santa Marta em relação a essas questões.
69
Durante essas entrevistas, apresentamos perguntas e dinâmicas comuns, dentre elas a identificação de pontos coletivos importantes ou históricos em um mapa da região. Todos os entrevistados a quem propusemos isso tiveram grande dificuldade em dissociar lugares específicos do conjunto inteiro da comunidade. Foi comum a todos o sentimento de que os pontos que eles podiam marcar estavam ligados entre si, e que as histórias não são de um lugar ou de outro, mas de todos os lugares do morro. Ao mesmo tempo, esbarramos em uma grande dificuldade ao tentar coletar essas histórias. Conseguimos pouco mais do que um mito, especificamente o mito da mina, e um conto folclórico, o da mulher do latão.
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No entanto, percebemos que outras questões provocavam respostas muito mais enfáticas, que passaram a nos interessar mais. Tudo o que dizia respeito à ideia de pertencimento, união e comunidade, no sentido próprio da palavra, e, sobretudo, sobre a remoção do Pico - problema latente pelo qual o Santa Marta passa atualmente nos trazia respostas mais focadas, fortes e enraizadas na cultura do lugar.
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Decidimos, portanto, nos guiar por esse caminho. Todas as nossas experimentações foram guiadas pela ideia de fortalecer a relação das pessoas com o seu espaço, consequentemente fortalecendo seu sentimento de pertencimento, de posse, de responsabilidade e de comunidade. Isso tudo, por fim, se soma na ideia de identidade comunitária, que em retrospecto alimenta todos os sentimentos anteriores. O primeiro momento de experimentação contou com experimentos baseados em direcionamento de olhar, em que procurávamos fazer com que os moradores tivessem novas percepções do espaço onde eles estão inseridos, ou que valorizassem percepções que já tivessem. Para isso, foi preciso pensar em exemplos de projetos que já trabalham
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com esse foco e lembramos do "Instamission", um projeto colaborativo de fotografia, que usa como aplicativo o Instagram - rede social para compartilhamento de fotos. A ideia é que a partir do lançamento semanal de missões, os participantes marquem suas fotos com temas específicos e divulguem seus olhares sobre os mesmos, criando um grande banco de imagens virtual. Assim, possibilita que histórias sejam contadas e ouvidas. Acreditamos que o lançamento de temas específicos seja uma forma eficaz de fazer com que as pessoas passem a notar e refletir sobre questões antes despercebidas, pois quanto mais restrita a proposta, mais intuitivo se torna o retorno.
Aplicando a nossa realidade, começamos a tentar conceber uma espécie de rede social física, que despertasse nas pessoas a comunicação através das experiências com o espaço. Pensamos em alguns formatos que podíamos experimentar, levando em consideração que tipos de atividades deveríamos vincular a eles para gerar diferentes estímulos. Buscamos as mais variadas opções e dentre elas decidimos investigar cartazes, adesivos, stencil e objetos:
Os suportes que julgamos mais dialogar com os estímulos que estávamos buscando foram stencil, cartazes, adesivos e tags.
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1. Cartaz "Coisa mais curiosa" Experimentava a ideia de ter um objetivo claro e definido desde o primeiro contato visual. O próprio objeto propõe que você marque “a coisa mais curiosa do seu caminho”, e lhe dá adesivos destacáveis com essa indicação para que a marcação seja feita. Apesar de termos tido um resultado interessante, percebemos que ele foi muito pouco utilizado, e no final da experiência o encontramos destruído.
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2. Adesivos 2.1 "Eu que fiz" Pensando na missão "Marque algum elemento que você fez na comunidade", preparamos alguns adesivos soltos com a mensagem "Eu que fiz". Este experimento não foi utilizado, porque apesar de estar relacionado a uma missão específica, o tema ainda era bastante amplo para as pessoas se sentirem estimuladas a participar.
eu que fiz
eu que fiz
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2.2 "___ marcou isso" Outro adesivo foi o “marcou isso”. Nesse experimento, procuramos criar um objeto que insinuasse um mesmo jogo mas que as regras fossem definidas caso-a-caso. A ideia é similar ao da coisa mais curiosa, mas o adesivo conta simplesmente com um espaço para que o usuário preencha seu nome seguido de um “marcou isso” (ex. José marcou isso:). Assim, os usuários podem se lançar diferentes “missões” relacionadas à marcação do seu entorno, como, por exemplo, “marque
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a coisa mais bonita do Pico” ou “marque a porta mais interessante do Santa Marta”. Experimentamos isso com crianças, na expectativa de que elas se entusiasmariam mais com um contexto de jogo, mas tivemos muita dificuldade de articulá-las para que de fato o jogo se concretizasse. Houve muito interesse nos adesivos, mas não propriamente em usá-los da forma como havia sido proposta. A partir disso, também pensamos que o adesivo trazia problemas por ter resíduos de uso, por ser mais invasivo visualmente e por estar sendo colado em locais em que não necessariamente haveria autorização.
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3. Objeto - Urna Haviamos levado também uma urna para experimentar uma situação semelhante a do “marcou isso”, de missões e marcações, mas uma vez tendo fracassado em articular o jogo em sua forma mais simples, não chegamos a experimentá-la.
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4. Stencil 4.1 Não saio daqui porque ______ O experimento mais bem sucedido desse dia foi o mais distinto entre eles todos. Fizemos um stencil sobre um cartaz em que pusemos repetidas vezes a frase “Não saio daqui porque _____”, convidando os passantes a completar a linha. A reação a essa proposta foi muito interessante e forte. Muitas pessoas, além de preencher, se engajaram em fazer com que outras pessoas preenchessem também. De alguma forma, elas tomaram a causa. Isso levantou nelas um sentimento de responsabilidade sobre aquele lugar e em estar naquele lugar. E, acima de tudo, fez com que as razões de cada um ficassem visíveis para todos, inclusive para si mesmos. Ouvimos uma frase que nos fez acreditar no potencial desse modelo: “A gente tem que preencher tudo, porque se não vão achar que a gente quer sair!”
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4.2 Variações A partir disso, passamos a pensar em alternativas para esse experimento. Pensamos em layouts diferentes, criamos uma opção diretamente ligada à ideia de lista (30 motivos pelos quais eu não saio daqui), e experimentamos usar uma frase similar mas com um tom diferente (“Aqui é bom porque”). Apesar de essa experiência também ter funcionado e todos os espaços terem sido preenchidos, o tempo decorrido até que isso acontecesse foi muito maior. Além disso, as respostas, apesar de sinceras, eram menos enfáticas. Ao que nos pareceu, a pergunta anterior traduzia uma relação muito mais visceral das pessoas com aquele lugar e aquela comunidade, e ainda trazia um tom ambíguo entre a resistência, do “ninguém me tira daqui”, e o habitual, “não saio daqui” como “estou aqui o tempo todo”.
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Estas versões tinham espaço para assinatura, uma característica que decidimos testar.
Poucas pessoas se sentiram confortáveis em preencher estes campos.
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4.5 PARTIDO ADOTADO A PARTIR DAS EXPERIMENTAÇÕES A partir das informações adquiridas através das experimentações, definimos quais seriam os principais atributos do nosso produto. Decidimos que deveríamos usar um local de grande visibilidade para “hospedar” nosso projeto, que consistiria no questionamento “Não saio daqui porque...” , colocado diversas vezes sobre esse local de forma permanente, seguidos de uma linha, convidando os passantes a preencherem a frase como quisessem. Percebemos que nosso projeto tinha que ser construído colaborativamente para que atingisse o objetivo que esperávamos dele, de reforçar o vínculo entre as pessoas e aquele espaço. Durante o momento em que começamos a buscar e fazer a parede, notamos o quanto era importante para o projeto que engajássemos também pessoas e autoridades locais. Ao decidirmos pela parede da primeira estação do plano inclinado, por sua localização privilegiada, tivemos que correr atrás de obter a autorização para que a usássemos, e nisso fizemos com que o presidente da associação de moradores, José Mário, a assistente de supervisão do plano inclinado, Karen, e o supervisor,
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Beré, se sentissem responsáveis por aquele projeto também. O mesmo aconteceu com Xaolin, o pedreiro que contratamos na própria comunidade para emboçar e emassar a parede para que ela pudesse ser pintada e escrita. Depois de conhecer o projeto, ele nos ajudou em todos os dias seguintes que voltamos à comunidade com o que nós precisássemos, apesar de seu serviço conosco ter terminado ainda no mesmo dia em que o contratamos. Além de se sentir orgulhoso do seu trabalho, e de alguma forma dono da parede, ele mobilizou pessoas para que elas também fizessem parte daquilo. Jorge, nesse momento, foi um parceiro crucial, pois definimos que as decisões estéticas que tomássemos ali também deveriam refletir aquele espaço, se queríamos que as pessoas se relacionassem com ele a partir do contato com aquela parede. Pedimos então a ele que fizesse o letreiramento da frase para que depois transformássemos em stencil e pudéssemos aplicá-la diversas vezes. Além de fazer o que haviamos pedido, Jorge também compôs a frase em uma variação tipográfica, para que usássemos de título. O caráter identitário do trabalho dele se mostrou muito importante para
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nós, e acreditamos que o fato dele ter sido escolhido para ilustrar aquele questionamento também evidenciou sua importância na comunidade para os moradores. No decorrer do processo, entendemos que as reflexões que procuramos levantar no nosso projeto não são restritas somente ao contexto do Santa Marta ou mesmo das favelas cariocas, mas são pertinentes ao próprio modelo de cidade atual, especialmente com as mudanças geopolíticas em curso no Rio de Janeiro. Por isso, decidimos que era parte fundamental para que fossemos bem sucedidos na nossa proposta que criássemos um sistema que permitisse que o projeto fosse desenvolvido de forma auto-gerida em outros lugares em que esse questionamento fizesse sentido, seja por uma situação semelhante ou por contraste, e ainda assim pudesse se manter coeso. Assim, passamos a criar os instrumentos necessários para tornar viável que fôssemos “código aberto”.
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ANÁLISE SWOT
SW O T
convidativo
depende da participação
intuitivo
de terceiros para seu
localização estratégica
funcionamento
fortalecimento de vínculos
pessoas não se interessarem em participar
exposição de opiniões geração de debates
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Com o fato de o projeto ser intuitivo, convidativo e ser de fácil acesso - tanto fisicamente (será sempre realizado em locais de grande visibilidade e simples acesso), como virtualmente, geraremos no público vontade de participar das ações e manter o projeto em constante crescimento. Identificamos como oportunidades a falta de um espaço no qual o indivíduo ossa expressar suas opiniões a respeito de seu vínculo com os lugares em que mora/frequenta, fortalecendo tais relações entre pessoa-espaço e gerando reflexões e debates - o indivíduo não só tem a oportunidade de expor a sua opinião, como também de tomar conhecimento das dos demais. A maior ameaça para o projeto é a falta de interesse das pessoas em participarem - visto que depende da participação de terceiros para seu funcionamento, mas isso dificilmente ocorrerá, devido ao fácil acesso que as pessoas terão ao projeto, e ao fato de este ser bastante intuitivo e convidativo à participação.
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4.6 DESCRIÇÃO DE TECNOLOGIAS E MATERIAIS/ ERGONOMIA Começamos a materializar o nosso projeto tendo sempre em mente o interesse de mantê-lo aberto, auto-gerível e replicável. Por isso, todas as nossas decisões a partir deste momento foram orientadas por esses princípios. Tínhamos à nossa disposição uma série de materiais que nos serviriam para aplicar as frases na parede, como stencils, lambe-lambes e carimbos. Quanto à própria parede, prezamos pela facilidade e a redução de custos: escolhemos desenvolver stencils com as frases, para que elas pudessem ser aplicadas repetidamente com facilidade e replicadas de forma fiel em diversas situações. Decidimos pelo stencil em detrimento às outras possibilidades por sua versatilidade e por nos parecer degradar menos o substrato onde ele seria pintado. Para a produção do stencil utilizamos acetato, por sua resistência, transparência e durabilidade. Para a impressão, escolhemos a tinta spray por sua praticidade de uso na aplicação do stencil. Para possibilitar a expansão do projeto, começamos a estudar possíveis sistemas e plataformas para horizontalizar e gerir essas ações e os conteúdos provenientes delas. Decidimos que, para que tudo pudesse funcionar, precisaríamos elaborar um manual com dicas e orientações sobre todo o processo de produzir uma parede, possibilitando que qualquer um que se interesse pelo projeto possa tomá-lo para si e
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levá-lo adiante em diferentes lugares. O manual foi pensado para, de maneira sintética, passar tanto os conhecimentos práticos básicos quanto aspectos mais conceituais de como lidar com a produção e o registro da parede. Fizemos algumas experiências na construção do manual, variando layout e linguagem gráfica, principalmente, para que conseguissemos passar uma boa compreensão das informações sem que tivéssemos um texto cru e pesado. O formato principal escolhido para o manual foi o de um PDF digital, mas como imaginamos que seria conveniente para o usuário imprimí-lo, nos limitamos a fazê-lo nas dimensões de uma folha A4. Com essa proposta em mente, sentimos a necessidade de ter um espaço virtual para nos tornarmos acessíveis ao mundo, ao ponto de que pessoas que nunca viram nossa primeira parede no Santa Marta pudessem conhecer o projeto e se engajar nele. Além disso, precisaríamos de um lugar para reunir o acervo dos registros feitos sobre o universo das paredes, e para reunir todo o conteúdo referente ao projeto. Nossa ideia inicial era a de criar livretos contendo os registros de diferentes lugares de forma cruzada, e para isso teríamos uma página no facebook em que coletariamos o conteúdo, enviado por diferentes usuários. Logo descartamos os livretos como parte central do projeto, por entendermos
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que eles demandariam um esforço e um custo de produção maior do que poderíamos inicialmente arcar e não seria tão fundamental para o funcionamento do sistema que estávamos bolando. Mantivemos o Facebook como a plataforma escolhida para o nosso projeto, além do instagram, através de hashtags específicas, uma vez que esperávamos uma maior quantidade de registros fotográficos do que de qualquer outro tipo. Construímos a página do Facebook com informações sobre o projeto e indicamos às pessoas que nos enviassem seus registros por lá, de forma aberta, para que testássemos o funcionamento dessa plataforma. Ficou claro, no entanto, que o sistema de timeline da página, em que as informações são dispostas linearmente de acordo com o momento em que foram postadas, vão sendo rapidamente perdidas por outras postagens, e o conteúdo gerado pelos administradores da página, nós, tem muito mais importância no layout dá página do que o gerado por colaboradores que enviem seus registros. Isso é oposto a nossa proposta de construir colaborativamente através da plataforma digital o acervo do projeto. Por isso, passamos a pesquisar outros suportes para realizar o que queríamos no ambiente digital. Escolhemos desenvolver um site no Tumblr, por termos uma variedade de recursos e temas disponíveis que se encaixam
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nas nossas demandas. Criamos o nosso site de forma que temos diferentes páginas para diferentes fins, que sustentam tudo o que havíamos proposto que nossa página fizesse. Temos uma seção de "sobre", que explica o projeto, o acervo em si, que é a página inicial, que por sua vez é alimentada pela página "compartilhe suas experiências", onde qualquer pessoa pode fazer uma postagem de foto, texto, vídeo, etc, e categorizá-la, permitindo fácil e rapido acesso a registros específicos através de um sistema de tags. Dessa forma, uma pessoa interessada em registros do Santa Marta pode pesquisar "santa marta" ou "morosantamarta" na busca interna, ou clicar na categoria "morosantamarta" no próprio cabeçalho do site e prontamente terá disponível todas e somente aquelas postagens que foram feitas sob essas tags. Além dessas páginas, há também "faça sua pergunta", que permite que usuários do site no mandem perguntas ou sugestões em mensagens privadas, e "faça sua parede", aonde disponibilizamos para vizualização e download o manual anteriormente citado e um pacote com os documentos necessários para produzir a sua própria parede. Todo o site é equipado com um sistema de comentários integrado ao Facebook. Esse sistema permite que além de ser feita uma postagem de comentário no site, ela seja feita simultaneamente no Facebook, aumentando seu potencial de spread, e que seja
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possível interagir com esse comentário o curtindo ou o respondendo diretamente, criando uma estrutura aberta similar a um fórum. Isso possibilita que se criem novas discussões e reflexões a partir dos registros.
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ESTUDOS DE IDENTIDADE VISUAL E NOME
A primeira decisão que tivemos que tomar em relação ao nome do projeto foi se fazia ou não sentido que nosso nome fosse a própria frase “Não Saio Daqui Porque...”. Logo decidimos que não, pois seria mais interessante termos um nome que representasse, além da ação final da iniciativa, todo o processo e o projeto em si. Para definir nosso título, fizemos algumas sessões de brainstorming, nas quais percebemos alguns pontos que achamos relevantes para o que desejamos passar. Entre eles, posse, pertencimento, comunidade, moradia, estar, olhar, ver, dizer, opinar, reforçar, direcionar, vínculo, espaço, pessoas, … Queriamos algo que fosse sintético e rápido, mas que carregasse muito do que tentavamos dizer. Em algum momento,
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a ideia de “movimento moro” surgiu. Descartamos o “movimento” por não acharmos que se encaixava na nossa proposta projetual, mas achamos que “moro” traduzia com força e simplicidade vários aspectos que tinhamos levantado. Por ser tão reduzido e sintético, pensamos em transforma-lo em uma sigla que correspondesse complementarmente a nossa proposta. Passamos então a ter “m.o.r.o.” como o registro principal do nome, e a procurar por alternativas interessantes de frases que se encaixassem nessas letras. Experimentamos diferentes frases e por fim concluímos que "Minha Opinião Redireciona Olhares" nos trazia precisamente o que queriamos passar com o projeto, em adição à sigla m.o.r.o.
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sobreposição movimento reorientação tracejado Uma vez escolhido o nome, passamos a estudar a nossa identidade visual. Listamos elementos visuais e gráficos que se encadeam com o projeto, como sobreposição, movimento, reorientação, tracejado - tanto pela ideia de movimento quanto pela convenção do tracejado como indicador de "destacável" ou "removível", circularidade, suavidade. A partir destes elementos começamos a esboçar possibilidades de símbolos e marcas, eventualmente chegando com o conceito de dois círculos tracejados sobrepostos com uma seta indicando mudança de movimento. Com essa marca procuramos representar o redirecionamento de olhares que propomos em nosso nome, assim como questões laterais, como a fluidez, a "delimitação"e o "pertencimento", além da circularidade do sistema que desenvolvemos. Quanto à parte tipográfica, queríamos uma letra arredondada para acompanhar o movimento da logo, e após uma pré-seleção, escolhemos a Gotham Rounded. No entanto, sentimos falta de serifas, pois previmos que ela seria aplicada em stencil em tamanhos pequenos. Por isso, redesenhamos a fonte com a adição de serifas.
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Adicionamos à marca uma linha horizontal, fazendo referência ao próprio trabalho, e tornando a marca também colaborativa, para que ela possa ser completada caso-a-caso com o nome do lugar onde for aplicada. Inicialmente, pensamos em aplicações coloridas e monocromáticas para a marca, mas entendemos que ela funcionava melhor em preto para todas as situações, e a paleta de cores que tinhamos estabelecido funcionaria para a identidade visual dos conteúdos gráficos adicionais.
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NOSSO PRIMEIRO MURO
EMBOÇAR
Xaolin é um dos personagens mais conhecidos do Santa Marta
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PINTAR
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ASSINAR
NinguĂŠm mais adequado do que Jorge para assinar nosso primeiro muro
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PREENCHER
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Nossa primeira experiência com o muro no Santa Marta foi muito surpreendente e gratificante. Ao longo de um dia inteiro, enquanto aplicávamos os stencils, os moradores e visitantes da comunidade interagiam muito curiosos com o que estávamos propondo, paravam para ajudar, manifestavam suas opiniões. Não importava se a fila era grande ou pequena, se as pessoas eram conhecidas ou desconhecidas: presenciamos e ouvimos as mais divertidas e variadas respostas para a questão que imprimimos na parede. Antes mesmo de concluirmos a pintura, as pessoas já perguntavam se podiam começar a preencher. Outras paravam para tirar fotos. Aproveitamos para divulgar que
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elas compartilhassem aquele conteúdo no Facebook e no Instagram, fomos então acompanhando um banco de imagens ser criado daquele dia. Quando o muro ficou pronto, Jorge Crispim foi o primeiro a preencher. O fato chamou atenção dos demais moradores que estavam passando e, em pouco tempo, a primeira coluna já estava praticamente completa. No dia seguinte, voltamos à comunidade e todos os espaços já comportavam respostas. Ficamos um tempo observando como as pessoas recebiam aquelas informações e, aqueles que não tomavam a iniciativa de também colocar seus motivos expostos, paravam para ler e comentar sobre o que já
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estava escrito. Percebemos, ainda, que alguns preenchimentos tinham interferências de outros indivíduos, como por exemplo uma pessoa que corrigiu todos os erros de português presentes no muro. O interessante foi acompanhar que, a partir das respostas, surgiam novos diálogos na fila para o Plano Inclinado. Conversas, piadas, causos e memórias, material que a princípio tivemos dificuldade de coletar durante o semestre, surgiu facilmente após o estímulo que propusemos. Dessa forma, podemos perceber a não necessidade de sermos esse interlocutor que compartilha esse material, mas a própria comunidade se articula e compartilha entre si através do muro e dos efeitos que ele gera.
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RELATÓRIO DE IMPACTO SOCIOAMBIENTAL
Durante todo o processo de desenvolvimento, consideramos as questões socioambientais como guias das nossas escolhas. Acreditamos que nosso projeto direciona olhares, constrói capacidades, valoriza a diversidade e incentiva o respeito aos direitos humanos, contribuindo na criação de riqueza cultural e social para o contexto em que está sendo desenvolvido. Prezamos também pela transparência e comunicação, realizando conversas periódicas com pessoas da comunidade e guardando registros desses encontros. No período de produção da parede utilizamos mão de obra local (oferecendo valor justo) caso seja necessário algum serviço, e compramos a matéria prima no entorno quando há essa possibilidade, gerando riqueza para todos os elos da cadeia produtiva. Por usar poucos recursos materiais - apenas o stencil, a tinta e o giz - e não utilizarmos fontes de energia, não temos significativo percentual de matéria prima desperdiçada, avaliando como alcançado o critério de respeito ao meio ambiente.
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ESTRATÉGIA E GESTÃO
Esse projeto tem a pretensão de ser aberto e colaborativo. O conteúdo gerado por nós em relação ao projeto, tanto o manual e a própria parede quanto registros diversos, assim como por possíveis terceiros que venham a dar seguimento a ele, devem ser disponibilizados livremente nas plataformas online elegidas, sendo essas o Instagram, o Facebook e o site. Os custos de produção e gestão são reduzidos, sendo possível fazer uma parede por menos de R$100, para que os próprios mobilizadores possam fazer o investimento necessário, uma vez que não há expectativa de retorno financeiro. A principal ferramenta de comunicação é a página do Facebook, que será mantida por nós, como forma de divulgar e relatar informações pertinentes ao projeto, e o principal hub será o site, construido colaborativamente a partir de registros coletivos das diferentes manifestações decorrentes das paredes.
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PLANEJAMENTO
A parte de realização do projeto em si se deu somente a partir do último mês. Todo o processo, a partir de então, foi muito rápido e teve que ser cautelosamente planejado. Em termos de tempo previsto para o desenvolvimento da parede em si, cumprimos a nossa expectativa de fazê-la com alguma tranquilidade dentro do espaço de um final de semana. Em relação às outras etapas da conclusão do projeto, o cálculo de tempo foi mais esparso. Como algumas tarefas foram divididas e feitas em um prazo menor, é difícil saber quanto tempo propriamente foi usado. Ainda assim, analisando de maneira geral, o tempo foi bem utilizado, pois além de cumprirmos com as nossas propostas projetuais, pudemos dar conta também de novas demandas geradas no decorrer do processo. Apesar de termos, via de regra, nos mantido dentro do cronograma da disciplina, sentimos que o tempo disponível para a experimentação e desenvolvimento foi muito reduzido para dar espaço à fase de conceituação, que, apesar de não menos importante, se esticou por mais tempo do que esperávamos até que seus resultados pudessem ser colhidos. Acreditamos que, caso houvesse maior equilíbrio cronológico entre essas fases, poderíamos ter chegado ao resultado final com mais tempo para refinar possíveis questões decorrentes do desenvolvimento.
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SOLUÇÃO FINAL
Nosso projeto consiste em um sistema, que se inicia com o preparo de uma parede em que pessoas interagem expressando suas opiniões. Nela, aplicamos um stencil que convida os moradores a completá-lo e informamos sobre a possibilidade de se compartilhar eventuais registros da ação, como uma foto da própria frase, de alguma outra frase curiosa ou do muro em si; um vídeo e um texto ou relato de alguma conversa, declaração ou citação ouvida durante o processo. Esse registro feito, seja ele qual for, pode ser facilmente inserido no nosso tumblr, a plataforma online que desenvolvemos e escolhemos por conta da facilidade de navegação, de catalogação dos arquivos postados a partir de tags, da simplicidade de se fazer um upload e da possibilidade de interligar de forma completa ao facebook e ao Instagram, plataformas também essenciais para a manutenção do projeto. O site tem também a função de explicar a origem e o motivo do nosso projeto, além de disponibilizar os arquivos dos stencils e um manual que ensina o passo-a-passo para fazer a própria parede. Todos esses fatores juntos constituem um grande sistema cíclico, que permite que o projeto seja replicável, auto-gerido e expansível.
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DETALHAMENTO TÉCNICO
Manual: formato digital PDF, 9 lâminas coloridas, dimensões 21cm x 29,7cm
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ACHE SUA PAREDE É importante se certificar de que você tem autorização para usar essa parede!
O primeiro passo é simples e essencial: encontre uma boa parede para realizar o projeto. Parede boa é aquela que tem uma grande visibilidade, mas às vezes essas paredes não estão prontas para serem usadas. Se você julgar que a parede não está adequada para a aplicação do stencil e para ser escrita, recomendamos que você busque alguém do próprio lugar em que o projeto está sendo realizado para fazer o tratamento necessário (pode ser emboçar, emassar ou pintar, etc) para que ele fique no ponto. Dessa forma, você já começa a engajar as pessoas do entorno, fazendo-as parte do processo. Inclusive, esta atitude é recomendada em todas as etapas.
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PREPARE O STENCIL VOCÊ VAI PRECISAR DE: fita
stencil
ce -fa
pla
du
tesoura
PRE PARESE
Convide amigos para participar. Quanto mais gente, mais divertido e eficaz. Tente começar cedo, para garantir que seja feito em um dia só. Desse jeito, não há risco da parede ficar abandonada antes de estar acabada. Tome cuidado para não sujar o chão, as paredes ao lado, e afins. Caso seja necessário, forre com jornal as superfícies mais próximas. Leve um lanchinho, bastante água e passe filtro solar, pelo bem da sua nuca.
VOCÊ VAI PRECISAR DE:
jornal
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Imprima os arquivos e faça as emendas necessárias para compor o título e as frases. Quão maior for a gramatura do seu papel, melhor, mais ele vai aguentar a pressão. Menos de 180g/m vai complicar a sua vida, tome cuidado! Se for possível, use um material plástico no lugar de um papel, como um acetato, para que seu stencil dure por um bom tempo. Corte as letras com muito cuidado, e atenção especial para as pontes que ligam o oco das letras com o papel. Se elas forem cortadas acidentalmente, as letras ficarão todas pretas.
água mineral
filtro solar
Ah! alongue-se, pois você precisará passar bastante tempo com o seu braço pra cima.
MEÇA E MARQUE VOCÊ VAI PRECISAR DE:
ica
tr fita mé
ré g
ua
Preste atenção na área disponível para pintar. Organize um layout de como será feita a divisão e posicionamento dos elementos, o número e a altura das colunas. Com uma régua e um lápis, marque onde começam e acabam suas áreas de impressão, para que você posicione os stencils corretamente, um de cada vez. is
láp
APLIQUE O STENCIL VOCÊ VAI PRECISAR DE:
fita dupla-face
stencil
tinta spray
Cole com fita dupla-face o stencil na parede, de acordo com as marcações. Verifique se ele está rente o bastante da superfície da parede. Quanto menor a distância, melhor o resultado. Teste o spray em uma folha sem uso, para evitar surpresas e entender a pressão e a precisão do seu jato. Vá em jatos curtos de uma ponta a outra, preenchendo todo o espaço vazado com tinta. Seja cuidadoso para não deixar o spray muito próximo nem muito longe da parede, evitando excesso ou desperdício de tinta. Dê um tempinho para a tinta secar, e retire cuidadosamente a máscara do stencil, revelando o seu belo trabalho. Voilá!
como usar sua tinta faça: TSS>TSS>TSS> não faça: >TSSSSSSS>
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FINA LIZE
não nos deixe sem notícias! facebook.com/naosaiodaquiporque use o hashtag do Instagram #naosaiodaquiporque ou faça o seu próprio hashtag no modelo #moro(insira aqui o lugar em questão), como #morosantamarta. Qualquer dúvida, o email naosaiodaquiporque@gmail.com pode ser útil pra você!
VOCÊ VAI PRECISAR DE:
ha
xin
cai
i
láp
câmera
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e sd
ra ce
Deixe disponível em um suporte, como uma caixinha ou uma saboneteira, lápis de cera para que as pessoas completem a parede. Sugerimos que você preencha a marca “m.o.r.o.” com o nome do local onde isso está sendo feito. Se você puder, procure alguém que possa fazer isso de forma que represente a identidade dessa região. Agora é só continuar visitando sua parede e registrando o desenrolar dela!
Pacote Stencils: 2 arquivos digitais PDF em um arquivo comprimido .zip PDF 1 "download stencil.pdf"5 l창minas, dimens천es 21cmx29,7
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PDF 2 "download stencil 2.pdf"5 l창minas, dimens천es 21cmx29,7
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Site: plataforma tumblr com postagem aberta, rodando uma versĂŁo modificada por nĂłs do tema Tessellate, com plugin de comentĂĄrios do facebook.
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CONCLUSÃO
Identificando como objetivo do grupo a frase "estimular o vínculo das pessoas com o espaço", entendemos que o estímulo parte do significado e da força da mensagem expressa na frase "não saio daqui porque", que convida o usuário a participar, colaborar e compartilhar a vivência. O vínculo dos moradores com o morro se reflete no vinculo criado com o objeto, se expressa na interação com o objeto. As pessoas são os agentes, a proposta não funciona e não existe sem elas, o objeto valoriza as pessoas e suas relações pessoais e com o espaço. O espaço é cenário, é objeto e é agente. Com base na experimentação final, concluimos que o sistema resultante do processo atende aos objetivos propostos, encontrando em sua materialidade uma forma de sublinhar a relação das pessoas do Santa Marta, valorizando e dando visibilidade a sua história e proporcionando uma identidade coletiva, mas que parte do individual. Descobrimos que esta é uma maneira de se pensar o espaço como um meio de incluir as pessoas. Ao experimentar a parte virtual do sistema, que compreende as redes sociais e o site, entendemos que o projeto não se limita apenas à realidade estudada, mas pode ser aplicado em outros contextos, visto que, ao ser exposto, rapidamente gerou o interesse de ser replicado no movimento de resistência à demolição da
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Escola Friedenreich. Tomamos este acontecimento como uma ótima oportunidade de continuar estudando os possíveis desdobramentos e aperfeiçoamento do sistema.
Fernanda A experiência de viver esse projeto é, com certeza, mais um marco na minha trajetória como designer. Vejo que o meu interesse por me inserir em uma realidade, buscando interagir com o que existe é cada vez maior. Fico feliz de ter encontrado pessoas para trabalhar que têm a mesma concepção, que vibraram a cada dia de experimentação. Agradeço ao Pedro por ter dito que não sai do Santa Marta porque lá dá vontade de trabalhar. Pude perceber que compartilho do mesmo sentimento, encontrei um ambiente que me traz uma energia que só pode ser muito positiva, quando penso o quanto cresci em um ano de convivência com as pessoas de lá. A possibilidade de expandir o projeto para outras realidades é algo que me encanta, e ver que estamos alinhados nesse objetivo me motiva a querer aprender com os desdobramentos que buscamos alcançar.
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Francisca Conclusão boa é aquela que não conclui - inicia. Encerramos o período mas para mim o projeto acabou de começar. Observar nosso primeiro muro, as reações que ele provoca, as conversas na fila do plano inclinado e, principalmente, todo o potencial que tudo isso ainda tem, ilustrou um aspecto do design que eu queia explorar. Perceber que Fernanda, Pedro, Gabriel e Tati compartilham dessa vontade de levar o que construímos até onde for possível reforça a idéia de que fazer design pode ter um papel maior do que imaginávamos.
Gabriel Esse projeto foi sem dúvida o mais corrido que já fiz. Ainda assim, o mais completo. A união do meu grupo, eu, Pedro e Tati, com a Fernanda e a Chica foi a melhor coisa que podia ter acontecido para ambos os projetos e foi graças a isso que, com muito trabalho e dedicação, conseguimos chegar aonde chegamos, com uma ideia forte que, ao que tudo indica, será levada a diante com um sentimento pleno e inevitável de orgulho e satisfação.
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Pedro Uma das maiores satisfações de todos os projetos é a experimentação da solução adotada. Sempre, ao ver o fruto de um período letivo de trabalho (e muitas horas mal dormidas de sono) funcionando em contexto pela primeira vez, o sentimento é de plenitude, e a sensação é, essencialmente, de dever cumprido. Esse projeto teve particularidades. Em primeiro lugar, vê-lo existindo no mundo foi uma experiência completamente diferente das anteriores, pois ele não existe sob minha tutela. Ele tem vida própria, e é muito bonito, para mim, ver ele sendo apropriado pelas pessoas para quem ele foi pensado. Além disso, não sinto como se meu dever estivesse cumprido. Pelo contrário. Sinto que agora encerro, com muita plenitude, uma etapa de projeto que dá início a outra, muito maior. Nada mais apropriado para um projeto que se define pela soma: nos somamos uns aos outros, formando esse grupo imenso e melhor do que qualquer um poderia esperar, com o objetivo de somar vozes, e acreditando no potencial de somar cada vez mais pessoas a esse projeto, que acredito ajudar a construir uma cidade de onde não queremos sair.
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Tatiana Meu olhar se direciona para um dos projetos do qual tenho mais orgulho de ter participado. De ver ele surgindo, crescendo. Dá vontade de se envolver mais e mais. Tivemos pouquíssimo tempo para desenvolvê-lo, mas tempo muito bem aproveitado. Foi um mês de noites mal dormidas, compromissos desmarcados, e um projeto na cabeça: projeto que não sai daqui porque não sai. Porque estou trabalhando com um grupo incrível em um espaço incrível - do morro Santa Marta para o mundo.
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FONTES CONSULTADAS
http://www.memoriasdofuturo.com.br/oprojeto, visitado em 7/10/2012 http://www2.guiajacarei.com.br/noticias/projeto-para-valorizar-cultura-regional-da-cidade/, visitado em 7/10/2012 http://mapagentil.com.br, visitado em 8/10/2012 http://www.iconografias.ufma.br, visitado em 9/10/2012 http://portal.iphan.gov.br/, visitado em 10/10/2012 http://www.ruadosinventos.com.br, visitado em 13/10/2012 http://www.museudefavela.org, visitado em 14/10/2012 http://candychang.com/category/projects/, visitado em 12/11/2012 http://www.poaprecisa.tumblr.com, visitado em 5/12/2012
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