TĂŠcnicas tradicionais da gravura
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TĂŠcnicas tradicionais da gravura
Copyright - 2014 - Fernanda Castro Todos os direitos reservados 1ª edição Projeto gráfico e edição por Fernanda Castro Imagem da capa: Rembrandt, “Paisagem com três casas de campo ao lado de uma estrada”, água-forte e ponta-seca, 1650. Impresso e encadernado no Rio de Janeiro, Brasil Publicado por Editora PUC-Rio Rua Marquês de São Vicente,nº 225 - Praça Alceu Amoroso Lima, casa V (Casa Agência/Editora) - Gávea, Rio de Janeiro, RJ / CEP: 22.453-900 Projeto realizado para a PUC-Rio como trabalho de conclusão do curso de design, com habilitação em comunicação visual, orientado pelos professores Evelyn Grumach, João de Souza Leite e Washington Lessa
Sumário 7. Introdução 9. O que é uma gravura? 10. Xilogravura 12. Técnica 14. História 34. Gravura em metal 36. Técnica 38. História 66. Litografia 68. Técnica 70. História 92. Bibliografia 94. Agradecimentos
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Introdução Este livro visa dar uma introdução inicial à história da gravura, uma primeira visão e panorama geral, com pequenos textos e foco nas imagens. Assim, a proposta é que o leitor tenha um primeiro olhar nesse caminho e um primeiro passo no conhecimento do tema, entendendo melhor as diferentes técnicas e conhecendo de maneira geral sua história. Com isso é possível também entender a importância das técnicas de gravura ao longo da história e seu desenvolvimento. O livro é dividido por técnicas, com três capítulos, cada um conta a parte histórica de maneira cronológica e depois explica de forma geral a técnica em si. As técnicas tradicionais de gravura abordadas neste livro são três, a xilogravura, feita em matriz de madeira, a gravura em metal e a litografia, feita em pedra.
Ao lado: Gravura em metal do século XVII mostrando o processo de impressão feito à mão em uma prensa. Imagem da página 2: Jost Amman, “O gravador de xilogravuras” (detalhe), xilogravura, 1568.
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O que é uma gravura? Essencialmente uma gravura é uma imagem que foi produzida através de um processo que permita sua multiplicação. Portanto, exige um desenho e produção de uma matriz de impressão. Os materiais mais comuns para a produção de matrizes são a madeira, o metal e a pedra. Estes são intintados e impressos em uma superfície apropriada, normalmente o papel, comumente com uma prensa. As três técnicas clássicas de gravura são: xilogravura, gravura em metal e litogravura. A impressão feita a partir de uma matriz de madeira é a xilogravura, em que a partir de um desenho é retirado da madeira as partes que não se deseja imprimir, com uma goiva. A gravura em metal é a impressão feita a partir de uma matriz de metal, em que se grava o que deseja ser impresso, com um buril, mas existem diversas técnicas aplicáveis ao metal, assim como às outras técnicas. E a litografia é a feita sobre uma pedra, a partir do princípio de repulsão de água e gordura é feito o desenho.
Detalhes, ampliações (x10) das três técnicas. Primeira coluna (esquerda), detalhes da técnica da xilogravura; na fileira do centro detalhes da gravura em metal; e na ultima da litografia.
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Xilogravura
Gravação (acima) ; entitamento (esquerda); resultado da impressão; e detalhe da gravação (na página ao lado).
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A técnica da xilogravura A xilogravura é um processo de gravação em relevo que utiliza a madeira como matriz e possibilita a reprodução da imagem gravada sobre papel ou outro suporte adequado. Diversos tipos de madeira podem ser utilizados para criar uma xilogravura. O desenho é feito ao contrário para que a impressão saia da forma correta. Com ferramentas de aço, como a goiva, o gravador por ação direta na matriz remove as áreas que não deseja imprimir em um bloco de madeira, deixando em relevo a imagem a ser impressa. Com um rolo, a tinta é aplicada somente na imagem em relevo. A impressão pode ser feita a mão, pressionando o papel sobre a a matriz ou mecanicamente, com uma prensa.
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Impressão xilográfica chinesa, c. 950 dC. Um texto de oração sob uma ilustração Manjusri, a personificação budista da sabedoria.
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Antes do século XV, as imagens eram
“one-of-a-kind”, únicas, raras e geralmente encontradas trancadas em palácios, com acesso restrito, ou presas à paredes de igrejas. A xilogravura é a técnica mais antiga de impressão, foi inventada na China, por volta do século nono, e começa a surgir na Europa no século XIII.
Páginas do livro de medicina herbária cinesa “Pen ts'ao”, 1249 d.C. Impressão xilográfica.
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A disponibilidade de papel é o que
passa a tornar a impressão viável, apesar de muitas técnicas de impressão já serem conhecidas antes do século XV, como a xilogravura. As primeiras paper mills surgem na Alemanha e Italia por volta de 1390, na mesma época em que começam a surgir as primeiras xilogravuras. A demanda inicial era o desejo de jogar cartas e imprimir imagens baratas para devotos.
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Kamisuki Chohoki, ilustrações de alguns dos passos para a produção de papel, século XVIII. Cortando ramos; lavando cascas; fervendo cascas; diluindo as polpas; fazendo uma folha de papel; e aplicando uma folha à placa de secagem.
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Os primeiros impressos
surgem por volta de 1400, a tecnologia de imprimir tornou possível gerar, a partir de uma única matriz de madeira, centenas e até milhares de imagens idênticas. Começa então a produção de baralhos, a mais antiga manifestação européia da capacidade de democratização da impressão. Alguns destes desenhos de baralho da época são utilizados até hoje. A seguir vieram as imagens de santos, com desenhos de melhor qualidade influenciados pela pintura e pelos vitrais. As estampas religiosas, produzidas em grande quantidade, passaram a fazer parte da vida religiosa das pessoas.
“Santa Dorotéia” pertencente ao Acervo do Estado em Munique, 1420, xilogravura. É um exemplo das primeiras gravuras com estampas religiosas.
Valete de ouros, carta de baralho em xilogravura, c.1400.
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A xilogravura colorida
foi encontrada primeiramente em alguns livros impressos por Erhard Ratdolt entre 1482 e 1494. Na tradição européia não é tão comum imprimir blocos com mais de uma cor, como é na japonesa. Normalmente são utilizados diversos blocos para cada cor que se deseja colocar na imwpressão e também é possível criar uma terceira cor a partir da sobreposição de duas.
Erhard Ratdolt, diagrama mostrando o eclipse da lua, xilogravura impressa em três cores no livro “Sphaericum opusculum” de Johannes de Sacro Bosco, 1485
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Durante o Renascimento
, nasce uma abordagem inovadora no design de livros e uma grande evolução das técnicas de gravura. É considerada a “época de ouro” da gravura. Surgem artistas utilizando a técnica, como Albretch Dürer, que em 1498 já tem renome em toda a Europa, transformando assim a gravura de método de impressão e reprodução para uma forma de arte.
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Geoffroy Tory, capitular de uma série de capitulares criblé, xilogravura, c.1526.
Albrecht Durer, “Os quatro cavaleiros do apocalipse”, xilogravura, 1498.
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No século XVI, mais precisamente na segunda
metáde do século, as ilustrações em xilogravura receberam um baque quando as publicações começam a abandonar a técnica substituindo-a pela gravura em metal. As razões se dão pela maior quantidade de detalhes que a gravura em metal permite e pela capacidade de incluir letras gravadas junto com as imagens.
As seis imagens ao lado são ampliações de gravuras mostrando a diferença entre as técnicas. As três imagens da esquerda mostram traços obtidos a partir da xilogravura, que claramente permite menor quantidade de detalhes. Já as três imagens a esquerda mostram diferentes traços obtidos pela gravura em metal, que permite mais detalhes e alcance de tons e texturas.
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A xilogravura de topo
foi desenvolvida no final do século XVIII. É feita com um corte de madeira contrário aos veios da árvore e dá um resultado bem diferente da xilogravura comum, apesar de o processo ser basicamente o mesmo. Isso acontece porque a madeira obtida é mais dura e compacta, podendo ser trabalhada com os mesmos instrumentos usados na gravura em metal. Thomas Bewick (1753-1828) é considerado o criador da técnica e o primeiro a perceber seu potencial nas pequenas vinhetas com as quais ele ilustrava livros que havia escrito. Seu sucesso foi devido a sua persistência e genialidade como artista, mas só foi possível graças ao desenvolvimento de papéis na época, sem os quais não seria possível imprimir.
Thomas Bewick, um bloco de madeira original feito por ele em xilogravura de topo, o bloco é feito com a altura dos tipos móveis para que pudesse ser impresso junto ao texto em uma prensa. À direita a impressão do mesmo bloco.
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Dalziel Brothers, xilogravura de topo a partir da obra “As crônicas sendo lidas para o rei”, de Arthur Boyd Houghton, c.1861.
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Thomas Bewick, ilustração de uma coruja para o livro “História dos passáros britânicos”, de Bewick, 1847, xilogravura de topo.
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No início do século XIX
a técnica era empregada para ilustrações de alta qualidade para livros. Seu período de maior uso entretanto foi a partir de 1830 com a expansão do jornalismo e da publicação de livros. Para publicações com alta tiragem, a xilogravura de topo era o único processo de ilustração existente que poderia combinar preços baixos e grandes quantidades de detalhes. Durante o século XIX a produção de xilogravuras de topo cresceu rapidamente, porém por volta de 1880 toda a industria já estava morta graças a introdução de processos fotomecânicos.
Um típico trabalho comercial por um artista desconhecido, ilustração para jornal ou livro na virada do século, xilogravura de topo.
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Edward Munch, “Madonna”, 1895, xilogravura.
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No século XIX, na França, a técnica foi se-
riamente recuperada novamente, com trabalhos de artistas como Paul Gauguin e Edward Munch, após o colapso da tradição da xilogravura se estende pela Europa após 1600, com tentativas de reviver a técnica nos séculos XVII e XVIII.
Paul Gauguin, “O diabo fala”, 1893-94, xilogravura impressa em papel colorido japonês.
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Ernst Ludwig Kirchner, “Banhistas jogando varetas”, publicado em 1910 no portfolio Brücke, xilogravura.
Erich Heckel , “Cavalos brancos”, 1912, xilogravura.
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No século XX muitos artistas revivem a técnica
e exploram sua escala e detalhes para produzir impressões, apesar de já estar morta da como meio de reprodução. Foi formado um grupo chamado “Die Brücke” em Dresden, em 1905, com artistas como Ernest Ludwig Kirchner, Erich Heckel e Karl Schmidt-Rottluff, com trabalhos que inicialmente remetiam à arte primitiva, causando ofensa na época, mas hoje em dia considerados clássicos. A xilogravura continuou e encontrou execelentes trabalhos na Alemanha, mas também se expandiu e tem sido praticada em diversos lugares do mundo.
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Gravura em metal
Entitamento (duas imagens no topo) ; limpeza para impressão; impressão na prensa; detalhe da gravação com buril na chapa de metal (página ao lado)
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A técnica da gravura em metal Existem diversos processos de gravação em metal como a água-forte, água-tinta, fotogravura e maneira negra. O mais clássico e primeira técnica é o buril, em que o desenho é feito com o instrumento diretamente na chapa. O metal mais utilizado como matriz é o cobre, mas pode-se utilizar também o zinco ou latão. Todos os procedimentos de gravação em metal exigem uma chapa com superfície plana e polida a ser trabalhada, livre de ranhuras que podem interferir na imagem gravada. Depois da gravação sobre a chapa, a tinta para impressão é aplicada cobrindo toda a matriz, depois limpa-se o excesso com cuidado para que permaneça apenas nas areas gravadas. A matriz é levada a prensa e coberta com o papel umedecido. Uma manta é colocada entre o papel o cilindro da prensa, de modo que a pressão provoque a transferencia da tinta para o papel.
“O nascimento de Athena”, etrusco 4º século a.C. Parte traseira de um espelho de bronze gravado.
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Desde a antiguidade existe a arte de gra-
var em metal, foi utilizada pelos gregos, estruscos e romanos para decorar objetos de metal como espelhos de bronze e floresceu ao longo da Idade Média como método de ornamentar ouro e prata. Porém, a ideia de utilizar chapas de metal para imprimir imagens não ocorreu antes do século XV.
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Por volta de 1450, um artista não identificado,
conhecido como “mestre do baralho”, cria as primeiras gravuras em cobre.
Mestre do Baralho, “Vine Ornament with Two Birds”, c. 1445- 50, primeiras gravuras em cobre conhecidas.
Mestre do Baralho, “Os três pássaros”, c. 1450.
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Albrecht Dürer e diversos outros artistas como
Martin Schongauer começam a utilizar a técnica, dando início assim a um novo período de evolução da xilogravura. Esse desenvolvimento atinge seu ponto máximo com o trabalho de Dürer, que criou obras que impressionam até hoje.
Martin Schongauer, “Cristo carregando a cruz”, gravura em metal, c.1480-85.
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Martin Schongauer, “A morte da virgem”,gravura em metal, final da década de 1470.
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Albrecht Dürer, “Brasão com uma caveira”, 1503, gravura em metal.
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A técnica da água-forte é utilizada pela primeira vez em 1513. Nas primeiras décadas do século XVI, diversos artistas experimentam essa nova técnica. Muitas vezes as duas técnicas eram combinadas na mesma chapa e podem ser de difícil diferenciação.
As primeiras gravuras com a técnica da água-forte são basicamente experimentais, levaram anos para que a técnica desenvolvesse sua própria tradição na Europa e uma das razões para isso é que as primeiras chapas utilizadas para isso eram de aço ao invés de cobre.
Augustin Hirschvogel, “Paisagem com uma Igreja”, 1545, água-forte.
James Heath a partir da obra de Francis Wheatley, “O motim em plena rua”, 1790. De cima para baixo, os três detalhes mostram: o estágio preparatório da água-forte; o próximo estágio com algumas linhas gravadas com buril; e o último com mais buril, apesar de não completamente finalizado.
Ampliação de dez vezes de um detalhe que mostra a diferença entre uma linha de água-forte e uma de buril: o ombro do homem é feito com buril e o fundo é feito com água-forte.
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Rembrandt, “O bom samaritano”, água-forte, 1633.
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Rembrandt é considerado o maior gênio da técni-
ca, com domínio da água-forte assim como Dürer dominava o buril, e graças a ele a técnica teve seus maiores triunfos na Holanda. Por volta de 1630 ele fazia geralmente pequenas chapas e evolui até a década de 1640 para enormes paisagens e temas religiosos, com um domínio completo da técnica de criar tons e sombras em suas obras. Sua ultima impressão é datada de 1659, quando é utilizada também a técnica da ponta-seca que o permite criar ainda mais efeitos. Durante muito tempo outros artistas que utilizam a técnica se contentam em imitar Rembrandt.
Rembrandt, “As três árvores”, mistura de técnicas, 1643.
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No século XVII duas principais tradições po-
dem ser percebidas: a reprodução de pinturas de artistas famosos; e a segunda é a de retratos gravados. No século XVIII uma terceira, principalmente na França, gravuras altamente trabalhadas, feitas para emolduradar e prender à parede.
Pierre-Imbert Drevet, sob a obra de Hyacinthe Rigaud, “Cardinal Dubois”, 1724, gravura em metal.
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Raphael, “Venus e o cupido�, c. 1510, desenho com ponta de metal.
Marcantonio Raimondi, a partir da obra de Raphael, c.1512, gravura em metal.
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Giambattista Piranesi “Vista do Anfiteatro Flavio dito o Coliseu”, 1776, água-forte.
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Giambattista Piranesi foi o maior gênio do século XVIII. As gravuras utilizando a técnica da água-forte mais interessantes foram criadas na Itália, particularmente em Veneza.
Giambattista Piranesi “Vista do Arco de Costantino”, 1771, água-forte.
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A técnica da água-tinta
é uma das mais populares e importantes para criar tons em uma gravura. Foi criada na segunda metade do séc XVIII, não se sabe ao certo quem a criou, pois diversos artistas buscavam técnicas na época e a mantinham em segredo. Desde o século XVII os impressores buscam novas formas de introduzir tons de cinza às impressões, para mimetizar a aparência de desenhos, como a técnica da maneira-negra e água tinta A gravura em metal começa a substituir a xilogravura como principal técnica para impressão de imagens na Europa e continua a crescer a medida em que refinamentos técnicos aumentam significativamente como a amplitude de tons, texturas e detalhes.
Paul Sandby, “Dentro do castelo Chepstow”, água-tinta sobre um contorno gravado. Abaixo duas ampliações de detalhes, o primeiro mostra como o desenho foi formado com três camadas de água-tinta e o segundo (a direita) mostra o grão característico da técnica.
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Francisco Goya
(1746-1828), espanhol, é um dos maiores gravadores conhecidos, apesar da Espanha não ter tradição na criação de gravuras. Em suas obras atacava as crueldades e o que considerava estúpido na sociedade em que vivia.
Francisco Goya, “Que bico de ouro”, 1799, água-forte e água-tinta.
Francisco Goya, “Também não”, da série de 82 gravuras “Desastres da Guerra”, 1810-1814, água-forte e buril.
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No fim do século XVIII
foi criado um sistema de sobreposição de linhas com precisão impressionante, um grande desenvolvimento da técnica se deu na Europa, com gravações de alta qualidade de pinturas famosas. Preços altos eram pagos por estes trabalhos.Esse sistema sobrevive até o fim do século XIX.
Charles Bervic, sob a obra de JeanBaptiste Regnault, “A educação de Aquilles” (detalhe), 1798, buril e águatinta. Este é um exemplo da gravura de reprodução com o sistema de sobreposição de linhas, apenas o fundo é feito com água-tinta.
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No início do século XIX acontece uma
pausa na história da gravura em metal. Apesar de continuar sendo criada, sofreu grande competição com a nova técnica que foi inventada da litografia, que permitia uma maneira mais fácil e barata de fazer impressões.
Edouard Manet, “Jeanne”, 1882, águaforte e água-tinta.
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O “Etching Revival” acontece na segunda metade do século, marcada pela criação da “Société des Aquafortites” em 1862, devido ao interesse crescente tanto de artistas, como de críticos influentes, como Baudelaire, de reviver a técnica. As impresões mais interessantes são de Edouard Manet e Edgar Degas.
Edgar Degas, "Dançarina colocando sua sapatilha", c.1888, água-forte”
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Pablo Picasso, “A refeição frugal”, 1904, água-forte
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Pablo Picasso foi o melhor gravador do século
XX, em que a popularidade da técnica foi um fenômeno, com as melhores obras criadas na França. Suas melhores impressões são das décadas de 1920 e 1930 e mostram diferentes possibilidades e uso de técnicas, assim como domínio total das linhas.
Pablo Picasso, “Escultor e modelo diante de um touro atacando cavalos”, 1933, água-forte
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Na década de 1960
as impressões criadas na América e Inglaterra sofreram com a popularidade da litografia e serigrafia mas foi mantida ao olhar do público por artistas como David Hockney, e na década de 70 se tornou o meio favorito de artistas da escola do minimalismo.
David Hockney, “O garoto escondido em um peixe”, 1969, água-forte, água-tinta e ponta seca.
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David Hockney, “Lar”, 1969, água-forte e água-tinta.
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Litografia
As primeiras imagens (acima) mostram a preparação da pedra litográfica; a terceira imagem (abaixo na esquerda) e a próxima mostram o entitamento da pedra; e a última (abaixo na direita) o resultado final da impressão.
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A técnica da litografia A litografia é baseada no princípio que gordura e água se repelem. São feitas marcas, sob uma matriz adequada, com gordura, a matriz é mergulhada em água, que permanece apenas nas áreas não marcadas, uma vez que é repelida pela gordura. Depois, um rolo com tinta engordurada é passado na superfície, e a tinta se adere nas marcas desenhadas, enquanto a água a repele das outras áreas. Finalmente, a tinta é transferida para o papel após passar os dois por uma prensa. A matriz de impressão originalmente era a pedra litográfica, mas esta só poderia ser encontrada em uma região da Bavaria. Depois zinco e alumínio foram feitos de substitutos. Ao contrário das outras técnicas da gravura, a litografia é planográfica, ou seja, o desenho é feito através do acúmulo de gordura sobre a superfície da matriz, e não através de fendas e sulcos, como na xilogravura e na gravura em metal.
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A litografia nasce em 1796, inventada por Aloys Senefelder, possibilitando o método mais direto de criar múltiplos a partir de um desenho. A litografia foi muito utilizada nos primórdios da impressa moderna, para todo tipo de impressão e também foi muito explorada como novo meio de expressão artística.
Inicialmente, Senefelder originalmente desenvolveu a técnica como meio de imprimir música mais barato do que a gravura em metal, porém, percebendo seu potencial para diferentes usos, encontrou parceiros para operar prensas litográficas nas capitais européias. Entretanto, impacto comercial da técnica foi atrasado em 20 anos, parcialmente devido às dificuldades técnicas que ele tinha que enfrentar.
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Lorenz Quaglio, “Retrato de Senefelder”, 1818, litografia.
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Karl Friedrich Schinkel, “O castelo Prediama em Crein�, 1816, litografia.
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Por volta de 1820
a produção da litografia já era enorme. Na França uma nova escola de paisagens românticas litográficas cresce e vive até 1878. Na Inglaterra a litografia ultrapassa a água-tinta como meio preferido de imprimir grandes imagens.
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Honoré Daumier é considerado um dos mes-
tres da litografia. Viveu entre 1808 e1879 e foi um caricaturista, chargista, ilustrador e pintor francês. Suas primeiras litografias datam de 1820, ele foi um litografo muito especializado e tem mais de quatro mil litografias conhecidas.
Honoré Daumier, “Os trens do prazer” e “Uma discussão literária na segunda galeria” (à direita), ambas litografias publicadas em 1864 no jornal “Le Charivari”.
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HonorÊ Daumier, "Gargantua", litografia, 1831. Por causa dessa charge, do Rei da França como Gargantua, Daumier ficou preso seis meses no Ste Pelagic em 1832.
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Goya e Adolf Menzel , espanhol e alemão
respectivamente, são dois grandes artistas que se destacam no restante da Europa, apesar da técnica não se desenvolver tanto nestes paises.
Adolf Menzel (1815-1905), “A jornada dos prisioneiros através de uma floresta”, 1851, giz e aguada em litografia.
Francisco Goya, “Arena dividida” da série de litografias “Touradas” 1824-1825, são umas das primeiras experiências de artistas com a técnica.
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Na metade do século a técnica perde sua
força comercial, apesar de alguns artistas ainda a utilizarem muito em suas obras. Porém, a litografia começa a reviver com força por volta de 1870.
Edouard Manet, “Under the lamp”, 1875, litografia. Faz parte de uma série de ilustrações para o poema The Raven de Edgar Allan Poe.
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Edouard Manet, “As corridas”, final da década de 1960, litografia.
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L.Prang and Company e outros, c. 1880- início do século XX. Esta coleção mostra uma série de objetos gráficos impressos por cromolitografia.
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A litografia à cores
ganha imensa popularidade por volta de 1890, principalmente graças à moda dos cartazes na época. Surgem ainda mais variedades de meios de impressão no século XIX. Muitos artistas encontram maneiras de introduzir cor, experimentando combinações de diferentes técnicas. Como uma pedra só pode ser facilmente entintada com apenas uma cor, a cromolitografia normalmente necessita de tantas pedras de acordo com a quantidade de cores. Os primeiros usos de uma segunda pedra na litrografia foram para criar uma cor de fundo, a litografia colorida de fato veio mais tarde e se tornou muito popular por volta de 1890.
S.S. Frizzall (artista) e filhos de John H.Bufford (impressores), cartaz para a campanha presidencial de Cleveland e Hendricks, 1884, cromolitografia.
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Rótulos e embalagens se tornaram ativi-
dades importantes para a cromolitografia. Embalagens de latão impressas para produtos alimentícios e tabaco eram amplamente usadas em toda a Europa e América do Norte no final do século XIX e início do século XX.
Projetos cromolitográficos de embalagens em lata para alimentos e produtos de tabacaria, usavam cores chapadas e vivas, inscrições elaboradas e imagens simbólicas para criar uma presença emblemática para o produto.
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Na virada do século, as litografias européias mais interessantes foram feitas por Edvard Munch e os expressionistas alemães. Eles atingiam texturas e efeitos impressionantes pintando à mão nas chapas.
Edvard Munch, “Ansiedade”, 1896, cromolitografia.
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Edvard Munch, “O grito”, 1895, litografia.
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George Bellows,”Um especulador no Sharkey”,1917, litografia.
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No período entre guerras os america-
nos se iniciam na técnica com entusiasmo e produzem resultados inovadores. George Bellows (1822-1925) se destaca com a técnica de giz. Por ser uma técnica barata, os americanos a adotam como o meio mais democrático de imprimir, fazendo também com que muitos artistas a utilizem.
George Bellows,”Banheira dos homens de negócios”, 1923, litografia.
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Picasso também imprime excelentes litografias em
Paris a partir de 1945. assim como artistas americanos a partir de 1960, inspirando a técnica como moda da época.
Pablo Picasso, “Mulher dormindo”, 1947, litografia.
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Pablo Picasso, “Cabeça de um jovem garoto”, 1945, litografia.
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Jasper Johns
é um dos artistas americanos que utiliza muito a técnica da litografia a partir da década de 60 e se destaca no meio com séries muito famosas de temas cotidianos como a bandeira americana e numerais..
Jasper Johns, da série “Bandeiras”, 1969, litografia.
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Jasper Johns, “0 ao 9”, 1960, litografia
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Bibliografia Este livro foi criado a partir de textos de referência dos livros abaixo, e reescrito pela autora. A pesquisa de imagens também foi baseada nestas referências. BRUNNER, FELIX. A Handbook of Graphic Reproduction Processes. Suiça: 1984. CATAFAL, JORDI; OLIVA, CLARA. A Gravura. Barcelona, Espanha: Editorial Estampa, 2003. GRAIG, JAMES. Production for the Graphic Designer. Londres: Pitman Publishing, 1975. GRIFFITHS, ANTONY. Prints and Printmaking; An introduction to the history and techniques. Londres: The British Museum Press, 1980. MARTINS, CARLOS; PICCOLI, VALÉRIA; TJABBES, PIETER. Impressões Originais: A gravura desde o século XX. São Paulo: Art Unlimited, 2006. MEGGS, PHILIP B. História do Design Gráfico. São Paulo: Cosac Naify, 2009. SANTOS, Renata. A Imagem gravada. A gravura no Rio de Janeiro entre 1808 e 1853. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2008. THE METROPOLITAM MUSEUM OF ART. Heilbrunn linha do tempo da história da arte. Disponível em: <http://www.metmuseum.org/toah/> Acesso em: 27 set. 2013 MUSEO DEL PRADO. Goya em el Prado. Museo Nacional Del Prado. Disponível em: <https://www.museodelprado.es/goya92
-en-el-prado/> Acesso em: 22 abril. 2014. ROCHESTER INSTITUTE OF TECHNOLOGY. Graphics Atlas: Identification. Disponível em: <http://www.graphicsatlas.org/ identification/> Acesso em: 28 abril. 2014. THE BRITISH MUSEUM. Rembrandt e sua escola. Disponível em: <http://www.britishmuseum.org/research/publications/ online_research_catalogues/rembrandt_drawings/drawings_ by_rembrandt.aspx>. Acesso em: 05 outubro.2013.
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Agradecimentos Este livro não seria possível sem os orientadores de projeto, desde o anteprojeto, com toda a parte de decisão do tema, objeto e pesquisa, em que contei com o professor João de Souza Leite, sempre paciente com minhas indecisões e crítico com minhas escolhas, me trouxe para este caminho e me orientou da melhor forma possível. Ao orientador Washington Lessa e à tutora Evelyn Grumach, sem os quais nada disso seria feito, desde o conteúdo com todo o conhecimento e sabedoria do Washington, além de todos os livros emprestados, e a diagramação sempre orientada pela Evelyn, que toda vez trazia ideias novas e me fazia testar layouts diferenciados sempre, os dois foram a combinação ideal para que este projeto ficasse pronto, me orientaram em todas as minhas dificuldades e me levaram a fazer um trabalho que nem eu mesma acreditava ser possível, serei sempre grata. Aos demais professores de projeto, Fábio Lopez que sempre trouxe conteúdo de curiosidades e gravuras belissímas. Às professoras Clarissa e Edna, pelas críticas na primeira apresentação, que me fizeram perceber que o trabalho deveria ser reestruturado para melhor compreensão, o que me trouxe melhores resultados e exercícios bem mais complexos. E finalmente à minha família, por sempre me apoiar em minhas decisões e incentivar o estudo sempre. À minha mãe, que sempre fez o papel de leitora “leiga” deste livro, ajudando a perceber o que não era de fácil compreensão.
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Boneca impressa por Gráfica Alpha Graphics, esta boneca foi impressa por meios de impressão digital para uso na universidade, em publicações seria produzida em off set. Trabalho feito como projeto conclusão do curso de Design na PUCRio sob orientação dos professores Evelyn Grumach, João de Souza Leite e Washington Lessa.
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