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Anuncie no Contraponto Um jornal de compromisso com a Paraíba
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PARAÍBA, 28/06 a 04 de julho de 2013
Cibelly Correia
A música instrumental brasileira vem apresentando ao longo dos anos uma matriz rítmica extraordinariamente rica, com uma variedade e combinação de ritmos que mostra uma sonoridade única, agregando elementos contemporâneos que dão novas faces aos sons do Brasil. Na Paraíba, a música instrumental ganha novos talentos, que, aos poucos, conquistam os palcos pessoenses, experimentando e explorando a musicalidade brasileira. Dentro desta perspectiva, surgem, no cenário musical paraibano, os grupos Jazzera e Tryá, mostrando inovação e originalidade.
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Jazzera foi criado em 2010, quando os músicos Marcos Rosa (guitarra), Michel Charles (baixo), Dennis Burlhões (bateria) e Felipe Grisi (guitarra) se juntaram para uma JAM (jazz after midnigt - jazz depois de meia noite - expressão usada também para indicar um encontro pra tocar e se divertir). O nome Jazzera surgiu durante a participação do grupo em um evento, quando perguntaram ao guitarrista Marcos Rosa qual o nome da banda que seria chamada a seguir. “Eu disse brincando: JAZZERA, pois era comum eu dizer ‘agora já era, é só fazer um som e jazz’. De ‘já era’ em ‘já era’ virou JAZZERA - e isso também dava a ideia de ‘a era do jazz’, onde tocaríamos desde temas gravados nos anos 1920 e 1930 até composições modernas de jazz fusion”, revela Marcos Rosa. Hoje, o grupo tem uma nova composição. Formado por Marcos Rosa (guitarra), Will Gomes (baixo) e Rodrigo Melo (bateria), a banda tem como lema divertir-se tocando, mas não tocar brincando. Jazzera mostra um som atual, é bem coeso e tem
Novas faces da música instrumental paraibana FOTO: FERNANDA EGGERS
Trio Jazzera como referências musicais álbuns de jazz gravados entre os anos 1940 até os anos 1960, com a guitarra limpa e crua (sem distorções ou efeitos) atuando tanto como instrumento melódico como instrumento de acompanhamento. Atualmente, o grupo está com um projeto chamado JAZZYLAND, em parceria com Café Empório, onde se apresentam às terças-feiras, além de tocarem todo mês no Espaço Mundo. Segundo o guitarrista Marcos Rosa, em breve, o Jazzera pretende gravar um CD com algumas composições próprias e um tema chamado Stella By Starlight (originalmente composto em 1944 por Victor Young). “Queremos uma gravação ao vivo, com plateia, e se possível, em um teatro ou bar/restaurante/ café, mas não em estúdio. Também quero a participação de alguns amigos tocando trompete, sax, e ex-integrantes. Nas gravações de jazz, eu acredito ser fundamental a interação dos músicos uns com os outros e com o público. Eu quero que, no disco, a pessoa possa escutar o barulho do público, as palmas e os diálogos - tentando recriar aquele clima de ‘jazz club’. Por isso, não quero gravar em um estúdio ou fazer um instrumento de cada vez, não gostaria de overdubs
Rainere Travassos
Mariana Duarte
Danielly Dantas
ou correções em um disco do Trio Jazzera”, comenta. Graduado em Música pela UFPB – violão – e Mestre pela mesma universidade, Marcos Rosa ainda se apresenta como solista (em performances de violão e/ou guitarra solo), com mais frequência com o Trio Jazzera, em que toca jazz standards [e suas composições]. Participa, também, da banda de rock Unidade Móvel. Completamente envolvido na cena musical do nosso estado, Marcos Rosa faz uma análise do atual cenário da música instrumental da Paraíba. Ele relata que, o que tem gerado um ótimo retorno para o atual panorama é que a Paraíba possui um dos
melhores cursos de Música do País. E complementa que hoje é possível assistir a pelo menos uma apresentação de jazz e/ou música brasileira instrumental e a música erudita por semana. “Muito dessas apresentações saem de graça para o público. No entanto, penso que são pouco divulgadas. Por exemplo, praticamente, toda semana a UFPB apresenta recitais de alunos e outros convidados (muitos até internacionais), mas a divulgação acaba ficando entre os músicos, onde um conhece o outro. Esse é um ciclo pequeno, quando pensamos em um estado por inteiro e todas as outras profissões. Também penso que esse tipo de música deveria ser levada
com frequência para cidades do interior. Muita gente diz não gostar de música instrumental, mas, na verdade, nem conhece o que é. Também penso que apresentações de graça ajudam por um lado, mas desvalorizam o trabalho por outro. Acredito que deveriam ser cobrados valores, mesmo que simbólicos, por algumas apresentações. É comum eu ir tocar em um lugar onde tem várias pessoas do lado de fora gastando, em média, R$ 10,00 em cerveja, ou seja, que tem o que gastar pra beber, mas que reclamam que é preciso pagar R$ 5,00 para assistir a um show de música instrumental. Isso é uma pena, as pessoas ainda valorizam as coisas erradas”, diz Marcos Rosa.
Tryá - Música de Câmara Moderna Nordestina Experimental
O Tryá apresenta música instrumental brasileira numa formação nada típica. Formado por Danielly Dantas (clarinete), Mariana Duarte (Flauta) e Rainere Travassos (baixo acústico e elétrico), o grupo tem uma formação erudita com elementos do popular e executa músicas rearranjadas para novas formações instrumentais de compositores conhecidos ou não conhecidos na cena musical do Nordeste. Recentemente, o grupo foi contemplado com o prêmio nacional Funarte de música brasileira, um dos mais importantes do País. O Tryá surgiu, há um ano e meio, com o desejo de explorar e pesquisar as nuanças e possibilidades de novas sonoridades na música nordestina. Sem nenhum arranjo para esta formação, a primeira dificuldade do grupo foi encontrar um repertório. E foi essa falta de repertório que os motivou a colocar o projeto no prêmio da Funarte, para poder incentivar a pesquisa dentro da música instrumental. “Resolvemos inscrever este projeto na Funarte, para firmar o grupo e gravar os arranjos. Depois, pretendemos fazer um site para disponibilizar toda pesquisa. Esse edital foi uma forma de dar impulso ao nosso trabalho, e ganhar essa premiação foi uma grande surpresa. Isso mostra o quanto a Funarte está aberta a novas propostas. Queremos fazer uma maior audição de compositores nordestinos possíveis, num eixo Paraíba – Rio Grande do Norte – Pernambuco, e priorizar compositores não renomados. Primeiro vamos escutar, escolher um repertório para fazer uns arranjos, depois começar a ensaiar para gravar o disco. Ainda queremos priorizar os ritmos nordestinos, como frevo, caboclinho, ciranda, baião, maracatu, etc.”, esclarece Mariana Duarte. O som do Tryá pode ser traduzido como Música de Câmara Moderna Nordestina Experimental, de acordo com o músico Rainere Travassos. Ele complementa que esse prêmio foi bastante importante para o grupo, pois divulga novas propostas sonoras, novos compositores, música nordestina e a música instrumental brasileira. “Somos um trio formado por clarinete, flauta e baixo que não tem nenhum ritmo, ritmo que falo é percussão, e não tem nenhum instrumento harmônico, como piano ou guitarra. A nossa grande proposta é abranger as nossas influências entre o erudito e o popular. Queremos quebrar essas barreiras. Queremos um grupo instrumental de câmara que possa atuar tanto num teatro como num palco”, relata Danielly Dantas. O músico Rainere Travasso finaliza esclarecendo que a produção da música instrumental tanto no Brasil como na Paraíba está crescendo consideravelmente, apesar de perceber que o público ainda não se compara ao de outros gêneros. Mas já existem mais espaços, projetos e incentivos, seja para gravação e/ou divulgação da música instrumental.