Revista Lina

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LINA revista coletiva dos estudantes de arquitetura e urbanismo da UFFS

_1 dezembro de 2016



LINA CORPO EDITORIAL Coordenador Elias Rust Barcelos Souza Projeto Grรกfico Fernanda Caroline Guasselli Conselho editorial Manoela Baratti Osmarini Eduarda Beatriz Valandro da Silva Yuri Potrich Zanatta Fotografia Caroline Mazurek Pavan



CARTA AO LEITOR A revista Lina é uma iniciativa dos estudantes do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Fronteira Sul - Campus Erechim, como um instrumento de comunicação entre os estudantes, visando expor as atividades desenvolvidas dentro da academia e com a comunidade do município de Erechim. Dada a conjuntura política que reverbera neste momento de fundação da revista, a presente edição tem como foco as mobilizações realizadas com a comunidade externa. Porém, o coletivo que hoje compõe esta revista objetiva dar continuidade ao trabalho através da adesão de demais discentes do curso. Diante do cenário de medidas autoritárias, especialmente a proposta de emenda na constituição PEC¹ 55/2016 que limita os gastos do governo, afetando principalmente a saúde, educação e prejudicando os direitos sociais, os alunos de Arquitetura e Urbanismo viram-se na necessidade se mobilizar para lutar contra essas medidas. Assim, foi decidida a paralização do curso, para que os discentes pudessem organizar atividades junto com a comunidade externa. Nessa primeira edição, estão expressas as realizações que ocorreram na primeira semana de paralisação e mobilizações, e visa, além de informar a comunidade acadêmica e externa, incentivar o diálogo e o debate entre os indivíduos, a fim de construir uma sociedade mais justa para todos.


tú lutarás PABLO NERUDA


Este ano-novo, compatriota, é teu. Nasceu mais de ti do que do tempo, escolhe o melhor de tua vida e o entrega ao combate. Este ano que caiu como morto em seu túmulo não pode repousar com amor e com medo. Este ano morto é ano de dores que acusam. E quando suas raízes amargas, na hora da festa, à noite, se desprenderem e caírem e subir outro cristal ignorado até o vazio de um ano que a tua vida encherá pouco a pouco, dá-lhe a dignidade que requer a minha pátria, a tua, esta estreiteza de vulcões e vinhos. Eu não sou cidadão de meu país: me escrevem que o clown indecoroso que governa apagou com outros milhares de nomes o meu das listas que eram as leis da República. Meu nome está apagado para que eu não exista, para que o torvo abutre da masmorra vote e votem os bestiais encarregados que dão pancadas e o tormento nos porões do governo, para que votem bem garantidos os mordomos, caporais, sócios do negociante que entregou a Pátria. Eu estou errante, vivo a angústia de estar longe do preso e da flor, do homem e da terra, porém tu lutarás para apagar a mancha de esterco sobre o mapa, tu lutarás sem dúvida para que a vergonha deste tempo termine e se abram as prisões do povo e se levantem as asas da vitória traída.


índice

1. Vivemos em tempos de ofensiva 2. Nota de posicionamento do DACAU 3. Na UFFS 4. Nas praças 5. Nas escolas 6. Nos hospitais 7. Nas ruas 8. Síntese Extras: Arquiteta ativista Anexos



1. vivemos em tempos de ofensiva Prof. Dr. Luiz Felipe Leão Maia Brandão Vivemos em tempos de ofensiva “conservadora”. A palavra requer aspas porque ela é, tão somente, um dos tantos eufemismos que vêm sendo utilizados ultimamente para escamotear o racismo, o fascismo e a homofobia no país. Afinal, o que representa ser “conservador” num país com as idiossincrasias do Brasil? Temos uma população carcerária de, aproximadamente, 700.000 detentos (4° maior do mundo), dentre os quais cerca de 65% são jovens negros entre 18 e 29 anos; Até novembro de 2016, foram registrados em torno de 70.000 casos de agressões contra mulheres (média de 1 a cada 7 minutos), sendo quase 60% delas contra negras; A taxa de homicídios entre jovens negros é quase quatro vezes a verificada entre os brancos (36,9 a cada 100 mil habitantes, contra 9,6); A orientação sexual e a identidade gênero também são fatores de risco por aqui: a cada 28 horas um homossexual morre de forma violenta no país, por razões de ódio. Infelizmente, o Brasil nos oferece farto material para que possamos apresentar dados dessa natureza, maior do que o espaço dessa página comportaria, ou do que os apóstolos da meritocracia suportariam confrontar. Sendo assim, o que os “conservadores” brasileiros pretendem tanto conservar, no fim das contas? O PEC 241/55, peça central dessa investida “conservadora”, não é somente mais um corte de investimentos sociais, em nome do beneficiamento da agiotagem e do rentismo de raízes coloniais e escravocratas: ele é a imposição de um grave obstáculo à qualquer aspiração civilizatória para a formação social brasileira. Diante desse panorama, emerge a pergunta de um velho camarada: o que fazer?

¹ PEC (projeto de emenda constitucional) ² UFFS (Universidade Federal da Fronteira Sul)

A esquerda – entendida aqui como todos aqueles não racistas, fascistas, homofóbicos, etc. – sofreu profunda despolitização ao longo dos últimos anos. Entre 2003 e 2016 esteve no poder um partido que se apresentava como sua vanguarda, e que aniquilou qualquer manifestação progressista que lhe fosse dissidente. Esse expurgo ocorreu em nome de uma “hegemonia”, que defendia que tão mais forte seriam as pautas progressistas, quanto maior fosse a unidade em torno do partido (as aspas aparecem, também aqui, como um alerta para outro eufemismo vulgar). Há alguns meses Michel Temer, notório canalhocrata, assumiu o poder de forma escabrosa (a agonia já faz com que pareçam décadas). Acredito que todas as coisas ruins que falam sobre ele sejam verdade, mas alerto para uma que parece ter sido esquecida: ele foi eleito vice-presidente, como integrante da candidatura do partido acima mencionado. Esse episódio deve nos alertar para o imperativo de que o nosso dever de lutar não pode ser delegado a ninguém. Por isso, é com grande apreço que tenho observado a postura dos estudantes de Arquitetura e Urbanismo da UFFS, frente a nossa atual situação. Sem buscarem ser paternalizados, nossos acadêmicos assumiram o protagonismo de suas próprias lutas, confrontando o “conservadorismo” nas ruas e, inclusive, dentro da nossa própria instituição. Foi uma demonstração de autonomia e coragem, que pôs em prática tudo aquilo que universidade deveria ensinar. Infelizmente, a batalha contra o PEC 241/55 será perdida. Mas a iniciativa desses (muito em breve) Arquitetos e Urbanistas demonstra que sairemos dessa malfadada disputa com um saldo: restituímos a capacidade de travar nossas batalhas com as próprias mãos. Devemos todos permanecer de cabeças erguidas na luta por uma sociedade sem aspas e sem eufemismos.



2. nota de posicionamento do DACAU Tendo como partido a insatisfação diante da conjuntura atual, onde decisões estão sendo tomadas a partir de uma medida vertical sem participação popular, viemos por meio desta explicitar a paralisação dos discentes do curso de Arquitetura e Urbanismo – UFFS Erechim. Consideramos que as medidas governamentais como o Projeto de Emenda Constitucional (PEC) 55, a Medida Provisória (MP) 746 e o Projeto de Lei Provisória (PLP) 257, em andamento nas instâncias governamentais do país, além de serem antidemocráticas, afetam diretamente a qualidade e o acesso à educação, saúde e previdência social da maioria da população que utiliza das políticas públicas governamentais. A MP 746, formulada pelo governo atual juntamente com representantes empresariais sem diálogo com núcleos de educação em suas diversas instâncias, propõe uma reformulação na educação do ensino médio tornando-o com características técnicas, fazendo com que algumas matérias dos últimos anos letivos sejam opcionais, comprometendo a formação do pensamento crítico dos secundaristas e desvalorizando os profissionais docentes formados nessas áreas. A PEC, por sua vez, afeta em uma escala abrangente, comprometendo não só o ensino médio, mas toda a educação e saúde pública, além de leis trabalhistas. Esta proposta negligencia a constituição, pois afeta nos direitos de moradia, saúde e educação do cidadão, direitos estes que já vêm sendo comprometidos pelos cortes de investimento. O projeto propõe um teto de investimentos públicos durante 20 anos, onde o reajuste é feito com base no índice de inflação. Já a PLP 257, prevê congelamento de salários e desligamento voluntário de servidores, buscando manter o pagamento de juros e aumentar a arrecadação da União, atingindo diretamente o serviço público e programas sociais. Preocupados com a situação atual, ocorreram algumas assembleias para fomentar um espaço de discussão, sendo que no dia 31/10 foi realizada a primeira assembleia geral convocada pelo DCE (diretório central dos estudantes), sem encaminhamentos plausíveis.

A partir de um debate assentido pelos Diretórios Acadêmicos e demais representantes discentes, após a assembleia geral do dia 31, concordamos que o processo centralizado da discussão não é o melhor caminho para deliberar algo de tamanha importância. Assim, deliberou-se descentralizar a discussão política e os encaminhamentos, realizando assembleias e reuniões em cada curso, levando a outras escalas o debate de paralisação estudantil e de propostas alternativas de mobilização, sem afetar as aulas. Os encaminhamentos das assembleias de cada curso resultaram em uma Assembleia Geral realizada no dia 10/11, contando como pauta única a paralisação geral do campi, onde o resultado deliberou-se negativo. Por motivo de esclarecimento, relatamos o processo para que se compreenda que o curso de arquitetura posicionou-se favorável à pauta de paralisação geral, porém respeitou-se a deliberação e o resultado da assembleia. Acreditamos que a paralisação é o instrumento mais apropriado para pressionar o governo. Nossa paralisação vem sendo feita seguindo um calendário de ações com debates, oficinas e manifestações, para evitar a evasão discente neste momento de paralisação das aulas, visando participação. Ainda, objetivamos parcerias com os cursos paralisados e demais coletivos mobilizados, acadêmicos, secundaristas e comunidade externa, abrangendo instâncias maiores através de campanhas de comoção e mobilização das pessoas não só pela educação, mas também pela saúde. Levando em consideração os pontos levantados que comprometem a permanência dos alunos, principalmente em uma universidade com característica popular onde a maioria possui restrições de renda, a paralisação vem a somar na luta pelos direitos desta classe, juntamente com os demais campi da UFFS, cursos paralisados no campus Erechim e a mobilização que está ocorrendo em escala nacional. Por fim, convidamos a comunidade acadêmica e externa para que participe do calendário de ações proposto pelo curso, para que tenhamos mais forças. Afinal, que momento na história recente do Brasil colocou em tão grande risco o futuro de nosso país? Não mobilizar-se diante desse cenário é consentir com um projeto político que não leva em consideração a maioria da população. 17 de Novembro de 2016



3. na uffs 3. na uffs 3. na uffs 3. na uffs 3. na uffs 3. na uffs 3. na uffs 3. na uffs 3. na uffs 3. na uffs



os processos de organização Na quinta-feira, dia 17/11/2016, primeiro dia de paralisação, os estudantes dedicaram-se ao diálogo interno e a definição das primeiras atividades. Pela manhã houve um pequeno debate entre discentes e docentes do curso, levantando ideias e informações sobre como o movimento se organizaria. Conforme o andamento do debate, o coletivo optou por formar comissões responsáveis por cada reivindicação e áreas de atuação das atividades. Assim, formaram-se os primeiros grupos: - Comissão de Comunicação: responsável pela comunicação, divulgação, registros fotográficos e confecção de documentos. - Comissão de Trabalho Artístico: responsável por organizar e levantar materiais para as intervenções visuais e artísticas, tais como cartazes, teatros, entre outros. - Comissão de Trabalho com a Comunidade Externa ao Movimento: com o intuito de estudar, divulgar e informar os diferentes nichos da população que serão afetados pelas propostas políticas debatidas, este grupo é responsável por promover diálogos, grupos de estudo, aulas públicas, entre outros, utilizando de movimentações da cidade, passeatas, etc. Para melhor organização, o grupo subdivide-se em: - Educação: focado na área da educação, propõe atividades nas escolas e demais instituições educacionais. - Saúde: organiza as atividades voltadas à área da saúde, estudando como a PEC 55 e demais medidas afetariam a população dependente dos sistemas públicos de saúde, agindo nos hospitais, UPAs (Unidade de Pronto Atendimento) e demais instituições da área. - Trabalho: grupo formado com o intuito de levar à população trabalhadora de Erechim informações sobre a PEC e seus reflexos no setor comercial e industrial, atuando nas ruas e nos comércios. - Comissão de Calendário: responsabiliza-se pela organização do calendário oficial do movimento em conjunto com outros movimentos já existentes, tanto na UFFS como demais órgãos locais também mobilizados pela causa.

Na sexta-feira, dia 18 de novembro, ocorreu outra assembleia entre discentes e docentes a fim de debater acerca da situação da disciplina de TFG – Trabalho Final de Graduação. Na ocasião, definiu-se que os TFGs não seriam entregues e os alunos da disciplina poderiam assim participar das mobilizações. Neste mesmo dia, iniciou-se a primeira atividade organizada pela Comissão de Trabalho Artístico, quando foi realizada a confecção de cruzes que seriam posteriormente distribuídas na cidade, para simbolizar as consequências da aprovação da PEC 55 como intervenção artística. Paralelo a isso, estava acontecendo uma reunião entre os órgãos administrativos, representantes discentes e o reitor da universidade, Prof. Jaime Giolo, a respeito do trancamento do campus Erechim, o qual foi realizado na noite de quarta-feira pelo movimento Ocupa UFFS. Em decorrência da presença do reitor, o movimento aproveitou a oportunidade para realizar o primeiro ato, a princípio silencioso, mas que culminou em uma conversa com o senhor reitor. Na conversa, expomos nossa preocupação quanto às medidas da PEC 55 e justificamos nossa iniciativa de paralisação discente do curso. Solicitou-se, assim, a suspensão do calendário e dialogaram-se as consequências e possibilidades do atendimento do pedido. Foram apontados vários impedimentos burocráticos e a oposição de determinados grupos a essa suspensão. A conversa foi produtiva até certo ponto, porém sem encaminhamentos palpáveis. Esse encontro, no entanto, nos deu ânimo para continuar, visto o reconhecimento, ainda que pouco, da nossa forma de mobilização. Posteriormente, no dia 24, ocorreu também na UFFS o segundo módulo de uma Oficina de Stencil (iniciada no dia 23 no CEU) – técnica utilizada para aplicação de símbolos ou desenhos em superfícies, por meio de tinta sobre um molde feito em papel ou acetato. Ministrada pela estudante do curso Juliana França, os participantes produziram cartazes e camisetas para mobilizações e para a Passeata do dia 25 – Dia Nacional de Lutas.



4. nas praças 4. nas praças 4. nas praças 4. nas praças 4. nas praças 4. nas praças 4. nas praças 4. nas praças 4. nas praças



dia da consciência negra O dia da consciência negra, 20 de novembro, foi o ato que abriu a semana de trabalhos quando, de forma dinâmica e leve para um domingo, foi organizado um debate na Praça Jaime Lago abordando as questões de ingresso e de permanência do negro na Universidade diante dos retrocessos constitucionais, a PEC 55 e o Genocídio Negro.

Maria Maria Fernando Brant e Milton Nascimento (1976) Maria Maria, um simples nome de mulher Corpo negro de macios segredos, olhos vivos Farejando a noite, braços fortes trabalhando o dia. Memória da longa desventura da raça, Intuição física da justiça. Alegria, tristeza, solidariedade e solidão. Uma pessoa que aprendeu vivendo E nos deixou a verdadeira sabedoria: A dos humildes, dos sofridos, Dos que tem o coração maior que o mundo.

A roda de conversa foi conduzida pela aluna Juliana França da 6º fase, que concedeu o seguinte relato:

Estar mobilizado é saber que todo dia é dia de luta, sobretudo pelo momento de retrocessos e agressão à assistência social do país. Intervir no que costuma-se chamar de espaço público para promover conversas, reflexões, e intervenções artísticas de manifesto no dia da Consciência Negra, realmente me faz acreditar que minha luta diária como uma jovem negra e acadêmica de uma universidade pública (inserida num curso historicamente elitista), deve continuar por onde eu passar. Dias como o que construímos hoje, realmente me dão força para continuar a luta contra todo o racismo que sofri e sofro diariamente. Lutar contra as formas de retrocessos que tem sido propostas e implementadas no país é lutar contra a intensificação do genocídio e feminicídio de pessoas negras, lutar pelas pessoas pobres e não assistidas, lutar pelas chamadas "minorias" é uma luta antiga, e não é o momento de perder as conquistas referentes as políticas sociais que movimentos sociais já conquistaram até agora.

Além disso, foram discutidas questões como a insuficiência das cotas socioeconômicas para jovens negros acessarem a universidade, e os altos índices de assassinatos que sofrem. Ainda, foram discutidas questões relacionadas ao cotidiano das pessoas que, de alguma forma, tornam-se atos de discriminação. Em seguida, um varal foi construído na praça, a partir de cartazes produzidos no local, que traziam informações numéricas e frases a respeito do tema em discussão. Enquanto instalação artística, o varal permaneceu no local durante alguns dias. A atividade também contou com a presença da banda Bardo e Fada, de forma inesperada porém divertida, que levou à reflexão com suas músicas que abrangem temas considerados tabus pela sociedade.

Maria Maria nasceu num leito qualquer de madeira. Infância incomum, pois nem bem ela andava, falava e sentia e Já suas mãos ganhavam os primeiros calos de trabalho precoce. Infância de roupa rasgada e remendada, de corpo limpo e sorriso bem aberto. Infância sem brinquedos, mas cheia de jogos aprendidos com as velhas que lavavam roupas nas margens do Jequitinhonha. Infância que acabou cedo, pois já aos 14 anos, como é normal na região, ela já estava casada. Do casamento ela se lembra pouco, Ou não quer muito se lembrar. Homem estranho aquele a lhe dar Balas e doces em troca de cada filho. Casamento que em seis anos, seis filhos lhe concedeu. Os filhos se amontoavam nos quatro cantos da casa. Enquanto ela estendia a roupa na beira dos trilhos, os seis meninos sentados brincavam na terra fofa. Os seus olhinhos de espanto não entendiam nada. De repente, notícia vinda dos trilhos. “

Maria Maria era viúva. Pela primeira vez a morte entrava em sua vida E vinha em forma de alívio. E de retalho em retalho Maria se definiu: solitária, operária e brincalhona. Ela pode ao mesmo tempo Ser Maria e ser exemplo de gente Que trabalhando em todas as horas do dia, Conserva em seu semblante Toda pura alegria, de gente que vai sofrendo E quanto mais sofre, mais sabe.



música arte política apropriação a praça a cidade viva



aulas públicas No dia 22 de novembro, ocorreu a primeira aula pública que teve como palco a Praça Jaime Lago, na área central da cidade, ministrada pelo professor da UFFS, Dr. em Antropologia, Paulo Ricardo Müller. Seguindo a temática do dia, Educação, o debate foi estruturado com explicações de questões pontuais da PEC 55, como as despesas primárias, alvo da PEC, que são despesas nas quais o retorno de seus investimentos não pode ser mensurado objetivamente – saúde, educação, segurança. Embora o investimento nessas áreas melhore a qualidade de vida, esse índice não é quantificável e não traz retorno imediato, configurando-se despesa primária. Essa medida também está alinhada à MP 746 que propõe a reforma do Ensino Médio, onde o estado abre espaço para a iniciativa privada atuar junto às escolas, mediante ensino profissionalizante, interferindo na qualidade informativa interdisciplinar e na formação cidadã dos alunos. Dando sequência ao dia da temática Educação, 22 de novembro, realizou-se uma intervenção artística, também na praça Jaime Lago, quando livros como a Constituição de 1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente e um livro sobre Previdência Social foram simbolicamente enforcados e ensanguentados sob uma fogueira de cruzes e livros educacionais. Já no dia 23 de novembro, seguindo a temática da Saúde, foi realizada uma aula pública no CEU – Bairro Progresso, devido à sua proximidade a uma UBS (Unidade Básica de Saúde) e à principal praça do bairro, além da intenção de levar o debate do corte de gastos na saúde para um bairro de vulnerabilidade socioeconômica, já que serão os mais afetados pelas medidas impostas pela PEC 55. A aula foi ministrada pelo deputado Ivar Pavan – ex-secretário da Saúde de Erechim, com o debate sobre os efeitos da PEC 55 a respeito do tema, e sua trajetória como militante nos anos 80.

No dia dedicado ao tema do Trabalho, 24 de novembro, ocorreu outra aula pública na Praça Jaime Lago, sobre os retrocessos dos direitos trabalhistas com a aprovação da PEC 55 e seus efeitos igualmente agressivos na agricultura familiar. Esta aula foi ministrada pelo professor da UFFS, Dr. em Geografia, Éverton de Morais Kozenieski, que trouxe o histórico da luta dos direitos no campo, para entendermos os desdobramentos que hoje a PEC causará, se aprovada. O representante do Sindicato dos Metalúrgicos de Erechim, Fábio André Adamczuk, também participou do debate, abordando diretamente a posição dos grevistas do sindicato na região. Após estas ricas discussões, encaminhamo-nos à Câmara de Vereadores de Erechim, onde ocorreu uma audiência pública, na qual apresentou-se à população os efeitos da PEC 55, a partir do relato do professor Dr. em Sociologia da UFFS, Luís Fernando da Silva. Nesta audiência, também foi apresentada à comunidade a criação do Comitê de Luta Popular, o qual reúne Sindicatos, grevistas e ativistas da região do Alto Uruguai em prol da causa, demonstrando o envolvimento por parte da população com a preocupação gerada pela PEC 55. A reunião resultou no encaminhamento de cartas de apoio aos movimentos grevistas, de carta de cobrança de posicionamento por parte dos deputados e senadores da região, além do convite às manifestações que o Comitê irá realizar na cidade.



5. nas escolas 5. nas escolas 5. nas escolas 5. nas escolas 5. nas escolas 5. nas escolas 5. nas escolas 5. nas escolas



construindo pontes O dia 22 de novembro, terça-feira, teve como foco das mobilizações o setor educacional da cidade de Erechim. O movimento fez contato com estudantes secundaristas através de panfletagens e promoveu uma aula pública sobre os reflexos da PEC 55 e a MP 746 na educação. Eis alguns relatos das visitações: - Escola Estadual de Ensino Médio Érico Veríssimo A equipe foi bem recebida pela direção da escola. Após o intervalo, todos os alunos secundaristas foram reunidos para conversar com a equipe visitante. Os alunos demonstraram pouco conhecimento sobre a PEC 55 e a conjuntura atual, mas houve grande interesse, tanto que uma aluna, por iniciativa própria, convocou seus colegas a participarem do movimento. - Escola Estadual Normal José Bonifácio Devido ao fato de os alunos estarem em semana de provas, houve pouca adesão na hora da panfletagem. - Escola Estadual de Ensino Médio Irany Jaime Farina A equipe não conseguiu autorização para entrar nas salas ou panfletar, sendo o contato restrito à pedagoga da escola. Segundo ela, a escola possui um perfil de estudantes economicamente e socialmente vulneráveis, com casos de desconhecimento de alimentos básicos ofertados pela escola, como mamão ou brócolis. Por funcionarem no regime de ensino integrado (manhã e tarde), a direção vem enfrentando situações de evasão excessiva devido à necessidade de trabalho dos secundaristas. A pedagoga também elogiou o movimento, afirmando ser de extrema importância neste momento. Ao afirmar que os professores têm estudado a PEC 55 e a MP 741, ela levantou a proposta de conversar com o diretor para que o movimento realizasse uma aula sobre a PEC em conjunto com o corpo docente da escola. - Escola Estadual de Ensino Médio Dr. João Caruso Nesta escola o acesso às salas foi liberado pela direção. A equipe então realizou conversas dentro das salas, panfletou e chamou os secundaristas para participarem da aula pública que ocorreu à tarde.

- Escola Estadual de Ensino Médio Professor João Germano Imlau Os alunos desta escola estavam em semana de provas e no horário em que a equipe realizou a panfletagem havia poucos estudantes presentes. - Colégio Estadual Haidée Tedesco Reali A equipe foi bem recebida pela direção do colégio e passou nas salas secundaristas para conversar com os alunos sobre a conjuntura política e distribuir panfletos informativos. - Colégio Estadual Professor Mantovani O grupo foi recebido cordialmente pelo diretor do colégio, que convidou-os a conversar diretamente com as turmas. A panfletagem foi feita na saída dos alunos que, com pressa, não deram muita atenção ao movimento. Dando continuidade a temática educação, no período da tarde ocorreu uma aula pública sobre os impactos da PEC 55 no sistema educacional, conforme exposto no capítulo Praças.



6. nos hospitais 6. nos hospitais 6. nos hospitais 6. nos hospitais 6. nos hospitais 6. nos hospitais 6. nos hospitais 6. nos hospitais



impactando a cidade Na quarta-feira, 23 de novembro, a temática foi relativa a saúde. A forma de manifestação foi artística, buscando impactar a cidade sobre o efeito da PEC 55 neste setor. Com a concentração pela manhã na Praça Boleslau Skorupski (Praça do Tanque), o grupo vestiu camisas brancas com manchas vermelhas, e partiu em passeata, em analogia às filas do SUS. Caminhando em direção aos principais equipamentos de saúde da cidade, os estudantes se dirigiram primeiramente à Secretaria Municipal de Saúde, logo após na Fundação Hospitalar Santa Terezinha e por fim na UPA (Unidade de Pronto Atendimento). Foi uma manifestação silenciosa, onde ocorreu a panfletagem e conversa com usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). Seguindo a temática do dia, no período da tarde ocorreu uma aula pública no CEU (centro esportivo unificado) - Bairro Progresso, a respeito dos efeitos da PEC55 na saúde. Conforme explicitado no capitulo Praças.



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caminhando e cantando A primeira atividade de mobilização realizada nas ruas da cidade foi uma Intervenção artística, no dia 19 de novembro, quando houve a fixação de cruzes pretas em pontos estratégicos. Simbolizando a morte de várias políticas públicas do governo federal, as cruzes traziam gravados o termo “PEC 55” e áreas e órgãos afetados pela medida, tais como saúde, educação, FIES, PROUNI, entre outros, numa tentativa de aproximação inicial do movimento estudantil com a comunidade externa. O dia 24 de novembro, dedicado a temática do Trabalho, iniciou com panfletagem no Terminal Urbano Rodoviário, na busca por atingir os trabalhadores e disseminar informações. Para concluir o dia, foi realizada uma aula pública no período da tarde, abordando esta temática. No dia seguinte, 25 de novembro, considerado Dia Nacional de Lutas, foi organizada uma passeata em conjunto com o Comitê de Luta Popular de Erechim (abrange diversos segmentos da comunidade da cidade e região, tais como sindicatos), estudantes grevistas da UFFS e o movimento Ocupa UFFS. A partir desta manifestação, buscou-se informar e sensibilizar a população local a respeito da PEC 55 e dos retrocessos das medidas propostas pelo governo.





aos professores aos professores aos professores


que lutam que lutam que lutam


as mulheres as mulheres as mulheres


que lutam que lutam que lutam


síntese Esta revista tentou demonstrar as atividades de mobilização realizadas por nós, estudantes de arquitetura e urbanismo da UFFS, durante a primeira semana de greve discente. Entretanto, não há como traduzir em palavras ou imagens todo o conhecimento adquirido, enquanto futuros arquitetos e urbanistas, que neste momento se impõe como protagonistas das suas próprias lutas. Aprendemos, sobretudo, a ouvir e traçar novos métodos de diálogo para alcançar a população de Erechim, independente de classe, cor, gênero e nível de escolaridade. As nossas palavras reverberaram mais do que imaginávamos, criamos vínculos com outros cursos, outras instituições e reforçamos a necessidade da universidade se abrir para a comunidade externa não tão somente por meio de projetos de extensão, mas através de um dialogo acessível, deixando de lado o academicismo que é preponderante no nosso dia-a-dia. Além disso, vemos que dentro do próprio curso há um distanciamento entre os estudantes devido à rotina incessante, que não se restringe a carga horária das aulas. É notório que o projeto, principal ferramenta do arquiteto, nos exige dedicação diária e constante, muitas vezes de forma solitária. Porém, neste momento de união do coletivo grevista, presenciamos a aproximação entre colegas de todas as fases, que fizeram por si só a formação política e social que a grade curricular do curso não proporciona. Acreditamos que o arquiteto e urbanista possui uma função social importante, mas, sobretudo, todo estudante de universidade pública tem um dever com a sociedade brasileira, sendo estas as motivações das nossas lutas. Portanto, continuaremos com o diálogo e a conscientização, sempre com a máxima “nenhum direito a menos”.

Jovens colegas: ao iniciar a vossa carreira artística, haveis de estar ansiosos pela oportunidade de contribuir para o complexo da cultura nacional. Com as vossas obras, com a vossa imaginação criadora. Conheço o entusiasmo com que examinais e debateis as melhores conquistas do nosso patrimônio arquitetônico. Tenho a certeza de que contribuireis significativamente. Sois artistas mais completos que os de ontem, tal a vossa formação. Evitai o extremado desejo da segurança, que contorna todos os riscos. Isola o artista de qualquer plano polêmico. A procura insistente de conforto material, aniquila o intelectual. São vícios das outras camadas da sociedade, interessadas na sua própria imobilidade.

O arquiteto não é um profissional da indústria da construção, um apêndice de uma máquina constrangedora e terrível. Ao contrário, cabe-lhe ajudar a dominar, a submeter a estrutura impositiva que transforma o homem em coisa, em vítima de sua própria criatura. Pois remanejais formas artísticas, tereis que escolher um critério de beleza. Afastai-vos daqueles que vos isolaram da luta pelo aperfeiçoamento humano, dos critérios estáticos, da beleza que fulgura pelo contraste com a miséria humana. Estudantes de ontem, arquitetos de hoje, tendes tradições de patriotas, não haveis de desfalecer isolados das duras lutas que travam o nosso povo para construir uma pátria livre e independente. Construireis os monumentos que comemorarão a sua vitória. Em 1964, o arquiteto Vilanova Artigas foi escolhido pela turma de formandos da FAU/USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo) como paraninfo. Exilado na época da ditadura militar, seu amigo Paulo Mendes da Rocha leu este texto


extras arquiteta ativista


Carmem Portinho * 26/01/1903 + 25/06/2001

Talvez antes de fechar seus olhos aos 98 anos, Carmen teria se perguntado se valeu a pena dedicar tanto esforço à libertação da mulher, diante da persistência de humilhações. Iniciada essa luta em 1922, integrada na Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, conseguiu encontrar-se com Getúlio Vargas em 1933 e convencê-lo de instaurar o voto feminino universal no Brasil; logo em 1937, criou a Associação Brasileira de Engenheiras e Arquitetas. Porém se ela passará à história social latino-americana por suas batalhas reivindicativas. Graduou-se em engenharia civil em 1926. Foi funcionária da Prefeitura do Distrito Federal, com muitos cargos diretivos ao longo de três décadas, apoiou com todas as energias a concretização de obras sociais de seu companheiro, Affonso Reidy, e a difusão dos alcances do Movimento Moderno. Em 1936 após seguir o primeiro curso nacional de urbanismo na recente Universidade do Distrito Federal, recebeu o diploma de urbanista. Propõe a construção de conjuntos habitacionais populares equipados com serviços sociais, distanciando-se dos esquemas tradicionais e burocráticos dos blocos isolados de apartamentos ou das rígidas casas individuais. Seu legado ao "desenho ambiental" brasileiro é muito mais importante que o de alguns arquitetos do star system com seus nomes de sempre presentes no hit parade das mídias. Que seu longo exemplo seja modelo para as gerações futuras de arquitetos latino-americanos, para que não nos deixemos abater pelo desânimo e pelas adversidades. Pois o caminho é longo porém promissor, que nunca esqueçamos do nosso papel social e sempre estejamos em luta por uma sociedade menos desigual. Que a Carmem nos sirva de modelo de coerência entre a idea e a prática. Nossa luta é constante e essa paralização é só o começo.

Texto adaptado de: http://www.vitruvius.com.br. Carmen Portinho (1903-2001) Sufragista da arquitetura brasileira


anexos




s

corpo editorial de fundacao s

Coordenador Elias Rust Barcelos Souza Macaé - Rio de Janeiro 8º Fase

Projeto Gráfico Fernanda Caroline Guasselli Lages - Santa Catarina 10º Fase

Conselho Editorial Manoela Baratti Osmarini São Bento do Sul - Santa Catarina 10º Fase

Conselho Editorial Yuri Potrich Zanatta Ametista do Sul - Rio Grande do Sul 4º Fase

Conselho Editorial Eduarda Beatriz Valandro da Silva São Lourenço do Oeste - Santa Catarina 10º Fase

Fotografia Caroline Mazurek Pavan Erechim - Rio Grande do Sul 2º Fase


agradecimentos Aula pública: Reforma do ensino médio (MP 746) Palestrante Prof.Dr. Paulo Ricardo Müller UFFS - Erechim

Aula pública: Direitos dos trabalhadores do campo e da cidade Palestrante Prof.Dr. Éverton de Moraes Kozenieski UFFS - Erechim

Aula pública: Direitos dos trabalhadores do campo e da cidade Palestrante Fábio André Adamczuk Síndicato dos Metalurgicos de Erechim

Aula pública: Como a saúde será afetada com a PEC 55 e PLP 257 Palestrante Ivar Pavan Deputado do Estado do Rio Grande do Sul

Agradecemos toda forma de apoio, principalmente dos cursos grevistas da UFFS: História e Ciências Sociais, e dos técnicos administrativos também em greve. Reconhecemos também, a disponibilidade dos professores do nosso curso em dialogar conosco, tanto em instâncias institucionais (colegiado), assim como nas formas de apoio individualizado.


Aos estudantes que assumiram o protagonismo de suas prรณprias lutas


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