Wilma Martins Caderno de Viagem

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CADERNO DE VIAGEM


CADERNO DE VIAGEM Wilma Martins



JULIO CORTÁZAR. Histórias de cronópios e de famas /Viagens. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1974.

Quando os famas saem em viagem, seus costumes ao pernoitarem numa cidade são os seguintes: um fama vai ao hotel e indaga cautelosamente os preços, a qualidade dos lençóis e a cor dos tapetes. O segundo se dirige à delegacia e lavra uma ata declarando os móveis e imóveis dos três, assim como o inventário do conteúdo de suas malas. O terceiro fama vai ao hospital e copia as listas dos médicos de plantão e suas especializações. Terminada essas providências, os viajantes se reúnem na praça principal da cidade, comunicam-se suas observações e entram no café para beber um aperitivo. Mas antes eles se seguram pelas mãos e dançam em roda. Esta dança recebe o nome de Alegria dos Famas. Quando os cronópios saem em viagem, encontram os hotéis cheios, os trens já partiram, chove a cântaros e os táxis não querem levá-los ou lhes cobram preços altíssimos. Os cronópios não desanimam porque acreditam piamente que estas coisas acontecem a todo o mundo, e na hora de dormir dizem uns aos outros: “Que bela cidade, que belíssima cidade”. [...] As esperanças, sedentárias, deixam-se viajar pelas coisas e pelos homens e são como as estátuas, que é preciso ir ver por que elas não vêm ate nós.



NOS ÁUREOS TEMPOS/ MINAS GERAIS 1965-1966


Ouro Preto



Santuรกrio do Bom Jesus de Matosinhos, Congonhas



Tiradentes




LÚCIA MACHADO DE ALMEIDA, apresentando a artista no catálogo da exposição conjunta com Evandro Santiago, na Galeria ICBEU, Belo Horizonte, 1964.

Sempre achamos que o melhor modo de amar Minas Gerais consiste em conhecer, estudar e divulgar as coisas de nosso estado. Foi o que fizeram o crítico de arte Frederico Morais, sua esposa, a artista Wilma Martins, e o fotógrafo Evandro Santiago. Muniram-se de lápis, papel, máquina e seguiram o roteiro do ciclo do ouro. Enquanto passavam por antigos centros de mineração, iam registrando os vestígios do apaixonante passado de nossas Minas. E Wilma, que tudo via com o “sexto sentido” que Deus lhe deu, “captava” o espírito daqueles lugares para sempre marcados pelo rastro do ouro, com seu cortejo de glórias e misérias. A artista não reproduzia a paisagem apenas. Num involuntário processo deixa que sua sensibilidade a assimilasse, e depois a mandava de volta ao papel, condensada, sabiamente simples, mas encharcada de lirismo e de sugestões. Wilma conseguiu transmitir uma visão exata do que sejam aqueles lugares. Minas Novas, Diamantina, Serro, Congonhas, Ouro Branco, Sabará, São João del-Rei, Ouro Preto. Uma velha capela perdida no meio do caminho. Casarões cheios de vivências. Um altar barroco recoberto de ouro laminado. Um detalhe, outro, e eis nossa sensibilidade recebendo em cheio a “presença” do passado! E aqueles espaços vazios, harmoniosamente dispostos que a artista deixa em seus desenhos, proporcionam a quem os vê uma participação mais íntima com as paisagens, uma vez que nossa imaginação pode completá-las. A arte de Wilma não é, por assim dizer, ostensiva, mas, sim, contemplativa, discreta e profunda como ela própria. É uma arte que não choca nem provoca entusiasmos exaltados ou superficiais, mas que consegue comover como poucas. E é isso que importa.


Rua de Sabarรก



Casa de Borba Gato, Sabarรก




SYLVIO DE VASCONCELLOS. Mineiridade – ensaio de caracterização. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1968.

A configuração urbana mineira é longilínea, de meia encosta ou de cumeada, segmento de linha que é a estrada, voltada para dentro. Crescimento que se faz por paralelismo à rua-tronco ou por prolongamento de suas extremidades. [...] Principiam Cá-Aquém, estendendo-se até o Vira-e-Sai. A estrada antes e depois. Entre o início e o fim, a estrada, ainda.


S達o Bartolomeu



Igreja de S達o Francisco, S達o Jo達o del-Rei



Igreja N. S. do ร , Sabarรก



Igrejas do Amparo/Itapanhoacanga, Santa Cruz/Datas e do Rosรกrio, Diamantina



Fazenda São Lourenço, entre Lamin e Santana do Morro do Chapéu



Casa da Gl贸ria, Diamantina



Diversos objetos




RIO-BAHIA, ANO ZERO 1963-1964


Rio Doce, Governador Valadares



Porto Novo do Cunha



Patrim么nio do On莽a (BA)




JOSE CARLOS TEIXEIRA GOMES. Glauber Rocha esse vulcão. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1977.

A cena final de O dragão da maldade contra o santo guerreiro é uma tomada da região de Milagres, que mostra a estrada de asfalto cortando o vilarejo pobre, cenário preterido do misticismo dos desesperançados, ou seja, uma bela metáfora do progresso atravessando o reduto da miséria mas deixando-o intocado, porque preso a estruturas sociais que o simples avanço material não poderia erradicar.


Milagres (BA)




BELO HORIZONTE 1968

RIO DE JANEIRO 1978-1979


Santo Ant么nio, Belo Horizonte



Santo Ant么nio, Belo Horizonte



Edifício EFCB



Porto e Montanhas



Edifício EFCB, Gasômetro e Morro da Conceição



Edif铆cio EFCB, Ponte Rio-Niter贸i




NORDESTE 1972


Em algum lugar, entre Pernambuco e Rio Grande do Norte



Em algum lugar, entre Pernambuco e Rio Grande do Norte



Em algum lugar, entre Pernambuco e Rio Grande do Norte



Em algum lugar, entre Pernambuco e Rio Grande do Norte




AMÉRICA LATINA 1977-1978



FRANÇOIS CALI. L’art des conquistadors. Paris: Arthaud, 1960.

Há mil igrejas por grau de latitude, 70 mil entre os trópicos de Câncer e de Capricórnio, 160 milhões de católicos: balanço de um império só semelhante ao Islã.


Puebla, México



Huehuetenango, Guatemala



Cuzco, Peru



Cuzco, Peru



Cuzco, Peru



No trem, viajando de Cuzco a Puno, Peru



Potosí, Bolívia




NOVA YORK 1977


Broadway West, Manhattan



Thompson St., Village, Manhattan



46th St., Manhattan



Central Park, Manhattan



Central Park, Manhattan



Central Park, Manhattan




MARIO BENEDETTI. “Cumpleaños em Manhattan”. Inventário 70. Montevideo: Alfa, 1970.

[...] un poco de imprevista ternura sin raíces digamos por ejemplo hacia una madre equis que ayer en el zoológico de Central Park le decía a su niño con preciosa nostalgia look Johnny this is a cow porque claro no hay vacas entre los rascacielos [...] Nueva York, 14 de setiembre de 1959



EUROPA 1998


Bigday, Noruega



Bergen, Noruega



Oslo, Noruega



Oslo, Noruega



Embarcadouro, Aker Grygge, Noruega



Copenhague, Dinamarca



Helsinque, Finl창ndia



Embarcadouro, Helsinque, Finl창ndia



Reykjavík, Islândia




JORGE LUIS BORGES. “A Islandia”. Obras completas. Buenos Aires: Emecê, 1974.

De las regiones de la hermosa tierra Que mi carne y su sombra han fatigado Éres la más remota e lá más íntima Última Thule, Islandia de las naves, [...] Islandia, te he soñado largamente Desde aquella mañana en que mi padre Le dio al niño que he sido y que no ha muerto Una versión de la Völsunga Saga Que ahora está descifrando mi penumbra Com la ayuda del lento diccionario [...] Sólo el amor, el ignorante amor, Islandia.


Reykjavík, Islândia



Reykjavík, Islândia



The Buckingham Terrace, Glasgow, Esc贸cia




ÍTALO CALVINO. As cidades invisíveis. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.

Kublai Khan, o conquistador mongol, dirigindo-se ao viajante veneziano Marco Polo, que lhe prestava muitos serviços: “Não sei quando você encontrou tempo de visitar todos os países que me descreve. A minha impressão é que você nunca saiu deste jardim.”


Wilma preparando-se para desenhar, Ketchikan, Alaska



WILMA MARTINS nasceu em 1934, em Belo Horizonte, onde, entre 1953 e 1956, frequentou a Escola do Parque, tendo como professores Alberto da Veiga Guignard, Franz Weissmann e Misabel Pedrosa. Além de pintora, desenhista e gravadora, exerceu atividades como ilustradora e diagramadora em jornais e revistas de Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Destacou-se também como ilustradora de livros infantis. Integrante da Geração Complemento, em Belo Horizonte, desenhou figurinos para coreografias do Balé Klauss Vianna e para o Teatro Experimental, dirigido por João Marschner. Casada com o crítico Frederico Morais, mudou-se, em 1966, para o Rio de Janeiro, onde reside até hoje. Esteve presente nos principais salões de arte brasileiros, a partir de 1954, realizados em Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Curitiba, Brasília, Vitória, Niterói, Campinas, Ouro Preto e Goiânia. Como gravadora e desenhista, participou das bienais internacionais: São Paulo (1967), Ljubljana/


Iugoslávia (1967), Santiago/Chile (1968), Xylon V/Genebra e Berlim (1969), Capri/ Itália (1969), Porto Rico (1970 e 1972), Veneza (1978) e Cali/Colômbia (1980), assim como do Prêmio Internacional de Gravura de Biella (1967 e 1971). Figurou em mostras de arte brasileira na América Latina, Estados Unidos e Europa. Realizou exposições individuais em Belo Horizonte, Ouro Preto, Salvador, Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Buenos Aires. Recebeu cerca de duas dezenas de prêmios, entre os quais, o Prêmio Itamaraty, na Bienal de São Paulo de 1967; o de Viagem ao Exterior, no Salão Nacional de Arte Moderna, em 1975; e o Prêmio Museu de Arte Moderna de São Paulo, no Panorama de Arte Atual Brasileira, em 1976. Uma ampla retrospectiva de sua obra, cobrindo 60 anos de atividade foi realizada no Paço Imperial (Rio de Janeiro) e no Minas Tênis Clube (Belo Horizonte), em 2013/2014.


DADOS INTERNACIONAIS PARA CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) M386c Martins, Wilma, 1934Caderno de viagem / Wilma Martins ; [organizador] Frederico Morais – 1. ed. – Rio de Janeiro : F. G. Gomez de Morais, 2015. 140 p. : il. ; 15 cm. ISBN 978-85-919029-1-0 1. Desenho brasileiro – Séc. XX. I. Morais, Frederico, 1936- II. Título.

CDD- 741.981 Roberta Maria de O. V. da Costa – Bibliotecária CRB7 5587

apoio


Este projeto foi contemplado pelo

FUNDAÇÃO NACIONAL DE ARTES

PUBLICAÇÃO

Prêmio Funarte Mulheres nas Artes

Francisco Bosco

Organização e pesquisa

Visuais – 2ª edição

Presidente

Frederico Morais

Distribuição Gratuita / Venda

Reinaldo da Silva Veríssimo

Coordenação geral

Proibida

Diretor Executivo

Fernanda Lopes Stefania Paiva

FUNDAÇÃO NACIONAL DE ARTES

Dilma Vana Rousseff Presidenta da República

Francisco de Assis Chaves Bastos (Xico Chaves) Diretor do Centro de Artes Visuais

Design gráfico

Adriana Cataldo Noni Geiger

Andréa Luiza Paes

Foto Wilma Martins

SECRETARIA DE POLÍTICA

Coordenadora do Centro

Maurício Salgueiro

PARA AS MULHERES

de Artes Visuais

Eleonora Menicucci Ministra de Estado Chefe da Secretaria de Políticas para as Mulheres MINISTÉRIO DA CULTURA

Juca Ferreira Ministro de Estado da Cultura

Ana Paula Santos Coordenadora do Prêmio Funarte Mulheres nas Artes Visuais

Ana Paula Siqueira Assistente de Coordenação do Prêmio Funarte Mulheres nas Artes Visuais

Assessoria de imprensa

Meise Halabi Revisão

Rosalina Gouveia Tratamento de imagem e impressão

Trio Studio


Composto nas fontes Archer e Akkurat. Impresso por Trio Studio em papel Couché fosco 170g/m², capa, e papel Pólen bold 90g/m², miolo.



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